anoxxi nÚmero24 agosto2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “frozen - uma aventura...

20
ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 www.ceapia.com.br ATUALIDADE EM ANO DE COPA DO MUNDO, VAMOS FALAR SOBRE ESPORTE! pg. 04 e 05 PONTO DE VISTA PECULIARIDADES NA CLÍNICA DA ADOÇÃO. pg. 10 e 11 DIÁLOGO COM FREUD 100 ANOS DO ARTIGO “SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO”. pg. 07 e 08 ESPAÇO CULTURAL SESSÃO PIPOCA & MARCA PÁGINA. pg. 14 e 15 LOCAL: CIEE - Rua Dom Pedro II, 861 24 E 25 OUTUBRO/2014

Upload: vuongdan

Post on 20-Jan-2019

226 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

1

ANOXXI NÚMERO24AGOSTO2014

www.ceapia.com.br

ATUALIDADE

EM ANO DE COPA DO MUNDO, VAMOS FALAR SOBRE ESPORTE!

pg. 04 e 05

PONTO DE VISTA

PECULIARIDADES NA CLÍNICADA ADOÇÃO.

pg. 10 e 11

DIÁLOGO COM FREUD

100 ANOS DO ARTIGO “SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO”.

pg. 07 e 08

ESPAÇO CULTURAL

SESSÃO PIPOCA & MARCA PÁGINA.

pg. 14 e 15

LOCAL: CIEE - Rua Dom Pedro II, 86124 E 25 OUTUBRO/2014

Page 2: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

2

O Boletim CEAPIA é uma publicação do CEAPIA.

Rua Cel. Bordini, 434 - Bairro Auxiliadora CEP 90.440-002 - Porto Alegre / RS

Fones: (51) 3343.6490 - (51) [email protected]

www.ceapia.com.br

Diretoria - Gestão 2014Presidente

Psic. Cátia Olivier MelloVice-Presidente

Psic. Caroline MilmanSecretária

Psic. Ana Marta MariathDiretora Administrativa

Psic. Tânia WolffCodiretora Administrativa

Psic. Valéria RochaDiretora Científica

Psic. Silvia DianCodiretora Científica Psic. Andrea NieckeleDiretora de Ensino Psic. Patrícia Cohn

Codiretora de Ensino Psic. Paula Pecis

Comissão de Currículo Inta Muller, Lisiane Cervo

e Norma EscosteguyComissão de Ensino

Ana Rita Taschetto, Cibele Fleck e Henriqueta Sonaglio

Diretora de Atendimento Psic. Viviane Amaro da SilveiraCodiretora de Atendimento

Psic. Roberta BredaDiretora de Pesquisa Psic. Silvia Hallberg

Codiretora de Pesquisa Psic. Milene Merg

Comissão de Pesquisa Clarissa Mattos, Cristiane Feil,

Fernanda Amorin, Fernanda Porto, Laura Aroni e Vanessa GiarettaCoordenadora de Divulgação

Psic. Aline RestanoCocoordenadora de Divulgação

Psic. Cristiane FeilComissão Científica e de Divulgação

Bruna Mello, Christine Silveira, Fernanda Amorin, Fernanda Matte, Gisele Cervo,

Mariília Schmidt, Paula Milagre, Renata Kreutz e Vanessa Giaretta

Editora da Revista Publicação CEAPIA Psic. Andrea Pereira Comissão Editorial

Andrea Zelmanowicz e Luciana Grillo

Conselho EditorialCoordenadoras

Ana Luiza Bittencourt Berni e Letícia OrengoIntegrantes

Natália Kämpf e Renata AxelrudDesigner Gráfico

Bárbara Gurgel da SilvaRevisora Português Mônica Gomes Vico

Tiragem 500 exemplares

Os conteúdos dos textos e as produções científicas são de responsabilidade dos autores.

É com enorme satisfação que assumimos neste ano de 2014 a coordenação do nosso Boletim, após dois anos sendo coordenado pelas queridas colegas Luciana Grillo e Elisa Forster, às quais agradecemos profundamente por todo o trabalho e modernização do informativo. A partir de agora, contamos com a colaboração das colegas Natália Kämpf e Renata Axelrud, que compõem nossa equipe.

Você, leitor, perceberá que não temos mais apenas um espaço onde cada Direção explica sua atuação e seus objetivos, mas que agora

esses estão contemplados junto à Palavra da Presidente, espaço onde nossa estimada Cátia Mello divide conosco parte do seu discurso de posse. Da mesma forma, não temos mais um espaço para que cada setor do CEAPIA descreva suas atividades. Os setores foram convidados a dividir com o leitor o conhecimento que vem sendo produzido dentro de seus grupos e, nesta edição, contamos com a participação de sete setores da Instituição.

Neste ano, em que nosso país e nossa cidade “respiraram” durante um mês a Copa do Mundo, pensamos em falar sobre o esporte. Para tanto, na coluna Atualidade contamos com a participação da psicóloga Márcia Pilla do Valle, que compartilha com os leitores seus conhecimentos sobre a psicologia do esporte. Contamos também com as ideias da psicanalista Kátia Radke a respeito da importância da prática esportiva na adolescência. Para encerrar essa coluna, a atleta Ana Clara Duarte nos conta sobre a sua vivência no esporte profissional.

O leitor terá uma grata surpresa com o texto do psicanalista, professor e fundador do CEAPIA, Fernando Kunzler, que nos brinda com um entusiasmado e criativo diálogo imaginário entre Freud, fundador da Psicanálise, e a nossa Instituição, a respeito dos 100 anos da publicação do artigo “Sobre o Narcisismo: Uma Introdução”, comemorados neste ano de 2014.

Como acontece todos os anos, em 2014 também teremos nossa Jornada Anual e, neste ano, não teremos um convidado principal e sim diversas mesas complementares. Para entrarmos no clima do que veremos em outubro, a psicanalista e vice-presidente do CEAPIA, Caroline Milman, compartilha com a comunidade ceapiana suas ideias a respeito do tema da XXXV Jornada Anual: “Uma imagem vale mais que mil palavras?”.

Dando continuidade à coluna que teve sua estreia em 2012, intitulada Ponto de Vista, neste Boletim, perguntamos para dois importantes profissionais da área “Quais as peculiaridades da clínica da Adoção, no seu ponto de vista?”. A psicanalista de São Paulo, Gina Levinzon, e o psicanalista uruguaio Victor Guerra compartilham seus pontos de vista com o leitor. Esses dois colegas foram os convidados do Encontro intitulado “Clínica da Adoção”, ocorrido em maio e organizado pelo setor de Adoção. A colega Paula Milagre escreveu um artigo salientando os pontos principais que foram abordados nesse importante encontro científico promovido por nossa Instituição.

Tendo em vista o curso “Autismo: Atualizações”, convidamos Cláudia Zirbes, ministrante de dois módulos do curso, a compartilhar conosco seu profundo conhecimento sobre o tema.

Neste ano estreamos a coluna Espaço Cultural, subdivida em Sessão Pipoca e Marca Página, na qual pretendemos interligar a psicanálise aos filmes e livros. Para Sessão Pipoca a colega psicanalista Ana Rita Taschetto faz uma bela resenha compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca Página, a psicanalista Ana Cláudia Meira compartilha um texto sobre o livro “Uma/Duas”, com uma escrita envolvente e intensa, tal como o próprio livro.

Como todo ano, nosso Boletim conta ainda com o depoimento do autor premiado na jornada interna dos alunos, sendo que, em 2013, a contemplada foi a aluna Marília Santos.

Esperamos que gostem e tenham uma ótima leitura!Grande abraço.

EDITORIAL

Page 3: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

3

Queridos colegas e amigos,

É com alegria e orgulho que assumo a responsabilidade de presidir o CEAPIA, junto com um grupo de quinze valorosas colegas nas quais confio pelos próximos dois anos. Trata-se de uma responsabilidade grande, à qual pretendo fazer frente com dedicação, trabalho e com o compromisso de coordenar essa equipe de forma firme e afetuosa, como eu acho que cada uma dessas queridas colegas merece. São pessoas das quais eu conheço a competência, a sensibilidade e o estilo pessoal, cada uma com sua personalidade distinta. Esta é uma Instituição e uma casa e quem aqui chega sabe do que estou falando. Aqui nos sentimos bem, aqui queremos colaborar, aqui crescemos e nos ajudamos, aqui ficamos por escolha. Assim somos nós e assim é o CEAPIA.

Muito me alegra ver que teremos, pela primeira vez, uma Direção de Pesquisa, pois foi no setor de pesquisa que iniciei minha vida institucional, junto com a Lisiane Cervo e a Sandra Dorfman. Assim, estruturar e dar condições para que essa direção se desenvolva, farão parte da nossa gestão. Para essa tarefa teremos o auxílio qualificado da Silvia Hallberg e da Milene Merg, duas pessoas que pensam o trabalho psicoterápico aliado ao ensino em psicoterapia de mãos dadas com o avanço da pesquisa em psicoterapia em desenvolvimento.

A ciência da psicoterapia avança e avançam também pari passu a teoria e técnica psicanalíticas. Acompanhar esse avanço, sempre adequando ao nosso tempo e à realidade e necessidades tanto dos pacientes quanto dos alunos e dos associados não é tarefa simples. Necessita um misto de arrojo e parcimônia, características que a Silvia Dian e a Andrea Nieckele têm de sobra. Novas atividades, novas formas de aperfeiçoamento vêm por aí, assim como a manutenção do que já vem dando certo há tempos. Aguardem!

Este ano teremos mais uma visita de reconhecimento do Curso pelo CFP, a qual nos qualifica e auxilia a manter as diretrizes que impulsionam o ensino numa direção de excelência. Após participar da Direção de Ensino junto com a Henriqueta Sonaglio pude ter uma ideia da magnitude do trabalho para que todos os programas de vinte e duas disciplinas, alunos, coordenadores de seminário, supervisores, auxiliares de ensino e preceptores trabalhem em harmonia. Percebendo a necessidade de uma equipe especial atenta ao currículo, naquele momento sob a presidência da nossa querida Lígia Baseggio, foi criada, em 2009, a Comissão de Currículo, para auxiliar a já existente Comissão de Ensino. Contaremos com a Patricia Cohn e com a Paula Pecis, cujo dinamismo é de todos conhecido, para integrar tudo isso.

De fato, percebo que sempre me envolvi muito com esta casa e que, desde meu primeiro estágio na Ambientoterapia, então coordenado pela Joseneide Lira Alves, a vontade de continuar trabalhando daquela forma faz parte de mim. O atendimento às crianças e adolescentes é um dos polos da Instituição e para isso contribuem uma gama de profissionais de várias ordens, organizados em dezesseis setores num Ambulatório que atende mais de mil consultas por mês. Para a tarefa de coordenar esse número também grande e variado de pessoas e atividades de forma integrada, teremos a Viviane Silveira e a Roberta Breda, cuja capacidade de compreensão e talento para trabalhar com grupos é destacada.

O Boletim CEAPIA é uma publicação do CEAPIA.

