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ANTES DO BAILE VERDE Lygia Fagundes Telles ANJO NEGRO Nelson Rodrigues CONTOS DE APRENDIZ Carlos Drummond de Andrade Melhores Poemas Gonçalves Dias. ANTES DO BAILE VERDE Lygia Fagundes Telles. 18 narrativas, escritas no período de 1949 a 1969. Literatura contemporânea - PowerPoint PPT Presentation

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18 narrativas, escritas no período de 1949 a 1969. Literatura contemporânea

Linha intimista da narrativa. Ficção introspectiva.

Penetração psicológica para delinear os conflitos do homem na sociedade contemporânea, através de uma

variedade de sentimentos que a vida moderna e basicamente urbana sucinta.

A tensão das personagens ou narradores é interiorizada, o que frequentemente as leva a não a agir, mas a evadir-se, subjetivando seus conflitos.

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Narrativas polissêmicas, repletas de sugestões conotativas, decorrentes da constante presença de metáforas e

símbolos, que corporificam as temáticas dos textos.

Personagens e objetos são interrelacionados para formar uma estrutura simbólica muito forte.

Escrita alusiva e elíptica, ou seja, não há muitas descrições objetivas.

Narradores oscilam entre 1ª e 3ª pessoas. Usa o discurso indireto-livre, o fluxo de consciência e o monólogo interior,

através dos quais o leitor conhece os pensamentos e emoções dos protagonistas.

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A cor verde está sempre presente para indicar o jogo com a palavra literária e poética, já que as narrativas de Lygia contêm tantos sentidos metafóricos. O verde forma um jogo entre aparência e essência, realidade e imaginação, verdade e mentira. Apenas no conto “Natal na barca” o verde está ligado a ideia de esperança.

Ao final da leitura ficará a cargo do leitor criar o clima de mistério, de terror, de desamor e desencontro, de solidão e abandono.

Os finais dos contos provocam o imaginário coletivo e convocam os leitores a participarem do ponto de vista das personagens e narradores. Narrativas reticentes e instigantes

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Considerações sobre os contos: Rejeição, solidão, frustração, desencontro são temáticas constantes.

Finais geralmente trágicos, pois não apresentam saída para as personagens e seus narradores.

Por trás da delicadeza da linguagem escondem-se sugestões das pequenas crueldades impostas pela vida.

A velhice, por exemplo, é abordada de modo irônico e desencantado, por ser fruto de desprazer e abandono.

Da mesma maneira o casamento e as relações amorosas existem mais como fonte de amargura e decepção do que propriamente de felicidade.

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Os ambientes familiares não são idealizados de forma alguma; são corroídos pela inabilidade de entendimento entre as personagens. Assim como o meio familiar é perturbado, os relacionamentos e sentimentos são insatisfatórios e decepcionantes.

Em meio da percepção aos detalhes do real, desvela-se o drama íntimo das personagens, retrata-se a solidão interior das personagens. Há preocupação em sondar a psicologia desses seres.

As mulheres são em geral livres de amarras, sedutoras, liberais, mas que sofrem por causa da traição, do abandono e das consequências de suas escolhas.

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Não raro, as personagens estão às voltas com seu passado, e caem em estados reflexivos. O leitor compartilhará das lembranças somente à medida que emergirem, mas a maior parte ficará encoberta.

Tipos variados:

Adolescentes, idosos, ricos, miseráveis, crianças, pessoas das mais variadas classes sociais e categorias.

Apresentados ao leitor com sua linguagem característica, seus trejeitos, suas inflexões, suas visões de mundo.

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NARRADOR DE 1ª PESSOAEU ERA MUDO E SÓ

(Manuel)NATAL NA BARCA

(narradora sem nome)O JARDIM SELVAGEM

(a menina Ducha)O MOÇO DO SAXOFONE

(um motorista de caminhão)HELGA

(Paulo Silva filho que se transforma no germânico Paul Karsten)

APENAS UM SAXOFONE (sem nome)

VERDE LAGARTO AMARELO (Rodolfo)

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NARRADOR DE 3ª PESSOA

AS PÉROLAS; O MENINO; VENHA VER O PÔR-DO-SOL; A JANELA; MEIA-NOITE EM PONTO EM XANGAI; A CHAVE; A CAÇADA; ANTES DO BAILE VERDE; OS OBJETOS; UM

CHÁ BEM FORTE E TRÊS XÍCARAS; A CEIA

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Gênero: DRAMÁTICO

Realiza-se com o objetivo de mostrar ações que se desenrolam diante dos espectadores. Sua principal característica é, pois, a representação.

