antropologia - unidade 1

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Antropologia e Cultura Brasileira: Visão Geral sobre a Antropologia.

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  • Autora: Profa. Maria Aparecida de AlmeidaColaboradoras: Profa. Amarilis Tudela Nanias

    Profa. Glaucia Aquino Profa. Anglica Carlini

    Antropologia eCultura Brasileira

  • Professora conteudista: Maria Aparecida de Almeida

    Ol, aluno! Bem-vindo disciplina de Antropologia e cultura brasileira. Eu sou a professora Maria Aparecida de Almeida e elaborei o contedo deste livro texto. Sou brasileira, nascida na cidade de Ivaipor, Paran, em 14 de maio de 1968. Sou formada em Cincias sociais (Antropologia, Cincias polticas, Sociologia), bacharelado e licenciatura, pela Pontifcia Universidade Catlica de Campinas, de 1991 a 1994. Entre 1994 e 1996 realizei cursos na Universidade de Campinas, como aluna especial do mestrado, no Instituto de Filosoa e Cincias Humanas. A partir de 1996, comecei a lecionar Histria, Geograa, Sociologia e Pesquisa de mercado, nos cursos tcnicos de 2 grau do Colgio Politcnico Bento Quirino, em Campinas, e, tambm, nesse momento realizei o curso de especializao em Marketing e negcios. Em 2000, fui convidada a ministrar aulas na Universidade Paulista, campus Sorocaba, trabalhando as disciplinas de Estatstica, Pesquisa de mercado e opinio, Sociologia da comunicao, Mtodos e tcnicas de pesquisa, Metodologia do trabalho acadmico, Filosoa geral, Filosoa da cincia, Homem e sociedade e Cincias sociais. Entre 2007 e 2008, sentindo a necessidade de aperfeioar meus estudos e voltando Pontifcia Universidade Catlica para realizar meu mestrado em Educao, analisei o programa PROUNI, uma poltica pblica implantada no primeiro governo de Lula. Atualmente, realizo um curso de especializao em Ensino a distncia, na Universidade Paulista.

    Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrnico, incluindo fotocpia e gravao) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permisso escrita da Universidade Paulista.

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    A447a Almeida, Maria Aparecida de

    Antropologia e cultura brasileira / Maria Aparecida de Almeida. - So Paulo: Editora Sol, 2011.

    148 p., il.

    Notas: este volume est publicado nos Cadernos de Estudos e Pesquisas da UNIP, Srie Didtica, ano XVII, n. 2-043/11, ISSN 1517-9230.

    1. Antropologia. 2. Cultura brasileira. 3. Sociedade brasileira I. Ttulo

    CDU 572.1/.4

  • Prof. Dr. Joo Carlos Di GenioReitor

    Prof. Fbio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administrao e Finanas

    Profa. Melnia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades Universitrias

    Prof. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Ps-Graduao e Pesquisa

    Profa. Dra. Marlia Ancona-LopezVice-Reitora de Graduao

    Unip

    Profa. Elisabete Brihy

    Prof. Marcelo Souza

    Profa. Melissa Larrabure

    Material Didtico

    Comisso editorial: Dra. Anglica L. Carlini (UNIP)Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA)Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)Dra. Ktia Mosorov Alonso (UFMT)Dra. Valria de Carvalho (UNIP)

    Apoio:Profa. Cludia Regina BaptistaProfa. Betisa Malaman Comisso de Qualicao e Avaliao de Cursos

    Projeto grco:Prof. Alexandre Ponzetto

    Reviso:Alessandro de Paula

  • SumrioAntropologia e Cultura Brasileira

    APRESENTAO ......................................................................................................................................................7INTRODUO .........................................................................................................................................................11

    Unidade I

    1 VISO GERAL SOBRE A ANTROPOLOGIA ............................................................................................... 152 OS ANTROPLOGOS NO GABINETE ......................................................................................................... 22

    2.1 O evolucionismo social ...................................................................................................................... 222.2 O positivismo .......................................................................................................................................... 252.3 Determinismo biolgico e determinismo geogrco ............................................................ 27

    3 OS ANTROPLOGOS VO PARA O CAMPO ........................................................................................... 313.1 O funcionalismo .................................................................................................................................... 313.2 O culturalismo norte-americano ................................................................................................... 353.3 O estruturalismo ................................................................................................................................... 373.4 A Antropologia interpretativa ......................................................................................................... 40

    4 A CRTICA DOS PARADIGMAS TERICOS .............................................................................................. 414.1 A Antropologia ps-moderna ou crtica ..................................................................................... 41

    Unidade II

    5 A FORMAO DA SOCIEDADE BRASILEIRA .......................................................................................... 495.1 Histrico da formao da sociedade brasileira ........................................................................ 49

    6 UMA ANTROPOLOGIA DO BRASIL: OS PILARES .................................................................................. 586.1 A perspectiva de Gilberto Freyre em Casa-grande e senzala ............................................. 586.2 A perspectiva de Srgio Buarque de Holanda em Razes do Brasil ...................................71

    6.2.1 Pedagogia moderna e as virtudes antifamiliares ...................................................................... 736.2.2 A identidade do homem cordial ....................................................................................................... 79

    6.3 A perspectiva de Darcy Ribeiro em O povo brasileiro ............................................................ 836.3.1 A formao da organizao social do Brasil ................................................................................ 846.3.2 Conformao urbana e cultural ....................................................................................................... 876.3.3 Deteriorao urbana .............................................................................................................................. 936.3.4 Classe, cor e preconceito ..................................................................................................................... 966.3.5 Raa e cor ................................................................................................................................................103

    7 A CULTURA POPULAR OU ERUDITA? .................................................................................................1077.1 Cultura popular e cultura erudita ...............................................................................................1087.2 Cultura popular ou folclore? ......................................................................................................... 112

    8 INDSTRIA CULTURAL ................................................................................................................................. 115

  • 7APRESENTAO

    Este livro texto pretende apresentar a voc, aluno de Servio social, um pouco do conhecimento da Antropologia. Buscando inseri-lo no mundo da universidade, da cincia, assim sendo, no mundo cientco.

    No nal da apostila consta a referncia, voc indo at l, conseguir todos os dados da obra.

    Por falar em textos e leituras, acredito que seja apropriado apresentar uma estria, anedota muito bem contada por Santos (2005, p. 11-12):

    Um dia um homem acordou e vericou que precisava fazer uns concertos em casa, mas no tinha martelo. Resolveu, ento, que pediria um martelo emprestado ao vizinho, mas logo pensou: E se ele no me emprestar o martelo? Pode estar de mau humor, ou quem sabe estar utilizando o martelo, quem sabe no quer ser incomodado e pode car chateado comigo.... E foi assim durante a manh. O homem andava de um lado para o outro, coava a cabea, queixava-se para a esposa a falta que fazia um martelo e falava de sua certeza da m vontade do vizinho. A mulher ouvia, ouvia e comentava vez por outra: Voc j experimentou ir at l e pedir o martelo emprestado?. O homem no ouvia a esposa. Continuava remoendo-se, chateando-se antecipadamente com o vizinho que, pensava ele, no lhe emprestaria a ferramenta. Perto da hora do almoo, j cansado e ansioso (na verdade, bastante irritado), o homem levantou-se, saiu de casa, caminhou apressado e, de punhos cerrados em direo porta do vizinho, tocou insistentemente a campainha. Quando o vizinho abriu a porta, o homem foi logo falando aos berros: Olhe aqui, voc pensa que o dono do mundo, no ? Acha que estou precisando do seu martelo? Acha? Pois eu no estou nem a, pode car com ele, seu egosta!. Virou-se e voltou para sua casa, deixando o vizinho com boca de espanto, paralisado pelo susto. Moral da estria: nem fez os consertos que precisava fazer, nem cou sabendo se o vizinho emprestaria o martelo! Alm de tudo cou estressado e perdeu toda a manh por conta do tal martelo.

    Conforme Santos (2005), o mesmo acontece com os alunos universitrios quando precisam ler um texto, ou escrever um. como na histria do martelo. O problema no est no martelo (texto), mas nas cabeas, por causa da nossa histria de vida, dos nossos hbitos, pela decincia recebida ao passarmos pelos nveis de ensino anteriores. Assim, passamos a brigar com o autor (o vizinho), sem nem mesmo t-lo ouvido.

    Os textos so ferramentas que usamos para dizer ou para ouvir sobre determinados temas produzidos e voc ter que utilizar essa ferramenta tambm, ora como aluno, ora como prossional do Servio social, ora como cientista, um pesquisador.

  • 8 Observao

    Uma dica para leitura: para voc ler e escrever textos, na universidade, so necessrias certas normas, assim vou utilizar uma que se chama autor/data, isto , cada vez que eu usar uma obra de algum autor, voc ver o sobrenome-nome e o ano, alm disso, se eu copiar o pensamento do mesmo, alm do sobrenome-nome e ano, aparecer tambm a pgina da obra. Exemplo: Laplantine (1991, p. 50).

    Por que aprender Antropologia?

    Voc est realizando um curso universitrio para se tornar um assistente social. Logo, ter que ler muitos textos e escrev-los tambm, j que esses fazem parte das ferramentas utilizadas no curso. Assim, para aprender Antropologia, voc precisa ler.

    Saiba mais

    Por que o assistente social precisa aprender Antropologia?

    Leia e reita sobre o artigo Quando o pobre o outro, de Andra Moraes Alves e Myriam Moraes Lins de Barros, disponvel na internet no seguinte endereo: www.abant.org.br/le?id=43.

    O objetivo de voc aprender Antropologia est colocado no foco da sua prosso.

    Veja!

    O Servio social uma prosso que lida com a sociedade, analisando e buscando diminuir as desigualdades sociais. Em seu trabalho de assistente social, voc ter como objetivo garantir que os direitos e a assistncia atendam populao necessitada, a partir das polticas sociais.

    O assistente social elabora seu trabalho a partir de pesquisas e anlises sobre a realidade social, na criao, realizao e avaliao de servios, programas e polticas sociais que atendam e defendam a extenso dos direitos humanos e da justia social.

    Campos de trabalho de um assistente social:

    Servios sociais oferecidos pelo governo.

    Hospitais.

    Escolas.

  • 9 Administrao municipal, estadual e federal.

    Conselhos de direito.

    Movimentos sociais.

    Observao

    A sociedade o seu foco de trabalho. Especialmente os seres humanos que precisam de ajuda.

    A Antropologia a cincia que ir ajud-lo, como assistente social, a entender os seres humanos.

