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RESUMO: A preocupação com o meio ambiente e as práticas sustentáveis fazem parte da agenda do século XXI, e a questão ambiental vem se configurando como pré-requisito para o sucesso de vários segmentos da economia, que exige a formação de profissionais capacitados para enfrentar situações tão complexas. Com esse foco adentramos no campo da Logística Reversa, onde mediante a uma revisão bibliográfica que gerou uma pesquisa descritiva, auxiliando na formação dos alunos. A moderna perspectiva sobre logística reversa precisa considerar tanto o interesse econômico quanto social, já que vem se revelando uma área fundamental para a humanização nas relações de gestão. Neste sentido, o objetivo principal da pesquisa é discutir uma nova forma de perceber a logística reversa, na busca de um modelo de gestão integrador. ABSTRACT: The concern with environment and sustainable practices are part of the agenda of the century XXI, and the environmental issue is shaping up a precondition for the success of several segments of the economy.The subject requires the training of qualified professionals to deal with complex situations. With this interest we enter in the area of Reverse Logistics, through a literature review that generated a descriptive research, assisting in the training of students. The modern perspective on reverse logistics need to consider both the economic and the social interest, since it comes out to be a fundamental area for humanizing relations management. In this sense, the main objective of the research is to discuss a new way of perceiving reverse logistics, in search of a business model integrator. MUITO ALÉM DA LOGÍSTICA REVERSA Publicação Anhanguera Educacional Ltda. Coordenação Instuto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Correspondência Sistema Anhanguera de Revistas Eletrônicas - SARE [email protected] v.6 • n.16 • 2012 • p. 199-216 Luzia Aparecida Joinhas – Faculdade Anhanguera de Valinhos Alfredo Oscar Salun, Jadir Perpétuo dos Santos – Universidade do Grande ABC - UniABC Robson de Oliveira Silva Centro Universitário Plínio Leite ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE Palavras-chave: Sustentabilidade, Responsabilidade Social, Responsabilidade Ambiental e Logística Reversa. Keywords: Sustainability, Social Responsibility, Environmental Responsibility and Reverse Logistics Informe Técnico Recebido em: 27/12/2012 Avaliado em: 10/01/2013 Publicado em: 19/05/2014

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RESUMO: A preocupação com o meio ambiente e as práticas sustentáveis fazem parte da agenda do século XXI, e a questão ambiental vem se configurando como pré-requisito para o sucesso de vários segmentos da economia, que exige a formação de profissionais capacitados para enfrentar situações tão complexas. Com esse foco adentramos no campo da Logística Reversa, onde mediante a uma revisão bibliográfica que gerou uma pesquisa descritiva, auxiliando na formação dos alunos. A moderna perspectiva sobre logística reversa precisa considerar tanto o interesse econômico quanto social, já que vem se revelando uma área fundamental para a humanização nas relações de gestão. Neste sentido, o objetivo principal da pesquisa é discutir uma nova forma de perceber a logística reversa, na busca de um modelo de gestão integrador.

ABSTRACT: The concern with environment and sustainable practices are part of the agenda of the century XXI, and the environmental issue is shaping up a precondition for the success of several segments of the economy.The subject requires the training of qualified professionals to deal with complex situations. With this interest we enter in the area of Reverse Logistics, through a literature review that generated a descriptive research, assisting in the training of students. The modern perspective on reverse logistics need to consider both the economic and the social interest, since it comes out to be a fundamental area for humanizing relations management. In this sense, the main objective of the research is to discuss a new way of perceiving reverse logistics, in search of a business model integrator.

MUITO ALÉM DA LOGÍSTICA REVERSA

PublicaçãoAnhanguera Educacional Ltda.

CoordenaçãoInstituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE

CorrespondênciaSistema Anhanguera deRevistas Eletrônicas - [email protected]

v.6 • n.16 • 2012 • p. 199-216

Luzia Aparecida Joinhas – Faculdade Anhanguera de ValinhosAlfredo Oscar Salun, Jadir Perpétuo dos Santos – Universidade do Grande ABC - UniABCRobson de Oliveira Silva – Centro Universitário Plínio Leite

ANUÁRIO DA PRODUÇÃO ACADÊMICA DOCENTE

Palavras-chave: Sustentabilidade, Responsabilidade Social, Responsabilidade Ambiental e Logística Reversa.

Keywords: Sustainability, Social Responsibility, Environmental Responsibility and Reverse Logistics

Informe TécnicoRecebido em: 27/12/2012Avaliado em: 10/01/2013Publicado em: 19/05/2014

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Muito além da logística reversa

1. INTRODUÇÃO

A preocupação com o meio ambiente e as práticas sustentáveis fazem parte da agenda do século XXI, e a questão ambiental vem se configurando como pré-requisito para o sucesso de vários segmentos da economia, que exige a formação de profissionais capacitados para enfrentar situações tão complexas. Com esse foco adentramos no campo da Logística Reversa, onde mediante pesquisa descritiva com estudos de casos, avançaremos em dois sentidos: Na formação dos alunos – por meio da criação da Disciplina de L.R; Nos princípios que estão supostos em todo e qualquer momento da gestão de negócios: a ação humana. A moderna perspectiva sobre logística reversa precisa considerar tanto o interesse econômico quanto social, já que vem se revelando uma área fundamental para a humanização nas relações de gestão.

1.1. Objetivos

O objetivo principal do projeto é pesquisar novos métodos de aplicação da logística reversa em busca de um modelo de gestão integrador que trate das esferas ambiental, social e econômica da sustentabilidade.

