antunes, ricardo. avaliação do governo lula

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5/21/2018 ANTUNES,Ricardo.AvaliaoDoGovernoLula.-slidepdf.com http://slidepdf.com/reader/full/antunes-ricardo-avaliacao-do-governo-lula 1/6 ENTREVISTA COM RICARDO ANTUNES  – AVALIAÇÃO DO PRIMEIRO UM ANO E MEIO DO PRIMEIRO GOVERNO LULA Qual a sua avaliação dos primeiros 18 meses do governo Lula? O balanço destes 18 meses, no meu entender é pífio. É um governo que tem sido marcado muito mais pela continuidade em relação ao governo anterior, da era Fernando Henrique, do que por descontinuidade. Nós esperávamos que o governo Lula pudesse, pelo menos, iniciar o desmonte do neoliberalismo no Brasil. Este era o desafio. Começar a desmontar a política econômica perversa, fundada no arrocho salarial, desmontar a política econômica baseada no receituário neoliberal do consenso de Washington, a política agrária, totalmente voltada para os interesses do latifúndio. Esperávamos que o Governo Lula começasse a desmontar esta tragédia brasileira, que tem sua vértebra fundamental nesta política econômica, que foi desenvolvida especialmente depois do golpe de 64, intensificada no governo Collor com a nova feição, já claramente neoliberal, e racionalizada por Fernando Henrique. O balanço que eu faço deste um ano e meio é o mais crítico possível. A política econômica é a política econômica do governo Fernando Henrique numa versão intensificada, o superávit é mais intenso, a extorsão fiscal é mais intensa, a renda média do trabalhador vem caindo, o desemprego aumentou, e o país perdeu uma oportunidade histórica de derrotar o neoliberalismo. É importante lembrar que quando o Lula foi eleito em 2002, nós estávamos, na América Latina, numa onda muito grande de derrota do neoliberalismo. O Chavez na Venezuela, a eleição do Gutierrez no Equador, a eleição do Lula, as rebeliões da Argentina desde 2001, na Bolívia, a guerra civil na Colômbia, a resistência heróica de Cuba. A tragédia, e eu digo isso com tristeza, é que o Governo Lula se mostrou um governo capaz de revitalizar o neoliberalismo. E ao revitalizar o neoliberalismo no Brasil, revitalizá-lo na América Latina. O governo Lula, ao reconquistar a confiança do capital financeiro internacional, acabou sendo o paladino do neoliberalismo no Brasil. Nossa tragédia é que o neoliberalismo pode ser implementado pela via clássica, como a da Thatcher na Inglaterra ou o do Reagan nos Estados Unidos. E pode ser implementado pela via  “não-clássica”, quem representava esta ala era o Tony Blair, que não era um neoliberal, era um trabalhista, que vinha de um processo de moderação, mas que implementou em alguns pontos medidas que nem a Margaret Thatcher conseguiu. Por exemplo, ele tentou liquidar o direito das mães solteiras e tentou cortar o direito dos deficientes físicos. A “esquerda” quando assume as bandeiras neoliberais não tem limites. O Lula vai entrar na história por desmontar a previdência pública, privatizar, financeirizar ao mesmo tempo permitir que a previdência vire fonte de especulação. Esta é a alma mais neoliberal. Na política ambiental, todos nós imaginávamos que iria tomar medidas contra os transgênicos. Qual era a relação do PT em relação a ALCA? O Lula tinha de um lado o Chávez, Fidel, o Kirchner, que nunca foi de esquerda, e o Lula optou por estar de bem com Deus e com o Diabo, “quero estar bem com a esquerda latino-americana, mas quero estar bem com o demônio”, com o Bush. No plano da política externa, é insuficiente a posição do Lula. Na questão agrária, no que

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    ENTREVISTA COM RICARDO ANTUNESAVALIAO DO PRIMEIRO UM ANOE MEIO DO PRIMEIRO GOVERNO LULA

    Qual a sua avaliao dos primeiros 18 meses do governo Lula?

    O balano destes 18 meses, no meu entender pfio. um governo que tem sidomarcado muito mais pela continuidade em relao ao governo anterior, da eraFernando Henrique, do que por descontinuidade. Ns espervamos que o governo Lulapudesse, pelo menos, iniciar o desmonte do neoliberalismo no Brasil. Este era odesafio. Comear a desmontar a poltica econmica perversa, fundada no arrochosalarial, desmontar a poltica econmica baseada no receiturio neoliberal do consensode Washington, a poltica agrria, totalmente voltada para os interesses do latifndio.Espervamos que o Governo Lula comeasse a desmontar esta tragdia brasileira, quetem sua vrtebra fundamental nesta poltica econmica, que foi desenvolvida

    especialmente depois do golpe de 64, intensificada no governo Collor com a novafeio, j claramente neoliberal, e racionalizada por Fernando Henrique.

