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O liberal contra a miséria | piauí_74 [revista piauí] pra quem tem um clique a mais http://revistapiaui.estadao.com.br/edicao-74/figuras-da-republica/o-liberal-contra-a-miseria[12/2/2012 11:13:44 AM] POLÍTICA ECONOMIA INTERNACIONAL ESPORTES TECNOLOGIA DIVIRTA-SE PME OPINIÃO RÁDIO JT ELDORADO BLOGS TÓPICOS Onde Buscar: Todo o site Busca avançada Anuncie na piauí Você está logado ( sair) imprima sua nota fiscal Edição 74 > _figuras da República > Novembro de 2012 Rosemary Noronha leiloa honestidade na internet SÃO PAULO - Acusada de cobrar royalties de empresas que faziam negócios com o governo federal, Rosemary Noronha resolveu... Lula afirma que foi traído Neste Mês Outras Edições Blogs Só no site Quem faz Cartas Assine Contato

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    Castigada pelo calor intenso e pela baixa umidade do ar, que colocaria Braslia em estado de atenohoras mais tarde, uma comitiva do governo nigeriano e da Unio Africana chegou no meio daquela

    por Luiz IncioSO BERNARDO - Aps serinformado sobre os atos ilcitoscometidos por Rosemary

    Noronha, o ex-presidente em exerccio...

    Passeata no Centro do Rioexigir que Dilma vete onome "Fuleco"CANDELRIA - Convocada pelogovernador Srgio Cabral, uma

    multido tomou as ruas do Centro do Rio deJaneiro para...

    O peso de Ronaldo curioso mostrar nesta pginauma pequena relquia de temposrecentes, mas que parecemtambm extremamente

    longnquos:...

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    A vida e as disputas com o PT do economista Ricardo Paes de Barros, o arquitetoimprovvel do programa social de Lula

    por RAFAEL CARIELLO

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    manh, no ltimo dia de agosto, ao prdio do antigo Ministrio do Exrcito.

    Apesar do ambiente marcial, com intenso movimento de soldados em fardas camufladas pelosaguo de entrada, no fazia parte dos planos do assessor especial da Presidncia da Nigria, IfeoluFalegan, com seu elegante terno escuro, tratar ali de assuntos militares. Tampouco essa ideiapassava pela cabea do nambio Johan Strij-dom, nico branco da delegao, cuja combinao decamisa de mangas curtas e gravata lhe dava um ar de gerente de supermercado ingls.

    A visita do grupo havia comeado dias antes, com incurses ao interior do pas, encontros comparlamentares e integrantes do Executivo. Tinha como objetivo conhecer o funcionamento deprogramas sociais, como o Bolsa Famlia, e a experincia brasileira de reduo da desigualdade e dapobreza na ltima dcada. Vamos colocar tudo isso num documento e distribuir para os nossosministros, anunciou mais tarde Strijdom, chefe da diviso de bem-estar social da Unio Africana,entidade inspirada na anloga europeia.

    Servidores e tcnicos estrangeiros tomaram o elevador at o 7 andar do edifcio, onde funciona aSecretaria de Assuntos Estratgicos, a SAE. Associada no passado inteligncia militar e hoje ligadadiretamente Presidncia da Repblica, a pasta, com status de ministrio, ainda se abriga no trechoda Esplanada dedicado Defesa. Ali, sob o comando do ministro Wellington Moreira Franco, doPMDB fluminense, trabalha Ricardo Paes de Barros, um dos mais respeitados especialistasmundiais em pobreza e desigualdade.

    ouco depois das dez da manh, PB, como o pesquisador conhecido, j era aguardado pelogrupo de africanos numa sala de reunies prxima ao seu gabinete de trabalho. Ele prprioesperava, sem demonstrar ansiedade, que a economista Rosane Mendona, sua ex-mulher,

    tambm funcionria da SAE, realizasse os ltimos ajustes na apresentao que fariam aos visitantes.

    Rosane ia e voltava pelo corredor, esbaforida. Parado no meio do caminho, ao lado da porta que leva sala de reunies, PB brincava com a caneta laser que usaria dali a pouco, direcionando o pontovermelho que o instrumento emite para o cho, ao lado dos sapatos. Mantinha a cabea baixa.

    O pesquisador mede 1,67 metro e tem o tronco largo, o que lhe d uma aparncia de ex-judoca,bastante em forma para os 58 anos que completa neste ms. Sorri de maneira ao mesmo tempotmida e acolhedora com alguma frequncia, e alterna momentos de devaneio com outros de totalateno ao interlocutor. Os cabelos encaracolados, ainda que grisalhos, e a oscilao entre distraoe curiosidade fazem com que ele muitas vezes parea um menino crescido.

    Mais do mesmo, s quediferente: Werner Herzog noFestival 4+1, no RioNa aula magna que proferiu em22 de novembro, no Rio, por

    ocasio do Festival de Cine Fundacin Mapfre 4+1...

    No h nada no mundo de que eu gostemais do que de msicaQuem disse isso foi Manuel Bandeira e meu amigoAndr Gardel foi quem me lembrou desta frase,numa conversa, h alguns...

    Susy no hospitalA supersimetria teoria propostapara explicar fenmenosdeixados em aberto pela fsica sofreu um duro golpe esta...

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    Entre colegas, companheiros de gerao, chefes e professores, PB reconhecido pela inteligncia forado comum e pelos hbitos igualmente excntricos. Seu orientador nos trabalhos de con-cluso dagraduao no Instituto Tecno-l-gico da Aeronutica (ITA), Michal Gartenkraut, o qualifica comoum gnio. J formado, cursou o mestrado do Instituto Nacional de Matemtica Pura e Aplicada(Impa), uma das poucas instituies de ensino do pas a fazer frequentes contribuies derelevncia produo acadmica internacional. James Heckman, que viria a ganhar o PrmioNobel de Economia em 2000, orientou o pesquisador em seu doutorado na Universidade deChicago, nos anos 80. O talento matemtico do aluno foi imediatamente reconhecido e aproveitadopelos mestres norte-americanos. No raro, recorriam a ele para resolver problemas formais em quehaviam empacado.

    Heckman avalia que Ricardo Paes de Barros poderia ter seguido uma carreira internacional comoeconomista terico de primeiro time, no tivesse ele preferido dar outro rumo a sua vida. Mal seformou, a Universidade Yale, tambm uma das melhores dos Estados Unidos, ofereceu a PB umcargo de professor-assistente. Aps sete anos de idas e vindas entre a Costa Leste america-na e oRio de Janeiro, Paes de Barros decidiu se dedicar exclusivamente ao servio pblico, no Instituto dePesquisa Econmica Aplicada (Ipea), rgo ligado ao governo federal onde ele j desenvolvia suasinvestigaes sobre desigualdade e pobreza no Brasil.

    Vista pelo ngulo financeiro e tambm no que se refere ao prestgio intelectual , a escolhapoderia parecer despropositada. O economista, no entanto, diz ter um desapego s coisas materiaismeio exacerbado. Tenho uma certa averso a bens durveis, explicou. Virou folclore entre osamigos o fato de o apartamento de quarto e sala em que ele passou a morar em Niteri, depois dasua volta ao Brasil, ter continuado desprovido de fogo e de geladeira por mais de uma dcada. Eleno sabe quanto dinheiro tem na conta, explica o seu chefe de gabinete na SAE, Paulo de OliveiraCastro. Sua vida bancria administrada conjuntamente pelo funcionrio e por Rosane, sua ex-mulher do meio PB teve trs casamentos, cada um deles com durao aproximada de umadcada. Moreira Franco reclama, com bom humor, que o subordinado no l jornais.

    pesar da vida pessoal relativamente desorganizada e do jeito areo, o pesquisador foiresponsvel por injetar doses inditas de rigor nos estudos sobre pobreza e desigualdade noBrasil, ajudando a dar forma, no ltimo quarto de sculo, expertise brasileira nesses temas.

    Mas houve um longo caminho entre o conhecimento acumulado e as razes que levavam asautoridades nigerianas ao seu gabinete. A visita, com esse interesse especfico, seria impensvel dez

    O momento exige uma palhaitalianaConforme prometido, aqui vai areceita da Palha Italianaexecutada pela Raquel e que

    fechou com chave de ouro o nosso arroz...

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  • O liberal contra a misria | piau_74 [revista piau] pra quem tem um clique a mais

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    anos antes daquela sexta-feira ensolarada.

    Durante pelo menos trs dcadas, entre 1970 e 2000, o Brasil se tornou conhecido pelo ttulo desociedade mais injusta do mundo. Sob qualquer medida tradicional que se utilizasse para avaliar adesigualdade de renda no pas e h vrias , o cenrio era o mesmo.

