antena yagi-uda de 5 elementos vhf

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ANTENA YAGI-UDA DE 5 ELEMENTOS PARA VHF Mário Mateus, CT1AHM. [email protected] Página Web. http://pwp.netcabo.pt/0316988701 A operação em QRP requer sempre sistemas de irradiação bem dimensionados e ajustados. Este requisito assume particular importância quando se opera em VHF. Basta fazer uma busca na Internet e, de imediato, temos acesso a uma quantidade de projectos de antenas dos mais variados tipos e para as mais diversas frequências. Da mesma forma são inúmeros os projectos divulgados em revistas e em livros, nomeadamente nos Handbook. Encontram-se também vários programas de cálculo que permitem fazer o dimensionamento e a simulação de antenas. Há já algum tempo que procurava um projecto para a realização de uma antena Yagi- Uda para a banda de VHF e, foi exactamente numa destas buscas, que encontrei um documento publicado em 1976, pelo National Bureau of Standards. Este documento apresenta a colecção de uma série de resultados obtidos pela experimentação de antenas Yagi, de variadas configurações. Estas antenas devem o seu nome aos professores Hidetsugu Yagi e Shintaro Uda, da Tohoku Imperial University (actual Universidade de Tohoku), no Japão e, que entre os anos 1926 e 1930 efectuaram uma série de experiências com antenas que, na sua versão original, eram compostas por um dipolo, um reflector e um director. Relativamente a estas antenas, descrevendo o seu funcionamento de forma simplificada, dir-se-ia apenas que a energia com que se excita o dipolo induz nos outros elementos (aqui considerados parasitas, por serem passivos) correntes de amplitude e fase que dependem, individualmente, do comprimento de cada um destes e ainda da sua distância relativamente ao elemento excitado, o dipolo. Em consequência desta distribuição de correntes, e das suas fases relativas, consegue- se que o campo electromagnético gerado, tenha maior intensidade na direcção frontal (para onde apontam os directores) e menor na direcção oposta (o lado do reflector), adquirindo assim características direccionais. Nestas antenas, o ganho de potência está assim relacionado com o número de elementos parasitas que a compõem, o que tem naturalmente influência no comprimento físico da estrutura que suporta estes elementos, também denominado de “boom”.

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Page 1: Antena Yagi-Uda de 5 Elementos VHF

ANTENA YAGI-UDA DE 5 ELEMENTOS PARA VHF

Mário Mateus, CT1AHM. [email protected]

Página Web. http://pwp.netcabo.pt/0316988701

A operação em QRP requer sempre sistemas de irradiação bem dimensionados e

ajustados. Este requisito assume particular importância quando se opera em VHF.

Basta fazer uma busca na Internet e, de imediato, temos acesso a uma quantidade de

projectos de antenas dos mais variados tipos e para as mais diversas frequências. Da mesma

forma são inúmeros os projectos divulgados em revistas e em livros, nomeadamente nos

Handbook. Encontram-se também vários programas de cálculo que permitem fazer o

dimensionamento e a simulação de antenas.

Há já algum tempo que procurava um projecto para a realização de uma antena Yagi-

Uda para a banda de VHF e, foi exactamente numa destas buscas, que encontrei um documento

publicado em 1976, pelo National Bureau of Standards.

Este documento apresenta a colecção de uma série de resultados obtidos pela

experimentação de antenas Yagi, de variadas configurações.

Estas antenas devem o seu nome aos professores Hidetsugu Yagi e Shintaro Uda, da

Tohoku Imperial University (actual Universidade de Tohoku), no Japão e, que entre os anos 1926

e 1930 efectuaram uma série de experiências com antenas que, na sua versão original, eram

compostas por um dipolo, um reflector e um director.

Relativamente a estas antenas, descrevendo o seu funcionamento de forma simplificada,

dir-se-ia apenas que a energia com que se excita o dipolo induz nos outros elementos (aqui

considerados parasitas, por serem passivos) correntes de amplitude e fase que dependem,

individualmente, do comprimento de cada um destes e ainda da sua distância relativamente ao

elemento excitado, o dipolo.

Em consequência desta distribuição de correntes, e das suas fases relativas, consegue-

se que o campo electromagnético gerado, tenha maior intensidade na direcção frontal (para

onde apontam os directores) e menor na direcção oposta (o lado do reflector), adquirindo assim

características direccionais.

Nestas antenas, o ganho de potência está assim relacionado com o número de

elementos parasitas que a compõem, o que tem naturalmente influência no comprimento físico

da estrutura que suporta estes elementos, também denominado de “boom”.