    Ns somos diferentes, para comeo de conversa, dos outros animais.

    Observao

    O que nos leva a ser diferentes dos outros animais? Voc vai responder que somos racionais, mas a Antropologia vai dizer outra coisa. Veja!

    Seria muito pouco dizer que a cultura. Primeiro, faz-se necessrio saber o que a cultura como objeto da Antropologia. E, para que voc saiba o que a cultura, como esse conceito foi se constituindo atravs da histria, faz-se necessrio saber o que a cincia chamada Antropologia e como esta se constituiu.

    A sociedade do modo de produo capitalista formada pela estrutura de classes sociais. Estas classes se relacionam a partir do momento da produo. Isto , no momento em que o dono da empresa, chamado de capitalista, contrata o trabalhador, que a partir de agora chamaremos de proletrio. O conjunto de proletrios, isto , trabalhadores, vai formar o proletariado.

    justamente no momento da relao social entre as classes que o assistente social vai atuar, pois o servio social aponta para uma viso das relaes sociais orientada pela perspectiva da explorao e da alienao (ALVES & BARROS, 2007, p. 2). Isto , a nossa sociedade marcada pela desigualdade entre os seres humanos. Desta forma, sua prosso vai lev-lo a reetir sobre essa desigualdade e as contradies existentes, buscando criar estratgias polticas para enfrentar os efeitos da explorao.

    O assistente social, segundo Alves e Barros (2007), analisa a questo do poder em nossa sociedade, sendo esse seu campo de trabalho a questo da desigualdade. justamente nesse ponto que entra a Antropologia, para ajud-lo a entender a noo de diferena e, a partir desta, a categoria de raa. A distino de raa est presente na histria da Antropologia desde o perodo colonial. As relaes de trabalho na sociedade capitalista, segundo a Antropologia,

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    ultrapassaram o processo de obteno de riqueza a partir da explorao do trabalhador, utilizando como elemento fundamental as outras relaes sociais e culturais.

    Em nosso pas, a raa sempre acompanhou a questo do trabalho, tornando-se um adjetivo do trabalhador. Assim, existe o trabalhador ndio, negro, italiano, imigrante. Denotando diferenciaes entre eles e chegando ao ponto dos seres humanos serem classificados em quanto superior e inferior segundo suas caractersticas biolgicas, geogrficas, econmicas, culturais e sociais.

    Assim, conforme eu explicar como a Antropologia surgiu, voc poder compreender como a sociedade contempornea (atual) foi sendo criada; poder entender melhor nossa condio de seres humanos; reetir a partir da Antropologia para analisar os efeitos da globalizao, bem como compreender a diversidade da sociedade e da cultura brasileira, que no contexto no qual exercer sua prosso.

    Lembrete

    Estes estudos que voc agora inicia iro ajud-lo a ter um olhar antropolgico sobre o outro, compreendendo que ele diferente de voc e permitindo que possa entender o porqu dessas diferenas. E esta compreenso essencial, pois o outro , justamente, a pessoa que voc vai assistir em sua vida prossional.

    Para que possa compreender melhor do que trataremos, apresento-lhe o Plano de Ensino:

    I Ementa

    A cultura enquanto objeto de estudo da Antropologia. As noes antropolgicas de cultura e as representaes simblicas. O relativismo cultural, etnocentrismo e diversidade cultural. As diferentes formas de produo cultural. A anlise da formao cultural brasileira. A formao da sociedade capitalista no Brasil e a cultura, a mundializao da cultura no Brasil. A diversidade cultural e a identidade cultural no Brasil.

    II Objetivos gerais

    1. Oferecer linguagem e metodologia especca no que diz respeito relao entre Antropologia e Cultura.

    2. Analisar criticamente a formao econmica, poltica e cultural brasileira, ressaltando suas bases culturais.

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    III Objetivos especcos

    1. Capacitar o aluno para identicar os referenciais tnicos.

    2. Compreender a relao cultural brasileira contempornea com a questo da identidade cultural, sob os efeitos da mundializao da cultura no Brasil.

    3. Oferecer linguagem e metodologia especca da sustentabilidade cultural.

    Vamos caminhando!

    INTRODUO

    Em um primeiro momento, voc pode encontrar-se perguntando: O que essa tal Antropologia?.

    Pois bem, seria simples dizer que Antropologia o estudo do homem (antropos = homem; logia = estudo), mas s isso no basta, j que se pode estudar o homem de vrias formas. Assim, ela um estudo sobre as diversas culturas que so elaboradas pelo homem.

    Por enquanto, basta compreender que a Antropologia uma cincia, isto , um conjunto de teorias (nem sempre concordantes) e diferentes mtodos1 e tcnicas2 de pesquisa que buscam explicar, compreender ou interpretar as mais diversas prticas dos homens e mulheres em sociedade. (SANTOS, 2005, p. 19).

    Muitas destas teorias realizam pesquisa de campo, e os antroplogos acabam por conviver com grupos locais e aprende seus modos de vida, costumes, hbitos, crenas etc. buscando relacionar essas dimenses sociais com o objetivo de compreender essa cultura, sua maneira de pensar, sentir e agir.

    A Antropologia um conhecimento que comea a ser discutido no sculo XVIII, mas que se torna cincia apenas no sculo XIX.

    No incio, chamada apenas de Antropologia e, posteriormente, ganha tambm a composio de social ou cultural. Mas no existe apenas essa rea do conhecimento e, para que seja possvel compreender melhor o homem e as vrias dimenses do ser humano em sociedade, fui buscar Laplantine (1991), que diz que h cinco reas principais da antropologia, e que as mesmas no so possveis de serem dominadas por um nico pesquisador. Porm, preciso saber que essas reas possuem relaes estreitas entre si. Observe o quadro a seguir:

    1 Signicado de Mtodo: s.m. Maneira de dizer, de fazer, de ensinar uma coisa, segundo certos princpios e em determinada ordem... Dicionrio online de portugus. Disponvel em: http://www.dicio.com.br/metodo/. Acesso em 25 mar. 2011. Nota inserida.

    2 Signicado de Tcnica: s.f. Conjunto de mtodos e processos de uma arte ou de uma prosso: tcnica cirrgica. P. ext. Maneira (hbil) de agir, mtodo. Dicionrio online de portugus. Disponvel em: http://www.dicio.com.br/tecnica/. Acesso em 25 mar. 2011. Nota inserida.

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    Quadro 1 As principais reas da antropologia.

    reas da Antropologia Caractersticas

    Antropologia biolgica(conhecida tambm como

    Antropologia fsica)

    Refere-se ao estudo das variaes biolgicas do homem em determinado espao e tempo. Busca analisar as relaes entre a herana gentica e o meio (geogrco, ecolgico, social). Assim, o antroplogo biologista considera os fatores culturais como os que inuenciam no crescimento e na maturao do indivduo. Por exemplo, por que o desenvolvimento psicomotor da criana africana mais adiantado do que o da criana europeia? (ibid., p. 17). Essa rea da cincia antropolgica, alm de estudar as formas de crnios, medir esqueletos, tamanho, peso, cor da pele, comparar anatomia das etnias e dos sexos, a partir dos anos 1950, tem ateno especial pela gentica das populaes, podendo, com suas investigaes, distinguir o que inato3 e o que adquirido, bem como a interao entre os mesmos.

    Antropologia pr-histricaEstuda o homem a partir dos vestgios materiais enterrados, a parte que se liga Arqueologia, busca reconstruir as sociedades desaparecidas, isto , suas tcnicas, organizaes sociais, produes culturais e artsticas.

    Antropologia lingustica

    A linguagem a forma utilizada pelos indivduos de uma sociedade de se expressarem e demonstrarem seus valores e seus pensamentos. A partir do estudo da lngua, possvel compreender como os sujeitos pensam e o que sentem sobre o que vivem; como divulgam seu contexto social (a literatura escrita e oral); e, por m, como eles interpretam o seu saber.

    Antropologia psicolgica a rea que estuda os processos e o funcionamento do psiquismo humano. Isto , a partir dos comportamentos, conscientes e inconscientes, das pessoas, possvel apreender a totalidade dos comportamentos sociais.

    Antropologia social e cultural (ou Etnologia)

    Essa tem como abrangncia tudo que diz respeito a uma sociedade: seus modos de produo econmica, suas tcnicas, sua organizao poltica e jurdica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenas religiosas, sua lngua, sua psicologia, suas criaes artsticas. (ibid., p. 19).

    Fonte: Laplantine, 1991.

    Lembrete

    A rea que ser abordada aqui a Antropologia social ou cultural. Assim, perceba que no possvel dominar todas as cinco reas da Antropologia, mas temos que ter claro, como pesquisadores, que as mesmas tm uma estreita relao entre si. Desta forma, sempre que for utilizado o termo Antropologia, de maneira geral, iremos nos referir Antropologia social e cultural (ou Etnologia), sem esquecer que esta apenas uma das reas da Antropologia.

    Agora que voc tem claro que iremos trabalhar com a Antropologia social ou cultural (ou Etnologia) veja quais os contedos a serem trabalhados:

    3 Signicado de Inato: adj. Que nasce conosco: pendores inatos. Congnito. Ideias inatas, ideias que, segundo certos lsofos, no provm da experincia, mas esto em nosso esprito desde que nascemos. Dicionrio online de portugus. Disponvel em: http://www.dicio.com.br/inato/. Acesso em 23 mar. 2011.

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    00044403313NotaMuito importante

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    Na primeira unidade, teremos uma viso geral sobre a Antropologia: os primrdios da Antropologia e as escolas antropolgicas; seus avanos e a atualidade. A cultura como objeto de estudo antropolgico: tanto da perspectiva etnocntrica como relativista; a formao da identidade tnica, as fronteiras e a formao de esteretipos.

    Na segunda unidade, aprenderemos sobre a cultura brasileira: a sua formao, alm da formao das diversas categorias culturais.

    Lembrete

    No que assim, sentindo-se perdido. Tenha calma, pois se voc ainda no detm o signicado de tudo o que foi colocado acima, tenha certeza de que, ao nal dessa disciplina, voc saber.

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    ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

    Unidade I1 VISO GERAL SOBRE A ANTROPOLOGIA

    Nessa unidade falaremos sobre o surgimento da Antropologia, as escolas antropolgicas, mostrando seus avanos e atualidade, bem como entenderemos a cultura como objeto de estudo da Antropologia, tanto na perspectiva etnocntrica como na relativista.