    A mais conhecida dessas medidas o coeficiente de Gini, que assume valores entre zero e um, aoconsiderar as distncias entre todas as rendas de uma determinada sociedade. Quanto maior ondice, mais desigual a distribuio. Se um nico sujeito detivesse toda a renda de um pas e todosos outros no recebessem nada, o indicador seria igual a um. Se todos os indivduos recebessem amesma renda, o coeficiente de Gini seria nulo. Na prtica, mesmo pases bastante igualitrios, comoo Canad, tm coeficientes de Gini no intervalo entre 0,3 e 0,4. Estados Unidos, China e Rssia,mais desiguais, apresentam valores entre 0,4 e 0,5. As sociedades mais injustas, em sua maiorialocalizadas na Amrica Latina e na frica, registram ndices entre 0,5 e 0,6. Entre 1970 e 2000, ocoeficiente de Gini do Brasil esteve sempre entre os mais altos, oscilando em torno de 0,6.

    Algo que no era esperado, contudo, chamou a ateno da comunidade de economistas dedicados pobreza e desigualdade no Brasil, por volta da virada do milnio. O ndice de Gini brasileiro,medido a partir das pesquisas anuais por amostra de domiclios realizadas pelo Instituto Brasileirode Geografia e Estatstica (IBGE), comeou a cair. E a cair com grande velocidade. As distnciasentre as rendas encurtavam. Diferentes pesquisadores, entre eles Ricardo Paes de Barros, soaram oalarme para o fato, ainda no primeiro governo Lula. Dada a impressionante estabilidade dadesigualdade brasileira nas trs dcadas anteriores, para muitos a continuidade da queda era umaincgnita. E no entanto ela se manteve, num ritmo constante e intenso.

    Segundo a ltima Pesquisa Nacional por Amostra de Domiclios (PNAD), o Brasil atingiu em 2011 omais baixo nvel de desigualdade de renda desde 1960, quando o ndice de Gini era de 0,535 ecomearia sua escalada rumo aos recordes mundiais de iniquidade. No ano passado, aps umadcada de queda, registrou-se um coeficiente de 0,527. Isso ainda coloca o pas entre as doze naesmais desiguais do mundo, segundo um relatrio recente do Ipea.

    Entre 1999 e 2009, a participao dos 10% mais ricos na renda brasileira recuou de 47% para poucomenos de 43% do total. Os 50% mais pobres, que em 1999 recebiam 12,65% da renda, alcanaram opatamar de 15% do total. Parece uma mudana pequena. Em sua apresentao aos visitantes dafrica, PB procurou mostrar que dificilmente qualquer outra sociedade teria feito melhor, nomesmo perodo.

    O pontinho vermelho emitido pela caneta do economista encontrou a projeo de um grfico em

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    que a populao era dividida em dez partes, dos 10% mais pobres aos 10% mais ricos. Seconsiderados apenas os 10% mais pobres, a renda per capita cresceu, entre 2001 e 2009, a umataxa de mais de 7% ao ano valor pouco abaixo do aumento anual da renda per capita na China,entre 1990 e 2005. No decil mais rico, a renda subiu no mesmo perodo a um ritmo bem mais lento,de menos de 2% semelhante ao crescimento mdio da renda da populao da Alemanha.

    As comparaes permitiram a Paes de Barros reforar o quanto difcil crescer a uma taxa prximadaquela atingida pelo gigante asitico ritmo alcanado pelos mais pobres dos pobres no Brasil. Damesma forma, seria indesejvel que a renda dos mais ricos aumentasse num ritmo ainda menor doque aquele constatado numa economia madura da Europa. Os ricos do Brasil esto vendo ospobres se aproximarem na mesma velocidade que a Alemanha v a China se aproximar dela,resumiu PB. Falegan, o assessor nigeriano, balanou a cabea em sinal de aprovao.

    Em um trabalho de 2008, o pesquisador do Ipea Sergei Soares analisou a velocidade da queda nadesigualdade brasileira. Ele mostrou que o ritmo de reduo do Gini brasileiro entre 2001 e 2006,de 0,007 ponto ao ano (ritmo que tem se mantido desde ento), foi maior do que aquele constatadoem pases ricos nos perodos em que construram seus Estados de bem-estar social. No ReinoUnido, entre 1938 e 1954, o Gini foi reduzido taxa de 0,005 ponto por ano tendo partido de umpatamar j baixo, prximo a 0,40. Nos Estados Unidos, entre 1929 e 1944, a queda foi de0,006 ponto ao ano e partira de um coeficiente pouco abaixo de 0,50. Mesmo que em velocidademenor, a desigualdade j vinha caindo antes e continuou a trajetria de queda nos anos seguintesnesses pases. O que Soa-res mostrou que reduzir as disparidades de renda tarefa de dcadas,no de alguns anos.

    Mesmo que a queda da desigualdade no Brasil ainda esteja em seus estgios iniciais, efeitosimportantes j podem ser constatados. Em um dos slides, PB apontou a evoluo da pobrezaextrema nos ltimos vinte anos no pas. O termo se aplica s pessoas que no conseguem ter rendasuficiente para adquirir o nmero recomendado de calorias dirias.

    Essa condio atingia quase 23% da populao brasileira no ano anterior ao do Plano Real, em1993, e caiu, em 1995, para pouco mais de 17% do total. Permaneceu estvel nesse patamar at2003, quando passou a cair rapidamente. Em 2009, 8,4% da populao bra-sileira ainda viviam emcondio de pobreza extrema.

    Atento, o nambio Strijdom mexia a cabea para acompanhar as idas e vindas da luzinha vermelhasobre o grfico. Aquela palestra, com riqueza de detalhes e medies rigorosas, no seria a mesmano fosse pelo esforo terico de PB e de uma gerao de especialistas.

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    Paes de Barros tambm participou da idealizao e da avaliao de polticas pblicas desde os anos90. Sob sua liderana intelectual, um grupo de economistas liberais foi responsvel, j no governoLula, pela concepo tcnica do programa Bolsa Famlia o que ajudou a empurrar um pouco maispara baixo o grfico para onde a caneta laser apontava.

    Mas, bem antes de tudo isso, o engenheiro Ricardo Paes de Barros encontrou o livro que lhe dariargua e compasso para medir a desigualdade no Brasil.

    LANGONI E A EDUCAO

    m seu breve discurso de posse na presidncia do Ipea, em setembro, Marcelo Neri agradeceu aPaes de Barros pelo que aprendeu com ele. O PB de certa forma o pai dessa gerao deeconomistas sociais mais recente, disse Neri, doutor pela Universidade Princeton em 1996, ao

    explicar mais tarde a homenagem.

    Se Paes de Barros o pai, o av, defende Neri, Carlos Langoni, presidente do Banco Central entre1980 e 1983. Um av ausente, disse o presidente do Ipea, em referncia ao fato de Langoni terescrito um trabalho decisivo e polmico sobre a distribuio de renda no Brasil, no incio dos anos70, e depois ter-se retirado dos debates nessa rea. O prprio PB declarou ter encontrado o mtodoque buscava para analisar com rigor a desigualdade brasileira ao se deparar, j na segunda metadedos anos 80, com o livro que Langoni publicara em 1973, Distribuio de Renda e DesenvolvimentoEconmico do Brasil.

    Carlos Langoni nasceu em 1944 em Nova Friburgo, na serra fluminense, numa famlia de classemdia mais para pobre. Sua me era professora e sustentava a famlia. Com a ajuda de uma bolsade estudos concedida pela prefeitura, Langoni fez o curso secundrio oferecido pela FundaoGetulio Vargas na cidade. Sempre fui primeiro aluno, disse com orgulho no incio de agosto, nacabeceira da mesa de reunies em sua empresa de consultoria. As janelas da sala, num andar alto,

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    davam para a enseada de Botafogo.

    O talento acadmico o levou a ser aceito no doutorado em economia da Universidade de Chicago,em 1967. Ali, foi aluno de Theodore Schultz, pioneiro da teoria do capital humano. A ideia deSchultz, controversa para a poca, era a de que os investimentos feitos pelas pessoas para melhoraro seu desempenho no trabalho, na forma sobretudo de anos de suas vidas dedicados educaoformal, so anlogos aos gastos feitos por uma empresa que compra maquinrio para produzirmais, a um custo mais baixo, e assim aumenta os seus lucros. Ao frequentar os bancos escolares, oestudante no s amplia a sua cultura, mas ganha a capacidade de desempenhar funes maiscomplexas, com maior eficincia, no mercado de trabalho e, dessa forma, tambm aumenta apossibilidade de receber salrios mais altos.

    O cara para operar o torno precisa saber ler o manual, exemplifica o soci-logo Marcelo Medeiros,professor da Universidade de Braslia e pesquisador do Ipea. O trabalhador com maior edu-caoformal tambm tem maior produtividade nos servios. Voc pode contratar um nmero menor devendedores, se eles venderem mais rpido.