    O balano que eu fao deste um ano e meio o mais crtico possvel. A polticaeconmica a poltica econmica do governo Fernando Henrique numa versointensificada, o supervit mais intenso, a extorso fiscal mais intensa, a rendamdia do trabalhador vem caindo, o desemprego aumentou, e o pas perdeu umaoportunidade histrica de derrotar o neoliberalismo. importante lembrar que quandoo Lula foi eleito em 2002, ns estvamos, na Amrica Latina, numa onda muito grandede derrota do neoliberalismo. O Chavez na Venezuela, a eleio do Gutierrez no

    Equador, a eleio do Lula, as rebelies da Argentina desde 2001, na Bolvia, a guerracivil na Colmbia, a resistncia herica de Cuba. A tragdia, e eu digo isso comtristeza, que o Governo Lula se mostrou um governo capaz de revitalizar oneoliberalismo. E ao revitalizar o neoliberalismo no Brasil, revitaliz-lo na AmricaLatina. O governo Lula, ao reconquistar a confiana do capital financeiro internacional,acabou sendo o paladino do neoliberalismo no Brasil. Nossa tragdia que oneoliberalismo pode ser implementado pela via clssica, como a da Thatcher naInglaterra ou o do Reagan nos Estados Unidos. E pode ser implementado pela viano-clssica, quem representava esta ala era o Tony Blair, que no era umneoliberal, era um trabalhista, que vinha de um processo de moderao, mas que

    implementou em alguns pontos medidas que nem a Margaret Thatcher conseguiu. Porexemplo, ele tentou liquidar o direito das mes solteiras e tentou cortar o direito dosdeficientes fsicos. A esquerda quando assume as bandeiras neoliberais no temlimites. O Lula vai entrar na histria por desmontar a previdncia pblica, privatizar,financeirizar ao mesmo tempo permitir que a previdncia vire fonte de especulao.Esta a alma mais neoliberal. Na poltica ambiental, todos ns imaginvamos que iriatomar medidas contra os transgnicos. Qual era a relao do PT em relao a ALCA? OLula tinha de um lado o Chvez, Fidel, o Kirchner, que nunca foi de esquerda, e o Lulaoptou por estar de bem com Deus e com o Diabo, quero estar bem com a esquerdalatino-americana, mas quero estar bem com o demnio, com o Bush. No plano dapoltica externa, insuficiente a posio do Lula. Na questo agrria, no que

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    efetivamente o Governo Lula se diferenciou do governo Fernando Henrique? Numapostura mais agressiva com o latifndio? No. Ento, eu no posso falar de umaavaliao positiva neste um ano e meio. Sem falar no escndalo Waldomiro, quedemonstrou que havia corrupo no governo, no ncleo de poder. O que inaceitvel.Dizem que os sistemas de informao esto o tempo todo vigiando o MST, osmovimentos sociais, para saber os riscos que o Governo corre. Por que estes sistemasde informao no foram eficazes para perceber a corrupo no corao do Governo?O Governo Lula foi eleito com 53 milhes de votos, naquele momento, com todoaquele apoio e em meio onda anti-neoliberal poderia agir de outra forma. Se notomou uma posio mais crtica quando estava mais fortalecido, agora que est numprocesso de eroso, que est perdendo apoio, quem vai respaldar o governo Lula nummomento de crise? [...]

    Como explicar isto, que um Partido ou um governante de origem popular

    implemente uma poltica neoliberal?

    So vrios fatores de um quadro bastante complexo. Primeiro, nos ltimos 20 anos, omundo viveu um processo de transformaes muito profundas. O capitalismo mudouem muitos aspectos a sua forma de acumulao, seus mecanismos de valorizao doCapital. E, neste perodo, houve pelo menos quatro movimentos no plano internacionalque foram profundos e tiveram forte repercusso no plano nacional. Rapidamente:crise do capitalismo em 73; em 79-80, advento do neoliberalismo; intensareorganizao produtiva dos capitais neste perodo. E quarto: houve um processomultiforme de vitria da direita, com o fim do leste europeu, com o fim da Unio

