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Apresentação em powerpoint da obra Antologia poética de Vinícius de Moraes, elaborada pelo prof. Welington Fernandes, de Campinas-SP

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  • Vincius de Moraes 1913 1980Prof. Welington Silva Fernandes, Campinas-SP

  • A poesia de Vincius como um percurso pelas escolas literriasClassicismo sonetos Cames: rigor mtrico e temtica relacionada s contradies decorrentes do sentimento amorosoBarroco fusionismo entre: apelo espiritual e apelo sensualAmbivalncia da representao feminina: santa x lasciva Romantismo sentimentalismo, saudosismo, nacionalismo, confessionalismo, melancolia, morbidezRealismo criticidade, reflexo, objetividade, descritivismoSimbolismo sonoridade, religiosidade, misticismo, sinestesiasModernismo liberdade temtica e variao estilstica, coloquialismo, despojamento, experimentalismo e ironia.

  • De acordo com Bandeira:Vincius possui: a percia dos parnasianos (sem refugar, como estes as sutilezasbarrocas), e finalmente, homem bem do seu tempo, a liberdade, a licena, o esplndido cinismo dos modernos. (BANDEIRA, M. Coisa Alvena, Ebaente)

  • Contexto Histrico: Estado Novo e ps-guerraJUL/1930, o assassinato de Joo Pessoa precipita a revoluo armada;OUT/1930, deposio do Presidente Washington Lus. Junta Militar assumiu o poder at o dia 3 de novembroGetlio Vargas toma posse como Presidente provisrio e exerce funes dos poderes Executivo e Legislativo.O perodo marcado por grande descontentamentoRevoluo Constitucionalista, de 1932 (movimento das elites paulistas que reivindicava a imediata convocao de uma Assemblia Constituinte); A Intentona comunista de 1935, cujo objetivo era a deposio de Vargas Banditismo social, tambm chamado Cangao (Nordeste). Apesar do ttulo provisrio, Vargas fica no poder e domina a cena poltica brasileira at o ano de 1954 (quando se suicida.

  • Fortuna Crtica acerca da `evoluo da poesia de Vincius de Moraes e da estrutura bipartida de sua Antologia poticaFreqentemente, os crticos dividem a produo potica de Vinicius de Moraes em duas fases, intitulando-as fase mstica e social. Alguns estudiosos, como Renata Pallotini e Otto Lara Resende, consideram a produo inicial de Vinicius, voltada para questes metafsicas, logo abandonada para dar lugar ao verdadeiro poeta que se apresentaria em um segundo momento, dedicado lrica de tendncia social e amorosa. Outros crticos, como Antonio Candido e David Mouro Ferreira, contrariando tal posicionamento, defendem a idia de uma reelaborao destes princpios para uma espcie de humanizao do sentimento religioso.

    SANTOS, J. in: http://www.qprocura.com.br/dp/85137/Vinicius-de-Moraes-e-a-poesia-metafisica.html

  • As duas fases da antologia: oposio ou transio?

    Cosmoviso marcada por um anseio de transcendncia ou evasoo poeta do sublimeXCosmoviso marcada por uma tentativa de mergulhar na realidade (preocupao social)o poeta do cotidiano

  • Estrutura, temtica e estilo:So 146 poemas, entre verso-livre e poesia metrificada. Dentre os metrificados encontramos setesslabos e decasslabos. Alm de curiosos textos com mtrica hbrida (cada estrofe com uma mtrica)O poeta faz uso de: enumerao catica, livre associao, aliteraes, assonncias, coloquialismo, ironia.

  • Eixos temticos principais:A poesiaA mulher O sexoAs amizadesA msicaA guerraMorteImpresses de viagens

  • Poeta, um pouco tua maneira E para distrair o spleen Que estou sentindo vir a mim Em sua ronda costumeira

    Folheando-te, reencontro a rara Delcia de me deparar Com tua sordidez preclara Na velha foto de Carjat Que no revia desde o tempo Em que te lia e te relia A ti, a Verlaine, a Rimbaud...

