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89 Anuário da Produção Acadêmica Docente Vol. 4, Nº. 7, Ano 2010 Ana Carolina Pancin Centro Universitário Anhanguera [email protected] Douglas Francisco do Monte Centro Universitário Anhanguera [email protected] Priscila Chaves da Silva Centro Universitário Anhanguera [email protected] Regimara Rocha Pires Centro Universitário Anhanguera [email protected] Adriano Schiavinato Hildebrand Centro Universitário Anhanguera [email protected] INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE ODONTÓLOGOS E FISIOTERAPEUTAS NO TRATAMENTO DE PACIENTES COM A DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR NA REGIÃO DE LEME-SP RESUMO A origem das disfunções temporomandibulares (DTMs) é multifatorial, tendo, portanto muitas formas de tratamento. O objetivo deste estudo foi verificar se existe interdisciplinaridade entre odontólogos e fisioterapeutas na região de Leme-SP no tratamento de pacientes com disfunção temporomandibular e identificar os motivos dos odontólogos que não os encaminham para a fisioterapia. Foi realizada uma pesquisa qualitativa descritiva com 50 odontólogos, sendo que o instrumento para a coleta de dados foi um questionário composto por dez questões. Através dos resultados constatou-se que 64% da amostra conhece o trabalho da fisioterapia nas desordens temporomandibulares, porém, pouco menos da metade (48%) encaminha. Nas questões abertas termos como: desnecessário; falta de conhecimento; eficácia na sintomatologia; odontólogo especializado e outros profissionais se destacaram por contradizer a intervenção interdisciplinar entre odontólogos e fisioterapeutas na DTM, pois dependendo da etiologia, há uma necessidade de integração profissional entre as classes para a excelência do atendimento ao paciente. Palavras-Chave: fisioterapia; odontólogos; DTM; encaminhamento; interdisciplinaridade. ABSTRACT The origin of the temporomandible joint disorder (TMJD) is multifactorial, existing though, many ways of treatment. The aim of this study was to verify if it exists interdisciplinarity between dentists and physical therapists in Leme - SP area in the treatment of patients with the temporomandible joint disorder and identify the reasons that the dentists do not guide them to the physical therapy. It was accomplished a quality descriptive research involving 50 dentists, using a questionnaire with ten questions as an instrument for collecting data. With the analysis of the result was certified that 64% of the sample know the physical therapy treatment for the temporomandible joint disorders, but, less than a half (48%) guide the patients. At the exposed questions terms as: unnecessary, lack of knowledge, effective sinthomatology, specialized dentists and other professionals stand out for contradicting the interdisciplinary intervention between dentists and physical therapists at the TMJD treatments, because depending on the etiology, there is a need for integration among the professional classes for excellence in patient care. Keywords: physical therapy; dentists; TMJD; guidance; interdisciplinarity. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected] Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 23/08/2010 Avaliado em: 21/02/2011 Publicação: 30 de março de 2011 ANUDO_n7_miolo.pdf 89 04/05/2011 10:06:22

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Anuário da Produção Acadêmica Docente Vol. 4, Nº. 7, Ano 2010

Ana Carolina Pancin Centro Universitário Anhanguera [email protected]

Douglas Francisco do Monte Centro Universitário Anhanguera [email protected]

Priscila Chaves da Silva Centro Universitário Anhanguera [email protected]

Regimara Rocha Pires Centro Universitário Anhanguera [email protected]

Adriano Schiavinato Hildebrand Centro Universitário Anhanguera [email protected]

INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE ODONTÓLOGOS E FISIOTERAPEUTAS NO TRATAMENTO DE PACIENTES COM A DISFUNÇÃO TEMPOROMANDIBULAR NA REGIÃO DE LEME-SP

RESUMO

A origem das disfunções temporomandibulares (DTMs) é multifatorial, tendo, portanto muitas formas de tratamento. O objetivo deste estudo foi verificar se existe interdisciplinaridade entre odontólogos e fisioterapeutas na região de Leme-SP no tratamento de pacientes com disfunção temporomandibular e identificar os motivos dos odontólogos que não os encaminham para a fisioterapia. Foi realizada uma pesquisa qualitativa descritiva com 50 odontólogos, sendo que o instrumento para a coleta de dados foi um questionário composto por dez questões. Através dos resultados constatou-se que 64% da amostra conhece o trabalho da fisioterapia nas desordens temporomandibulares, porém, pouco menos da metade (48%) encaminha. Nas questões abertas termos como: desnecessário; falta de conhecimento; eficácia na sintomatologia; odontólogo especializado e outros profissionais se destacaram por contradizer a intervenção interdisciplinar entre odontólogos e fisioterapeutas na DTM, pois dependendo da etiologia, há uma necessidade de integração profissional entre as classes para a excelência do atendimento ao paciente.