    A Antropologia no consiste simplesmente em levantar sistematicamente os aspectos da cultura de uma sociedade. Esta cincia se preocupa em apresentar como esses aspectos esto relacionados entre si, demonstrando a especicidade, a particularidade desta sociedade, isto , a sua totalidade, o que nem sempre colocado no papel. So coisas como os menores gestos, as trocas simblicas e os menores comportamentos e atitudes de um grupo, de um povo.

    Trata-se de uma cincia que estuda a composio das sociedades, isto , a formao de todas as culturas que compem a humanidade em sua diversidade histrica e geogrca. Assim sendo, como cincia, a Antropologia ocupa-se da anlise das diferenas culturais. Como pode ser percebido na explanao elaborada por Franois Laplantine (1991, p. 22-23), no seu livro Aprender Antropologia:

    Aquilo que, de fato, caracteriza a unidade do homem, de que a antropologia, (...) faz tanta questo, sua aptido praticamente innita para inventar modos de vida e formas de organizao social extremamente diversos. E, a meu ver, apenas a nossa disciplina permite notar, com maior proximidade possvel, que essas formas de comportamento e de vida em sociedade que tomvamos todos espontaneamente por inatas (nossas maneiras de andar, dormir, nos encontrar, nos emocionar, comemorar os eventos de nossa existncia...) so, na realidade, o produto de escolhas culturais. Ou seja, aquilo que os seres humanos tm em comum sua capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar costumes, lnguas, modos de conhecimento, instituies, jogos profundamente diversos: pois se h algo natural nessa espcie particular que a espcie humana, sua aptido variao cultural.

    Lembrete

    Esse respeito apresentado acima pela diversidade nem sempre existiu historicamente.

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    00044403313NotaCultura como foco principal

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    00044403313NotaComo o ser humano tem a capacidade de fazer tais coisas

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    Unidade I

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    No perodo do Renascimento, com a explorao de locais at ento desconhecidos, como o Novo Mundo, a Amrica, a grande questo que se colocou a partir do confronto visual com a alteridade1, com os que eram diferentes dos europeus, foi justamente se os seres encontrados pertenciam humanidade.

    As diferenas culturais das sociedades nem sempre apareceram como um fato. Na maioria das vezes, eram vistas como aberraes, necessitando de justicativa.

    Laplantine (1991) nos lembra de que, na antiguidade grega, os homens de cultura diferente eram chamados de brbaros, j que no faziam parte da helenidade (da sociedade deles). No Renascimento (sculos XVII e XVIII), os homens que no eram pertencentes cultura europeia eram chamados de selvagens, os seres da oresta, apresentando-se como oposio humanidade. Porm, no sculo XIX, o termo que ser utilizado o primitivo, que, no sculo XX, ser substitudo pelo subdesenvolvido, muito utilizado ainda hoje.

    O mesmo autor (1991, p. 37-38) arma que, no perodo do Renascimento, o critrio que atribua o estatuto de humano era o religioso, isto : O selvagem tem uma alma?.

    Essa forma de agir, de expulsar da cultura, isto , para a natureza aquele que no participa da nossa humanidade , segundo Lvi-Strauss, o que mais caracteriza os verdadeiros selvagens. (apud LAPLANTINE, 1991, p. 40).

    Assim, a partir do sculo XIV, os europeus vo utilizar critrios para conceder aos ndios o estatuto de humanos. Alm do critrio religioso, isto , que consistia no questionamento sobre se o ndio tinha alma e naquele momento a resposta foi negativa , os mesmos foram colocados como sem religio e ainda como diabos. Alm deste, ainda utilizaram os seguintes critrios para a gura do mau selvagem (LAPLANTINE, 1991, p. 41):

    a aparncia fsica: eles esto nus ou vestidos de peles de animais; os comportamentos alimentares: eles comem carne crua, e todo o imaginrio do canibalismo que ir aqui se elaborar; a inteligncia tal como pode ser apreendida a partir da linguagem: eles falam uma lngua ininteligvel.

    Desta forma, por no acreditarem em Deus, no tm alma, no falam a linguagem dos europeus, tendo uma aparncia diferente da deles e apresentavam-se alimentando como animais, sero chamados de selvagem. Sero vistos como os demais animais e no como seres humano, j que eram seres sem moral, sem religio, sem lei, sem escrita, sem Estado, sem conscincia, sem razo, sem objetivo, sem arte, sem passado, sem futuro. (LAPLANTINE, 1991, p. 41).

    Na segunda metade do sculo XIX, na Europa, a Antropologia, como tambm a Sociologia (socio = sociedade; logia= estudo. Ou seja, o estudo da sociedade) comeam a dar seus primeiros passos. As duas comeam em um mesmo contexto histrico e em uma mesma regio, devido s vrias mudanas sociais, econmicas e polticas trazidas pela Revoluo Industrial. Ou seja, pelas transformaes que esta trouxe e que deu origem ao modo de produo capitalista, mais conhecido por sociedade capitalista.

    1 Signicado de Alteridade: s.f. Qualidade do que outro (por opos. a identidade). Dicionrio online de portugus. Disponvel em: http://www.dicio.com.br/alteridade/. Acesso em 23 mar. 2011.

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    00044403313NotaA diferena entre os seres, seus costumes e sua cultura os fazia indagar se estas pessoas eram pessoas normais ou aberraes

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    00044403313NotaANTIGUIDADE GREGA = GREGOS X BARBAROSRENASCIMENTO = EUROPEUS X SELVAGENSPRIMITIVO E SUBDESENVOLVIDO SO OS NOMES MAIS ATUAIS PARA OS CONSIDERADOS DIFERENTES

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    00044403313NotaMOTIVO PELO QUAL ELES TINHAM INTERESSE EM IMPOR A RELIGIO AOS INDIOS, POIS OS INDIOS NEM ERAM CONSIDERADOS HUMANOS OU SEJA, INDIVIDUOS QUE TINHAM ALMA

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    00044403313NotaA REVOLUO INDUSTRIAL FOI O FOCO PRINCIPAL DE ONDE A ANTROPOLOGIA E A SOCIOLOGIA COMEARAM

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    ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

    O modo de produo capitalista no se manteve apenas na Inglaterra e no continente europeu. No sculo XIX, houve a expanso colonialista, que estava em curso desde o mercantilismo do sculo XV (quando o Brasil foi colonizado).

    Figura 1 Caravela

    Essa nova expanso das colnias, do sculo XIX, chamada de neocolonialismo (novo colonialismo) ou imperialismo, j que o momento em que a Inglaterra, a Frana, a Alemanha, a Blgica, a Itlia e os Estados Unidos, grandes potncias industriais, vo formar grandes imprios econmicos, conquistando e inuenciando novos continentes. Dirigiram-se para os continentes da frica, da sia, da Amrica e da Oceania, dominando e explorando esses povos.

    Lembrete

    nesse momento histrico que surge a Antropologia, no processo de expanso do modo de produo capitalista, a partir do neocolonialismo e do imperialismo dessas poderosas naes sobre os povos que viviam em lugares longnquos.

    Os Estados Unidos, no sculo XIX tambm est se industrializado, j capitalista, porm sua expanso territorial no se dava para fora, mas internamente, j que ela fazia um movimento do leste para o oeste, provocando o contato dos colonos com diferentes sociedades indgenas nativas. (SANTOS, 2005, p. 21)

    Lembre-se dos filmes onde os soldados norte-americanos protegiam os colonos brancos que desbravavam o territrio americano com suas carroas e avanavam adentrando o territrio dos peles-vermelhas. Para sua melhor compreenso, coloquei algumas fotos relembrando esse fato histrico.

    00044403313NotaTUDO ISSO DIZ RESPEITO DA EVOLUO DO MODO DE PRODUO CAPITALISTA. OU SEJA VEJA QUE TUDO SE LIGA A REV INDUSTRIAL DEPOIS A EXPANSO COLONIALISTA, O NEO COLONIALISMO, GRANDES POTENCIAS INDUSTRIAIS VAO FORMAR IMPERIOS ECONOMICOS

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    00044403313NotaLEMBRE-SE A ANTROPOLOGIA SURGE NESSA HORA

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    00044403313NotaO PORCESSO PARA OS EUA FOI DIFERENTE LEMBRAR

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    Figura 2 ndios sioux norte-americanos

    Figura 3 Fazenda em Old Fields, West Virginia

    partir destes aspectos econmicos e polticos que sero reetidas as noes e teorias da Antropologia que estava surgindo. Assim a cincia resultante deste contexto chamada de antropologia de gabinete, j que os antroplogos cavam em suas salas elaborando as teorias a partir dos relatos dos viajantes, comerciantes, religiosos, militares, exploradores, administradores da colnia etc. Assim, sua produo estava centrada nas descries dos locais e dos povos que as habitavam, mostrando o quanto esses eram diferentes dos europeus. Veja o quadro a seguir:

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    00044403313NotaENGRAADO VER QUE OS ANTROPOLOGOS DESTA POCA FICAVAM MESMO DENTRO DAS SALAS S OUVINDO RELATO DOS VIAJANTES E FOI ASSIM QUE ELES PUDERAM ANALISAR AS DIFERENTES CULTURAS

    00044403313NotaCAIU NA NP1 ESSA EXPRESSO - ANTROPOLOIA DE GABINETE

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    ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

    Quadro 2 A antropologia produzida entre sculos XIV XIX.

    A formao de uma literatura etnogrca sobre a diversidade cultural

    Perodo Sculos XVI-XIX.

    Caractersticas Relatos de viagens (cartas, dirios, relatrios etc.) feitos por missionrios, viajantes, comerciantes, exploradores, militares, administradores coloniais etc.

    Temas e conceitos Descries das terras (fauna, ora, topograa) e dos povos descobertos (hbitos e crenas).Primeiros relatos sobre a alteridade.

    Alguns representantes e obras de referncia

    Pero Vaz de Caminha (Carta do descobrimento do Brasil sc. XVI).

    Hans Staden (Duas viagens ao Brasil sc. XVI).

    Jean de Lry (Viagem terra do Brasil sc. XVI).

    Jean-Baptiste Debret (Viagem pitoresca e histrica ao Brasil sc. XIX).

    Fonte: Vagner Gonalves da Silva. Disponvel em: www.fch.usp.br/da/vagner/antropo.html. Acesso em: 22 mar. 2010.

    Na busca de interpretar as diferenas entre os grupos humanos, a cultura exerce papel fundamental para o olhar antropolgico, j que esta passa a ser compreendida como prtica signicante que distingue o homem da natureza, o homem do animal, alm de ser responsvel pelas diversas formas de vises de mundo. A cultura apreendida por meio das experincias que os seres humanos realizam como membros da sociedade.

