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ANTÔNIO MAURÍCIO CORREIA INCLUSÃO DIGITAL E ESCOLA PÚBLICA: COMO TRATAR DA MISÉRIA NA ERA DA INFORMAÇÃO GOVERNO DO PARANÁ SEED SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO PDE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL UTFPR UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ CURITIBA FEVEREIRO 2008 Generated by Foxit PDF Creator © Foxit Software http://www.foxitsoftware.com For evaluation only.

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ANTÔNIO MAURÍCIO CORREIA

IINNCCLLUUSSÃÃOO DDIIGGIITTAALL EE EESSCCOOLLAA PPÚÚBBLLIICCAA::

CCOOMMOO TTRRAATTAARR DDAA MMIISSÉÉRRIIAA NNAA EERRAA DDAA

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CCUURRIITTIIBBAA

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Antônio Maurício Correia Professor PDE

Professor da rede pública estadual do Paraná desde 14 de fevereiro

de 1992. Docente da disciplina: Uso das Novas Tecnologias da

Informação e Comunicação na Educação Básica do Curso de

Especialização em Novas Tecnologias Aplicadas à Educação da

Faculdade Pe. João Bagozzi de Curitiba. Pesquisador do uso das

TIC’s na escola pública do Paraná.

Profª Dra. Joscely Maria Bassetto Galera

Orientadora

Professora da UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná

nos Cursos de Graduação e Pós-Graduação.

Professora do Programa de Mestrado em Ciência e Tecnologia da

UTFPR e da UEPG – Universidade Estadual de Ponta Grossa.

Doutora em Políticas Educacionais pela UNICAMP

Membro da ANPAE - PR

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente à minha orientadora: Profª Drª. Joscely Maria Basseto Galera que sempre me incentivou e apoiou nesta caminhada. Agradeço também a Profª Drª. Laíze Márcia Porto Alegre, coordenadora do PDE na UTFPR, pelo apoio técnico. À Equipe de Direção do Colégio Estadual Unidade Pólo de São José dos Pinhais, pelas inúmeras possibilidades que abriram na minha pesquisa sobre o uso das TIC’s na escola pública.

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Sumário

05 Apresentação

06 Inclusão digital: A nova agenda pública

11 A emergência da sociedade da informação e a ampliação da pobreza

19 Novos excluídos?

24 Porque a infoinclusão é estratégica?

31 O duplo combate à pobreza do conhecimento e a necessidade da alfabetização tecnológica

37 O direito de acesso: a nova face da liberdade de expressão

39 As propostas de inclusão digital

48 Inclusão digital: liberdade, independência tecnológica e democratização da sociedade.

52 Conclusão: Por uma política pública de inclusão digital

53 Referências Bibliográficas

55 Sites Importantes

56 Tabelas

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Apresentação

Prezado Professor,

“Não posso continuar sendo humano se faço desaparecer em mim a esperança.”

Paulo Freire

Este caderno foi idealizado para ser uma ferramenta de discussão de um tema muito atual e muito importante no desenvolvimento cultural da nossa sociedade, tão desigual em vários aspectos. Os vários textos discutem se a Tecnologia da Informação pode ou não combater a pobreza? Quais são os melhores instrumentos para garantir a todos o acesso às tecnologias da informação e combater a exclusão digital em uma sociedade hipercapitalista e multiexcludente? As alterações econômicas, sociais e culturais em curso desde o início da revolução das tecnologias da informação são profundas. A apropriação e os usos destas tecnologias, bem como o controle dos fluxos de informação, dão novo fôlego ás questões políticas e sociais. As disputas em torno das aplicações tecnológicas e de seu futuro já estão ocorrendo. Este caderno trata do ponto essencial da nova agenda pública no interior da revolução tecnológica em curso: o enfrentamento da exclusão digital. A partir daqui, convido você a explorar estas páginas, que espero serem úteis na sua lida com as novas TIC’s no seu dia a dia de escola pública. Para mais informações, mande e-mail para: [email protected] Seja bem-vindo!

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Inclusão digital: A nova agenda pública

Quando Gutenberg criou o processo de impressão com tipos móveis, as idéias ganharam velocidade. O surgimento da

imprensa mudou as formas de convencimento e ampliou as possibilidades de fazer política. A nova tecnologia da comunicação

tomou-se ferramenta indispensável para o envolvimento da nação e para a criação de uma sociedade de massa.

O avanço daquela tecnologia permitiu criar uma opinião pública. Assuntos e fatos distantes eram pautados e lançados ao

olhar de seus leitores. A tecnologia da impressão em larga escala garantiu a existência de uma camada especializada na formação

dos humores e das idéias nacionais. A importância da imprensa para o poder foi tamanha que Max Weber, sociólogo alemão,

afirmou ser o jornalismo a primeira profissão política remunerada. O processo de disseminação de idéias sempre foi fundamental

para a manutenção ou a alteração do poder na sociedade.

As mudanças e revoluções tecnológicas têm distribuído seus impactos pela sociedade e alterado a organização da vida

cotidiana. Grupos dominantes buscam apoderar-se dos novos inventos para alavancar sua dominação. Por outro lado, o domínio

de um novo processo tecnológico pode alterar os círculos do poder e até mesmo a classificação das nações mais poderosas.

Um bom exemplo disso ocorreu durante a Segunda Revolução Industrial-também denominada Segunda Revolução

Tecnológica -, nos últimos anos do século XIX. O uso intensivo das novas fontes de energia, principalmente da energia elétrica e

do petróleo, acabou alterando a vida das cidades, das famílias e das nações. O núcleo da Primeira Revolução Industrial foi a

Inglaterra, no século XVIII; já o centro dinâmico da segunda revolução residiu nos Estados Unidos e na Alemanha. O domínio e a

disseminação da nova tecnologia redesenharam de tal forma o mundo que atualmente não saberíamos como viver em

agrupamentos urbanos sem a energia elétrica. A crise energética brasileira, anunciada desde 1999 e assumida em 2001, deixa

claro quão profundamente uma tecnologia se alastra e penetra no cotidiano. Com racionamento de energia não podemos ampliar

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os empreendimentos econômicos em um modo de produção capitalista cuja acumulação se agigantou a partir da aplicação dos

frutos da Segunda Revolução Tecnológica.

Quem imagina como era o dia-a-dia nos lares antes da popularização da televisão? As tecnologias de transmissão de sons

e imagens por ondas radioelétricas foram mudando a estrutura de relacionamento social. O rádio já havia alterado o imaginário da

sociedade e colocado a formação da opinião pública em outro patamar, de maior velocidade e intensidade. Uma pesquisa

realizada pelo grupo Nielsen, nos anos 70, demonstrou que o norte-americano adulto passava em média 3,5 horas diárias diante

de um aparelho de TV. A tecnologia televisiva atraiu as pessoas para dentro das casas e passou a descortinar desejos

adormecidos ou escondidos. Também constituiu um poderoso instrumento de informação e de disputa ideológica na sociedade.

Grupos econômicos e políticos logo buscaram dominar seus conteúdos e seus canais de transmissão.

O resultado de uma revolução tecnológica em geral só fica evidente quando esta já se alastrou, reconfigurando a sociedade.

Observando a história e os debates entre intelectuais da atualidade, é possível afirmar que estamos vivendo uma revolução

tecnológica que produzirá efeitos tão devastadores quanto a primeira e a segunda revoluções industriais. Como em todas as

anteriores, o alerta do sociólogo Manuel Castells é válido: os grupos sociais em disputa tentam usar o poder da tecnologia "para

servir à tecnologia do poder".

Que revolução é esta? Como ela altera a sociedade, a economia, as comunicações, as disputas políticas e o Estado? Por

que surgiria uma nova agenda de preocupações públicas?

Revolução tecnológica

Vamos por partes. A nova revolução tecnológica tem recebido muitas denominações: Castells a chamou Revolução das

Novas Tecnologias de Informação; Negroponte preferiu denominá-la Revolução Digital, Jean Lojkine nomeou-a Revolução

Informacional e Jeremy Rifkin a apontou como a Era do Acesso, entre tantas outras classificações.

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O que parece comum a todos é que no cerne desta revolução está o uso do computador como instrumento vital da

comunicação, da economia e da gestão do poder. Isso porque a linguagem do computador permitiu transformar toda a produção

simbólica em um conjunto de dígitos, de bytes e bits, de O e 1. Podemos traduzir imagens, textos ou sons em um punhado de

dígitos. Também foi importante a integração do computador ao microprocessador e destes aos avanços das telecomunicações,

gerando um processo rápido e contundente de disseminação de informações. A comunicação fundamental da nossa sociedade já

é a comunicação mediada por computador.

Quem não se lembra de ter lido nos jornais "País enfrenta fuga de capitais" ou "Brasil sofre ataque especulativo e perde

bilhões?” Atualmente o capital financeiro circula no planeta ligado pelas· redes informacionais. As famosas fugas de capitais não

passam de transferências de recursos por intermédio de computadores das grandes instituições financeiras e bancos centrais. São

depósitos codificados em bytes e enviados para outras praças financeiras em uma fração de segundos. As redes de comunicação

informacionais recobrem todo o globo como uma camada invisível, tomando instáveis as economias nacionais dependentes dos

fluxos de capital.

As telecomunicações participam dessa revolução informacional como elemento essencial. Quanto mais rapidamente se

transferir informações, mais rapidamente se pode transferir o capital e lucrar com as oscilações do mercado. A largura de banda,

capacidade de transferência de dados em uma rede, é uma preocupação crescente na indústria da informação. Quanto maior a

banda, maior será a velocidade das informações. Não é por outro motivo que o setor financeiro tem apostado boa parte de suas

fichas na informática e nas telecomunicações.

Não foi somente o capital financeiro que assumiu a comunicação mediada por computador. A velha indústria também se

comunica pelas redes. Matrizes e filiais estão cada vez mais conectadas em intranets ou utilizando a própria Internet. François

Chesnais, em 1995, já apontava o surgimento das corporações-rede. São empresas que produzem em suas sedes bens

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simbólicos, marcas e tecnologias estratégicas. Buscam por meio das redes de informação subordinar e controlar um conjunto de

pequenas e médias empresas que trabalham para a matriz com vínculos jurídicos distintos. O caso típico é o da Benetton.

A Benetton, centrada na Itália, exporta praticamente apenas o design. Design é um agrupamento de informações sobre

estilo, forma e cor, ou seja, trata-se da exportação de signos, de bens simbólicos. Toda essa produção pode ser convertida em

linguagem digital e imediatamente enviada para qualquer parte do mundo à velocidade da luz. Na fábrica da Benetton da

Califórnia, com aproximadamente 800 empregados e maquinário sofisticado, o tecido é tingido e os moldes cortados conforme as

instruções transmitidas pela rede. Em seguida, esses moldes são enviados para mais de 400 oficinas no Sudeste Asiático e em

outras partes do mundo. Algo em tomo de 25 mil trabalhadores sem vínculo direto com a Benetton executam suas determinações

e confeccionam as roupas da cobiçada grife mundial.

Esse é apenas um exemplo de que o capital vai se tornando cada vez mais dependente das redes. Já há algum tempo era

evidente que todas as atividades humanas repetitivas, mesmo aquelas de grande complexidade, poderiam ser informatizadas.

Agora também torna-se claro que todas essas operações podem ser realizadas, ordenadas ou compartilhadas de maneira remota

por intermédio das redes informacionais. Para Marcos Dantas, esse processo é vital para o capitalismo aumentar seu valor no

processo de acumulação permanente. O tempo de circulação do capital se reduz quando a mercadoria mais valiosa, o bem de

maior valor agregado, é a informação. Hoje, o que vale mais: uma gigantesca siderúrgica e seu grande maquinário ou as licenças

de uso do sistema operacional Windows da Microsoft?

O capital-dinheiro assume o formato de capital-informação, como afirmou Dantas. A economia tende a ser uma economia

digital, como alegou Tapscott, ou caminha para transfigurar-se na Economia da Informação, na análise de Carl Shapiro e Hal

Varian. Uma das conseqüências da disseminação de um novo paradigma econômico e produtivo baseado na informação é o

desemprego tecnológico. Postos de trabalho estão sendo substituídos por softwares e leitores óticos de código de barras.