    Como passou depressa o tempo Como mudou a poesia Como teu rosto no mudou!(Los Angeles, 1947)Bilhete a Baudelaire

  • A VerlaineEm memria de uma poesia Cuja iluminao maldita Lembra a da estrela que medita Sobre a putrefao do dia: Verlaine, pobre alma sem rumo Louco, srdido, grande irmo Do sangue do meu corao Que te despreza e te compreende Humildemente se desprende Esta rosa para o teu tmulo.

  • PoticaDe manh escureo De dia tardo De tarde anoiteo De noite ardo. A oeste a morte Contra quem vivo Do sul cativo O este meu norte. Outros que contem Passo por passo: Eu morro ontem Naso amanh Ando onde h espao: Meu tempo quando. (Nova York, 1950)

  • Soneto de contrioEu te amo, Maria, eu te amo tanto Que o meu peito me di como em doena E quanto mais me seja a dor intensa Mais cresce na minha alma teu encanto.

    Como a criana que vagueia o canto Ante o mistrio da amplido suspensa Meu corao um vago de acalanto Berando versos de saudade imensa.

    No maior o corao que a alma Nem melhor a presena que a saudade S te amar divino, e sentir calma...

    E uma calma to feita de humildade Que to mais te soubesse pertencida Menos seria eterno em tua vida. (Rio de Janeiro, 1938)

  • Soneto luaPor que tens, por que tens olhos escuros E mos lnguidas, loucas e sem fim Quem s, quem s tu, no eu, e ests em mim Impuro, como o bem que est nos puros?

    Que paixo fez-te os lbios to maduros Num rosto como o teu criana assim Quem te criou to boa para o ruim E to fatal para os meus versos duros?

    Fugaz, com que direito tens-me presa A alma que por ti solua nua E no s Tatiana e nem Teresa:

    E s tampouco a mulher que anda na rua Vagabunda, pattica, indefesa minha branca e pequenina lua!

  • II (2 parte da trilogia em homenagem a Eisenstein)Pelas auroras imobilizadas No instante anterior; pelos gerais Milagres da matria; pela paz Da matria; pelas transfiguradas

    Faces da Histria; pelo contedo Da Histria e em nome de seus grandes idos Pela correspondncia dos sentidos Pela vida a pulsar dentro de tudo

    Pelas nuvens errantes; pelos montes Pelos inatingveis horizontes Pelos sons; pelas cores; pela voz

    Humana; pelo Velho e pelo Novo Pelo misterioso amor do povo Spasibo, tovarishch, Khorosho.

  • Einsenstein (1898-1948)

  • O Encouraado Potemkin - 1925

  • Guernica - 1937

  • Criana MortaPortinari - 1944

  • Marinha

  • "Le mal est dans le monde comme un esclave qui fait monter leau." Claudel

    Na manh infinita as nuvens surgiram como a Ioucura numa alma E o vento como o instinto desceu os braos das rvores que estrangularam a terra... Depois veio a claridade, o grande cu, a paz dos campos... Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta. (Rio de Janeiro, 1935)A msica das almas

  • Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que so doces Porque nada te poderei dar seno a mgoa de me veres eternamente exausto. No entanto a tua presena qualquer coisa como a luz e a vida E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz. No te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado Quero s que surjas em mim como a f nos desesperados Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldioada Que ficou sobre a minha carne como uma ndoa do passado. Eu deixarei... tu irs e encostars a tua face em outra face Teus dedos enlaaro outros dedos e tu desabrochars para a madrugada Mas tu no sabers que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande ntimo (da noite Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa Porque meus dedos enlaaram os dedos da nvoa suspensos no espao E eu trouxe at mim a misteriosa essncia do teu abandono desordenado. Eu ficarei s como os veleiros nos portos silenciosos Mas eu te possuirei mais que ningum porque poderei partir E todas as lamentaes do mar, do vento, do cu, das aves, das estrelas Sero a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada. (Rio de Janeiro, 35)Ausncia

  • Lembras-te das pescarias Nas pedras das Trs-Marias Lembras-te, Marina?