    O conceito antropolgico de cultura assim construdo pelas questes da unidade biolgica e a grande diversidade cultural da espcie humana. Essa temtica compreender a diversidade de modos de comportamento existentes entre os diferentes povos , ainda hoje, o grande desao para a Antropologia.

    Para os cientistas do passado, era comum buscar explicaes sobre as diferenas de comportamento entre os homens, usando como referncia as variaes dos ambientes fsicos.

    Com o decorrer do tempo, esses estudiosos chegaram concluso que as diferenas de comportamento entre os homens no poderiam ser explicadas a partir das diversidades geogrcas ou biolgicas, visto que o comportamento dos indivduos depende muito mais de um aprendizado que se adquire durante o convvio social. Este processo foi chamado de endoculturao, ou seja, um menino e uma menina agem diferentemente no em funo de seus hormnios, mas por causa de uma educao diferenciada que recebem em sua sociedade. (LARAIA, 2004).

    Por essa concepo, o homem o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele um herdeiro de um longo processo acumulativo, que reete o conhecimento e a experincia adquirida pelas numerosas geraes que o antecederam.

    De acordo com Laraia (2004), a primeira denio de cultura que foi formulada do ponto de vista antropolgico pertence a Edward Tylor, em seu livro Primitive Culture (1871). Tylor demonstrou que a cultura pode ser o objeto de um estudo sistemtico, isto , cientico, pois se trata de um fenmeno natural que possui causas e regularidades, permitindo um estudo objetivo e uma anlise capaz de proporcionar a formulao de leis sobre o processo cultural e a evoluo da sociedade.

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    00044403313NotaMAIS UMA VEZ A IMPORTNCIA DA CULTURA PARA O ANTROPOLOGO

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    00044403313NotaCAIU NA NP1 - ANTIGAMENTE PARA EXPLICAR COMPORTAMENTOS ERAM UTILIZADAS AS DIFERENAS ENTRE OS AMBIENTES, GEOGRAFICO OU BIOLGICO, DEPOIS SE PERCEBEU QUE NO PODIA SER ASSIM, E DEVIA SER ANALISADO MESMO O CONVIVIO SOCIAL DAS PESSOAS. O QUE ENDOCULTURAO?

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    00044403313NotaE NO DO MEIO GEOGRFICO OU POR CONTA DE ALGO BIOLOGICAMENTE DIFERENTE MAS SIM POR CONTA DO MEIO, ISSO QUE DIFERENCIA A CULTURA DE CADA UM

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    Porm, voc deve estar se perguntando agora: Mas o que cultura tem a ver com evoluo?. Pois , no sculo XIX, as cincias naturais, principalmente a Biologia, tinham grande inuncia no meio cientco europeu, particularmente as teorias evolucionistas de Jean-Baptiste Lamarck e de Charles Darwin.

    A primeira teoria da evoluo, elaborada por Lamarck, dizia que os animais mudavam devido presso do ambiente e que essas mudanas eram passadas para os lhos. Mesmo tendo sido descartada, essa teoria foi revolucionria para aquele momento.

    Para Darwin, a ideia de transmisso hereditria no era verdadeira. Em sua teoria, todos os seres vivos vieram de ancestrais, a partir de um longo e contnuo processo de variaes. Nesse processo, h variaes nas espcies e, a partir da seleo natural, muitos seres so eliminados. Os que melhor se adaptam, em termos biolgicos, iro viver em determinado ambiente, continuando a existir e transmitindo suas caractersticas s novas geraes.

    Para que voc perceba a diferena entre as teorias, veja o exemplo das girafas: segundo Lamarck, as girafas tm pescoo comprido porque foravam continuamente o pescoo para cima, para comer as folhas no alto das rvores. Esse ato de esticar o pescoo, por muito tempo e por todos os seres de uma mesma raa, levou ao alongamento do pescoo das girafas. Para Darwin, existiam girafas com vrios tamanhos de pescoo e, conforme o alimento na parte inferior das arvores ia acabando, somente as de pescoo longo continuaram a existir, j que conseguiram alcanar as folhas no topo das rvores.

    Figura 4 O evolucionista Charles Darwin

    Darwin o terico mais conhecido quando se fala em evoluo das espcies. Porm, tanto em uma teoria como na outra, a ideia central a de que os seres vivos evoluem dos mais simples para os mais complexos, como pode ser visto na explicao de Guerriero (2004, p. 12-13):

    ... Hoje sabemos que os primeiros animais viveram nas guas dos oceanos h 700 milhes de anos. Depois de 300 milhes, alguns tornaram-se

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    00044403313NotaIMPORTANTE DECORAR

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    00044403313NotaTEORIA DARWINIANA IMPORTANTE DECORAR

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    00044403313NotaTEORIA DA SELEO NATURAL S SOBREVIVE QUEM ALCANA A ARVORE

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    ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

    anfbios e depois conquistaram as terras. Por volta de 200 milhes de anos atrs, surgiram entre os vertebrados os animais de sangue quente que alimentavam seus lhotes a partir de glndulas mamrias. A extino dos dinossauros (h aproximadamente 65 milhes de anos) permitiu a rpida evoluo dos mamferos. De animais diminutos e ameaados por seus predadores, passaram a dominar os territrios. Dentre os mamferos surgiram, h 70 milhes de anos, os primatas, tambm chamados de prossmios. Estes desenvolveram habilidades de saltar entre as rvores, possuindo para isso uma viso aguada e tridimensional, com os olhos prximos e na fronte. Os primatas logo evoluram. Algumas caractersticas ento existentes entre os prossmios seriam determinantes posteriormente. Suas mos e ps permitiam-lhes agarrar as rvores por onde pulavam. Desenvolveram, para isso, unhas e dedos polegares em posies opostas aos demais, e habilidade para permanecerem eretos por alguns instantes para procurarem a presena de inimigos. Os primatas primitivos so os ancestrais de uma ampla ordem de animais que vai dos lmures aos grandes antropoides, passando pelos micos e macacos. A separao entre os primatas e os antropoides ocorreu h 35 milhes de anos. Nesse perodo, as placas tectnicas se separaram por completo, fazendo com que a evoluo dos primatas no novo e velho continentes fosse completamente distinta.

    Saiba mais

    Assista ao lme

    Criao. Direo: Jon Amiel. Inglaterra, 2009. Durao: 108 min.

    A histria de vida de Charles Darwin e o contexto no qual elabora o seu livro A origem das espcies.

    Documentrio

    Xingu. Direo: Washington Novaes. Brasil, 1985. Durao: 120 min.

    Leia

    CASTRO, Celso (org.). Evolucionismo cultural: textos de Morgan, Taylor e Frazer. Rio de Janeiro: Zahar, 2004.

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    2 OS ANTROPLOGOS NO GABINETE

    2.1 O evolucionismo social

    O evolucionismo foi revolucionrio para sua poca, porque representou outra explicao sobre a origem do homem frente s explicaes religiosas utilizadas at ento, as teorias da criao chamadas de Criacionismo, que diz que o homem surge de Deus.

    Figura 5 Adn y Eva, de Vecellio di Gregorio Tiziano, 1628-1629

    A Antropologia vai utilizar a teoria do evolucionismo para analisar as sociedades e as culturas, criando assim a linha do Evolucionismo social ou Darwinismo social.

    Figura 6 Processo evolutivo do homem

    O evolucionismo social ou darwinismo social vai considerar que as sociedades evoluem assim como as espcies. Desta forma, vo considerar no civilizadas as sociedades que no vivem em um modelo industrial como o nosso.

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    00044403313NotaEVOLUCIONISMO A TEORIA DA EVOLUO ONDE O HOMEM VEIO DO MACACO OK!!

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    00044403313NotaIMPORTANTE A ANTROPOLOGIA PARA ESTUDAR DE ONDE VEIO A NOSSA CULTURA VAI USAR O EVOLUCIONISMO, SE A SOCIEDADE EVOLUI COMO AS ESPCIES, ENTO QUEM NO EVOLUI NO PODE SER CONSIDERADA CIVILIZADA, ENTENDEU?

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    O antroplogo norte-americano Henry Lewis Morgan (1818-1881) construiu uma escala para o desenvolvimento da humanidade com trs estgios: selvageria, barbrie e civilizao. (SANTOS, 2005, p. 23). Na Inglaterra, o escocs James Frazer (1854-1941) cria uma escala da evoluo do pensamento com trs fases: magia, religio e cincia. Tanto em um como no outro, a escala vai do mais simples para o mais complexo.

    Assim, inicialmente o conceito de cultura esteve vinculado ideia de evoluo e progresso. Edward Tylor, em 1871, dene cultura como sendo o comportamento que o homem aprende em sociedade. Deste modo, cultura um conjunto complexo que inclui o conhecimento, as crenas, a arte, a moral, o direito, os costumes e as outras capacidades ou os hbitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade. (LARAIA, 2004, p. 25).

    A principal caracterstica da teoria evolucionista foi considerar as sociedades primitivas como sociedades em estgio inferior ao desenvolvimento alcanado pelas sociedades ditas civilizadas. Para os defensores desta teoria, as condies materiais e culturais das sociedades humanas passariam, necessariamente, das etapas primitivas civilizao.

    Nesse sentido, o evolucionismo, que surge com a cincia antropolgica no sculo XIX, conduz concepo etnocntrica do mundo, isto , parte-se da ideia de que as diferenas entre grupos e sociedades possuem uma escala evolutiva, considerando o mundo europeu como modelo nico de sociedade. Santos (2005) explica que a sociedade europeia se considerava civilizada e complexa por ter conseguido a industrializao, a cincia, a tecnologia etc. No entanto, as demais culturas as das colnias eram as primitivas e atrasadas, por no possuir tecnologia como eles.

    As ideias e posturas consideradas etnocntricas podem ser identicadas em armaes do tipo povos e grupos sem cultura. O pior que, no senso comum, na sociedade em geral, esse tipo de ideia bastante usual, mesmo no sculo XXI.

