anuario do onibus 2012

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1 ANUÁRIO DO ÔNIBUS 2012

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  • 1ANURIO DO NIBUS 2012

  • 2 ANURIO DO NIBUS 2012

  • 3ANURIO DO NIBUS 2012

    A histria do nibus nos ltimos 20 anos tem sido acompanhada de perto pelo Anurio do nibus da editora OTM. Procuramos, ao longo desse perodo, munir nossos leitores de informaes imprescindveis para a tomada de decises em seus negcios; ajudamos a divulgar os avanos que foram feitos nesta rea com a incorporao de novas tecnologias; anunciamos as expectativas dos empresrios sobre a poltica de regularizao do setor e alertamos sobre a necessidade de tratar seriamente a questo da mobilidade urbana para viabilizar um transporte pblico digno de todos os brasileiros.

    Compartilhamos, nessas duas dcadas, notcias que revolucionaram o segmento e outras que, apesar de negativas, motivaram a indstria nacional de nibus a superar obstculos e a seguir o caminho rumo ao crescimento, at conquistar, nos dias de hoje, o reconhecido respeito no cenrio internacional. A luta contra a infl ao; o congelamento de preos; a burocracia para as exportaes; o transporte urbano ilegal feito pelos perueiros, colocando em risco a vida dos passageiros e prejudicando as operadoras legais; por tudo isso os guerreiros empresrios brasileiros passaram e fi zeram dos limes uma limonada. O aumento nos preos do petrleo, por exemplo que afetou diretamente os custos de logstica , aliado preocupao com o meio ambiente, acabou estimulando o desenvolvimento e o uso de combustveis alternativos e a fabricao de veculos com tecnologia para trafegar com esses novos biocombustveis, menos poluentes.

    Em meados dos anos 90 aconteceram as privatizaes na rea de transporte, passando para a responsabi-lidade da iniciativa privada importantes estradas, empresas de nibus, metr, trens e at barcas controladas pelo governo. Comearam tambm os processos de internacionalizao das encarroadoras, que mostraram ao mundo a qualidade dos produtos brasileiros que, at ento, ainda no tinham um selo de qualidade no mercado internacional. Mais tarde vieram os programas de estratgia gerencial para a modernizao e diversifi cao de frota e a bilhetagem eletrnica, que proporcionaram um servio melhor e mais gil.

    Aps 17 anos de tramitao no Congresso Nacional, foi fi nalmente aprovada, neste ano, a lei que trata da Poltica Nacional de Mobilidade Urbana e que promete traar um novo rumo para o transporte coletivo ao desestimular o deslocamento individual. Outros fatores aparecem em 2012 com possibilidades positivas de crescimento para o setor, como a proximidade dos eventos esportivos Copa do Mundo e Olimpadas , que j demandam investimentos em transporte e infraestrutura, a nova tecnologia dos motores Euro 5 na renovao das frotas e a prpria preocupao do governo em adotar medidas que mantenham o Pas em crescimento.

    Enfi m, conhecer e acompanhar a histria do transporte urbano e rodovirio de passageiros do Brasil entender a complexidade da cultura em que vivemos e, atravs desse conhecimento, organizar solues para melhorar a qualidade de vida de cada cidado para, pelo menos, os prximos 20 anos.

    Dos limes, uma limonada

    AO LEITOR

  • 4 ANURIO DO NIBUS 2012

  • 5ANURIO DO NIBUS 2012

  • 6 ANURIO DO NIBUS 2012

    EDITORIAL 3 ANLISEAbrem-se neste ano novas oportunidades para que sejam feitos os to esperados investimentos em infraestrutura 8

    EXPANSOTrs encarroadoras anunciam projetos de novas fbricas na regio Sudeste 16

    URBANOInvestimentos em urbanos podem atingir R$ 3 bilhes e renovao da frota deve chegar a 12 mil unidades 20

    MOBILIDADE URBANAAps uma espera de 17 anos, nova lei deve incentivar o transporte coletivo e desestimular o individual 30

    BRTNove cidades-sedes da Copa do Mundo recebero sistemas de BRT, a um custo estimado de R$ 4,5 bilhes 32

    METRPOLESo Paulo renovou 83% de sua frota nos ltimos seis anos e aumentou a acessibilidade 36

    ARTIGOO presidente da Fabus, Jos Antonio Martins, conta a histria da evoluo do nibus no Brasil 40

    RODOVIRIODepois de vendas recordes no ano passado, setor aguarda as prometidas licitaes para linhas interestaduais 44

    FRETAMENTOOperadoras de turismo rodovirio disputam passageiros com as companhias areas 54

    BILHETAGEMEmpresas apresentam solues e equipamentos para melhorar o dia a dia dos usurios e das operadoras 58

    MEMRIAA histria da Viao guia Branca e o modelo adotado pelos irmos Chieppe para a sucesso da empresa familiar 64

    CARROCERIASFabricantes esperam para 2012 resultados iguais, ou um pouco acima, aos dos alcanados no ano passado 72

    VECULOS DE LUXOOperadoras e fabricantes de carrocerias apostam nos modelos de luxo para atrair novos usurios 106

    FINANCIAMENTOSMudanas no crdito bancrio podem compensar a alta dos preos acarretada pela chegada do Euro 5 112 MONTADORASOs desafi os dos fabricantes de chassis para 2012, aps os resultados recordes do ano passado 114

    EXPORTAESNovas oportunidades no mercado latino-americano animam os exportadores brasileiros 119

    MOTORESMercado nacional passa por adaptao no primeiro semes-tre, com a vigncia da nova legislao de emisses 174

    SUSTENTABILIDADEEmpresas buscam combustveis e materiais alternativos para reduzir impactos no meio ambiente 176

    CAMINHO DA ESCOLAPrograma do governo federal entra em seu quinto ano com mais de 15 mil nibus entregues 180

    PASSAGENS ONLINEVenda de bilhetes pela internet cresce e facilita a vida de passageiros e operadoras 184

    PNEUSProgramas de gesto mostram-se cada vez mais estrat-gicos para aumentar a durabilidade dos pneus 186

    CAPACITAODfi cit de motoristas leva empresas a investir em trei-namento e qualifi cao de seus profi ssionais 189

    INDICADORES 234

    SUMRIO

    [email protected]

    Redao, Administrao, Publicidade e Correspondncia:Av. Vereador Jos Diniz, 3.300 - 7 andar, cj. 707 Campo Belo CEP 04604-006 - So Paulo, SP Tel./Fax: (11) 5096-8104 (sequencial)

    Filiada a:

    Ano 20 - 2012 - R$ 60,00

    REDAO

    DIRETORMarcelo Ricardo [email protected]

    EDITORAAmarilis [email protected]

    COLABORADORESAmanda Voltolini, Amundsen Limeira, Luiz Voltolini, Mrcia Pinna Raspanti, Mauro Barros (reviso), Renata Passos, Sonia Moraes

    EXECUTIVOS DE CONTASAlcindo [email protected]

    Carlos A. [email protected]

    Gustavo [email protected]

    Vito Cardaci [email protected]

    FINANCEIROVidal [email protected]

    EVENTOS CORPORATIVOS/MARKETINGMaria Penha da [email protected]

    Vanessa [email protected]

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    CURSOS CORPORATIVOSAna Paula [email protected]

    CIRCULAO/ASSINATURASTnia [email protected]

    PROJETO GRFICOArtworks Comunicaowww.artworks.com.br

    Representante Paran e Santa CatarinaGilberto A. Paulin/ Joo Batista A. SilvaTel.: (41)3027-5565 - [email protected]

    Tiragem10.000 exemplares

    ImpressoNeoband

    Assinatura anual: TM R$ 180,00 (seis edies e quatro anurios); TB R$ 160,00 (Seis edies e trs anurios).Pagamento vista: atravs de boleto bancrio, depsito em conta corrente, carto de crdito Visa, Mastercard e American Express ou cheque nominal OTM Editora Ltda. Em estoques apenas as ltimas edies.As opinies expressas nos artigos e pelos entrevistados no so necessariamente as mesmas da OTM Editora.

    ANURIODONIBUS2012

    SCANIA 140VOLVO 142

    Fichas Tcnicas 146Guia de Bilhetagem 62Guia de Empresas 192Guia de Fornecedores 208

    MONTADORASAGRALE 122CITRON 124FIAT 128FORD 129IVECO 130MAN 132MERCEDES 134PEUGEOT 136RENAULT 137

    ENCARROADORASBUSSCAR 76CAIO 80CIFERAL 84COMIL 86IRIZAR 90MARCOPOLO 92MASCARELLO 96NEOBUS 100VOLARE 104

  • 7ANURIO DO NIBUS 2012

    Isso o que voc informa

    Isso o que as pessoas enxergam

    Itinerrios eletrnicos so mensageiros da alegria.

    informao que os usurios percebem na forma de sentimentos.

    a primeira coisa que o passageiro nota em seu veculo, pois

    anuncia o trmino da espera e o incio da jornada ao melhor destino.

    Investindo no melhor itinerrio eletrnico voc leva alegria s

    pessoas, que devolvem na forma do reconhecimento da sua marca.Lder mundial em sistemas de informaes para transporte de passageiros

    www.mob i tec . com.br

    Um mundo de sinais e emoes

  • 8 ANURIO DO NIBUS 2012

    Faltando pouco mais de dois anos para a abertura da Copa do Mundo, o Brasil desponta para uma nova realidade. Com investimentos que ultrapassam R$

    Investimentos em infraestrutura daro nova confi gurao mobilidade no Pas; intervenes para a Copa do Mundo e Olimpadas deixaro um legado para os municpios

    Uma nova estrada para um futuro promissor

    30 bilhes em equipamentos pblicos e infraestrutura viria, o Pas vislumbra um futuro mais promissor no que diz respeito ao desenvolvimento das principais capitais, assim como melhoria dos deslocamentos das pessoas nos grandes centros urbanos.

    Os programas de investimentos para a Copa do Mundo e de incremento mobi-lidade preveem recursos que esto sendo destinados s 12 cidades-sedes dos jogos do mundial e tambm para outros munic-pios com mais de 20 mil habitantes, como previsto na recm-aprovada lei que institui a Poltica Nacional de Mobilidade Urbana.

    Para que tudo esteja pronto, seja por ocasio da Copa, em 2014, ou das Olimp-adas, em 2016, os desafi os para recuperar os anos sem investimentos no so poucos. Em consequncia dos dois grandes eventos, o Pas volta a ter um considervel aporte de

    ANLISE

    recursos para o reordenamento das cidades e, com isso, atrai olhares de todos os con-tinentes, ganhando ainda mais visibilidade internacional. Para no fazer feio, neces-sria uma fora-tarefa que envolva todas as esferas de governo e setores importantes da economia para que o Brasil entre de vez na rota do desenvolvimento.

    O secretrio Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana do Ministrio das Cidades, Luis Carlos Bueno de Lima, demonstra otimismo quanto concluso das obras, mesmo que algumas delas ain-da nem tenham sido iniciadas. Estamos trabalhando na reviso das matrizes de responsabilidades e, a princpio, como so cronogramas fsicos, elas podem sofrer ajustes, mesmo ainda em fase de licitaes, e no vo comprometer o prazo fi nal. No existe ainda uma difi culdade para que no

  • 9ANURIO DO NIBUS 2012

    tenhamos essas intervenes concludas para a Copa, afi rma.