• Pesquisar modelos alternativos em relação à logística reversa que integre as questões ambientais, sociais e econômicas à gestão de negócios e construir um modelo integrador.

• Pesquisar em empresas, ONGs e representantes dos movimentos sociais e ambientais as práticasde logística reversa que integrem à gestão de negócios as questões ambientais, sociais e econômicas, inserindo tais questões e práticas em novos modelos - no modelo integrador;

• Elaborar materiais didáticos a partir de novos modelos de logística reversa para cursos de graduação.

2. ROTEIRO DESENVOLVIMENTO

Esse projeto se iniciou com um levantamento bibliográfico sobre o tema, pois buscamos de acordo com os objetivos, pesquisar novos métodos de aplicação da logística reversa em busca de um modelo de gestão integrador, resgatando os princípios humanos que estão na base da gestão e da logística reversa, além de demonstrar as vantagens e os benefícios deste modo de gestão para a identidade e imagem organizacionais, com o respectivo sucesso do negócio.

Elaboramos um Plano de Trabalho e o cronograma de pesquisa, que são peças fundamentais na atividade acadêmica:

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• Revisão Bibliográfica – Toda a revisão bibliográfica proposta inicialmente para o desenvolvimento do Projeto foi realizada com sucesso.

• Pesquisa de Campo – A pesquisa de campo teve início com a realização do contato entre os pesquisadores do grupo e as empresas escolhidas.

• Participação em Congressos e Elaboração de Artigos, que são indispensáveis na troca de experiência com outros pesquisadores e para divulgação nos meios acadêmicos deste projeto.

• Produção de Material Didático.Durante o processo realizamos algumas reuniões, onde foi possível perceber que no

desenvolvimento do projeto, teríamos que levar em conta outras temáticas relacionadas, como a qualidade de vida, meio ambiente, consciência ecológica, educação e responsabilidade social.Nesse aspecto, discutiu-se uma nova distribuição de tarefas, que resumidamente coube a cada componente do grupo, ficar encarregado:

• Logística Reversa: aspectos teóricos e a questão empresarial• Logística Reversa: sustentabilidade e educação.• Logística Reversa: estudo de caso.Portanto, a pesquisa que se iniciou com uma revisão do material bibliográfico para uma

abordagem teórico-conceitual, teve um desdobramento, altamente estimulante, presente na realização do trabalho de campo e no viés da educação, já que desde a elaboração do pré-projeto, tínhamos em mente, a produção de uma apostila\material didático para os cursos de graduação.

Ressaltamos quetais abordagens são condizentes a pontos importantes evidenciados pelo Projeto Pedagógico Institucional, como a interdisciplinaridade, os aspectos regionais e nacionais, a formação humanística, o retorno social, além da conjunção entre ensino, pesquisa e extensão.

Por isso, pesquisamos na Grande São Paulo empresas privadas e públicas, ONG‘s e outras entidades que tem desenvolvido em suas áreas de atuação exemplos de Logística Reversa. Foram selecionadas três atividades distintas: 1) construção civil, 2) produção artesanal, 3) associações de catadores de resíduos recicláveis.

O contato com as empresas e os empreendedores, se deu de forma distinta, em alguns casos, ocorreu o contato presencial (após apresentação por telefone), em outros, a internet (email e skype) foram métodos eficazes, em virtude da distancia e disponibilidade dos entrevistados.

3. A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE DE CONSUMO

De acordo com Marshall Berman (1999), na transição de uma sociedade com fortes resquícios feudais para a moderna sociedade capitalista, um dos grandes intelectuais que descreveu

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em suas obras esse cenário, foi o poeta alemão Wolfang Goethe, um crítico da ideologia feudal, defensor do humanismo e do espírito criador que ativaria a personalidade livre e o emanciparia das cadeias da idade média.

Essa nova sociedade do século XIX é considerada por muitos pensadores como a gênese do mundo contemporâneo, onde novos valores e condutas seriam criados sob a égide da classe burguesa. Dentre as grandes mudanças estava a relação entre os homens e os objetos de consumo, quando estes paulatinamente deixam de ser comprados apenas pela necessidade de uso, mas para satisfação emocional e pelo prazer.

A contrapartida para esta abundancia de mercadorias, de sonhos e desejos, é o aumento do volume do lixo, do descartável, do abandono e da insatisfação, que o sociólogo Zygmunt Bauman, tão bem analisou:

Há também a inquietude, a mania de mudanças constantes, de movimentos, de diversidade, - ficar sentado, parado, é a morte....o consumismo é assim o análogo social da psicopatologia da depressão, com seus sintomas gêmeos em choque: o nervosismo e a depressão. (BAUMAN. 1999. p. 91)

Grandes problemas sociais e ambientais se originaram com a Revolução Industrial, quando ocorreu um aumento do volume de produção, na medida em que ela deixou de ser artesanal, em pequenas indústrias domésticas e passou a ser industrializada.

Até a Idade Moderna, seguindo a definição clássica de Léo Huberman (1980) predominava um modo de produção caracterizado por relações pré-capitalistas, onde o trabalho assalariado era quase inexistente e as corporações de oficio, impediam uma concorrência ao limitar a ação dos proprietários. Essas corporações eram formadas por mestres artesãos que produziam uma mesma mercadoria, dessa forma, havia normas de fabricação e distribuição, assim, como a exclusividade de alguns mestres em cada região ou burgo.