Palavras-Chave: fisioterapia; odontólogos; DTM; encaminhamento; interdisciplinaridade.

ABSTRACT

The origin of the temporomandible joint disorder (TMJD) is multifactorial, existing though, many ways of treatment. The aim of this study was to verify if it exists interdisciplinarity between dentists and physical therapists in Leme - SP area in the treatment of patients with the temporomandible joint disorder and identify the reasons that the dentists do not guide them to the physical therapy. It was accomplished a quality descriptive research involving 50 dentists, using a questionnaire with ten questions as an instrument for collecting data. With the analysis of the result was certified that 64% of the sample know the physical therapy treatment for the temporomandible joint disorders, but, less than a half (48%) guide the patients. At the exposed questions terms as: unnecessary, lack of knowledge, effective sinthomatology, specialized dentists and other professionals stand out for contradicting the interdisciplinary intervention between dentists and physical therapists at the TMJD treatments, because depending on the etiology, there is a need for integration among the professional classes for excellence in patient care.

Keywords: physical therapy; dentists; TMJD; guidance; interdisciplinarity.

Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato

Alameda Maria Tereza, 2000 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 [email protected]

Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE

Artigo Original Recebido em: 23/08/2010 Avaliado em: 21/02/2011

Publicação: 30 de março de 2011

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1. INTRODUÇÃO

A articulação temporomandibular (ATM) é responsável pelas funções de mastigação,

deglutição e fono-articulação. Localizada na altura do ouvido, é formada por dois ossos, a

mandíbula e o temporal, seu funcionamento está associado aos ossos, músculos,

ligamentos e dentes (MADEIRA, 1995; KISNER; COLBY, 2005).

De acordo com Teixeira (1999) disfunções nessa articulação são condições de seu

mau funcionamento e os resultados dessas atividades anormais são multifatoriais, dentre

os principais motivos encontram-se as alterações posturais, desarmonia do côndilo com o

disco, hábitos parafuncionais, fatores estruturais e psicológicos, alterações proprioceptivas

e instabilidade oclusal, entre outros fatores.

Okeson (1992) relata que não há dados precisos sobre a quantidade de pessoas

que possuem distúrbios craniomandibulares.

Para autores como Salonen (1990) e Maciel (1998), cerca de 70% da população

geral tem pelo menos um sinal da disfunção temporomandibular (DTM), porém apenas

uma entre quatro pessoas com sinais é conhecedora destes, e o reportam como sintomas, e

somente 5% procuram tratamento.

Pinto et al. (2006, p. 427) estudaram o impacto psicossocial causado pela dor, em

portadores de disfunção temporomandibular, através de perguntas específicas do

questionário de dor Br-MPQ, e concluíram que “a dor da DTM crônica interfere de

maneira negativa no relacionamento familiar, no trabalho, no lazer, nas atividades

domiciliares, no sono e no apetite / alimentação”.

Marzola et al. (2002) concluíram que a fisioterapia está sendo cada vez mais

reconhecida e utilizada no tratamento da DTM, juntamente com uma equipe

multiprofissional.

Na maioria dos casos, é pela dor que o paciente é encaminhado para o

fisioterapeuta, já que o tratamento fisioterápico combate também à sintomatologia na

DTM utilizando técnicas auxiliares para a redução do quadro álgico, porém, os objetivos e

conhecimentos dos odontólogos ao encaminharem um paciente com DTM para a

fisioterapia compreendem na normalização das funções musculares e tecidos moles

juntamente com a correção da etiologia do problema, quando esta for causada por

distúrbios do aparelho locomotor (VARASCHINI, 1999; FAVERO, 1999).

Segundo Favero (1999) a intervenção da fisioterapia na DTM é realizada através

do emprego de várias modalidades terapêuticas, tais como a eletroterapia, por

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estimulação elétrica transcutânea (TENS), ultra-som, laserterapia, massoterapia,

cinesioterapia, termoterapia, crioterapia, acupuntura e reeducação postural dependendo

de uma avaliação criteriosa do paciente.

Marzola et al. (2002, p. 121) afirmam que “a área odontológica vem preocupando-

se cada vez mais com a interferência de alterações posturais, principalmente de cabeça e

coluna cervical, na fisiopatologia da ATM”.