TRAGÉDIA:

Representa, de modo catastrófico, acontecimentos que causam no público não só terror, mas também compaixão.

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ATO: subdivisão da ação de uma peça, que em geral compreende uma unidade temporal e desenvolve um estágio, ou fase, do conflito e da trama entre os personagens.

QUADRO: designa um cenário fixo em tempo contínuo que pode prevalecer durante várias cenas. Ao se mudar o cenário ou o tempo de representação (aurora para o crepúsculo, por exemplo) muda-se o quadro.

RUBRICA: a palavra designa os apontamentos (em geral impressos em itálico) que o autor põe no texto da peça e que orientam o comportamento dos atores, a visão do diretor, ou descrevem o cenário, a cena, situam a época etc.

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Anjo Negro, peça teatral de Nelson Rodrigues, foi escrita em 1946 (estreou em 1948). O autor ao perceber o preconceito de que o negro é alvo na sociedade brasileira e a existência de preconceito no negro em relação a outro da mesma cor, resolveu escrevê-la.  Uma outra razão foi porque achava um absurdo o negro ser representado no teatro apenas como o “moleque gaiato” das comédias de costumes ou por tipos folclorizados. Por isso, criou um personagem – Ismael – de classe média, inteligente, mas também com paixões e ódios, ou seja, “um homem, com dignidade dramática”, enredado em situações proféticas e míticas 

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A peça é apresentada em três atos.  Na trama de Anjo Negro, pulula a violência, nas suas mais diversas formas, das mais variadas naturezas, em constantes situações.

As personagens são violentas entre si, sofrem a violência, vivem-na. Há vinganças recíprocas e intermináveis. Há ódio dissimulado no amor. Amor dissimulado no ódio. Ou somente um desejo, que gera violência. A história de Anjo Negro apresenta-se, assim, como uma rede truncada de muita violência.

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A questão racial é tratada de forma radical. Numa sociedade dominada pelo branco, a única estratégia possível de inserção é a adoção da ética branca, dominadora e autoritária. Repudiando sua cor e origem, Ismael desfruta dos privilégios do branco: dinheiro, status, prestígio e uma mulher também branca.

Destruídos os bloqueios morais impostos pela civilização, o que aparece é um mundo infernal de desejos proibidos, crueldade, amoralismo e “nostalgia da lama”. Os instintos arrastam os personagens – dentro do próprio quadro familiar – ao incesto, à perversão e ao crime, ao mesmo tempo que o sonho de uma impossível pureza segue atormentando-os.

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PERSONAGENS

ISMAEL(o marido negro) VIRGÍNIA (a esposa)ELIAS (o irmão branco de Ismael)ANA MARIA (a filha branca de Virgínia e Elia)TIA E 5 PRIMASCRIADACOVEIROS DE CRIANÇASCORO DE PRETAS DESCALÇASCARREGADORES

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ESQUEMA DAS AÇÕES E FATOS NARRATIVOS (INTRIGA) 

VIRGÍNIAVivia com a Tia e as 5 primas. Amava o noivo da prima

caçula. Um dia se entrega a ele. (“Não houve uma palavra, ele me pegou e me beijou. Nada mais, a não ser a mão que

percorreu o meu corpo...”) 

TIA e PRIMA CAÇULA chegam e veem a cena. 

A prima suicida (enforca-se) 

A vingança da tia: Na noite do velório da filha, o negro Ismael sobe ao quarto de Virgínia e a estupra. Vão se casar. Ela nunca mais sairia da casa. A tia e primas vão embora.

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O casal teve 03 filhos negros, todos mortos por Virgínia.

Toda vez que se velava um dos filhos, a tia e as primas apareciam.

Ismael sabe que Virgínia matava seus filhos. O último fora morto em um tanque, tão raso que não seria possível o filho ter se afogado. Ismael assistiu a cena da janela do

quarto e nada fez para impedir. 

A chegada do irmão de Ismael, o cego Elias (homem branco).

 Virgínia não sabia da presença dele, a qual é revela pela criada negra. Virgínia a suborna para que abra a porta do

quarto e possa ver Elias. 