    A promulgao da lei de mobilidade pode ser o marco regulatrio que faltava para garantir que os municpios, ao planejarem seu crescimento, criem condies mais fa-vorveis para o deslocamento nas cidades. Entre outras medidas, as cidades devem formular um plano de mobilidade em at dois anos. Caso contrrio, aquelas que no cumprirem o prazo fi caro impedidas de re-ceber recursos federais para essa fi nalidade. Sempre houve uma preocupao do gover-no federal em investir na infraestrutura dos estados e municpios. A lei o resultado da preocupao para a melhoria da qualidade de vida da populao. Com os municpios planejando o seu desenvolvimento e iden-tifi cando as principais necessidades, ser preciso repensar as cidades, levando em considerao o aumento de veculos e da populao e criar um transporte pblico de qualidade, diz Lima.

    Mas este apenas o comeo do que promete ser um futuro bem diferente para a mobilidade do Pas. De acordo com o Ministrio das Cidades, 50 projetos sero

    implantados com vistas reestruturao e revitalizao da matriz de deslocamentos nas 12 cidades-sedes dos jogos. De acordo com levantamento feito pela Controladoria Geral da Unio, para a execuo desses projetos esto disponibilizados mais de R$ 12 bilhes. At janeiro, pouco mais de R$ 2 bilhes foram contratados junto Caixa Econmica Federal e, deste montante, R$ 265 milhes haviam sido efetivamente empregados nas obras que contam com a superviso do governo federal por meio do Ministrio das Cidades. Um dos cuidados que ns tivemos foi investir e tra-balhar com intervenes que vo ter legado. Elas contemplaro a Copa, mas tambm vo permanecer para benefi ciar a populao de todos os municpios. Vamos supervisionar o andamento de todas as obras, para que possam ser concludas antes da Copa, ga-rantindo assim o acesso aos estdios, diz

    o secretrio.A preparao do Pas para receber a

    Copa foi dividida em trs ciclos. O primeiro trata da defi nio das responsabilidades dos projetos para construo dos estdios, da mobilidade urbana, alm da revitaliza-o de portos e aeroportos. O segundo ciclo agrega a infraestrutura de suporte e servios relacionados aos equipamentos do primeiro, como segurana, sade, sus-tentabilidade, entre outros itens. O terceiro trata da operao e de aes especfi cas do que for implantado no Pas. Tudo isso ser acompanhado de perto pelo Tribunal de Contas da Unio, pela Controladoria Geral da Unio e pelo Ministrio Pblico.

    Em relao aos aeroportos, so estima-dos investimentos que se aproximam de R$ 7 bilhes, com mais de 30 intervenes previstas para 13 terminais. De acordo com o cronograma estabelecido pelo Ministrio das Cidades, todas as obras devem estar concludas at o fi m de 2013. No que diz respeito ao transporte martimo, sete portos do Pas recebero recursos para modernizao da respectiva infraestrutura. Aproximadamente, R$ 900 milhes sero utilizados. A maior parte ser destinada ao porto do Rio de Janeiro, que receber um aporte de R$ 314 milhes e cujas obras es-to em fase de licitao. Logo em seguida, o porto de Santos (SP), com mais R$ 235 milhes. Fortaleza (CE) aparece em terceiro

    Uma vez implantados, os projetos

    vo modifi car o panorama da mobilidade no BrasilOtvio Vieira da Cunha,presidente da NTU

    As obras deixaro um legado e refl etem a preocupao do governo em melhorar a qualidade de vida da populaoLuis Carlos Bueno de Lima, secretrio Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana

  • 10 ANURIO DO NIBUS 2012

  • 11ANURIO DO NIBUS 2012

  • 12 ANURIO DO NIBUS 2012

    na distribuio dos recursos, com R$ 149 milhes. O restante ser distribudo para revitalizao dos portos de Manaus (AM), Natal (RN), Salvador (BA) e Recife (PE).

    Mas no quesito mobilidade urbana que se concentra boa parte dos recursos. Das doze cidades que sero sedes das partidas, os sistemas de BRT (Bus Rapid Transit) de-vero ser implantados na maioria delas. A Bahia ainda est em processo de defi nio, pois existe uma proposta para a construo de metr e outra para a implantao do BRT. J os estados que deram a partida e esto mais adiantados em intervenes so Rio de Janeiro e Minas Gerais.

    Segundo o presidente da Associao Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), Otvio Vieira da Cunha, a oportunidade que o Pas precisava para o desenvolvimento de sua infraestrutura viria e para dar melhores condies de deslocamento populao. Todos os projetos de mobilidade para os eventos tm bom detalhamento e, uma vez im-plantados, vo modifi car o panorama da mobilidade no Brasil. A populao vai ser benefi ciada e todos eles sero um legado para as futuras geraes. Os equipamentos no se destinam somente para a Copa do Mundo. Os corredores esto muito bem estruturados, afi rma.

    Cunha sinaliza melhorias que podero ser observadas to logo os corredores estejam implantados, dando assim nova

    dinmica operao e impactando dire-tamente o direito de ir e vir das pessoas. A via totalmente segregada, o que possibilita uma velocidade comercial dos nibus muito boa nos corredores em rela-o situao atual, compara.

    Cunha tambm aponta outros aspectos que vo contribuir ainda mais para a melhoria dos deslocamentos. Atributos como o embarque em nvel, as estaes fechadas com mais segurana, a passagem pr-paga, acessibilidade universal, isso tudo signifi ca que voc traz para o servio de nibus a regularidade e efi cincia do metr, avalia.

    Outra novidade que pode ser destacada o investimento a ser feito em sistemas de tecnologia para garantir informao ao usurio em tempo real. Est prevista para esses corredores a construo de centros de controle operacional, que vo garantir agilidade, efi cincia e segurana

    na prestao do servio. Nesse novo panorama, a implantao

    desse tipo de servio elogiada pela coordenadora-tcnica da Associao Nacional de Transportes Pblicos (ANTP), Valeska Peres Pinto, que ressalta que o investimento vem sendo feito pelas secre-tarias de Segurana em prol da mobilidade. Os recursos so do Ministrio da Justia. A implantao dos centros de controle operacional, onde a mobilidade passa a ser gerenciada como outros segmentos, dar mais segurana e qualidade de vida para as pessoas. A tomada de aes rea-tivas e preventivas ajuda a mudar muito a qualidade da mobilidade, cita.

    Mas, enquanto as obras esto em andamento, assim como os sistemas de segurana que sero implantados pos-teriormente, alguns desafi os merecem ateno. Como o Pas no realizou in-vestimentos nas grandes capitais durante muito tempo, com a valorizao do Brasil em face da realizao desses eventos, existe tambm a valorizao dos imveis. Para a implantao dos sistemas de mo-bilidade, necessrio que haja o espao para tal, o que muitas vezes requer a desapropriao de imveis que esto em locais a serem utilizados de acordo com os projetos. O governo federal entrou com uma parcela dos recursos e os estados e municpios fi zeram a contrapartida com

    ANLISE

    Estudos apontam que os nibus

    so responsveis por menos de 1% das vtimas de acidentesFernando Moreira, especialista em medicina de trfego

    A reduo da emisso de poluentes ser um dos refl exos positivos do novo modelo de mobilidadeGuilherme Wilson,gerente de meio ambiente da Fetranspor

  • 13ANURIO DO NIBUS 2012

    os custos das desapropriaes. Todo o recurso que tiver de ser aplicado a mais devido a eventualidades ser de respon-sabilidade dos estados e municpios, cita o secretrio Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana.

    Transporte ordenado,menos poluio

    e menos acidentes

    Se, por um lado, os desafi os podem ser concentrados em desapropriaes e even-tual atraso no incio das obras, por outro, os benefcios com a mudana na matriz de mobilidade podem compensar todo o esforo. A racionalizao do transporte, com a consequente reduo do nmero de veculos nas ruas, e o reordenamento do trnsito sero determinantes para a diminuio de acidentes. O incentivo ao uso do transporte pblico e o estabeleci-mento de polticas de integrao tarifria e modal, assim como os ganhos ambientais, sero decorrentes dessa nova concepo se implantada corretamente.

    No que diz respeito reduo de aci-dentes, pode ser vislumbrado um cenrio como o de Bogot, capital da Colmbia, que viu o nmero de acidentes e mortes diminuir consideravelmente desde a implantao do sistema Transmilnio. No Brasil, a situao deve ser semelhante, como aponta o mdico e especialista em medicina de trfego, da Associao Bra-sileira de Medicina de Trfego (Abramet), Fernando Moreira. Tenho certeza de que com sistemas BRT teremos condies muito mais seguras para o transporte de pessoas. Eles representam um grande pas-so no sentido do indispensvel privilgio ao transporte coletivo e da reorganizao das cidades, diz.

    Com o incentivo ao transporte pblico, a tendncia que mais pessoas passem a utilizar os sistemas, diminuindo assim os ndices de acidentalidade e mortalidade. A Abramet j realizou estudos sobre a mor-talidade proporcional, por tipo de veculo

    envolvido, que mostram que os acidentes envolvendo nibus so responsveis por apenas 0,5% das vtimas. importante ressaltar que, mesmo transportando a maior parte da populao, os nibus so os que menos se envolvem em acidentes fatais, afi rma o mdico.

    Outra contribuio a ser considerada representada pelos ganhos ambientais. Com a reduo de frota e a implantao de faixas exclusivas e dos BRTs ser pos-svel alcanar a diminuio da emisso de poluentes de forma signifi cativa.

    Para Guilherme Wilson, gerente de meio ambiente da Federao das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), a antecipao dos padres de emisso veiculares no Brasil, com o cumprimento da fase 7 do Procon-ve, importante para que se encontre o caminho da mobilidade sustentvel at que todos os projetos de infraestrutura de BRT estejam fi nalizados. Essa medida est em pleno alinhamento com a implantao dos projetos de BRT no Brasil, em especial no Rio de Janeiro, onde sero construdos quatro corredores deste tipo: o Transca-rioca, o Transolmpica, o TransBrasil e o TransOeste, declara.

    De acordo com Wilson, uma estimativa feita levando em considerao a implan-

    tao de apenas dois dos quatros BRTs previstos para a capital aponta a reduo de mais de mil nibus na cidade, com a diminuio do consumo de combustvel em torno de 9%, da emisso de gases de efeito estufa como o CO2 em mais de 10%, de xidos de nitrognio em aproximada-mente 15% e a desacelerao na emisso de material particulado em 16%. Esse ganho leva em considerao o aumento do nmero de passageiros do sistema, gerando assim uma nova demanda de transporte coletivo, cita.

    Diante desses indicadores, possvel afi rmar que, se existem no pas 50 projetos estruturais a serem implantados in-cluindo at sistemas que utilizam energia eltrica, o que caracteriza um modal ainda mais limpo , o Pas caminha para uma mobilidade muito mais amigvel, pelo menos do ponto de vista ambiental.

    Maior mobilidade, menor excluso

    Um dos principais benefcios que po-dero ser identifi cados, se entrarem em funcionamento todos os equipamentos previstos, ser o aumento do volume de pessoas utilizando o transporte pblico. Para a coordenadora-tcnica da ANTP, essa uma das metas: a diminuio da excluso do transporte pblico, aumentando assim a demanda e possibilitando s pessoas um novo e melhor modo de vida. O primeiro grande benefcio permitir que as pessoas possam se locomover dentro das grandes cidades a um custo social razovel.

