antologia poética de autores catarinenses

40
Alcides Buss. Vera Sabino. Estudantes da Disciplina de Literatura em Santa Catarina Curso de Letras Português UFSC

Upload: daiana-acordi

Post on 25-Mar-2016

255 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

Antologia poética confeccionada pelos alunos do curso Letras Português da UFSC.

TRANSCRIPT

Page 1: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Alcides Buss. Vera Sabino.

Estudantes da Disciplina de Literatura em Santa Catarina

Curso de Letras Português

UFSC

Page 2: Antologia Poética de Autores Catarinenses
Page 3: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Hoyêdo de Gouvêa Lins nasceu em Florianópolis, em 1929 e faleceu em 2010. Possui trabalhos como contista, cronista e poeta: “Vigília Poética”, de 2006,“Janela do Tempo”, de 1993 e “Ventos Ilhéus”, de 1992. Pertencia à Academia Catarinense de Letras, ocupando a cadeira 11. RETORNO (Poema de “Vigília Poética”) O arvoredo pouco mudara. O outeiro, menos selvagem, mantinha a trilha para o córrego de águas sempre frias, lâminas para os pés nus nas pescarias invernais em que, menino, atraía as traíras distraídas, conforto da mãe preocupada em acertar a mágica de levar à mesa as refeições empobrecidas. O cenário de lembranças envolveu o homem e seu peito acolheu um suspiro longo, impregnado de nostalgia.

(Luiza de Aguiar Borges)

Page 4: Antologia Poética de Autores Catarinenses

O poeta Péricles Prade, nasceu em Timbó (distrito do Rio dos Cedros), Santa

Catarina. Além de poeta, Péricles é contista, ensaísta, crítico literário e de artes

plásticas. Presidiu a União Brasileira de Escritores/SP e o Instituto Brasileiro de

Filosofia. É autor de muitas obras literárias, históricas, filosóficas e jurídicas. Na poesia

escreveu: “Este interior de serpentes alegres‖, ―Sereia e castiças‖, ―Nos limites do

fogo‖, ―Os faróis invisíveis‖, ―Jaula amorosa‖, ―Pequeno tratado poético das asas‖,

―Além dos símbolos‖ e ―Em forma de chama; variações sobre o unicórnio‖. Em 31 de

março de 1973, tornou-se membro da Academia Catarinense de Letras.

Uma de suas obras que gostaria de destacar é ―Jaula Amorosa‖ (1995), uma obra

marcada pela mitologia e pelo ocultismo. Em entrevista a revista de Cultura, Fortaleza,

São Paulo, janeiro de 2005, Péricles Prade faz um comentário em relação a essa obra:

―O livro Jaula amorosa, antes de tudo, é um Bestiário moderno, como havia

o de Cristo, na antiguidade, imantado pela aura metafórica de vários animais

viventes. Foram com prazer eleitos pela imaginação, iniciando-se com peixes

imortais e terminando na cova de serpentes ociosas. São envoltos por uma

explosão de imagens insólitas que não expressam, necessariamente,

verberações ancoradas na dicção do surrealismo (atípico, no caso, se de

escrita automática não se trata), fundando-se, com ênfase maior, nos

territórios da mitologia, do ocultismo e da alquimia (além da temática de

origem distinta), a exemplo do ocorrente nas obras anteriores, em especial

Nos limites do fogo.‖

A partir dessa obra, seleciono o poema Exclusão.

Esplende o ar na batalha

como os olhos da espada. O fogo

e a cabeça da águia no céu

se desalinham entre o escudo

e o coração. No braço

do guerreiro

a raiz das flechas

É na forca que a língua

se lança do morto sobre a mão do vivo.

É no mar que nasce a nave

se no rosto do abutre

o rei com o Rio se funde.

É na terra que sorvo o sangue do verão

a cerveja de ouro

entre o peito e o vento.

O sol se desguarnece como prata

na véspera da sombra.

Excluiu-se uma palavra

do catálogo divino.

Page 5: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Valter Maurício Goedert, natural de Angelina/SC, é Doutor em Teologia Litúrgica pelo

Pontifício Instituto Santo Anselmo, de Roma. É também professor do Instituto

Teológico de Santa Catarina (ITESC) e em 2003 foi eleito membro da Academia São

José de Letras. Publicou nesse mesmo ano Coisas de Criança, obra poética que

evidencia a autenticidade da criança nas relações humanas e divinas, levando em conta

que, nessa perspectiva, retomar a criança que há dentro de si é já um princípio de

sabedoria.

Ouvindo o coração

Encostei,

de mansinho,

como quem não quer perturbar,

meu ouvido ao teu peito

para escutar teu coração.

Ultimamente,

dei ouvidos,

apenas,

ao meu coração,

às minhas razões,

aos meus sentimentos,

à minha solidão.

Perdi tempo demais,

aconselhando-me

com fantasias egoístas,

interesseiras,

que não se importavam

com minha felicidade.

Agora,

quero ouvir tuas razões,

tua versão sobre a vida,

teus conselhos.

Quem sabe,

no ritmo do teu coração,

consiga acertar

o compasso de minha vida.

Page 6: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Solange Rech, uma poeta catarinense

Solange Rech era um poeta catarinense, nascido em Tubarão aos 29 de maio de

1946. Na década de 70 teve seus versos e crônicas conhecidos pelo Brasil, alguns foram

traduzidos e publicado em jornais. É sócio fundador da Academia Virtual de Letras

(AVBL) e membro de diversas academias de letras como no Rio de Janeiro, São Paulo e

de Santa Catarina1.