Rua Cel. Bordini, 434 - Bairro Auxiliadora CEP 90.440-002 - Porto Alegre / RS

Fones: (51) 3343.6490 - (51) [email protected]

www.ceapia.com.br

Diretoria - Gestão 2014Presidente

Psic. Cátia Olivier MelloVice-Presidente

Psic. Caroline MilmanSecretária

Psic. Ana Marta MariathDiretora Administrativa

Psic. Tânia WolffCodiretora Administrativa

Psic. Valéria RochaDiretora Científica

Psic. Silvia DianCodiretora Científica Psic. Andrea NieckeleDiretora de Ensino Psic. Patrícia Cohn

Codiretora de Ensino Psic. Paula Pecis

Comissão de Currículo Inta Muller, Lisiane Cervo

e Norma EscosteguyComissão de Ensino

Ana Rita Taschetto, Cibele Fleck e Henriqueta Sonaglio

Diretora de Atendimento Psic. Viviane Amaro da SilveiraCodiretora de Atendimento

Psic. Roberta BredaDiretora de Pesquisa Psic. Silvia Hallberg

Codiretora de Pesquisa Psic. Milene Merg

Comissão de Pesquisa Clarissa Mattos, Cristiane Feil,

Fernanda Amorin, Fernanda Porto, Laura Aroni e Vanessa GiarettaCoordenadora de Divulgação

Psic. Aline RestanoCocoordenadora de Divulgação

Psic. Cristiane FeilComissão Científica e de Divulgação

Bruna Mello, Christine Silveira, Fernanda Amorin, Fernanda Matte, Gisele Cervo,

Mariília Schmidt, Paula Milagre, Renata Kreutz e Vanessa Giaretta

Editora da Revista Publicação CEAPIA Psic. Andrea Pereira Comissão Editorial

Andrea Zelmanowicz e Luciana Grillo

Conselho EditorialCoordenadoras

Ana Luiza Bittencourt Berni e Letícia OrengoIntegrantes

Natália Kämpf e Renata AxelrudDesigner Gráfico

Bárbara Gurgel da SilvaRevisora Português Mônica Gomes Vico

Tiragem 500 exemplares

Os conteúdos dos textos e as produções científicas são de responsabilidade dos autores.

PALAVRA DA PRESIDENTE

Uma revista científica é essencial. Após ter trabalhado por anos como editora, muitos deles com a Morgana Bortolini e com a Viviane Silveira, tenho clara a importância de divulgar e avançar o conhecimento por escrito. Saber que a Andrea Pereira está à frente da Revista me tranquiliza e me anima, pois sei que ela também pensa assim a esse respeito. Minha participação na organização do Prêmio CEAPIA, junto com a Norma Escosteguy e outros colegas, já há muitos anos, tenta valorizar a produção escrita do aluno.

Outra maneira de divulgar o conhecimento é acompanhar o avanço da tecnologia e o passo rápido da mudança de paradigma do nosso tempo, fazendo contato pelos meios de divulgação virtuais. Divulgar e conectar colegas de fora e de dentro de nossa Instituição, facilitar a comunicação interna e diminuir “ruídos” de comunicação numa comunidade grande como o CEAPIA. Para isso teremos a experiência e agilidade da Aline Restano e da Cristiane Feil à frente da Comissão de Divulgação.

E para administrar toda esta engrenagem, enxergando que cada detalhe evoca algo, denota uma área de avanço, uma necessidade do ceapiano ou um sintoma institucional, teremos a dupla já experiente Tânia Wolff e Valéria Rocha. O trabalho com a nossa equipe de funcionários, vital para o bom andamento de nossa Instituição, é feito por essa diretoria, assim como a administração de recursos e manutenção da casa física. Dar conta de tudo isso, tendo em mente que aqui lidamos com o inconsciente o tempo todo é, na minha opinião, um trabalho e tanto!

Terei o privilégio de contar com a Caroline Milman como vice-presidente, uma pessoa que reúne duas qualidades fundamentais: transparência de opiniões e senso de justiça aguçados, sem falar no talento poético... Junto com a Carol, que conhece bem o funcionamento da Instituição, já tendo participado dela em muitas instâncias, pretendo coordenar essa equipe baseando-me no que tenho apreendido até agora na minha vida: que todas as ações das pessoas têm um porquê resultado de muitos fatores. Vamos procurar identificá-los sempre que possível.

Teremos a colaboração da Ana Marta Mariath como secretária, responsável por documentar, ligar informações e acompanhar de perto todas as decisões, tarefa que serve para que a memória co CEAPIA não se perca e a história seja registrada de forma fidedigna a cada linha escrita. Confiança de parte a parte para que o registro espelhe a prática. Isso a Ana e eu temos de sobra.

Agradeço ao Adonay e a todos os ex-presidentes e suas equipes, que vêm cuidando do CEAPIA para nós até aqui. Eles fizeram o possível para que eu possa presidir o CEAPIA no tempo atual, com as necessidades de 2014 e dando espaço para o novo.

Desejamos que todos aproveitem e aprendam muito neste ano no CEAPIA!

Page 4: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

4

KÁTIA WAGNER RADKE - Psicanalista (SPPA), Professora e Supervisora do CEAPIA

ATUALIDADE

EM ANO DE COPA DO MUNDO, VAMOS FALAR SOBRE ESPORTE!

Convidamos as colegas ceapianas Márcia Pilla do Valle e Kátia Wagner Radke para nos falar a respeito do esporte e suas interfaces com a psicologia e a adolescência, na atualidade. Convidamos também a atleta Ana Clara Duarte, que nos conta a respeito de sua bela e exitosa relação com o esporte.

MÁRCIA PILLA DO VALLE - Psicóloga clínica e esportiva, mestre em psicologia (PUCRS) e membro do CEAPIA

Em tempos de Copa do Mundo e Olimpíadas acontecendo no Brasil, vale pensar a respeito de como o esporte vem se apresentando junto a nossas crianças e adolescentes. Na atualidade, é unanimidade a máxima de que a atividade física e esportiva é não só recomendada, como essencial na vida de todos nós. Entretanto, é preciso diferenciar a prática informal de esportes da dedicação ao esporte de alto rendimento. Como prática informal é considerada toda a atividade realizada sem o compromisso formal de performance máxima e do resultado. Já no alto rendimento, geralmente a prática é iniciada ainda na infância e a especialização numa modalidade se dá durante a adolescência, visando à profissionalização. O objetivo é a melhora contínua da performance e dos resultados obtidos nessa especialização. É a esse segundo tipo de esporte que me referirei.

O esporte competitivo tem inúmeros benefícios: possibilita a aquisição de regras de conduta, normas de comportamento e valores sociais; trabalha com as noções de perseverança, disciplina e cooperação, além de viabilizar que a competitividade adquirida através do esporte possa ser transferida para vida social e profissional futura. Tal como nos relata a atleta Ana Clara, o esporte possibilita conhecer limites e potencialidades, podendo aumentar a noção de competência pessoal e promovendo o desenvolvimento do indivíduo. Desse modo, o esporte funciona como meio de ensinar habilidades da própria vida.

No entanto, as exigências do esporte de alta performance na atualidade são bastante elevadas e muitas vezes não chegam a ser recompensadas com vitórias. Vários atletas, principalmente os mais jovens, acabam abandonando o esporte em função da vivência de frustrações, raiva, dúvidas e autocríticas, que se tornam especialmente angustiantes quando percebem que não conseguem utilizar todo o seu potencial a favor da performance.

A competição é o momento em que o jovem expõe suas qualidades e fraquezas e está sendo avaliado por pessoas

especializadas e leigas no processo. Envolve o desempenho e suas consequências (que vai aumentando sua exigência de acordo com o grau de formalidade e importância da competição). Nesse processo, crianças e adolescentes que ainda estão muito presos à ideia de que seu valor está agregado ao resultado concreto e que têm dificuldades em avaliar mais qualitativamente sua performance, sofrem todos os efeitos do estresse competitivo.

Em tempos de cultura do espetáculo e da exteriorização, a exibição se transforma no objetivo essencial da existência. No esporte, corre-se o risco dos resultados equivalerem à aparência e o atleta confundir o ser com o parecer. Assim, a auto-aprovação vai depender do reconhecimento público do outro e o centro de sua identidade passa a ser regulado pelo que parece (performance) e não pelo que é. A valorização da performance excelente talvez seja mais exacerbada em modalidades esportivas individuais, nas quais o desempenho depende exclusivamente do atleta e não de uma equipe ou time, resultando numa maior pressão pelo resultado. O sujeito sente-se, muitas vezes, destituído de virtudes porque o que conta para o sucesso e para ser reconhecido como um bom atleta é a visibilidade da performance.

É importante que a identidade do sujeito não esteja somente baseada em seu papel de atleta porque se a identidade de atleta é associada ao heróico, vencedor, capaz de suportar toda e qualquer adversidade, fica muito complicado e sofrido lidar com uma performance que não seja considerada excelente.

É fundamental que os adultos próximos a essas crianças e adolescentes estejam atentos a essas questões, pois a saúde mental deve sempre estar em primeiro lugar na prática competitiva. Deste modo, o esporte pode ser usado para o desenvolvimento do sujeito que se dedica a essa prática, que poderá então usufruir de todos os seus benefícios.

ADOLESCÊNCIA, ESPORTE E PÓS-MODERNIDADE

Pensei em começar pela etimologia da palavra “adolescência”, partindo de sua origem até chegar aos dias de hoje, na Pós-Modernidade.

A palavra tem sua origem no latim (“ad” - para e “olescer” - crescer). A etimologia nos remete, então, à ideia de desenvolvimento e amadurecimento.

Sendo este um período permeado por várias mudanças tanto corporais quanto psíquicas, temos que o corpo em mudança (questões hormonais, caracteres secundários, crescimento físico...) torna-se um “novo envelope” para uma mente em transformação, tudo isso andando pari-passu com o processo de consolidação da identidade do jovem adolescente.

Mas o que mesmo o esporte teria a ver com tudo isso?

A meu ver, muito! Pois penso que as demandas e pressões vividas pelo adolescente precisam de um espaço para poderem ser experimentadas e vivenciadas para que, então, gradativamente, ele possa ir desenvolvendo melhor a tolerância na convivência com o novo. A vivência esportiva pode ajudá-lo a dissipar, de modo lúdico e criativo, parte do impacto que esse novo acarreta.

A atividade esportiva a qual me refiro relaciona-se àquela em que há um contato real com o outro, tanto pela via do esporte coletivo como pela via do aspecto competitivo, em detrimento do esporte individual (solitário), que quase extingue esse contato (do qual falarei mais posteriormente).

Isso por que acredito que a modalidade coletiva

Page 5: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

5

ANA CLARA DUARTEAtleta, Medalha de bronze nas duplas mistas no Pan Americano de Guadalajara, em 2011; Campeã do Challenger de Cairns, na Austrália, em 2010; Número 1 do Brasil entre 2010 e 2011; Melhor jogadora pelo Prêmio Tênis em 2010 e 2011

ALÉM DAS BOLINHAS DE TÊNIS

Não se pode falar da Ana Clara sem falar de esporte. Desde que estou na barriga da minha mãe, a atividade física já estava na minha vida. Sou filha de professores de Educação Física e o estilo de vida ativo sempre foi muito presente e marcante, desde meus primeiros passos.