Para Varaschini (1999) o odontólogo é o profissional responsável pela anamnese

completa e exame clínico, identificando os fatores causais e auxiliando na formação do

diagnóstico, tendo como condutas o ajuste oclusal, terapia ortodôntica, a indicação de

férulas e placas e em casos extremos a intervenção cirúrgica.

Poli, Morosini e Martinelli (2003) afirmam que atualmente, existe um aumento na

integração das especialidades na área da saúde, com o objetivo de oferecer ao paciente

excelente resultado, já que o homem não deve ser visto como partes isoladas em ação, e

sim como um todo em funcionamento.

De acordo com Nolan (apud CAMPOS, 2006, p. 45) “a interdisciplinaridade

favorece a melhora dos cuidados de um paciente, tanto em relação ao tempo de

recuperação quanto ao tipo de acompanhamento oferecido”.

Devido à origem ser multifatorial e a intervenção multidisciplinar, há uma

necessidade de interação entre a odontologia e a fisioterapia no tratamento da disfunção.

É importante que se estabeleça métodos e condutas para que as duas especialidades sigam

em conjunto e harmonia, visando à melhora global e completa de pacientes portadores da

DTM (POLI; MOROSINI; MARTINELLI, 2003; MARZOLA, 2002).

2. OBJETIVO

Os objetivos deste trabalho são verificar se há interdisciplinaridade entre odontólogos e

fisioterapeutas na região de Leme/SP no tratamento de pacientes com disfunção

temporomandibular e identificar os motivos dos odontólogos que não possuem o hábito

de encaminhá-los para a fisioterapia.

3. METODOLOGIA

Este estudo foi constituído de uma pesquisa qualitativa descritiva.

A amostra foi composta por 50 odontólogos das cidades de Araras, Leme,

Pirassununga e Santa Cruz da Conceição, escolhidos de forma aleatória e que tenham

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atendido pelo menos um paciente com disfunção temporomandibular. Quanto ao critério

de seleção, a escolha das cidades de Araras, Pirassununga e Santa Cruz da Conceição foi

intencional, pelo fato de serem municípios vizinhos localizados na região de Leme/SP. Os

critérios de exclusão foram a não concordância por parte dos odontólogos em participar

da pesquisa e os que nunca trataram pacientes com DTM.

O preenchimento do questionário só era iniciado após a assinatura do termo de

consentimento livre e esclarecido por escrito, todos os odontólogos foram contatados

pessoalmente no local de atendimento e informados do objetivo do estudo.

Visto que na literatura não há questionário apropriado ao assunto, a coleta de

dados consistiu na aplicação de um questionário (anexo) com perguntas fechadas e

abertas elaboradas pelos autores. As questões fechadas tiveram o intuito de caracterizar o

perfil dos odontólogos, o tempo decorrido desde a conclusão da graduação, o local de

trabalho, a média de pacientes com DTM atendidos por mês, verificar o conhecimento dos

profissionais a respeito da fisioterapia para esses pacientes, verificar se trabalha em

conjunto com algum fisioterapeuta e se possuem o hábito de encaminhar pacientes para o

tratamento fisioterapêutico. Já as questões abertas propiciaram a exposição de opiniões

dos profissionais acerca da efetividade do tratamento fisioterapêutico e os motivos do não

encaminhamento.

Para averiguar o entendimento e a clareza das questões, foi realizada

previamente a aplicação de um questionário piloto em três sujeitos, direcionando se

haveria a necessidade de modificações, como não foram sugeridas alterações,

subentendeu-se que não houve dificuldade por parte dos entrevistados, na resposta às

perguntas, mantendo-se o questionário inicial.

Os dados coletados com as resoluções fechadas foram analisados através de

estatística descritiva simples em tabelas e gráficos, onde os achados foram transformados

em porcentagem de acordo com o número total de componentes, e com as expressões

dissertativas foi feita uma análise geral das respostas, e algumas frases e/ou palavras que

se sobressaíram surgindo de maneira inesperada ou escritas com certa frequência, foram

evidenciadas, por retratar a opção metodológica qualitativa.

Devido ao fato do estudo apresentar mínima periculosidade aos indivíduos, não

foi necessário o CEP gerar numero do protocolo.

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4. RESULTADOS

Foram analisados 50 questionários totalmente respondidos, sendo que 48% dos

voluntários eram do sexo masculino e 52% do sexo feminino, com idade entre 26 e 71 anos

(média 40,86).