Aos dezesseis anos publicou seu primeiro livro, sob o título de ―Trovões Dolentes‖

com 60 poesias. Foi funcionário do Banco do Brasil em que teve sua aposentadoria em

Dezembro de 2004. Faleceu aos 28 de janeiro de 2008 em Curitiba, era conhecido entre

os colegas como ―Poeta-Rei‖, entre as obras publicadas2 estão:

Para Matar a Noite" – 1987

"De Amor Também Se Vive" – 1999

"Os Espartanos de Deus" – 2000

"A História da FENABB" – 2000

"Serões na Rede" – 2002

"AABB - Florianópolis – Meio Século de História" – 2003

"Sacerdócio Poético" – 2004

"Meus Sonetos Premiados" – 2005

"A Hora da Colheita" – 2005

"Versos do Tempo Quase" – 2006

Teve sua dissertação de mestrado apresentada póstumamente em junho de 2008,

pela Universidade do Sul de Santa Catarina, como pode ser verificado em

<http://busca.unisul.br/pdf/94650_Solange.pdf>

Mário Quintana sobre o poeta disse: "Teus versos às vezes cortam como espada.

Outras vezes lembram a doçura do açúcar. Mas são todos primorosos,

especialmente os sonetos."3.

Salmo do Poeta Solange Rech

O poeta florescerá para bem do homem.

Ele há de retemperar a esperança

1 Fonte:

<http://www.gloriawebsite.com/mostrar.php?url=poesias/382/carta_poema_aos_amigos.htm&dp=382> acessado em 13 de outubro de 2011. 2 Fonte:< http://pt.wikipedia.org/wiki/Solange_Rech> acessado em 13 de outubro de 2011.

3 Fonte <http://pt.wikipedia.org/wiki/Solange_Rech> acessado em 13 de outubro de 2011.

Page 7: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Quando a multidão se sentir destruída,

Carente do pão da palavra.

Com a bíblia dos seus versos

E o cajado da mensagem,

O poeta guiará a humanidade,

Fazendo prazerosa a travessia da vida

Seus poemas serão antídoto para a ignomínia,

Porque vergastarão a mentira,

Restaurando a crença no puro e no belo.

O poeta há de ser como o galho do chorão

Que, ao se debruçar sobre as águas do rio,

Recupera a seiva em época de estiagem.

E assim alimentado, alimentará o seu povo.

Eterno embaixador de deuses intemporais,

O poeta não clamará no deserto,

Mas na alma angustiada das gentes.

(Erika da Silva Costa Agnellino)

Page 8: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Alzemiro Lídio Vieira

Alzemiro Lídio Vieira nasceu em São José, Santa Catarina, em nove de

setembro de 1943. Poeta, escritor, ator de teatro e artista plástico, é membro do

Grupo de Poetas Livres (GPL) e das Academias São José de Letras e Desterrense de

Letras e participa de jornais e revistas literárias e da 2ª Antologia do GPL. Em suas

performances, zela pela apresentação de cantilenas e obras de sua autoria.

O catarinense é autor das seguintes obras: Confronto, Mundo Neutro (1979), Gotas

de afeto (1990), Vertente (2003) e Mutação (2006).

Segue a poesia do autor catarinense:

ROTINEIRA Envolvente aqui todo estranhamento. A dor da angústia revelando descabível. Atordoado, segue girando o pensamento, Brusco rodopio e a vida no desnível. Ponto banal, grita forte a existência, Agonizando ainda um filete de esperança. Néctar já não tem mais nenhuma consistência Sem efeito da quimera que se lança. Vagueia torpe, atrofiado, o sentimento. Vislumbra seta do caminho delirante. Imensa romaria pavor, constrangimento No destino vai rumando ofegante. Tenebrosa jornada suicida desse ato Alma invadida por completo desengano, Inerente angústia declarada desse fato

Revanche rotineira degradante, fecha o pano. ALZEMIRO LIDIO VIEIRA [In: Mutação, pág. 77]²

______________________________________________________________________ 1 Graduando do curso de Letras da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

² A referência à página e a própria poesia foram retiradas da edição n° 27 da Revista Ventos do Sul on-line. Disponível em: <http://www.poetaslivres.com.br/arquivos/revistas/2006-12-10(27).pdf >. Acesso em: 15 de out. 2011.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS GRUPO DE POETAS LIVRES. Membros efetivos. Alzemiro Lídio Vieira. Disponível em: <http://www.poetaslivres.com.br/poeta.php?codigo=28>. Acesso em: 15 de out. 2011.

(Lygia Barbachan de Albuquerque Schmitz)

Page 9: Antologia Poética de Autores Catarinenses
Page 10: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Rosemary Muniz Moreira nasceu em Lages, a 8 de outubro de 1949. Desde

infância, gostava de poesia, declamava em recitais e mesmo já escrevia versos.

Outro setor artístico que muito a atraiu foi a música. Estudou teoria musical e

piano. Ao ter que abandonar a música inclinou-se apaixonadamente e encontrou

seu caminho na literatura. Na década de setenta colaborou em muitos jornais da

região serrana, de Florianópolis e de Blumenau.

Embora com vasta produção poética esparça em jornais ou inédita,

Rosemary lamentavelmente ainda não logrou atingir a edição em livro. A poesia de

Rosemay preocupa-se fundamentalmente com o homem, um ser essencialmente

votado para o amor, mas desvirtuado pela massificação e pelos absurdos de nossa

civilização. Alma de grande sensibilidade, Rosemary confessa suas inquietantes

interrogações ante o trágico da existência, suas perplexidades ante as contradições

da vida, sua frequente tristeza e desilusão, mas sua vibrante busca do amor e da

paz.

O poema a seguir foi publicado na edição de outubro de 1981, da revista

Solução. Sua produção entrevem uma Autora que se dedica a uma forte crítica ao

meio social e a uma profunda reflexão sobre os valores e não-valores da existência

humana.