A concorrência comercial era quase inexistente, mais isso seria radicalmente alterado com o desenvolvimento do sistema capitalista e a Revolução Industrial. De acordo com Mariano Enguita (1989), o desenvolvimento das técnicas de produção, não teve apenas um sentido econômico, mas alterou profundamente o modo de vida e a relação social entre as pessoas. Foi imposto um novo ritmo de trabalho, ditado pelo ritmo das máquinas e o apito das fábricas, que não foi aceito facilmente pela população, que resistiu de formas diferentes a esse tirano de “corpos e almas”.

Para Eric Hobsbawm o termo Revolução deve ser compreendido como uma transformação profunda no modo de produção e principalmente nas relações sociais.

Saber se a Revolução Industrial deu a maioria dos britânicos mais ou melhor alimentação, vestuário e habitação, em termos relativos ou absolutos, interessa naturalmente a todo historiador.

Entretanto ele terá deixado de aprender o que a Revolução Industrial teve de essencial, se esquecer que ela não representou um simples processo de adição e subtração, mas sim uma mudança social fundamental. Ela modificou a vida dos homens até torná-las irreconhecíveis. (HOBSBAWM. 1983. p 75)

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A Revolução Industrial é usualmente dividida em duas fases: a primeira ocorreu entre 1760 e 1860, atingindo inicialmente a Inglaterra e depois se alastrou para a França, Alemanha, EUA, Holanda, Itália, Bélgica e Japão. Os principais recursos naturais dessa fase como o ferro e o carvão, impulsionaram o desenvolvimento tecnológico, com destaque para o tear mecânico e a máquina a vapor.

Na etapa seguinte, o petróleo e a produção de aço, ganharam status privilegiados e se desenvolveu a energia elétrica, produtos químicos e outros avanços nos meios de comunicação e transporte, essenciais para o fluxo comercial e aumento da produção e consumo.

A concorrência econômica entre os grandes capitalistas e as principais potências, resultou em um acirramento de disputas políticas que esteve dentre as causas da Grande Guerra de 1914. Estas nações haviam praticamente partilhado o mundo em busca de matéria prima e mercado consumidor para seus produtos e investimentos.

A economia mundial foi se integrando e o capitalismo paulatinamente destruiu os antigos laços sociais e os modos de produção que ainda vigoravam em diversas sociedades, isso significava um longo processo de globalização, que para muitos historiadores teve inicio com as Grandes Navegações.

De acordo com o geógrafo Milton Santos (1994), na década de 1960 teve inicio a “terceira onda” do processo de desenvolvimento industrial, que privilegiou a robótica, informática e os meios de comunicação, neste cenário as distâncias “diminuíram” e parafraseando McLuhan (1982), passamos a viver em uma grande aldeia global.

O século XIX assistiu o surgimento das grandes fábricas, o crescimento dos centros urbanos e o agravamento de uma série de problemas como as péssimas condições de moradia, trabalho, falta de saneamento básico, água encanada, poluição e surtos de doenças.

Por outro lado, as classes sociais privilegiadas tiveram acesso a uma série de bens de consumo, que eram apenas “miragens” para a maioria da população. De acordo com Marshall Berman (1999), essa sociedade de consumo que estava sendo constituída no século XIX, teve na criação da vitrine e das lojas de departamento um grande incentivo no que tange a sedução pelo olhar.

Em sua analise sobre a historia da sexualidade, Michel Foucault (1980), se referiu a esse cenário, em que os objetos estão ligados a criação de um mundo baseado em novos valores, ao burguês era possível comprar cada vez mais uma série de mercadorias que lhe conferiam um status de diferenciação. Berman (1999), retomou esse tema ao afirmar que a valorização do trabalho produtivo implicava no questionamento entre possuir\modernização frente á idéia de família\pertencer\tradição.Os brasões tiveram que concorrer com “coisas” visíveis, que a simples ostentação ou posse, já diferencia o seu possuidor frente aos outros, e finalmente o conceito de trabalho produtivo se sobrepõe ao ócio. Ele afirma que a idéia

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de consumo, aos poucos criou uma nova relação, já que não implica mais satisfazer as necessidades materiais, mas também outras “necessidades” criadas, baseadas no conforto ligado ao imaginário; a satisfação e sublimação de vontades e desejos.

Historicamente estamos nesse ápice da produtividade e também do consumo, onde diversas entidades privadas e públicas, organizações sociais, educadores, intelectuais e ativistas entre outros, tem chamado a atenção para o esgotamento dos recursos naturais, pelo problema do lixo e do consumo excessivo.

Diante da situação de esgotamento dos recursos naturais como água potável, o aumento do índice de poluição e dos resíduos sólidos, torna-se necessária a conscientização do ser humano sobre sua responsabilidade direta ou indiretamente na preservação ambiental. Nessa conjuntura a educação da sociedade é muito importante, seja em relação aos adultos por meio de campanhas nos meios de comunicação de massa, assim como também dos jovens, com a incorporação de temas ligados à questão da sustentabilidade como conteúdo na educação básica e em diversos cursos do ensino superior.

Pedro Jacobi aponta a importância no século XXI na promoção da educação para a cidadania:

Nessa direção, a educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais fatores de dinamização da sociedade e de ampliação do controle social da coisa pública, inclusive pelos setores menos mobilizados. Trata-se de criar as condições para a ruptura com a cultura política dominante e para uma nova proposta de sociabilidade baseada na educação para a participação. (JACOBI. 1997, p37)

A educação em seus vários aspectos (formal e informal) da sociedade é um passo decisivo na luta pela preservação ambiental, mas é urgente o engajamento do empresariado\setores produtivos, pois devemos encontrar soluções inovadoras que permitam adequar os interesses econômicos com o respeito ao ser humano e ao meio ambiente. Diversos autores apontam que sob o prisma empresarial, não se deve imaginar que a sustentabilidade seja uma nova forma de doutrina, em vez de uma nova forma de valor que a sociedade demandará e que as empresas de sucesso disseminarão por meio de mercados transformados. Dessa forma, afirmam que, assim como as empresas devem ser bem-sucedidas em várias frentes para criar valor para os acionistas, devem também superar os desafios econômicos, sociais e ambientais para atingir sua sustentabilidade.