Sindicatos europeus, principalmente dos países escandinavos, têm se preocupado nos dissídios em discutir, ao lado das questões

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salariais, o ritmo do investimento das empresas em tecnologia da informação, bem como em avaliar seus impactos na destruição

de empregos. Na pauta de reivindicações dos trabalhadores é cada vez mais comum a exigência de requalificação e treinamento

como uma obrigação do capital, uma vez que as empresas têm sua lucratividade ampliada na economia da informação.

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A emergência da sociedade da informação e a ampliação da pobreza

Quando ocorreu a revolução das novas tecnologias da informação? É difícil precisar um ano ou um único fato como marco

do processo, mas foi após a Segunda Guerra Mundial que tivemos o primeiro indício da constituição do turbilhão informacional. Até

então, o computador era uma gigantesca máquina de calcular, ou melhor, de processar certo volume de dados. Muita coisa

aconteceu até que se tomasse a principal ferramenta da comunicação e ocupasse papel de destaque na terceira revolução

tecnológica, a revolução da informação.

O primeiro computador eletrônico foi construído em 1945 para realizar cálculos balísticos, ou seja, o cálculo da trajetória dos

mísseis. Chamava-se Electronic Numerical Integrator And Calculator (ENIAC), ocupava por volta de 100 m2, possuía 18 mil

válvulas, sendo capaz de realizar 4.500 operações por segundo. Foi desenvolvido por matemáticos da Universidade da

Pensilvânia, nos Estados Ungidos, que comemoravam sua velocidade de processamento (dock) de 100 kHz. Suas 30 toneladas

apresentavam 5 milhões de pontos de solda e consumiam 140 quilowatts. Esse computador não possuía monitor, nem teclado, ou

seja, o computador ao nascer não era interativo com o usuário.

Em 1951, depois de grandes avanços da computação, é apresentado pela Remington Rand o UNIVAC (Universal Automatic

Computer), primeira máquina a processar dados numéricos e alfabéticos. Iniciando seu funcionamento em 1952, o UNIVAC

armazenava 1.024 palavras de 44 bits com um clock de 1 MHz, bem menos do que uma miniagenda eletrônica encontrada hoje

nas bancas dos camelôs nas ruas das grandes cidades.

Depois de superar disputas internas a respeito do futuro dos computadores, a IBM resolve entrar nesse mercado. Lança, em

1953, o Defense Calculator, denominado também de IBM 701. Conseguia armazenar 4.096 palavras, superando o UNIVAC. Esses

grandes computadores eram conhecidos como mainframes.

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É importante notar que o computador só se tomou um veículo de comunicação quando se ligou a um monitor e um teclado.

Só assim o computador passou a interagir com o seu usuário. Outro passo decisivo foi a invenção do microprocessador, em 1971,

por Ted Hoff, permitindo multiplicar inúmeras vezes a capacidade de processamento das primeiras máquinas. Isso viabilizou a

redução do tamanho dos computadores e permitiu o surgimento dos microcomputadores. Antes disso, Gordon Moore, então diretor

de pesquisa e desenvolvimento da Fairchild Semiconductor, ao analisar a evolução dos chips de silício, acabou concluindo que o

poder de processamento dos computadores dobraria a cada 18 meses, sem alterar o seu custo. Essa afirmação foi escrita em

1965 e passou a ser conhecida como Lei de Moore, já que esclarece a intensa velocidade que a renovação dos computadores tem

adquirido desde 1959, com a invenção do transistor. As placas dos computadores são cada vez menores e o número de

operações possíveis cada vez maiores. Esta é a essência da descoberta de Moore.

Dois ingredientes ainda faltam para discutirmos a revolução informacional: a criação e popularização do microcomputador e

o surgimento da Internet. O salto para os microcomputadores foi dado por Steven Wozniak, engenheiro da Hewlett-Packard, e um

jovem da área de marketing, Steve Jobs. Após fundarem a Apple Computer na garagem de Wozniak, em abril de 1976, receberam

um financiamento de Mike Markkula, da Intel. Em 1978, criaram o Apple II, um microcomputador "caseiro", com monitor colorido e

drive para disquete. Alguns analistas acreditam que o estouro de vendas do Apple II deve ser creditado ao lançamento de uma

planilha de cálculo criada especialmente para aquele computador, o VisiCalc. Este software assegurou que escritórios e pequenas

empresas se interessassem imediatamente pelo novo e estranho computador. O irradiante sucesso da Apple levou à reação a

gigantesca IBM. Diz a lenda que a IBM havia ironizado a idéia de Jobs e Wozniak de vender computadores para pessoas comuns:

"Quem se interessaria por levar trambolhos de calcular para casa?". A história restante, todos conhecem mais ou menos bem. A

IBM faz um acordo com alguns jovens, entre eles o conhecido Bill Gates. Surge o IBM-PC, Personal Computer, que vai conter em

seu interior o MSSDOS, sistema operacional desenvolvido pela Microsoft. Estão postos os ingredientes para o computador se

tornar um utensílio essencial à vida das pessoas.

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A Internet

Mas e a rede mundial de computadores?

No final dos anos 70, o computador diminui de tamanho, aumenta constantemente sua capacidade de processar

informações e vai sendo absorvido em várias atividades econômicas, culturais, educacionais e até caseiras. Antes disso, em 1957,

um fato considerado essencial aliterou o desenvolvimento tecnológico no mundo. Em meio à chamada Guerra Fria, os soviéticos

dão um lance que parecia desequilibrar o jogo entre os dois sistemas, entre o mundo socialista e o capitalista. A União das

Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) surpreende a todos com o lançamento do Sputnik, primeiro satélite espacial. Naquele

momento, a superioridade tecnológica soviética aterrorizou a Casa Branca e os militares norte-americanos.

O presidente norte-americano Dwight Eisenhower cria, no mesmo ano, a Advannced Research Projects Agency (ARPA).

Seu objetivo: pesquisar e desenvolver projetos militares que recuperem a vanguarda tecnológica norte-americana. Nesse

processo, a ARPA articula a RAND Corporation (especializada em defesa) e ambas iniciam um estranho processo de contratação

de acadêmicos e cientistas, muitos dos quais ligados aos ideais pacifistas dos precursores da contracultura. Idéias consideradas

visionárias são absorvidas pelos militares em um momento de crise e de empenho máximo para superar o "inimigo vermelho".

Em 1962, a crise dos mísseis em Cuba quase levou o mundo à guerra nuclear. O braço-de-ferro entre norte-americanos e

soviéticos em torno da implantação de uma base de mísseis com ogivas nucleares a alguns quilômetros dos Estados Unidos, na

ilha comandada por Fidel Castro, acirrou o equilíbrio do terror, aumentando as possibilidades de um confronto nuclear.

Para evitar que as comunicações fossem interrompidas em um ataque com armas nucleares, a RAND Corporation chamou

o engenheiro Paul Baran, que produziu o relatório denominado Sobre a comunicação distribuída. A idéia de Baran era construir

uma rede que evitasse a existência de um centro e de uma única rota de comunicação. A comunicação seria feita por pacotes de

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informações enviadas de forma redundante por várias rotas, em uma rede em que todos os pontos se comunicam. Assim, se uma

bomba destruísse alguns pontos da rede, as informações continuariam a ser enviadas pela malha de comunicação intacta.

A despeito da desconfiança que tal idéia gerou nos engenheiros militares, outros fatos permitiram que ela prosperasse.

Como a ARPA deveria fomentar a pesquisa de ponta nas universidades e nos laboratórios norte-americanos, o uso da informática

era vital. O computador permitia compartilhar dados e informações complexas, mas o custo de implantação de mainframes em

todos os pontos do país era demasiadamente elevado. Assim, a rede de comutação de pacotes de informação começou a se

materializar. Sonhada por alguns, tais como Licklider, ex-pesquisador do Lincoln Lab do Instituto de Tecnologia de Massachussets,

que defendia a criação de uma rede intergaláctica de computadores, pensada e detalhada por outros especialistas, como Paul

Baran, Larry Roberts, Ivan Sutherland e Bob Taylor, ela tornasse realidade em 1968 com a formação da ARPANET, acrônimo de

ARPA Network.

A ARPANET, em 1969, consegue interligar quatro centros universitários dos Estados Unidos: Stanford, Berkeley, UCLA e

Utah. Estava surgindo a Internet, a partir de um projeto do Departamento de Estado norte-americano, cujo nascimento esteve

diretamente vinculado à Guerra Fria e ao temor de um ataque nuclear.

Até atingir todo o planeta, a Internet seguiu um longo caminho, passando por várias fases. Para ligar as diversas redes de

comunicação que utilizavam diferentes softwares e linguagens foi decisiva a criação dos protocolos de transferência de dados. Em

1974, Vinton Cerf e Bob Kahn escrevem o primeiro paper fundamentando o protocolo que permitiu a integração de todas as

diversas redes que se multiplicavam com o avanço e a disseminação da informática, o TCP/IP (Transmission Control Protocol /

Internet Protocol). Significa Protocolo de controle de transmissão / Protocolo de Internet. A partir disso, qualquer rede de

computadores poderia configurar o envio de informações naquele determinado padrão, o TCP/IP. Isso assegurou a conectividade,

ou seja, a ligação generalizada entre computadores e entre redes de computadores, mesmo utilizando softwares e máquinas

diferentes.

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A partir dos anos 90, ocorre a explosão das conexões à Internet. Antes, a rede era muito restrita aos norte-americanos.

Quando a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, National Science Foundation, em 1984, assumiu o gerenciamento

da rede criada pela ARPANET, menos de dez países estavam a ela conectados. Isso não significa que outras redes de

computador não existissem. A França começou a conectar todo o seu território em uma rede de videotexto, com terminais não

inteligentes, denominada Minitel, em 1981. O Brasil, nos anos 80, também experimentou a ligação de computadores e terminais de

modo muito semelhante ao modelo Minitel. Por outro lado, a ligação em uma única rede de todas as demais redes de computador

só se intensificou depois de 1989, com a queda do Muro de Berlim e com a destruição do bloco soviético. A Internet é apenas isso:

uma conexão mundial de todas as diferentes redes de computador.

Uma aplicação foi decisiva para a rápida popularização da Internet: o sistema de hipermídia para obter informações por

meio da rede conhecido como WORLD WIDE WEB, o hoje famoso www ou simplesmente Web. Inventado pelo Cern (Laboratório

Europeu de Física de Partículas), por iniciativa do pesquisador inglês Tim Berners-Lee, que queria criar um sistema de hipertexto

para uso interno do laboratório. A comunidade de internautas logo assumiu o novo invento. Em 1991, é conectado à rede o

primeiro servidor de Web. O sucesso foi total. Marc Andreesen, estudante de Ilinois, e seu amigo Eric Bina, em 1993, criaram o

navegador que permitiu a explosão da Web, o Mosaic. Hoje bilhões de páginas em hipertexto ocupam o espaço virtual da Internet.

Para navegar na Web todos precisam de um browser ou navegador, um programa que lê os hipertextos e os coloca graficamente

estruturados na tela do computador. A supremacia em relação ao browser foi inicialmente do Netscape e hoje é do Explorer da

Microsoft, que conseguiu monopolizar o mercado acoplando seu navegador ao sistema operacional Windows, que já dominava o

mercado. Ao comprar o Windows, a Microsoft empurrava o Explorer junto. Esta técnica empresarial é chamada de tática de

aprisionamento.

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Revolução informacional

Aqui recoloco a questão: quando começou a revolução das novas tecnologias da informação? Quais são seus resultados?

Que revolução é esta?

A revolução informacional se alastrou a partir dos anos 70 e 80, ganhando intensidade nos anos 90 com a propagação da

Internet, ou seja, da comunicação em rede por meio do computador.

Por que chamar esse processo de revolução? Porque a informatização penetrou na sociedade tal como a energia elétrica,

resultante da Segunda Revolução Industrial, reconfigurou a vida das cidades. O computador, ícone da nova revolução, ligado em

rede está alterando a relação das pessoas com o tempo e com o espaço. O computador ressuscitou a escrita após a supremacia

das mídias audiovisuais, principalmente após o império da comunicação televisiva. As redes informacionais permitem ampliar a

capacidade de pensar de modo inimaginável. A nova revolução tecnológica, como bem apontou Pierre Lévy, ampliou a inteligência

humana. Estamos falando de uma tecnologia que permite aumentar o armazenamento, o processamento e a análise de

informações, realizar bilhões de relações entre milhares de dados por segundo.