    O setor de fretamento ser benefi ciado

    no perodo ps-CopaMartinho Ferreira de Moura,presidente da Anttur

  • 14 ANURIO DO NIBUS 2012

    Boa parte da populao brasileira est nas periferias e totalmente desassistida, excluda de toda forma de se inserir na vida. Existem milhares de brasileiros que no conseguem deixar o seu bairro para trabalhar, para estudar e se divertir, mas todo mundo tem direito. Ns temos de

    ANLISE

    reintegrar esses brasileiros, diz Valeska.Se o problema relacionado excluso

    ainda no est equacionado, novas oportunidades no setor turstico podem aparecer com esse novo Brasil. Para isso necessrio investir e, dessa maneira, o setor de turismo e fretamento por nibus vem atuando e v com grande expectativa a realizao desses eventos. Martinho Fer-reira de Moura, presidente da Associao Nacional dos Transportadores de Turismo e Fretamento (Anttur) cita que as empresas que compem o setor vm se preparando para atender bem durante e depois do perodo das competies. Vai ser muito positivo o legado que a Copa do Mundo deixar. Mais turistas procuraro o Brasil, muitos congressos nacionais e internacio-

    Investimento em cursos de formao de motoristas para nibus de turismo Regina Rocha,diretora-executiva da Fresp

    nais sero realizados. O turismo de evento tem crescido muito nos ltimos anos e isso vai aumentar, cita.

    Moura se baseia no que ocorreu na fri-ca do Sul em termos da procura pelo servi-o de turismo e fretamento e no acredita num crescimento de frota exclusivamente para a Copa. Mesmo assim, existe uma orientao para que todas as associadas utilizem nibus novos no perodo pr-copa. A recomendao para todas as nossas fi -liadas que preparem a renovao de frota cerca de trs meses antes do evento, para que o operador trabalhe com um volume maior de nibus j antes do mundial, diz.

    Mas no somente a renovao de frota que vai fazer a diferena. O investimento em mo de obra pode ser a chave para que a operadora seja escolhida a execu-tar o servio durante os eventos, como cita Regina Rocha, diretora-executiva da Federao das Empresas de Transportes de Passageiros por Fretamento do Estado de So Paulo (Fresp). O setor j prepara sua mo de obra para atender a essa demanda especfi ca. Cursos para forma-o de motoristas para turismo j esto sendo ministrados pelas nossas entidades. Tambm estamos introduzindo a formao em outros idiomas. Esses investimentos vo valorizar o profi ssional e aumentar o pblico interessado em exercer essa profi sso, causando impacto positivo na empregabilidade, explica.

    Mesmo com o setor de turismo e freta-mento preparado para receber os turistas e trabalhadores que prestaro servios durante o perodo de jogos e para promover o deslocamento de parte da imprensa e do pessoal de apoio, Moura acredita que o transporte pblico que ser bastante utilizado e analisa com otimismo os inves-timentos que esto sendo feitos no Pas. O transporte pblico ser muito mais demandado. Isso foi uma realidade na frica do Sul. O fretamento, que um transporte diferenciado, fi car em funo das operado-ras que sero contratadas, assim como de grupos de torcedores que com certeza vo nos procurar, declara.

    Mais segurana e qualidade de vida para as pessoasValeska Peres Pinto,coordenadora-tcnica da ANTP

  • 15ANURIO DO NIBUS 2012

  • 16 ANURIO DO NIBUS 2012

    A regio Sul mantm intacta h d-cadas a primazia de concentrar nos trs estados cerca de dois teros do total da produo brasileira de carrocerias para nibus, a comear pela lder Marcopolo, seguida das empresas Comil, Neobus e Volare, todas no Rio Grande do Sul, alm da Busscar, em Santa Catarina, e da Mascarello, no Paran. Os recentes anncios feitos pela Comil e Neobus de construo de unidades fora de suas bases de origem, todavia, vo gerar um

    Encarroadoras investem em novas fbricas estimuladas pela expectativa de crescimento econmico dos mercados interno e latino-americano e escolhem o Sudeste para se aproximarem de seus clientes e fornecedores de chassis

    tempo de multiplicao de nibus

    EXPANSO

    novo desenho neste mapa, medida em que ambas levaro para a regio Sudeste a montagem de modelos urbanos e mi-cros, onde j esto Caio, Ciferal e Irizar.

    Os fabricantes esto atentos s perspectivas e olham o futuro sob o prisma de oportunidades que viro na esteira de investimentos em mobilidade, infraestrutura e no conjunto de medidas de estmulo ao crescimento econmico, patrocinadas pelo governo federal. Se entre 2004 e 2011 conseguiram manter

    uma taxa mdia anual de crescimento (em unidades fsicas) em torno de 7%, nada impede conjecturar que, com as obras da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpada de 2016, mais o incremento do turismo rodovirio, consigam manter o mesmo ritmo daqui para frente.

    A conta simples: em 2004 havia uma frota estimada de 320 mil nibus. Supondo que este ndice (mdio) de 7% seja mantido at 2016, pode-se prognosticar alcanar um volume ao

  • 17ANURIO DO NIBUS 2012

    redor de 600 mil unidades.Tambm para incrementar a produo

    do Sudeste, h o novo projeto da Irizar. A fabricante permanecer em Botucatu, no interior paulista, onde montou sua fbrica em 1997, mas ao longo dos prximos sete anos mudar sua atual

    instalao de 20 mil metros quadrados de rea coberta para uma nova de 100 mil metros quadrados, que permitir elevar a produo diria de quatro para dez unidades.

    Alm dos fatores econmicos e sociais j citados, Comil e Neobus elencam outros argumentos para justifi car os investimen-tos fora de Erechim e Caxias do Sul, res-pectivamente. Ao transferirem a produo de veculos para o transporte coletivo de massa para o Sudeste, elas pretendem estar prximas de clientes potenciais e de fornecedores de chassis, quase todos baseados na regio, como a MAN Latin America, Iveco, Scania e Mercedes-Benz a exceo a Volvo, que fi ca em Curitiba , e com isso obter tambm certo grau de reduo de custos de produo.

    NEOBUS

    No incio de fevereiro, a Neobus, sediada em Caxias do Sul, confirmou investimento de R$ 90 milhes para erguer a nova unidade na c idade fluminense de Trs Rios. A rea onde ser construda a nova fbrica ainda estava em fase final de definio at o fechamento desta edio. A previso que a produo comece dentro das prximas semanas. Ela deve gerar 1,2 mil novos empregos, quando estiver em sua capacidade plena de produo, e dever produzir 13 unidades por dia de nibus urbanos e alguns modelos de micro-nibus.

    Estamos nos preparando para as de-mandas provocadas pela Copa do Mun-do e Olimpadas, diz Edson Tomiello, presidente da Neobus, destacando que

    o Rio de Janeiro hoje o principal mer-cado da empresa. O anncio da fbrica de Trs Rios aconteceu menos de uma semana aps a empresa ter anunciado uma joint venture com a norte-ame-ricana Navistar, para a fabricao e o desenvolvimento de nibus completo sob a marca NeoStar. O foco inicial sero os mercados dos Estados Unidos e da Amrica do Sul. A Navistar passar a fazer parte do quadro societrio da Neobus, que seguir sob a liderana de Tomiello ele permanece como scio-controlador e maior cotista individual.

    A fbrica de Caxias do Sul permane-cer com a infraestrutura atual, gerando 2,3 mil empregos. A unidade continuar produzindo modelos de micro-nibus, nibus para fretamento, nibus das linhas BRT (Bus Rapid Transit) e BRS (Bus Rapid Service) e os modelos NeoStar. Esta planta tambm est sendo adequada, de forma gradual, para receber a nova linha de modelos rodovirios, cuja apresen-tao ao mercado brasileiro, informa a empresa, est marcada para ocorrer no ms de agosto deste ano. A montadora entra nesse segmento aps doze anos de atuao no mercado de nibus.

    Elegemos o Sudeste pela proximidade dos grandes centros urbanos e dos fabricantes de chassis, explica Calegaro, da Comil

    Estamos nos preparando para a demanda da Copa do Mundo

    e das Olimpadas, diz Tomiello, da Neobus

  • 18 ANURIO DO NIBUS 2012

    COMIL

    A Comil confirma um investimento global de R$ 100 milhes, dos quais parte envolve o projeto de construo da nova unidade, cuja localizao e perfil da fbrica ainda no haviam sido divulgados at o fechamento desta edio. Em nota, o diretor-geral, Silvio Calegaro, conta: A empresa anunciar nos prximos meses o investimento em uma nova fbrica na regio Sudeste, eleita por estar mais prxima dos gran-des centros urbanos e dos fabricantes de chassis. Com a expanso estaremos preparados para absorver o crescimen-to da demanda pelo menos at 2016, motivados por eventos como a Copa do Mundo e as Olimpadas, que demanda-ro melhorias no transporte de pessoas

    nas grandes cidades. E completa: A fbrica j deveria ter sido anunciada, no entanto, as negociaes com estados e municpios demoraram mais do que prevamos inicialmente.

    A fbrica de Erechim ficar dedicada mais montagem de modelos rodovi-rios. O movimento das empresas de transporte rodovirio de renovar a frota em praticamente todo o Brasil e a boa aceitao da linha rodoviria Campione, lanada em 2010, diz Calegaro, impul-sionaram o desempenho da Comil em 2011. A perspectiva de crescimento est nos modelos rodovirios. Tivemos crescimento de 44,5% na produo de janeiro a outubro de 2011 em compa-rao com o mesmo perodo do ano anterior. Cerca de 80% da produo desses modelos foi destinados para fretamento, um dos setores que mais crescem no Brasil, comenta.

    IRIZAR

    Fabricante exclusiva de rodovirios, a Irizar cresceu 19,69% ano passado. Para elevar a escala de produo, manter o rit-mo de crescimento e de competitividade, a direo tomou a deciso de planejar uma unidade maior. A empresa no revela o valor do investimento. Divulga apenas a rea do terreno, de 296,7 mil metros qua-drados (7,5 vezes maior que o atual) e da rea coberta, 100 mil metros quadrados (cinco vezes maior) no distrito industrial de Botucatu, ao lado da rodovia Marechal Rondon, cerca de 3,5 quilmetros de suas atuais instalaes. O diretor-geral, Axier Etxezarreta Aiertza, prev produzir apro-ximadamente duas mil unidades anuais. A empresa, de origem espanhola, fabricou 705 carrocerias no ano passado.

    Etxezarreta Aiertza, da Irizar: rea do novo terreno ser 7,5 vezes maior que a atual

    A nova planta dever receber inves-timentos de R$ 50 milhes a R$ 80 mi-lhes. Sempre tivemos a certeza de que esta data chegaria. Estamos no Brasil h 15 anos e fomos nos preparando para este momento, nos firmando dia a dia no mercado, ouvindo nossos clientes e buscando cada vez mais atender s suas necessidades. Com isto viemos crescen-do nossa participao nos mercados brasileiro e latino-americano. A deciso de partir para uma nova planta deve-se, primeiramente, ao fato de termos atingi-do nossa capacidade produtiva mxima na planta atual e tambm da certeza de que este mercado possui uma das maio-res demandas por nibus do mundo e que no podemos estar margem deste processo, e sim fazendo parte atuante do mesmo, disse a empresa por meio de nota. Para tanto, temos investido em nossos produtos no sentido de que cada vez mais atendam a todas as necessidades operacionais requeridas por nossos clientes. Estruturamos nossa rea comercial para estar cada vez mais prxima dos nossos clientes, tendo hoje uma gerncia nacional de vendas, volta-da diretamente para o atendimento do mercado nacional, com duas gerncias regionais, acrescenta a nota.