4. A EVOLUÇÃO CONCEITUAL DA LOGISTICA REVERSA

Inicialmente a Logística Reversa restringia-se somente ao fluxo reverso, que ocorre do ponto de consumo ao de origem. Rogers e Tibben-Lembker (1998, 2002), afirmam que o processo reverso ocorre com o propósito de capturar valor ou de dar a disposição final adequada aos mesmos.

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LEITE (2003, p. 16) define Logística Reversa como:

[...] a área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros.

Para Stock (2001), a LR do ponto-de-vista da engenharia é um modelo sistêmico que aplica os melhores métodos da engenharia e da gestão logística, com o objetivo de fechar lucrativamente o ciclo da suplly chain. E segue afirmando que a empresa que inicia o processo de LR ganha tanto no fornecimento de uma imagem institucional positiva, quanto na visão de responsabilidade empresarial – meio ambiente e sociedade. Corroborando, Lacerda (2003) afirma que as iniciativas relacionadas à logística reversa têm trazido consideráveis retornos para as empresas justificando os investimentos realizados e estimulando novas iniciativas, mas que a maior ou menor eficiência do processo de logística reversa dependerá de como este é planejado e controlado.

4.1. Em busca da caracterização da Logística Reversa

Em relação à última questão, Chaves e Alcântara (2010) afirmam que os atores envolvidos variarão conforme o tipo de canal de distribuição reverso. Nos canais reversos de pós-venda (cujos produtos não foram utilizados), os atores são os mesmos do canal de distribuição direto: o produto retorna às indústrias de origem. Ao passo que nos canais reversos de pós-consumo (cujos produtos já foram consumidos), os atores não são os mesmos: as empresas devem desenvolver canais reversos e, para isso, definir os agentes envolvidos Em tal definição de agentes, deve-se levar em consideração as características do produto (como periculosidade), pois pode existir a necessidade de agentes especializados na realização do transporte, armazenagem e descarte.

A diferenciação da logística reversa em relação à logística direta pode ser evidenciada a partir de duas esferas: esfera das diferenças de estrutura dos fluxos de produtos e informações e esfera das suas especificidades que implicam em gestão diferenciada.

Ressalta-se que os fluxos diretos e reversos nem sempre são simétricos (o termo ‘reversa’ não é necessariamente sinônimo de ‘contrário’ ou ‘inverso’), isto é, os fluxos reversos nem sempre são um espelho dos fluxos diretos de distribuição: as especificidades da logística reversa exigem que ela possua estrutura diferenciada. A autora enumera algumas particularidades da logística reversa que geram complexidade na gestão de seus processos:

• o retorno de produtos requer um canal de distribuição reverso que considere as características de cada produto,

• coleta altamente dispersa,• baixa escala (volume movimentado muito inferior ao volume nos canais de

distribuição diretos),

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• geralmente o valor dos produtos e materiais retornados é muito baixo, • elevados custos de transporte, • necessidade de controle de entrada de produtos, • necessidade de um sistema de informação flexível para reduzir os tempos das

atividades, • necessidade de uma rede logística planejada para integração entre os elos da cadeia

de suprimentos (assim como na logística de fluxo direto), • distribuição de centralização (dos vários clientes para os fabricantes ou recicladores,

ao contrário da distribuição direta que é de pulverização, ou seja, do fabricante a vários clientes),

• impossibilidade de realização de uma previsão de demanda precisa: imprecisão de quando e quanto da demanda pela coleta e retorno de produtos.

Na tabela1, Tibben-Lembke e Rogers (2002) sintetizam as principais diferenças nas características entre as logísticas direta e reversa.

Tabela 1 – As diferentes características entre as logísticas direta e reversa.

Logística Direta Logística Reversa

Previsões próximas da demanda real Previsões muito difíceis

Transporte de pulverização (de um para vários) Transporte de coleta (de vários para um)

Qualidade do produto é uniforme Qualidade do produto não é uniforme

Embalagem do produto é uniforme Embalagem do produto danificada, geralmente

Destinação (e roteamento) são claros Destinação (e roteamento) não são claros

Canal de distribuição padronizado Orientado para a exceção

Opções para destino dos produtos é clara Opções para destino dos produtos não é clara

Precificação uniforme Precificação depende de vários fatores

Importância do tempo/velocidade é reconhecida Importância do tempo/velocidade nem sempre é reconhecida

Custos de distribuição são fortemente monitorados Custos são menos visíveis diretamente

Gestão de estoque é consistente Gestão de estoque não é consistente

Ciclo de vida dos produtos mais gerenciável Questões do Ciclo de vida dos produtos são mais complexas

Negociação entre as partes é mais clara Negociação mais complicada em razão das considerações

adicionais

Métodos de marketing bem conhecidos Marketing mais complicado por uma série de fatores

Informações de rastreabilidade do produto em tempo real facilmente encontradas

Visibilidade do processo é menos transparente

Fonte: Tibben-Lembke e Rogers (2002, p. 276).