    Eu fiquei impressionadssimo com as aulas do professor Schultz, disse Langoni naquela tarde deagosto, com um sorriso animado. Quando chegou a hora de escrever a tese, decidi usar as ideiasdele para o Brasil. Ali, eu calculava as taxas de retorno do investimento em educao no pas. Oeconomista mostrou que a taxa de retorno a diferena salarial de quem tinha ensino primriocompleto em relao aos analfabetos era em torno de 32%, em 1969. O ginsio completo, emrelao ao primrio completo, oferecia um retorno de quase 20%. A taxa mdia de retorno para aeducao, em 1969, foi de 28% por ano a mais de estudo aproximadamente o dobro darentabilidade anual dos investimentos industriais.

    om essa tese embaixo do brao, Langoni voltou ao Brasil em 1970 e foi convidado a trabalharna Universidade de So Paulo. Na capital paulista, passou a conviver com o ento ministro daFazenda, Antnio Delfim Netto. Professores da Faculdade de Economia, Administrao e

    Contabilidade da USP, onde Delfim se formara e lecionara, costumavam almoar, s quintas-feiras,em um restaurante da rua Bela Cintra, na regio dos Jardins. O Delfim, j ministro, ia tambm,para discutir conosco, recordou Langoni. Isso era em 1970 e 1971. Ele muitas vezes despachava deSo Paulo. Foi o primeiro contato que tive com ele. Discutamos teoria. Meu prazer era conversarsobre isso.

    Vivia-se o momento mais fechado e violento da ditadura militar, que, no entanto, encontrava apoio

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    na classe mdia, sobretudo pelo bom desempenho da economia. Entre 1968 e 1974, perodo em queDelfim comandava a Fazenda, o pas cresceu a uma taxa mdia de 11% ao ano. Resultadospreliminares do Censo de 1970, contudo, indicavam que o milagre brasileiro no tinha ocorridosem custos. Entre o final de 1971 e meados de 1972, de forma independente, os pesquisadoresRodolfo Hoffmann e Albert Fishlow analisaram as distribuies de renda em 1960 e em 1970, combase nos poucos dados disponveis, e mostraram que a desigualdade havia crescido tremendamente,no intervalo de uma dcada.

    Em seu texto, Fishlow defendia que a poltica salarial implementada pela ditadura nos anos 60, queconferia reajustes abaixo da inflao para os trabalhadores, havia contribudo para o aumento dadesigualdade. O valor real do salrio mnimo ou seja, j descontada a inflao cara 20% entre1964 e 1967. Em entrevista recente, Hoffmann fez questo de lembrar que o controle da renda dostrabalhadores no se deu apenas por meio da poltica salarial. Fui preso, em 1964, como estudantesubversivo, sem nenhuma ordem judicial. Estava assistindo a uma aula na USP, em Piracicaba.O crime foi ter manifestado simpatia por ideias consideradas comunistas. Fiquei cinquenta diaspreso. Os outros presos polticos na cadeia de Piracicaba eram todos lderes sindicais. Isso ocorreuno Brasil todo, em alguns lugares com muito mais violncia. No bvio que a represso aomovimento sindical de trabalhadores e essa poltica econmica teriam efeitos importantes sobre adistribuio da renda?

    O artigo de Fishlow havia sido produzido para um encontro da Associao Americana deEconomistas, e foi publicado numa das mais importantes revistas acadmicas dos Estados Unidos.Foi o texto que mais incomodou a ditadura, e Delfim, em particular.

    Eu me lembro de que um dia o Del-fim, no Rio, chamou alguns poucos economistas para fazermosum debate sobre a questo da distribuio de renda, contou Langoni. S a gente ali. Ele j tinhacomeado a ler artigos acadmicos sobre o tema. Perguntou: Vem c, o que mesmo essa histriade desigualdade? Tem esse artigo do Fishlow... Eu tinha estudado. Cheguei l e, na hora dareunio, quem comeou a apresentar algumas ideias di-ferentes fui eu. O Delfim gostou docomentrio e perguntou se algum queria fazer um artigo, um trabalho sobre o tema. Eu disse quequeria.

    O ministro da Fazenda fez com que dados detalhados do Censo 70, a que outros pesquisadores nohaviam tido acesso at ento, fossem entregues ao economista. Um tcnico do Servio Federal deProcessamento de Dados (Serpro) foi indicado para auxiliar Langoni em suas trabalhosas mediesestatsticas, feitas com o uso de cartes perfurados no computador central da PUC-Rio.

    Ele confirmou as concluses de Hof-fmann e Fishlow quanto ao aumento da desigualdade de renda

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    entre 1960 e 1970. Mas ofereceu uma explicao alternativa para o problema, com base na teoria docapital humano. Segundo Langoni, o crescimento acelerado da economia nos anos 60 fez com que ademanda por mo de obra qualificada aumentasse numa velocidade maior do que a oferta detrabalhadores suficientemente bem-educados. Assim, o preo que as indstrias e os serviosestavam dispostos a pagar para a pequena frao de indivduos que tinham um nmero maior deanos de estudo aumentava mais rpido do que os salrios dos pouco educados. A interao entre odesenvolvimento econmico e a falta de investimentos em educao catapultava a desigualdade nopas.

    As decomposies estatsticas feitas por Langoni das diferentes causas para a renda final dosindivduos apontaram a educao como o fator individual de maior importncia. O que Langoni nomediu foi a contribuio para a desigualdade, naquela dcada, da represso salarial a que Fishlow eHoffmann se referiam. O ex-aluno de Chicago argumentou que seriam necessrias sries de dadosanuais para medir tal impacto poca, todos trabalhavam apenas com os Censos de 1960 e 1970.No ambiente altamente polarizado e ideolgico da poca, as duas explicaes foram tomadas comoalternativas e excludentes, e o trabalho de Langoni, apoiado pelo governo militar, foi duramenteatacado.

    O estigma associado quela tese perduraria em alguma medida at a dcada de 90, quando, emcontrapartida, suas ideias se tornaram quase consen-suais. Uma das concluses do trabalho era ada necessidade de maiores investimentos em educao como mecanismo para diminuir adesigualdade, o que no havia sido feito at ento e teria ainda que esperar algumas dcadas paraacontecer. Ningum deu bola para essa recomendao, lamentou Marcos Lisboa, ex-secretrio dePoltica Econmica do governo Lula, numa conversa, em julho, num restaurante dos Jardins, emSo Paulo.

    ESCOLA E MILITARES

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    o final de agosto, em sua sala na Secretaria de Assuntos Estratgicos, Ricardo Paes de Barrosfez uma avaliao pessoal sobre os investimentos em educao no pas. Quem no vem defamlia militar talvez no se d conta dessa coisa louca dos militares: o quanto eles do valor

    educao e o quo pouco valor deram ao ensino enquanto eram governo no Brasil.

    Hlio Paes de Barros, pai de PB, era piloto amador no aeroclube de Cuiab, na dcada de 40,quando, motivado pelas notcias de que navios brasileiros haviam sido afundados por submarinosalemes, decidiu se alistar na Fora Area e combater as potncias do Eixo na Europa. Ao terminaros cursos preparatrios no Rio, em 1945, a guerra j havia acabado. Dedicou-se por alguns anos aviao civil, pilotando aeronaves Constellation para a Panair, at voltar FAB e se formaraspirante a oficial em 1954.

    De seus cinco filhos trs do primeiro casamento, incluindo Ricardo, e outros dois adotados, filhosda segunda mulher , trs so oficiais militares de alta patente: dois na Aeronutica e um naMarinha. O tenente-brigadeiro Hlio Paes de Barros Jnior, seu filho primognito, um ano maisvelho que PB, hoje responsvel pelo Comando-Geral de Apoio, cargo imediatamente abaixo docomandante da Aeronutica, Juniti Saito. Em sua sala na Ilha do Governador, no Rio, diante dasfotografias dos superiores hierrquicos o comandante Saito, o ministro da Defesa, Celso Amorim,e a presidente da Repblica , o brigadeiro explicou ser responsvel por toda a rea de suprimentoe manuteno da frota da FAB, que conta com cerca de 700 aeronaves militares. No final dos anos90, como piloto, comandou o esquadro de caas Mirage.

    Hlio carioca, de maio de 1953. Ricardo Paes de Barros nasceu em novembro de 1954, tambm noRio. A famlia j havia sido removida para Lagoa Santa, em Minas, mas a me foi t-lo no HospitalCentral da Aeronutica, no Rio Comprido. Durante a infncia, mudavam muito de cidade. Napoca do ensino fundamental, acho que estudei em onze escolas diferentes, contabilizou Paes deBarros. Moraram por algum tempo em Braslia, nos anos 60, quando o pai, j capito, foi ajudantede ordens do ministro da Aeronutica, no governo Joo Goulart.

    Meu pai nunca foi um dos queridinhos do golpe, afirmou PB. Ele foi tolerado. Era o piloto doavio, o cara que acompanhava o ministro o tempo todo, durante o governo Jango. Quando veio ogolpe, o tiraram de Braslia. Caiu um pouco no ostracismo. Nunca teve um cargo muito alto noregime.

    Em 1970, seguindo os passos do irmo, pb iniciou o curso secundrio na Escola Preparatria deCadetes do Ar (Epcar), em Barbacena. A instituio, que ainda funciona no mesmo local, a cerca deduas horas de Belo Horizonte, forma os adolescentes que um dia integraro o comando da ForaArea Brasileira. Seu prdio administrativo uma casa de dois andares do sculo XIX com escadas

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    externas em meia-lua. Os alunos, todos homens, so chamados pelo nome gravado na fardacamuflada, deslocam-se pelos ptios em grupos, marchando, e prestam continncia para osmilitares de mais alta patente ou seja, para quase todo o corpo docente e administrativo da escola.