    Sovitica, em 89-90. A direita ganhou esta guerra ideolgica ao dizer que o fim doleste europeu e da Unio Sovitica era o fim do socialismo. Tese com que eu noconcordo. Penso que a Unio Sovitica e o leste europeu no conseguiram criarverdadeiramente o que se pudesse chamar de um sistema socialista. Mas com o fim daUnio Sovitica, outros pases socialistas desapareceram e houve outros doismovimentos muito importantes: a social-democratizao da esquerda tradicionale a neoliberalizao da socialdemocracia. No caso brasileiro, tudo isto aconteceupesadamente em uma dcada, na dcada de 90: vitria de Collor; na sequncia,reestruturao produtiva pesada; um processo de privatizao de todo o setorprodutivo estatal; financeirizao da economia brasileira e a precarizao do trabalho.

    A classe trabalhadora brasileira foi posta de pernas para o ar. Foi solapada pela base.Basta dizer que at os anos 80, 20% da classe trabalhadora era informal e hoje osndices de informalidade chegam a 60%. No que a Classe trabalhadora tenhaacabado, mas ela foi brutalmente atingida, fragmentada, pulverizada, precarizada,terceirizada, desempregada, etc, etc. Resultado: O PT nasce em 80, numa dcada delutas sociais. Basta dizer que nasceram ento o PT, a CUT, o MST. Mas quando o PTchega s eleies em 89, numa engenharia nefasta das classes dominantes, o Lula noganhou as eleies. Pouco a pouco, o PT teve que viver com esta neoliberalizao,essa privatizao, com essa reestruturao da base produtiva, que foi mexer nas basessociais do PT e ele teve que se postar como um partido apto para vencer as eleies. Eao fazer isto, foi-se distanciando das lutas sociais. O resultado que o PT tornou-se

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    mais moderado, mais institucional. Perde em 94 de novo, modera ainda mais a suapoltica. Perde em 98 de novo e quando chega em 2002, no mais o mesmo PT. OPT que chega em 2002 o PT desvertebrado. O seu ncleo dominante no tem maisnenhum vnculo com o socialismo. O Marx diria que foi a converso do PT numpartido da ordem, ainda que a esquerda da ordem, diferente de uma esquerdacontra a ordem. Qual o novo iderio deste grupo que dono do PT? Porque aexpulso da Luciana Genro, da Helosa Helena mostra que um partido de caciques ede caciques da pesada, que tem dono e que quem no age conforme este esquema sumariamente expulso do PT. Um PT em que, no incio, o mais bonito talvez fosse orespeito s diferenas. Havia uma convivncia intensa e ao mesmo tempo fraterna,isso dava vida ao PT. Quando o PT chega ao Poder, qual o projeto? uma espciede capitalismo popular, juntando de um lado o sistema financeiro. O PT hoje umdefensor do sistema financeiro. Se tem um setor que esta batendo palmas, que nuncadisse um no ao Lula, o sistema financeiro. E na outra ponta, o sindicalismo de

    negcio. Por exemplo, os fundos de penso cobrem estes dois setores. As camadassindicais que se locupletam com os recursos dos trabalhadores investindo no grandemundo dos negcios financeiros. Evidentemente, a entidade sindical que administrafundos de penso, ou ela pensa no direito de seus trabalhadores ou ela pensa como que vai aplicar recursos para ganhar melhor nos fundos de aes. No hcompatibilidade entre estes dois campos. Este o desenho que eu acho que o PTtomou. E isto est dentro de um receiturio neoliberal, porque voc atende sfinanas, atende a um setor importante da burocracia sindical que chega ao Estado epara os mais pobres, para os miserveis, voc faz polticas focalizadas. Vocfocaliza aqui tem uma pobreza insuportvel, ento voc vai l e tenta minimizar esta

    pobreza. Isto no diferente do que o Banco Mundial indica. Quando alguns dizem: OPT traiu. No bem isso, o processo mais complexo. um conjunto de interessesque vem fazendo com que uma tese seja defendida e ela em parte verdadeira,tristemente: certa esquerda quando chega no poder faz o que a direita gosta. E istotem acontecido na Frana de Mitterrand, na Alemanha de Schroeder, em Portugal deMrio Soares. E na Amrica Latina. E agora, a conquista mais exitosa do neoliberalismofoi o governo Lula.

    Mas superar este cenrio, organizar-se nesta situao de transformaesprofundas, continua sem ser resolvido. Quais os caminhos que a esquerda

    brasileira ter de construir para superar este cenrio?