Na logística reversa, as principais ideias de visibilidade e velocidade nos fluxos logísticos para atendimento ao cliente pela demanda, equivalente ao sistema Just In Time e Just On Time, auxiliaram as empresas a competir, cooperar e inovar neste ambiente globalizado. Surgindo os canais de distribuição diretos e reversos (Figura1), onde os volumes transacionais nos canais reversos são, em geral, uma fração daqueles dos canais diretos dos bens produzidos. Os valores dos materiais e produtos que retornam mesmo considerando as dificuldades deste retorno é muito mais baixo do que os comparados aos dos bens originais, que nem

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sempre foram planejados corretamente (LEITE, 2009).

Figura1: Canais de distribuição diretos e reversos. Fonte: Adaptação de Leite (2009, p. 7).

Pode-se observar na figura 6 o fluxo das matérias-primas (mercado primário) que pode ser processado de diversas maneiras como atacadista, distribuidores chegando ao consumidor final e retornando em seus canais reversos (mercado secundário), como descarte de produtos (duráveis e semiduráveis), após finalizadas à aplicação original. Existindo 3 subsistemas reversos: os canais reversos de reuso (ex.: leilões de empresa), de Desmanche (remanufatura) e de reciclagem, para o sentido inverso da cadeia (pós-consumo e pós-venda), ou seja, do consumidor ou varejista ao fabricante e entre empresas, retornando ao ciclo do negócio de alguma maneira. Pode ser exemplificado através dos canais reversos de pós-venda: e-commerce; canal reverso de pós-consumo: embalagens descartáveis; canal reverso de pós-venda: lojas de varejo (LEITE, 2009).

O fluxo dos tipos logísticos são apresentados na tabela 2, onde além dos fluxos diretos tradicionalmente considerados, são incorporados os fluxos de retorno de peças a serem reparadas, de embalagens e seus acessórios, de produtos vendidos devolvidos e de produtos usados/consumidos a serem reciclados. Entendendo assim perspectiva estratégica e operacional da logística reversa e suas preocupações na redução dos inibidores das cadeias reversas.

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Tabela 2 – Diferentes tipos de Fluxos Logísticos

LOGÍSTICA

Fluxos diretos Com fornecedores (fornecimento de materiais e componentes)

Com clientes (produtos, pecas de reposição, materiais, materiais promocionais e de propagan-da).

Fluxos reversos Com fornecedores (embalagem e reparo)

Com fabricantes (eliminação e reciclagem)

Com clientes (excesso de estoque e reparos)

Fonte: Adaptação de Dornier et al (2000, p. 40-2).

4.2. Que novos elementos têm composto as recentes reflexões sobre Logística Reversa?

Como ocorre com as novas áreas de pesquisa nas diversas disciplinas do conhecimento, as mudanças e avanços são frequentes. É comum nestas ciências a história testemunhar a reorientação de caminhos e objetivos durante a pesquisa acadêmica. Na década de 1980 ocorreram grandes e importantes mudanças no horizonte da pesquisa sobre ciência e tecnologia, apresentando para os pesquisadores um novo objeto de estudo (cf. WOOLGAR, 1991, pp. 20-21). Que elementos novos podem ser encontrados nos recentes discursos sobre Logística Reversa?

Já é bastante comum encontrar no debate sobre Logística Reversa a inclusão de temas e conceitos ambientais. Há diversos autores nacionais que introduziram essas reflexões no desenvolvimento teórico dessa disciplina. Ademais, em âmbito internacional, a Logística Reversa é impensável sem algum viés ambiental. Esta relação é tão próxima que o professor Szoltysek sustenta a fecundidade e importância das afirmações em Logística Reversa em clave radicalmente ecológica: “[...] a filosofia da logística reversa é estritamente ambiental” (SZOLTYSEK, 2010, p. 66). No entanto, mesmo nos autores avessos ao reducionismo mercadológico e econômico na estratégia de Gestão, como é o caso do citado prof. Genchev, ali já estão os motivos pelos quais a causa ambientalista agrada aos gestores: em média 20% do valor das mercadorias vendidas retorna como receita em uma estratégia de logística reversa bem realizada (cf.GENCHEV, 2009, p. 139). Tanto assim que as estratégias de Logística Reversa aplicadas a empresas e conglomerados industriais são utilizadas mesmo a revelia das questões ambientais, como afirma o professor Johnson: “O sistema de reciclagem de sucata de ferro representa uma oportunidade para estudar o sistema de logística reversa considerado por fatores econômicos, em vez de por preocupações para proteger o ambiente natural” (JOHNSON, 1998, p. 226). Mais que por razões de preservação e manutenção de ambientes naturais, as estratégias de reaproveitamento de materiais, influxos e produtos industriais traz de volta para as empresas grande quantia de recursos, que se somam ao capital da companhia. Neste sentido, as pesquisas brasileiras parecem percorrer a mesma estrada: o horizonte é econômico.

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Entretanto, se o discurso ordinário da atual Logística Reversa no Brasil já internalizou os importantes elementos ambientais, questões humanas ainda não foram recepcionadas suficientemente pelos pesquisadores brasileiros. Com efeito, não apenas das relações ambientais com os negócios se favorece o discurso sobre Logística Reversa. É cada vez mais comum a introdução de conceitos fundamentais como direitos humanos, trabalho infantil, trabalho escravo dentre outros, na mais recente pesquisa sobre estratégias de Logística Reversa em Gestão de Negócios. Enfim, as questões humanas implicadas na Logística Reversa raramente surgem com relevância nos “surveys”, nas pesquisas, nos relatórios de negócios. Neste ponto, o Brasil está em descompasso com a reflexão que se faz sobre essa disciplina no resto do mundo. A discussão global sobre Logística Reversa tem se aproximado a passos largos de uma visão mais responsável do negócio. A noção de Responsabilidade Social Corporativa (Corporate Social Responsibility – CSR) é o caminho comum para onde a Logística Reversa que se ocupa com valores e não apenas com resultados econômicos tem se orientado nos EUA e na Europa. Autores como Garcia (2007), Rodrígues-Pénelas (2008) e Rabet (2009), e no Brasil Oliveira (2007), Filho (2009) dentre muitos outros têm suscitado uma visão de conjunto da atividade de gestão. Um horizonte mais abrangente do conceito de Logística Reversa é para onde o discurso acadêmico se inclina atualmente.