    Os mais destacados nas conquistas acadmicas so chamados pelas alcunhas de zero-um e zero-dois, que indicam a sua posio no ranking de desempenho escolar. Paes de Barros entrou comozero-dois do concurso de admisso, mas caiu algumas posies logo no primeiro ano por causados cursos de lnguas, nos quais nunca se saiu bem. No final do segundo ano, j era o zero-um dasua turma. A posio confere ao estudante algumas distines. Seu bibico, o chapu de dois bicosusado na Marinha e na Aeronutica, tem um friso prateado, semelhante ao usado pelos alunos daAcademia da Fora Area, o curso superior preparatrio de oficiais. H tambm uma insgniaespecial, a ser ostentada na farda.

    Os alunos do 1 e do 2 anos dormem em enormes alojamentos de aproximadamente 80 metros decomprimento por 15 metros de largura, cada um contendo 150 camas praticamente coladas umasnas outras. No rancho, como chamado o refeitrio, os melhores alunos tm direito a se sentarnuma mesa destacada, no fundo do salo, apelidada de santa ceia. Em painis diante das paredes,lemas pedaggicos contribuem para o processo de formao dos futuros militares. A grandeza deum pas no medida pela extenso de seu territrio, mas sim pelo carter de seu povo, diz umdeles. Noutro, pode-se ler: Nesta escola no somos educados apenas para sermos militares, maspara vencermos na vida.

    oc marcha todo dia dizendo para si mesmo: eu sou o melhor do mundo, vou resolvertodos os problemas do pas, comentou Ricardo Paes de Barros, ao falar sobre osentimento compartilhado pelos alunos da escola. Servir ao pas a lgica bsica dos

    militares. Ele atribui Epcar um papel central na formao dos seus valores e do seu rigor deraciocnio. Em sala de aula, os estudantes so estimulados a entender conceitualmente o que ensinado. Voc compreendia o que era um logaritmo, por exemplo, sem ter que ficar fazendooperaes com ele. Voc entendia por que o cara tinha inventado o logaritmo e para que ele servia.Segundo PB, isso o levou a desenvolver uma racionalidade mais francesa, que ele contrape aoutra, americana. Os americanos so muito intuitivos, e j vo arranjando soluo para umproblema que eles nem apresentaram direito. Mas so criativos. Adaptam. Deixam rolar. Talvez eutenha um pensamento mais do tipo francs: preciso formular muito bem a sua pergunta. A vocter um mtodo abstrato para resolv-la e acabar encontrando o problema concreto mais para a

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    frente, em algum ponto do tempo.

    A utilidade desse tipo de raciocnio para o que veio fazer mais tarde , para ele, evidente: Meutrabalho muito concreto. Ele visa a problemas muito concretos. Mas tem sempre uma estruturaanaltica abstrata muito slida para chegar l.

    Paes de Barros tinha talento intelectual, mas no deixava de ser estudioso e aplicado, segundo oirmo. O apelido dele em Barbacena era biblifago. Comedor de livros. noite, voc passava pelasala de aula, estava l a luzinha acesa. Muito depois do horrio, e o Ricardo l, estudando. Oaspirante a cadete era tambm desajeitado e pouco marcial. Ele no era um atleta, no marchavadireito, no personificava aquele garoto espartano, lembrou o primognito. Usvamos uma japonacomo parte do uniforme, porque fazia muito frio em Barbacena. Brincvamos que bastava olharpara a japona do Ricardo para saber o que tinha no rancho. Por causa das marcas de macarro. Oude feijo.

    Ao se lembrar dessa poca, PB disse que havia nele um pouco de desleixo total e um pouco decientista maluco. Ao final do 2 ano, decidiu que iria prestar vestibular para engenharia no ITA, emvez de seguir o caminho natural dos alunos da escola e se candidatar academia da FAB. No ITA,PB desabrochou inteiramente, lembra Armando Castelar, ex-colega de engenharia e hoje tambmeconomista. Ele no incio era muito quieto, mas foi mudando. Ficou muito mais assertivo, dono doambiente. Ganhou um papel de liderana. Tinha facilidade para questionar os professores, ia almde todo mundo com o professor. Uma mudana da gua para o vinho. Como uma pessoa que sedescobre, e se sente mais segura.

    A viso de PB sobre o perodo menos edificante. Ele diz que se tornou quase um desordeiro noITA. Fui expulso do Centro de Preparao de Oficiais da Reserva duas vezes. Tenho um certificadode reservista que diz: No pode ser convocado em caso de guerra. Era para eu ter sido expulso doITA, e at hoje no sei por que isso no aconteceu. No sei se meu pai quebrou o meu galho.

    ps dois anos de ciclo bsico, PB e Castelar optaram pela engenharia eletrnica, o curso commaior carga de disciplinas matemticas no Instituto. Nessa poca, Paes de Barros liderou ummovimento de alunos que pediam o fim da obrigatoriedade de comparecimento s aulas.

    Fizeram um abaixo-assinado. A reivindicao foi negada. Forado a comparecer em classe, PB ia,mas levava o travesseiro e o cobertor. Ficava l. E onde, em que regulamento, estava escrito que euno podia levar travesseiro e cobertor? Eles no conseguiam me pegar.

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    Paes de Barros acrescentou outra motivao, mais pessoal, para no querer assistir s aulas: j haviadecidido, nessa poca, que no iria trabalhar como engenheiro. Eu percebi que no tinha nada a vercom aquilo. Porque o engenheiro no descobre, ele inventa. A engenharia no dedutiva. O caraque descobre a eletricidade, ele no deduz aquilo, ele intui. O cara que faz um carro funcionar svezes no entende direito como aquilo funciona. O meu raciocnio no tem nada a ver com isso.O meu jeito de pensar era completamente dedutivo.

    Mesmo desinteressado, deu prosseguimento faculdade. Nos veres, fazia cursos no Impa, no Rio.A eu virava um estudante srio, procurando entender as coisas mais abstratas da face da Terra.Em 1976, no 4 ano de engenharia, conheceu sua primeira mulher, Marta Helena de Moura. No anoseguinte, casaram-se, e logo em seguida nasceu seu nico filho, Alexandre. Foi uma poca difcil. PBtinha que conciliar os trabalhos de concluso de curso, os estudos de matemtica, a vida em famlia.A Marta s pegou pedreira. Para fazer a monografia de graduao, eu precisava rodar os meusprogramas naqueles computadores gigantes. S tinha horrio de madrugada. A Marta passava anoite comigo l.

    Em mais de uma ocasio, quando conversamos, PB procurou se mostrar agradecido s trs ex-mulheres. O velho brigadeiro Paes de Barros tambm tem o que agradecer a elas, segundo o relatodo filho mais velho. Meu pai torcia para que a mulher cuidasse do Ricardo. Porque ele mesmo nocuidava de nada. Ento meu pai dizia: Essa menina est cuidando dele, o Ricardo est com o cabelocortado, emagreceu, est bem de sade. Nesse aspecto ele foi criado muito mal. Minha me sempreo tratou com muito mimo. Era o queridinho da mame. Perguntava: O que vai comer? E elesempre respondia: bife com batata frita. At hoje. O negcio dele esse. Quando no bife, macarro, pizza.

    SEM INGLS EM CHICAGO

    o mestrado do Instituto Nacional de Matemtica Pura e Aplicada, no final dos anos 70,

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    Ricardo Paes de Barros conheceu Jos Alexandre Scheinkman. Um estudante de ps-graduao que abra hoje manuais avanados de organizao industrial ou de mtodos

    matemticos em economia usados em universidades americanas encontrar as ideias deScheinkman, importantes para o desenvolvimento da disciplina nos ltimos quarenta anos. ParaPaes de Barros, no h dvida de que, cientificamente falando, Scheinkman o principaleconomista brasileiro. O que o impede de ser prmio Nobel o fato de trabalhar em vrias reas. Seele tivesse pegado um nico tema e se dedicado quilo, teria ganho o Nobel.

    Hoje professor da Universidade Princeton, Scheinkman tambm fez mestrado no Impa e, logodepois, doutorado na Universidade de Rochester. J era professor em Chicago quando veio aoBrasil, em 1979, dar um curso de economia matemtica no Impa. PB foi seu aluno, enquanto fazia omestrado, e pensava em estudar economia. Chegou a cursar uma faculdade privada em So Jos dosCampos, enquanto era aluno do ITA, mas no levou o projeto adiante. No incio dos anos 80, j noIpea, PB decidiu se candidatar ao doutorado nos Estados Unidos. S havia um detalhe: eu nosabia falar ingls, contou, rindo, em agosto. Sabia alguma coisa, mas tremendamente mal.O Scheinkman deve ter me bancado. Deve ter feito coisas mirabolantes para eu ser aceito l.

    Scheinkman se refere ao episdio de maneira cautelosa, como se o fato de falar ingls mal fosse umamcula no currculo do aluno que ele j considerava brilhante desde as aulas no Impa. O diretor deadmisso em Chicago deve ter vindo falar comigo, porque eu era brasileiro. praticamente certoque foi isso o que aconteceu. E o chefe de departamento na poca era um amigo meu, o Bob Lucas[Robert Lucas Jr., que mais tarde ganharia o prmio Nobel, um dos maiores tericos daeconomia do sculo XX].

