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289 Anuário da Produção Acadêmica Docente Vol. III, Nº. 4, Ano 2009 Thiago Lima de Almeida Faculdade Anhanguera de Dourados [email protected] PROPOSTA DE EMENTA PARA A DISCIPLINA DE ANATOMIA VETERINÁRIA I DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DA ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. RESUMO O estudo de Anatomia Veterinária é um desafio tanto para o corpo docente quanto para o alunado que está ingressando no ensino superior, já que essas disciplinas estão nas séries iniciais do curso. O desenvolvimento de metodologias de ensino por parte do corpo docente, a oferta satisfatória de peças anatômicas e o conhecimento das características e anseios do grupo está diretamente relacionado com o sucesso da aprendizagem do corpo discente. Essa revisão tem como objetivo propor uma ementa para a disciplina de Anatomia Veterinária I para o curso de Medicina Veterinária da Anhanguera Educacional. Um dos principais fatores é a composição de um plano de ensino e aprendizagem que respeite as características das séries iniciais e contemple uma carga horária suficiente para o desenvolvimento dos principais tópicos da Anatomia Veterinária. Palavras-Chave: anatomia; veterinária; plano; ensino; aprendizagem. ABSTRACT The study of Veterinary Anatomy is a challenge for teachers and students who are entering into higher education, as these disciplines are the first grades of the course. The development of teaching methods by the teachers, offer satisfactory anatomical parts and knowledge of the characteristics and desires of the group that is working, is directly related to successful learning of the students. This review aims to propose a menu for the discipline of Veterinary Anatomy I for the course of Veterinary Medicine on Anhanguera Educational. A major factor is the composition of a plan of teaching and learning that meets the specifications for the initial series and including a sufficient workload for the development of the main topics. Keywords: anatomy; veterinary; plan; learning; teaching. Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Informe Técnico Recebido em: 4/1/2010 Avaliado em: 7/3/2010 Publicação: 19 de março de 2010 ANUDO n4_miolo.pdf 289 13/4/2010 18:20:45

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Anuário da Produção Acadêmica Docente Vol. III, Nº. 4, Ano 2009

Thiago Lima de Almeida Faculdade Anhanguera de Dourados [email protected]

PROPOSTA DE EMENTA PARA A DISCIPLINA DE ANATOMIA VETERINÁRIA I DO CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA DA ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.

RESUMO

O estudo de Anatomia Veterinária é um desafio tanto para o corpo docente quanto para o alunado que está ingressando no ensino superior, já que essas disciplinas estão nas séries iniciais do curso. O desenvolvimento de metodologias de ensino por parte do corpo docente, a oferta satisfatória de peças anatômicas e o conhecimento das características e anseios do grupo está diretamente relacionado com o sucesso da aprendizagem do corpo discente. Essa revisão tem como objetivo propor uma ementa para a disciplina de Anatomia Veterinária I para o curso de Medicina Veterinária da Anhanguera Educacional. Um dos principais fatores é a composição de um plano de ensino e aprendizagem que respeite as características das séries iniciais e contemple uma carga horária suficiente para o desenvolvimento dos principais tópicos da Anatomia Veterinária.

Palavras-Chave: anatomia; veterinária; plano; ensino; aprendizagem.

ABSTRACT

The study of Veterinary Anatomy is a challenge for teachers and students who are entering into higher education, as these disciplines are the first grades of the course. The development of teaching methods by the teachers, offer satisfactory anatomical parts and knowledge of the characteristics and desires of the group that is working, is directly related to successful learning of the students. This review aims to propose a menu for the discipline of Veterinary Anatomy I for the course of Veterinary Medicine on Anhanguera Educational. A major factor is the composition of a plan of teaching and learning that meets the specifications for the initial series and including a sufficient workload for the development of the main topics.

Keywords: anatomy; veterinary; plan; learning; teaching.