    Na navalha dos mariscos Teus ps corriam ariscos Valente menina!

    Crescia na beira-luz O papo dos baiacus Que pescvamos

    E nas vagas matutinas Chupvamos tangerinas E vagvamos...

    Tinhas uns peitinhos duros E teus beicinhos escuros Flauteavam valsas

    Valsas ilhoas! vadio Eu procurava, no frio De tuas calasE te adorava; sentia Teu cheiro a peixe, bebia Teu bafo de sal

    E quantas vezes, precoce Em vo, pela tua posse No me sa mal...

    Deixavas-me dessa luta Uma adstringncia de fruta De suor, de alga

    Mas sempre te libertavas Com doidas dentadas bravas Menina fidalga!

    Foste minha companheira Foste minha derradeira nica aventura?

    Que nas outras criaturas No vi mais meninas puras Menina pura.

    Marina

  • A rosa de Hiroshima

    Pensem nas crianas Mudas telepticas Pensem nas meninas Cegas inexatas Pensem nas mulheres Rotas alteradas Pensem nas feridas Como rosas clidas Mas oh no se esqueam Da rosa da rosa Da rosa de Hiroshima A rosa hereditria A rosa radioativa Estpida e invlida A rosa com cirrose A anti-rosa atmica Sem cor sem perfume Sem rosa sem nada

  • Fim

  • Reviso e aprofundamentopara 2 fase:

  • No foste apenas um segredo De poesia e de emoo Foste uma estrela em meu degredo Poeta, pai! spero irmo. No me abraaste s no peito Puseste a mo na minha mo Eu, pequenino tu, eleito Poeta! pai, spero irmo. Lcido, alto e asctico amigo De triste e claro corao Que sonhas tanto a ss contigo Poeta, pai, spero irmo?Saudade de Manuel Bandeira

  • Em seu livro Belo belo (1948), Bandeira responde ao poema de ViniciusPoeta sou; pai, pouco; irmo, mais. Lcido, sim; eleito, no. E bem triste de tantos ais Que me enchem a imaginao. Com que sonho? No sei bem no. Talvez com me bastar, feliz Ah feliz como jamais fui! Arrancando do corao Arrancando pela raiz Este anseio infinito e vo De possuir o que me possui.

  • Nem surgisse um olhar de piedade ou de amor Nem houvesse uma branca mo que apaziguasse minha fronte palpitante... Eu estaria sempre como um crio queimando para o cu a minha fatalidade Sobre o cadver ainda morno desse passado adolescente. Talvez no espao perfeito aparecesse a viso nua Ou talvez a porta do oratrio se fosse abrindo misteriosamente... Eu estaria esquecido, tateando suavemente a face do filho morto Partido de dor, chorando sobre o seu corpo insepultvel. Talvez da carne do homem prostrado se visse sair uma sombra igual minha Que amasse as andorinhas, os seios virgens, os perfumes e os lrios da terra Talvez mas todas as vises estariam tambm em minhas lgrimas boiando E elas seriam como leo santo e como ptalas se derramando sobre o nada. Algum gritaria longe: "Quantas rosas nos deu a primavera!..." Eu olharia vagamente o jardim cheio de sol e de cores noivas se enlaando Talvez mesmo meu olhar seguisse da flor o vo rpido de um pssaro Mas sob meus dedos vivos estaria a sua boca fria e os seus cabelos luminosos.O olhar para trs

  • Rumores chegariam a mim, distintos como passos na madrugada Uma voz cantou, foi a irm, foi a irm vestida de branco! a sua voz fresca (como o orvalho... Beijam-me a face irm vestida de azul, por que ests triste? Deu-te a vida a velar um passado tambm? Voltaria o silncio seria uma quietude de nave em Senhor Morto Numa onda de dor eu tomaria a pobre face em minhas mos angustiadas Auscultaria o sopro, diria toa Escuta, acorda Por que me deixaste assim sem me dizeres quem eu sou?