Page 2: Antena Yagi-Uda de 5 Elementos VHF

Características adimensionais optimizadas:

A Tabela 1, transcrita do citado documento, apresenta os valores correspondentes às

dimensões de uma antena de 5 elementos com um comprimento de boom igual uma fracção de

0,8 do comprimento de onda da frequência de interesse ( λx8,0 ).

Comprimento do boom, λ 0,8

Comprimento do reflector, λ 0,484

D1 0,437

D2 0,429 Comprimento dos directores, λ

D3 0,437

Espaçamento entre directores, λ 0,20

Tabela 1 – Valores optimizados para o comprimento dos elementos considerando uma

relação entre o diâmetro dos elementos e o comprimento de onda, 0058,0=λ

d.

Dimensionamento da antena para a frequência de 145,000 MHz:

Utilizando os valores tabelados, dimensionam-se os comprimentos dos vários elementos

começando por calcular o comprimento de onda

m0689,2

000,145

300==λ

mxDD 903,00689,2437,031 ===

mxD 888,00689,2429,02 ==

mxREFLECTOR 001,10689,2484,0 ==

mxDIPOLO 983,0

2

0689,295,0 ==

Estas são as dimensões que deveríamos tomar considerando que os elementos se

encontram isolados do boom. No entanto, na opção construtiva tomada, os elementos cujo

diâmetro é de 12 mm atravessam o boom, pelo que os seus comprimentos têm que ser

Page 3: Antena Yagi-Uda de 5 Elementos VHF

corrigidos. Esta correcção é função da relação entre o diâmetro equivalente do boom e o

comprimento de onda a que corresponde a frequência.

Para a construção do boom utilizou-se um tubo de alumínio de secção quadrada de

20 mm de lado. Fazendo a equivalência entre a secção do tubo quadrado e a secção de um tubo

de secção circular equivalente, obtêm-se um diâmetro de 22,56 mm, correspondendo-lhe uma

correcção de λ×007,0 , ou seja 14 mm.

Com as correcções efectuadas as dimensões, em metros, são as indicadas na Tabela 2.

Os comprimentos indicados devem ser cortados com uma tolerância de λ×003,0 , o que neste

caso corresponde a ±6 mm.

Comprimento de boom, m 1,66

Comprimento do reflector, m 1,015

Comprimento do dipolo, m 0,983

D1 0,917

D2 0,902 Comprimento dos directores, m

D3 0,917

Espaçamento entre directores, m 0,414

Tabela 2 – Dimensões dos elementos da antena com as correcções aplicadas

Após a construção, foi necessário retocar o comprimento dos directores – alterando as

suas frequências de ressonância – para tornar a antena ressonante na parte central da banda

(145,000 MHz). Na figura 1 apresentando-se os comprimentos finais dos vários elementos.

Refira-se, no entanto, que estas dimensões poderão variar ligeiramente dependendo do diâmetro

dos elementos e da secção do boom.

Figura 1 – Esquema com as dimensões finais

da antena

Figura 2 – Antena depois de finalizada

0,414 m 0,414 m 0,414 m 0,414 m

1,0

12

m

0,9

83 m

0,9

00 m

0,8

92 m

0,9

00 m

Page 4: Antena Yagi-Uda de 5 Elementos VHF

Sistema adaptador para o cabo de alimentação:

Numa antena Yagi de 5 elementos, a impedância no ponto de alimentação é muito

baixa, por volta dos 20 Ohms, não permitindo a ligação directa entre esta e uma linha de

alimentação de 50 Ohms. Em qualquer sistema de transmissão é necessário um bom

acoplamento entre a linha de alimentação e a antena, para que a transferência de energia se

faça de modo eficiente.

Pela opção construtiva tomada, o “boom” é electricamente neutro pois contém o ponto

médio dos elementos. Relativamente ao elemento excitado, a sua impedância varia em função

da distância ao centro, tomando um valor muito elevado nas extremidades (alguns milhares de

Ohms) e um valor nulo no ponto médio (por estar em curto-circuito).

Pretendendo-se alimentar esta antena com um cabo coaxial de 50 Ohm, optou-se

naturalmente por um adaptador do tipo gama cujas características se ilustram na Figura 3.

e

dipolo D

D = Ø12 mm d = Ø 4 mm com 17mm de comprimento e = 6,5 cm C = 19pf

d C

Figura 3 – Esquema e características dimensionais do gama match

A adaptação é efectuada de forma iterativa, fazendo deslizar a barra de curto-circuito, e,

e ajustando o condensador variável, C, controlando a relação de ondas estacionárias (ROE) para

o valor mais baixo possível.