    Para que voc possa entender melhor o que ser etnocntrico, leia o autor Everardo Rocha (2006, p. 10-11):

    Ao receber a misso de ir pregar junto aos selvagens um pastor se preparou durante dias para vir ao Brasil e iniciar no Xingu seu trabalho de evangelizao e catequese. Muito generoso, comprou, para os selvagens, contas, espelhos, pentes, etc.; modesto, comprou para si prprio apenas um modernssimo relgio digital capaz de acender luzes, alarmes, fazer contas, marcar segundo, cronometrar e at dizer a hora sempre absolutamente certa, infalvel. Ao chegar, venceu as burocracias inevitveis e, aps alguns meses, encontrava-se em meio s sociedades tribais do Xingu distribuindo seus presentes e sua doutrinao. Tempos depois, fez-se amigo de um ndio muito jovem que o acompanhava a todos os lugares de sua pregao e mostrava-se admirado de muitas

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    00044403313NotaNOVAMENTE, NESSA FASE DE COMEO QUEM NO EVOLUI NO TEM CULTURA

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    00044403313NotaO QUE O ETNOCENTRISMO? O julgamento do valor da cultura do outro nos termos dacultura do grupo do eu.

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    coisas, especialmente, do barulhento, colorido e estranho objeto que o pastor trazia no pulso e consultava frequentemente. Um dia, por fim, vencido por insistentes pedidos, o pastor perdeu seu relgio, dando-o meio sem jeito e a contragosto, ao jovem ndio.

    A surpresa maior estava, porm, por vir. Dias depois, o ndio chamou-o apressadamente para mostra-lhe, muito feliz, seu trabalho. Apontando seguidamente o galho superior de uma rvore altssima nas cercanias da aldeia, o ndio fez o pastor divisar, no sem diculdade, um belo ornamento de penas e contas multicolores tendo no centro o relgio. O ndio queria que o pastor compartilhasse a alegria da beleza transmitida por aquele novo e interessante objeto. Quase indistinguvel em meio s penas e contas e, ainda por cima, pendurado a vrios metros de altura, o relgio, agora mnimo e sem nenhuma funo, contemplava o sorriso inevitavelmente amarelo no rosto do pastor. Fora-se o relgio.

    Passados mais alguns meses o pastor tambm se foi de volta para casa. Sua tarefa seguinte era entregar aos superiores seus relatrios e, naquela manh, dar uma ltima revisada na comunicao que iria fazer em seguida aos seus colegas em congresso sobre evangelizao. Seu tema: A catequese e os selvagens. Levantou-se, deu uma olhada no relgio novo, quinze para as dez. Era hora de ir. Como que buscando uma inspirao de ltima hora examinou detalhadamente as paredes do seu escritrio. Nelas, arcos, echas, tacapes, bordunas, cocares, e at uma auta formavam uma bela decorao. Rstica e sbria ao mesmo tempo, trazia-lhe estranhas lembranas. Com o p na porta ainda pensou e sorriu para si mesmo. Engraado o que aquele ndio foi fazer com o meu relgio.

    Esta estria mostra alguns dos pontos essenciais sobre o etnocentrismo.

    Em primeiro lugar, leva-nos a perceber que, neste choque cultural, os personagens de diferentes culturas zeram o mesmo: utilizaram o objeto da outra cultura como ornamento, sendo que esses objetos em suas culturas tinham funes tcnicas. Para o pastor, o uso do relgio pelo ndio causou tanto espanto quanto o que causaria ao jovem ndio conhecer o uso que o pastor deu a seu arco e echa.

    O etnocentrismo est justamente nesse julgamento do valor da cultura do outro nos termos da cultura do grupo do eu.

    Em segundo lugar, o choque cultural aqui na estria foi cordial. Mas, na maioria das vezes, o etnocentrismo leva ao violenta, como o etnocdio (por exemplo, uma matana de ndios). Como bem coloca Rocha (2006, p. 13) o exemplo abaixo:

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    00044403313NotaO QUE ELE QUIS DIZER COM ISSO? EST DIZENDO QUE O ETNOCENTRISMO POR VEZES PODE LEVAR ATITUDES VIOLENTAS, COMO EXEMPLO NOS DIAS DE HOJE, PODEMOS CITAR O RACISMO, O ETNOCIDIO, OU QQ OUTRA FORMA DE DESCRIMINAO TAMBM

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    ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

    ... Um famoso cientista do incio do sculo, Hermann von Ihering, diretor do Museu Paulista, justicava o extermnio dos ndios Caingangue por serem um empecilho ao desenvolvimento e colonizao das regies do serto que eles habitavam.

    Pode-se perceber, atravs da histria, que a relao entre a chamada civilizao ocidental e as sociedades tribais foi de extermnio. A antropologia do sculo XIX ter como caracterstica o povo primitivo, veja o quadro abaixo:

    Quadro 3 O evolucionismo social do sculo XIX.

    Escola/paradigma Evolucionismo social

    Perodo Sculo XIX.

    Caractersticas Sistematizao do conhecimento acumulado sobre os povos primitivos.Predomnio do trabalho de gabinete.

    Temas e conceitos Unidade psquica do homem.Evoluo das sociedades das mais primitivas para as mais civilizadas.Busca das origens (perspectiva diacrnica).Estudos de parentesco/religio/organizao social.Substituio do conceito de raa pelo de cultura.

    Alguns representantes e obras de referncia

    Maine (Ancient Law 1861).Herbert Spencer (Princpios de Biologia 1864).Edward Tylor (A cultura primitiva 1871).Henry L. Morgan (A sociedade antiga 1877).James Frazer (O ramo de ouro 1890).

    Fonte: Vagner Gonalves da Silva. Disponvel em: www.fch.usp.br/da/vagner/antropo.html. Acesso em: 22 mar. 2010.

    Henry L. Morgan destacou-se como um importante evolucionista do sculo XIX, inuenciando muitos pensadores. Entre eles, seu aluno Franz Boas.

    Franz Boas, no entanto, transforma-se em um dos maiores crticos do evolucionismo, armando que as sociedades e os grupos possuem uma histria particular, diversa, e essa diversidade que constitui a riqueza da vida social humana.

    2.2 O positivismo

    O positivismo a primeira linha de pesquisa da Sociologia. Porm, ns o trazemos aqui porque o pensamento produzido por essa linha ir inuenciar muito a produo antropolgica.

    O positivismo tambm surge com grande inuncia das cincias naturais. Isso porque, no sculo XIX, as cincias humanas (Antropologia, Sociologia) estavam surgindo e ainda no tinham seu mtodo de pesquisa prprio. Por isso, vo utilizar os mtodos utilizados pelas cincias naturais (como Biologia, Fsica e Qumica). Alm disso, neste sculo a cincia buscava explicaes racionais para livrar-se das explicaes religiosas e de seu poder sobre a humanidade.

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    00044403313NotaLEMBRA L EM CIMA NO QUADRO A ANTROPOLOGIA DO SCULOS XIV - XIX (14 A 19) ESTAVA LIGADA AOS RELATOS DE VIAJANTES SOMENTE. J AQUI A PARTIR DO SCULO XIX (19) VAI TER COMO CARACTERSTICA PRINCIPAL O POVO PRIMITIVO, MAS CONTINUA O TRABALHO DE GABINETE - IMPORTANTE!!

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    00044403313NotaA PARTIR DAQUI ENTO CRITICA-SE O EVOLUCIONISMO AFIRMAND QUE A CULTURA NO VEM S DA EVOLUO MAS SIM DA HISTRIA PARTICULAR DE CADA UM

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    00044403313NotaNO SE SABIA COMO PROVAR O QUE ERA DITO PELOS ANTROPLOGOS

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    O primeiro pensador desta linha foi o lsofo francs Auguste Comte (1798-1857), que vai criar a palavra Sociologia, a cincia da sociedade, que se baseava nos mtodos de observao das cincias naturais. Para Comte, as explicaes que os homens davam para os fenmenos em geral (naturais ou sociais) haviam passado por trs fases diferentes (SANTOS, 2005, p. 24). A primeira foi chamada de teolgica ou ctcia. Nesta fase, o homem explica que a causa dos fenmenos divina ou de ao sobrenatural; na segunda, metafsica ou abstrata, as explicaes deixam de ser calcadas no divino e passam a ser loscas; e a terceira fase chamada de cientca ou positiva, na qual se buscam as explicaes a partir da utilizao de mtodos cientcos para explicar as leis que regem o social e o natural.

    Com o passar do tempo, socilogos e antroplogos notaram que no era possvel analisar homens e mulheres, isto , a sociedade e a sua cultura, da mesma forma que a Biologia ou a Matemtica analisa os seus objetos.

    Podemos perceber, segundo Santos (2005), que h semelhanas entre os modelos de estgios criados por Comte, Morgan e Frazer quanto ao pensamento de evoluo das sociedades.

    Quadro 4 Comparao entre os modelos de Comte, Morgan e Frazer.

    Comte Frana(1798-1857)

    Morgan EUA(1818-1881)

    Frazer - Inglaterra(1854-1941)

    Os homens explicam os fenmenos a partir de:

    Fase teolgica ou ctciaFase metafsica ou abstrataFase cientca ou positiva

    Estgios de pensamento:

    MagiaReligioCincia

    Fase de desenvolvimento da sociedade:

    SelvageriaBarbrieCivilizao

    Fonte: Santos.

    Atualmente, sabe-se que as explicaes sobrenaturais, loscas e cientcas no se relacionam com o sentido de evoluo. Mas, sim, que essas so explicaes diferentes que dependem da cultura dessas sociedades para serem raticadas. Tanto que, em nossa sociedade, encontramos pessoas que se utilizam de explicaes sobrenaturais para os fenmenos sociais, com fundamento religioso.

    Alm disso, sabe-se tambm que no h evoluo social, de sociedades mais simples para mais complexas, j que, a partir do momento em que os antroplogos comearam a conviver com as sociedades tribais, perceberam que as mesmas tinham suas estruturas, lnguas, sistemas simblicos e que os mesmos no eram menos complexos do que os de outras sociedades.

    Alm de Comte, no positivismo, teremos tambm mile Durkheim, o pensador que criar um mtodo de pesquisa para a Sociologia, dizendo que o pesquisador, ao estudar a sociedade, deve trat-la como uma coisa assim como a Fsica trata uma pedra, sem sentimentos e valores, para que seja possvel ao pesquisador conseguir a neutralidade cientifica. Durkheim ir dizer, tambm, que eu no necessito analisar o indivduo, mas a sociedade, j que a sociedade se sobrepe ao indivduo, pois, quando nascemos, a sociedade j estava pronta, com suas regras e normas

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    00044403313NotaIMPORTANTE NOME

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    00044403313NotaDECORAR ESSAS FASES: TEOLGICA OU FICTCIA (TUDO ERA EXPLICADO PELA RELIGIO OU PELO SOBRENATURAL)METAFSICA OU ABSTRATA (AGORA TUDO ERA EXPLICADO PELA FILOSOFIA, PELO PENSAMENTO DOS ESTUDIOSOS, MAS AINDA ASSIM NADA ERA PROVADO)CIENTFICA OU POSITIVA (EXPLICAES A PARTIR DE MTODOS CIENTIFICOS QUE D PRA PROVAR)

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    00044403313Nota CLARO N!!