Em relação ao tempo de serviço na área, a média foi de 17,45 anos de formação

sendo que 52% possuem pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado) como

está apresentado na Figura 1.

Odontólogos que possuem pós graduação

52%

48%

Pós graduados

Sem pós graduação

Quando os odontólogos foram questionados quanto ao local de trabalho, ao

responderem, poderiam assinalar mais de uma alternativa, constatou-se que os 50

possuem consultório, quatro trabalham em clínica de terceiros, um trabalha em clínica

escola, cinco trabalham em unidades básicas de saúde e três trabalham em outros locais.

(Quadro 1).

Quadro 1 – Quanto ao local de trabalho.

Local de Trabalho Nº

Consultório Particular 50

Consultório de Terceiros 4

Clínica Escolas 1

Unidades de Saúde 5

Outros 3

Pode-se observar que são poucos os odontólogos que trabalham com

fisioterapeutas no mesmo local de atendimento ao paciente com DTM, pois apenas seis

relataram a existência de um fisioterapeuta trabalhando em conjunto.

Figura 1 – Gráfico quanto ao nível de graduação.

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Com relação ao número de pacientes atendidos mensalmente com DTM, 32

responderam que atendem de 1 a 5 pacientes com a disfunção, 16 atendem 6 a 10

pacientes, e 2 odontólogos atendem de 11 a 15 pacientes (Figura 2).

Figura 2 – Gráfico quanto ao número de pacientes com DTM atendidos.

Quanto ao conhecimento do trabalho da fisioterapia nas DTMs, 36%

responderam não conhecer e 64% afirmaram ter ciência da atuação fisioterapêutica, sendo

que 20 obtiveram informações através de cursos/congressos, 8 através de fisioterapeutas,

2 através da mídia e 2 por outros meios (Figura 3).

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Figura 3 – Gráfico quanto ao meio (s) de conhecimento do trabalho da fisioterapia.

Analisando a interdisciplinaridade com fisioterapeutas, os odontólogos foram

questionados sobre o hábito de encaminhar pacientes com DTM para tratamento

fisioterapêutico, 48% afirmaram encaminhar e 52% referiu não realizar encaminhamento

(Figura 4).

Figura 4 – Gráfico quanto ao encaminhamento de pacientes com DTM para tratamento fisioterapêutico.

Após a leitura dos questionários, os dados obtidos com as perguntas abertas,

foram analisados, estando destacados a seguir os termos mais citados e inesperados

possibilitando a exposição do ponto de vista dos odontólogos que não encaminham

pacientes com DTM para tratamento fisioterapêutico.

Odontólogos que possuem o hábito de encaminhar pacientes com DTM para o atendimento fisioterapêutico

48%

52%

Encaminham

Não Encaminham

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Desnecessário

O termo desnecessário surgiu de forma inesperada, contradizendo diversas publicações

científicas que comprovam a eficácia da intervenção fisioterapêutica nas DTMs, essa

opinião se opõe as primícias da necessidade de integração e interação entre os

profissionais competentes para avaliar, diagnosticar e direcionar o tratamento segundo a

sua área de atuação.

Em relação à atuação da fisioterapia, os sujeitos da amostra referem:

“Em muitos casos não vejo a necessidade de encaminhar, com a odontologia o paciente

tem um prognóstico favorável.”

“Acredito que apenas a utilização da placa oclusal resolva significativamente a queixa do

paciente, sendo desnecessário o encaminhamento ao fisioterapeuta.”

De acordo com Felício et al. (2003, p. 48-57), “apesar do efeito positivo da placa

de oclusão sobre os sinais e sintomas da DTM, alguns pacientes não respondem ao

tratamento com placa, e esta pode não produzir a total resolução do problema para todos

os indivíduos, o que sugere a necessidade de outros procedimentos terapêuticos”.

Portero et al. (2009, p. 38) sugerem que as placas “não devem ser usadas como

única modalidade de tratamento, mas sim como parte deste ou até mesmo coadjuvante à

outras terapias como a medicamentosa ou fisioterápica”.

Falta de Conhecimento

Em relação ao encaminhamento de pacientes para tratamento fisioterapêutico, a falta de

conhecimento da fisioterapia foi mais frequente do que o esperado, pois eles relatam que

não conhecem os benefícios que o tratamento fisioterapêutico proporciona a esses

pacientes e não sabem dizer se existem evidências científicas que fundamentem a atuação

da fisioterapia na disfunção. Isso pode ser observado nas falas a seguir:

“O meu conhecimento está restrito a odontologia... Gostaria de avaliar um paciente após o

tratamento fisioterapêutico, que não tenho conhecimento.”

