antologia poética - jorge de lima

28

Upload: cosac-naify

Post on 02-Apr-2016

256 views

Category:

Documents


7 download

DESCRIPTION

Trecho do livro "Antologia poética". Jorge de Lima (1893-1953) é um dos principais nomes da poesia brasileira. Iniciou sua trajetória com versos de inspiração parnasiana e simbolista, foi um nome decisivo no modernismo e enveredou depois para uma poética de preocupações religiosas. Essa nova antologia traz uma amostra do melhor de cada fase do poeta, escolhidos por Fábio de Souza Andrade, um de seus mais renomados estudiosos, e serve de porta de entrada para todos os que desejam conhecer essa figura tão singular da poesia brasileira.

TRANSCRIPT

Page 1: Antologia poética - Jorge de Lima
Page 2: Antologia poética - Jorge de Lima
Page 3: Antologia poética - Jorge de Lima

1

antologia poética

jorge de lima

Page 4: Antologia poética - Jorge de Lima
Page 5: Antologia poética - Jorge de Lima
Page 6: Antologia poética - Jorge de Lima
Page 7: Antologia poética - Jorge de Lima

Seleção e posfácio fábio de souza andrade

Page 8: Antologia poética - Jorge de Lima

15 poemas da infância

17 Eu queria saber versos

17 Minha madrinha Nossa Senhora

18 Benedito criado de meu pai

18 Tenho pena dos pobres, dos aleijados, dos velhos

18 O dia de hoje é o dia de anos

19 A serra de minha terra

19 Vi um menino cego

19 Moro em frente da Igreja

21 xiv alexandrinos

23 O acendedor de lampiões

25 poemas

27 O mundo do menino impossível

31 Bahia de Todos os Santos

37 g.w.b.r.