Anhanguera Educacional S.A. Correspondência/Contato

Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected]

Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE

Informe Técnico Recebido em: 4/1/2010 Avaliado em: 7/3/2010

Publicação: 19 de março de 2010

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1. INTRODUÇÃO

O estudo de Anatomia, assim como todas as disciplinas relacionadas às Ciências

Morfológicas, é um desafio para o corpo docente que necessita criar métodos didáticos e

pedagógicos para os acadêmicos que, muitas vezes, estão em contato pela primeira vez

com a área biológica.

Todos os recursos auxiliares utilizados em aulas práticas e teóricas são

importantíssimos para a apresentação do conteúdo programático contido na ementa da

disciplina. Entretanto, dispor de recursos áudios-visuais em aulas teóricas, peças

anatômicas em quantidades excedentes além do preconizado para o número de alunos,

infra-estrutura adequada à realização das aulas e um corpo docente bem preparado se

torna em vão quando a ementa não contempla determinados assuntos ou então privilegia

uns conteúdos e deixam outros com menos carga horária ou até ausentes do Plano de

Ensino e Aprendizagem (PEA).

Propor uma ementa para as disciplinas de Anatomia Veterinária I é o principal

objeto desse trabalho, com base em experiências vividas in loco na instituição, respeitando

o projeto pedagógico do curso de Medicina Veterinária.

2. EMENTA PARA A DISCIPLINA DE ANATOMIA VETERINÁRIA I

Inicialmente é importante destacar a ementa contida no Plano de Ensino e Aprendizagem

da disciplina de Anatomia Veterinária I do curso de Medicina Veterinária utilizado pela

Anhanguera Educacional em todas as suas unidades que oferecem o curso de graduação.

Abaixo, relacionam-se os conteúdos programáticos e sua carga horária teórica

semestral: (Anhanguera Educacional S.A.)

1ª semana: Introdução ao Estudo da Anatomia e Nomenclatura Anatômica (2

horas/aula);

2ª semana: Posição Anatômica, Planos de Delimitação, Eixos e Planos de

Construção do Corpo dos Vertebrados (2 horas/aula);

3ª a 5ª semana:- Osteologia (6 horas/aula);

6ª e 7ª semana: Artrologia (4 horas/aula);

8ª e 9ª semana: Miologia (4 horas/aula);

10ª semana: 1ª Avaliação (2 horas/aula);

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11ª e 12ª semana: Tegumento Comum (4 horas/aula);

13ª a 16ª semana: Sistema Nervoso (8 horas/aula);

17ª semana: Estesiologia (2 horas/aula);

18ª semana: Prova Escrita Oficial (2 horas/aula);

19ª semana: Revisão e Preparação para a Avaliação Substitutiva (2 horas/aula);

20ª semana: Prova Substitutiva.

A seguir, o modelo proposto de ementa para a disciplina de Anatomia

Veterinária I com o cronograma e a carga horária semanal:

1ª semana: Introdução ao Estudo da Anatomia e Nomenclatura Anatômica (2

horas/aula);

2ª semana: Posição Anatômica, Planos de Delimitação, Eixos e Planos de

Construção do Corpo dos Vertebrados (2 horas/aula);

3ª até 6ª semana: Osteologia (8 horas/aula);

7ª até 9ª semana: Artrologia (6 horas/aula);

10ª Semana: Primeira Avaliação Teórica e Prática (N1) com os conteúdos

abordados da 1ª até 9ª semana;

11ª até 14ª semana: Miologia (8 horas/aula);

15ª a 16ª semana: Sistema Nervoso (4 horas/aula);

17ª semana: Estesiologia (2 horas/aula);

18ª semana: Tegumento Comum (2 horas/aula);

19ª semana: Prova escrita Oficial teórica e prática (N2) com conteúdos abordados

durante o semestre letivo (2 horas/aula);

20ª semana: Avaliação Substitutiva (PS) (2 horas/aula).