O foco dos meus pais era voltado para o tênis, e, por isso, minha introdução foi quando ainda tinha apenas 5 anos. Obviamente que eram muito mais brincadeiras de coordenação motora e o convívio com outras crianças e não aulas de tênis no sentido literal. O tempo foi passando, e, paralelamente ao tênis, passei por aulas de basquete, vôlei, capoeira e futebol. Aos 13 anos tive de escolher se queria continuar na equipe de natação. Afinal, o tênis começava a tomar mais tempo e importância na minha vida. Deixei as piscinas de lado e as raquetadas tornaram-se meu melhor divertimento.

Hoje, aos 25 anos, olho pra trás e tenho certeza de que escolhi o tênis profissional aos 14, quando fui pela primeira vez à Europa, fazendo parte da equipe sul-americana. Há sete anos ser atleta é minha profissão. Vieram muitos treinos, viagens, conquistas e decepções. Altos e baixos, fases incríveis e outras nem tanto. Passei por tudo o que um atleta profissional passa e o que mais aprendi nesses anos dentro da quadra não foi como bater um bom forhand.

O aprendizado, na verdade, ultrapassou os limites de uma quadra de tênis e foi além de sessões de preparo físico e fisioterapia. O esporte me ensinou valores que nenhuma escola poderia ensinar. Me fez desenvolver habilidades que vão além dos ensinamentos da sala de aula. Ter que tomar decisões sob pressão foi uma delas. Determinação, disciplina e foco são outras. Além de me mostrar como lidar com derrotas e erros. Cada treinador que passou pela minha vida tentava, a sua maneira, tirar o melhor de mim. As broncas sempre vinham acompanhadas das melhores intenções.

Aprendi que tudo o que preciso para resolver os meus problemas está dentro de mim mesma. Quantas vezes me

deparei com situações adversas e estava em outro continente, falando um idioma que não era o meu? Porém, paralelo a isso, aprendi que o trabalho em equipe é fundamental e que sozinha eu não conquistaria metade do que conquistei.

O tênis é um esporte individual, no qual o treinador não pode passar instruções durante o jogo, me ensinando que tenho que executar aquilo que mais treinei e não duvidar das minhas capacidades. Percebi que o meu maior obstáculo é meu próprio medo e que não adianta ignorá-lo; é preciso enfrentá-lo e saber tirar o melhor de mim nos momentos em que ele aflora.

Meus pais não são ricos e foi o esporte que me proporcionou viajar para países cujo conhecimento nunca passou pela minha cabeça, como Austrália, França e Estados Unidos. Rodar o mundo com uma raqueteira nas costas está longe de ser uma viagem de férias, mas conheci pessoas especiais e culturas diferentes da minha. Morei em diversas cidades do Brasil e até passei uma temporada na Califórnia, o que me mostrou que, por um sonho, tudo vale à pena.

O tênis me ensinou que é preciso traçar objetivos, planos e saber o caminho que levará à realização. Um passo atrás do outro, na minha própria velocidade, é o que pode ser chamado de sucesso. Não preciso ser melhor do que ninguém; apenas preciso ser melhor do que a Ana Clara de ontem.

Sinto-me extremamente especial por ter crescido numa família que valoriza o esporte. Aliada à educação que recebi em casa, me tornei (e continuo em constante descoberta) uma mulher que corre atrás dos seus sonhos, por mais longe e impossíveis que eles pareçam.

Não é fácil colocar em palavras o que o tênis representa na minha vida. É passado, presente e futuro. É objetivo, disciplina, amor. Sonhos realizados e metas não atingidas (ainda) definem quem eu sou. O que mais quero dizer é: MUITO OBRIGADA, por me proporcionar tantas coisas boas e me levar a lugares onde nunca achei que chegaria.

competitiva permite um espaço para o jovem vivenciar questões ligadas à tolerância, à frustração, à necessidade de compartilhar, de reconhecer aspectos como alteridade, assimetria (diferenças hierárquicas), limites corporais, rivalidades, busca de espaço, aproximação, afastamento..., tarefas fundamentais da adolescência. Além de poder oportunizar ao jovem a vivência de pertencer a um grupo e de ser reconhecido por seu desempenho esportivo. Experimentando ludicamente as tarefas que tem de desempenhar em sua vida cotidiana, possivelmente torne-as um pouco mais fáceis.

No entanto, acho que devemos abrir um espaço para pensarmos na adolescência no contexto em que estamos vivendo: o da Pós-Modernidade.

Acredito ser importante situar a que me refiro quando falo em Pós-Modernidade. Penso no contexto da forte presença das mídias eletrônicas, da celebração do consumo, da forte exigência de uniformização imposta pela cultura de massa, do predomínio do instantâneo, da perda ou do borramento de fronteiras, em que imagens e sensações tornam-se mais importantes do que vínculos reais e vivências de contato.

Os valores passam a ser outros: o novo, o rápido, o

efêmero é o que vale; tudo passou a ser descartável. O corpo perfeito e eternamente jovem é exaltado e cultuado. É neste sentido que vou retomar a questão dos esportes individuais. Às vezes, quando praticados em excesso (vigorexia, por exemplo), visam ao objetivo do corpo “perfeito”, no qual a beleza parece estar muito mais para satisfação da vaidade do que para instrumentalizar o jovem a dar conta das tarefas da adolescência (convívio social, sensação de pertencimento a um grupo, auxílio nas tarefas de competição,...)

Pois bem, é nesse contexto que tenho pensado sobre os jogos virtuais e no espaço que esses passaram a ter na vida dos adolescentes pós-modernos. Seriam eles “novas modalidades esportivas”? Não estaremos vivendo o risco de que esses jogos substituam as modalidades de jogos corporais reais? Onde o que entraria em cena seria mais o corpo “virtual” do quê o corpo real?

Competições, embates, vitórias e derrotas seriam, então, “experimentados” mais no terreno do virtual, para que talvez, assim, o jovem possa proteger-se e escudar-se de uma das tarefas quiçá mais difíceis da adolescência (possivelmente da vida!), qual seja o contato com as adversidades, com os limites, com o diferente, evitando-os no plano real (jogo corporal).

Page 6: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

6

CEAPIA: Freud, bem vindo ao ano de 2014, no século XXI. A ideia de nossa Instituição, Centro de Estudos, Atendimento e Pesquisa da infância e Adolescência (CEAPIA), que foi fundada no ano de 1978, é dialogar contigo. Estamos comemorando nossos 36 anos de fundação. Imaginamos que este diálogo pudesse fazer parte deste momento científico.FREUD: Para iniciarmos, recordo que meu forte não é falar e sim escutar.CEAPIA: De acordo. Sabemos desta tua marca registrada. Mas, para começar, sabias que foste comparado a Sócrates porque ele se dizia parteiro? Ele, assim como tu, também levava a pessoa a perguntar-se.FREUD: Essa figura do parteiro me fez recordar que um dia escrevi a Abraham que um de meus trabalhos foi prematuramente posto ao mundo.CEAPIA: Como te dissemos, Freud, estamos em 2014, e entraste no mote deste diálogo, que é justamente falarmos sobre esse texto a que estás te referindo. Há 100 anos, em 1914, publicaste Sobre o narcisismo: uma introdução, que foi o que te levou a fazer o comentário a Abraham. Poderias explicar o porquê de não deixá-lo completar a gestação antes de pô-lo a lume?FREUD: Tinha tido dois enormes desgostos. Justamente com dois de meus mais diletos colegas. E pensar que a um deles, Jung, cheguei a nomear Príncipe da Psicanálise Suíça!CEAPIA: Lacan, psicanalista francês, em 1953, escreveu no seu Seminário 11 que Jung era teu filho.FREUD: No alvo, como se dizia aqui.CEAPIA: Então isto de Jung ser teu príncipe não deixou de fazer parte do desgosto; afinal, ele esqueceu que o Rei estava vivo.FREUD: Por falar em narcisismo... Embora tenha que me aliar a esta percepção, não esqueçam as fortíssimas razões psicanalíticas.CEAPIA: Como acompanhamos o que escreveste em tua vida, isto está retratado em A história do movimento psicanalítico2 , que publicaste pouco antes do Narcisismo.FREUD: Como estão em 2014, devem lembrar que em 1914 iniciou a Primeira Grande Guerra.CEAPIA: Nunca é demais recordar desse grande estrago que a destrutividade dos seres humanos promoveu.FREUD: O narcisismo! Mas já que estamos nesta digressão histórica, este trabalho da História foi minha maneira de deixar claro que Psicanálise era o que eu, como seu criador, fazia, e não o que Jung ou Adler propunham. De tudo que escrevi nada se

O CEAPIA DIALOGA COM SIGMUND FREUD

compara com a explícita linguagem de guerra que eu tive de usar. O mais triste é que, até então, os dois tinham estado dentro das trincheiras da psicanálise. Mas não podia permitir que o que nós três fazíamos tivesse o mesmo nome. Era um explícito ataque aos seus alicerces. Depois de uma intensa batalha verbal, não mais chamaram de psicanálise as suas práticas clínicas e teóricas. Jung passou a nomear seu método de Psicologia Analítica e Adler, de Psicologia Individual o seu.CEAPIA: Venceste!FREUD: Sim, mas recordam da epígrafe com que iniciei a História? As ondas o abalam mas não o afundam.4 A psicanálise não afundou, embora tanto em mim quanto nela tenham permanecido marcas indeléveis dos abalos.CEAPIA: Sei que deves estar contrariado em falar tanto, mas...FREUD: Não se preocupem, quando é para defender a psicanálise não poupo palavras. Mas digam-me qual a motivação para me trazer para seu século?CEAPIA: Desculpa, é que nos empolgamos e esquecemos que somos nós que precisamos falar para te explicitar o que queremos. Vamos para o Narcisismo!FREUD: Algo específico no que escrevi?CEAPIA: Sim, pensamos partir do detalhe de o teres escrito tão apressadamente. São incontestáveis tuas razões. Mas, seguindo teu próprio ensinamento de a pessoa perguntar-se o porquê, embora possa ser petulância de nossa parte, imaginamos que em sendo da tua trincheira, poderíamos ser uma “espécie de incubadora” para completar possíveis imaturidades.FREUD: Ahã!CEAPIA: Primeiro retiraste o narcisismo de seu sítio psicopatológico e o inseriste no desenvolvimento normal, natural e necessário da libido. Logo após, aparecem ‘duas incompletudes do parto prematuro’, que necessitariam ser gestados fora do teu ‘útero psicanalítico’.FREUD: Especifiquem!CEAPIA: A primeira: qual a relação desse narcisismo, do qual estamos tratando, com o auto-erotismo, que descrevemos como um estado inicial da libido?FREUD: Sim.CEAPIA: E tua resposta - que ao auto-erotismo há que agregar uma nova ação psíquica para constituir o narcisismo.FREUD: É um teste de memória?CEAPIA: Não era nossa intenção. É que nunca especificaste qual seria essa nova ação psíquica.FREUD: Verdade.CEAPIA: Laplanche e Pontalis, psicanalistas franceses, sugeriram que poderia ser tanto o recalcamento originário quanto a identificação primária.FREUD: Não será agora que vou me pronunciar.CEAPIA: De acordo. A segunda: situemo-nos agora no abalo junguiano. Ele afirmou que, pelas dificuldades que tiveste com a análise de Schreber, havia fracassado na teoria da libido como explicação da esquizofrenia, sendo que essa fora a razão que te obrigara a ampliar o conceito de libido; em outras palavras, a desistir de seu conteúdo sexual e a fazer coincidir libido com energia psíquica em geral.FREUD: Algo tão estapafúrdio que, tão logo escreveu semelhante inverdade, o meio psicanalítico, na voz de Ferenczi, o desmentiu4.CEAPIA: A ‘segunda incompletude’ se extrairia de teu revide psicanalítico - se admitirmos para o Eu um investimento 1 Os escritos técnicos de Freud (1953)

2 A história do movimento psicanalítico (1914)3 Fluctuat nec mergitur (no brasão da cidade de Paris); [o brasão representa um navio e o emblema pode ser traduzido como “as ondas o abalam mas não o afundam”].4 Resenha crítica de Ferenczi (1913) ao texto de Jung Wandlungen und Symbole der Libido (1911-12).