    Tive uma conversa com Lucas sobre o Ricardo, contou Scheinkman. Existe uma grandeflexibilidade no processo de admisso em uma universidade americana. A gente est atrs domelhor aluno, e corriqueiramente faz excees para atingir esse objetivo. Eu disse que a gente tinhaque resolver aquele problema e ele resolveu, ali, na minha frente.

    Recm-chegado, o aluno brasileiro conseguia ler os manuais e entender as aulas, mas perdia aspiadinhas dos professores. Tambm no tinha desenvoltura para fazer perguntas em sala. s vezeseu tentava, e ningum entendia o que eu queria dizer.

    Para piorar a sua situao, havia pedido universidade para s comear o curso no segundosemestre de aulas. PB j trabalhava no Ipea, num grupo de engenheiros que estudavam alternativaspara a matriz energtica brasileira, e queria cumprir compromissos assumidos com a equipe, antesde se mudar com a mulher e o filho para Chicago. De toda forma, contou que numa disciplina

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    importante, Microeconomia 2, conseguiu a melhor nota da turma, mesmo sem ter cursado antesMicro 1, oferecida no semestre que perdera. O Scheinkman deve ter pegado a nota e falado para oscaras: t vendo, no precisa saber ingls para estudar aqui!

    Por interveno tambm do ex-professor do Impa, PB foi procurado por James Heckman, que viriaa orient-lo no doutorado. Eu estava em casa, e ele bateu na minha porta, perguntando se euqueria trabalhar para ele. Passava dez, quinze horas por semana conversando com o Heckman. Euresolvia as coisas para ele. E ele tambm tirava as minhas dvidas. Eu no perguntava sobre oproblema. Perguntava por que razo as pessoas pensavam sobre os problemas daquela maneira.

    O trabalho continuava em casa, noite e nos fins de semana. Seu irmo Hlio, que viajara aosEstados Unidos para um curso na Fora Area americana, fez nessa poca uma visita a PB. Cheguei casa dele e no vi um mvel. Tinha um quadro-negro enorme, e um pequenininho do lado.O grande, cheio de frmulas, em que o Ricardo trabalhava. E o pequenininho para o filho, queestava rabiscando. Na memria de Alexandre no h o segundo quadro-negro, mas cartolinas, emque desenhava aeronaves e nibus espaciais, enquanto o pai estudava ao lado. O filho de PB hojedesenhista industrial.

    ames Heckman, o orientador de Paes de Barros em Chicago, um especialista em econometria,o ramo da estatstica dedicado a entender a relao entre variveis econmicas a partir deobservaes empricas. Em um caso bastante simples, um econometrista pode querer conhecer

    a relao entre a renda de uma pessoa e sua escolaridade. razovel esperar que, medida que aescolaridade aumente, a renda tambm o faa. A econometria quer saber em que medida issoacontece, levando em conta o fato de que essa relao nunca precisa h uma variedade enormede salrios para um mesmo nvel de formao educacional. Mas, se apenas a escolaridadeinfluenciasse o valor do salrio, seria possvel encontrar essa medida exata um nmero queligaria cada um dos nveis de educao a uma renda correspondente.

    O problema fica mais complexo quando, alm da escolaridade, so includas outras variveisdeterminantes da renda, como experincia, sexo, idade. Usando a mesma tcnica, possvel isolaros efeitos particulares de cada uma dessas causas sobre o valor final do salrio. J est embutidaa uma ideia de decomposio.

    Com base nessa diviso das vrias caractersticas daquilo que se pretende estudar, Langoni fez umacoisa ainda mais interessante nos anos 70, o que provocou a admirao de PB. Ele primeiro mediaos efeitos derivados dos dados que recebia da realidade. Depois mudava alguns desses dados, a

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    partir de perguntas especficas. E se a participao de analfabetos no total da populao semantivesse constante, entre 1960 e 1970? Quanto isso mudaria a renda desse grupo, ao longodaquela dcada? E como essa mudana imaginria se comparava com a mudana efeti-vamenteconstatada? Ao mexer di-retamente nos dados, ele construa realidades paralelas, chamadas nojargo de exerccios contrafactuais, e nelas aplicava os mtodos economtricos usados antesapenas para o mundo real. Isso permitia a Langoni, por comparao com o que de fato aconteceu,dizer qual a importncia dos fatores que haviam sido mudados.

    A ideia dele 99% do meu trabalho, afirmou PB. Eu quero saber se educao importante? Euvolto nos microdados. Eu tenho a pesquisa da PNAD. Eu quero saber, digamos, qual seria adesigualdade no Brasil se no existissem analfabetos funcionais. Volto na PNAD. Voc analfabetofuncional? Sou. Hoje vai deixar de ser! Vou te dar cinco anos de estudo. Mas a a sua renda vaimudar. Para quanto? Vamos pegar pessoas que tenham tudo igual a voc, idade, sexo, cor, mas comcinco anos a mais de estudo, e vamos achar esse cara na PNAD. A voc vai ter a renda desse cara.Constri uma nova PNAD, sem analfabetos funcionais, e diz qual seria o novo Gini.

    o domnio desse tipo de tcnica que permitiu a Paes de Barros, na apresentao para a delegaoafricana, afirmar que a pobreza no Brasil ainda teria cado bastante, embora metade do ritmoverificado nos anos 2000, se o pib per capita simplesmente no tivesse crescido e a queda fosseconsequncia apenas da nova distribuio de renda.

    Usei meu tempo em Chicago para ter a tcnica mais refinada possvel, explicou PB, enquanto seagitava atrs da mesa de trabalho. Mas meu interesse, naquele momento, j era completamentesubstantivo. Eu estava quicando na cadeira, querendo voltar para o Brasil e estudar desigualdade.E sabia que j tinha as ferramentas para fazer isso.

    DE VOLTA AO BRASIL

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    uando Ricardo Paes de Barros anunciou que ia voltar ao pas, em 1987, o orientadorprotestou. O Heckman disse que eu era maluco. Para ele, com toda a minha formao, ir parao Brasil era destruir a minha carreira cientfica. O economista Ricardo Henriques, que mais

    tarde viria a trabalhar com PB e teria papel crucial na criao do Bolsa Famlia, avalia que, nessemomento, ele fez dois movimentos inusitados. Ele no s volta, como volta para uma agenda queestava margem. Todo mundo estava envolvido na macroeconomia, resolvendo o enorme problemada inflao. O Ricardo volta e decide se ocupar de outra coisa.

    O interesse obsessivo do pesquisador por pobreza e desigualdade tambm tem caractersticas poucousuais. Segundo sua terceira mulher, Mirela de Carvalho, o Ricardo no um cara que olha ascriancinhas na rua com fome e chora; esse mais o meu perfil. Mirela foi casada com PB na ltimadcada. Tem 38 anos, cabelos castanhos, magra, no muito alta. De maneira carinhosa, ela odescreve como uma pessoa movida 100% pela lgica e pela razo. Mas diz acreditar que possvelse chegar a esse comprometimento contra a desigualdade, afinal tico, por caminhos quase queexclusivamente cerebrais.

    Mirela citou, como exemplo, o experimento racional proposto pelo filsofo americano John Rawlspara determinar a razo pela qual uma sociedade mais igualitria pode ser prefervel a uma outra,mais injusta. Um indivduo que ignorasse que posio viria a ocupar em alguma dessas sociedades,e que tivesse a oportunidade de escolher apenas em qual das duas gostaria de nascer, iria optar poraquela em que a pior posio possvel fosse a menos pior. Entre as duas, a sociedade maisigualitria que atende a esse requisito. Voc me pergunta de onde vem essa escolha de trabalharcom pobreza e desigualdade, se no de um corao? Eu acho que vem de uma mente, de umamente extremamente lgica, ela disse.

    O primeiro chefe de Paes de Barros no Ipea, depois da volta ao Brasil, foi o pesquisador EustquioReis. Na adolescncia, Reis foi contemporneo da presidente Dilma na melhor escola pblica deBelo Horizonte, e ainda guarda o sotaque mineiro, apesar de ter ido estudar no Rio, e depois noMassachusetts Institute of Technology (MIT), na dcada de 70. O escritrio em que trabalha, nasede carioca do Ipea, atulhado de papis, que formam pilhas nas estantes e em cima da mesa.

    Reis j conhecia o funcionrio recm-chegado do incio dos anos 80, quando PB ainda se dedicavaao grupo de energia do Ipea, e sabia do seu talento. Ele veio conversar comigo e eu disse: O quevoc quiser e estiver a meu alcance, vou fazer. Paes de Barros queria dispor dos dados das PNADs,aos quais o acesso era restrito poca.

    Segundo PB, ele ganhou uma vantagem parecida com a que Langoni recebera em 1972. Eleobteve os microdados porque o Delfim disse: D os microdados para ele, d os programadores de

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    que ele precisa. Eu tive a vantagem do Eustquio. Quando eu cheguei ao Brasil, ningum tinhaacesso aos microdados da PNAD. Eu tive.