Enquanto a primeira e a segunda revoluções tecnológicas ampliaram a capacidade física e a precisão das atividades

humanas, esta revolução amplifica a mente. Eis o maior perigo de se chegar atrasado a ela. Essa revolução, exatamente por

fundar-se nas tecnologias da inteligência, amplia exponencialmente as diferenças na capacidade de tratar informações e

transformá-las em conhecimento.

Por isso essa revolução não apenas pode consolidar desigualdades sociais como também elevá-las, pois aprofunda o

distanciamento cognitivo entre aqueles que já convivem com ela e os que dela estão apartados.

Por outro lado, nada indica que o futuro dessa revolução tecnológica esteja previamente definido por alguma "mão invisível"

ou destino historicamente manifesto. A ambigüidade do processo em curso permite lutar por seu direcionamento. Sem luta, é

quase certo que o fosso entre infopobres e info-ricos se alargará. Tal distanciamento se dá não somente entre nações e regiões

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desenvolvidas e não desenvolvidas do planeta, mas também se alastra nas periferias dos países ricos, criando barreiras ainda

mais intransponíveis para a superação de suas carências.

Um fato recentemente divulgado mostra a força de quem domina a tecnologia. O PIB (Produto Interno Bruto) é o medidor do

tamanho da economia de uma região. A Califórnia é o estado nortecano, na costa do Pacífico, em que está situado o famoso Vale

do Silício, local em que se iniciou e ainda se processa a maior parte da Terceira Revolução Tecnológica, Vamos juntar os

ingredientes: o PIB da Califórnia atingiu 1,33 trilhão de dólares no ano 2000. Apenas quatro países têm uma economia maior que a

da Califórnia: os próprios Estados Unidos, Japão, Alemanha e Reino Unido. A França registrou um PIB menor que o da Califórnia,

1,28 trilhãc de dólares. O Brasil deve registrar um PIB em 410 bilhões de dólares, no mesmo período. Mesmo com as imprecisões

e oscilações cambiais, é extremamente grave c fato de uma região com a população do tamanho de São Paulo ter uma produção

três vezes maior que a brasileira. Isso fica mais grave ainda quando lembramos que o Brasil já teve o oitavo PIB do mundo.

As novas tecnologias e os frutos da revolução tecnológica tendem a ampliar c distanciamento entre ricos e pobres.

A "hieraquia de conexão”

Para Philippe Quéau, em seu texto Internet: I'hégémonie américaine est source d'inégalités, pour les régulateurs, à

desigualdade de conexão dos cidadãos entre os Estados Unidos e o resto de países se juntam as desigualdades tecnológicas entre países ricos e países em desenvolvimento. Poderíamos afirmar que o controle tecnológico reforça o controle político das principais definições da rede? Talvez. Os indícios são muitos. A Internet 2 - rede que nasceu para uso inicialmente exclusivo das universidades, para o desenvolvimento de pesquisas científicas, principalmente na área da medicina, de veiculação de imagens e de controle de máquinas remotas - surge sob o controle norte-americano. Recursos vultosos foram destinados pela gestão Clinton para organizar junto ao setor privado as principais linhas e equipamentos da Internet 2. Ligar-se à Internet 2 continua sendo ligar-se aos Estados Unidos. Uma junção de capital e superioridade tecnológica está garantindo a primazia política nas definições globais da rede, por meio do controle dos órgãos técnicos centrais da Internet.

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Gustavo Uns Ribeiro, em 1995, já havia alertado sobre a existência de uma hierarquia de conexão, na contramão dos discursos eufóricos da época que batizavam a rede quase como um Pnyx virtual do mundo contemporâneo - Pnyx era a colina onde os atenienses se reuniam em assembléia, no período grego clássico -, onde imperava a completa democracia.

“A Internet não é a imagem e semelhança de um mercado livre, Iiberal, sem controle ou propenso apenas à manipulação individual. Embora devêssemos explorar a idéia de um controle descentralizado, pode-se argumentar que a rede é controlada por uma 'hierarquia de conexão', cujo ponto mais alto localiza-se no Estado americano, na National Science Foundation ou em agências de segurança que poderão sempre exercer seu poder eletrônico."

Questões para debate:

Considerando os textos acima, que apontam as várias revoluções tecnológicas ocorridas ao longo da história da humanidade e

seus avanços significativos, analise as seguintes questões:

• Revolução tecnológica propicia igualdade social? Comente

• Como você analisa o acesso da população em geral aos bens de serviço do capital tecnológico?

• A Internet está acessível e disponível a todas as pessoas e organizações? comente sua resposta.

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Novos excluídos?

Quanto custa se conectar à sociedade da informação? Para acessar a Internet, a rede mundial de computadores, é preciso

pagar mensalmente um provedor de acesso e o gasto com a conta telefônica. Além disso, é preciso ter um computador que custa

mais de 1.000 reais. Em um país com quase um terço da sociedade abaixo da linha da pobreza, gastar algo em tomo de 40 reais

por mês pelo uso mínimo de conexão e conta telefônica é impossível para a maioria da população.

Essa é a nova face da exclusão social. Enquanto um jovem das camadas abastadas da sociedade tem acesso ao

ciberespaço e a todas as fontes de informação disponíveis em bilhões de sites espalhados pelo globo, o adolescente das camadas

pobres fica privado de interagir com os produtores de conteúdo, de observá-los, de questioná-los e de copiar seus arquivos. Para a

pessoa incluída na rede a navegação estimula a criatividade, permite realizar pesquisas sobre inúmeros temas e encontrar com

maior velocidade o resultado de sua busca. Quem está desconectado desconhece o oceano informacional, ficando impossibilitado

de encontrar uma informação básica, de descobrir novos temas, de despertar para novos interesses.

Os novos excluídos não conseguem se comunicar com a velocidade dos incluídos pela comunicação mediada por

computador. Ao contrário do que se afirmava, o e-mail (correio eletrônico) não afasta as pessoas. Sua rapidez quase instantânea e

a facilidade de envio, sem necessidade de deslocamento até um posto do correio, ampliaram o contato entre as pessoas,

solidificaram laços afetivos entre amigos distantes e têm permitido compartilhar conhecimentos obtidos em qualquer parte do

mundo.

As oportunidades dos incluídos na sociedade da informação são bem maiores do que as daqueles que vivem O apartheid

digital. Para se obter um emprego, cada vez mais será preciso ter alguma destreza no uso do computador. Com a ampliação da

comunicação em rede, além da informática básica será necessário conhecer bem a navegação e os recursos da Internet.

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A exclusão digital ocorre ao se privar as pessoas de três instrumentos básicos: o computador, a linha telefônica e o provedor

de acesso. O resultado disso é o analfabetismo digital, a pobreza e a lentidão comunicativa, o isolamento e o impedimento do

exercício da inteligência coletiva. Estes três resultados podem ser comparados aos estragos que a fome gera nos primeiros anos

de vida de uma criança. Por isso, não é correto classificar a exclusão digital como mera conseqüência da exclusão social.

Além de ser um veto cognitivo e um rompimento com a mais liberal das idéias de igualdade formal e de direito de

oportunidade, a exclusão digital impede que se reduza a exclusão social, uma vez que as principais atividades econômicas,

governamentais e boa parte da produção cultural da sociedade vão migrando para a rede, sendo praticadas e divulgadas por meio

da comunicação informacional. Estar fora da rede é ficar fora dos principais fluxos de informação. Desconhecer seus

procedimentos básicos é amargar a nova ignorância.

Como um excluído terá a mesma destreza no uso do computador, na navegação e na pesquisa na rede, na conversa em

um fórum de debates, na manipulação de um software, que um incluído? Quem obterá as melhores chances? Isso não significa

que o desemprego será eliminado quando todos souberem utilizar o potencial básico dos computadores e das redes de

comunicação. Sem dúvida alguma, é possível crer que com a maciça inclusão das pessoas na sociedade da informação teremos

uma explosão das possibilidades da cidadania. E quanto mais cidadãs forem as pessoas, mais conscientes serão das

necessidades de reinvenção da dinâmica social excludente e desigual.

O enfrentamento da exclusão digital tem aparecido como uma preocupação mundial, mas os números que a refletem estão

longe de ser alterados. Segundo o economista Jeremy Rifkin, no final do século XX, 65% da população mundial nunca haviam

dado um telefonema sequer e aproximadamente 40% não possuíam energia elétrica. É nesse cenário que a rede mundial de

computadores foi implantada e se disseminou. Nosso planeta é tão desigual que somente a rica ilha de Manhatttan, em Nova York,

possui mais linhas telefônicas que praticamente todo o continente africano.

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Os números da desigualdade

Os extremos da conectividade são gritantes. Os 24 países mais ricos do mundo integram a OCDE (Organização para a

Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), e apesar de abrigarem apenas 15 % da população da Terra concentram 71 % de

todas as linhas telefônicas. Mas a concentração e a desigualdade não ocorrem somente entre países ricos e pobres, dentro dos

pobres ou não-ricos temos discrepâncias também descomunais. Segundo os dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística), em 1996 a cidade de São Paulo possuía 26,5' telefones fixos por 100 habitantes, representando 41 % de todo o

tráfego telefônico do país.

Conforme dados preliminares do Censo 2000, divulgados pelo IBGE, o Brasil tem apenas entre 10 e 20 usuários de

informática por 100 mil habitantes, número considerado bem abaixo dos atuais padrões mundiais. No mapeamento do acesso à

Internet, a região Sudeste concentra 58% dos provedores de acesso brasileiros. Somente a capital paulista sedia 12% dos

provedores, seguida do Rio de Janeiro com 8%.

Em 1998, os países altamente industrializados concentravam mais de 88% dos usuários da Internet mundial, enquanto

representavam apenas 15% da população global. Esse quadro tem se alterado lentamente conforme a maioria dos países vai

aumentando o seu grau de conexão. Entretanto, os limites estruturais dos países pobres são cada vez mais nítidos. Se o

percentual das pessoas ligadas à Internet na China atingisse o do Canadá, o número de internautas chineses seria maior que toda

a população norte-americana.

No dia 25 de junho de 2001, a revista Internet Business divulgou uma pesquisa realizada em 27 países, incluindo América

do Norte, Europa, África, Ásia e América Latina, sobre o acesso à rede mundial de computadores no primeiro trimestre de 2001.

Os dados confirmam a estabilidade da exclusão digital: 41 % de todo o acesso mundial concentram-se nos Estados Unidos e no

Canadá. A Ásia, região mais populosa do planeta, detém apenas 20% dos acessos. Nossa América Latina registrou somente 4%.

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Carlos Afonso, do RITS (Rede de Informação para o Terceiro Setor), um dos pioneiros da Internet no Brasil, descreveu em seu

trabalho Internet no Brasil: o acesso para todos é possível? (publicado na série Policy Paper, nº26, em setembro de 2000, da

Fundação Friedrich Ebert/ILDES, São Paulo) o quadro de dificuldades para assegurar o acesso universal dos cidadãos à rede

mundial de computadores:

"Dos mais de cinco mil municípios brasileiros, menos de 300 (ou menos de 6%) contam com infra-estrutura

mínima necessária para que possam ser instalados serviços locais de acesso à Internet. Os cerca de cinco

milhões de usuários da Internet no Brasil são menos de 3% da população. O Brasil é de longe o pior

colocado em números per capita de usuários, computadores pessoais, linhas telefônicas e servidores

Internet (hosts) entre as nove maiores economias do mundo. Os circuitos que conectam os provedores de

serviços à Internet estão entre os mais caros do mundo, inviabilizando o pequeno provedor de serviços em

áreas menos ricas". (AFONSO, 2000, p. 12)

A décima Pesquisa Internet POP (disponível no site www.ibope.com.br). realizada de 14 a 27 de maio de 2001 pelo Instituto

Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), recolheu 15.400 entrevistas no Distrito Federal e nas principais regiões

metropolitanas do Brasil, buscando representar uma população de 38,8 milhões de pessoas. As regiões do levantamento foram:

São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza. A pesquisa demonstrou que 49%

dos usuários afirmam acessar a rede em casa, ante 37% dos usuários que acessam do trabalho. A conexão na casa de amigos e

parentes também apresenta um índice significativo, 27%, assim como a conexão a partir de escolas e universidades, 19%.