    O primeiro desafio da esquerda brasileira, um desafio da esquerda mundial. Nstemos dito que Um outro mundo possvel. Eu acho imprescindvel acrescentar umadimenso essencial: Um outro mundo, socialista, possvel. Ns no podemospensar num outro mundo que no alternativa a barbrie. Eu acho que ns jestamos beira da barbrie: a precarizao do trabalho, a destruio ambiental, oBush jogando bomba onde ele quer, o trabalho escravo infantil, isto a barbrie. Oprimeiro desafio fazer o contrrio do que o PT est fazendo, no desideologizar-se, no despolitizar-se, mas resgatar uma bandeira poltica e ideolgica. Nstemos que resgatar o socialismo, mas no o socialismo do sculo XX, ns temos que

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    pensar o que ser socialista no sculo XXI. Ns no temos resposta, mas eu diria quetemos um grande autor que nos leva a pensar isto, eu diria que o Marx um autor dosculo XXI, porque nos ensinou a pensar numa sociedade cujo sistema de metabolismosocial no fosse voltado para a destruio da humanidade, mas de uma vida dotada desentido desta humanidade. Ns temos que pensar isto, s que voltado para o sculoXXI. Quais so as foras sociais capazes de pensar isto? Quais so os pilares destasociedade? A sociedade capitalista funda-se na existncia do trabalho necessrio maiso trabalho excedente, este trabalho excedente gira o mais valor que apropriado. Sque ela faz isso de forma muito competente. A teoria do valor hoje altamenteintensificada. Por exemplo, quando a gente est em casa e acessa o banco pelaInternet, estamos adicionando cogulos de valor e substituindo 600 mil trabalhadoresque foram postos para fora do mundo bancrio. Ns temos que pensar qual odesafio do socialismo e, no caso brasileiro, quais as suas particularidades. Porexemplo, que elementos aqui demonstrariam a barbrie brasileira. Um governo de

    esquerda teria que, primeiro, resgatar uma poltica que no seja voltada para aintegrao do Brasil subordinado num mundo globalizado. Isto no nos interessa, serum pas subordinado, incentivador do agronegcio, para vender produtos primrios lfora, deteriorados pelos transgnicos, sem que a gente tenha cincia aqui dentro, semque tenha autonomia. Interessa para o Brasil ter agronegcio ou ter um processo decooperativizao e coletivizao da nossa grande propriedade rural? Ns temos queincentivar a dimenso pblica do Estado. Teramos que pensar em algumas bandeiras,aqui e agora, bandeiras mais gerais, que pudessem se reivindicadas aqui, abrir parauma sociedade do novo tipo. Num outro plano, acho que o sculo XX nos mostrou quea esquerda que forma partido e que vai lutar no parlamento para mudar o pas, acaba

    sendo engolfada no Parlamento e vir o que Florestan Fernandes chamava de caldaesquerda do parlamento.E o Florestan Fernandes disse certa vez que ningum passaimpune pelo parlamento. Ningum vai l e sai igualzinho como entrou. Porque aquilo uma mquina. Temos que pensar numa esquerda que seja capaz de retomar s lutassociais. assustador um salrio mnimo de pouco mais de 80 dlares ser aprovado e aCUT no dizer nada. Fortalecer os nossos movimentos populares de forma que a lutasocial seja capaz de gerar formas de organizao popular capazes de recomear. E nopode ser nem burocrtica e muito menos institucionalizada. Uma esquerda parlamentaracaba sendo vtima da engrenagem e, depois, ela entra l dentro e no sai mais. Ouum partido retoma o papel de organizador das lutas sociais, de base, e saem desta

    engenharia parlamentar ou daqui a 10 anos ns que nos rebelamos contra esta coisapoderemos estar fazendo a mesma coisa.

    Estas transformaes no capitalismo tiveram efeito tambm sobre aburguesia? Hoje, qual a composio da Classe dominante no Brasil?