    E o olhar estaria ansioso esperando E a cabea ao sabor da mgoa balanando E o corao fugindo e o corao voltando E os minutos passando e os minutos passando... No entanto, dentro do sol a minha sombra se projeta Sobre as casas avana o seu vago perfil tristonho Anda, dilui-se, dobra-se nos degraus das altas escadas silenciosas E morre quando o prazer pede a treva para a consumao da sua misria.

  • E que ela vai sofrer o instante que me falta Esse instante de amor, de sonho, de esquecimento E quando chega, a horas mortas, deixa em meu ser uma braada de (lembranas Que eu desfolho saudoso sobre o corpo embalsamado do eterno ausente.

    Nem surgisse em minhas mos a rsea ferida Nem porejasse em minha pele o sangue da agonia... Eu diria Senhor, por que me escolheste a mim que sou escravo Por que chegaste a mim cheio de chagas? Nem do meu vazio te criasses, anjo que eu sonhei de brancos seios De branco ventre e de brancas pernas acordadas Nem vibrasses no espao em que te moldei perfeita... Eu te diria Por que vieste te dar ao j vendido? Oh, estranho hmus deste ser inerme e que eu sinto latente Escorre sobre mim como o luar nas fontes pobres Embriaga o meu peito do teu bafo que como o sndalo Enche o meu esprito do teu sangue que a prpria vida!

  • Fora, um riso de criana longnqua infncia da hstia consagrada Aqui estou ardendo a minha eternidade junto ao teu corpo frgil! Eu sei que a morte abrir no meu deserto fontes maravilhosas E vozes que eu no sabia em mim lutaro contra a Voz. Agora porm estou vivendo da tua chama como a cera O infinito nada poder contra mim porque de mim quer tudo Ele ama no teu sereno cadver o terrvel cadver que eu seria O belo cadver nu cheio de cicatriz e de lceras. Quem chamou por mim, tu, me? Teu filho sonha... Lembras-te, me, a juventude, a grande praia enluarada... Pensaste em mim, me? Oh, tudo to triste A casa, o jardim, o teu olhar, o meu olhar, o olhar de Deus... E sob a minha mo tenho a impresso da boca fria murmurando Sinto-me cego e olho o cu e leio nos dedos a mgica lembrana Passastes, estrelas... Voltais de novo arrastando brancos vus Passastes, luas... Voltais de novo arrastando negros vus... Rio de Janeiro, 1935

  • Em meio a um cristal de ecos O poeta vai pela rua Seus olhos verdes de ter Abrem cavernas na lua. A lua volta de flanco Eriada de luxria O poeta, aloucado e branco Palpa as ndegas da lua. Entre as esferas nitentes Tremeluzem plos fulvos O poeta, de olhar dormente Entreabre o pente da lua. Em frouxos de luz e gua Palpita a ferida crua O poeta todo se lava De palidez e doura. Ardente e desesperada A lua vira em decbito A vinda lenta do espasmo Agua as pontas da lua. O poeta afaga-lhe os braos E o ventre que se menstruaA lua se curva em arco Num delrio de volpia. O gozo aumenta de sbito Em frmitos que perduram A lua vira o outro quarto E fica de frente, nua. O orgasmo desce do espao Desfeito em estrelas e nuvens Nos ventos do mar perspassa Um salso cheiro de lua E a lua, no xtase, cresce Se dilata e alteia e estua O poeta se deixa em prece Ante a beleza da lua. Depois a lua adormece E mngua e se apazigua... O poeta desaparece Envolto em cantos e plumas Enquanto a noite enlouquece No seu claustro de cimes.O poeta e a lua