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    00044403313NotaOU SEJA PERCEBE-SE AGORA QUE NO EXISTE TAL COISA COMO UMA SOCIEDADE MAIS COMPLEXA E OUTRA MENOS, OU SEJA NADA DE EVOLUO SOCIAL HEIN!

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    00044403313NotaAQUI ELES AINDA ESTAVAM BUSCANDO UMA FORMA DE ESTUDAR A SOCIEDADE (SOCIOLOGIA) OU DE PROVAR QUE ELA EXISTE, MILE DURKHEIM RESOLVEU ENTO TRATAR A SOCIEDADE COMO UMA COISA, SEM SENTIMENTOS PARA SER NEUTRO

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    de conduta, com suas instituies. S se faz necessrio compreender como essa sociedade funciona.

    Quadro 5 A produo positivista no sculo XIX.

    Escola/Paradigma Escola Sociolgica Francesa

    Perodo Sculo XIX.

    Caractersticas Denio dos fenmenos sociais como objetos de investigao socioantropolgica.Denio das regras do mtodo sociolgico.

    Temas e conceitos Representaes coletivas.Solidariedade orgnica e mecnica.Formas primitivas de classicao (totemismo) e teoria do conhecimento.Busca pelo fato social total (biolgico + psicolgico + sociolgico).A troca e a reciprocidade como fundamento da vida social (dar, receber, retribuir).

    Alguns representantes e obras de referncia

    mile Durkheim: Regras do mtodo sociolgico 1895; Algumas formas primitivas de classicao c/ Marcel Mauss 1901; As formas elementares da vida religiosa 1912.Marcel Mauss: Esboo de uma teoria geral da magia c/ Henri Hubert 1902-1903; Ensaio sobre a ddiva 1923-1924; Uma categoria do esprito humano: a noo de pessoa, a noo de eu 1938).

    Fonte: Vagner Gonalves da Silva. Disponvel em: www.fch.usp.br/da/vagner/antropo.html. Acesso em: 22 mar. 2010.

    Lembrete

    A teoria do evolucionismo social e do positivismo, no sculo XIX, representava o discurso europeu sobre suas colnias, tratando-se de um discurso de poder, no qual o mais forte era o mais avanado, civilizado, cientco e o mais fraco era o atrasado, selvagem e mstico.

    2.3 Determinismo biolgico e determinismo geogrco

    Os primeiros pesquisadores considerados antroplogos no vo a campo, no vo at esses pases longnquos para conhecer a cultura desses povos, eles formulam teorias fundamentando-se em relatos feitos por leigos: missionrios, viajantes, negociantes. (COSTA, 2005, p. 90).

    justamente neste momento que sero utilizadas as teorias preconceituosas, como a do determinismo biolgico e a do determinismo geogrco.

    O determinismo biolgico (LARAIA, 2004) a teoria que arma que o comportamento cultural resultado da gentica e da hereditariedade dos indivduos. Assim sendo, consideravam que os grupos humanos eram diferentes uns dos outros devido a traos psicologicamente inatos, como a inteligncia ou temperamento.

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    00044403313NotaPERGUNTA DO PROFESSOR O QUE INFLUENCIA QUEM? A SOCIEDADE AO INDIVIDUO, OU O INDIVIDUO SOCIEDADE?RESPOSTA: A SOCIEDADE QUE SE SOBREPE AO INDIVIDUO

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    00044403313NotaJ FOI DITO TEORIA DO EVOKLUCIONISMO ONDE SOBREVIVE O MAIS FORTE, SENDO ELE O MAIS CIVILIZADO, E QUEM FOSSE FRACO ERA ATRASADO E SELVAGEM E CONSEQUENTEMENTE NO TINHA NEM CULTURA

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    00044403313NotaFALSO

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    Essa forma de pensar, de hierarquizar as sociedades utilizando, para isso, a raa e o nvel de desenvolvimento alcanado pelo grupo fica mais claro quando falamos das populaes negras (ou afrodescendentes) que, nos Estados Unidos, eram consideradas, at pouco tempo, portadoras de uma cultura inferior. Alm deste exemplo, podemos lembrar Hitler, na Alemanha, que fundamentou o extermnio de outras populaes por acreditar que o povo alemo era superior aos outros.

    Saiba mais

    Assista ao lme

    Arquitetura da destruio. Direo: Peter Cohen. Sucia, 1992. Durao: 121 min.

    Documentrio sobre a trajetria de Hitler e a sua relao com a arte.

    Podemos notar o determinismo biolgico na citao utilizada por Eduardo Galeano (2010) para demonstrar o pensamento dos europeus sobre os negros do Haiti:

    O Haiti fora a prola da coroa, a colnia mais rica da Frana: uma grande plantao de acar, com mo de obra escrava. No Esprito das leis, Montesquieu havia explicado sem papas na lngua: O acar seria demasiado caro se os escravos no trabalhassem na sua produo. Os referidos escravos so negros desde os ps at cabea e tm o nariz to achatado que quase impossvel deles ter pena. Torna-se impensvel que Deus, que um ser muito sbio, tenha posto uma alma, e sobretudo uma alma boa, num corpo inteiramente negro.

    Observao

    Voc deve sempre reetir sobre os contedos que lhe so apresentados. Deve perguntar-se, por exemplo: O comportamento cultural do ser humano dado pelas suas caractersticas biolgicas? Como a cor da pele? O sexo?

    Para os europeus, naquele momento, sim. Desta forma, o outro era colocado como o selvagem e o europeu como o civilizado. Pensando assim, os outros povos eram inferiores e, por isso, deviam ser colonizados para que aprendessem a ser civilizados.

    Como no fosse o bastante a utilizao da teoria preconceituosa do determinismo biolgico, h tambm a do determinismo geogrco, isto , teoria que arma que as diferenas do ambiente fsico determinam a diversidade cultural (LARAIA, 2004).

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    00044403313NotaOLHA A O ETNOCENTRISMO QUE FALAMOS L EM CIMA

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    00044403313NotaPQ ERAM NEGROS NO TINHAM ALMA, MUITO MENOS CULTURA

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    00044403313NotaREFLITA

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    00044403313NotaLEMBRAR H DOIS DETERMINISMOS, O BIOLGICO (QUE TRATA DA APRENCIA FISICA OU BIOLGICA) E O GEOGRFICO (QUE TRATA DAS DIFERENTES AMBIENTES ONDE A PESSOA FOI CRIADA POR EXEMPLO)

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    Como pode ser notado pela citao utilizada por Laplantine (1991, p. 43) da obra de Cornelius de Pauw, publicado em 1774, que falava sobre a inuncia negativa da natureza e do clima mido sobre os ndios da Amrica do Norte:

    Deve existir, na organizao dos americanos, uma causa qualquer que embrutece sua sensibilidade e seu esprito. A qualidade do clima, a grosseria de seus humores, o vcio radical do sangue, a constituio de seu temperamento excessivamente eumtico podem ter diminudo o tom e o saracoteio dos nervos desses homens embrutecidos. (...) temperamento to mido quanto o ar e a terra onde vegetam.

    Assim, essas ideias apresentadas no sculo XVIII so retomadas e expressas por Hegel em 1830, em sua Introduo Filosoa da Histria, demonstrando seu horror frente aos que vivem em estado de natureza, pois esses povos jamais ascendero histria (LAPLANTINE, 1991). Desta forma, a Amrica do Sul tratada como to estpida como a do Norte. A sia, da mesma forma. Porm, a frica que, para este lsofo, possui os seres de forma mais inferior entre todos que se apresentam nessa infra-humanidade. Hegel chega ao ponto de consider-los como coisas, sendo impossvel transform-los, a partir da colonizao, em seres humanos.

    Tendo sua origem no perodo da expanso do mundo colonial, perodo em que o mundo europeu se confronta com outros povos e culturas, nas amricas, na sia e na frica, esta cincia surge para compreender as diversas formas do ser, do sentir e do pensar humano.

    Desta forma, no s a gura do mau selvagem ser elaborada pelo pensamento do europeu, como tambm a do bom selvagem ser formulada sistematicamente no sculo XVIII. Porm, a ideia j se fazia presente desde os primeiros viajantes Amrica, como por exemplo, a descrio de Cristvo Colombo que, ao aportar no Caribe, descreve: Eles so muito mansos e ignorantes do que o mal, eles no sabem se matar uns aos outros (...) Eu no penso que haja no mundo homens melhores, como tambm no h terra melhor. (apud LAPLANTINE, 1991, p. 47).

    Esse bom selvagem vai ser compartilhado no apenas pelos navegadores como tambm pelos lsofos, pelos literatos e pela arte, nas apresentaes teatrais parisienses. Como no exemplo citado por Laplantine (1991), sobre o espetculo O arlequim selvagem, no qual um personagem declama no palco em Paris, em 1721, que os homens eram loucos, por buscarem ter coisas, dinheiro, no lugar de simplesmente viver em natureza e desfrutar de tudo como os selvagens. A gura do bom selvagem leva a mensagem de que a sociedade deles o paraso e a do europeu, a do ocidente, que a civilizada, o inferno da sociedade tecnolgica.

    Ora a repulsa, ora o fascnio, sendo que a alteridade no tem relao com a realidade. Na verdade, este imaginrio vai ser utilizado como pretexto para a explorao colonial do sculo XVI e XVII (econmica, militar, poltica, religiosa, cultural e social).

    Assim, nessa poca que se tem a origem do conhecimento sobre o homem, mas no o de um saber antropolgico. Esse momento poderia ser chamado de saber pr-antropolgico, pois ainda no se tratava de um saber cientco.