Nessas nove regiões desenvolvidas do país, apenas 20% dos moradores usam a web, incluindo os que afirmam utilizá-la

eventualmente. Comparando com a pesquisa anterior, realizada seis meses antes, nota-se uma melhora no acesso, já que a

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percentagem de conectados era ainda menor: 17%. Todavia, o crescimento aconteceu nas classes A e B - 46% dos integrantes

destas classes sociais estão utilizando a Internet, ante 41 % da pesquisa anterior. Entre os extratos mais pobres, o crescimento foi

bem menor: de três pontos percentuais na classe C e de apenas dois pontos nas classes D e E.

O crescimento da comunicação mediada por computador no Brasil não inclui no mesmo ritmo, nem mesmo nas regiões

mais desenvolvidas, todos os extratos sociais. A conectividade dos ricos é bem mais veloz. Assim, tudo indica que a inclusão

digital não será obra da expansão mercantil da Internet no Brasil. Algo precisa ser feito.

Questão:

1. A tecnologia digital está disponível a um preço acessível para a população em geral? Sim ou não?

Discuta com seus colegas e elabore um texto dissertativo.

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Por que a infoinclusão é estratégica?

É possível pensar a inclusão social a partir da inclusão digital? A inclusão digital seria uma preocupação relevante em um

país que ainda convive com a fome? Em um país que nunca realizou uma reforma agrária? Que convive com milhares de crianças

fora da escola? Que aceita um desemprego alarmante? Que não construiu um atendimento de saúde de fato universal? A inclusão

digital não seria um modismo?

Primeiro, é necessário entender que a revolução tecnológica em curso destinou à informação um lugar estratégico. A

sociedade é cada vez mais a sociedade da informação e os agrupamentos sociais que não souberem manipular, reunir,

desagregar, processar e analisar informações ficarão distantes da produção do conhecimento, estagnados ou vendo se agravar

sua condição de miséria. O acesso à rede é apenas um pequeno passo, embora vital, que precisa ser dado. Apesar de já ter se

tornado um lugar-comum, sempre é bom frisar que a informação somente gera conhecimento se for adequadamente tratada. É

preciso inserir as pessoas no dilúvio informacional das redes e orientá-las sobre como obter conhecimento. Como qualquer

navegador, somente após um período de introdução e de treinamento é que se obtêm as técnicas próprias para navegar sozinho e

não naufragar diante das marés e intempéries.

Segundo, a organização da economia e do trabalho no mundo rico será cada vez mais mediada pelo computador e pela

comunicação em rede. Portanto, todas as camadas da sociedade precisam se qualificar para acompanhar o desenvolvimento das

tecnologias intelectuais, pois é disso que tratamos quando falamos em inclusão na sociedade da informação. A pobreza não será

reduzida com cestas básicas, mas com a construção de coletivos sociais inteligentes, capazes de qualificar as pessoas para a

nova economia e para as novas formas de sociabilidade, permitindo que utilizem as ferramentas de compartilhamento de

conhecimento para exigir direitos, alargar a cidadania e melhorar as condições de vida.

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Terceiro, a proficiência em massa das pessoas para o uso da tecnologia da informação pode gerar a sinergia essencial para

o desenvolvimento sustentado do país. Quantos gênios da informática não estão escondidos pela ignorância e pelo apartheid

digital em nosso país? Quantas soluções criativas e tecnologicamente consistentes não encontraríamos se tivéssemos todos os

nossos jovens inseridos nas redes de comunicação? Hoje, apenas com as parcas minorias que atingem a universidade, já fomos

várias vezes campeões mundiais nas olimpíadas de matemática e já vencemos torneios universitários de robótica.

A sinergia - integração, auxílio mútuo e troca de conhecimentos e experiências - é uma das explicações que o sociólogo

espanhol Manuel Castells dá para o advento e desenvolvimento da Terceira Revolução Tecnológica ter ocorrido em uma reduzida

região do oeste dos Estados Unidos, o Vale do Silício. Muitas vezes foi em uma conversa de bar que o cientista encontrou a

hipótese ideal para solucionar o seu complexo problema. A inclusão digital maciça e a disseminação rápida do uso do computador

podem fermentar e potencializar as forças sinergéticas de que nosso país tanto necessita.

Em busca da riqueza

Pierre Lévy, estudioso da sociedade da informação e da cibercultura, apontou que "as performances industriais e comerciais

das companhias, das regiões, das grandes zonas geopolíticas, são intimamente correlacionadas a políticas de gestão do saber"

(Cibercultura. São Paulo, Editora 34, 1999, p. 175-76). Isso indica que o conhecimento e a constante geração de competências

são as principais fontes de riquezas das empresas, metrópoles e nações. É estratégico disseminar amplamente o acesso aos

instrumentos mais avançados das tecnologias da informação como elemento essencial de valorização do nosso espaço nacional.

O caminho proposto para reduzir e eliminar a miséria é partir em busca da riqueza. Tratar a redução da pobreza apenas como

política assistencial ou focalizada é, na sociedade da informação, como enxugar o gelo.

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Sem dúvida, devemos aprofundar um pouco mais estas considerações para não parecer que a tecnologia em si possui o

dom de retirar do processo de acumulação capitalista a permanente geração de desigualdades e injustiças. O saudoso professor

Milton Santos, grande geógrafo brasileiro, escreveu, junto com a professora Maria Laura Silveira, um importante alerta:

"A economia atual necessita de áreas contínuas, dotadas de infra-estruturas coletivas, unitárias, realmente indissociáveis quanto

ao seu uso produtivo. Mas esse equipamento chamado coletivo é, na verdade, feito para o serviço das empresas hegemônicas.

Construídas com dinheiro público, essas infra-estruturas aprofundam o uso seletivo do território, deixando excluída ou depreciada

a maior parte da economia e da população" (O Brasil: território e sociedade no início do século XXI. Rio de Janeiro, Record, 2001,

p. 140).

É necessário assegurar o acesso às camadas socialmente excluídas como estratégia fundamental de inclusão social. Mas

para que isso não tenha um resultado pífio torna-se indispensável a formulação de políticas públicas de orientação, educação não-

formal, proficiência tecnológica e de uso das novas tecnologias da informação para mudar a vida, ou seja, para fomentar

instrumentos ágeis para organizar reivindicações, realizar referendas e plebiscitos, lutar por prioridades orçamentárias, fiscalizar

governos e expor preocupações e necessidades coletivas.

Deve-se considerar que as ações de inclusão digital são importantes para a redução da miséria, rompendo a reprodução do

ciclo da ignorância e do atraso tecnológico, mas acabam favorecendo os grandes conglomerados da nova economia com uma

mão-de-obra capacitada, com experiência no uso das redes e com habilidade em informática básica, criando também enorme

contingente de consumidores de produtos de informática, hardware, software e serviços de manutenção.

Sendo assim, é justo cobrar dos conglomerados da nova economia a contrapartida do crescimento de seus lucros com a

prática e a manutenção da inclusão digital, já que serão beneficiários diretos dela. O que sucederá com o comércio eletrônico

quando crescer a presença na rede das camadas mais pobres? Uma pequena pista ocorreu recentemente em São Paulo. Ainda

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no primeiro semestre de 2001, o Grupo Silvio Santos decidiu financiar computadores com prestações mais acessíveis às pessoas

de baixa renda. Surpresos com as vendas de mais de 4.000 unidades diárias, o grupo suspendeu a promoção para se reestruturar,

uma vez que suas expectativas foram amplamente superadas e sua capacidade de entrega de produtos esbarrava em entraves

produtivos e logísticos. O que podemos concluir? As pessoas apartadas da sociedade da informação estão percebendo a

importância de sua inserção, buscando as menores brechas para não perderem os bits da história. O computador conectado à

Internet já é para as famílias uma esperança de um futuro melhor para seus filhos.

Externalídades negatívas

Aqui temos de tomar o devido cuidado para não acreditarmos em miragens. O fato de a indústria de hardware e software ser

a grande beneficiária da inclusão digital universal não significa que o mercado é capaz de enfrentar a exclusão digital, reduzindo

drasticamente o número de desconectados e info-pobres. Empiricamente isso não ocorreu nos Estados Unidos, país que enfrenta

a mais tempo a exclusão digital de suas camadas mais pobres e concentra o maior número de megaempresas que comandam a

produção de hardware e software no planeta.

Uma empresa está preocupada em lucrar, não em enfrentar problemas sociais, nem mesmo problemas macroeconômicos.

Uma empresa é uma unidade microeconômica com o olhar voltado para o lucro. Dito de outra forma: não é porque o aumento

generalizado da renda certamente aumentaria o consumo de manteiga que a indústria de laticínios iria se empenhar numa

campanha pelo aumento da renda pessoal dos brasileiros ou ainda distribuir parcelas significativas de seus lucros para aumentar a

renda dos extratos mais pauperizados. Tudo para vender mais manteiga no futuro, o que certamente ocorreria!

A inclusão digital não será uma externalidade positiva obtida com o crescimento da economia informacional, do

desenvolvimento comercial da Internet ou da explosão do comércio eletrônico. O conceito de externalidade nasceu no interior da

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corrente marginalista da economia, ainda no século XIX. Trata-se de um benefício causado por certa atividade econômica não

previsto em seu início e não incorporado em seu sistema de preços. Sem uma política de inclusão digital, tudo indica que a

informatização promovida pelo mercado dificilmente beneficia, na velocidade e na intensidade necessárias, o combate à

desigualdade de acesso e de incorporação das tecnologias da informação. Ao contrário, usando esta terminologia do liberalismo

econômico é possível afirmar que a concentração dessas tecnologias da inteligência nas elites da sociedade, em suas camadas

mais abastadas, nas regiões de maior riqueza, nos lugares que o professor Milton Santos denominava Região Concentrada, tem

gerado, extemalidades negativas.

O mercado conduzido pelo setor público, estatal e não-estatal, pode, sim, ser a fonte dos recursos para "internalizar as

extemalidades negativas", para reduzir a exclusão cognitiva que antes se dava apenas pelo apartheid dos letrados e dos iletrados

e, agora, assume a face da inclusão-exclusão digital. Ou seja, os interesses convergentes do mercado na inclusão digital são

muito genéricos, superficiais e impotentes. Tal como ocorrido na massificação da educação, a inclusão digital não será obra de

uma "mão invisível".

Uma última questão é decisiva para fundamentar o papel estratégico da inclusão digital. Uma política de inclusão digital

pode contribuir para desenvolver um mercado cativo para inovações e experimentos vitais, em software e hardware, para obtermos

maior autonomia estrutural na economia internacional. Somos cada vez mais importadores líquidos de tecnologias da informação e

de elementos essenciais às telecomunicações. De acordo com o IEDI (Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Industrial), só 13%

das exportações brasileiras de manufaturados são de produtos de alta tecnologia, ante 35% dos Estados Unidos, 32% da Coréia,

30% da Inglaterra. Nos setores dinâmicos da economia mundial, aqueles em que o crescimento das exportações ficou acima da

média internacional, a participação do Brasil é inferior à da Espanha, à do México e à da Índia. Uma política de inclusão digital

maciça deve estar aliada ao desenvolvimento e à solidificação dos segmentos nacionais da tecnologia da informação.

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A Alemanha possuía, em 1993, 121.705 pessoas ocupadas nas empresas com pesquisa e desenvolvimento (P&D). A

França possuía, em 1994, 55.857 pessoas nessa situação; o Japão, em 1995, empregava nesse setor 368.960 trabalhadores. Os

Estados Unidos, líderes isolados da Terceira Revolução Tecnológica, são o país que mais emprega pessoas em P&D: 540.700,

em 1994. Em termos absolutos, o estado de São Paulo possui mais pessoal de nível superior empregado em P&D do que a

Austrália e a Espanha, mas, se comparado ao nível de emprego industrial total, o indicador de intensidade de P&D australiano é o

dobro do brasileiro.