FERNANDO LINEI KUNZLER

Page 7: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

7

O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA) E SEUS DESDOBRAMENTOS

CLAUDIA ZIRBESGraduada em Farmácia e Bioquímica (UFRGS), Pós Graduada

em Psicopedagogia Clínica e Institucional (UFRGS), membro da ONG Autismo e Vida POA

A palavra espectro sugere a compreensão de que o autismo não está presente em apenas uma única condição concreta, mas como algo que se manifesta em uma gama de apresentações, variando em intensidade e frequência. O TEA é uma desordem do desenvolvimento cerebral, que normalmente aparece até os três anos de idade, manifestada por prejuízos em três áreas: interação social, comunicação e imaginação (interesses restritos e repetitivos). Esses déficits são demonstrados por comportamentos que podem ser observados e que levam a um diagnóstico de TEA. Há também um exame para fins de diagnóstico ou prevenção. Ainda não há cura conhecida. Entretanto, já existe um entendimento maior do que acontece no cérebro de indivíduos com TEA e isso está relacionado com uma falha na formação de um cérebro de orientação social, como ocorre nas pessoas neurotípicas (sem transtornos neurológicos).

Ainda não há uma causa definida, mas o desenvolvimento humano e seus desvios como o TEA, requerem pesquisa numa perspectiva filogenética (processo evolutivo da espécie), ontogenética (processo evolutivo individual) e sócio-histórica. Este entendimento, assim como seus desdobramentos, contribui de forma definitiva para acabar com a subjetividade na etiologia do autismo.

A Neurociência engloba várias áreas do conhecimento, tais como biologia, psicologia, antropologia, física, medicina, farmacologia, que têm se debruçado sobre as funções e disfunções do sistema nervoso (SN), bem como sua estrutura e desenvolvimento. A forma como o corpo interage com o SN e com o meio determina nossos comportamentos, entendendo por estes tudo aquilo que fazemos (Ex: comer, dormir, pensar, brincar, brigar, escrever). As informações do mundo físico e social são processadas através do nosso sistema sensorial, que é composto pelos cinco sentidos mais conhecidos (tato, gustação, olfato, audição e visão), pelo sistema vestibular (equilíbrio) e pelas sensações dos músculos e articulações (propriocepção). Através das sinapses (comunicação entre os neurônios, as células que representam a unidade básica do SN) o impulso nervoso conduz as informações.

O sistema sensorial de pessoas no espectro é marcado por desvios, ausências e/ou excessos e uma das teorias que explicam esta falta de padrão no processamento está relacionada com interconectividade de importantes áreas do cérebro. Dessa forma, o cérebro processa essas informações de um modo diferente e naturalmente produz uma resposta diferente.

Ainda que não exista um estudo epidemiológico expressivo

no Brasil, estimam-se dois milhões de brasileiros com TEA. No Rio Grande do Sul são cento e vinte mil famílias que convivem com o Transtorno.

O autismo estressa a família num grau ainda maior do que outros distúrbios do desenvolvimento. Os agentes estressores incluem o processo lento e inconsistente do diagnóstico, o curso desconhecido e atípico do desenvolvimento apresentado, os altos e baixos nas emoções que intercalam pessimismo e esperança, a tendência de interpretar as inconsistências da criança como uma recusa ao invés de uma inabilidade, a dificuldade de comunicação e demonstração de afeto compartilhadas com a criança, o contraste entre a aparência física típica da criança com seus comportamentos tão atípicos (e por vezes embaraçosos), o número de profissionais que os pais precisam se relacionar (ou a impossibilidade de tê-los) e a pressão de outros pais ou parentes para tentar toda nova terapia (ou “benzedura”) que surge.

A culpa e a pressão emergem em virtude da quantidade de tempo que a paternidade/maternidade especial exige, da mesma forma que o tempo dedicado para a vida em casal, para os outros filhos e para si próprios é drasticamente reduzido.

As mães tendem a ser mais severamente afetadas por ter uma criança com TEA do que os pais, e a afeição entre o casal pode ficar enfraquecida.

A falta de serviços para o Autismo na rede pública e o ônus de contratar médicos e terapeutas particulares faz com que muitas famílias experimentem uma queda no padrão de vida ainda maior do que famílias que lidam com sérios problemas crônicos de saúde.

Apesar de todas estas dificuldades, as famílias podem ser resilientes, principalmente quando contam com profissionais sensíveis e com conhecimento específico em TEA. Na medida em que ganham conhecimento sobre o transtorno e a intervenção, as famílias têm uma melhora na sua saúde mental também. Intervenções focadas na família aumentam a auto-estima e a autoconfiança dos pais refletindo–se na criança com autismo e nos irmãos, se houver. Através do empoderamento dos pais uma intervenção mais intensa se torna possível, garantindo um melhor prognóstico.

Visando possibilitar trocas entre pais e profissionais que objetivam ampliar seus conhecimentos sobre TEA, neste segundo semestre o CEAPIA está promovendo o curso “AUTISMO: ATUALIZAÇÕES”. Este curso está subdividido em 10 encontros, você ainda pode se inscrever e participar!

Referências: Rogers, S.; Dawson, G., Early Start Denver Model for Young Children with

Autism. The Guilford Press, 2010

primário com libido, por que seria ainda necessário diferenciar, de um lado, uma libido sexual e de outro, uma energia não sexual pertencente às pulsões do Eu? Afinal, se postulássemos uma única energia psíquica (a tese de Jung), não estaríamos nos poupando de todas as dificuldades da distinção entre a energia das pulsões do EU e a libido do Eu, bem como entre a libido do Eu e a libido objetal? 5,6

FREUD: Sim, mas...?CEAPIA: Não fugiste da dificuldade desta distinção entre energia das pulsões do Eu e energia libidinal.FREUD: Sim!CEAPIA: Chamou-nos a atenção que tu disseste energia das pulsões do Eu e não energia libidinal.FREUD: Sim, por que esta repetição?CEAPIA: Para chamar a atenção que estamos nos aproximando do que nos pareceu ‘a segunda incompletude’. Indo ao ponto: -

alguma vez escreveste que esta energia pulsional do Eu, que não é energia libidinal do Eu, poderia ser o primórdio da pulsão de morte?FREUD: Não!CEAPIA: Parece viável essa possibilidade?FREUD: Sigam estudando!CEAPIA: O faremos Freud. FREUD: E quando queiram, estarei sempre aqui.CEAPIA: Oportunamente voltaremos a fazê-lo.FREUD: É só me acordar deste meu sono eterno.CEAPIA:Agradecemos muito tua paciência.FREUD: Eu que agradeço por me informarem que a psicanálise permanece viva.

5 Todos os negritos são dos autores deste texto.6 Energie der Ichtriebe und IchLibido und IchLibido und die ObjektLibido.

Page 8: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

8

CAROLINE MILMANPsicanalista (SBPdePA), Professora, Supervisora e Vice-presidente do CEAPIA

Agamben, G.

JORNADA ANUAL

A PROPÓSITO DO TEMA DA XXXV JORNADA ANUAL DO CEAPIA

“Contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o facho de trevas que provém do seu tempo.”

Para falar deste tema, um artigo publicado no nosso boletim. Porque as palavras ainda são importantes. Primeiro, vamos começar relatando como a diretoria atual do CEAPIA chegou nesta ideia de tema para a Jornada. Inicialmente pensamos no formato. Havia uma sensação de que poderíamos realizar uma jornada cientifica num modelo mais horizontalizado. Ou seja, circulando ideias entre colegas que vivem nossa cultura e nossas próprias questões, prescindindo, dessa vez, de centralizar a Jornada num único convidado. Neste modelo encontraríamos entre pares os interlocutores necessários. Portanto, foi ficando claro que, na realidade, o que estava sendo pensado era o objetivo da Jornada.

Quando convidamos alguém é porque queremos ouvir e conhecer as ideias dessa pessoa, suas contribuições teóricas e clínicas. Talvez, no momento, nosso maior desejo e, até porque não dizer, necessidade, seja ouvirmos uns aos outros e compartilharmos inquietações sobre os novos modelos de trabalho clínico, frutos de uma mudança significativa nos padrões culturais. Temos várias gerações convivendo no CEAPIA e é justamente por isso que passa a ser tão importante encontrar o diálogo necessário entre quem conduz o ensino e os que estão ingressando na especialização. Definido o modelo, quase que naturalmente veio a ideia do tema da Jornada: o impacto que todos estamos sentindo em maior ou menor grau na clínica dessa infância e adolescência atuais. Foi então que surgiu a “imagem” como um grande paradigma em torno do qual muitas ideias pudessem ser construídas e compartilhadas nas mais variadas direções. Achamos que a partir deste tema poderíamos captar os pontos de interesse e os desafios do momento.

A construção do trabalho psicoterápico é um legado de todos que vieram antes de nós, com suas descobertas e contribuições, das quais podemos nos apropriar sem perdermos nossas particularidades. Qualquer ideia que se construa é fruto de uma interação de vários aspectos, entre eles a cultura de cada época. A questão é saber como, vivendo a cultura, temos condições de observar seus efeitos e reposicionar toda uma mentalidade construída em outra época. Aceitar o novo, desconstruir parâmetros, são sempre tarefas difíceis para o homem no seu

Page 9: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

9

conservadorismo natural. Aliar tradição com inovação (tema do penúltimo Congresso Latino-Americano de Psicanálise) é sempre um desafio. Os dois extremos: manter a tradição invicta, repudiando qualquer nova abertura de pensamento ou atirar-se no novo, repudiando qualquer ideia já constituída. Como ser contemporâneo?

Satisfeitos com o tema escolhido, cabem agora algumas reflexões: “Imagem” é um tema bastante amplo e a verdade é que não sabemos exatamente para onde a Jornada vai nos levar. Uma parte dela terá que trabalhar por si própria e transformar este amplo tema em algo que possa transmitir aos participantes uma sensação de utilidade. Procurarei colocar aqui algumas associações ligadas à ideia de “imagem”. Falarei por mim, embora muito já vem sendo discutido em grupo. Primeiro: Imagem não é uma ideia nova em psicanálise. É sabido e já reconhecido por Freud nos primeiros tempos que o aparelho psíquico é estruturado através dos primeiros registros de memória. Esses registros são associados a imagens visuais, auditivas e sensoriais. Então somos uma matriz de imagens armazenadas como conjuntos associativos de registros e representações. Quando o código linguístico começa a operar, também ele é fruto de uma imagem: imagem auditiva, associada à imagem visual. Ao acompanharmos as primeiras palavras de um bebê fica bastante evidente a forma peculiar como os mais variados traços de memória se associam. No caso de um de meus filhos, antes de dizer “água” ele dizia “namnam”, que a nós parecia claramente uma alusão ao som que a água fazia ao passar pela garganta.