A proposta de ementa para a disciplina de Anatomia Veterinária I vem de

encontro com alguns conteúdos e cargas horárias apresentadas acima e atualiza ou

acrescentam outros.

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2.1. Introdução Geral ao Estudo da Anatomia Veterinária e Nomenclatura Anatômica

A primeira aula de Anatomia Veterinária deve contemplar uma introdução ao estudo em

ciências morfológicas, como a História da Anatomia Veterinária, o porquê da disciplina e

sua importância na formação profissional do Médico Veterinário, pois são riquezas de

detalhes que imprimem um conhecimento técnico e cultural que desperta o interesse do

aluno no transcorrer do semestre letivo.

A carga horária de duas horas/aula é o ideal para essa exposição. É interessante

utilizar recursos áudios-visuais com imagens e vídeos da rotina profissional do médico

veterinário, como cirurgias, atendimentos clínicos, serviços de inspeção de produtos de

origem animal e outros. Isso é importante para que o acadêmico conheça tanto as áreas de

atuação profissional quanto para o professor demonstrar como os conteúdos da disciplina

estão inseridos nesses contextos e a importância do conhecimento teórico e prático.

Versalius, citado por Ellenport (1986, p. 3), destaca a anatomia como uma base

sólida de toda a arte da medicina e como uma introdução essencial. O primeiro passo do

estudante de um curso nas áreas biológicas e da saúde é entender a importância dessa

ferramenta na construção da profissão, visualizando a aplicação de conceitos e teorias

anatômicas nas disciplinas mais avançadas, ditas profissionalizantes, bem como para o

sucesso da prática profissional. A anatomia é o ramo da biologia que estuda a forma e a

estrutura dos organismos (ELLENPORT, 1986). O termo, de origem grega, literalmente

significa “cortar fora”, fato esse que correlaciona a dissecação do cadáver como o método

tradicional e primordial de estudá-la (DYCE; SACK; WENSING, 2004).

No campo da medicina veterinária, Ellenport (1986, p.3) descreve a anatomia

veterinária como uma disciplina altamente descritiva e que contribui para a formação do

profissional. A autora destaca ainda os três principais métodos de estudo, a saber:

sistemático, topográfico e o aplicado.

O conceito sistemático visa uma abordagem do corpo como um constituído de

órgãos ou aparelhos que desenvolvem certas funções, como por exemplo, o sistema

digestório, sistema cardiovascular e sistema urinário.

Essa metodologia combina aspectos macroscópicos, microscópicos, de

desenvolvimento e funcionais, fornecendo base para outras disciplinas, como por

exemplo, Fisiologia e Patologia Animal. Para o acadêmico ingressante é muito mais fácil a

compreensão do que a metodologia topográfica (DYCE; SACK; WENSING, 2004).

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Ellenport (1986) divide o método sistemático em: 1) Osteologia; 2) Sindesmologia

ou Artrologia; 3) Miologia; 4) Esplancnologia; 5) Angiologia; 6) Neurologia; 7) Órgãos do

Sentido; 8) Tegumento Comum. Esses serão incluídos e distribuídos no Plano de Ensino e

Aprendizagem nas disciplinas de Anatomia Veterinária I e Anatomia Veterinária II.

A nomenclatura anatômica é importante para que haja uma descrição precisa e

unívoca dos termos e localizações das estruturas no corpo animal (KONIG; LIEBICH,

2004). Para reduzir os equívocos e confusões, fora acordado internacionalmente o

vocabulário único, também chamado de Nomina Anatômica (NAV), firmado pela

primeira vez em 1968 (DYCE; SACK; WENSING, 2004) e a quinta e ultima edição em 2005

(INTERNATIONAL COMMITTEE ON VETERINARY GROSS ANATOMICAL

NOMENCLATURE, 2005).