O distanciamento tecnológico entre ricos e pobres é evidente em todos os cenários observados. Se utilizarmos o coeficiente

de inventividade, a razão entre o número de solicitações de patentes por residentes no país e sua população, nos anos 90, tivemos

um coeficiente nacional em média de 4 pedidos por 100 mil habitantes. Esta média é bem inferior às do Canadá (10/ 100 mil), da

Itália (14/1 00 mil), dos Estados Unidos (47/1 00 mil), de Taiwan (139/ 100 mil) e da Suíça (563/1 00 mil).

O agravamento da desigualdade tecnológica na era da informação ocorre por fatores históricos, econômicos e políticos, mas

é sustentado pela exclusão do conjunto da população ao acesso às tecnologias e de seu desenvolvimento. Quanto maior o

número de iniciados e de alfabetizados tecnologicamente, maior será a sinergia indispensável à criatividade e à produção de

tecnologia, fundamental para a inserção autônoma do país no mundo globalizado. Além disso, para combater as velhas mazelas

sociais precisamos assentar nossa sociedade nas novas tecnologias.

Democracia eletrônica

"A idéia de que colocando computadores poderosos na mão dos cidadãos estamos a protegê-los das autoridades totalitárias traz à memória convicções antigas sobre o poder da tecnologia a serviço dos cidadãos. Como escreveu Langdon Winner (um autor de leitura obrigatória para qualquer revolucionário informático) no ensaio Mythinformation:

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“De todas as idéias políticas defendidas pelos entusiastas da informática, não há nenhuma mais pungente do que a crença no destino do computador como poderoso nivelador da sociedade moderna [...] Presumivelmente, o cidadão vulgar equipado com um microcomputador poderia assim contrariar a influência de grandes organizações baseadas no computador. Idéias deste gênero trazem à memória as crenças dos revolucionários do século XVIII, segundo os quais a entrega de armas de fogo aos cidadãos era essencial para a expulsão da autoridade entrincheirada. Na Revolução Americana, na Revolução Francesa, na Comuna de Paris e na Revolução Russa o papel do "povo armado" era um aspecto fundamental do programa revolucionário. Contudo, tal como a derrota militar da Com una de Paris demonstrou claramente, o fato de as forças populares estarem armadas pode não ser decisivo. Numa competição de força contra força, o opositor maior, mais sofisticado, mais impiedoso e melhor equipado consegue quase a vitória. Como tal, a disponibilidade de potência computacional a baixo custo poderá deslocar o limite que define a dimensão eletrônica da influência social, mas não tem necessariamente de alterar o equilíbrio de poderes. Dizer que um computador pessoal confere a um indivíduo um poder semelhante, digamos, ao da Agência Nacional de Segurança é dizer que um piloto de asa delta é adversário para a força aérea”.

O grande poder do conceito de democracia eletrônica reside no fato de as tendências das tecnologias de comunicação poderem

ajudar os cidadãos a acabar com o monopólio da sua atenção por parte dos poderes subjacentes ao paradigma da difusão - os donos das redes televisivas, associações de jornais e associações editoriais. A grande fraqueza do conceito de democracia eletrônica consiste em poder ser mais facilmente transformado num produto do que explicado. A comercialização e a mercadorização do discurso são apenas um dos graves problemas colocados pela sofisticação crescente dos meios de comunicação. A Rede, que funciona maravilhosamente como uma rede lateral, também pode ser usada como uma jaula invisível. A idéia de dirigentes políticos malignos controlarem uma rede desperta o receio de uma violação mais direta das liberdades.” (RHEINGOLD, Howard. A comunidade virtual. Lisboa, Gradiva, 1996, p. 348-49.)

Questão:

1. Considerando o exposto nestes textos, analise as seguintes posições:

Tecnologia acessível X capacitação Recursos disponíveis X tecnologia adequada

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O duplo combate à pobreza do conhecimento e a necessidade da alfabetização tecnológica O economista e jornalista Gilson Schwartz escreveu, em junho de 2000:

"A exclusão digital não é ficar sem computador ou telefone celular. É continuarmos incapazes de pensar, de criar e de organizar novas

formas, mais justas e dinâmicas, de produção e distribuição de riqueza simbólica e material" ("Exclusão digital entra na agenda econômica

mundial". Folha de S. Paulo, São Paulo, 18 jan. 2000).

Quando falamos em riqueza simbólica e pobreza do conhecimento precisamos antes falar dos instrumentos cognitivos de

obtenção do conhecimento, sem os quais este seria impossível. O bom domínio da língua e de sua forma culta é essencial para se

comunicar e para poder criar. O exercício da leitura emula a criatividade e fomenta processos mentais de reflexão cada vez mais

complexos, elevando assim a capacidade de pensar.

Falar em alfabetização tecnológica diante do analfabetismo funcional pode parecer um tanto equivocado. Não deveríamos

então concentrar recursos e tempo para romper as engrenagens que produzem analfabetos funcionais? Para combater o duplo

analfabetismo, o digital e o funcional, a saída não seria a informatização completa das escolas tal como a sugestão do Govemment

Leaders Conference, encontro ocorrido no primeiro semestre de 2001, em Seattle, sob o patrocínio da Microsoft? Sim e não.

Sim. Porque é necessário ter um plano de informatizar e conectar todas as escolas à Internet. Este plano deve buscar

formar os professores para o novo ambiente de ensino, evitando que os computadores fiquem ociosos por falta de competência

em utilizá-los como instrumento pedagógico ou simplesmente por não saber realizar seus procedimentos mais elementares. Na

primeira gestão Clinton-AI Gore, o governo norte-americano havia distribuído computadores para quase todas as escolas do país.

Não deu certo. Em muitas regiões as máquinas viraram sucata. Faltou uma política de requalificação dos professores e uma nova

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diretriz pedagógica que vislumbrasse a revolução tecnológica que já estava em curso. Em resumo, a inclusão digital passa

necessariamente pela escola e por sua transformação.

Não. A política de inclusão digital não pode se restringir à escola e ao ensino formal. Com o maior uso dos equipamentos

nas escolas, fica a pergunta: e quem não está na escola ou já se formou e não possui recursos para obter e manter uma linha

telefônica e um computador conectado à Internet?

Além da questão do acesso para enviar e receber seu correio eletrônico, para fiscalizar seu governo, para participar de uma lista

de discussão sobre um tema de seu agrado, para distribuir seu currículo em busca de um emprego, para discutir com seu mentor

da Cidade do Conhecimento, como será possível se manter atualizado diante de softwares e sites que estão em constante

evolução e mutação? A política de inclusão digital deve abrir outros espaços de acesso.

Por outro lado, há muito o que fazer nas escolas. a Censo Escolar 2000 mostrou que 82% das escolas de ensino médio no

Brasil têm biblioteca e conseguem atender 87% dos alunos. No ensino fundamental, somente 25% possuem bibliotecas,

atendendo 58% dos alunos. a país está convivendo com 42% das crianças sem acesso a uma diversidade mínima de livros para

apoiar sua formação escolar.

O Censo ainda esclareceu que somente 46% das escolas de segundo grau possuem laboratório de ciências, percentual que

cai para 7,3% no ensino fundamental. Temos laboratórios de informática em quase metade das escolas de ensino médio do país,

mas somente 34,8% têm acesso à Internet. No ensino fundamental, apenas 9% têm laboratório e só 6,7% das escolas acessam a

Internet.

Este quadro insuficiente de informatização e conexão das escolas deve ser enfrentado com prioridade. O governo deveria

destinar boa parte das verbas do FUST (Fundo de Universalização das Telecomunicações) para este fim. Por outro lado, é preciso

frisar que a maioria das competências de uma pessoa, obtidas no trabalho ou na escola, mesmo em nível superior, será

rapidamente superada. A renovação veloz e constante do conhecimento é um dos principais elementos que caracterizam a era da

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informação. Assim, também vai se alterando a natureza do trabalho em nossa sociedade. Transacionar conhecimento passa a ser

uma das principais habilidades requeridas pelos empreendimentos da nova economia e pela grande migração de empresas

tradicionais para a economia em rede.

O que é a Cidade do Conhecimento do IEA-USP

A Cidade do Conhecimento é uma rede de comunicação entre o mundo escolar e o mundo do trabalho criada pelo Instituto de Estudos

Avançados da Universidade de São Paulo (www.usp.br/iea/cidade). Criando redes nas quais ocorre a produção compartilhada e cooperativa de conhecimento entre esses dois mundos, sua missão é ampliar e melhorar as oportunidades de emprego no país por meio de tecnologias da informação e comunicação. Cada interação terá como resultado um conteúdo que ficará disponível na Biblioteca Digital da Universidade de São Paulo. Ao mesmo tempo, a Cidade será ela própria um campo de pesquisa sobre novas formas de produção de conhecimento e sobre o uso social das redes de informação, inclusive sobre a infra-estrutura, os softwares, os ambientes e culturas em que é possível construir projetos colaborativos. A Cidade é um projeto de pesquisa e desenvolvimento coordenado pelo professor Gilson Schwartz, jornalista, economista e sociólogo.

Educação e tecnologias intelectuais

A educação que cultiva a idéia do saber consolidado deve ser substituída pela que ensina e prepara a pessoa para o

aprendizado permanente. Agora a escola é apenas um pólo de orientação diante do dilúvio de informações gerado e

constantemente alimentado pela rede mundial de computadores.

A política educacional deve ser formulada para absorver e utilizar as tecnologias intelectuais que amplificaram a inteligência

humana e suas funções cognitivas. A memória foi ampliada pelos bancos de dados, pelos documentos em hipermídia e pelos

arquivos digitais. A imaginação teve nas tecnologias de simulação um enorme avanço. O raciocínio pode atingir complexidade

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inimaginável nos modelos matemáticos estocásticos e nos mecanismos de inteligência artificial. A pesquisa dá saltos com o saber

compartilhado entre cientistas espalhados pelo planeta (o Projeto Genoma é o exemplo mais destacado), e a dedução lógica e a

indução vão sendo secundarizadas pelas simulações de hipóteses com a realidade virtual.

O que está em jogo é o potencial de inteligência coletiva da sociedade. Não podemos aceitar um ensino que desconsidere

esta conjuntura e leve para as comunidades socialmente carentes a noção de um saber falsamente imóvel ou de pouca

mobilidade, uma formação tecnicista e mecanicista, típica da fase taylorista-fordista, centrada na linearidade e na escala piramidal,

enquanto as elites são formadas para navegar no espaço dos fluxos, encontrar informações que produzam conhecimento e

aprender continuamente a aprender e a pesquisar.

A idéia de ensino aberto ao jovem e à sua comunidade deve ser incorporada a qualquer programa de inclusão digital e

alfabetização tecnológica. O combate à exclusão não se resume ao ensino popular de informática ou a cursos rápidos de

montagem de computadores.

É necessário ir além. Uma pedagogia que incentive a aprendizagem personalizada a partir do interesse de cada um e ao

mesmo tempo viabilize a aprendizagem coletiva, a aprendizagem em rede e pela rede: este deve ser o espírito da alfabetização

tecnológica.

Orientar os percursos individuais e entender a educação como algo que não pode mais simplesmente ser definido com

antecedência. Educar não pode ser entendido como aquilo que se pratica dentro dos muros escolares. Educar é cada vez mais

mergulhar na fronteira virtual. Por isso precisamos de novos modelos de formação educacional em que os conhecimentos abertos

e contínuos precisam ser entendidos como singulares, vinculados a alguns objetivos e contextos, devendo ser reconhecidos como

pertencentes às pessoas e às suas comunidades. Compreender e identificar a origem da informação é essencial para a sua

transformação em conhecimento.

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O professor será cada vez mais um orientador indispensável, um coordenador de expedições em busca dos saberes

coletivos. Os grandes navegadores de outrora seriam hoje os exploradores do ciberespaço à procura de saberes e inovações. Por

isso, as linhas gerais de uma política de Inclusão Digital-Alfabetização Tecnológica devem superar o mero ensino da informática,

insuficiente para as necessidades de ampliação e consolidação da cidadania nas comunidades numa era da informação. O

manuseio, a elaboração e a compreensão dos softwares são instrumentos primários de uma política de inclusão e alfabetização

tecnológica que deve contemplar os seguintes elementos:

• A aprendizagem é um processo permanente e personalizado.

• Navegar na rede é uma forma de obtenção de informações que pode gerar conhecimento .