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    00044403313NotaO QUE ISSO?RESPOSTA: DETERMINISMO GEOGRFICO

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    00044403313NotaQUE CINCIA?RESP: A ANTROPOLOGIA

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    00044403313NotaFIGURA DO BOM SELVAGEM

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    00044403313NotaO QUE ELE QUIS DIZER COM ISSO?RESPOSTA: QUE OS NAVEGADORES E EXPLORADORES IAM SE UTILIZAR DESSA EXPRESSO "BOM SELVAGEM" S COMO PRETEXTO PARA EXPLORAO DESTES LUGARES, TIPO ELES SO BONZINHOS E TAL

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    00044403313NotaCOMEAM A ENTENDER UM POUCO O HOMEM

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    Segundo Laplantine (1991), somente no sculo XVIII que se comea o projeto de criar uma cincia do homem, mas ainda no a Antropologia que entendemos hoje. Esse projeto busca a construo de conceitos, como o do prprio conceito de homem como objeto do conhecimento (se tornando um objeto a ser observado) pelo prprio homem (o observador); um saber que deixa de ser reflexivo e passa a ser de observao (ver a realidade concreta do homem, sua organizao, relao de produo, linguagem, instituies, comportamentos), um conhecer emprico2; sendo a diferena entre os povos o foco central de estudo; e um mtodo para observar e analisar, o mtodo indutivo, isto , os povos comeam a ser analisados como sistemas naturais, necessitando ser estudados empiricamente, a partir da observao de fatos, com o intuito de buscar as leis gerais, isto , as regras naturais que organizam todas as sociedades.

    Essas teorias do determinismo biolgico e geogrco so negadas historicamente no sculo XX, como bem mostra Laraia (2004):

    Em 1950, quando o mundo se refazia da catstrofe e do terror do racismo nazista, antroplogos fsicos e culturais, geneticistas, bilogos e outros especialistas, reunidos em Paris sob os auspcios da UNESCO, redigiram uma declarao da qual extramos dois pargrafos:

    a) Os dados cientcos de que dispomos atualmente no conrmam a teoria segundo a qual as diferenas genticas hereditrias constituiriam um fator de importncia primordial entre as causas das diferenas que se manifestam entre as culturas e as obras das civilizaes dos diversos povos ou grupos tnicos. Eles nos informam, pelo contrrio, que essas diferenas se explicam, antes de tudo, pela histria cultural de cada grupo. Os fatores que tiveram um papel preponderante na evoluo do homem so a sua faculdade de aprender e a sua plasticidade. Esta dupla aptido o apangio de todos os seres humanos. Ela constitui, de fato, uma das caractersticas especcas do Homo Sapiens.

    b) No estado atual de nossos conhecimentos, no foi ainda provada a validade da tese segundo a qual os grupos humanos diferem uns dos outros pelos traos psicologicamente inatos, quer se trate de inteligncia ou temperamento. As pesquisas cientcas revelam que o nvel das aptides mentais quase o mesmo em todos os grupos tnicos.

    A partir da necessidade de compreender o outro (aquele que era diferente do mundo europeu) como parte integrante de um contexto em que o universo da cultura ocidental se impe cultura do outro, implicando em violncia e vises distorcidas desses povos e de suas culturas.

    2 Signicado de Emprico: adj. Que se apoia exclusivamente na experincia e na observao. Dicionrio online de portugus. Disponvel em: http://www.dicio.com.br/emprico/. Acesso em 23 mar. 2011.

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    00044403313NotaAGORA ELES BOTAM EM PRTICA O TAL ESTUDO DO HOMEM, OBSERVANDO ELE E O ESTUDANDO A PARTIR DA OBSERVAO DE FATOS, PARA ASSIM PODEREM DETERMINAR QUAIS REGRAS QUE ORGANIZAM CADA SOCIEDADE, TENTANDO FAZER DA ANTROPOLOGIA UMA CINCIA COMO DITO L EM CIMA

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    ANTROPOLOGIA E CULTURA BRASILEIRA

    Observao

    O que voc pensa sobre os tpicos at agora abordados? Ser que existe uma cultura melhor do que a outra? Por exemplo, a minha cultura melhor do que a sua?

    Ao procurar identicar de forma precisa o no europeu, o antroplogo do sculo XIX tinha por base uma falsa imagem da cultura europeia, compreendida como uma sociedade homognea e integrada. No compreendia que havia tantas diferenas e conitos entre pessoas de naes diferentes.

    Por isso, a Antropologia foi sempre considerada a cincia da alteridade, isto , a cincia que busca investigar o outro, aquele que essencialmente diferente de mim. Assim, para Santos (2005, p. 22), os primeiros antroplogos vo sofrer forte inuncia das correntes de pensamento, como o positivismo, o evolucionismo, e os determinismos geogrcos e biolgicos sobre as ideias que elaboraram sobre as culturas dos povos distantes e tambm pela ausncia dos estudiosos em campo, j que sua anlise era feita por meio de relatos e no de sua presena in loco (no prprio local), em que estava pesquisando a cultura estudada.

    Lembrete

    A teoria do determinismo biolgico falsa, porque a nossa gentica no determina o nosso comportamento em sociedade.

    Assim como o determinismo geogrco tambm falso, j que as caractersticas do ambiente geogrco no determinam a minha forma de me comportar em sociedade.

    Pois sabido que apreendemos o nosso comportamento cultural atravs do processo de endoculturao, isto e aprendemos com o nosso grupo a cultura de nossa sociedade.

    3 OS ANTROPLOGOS VO PARA O CAMPO

    3.1 O funcionalismo

    Bronislaw Malinowski foi o antroplogo que trouxe a grande mudana para a Antropologia.

    Esse polons que vivia na Inglaterra inicia uma nova Antropologia, que tambm chamada de etnograa mapeamento de etnias (SANTOS, 2005). A mudana que realizou foi quanto forma de se fazer a pesquisa, j que esse pesquisador parou de utilizar informaes indiretas, aquelas colhidas por viajantes, colonizadores e missionrios, e comeou a realizar pesquisa de campo, ir at as tribos e conviver com os mesmos para, a partir da, elaborar suas teorias.

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    00044403313NotaPENSE NISSO

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    00044403313NotaA NAO EUROPIA ERA CONSIDERADA A PERFEITA

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    00044403313NotaESTE PARAGRAFO IMPORTANTE

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    00044403313NotaSUPER IMPORTANTE!!

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    00044403313NotaFINALMENTE OS CARAS VO ESTUDAR A CULTURA AO VIVO, NADA DE CONFIAR EM RELATOS, ELES VO PARA O CAMPO!!

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    00044403313NotaPERCEBEU ELE QUE HAVIAM DIFERENTES ETNIAS FINALMENTE, PORQUE ELE FOI O PRIMEIRO A IR A CAMPO

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    Dana com Lobos. Direo: Kevin Costner. EUA, 1990. Durao: 180 min.

    Observe o modo como o personagem de Kevin Costner vai lentamente aprendendo a cultura sioux.

    Essa mudana na postura do antroplogo leva-o a compreender a complexibilidade das sociedades que antes eram chamadas de primitivas, brbaras e atrasadas, como Malinowski (apud SANTOS, 2005, p. 38) demonstra:

    A ideia geral que se faz que os nativos vivem no seio da natureza, fazendo mais ou menos aquilo que podem e querem, mas presos a crenas e apreenses irregulares e fantasmagricas. A cincia moderna, porm, nos mostra que as sociedades nativas tm uma organizao bem denida, so governadas por leis, autoridades e ordem em suas relaes pblicas e particulares, e que esto, alm de tudo, sob o controle de laos extremamente complexas de raa e parentesco. (...) As suas crenas e costumes so coerentes, e o conhecimento que os nativos tm do mundo exterior lhes suciente para gui-los em suas diversas atividades e empreendimentos. Suas produes artsticas so cheias de sentido e beleza.

    A teoria funcionalista surgiu no sculo XX como sucessora do evolucionismo, respondendo, em parte, s crticas que surgiam em relao ao eurocentrismo e ao etnocentrismo. De acordo com a concepo funcionalista, cada sociedade deve ser estudada como um organismo constitudo por partes interdependentes e complementares, cuja funo satisfazer as necessidades essenciais dos seus integrantes (COSTA, 2005).

    O grande idealizador do funcionalismo foi Malinowski, que organizou e sintetizou uma viso integrada e totalizante do modo de vida de um povo no europeu.

    Em sua pesquisa, desenvolveu o mtodo da observao participante entre os nativos das Ilhas Trobriand, prximas Nova Guin, onde reconstituiu os principais aspectos da vida trobriandesa, desde as grandes cerimnias at aspectos da vida cotidiana.

    Veja como Malinowski realiza essa observao participante:

    ... nesse tipo de pesquisa, recomenda-se ao etngrafo que de vez em quando deixe de lado sua mquina fotogrca, lpis e caderno e participe pessoalmente

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    00044403313NotaOLHA AQUI AS COISAS MUDARAM CHEGOU A TEORIA FUNCIONALISTA, CADA SOCIEDADE DEVE SER ESTUDADCOMO ORGANISMO DE PARTES INTERDEPENDENTES E QUE SE COMPLEMENTAM

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    00044403313NotaMALINOWSKI = FUNCIONALISMO

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    00044403313NotaO CARA PARTICIPA DA VIDA DOS NATIVOS PARA PODER ESTUD-LOS

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    do que est acontecendo. Ele pode tomar parte nos jogos dos nativos, acompanh-los em suas visitas e passeios, ou sentar-se com eles, ouvindo e participando das conversas. (MALINOWSKI apud SANTOS, 2005, p. 39).

    A concepo de Malinowski consiste em demonstrar como se faz uma organizao de trabalho de campo, analisando uma determinada cultura. Mostra que o olhar etnocntrico no deve ser utilizado, pois para ele as diferenas existem em todas as sociedades e povos: pois, se para ns eles so diferentes, para eles os diferentes somos ns. Se determinada sociedade aparece ao pesquisador como desordenada ou desintegrada, isso se deve apenas ao seu desconhecimento em relao a ela, o que pode ser superado aps um processo de investigao, a chamada observao participante.

    A observao participante o mtodo de pesquisa que revolucionou os estudos antropolgicos. No lugar de anlise de relatos, o pesquisador passa a ir conhecer os povos, penetrar em sua cultura, desvendar seus signicados, guiados por essas informaes. Para que uma observao seja participativa, essencial que essa integrao do investigador seja aceita e reconhecida pelos demais integrantes do grupo ou comunidade. (COSTA, 2005, p. 177).

    Alm da revoluo que realizou no trabalho de campo, Malinowski trouxe novos elementos para contrapor ao evolucionismo social e ao etnocentrismo.

    Saiba mais

    Para conhecer uma anlise mais aprofundada sobre o etnocentrismo, leia:

    ROCHA, Everardo. O que etnocentrismo. So Paulo: Brasiliense, 2006.

    Radcliffe-Brown outro funcionalista (COSTA, 2005) que se destacou como defensor desta teoria e dos estudos das sociedades no europeias. Assim como Malinowski, considerava essas sociedades como totalidades integradas de instituies que tm a funo de satisfazer necessidades bsicas de alimento, segurana, entre outros.