Inúmeras teorias psicanalíticas incluíram a ideia de imagem nos mais variados contextos. Lacan deu ênfase ao registro do imaginário, que viria entre o real e o simbólico. O registro do imaginário está associado para ele à fase do espelho. Nessa etapa do desenvolvimento estaria se formando o ego da criança, que, em virtude da prematuração biológica, constitui-se a partir da imagem de seu semelhante. Ou seja, o ego se forma sempre a partir da imagem do outro. Se sairmos do termo “imagem” para seu derivado “imaginação”, um outro campo se abre. Trata-se de um atributo humano, imaginar. Para Bion, imaginar faz parte do arsenal alfa (aqueles elementos que servem ao pensamento). Ao contrário dos elementos beta que só

servem para ser descarregados. Para Winnicott, imaginar ocorre no caminho oposto ao fantasiar. O fantasiar é uma atividade mental estereotipada que serve ao propósito de dissociar-se da realidade psíquica, enquanto o imaginar enriquece a atividade psíquica, sendo um meio de lidar com esta. Lidar e não escapar dela. Enfim, são associações que aparecem ao pensar no tema de nossa Jornada.

E então, finalmente, o título: “Uma imagem vale mais que mil palavras?” Penso que uma das questões a ser discutida é se realmente estamos corretos em opor imagem à palavra. Como se nossa cultura atual estivesse embarcando numa espécie de regressão ao mundo pré-verbal. Um mundo pictórico, rupestre. Se pensarmos que a linguagem se forma através de registros de imagens auditivas, poderemos questionar se em realidade não estamos sempre aperfeiçoando as imagens com o objetivo de uma melhor comunicação. Então, para concluir este texto e a propósito desta última ideia ligada à comunicação, darei um exemplo recente e pessoal: Fui a Tubarão participar de um evento científico. Ocorre que iríamos chegar pela meia noite e, não sabendo bem qual das entradas pela BR deveríamos tomar, pedi ao colega organizador uma indicação por mapa para não haver possibilidade de erro. Na tarde da viagem, ainda em Porto Alegre, recebo uma mensagem por WhatsApp da secretária dele. Me diz que, como faz esse trajeto todos os dias para ir de sua casa ao consultório do Dr. Márcio, ela hoje veio fotografando as placas pela estrada para que eu não me perca. Por questão de espaço, não vou reproduzir aqui essas fotos, mas bem que valeria a pena. Cada mensagem continha a foto de uma placa e uma descrição: “aqui você vai ver essa placa; siga adiante”. Então chegava mais uma foto: “Agora você vai ver essa e aqui entrará à direita”. Nova foto: “Aqui está a revenda de carros depois da qual você vai entrar à esquerda, etc.” Foi impossível meu marido e eu nos perdermos dessa vez – apesar do nosso precário senso de orientação. Nesse caso posso dizer que as imagens valeram mais do que mil palavras!

Page 10: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

10

PONTO DE VISTA

“QUAIS SÃO AS PECULIARIDADES DA CLÍNICA DA ADOÇÃO, EM SEU PONTO DE VISTA?”

Convidamos a psicanalista Gina Levinzon, de São Paulo, e o psicanalista Victor Guerra, do Uruguai, a responderem:

Uma das características essenciais do ser humano é o desejo de ter filhos e de continuidade por meio da maternidade e paternidade. Desta forma homens e mulheres se realizam, tanto no plano biológico quanto no plano psíquico. De parte das crianças, a necessidade de contar com pais que cuidem delas, que as amem e eduquem é vital. É no contexto familiar que elas se desenvolvem bem, com segurança e trocas afetivas valiosas.

Nem sempre o elo que une pais e filhos é biológico, e a adoção permite que se estabeleça uma ligação preciosa entre a criança e os pais que escolheram tê-la como filha. A história da adoção, quando transcorre bem, é a de uma história humana comum, e apresenta perturbações e contratempos que fazem parte da vida em suas infinitas variações.

O atendimento de famílias adotivas na clínica psicanalítica tem sido frequente em minha experiência clínica. Muitas vezes a procura de auxílio psicoterapêutico não está explicitamente relacionada à questão da adoção, como quando a criança apresenta dificuldades escolares ou de comportamento. Nestes casos, a adoção representa o pano de fundo no qual essas dificuldades ocorrem. Outras vezes a demanda está diretamente relacionada ao tema da adoção, como na procura de orientação de pais para lidar melhor com o seu filho adotivo, para lhe contar sobre a adoção, ou ainda para preparar o casal diante de um processo de adoção que ainda não se iniciou. Nestes casos há a possibilidade de se efetuar um trabalho psicoprofilático, que proporciona condições para uma melhor adaptação da família.

Há uma ampla gama de motivos que levam um casal a adotar uma criança: questões de infertilidade; pais que afirmam que “sempre pensaram em adotar”; a morte de um filho biológico; o contato com uma criança abandonada que suscita o desejo de cuidar dela; o desejo de ter filhos quando já não é mais possível biologicamente; o parentesco com pais biológicos que não podem cuidar da criança; pessoas que não possuem um parceiro, mas querem exercer a maternidade ou paternidade; o medo de uma gravidez; o argumento de que “há muitas crianças necessitadas” e é melhor adotá-las

do que por mais crianças no mundo. Para que ocorra uma adoção com uma boa preparação psicológica recomenda-se que os futuros pais adotivos possam discriminar com clareza o que os mobiliza a adotar uma criança. As diversas motivações expressam pensamentos conscientes e fantasias inconscientes que podem representar futuros entraves no relacionamento com a criança.

Há algumas características que são inerentes ao processo de adoção e que exigem um esforço de adaptação maior do que nas famílias unidas pelo vínculo biológico. A criança adotiva passou necessariamente por uma experiência de separação em relação à mãe com ligação genética, que na maioria das vezes se deu em um momento de vida bastante precoce. Podemos dizer que esta separação representa para a criança um trauma, que tem maiores ou menores proporções conforme as condições em que se deu tal evento. Situações de rejeição já durante a época da gestação ou desligamentos abruptos do contato com a genitora, maus tratos, internações em instituições ou a passagem por diversos intermediários até serem finalmente adotadas, várias são as possibilidades presentes no início da vida das crianças que se constituem em fatores potencialmente patogênicos para o seu desenvolvimento. A marca do abandono e do desamparo pode estar gravada no psiquismo da criança, em graus variados, desde uma cicatriz indelével, até uma ferida narcísica com dimensões dramáticas. Sua necessidade de sobrevivência pode levá-la a sobrepujar tais falhas ambientais desenvolvendo uma série de mecanismos defensivos que também apresentam graus diversos, relativos à normalidade ou à patologia. Isso vai depender da inter-relação entre a constituição genética da criança e da adequação do seu ambiente.

A criança adotada se defronta com o enigma de sua identidade genética. Para ela o “Quem sou?” passa dramaticamente pela percepção de um buraco em sua história pessoal. Quanto do que foi vivido com a mãe biológica e às vezes também com o genitor fica inscrito na memória da criança? Essa resposta varia de caso a caso, mas sabemos que

GINA KHAFIF LEVINZONPsicanalista (SBPdeSP), Doutora em Psicologia Clínica (USP) ; Autora dos livros “A criança adotiva na psicotera-pia psicanalítica”, “Adoção” e “TORNANDO-SE PAIS, a ADOÇÃO em todos os seus passos”

Page 11: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

11

VICTOR GUERRA - Psicólogo, Psicanalista da APU, Doutorando na Université Paris Descartes (Paris V)

Podemos pensar que essa pergunta é tão interessante quanto ambígua, o que é sempre um convite a adotar uma postura aberta, interrogante, enigmática, como toda aquela que pretende se aventurar pelo território dos vínculos humanos e da formação de sua subjetividade.

A primeira peculiaridade é a de que uma clínica dos vínculos e da constituição subjetiva é como outra qualquer vicissitude nas vidas de uma família e da criança. Mas o esforço deve ser direcionado para suas próprias especificidades e uma delas nos remete à experiência especial no transcurso da parentalidade. Poderíamos dizer que a adoção é muitas vezes o testemunho da impossibilidade parental de gestar biologicamente outro ser humano, mas pode ser também a oportunidade de gestar intersubjetivamente e tornar humano um outro ser.

Esta primeira tentativa de resposta sobre o tema nos leva a pensar sobre um fato indiscutível: que, em maior ou menor grau, a clínica da adoção é uma clinica da angústia e da esperança. E por acaso toda a clínica dos vínculos humanos não o é? Poderíamos dizer que sim, mas retomemos algumas variáveis específicas da mesma.

Em minha experiência de trabalho de vários anos, em diferentes casos de adoção, encontrei-me geralmente frente a situações de casais que têm tentado durante muito tempo gestar biologicamente um filho e têm-se encontrado expostos, por diferentes motivos, a uma impossibilidade. É desde essa frustração e desse desejo que emerge a experiência do trânsito na adoção… E falo de trânsito porque muitas vezes se abre um longo caminho de busca desse bebê-criança, que, como disse Freud em 1911, será “sua majestade o bebê”, aquele que cumprirá com os sonhos irrealizados de seus pais e lhes permitirá compensar as frustrações de alguns pontos de sua vida. Dessa maneira, em uma dialética narcisista já conhecida, a “majestade do bebê” inauguraria a “majestade dos pais”. Nasce uma criança, nasce uma mãe e um pai… se adota uma criança, se adota uma mãe e um pai.

Mas entre estas duas questões se desenvolvem pontos que ficam em suspense, pontos enigmáticos….. O bebê-criança adotado retomaria um enigma próprio de todo cenário parental. Quando se tem a possibilidade de gestar um filho, os pais têm muitas dúvidas e algumas certezas: uma delas é a de que eles sabem quando seu filho foi gestado por eles, podem recordar (clara ou vagamente) o momento histórico desse casal desde quando a mãe ficou grávida e podem montar uma narrativa sobre a mesma. Narrativa que em muitos casos se nutre dos relatos co-construídos em família (fotos da barriga, filmes de ecografias, reuniões de família, etc.) E, junto a isto, tem o conhecimento da linhagem transgeracional que a antecede, de maneira que o bebê já estará inscrito numa espécie de “protoidentidade transgeracional”.

Quando não se pode gestar biologicamente e se adota

um filho, a experiência da narrativa da origem fica muitas vezes sob uma aura de mistério da qual a mãe se sente alheia, perdendo-se a certeza da linhagem transgeracional, também alheia. Talvez existam outros que possam dar seu testemunho sobre o mistério da origem e da linhagem transgeracional que atravessa esse bebê. Isso muitas vezes turva a maneira com que possam olhar e observar algumas condutas ou atitudes dessa criança. Atualmente, com o peso que tem as informações sobre o genoma e sobre a possível incidência genética nas condutas, em muitas situações de adoção é necessário um trabalho muito delicado de acompanhamento desses fantasmas para que o bebê adotado não perca o lugar de “sua majestade o bebê” para passar a ser “o misterioso estranho”, como a imagem à qual Freud referiu-se em 1919 de “o sinistro” ou “o estranho”, aquilo que de familiar passa a ser “não familiar”, gerador de una inquietante estranheza….