    O economista Lauro Ramos, que tambm fez ITA e foi colega de PB no Ipea nessa poca, afirma queo amigo era o sujeito certo, no lugar certo, na hora certa. Foi justamente nessa poca que oscomputadores ficaram mais comuns, explicou Ramos. Em 1989, eu j rodava a PNAD em PC. Eraum negcio doloroso. Voc botava para rodar de noite e s no outro dia tinha o resultado. Mas jdava para usar o PC. Ento foi possvel reunir a capacidade do PB para questes empricas, umabase rica como a PNAD e a disponibilidade de computadores.

    Naqueles primeiros anos de trabalho, j comearam a aparecer os resultados e os temas pelos quaiso pesquisador passaria a ser conhecido. Numa srie de artigos, Paes de Barros analisou vriospossveis determinantes para as rendas individuais e sua distribuio. Alguns foram descartados,depois de testados, como pouco relevantes, como a influncia do tamanho da famlia e do nmerode filhos para a pobreza. Outros se mostraram mais importantes. Ao final, ningum mais duvidavada relao entre nvel de escolaridade e pobreza, e entre desigualdade escolar e desigualdade derenda, no Brasil.

    m um artigo publicado no ano 2000, o economista Francisco Ferreira, poca na PUC-Rio,hoje no Banco Mundial, fez referncia ao estigma associado tese de Langoni, que perdurouat os anos 90, e ao papel das pesquisas de PB para super-lo. Trabalhos desenvolvidos por

    Ricardo Paes de Barros e colaboradores durante a dcada de 90 conseguiram remover, ao menos nomeio acadmico, a aura de incorreo poltica que ficara, por algum tempo, associada ao argumentode que , de fato, na distribuio da educao e na determinao dos seus retornos econmicos quereside a causa-chave da desigualdade brasileira, como inicialmente defendia Carlos Langoni,constatou Ferreira.

    No final dos anos 90, PB foi protagonista do debate sobre focalizao dos gastos sociais no pas, aomostrar que os recursos necessrios para erradicar a misria eram relativamente pequenos secomparados ao volume total de verbas j destinado rea social bastaria o equivalente a 25% doque j era despendido para pr fim pobreza extrema. Grande parte desse gasto, portanto, noestava indo para quem dele mais precisava. poca, chegou a dizer que, se o dinheiro fosse jogadode um helicptero, chegaria com mais facilidade s mos dos mais pobres. O Bolsa Famlia emparte uma resposta a um grfico nosso mostrando que reduzir a pobreza no Brasil exige um gastoque quase ridculo, ele me disse em agosto, em Braslia.

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    Paes de Barros tambm viria a mostrar que a pobreza era duas vezes maior entre as crianas do quena mdia da populao. Disse ter ficado com seu papelzinho sobre as crianas por mais de dezanos debaixo do brao, at que ele chamasse a ateno de Dilma Rousseff, ainda na Casa Civil. Suaprimeira tarefa na SAE, compartilhada com Rosane Mendona, foi elaborar um plano de combate pobreza na primeira infncia. O projeto deu origem ao programa Brasil Carinhoso, lanado nesteano, que estendeu benefcios do Bolsa Famlia a quem tem filhos entre 0 e 6 anos de idade.

    proposta de focalizao foi recebida como uma ameaa neoliberal e hostilizada pelaesquerda. Temia-se, no final dos anos 90, que a nfase em eficincia dos gastos sociaisservisse como pretexto para a reduo de verbas destinadas rea ou mesmo para o desmonte

    de direitos universais recm-garantidos pela Constituio de 88. Ricardo Henriques lembra que odebate entre focalizao e universalizao ressurgiu poca do lanamento do Bolsa Famlia.Havia uma tentativa de colocar a pecha de liberal por causa da focalizao. Meu argumento era deque ocorria o contrrio. Que a agenda progressista de transformao do pas passava porcompatibilizar direitos universais com a focalizao da pobreza.

    Pergunto a Paes de Barros qual sua posio ideolgica. Talvez, para contrariar um pouco, eu meclassificasse como direita, disse. A seguir, explicou: Se esquerda significa que estamos dispostos aabrir mo de muita coisa, in-clusive de eficincia, para ter mais igualdade e as necessidades bsicassatisfei-tas nas suas mais variadas formas,ento eu sou de esquerda. Se ser esquerda significa quepara atingir essas coisas voc precisa de um Estado gigante, ento eu sou de direita. O que eu quero atingir o maior nvel de satisfao com a menor interveno governamental possvel.

    desigualdade atingiu recordes histricos no final da dcada de 80, e a pobreza, que antes caaapesar da pssima distribuio de renda, voltou a crescer e se tornou mais visvel, nas grandescidades, do que jamais fora. Era o saldo de anos de estagnao e de inflao. No toa, um

    grande nmero de programas de combate pobreza comeou a ser concebido, a partir do final dadcada perdida, e implementado nos anos seguintes.

    O senador petista Eduardo Suplicy idealizou a renda bsica de cidadania. Ento na UnB, CristovamBuarque fez no final dos anos 80 as primeiras propostas de um programa de transferncia de rendaque exigisse, em contrapartida, a frequncia escolar dos filhos dos beneficirios. Ideia semelhanteapareceu num artigo de 1991 escrito pelo professor da PUC-Rio Jos Mrcio Camargo, que pocamantinha um grupo de estudos com PB sobre pobreza e mercado de trabalho. A ideia surgiu

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    daquelas nossas conversas, afirmou Camargo em agosto.

    Em meados dos anos 90, programas de transferncia condicionada de renda comearam a seradotados em diversos municpios brasileiros. Cidades como Campinas, Jundia, Boa Vista, Santos eRibeiro Preto criaram suas prprias bolsas, enumerou Ana Fonseca, estudiosa do tema que maistarde coordenaria o Bolsa Famlia. No Distrito Federal, o Bolsa Escola foi institudo em 1995, anoem que Cristovam Buarque tomou posse como governador.

    No segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, programas nacionais de transfernciatambm comearam a ser implementados. Com o mesmo nome usado por Cristovam no DistritoFederal, o Ministrio da Educao lanou o Bolsa Escola em todo o pas. A Sade passou a ter oBolsa Alimentao. E o Ministrio de Minas e Energia criou o Auxlio Gs. Cada programa tinha suaprpria forma de seleo, e sua prpria lista de beneficirios. Atendiam sobretudo famlias pobrescom crianas.

    Wanda Engel, uma carioca extrovertida e de risada gostosa, era ento a ministra de AssistnciaSocial. Ela se deu conta de que, apesar das sobreposies e ineficincias, todos os grupos maisvulnerveis pobreza j recebiam algum tipo de auxlio, se fossem considerados os programasrecm-lanados e os benefcios para os idosos, como a aposentadoria rural.

    Numa viagem de avio para Alagoas, em companhia de Fernando Henrique Cardoso, Wandaresolveu fazer uma proposta ao chefe. Desenhou algo no papel e disse: Presidente, quer ver, agente j tem uma rede de proteo social. O que preciso agora organizar e integrar essa rede. OFernando Henrique j chegou a Macei fazendo discurso: Temos uma rede de proteo social!,contou Wanda em setembro, em seu apartamento no Rio.

    Para organizar e integrar a rede, ela propunha criar um cadastro nico de po-bres e beneficiriosde programas de renda no pas. Precisvamos de dados comuns. Podia ser que tivesse gentesuperapoiada e gente sem apoio nenhum. Mas todos os programas j tinham o seu prprio cadastro,e ningum queria parar. Fizemos uma primeira listagem que era uma espcie de Frankenstein:juntava todos os cadastros.

    Wanda usava dados recm-coletados pelo Censo 2000 para informar aos prefeitos o nmero depobres em cada municpio, e pedia que eles achassem essas pessoas, dando cara pobreza no pas.Para fazer o controle das aes do cadastro, usou as nicas instituies que chegam a qualquerburaco remoto do Brasil: igrejas e maonaria. Apelei para todos os santos, contou, rindo. Fui auma reunio com 3 mil capas pretas em Porto Seguro. E disse: Olha s, gente, tirar dinheiro depobre deveria ser crime inafianvel. Vo l e fiscalizem os prefeitos.

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    Para ajud-la no processo, chamou Paes de Barros, poca j diretor de estudos sociais do Ipea.Ele era mais ou menos o meu guru. Os veredictos do PB so como os de um bom mdico.Totalmente confiveis. Segundo Marcos Lisboa, do meio para a frente dos anos 90, todo mundoque fazia poltica pblica sria chamava o PB.

    AGENDA PERDIDA

    ellington Moreira Franco, o atual chefe de Paes de Barros, nasceu em Teresina, no Piau,mas estudou e fez carreira poltica no Rio. Filiou-se ao MDB no incio dos anos 70. Naprimeira metade dos anos 80, transferiu-se para o PDS de Maluf, partido que dava

    continuidade Arena, a legenda que serviu ditadura. Em 1985, retornou ao PMDB. Suaproximidade com o vice-presidente, Michel Temer, foi decisiva para que assumisse a Secretaria deAssuntos Estratgicos.