“Fica complicado opinar sem um vasto conhecimento do assunto, precisamos aprofundar

mais nesse tema.”

Marzola et al. (2002) realizaram um levantamento bibliográfico e encontraram 96

artigos que descrevem a contribuição da fisioterapia para a odontologia nas disfunções da

articulação temporomandibular e que ambas as especialidades devem conviver

esplendidamente.

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Eficaz

O termo eficaz foi bastante citado, quando perguntados sobre a efetividade do tratamento

fisioterapêutico, entrando em contradição entre as respostas e suas condutas, pois muitos

odontólogos apesar de reconhecerem a eficácia da fisioterapia na DTM não realizam o

encaminhamento dos pacientes, conforme as respostas abaixo:

“Acho que seria eficaz, pois além da terapia no consultório, o tratamento fisioterapêutico

seria coadjuvante na eliminação/minimização dos sintomas.”

“A fisioterapia auxilia na redução do quadro álgico do paciente, sendo eficaz apenas para

pacientes com sintomatologia.”

Segundo Varaschini (1999) na área da fisioterapia, o profissional tem por

objetivo dentro de sua conduta, sempre que possível, amenizar os fatores responsáveis

pela DTM, que seriam a diminuição da sobrecarga local, deficitária condição muscular

que envolve a região cervical e torácica e alterações posturais, enfim, não visa somente à

sintomatologia, e sim, a eliminação ou minimização dos fatores etiológicos.

Tedeshi e Marques (1999, p. 172) relatam que “há uma grande relação entre

disfunções da ATM e alterações posturais, e ainda, que o tratamento fisioterapêutico é de

extrema importância na equipe multidisciplinar, considerando o indivíduo globalmente”.

Odontólogo Especializado

Um especialista em ATM é um profissional que além de ser graduado retornou à

universidade para um curso de pós-graduação em nível de especialização, mestrado ou

doutorado, com treinamento para o diagnóstico e tratamento específico.

Segundo o relato dos sujeitos, o encaminhamento é realizado a odontólogos

especializados em DTM, conforme as falas a seguir:

“Especificamente disfunções temporomandibulares está mais ligada à área de odontologia,

por isso, encaminho para o especialista da área”.

“Porque o paciente com disfunção da ATM é encaminhado para o DENTISTA

especialista em disfunção temporomandibular”.

De acordo com Okeson (1992) o tratamento da DTM tem um enfoque

predominante odontológico, assim como a maioria das pesquisas realizadas sobre o

assunto.

Para Varaschini (1999) cada odontólogo aborda o tratamento da DTM de acordo

com a sua especialidade:

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[...] o tratamento sugerido para as DTM varia grandemente sobre um grande espectro de modalidades. A seleção do tratamento apropriado para a disfunção está fortemente relacionada com a especialidade do dentista que o paciente procurou. Se este procura um Ortodontista o tratamento proposto será ortodôntico; se procura um cirurgião, um procedimento cirúrgico será proposto; se o consultado for um clinico geral, uma terapia oclusal será sugerida (VARASCHINI, 1999, p. 27).

Outros Profissionais

Dentre as respostas, o encaminhamento para outros profissionais foi repetido muitas

vezes, demonstrando a evidência que, dentre os profissionais da equipe interdisciplinar, o

que tem seu papel delimitado de forma mais clara é o odontólogo. A seguir, aparece o

fonoaudiólogo e o psicólogo, sendo o fisioterapeuta o profissional cujo papel é menos

difundido entre as classes, o que é evidenciado nas citações a seguir:

“Geralmente eu encaminho ao fonoaudiólogo, pois acredito que ele pode ajudar a resolver

o problema do paciente.”

“Muitos pacientes com DTM apresentam problemas emocionais, por isso os encaminho

para um psicólogo durante o tratamento odontológico.”

A partir do diagnóstico correto, passo inicial do odontólogo e chave fundamental

para o sucesso do tratamento, deve- se encaminhar o paciente a especialidade mais

apropriada para atender a disfunção, a fim de proporcionar a terapia adequada obtendo

os melhores resultados possível (FAVERO, 1999; MELO, 2008).

Pires et al. (2008, p. 237) observaram através de uma análise de seis casos, que os

músculos tensos e sintomáticos, não só da face, tem relação direta com os sintomas da

DTM, “fortalecendo a necessidade da avaliação e intervenção multidisciplinar de uma

equipe composta por dentista, médico, fisioterapeuta, fonoaudiólogo e psicólogo.”