Assim, uma das peculiaridades da clínica da adoção é com relação ao enigma do passado e ao enigma genético do filho. Por sorte há outros enigmas menos sinistros, enigmas que vestem o bebê de um mistério saudável. São os enigmas de seu presente e de seu futuro…… Como será quando for maior?... Como será sua voz? ... Quando dará seus primeiros passos?.... Jogará futebol como o pai ou será professora como sua mãe?... Gostará do mar, da luz, de correr entre as folhas?.. Como andará a vida pela sua alma?

Refiro-me, então, a uma “gestação intersubjetiva”…, que é a gestação de qualquer criança, biológica ou adotada, através da qual os pais seguem co-gestando a vida emocional do filho, que este, por sua vez, também vai gestando, bem como transformando a de seus pais. Assim, se abrirá um espaço diferente na família adotiva. E devemos recordar que “espaço”, em sua etimologia, vem de “spatium”, do latim “spes”, que também deu origem à palavra “espera” e “esperança”. Abrir um espaço implica a capacidade de tolerar a espera e ter confiança, esperança nesse caminho que se inaugura….

Mas isto os pais, muitas vezes, não sabem. Frequentemente eles sentem que vão perdendo pelas angústias que devoram suas frágeis certezas... Talvez a última peculiaridade desta clínica que eu poderia transmitir-lhes hoje é a de que esses pais precisam de um terapeuta comprometido, que lhes possibilite pela primeira vez experimentar o prazer (e a dor) de pensar em seu filho e, dessa maneira, “fazer nascê-lo com cuidado”. Porque “cuidar” em sua raiz latina vem do latim “cogitare”, que significa “pensar”.

Cuidar do outro, em seu primeiro significado, é pensá-lo…. e , talvez, não exista “melhor fórmula” para falar com uma criança sobre sua adoção do que começar com um conto: “Era uma vez um papai e uma mamãe que desejavam e pensavam muito em ter um filho, mas não podiam tê-lo…..então pensaram em...”

a possibilidade que o adotado tem de pesquisar sua própria história representa uma medida de saúde psíquica.

Os testes de aceitação aos quais o adotado pode recorrer para se assegurar de seu lugar na família decorrem de seu medo de ser rejeitado novamente. É importante compreender seu significado para que tenham um bom manejo. Do lado dos pais encontramos muitas dúvidas: como contar ao filho que ele é adotado? Como lidar com seu sofrimento de ter sido rejeitado? E as dificuldades que ele apresenta, serão resquícios de sua herança genética? E se ele quiser procurar os pais biológicos, o que fazer?

Abrir espaço para reflexão e compreensão das diversas manifestações psíquicas dos integrantes da família adotiva possibilita a prevenção de distúrbios afetivos. A consciência dos sentimentos e angústias permite encontrar melhores soluções para lidar com as situações que se apresentam. A Psicanálise nos dá ferramentas preciosas para o trabalho com os pais, as crianças e as famílias de modo geral.

A verdadeira adoção ocorre quando as pessoas se sentem ligadas de modo incondicional, com todos os momentos bons e difíceis por que passam na sua vida em conjunto. Todos nós precisamos ser adotados...

Page 12: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

12

SETORES

ADOÇÃOMAIO, MÊS DEDICADO AO ESTUDO DA ADOÇÃO NO CEAPIA

A CLÍNICA DA ADOÇÃO

Neste ano de 2014, com o apoio da Direção de nossa Instituição, o setor promoveu, no mês de maio, um conjunto de atividades focadas em torno do tema adoção, lembrando que o “Dia Nacional da Adoção” ocorre no dia 25 de maio. Com esse intuito, organizamos um encontro científico que denominamos “Clínica da Adoção”, no sábado, dia 17 de maio. No sábado do dia 25 de maio, a atividade mensal do CEAPIA denominada Encontro com a Comunidade, escolheu como tema e título “Adoção: Particularidades e Complexidades” e, finalmente, na sexta-feira, dia 30, outra atividade mensal do CEAPIA - a Ciranda Cultural - teve como título “Sobre Adoção: Meu Malvado Favorito”.

Para a “Clínica da Adoção” foi convidada a psicanalista paulista Gina Levinzon, autora de tese de doutorado em Psicologia denominada “A criança adotiva na psicoterapia psicanalítica” (Ed.Escuta, 2000) e o psicanalista uruguaio Victor Guerra. Esse evento foi realizado no Anfiteatro do Palácio do Ministério Público do Estado do RGS, cedido como apoio inestimável - concretizando o entrelaçamento obrigatório entre a visão jurídica (que assegura a legitimidade legal dos processos de adoção) e a visão clínica (que individualiza cada situação, e considera desejável a artesania terapêutica construída caso a caso), ambas devendo encontrar soluções de consenso, diante da multiplicidade e complexidade dos casos consultantes.

No “Encontro com a Comunidade” estiveram presentes profissionais e estudantes de diferentes áreas: educação, saúde, direito, além de pais adotivos. Foram abordadas as

particularidades e complexidades relacionadas à temática da adoção, possibilitando desmistificar a ideia de que filhos adotivos apresentam dificuldades devido à adoção. Foi visto que a forma como as especificidades inerentes à adoção são vivenciadas em cada família é o que influenciará para o bom desenvolvimento da criança, com seus pais adotivos. Nesse contexto, foi enfatizado também o papel da escola como um espaço privilegiado para abordar as diferentes constituições atuais. Houve depoimentos pessoais e o “clima” que permeou o encontro foi de integração, reflexão e troca de conhecimentos.

Na Ciranda Cultural recebemos as convidadas Morgana Bortolini, psicóloga do CEAPIA, e Patricia Langlois, artista plástica, ilustradora e arte-educadora. O encontro da arte com a psicoterapia a partir da discussão do filme “Meu Malvado Favorito” nos possibilitou transitar de forma lúdica e poética pela temática da adoção. Além de conversarmos sobre o exitoso processo de adoção presente no filme, pudemos conhecer mais acerca de como este tema é abordado na literatura infantil. Através de uma revisão das ilustrações presentes nos livros infantis, Patrícia nos mostrou que a maioria destes livros que tratam a temática da adoção referem-se apenas às adoções precoces e indicam como causa da adoção a infertilidade feminina. Questões relativas a adoções de irmãos, inter-raciais, homoparentais e à infertilidade masculina ainda são pouco evidenciadas na literatura infanto-juvenil.

Ficamos felizes em poder compartilhar com toda a Instituição, bem como com a comunidade em geral, nosso interesse e estudos sobre a Clínica da Adoção, que vem sempre se ampliando.

ANDRÉA PEREIRA E NORMA ESCOSTEGUY (COORDENAÇÃO); ANA LUIZA BITTENCOURT BERNI,

LETÍCIA ORENGO, LISANDRA FUCHS, MAURO FERREIRA, MILENE MERG, PRISCILLA STERNBERG, RENATA KREUTZ

No mês de maio comparecemos ao evento “A Clínica da Adoção” e vamos destacar algumas contribuições dos convidados - Dra. Gina Levinzon e Dr. Victor Guerra.

Referindo-se diversas vezes a Winnicott, a convidada lembrou que quando a história da adoção transcorre bem ela é comum a todos nós, pois o laço biológico não garante que o filho seja amado e acolhido por seus pais. A adoção representa uma forma de proporcionar à criança uma família quando ela não pode ser criada por quem a gerou. Para os pais adotivos, proporciona ter e cuidar de um filho desejado, com o qual não têm ligação genética. Sendo assim, toda filiação é, antes de tudo, uma adoção. E a verdadeira adoção é uma filiação incondicional, na qual a criança precisa ser amada na sua integralidade.

Considerando o preparo para a adoção, é necessário que haja uma reflexão prévia dos pais sobre suas diversas motivações: esterilidade ou idade avançada, morte de um filho, desejo “de fazer bem à sociedade”, parentesco com os pais biológicos que não têm condições de prover cuidados à criança, dentre outros.

O processo de adoção implica em uma gestação de duração imprevisível: os pais adotantes podem receber a criança poucos dias após terem decidido pela adoção ou podem estar sujeitos a anos de espera até que ela se efetive. Os nove meses de ajustamento mútuo característicos da gestação biológica são substituídos por sentimentos de impotência, ansiedade e frustração decorrentes da dolorosa espera ou da chegada abrupta da criança na família.

Para as crianças também existem sequelas desta espera. A melhor idade para adotá-las seria a menor possível, para evitar que elas vivam longas experiências de desamparo e sofrimento. Entretanto, isso não significa que a adoção não seja recomendada nos casos mais tardios e difíceis. É importante que os pais adotivos preparem-se para este desafio, saibam que estão acolhendo uma criança que experienciou privações ambientais significativas e que a adaptação mútua pode exigir-lhes esforços maiores. Relembrando novamente Winnicott, destaca-se que, além de proverem cuidados comuns, os pais deverão ser como “terapeutas de uma criança carente”, durante o tempo que for necessário, pois é frequente que ela os teste, com medo do abandono, até que se construa um sentimento mútuo de confiança e pertinência.

Vale ressaltar que a adoção não é um trauma: pelo contrário, é a solução para um trauma. Um ambiente adequado de sustentação pode fazer com que as marcas traumáticas tornem-se apenas uma cicatriz, ao invés de verdadeiras feridas abertas. O grau do trauma irá variar conforme as características próprias da criança e do seu processo de adoção (idade, privações, novas experiências).

Os pais adotivos também vivem incertezas inerentes ao processo dessa nova e especial parentalidade. Há fantasias comuns referentes à herança genética da criança e a tendência a atribuir suas dificuldades, traços de caráter e enfermidades à hereditariedade. Vale retomar a equação etiológica de Freud, que expressa que ambiente e genética se complementam em graus variáveis: embora nasçamos com predisposições, sua expressão

Page 13: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

13

INTERVENÇÕES PRECOCES

PAULA KERN MILAGREPsicóloga, aluna do curso de especialização do CEAPIA

sofre influência ambiental, com a construção ao longo da vida de valores, formas de agir, pensar e desejar.

No seguimento da discussão, o Dr. Victor Guerra acrescentou conceitos originais: apesar dos pais adotivos não poderem gestar biologicamente um filho, eles tem a possibilidade de gestar intersubjetivamente outro ser humano. É essencial que haja espaços de escuta e reflexão para os mesmos, que possam habilitá-los para essa parentalidade intersubjetiva, ao falar sobre seus lutos e se apropriar subjetivamente do seu desejo de tornarem-se pais. É preciso ajudá-los a olhar para além da dor e da falta, possibilitando que conectem-se com sua fertilidade psíquica e possibilidade de seguir gestando e nutrindo psiquicamente a criança, o que ocorre na medida em que falam e pensam nela.

Sua proposta é de co-criar com os pais essa disponibilidade para a narratividade, ajudando-os a contar sobre o processo de adoção e a construir um ritmo familiar mútuo, sem segredos e tabus.

A criança, por sua vez, deve construir a história de si mesma com seus pais adotivos, sendo seu desafio articular suas duas histórias subjetivas numa só, sem a repressão da curiosidade sobre suas origens. Em relação aos pais adotivos, irá compartilhar o prazer de perceber que ambos, unidos, pensam nela, sentindo-se então por eles gestada psiquicamente.