    Questionada sobre como a empresa v o mercado interno nos prximos cinco anos, a direo da Irizar define como plenamente favorvel, decorrente de todos os investimentos que sero feitos no Pas, no que tange infraes-trutura. Sediaremos vrios eventos de porte internacional, bem como todo um processo de renovao das concesses de linhas rodovirias interestaduais e internacionais, que juntos demandaro necessidades de ao menos a garantia de renovao da frota atual. Aliada a isto est a poltica de financiamento para nibus com juros mais baixos e prazos de pagamento mais longos j anunciada pelo governo, declara.

    EXPANSO

  • 19ANURIO DO NIBUS 2012

  • 20 ANURIO DO NIBUS 2012

    Aps o recorde na venda de nibus ur-banos registrado no Brasil no ano passado, 2012 comeou como uma incgnita sobre o apetite pela renovao de frota de em-presas e prefeituras. Indstria, revendedo-res e operadoras tm diferentes vises so-

    A previso da NTU para 2012 de que a renovao da frota pode chegar at 12 mil unidades; modelos articulados e biarticulados devem substituir os convencionais

    2012: oportunidade para mudar a confi gurao da mobilidade do Pas

    bre como vai andar a comercializao nos prximos meses. Enquanto alguns setores alertam para um p no freio nos negcios, outros apostam em uma demanda ainda forte em virtude de projetos relacionados mobilidade urbana, principalmente nas

    URBANO

    grandes cidades, e pelo fato de ser um ano de eleies municipais.

    Dados da Associao Nacional dos Fabri-cantes de nibus (Fabus) mostram que, em 2011, o Pas atingiu a marca indita de 19,5 mil unidades urbanas destinadas ao merca-

  • 21ANURIO DO NIBUS 2012

    Vendas de nibus urbanos no mercado interno, de 1996* a 2011 (em mil unidades)1996 12,5 1997 10,2 1998 11,5 1999 6,3 2000 6,7 2001 6,1 2002 8,0 2003 7,3 2004 6,3 2005 8,4 2006 11,5 2007 13,9 2008 16,02009 13,22010 16,9 2011 19,2*A Fabus comeou a dividir as estatsticas por modelo a partir de 1996. Fonte: Fabus

    do interno, um crescimento de 15,1% sobre 2010, que j havia sido recorde. O nmero ainda equivalente a mais do que o dobro de dez anos atrs, quando a comercializao chegou casa dos oito mil.

    Um dos fatores que impulsionaram o recorde do ano passado, entretanto, est diretamente ligado a uma possvel retrao agora. Como a partir de 2012 as indstrias s podem fabricar veculos com motorizao Euro 5, modelo mais caro em comparao ao Euro 3, as em-presas apressaram-se em renovar a frota antes da virada do calendrio. No ano passado houve uma grande antecipao dos investimentos. E aconteceu o que se esperava, pois os nibus Euro 5 fi caram at 12% mais caros, lembra Otvio Vieira da Cunha Filho, presidente da Associao Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU).

    Para 2012, a NTU calcula que a reno-vao da frota possa chegar at 12 mil unidades, com o avano dos veculos articulados e biarticulados, substuindo os modelos convencionais. Para isso, calcula Cunha, o investimento poderia chegar a R$ 3 bilhes. Para no deixar a renovao da frota desacelerar, uma das expectativas do setor o novo fi nanciamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES),com prazos de pagamento mais longos e juros reduzidos em relao linha atual, para renovar o nimo dos operadores. Segundo Cunha, a idade mdia da frota nacional gira em torno de seis anos, um patamar alto, porm melhor do que h meia dcada, quando chegava a oito anos. O ideal, completa, seria diminuir para algo entre trs anos e trs anos e meio, o que, acredita, ser possvel alcanar em at cinco anos.

    De qualquer forma, o presidente da NTU lembra que projetos vinculados a eventos esportivos que ocorrero no Brasil nos prximos anos, como a Copa do Mundo e as Olimpadas, aliados necessidade de redesenhar a mobildade urbana nas maiores cidades, onde o avano do tran-porte individual torna o trnsito cada vez

    mais catico, facilitam essa renovao. Existem recursos do PAC (Programa de Acelerao do Crescimento) da Copa e do PAC Mobilidade Grandes Cidades. So R$ 30 bilhes, que esto comprometidos com 60 projetos de cidades acima de 700 mil habitantes. Desses projetos, 32 so de BRT (Bus Rapid Transit). So projetos que vo melhorar a qualidade do transporte urbano. A velocidade comercial vai aumen-tar. H uma crise de mobilidade urbana no Brasil e so necessrias alternativas ao transporte individual, sustenta Cunha.

    Ailton Brasiliense, presidente da Asso-ciao Nacional de Transportes Pblicos (ANTP), lembra que, embora os recursos dos dois PACs benefi ciem especialmente as reas metropolitanas das cidades que recebero jogos da Copa do Mundo de 2014, os projetos de mobilidade podero infl uenciar as administraes de outras regies, o que tem o potencial de alavancar a renovao de frota tambm longe das

    A NTU, presidida por Cunha, estima que a aquisio de nibus urbanos neste ano

    possa chegar at R$ 3 bilhes

  • 22 ANURIO DO NIBUS 2012

    capitais. Pode servir de modelo para as outras cidades e inspirar planejamento para as demais, porque vo virar refern-cia, avalia Brasiliense.

    A realizao de eleies municipais tam-bm apontada como um fator que tende a ajudar a renovao da frota de nibus urbanos por prefeituras ou concessionrias, pressionadas pelo poder pblico. Como veculos novos so considerados armas eleitorais que podem render votos, ano de pleito nos municpios costuma ser visto como uma oportunidade para fabricantes e revendas. Isso fato: nibus novo visual, como se fosse uma propaganda, compara Alarico Assumpo Jr., presidente-executivo da Federao Nacional da Distribuio de Veculos Automotores (Fenabrave). A lgica, porm, no com-partilhada pelos transportadores. Em ano de eleio a renovao de frota poder ser inibida, porque os prefeitos tambm no querem dar reajuste alto nas tarifas, conclui Cunha, da NTU.

    Otimista, a Fenabrave espera que 2012 quebre um novo recorde na venda de nibus. A entidade projeta a comerciali-zao de at 39 mil unidades, incluindo veculos para todos os fi ns, o que repre-sentaria um aumento de 14% sobre o resultado de 2011. No ano passado, o licenciamento somou 34,67 mil nibus, 22% acima do exerccio anterior. Houve, sim, uma antecipao, mas foi menor do que pensvamos que poderia ocorrer. Imaginvamos entre 37 mil e 38 mil unidades. Para Assumpo, empresrio do ramo de revenda de nibus e caminhes, a aprovao do Finame Verde signifi caria alavancar ainda mais os negcios, mas a simples manuteno da modalidade atual aliada ao calendrio eleitoral nos municpios e necessidade de renovao da frota devido aos projetos de mobili-dade urbana em andamento no Pas j tem o potencial de levar 2012 a ter uma nova marca histrica. Se h fomento, o nibus tem colocao. O fi nanciamento o principal e o nibus tem Finame. Com o Finame Verde, seria melhor ainda. Espera-

    URBANO

    Assumpo, da Fenabrave, acredita que a comercializao

    de nibus pode superar o recorde do ano passado

    mos que em 2012 o mercado permanea aquecido. O Brasil vai ter que melhorar a infraestrutura, caso contrrio haver um estrangulamento, alerta Assumpo.

    Um pouco mais cauteloso, o empresrio Jos Antonio Martins, presidente da Fabus e do Sindicato Interestadual da Indstria de Materiais e Equipamentos Ferrovirios e Rodovirios (Simefre), previa uma gran-de possibilidade de retrao do mercado caso o governo federal no ouvisse as reivindicaes do setor sobre a necessi-dade de um fi nanciamento mais em conta para ajudar os investimentos nos nibus, que fi caram mais caros com o Euro 5. Segundo Martins, as vendas de nibus no mercado interno poderiam cair em torno de 15%, embora acreditasse que no caso dos urbanos a retrao poderia ser menor em funo das eleies munici-pais e dos projetos de mobilidade urbana relacionados Copa de 2014. Com uma linha de crdito como o Finame Verde, en-tende Martins, haveria a possibilidade de igualar o resultado deste ano ao do ano passado. O empresrio, que tambm vice-presidente de relaes institucionais da Marcopolo, fabricante de carrocerias de Caxias do Sul (RS), lembra que ano passado comearam a ser comercializados os veculos BRTs para algumas capitais, um segmento que deve ganhar impulso a partir de agora, embora o nmero de uni-dades vendidas acabe sendo menor devi-do capacidade superior em comparao aos veculos convencionais. A expectativa da indstria, no entanto, que as vendas de BRTs deslanchem apenas a partir de 2013. O BRT ocupa o espao de dois a trs nibus urbanos comuns. Creio que at a Copa sero vendidos entre 2 mil e 2,2 mil BRTs no Brasil, projeta Martins.

    O trnsito moroso e as cidades

    precisam investir cada vez mais para manter e no melhorar a qualidade do servio. Mas com o BRT vamos trazer superfcie a qualidade, a segurana e a efi cincia do metr, diz Cunha, da NTU.

    Apesar do alerta para uma retrao nas vendas, pelo menos no incio do ano a demanda se mostrou aquecida no mercado brasileiro de nibus. Dados da Fenabrave mostram que, no primeiro bimestre, os emplacamentos superaram os nmeros do ano passado. Uma das explicaes, no entanto, exatamente a busca pela antecipao, j que boa parte dos negcios esteve atrelada venda de veculos ainda com motor Euro 3 chassis que foram fabricados no ano passado e que ainda podiam ser vendidos at o fi nal de maro. Formar esse estoque foi uma sada encontrada pela indstria para enfrentar a dvida sobre como os nibus Euro 5 menos poluentes e mais econmicos em termos de consumo de combustvel seriam recebidos no mer-cado nos primeiros meses.

  • 23ANURIO DO NIBUS 2012

    O desafi o da mobilidade nos principais centros urbanos brasileiros aparece nas estatsticas da Associao Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Entre 1994 e 2010 os dados do ano passado ainda no foram consolidados , nove das mais importantes capitais brasileiras perderam mais de 100 milhes de passageiros/ms do sistema urbano de nibus. A evaso de usurios ocorreu essencialmente pelo avano acelerado do transporte individual, materializado pelo boom da venda de automveis e moto-cicletas. Conforme a NTU, metade das viagens realizada de forma individual.

    As ruas, cada vez mais entupidas de car-ros e motos, por consequncia, tornaram o trnsito mais lento e engarrafado. Com isso, a velocidade comercial dos nibus diminuiu e as empresas de nibus urbanos foram foradas a aumentar a frota para manter a regularidade no servio. Nas mesmas capitais Belo Horizonte, Curitiba, Goinia, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e So Paulo , a frota de nibus chegou a 2010, aps altos e baixos, 9% superior a 2005, conforme estudo elaborado pela NTU.