Com efeito, os autores Nikolaoua, Evangelinos e Allanc estão com artigo no prelo desde 2011, para publicar na revista Cleaner Production, em que apresentarão uma perspectiva mais ampla da reflexão sobre Logística Reversa, indo ao encontro dessa tendência. Junto a questões de importância ambiental, os autores propõem a introdução do conceito de Responsabilidade Social na Gestão de Negócios, o que apresentará como resultado três níveis de abordagens importantes na estratégia para melhorar o desempenho das empresas: nível econômico, nível ambiental e nível social. É nessa última dimensão que se encontram, segundo os autores, os temas éticos, sociais, filantrópicos até. Mas o que chama a atenção é a introdução dos “human rights” como elementos do terceiro nível que compõem uma boa estratégia de Logística Reversa:

Finalmente, a dimensão social inclui 49 indicadores tais como qualidade da gestão, saúde e segurança, salários e benefícios, política de igualdade de oportunidades, treinamento/educação, trabalho infantil, trabalho forçado, liberdade de associação, direitos humanos (NIKOLAOUA et al., 2012).

É verdade que os autores citados não foram os primeiros teóricos a registrar questões de fundamento na Logística Reversa. Carter e Jennings (2002) já indicavam valores sociais na composição das implementações sobre desenvolvimento sustentável e equilibrado ambientalmente. Entretanto, o que se entende por “direitos humanos” parece ser algo mais que compatibilidade entre sustentabilidade econômica e sustentabilidade ambiental. Com efeito, não é impossível imaginar um recall de baterias automobilísticas, que tenha alcançado sucesso ambiental (pois o recolhimento destas baterias evitou enorme impacto

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nos habitats próximos aos usuários) e sucesso econômico (com a respectiva fidelização de alguns usuários e a incrementação de outros). Contudo, se a implementação das atividades para efetuar a ação de mercado utilizar como meio trabalho infantil ou escravo, fica evidente que a estratégia de Logística Reversa não foi bem feita e que, no longo prazo, comprometerá até irreversivelmente dois pontos fundamentais do sucesso de um negócio vencedor: imagem e identidade organizacional (SZOLTYSEK, 2010, p. 66). Por isso, as propostas conceituais produzidas na disciplina aproximam decididamente a Gestão de Negócios de uma perspectiva mais global da corporação, vinculando-a a princípios mais estáveis. Neste sentido, entender o conceito de “humano” em Logística Reversa é fundamental para a compreensão da inflexão que a disciplina parece ir sofrendo no mundo.

4.3. O que se entende por “humano” em Logística Reversa?

Além de aspectos ambientais e econômicos, um novo aspecto surge na reflexão sobre gestão corporativa. O novo conceito atuante na reflexão de Logística Reversa em diversos autores é denominado por Nikolaoua et al. (2012) de “social” e tem com nota distintiva o elemento “humano”. Mas como esse termo se constitui para a disciplina e que tipos de notas são consideradas na análise de sua constituição? Importa dedicar atenção aos elementos novos que impactam positiva e negativamente na estratégia da Logística Reversa, já que não apenas o aspecto econômico conta para o sucesso ou fracasso de uma marca. Das três dimensões que compõem a estratégia de Gestão de Negócios, citadas por Nikolaoua et al. (2012), o aspecto humano, caracterizado pelos termos “direitos humanos”, é capital. No entanto, não é evidente o que se compreende por ‘humano’ em Gestão de Negócios e Logística Reversa.

Certamente, o primeiro sentido indicado pelo termo e que parece ser reivindicado pelos autores é o sentido jurídico. Por “human rights”, está evidente, os autores entendem aquele conjunto de valores inegociáveis, sem os quais toda ação humana, inclusive o comando de empresas e a produção de bens de consumo, estaria comprometido. A escolha desses termos não parece ser ocasional, já que os autores os submetem ao grupo dos valores sociais que orientam as decisões em Logística Reversa. Pautar as decisões organizacionais tendo em vista valores positivamente estabelecidos dão a garantia interna e externa à organização de que suas escolhas visam objetivos maiores e mais estáveis que o lucro e o mercado.

Mas por valores humanos podem-se entender também conteúdos não positivados nas leis, mas reconhecidos universalmente. É o caso de ações que até estariam respaldadas em alguma norma jurídica local, mas que atentam claramente contra valores invioláveis, como a escravidão e o cárcere privado. Segundo Nikolaouaet al. (2012) e Szoltysek a reflexão sobre Gestão de Negócios e Logística Reversa não pode eximir-se de tratar desses casos, pois podem pôr a perder uma marca e um negócio de sucesso. Por este motivo é que os valores humanos são capitais na teoria sobre Logística Reversa.

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4.4. Por que ocupar-se de valores humanos em Logística Reversa?