• É direito das comunidades obter a orientação presencial de seus jovens e adultos para refletir criticamente em um espaço

de saber flutuante, contínuo e permanentemente renovável.

• A aprendizagem em rede é cooperativa.

• Ao interagir, obtendo e gerando hipertextos, se está praticando e desenvolvendo uma inteligência coletiva.

• É fundamental reconhecer, enaltecer e disseminar pela rede os saberes desenvolvidos pela comunidade.

• Cada cidadã e cidadão deve buscar desenvolver na rede múltiplas competências.

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• É preciso assegurar à população o conhecimento básico da informática e incentivar o processo permanente de auto-

aprendizagem.

Questões:

1. Pobreza social significa pobreza intelectual? 2. A escola pode ser um instrumento da redução da exclusão social e/ou digital? Como?

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O direito de acesso é a nova face da liberdade de expressão

O Concise Oxford Dictionary, reunião dos termos mais empregados da língua inglesa, incluiu em sua oitava edição, em

1990, o verbo access (acessar). Esta constatação encontra-se no livro do economista Jeremy Rifkin, A Era do Acesso (São Paulo,

Makron Books, 2001, p. 12). Acessar é um dos termos mais utilizados na sociedade em rede. O acesso à comunicação mediada

por computador' tornou-se sinônimo de direito à comunicação.

Já na Revolução Francesa (1789), a liberdade de expressão só poderia existir se estivesse assegurada a liberdade de uso

do suporte que transmitia a informação. Assim, a liberdade de imprensa era a materialização da liberdade de expressão. Uma

estava intrinsecamente vinculada à outra. Separá-las seria como eliminar a essência de ambas.

Nas sociedades modernas, o acesso às tecnologias de reprodução de informações em larga escala era uma condição

democrática. Na sociedade da informação, a. defesa da inclusão digital é fundamental não somente por motivos econômicos ou de

empregabilidade, mas por razões político-sociais, principalmente para assegurar o direito inalienável à comunicação. Comunicar

na sociedade pós-moderna é poder interagir nas redes de informação.

Não é suficiente ter uma mente livre se nossas palavras não podem circular tal como as palavras de outros.

A maioria da população, ao ser privada do acesso à comunicação mediada por computador, está sendo simplesmente impedida de

se comunicar pelo meio mais ágil, completo e abrangente. O apartheid digital arrebenta uma liberdade formal básica do universo

liberal-democrático. Passam a existir dois tipos de cidadão, aquele que pode acessar instantaneamente o que os outros falam,

com eles podendo interagir, e aqueles que estão privados da velocidade de comunicação.

Entender o acesso à Internet também como um direito de compartilhar as redes de comunicação e informação é

fundamental para assegurar seu uso cultural, social e cidadão, ou seja, para superar os entendimentos de que a rede mundial de

computadores está destinada a ser um grande hipermercado virtual, recuperando o espírito inicial de parte de seus idealizadores.

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A diferença qualitativa da comunicação em rede de todas as formas anteriores está na interatividade. Esta característica é

poderosa e deve ser estimulada nas políticas de inclusão. A exploração da interatividade incentiva a criatividade, a curiosidade, o

conhecimento, a sociabilidade e até a criação de mais sites não comerciais em língua portuguesa, arejando e mantendo viva a

presença de nosso universo cultural na rede mundial de computadores.

As ferramentas interativas da rede podem aumentar a fiscalização democrática sobre governos - que, aliás, ainda usam

pouco as possibilidades tecnológicas de relacionamento mútuo cidadão-governo e governo-cidadão. O direito de acesso passa a

viabilizar também o direito de fiscalizar, cobrar e propor medidas aos poderes públicos. Pode até viabilizar o direito de votar pela

rede. Democracia na sociedade da informação deve incluir a democratização do acesso, que pode viabilizar a democracia

eletrônica.

Questões:

1. Você conhece alguma lei que regulamenta ou limita o uso da tecnologia digital?

2. Que mudanças seriam necessárias para normatizar e promover o acesso à tecnologia digital para as pessoas em geral?

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As propostas de inclusão digital

Alguns fatos chamam a atenção: o ex-presidente Bill Clinton veio ao Brasil, no segundo semestre de 2001, e escolheu fazer

uma palestra sobre a divisão digital, ou digital divide. Este termo inglês define o abismo ou o fosso que divide as pessoas que

possuem habilidades para lidar com computadores das não alfabetizadas digitalmente. A preocupação com a exclusão digital é

crescente nos discursos e encontros dos principais dirigentes políticos da Terra. Até um dos fundadores do Fórum de Davos, na

Suíça, Klaus Schwab, tem escrito sobre a importância da extensão da cidadania a partir das novas tecnologias da informação.

Como relatou o jornalista Clóvis Rossi, o próprio presidente do Banco Central brasileiro ficou sensibilizado, em Davos, com a

necessidade de utilizar intensivamente as tecnologias da informação nas escolas.

Pelo menos o discurso não tem separado nitidamente as forças políticas quando se trata de discutir a inclusão digital.

Direita, centro e esquerda, socialistas, neokeynesianos e neoliberais, todos têm concordado com a idéia da alfabetização digital

como prioridade para superar a pobreza. As divergências ideológicas se manifestam nas opções e prioridades da implementação

das propostas de universalização do acesso às tecnologias da inteligência.

Os professores Jorge Ruben Tapia e Renato Dalmazo discutindo a aplicação do conceito de serviço universal nas

telecomunicações, afirmaram em seu trabalho "O significado do serviço universal frente à liberalização das telecomunicações e à

Sociedade da informação" que o elemento definidor essencial "é o papel dos poderes públicos na determinação das escolhas que

definem os objetivos englobados pela noção de serviço público" (p. 84). As disputas sobre o papel do Estado, da sociedade e do

mercado bem como sobre escolhas tecnológicas mais ou menos amplas, tendem a recolocar a tensão entre os vários liberalismos

e os diversos focos de justiça social, ou seja, de distribuição equânime dos benefícios e ganhos da produção e da criação sociais.

O acesso à informática e aos computadores é o primeiro passo da inclusão digital. Inúmeras experiências têm sido

aplicadas em países ricos e pobres. A disseminação de laboratórios e salas de informática nas escolas e bibliotecas da rede

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pública já é uma realidade em quase todos os países. Contudo, não basta levar computadores para as escolas. É preciso discutir

seu uso didático-pedagógico e buscar incorporá-los ao processo de ensino e aprendizagem. Também é necessário formar

adequadamente professores capazes de ensinar informática para evitar a subutilização dos laboratórios. Em várias escolas

brasileiras ainda encontramos laboratórios de informática não utilizados por faIta de instrutores capacitados.

A idéia de abrir salas de informática para a comunidade não-escolar é uma proposta que começa a ser discutida em vários

centros urbanos. E uma forma de potencializar o uso de recursos escassos e relativamente caros para os países pobres ou em

desenvolvimento. Usar essas salas ou laboratórios nos fins de semana também é uma possibilidade importante de alfabetização

tecnológica da comunidade que vive nas proximidades das escolas.

Outra proposta de acesso à informática e à Internet é a constituição de pontos eletrônicos de presença em áreas de grande

fluxo de pessoas. Várias instituições, empresas e governos têm experimentado a instalação de to tens e quiosques com acesso à

rede ou a alguns serviços da rede. Totens são como caixas de banco 24 horas. O projeto mais abrangente desse tipo, até o

momento, é o dos Correios. Em seus totens é permitido acessar sites da web, obter um e-mail gratuito e até participar de chats, as

salas de bate-papo on-line. Isto é feito a partir de quiosques de acesso público à Internet equipados com computador, teclado e

mouse, implantados em várias agências dos Correios espalhadas pelo Brasil.

Outra experiência interessante de acesso ao e-mail por intermédio de totens é a do POP Banco, lançada em janeiro de 2001

na cidade de São Paulo. O POP Banco instala computador, impressora, leitor de código de barras, teclado, trackball, câmara e

microfone em uma caixa vertical, o totem, nas padarias em áreas da periferia das grandes cidades. Essas máquinas, além de

servirem para realizar pagamentos e tomar empréstimos de pequenas quantias, são utilizadas para o acesso restrito à Internet e a

uma caixa postal eletrônica. Junto ao e-mail normal o totem do POP Banco permite enviar mensagens com imagem e som.

O maior problema dos quiosques e totens é sua inadequação para o uso amplo da Internet. São pensados para permitir a

busca veloz de uma informação, o acesso rápido a um ou outro site e, principalmente, para ler e enviar e-mail. Em geral, são

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inadequados para a pesquisa e para o ensino-aprendizado. O usuário, na maioria das vezes, deve ficar de pé diante do totem ou

dentro do quiosque, exatamente para desestimular o uso do equipamento por um período mais longo.

Telecentros

A forma mais ampla de acesso físico ao computador e à Internet tem sido a dos telecentros. Esta experiência foi

amplamente empregada na Escandinávia e dali se espalhou para vários países do mundo. Um telecentro é um espaço físico em

que são alocados alguns computadores conectados à Internet para uso comunitário, em geral gratuito. São sinônimos de

telecentro os termos telecotage, centro comunitário de tecnologia, teletienda, oficina comunitária de comunicação, clube digital,

cabine pública, infocentro, entre outros. Os badalados cibercafés também são telecentros, mas em geral cobram pelo uso da

Internet e estão localizados em regiões mais nobres das cidades.

Existem telecentros dos mais variados tipos. Do ponto de vista de seu uso, existem aqueles que priorizam exclusivamente o

acesso, como, por exemplo, o On-Line Cidad@o, do Senac (Serviço Nacional do Comércio), e o Internet Livre, do SESC (Serviço

Social do Comércio); outros propõem usos múltiplos dos equipamentos, como o projeto Sampa.org, do Instituto Florestan

Fernandes, de São Paulo. Em relação ao financiamento da atividade, existem aqueles que buscam cobrar pequenas quantias da

comunidade para mantê-los e os que são sustentados por doações de empresas, tal como os telecentros geridos pelo CDI (Comitê

pela Democratização da Informática). Também existem aqueles mantidos por verbas públicas, como o Farol do Saber das

bibliotecas da Prefeitura de Curitiba ou os telecentros da Prefeitura de São Paulo do projeto e-cidadania. Uma outra categoria

reúne aqueles que tentam se viabilizar como empreendimentos sustentáveis, tal como a proposta da organização não

governamental Telecentros Brasil.

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Atualmente várias organizações estão se empenhando em enfrentar esse desafio. A ONG Global Partnerships, fundada em

Seattle, Washington, em 1993, auxilia as organizações que combatem a pobreza a tornarem-se auto-suficientes, superando a

dependência total de doações. Sua aposta está em aplicar recursos empresariais, habilidades e criatividade para construir

programas eficientes. A Global Partnerships acredita que as novas tecnologias podem ter um grande impacto no combate à

pobreza e na construção de ferramentas para ajudar os mais pobres a se libertar do circuito da exclusão. A idéia é que o cidadão

pobre aprenda a se ajudar, ou seja, se emancipe ao entrar no mundo da informação e do conhecimento. Apesar dos grandes

esforços, os resultados da Global Partnerships ainda são pequenos.

Uma experiência inovadora foi realizada em Ohio, Estados Unidos. Trata-se do programa chamado de Cybercamp. Durante

as férias escolares, dezenas de jovens e professores da zona rural, urbana e suburbana foram reunidos para aprender hardware e

software em um curso intensivo que culminou com a produção de unidades de multimídia.

A idéia era misturar pessoas de realidades distintas na tarefa comum de ensinar e aprender o que sabiam, tendo como pano

de fundo as tecnologias da informação. Quando terminam a estadia no Cybercamp, os jovens voltam para suas escolas e tornam-

se reprodutores da tecnologia que aprenderam. Assim, jovens ensinam jovens a penetrar na sociedade do conhecimento. Em três

verões, o Cybercamp já formou 260 jovens que se tornaram técnicos e estão auxiliando a implementação da tecnologia em regiões

de exclusão. De volta às escolas, os jovens que participaram do programa ganham mais confiança, sentem-se úteis e melhoram

seu desempenho escolar. No Brasil, o projeto Aprendiz (www.aprendiz.org.br) criado e coordenado pelo jornalista Gilberto

Dimenstein, desenvolve práticas semelhantes.