    A partir de meados da dcada passada, porm, o nibus vem apresentando uma melhora tmida no nmero de passageiros transportados, enquanto a frota renovada. Na cidade de So Paulo, um dos maiores sistemas pblicos de transporte coletivo do mundo, a partir de 2003 s cresceu o n-mero de passageiros transportados. Foram

    Principais capitais perderam mais de 100 milhes de usurios/ms, mas nmero voltou a subir e as cidades se preparam para a implantao de BRTs, que podem dar mais qualidade e velocidade ao servio

    Nmero de passageiros volta a subir

    1,2 bilho de pessoas e, no ano passado, o montante chegou a 2,9 bilhes. O mesmo aconteceu com o nmero de veculos. Em 2012 so 14,9 mil nibus nas ruas da maior cidade brasileira, enquanto dez anos atrs eram somente 8,8 mil.

    Da mesma forma, a frota da cidade de So Paulo vem sendo renovada. Nos con-srcios, que operam as linhas estruturais da cidade, partindo de terminais at pontos de grande interesse, como o centro e estaes do Metr, a idade mdia da frota de cinco anos e dois meses. Em 2003, alcanava seis

    anos e nove meses. No caso das compa-nhias permissionrias, que fazem as linhas locais, partindo das franjas da cidade at os terminais ou pequenos centros, a idade mdia dos veculos de trs anos e um ms. Aqui, a renovao da frota ocorreu principalmente a partir de 2007, quando os veculos chegaram ao pico de quatro anos e trs meses.

    A expectativa de renovao da frota em So Paulo, inferior ao ano passado, refl ete o quadro de antecipao dos investimentos realizados em 2011 pelas empresas,

  • 24 ANURIO DO NIBUS 2012

  • 25ANURIO DO NIBUS 2012

  • 26 ANURIO DO NIBUS 2012

    Para Reis, presidente da ATP de Porto Alegre, a renovao da frota na cidade ser inferior em relao a 2011

    devido ao encarecimento dos veculos pela entrada em vigor do Euro 5. Em 2011, as empresas adquiriram 2.452 novos veculos. Para este ano a previso a incluso de 500 novos carros, diz o diretor-executivo do Sindicato das Em-presas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de So Paulo (SP- Urbanuss), Carlos Alberto Souza. O mesmo vale para Porto Alegre, que conta hoje com uma frota de 1.659 veculos com idade mdia de quatro anos e dois meses. No ano passado, foram 200 novos veculos e neste ano, pelo menos 100, espera Enio Rober-to Dias dos Reis, presidente da Associao dos Transportadores de Passageiros (ATP) da capital gacha.

    Em Porto Alegre, o nmero de passagei-ros transportados por nibus, conforme a Empresa Pblica de Transporte e Circulao (EPTC), vinha em queda desde 2002, mas comeou a subir a partir de 2009. No ano passado, foram 320,8 milhes de passageiros, ante 314,7 milhes em 2010. Mesmo assim, o nmero da capital gacha inferior ao de dez anos atrs, quando a cidade contabilizou 321,7 milhes de

    passageiros transportados. A idade mdia da frota de 4,2 anos. H dez anos, era de 4,6 anos. A partir de 2002, a idade mdia comeou a subir, at chegar a 5,4 anos em 2005. Depois voltou a cair

    No Rio, que, alm de principal sede da Copa do Mundo de 2014, receber em 2016 as Olimpadas, o cenrio diferente, com vrios projetos de mobilidade urbana deslanchando. Com uma frota de 9 mil nibus, no ano passado a renovao che-gou a quase um tero, somando 3.250 veculos. A tendncia em termos de renovao que se repitam os nmeros do ano passado. Isso devido ao momento de melhoria da economia e da renda que o Rio est vivendo, explica o presidente da Rio nibus, Llis Teixeira. Segundo ele, a Cidade Maravilhosa vem saindo de uma crise no sistema causada pelo avano do transporte irregular pela ao do poder pblico de realizar novas licitaes e fi sca-lizar a rea. A bilhetagem eletrnica, com

    integrao do transporte intermunicipal e do trem, acrescenta ele, contribui para o crescimento da demanda por ampliar a base de usurios e fi delizar o passageiro.

    Alm disso, o Rio considerado uma das cidades mais avanadas em termos de obras de mobilidade urbana. Com 56 quilmetros, 57 estaes e dois terminais, neste ano comea a operar o Transoeste, corredor que far a ligao entre a Barra da Tijuca e a zona oeste da cidade. J foram adquiridos 87 ni-bus articulados e daqui a um ano sero mais 228 articulados e 325 nibus alimentadores, todos contando com ar-condicionado, canais internos de TV e informaes de tempo de chegada ao destino. Segundo Teixeira, o tem-po de viagem no trecho, que hoje de uma hora e meia, ser diminudo pela metade.

    Alm disso, o Rio ter nos prximos anos investimentos de R$ 5,6 bilhes em trs novos corredores exclusivos para BRTs: o Transcarioca, da Barra ao aeroporto do Galeo; o Transolmpica, da Barra a Deodoro; e o Transbrasil, ligando Deodoro a Presidente Vargas. Antes do Transoeste, o Rio contava desde o ano passado com

    URBANO

    2000

    2001

    2002

    2003

    2004

    2005

    2006

    2007

    2008

    2009

    2010

    2011

    325.865.803

    321.788.915

    311.351.220

    293.901.741

    282.555.859

    276.989.745

    269.561.804

    262.945.196

    315.300.563

    314.763.431

    320.838.663

    323.989.555

    Nmero de passageiros transportados em Porto Alegre

    Fontes: EPTC e ATP

  • 27ANURIO DO NIBUS 2012

  • 28 ANURIO DO NIBUS 2012

    URBANO

    dois corredores exclusivos para Bus Rapid Service (BRS). Para o dirigente, so projetos que vo revolucionar a mobilidade urbana no Rio. Isso vai causar uma ruptura no sis-tema. Hoje, o transporte pblico respon-svel por 12% das viagens. Acreditamos que, com todos estes projetos, vai chegar a 60%. Vamos tirar muito automvel da rua, preconiza Teixeira, lembrando que a idade mdia da frota na cidade de trs anos e meio.

    Na capital gacha, com uma extenso de 70 quilmetros de corredores de nibus, esto previstos investimentos de R$ 900 milhes at a Copa. Os recursos sero em-pregados na reforma e construo de abri-gos, paradas, vias elevadas e na construo de 20 quilmetros de novos corredores na zona sul da cidade, preparando a zona urbana para receber os BRTs. Com estas obras a velocidade comercial do nibus vai ser maior. Hoje o nibus no consegue andar mais rpido. O que atrasa o nibus o trnsito congestionado, afi rma Enio Roberto Dias dos Reis, presidente da ATP da capital gacha.

    Em Belo Horizonte onde, de 2005 ao ano passado, o nmero de passageiros transportados subiu de 412,8 milhes para 455,8 milhes e a idade mdia da frota caiu de cinco anos e trs meses para trs anos e cinco meses so 12,5 quilmetros

    de pistas exclusivas existentes para nibus, nas avenidas Antnio Carlos e Cristiano Machado. A extenso, segundo a gerente de mobilidade da BHTrans, Elizabeth Mou-ra, deve crescer de forma signifi cativa nos prximos anos. Sero 29,1 quilmetros de corredores de BRTs implantados at o prximo ano, e existem ainda planejados at 2020 outros 29,3 quilmetros. Apenas at 2013 sero investidos R$ 633 milhes na implantao dos BRTs. Outros R$ 360 milhes sero aplicados na ampliao da rede viria. Da frota de 3 mil nibus da ca-pital mineira, 72% so acessveis a pessoas portadoras de defi cincia fsica. Em 2010 eram 2,8 mil veculos e o percentual de acessveis era de 64%

    Os gargalos e desafi os so melhorar o desempenho operacional do transporte coletivo, tendo em vista o aumento da frota de veculos do transporte individual. Os nveis de congestionamentos s sero minimizados com a reduo do uso do automvel. Para que isto ocorra o trans-porte coletivo precisa ser rpido, seguro e confortvel , avalia Elizabeth.

    Para Alton Brasiliense, presidente da Associao Nacional de Transportes P-blicos (ANTP), a cidade de So Paulo teria que recuperar os corredores existentes (134 quilmetros) de nibus e pelo menos dobrar a extenso nos prximos 20 anos

    A renovao da frota no Rio tem o potencialde ser semelhante verifi cada no ano passado, diz Teixeira

    para oferecer um servio melhor para a populao. Os que existem hoje so de baixa qualidade, no tm possibilidade de ultrapassagem e um bom controle semafrico. O problema no est nas 11 milhes de pessoas que vivem na cidade, mas nas 20 milhes que moram em toda a regio metropolitana e dependem do transporte da cidade para trabalho, lazer e compras, analisa.

    Uma pesquisa da entidade sobre a ima-gem do transporte na regio metropolitana de So Paulo mostrou que o servio um elemento importante na satisfao das pessoas com a cidade onde vivem e traba-lham. O excesso de lotao foi o principal problema apontado pelos usurios. Mas a pesquisa mostrou ainda que onde h corredores a satisfao maior. Conforme o estudo, enquanto 54% dos entrevista-dos consideram a situao do transporte nos corredores excelente ou boa, apenas 40% consideram o mesmo em relao ao servio de nibus municipais na cidade. Um exemplo da efi cincia dos corredores exclusivos o percentual de aprovao do Expresso Tiradentes na pesquisa. Atingiu 81% de timo/bom, superando inclusive o metr, refora o diretor-executivo do SP-Urbanuss, Carlos Souza.

    Passageiros transportados e idade mdia da frota de Belo Horizonte PASSAGEIROS IDADE MDIA ANO TRANSPORTADOS DA FROTA

    2005 412.851.738 5 anos e 3 meses

    2006 422.301.637 4 anos e 8 meses

    2007 422.808.316 4 anos e 6 meses

    2008 435.388.116 4 anos

    2009 443.147.783 3 anos e 11 meses

    2010 445.303.429 3 anos e 8 meses

    2011 455.842.706 3 anos e 5 mesesFonte: BHTrans

  • 29ANURIO DO NIBUS 2012

  • 30 ANURIO DO NIBUS 2012

    Em vigor a partir de abril de 2012, a Lei n 12.587, que institui as novas diretrizes da Poltica Nacional de Mobilidade Urbana, promete ser a base para uma reviravolta na qualidade do transporte pblico das cidades. Aps 17 anos de tramitao no Congresso Nacional, o texto foi votado no fi nal do ano passado e sancionado em ja-neiro pela presidente Dilma Rousseff. Para especialistas, o avano da legislao est em pontos como a defi nio da prioridade do transporte coletivo sobre o individual, a atribuio da competncia da Unio, estados e municpios no planejamento da rea, mudanas na poltica tarifria e at a possibilidade de criao de pedgios urbanos para restringir a circulao de

    Legislao que tramitou 17 anos no Congresso abre at a possibilidade de municpios criarem pedgios urbanos para automveis como forma de desestimular o transporte individual

    Nova lei prioriza transporte coletivo

    MOBILIDADE

    1) Taxao ou subsdio para priorizar transporte coletivo

    Municpios passam a ter respaldo jurdico para implantar polticas de ta-xao ou subsdio para priorizar modos de transporte mais sustentveis e am-bientalmente amigveis, como pedgios urbanos, cobrana de estacionamento na via pblica e subsdio s tarifas.