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Virgínia se entrega a Elias. Ele faz juras de amor e fidelidade. Tem medo do irmão tal como Virgínia. Mas a mataria para concretizar o amor, como uma libertação e

prova de amor.

A tia e as primas chegam atrasadas para o velório. Veem Elias sair do quarto. A tia pressiona Virgínia a revelar a traição. Ela revela. A tia ameaça contar tudo ao marido,

como forma de vingança pelo suicídio da filha. 

Ismael chega. Virgínia tenta seduzi-lo, como nunca antes fizera, pois sempre reagia como se estivesse sendo

violentada. 

A tia sobe ao quarto e conta da traição. Ismael expulsa tia e primas.

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Manda que Virgínia chame Elias. Vai matá-lo. Virgínia concorda como forma de proteção a sua vida.

 Depois de assassinado Elias, Ismael diz que matará o filho

que Virgínia espera de Elias, fazendo o mesmo que ela fazia com seus filhos.

 Nasce o bebe de Virgínia. Ela desejava um homem branco,

pois assim poderia se entregar a ele, mas surge uma menina branca, a qual nunca amará, principalmente porque

Ismael não permitirá que Virgínia jamais fique só com a filha.

 Ismael diz a Ana Maria que ele é o único homem branco

que existe. Os negros são maus e ela tem que ficar protegida na casa. Ismael cega a menina com ácido para

que ela nunca saiba a verdade.

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Passam-se 16 anos. Ana Maria idolatra o pai Ismael e odeia a mãe. Ele também mantém relação sexual com a

menina sem que a mãe saiba. 

Uma mulher é estuprada por um negro de 6 dedos. Seus gritos de terror lembram os de Virgínia. Ninguém faz

nada. 

Um grupo de negros aparece trazendo o corpo da mulher estuprada. Teria uns 40 anos. Pedem para ficar no

estábulo da casa até que o carro venha buscar o corpo. 

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Aparece a tia, velha, diz a Ismael que a mulher estuprada era sua última filha. Ela mandou que a filha passasse pela fonte

para que não morresse virgem como as outras, mas não esperava que o homem a matasse. A tia roga uma praga

dizendo que Ana Maria morreria virgem também, que agora já estava com 15 anos.

 Quando a filha tem 15 anos, Virgínia pede a Ismael para poder ficar a sós com a filha e revelar a verdade. Ele irá

permitir que elas fiquem três noites juntas, no final Virgínia terá que ir embora, ficarão apenas Ana Maria e Ismael.

Virgínia concorda. 

Depois de revelada toda a história a Ana Maria, esta não acredita na mãe, a expulsa de sua vida e revela que mantém relações com Ismael e que este a ama. Virgínia tem ciúmes.

 

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Ao procurar Ismael vê que ele construiu um mausoléu de vidro para que Ele e Ana Maria fiquem longe dos olhos de

todos. Ismael manda Virgínia embora.

Virgínia o seduz dizendo que Ana Maria só gosta dele porque acha que é branco, ela não, sabe que é preto e o

deseja muito. 

Ismael concorda com Virgínia em prender Ana Maria no mausoléu para que morra ali. Faz isso. Depois os dois

sobem para o quarto. Querem ter outros filhos, os quais morrerão como todos os outros filhos:

 “SENHORA: Em vosso ventre existe um novo filho!SENHORA: Ainda não é carne, ainda não tem cor!

SENHORA: Futuro anjo negro que morrerá como os outros!SENHORA: Que matareis como vossas mãos!

SENHORA: ó Virgínia, Ismael!” (Anjo Negro, página 192)

  

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O elemento que direciona todas as ações humanas nesta obra de Nelson Rodrigues é a sexualidade, apresentada sempre de forma corrompida. O sexo está o tempo todo relacionado à violência e ao desejo proibido.

O estilo poético-realista de Nelson Rodrigues revela, de maneira perturbadora, temas adormecidos no inconsciente. Ele revolve esse universo profundo do espectador trazendo à consciência o recalcado e utiliza-se da tragédia para falar do racismo. Assim, remete-nos ao drama grego: a tragédia, pois somente o trágico daria conta de desvendar essa realidade brasileira relegada às trevas – o racismo. Algo da ordem do trágico, tal qual é explicitado no drama grego, pode estar muito próximo de nós, se considerarmos que, enquanto humanos, vivenciamos as emoções que o perpassam.