No mês de abril o Setor de Intervenções Precoces contou com a apresentação da psicóloga RENATA G. ENDRES, que nos prestigiou com sua dissertação de mestrado: “O fenótipo ampliado do autismo em pais e mães de criança com transtorno do espectro do autismo”.

No mês de maio nosso convidado foi o psicólogo THOMÁS G. GONÇALVES, que apresentou sua dissertação de mestrado. A seguir, a síntese que Thomás, gentilmente, escreveu para o Boletim:

MULHERES QUE NÃO SABEM QUE ESTÃO GRÁVIDAS ATÉ O MOMENTO DO PARTO

PRÊMIO CEAPIA

“Investigo o fenômeno da negação não psicótica da gravidez, situação em que uma mulher desconhece o próprio estado gravídico durante boa parte da gravidez ou até o momento do parto. Para tanto, entrevistei três mulheres que descobriram a gestação somente na hora do parto. Além disso, entrevistei em Berlin, Toulouse, Paris e Estrasburgo seis profissionais que trabalham com essa temática para obter mais dados, uma vez que a literatura específica sobre o fenômeno é ainda escassa.

Dentre os resultados obtidos com as participantes, destaco alguns deles: em relação aos bebês, uma das participantes deu à luz um filho de 3,500 kg e 49 cm, outra uma filha de 2,690 kg e 45 cm e outra teve um menino de 3,160kg e 49 cm. Um dos bebês acabou falecendo e os outros vivem com as suas mães. Em relação aos sintomas típicos de uma gestação, as participantes declararam que não os perceberam ou interpretaram erroneamente esses sinais. Cito alguns exemplos: a ausência de menstruação foi relacionada a um evento estressor atual; o

aumento de peso foi atribuído a uma crise de ansiedade e os enjoos foram entendidos como advindos de uma má alimentação. Nenhuma das entrevistadas sentiu movimentos intrauterinos. Após o nascimento, as participantes relataram dificuldades em se vincular com o bebê. Uma delas não conseguia dar um nome ao seu filho recém-nascido, sendo que esse bebê ficou quase uma semana sem ter um nome. Outra não acreditava que tinha tido um filho de forma repentina, não conseguindo interagir de maneira afetiva com o seu bebê. Explorei em minha dissertação a relação que essas participantes tiveram com as suas próprias mães, a relação delas com seus pais e os prejuízos na percepção, incluindo as falhas anteriores à gestação desconhecida. Ademais, trabalhei com a hipótese de que esse fenômeno traz em seu cerne uma história de compulsão à repetição; isto é, o bebê gerado invisivelmente remeteria à própria história de invisibilidade que a mulher sofreu em sua infância.

Aprendi que esse fenômeno não é recente, sendo a sua primeira investigação no ano de 1641. Pesquisas demonstram que essa situação pode ocorrer numa frequência de um caso a cada 2455 nascimentos (Alemanha); um caso a cada 2500 (Áustria) e um caso a cada 1000 (França). Os profissionais enfatizaram a necessidade de se pensar em dispositivos de promoção de saúde, já que muitas mulheres ao descobrirem que estão grávidas podem cometer infanticídio. Como prevenção, alguns hospitais oferecem tratamento psicológico para essas mulheres por dois anos.

O fenômeno da negação não psicótica da gravidez continua me intrigando e fazendo com que eu explore as suas diversas facetas. A interlocução entre profissionais é de extrema importância para que juntos possamos pensar sobre essa complexa experiência. Sendo assim, agradeço o convite feito pelo Setor de Intervenções Precoces por ter-me oportunizado um espaço vitalizante de troca de ideias e experiências.”

ADRIANA D. RIBAS (COORDENAÇÃO)

Este ano recebi, com muita satisfação, o Prêmio CEAPIA pelo trabalho de final de ano “Quando a mãe não foi espelho” (sobre o início da construção de self na criança latente dentro da psicoterapia de binômio). Apresento vinhetas de um processo terapêutico de uma criança e sua mãe junto a um percurso teórico que parte principalmente de Winnicott e convoca conceitos de Mahler, Bowlby, Klein, Bion e Bollas.

A escrita deste trabalho trouxe a oportunidade de aprofundar a reflexão sobre questões fundamentais com as quais se defronta o terapeuta quando atende uma criança que experencia a falta de espaço psíquico materno, entre elas: Como a falha na função materna dificulta os limites de self na criança? Como trabalhar a construção do self através do atendimento psicoterápico de binômio? Essas e outras questões são desenvolvidas ao longo do

trabalho, buscando compreender as interações que ocorrem no campo terapêutico.

A possibilidade de premiação de trabalhos dentro da Instituição é uma forma de reconhecer a importância da escrita bem articulada, através de reflexão e embasamento teórico-clínico. Percebo que esta é uma das formas pelas quais o CEAPIA, como Instituição, valoriza seus alunos e equipe de terapeutas, evidenciando-se, assim, como um lugar onde compartilhar conhecimento é gratificante e motivador. Desejo a todos do CEAPIA um ótimo ano de estudos e que possamos nos inspirar uns aos outros através da escrita sobre temas que permeiam a clínica.

 

Page 14: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

14

ESPAÇO CULTURALSESSÃO PIPOCA

DICA

FROZEN, UMA AVENTURA CONGELANTE

OS INCOMPREENDIDOS

O que faz FROZEN ser um filme de sucesso entre todos os públicos? Me parece que um dos fatores é a apresentação de personagens atuais, com os quais nos identificamos. Conta a bela história de duas princesas que vivem no Reino de Arendell. Elsa, a mais velha, que nasceu com o poder mágico de criar gelo ou transformar em gelo o que toca e Anna, que vê no poder da irmã constante diversão: ‘o céu acordou e eu também, a gente tem que brincar’.

Neste espaço lúdico é criado um boneco de gelo, ao qual Elsa empresta vida, falando por ele: ‘Olá, eu sou Olaf e adoro abraço quentinho’. Porém, ao fazer uma montanha de gelo para a irmã escorregar, acidentalmente acaba atingindo a cabeça de Anna, o que causaria uma tragédia caso o mestre dos Trolls não tivesse removido a magia de sua mente. Recomenda que se remova a magia e as lembranças dela para segurança de Anna. Os pais, assustados com a situação, fecham os portões do castelo, reduzem empregados e deixam os poderes de Elsa escondidos de todos. O tempo vai passando e Anna segue batendo na porta do quarto da irmã todos os dias convidando-a para brincar na neve, sem sucesso. Assim, Elsa passa boa parte de sua vida sozinha, com medo de seus poderes, isolada em seu quarto e presa ao conselho do pai de ‘não sentir, não deixar saber e sempre ser uma boa menina’..

Os pais, ao fazerem uma viagem de navio, enfrentam uma grande tempestade (numa cena impactante aparece o navio sendo tragado pela fúria do mar) e nunca mais retornam. As irmãs seguem separadas uma da outra, em profundo desamparo. Após três anos, na coroação de Elsa como Rainha de Arendell, as janelas e portas do Castelo são destrancadas, numa alusão clara a um novo momento na vida delas. As irmãs ficam juntas por um breve período, mas, no momento que Elsa tenta impedir a irmã, que mostra uma atitude impulsiva de casar com um príncipe que conheceu na festa, se enfurece e mostra seus sentimentos, revelando seu poder. Desesperada, foge, talvez demonstrando não estar ainda capacitada para enfrentar as pesadas responsabilidades do mundo adulto. Ao correr, vai congelando o caminho e o Reino entra em um inverno rigoroso e sem alegria.

Penso que podemos fazer um paralelo com a adolescência, como um período de grande força pela intensidade das mudanças que acontecem no corpo e na alma, ilustrando a aventura que é o crescimento emocional. Etapa da vida que não acontece sem ruído, dor e uma certa turbulência.

A cena em que Elsa sobe a montanha e canta a música “Let it go” (livre estou) é emocionante. Com a oportunidade de trilhar um novo caminho, vão ocorrendo transformações. Parece assumir uma postura mais independente, torna-se mais exuberante e livre, tentando aprender a lidar com seus medos, indo em busca de sua própria identidade e construindo um ‘castelo de gelo’. Sobrevive graças aos recursos internos que possui. É um caminho de enfrentamento das pulsões, onde aparecem monstros que é preciso enfrentar e dominar.

Este momento também faz com que nos identifiquemos com Elsa no sentido de pensar nos desamparos, estados de vulnerabilidade ou situações traumáticas de toda ordem, que

ANA RITA TASCHETTOPsicanalista (SPPA), Professora e Supervisora do CEAPIA

cada um de nós vive, de forma única, ao longo da vida. O personagem de Olaf retorna, agora com vida própria.

Penso que ele representa o vínculo criado entre as irmãs, a parte mais inocente e divertida, que permanece intacta como uma doce lembrança na mente das duas. Olaf faz referência ao afeto, pois, embora seja um boneco de gelo, não se cansa de dizer que adora abraço quentinho.

Anna não desiste da irmã e luta pela reaproximação. Mostra um jeito engraçado e atrapalhado e, ao mesmo tempo, inspirador, determinado e criativo de enfrentar as dificuldades. Aparece, a meu ver, a forma de cada uma das irmãs enfrentar os desafios da adolescência, de sonhar e buscar seus ideais, mostrando as mudanças tanto internas quanto externas. Anna não escolhe um caminho solitário; conta com a ajuda de Kristoff (um geleiro órfão) e sua rena Sven e entre eles um verdadeiro laço afetivo vai se formando.

Penso que este é um ponto interessante em Frozen: a relação fraterna. Ao tentar resgatar a irmã, acontece uma luta e Anna é atingida pelo poder de Elsa, desta vez no coração. Anna congela e ‘somente um ato de amor verdadeiro pode descongelar um coração congelado’. Ao contrário do que ocorre em várias histórias infantis, não é o beijo de um príncipe que irá salvá-la, mas é através do afeto, carinho e abraço emocionado de Elsa que Anna consegue retornar à vida. Parece fazer uma alusão ao amor real, construído com o tempo e a convivência. Esse amor se revela na valorização da amizade entre as irmãs e mostra como cada uma enfrenta os medos, as ambivalências, as adversidades, os conflitos e os obstáculos da vida.

Elsa descongela Anna, mas também descongela a si própria, mostrando-se livre para sentir e, assim, descobrir o significado e a beleza do que pode nascer e crescer no encontro enriquecedor e fértil com o outro, que só acontece no aconchego do que representa um ‘abraço quentinho’.

Cabe ressaltar que o poder de Elsa não acaba, mas transforma-se em algo lúdico, numa pista de patinação onde todos podem se divertir, recriando o clima afetuoso que aparecia no início do filme entre as irmãs quando brincavam na neve.

Obra prima de François Truffaut, produzido em 1959, é um imperdível clássico do cinema francês! O menino Antoine, com aproximadamente 12 anos, sentindo-se rejeitado pela mãe e não podendo ser contido nem pela família nem pela escola, passa a praticar, de forma crescente, atos de rebeldia (mentiras, furtos, etc.) até ser mandado a um reformatório. O filme é comovente e retrata de forma poética as maneiras de uma criança lidar com a solidão e o desamparo. Esse menino dispõe de recursos e sensibilidade para buscar na arte (nos livros e em sua paixão pelo cinema) um refúgio ao seu mal estar, mas precisa “fazer arte” (através das ditas condutas anti-sociais), para manter acesa a esperança de ser compreendido.