    De que maneira: Restrio e controle de acesso e cir-culao, permanente ou temporrio, de veculos motorizados em locais e horrios predeterminados. Estipulao de padres de emisso de po-luentes para locais e horrios determinados.

    Aplicao de tributos sobre modos e ser-vios de transporte urbano pela utilizao da infraestrutura urbana para desestimular o uso de meios individuais. Essa receita pode ser aplicada em infraestrutura urbana destinada ao transporte pblico coletivo e fi nanciamento do subsdio da tarifa de transporte pblico. Criao de espao exclusivo nas vias para o transporte pblico coletivo e no motorizado. Estabelecimento da poltica de estacio-namentos de uso pblico e privado, com e sem pagamento pela sua utilizao. Controle da circulao do transporte de carga, concedendo prioridades ou restries.

    Controle das emisses de poluentes, facultando a restrio de acesso a deter-minadas vias em razo da criticidade dos ndices de emisses de gases.

    2) Mudana na remunerao das empresas

    No modelo atual, o servio de trans-porte urbano por nibus remunerado pe lo modelo baseado nos custos operacionais. A chamada planilha de custos inclui uma margem de remune-rao sobre o capital. A crtica que a forma no estimula a eficincia. A nova lei prev que a tarifa ser resultante do processo licitatrio. A inteno que

    Abaixo, alguns dos principais avanos da nova lei:

  • 31ANURIO DO NIBUS 2012

    5) O papel da UnioAlm de fomentar a criao de projetos

    de transporte coletivo de grande capa-cidade nas principais cidades e regies metropolitanas, a Unio ter tambm o papel de prestar assistncia tcnica e financeira, capacitar e formar pessoal e disponibilizar informaes nacionais aos municpios. Ter ainda de apoiar e estimular aes coordenadas e integra-das entre municpios e estados em regi-es metropolitanas. Essa questo ganha importncia em funo da tendncia de ganho de populao dos municpios das regies metropolitanas, com necessi-dade cada vez maior de integrar o seu

    a concorrncia acirrada contribua para tarifas mais mdicas.

    3) Descontos nas tarifasCom a concordncia do concedente,

    as empresas podero dar descontos nas tarifas, por exemplo, em horrios e dias de pouca demanda. Isso poderia incentivar o uso em horrios fora do pico.

    4) Direito dos usuriosOs usurios passam a ter o direito de

    serem informados nas paradas e pontos de embarque e desembarque sobre itinerrios, horrios, tarifas dos servios e sistemas de integrao com outros modais.

    transporte com o municpio polo.

    6) Plano de mobilidade urbanaTodos os municpios acima de 20 mil

    habitantes tero de elaborar planos de mobilidade urbana, que tero de ser revistos a cada dez anos. O Estatuto das Cidades previa a obrigao ape-nas para municpios com populao superior a 500 mil habitantes. Os mu-nicpios tm o prazo de trs anos, aps a promulgao da lei, para montar os seus planos. O limite, portanto, 2015. Caso contrrio, no recebero recursos orametrios federais voltados mo-bilidade urbana.

    automveis, gerando recursos que podero subsidiar tarifas ou mesmo serem empre-gados na melhoria da infraestrutura viria.

    Para Otvio Vieira da Cunha Filho, presidente da Associao Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), a chegada da nova lei um marco e pode alar o transporte pblico a um novo pa-tamar. um ano de guinada. 2012 o ponto de partida de um salto de qualidade que vai acontecer no transporte pblico e que dever ser maturado nos prximos anos. um paradigma que est sendo quebrado. Essa a nossa Carta Magna do transporte, avalia Cunha.

    A nova lei de mobilidade urbana, obser-va o presidente da Associao Nacional de Transportes Pblicos (ANTP), Ailton Brasiliense, a grande chance para as principais cidades brasileiras enfrentarem o caos urbano, o congestionamento nas ruas pela multiplicao dos automveis e a poluio causada pelo trfego intenso. uma oportunidade pela milsima vez. O ano de 2012 passa a ser um ponto de referncia. Os municpios devem ter de passar de fato a administrar o trnsito. Mas creio que a lei vai pegar em muitas cidades, principalmente nas acima de 300 mil habitantes, mas no na maioria adverte Brasiliense.

    Uma das inovaes da lei a exigncia para que todos os municpios acima de 20 mil habitantes elaborem planos de mobilidade urbana. At agora, isso era uma obrigao apenas para municpios com populao superior a 500 mil. Com isso, o nmero de cidades brasileiras que preci-saro elaborar planos, que era de apenas 38, passa a ser de 1.663. O prazo 2015.

    Outro avano do texto a possibilidade de as empresas de nibus concederem des-contos sazonais nas tarifas aos usurios. Ao reforar a primazia do transporte cole-tivo sobre o individual, a legislao deve ainda contribuir para o surgimento de um nmero maior de corredores segregados para nibus nas cidades, com o BTR (Bus Rapid Transit), o que tende aumentar a ve-locidade comercial dos coletivos e reduzir

    o consumo de combustvel dos veculos.Para o Instituto de Pesquisa Econmica

    Aplicada (Ipea), a aprovao da lei consis-te, portanto, em um importante marco na gesto das polticas pblicas nas cidades brasileiras. Mantido o quadro atual, aponta o Ipea, sobretudo os principais conglome-rados urbanos do Pas caminhariam para a insustentabilidade devido baixa prioridade dada e inadequao do transporte coletivo e uso intensivo do automvel.

    A nova lei de mobilidade urbana a grande chance

    para as principais cidades brasileiras enfrentarem o caos urbanoAilton Brasiliense, presidente da ANTP

  • 32 ANURIO DO NIBUS 2012

    A priorizao do transporte coletivo deve, enfi m, seguir um rumo que promete transformar esta meta em realidade. Aps dcadas sem investimentos em infraestrutura, o Pas inicia o processo de modernizao da rede de transporte nas grandes cidades. De acordo com a Associa-o Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), na dcada de 90 os nibus eram responsveis pelo deslocamento de quase 500 milhes de passageiros diariamente, em nove capitais brasileiras,

    Implantao de novos sistemas de mobilidade urbana, como o BRT e o BRS, promete melhorar a matriz do transporte coletivo em algumas cidades brasileiras

    Deslocamento mais rpido e efi ciente

    incluindo Rio de Janeiro, So Paulo, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre.

    De 1995 at 2010, este nmero caiu para aproximadamente 340 milhes de pessoas. Alm da falta de investimentos em infraestrutura viria, outros fatores podem ter motivado tal situao, como a priorizao do transporte motorizado individual e a consequente diminuio da velocidade operacional dos nibus em face dos congestionamentos.

    Se o panorama no comeo da dcada era retrato de um Brasil atrasado do ponto de vista da mobilidade urbana, a tendncia que seja vislumbrado um horizonte muito mais promissor. A realizao da Copa do Mundo e das Olimpadas serviu como fa-tor preponderante para que o tema fosse inserido defi nitivamente na agenda do

    BRT

    governo. Com o Programa de Acelerao do Crescimento (PAC), que prev os inves-timentos em infraestrutura, o Brasil tem a oportunidade de construir um sistema de transporte mais efi ciente. preciso, entretanto, que esses investimentos sejam contnuos, como cita Luis Antonio Lindau, diretor-presidente da rede Embarq Brasil uma associao sem fi ns lucrativos, criada para auxiliar governos e empresas no desenvolvimento de solues sustentveis para problemas de transporte e mobilida-de. Vemos isso tudo como a grande opor-tunidade de acelerar o desenvolvimento e a modernizao da infraestrutura do Pas, com a implantao de BRS (Bus Rapid Service), BRT (Bus Rapid Transit) e metr, assim como projetos para reurbanizao de favelas. Esses investimentos previstos pelo PAC incidem diretamente na rea de transporte, cita.

    Para Lindau, a falta de investimentos ao longo dos anos foi um fator preponderante para que o Pas assistisse inerte queda no volume de passageiros transportados. Desde os anos 80, tivemos baixssimos investimentos em transporte. Durante muitos anos foi possvel identifi car a perda de passageiros para o transporte privado e sabemos que essa recuperao difcil. As cidades-sedes (da Copa do Mundo) preci-sam muito mais do que isso que est sendo feito. Essa mudana precisa continuar na

    A falta de investimentos ao longo dos

    anos foi um fator preponderante para que o Pas assistisse queda no volume de passageiros transportadosLuis Antonio Lindau,da Embarq Brasil

  • 33ANURIO DO NIBUS 2012

    agenda do governo com investimentos em sistemas de mdia e alta capacidade. Esses investimentos so importantes para sairmos da inrcia, pondera.

    O diretor-tcnico da NTU, Andr Dan-tas, acredita na modifi cao permanente dessa situao e destaca a importncia da recente aprovao da Lei Nacional da Mobilidade Urbana (Lei 12.587/2012), em janeiro deste ano. sem dvida o pontap inicial para uma nova realidade jurdica do transporte pblico. A lei clara e defi ne o papel do Estado, da Unio, e trata tambm do estabelecimento de parcerias com a iniciativa privada, declara.

    A aprovao da lei, associada aos pro-gramas de desenvolvimento, pode ser o fator que faltava para que o Pas entrasse de vez nessa nova realidade. Para Lindau, preciso entender o passo que o Pas est dando, assim como outros fi zeram, para a melhoria dos deslocamentos nas grandes cidades. Existem pases que estabelece-ram programas nacionais de desenvol-vimento que favoreceram a implantao dos sistemas de BRT, como Mxico, ndia, China e Colmbia. No Brasil temos como principais cidades o Rio de Janeiro e Belo Horizonte, alm de Curitiba, que foi a pioneira. Estas trs so as mais expoentes do Pas, afi rma.

    De acordo com o Portal da Copa, dos 50 projetos voltados para a melhoria da mobilidade urbana, 19 so para implan-tao de BRTs que estaro presentes em nove cidades-sedes, cujos investimentos previstos somam aproximadamente R$ 4,5 bilhes. Rio de Janeiro e Minas Gerais so os estados que mais demandam recursos.

    A capital mineira conta com quatro projetos. O do trecho Avenida Antonio Carlos Pedro I, com 16 quilmetros de extenso, tem demanda estimada para o transporte de 20 mil passageiros por hora/

    sentido e ligar o aeroporto de Confi ns regio hoteleira da cidade, passando prximo ao estdio Mineiro. O BRT rea Central atender regio em que se locali-zam os equipamentos tursticos e culturais da cidade. Alm deles, h o Cristiano Ma-chado e o Corredor Pedro II Carlos Luz. Juntos, recebero investimentos de apro-ximadamente R$ 900 milhes. De acordo com a NTU, para operao nesses quatro corredores ser necessria a utilizao de 250 nibus, entre articulados, biarticulados e comuns. As obras desses sistemas devem estar fi nalizadas entre maro e novembro de 2013.