Quando Florescem as Flores e a Natureza se Cobre de Perfume, Brisa,

Borboletas, Colibrílho, e Tudo é Paz

Não quero saber de definições Também não quero saber de coisa alguma. Não me façam perguntas indiscretas, não me venham com ironias, não quero saber de nada disso. Já não me interessa a filosofia. os antecedentes e consequentes, o mais e o pouco, da síntese ou da conclusão. Não me venham com mistificações e falsas crenças, não quero saber nem das verdades, nem das mentiras. Não quero saber dos falsos e medíocres, tampouco me interessam os sábios, astronautas e profetas. Não me venham com desculpas mesquinhas, não me tragam flores, ou risos. Não quero nada disso.

Page 11: Antologia Poética de Autores Catarinenses

As conclusões estão fartas de conclusões, que espécie de pergunta não foi feita? O que a definição define? Basta só saber? Basta de ironia se a vida já a inaugurou. Não quero saber sobre o que já foi dito. Chega de repetições. A filosofia anda cheia de filosofia, mistificações transbordam mistificações, os falsos cheios de falsidade, a ruína se deteriora na própria ruína, as desculpas já nada desculpam, as verdades contêm pouca verdade, as mentiras são mentiras, são mentiras, são mentiras! O lugar das flores é nos jardins, não arranquem as flores por favor!? O lugar do sorriso é um lugar sincero, não os degradem nem os comerciem. Quem disse que a solução é isso ou aquilo? E quem em nada acredita o que espera? A única solução é aquela que não traz nenhuma solução mas que melhora esse estágio. E tudo é busca de encontrar, e tudo se concentra nisso. O contrário do contrário é ele mesmo. Bastam, portanto, de ideias vãs. Já chega o consumismo consumindo, consumado, ingerido, digerido, dirigido. Por isso não quero saber de tantas coisas e tantas outras, o que é que tem isso? Não quero explicações e nem darei explicações! Argumentos, argumentos, argumentos para que servem senão para ar(gu)mentar? Basta, basta... de chorar, calar, resumir, desfazer, confundir, basta de. Tudo isso nada justifica,

Page 12: Antologia Poética de Autores Catarinenses

e nada justifica nada. Será o consenso a única solução lógica da razão? Perdoem-me essa indiossincrasia e daí? Não me tragam lições nem sermões, deem-me um copo d'agua que tenho sede (!)

Page 13: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Autor: José Germano Cardoso, poeta catarinense, nascido em São Pedro de

Alcântara, município de São José, arredores de Florianópolis, em 1954. Graduado em

Contabilidade. Consta que publicou os livros de poesia ―Cerco‖ (Joinville, 1979),

―Ensaiando uma certa poesia‖ (Florianópolis, 1980), ―Via Crucis‖ (São José, 1982) e

em 1994: ―Hóspede Inusitado‖ (Florianópolis: Ágape, 1994), dedicado a Mário

Quintana, de onde foram extraídos os poemas a seguir:

POSTES

Um após o outro

encontrando na noite.

Vão visitar

lugares escusos.

Desdenhando as estrelas

como velas acesas, fortes

iluminando o cemitério...

FUGA PARA DENTRO

Fugidios em canto escuro

avivar o amor

já todo esquadrinhado

é a prisão que então buscaram

a desufocar a alma

iliberta, solta nos dias

Pequenos ovos estrelados!

nos rostos do sapatos!

Amor morrido

Amor matado

não

Pequenos ovos estrelados!

Nos rostos dos sapatos!

(Gabriella Ligocki Pedro)

Page 14: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Suzana Mafra

Poeta, escritora e bibliotecária, Suzana mora em Brusque, sua cidade natal, e

trabalha da biblioteca pública do município. É mestre em literatura pela UFSC e edita o

blog ―Borboletras no Quintal‖. Premiada em concursos literários dentro e fora do país, a

poeta publicou em 2007 o livro ―Borboletras‖, pela Editora da UFSC. ―Borboletras‖

reúne 52 ―poemínimos‖ escritos entre 1999 e 2001.

Maria

Amaria

O mar

E

Mário

O rio

Sem

Ira

Espero

A

Era

Do

Eros

Page 15: Antologia Poética de Autores Catarinenses

EGLÊ MALHEIROS

É natural de Tubarão/SC, bacharel em Direito pela UFSC, mestra em

Comunicação pela UFRJ, tradutora de obras literárias, colaboradora de enciclopédias e

co-fundadora/editora da Revista da Revista Sul (Florianópolis, 1948-58). Escreveu

roteiros e adaptações para cinema. Participou e Ministrou congressos e seminários sobre

comunicação e literatura. Autora do livro de poemas Manhã, do livro infantil Desça

menino, e Os Meus Fantasmas. Sua peça Vozes Veladas, que tem por tema a vida e obra

de Cruz e Souza, recebeu em 1996 da UBE-Rio de Janeiro o prêmio de melhor peça,

sendo encenada pelo grupo Pesquisa Teatro Novo/UFSC, sob direção de Carmem

Fossari.

SILÊNCIO

Texto extraído do livro “Manhã”

Tudo quieto,

No coração da mulher

Gritam revoltas

Mas acabaram-se as lágrimas.

Para chorar mais um filho

Morto.

A criança é só quietude

E nem mesmo as velas

Lhe iluminam as faces pálidas

Que a fome formou.

O pai

Silencioso medita,

Traça roteiros,

Há de um dia

- Custe o que custar esse dia-

Vingar os seus meninos

Que a mina,

A água da mina,

Os donos da mina

Não deixam viver.

Pela estrada cheia de poeira,

Negra do carvão que enriquece,

Negra do carvão que mata,

Pela estrada quieta de Criciúma

O cortejo se dirige ao cemitério.

Tudo quieto,

Os sinos mudos, cúmplices,

Não espalham no ar a notícia do crime

Fossem sinos verdadeiros

Estariam gastos de badalar.

As pás quebram o silêncio

Duras, duras,

Page 16: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Sem comoção,

E os sinos comprometidos

Nada dizem, nada falam.

Os sinos falarão um dia.