2.2. Posição Anatômica, Planos de Delimitação, Eixos e Planos de Construção do Corpo dos Vertebrados

O estudo da Posição, Planos e Direções do corpo dos vertebrados deve sempre antevir o

estudo dos tecidos e sistemas orgânicos do animal. Para uma perfeita compreensão dessas

estruturas, o acadêmico deve primeiramente compreender como é construído o corpo

animal dentro do ambiente.

A carga horária ideal para esse módulo são duas horas/aulas, lançando mão do

uso de esqueletos completos de diversos animais. Após a explanação teórica com auxílio

desse recurso, aplica-se um exercício, solicitando para os alunos que identifiquem os

termos de direção e posição anatômica na peça anatômica.

Os principais termos recomendados de posição e direção estão distribuídos em

pares e se referem à posição relativa e não absoluta (DYCE; SACK; WENSING, 2004), por

exemplo: referir-se sempre que uma estrutura está localizada em determinada posição ou

direção em relação à outra.

Os principais termos são: dorsais (direção do dorso ou correspondente na cabeça

e cauda); ventral (direção do ventre ou abdômen e correspondente na cabeça ou cauda);

cranial (direção ao crânio); caudal (direção a cauda); laterais (direção ao lado do

abdômen do animal); mediais (direção ao plano mediano que divide o corpo em duas

metades iguais – direita e esquerda). Para a cabeça existe um termo adicional, a saber:

rostral (direção do focinho) (DYCE; SACK; WENSING, 2004)

Nos membros destacam-se alguns termos próprios, como proximais (próximo a

articulação ou junção do membro ao corpo); distais (distantes dessa união). A partir da

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porção distal dos membros, ossos do carpo ou tarso, utilizam-se o termo dorsal para

indicar a porção da “frente” e palmar ou plantar para indicar a porção de trás do membro,

sendo o primeiro para os membros torácicos e o segundo para os membros pélvicos

(DYCE; SACK; WENSING, 2004).

Os planos do corpo do animal são formados por eixos imaginários construídos a

partir do corpo animal. O plano mediano, como dito acima, divide-o em duas partes

iguais, antímero direito e esquerdo. O plano paramediano ou sagital se localizam

paralelamente ao mediano. Enquanto que o plano transversal se estende

perpendicularmente à superfície dorsal, formando um metâmero cranial e um metâmero

caudal. O ultimo plano é o frontal, formado pela união do eixo crânio-caudal e

laterolateral, criando o paquímero dorsal e o ventral (KONIG; LIEBICH, 2004).

Os demais planos e direções adicionais podem ser apresentados como forma de

pesquisa ou roteiro de aula prática para identificação dos acadêmicos.

2.3. Aparelho Locomotor: Osteologia

O módulo de Osteologia requer uma maior dedicação do aluno e o desenvolvimento e

aplicação de métodos de ensino pelo professor, dada a grande quantidade de estruturas e

acidentes anatômicos a serem estudados.

Essa riqueza de detalhes e informações necessita de métodos eficazes de ensino e

aprendizagem para assimilação do conteúdo exposto. É válido o uso de atlas e roteiro de

aula prática contendo as estruturas a serem identificadas pelos acadêmicos por ser uma

forma simples e prática para o estudo anatômico em Osteologia.

Esse módulo totaliza 8 horas/aula e requer uma subdivisão para apresentação do

conteúdo. É oportuno reservar duas horas/aula para uma introdução ao sistema

esquelético, apresentando a constituição de um osso, morfogênese, funções, tipos de

ossos, forma e iniciar o estudo dos ossos da cabeça (crânio e face), constituinte do

esqueleto axial.

Entende-se por esqueleto uma armação de estruturas duras que suportam e

protegem os tecidos moles do corpo. É formado pelos ossos, cartilagens e ligamentos

distribuídos por toda extensão corporal (GETTY, 1986).