De volta à questão dos telecentros, é claro que as formas de sua gestão também são bastante diversificadas. A principal

diferença está na incorporação da sociedade nas decisões sobre o uso do equipamento. Por receberem forte influência do Partido

dos Trabalhadores (PT), tanto o Sampa.org como o projeto e-cidadania buscam o envolvimento da comunidade na definição das

diretrizes de funcionamento dos telecentros. O primeiro telecentro do projeto e-cidadania inaugurado na Cidade Tiradentes, zona

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Leste da capital paulista, apesar de ser da Prefeitura do Município, é dirigido por um Conselho Gestor eleito em assembléia pela

comunidade da região. Isso assegura que os representantes dos moradores, usuários do equipamento, fiscalizem, avaliem e

encontrem usos inovadores e úteis à comunidade local.

A experiência do Sampa.org é extremamente rica e se consolidou em uma área de grande carência na cidade de São

Paulo, o bairro do Capão Redondo, um dos berços do rap paulistano. O Sampa.org articula pontos eletrônicos de presença em

entidades representativas da comunidade, com dez computadores conectados à Internet em cada uma. Os monitores são

escolhidos pela comunidade, que possui um conselho diretivo da rede. O Instituto Adventista de Ensino (IAE), uma instituição

universitária, participa do projeto, assegurando a manutenção dos equipamentos e o treinamento de multiplicadores de

conhecimento nas comunidades. Além disso, o Sampa.org possui um Comitê Técnico integrado pelas empresas e instituições que

colaboram no projeto - entre elas estão a Microsoft, a 3COM, a Microtec. Este comitê busca fomentar e compartilhar inovações

tecnológicas para aplicar no combate à exclusão digital. O site do projeto utiliza uma tecnologia extremamente interativa e pode ser

acessado no endereço www.sampa.org .

Os telecentros estão em praticamente todo o mundo, da América do Norte à África e à América Latina. O Peru tem uma

experiência bastante extensa de implantação de telecentros e já existe uma comunidade virtual que congrega as experiências dos

telecentros, centrada principalmente na América Latina e no Caribe, conhecida como somos@telecentros (http:// www.tele-

centros.org). O International Development Research Centre (IDRC), sediado no Canadá, dá suporte para várias iniciativas de

inclusão digital.

A idéia de telecentros também está relatada como um dos instrumentos de inclusão digital no Livro Verde do Programa

Sociedade da Informação (ver o site www.socinfo.org.br). Este programa foi criado pelo Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT)

brasileiro na esteira de ações similares no mundo e visa agrupar esforços para alicerçar a inserção do país na era da informação.

O Livro Verde contém as metas do programa e é "uma súmula consolidada das possíveis aplicações de tecnologias da

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informação". Sua elaboração envolveu representantes do MCT, da iniciativa privada e das universidades. Mesmo não tendo

contemplado amplamente outras unidades da federação e as ONGs, o Livro Verde, no capítulo 3, denominado "Universalização de

serviços para a cidadania", reconhece que

"o desenvolvimento histórico da Internet no Brasil foi marcado, desde os seus primórdios no final da

década de 80, por estreita aliança entre o setor acadêmico e as ONGs, destacando-se a

cooperação entre a RNP, Rede Nacional de Pesquisa, e o Ibase, que culminou com o esforço de

abertura de serviços de Internet para todos os interessados, ocorrida em 1995".

O Livro Verde destacou o VivaRio, o CDI e a RITS como esforços fundamentais de disseminação da informática e da

Internet entre a população mais carente. O CDI é uma iniciativa pioneira de levar cursos de informática para favelas e bairros

pobres, unindo a iniciativa de voluntários e doações de equipamento de informática das empresas. A UNESCO (Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), a EXXON e a Fundação Starmedia firmaram uma parceria com o CDI

para conectar à Internet aproximadamente 130 comunidades brasileiras, distribuídas em 14 estados. Os telecentros do CDI

oferecem cursos de informática, tais como introdução ao sistema operacional Windows, programas de edição de texto e planilha

eletrônica, mas também desenvolvem dinâmicas que promovam a cidadania, a ecologia e os direitos humanos, por meio das

tecnologias da informação.

Encruzilhadas e dificuldades

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Em maio de 2001, o governo federal organizou uma Oficina de Inclusão Digital que reuniu várias entidades da sociedade

civil, empresas e órgãos estatais para debater o tema. Um documento preliminar contendo as diretrizes para o combate à exclusão

digital no país ficou disponível para receber críticas e sugestões no site www. inclusaodigital.org.br. Neste encontro ficou clara uma

série de encruzilhadas e dificuldades para a evolução da universalização das tecnologias da informação em nossa sociedade. A

participação do Instituto Florestan Fernandes, do Sampa.org, do CDI e da RITS foi decisiva para a organização do evento e para a

produção de um documento que espelhasse o mínimo de diversidade existente nas inúmeras iniciativas de inclusão digital, dentro

e fora do Estado.

Uma disputa que ganhará força no próximo período será pela definição dos recursos públicos para o financiamento dos

telecentros. Duas fontes são evidentes: o FUST (Fundo de Universalização de Serviços de Telecomunicações) e a Lei de

Informática. O FUST concentra recursos que as operadoras de telecomunicações são obrigadas, por lei, a utilizar para

universalizar as telecomunicações, assegurando que estes serviços cheguem onde não são rentáveis comercialmente. As ONGs,

coordenadas pela RITS, reivindicaram que os recursos do FUST fossem utilizados também para a implantação da Internet nas

comunidades socialmente excluídas e pudessem ser geridos pelas ONGs. Obviamente, as empresas operadoras preferem elas

mesmas definir onde aplicar os recursos do FUST, o que seria um absurdo. Recursos de universalização não devem servir para

operações de marketing ou para resolver problemas do capital. A gestão do FUST, hoje de responsabilidade da Anatel (Agência

Brasileira de Telecomunicações), precisa ser alterada. As diretrizes da aplicação de recursos, bem como a análise dos projetos de

universalização e sua fiscalização devem ficar a cargo da sociedade civil. As empresas não podem definir como aplicar o tributo,

que foi delas recolhido, devido à notória incapacidade do mercado em enfrentar problemas socioeconômicos. Além do mais, os

recursos do FUST não podem servir de moeda de troca política para aqueles que estão no governo federal, não devem servir a

uma nova modalidade da política de clientela, o coronelismo eletrônico. Também devemos respeitar o princípio federativo quando

tratamos de recursos públicos - e isto a atual gestão do FUST nem de longe pensa em assegurar.

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A Lei de Informática também pode se tornar uma fonte de recursos para o combate à exclusão digital. O maior empenho das

empresas a favor da aprovação da nova lei se deve, sem dúvida, à possibilidade que ela Ihes oferece de pagar menos tributos, o

que permite reduzir custos e aumentar a capacidade de competir. Todavia, a lei exige que as empresas beneficiadas apliquem

pelo menos 5% de seu faturamento bruto, no Brasil, em pesquisa e desenvolvimento. Por um lado, é pouco animador reconhecer

que é preciso recorrer à renúncia fiscal para exigir empenho das empresas na geração de tecnologia. Por outro, a lei abre uma

janela para as empresas de informática utilizarem tais recursos para a construção de telecentros, locais em que deverão

desenvolver ferramentas para a alfabetização tecnológica e para outros usos comunitários que auxiliem uma maior capacitação e

autonomia tecnológica do país.

Outras iniciativas de inclusão digital passam pelo financiamento subsidiado a equipamentos (computadores) e à conexão

(linhas telefônicas e provedores de acesso), pela construção de equipamentos. a preços populares - como o net-computer ou o

computador popular da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que será vendido a 250 dólares -, pelas propostas de

capilarização da infra-estrutura necessária à expansão da Internet em todo o território nacional. Em todas elas, é preciso assegurar

a atenção aos deficientes. Várias tecnologias permitem o uso da Internet pelos deficientes visuais, auditivos e motores. Muitas

dessas tecnologias estão disponíveis gratuitamente na própria rede.

A Rede Saci é uma organização que fornece soluções para facilitar a comunicação e a difusão de informações sobre a

deficiência em busca da inclusão social e do exercício da cidadania. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), em

tempos de paz estima-se que 10% da população de países do Terceiro Mundo sejam de portadores de deficiência. No Brasil, este

número seria de 16 milhões, mas pode ser maior devido aos nossos trágicos índices de acidentes de trânsito, de trabalho e de

violência urbana. A Rede Saci foi organizada e é mantida pela Coordenadoria Executiva de Cooperação Universitária e de

Atividades Especiais da Universidade de São Paulo (CECAE-USP), pela Rede Nacional de Pesquisa (RNP), pela Amankay e pelo

Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE-UFRJ).

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No site da Rede Saci (www.saci.org.br). é possível encontrar o KIT SACI, uma série de programas e ferramentas para os

portadores de deficiência se integrarem à sociedade da informação. Existem softwares que viabilizam a operação do

microcomputador por deficientes visuais, links para manuais e e-mails de técnicos que podem tirar qualquer dúvida sobre

instalação ou utilização dos programas. Também é possível encontrar uma versão compacta do DOSVOX, sistema composto por

60 programas e criado pelo NCE-UFRJ, e até o projeto Teclado Amigo, um dispositivo acoplado a qualquer parte móvel do corpo

do usuário para garantir a interação com o microcomputador.

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Inclusão digital: Liberdade, independência tecnológica e democratização da sociedade

Alguns acreditam que a adoção generalizada do software livre pode minorar a dependência tecnológica de países como o

Brasil. O que vem a ser o software livre? São programas abertos, ou seja, livres de restrição proprietária quanto a sua cessão,

alteração e distribuição. O Linux é um programa deste tipo e seu uso mundial vem crescendo, amplificado pelo l1!0vimento

mundial do software livre, cujo pólo dinâmico é a Free Software Foundation, ONG norte-americana.

Um programa aberto deve assegurar a todos o acesso irrestrito ao seu código-fonte, possibilitando a alteração de suas

características originais, seu aperfeiçoamento e sua adequação completa às necessidades dos usuários. Vários especialistas

defendem que, ao esconder o código-fonte, as empresas privam as pessoas de sua liberdade, uma vez que elas não podem

exercer seu direito de adaptação do programa a uma realidade ou vontade específica.

O código-fonte é o recurso preferencial utilizado pelo programador para modificar o programa. Sendo acessível a todos, a

maleabilidade do uso se intensificaria, junto com sua democratização. Os custos da aquisição desses programas também são bem

menores. A grande questão em geral apresentada contra o software livre é como uma empresa ganharia dinheiro produzindo

programas abertos. O software livre não é necessariamente um software gratuito. Várias empresas brasileiras adotaram o modelo

de distribuição gratuita de software e suporte pago. Seus lucros são maiores do que quando utilizavam o antigo modelo de

comercialização de software proprietário.

A essência do software livre reside em quatro liberdades que seus usuários devem exercer:

• Liberdade de executar o programa para qualquer propósito.

• Liberdade para estudar o programa e adaptá-la às suas próprias necessidades, ou seja, ter acesso ao seu código-fonte.

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• Liberdade de redistribuir suas cópias originais ou alteradas.

• Liberdade para aperfeiçoar o programa e liberá-lo para benefício da comunidade.

O patrono e maior teórico do movimento do software livre é O norte-americano Richard M. Stallman, presidente da Free

Software Foundation. Stallman trabalhou no laboratório de inteligência artificial do MIT, em 1971. Até aquela época, os pro-

gramadores trocavam seus códigos-fonte livremente. A disseminação da informática como elemento essencial das atividades

econômicas e políticas gerou a completa incorporação da dinâmica capitalista no interior das relações daqueles que a criavam. As

empresas foram assumindo cada vez mais a tecnologia fechada. Stallman sentiu que era necessário criar alguns sistemas que

permitissem aos usuários sua modificação, fundando assim o movimento do software livre. Também para Stallman não é correto

confundir software gratuito com livre. Por outro lado, o movimento cresceu na onda antimonopolista, contra as megaempresas de

software fechados, com a distribuição gratuita das ferramentas básicas e dos principais programas.