47 Mundaú

49 Painel de Nuno Gonçalves

54 Rio de São Francisco

62 Boneca de pano

63 Pai João

65 Santa Dica

Page 9: Antologia poética - Jorge de Lima

69 novos poemas

71 Essa negra Fulô

75 Serra da Barriga

77 Comidas

80 Inverno

83 Madorna de Iaiá

85 Santa Rita Durão

87 Joaquina Maluca

88 Flos sanctorum

89 Cantigas

91 poemas escolhidos

93 Nordeste

94 Arranha-céu

95 Balada

96 Poema relativo

98 Felicidade

100 Poema do nadador

101 poemas negros

103 Passarinho cantando

105 Exu comeu tarubá

106 Ancila negra

108 Janaína

Page 10: Antologia poética - Jorge de Lima

110 Xangô

113 Pra donde que você me leva

115 tempo e eternidade

117 Distribuição da poesia

119 A noite desabou sobre o cais

121 a túnica inconsútil

123 Onde está o mar?

125 O manto do poeta

127 O nome da musa

129 O grande desastre aéreo de ontem

130 Duas meninas de tranças pretas

132 A ave

135 anunciação e encontro de mira-celi

137 O inesperado ser começou a desenrolar as suas faixas...

139 Tu és, ó Mira-Celi, a repercutida e o laitmotivo

141 Acontece muitas vezes que a velha terra fendida de sepulturas

142 Mira-Celi é testemunha de que fui construído

143 Em tua constelação, várias de tuas irmãs não existem mais,

144 Mira-Celi e o herói

145 O avô tinha sido um ancião convencional,

146 Acontece que uma face

Page 11: Antologia poética - Jorge de Lima

149 Mas acontece que fico muitas vezes

150 Sei que esperavas desde o Início

153 livro de sonetos

155 Os seus enfeites,

156 Sei teu grito profundo, e não me animo

157 Olhos, olhos de boi pendidos vertem

158 E são setas do céu (Ó sagitário!).

159 Se essa estrela de absinto desabar

160 A torre de marfim, a torre alada,

161 Sinto-me salivado pelo Verbo,

162 Depois vi o sangue coagular-se em letras

163 Não procureis qualquer nexo naquilo

164 O que há sob essa máscara é um pranto seco,

165 Como sombra invasora e transbordada

166 Quando tu dormes vêm as albergálias

167 Dormes. Surgem de ti coisas pressagas.

168 Nas noites enluaradas cabeleiras

169 Nas noites enluaradas as olheiras

170 Em que distância de hoje te modulo

171 Era louco e era poeta o sepultado.

172 Essa pavana é para uma defunta

173 Este é o marinho e primitivo galo

Page 12: Antologia poética - Jorge de Lima

175 invenção de orfeu

177 canto i – fundação da ilha

177 Um barão assinalado

178 A ilha ninguém achou

179 E depois das infensas geografias

181 A proa é que é,

182 Na oscilação das noites e dos dias,

185 Há umas coisas parindo, ninguém sabe

186 A garupa da vaca era palustre e bela,

186 Desse leite profundo emergido do sonho

187 O céu jamais me dê a tentação funesta

189 Pra unidade deste poema,

192 Abrigado por trás de armaduras e esgares,

198 Sonâmbulas as flores

199 Há uns eclipses, há; e há outros casos:

200 Inda meninos, íamos com febre

200 Esquecidos dos donos, nós os bastos,

215 Nessa geografia, eis o pantomimo.

217 canto ii – subsolo e supersolo

217 É preciso falar-se das criaturas,

217 Vinha boiando o corpo adolescente,

218 Se me vires inúmero, através

220 Neste sepulcro de secreta lava

Page 13: Antologia poética - Jorge de Lima

220 Ó Memória dos mares, Taprobana,

222 A mão de Orfeu, enorme destra

223 Existe um turno duplo (vos conjuro)

224 Os silêncios gritantes e os sóis mudos

238 Os jovens mortos tocam campainhas

239 Estavas linda Inês posta em repouso

243 canto iii – poemas relativos

243 Agora, escutai-me

243 Vós não viveis sozinhos,

245 Uma janela aberta

245 A sextina começa

247 A barba tão preta que era azul,

247 Contemplar o jardim além do odor

248 canto iv – as aparições

248 Um monstro flui nesse poema

249 Era um cavalo todo feito em chamas

249 Qual um fagote inúmero a ave aquática

250 Era um cavalo todo feito em lavas

251 Entre livro e cavalo o homem instalou

252 Vinde ó alma das coisas, evidências,

263 Intento contar logo

269 Nasce do suor da febre uma alimária

270 Eram harpas com asas as harpias

Page 14: Antologia poética - Jorge de Lima

271 canto v – poemas da vicissitude

271 Que noite se condensa e que muralha

275 Há um céu áspero no colar de um sol,

276 Dos porões vem um cheiro à maresia

277 A estepe e a noite se deitaram juntas,

278 Os soluços da noite procuraram

280 canto vi – canto da desaparição

280 Aqui é o fim do mundo, aqui é o fim do mundo

280 Heróis existem os como:

282 Nem as boninas e outras flores nem

283 Um momento há na vida, de hora nula,

284 canto vii – audição de orfeu

284 A linguagem

284 Diante do que entrevi resolvi desdenhar-me

288 Maduro pelos dias, vi-me em ilha,

291 canto viii – biografia

291 [...] Nesse poema informe e sem balizas

304 canto ix – permanência de inês

304 Estavas, linda Inês, nunca em sossego

Page 15: Antologia poética - Jorge de Lima

311 canto x – missão e promissão

311 Águas há subcelestes produzidas

313 Estava decorrido. E o remo leva-me.

318 Não a vaga palavra, corrutela

319 Pra conhecer a calma que há na vida

319 Agora tudo findo em guerra, em corvo,

329 Eis outro ser: (O sopro das cavernas

337 Ouvi já bastam: chuvas e cincerros,

342 Graças a vós ou não latentes causas,

354 No momento de crer,

357 arquivo

363 posfácio fábio de souza andrade

377 índice de primeiros versos

Page 16: Antologia poética - Jorge de Lima

poemas da infância

Page 17: Antologia poética - Jorge de Lima

17po

emas d

a infân

cia

Eu queria saber versos como o meu amigo Lau. Nunca vi versos mais belos como ele sabe lá.

Trocava até meu carneiro meu velocípede sim sem saber os seus versos meu Pai que será de mim?

Meu pai me bote na escola de meu velho amigo Lau quero aprender com ele versos e não b, a, bá!!!

(sete anos de idade)

Minha madrinha Nossa Senhora Está admirada de mim. Está me olhando agora Os olhos virados para mim.