O esqueleto é dividido em três partes: a) esqueleto axial (crânio, coluna vertebral,

costelas e esterno); b) esqueleto apendicular (ossos dos membros torácicos e pélvicos); c)

esqueleto esplâncnico ou visceral (ossos próximos a estruturas moles e/ou vísceras, como

o osso do pênis do cão ou do coração do bovino ou carneiro) (GETTY, 1986).

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Os ossos, por sua vez, são divididos em ossos longos (ex:. fêmur), ossos planos

(alguns ossos do crânio e escápula), ossos curtos (carpo e tarso), ossos irregulares

(vértebras) (GETTY, 1986).

A partir desses conceitos introdutórios relacionados ao sistema ósseo, inicia-se o

estudo dos ossos do crânio, explorando cada estrutura individual, enfatizando sua

localização, acidentes ossos e sua importância clínica ou de estruturas adjacentes, como

vasos sanguíneos ou estruturas nervosas.

A segunda etapa do módulo de osteologia utiliza duas horas/aula para

exposição de algum osso que não foi contemplado na aula anterior e acrescentando a

coluna vertebral, com as vértebras cervicais, torácicas, lombares, sacrais, coccígeas ou

caudais, costelas e o esterno.

A penúltima etapa, com carga horária semelhante às anteriores do módulo,

envolve os ossos do membro torácico (escápula, úmero, rádio/ulna, ossos do carpo,

metacarpos e falanges proximais, médias e distais).

A quarta e última etapa da Osteologia, com duas horas/aula, finaliza a porção

óssea do sistema locomotor e envolve a porção pélvica do esqueleto apendicular que

engloba os ossos coxais, fêmur, tíbia/fíbula, ossos do tarso, metatarso e falanges

proximais, médias e distais.

2.4. Aparelho Locomotor: Artrologia

A artrologia é o estudo das articulações ou também chamadas de junturas, que são

estruturas formadas pela união de dois ou mais ossos ou cartilagens por outro tecido, em

geral com características fibrosa ou cartilaginosa (GETTY, 1986).

O sistema oficial de nomenclatura anatômica identifica três tipos de articulações,

a saber: articulação fibrosa (união dos ossos por um tecido conjuntivo denso); articulações

cartilaginosas (união dos ossos por cartilagem); articulação sinovial (presença de uma

cavidade preenchida por líquido entre as estruturas ósseas) (DYCE; SACK; WENSING,

2004).

Esse módulo possui uma carga horária de seis horas/aula e, assim como a

Osteologia, é dividido em três partes.

A primeira, com duas horas/aula, refere-se à Artrologia do Esqueleto Axial, com

os componentes articulares da cabeça (crânio e face) e da coluna vertebral, costelas e

esterno. A segunda parte, com a mesma quantidade de horas/aula do anterior, refere-se à

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Artrologia do esqueleto apendicular torácico, dando destaque para os ligamentos que

envolvem as articulações. A última etapa refere-se aos membros pélvicos, com as mesmas

características da etapa anterior, tanto para a carga horária quanto para os destaques

especiais.

Esse bloco do aparelho locomotor pode ser ministrado com auxílio de peças

anatômicas, atlas e roteiros de aula prática, assim como a Osteologia. Quando não há

material dissecado disponível, pode-se fazer uso de um exercício bastante prático, que

consiste na construção dessas estruturas em um esqueleto completo. Por exemplo:

Ligamentos das articulações intervertebrais, em que o acadêmico, com o uso de

esparadrapo, representa essas estruturas nas vértebras.

2.5. Avaliação Teórica e Prática (N1)

A avaliação teórica do primeiro bimestre (N1) deve compreender uma parte escrita e

outra prática dos conteúdos ministrados até a semana anterior, desde a Introdução ao

Estudo da Anatomia e Nomenclatura Anatômica até o módulo Artrologia.