    Para Radcliffe-Brown, os evolucionistas no faziam Antropologia, pois se preocupavam apenas com a histria como a via explicativa do presente cultural.

    Assim, propunha uma abordagem funcional. O funcionalismo parte para elaborar uma anlise sem se preocupar com a histria, parte para o estudo da sociedade do outro sem se preocupar com o passado desta sociedade, pois essas sociedades nem sempre buscavam valorizar o tempo como ns fazemos, de forma linear, histrico, feito de acontecimentos sucessivos para pensar sua prpria existncia.

    Segundo Rocha (1996), quando Radcliffe-Brown rompe a Antropologia da Histria, fornece uma nova forma para entender a sociedade do outro como ela realmente. Assim, passa a ver o funcionamento

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    00044403313NotaLEMBRAR: TER UM OLHAR ETNOCENTRICO A PESSOA OLHAR A SOCIEDADE DO OUTRO COMO ERRADA E A SUA CERTA

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    de uma sociedade e, para tal, o pensador buscou o rigor terico e conceitual para analisar a sociedade do outro. Isto , o conceito de processo, estrutura e funo.

    Em primeiro lugar, para analisar a realidade concreta a ser estudada, a Antropologia observa, descreve, compara e classica essa sociedade. um uxo permanente, um processo. Desta mesma forma, segundo Rocha (1996), preciso ver na sociedade do outro o processo social, isto , como as relaes sociais esto encadeadas.

    Em segundo lugar, para Rocha (1996), dentro do processo social, percebemos formas regulares, isto , aes que se repetem na vida cotidiana por exemplo, como esto compostas as famlias. Isso demonstra a estrutura social. Dentro dessa estrutura familiar, h relaes e aes do processo social que se repetem, formam redes complexas de relaes sociais onde todos esto envolvidos.

    Em terceiro lugar, vem a funo que complementa esse esquema terico. J que a ligao entre processo e estrutura.

    Radcliffe-Brown chamado de funcionalista porque estabelece uma comparao entre a Antropologia e as cincias naturais, utilizando termos das cincias naturais e, por analogia, aplicando-os ao estudo da sociedade humana. Segundo Rocha (1996), uma analogia nos serve para explicar o conceito de funo e sua relao com processo e estrutura.

    Comparava o sistema social ao corpo humano. Este, como um organismo complexo que , tem a vida como um uxo permanente que habita este corpo. A vida caracteriza um constante processo, o processo vital, de permanncia obrigatria para a manuteno do organismo. Este organismo, por sua vez, possui uma estrutura composta de ossos, tecidos, uidos, etc. A funo estabelece a correlao entre o processo vital e a estrutura orgnica. Assim, o corao, por exemplo, desempenha a funo de bombear o sangue atravs do corpo. Se parar de execut-la, termina o processo vital e a estrutura orgnica, enquanto estrutura viva tambm desaparece.

    Na sociedade, algumas instituies desempenham uma funo crucial na manuteno do processo e da estrutura. Se estas funes forem suprimidas aquela sociedade se transformar numa outra diferente, onde outras instituies tero, por seu turno, outras funes cruciais. A sociedade no morreria, no mesmo sentido em que o corpo morre suprimida a funo do corao, mas, atacada numa funo bsica, se descaracterizaria ao ponto de se transformar profundamente. (ROCHA, 1996, p. 63-64).

    Percebe-se que o antroplogo, para fazer esse tipo de anlise, tem que viajar, isto , morar, experimentar a vida junto ao povo e cultura que est estudando.

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    Os estudos funcionalistas permitiram que sociedades no europeias passassem a ser compreendidas dentro de suas especicidades. As sociedades tribais africanas, australianas e asiticas passaram a ser entendidas a partir de sua funo social.

    As crticas ao funcionalismo, a partir dos anos 1960, apontavam para a ineccia dos modelos de mudanas sociais, suas contradies estruturais e conitos. Outras crticas apontavam para a descrio das instituies sociais apenas a partir de seus efeitos, omitindo, portanto, as causas que levariam a esses efeitos.

    Os funcionalistas, ao utilizarem conceitos como aculturao e choque cultural, deixavam de revelar as desigualdades que existem nesse contato, principalmente quando resultam de uma poltica colonialista. Alm disso, so responsveis pelo que cou conhecido como relativismo cultural, ou seja, postura de tolerncia e respeito em relao aos costumes e traos culturais diferentes (SANTOS, 2005).

    Veja no quadro abaixo as caractersticas do funcionalismo.

    Quadro 6 O funcionalismo do sculo XX at os anos 1920.

    Escola/Paradigma Funcionalismo

    Perodo Sculo XX anos 1920.

    Caractersticas Modelo de Etnograa clssica (monograa).nfase no trabalho de campo (observao participante).Sistematizao do conhecimento acumulado sobre uma cultura.

    Temas e conceitos Cultura como totalidade.Interesse pelas instituies e suas funes para a manuteno da totalidade cultural.nfase na sincronia x diacronia.

    Alguns representantes e obras de referncia

    Bronislaw Malinowski (Argonautas do Pacco Ocidental 1922).Radcliffe Brown (Estrutura e funo na sociedade primitiva 1952; e Sistemas polticos africanos de parentesco e casamento, org. c/ Daryll Forde 1950).Evans-Pritchard (Bruxaria, orculos e magia entre os Azande 1937; Os Nuer 1940).Raymond Firth (Ns, os Tikopia 1936; Elementos de organizao social 1951).Max Glukman (Ordem e rebelio na frica tribal 1963).Victor Turner (Ruptura e continuidade em uma sociedade africana 1957; O processo ritual 1969).Edmund Leach (Sistemas polticos da Alta Birmnia 1954).

    Fonte: Vagner Gonalves da Silva. Disponvel em: www.fch.usp.br/da/vagner/antropo.html. Acesso em: 22 mar. 2010.

    3.2 O culturalismo norte-americano

    Franz Boas um dos primeiros antroplogos a perceber a necessidade de se estudar um povo em suas particularidades, isto , cada grupo tem suas condies histricas, climticas, lingusticas etc. e tudo isso determina que cada cultura especca, por isso a pluralidade de culturas diferentes (ROCHA, 2006). E, assim como Malinowski, realizar estudos junto ao grupo pesquisado, resultando estes estudos tambm em uma Antropologia relativista.

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    00044403313NotaA PARTIR DO FUNCIONALISMO AS OUTRAS SOCIEDADES SO ACEITAS E COMPREENDIDAS CADA UMA COM SUAS DIFERENAS

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    00044403313NotaOBSERVAO PARTICIPANTE QUE DIFERENTE DAQUELA QUE ANTES SE FAZIA ATRAVZ DE RELATOS, ANTROPOLOGIA DE GABINETE

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    Mas o que relativista, relativismo? O que relativizar?

    Para relativizar, necessrio deixar de lado todos os meus valores e procurar conhecer o outro, da maneira como ele expressa e experimenta sua vida. Eu no posso falar de como o outro se comporta, pensa e sente. necessrio saber como o outro pensa e sente o seu mundo por meio de seus valores e de seu conhecimento. No podemos explicar o outro pelo nosso mundo, nossos valores e nossos conhecimentos.

    A primeira atitude para relativizar abandonar as certezas etnocntricas e comear a duvidar e questionar, de forma que, partindo destes questionamentos, encontrar novos sentidos para compreender o outro.

    Segundo Rocha (1996), o relativismo aceita a diferena cultural e este um pensamento revolucionrio. No entanto, ser mais complicado entender as culturas, os povos, j que agora no se tem mais um tipo de explicao, uma s cultura, mas diversas, o que contraria o pensamento evolucionista.

    Boas no organizou e nem apresentou uma teoria da cultura. O conceito de cultura no ca claro, pois sua preocupao consistia mais em levantar hipteses do que sistematiz-las. Pesquisou vrias reas como: antropologia fsica, lingustica, folclore, geograa, migraes e organizao social. O que h de importante em suas pesquisas, que Boas percebeu que a cultura humana no uma apenas, mas diversas, que existiam vrias e que elas esto relacionadas pelo ambiente, pela lngua ou pelo comportamento dos indivduos que criaram estas culturas.

    Rocha (1996) considera que Boas estudou a histria concreta de cada cultura, inversamente ao evolucionismo, que pensava em uma nica histria geral, j que todas as sociedades passariam por estgios de evoluo os ocidentais estavam no pice da civilizao e as outras culturas eram as menos evoludas, assim os primitivos um dia chegariam a ser os civilizados, depois de realizarem os mesmos estgios. Desta forma, Boas tira da categoria de histria o seu H maisculo (a condio de universal), to importante para os evolucionistas. J que o outro tambm podia contar a sua prpria histria.

    O pensamento de Boas vai embasar uma gerao de antroplogos, como Gilberto Freyre, na Antropologia brasileira. Alm deste, Franz Boas teve trs grupos de alunos que acabaram por desenvolver algumas de suas ideias: um grupo que relacionou a personalidade e a cultura; outro que analisou as relaes entre a linguagem e a cultura; e o terceiro grupo, que trabalhou a relao entre os ambientes geogrco, ecolgico e fsico com a cultura. So vises relativistas da cultura, pois, se compararmos ao evolucionismo, suas anlises privilegiam elementos do prprio grupo que produz a forma pela qual compreendem sua cultura.

    Esses grupos so importantes porque eles escaparam do etnocentrismo e partiram para uma anlise relativista.

    A Antropologia foi se desenvolvendo e, com o tempo, foi deixando de lado o campo da evidncia emprica e se aprofundando na rea de organizao psquica e emocional dos agentes sociais. Assim, surge, no incio do sculo XX, a chamada Antropologia cultural, que substituiu a viso de que as diferenas

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    00044403313NotaPARA RELATIVIZAR NECESSARIO VC ESQUECER O SEU PENSAMENTO E VER COMO O OUTRO PENSA

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    00044403313NotaA PARTIR DAQUI H GRANDE EVOLUO DE PENSAMENTO, EXISTEM VRIAS CULTURAS E NO SOMENTE UMA - A EUROPIA

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    00044403313NotaIMPORTANTE A EVOLUO DA ANTROPOLOGIA

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    biolgicas determinariam as diferenas culturais. Ao fazer crticas ideia da evoluo cultural, os estudiosos passaram a defender que cada sociedade teria sua histria e seu valor particular. Nesse sentido, a cultura e a histria, e no mais a raa, seriam a causa das diferenas entre as populaes (ROCHA, 2006).

    Destacam-se alguns antroplogos culturalistas, como Franz Boas, Margareth Mead e Ruth Benedict, que a