(oito anos de idade)

Page 18: Antologia poética - Jorge de Lima

18po

emas d

a infân

cia

Benedito criado de meu pai A ele chamam diabo Por ser preto esse rapaz Mas Benedito é meu amigo Por isto eu o bendigo E lhe digo muito ancho Benedito você é um anjo.

(oito anos de idade)

Tenho pena dos pobres, dos aleijados, dos velhos Tenho pena do louco Neco Vicente E da Lua sozinha no céu.

(nove anos de idade)

O dia de hoje é o dia de anos Da bela professora D. Moça Oh! Colegas alagoanos e pernambucanos Eu peço hoje que me ouçam. D. Moça é uma santa santa viva Seu marido João Marinho é S. José. Colegas neste dia de hoje tenham fé.

(dez anos de idade)

Page 19: Antologia poética - Jorge de Lima

19po

emas d

a infân

cia

A serra de minha terra Sabe histórias de trancoso E histórias da negra guerra.

Quando eu for moço Irei lá para ver de cima O sobrado da família Lima.

(dez anos de idade)

Vi um menino cego Chorei por este menino. Minha tristeza não nego Vi um menino cego Choro por este menino.

(dez anos de idade)

Moro em frente da Igreja Vivo feliz com meus pais. Menino que mais desejas Quando entras, quando sais?

(onze anos de idade)

Page 20: Antologia poética - Jorge de Lima

xiv alexandrinos

Page 21: Antologia poética - Jorge de Lima

23xiv alexan

drin

os

o acendedor de lampiões

Lá vem o acendedor de lampiões da rua! Este mesmo que vem infatigavelmente, Parodiar o sol e associar-se à lua Quando a sombra da noite enegrece o poente!

Um, dois, três lampiões, acende e continua Outros mais a acender imperturbavelmente, À medida que a noite aos poucos se acentua E a palidez da lua apenas se pressente.

Triste ironia atroz que o senso humano irrita: – Ele que doira a noite e ilumina a cidade, Talvez não tenha luz na choupana em que habita.

Tanta gente também nos outros insinua Crenças, religiões, amor, felicidade, Como este acendedor de lampiões da rua!

Page 22: Antologia poética - Jorge de Lima

poemas

Page 23: Antologia poética - Jorge de Lima

27po

emas

o mundo do menino impossível

Fim da tarde, boquinha da noite com as primeiras estrelas e os derradeiros sinos.

Entre as estrelas e lá detrás da igreja, surge a lua cheia para chorar com os poetas.

E vão dormir as duas coisas novas desse mundo: o sol e os meninos

Mas ainda vela o menino impossível aí do ladoenquanto todas as crianças mansas dormem acalentadas por Mãe-negra Noite.O menino impossível que destruiu os brinquedos perfeitos que os vovôs lhe deram:

Page 24: Antologia poética - Jorge de Lima

28po

emas

o urso de Nürnberg, o velho barbado jugoeslavo, as poupées de Paris aux cheveux crêpés, o carrinho português feito de folha de flandres, a caixa de música checoslovaca, o polichinelo italiano made in England, o trem de ferro de u.s.a. e o macaco brasileiro de Buenos Aires moviendo la cola y la cabeza.

O menino impossível que destruiu até os soldados de chumbo de Moscoue furou os olhos de um Papá Noel, brinca com sabugos de milho, caixas vazias, tacos de pau, pedrinhas brancas do rio...

“Faz de conta que os sabugos são bois...” “Faz de conta...” “Faz de conta...”

Page 25: Antologia poética - Jorge de Lima

29po

emas

E os sabugos de milho mugem como bois de verdade...

e os tacos que deveriam ser soldadinhos de chumbo são cangaceiros de chapéus de couro...

E as pedrinhas balem! Coitadinhas das ovelhas mansas longe das mães presas nos currais de papelão!

É boquinha da noiteno mundo que o menino impossívelpovoou sozinho!

A mamãe cochila. O papai cabeceia. O relógio badala.

E vem descendo uma noite encantada

da lâmpada que expira lentamente na parede da sala...

Page 26: Antologia poética - Jorge de Lima

Fonte fleischmann

Papel pólen soft 70 g/m2

Impressão geográfica

Page 27: Antologia poética - Jorge de Lima
Page 28: Antologia poética - Jorge de Lima