REFERÊNCIAS

CCE/UFSC. Um Dedo de Prosa. Disponível em:

<http://www.umdedodeprosa.cce.ufsc.br/paginas/autor.php?id=43>. Acesso em:

14 de outubro de 2011.

(Vanessa Grando)

Page 17: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Leatrice Moellmann, escritora natural de florianópolis, é

poetisa, contista e cronista brasileira. É formada em Ciências

jurídicas e Sociais pela UFSC, mestre em Literatura Brasileira pela

mesma universidade e integrante da Academia Catarinense de

Letras. Seu livro de poemas “Sedução”, publicado em 2004, reúne

suas inúmeras obras de poesia. Seus pomas são cheios cheios

de erotismo, emoções e saudades e versam sobre história e

personagens como Anita Garibaldi e Carlos de Faria.

Sedução

Vaporosas, rendadas, transparentes,

Feitas com o trançado fio das teias,

Enleadas nas pernas quais serpentes,

Voluptuosas, sensuais e cheias

De promessas de sedução, as meias

Instilam seu veneno, impudentes.

E quando teu olhar nelas passeias,

Eu quisera saber o que tu sentes...

Quais os mistérios que elas revelam,

As intenções eróticas que velam...

São como o canto mago das sereias.

Vou me trajar de seda e brocado,

Depois me insinuar bem a teu lado:

Quero despir pra ti as minhas meias.

(Liliane V. De Souza)

Page 18: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Fernando Knoll nasceu em Kromberg, Alemanha, e imigrou para o Brasil em 1882.

Chegando ao Brasil, veio a residir na localidade de Alto Biguaçú, atual município de

Antônio Carlos/SC, cidade natal do ilustríssimo professor Lauro Junkes. Morreu, sem

deixar descendentes, no município de Braço do Trombudo/SC em 1958. Knoll foi

professor ambulante bilíngue, músico e poeta. Apesar de não publicar oficialmente as

suas produções, seus escritos foram guardados por pessoas próximas de sua

convivência, infelizmente muitos cadernos se perderam. Além de poesias, traduzia

inúmeras cantigas alemãs para o português, produzia poesias para casamentos,

acrósticos, hinos e poesias religiosas. Logo abaixo segue um dos inúmeros acrósticos

escritos, e retirado do livro, Alto Biguaçu, de autoria de Raulino Reitz.

Acróstico:

“Um beijo para despedida

Meu anjo querido da minha vida,

Batendo o meu coração,

E minha alma com aflição,

Inconsolável é minha dor,

Jamais esqueço do meu amor.

Oh! triste partida: a sorte cruel,

Penitência p’ra mim: amor fiel.

Adorado anjo! querido de mim,

Refreia a dor, Deus quer assim.

Amarei-lhe pela toda a vida,

Da minha alma só tu és querida.

Esperança, fé, amor,

Seja para vós o consolador.

Partida mais triste, quem ama como eu,

Eu peço consolo do pai do céu.

Deus te proteja meu coração.

Incluo-te na minha oração.

Desanimada não seja vós,

A providência proteja vós.

REITZ, Raulino. Alto Biguaçu: narrativa cultural tetrarracial – Florianópolis: Ed.

Lunardelli/Ed. UFSC, 1988. p. 492.

(Jones S. Custódio)

Page 19: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Charles Silva

Poeta catarinense nascido em Florianópolis há 40 anos, amante desse vidro mole que rodeia a ilha, dessa gente plural de pele flambada pelas línguas e labaredas do sul. Nesse momento cursa mestrado na área de Educação e Comunicação na UFSC Charles Silva. Do açúcar a pimenta. Florianópolis, SC: 2006. Um livro para o coração…e para o resto do corpo! Blog do autor: http://charlesilva.blogspot.com/ Entrevista com o autor: http://www.youtube.com/watch?v=HWO3daHvDbY

aquela alma tinha lâmina doca tanto que para a consecução do formidável não trazia o lúdico apenas na epiderme camaleônica perfumava palavras alterava sabores e banqueteava-se dissimulada seria impossível detê-la

à vítima presa pela liberdade revigorada pela beleza e juventude daquele corpo desnudo restava apenas comprar as flores e deitar no leito daquela trama de violenta maldade entregou-se ao amante com a ferocidade trêmula do púbis o oscilar convulso das ancas ocultando até o último momento a caudalosa nascente espumante da fatalidade mas quando a hélice úmida da boca girou o espinho rubro da mama a carne entrou em colapso e fechou os olhos daquela criança grisalha

Page 20: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Poesia contemporânea catarinense: Bento Nascimento

O poeta catarinense Bento Nascimento (1962-1993) nasceu em Itajaí e foi autor

das obras ―Os loucos de Pedra‖ e ―Bento Nascimento – aos vivos‖, ambas póstumas.

Também publicou o livro ―Calecanto‖, este ainda em vida, no ano de 1979, em conjunto

com Antônio Carlos Floriano. Dentre os poemas que pude ler, um me chamou a

atenção:

Quem me dera prender a tarde pelas asas

Quem me dera prender a tarde pelas asas

E conservá-la profundamente em éter

ou no álcool dentro de um copo.

Guardá-la sempre e proteger o azul

Fundo das antenas cristalizadas.

Olhar de repente

e lá na estante

Uma tarde inteira guardada.

É visível, já neste poema, que Bento Nascimento gosta da simplicidade, do

descomplicado, mas, por outro lado, evita o vulgar e o lugar comum. Sua poesia está

repleta de ousadia e de uma estética natural dos versos e das coisas. Foi, por isso

mesmo, por essa simplicidade, por uma ironia fina, um precursor da poesia na região de

Itajaí.