O peso das avaliações deve contemplar uma quantidade maior para a avaliação

escrita, em torno de 70 a 80% do valor total da N1, dessa forma valendo sete ou oito

pontos de um total de dez pontos. Podem-se utilizar questões discursivas ou de múltiplas

escolhas (assinalar a questão correta, marcar uma letra para representar uma assertativa

correta ou falsa, com justificativa ou não das errôneas).

A avaliação prática completa o restante do peso (20 ou 30%) para finalizar a

média N1. Pode-se lançar mão de duas formas avaliativas, a primeira marcando uma

estrutura anatômica e solicitando que o acadêmico a identifique em uma folha de papel,

repetindo isso em dez peças anatômicas, permitindo um minuto para identificação de

cada uma. A segunda seria a arguição oral de algumas estruturas ou peças anatômicas

pré-determinadas pelo professor.

2.6. Aparelho locomotor: Miologia

Nos organismos multicelulares, como os animais, as células musculares possuem as

propriedades de contratilidade e condutividade (CLAIR, 1986), sendo que a maioria dos

movimentos é gerada por contração muscular (DYCE; SACK; WENSING, 2004).

Além da contração muscular, os músculos também impedem alguns

movimentos, estabilizando as articulações para evitar seu colapso sob uma carga e manter

a continência vesical e intestinal (DYCE; SACK; WENSING, 2004).

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Existem três tipos musculares definidos, classificados tanto morfologicamente

quanto fisiologicamente. São eles: músculo esquelético, estriado e com ação voluntária;

músculo cardíaco, estriado e com ação involuntária e músculo liso, não estriado e com ação

involuntária (CLAIR, 1986).

O músculo cardíaco é o principal componente muscular do coração e possui a

atividade especializada, promovendo a sístole (contração muscular) e diástole

(relaxamento muscular) para manutenção do débito cardíaco e, consequentemente, a

homeostase corpórea (DYCE; SACK; WENSING, 2004).

O músculo liso é disposto como massa celular, de formato fusiforme, presente na

parede de vasos sanguíneos e órgãos ocos, bem como em determinadas glândulas, baço,

globo ocular e folículo piloso. Sua contração é fraca, porém sustentada e independe da

vontade do indivíduo (CLAIR, 1986).

O ultimo tipo muscular é o tecido esquelético, que será dado mais ênfase no

estudo anatômico, dada a sua maior distribuição no organismo animal e sua importância

na atuação do profissional médico veterinário. Cita-se, como exemplo, a inspeção de

produtos de origem animal, onde o conhecimento prévio dessa estrutura auxilia tanto na

identificação de determinadas patologias na linha de abate quanto na obtenção de cortes

padronizados de carnes das espécies destinadas a consumo, como os bovinos, ovinos,

caprinos e suínos.

O tecido muscular esquelético representa cerca da metade do peso de uma

carcaça animal (a proporção varia com a idade, espécie, raça, sexo e método de criação)

(DYCE; SACK; WENSING, 2004).

Cada grupo muscular disposto no corpo animal apresenta uma nomenclatura

própria, por exemplo, músculo glúteo médio, localizado na região glútea, “anca” ou

“garupa”.

A carga horária ideal para o estudo desse módulo pode sofrer variações

conforme a metodologia de aula utilizada para exposição do conteúdo. Em geral, oito

horas/aula são necessárias para ministrar o conteúdo programático que, assim como os

módulos anteriores, pode ser dividido em partes ou blocos.

Nesse caso, utiliza-se duas horas/aula para a Miologia da cabeça; duas

horas/aula para a região cervical e tórax; duas horas/aula para o membro torácico e

abdômen; duas horas/aula para o membro pélvico.

Podem-se utilizar duas metodologias de ensino nesse módulo. O primeiro seria a

realização de dissecação em cadáveres formolizados e identificação dos músculos com

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auxílio de fios e esparadrapos ou alfinetes com identificação numérica. Esse método é

extremamente eficaz, pois o acadêmico, com auxílio de matérias de apoio (atlas, livro

texto ou roteiro de aula prática), investiga, disseca e identifica o objeto do estudo. Cita-se a

célebre frase do filósofo Confúncio (551-479 a.C), “o que eu ouço, esqueço. O que eu vejo,

lembro. O que eu faço, aprendo.”