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SEMELHANÇA À TRAGÉDICA CLÁSSICA

Apesar de ser formalmente bem mais semelhante à tragédia clássica, é difícil organizar Anjo Negro dentro dos padrões trágicos. Ismael também é movido por amor, e esse exagero de amor o faz incorrer em erros ainda mais graves, como o assassinato da filha; mas seu maior erro é o preconceito com sua cor. Se se tratar Virgínia como heroína, teríamos uma estrutura semelhante à de seu marido; seu erro seria o mesmo, é o preconceito da cor, mas depois do casamento, ele se torna repugnante a ela que, por ódio, mata seus filhos. (...) é difícil considerá-los personagens maus, porque a sociedade em que estão inseridos é fortemente racista o que quase os impele para o erro.  

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15 contos que se realizam sobre:

recordações dos tempos infantis (com suaves toques emocionais e cenário de cidadezinhas do interior, ou na vida cotidiana carioca); há uma presença do tom irônico e humorístico característico do autor.

O textos podem ser divididos em 04 temáticas:

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A infância: reminiscências, o comportamento infantil e o contraste com o adulto, a imaginação.

“A salvação da Alma” (1ª p) – evocação da infância e mostra a seriedade grave de uma criança, empenhada em salvar sua alma das garras do demônio e de pecados inculcados por uma religião de concepção medieval.

“O sorvete” (1ª p) – Compram o sorvete, mas vem a decepção. Sonho é belo, enquanto sonho; a realidade é dolorosa e chocante,e quase sempre traz decepção e frustração.

“A doida” – a transformação de uma criança descobrindo o lado humano

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“Nossa amiga” – Valoriza “as campinas da imaginação”, o “elemento poetizável” do mundo infantil. No final uma intertextualidade bíblica, que coloca o conto no sentido da compaixão humana.

“Conversa de velho com criança” (1ª p) – a menina Maria de Lourdes e Ferreira, uma relação de amizade em bonde. O Narrador Carlos questiona o seu mundo.

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Impressões: o comportamento de certas personagens e o “mergulho” em seu estado de espírito e ânimo ante as inquietações da vida.

“O presépio” – profano x sagrado – a mulher e o olhar machista

“Extraordinária conversa com uma senhora de minhas relações” (1ª p) – texto com digressões sobre a beleza

“Meu companheiro” (1ª p) - O cão exerce função moral de consciência ao narrador, e recupera sua infância e o autoriza a praticar atos que a condição de adulto não permita.

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Questões sociais: a força opressora do capitalismo, o valor humano relegado a um segundo plano.

“Câmara e cadeia” - Conto com acentuado humor: em cima, vereadores na câmara que discutiam um meio de cobrar mais impostos; em baixo, numa miséria sórdida, a cadeia com 5 presos em situação deplorável.

“Beira-rio” Negro Simplício, vindo de Pirapora, pretende montar sua bitácula, venda de cigarros, pastéis e aguardente. Desafia o poder da Companhia. Simplício representa a dignidade do homem na luta contra a opressão.

“Um escritor nasce morre” (1ª p) - Escritores em torno dele discutiam assuntos literários, ele vai caindo em profunda solidão. Sátira literária Reflexão sobre a literatura engajada.

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Universo fantástico, surreal, macabro: situações misteriosas, histórias do sobrenatural, atitudes absurdas e insólitas do homem.

“Flor, telefone, moça” – moça rouba flor do cemitério e uma voz ao telefone lhe cobra a flor. A insistência leva a moça ao desespero e à morte. A voz não chama mais. Tom de ironia.

“A baronesa” Narrativa com característica de humor negro, pelo tom satírico e irônica, em que se opõe, entre outras coisas, a nobreza e a avareza.

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“O gerente” – Samuel, gerente de banco, comia o dedo de mulheres quando as cumprimentava.

“Miguel e seu furto”. O roubo do mar. Miguel depositou sua fortuna em bancos seguros e passou a colecionar conchinhas para se lembrar de sua ex-propriedade. Troca da 1ª pessoa do plural para a 3ª.

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Os textos de Drummond têm a estrutura dos contos tradicionais modernistas, apesar de se perceber em alguns a proximidade com a crônica, pois estes focam lapsos do cotidiano. É o que ocorre em “Conversa de Velho com Criança”.  

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OBS: Com o auxílio da imaginação e um limite entre o real e o fantástico, Drummond constrói histórias típicas do cotidiano urbano, que muitas vezes remontam aos tempos das cidades pequenas e de interior.