    J no documento da Controladoria Geral da Unio, o Rio de Janeiro tem um projeto, o Transcarioca. As obras esto em andamento e tm previso de trmino para dezembro de 2013. O corredor Transcarioca vai ligar o Aeroporto Inter-nacional do Galeo Barra da Tijuca. Tem

    39 quilmetros de extenso, capacidade para transportar 400 mil passageiros por dia em 217 nibus articulados e custar aproximadamente R$ 1,9 bilho. A capital fl uminense tem outros trs projetos de BRT TransOeste, TransBrasil e TransOlmpica , mas eles estaro prontos somente para as

    Olimpadas, em 2016.Recife tambm optou pela

    adoo de dois corredores do tipo BRT. O corredor Leste-Oeste vai levar os passagei-ros da Praa do Derby at o terminal do Camaragibe, ter 12,5 quilmetros de extenso e contar com 22 estaes. J o corredor Norte-Sul vai do terminal do Iga-rassu at a regio central de Recife. Sero 33 quilmetros, passando por 31 estaes e fazendo a integrao com

    CAPITAIS BRASILEIRAS SISTEMA DE NIBUS URBANOSPASSAGEIROS TRANSPORTADOS POR MS

    Abril e outubro de 1994 a 2010500

    450

    400

    350

    300

    2501994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

    Belo Horizonte, Curitiba, Goinia, Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e So Paulo

    Fonte: NTU

    Pass

    agei

    ros

    (em

    milh

    es)

    Abr Out

    A lei da mobilidade um pontap

    inicial para uma nova realidade jurdica do transporte pblicoAndr Dantas,diretor-tcnico da NTU

  • 34 ANURIO DO NIBUS 2012

    quatro terminais de metr. Em Porto Alegre, capital do Rio Grande

    do Sul, os trs corredores que sero im-plantados na cidade totalizam pouco mais de 17 quilmetros. Em toda a sua extenso ser usado concreto na pavimentao. Segundo a NTU, sero utilizados cerca de 370 veculos para o transporte de parte da populao, que hoje se aproxima de 1,5 milho de habitantes, de acordo o censo realizado em 2010.

    Curitiba, capital do Paran, o bero do BRT. Foi a primeira cidade do mundo a ter um projeto desse tipo implantado e idealizado pelo arquiteto e ex-prefeito da cidade, Jaime Lerner. O conceito atravessou mares e fronteiras e hoje referncia em diversas capitais do mundo.

    Manaus, Fortaleza e Braslia tambm esto entre as cidades que optaram por sistemas de BRT. Juntas essas capitais re-cebero mais de R$ 1 bilho para reestru-turao das respectivas redes de transporte por nibus. Sero mais de 60 quilmetros de vias exclusivas. Em Salvador, existe um projeto para implantao de BRT e outro de metr, mas, at o fechamento desta edio, ainda no havia sido anunciada a deciso fi nal sobre qual modal ser escolhido. Para efeitos de comparao, a implantao da terceira fase do sistema Transmilnio em Bogot, capital da Colmbia, com 30 quilmetros de extenso, teve o custo de aproximadamente de US$ 970 milhes.

    Mais mobilidade, por um custo menor

    Com a implantao dos projetos de BRT nas cidades brasileiras, espera-se que haja a to sonhada racionalizao do sistema de transporte pblico. difcil quantifi car o percentual de veculos que sero suprimidos nas principais capitais do Pas. Entretanto, possvel afi rmar que a priorizao do transporte pblico trar benefcios, como maior velocidade comer-cial para os nibus, diminuio da emisso de poluentes e transporte de um volume

    maior de passageiros com menor custo, tanto para operadores como para usurios.

    Quem fala sobre as vantagens da prioriza-o do transporte coletivo o diretor regio-nal da Associao Nacional dos Transportes Pbicos (ANTP), Willian de Aquino, que acredita na possibilidade de as autoridades estabelecerem polticas tarifrias capazes de aumentar ainda mais a demanda do setor. Com a implantao dos BRTs, ser possvel fazer um deslocamento maior com um custo menor. Por exemplo, hoje com o Bilhete nico Carioca o passageiro utiliza dois nibus. No momento em que o BRT estiver em funcionamento, ser possvel utilizar trs condues, um alimentador, um troncal e outro alimentador. O usurio vai se deslocar melhor, com maior rapidez e mais barato, cita.

    Alm disso, Aquino mostra que nas cidades que j possuem BRTs implantados foi observado um aumento na demanda pelo transporte pblico, levando em considerao a melhoria dos sistemas. possvel citar os casos de Curitiba, de Bogot com o Transmilnio e de Santiago, no Chile. No Brasil, onde houver a implan-tao de corredores, vai ser observado esse aumento do nmero de passageiros transportados. Isso j pode ser notado at mesmo com o BRS implantado no Rio, compara.

    Para que essa nova demanda seja absorvida em curto perodo necessrio que o usurio perceba que existe uma mudana de concepo no transporte

    BRT

    pblico, desde seus atributos at a ope-rao propriamente dita. Com relao atratividade, o metr continua sendo referncia devido efi cincia, rapidez, pontualidade, conforto e segurana. Lin-dau afi rma que, no momento em que os BRTs estiverem devidamente implantados, essas caractersticas sero prontamente percebidas pelos usurios do sistema. O BRT permite que os atributos do metr sejam trazidos para a superfcie, como o embarque em nvel, por exemplo, e isso logo percebido, relata.

    Do ponto de vista da operao, apesar de o Brasil ter em Curitiba o seu prin-cipal espelho, ainda pouco diante da magnitude e complexidade da revoluo tecnolgica pela qual o Pas vai passar. Dantas, da NTU, afirma que o grande desafi o ser dimensionar a demanda e assim estabelecer as estratgias para que os operadores ofeream um servio de excelncia aos usurios do sistema. O metr de So Paulo opera com intervalo de 90 segundos. O de Tquio tem linhas que operam a cada 60 segundos. Ns temos a perspectiva de trabalhar com intervalo de 15 segundos em alguns corredores. Preci-samos detalhar essa dinmica, e para isso os estudos esto sendo feitos utilizando softwares especializados, fi naliza.

    Com a implantao dos BRTs,

    ser possvel fazer um deslocamentomelhor com maior rapidez e mais baratoWillian de Aquino,diretor regional da ANTP

  • 35ANURIO DO NIBUS 2012

    TERCEIRO CORREDOR MEXIBUS.MAIS UM PROJETO INTERNACIONALCOM SOLUO EMPRESA 1.Empresa 1. Presena consolidada no Estado do Mxicocomo integradora tecnolgica.

  • 36 ANURIO DO NIBUS 2012

    A frota de nibus do sistema de trans-porte pblico da maior cidade do Pas, a capital paulista, foi renovada em 83% nos ltimos seis anos. No total, 12.516 novos veculos foram includos entre janeiro de 2005 e maro de 2012. Entre 2009 e 2011, 4.534 novos veculos foram entregues populao de So Paulo, o que correspon-

    Nos ltimos seis anos, 83% da frota de nibus da capital paulista foi renovada e hoje 53% dos veculos so acessveis aos passageiros com mobilidade reduzida

    So Paulo renova frota e aumenta acessibilidade

    de a 30% de toda a frota ultrapassando a meta da Agenda 2012, um programa de metas da cidade que previa a substituio de 25% dos nibus entre 2009 e 2012, ou aproximadamente 3,7 mil veculos. A acessibilidade para a populao que tem problemas de mobilidade tambm melhorou: em janeiro de 2005, eram 297

    METRPOLE

    veculos com algum tipo de acessibilidade; atualmente, so 7.905, o que corresponde a 53% do total e um acrscimo de 2.479% no perodo, de acordo com os dados da So Paulo Transporte S.A. (SPTrans) e da Secretaria Municipal de Transportes.

    A renovao da frota continuar sendo realizada durante o ano de 2012, aumen-

    MRCIA PINNA RASPANTI

  • 37ANURIO DO NIBUS 2012

    tando ainda mais o nmero de nibus aces-sveis na cidade. Desde 2009, todo veculo novo includo no sistema de transportes deve conter algum tipo de acessibilidade, seja com rampa ou elevadores.

    A substituio dos veculos antigos por modelos mais novos e com maior capacidade de passageiros, aliada ao programa de reorganizao de linhas que a SPTrans vem implantando na cidade, tm diminudo o nmero de linhas so-brepostas nos grandes corredores, o que melhora a operao de todo o sistema virio da capital. Entre janeiro de 2009 e dezembro de 2011, o acrscimo na oferta de lugares foi de 5%, enquanto o nmero de passageiros transportados avanou 3% no mesmo perodo, de acordo com dados da secretaria.

    Menos poluio

    A renovao da frota de nibus tambm traz impactos na qualidade do ar, j que veculos mais novos possuem motores mais avanados tecnologicamente e menos poluentes que os veculos anteriores. A prefeitura lanou, em fevereiro de 2011, o

    Programa Ecofrota, que prev que o sistema deixar de utilizar combustveis fsseis at 2018, em consonncia com a Lei de Mu-danas do Clima. Desde janeiro de 2009, os nibus da capital esto operando com leo diesel B5 S50, que contm 5% de

    biodiesel adicionado ao diesel com 50 ppm (partculas por milho) de enxofre.

    Em 2011, a prefeitura investiu R$ 47,6 milhes na ampliao da frota que utiliza combustveis menos poluentes. De fevereiro de 2011 a janeiro de 2012, houve uma

    Nmero de viagens: 9,3 milhes de passageiros/dia registrados na SPTrans 4,4 milhes de passageiros/dia no metr

    1,9 milho de passageiros/dia nos trens da CPTM Total de 15,7 milhes de passageiros por dia (SPTrans+metr+CPTM)

    Fonte: SPTrans

    O SISTEMA DE TRANSPORTE PBLICO COLETIVO DA CIDADE DE SO PAULO UM DOS MAIORES DO MUNDO. NO TOTAL, SO:

    9,3 milhes de viagens/dia SPTrans 6,1milhes

    de passageiros pagantes/dia 870 mil

    gratuidades dia/til

    745 milpassagens de estudantes dia/til, sendo 467 mil pagantes e 278 mil integraes

    3,1 milhes de passagens integradas

    nibus/nibus, sem acrscimo tarifrio

    1,1milho usurios/dia de passagens

    integradas nibus/metr/ferrovia

    4 mil kmde vias de circulao de nibus, sendo cerca de 120 quilmetros

    de corredores exclusivos

    10 corredores exclusivos

    para nibus

    31terminais, sendo 19 inteligentes

    1.350linhas de nibus

    19 milpontos/abrigosde embarque edesembarque

  • 38 ANURIO DO NIBUS 2012

    reduo de 13,9% nas emisses dos po-luentes dos nibus por conta do Programa Ecofrota. Segundo a SPTrans, 1,2 mil nibus so abastecidos com o combustvel B20 uma mistura de 20% de biodiesel de gros ao diesel j utilizado na cidade (B5 S50). A utilizao do B20 nesses veculos reduz em at 22% a emisso de material par-ticulado, 13% de monxido de carbono e 10% de hidrocarbonetos. A prefeitura tambm vai renovar 140 dos 190 trlebus (movidos a energia eltrica) que circulam na cidade, sendo que 41 veculos eltricos novos j esto em operao.

    Circulam pela capital paulista ainda 160 nibus abastecidos com 10% de diesel de cana-de-acar. Os testes realizados anteriormente apresentaram uma reduo de at 41% de fumaa preta, comparando com os veculos abastecidos com diesel B5 (com 5% de biodiesel). Existem ainda 60 veculos abastecidos com etanol, que operam com reduo de emisso de ma-terial particulado, NOx e sem liberao de enxofre na atmosfera. A prefeitura continua investindo em novas tecnologias

    para reduzir a emisso de poluentes no ar de So Paulo. Entre as alternativas testa-das, esto os nibus hbridos e os nibus movidos a baterias eltricas.