Utilizando este procedimento de ajuste, deve-se utilizar um troço de cabo coaxial cujo

comprimento físico corresponda a meia onda eléctrica, ou um múltiplo de meia onda. Este

método baseia-se no comportamento característico de uma linha de transmissão com um

comprimento eléctrico igual meia onda, a qual, estando carregada com uma determinada

impedância numa das extremidades, a faz reflectir exactamente da mesma forma na

extremidade oposta.

Page 5: Antena Yagi-Uda de 5 Elementos VHF

Figura 4 – Condensador de ajuste. Figura 5 – Gama-match.

No protótipo construído utilizou-se um condensador de lâminas variável, no entanto

pode-se utilizar um condensador coaxial construído com dois tubos de diâmetro diferente

fazendo-se deslizar o de menor diâmetro, dentro do tubo de maior diâmetro. Usualmente este

condensador é facilmente construído com um tubo e um troço de cabo coaxial do qual se retira a

malha de blindagem.

Ensaio para a determinação do diagrama polar da antena:

Uma vez terminada a montagem e afinação da antena, procedeu-se a ensaios

complementares para a determinação do diagrama polar de radiação.

Estes ensaios foram efectuados com a colaboração do colega Rogério, o CT1PL, que é

um radioamador muito interessado em questões de antenas, e que anda sempre envolto em

experiências e construção de antenas, pelo que não foi necessário solicitar-lhe ajuda duas

vezes, pois de imediato se prontificou a colaborar.

Para o ajuste do gama-match da antena utilizou-se o analisador MFJ 269, tendo-se

obtido uma ROE de 1:1,1 na frequência de 145,000 MHz.

Page 6: Antena Yagi-Uda de 5 Elementos VHF

R.O.E.

1,0

1,1

1,2

1,3

1,4

1,5

1,6

1,7

1,8

143 143,5 144 144,5 145 145,5 146 MHz

Figura 6 - Relação de ondas estacionárias (R.O.E.)

Com vista à determinação do diagrama polar, colocou-se a antena no topo de um mastro

em fibra de vidro (anteriormente uma cana de pesca) que permite colocar a antena à altura de

3 m do solo.

Figura 7 – Antena e mastro de suporte

O sinal recebido pela antena foi monitorizado pelo medidor de intensidade de campo,

rodando-a de 10º em 10º, e os valores lidos em dBm, foram anotados directamente numa folha

Excel e que viriam a permitir traçar, posteriormente, os diagramas polares.

Page 7: Antena Yagi-Uda de 5 Elementos VHF

Para os colegas que tenham interesse, o artigo onde se descreveu a construção do

medidor de campo, podem encontrá-lo publicado no nº 311, de Maio de 2007, na revista QSP,

ou descarregá-lo directamente na página web http://pwp.netcabo.pt/0316988701.

Figura 8 – Medidor de intensidade de campo Figura 9 – Sistema de medição dos ângulos

Para gerar o campo, utilizou-se um emissor com uma potência de 1W e ligado a uma

antena colocada no tejadilho do automóvel que se encontrava à distância aproximada de 25 m.

Figura 10 - Emissor utilizado nos ensaios Figura 11 - Ensaio em curso com o

veículo ao fundo

Page 8: Antena Yagi-Uda de 5 Elementos VHF

Antena Yagi 5 Elementos - VHF

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

10º20º

30º

40º

50º

60º

70º

80º

90º

100º

110º

120º

130º

140º

150º

160º170º

180º190º

200º

210º

220º

230º

240º

250º

260º

270º

280º

290º

300º

310º

320º

330º

340º350º

Plano H Plano V

Figura 12 – Diagramas polares da antena

Após as medições efectuadas, obtiveram-se os diagramas polares nos planos vertical e

horizontal, estando estes de acordo com os diagramas teóricos esperados.

Não é demais relembrar que a proximidade do solo, bem como as reflexões nos

obstáculos nas proximidades de uma antena contribuem, como é sabido, para a deformação

destes diagramas.

Esta antena possui um ganho de 9 dB, relativamente a um dipolo, o que equivale a um

ganho em potência de aproximadamente 7,9 vezes. Desta forma, um emissor com 1 Watt de

potência ligado a esta antena, colocaria no mesmo ponto a mesma intensidade de sinal que um

emissor de 7,9 Watt ligado a um dipolo simples.

Os resultados aqui apresentados, irão por certo motivar muitos dos colegas a

experimentar novas construções e também ajudá-los na caracterização das suas antenas. Para

aqueles que estejam interessados na construção da antena descrita, recomendo que sigam as

medidas apresentadas na figura 1, e utilizem tubos com as secções referidas.

Terminaria mas não sem antes expressar de novo os meus agradecimentos ao colega

Rogério, CT1PL, não só pelo auxílio prestado durante os ensaios, bem como pela reportagem

fotográfica que permitiu obter as fotografias aqui apresentadas.