Há ternuras, como no conto “Meu companheiro”; decepções, “O sorvete”; solidariedade, “A doida”; crenças interioranas, “A salvação da alma”; olhares perturbados de um homem para com uma mulher em um coletivo, momentos de sensualidade e desejos, “Extraordinária conversa com uma senhora de minhas relações”; o fantasmagórico surrealismo de “Flor, telefone, moça”; o devaneio de uma moça ante a montagem de um presépio e o namorado, “O presépio”.  

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ROMANTISMO (SÉC. XIX)Inicialmente apenas uma atitude, um estado de espírito, o Romantismo toma mais tarde a forma de um movimento e o espírito romântico passa a designar toda uma visão de mundo centrada no INDIVÍDUO. Os autores românticos voltaram-se cada vez mais para si mesmos, retratando o drama humano, amores trágicos, ideais utópicos e desejos de escapismos (fugas).

Primeira Geração Romântica: geração nacionalista ou indianista, pois tomou o índio como representante da nacionalidade brasileira, do passado pré-colonial do país. Também apresenta a exaltação da natureza (principalmente ao reproduzir a “cor local”), o sentimentalismo e a religiosidade como traços principais.

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A OBRA MELHORES POEMAS: É uma coletânea organizada por José Carlos Garbuglio e publicada pela editora Global. Para compô-la o organizador buscou alguns poemas de:

“Primeiros cantos” (poesias americanas, diversas e hinos);

“Novos Cantos”;

“Sextilhas do Frei Antão” (texto com linguagem arcaica, erudita);

“Últimos cantos” (poesias americanas e diversas);

“Os Timbiras” (apenas a introdução desse poema épico inacabado); e outras poesias.

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Há nos poemas de Gonçalves Dias:

Tendências neoclássicas (árcades): a harmonia, o equilíbrio, a sobriedade e a elegância que o afastam dos excessos do romantismo;

Indianismo como parte mais representativa do nacionalismo, mas a natureza estão em grande parte da poesia do autor;

O índio não é o selvagem americano e sim um ser poético elaborado segundo as convenções da lírica ocidental, principalmente como enriquecimento do patrimônio cultural;

O índio apresenta intuitos de heroicização e de engrandecimento do nascente orgulho nacional; ele é um exemplar de atributos e virtudes da cultura branca;

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Há a presença do poema dramático “I- JUCA PIRAMA” (aquele que vai morrer):Uma narrativa em versos que mostra as variações psicológicas do guerreiro aprisionado e os diferentes momentos da preparação do ritual da festa (antropofágica). Tudo isso em mobilidades rítmicas dos versos que acentuam o drama vivido pelo guerreiro, desde o momento da “maldição” profanada pelo pai, até a reabilitação do guerreiro, que tocado pelo sentimento bem ocidental de dever, se assemelha aos padrões da cavalaria medieval.Personagens da obra:1 — I-Juca Pirama: o herói romantizado, guerreiro Tupi, nobre, corajoso. Cuida do pai cego.2— O Velho Tupi: pai de I Juca Pirama, velho e cego. Honra a ética da bravura.3—Os Timbiras: representados pela figura do Chefe. Ferozes e canibais.4—O Velho Índio Timbira: narrador e personagem - testemunha.

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Valorização do nacional: poesia de exaltação ou simples descrição da paisagem brasileira;

Aproxima-se à poesia da natureza os estados de solidão e melancolia do eu lírico, como também a poesia religiosa que surge em “Visões”, “A ideia de Deus”, tal como propõe o Romantismo: tudo aparece como projeção da vontade divina ou expressões que se ligam aos estados íntimos do poeta;

Poemas amorosos: resultado de dores fictícias – nem por isso menos sofridas – de um homem que se comprazia em figurar dificuldades e impossibilidades;

Nas “Sextilhas de Frei Antão” vê-se o grande conhecimento de Gonçalves Dias a respeito de poesia e das fontes eruditas e medievais da língua Portuguesa, em especial com os cancioneiros.

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O fazer poético e o ideário romântico:

a)o culto e exaltação da natureza, vista quase sempre como reflexo de Deus;b)a tendência para a solidão, em contato com a natureza, longe da sociedade;c)a necessidade de perpassar tudo de imaginação e sentimentalismo;d)o derramamento lírico, em que o poeta extravasa as emoções e sentimentos de forma livre e espontânea;e)a necessidade de perpassar a produção poética do sentimento cristão e religioso;f)a metrificação variada e livre, sem o rigor formalista da poesia clássica;g)a improvisação, deixando-se o poeta levar pela imaginação e pelas emoções, sem o freio do racionalismo clássico.