    Estrutura

    A capital est dividida em oito reas, atendidas por empresas consorciadas e permissionrias. Os consrcios fazem as linhas estruturais, saindo de terminais e seguindo at as regies de grande interesse, como o centro da cidade, Pinheiros, Santo Amaro e estaes do metr. As permissionrias fazem as linhas locais, partindo das bordas da cidade at os terminais ou pequenos centros, que faro ligao com as linhas troncais e estruturais. A SPTrans informa que a cidade conta hoje com cerca de 19 mil pontos de nibus, sendo que, desses, 7 mil possuem cobertura e aproximadamente 4 mil possuem assentos, de acordo com a viabilidade tcnica referente a espao disponvel e s necessidades prioritrias

    METRPOLE

    de cada rea. A instalao de paradas com cobertura depende, principalmente, de espao na calada, que precisa ter no mnimo 2,5 metros de largura.

    Em 2011, foram realizadas 2.472 re-vitalizaes de pontos, sendo que 1.472 so pontos simples e outros mil so pa-radas com abrigos. Nestes casos, os equi-pamentos danifi cados so restaurados ou substitudos, alm da instalao de novas paradas para atender s implantaes de linhas ou alterao de itinerrios. A SPTrans aplica R$ 8,4 milhes anual-mente para a manuteno de pontos e corredores. Diariamente, as equipes de fi scalizao saem a campo para identifi -car problemas, principalmente causados por vandalismo, e repassam s equipes de manuteno da empresa para que o reparo seja feito no menor prazo possvel. A prioridade, nestes casos, para danos que possam ocasionar riscos segurana dos usurios. Nos casos emergenciais, os danos so reparados em at 24 horas. Os outros casos so resolvidos, geralmente, em cerca de 90 dias.

    Renovao da frota tambm contribuiu para melhorar a qualidade do ar; os veculos mais novos tm motores tecnologicamente mais avanados e menos poluentes

  • 39ANURIO DO NIBUS 2012

  • 40 ANURIO DO NIBUS 201240 ANURIO DO NIBUS 2012

    Criada antes da considerada indstria automotiva nacional, que teve seu incio nos anos 50, com grande incentivo do governo federal, a indstria do nibus teve um comeo difcil. Os chassis disponveis para encarroamento eram provenientes de caminhes e, por isso, passavam por verdadeiras cirurgias para se adequarem s necessidades de um nibus. Era comum manterem o frontal da cabina original do caminho, porm, para fazer na poca um nibus puro-sangue, havia a necessidade de uma cirurgia incisiva com uma anestesia geral, mecnicos traumatologistas e todo o equipamento cirrgico da poca serra, solda e coragem. Dessas cirurgias, muitos trompudos viravam forward controls, ou seja, o cockpit do motorista saa da posio atrs do motor e era adaptado para frente, ao lado desse, de forma a construir uma carroceria monovolume.

    As carrocerias construdas, inicialmente, com estrutura e revestimento em madeira ou ao, passaram gradativamente para a utilizao do ao na sua estrutura e do alumnio no seu revestimento; ganharam cantos e contornos arredondados e a presena dos artesos foi cada vez mais solicitada, para esta verdadeira escultura estampada mo. Nos anos 60, com a chegada do plstico reforado com fi bra de vidro, foi possvel ento trabalhar melhor a escultura das carrocerias, frente e traseira passaram a ter linhas e detalhes marcantes de relevo. Este material veio contribuir muito para a indstria do nibus, permitindo um salto esttico importante. Nos anos 70 seria a vez da entrada do plstico termomoldado, principalmente o ABS, que ganhou rapidamente espao especial para solues internas. Nessa poca, o ar-condicionado comeou a fazer

    A evoluo do nibus no Brasil

    parte da oferta de opcionais, com um sistema power pack, utilizando um motor diesel inde-pendente somente para acionar o compressor e o alternador para gerar energia aos motores eltricos do condensador e do evaporador. Com a introduo de poltronas largas, na verso leito, e chassis com motor traseiro, veio ento uma nova fase que pode ser considerada uma revoluo de grande evoluo.

    Nossa indstria passou esta primeira fase tendo como inspirao o conceito americano que privilegia o conforto, a simplicidade e o fcil acesso a tudo. As carrocerias comearam a mudar: o conceito europeu passou a ser a nova referncia: das janelas baixas com co-lunas inclinadas para frente, para uma janela maior em formato retangular e colunas ver-ticais. As carrocerias adquiriram linhas mais limpas e, procurando gerar valor tambm pela aparncia, a indstria do turismo comeou a se fortalecer e necessitou de veculos mais luxuosos, com ampla visibilidade, poltronas com nveis de conforto acima do padro europeu, suspenso a ar e maior espao para as bagagens. Nesta fase as carrocerias comearam a ganhar altura, os chassis, com verdadeiro DNA de nibus rodovirios de luxo, viabilizaram o aproveitamento melhor do espao no entre-eixos, retirando suas longarinas do quadro do chassi.

    Para o motorista, tambm houve impor-tantes melhorias durante todas essas fases. O estudo e desenvolvimento de solues er-gonmicas passaram a ser obrigatrios, afi nal o cockpit do motorista o seu escritrio de trabalho e a necessidade de conforto est diretamente ligada sua satisfao e nvel de estresse. Para ajudar e facilitar sua vida, a direo hidrulica, por exemplo, que hoje normal de srie, teve seu incio como item

    ARTIGO

    JOS ANTONIO MARTINS*

    *Jos Antonio Martins presidente da Fabus e do Simefre e vice-presidente de relaes institucionais da Marcopolo S.A.

  • 41ANURIO DO NIBUS 2012 41ANURIO DO NIBUS 2012

    opcional, caro e de manuteno complicada. Os freios a ar tiveram tambm sua fase inicial difcil, assim como a passagem do comando de embreagem de mecnico para hidrulico e o cmbio de comando mecnico para ele-trnico. O motorista passou a ser considerado um cliente importante e crtico, pois ningum tem tanto contato com o produto quanto ele.

    O ganho em conforto para o passageiro fez com que se desenvolvessem carrocerias maiores, mais longas, de forma a manter, no mnimo, o mesmo nmero de passageiros. Necessidades especficas de bagageiros maiores geraram os chamados nibus low driver, e esta inovao teve como passo seguinte os nibus double decker dois modelos desenvolvidos pelos encarroadores que novamente retornaram sua fase de cirurgies de chassis e os adequaram a essa demanda. Tambm os nibus rodovirios, com quatro eixos, no s foram criados e adaptados pelos encarroadores, como tambm tiveram a difcil misso de aprov-los junto aos rgos federais para a mudana da lei que os limitava a 12 metros de com-primento, com uma tolerncia de at 10%, totalizando 13,20 metros. Os nibus DD, ou double decker, foram viabilizados com a liberao do quarto eixo e 14 metros de comprimento e a indstria nacional ganhou participao em outros mercados com esta verso. Tnhamos, por exemplo, uma lei que limitava o comprimento para os nossos nibus em 13,20 metros, porm libervamos a entrada dos nibus argentinos com 14 metros em nosso territrio.

    O deslocamento das pessoas em nosso gigantesco pas sempre esteve alicerado na disponibilidade de nibus. Mesmo nos dias de hoje, com a facilidade de compra de um automvel particular, preciso considerar, por outro lado, que a populao cresceu e, assim como o turismo interno, de forma vertical. Mesmo que as empresas areas concorram nas grandes distncias, elas no conseguem atender demanda de transporte, pois somente os municpios privilegiados por um aeroporto e com alta demanda de passagei-ros conseguem viabilizar linhas constantes. Os nibus conseguem oferecer a disponibili-

    dade necessria. No turismo, embora o maior trajeto seja auxiliado pelo avio, a presena do nibus estar da porta do aeroporto at o hotel e deste aos pontos de interesse, complementando assim o servio e tornando vivel um belo e confortvel passeio, com diferentes tempos de permanncia em cada local. Aproveita-se, assim, o que de melhor cada meio de transporte pode oferecer.

    Os nibus urbanos, no incio da indstria nacional, tiveram uma histria similar aci-ma comentada. Em momentos especfi cos

    tomaram seu caminho e se ajustaram s necessidades do mercado e s defi nidas pelos rgos gestores do transporte dos munic-pios. Tivemos nos anos 80 algumas iniciativas que buscaram uma padronizao para estes veculos Projeto Padron era o seu nome. Outro grande projeto de urbanismo criou, na cidade de Curitiba, solues importantes que priorizaram o transporte pblico. Um sistema rpido de embarque e desembarque em nvel, veculos em trs mdulos com grande capacidade de passageiros e vias segregadas

    No incio

    Nos anos 60

    Nos dias de hoje

  • 42 ANURIO DO NIBUS 201242 ANURIO DO NIBUS 2012

    segurana exigida aos nibus. Mas aquele momento marcou uma nova demanda de servios em alguns espaos no atendidos por nibus, quer seja pela falta propriamente dita ou pela difi culdade de trafegabilidade no trajeto. A indstria nacional do nibus reagiu e criou um novo veculo pequeno, gil e capaz de atender s necessidades impostas aos nibus e num novo formato, nibus prt--porter. Este segmento cresceu rapi-damente e assegurou que novas demandas de transporte pudessem ser ajustadas. A disponibilidade imediata desses produtos permitiu rpidas respostas s necessidades geradas ou solicitadas.

    As questes de acessibilidade ao trans-porte pblico urbano, discutida e consoli-dada com a participao dos fabricantes de carrocerias, chassis e complementos junto Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), trouxeram ao nibus toda a responsabilidade das adequaes s novas necessidades. Porm a infraestrutura neces-sria para a completa efi cincia do sistema

    ARTIGO

    de excelente qualidade e preferncia deram ao sistema o status de moderno e efi caz. O biarticulado, como conhecido, foi um projeto que dividiu as necessidades do transporte, entre todos, da melhor e efi caz forma. As plataformas de embarque tiraram dos nibus os degraus das escadas e auto-maticamente os adequaram acessibilidade das pessoas com difi culdade de locomoo. Outros projetos de grandes dimenses foram idealizados, porm os altos custos de desa-propriaes e de infraestrutura sempre foram os limitantes para sua execuo. A indstria do nibus sempre esteve presente nesses projetos com suas contribuies.

    Nos anos 90, uma verdadeira epidemia de veculos pequenos de transporte de passagei-ros chegou ao Pas e estes veculos passaram a competir com o nibus, principalmente no sistema de transporte urbano. Estes veculos no atendiam s condies bsicas para tal tipo de servio por no possurem corredor interno e altura interna adequada, e sua operao era comprometida pela falta de

    no foi includa na questo, o que tornou o conjunto de necessidades incompleto e limitou uma contribuio maior por parte dos fabricantes de nibus. Algumas verses, no entanto, foram criadas para contribuir com o tema, como verses urbanas com piso totalmente baixo, sem degraus, os low fl oor, at verses com sistema tilt, que rapidamente alterava a altura da carroceria de forma a conseguir, atravs de pequenas rampas, atingir ngulos de fcil acesso.

    Prottipos de veculos biarticulados foram desenvolvidos, com locomoo puramente eltrica, como o VLP (Veculo Leve sobre Pneu), um nibus que possua um