Fontes de pesquisa

http://www.germinaliteratura.com.br/bento_nascimento.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bento_Nascimento

(Luiza Andrade Wiggers)

Page 21: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Lindolf Bell

Lindolf Bell deixou mais do que uma ―obra‖, no sentido impresso da palavra, fez poesia em

camisetas, poesias-monumentos, poesia-catequese. Mas do que isso, fez poesia-sorriso e poesia-palavra-

falada. Natural de Timbó/SC, em 1964, criou a Catequese Poética, um movimento pioneiro na

democratização da cultura pelos espaços urbanos. Lindolf Bell fez da poesia mais que uma catequese: fez

o pão, o circo e a fé daqueles que acreditam na força da palavra.

DA PALAVRA FINAL NADA SEI Da palavra final nada sei. Nunca me foi concedida. Embora escravo, embora rei. Embora levantasse o dedo na hora dos apartes. Embora levantasse o dedo timidamente Do último banco da classe contraditória de viver. Embora sôfrego, trôpego, embora sofrido levantasse o dedo, meu Deus, que esquivo andar sem graça quando atravesso a sala cheia de gente. A sala dos correios secretos que os olhos conhecem, reconhecem, sempre burlesco arlequim por fora e massacrado por dentro e tristurado no mais triste cavaleiro da figura da palavra. Chegar sem preconceitos, cotidianos simulacros: sonho menino. Não mero esboço de um desenho inacabado de homem, inadequado, por certo, na forma de chegar e falar das coisas do mundo e de mim. Mas chegar, achegar, e saber que entre o tempo o ser aflora.

E amanhece. Debaixo do sonho aninhado. Dentro de um cesto desfiado. Deixai-me participar da mesa da verdade. E aceitai minhas dúvidas e minha fragilidade como dádiva dos deuses.

Page 22: Antologia Poética de Autores Catarinenses

No poema “Da Palavra Final Nada Sei”, o poeta retorna ao passado, “embora

sôfrego, trôpego/ entre um tempo e outro tempo” e com as diferenças sociais existentes, os sonhos dos homens são os mesmos. O “eu-lírico” deseja liberdade e pede: “Deixai-me participar da mesa da verdade ”, o poeta desmascara-se, fica o homem.

Page 23: Antologia Poética de Autores Catarinenses

A autora de “Alimentando Sonhos” (Editora Odorizzi, Blumenau, 2003), chama-se Clarisse Lia Weiler. Nascida em São Bento do Sul, Santa Catarina, formou-se em Ciências Biológicas na FURB, em Blumenau; cidade esta em que vive desde os primeiros meses de vida. Além disso, habilitou-se em Língua Alemã Freiburg – Alemanha, área em que leciona até o presente momento. É co-autora do livro “Um amanhã mais feliz: como viver bem na 3ª idade”, lançado em 2000. O fato de tê-la escolhido como autora catarinense, vem não apenas pelo prazer em lê-la, mas também pelo fato de ser minha tia avó materna. E assim, tomando conhecimento da vida desta representante mulher e estudiosa catarinense que viveu seus vãos momentos na década de 1940 sobre a pressão de uma sociedade em que determinava o futuro profissional e pessoal das mulheres, eis que fala pro mundo: Tia Neni (assim como a chamo). Dedica-se em suas produções literárias, a reflexão do quão importante são os momentos em que nos desligamos do mundo exterior e nos transportamos para um mundo só nosso; logo, trata em seus preceitos sobre a arte do autoconhecimento.

ANJO (p. 31)

Não sou um anjo.

Sou apenas uma mulher.

Que tem exigências e necessidades

Que reivindica e pede reconhecimento.

Para ti sou como um anjo.

Mas com anjo é cômodo viver.

Pois ele não exige e não tem necessidades.

Não reivindica e nem pede reconhecimento.

E tu poderás deixá-lo de lado

Ou esquecê-lo quando quiseres.

Mas a mim tu não poderás deixar de lado

Nem esquecer-me, simplesmente, quando quiseres.

Porque eu estou presente em tua vida

Faço parte de tua vida

Porque já sou tua vida.

Page 24: Antologia Poética de Autores Catarinenses

O poeta que estudou comigo

A manhã já vem

(Tony R. M. Rodrigues) Já parou para ouvir alguém que você ama dizer, chorando de desespero, que muito lhe ama? (jamais, eu espero) É uma dor muito má receber o amor, num momento em que alguém se rasga em seu sofrimento. Não permita, Deus, que eu morra sem chegar a tempo lá: meu irmão é fortaleza que muito preciso amparar.

O livro do Tony chama-se Lágrimas Lapidadas, é o seu livro de estréia, contendo poemas,

histórias e aforismos. Foi lançado durante a Mostra do Potencial Educativo da antiga Escola

Técnica Federal de Santa Catarina, Florianópolis, em outubro de 1998, com tiragem de 190

exemplares.

REFERÊNCIAS

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/3085545 acesso dia 15/10/2011 às 12h16min

RODRIGUES, Tony Roberson de Mello, Lágrimas Lapidadas. Florianópolis, ETFSC, 1998

(Lúcia Izabel Telexa Rediss)

Page 25: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Obra escolhida: Embates

Autora: Lucy Assumpção

Nascida em Joinville, Lucy Assumção já publicou poesias e contos em

anais de todo o país e tem diversos livros publicados, entre eles o "embates", do

ano de 1981, um livro com um conjunto de poemas "breves, elípticos, diáfanos, que

buscam capturar o momento fugaz".

TRAJETO

A escrita

na linha

do verso

dá rota

ao pensamento

difuso

Palavra

instalada

no espaço

confuso

faz dele

posse

(Ana Alice Cadury)

Page 26: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Acredito ser relevante, nesse momento, falar de uma pessoa nossa, de nossa academia. Estou me referindo ao professor Claudio Cruz, que lançou o livro de poesias “A ilha do tesouro e outros poemas”. O livro trás em suas páginas poemas com um tema urbano, muito interessante e agradável. Estou enviando o qual eu mais gostei: Telêmago E deixaste-me só quando partiste com minhas mãos vazias de tua face e a ver navios fiquei literalmente era o dia, era noite, e tu partias. Meus olhos debruçados no infinito assim ficaram até raiar o dia. Do dia que não mais terminaria enquanto não findasse todo o rito. E desse rito então só conhecia o primeiro momento que escondia, a dor de ter que um dia dar partida, ir em busca de ti, por sobre os mares, porto em porto seguindo tua ida, mesmo sabendo que não voltarias.