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Em “primeiros cantos” percebe-se que o trato dado ao índio é representado pelo ritmo (versos breves, fortemente cadenciados e sabiamente construídos na sua alternância de sons duros e vibrantes) e por expressões de valores bélicos (exaltação da qualidade dos índios, principalmente a honradez e a bravura).

Aqui na florestaDe ventos batidos,

Façanhas de bravosNão geram escravosQue estimem a vidaSem guerra e lidar.(canto do guerreiro)

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O índio, na obra, se deixa enganar, mas não escravizar. Sua resposta à escravização é a luta, mesmo que esta lhe custe a vida:

Não sabeis o que o monstro procura?Não sabeis a que vem, o que quer?

Vem matar vossos bravos guerreiros,Vem roubar-vos a filha, a mulher!

Vem trazer-vos crueza, impiedade –Dons cruéis do cruel Anhangá;

Vem quebrar-vos a maça valente,Profanar Manitôs, Maracás.

(canto do Piaga)

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O sentimentalismo lamuriante e lacrimoso. O desejo de amar que não se concretiza, como também a infelicidade, o desengano, a solidão, entrelaçados à ideia de morte. A mulher, na concepção romântica, vivendo em uma dimensão inatingível, uma “etérea visão”, que se confunde com “os anjos”.

É triste a minha Musa, como é triste O sincero verter d´amargo pranto

D´órfã singelaÉ triste como o som que a brisa espalha,

Que cicia nas folhas do arvoredo Por noite bela.

(Minha Musa) 

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 À noite quando durmo, esclarecendo

As trevas do meu sono,Uma etérea visão vem assentar-se

Junto ao meu leito aflito!Anjo ou mulher? Não sei. – Ah! Se não fosse

Um qual véu transparente, Como que a alma pura ali se pinta

Ao través do semblante,Eu a crera mulher... – E tentas, louco,

Recordar o passado,Transformando o prazer, que desfrutaste,

Em lentas agonias?!( O delírio)

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Ao encontrar pela última vez, em Portugal, sua amada Ana Amélia, produz “Ainda uma vez, adeus”. Um poema repleto de comoção do último encontro.

Enfim te vejo! - enfim posso, Curvado a teus pés, dizer-te, Que não cessei de querer-te,

Pesar de quanto sofri. Muito penei! Cruas ânsias, Dos teus olhos afastado,

Houveram-me acabrunhado A não lembrar-me de ti!

                      II Dum mundo a outro impelido, Derramei os meus lamentos Nas surdas asas dos ventos,

Do mar na crespa cerviz! Baldão, ludíbrio da sorte

Em terra estranha, entre gente, Que alheios males não sente,

Nem se condói do infeliz!

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A atitude idealizada. Na impossibilidade o sujeito idolatra a amada à distância. O pessimismo invade o espaço da euforia. O eu lírico se rende à angústia e à melancolia.

Se se morre de amor! – Não, não se morre,Quando é fascinação que nos surpreende

De ruidoso sarau entre os festejos;Quando luzes, calor, orquestra e floresAssomos de prazer nos raiam n’alma,

Que embelezada e solta em tal ambienteNo que ouve, e no que vê prazer alcança!

Simpáticas feições, cintura breve,Graciosa postura, porte airoso,

Uma fita, uma flor entre os cabelos,Um quê mal definido, acaso podemNum engano d’amor arrebatar-nos.

Mas isso amor é; isso é delírio,Devaneio, ilusão, que se esvaece

Ao som final da orquestra, ao derradeiroClarão, que as luzes no morrer despedem:Se outro nome lhe dão, se amor o chamam,

D’amor igual ninguém sucumbe à perda.(se se morre de amor)

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“Loa da Princesa Santa” – in.: Sextilha de Frei Antão

“Loa”: pode significar tanto um prólogo de uma composição dramática, como um discurso elogioso, um cântico de louvor às virtudes de um santo ou virgem, uma toada de tom melancólico; ou mesmo mentira e fanfarronice.