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise quanto à existência da interdisciplinaridade entre odontólogos e fisioterapeutas

da região de Leme-SP no tratamento de pacientes com DTM, demonstrou que a maior

parte dos odontólogos não realiza o encaminhamento mesmo conhecendo os benefícios, o

que evidencia certa resistência por parte desses profissionais.

A parcela dos odontólogos que relataram não encaminhar seus pacientes alega

falta de conhecimento da intervenção fisioterapêutica nessa patologia ou a julga

desnecessária, os que sabem do trabalho da fisioterapia a considera eficaz apenas na

redução da sintomatologia ou encaminham para um odontólogo especializado ou a outros

profissionais.

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Na teoria, o discurso acadêmico é a interdisciplinaridade, porém na prática

clínica ela não prevalece, é bem provável que a falta de atualização e conhecimento de

outras modalidades terapêuticas por parte dos odontólogos contribuam para essa

ausência de entrosamento entre as classes.

Sugerimos que os profissionais da área de fisioterapia divulguem mais trabalhos

na prática clínica e/ou artigos em revistas especializadas, relacionadas ao tratamento

nesta patologia, mostrando os benefícios de um trabalho interdisciplinar que proporciona

um melhor atendimento ao paciente, com conseqüente redução no tempo de tratamento,

custo e casos de recidivas.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos a todos os odontólogos pelo espírito de colaboração e apoio que ajudaram

na realização dessa pesquisa contribuindo para crescimento profissional de ambas as

partes.

REFERÊNCIAS

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KISNER, C.; COLBY, L.A. Exercícios Terapêuticos - Fundamentos e Técnicas. 4.ed. São Paulo: Manole, 2005.

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100 Interdisciplinaridade entre odontólogos e fisioterapeutas no tratamento de pacientes com a disfunção temporomandibular na região de Leme-SP

Anuário da Produção Acadêmica Docente • Vol. 4, Nº. 7, Ano 2010 • p. 89-100

PORTERO, P.P.; KERN, R.; KUSMA, Z.S.; GRAU-GRULLÓN, P. Placas oclusais no tratamento da disfunção temporomandibular (DTM). Revista Gestão & Saúde, Curitiba, v. 1, n. 1, p.36-40, 2009.

PIRES, R.R.; SILVA, C.P.; MONTE, F.D.; ROSIM-SERRADOR, C.G.; CASTRO, D.F.R. Efeito de um programa de cinesioterapia, estimulação elétrica e reeducação postural no tratamento da disfunção temporomandibular: Análise de seis casos. Anuário da Produção de Iniciação Científica Discente, v.11, n.12, p.227-238, 2008.

SALONEN, L.; HELLDEN, L. Prevalence of sings and sympotoms of dysfunction in the masticatory system: na epidemiological study in na adult Swedish population. J Craniomandibular Disord Facial Oral Pain, p. 241–50, 1990.

TEDESHI, F.; MARQUES, A.P. O papel da fisioterapia nas disfunções Temporomandibulares. Fisioterapia da Univ. São Paulo, v.6, n. 2, p. 172, jul./dez. 1999.

TEIXEIRA, A.C.B.; MARCUCCI, G.; LUZ, J.G.C. Prevalência das maloclusões e dos índices anamnésicos e clínicos em pacientes com disfunção da articulação temporomandibular. Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo, v.13, n. 3, p.251–6. 1999.

VARASCHINI, C.M. ATM – Confronto entre realidade literária e realidade possível. Curitiba: CEFAC, 1999.

Ana Carolina Pancin

Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Anhanguera – Campus Leme.

Douglas Francisco do Monte

Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Anhanguera – Campus Leme.

Priscila Chaves da Silva

Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Anhanguera – Campus Leme.

Regimara Rocha Pires

Discente do curso de Fisioterapia do Centro Universitário Anhanguera – Campus Leme.

Adriano Schiavinato Hildebrand

Fisioterapeuta, Formado em Acupuntura pelo CEATA, Especialização em Docência em Saúde, Formado em Pilates Clínico Internacional, Docente da Faculdade Anhanguera – campus Leme, Supervisor das Disciplinas Fisioterapia Ambulatorial e Fisioterapia Comunitária, Docente da Faculdade Anhanguera, unidade de Rio Claro, das disciplinas de Ética e Relações Humanas no Trabalho e de Política de Negócios e Empreendedorismo em Fisioterapia.

ANUDO_n7_miolo.pdf 100 04/05/2011 10:06:22