(Gilmarina Signorini Subutzki)

Page 27: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Péricles Prade, nascido em Timbó (1942), é poeta, contista, professor universitário,

crítico literário e de artes plásticas. A obra Pequeno tratado poético das asas é um livro que

possui unidade (pois é assim que ele organiza seus livros) na estrutura e no tema. Neste livro

o autor escolhe os pássaros como tema principal. A obra é dividida em sete partes e cada

parte possui poemas curtos. O poema abaixo foi tirado da parte chamada ―Coroa de nuvens‖:

FÊNIX

Pássaro de fogo

Cor de púrpura

Fênix alquímica, alma egípcia

revelada. No espelho

as faces da Águia.

É para o Alto da pirâmide

Que olha a serpente armada

REFERÊNCIAS

PRADE, Péricles. Pequeno tratado poético das asas. Florianópolis: Letras contemporâneas,

1999.

(Suelen Neide Vicente)

Page 28: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Ernestina Faizer Kurth

Nascida em Angelina – Santa Catarina, em 07 de março de 1929. Pertence à Academia de

Letras de Biguaçu, na qual ocupa a cadeira de número 39, cujo patrono é o poeta Virgílio

Várzea. É co-autora do livro Um passeio pela Grande Florianópolis, e participou, com

contos e poesias, dos livros Histórias de Professor, Contos do Professor e Poemas de

Professor.

Os Haicais abaixo foram retirados do livro Trajetória, a VII Antologia da Academia de

Letras de Biguaçu. O livro conta com poemas, contos, poesias e prosas dos escritores de

Santa Catarina pertencentes à Academia. Conta, ainda, com um histórico dessa

Academia de 1996 a 2008.

Meus, Quase, Haicais

Amigo rabdomante, pela rabdomancia, advinha a água nossa de cada dia. Santo Bento, Santo Bento Vem cobrir Quem dorme ao relento, Com teu manto santo. Por onde passares, Passa de modo, Que possas sempre ali voltar. O pinheiro magnífico candelabro, De verdes arandelas, As pinhas são as velas. Nuvens correm fugidias, Escondendo-se atrás do mosteiro, CÉU DE BRIGADEIRO. Chega-nos uma boa lembrança, Emoldurada pela saudade. Obrigado Senhor Pelo dom das curas, Que crias em tuas criaturas. Se és amigo de Deus e precisas de alguém ou de alguma coisa ,

Page 29: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Olha em volta. Ele já ali as colocou. As folhas caem A árvore fica. O Outono explica. Referência: Toni Jochem (Org.). Academia de Letras de Biguaçu – Antologia. Biguaçu: Nova Letra, 2008. 256 páginas.

(Manuela Quadra de Medeiros)

Page 30: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Irenêu Voigtlaender, professor nascido em Pomerode. Obra: Céu de Cristal –poesia em quatro tempos. As transformações socioeconômicas ocorridas nas últimas décadas misturou o comportamento provinciano e as conquistas industriais. Com isso, poeta procura registrar o íntimo das pessoas em meio à estas transformações; busca trazer-nos os entraves e anseios do indivíduo através do exercício da poesia. Promessa Sem teto sem veto; mergulhei às avessas no vocábulo. Sem vestes sem testes espreitei as desgraças da frase. Sem bastão sem irmão venci o ápice da montanha. Todas as sortes todas as quedas todos os remates... abandonei o reino da hipocrisia. Todos os padrões todas as vergonhas todas as precauções... para todos, a ilusão de um oceano a afogar todas as promessas impossíveis.

(Marina Siqueira Drey)

Page 31: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Juvêncio de Araújo Figueiredo nasceu em Desterro, Florianópolis em 27

de setembro de 1865, e faleceu nesta mesma cidade em 6 de abril de 1927. Foi um

poeta simbolista brasileiro. Era apaixonado pelo mar, pelas coisas simples, pelas

belezas da paisagem de Coqueiros, bairro onde nasceu e viveu. Araújo Figueiredo

era companheiro e amigo predileto de Cruz e Sousa. Fazia parte da Academia

Catarinense de Letras, onde ocupava a cadeira de número 17. Seus trabalhos são

numerosos, entre os quais ressaltam-se Sombras da Noite, Ascetérios e Versos

Antigos, este último publicado em 1966, desta obra o poema escolhido é parte

integrante.

AS NOSSAS ÂNSIAS

Para as estrelas vão as nossas ânsias; Todas as ânsias que na Dor sentimos... São aves que se perdem nas distâncias; E, nas asas dos sonhos, as seguiram. E lá, mais delicadas que fragrâncias Dos liriais que no caminho vimos, Todas elas, vestidas de flamâncias, São as árias da luz, que no ar ouvimos. Mas as ânsias que vão, serenamente, Para as estrelas, e por lá, na albente Doçura casta das estrelas ficam. São, com certeza, aquelas que, no mundo, Neste sinistro báratro profudo, Nos cadinhos do amor se purificam. (Versos Antigos, 1966)

REFERÊNCIAS MIRANDA, Antonio. ARAÚJO FIGUEIREDO. Disponível em: <ARAÚJO

FIGUEIREDO>. Acesso em: 15 out. 2011. (Mayara Sardá)

Page 32: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Osmar Pisani (1936-2007)

É poeta, natural de Gaspar-SC, nasceu em 18 de agosto de 1936 e faleceu no ano de

2007. Tem diversas obras publicadas, entre elas está a que escolhi: ―As Paredes do Mundo‖,

que foi publicada em 1981 e que ganhou o Prêmio Cruz & Souza, no concurso nacional de

poesia, como melhor livro de poemas de autores catarinenses. Em seus poemas ele apresenta

uma linguagem simbólica e rica em metáforas, também faz referências ao povo brasileiro.