Frei Antão após rápida apresentação de si, passa a narrar à festa de chegada da comitiva de Afonso Quinto, que em regresso de suas campanhas na África, trazia como escravos um turba de mouros. Chama a atenção do frade as belezas de uma jovem e específica mourisca, por quem devotará uma paixão

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LOA DA PRINCESA SANTA 

Bom tempo foi o d’outroraQuando o reino era cristão,

Quando nas guerras de mourosEra o rei nosso pendão,

Quando as donas consumiamSeus teres em devação.

 Dava o rei uma batalha,Deus lhe acudia do céu;

Quantas terras que ganhava,Dava ao Senhor que lhas deu,

E só em fazer mosteirosGastava muito do seu.

 Se havia muitos Infantes,

Torneio não se fazia;É esse o estilo de Frandres,Onde anda muita heregia:Para os armar cavaleirosA armada se apercebia.

(...)

 

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O amor à pátria brasileira é visível em “O gigante de pedra”.Nele o autor dá vida monte (conhecido hoje como Pão de açúcar).

IGigante orgulhoso, de fero semblante,

Num leito de pedra lá jaz a dormir!Em duro granito repousa o gigante,

Que os raios somente poderam fundir. 

Dormido atalaia no serro empinadoDeverá cuidoso, sanhudo velar;

O raio passando o deixou fulminado,E à aurora, que surge, não há de acordar!

(...)

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Em “Leito de folhas verdes” há os três elementos do romantismo:

O índio: como um homem puro, ingênuo, feliz e bom. A natureza: a beleza das flores e plantas com seus perfumes. A mulher: peça fundamental do romantismo.

Porque tardas, Jatir, que tanto a custoÀ voz do meu amor moves teus passos?Da noite a viração, movendo as folhas,Já nos cimos do bosque rumoreja. Eu sob a copa da mangueira altivaNosso leito gentil cobri zelozaCom mimoso tapiz de folhas brandas,Onde o frouxo luar brinca entre flores. Do tamarindo a flor abriu-se, há pouco,Já solta o bogari mais doce aroma!Como prece de amor, como estas preces,No silêncio da noite o bosque exala.

1ª estrofe: eu lírico feminino anseia pela volta de seu amado Jatir. Elementos da natureza corroboram para a sensação de angústia.

2ª e 3ª estrofes: natureza como leito de amor e doçura do momento.

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Em “Marabá” – o desprezo do índio pela miscigenação. Marabá será sinônimo de desprezo, descaso, desapego e solidão:

Eu vivo sozinho; ninguém me procura!Acaso feitura

Não sou de Tupá!Se algum dentre os homens de mim não se esconde:

– “Tu és,” me responde,“Tu és Marabá!”

 – Meus olhos são garços, são cor das safiras,

– Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar;– Imitam as nuvens de um céu anilado,– As cores imitam das vagas do mar!

 Se algum dos guerreiros não foge a meus passos:

“Teus olhos são garços,”Respondo anojado, mas és Marabá:

“Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes,“Uns olhos fulgentes,

“Bem pretos, retintos, não cor d’anajá!”

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“Os Timbiras” Epopeia indianista inacabada de Gonçalves Dias, é uma narração dividida em uma introdução e quatro cantos. É o ponto exato em que o mito do bom selvagem, constante desde os árcades, acabou por fazer-se verdade artística.Nos poemas são narrados os feitos de guerreiros timbiras, principalmente do chefe Itajubá e do jovem guerreiro Jatir. Altamente idealizados, estes índios falam apenas em valor, coragem, guerra e honra, num mundo habitados por inimigos vis, piagas (pajés) sábios e guerreiros valorosos. O autor usa e abusa de termos em tupi e do verso branco (sem rima).

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IntroduçãoPoema Americano Os RITOS semibárbaros dos Piagas,Cultores de Tupã, e a terra virgemDonde como dum trono, enfim se abriramDa cruz de Cristo os piedosos braços;As festas, e batalhas mal sangradasDo povo Americano, agora extinto,Hei de cantar na lira. – Evoco a sombraDo selvagem guerreiro!... Torvo o aspecto,Severo e quase mudo, a lentos passos,Caminha incerto, – o bipartido arcoNas mãos sustenta, e dos despidos ombrosPende-lhe a rota aljava... as entornadas,Agora inúteis setas, vão mostrandoA marcha triste e os passos mal segurosDe quem, na terra de seus pais, embaldeProcura asilo, e foge o humano trato.