Outra metodologia, quando não se dispõe de cadáveres para realização da

dissecação, é a identificação das estruturas musculares em animais previamente

dissecados e formolizados com auxílio dos meios citados no parágrafo anterior.

2.7. Sistema Nervoso

Todo organismo vivo é capaz de responder de forma apropriada a modificações do meio

ambiente para sobreviver. Esse mecanismo é desenvolvido pelo Sistema Nervoso Central,

um dos mais complexos do organismo animal (DYCE; SACK; WENSING, 2004).

O sistema nervoso central (SNC) pode ser definido como o encéfalo e medula

espinhal, enquanto o sistema nervoso periférico (SNP) é constituído pelos nervos e

gânglios que são conectados ao SNC (GETTY, 1986).

O estudo do sistema nervoso dentro da disciplina de Anatomia Veterinária I

compreende a identificação das estruturas centrais (encéfalo e medula espinhal), bem

como as periféricas, abordando os principais nervos, plexos e gânglios nervosos.

A carga horária ideal para o estudo desse módulo são quatro horas/aula,

reservando duas horas/aula para o estudo das estruturas centrais e as outras duas

horas/aula para o compartimento periférico.

A metodologia para o estudo das estruturas anatômicas é auxiliada com o uso de

peças formolizados, algumas conservadas em glicerina liquida, para que os acadêmicos as

identifiquem através de um roteiro de aula prática fornecido pelo docente. Neste caso,

pode-se fazer o uso de atlas, livro texto e materiais de aula teórica.

Dada a complexidade do sistema nervoso e a importância de se associar a

anatomia, fisiologia e patologia, pode-se solicitar um trabalho que associe a estrutura

anatômica identifica com a importância para o sistema orgânico do animal. Por exemplo:

líquor ou líquido cerebroespinhal são produzidos nos ventrículos presentes no sistema

nervoso central (encéfalo) e protegem as estruturas nervosas ali presentes, podendo sofrer

injúrias e desenvolver uma importante patologia chamada hidrocefalia (acúmulo de

líquor no SNC).

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2.8. Estesiologia

A estesiologia, ou órgãos do sentido, colocam o indivíduo em contato com o meio

ambiente (DIESEM, 1986).

Para o estudo desse módulo, enfatizam-se os órgãos do sentido da visão e

audição. Os demais órgãos, como olfação e gustação, são abordados com os módulos do

Sistema Respiratório e Digestório, respectivamente.

A carga horária proposta para a abordagem desses tópicos são duas horas/aula,

demonstrando as principais estruturas, função, musculatura adjacente e os demais

detalhes anatômicos que os compõem.

O órgão da visão dos vertebrados compreende algumas estruturas: o bulbo

ocular, o nervo óptico, as pálpebras, glândulas, o tecido que preenche a órbita e os ossos

que formam essa cavidade (DIESEM, 1986).

É importante sempre dispor de peças preparadas com formol e/ou glicerina.

Quando não há essa possibilidade, podem-se obter peças frescas com o Setor de Patologia

da instituição ou solicitar para algum frigorífico ou abatedouro, que, na medida do

possível, fornecem esses materiais tão valiosos para a Anatomia.

A orelha é o órgão da audição e equilíbrio, sendo dividida em três partes: orelha

externa, orelha média e orelha interna (ELLENPORT, 1986). Para o estudo dessas partes,

faz-se o uso de materiais audiovisuais, como desenhos esquemáticos e peças anatômicas

formolizadas e/ou glicerinadas.

2.9. Tegumento Comum

O termo tegumento comum abrange a pele normal, com sua cobertura de pêlos e uma

variedade de glândulas cutâneas, assim como partes especializadas, como garras, cascos,

cornos (DYCE; SACK; WENSING, 2004), cabelo, penas e chifres (SISSON, 1986).