Do ponto de vista do setor público, a adoção do software livre traz a vantagem de economizar quantias vultosas com o

pagamento de licenças de programas proprietários. Além disso, pode permitir a melhor formatação e configuração dos softwares

aos interesses da administração. A desvantagem inicial estaria na necessidade de treinamento dos usuários e no custo de

desenvolvimento de ferramentas adequadas. A gestão petista na Procerg, empresa de processamento de dados do Rio Grande do

Sul, tem se empenhado com sucesso na disseminação do uso de software livre na administração pública gaúcha, apesar de essa

iniciativa ainda ser recente. Outra iniciativa importante é o projeto de lei nº. 226, de 1999, do deputado federal Walter Pinheiro (PT-

BA), que, caso aprovado, levará toda a administração pública brasileira a utilizar preferencialmente programas abertos.

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O projeto e-cidadania de inclusão digital da Prefeitura de São Paulo implantou em seu primeiro telecentro, no bairro Cidade

Tiradentes, os dois sistemas operacionais, Windows e Linux, em cada um dos computadores. A idéia é vincular a inclusão digital à

possibilidade de escolha do usuário e à realização do debate sobre os softwares proprietários. Os planos de inclusão digital não

podem ser programas de adesão compulsória a softwares proprietários. O poder público e as entidades têm a obrigação de

informar o que é o software livre e assegurar a liberdade de escolha às pessoas. Do contrário, a inclusão digital servirá como um

fator a mais para a formação de usuários aprisionados a um grupo empresarial global, treinados com recursos públicos.

Não devemos abrir mão de buscar uma inserção tecnológica própria no cenário mundial. O simples fato de desenvolver

softwares livres é um elemento de afirmação de nossa cidadania, de nossa inteligência coletiva, de redução da dependência

tecnológica e do pagamento de royalties ao Primeiro Mundo.

Democratização da sociedade

As várias iniciativas de inclusão digital podem confluir para a construção de uma gigantesca rede pública de comunicação,

principalmente pela construção dos telecentros na periferia das cidades. Esta malha de grande capilaridade permitirá viabilizar os

experimentos de orçamento participativo e as eleições eletrônicas para os conselhos municipais (da criança e do adolescente, do

idoso, dos jovens etc.).

Quanto mais telecentros instalados, maior será a possibilidade de envolvimento direto da população nas definições

essenciais do gasto público. As pessoas poderão ser chamadas a acompanhar os fóruns eletrônicos sobre a alocação de recursos

das várias esferas de governo. Também poderão votar eletronicamente nas prioridades que defendem.

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O acompanhamento da execução orçamentária também ficará mais próximo do cidadão, uma vez que ele terá acesso

instantâneo a essas informações, que estarão disponíveis nos sites governamentais e nos portais das ONGs. A rede pública de

comunicação ampliará a transparência da gestão estatal e possibilitará um maior controle público e popular sobre os governos.

É estratégica para a defesa de uma cidadania ativa a multiplicação dos telecentros em todas as cidades e áreas de

exclusão social. O telecentro, ou Ponto Eletrônico de Presença, é o elo que une o combate à exclusão digital e a luta pela

democratização profunda do Estado e da sociedade. As tecnologias de informação são poderosos instrumentos que os

movimentos e os indivíduos possuem para alcançar esse fim.

Questões:

1. Na sua opinião existe vontade política dos governos para promover a cultura do acesso à tecnologia digital?

2. É uma tarefa só de governos ou a sociedade também pode participar?

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Conclusão: por uma política pública de inclusão digital O uso das tecnologias da informação para dar maior transparência e agilidade à gestão pública tem se disseminado pelo

planeta. Os governos eletrônicos começam a ser implantados em praticamente todos os continentes, até mesmo em regiões de

baixa conectividade, como o Brasil. A Lei de Responsabilidade Fiscal, aprovada em 2000, exige que o poder público dê trans-

parência à gestão do dinheiro público e à execução orçamentária. Para tanto, esta lei considerou a divulgação das informações por

meio eletrônico como um dos instrumentos aceitáveis e desejáveis de cumprimento da norma legal. Divulgar informações

imprescindíveis para a sociedade pela Internet é muito mais rápido e barato; além disso as possibilidades de interatividade com os

cidadãos são bem maiores do que em qualquer outro veículo de comunicação. Estas vantagens têm levado os serviços públicos

também para o ciberespaço, permitindo seu acesso remotamente, 24 horas por dia, 7 dias por semana.

Contraditoriamente, esses esforços podem acabar elevando a desigualdade social e assegurando um serviço público mais

completo e veloz somente para os segmentos mais privilegiados da sociedade. Seria completamente injusto e pouco eficaz or-

ganizar o governo eletrônico sem, paralelamente, buscar a inserção na sociedade em rede das camadas excluídas da população.

Governos eletrônicos serão apenas reprodutores de privilégios se não colocarem no centro de sua proposta a inclusão das

camadas mais pauperizadas.

Questão:

1. Como a cultura de acesso à tecnologia digital pode contribuir para promover a inclusão social?

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1999. _______. O poder da identidade (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v.2). São Paulo, Paz e Terra, 1999. _______. O fim do milênio (A era da informação: economia, sociedade e cultura; v.3). São Paulo, Paz e Terra, 1999. CHESNAIS, François. A mundialização do capital. São Paulo, Xamã, 1996. DANTAS, Marcos. A lógica do capital informação. Rio

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Sites importantes

• Comitê Gestor da Internet no Brasil: www.cg.org.br

• Programa Sociedade da Informação: www.socinfo.org.br

• Projeto E-Cidadania: www.prefeitura.sp.gov.br

• Projeto On-Line Cidadão: www.onlinecidadao.com.br

• Projeto Internet Livre: www.sescsp.com.br

• Projeto Aprendiz: www.aprendiz.org.br

• CDI: www.cdi.org.br

• Rede Saci: www.saci.org.br

• Acceso Universal: www.telecentro.cll

• Fundação Chasquinet do Equador: www.chasquinet.org/

• RITS: www.rits.org.br

• SAMPA.ORG: www.sampa.org

• Telecentros Brasil: www.regency.org/telecentro.htm

• 10' Internet Pop: www.ibope.com.br/digitallprodutoslinternetpop/lOpop.htm

• Projeto Kidlink: www.kidlink.org/brasil

• SOMOS@TELECENTROS - Red de Telecentros en América Latina y El Caribe: www.tele-centros.org

• Cabines Públicas - Peru: http://cabinas.rcp.net.pe/

• União Internacional das Telecomunicações: www.itu.int/

• International Development Research Centre - IDRC: www.idrc.ca/

• Free Software Foundation: www.gnu.org/Anatel - FUST: www.anatel.gov.br

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Tabelas

As tabelas abaixo foram extraídas do Livro Verde da Sociedade da Informação e estão disponíveis no site www.socinfo.org.br .

Penetração da Internet X Custo de Acesso

Usuários e Hosts Internet em países latino-americanos

Países Usuários (milhares)

Hosts (p/1 O mil hab.)

Pop. (milhões)

Pop.

Urbana (%)

Telefones Fixos (linhas /100 hab.\

PC (por mil hab.)

Usuários I Pop. (%)

Uruquai 10 49,7 3 91 23.2 21.9 3.33

Chile 45 15,4 15 84 18,0 54.1 3,00

Costa Rica 6 8,1 3 50 16,9' 2,17

BRASIL 3.30 9,9 164 80 10,71 26,3 2,01

Colômbia 40 2,9 40 74 14,8 33,4 1,00

Arqentina 35 15,9 36 89 19,1í 39,2 0,97

México 90 8,8 94 74 9,61 37,3 0,96

Panamá 2 2,8 3 56 13,4 0,83

Venezuela 17 2,9 23 86 11,61 36,6 0,74

R. Dominicana 5 6,0 8 63 8.8, 0,63

Peru 7 1,5 24 72 6,8 12,3 0,31

ParaCjuai 12 1,6 5 54 4,3 0,24

Nicaráqua 12 1,4 5 63 2,9 0,24

Equador 25 1,0 12 60 7,5 13,0 0,21

Bolívia 15 0,6 8 62 6,9, 0,19

Guatemala 18 1,0 11 40 4,1 3,0 0,16

EI Salvador 9 1,1 6 46 5,Ôi 0,15

Cuba 12 0,1 11 77 3,41 0,11

Honduras 5 0,2 6 45 3.7! 0,08

Haiti 3 0,0 7 33 0,8i 0,04

Totais e médias 5996 6,5 484 65 9,6' 27,7 0,90

Fonte: Compilação de dados do Banco Mundial, 1999, e da NUA Internet, 1999, conforme AFO:\SO, CarIos AIberto fi aI.

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Usuários e Hosts Internet nas dez maiores economias (por PIB)

Dez maiores Usuários Hasts(p/lO Papo Pop. Urbana Telefones I PC

Usuários / economias (milhares)mil hab.) Fixos (Iinhasl (p/ mil hab.) Pop.(%)

(porPIB) (milhões) (%)

p/100 hab.)

EUA 110.000 975,9 268 77 64,4 406.7 41.0 Canadá 12.000 336,0 30 77 61,0 271,e 40,0

Inglaterra 14.000 201.8 59 89 54,0 242, 23,7

!Japão 16.000 140,0 126 78 47,9 202,4 12,7 IAlemanha 10.000 140.6 82 87 55,0 255,5 12,2

IFrança 4.700 73,3 59 75 57,5 174,4 7,97 Itál,a 4.200 55,7 58 67 44,7 113,e 7,24 Espanha 2.800 61,9 39 77 40,3 122,1 718 BRASIL 3,300 9,9 164 80 10,7 26,3 2,01 China

sem Hono·Konol 1.700 0.2 1227 32 5,6 6,e 0,14

Totais e médias 178,700 199,5 2112 73,9 44,1 182, 15,4 Totais e médias

excluindo China 177.000 221,7 885 786 48,4 201,5 17,le

Fonte: Compilação de dado, do Banco Mundial, 1999, e da NUA Internet, 1999, conforme AFONSO, CarIos Alberto fi aI.

As duas tabelas seguintes foram extraídas da pesquisa "Cidades Virtuais na América Latina", realizada pela Faculdade Cásper Líbero, Instituto Florestan Fernandes e

ILDES (Instituto Latino-Americano de Desenvolvimento Econômico e Social - Fundação Friedrich Ebert), sobre a presença dos municípios latino-americanos na Internet,

realizada entre junho e outubro de 2000.

Presença dos municípios latino-americanos na rede mundial de computadores

País Colocação relativa

às Prefeituras Nº de Sites

municipais Colocação relativa

aos Hosts Nº de Hosts

BRASIL 1 352 1 446.444

Argentina 2 77 3 142.470

México 3 53 2 404.873

Chile 4 39 5 40.190

Colombia 5 29 4 40.565

Venezuela 6 8 7 14.281

UruQuai 7 5 6 25.385

Bolívia 8 4 11 948

Equador 8 4 9 1922

Honduras 9 3 S/I" S/I

Peru 10 2 8 9230

ParaQuai 11 1 10 1660

Panamá 11 1 S/I S/I

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País Número de sites

municipais %

Total de municípios

Arqentina 77 6,5 1.175

BRASIL 352 6,3 5.507

México 53 2,1 2.427

Fontes: Subsccrelaria de Programación Regional, Argentina, Centro Nacional de Dcsarrollo Municipal, México. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Brasil.

A tabela abaixo é mais significativa: mostra que o Brasil, apesar de estar entre as dez maiores economias pelo critério do Banco Mundial, que considera o PIE, ocupa

posição muito tímida bem distante da do grupo de países economicamente mais avançados - com relação aos percentuais de hosts por usuários e de usuários pela

população.

Instalação e densidade de linhas no Brasil Serviço telefônico fixo comutado (STFC) e serviço móvel celular (SMC)

Ano Linhas STFC

(milhões) Linhas SMC

(milhões) Linhas STFC (leis. P/1oo hab.)

Linhas SMC (tels. p/1oo hab.)

1998 22,1 7,4 13,6 4,5 1999 27,8 15,0 16,8 9,1 2000 35,0 21,5 20,9 12,9 2001 40,5 29,2 23,9 17.2 2002 45,1 37,5 26,3 21,9 2003 49,6 45,5 28,5 26,2

Fonte: Anatel, Paste 2000,

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