    Se ns olharmos as privatizaes que tivemos no Brasil nos anos 90 do sistemafinanceiro, da energia, telecomunicaes algo como 20 a 25% do PIB saiu do setorestatal e criou-se uma nova frao ampliada da burguesia transnacional no Brasil.Vrios setores da produo e dos servios no Brasil foram privatizados e muitos delespelo Capital transnacional. Alguns casos, em parceria com o Capital nacional, mas

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    tambm associados. Ento, mudou a burguesia brasileira nesta dcada. Os bancostinham algo como 7% de bancos estrangeiros no Brasil, os Bancos erampredominantemente nacionais e majoritariamente estatais. Mudou. Hoje, algo como50% dos bancos esto na mo de transnacionais, internacionalizou-se o setorfinanceiro. Esta nova burguesia transnacional no quer mais o poltico la Maluf, laACM. Este o ladro de galinha, ainda que seus roubos custem muitas granjas. Estevelho poltico oligrquico, ele no o poltico da era das transnacionais, eles so deuma poca da Burguesia associada Burguesia estrangeira. O Capital transnacionalquer o poltico profissional, que um setor do PSDB encarna como ningum e que partedo PT tambm encarna. Se a gente for ver, por mais polmica eleitoral, h um certoaspecto da poltica no PSDB que similar no PT. O Genono poderia ser esquerda noPSDB. Ento, a classe dominante quer um poltico mais profissional, cujo grande rolono a comisso de 30% do esquema Collor. A grande corrupo agora, se quiseremsaber, o Governo teria que fazer uma reviso das privatizaes no Governo Fernando

    Henrique. Mudou a classe dominante e os setores que controlam o governo Lula soestes setores que de algum modo esto imbricados. Antigamente, a gente falavasetor agrrio, setor industrial e setor tercirio. Isto acabou. Agora agro-indstria, indstria de servios, servios industriais. O Capital embaralhou tudo istoe tudo totalizado pelo Capital. O Capital d conta de venda do produto agrcola at avenda do capital simblico do servio mais simblico que possa ter. E esta mescla, temos seus setores de cima, que esto ligados ao mundo industrial, ao mundo financeiro.E so estes os setores que controlam o governo Lula. Mesmo que o governo Lulatenha ministros de esquerda e que eles tentem resistir. Ou eles se adequam ou caemfora.

    E dentro desta nova Diviso Internacional do Trabalho, qual o papel doBrasil?

    Na nova Diviso Internacional do Trabalho, ps anos 70 e 80, a tecnologia, o capitalintelectual, a propriedade intelectual encontra-se nos pases centrais. uma trade: osEstados Unidos e a Nafta; a Europa Unificada com a Alemanha frente e sia-Pacficocom o Japo. Este campo, com os Estados Unidos frente, tem o domnio econmico,intelectual, poltico, militar e cientifico. Qual o papel que eles querem reservar aoBrasil? Manchas de industrializao avanada. Manchas num pas totalmente

    destroado, porque ele no autnomo. E produtor de produtos primrios de ponta,da o incentivo a este setor agroindustrial, que produzir para exportar. Mas veja atragdia que isso cria. Se vamos usar a nossa agricultura para exportao, ns vamosdeixar de fazer uma coisa que fundamental, que produzir alimentos necessriospara a sua populao. Ns temos 60 milhes de pessoas na linha de pobreza. fundamental que a gente tenha uma agricultura voltada para a produo de bens deconsumo necessrio. O agronegcio a produo que o mercado externo quer. E porque este setor tem sido incentivado? Porque nesta nova engenharia econmica social,na nova diviso internacional do Trabalho, o papel do Brasil voltar a ser um grandepas exportador de ponta neste setor agrrio. Isto destrutivo para o nosso povo, elepreserva a grande propriedade latifundiria da terra, que vai se modernizar pela via do

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    agronegcio. Ao contrrio do que deveramos ter. Um pas onde a agricultura fossefeita pelo mundo do trabalho cooperado e por experimentos coletivos de produo, umespao de produo de alimentos para o mundo rural e o mundo urbano. Isso socorrer com uma nova concepo de poltica econmica e agrria, onde o central daproduo brasileira no seja voltado para fora, mas seja voltado para os interesses denova populao. Este o desafio fundamental e isto o governo Lula no tem nemtentado. O governo Lula optou pelo caminho da menor resistncia, tenta ganhar asclasses dominantes para o seu projeto e ainda no percebeu que ele foi ganho pelasclasses dominantes para o projeto dela. Esta a tragdia da histria brasileira. E o quens vamos fazer? Comear de novo. Olhando para o sculo XXI.

    Esta entrevista encontra-se em http://resistir.info, foi concedida 1. deagosto de 2004 ao Brasil de Fato em Porto Alegre durante uma palestrapromovida pelo movimento Attacentrevistadores Miguel Enrique Stdile e

    Pedro Benevides. Ricardo Antunes, 49, professor titular de sociologia dotrabalho do Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da Unicamp. autorde "Adeus ao Trabalho/", entre outras obras.

    http://resistir.info/http://resistir.info/