Esse módulo é ideal para o encerramento do semestre letivo, dada a sua baixa

complexidade e número de estruturas anatômicas para identificação. Geralmente,

próximo as provas oficiais, os acadêmicos tendem a concentrar seus estudos, o que

viabiliza ministrar esse módulo.

A carga horária ideal é apenas duas horas/aula, ministrada com auxílio de

imagens demonstrando as diversas estruturas cutâneas, com ênfase em cascos e chifres.

Na medicina veterinária é comum ocorrer patologias relacionadas a esses estojos córneos,

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300 Proposta de ementa para a disciplina de Anatomia Veterinária I do curso de Medicina Veterinária da Anhanguera Educacional S.A.

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requisitando do profissional um conhecimento detalhado dos componentes básicos que os

compõem para uma perfeita intervenção clínica ou cirúrgica no paciente.

2.10. Avaliação Oficial - Teórica e Prática (N2)

A avaliação oficial (N2) deve compreender uma parte escrita e outra prática dos

conteúdos ministrados durante o semestre letivo. Os conteúdos vão desde a Introdução ao

Estudo da Anatomia e Nomenclatura Anatômica até Tegumento Comum.

As formas de avaliação, valores e pesos repetem os da avaliação N1, descrito no

item 2.5 desse artigo.

2.11. Prova Substitutiva (PS)

A prova substituiva (PS) deve compreender apenas uma parte escrita, avaliando apenas

os conteúdos da avaliação oficial (N2), descritos no item anterior.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sucesso da aprendizagem de Anatomia Veterinária está relacionado com três aspectos

fundamentais: a) docente; b) alunado e c) conteúdos programáticos. No tocante aos

professores é importante o desenvolvimento de metodologias acessíveis que permitam a

transmissão dos conteúdos de forma simples, porém coesa e que permita que os

acadêmicos assimilem o máximo de conteúdo exposto durante as aulas teóricas e práticas.

O alunado, por se tratar de um grupo heterogêneo em todos os aspectos (econômicos,

sociais e de faixa etária), merece uma atenção especial, cabendo ao docente identificá-los e

atender, na medida do possível, todos os anseios desses grupos. Por fim, os conteúdos

programáticos finalizam essa tríade, devendo ser selecionados e distribuídos de acordo

com o nível de aprendizagem durante o primeiro ano, ou seja, conteúdos mais complexos

e que envolvam o conhecimento básico de outras disciplinas, devem ser deixados para o

segundo semestre (disciplina de Anatomia Veterinária II), pois haverá uma melhor

adaptação do alunado ao ensino superior e, consequentemente, uma melhor assimilação

do que está abordado em sala de aula.

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REFERÊNCIAS

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DYCE, K. M; SACK, O. M.; WENSING, G. J. C. Tratado de Anatomia Veterinária. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.

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GETTY, R. Osteologia Geral. In: GETTY. R. Anatomia dos Animais Domésticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. v.1.

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KÖNIG, H. E; LIEBICH, H. G. Introdução. In: ______. Anatomia dos Animais Domésticos: texto e atlas colorido. Porto Alegre: Artmed, 2002. v.1: aparelho locomotor.

SISSON, S. Tegumento Comum. In: GETTY. R. Anatomia dos Animais Domésticos. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1986. v.1.

Thiago Lima de Almeida

Possui graduação em Medicina Veterinária pela Faculdade Anhanguera de Dourados (2008). É especialista em Anatomia e Histologia: Métodos de Ensino e Pesquisa pela Universidade Estadual de Maringá (2010), e em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Anhanguera Educacional (2009). Mestrando em Ciência Animal na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. É docente na Faculdade Anhanguera de Dourados. Possui experiência nas áreas de Anatomia, Morfologia e Anestesiologia Veterinária.

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