    Ainda em 2002, quando presidia a Fundao Ulysses Guimares, brao programtico da legenda,Moreira Franco encomendou a economistas ligados ao Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade(IETS), no Rio, a elaborao de propostas para um futuro governo. Seriam entregues comocontribuio candidatura de Jos Serra Presidncia. A vice da chapa, deputada Rita Camata, erado PMDB. Marcos Lisboa, Ricardo Henriques, Jos Mrcio Camargo e Ricardo Paes de Barrosparticiparam da concepo do documento, que veio a ter um ttulo estranho: Tirando o atraso:combate s desigualdades j. Criticavam a falta de focalizao dos gastos sociais e propunhamaes que significariam levar adiante o trabalho iniciado por Wanda Engel.

    Foi entre 2001 e 2002, recorda o hoje ministro da SAE. Fizemos um grande seminrio, o texto foiaprovado. Fomos apresentar o documento ao Serra, durante uma reunio, como manda o figurino,num hotel no Rio de Janeiro. Dessa reunio participaram Marcos Lisboa, Ricardo Henriques,Michel Temer. Ao final do encontro, o Serra me chama e diz: P, Wellington, como voc gosta dessepessoal de direita! Voc no tem jeito, voc s anda com a direita!

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    Poucos meses depois, o tambm candidato Ciro Gomes procurou Jos Alexandre Scheinkman.Queria pedir ao economista que ajudasse a preparar um programa de governo. Os dois haviam sidoapresentados pelo tucano Tasso Jereissati, num encontro em So Paulo. Dos Estados Unidos,Scheinkman telefonou para Marcos Lisboa, poca professor da Fundao Getulio Vargas, no Rio.Mais tarde, chegaram concluso de que era prefervel fazer um documento que no tomassepartido na disputa presidencial.

    Assim nasceu a Agenda Perdida, feita por um grupo que reunia Lisboa, Jos Mrcio Camargo eRicardo Paes de Barros, que j haviam ajudado a elaborar o documento para o PMDB. Vrios outrosprofessores da PUC-Rio, da FGV carioca e da USP se associaram iniciativa. Na parte de polticassociais, elaborada por PB, a Agenda criticava a ineficincia e a falta de focalizao dos gastospblicos. Propunha, como parte da soluo, um sistema unificado de cadastramento emonitoramento das polticas de assistncia e a unificao de todos os programas de combate pobreza.

    om a vitria de Lula nas urnas, o pt chegou afinal ao Planalto. Portava a promessa histrica,encarnada na figura de um ex-metalrgico, de reduzir as disparidades de renda no pas. Masnem de longe havia clareza sobre como isso seria feito. Era em grande medida um governo

    procura de um programa. Em seu livro Sobre Formigas e Cigarras, Antnio Palocci relata que,quando j comandava a equipe de transio, recebeu do ento presidente do Banco Central,Armnio Fraga, o texto da Agenda Perdida. O estudo era real-mente muito bom, escreveuPalocci. Ele abordava os mais diferentes problemas da realidade brasileira, tanto sob o ponto devista econmico como social. O futuro ministro da Fazenda procurou Scheinkman e dele recebeu asugesto de que falasse com Lisboa. Marcos fez um relato sobre o processo de elaborao dodocumento que reaparecera em minhas mos aps a campanha eleitoral, e discorreu sobre seucontedo, relatou Palocci no livro. Antes mesmo que terminasse sua apresentao, j estavaconvidado para integrar a equipe.

    Lisboa era amigo, dos tempos de graduao, de Ricardo Henriques, que trabalhava com PB no Ipeae havia colaborado com o governo de Benedita da Silva, ao longo de 2002, no Rio. Com essas boascredenciais, na Fazenda e no PT, Henriques foi escolhido para ser o secretrio-executivo da pasta deAssistncia e Promoo Social, que viria a ser comandada por Benedita. No Planalto, colocaria emprtica o que PB havia proposto na Agenda Perdida. As ideias contidas no documento ganharam aateno de Lula, segundo Henriques, numa reunio da rea social do governo, ainda em fevereiro de2003.

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    aquele momento, o Fome Zero j comeava a fazer gua. O confuso conjunto de propostasabrigado naquele programa havia sido trombeteado na campanha como a principal iniciativade Lula na rea social. Previa, a princpio, a distribuio de vales e cupons destinados

    compra exclusiva de alimentos. Seu idealizador, o professor Jos Graziano da Silva, do Instituto deEconomia da Unicamp, chegou a anunciar que a burocracia federal elaboraria listas de alimentosque poderiam ser comprados pelos beneficirios, a serem distribudas a supermercados do pas.O programa acabou se resumindo entrega de 50 reais mensais. Mais um carto se somava, ento,s bolsas j existentes, herdadas do governo FHC. Como se no bastassem os problemas deconcepo, o Fome Zero tambm encontrou dificuldades para chegar aos mais pobres, no tendoultrapassado a marca de 800 mil famlias beneficirias, no final de 2003, enquanto o Bolsa Escola,sozinho, j alcanava mais de 5 milhes de domiclios.

    Na reunio do incio do governo, incentivado por Lula a falar, Henriques fez a defesa da criao deum cadastro nico e da reunio de todos os programas sociais em um nico carto. A ideia, afirmaAna Fonseca, j havia aparecido nos trabalhos do grupo de transio, de que ela participou. FoiHenriques, de toda forma, quem recebeu o sinal verde do pre-sidente, em meio crise precoce doFome Zero. Passou a trabalhar, nos meses seguintes, no projeto tcnico da unificao do BolsaEscola, do Bolsa Alimentao, do Auxlio Gs e do Carto Alimentao do Fome Zero.

    Detalhes do novo programa passaram a ser discutidos em reunies semanais que RicardoHenriques mantinha, no Rio, com Lisboa, Mrcio Camargo e PB. Trabalhavam s sextas e nos finsde semana. Francisco Ferreira, j no Banco Mundial, voava de Washington para participar. Fui avrias dessas reunies para desenhar a unificao.

    Isso virou um mtodo, afirmou Henriques. Eram reunies meio de bombardeio. Parte da ideiaera a de exaurir hipteses possveis. Para formatar o Bolsa Famlia, tnhamos que testar vriashipteses. Eu dizia: No posso sair daqui com uma proposta para o governo sobre a qual tenhamosdvidas. s vezes, a discusso tinha recortes especficos. Qual o melhor modelo para fazer seleode beneficirios? Quem pode ajudar? A parte emprica muito do Ricardo. A Rosane Mendonatambm foi trabalhar comigo l na Secretaria. Para rodar os dados, fazer simulaes de impacto napobreza.

    O projeto enfrentou resistncias dentro do governo e tambm em setores do PT, mas quemimportava j havia empenhado seu apoio iniciativa. Os grandes avalistas do programa foram oPalocci e o presidente, reconheceu Henriques.

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    Em Braslia, ele participava de reunies com os vrios ministrios. Precisava coordenar os cadastrose chegar ao formato final do programa. A Caixa Econmica desenvolveu a estrutura tcnica paraalcanar milhes de beneficirios em todo o pas. O novo programa incorporou condicionalidadesdas bolsas lanadas no governo Fernando Henrique: frequncia escolar e acompanhamento docarto de vacinao das crianas. O Bolsa Famlia, que se tornaria o maior smbolo da era Lula, serialanado alguns meses depois, antes que chegasse ao fim aquele primeiro ano de mandato.

    unificao dos programas sociais e a criao de um cadastro nico permitiram que atransferncia de renda aos mais pobres ganhasse eficincia e escala. As famlias atendidassaltaram de 6,5 milhes, em 2004, para cerca de 11 mi-lhes, em 2006. H hoje mais de

    13 milhes de famlias no programa. Segundo um estudo do Ipea, no ano passado 3% das famliasbrasileiras eram ao mesmo tempo elegveis para participar do programa e no o recebiam contra7% das famlias nessa categoria em 2005.

    O Bolsa Famlia contribuiu para a queda da desigualdade na ltima dcada mais como umaditivo, contudo, do que como a sua causa principal. Como nos anos 60, transformaes no capitalhumano dos trabalhadores foram decisivas para as mudanas na distribuio de renda. Entre 1996e 2009, a escolaridade mdia de quem procurava emprego passou de 5,4 anos de estudo para 7,3 um aumento, em 13 anos, de 35% na qualificao dos trabalhadores. Investimentos decorrentes deexigncias da Constituio de 88 e da ampliao de verbas para o ensino fundamental no governoFernando Henrique fizeram com que a desigualdade educacional, que antes crescia, comeasseafinal a cair, no incio dos anos 2000.

    Como agora havia mais gente com maior escolaridade no mercado de trabalho, tambm o retornodado pela educao o quanto compensava ficar um ano a mais nos bancos escolares em vez deprocurar emprego diminuiu. mais ou menos o que Langoni descreveu para os anos 60, s que decabea para baixo. Dessa vez, os retornos da educao ajudaram a reduzir a desigualdade de renda.

    Em um trabalho de 2010, Paes de Barros estimou que quase 30% da reduo do ndice de Gini entre2001 e 2007 foram provocados por mudanas na escolaridade dos trabalhadores brasileiros.Segundo PB e Sergei Soares, em artigos distintos, outros 20% a 30% da queda se deveramespecificamente a uma reduo na desigualdade das aposentadorias. Os aumentos do salriomnimo contriburam para alavancar os rendimentos mais baixos pagos aos aposentados, querepresentam a maior parte dos benefcios, e a re-forma da Previdncia de Lula ajudou a cortar osganhos dos que recebiam mais.