Antes de tudo, o maior motivo é a dignidade do objeto causal e final de toda ação de Gestão de Negócios: o homem. Produz-se para o homem, transporta-se para o homem, cria-se e destrói-se para o homem. Procura-se o lucro e evita-se o prejuízo nos negócios sempre para o bem do homem. O homem é a origem e o fim das ações e decisões de gestão. Ora, para que haja coerência nas ações organizacionais, o mesmo homem não pode ser simultaneamente beneficiado e vilipendiado pela mesma decisão de gestão. Para levar bem-estar a um grupo humano não é coerente que outro grupo fique abaixo de um mínimo justo de conforto. E mais: valores objetivos como liberdade de escolha e de opinião precisam ser absolutamente resguardados e preservados para que a qualidade da gestão seja garantida. Contudo, pode-se retrucar, esses motivos são por demais impessoais para que os teóricos de Gestão de Negócios e Logística Reversa se sintam inclinados a aplicar esses conceitos. Mas há outro motivo igualmente forte para que tais valores sejam cuidadosamente vigiados.

Szoltysek (2010) recorda que as mais importantes ações de gestão para o sucesso do negócio em que se investe é a criação de uma imagem e identidade da organização que seja atraente ao público, sempre um potencial parceiro de negócio. Ora, a proteção e a custódia dos valores humanos são ações úteis para gerar confiança e simpatia necessárias para construção de uma boa marca. Positivamente, pautar decisões organizacionais levando em conta valores não necessariamente ligados ao próprio negócio é um excepcional sinal para o público de que a empresa visa objetivos mais amplos e universais que manter-se viva no mercado. Sem dúvida, a decisão de seguir esta linha organizacional se revela um poderoso catalisador de colaboradores.

No Brasil, o debate de ideias acerca do melhor modo de se integrar Logística Reversa e Responsabilidade Social Corporativa passa necessariamente pela introdução de temas ligados a valores mais universais. Longe de ser um desvio do objetivo principal de uma organização ou de uma marca, esta decisão é fundamental para estabelecê-la no mercado e configura-se como um atalho para um negócio vencedor.

5. LOGISTICA REVERSA X EDUCAÇÃO

O desafio que se apresenta para a formação de futuros profissionais em diversas áreas (Humanas, Saúde, Engenharias e Tecnológicas) representa hoje um grande desafio para as Instituições de Ensino Superior (IES), quer sejam estas públicas ou privadas. O ensino no Brasil é um cenário que demanda uso intensivo da ciência e tecnologia e exige profissionais altamente qualificados.

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Segundo o Ministério da Educação, a educação abrange vários processos que vão além da educação formal, como descrito a seguir na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996):

Art. 1o A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais.

§ 1o Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em instituições próprias. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a prática social.

O próprio conceito de qualificação profissional vem se alterando, com a presença cada vez maior de componentes associadas às capacidades de coordenar informações, interagir com pessoas, interpretar de maneira dinâmica a realidade. O novo profissional deve ser capaz de propor soluções que sejam não apenas tecnicamente corretas, ele deve ter a ambição de considerar os problemas em sua totalidade, em sua inserção numa cadeia de causas e efeitos de múltiplas dimensões. Não se adequar a esse cenário procurando formar profissionais com tal perfil significa atraso no processo de desenvolvimento. As IES no Brasil têm procurado, através de reformas periódicas de seus currículos, equacionar esses problemas, por meio de reformas e adequações em seus currículos.

As tendências atuais vêm indicando na direção de cursos de graduação com estruturas flexíveis, permitindo que o futuro profissional a ser formado tenha opções de áreas de conhecimento e atuação, articulação permanente com o campo de atuação do profissional, base filosófica com enfoque na competência, abordagem pedagógica centrada no aluno, ênfase na síntese e na transdisciplinaridade, preocupação com a valorização do ser humano e preservação do meio ambiente, integração social e política do profissional, possibilidade de articulação direta com a pós-graduação e forte vinculação entre teoria e prática.

Nesse sentido o presente projeto “Muito Além da Logística Reversa” tem como objetivo avançar na formação profissional dos futuros profissionais propondo a criação e introdução da Disciplina Logística Reversa em cursos de Graduação de diversas áreas. É importante destacar que a questão da sustentabilidade, que se tornou pauta importante nos assuntos empresariais e de políticas públicas, chegou à sociedade de modo geral, via temas transversais nos currículos escolares na educação básica, contudo deve avançar e fazer parte também dos cursos de formação profissional e ensino técnico, bem como, dos cursos de nível superior.

5.1. Novos Caminhos na Formação Profissional

Até a década de 80, a formação profissional limitava-se ao treinamento para a produção em série e padronizada. A partir de então, as novas formas de organização e gestão modificaram estruturalmente o mundo do trabalho. Um novo cenário econômico e produtivo se estabeleceu com o desenvolvimento e emprego de tecnologias complexas agregadas à produção e à

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prestação de serviços e pela crescente internacionalização das relações econômicas.Passou-se, assim, a requerer sólida base de educação geral para todos os trabalhadores,

educação profissional básica, qualificação profissional de técnicos e educação continuada para atualização, aperfeiçoamento, especialização e requalificação. Além disso, conforme indicam estudos referentes ao impacto das novas tecnologias cresce a exigência de profissionais polivalentes, capazes de interagir em situações novas e constante mutação. Como resposta a este desafio, escolas e instituições de educação profissional buscaram diversificar programas e cursos profissionais, atendendo a novas áreas e elevando os níveis de qualidade de oferta.