Abaixo, menciono um poema do livro ―As Paredes do Mundo‖:

LI

O que vai ausente embora tão silencioso

gasta-se na multidão

e nem sabe que outro reino se inicia.

O que não vai ser história adormece no campo de idéias

e não há nada que saiba ver os antigos mundos e abertos ventos.

Ainda é melhor a homenagem das mãos

ou acreditar no movimento dos homens depois do perigo de ser morto

e crescer, crescer neste ventre de espelhos.

Page 33: Antologia Poética de Autores Catarinenses

RYANA GABECH A POETISA DA IMAGEM

A poetisa, que é artista plástica, nasceu em Campinas, SP em 29 de maio de

1985, morou em Itajaí e hoje radicada na ilha de Santa Catarina tem sua produção, como

muitos outros artistas que aqui vivem, inspirado na beleza e cultura local.

Possui três livros publicados – Mar e Avelãs, 2001; A data invisível do poema,

2006 e Trêmulo –, porém, a riqueza da sua obra está na habilidade que tem de

desenvolver um trabalho casando artes visuais e sonora. É assim que Ryana dá corpo de

formas diversificadas à sua obra.

No livro A Data Invisível do Poema (2006), Ryana brinca com a imagem que faz,

através do texto, na cabeça do leitor. É uma brincadeira abusada de moleca irreverente,

porém, brincadeira deliciosa. E é através desse “deleite” que o leitor se entrega e se

submete à peraltice do texto, buscando, com a avidez infantil, encontrar nele alento para

os dias acinzentados em que vive.

CERCA Cisma da gata que arranha que arranha a cortina Embucicada outrora a fenda se apavora Dedos revolta coloca as pedras no caminho Mulher não pula ausências Cobra o pato não esconde a arma Mulher de ti desorientada nas estantes Vida enjaulada em sachês Chás presos secos dentro do vidro

Page 34: Antologia Poética de Autores Catarinenses

mulheris Não abrange a colheita não ri a deleita não chupa o sumo da fruta Mulheres esismesmadas não atravessam a calçada.

(Martos Silveira)

Page 35: Antologia Poética de Autores Catarinenses

O “poeta do brejo”

Marcelino Antônio Dutra nasceu em Desterro, atual Florianópolis, em 1809. Pelo que

indicam os registros, foi o primeiro autor de Santa Catarina. Além de poeta foi professor,

promotor público e deputado provincial. Filiado ao Partido Liberal, notabilizou-se por seu

linguajar satírico com os políticos do Partido Conservador.

Dutra costumava chegar de canoa ao trapiche que dava acesso ao mercado público

municipal, o que lhe rendeu a alcunha de ―poeta do brejo‖. Sua obra mais conhecida foi o

poema "Assembleia das Aves", obra crítica da política catarinense do século XIX. Nesta obra,

ele batizou amigos e rivais com nomes de aves.

Marcelino Antônio Dutra é patrono da cadeira 34 da Academia Catarinense de Letras.

Crítica dos jornais

Ali sandices vomita

O fofo ―Libertador‖,

Em camisas de onze varas

Foi meter-se a falador

Seu alvo (diz a Gazeta)

Foi deprimir o rival,

Há quero-queros, que imitam

As gralhas em falar mal.

Sobre as aves inocentes

Esvoaçava o detrator,

Fede a todos sem piedade,

Sem respeito, sem pudor

Não houve aí tico-tico

Papa-arroz ou tangará,

Pobrezinho, que escapasse

À língua ferina e má.

Laiana Abdala Martins

Page 36: Antologia Poética de Autores Catarinenses

ALMIR MARTINS, natural de Imbituba, nasceu em 21 de julho de 1952. Advogado atuante em Imbituba – SC, apresentador do programa cultura açoriana, é membro de várias entidades literárias do país e do exterior. Autor de vários livros de direito, história, poesia, cultura e folclore de base Açoriana. Folclorista catarinense, compositor da MPB, possui vários CDs gravados. Introdutor do “Filosofema” na Literatura de

Santa Catarina. Já recebeu diversos prêmios e homenagens.

Almir Martins

A obra do autor Amir Martins que escolhi é “Romanceiro Açoriano”. Este livro escrito em versos é prefaciado e apresentado pelo grande historiador catarinense e professor Celestino Sachet, O livro mostra saga do povo de Imbituba; a história, a colonização de base açoriana e o folclore imbitubense. O livro escrito no ano de 1995 em 1ª edição é muito apreciado e festejado pelos principais críticos literários e historiadores de Santa Catarina.

TRIBUTO AO AÇORIANO Diga lá açoriano, de qual ilha tu vieste? De Faial, ou de Graciosa do teu AÇORES Silvestre? Que paraíso é este, o que ele tem pra dar? Tem terra fértil, tem pesca, tem verde e tem o mar. Tem sonho e tem ternura, tem um santo em cada altar História pra todo canto, tem canto alegre sem par. Diga lá açoriano de qual ilha tu vieste? De Terceira ou de São Jorge do teu Açores silvestre. Com o braço açoriano, esta terra se renova Com Desterro e São Francisco, Laguna e Vila Nova. Prosperaram as freguesias, com a Lei Provincial, Carijós e Catequese pelo vasto litoral.

Diga lá açoriano, de qual ilha tu vieste Do pico e de Madalena do teu Açores Agreste? Que folclore tu cultivas para manter a tradição, O Divino, terno de reis, pão por Deus, boi de mamão? Que comida sobre a mesa alegra o teu coração? Café com rosca ou beiju, ou um prato de pirão. Diga lá açoriano, de qual ilha tu vieste? Flores, corvo, São Miguel ou Santa Maria Silvestre? Diga lá açoriano, de qual ilha tu vieste?