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    Do total, entre 10% e 15% da queda do ndice de Gini, nos ltimos anos, foram promovidos pelastransferncias do Bolsa Famlia. Em 2011, o programa custou 16,7 bilhes de reais o equivalente a0,4% do PIB. Por chegar aos mais pobres dos pobres, de maneira barata, Soares descreve esseaditivo reduo da pobreza e da desigualdade como um negcio genial, fantstico, maravilhoso.

    Aps bater recordes de iniquidade e, depois, recordes de reduo da desigualdade, o Brasil chegou a2012 com um ndice de Gini ainda prximo de 0,50 o mesmo patamar de que partira em 1960,bastante elevado segundo qualquer critrio que se adote. Enquanto a trajetria da desigualdade derenda parece bem explicada, as razes por que partiu e voltou a patamar to alto no so fceis dedeterminar. Questionado, Sergei Soares contestou que talvez fosse necessrio encontrar umaexplica-o se ela no fosse to alta. O que era o Brasil? Como o pas foi criado? Aqui se exploravade forma cruel a mo de obra, com a escravido. No d para ser muito pior do que isso. Talvez apergunta real fosse: por que no somos o Haiti?

    Tanto o pesquisador do Ipea quanto Carlos Langoni atribuem histrica desigualdade nadistribuio de ri-quezas, como no caso da concentrao fundiria, grande influncia sobre opatamar de desigualdade de renda de que o pas partiu ao iniciar o seu processo de industrializaoacelerada. Explicar o nvel de onde parte quase como explicar por que a sociedade brasileira oque , afirmou Soares.

    CAPITAL POLTICO

    ogo que os especialistas na rea comearam a dar as primeiras notcias sobre a queda nadesigualdade, em meados dos anos 2000, a validade dos resultados foi questionada por umpequeno grupo de economistas de esquerda. Entre eles estava o petista Marcio Pochmann,

    professor da Unicamp e integrante da equipe da prefeita de So Paulo, Marta Suplicy, entre 2001 e2004.

    O argumento de Pochmann era o de que a mudana constatada acontecia apenas na distribuiodos salrios, no interior da renda do trabalho, que era captada pelos dados da PNAD. Por outrolado, a renda do capital, que abarca juros, lucros e aluguis de imveis, escaparia pesquisa poramostra de domiclios justamente o conjunto de dados usado para medir a queda no coeficiente deGini. O economista do PT dizia que outra realidade saltaria aos olhos se fosse considerada umafonte distinta de informaes, o Sistema de Contas Nacionais, um balano contbil do pas,realizado anualmente pelo IIBGE. Ali, a renda total do pas repartida em remunerao dosempregados e em excedente operacional bruto, que equivaleria renda do capital. Na verdade,

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    afirmou Pochmann, a participao do rendimento do trabalho na renda nacional vinha caindo aolongo dos anos, enquanto a renda dos proprietrios crescia. A desigualdade de renda, vista dessaperspectiva, aumentava.

    Sem fazer meno explcita a Pochmann, Rodolfo Hoffmann rebateu os principais argumentos dogrupo que o petista liderava e reafirmou a queda na desigualdade, em artigo publicado em 2008. APNAD, ele disse, inclui rendas que correspondem, sim, aos lucros dos empregadores. Os valores alideclarados so certamente menores do que os reais ganhos do capital, explicou o pesquisador.Mas como as imperfeies da PNAD so provavelmente as mesmas ao longo dos anos, no h porque duvidar da evoluo do ndice de Gini calculado a partir de seus dados.

    piau, Hoffmann reafirmou que uma simplificao grosseira dizer que as pesquisas no captamos ganhos do capital. Alm disso, mesmo o Sistema de Contas Nacionais indicava uma relativaestabilidade na participao dos rendimentos do trabalho no total da renda, entre 2000 e 2005,variando de 40,5% para 40,1% do total. Segundo o IBGE, as participaes dos rendimentos docapital e do trabalho mantiveram-se praticamente estveis desde 2000.

    Politicamente, o Pochmann entende que o PB um inimigo, afirmou Eustquio Reis, atrs da suamesa e das pilhas acumuladas de papel, ao final de um dia de trabalho, em agosto. Segundo opesquisador do Ipea, Paes de Barros sempre bateu forte na viso sindicalista de parte doseconomistas do PT, que centravam o seu interesse e as sugestes para combater a pobreza no Brasilna evoluo do salrio mnimo.

    uma viso sindicalista, argumentou Reis. Uma viso completamente equivocada do que apobreza. Uma poltica voltada para uma elite operria formada pelo Getlio. E que no percebia queabaixo do salrio mnimo tem muito mais coisa do que parece. Era isso que o PB mostrava. O Lula,alis, se deu conta disso, se deu conta de que tinha um segmento do eleitorado, muito importante,que est abaixo disso.

    Em 2007, o adversrio ideolgico de PB desde os debates da dcada de 90 sobre focalizao setornou tambm seu chefe. Marcio Pochmann foi nomeado para a presidncia do Ipea, onde Paes deBarros ainda trabalhava. Apesar de sua admirao declarada por Lula e do bom relacionamentopessoal com o ento presidente, PB afirmou que desde o incio do governo do PT ele j tinha muitomenos demanda dentro do Ipea do que no perodo do Fernando Henrique.

    Ainda tinha algum espao, mas menor. Quando entra o Marcio, eu deixo de ter qualquer espaodentro do Ipea. S que nessa altura a minha conexo com a Presidncia j era mais forte; e o Lulame chamava, s vezes, independentemente do Marcio.

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    Durante muito tempo, cessaram os pedidos de trabalho para um dos mais profcuos pesquisadoresda casa. PB alegou que sua presena no Instituto, a que estava associado desde a dcada de 80, foiapagada, retirada dos registros. muito esquisito. Voc estar numa instituio, entrar no site dainstituio, e voc no existe. No tinha trabalho meu, no tinha nada. Teve at o caso de terreunio com o presidente Lula, viajar com ele para ver a transposio do So Francisco, fazerseminrio com cinco ministros, e no aparecer nada no Ipea. Fui escolhido para a AcademiaBrasileira de Cincias durante esse perodo. No apareceu nada.

    No lhe faltou o que fazer, contudo. Eu tinha uma carteira de projetos grande. Estava trabalhandocom o Unicef, com o Banco Mundial, com outros ministrios. Durante anos, o Ipea no me pediupara fazer nada. Mas eu continuava trabalhando.

    Paes de Barros disse acreditar que Pochmann tinha como objetivo deliberado minar as suasresistncias, o que quase conseguiu. Porque isso no assim, e o Marcio sabia: Esse cara vairesistir um ano, dois anos, trs anos. Uma hora esse ostracismo, essa falta de demanda, essa falta detudo vai... Eu no resistiria a um novo governo assim. Se eu no tivesse sido convidado para vir parac, para a SAE, teria procurado outra coisa para fazer. Dificilmente eu iria passar esse governoDilma no Ipea.

    arcio Pochmann foi procurado por piau ao longo de um ms. Candidato prefeitura deCampinas pelo PT, disse na ltima semana de campanha, por meio de sua assessoria deimprensa, que preferia no comentar neste momento as declaraes de PB.

    A ministra do Desenvolvimento Social, Tereza Campello, tambm foi procurada, para que falassesobre as contribuies de Ricardo Paes de Barros sua pasta. Um ms antes da publicao darevista, um assessor da ministra me comunicou que a entrevista no seria concedida. Questionadosobre a razo da recusa, no respondeu. No final de setembro, pedi, formalmente, uma entrevista ministra do Planejamento, Miriam Belchior, que participou da criao do Bolsa Famlia. Alguns diasdepois, recebi um telefonema em que uma assessora do Ministrio questionava a motivao dareportagem. A matria sobre a queda na desigualdade, no ?, perguntou, enfatizando a palavraqueda. Por que vocs querem falar justo agora sobre o Ricardo Paes de Barros? Belchiortambm no quis falar piau.

    Na avaliao de Eustquio Reis, no fcil quebrar PB. Ele um sujeito muito frio, pragmtico,que, para fazer suas ideias influenciarem as polticas pblicas, trabalha com a Roseana Sarney,com o PT e com o Moreira Franco. Ele olha e se pergunta: O que eu posso tirar daqui? E vai em

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    frente. Eu acredito que isso uma coisa de uma pessoa que foi criada na caserna. A vida militardesde muito cedo, desligada da famlia, cria uma pessoa que se v como indivduo. Que luta numlugar em que a solidariedade vai s at certo ponto.

    essa caracterstica, avaliou seu ex-chefe, que permitiu a Paes de Barros fazer com o PT umarranjo poltico estranho. Apesar das vises antitticas, ele o grande formulador das polticassociais do partido. Mas eles no podem reconhecer isso, porque h segmentos importantes do PTque ficariam enfurecidos. Aquilo um capital poltico gigantesco.

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