A educação profissional passou, então, a ser concebida não mais como simples instrumento de política assistencialista ou linear ajustamento às demandas do mercado de trabalho, mas, sim, como importante estratégia para que os cidadãos tenham efetivo acesso às conquistas científicas e tecnológicas da sociedade. Impõe-se a superação do enfoque tradicional da formação profissional baseado apenas na preparação para a execução de um determinado conjunto de tarefas. A educação profissional requer, além do domínio operacional de um determinado fazer, a compreensão global do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnológico, a valorização da cultura do trabalho e a mobilização dos valores necessários à tomada de decisões, corroboram com isso a legislação vigente.

A nova LDB – a Lei 9394/96 - atenta a estas questões, trata, de maneira adequada, apropriada, moderna e inovadora, a questão da educação profissional. Assim a educação profissional é concebida como integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduzindo ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. (Art. 39 – LDB). Ela é acessível ao aluno matriculado ou egresso do ensino fundamental, médio e superior, bem como ao trabalhador em geral, jovem ou adulto. (Parágrafo único – Art.39 LDB), desenvolvendo-se em articulação com o ensino regular ou por diferentes formas de educação continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de trabalho. (Art. 40 – LDB). O conhecimento adquirido, inclusive no trabalho, poderá ser objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para prosseguimento ou conclusão de estudos (Art. 41 – LDB).

A legislação não só favorece, como também estimula o trabalhador, jovem ou adulto que, na idade própria não pode efetuar estudos, tenha oportunidades educacionais apropriadas, considerando as suas características, seus interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames, inclusive os de caráter supletivo (Art. 37 e 38 da LDB).

Como se vê as novas áreas de profissionalização dos trabalhadores brasileiros seguem na direção do compromisso com o desenvolvimento de competências ou saberes profissionais que permitam ao cidadão-trabalhador enfrentar e responder a desafios sócio-profissionais esperados e inesperados, previsíveis e imprevisíveis, rotineiros e inusitados,

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com criatividade, autonomia, ética, responsabilidade social e ambiental. Isso se repete nas três instâncias do ensino, seja ele, profissional, técnico ou superior.

A reflexão sobre a necessidade de construir novos caminhos na busca do conhecimentos nos remete a necessidade de interação entre as diversas áreas e em todos os âmbitos do ensino, do básico a pós-graduação, ou seja, a interação disciplinar, em detrimento da simples disciplinaridade.

Segundo a LDB, Capitulo IV, Art. 52: As universidades são instituições pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo do saber humano, que se caracterizam por:

I - produção intelectual institucionalizada mediante o estudo sistemático dos temas e problemas relevantes, tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional, e nacional;

Nesse sentido podemos inferir que as interações disciplinares podem proporcionar ao indivíduo maiores possibilidades na construção do conhecimento, sendo estas, de extrema importância para o aprofundamento de temas específicos sem perder a visão integral da situação ou problema.

A transdisciplinaridade representa um desses caminhos e refere-se ao conhecimento próprio da disciplina, mas está para além dela. O conhecimento situa-se na disciplina, nas diferentes disciplinas e além delas, tanto no espaço quanto no tempo. Busca a unidade do conhecimento na relação entre a parte e o todo, entre o todo e a parte. Adota atitude de abertura sobre as culturas do presente e do passado, uma assimilação da cultura e da arte. O desenvolvimento da capacidade de articular diferentes referências de dimensões da pessoa humana, de seus direitos e do mundo é fundamento básico da transdisciplinaridade.

Nesse sentido os benefícios da inserção da Disciplina Logística Reversa nas grades curriculares seria de grande importância para o desenvolvimento conteúdos transdisciplinares, aliando teoria e prática, situações reais e ainda contribuindo para despertar a consciência e a responsabilidade social nos cidadãos.

5.2. Educação + Logística Reversa = Profissional Diferenciado

É evidente que hoje, no novo contexto empresarial, onde a questão da sustentabilidade vem se tornando parte dos novos modelos de produção, que o mercado de trabalho busque profissionais diferenciados, com formação atualizada e preparados para enfrentar situações complexas, principalmente, as questões ambientais.

É com foco na formação dos futuros profissionais de diversas áreas que se procura ir além da Logística Reversa, ou seja, a criação de conteúdos transdisciplinares, onde o profissional, independente da área de formação, terá acesso a conteúdos atuais e que sejam

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compatíveis com a busca por um novo modelo de gestão integrador que trate das esferas ambiental, social e econômica da sustentabilidade.

Como vimos é no processo educativo que temos a oportunidade de preparar indivíduos capacitados para esse novo mercado de trabalho. Temos uma legislação educacional que nos permite trabalhar temas de maneira transversal, atualizando dessa forma nossos currículos e os tornando compatíveis com a realidade atual.

Fica claro que a introdução de conteúdos de Logística Reversa pode ser um diferencial para o profissional nesses novo mercado de trabalho, dada a importância e a iminência de tratarmos as questões ambientais com mais responsabilidade.

CONSIDERAÇÕES

A realização da pesquisa até o presente momento, apesar de algumas dificuldadespara se obter fontes de pesquisa voltadas a logística reversa, foi muito satisfatória, pois, pode-se perceber que a Logística Reversa vem ocupando seu espaço dentro do tripé: econômico, ambiental e social. Em alguns momentos ainda de maneira tímida, mas eu outros há ações e movimentações para uma mudança de atitude.

Uma vez que o propósito da pesquisa é o de contribuir para o desenvolvimento gradual das condições sistêmicas (integrando as três instâncias) favoráveis a sustentabilidade das empresas, do meio e da sociedade, percebe-se que a logística reversa e algo novo no cenários brasileiro onde algumas empresas em fase inicial a consideram fato estratégico e confidencial.

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