(Maria Pérola Cardoso Figueiredo)

Page 37: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Biase Agnesino Faraco nasceu em Florianópolis, SC, em 14 de outubro de 1913 e faleceu em 20 de janeiro de 1980. Cursou Medicina na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, formando-se médico em 1937, como primeiro aluno da turma, após destacada participação no Pronto Socorro Municipal da capital gaúcha. Retornando a Florianópolis, em 1938, iniciou sua carreira de médico, no Departamento Autônomo de Saúde Pública-DASP. Foi diretor da Maternidade Carmela Dutra, fundador e Diretor da Faculdade de Farmácia e Odontologia, assim como da própria Universidade Federal de Santa Catarina, tendo sido professor do Departamento de Microbiologia e Parasitologia. Foi Deputado Estadual pelo extinto PSD – Partido Social Democrata. Atendeu, por 27 anos, gratuitamente, a comunidade da Paróquia São Luiz, no bairro Agronômica. Poeta, nas horas vagas. SANTA CATARINA Barrigas-verdes, todos nós, por certo, Amamos nossa terra estremecida, Orgulhosos da imagem colorida De um zimbório de glórias recoberto. Que lindo céu... Que plaino azul deserto... Nele o sol passa, abençoando a lida Dos filhos desta terra tão querida, A quem também um grande amor oferto. As verdes brenhas, a elevada serra Selam o coração de nossa terra. Na costa nívea o vasto mar encanta. Tantos adornos, dotes tão garbosos E nós bem nos sentimos orgulhosos Por sermos filhos desta terra santa. (in Anuário Catarinense, acervo do IHGSC)

Page 38: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Hugo Mund Júnior

Nasceu em Mafra, Santa Catarina, em 27 de dezembro de 1933. Formou-se na Escola

Nacional de Belas Artes da UFRJ em 1957, integrou o Círculo de Arte Moderna de SC

(Grupo SUL) e o Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis (GAPF), do qual foi fundador.

Principais obras: Germens, Edição do Autor, Brasília, 1977; Véspera do Coração, FCC/

Massao Ohno, São paulo1986; e Poesia Reunida, Coleção ACL n. 13, Academia catarinense

de Letras, Florianópolis, 1977.

LAGOA

Dádiva e inspiração ultrapassam

o abusivo e o deletério,

esta experiência de luz inacessível

à escrita. A natureza simplesmente

a manifesta em oposição ao perdulário.

Não se defende posse nem acesso

ao imensurável – dominação para quê

Bastante apreciável, o grande pátio

azul da lagoa faz da beleza

a ocupação permanente da alma.

(Aromas e olhares)

(Bruna Heloísa da Silva)

Page 39: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Bento Nascimento, poeta de Itajaí, estreou em 1989 com o livro ―Celacanto‖, que

provocou uma explosão na poesia local, visto que estava em uma cidade onde a tradição

cultural era praticamente inexistente. Sua obra vendeu mais de duas mil cópias, influenciando

o aparecimento de outros poetas na região. Seus poemas, publicados, circularam por todo o

sul do Brasil, e são de uma simplicidade ousada, com uma estética voltada ao natural.

Utilizou recursos sintáticos que eram verificáveis apenas na oralidade cotidiana, alguns

poemas referenciam relações sexuais explícitas, e alguns retratam imagens chocantes.

Antes de inventar a loucura

Antes de inventarem a loucura,

ela já era louca,

mas esperou você chegar

para sentir amor pela primeira vez.

quando as flores eram gérmenes

da imaginação de algum gnomo encarcerado,

ela o esperava pra sentir isso por você.

antes de um mundo tão certo,

esse do mesmo molde de seu paletó,

havia outros onde se inventavam castelos

e ela fez o de torres mais altas,

enfeitou com açucenas e estrelas

e esperou tão intensa por você,

mas você era de vidro.

(BÁRBARA RODRIGUES)

Page 40: Antologia Poética de Autores Catarinenses

Aline Gallina nasceu em 27 de Agosto de 1983, em Florianópolis, é acadêmica de Artes Plásticas e de Arquitetura e Urbanismo e ganhou alguns concursos de poemas. O poema abaixo foi extraído da obra XXI POETAS DE HOJE EM DIA(NTE), que foi organizado por ela e por Priscila Lopes. Essa obra foi publicada pela Editora Letras Contemporâneas, no ano de 2009.

Aniversariante em oração

tenho urna pilha de nervos para resolver

Multa parafernalha solta na cabeça:

É prego

É pobre

É problema

pego o prego para começar

Bata! bato, bato... sem martelo ele não entra

-Parafuso pode ser?

para tudo, rodar deixa confuso

Tonto, com o fuso todo desnorteado

vejo a pilha, vejo o prego, não vejo o martelo e não quero

o parafuso

Pronto. Recomeçando...

Ser pobre é um problema!

tem que fazer, tem que comer, tem que dormir,

não tem nada nas mãos.

— Um martelo ajudaria!

não tem martelo não senhor, nem em mãos nem na estória.

o Senhor está no céu, junto dele quem mais? A família,

os fiéis amigos...

eu não sou Senhor, sou Sozinho, filho da terra e é para

lá que eu vou.

Na terra tem tudo.

— puxa vida!

Puxa, puxa a vida que ela vem.

Vida pesada essa.

tenho dor nas costas, calos nos pés, mas tenho voz, tenho a força

que me resta

dessa vida que eu já puxo ha 56 anos completados no dia de hoje. passo a passo vou mais

adiante, passo por poças, fundo de poços,

perto, longe

passo por pontes e montes.

junto problemas, resolvo, junto mais problemas que antes.

A cabeça funciona, mas com muita parafernalha - prego, pobre,

ponte, passos —

Solta.

solto meu corpo...pesado!

meus olhos arregalados. Pisante do mundo, que anda

para a terra, é assim:

Daqui para frente é o resto da vida.

Karine Schmidt