LISIANE MILMAN CERVO

Page 15: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

15

No encontro da literatura e da psicanálise, a sua maneira poética, sensível e espontânea, Celso Gutfreind apresenta uma coletânea de artigos nos quais reflete as representações e elaborações fundamentais que se dão através da literatura e a compreensão humana possibilitada pela psicanálise. Literatura e psicanálise vão sendo descritas por ele de forma lúdica. Com Peter Pan, Celso descreve a luta e o luto pela infância, pelo crescimento, num texto imperdível! Com o Apanhador no Campo de Centeio, o autor evoca a adolescência e suas vivências, percepções e percursos mais profundos, emocionante como todo o livro.

MARCA PÁGINA

DICAS

ELIANE BRUM, EDITORA LEYA BRASIL

UMA/DUAS,DE ELIANE BRUM

MEUS DESACONTECIMENTOS

A INFÂNCIAATRAVÉS DO ESPELHO

Uma/Duas não é um livro. Ou, pelo menos, não é só um livro. Seria, se ele fosse composto apenas por capa, folhas, páginas e letras impressas. Mas ele contém muito mais. Uma/Duas é composto de histórias de morte e de vida, de relações de mágoas e de amor, de ressentimentos e de impossibilidades. A história da personagem Laura e sua relação com a mãe, contada por Eliane Brum, é composta de sangue e de ódio. É uma narrativa carregada de emoção, que nos deixa em estado de choque, tamanha a intensidade de seu relato, absolutamente vivo e aterrador.

Como recurso estético, o livro é escrito em letras cor de laranja, que mais parecem vermelhas, como o sangue esparramado na cena que põe mãe e filha novamente em contato: uma tentativa de suicídio da primeira, que mais parece uma estratégia bem sucedida de seduzir e prender Laura mais uma vez dentro de si. Ou como o sangue que escorre dos cortes que ela faz em seus braços – tentativa de separar-se do corpo da mãe, explica.

Ainda que a geografia as tenha mantido distantes por anos, Laura não se liberta: está dentro da mãe e a mãe segue dentro dela. É disso que fala o livro: de uma relação de captura, de aprisionamento, de claustro em que habita essa dupla nunca separada. Fala do momento de um reencontro que nunca pode existir, já que nunca houve uma separação. Agora, elas estão apenas novamente habitando as mesmas quatro paredes de uma relação em que duas são uma. Minhas mãos da mãe, é como ela retrata essa indiscriminação.

Laura ganha voz através dessa escrita, uma voz que nunca teve. Era da mãe, em sua onipresença, a única voz ouvida naquele apartamento, naquela cama para a qual raptava sua filha. Sem voz para fazer-se presente, o pai de Laura sucumbiu. Um dia, “aquele homem que nunca esteve lá, não estava lá”. Exilado por quem nunca foi uma esposa, não teve força para salvar a pequena filha das garras e tentáculos que ela via na mãe. Sozinha, teve que render-se, e levou alguns anos, até que pudesse partir. Partir, mas com a mãe em seu corpo, em sua alma.

É dessa dinâmica que o livro vai tratar: da possessão que uma mãe pode fazer de seu bebê, por um investimento, mas um investimento mortífero, que furta do infans a possibilidade de um vir-a-ser; da incapacidade deste pequeno ser que, em sua condição de dependência, não imagina poder viver sem as amarras da mãe, mesmo que, para isso, tenha que renunciar à própria vida psíquica – como fez Laura; e da ausência de um pai que, ainda que de corpo presente, não tem força para cumprir aquilo que lhe é devido: desfazer a união idílica entre mãe e bebê, separar o que era uma – um só corpo, uma só alma – e mostrar que ali existem duas.

Se tudo corresse bem, essa seria a apresentação inicial da vida de cada um de nós: os trâmites necessários desde os primeiros investimentos narcísicos – a libido dos objetos parentais, mas também sua pulsão de morte impressa no bebê – até a vivência de um Édipo em que, de dois, se fazem três, cada um no exercício de sua função no complexo. Pela boca de Laura, contudo, Eliane Brum expõe esta dinâmica em sua apresentação mais primitiva

ANA CLÁUDIA S. MEIRAPsicanalista (CEPdePA), Coordenadora da Oficina de Escrita Científica

ALINE RESTANO

SILVIA DIAN

e mais violenta. Ela descreve o fracasso desse movimento que deveria permitir ao bebê, naturalmente, ir adquirindo a autonomia necessária para ver-se despregado da promessa de completude e união com a mãe das mais precoces etapas.

Não é fácil ler este livro: a angústia que desperta faz, a um só tempo, querer largar, dado o impacto que causa, e não poder parar de ler, tamanho o arrebatamento e o desespero que provoca. É neste paradoxo e com esta mistura de sentimentos e movimentos, que me vi tragada pela leitura mais violentamente fascinante que fiz na minha vida. Eliane Brum escreve de forma extraordinária. De modo ao mesmo tempo contundente e admirável, ela descreve o que poderia ser uma narrativa no divã de anos de uma análise profunda.

Dada a crueza e veracidade do que relata, não foram poucas as pessoas que indagaram: “Mas esta história deve ser dela, né? Porque, para escrever deste jeito, é impossível que ela não tenha vivido isso...!”. Penso que sim, que essa é a história de Eliane, e que é a história de todas nós; nós, nossas mães e nossas filhas. Por isso, mobiliza tanto.

Também não é fácil escrever sobre este livro, pois o anseio é de falar sobre cada passagem, cada cena. Nenhuma frase do livro é escrita sem força. Cada uma nos lança para o mais fundo de nós, para mais dentro de nossa história, nossa infância, nossas relações. Mas também me foi impossível não escrever sobre este livro. Sua história nos leva a buscar formas de elaborar o arrebatamento de que somos vítimas, como leitores. Então, escrevo para tentar processar tudo o que sua leitura nos impõe evocar: nossos piores demônios, os maiores fantasmas, nossos pesadelos, nosso inconsciente exposto à luz do dia, em cada página, como raramente vemos.

Usar assim a escrita é o que faz Eliane² e é o mesmo que faz Laura. Ela escreve “na esperança de que as palavras libertem do sangue. Do corpo da mãe”. Então, tudo aquilo que foi excessivamente sentido na pele, na carne, nos ossos, ganha, na escrita, uma possibilidade. Quando ela narra o que permaneceria indizível, no calabouço que foi o útero materno, encontra uma “janela por onde escapa do corpo da mãe”.

Tarefa compartilhada com a Psicanálise: permitir que nos libertemos do que insiste no tempo e no psiquismo, do que nos escraviza, do que nos condena a uma inexistência, e nos fazer narradores do que, um dia, não podia ser dito, nos fazer autores de nossa própria história, não mais daqui para trás, mas a de agora e a daqui para frente.

2 Isso ela nos irá contar em seu segundo livro, “Meus Desacontecimentos”

Lindo livro, para ser lido de uma vez só. A autora conta histórias de sua infância e de como a palavra escrita foi lhe ajudando a elaborar acontecimentos da sua vida.

CELSO GUTFREIND, ARTMED

Page 16: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

16

SETORES

AMBIENTOTERAPIA

PSICOPEDAGOGIA

GRUPO DE PAIS DA AMBIENTOTERAPIA: EXERCÍCIO DA PARENTALIDADE

Com muita satisfação e carinho assumimos a coordenação do Setor de Ambientoterapia neste ano de 2014.

A Ambientoterapia é uma modalidade de atendimento em grupo, indicada para crianças de 4 a 12 anos com dificuldades de socialização e problemas de comportamento. Dentro da nossa rotina (quartas e sextas-feiras, pela manhã) há um espaço especialmente destinado aos pais e responsáveis, com frequência semanal, que é o Grupo de Cuidadores.

Nossa prática como psicoterapeutas de crianças e adolescentes mostrou-nos que, para o bom andamento do tratamento, é importante que os pais tenham um papel ativo nesse processo. Por este motivo elegemos, como uma de nossas prioridades na Ambientoterapia, o Grupo de Cuidadores. Nosso objetivo inicial era o de proporcionar aos pais e responsáveis um espaço de escuta no qual pudessem compartilhar seu sofrimento, podendo sentir-se entendidos e amparados, uma vez que as dificuldades de todos são parecidas.

Barros (1997) explica que “o grupo de auto-ajuda, self help, de auto-sugestão, procura auxiliar as pessoas a resolverem seus problemas. São grupos homogêneos no sentido de que seus participantes passam pelo mesmo sofrimento” (pg.107). Imaginávamos que neste espaço os cuidadores pudessem

encontrar reforço e apoio, descobrindo-se como capazes de desempenhar seus papéis e sentindo-se, ao mesmo tempo, competentes nessa tarefa de exercer a parentalidade – função que envolve, além dos cuidados básicos, aqueles pertinentes ao desenvolvimento psíquico da criança.

Observamos que, com o tempo, o grupo foi formando sua identidade. Aos poucos, seus membros já eram capazes de ouvir o sofrimento um do outro, esperando sua vez de falar e procurando ajudarem-se e reforçarem-se mutuamente. Hoje usam o grupo como um espaço de confiança e de continência das angústias, no qual se pode pensar naquilo que, às vezes, parece insuportável. Assim, pouco a pouco vão apropriando-se do exercício de serem pais e cuidadores. Semanalmente, a cada novo encontro, ao observarmos os movimentos dos participantes do grupo, pensamos no funcionamento das “três anças” citadas por Barros (1997): “a partir das semelhanças se gera esperança e aumento da confiança dos indivíduos de suas próprias capacidades” (pg.108).

Para finalizar, consideramos importante registrar que certamente este grupo ainda tem aspectos a serem desenvolvidos. Ponton (2004) acredita que a parentalidade necessita de um processo de preparação e aprendizagem. Não no sentido de uma pedagogia parental, mas de um trabalho que dê especial atenção à complexidade e às características paradoxais do fenômeno de ser mãe, pai, avó(ô), neto(a), filho(a). Ancorados neste pensamento da autora é que buscamos a cada encontro reforçar a capacidade de pensar dos cuidadores, entendendo que a entrada de um novo integrante inclusive pode ampliar as possibilidades de reflexão dos papéis de cada indivíduo e do grupo como um todo.

RENATA HESSELER KREUTZ E VANESSA GIARETTA (COORDENAÇÃO); ADRIANA FERREIRA, CRISTIANE

FREDERICH FEIL, PAULA MILAGRE, PHILIP BREW.

Referências Bibliográficas:BARROS, C. Grupos de Auto Ajuda. In: Zimerman, D & Osório, C. Como trabalhamos com grupos (p. 107 a 119). Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.SOLIS PONTON, L. A construção da parentalidade. In: Ser Pai, Ser Mãe Parentalidade: um desafio para o terceiro milênio (p.29 a 40). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2004.

POR QUE A PSICOPEDAGOGIA DEVE PREOCUPAR-SE COM A PSICOMOTRICIDADE?

Na formação de psicopedagogos tenho cada vez mais percebido uma carência no conhecimento mais aprofundado sobre o entendimento da psicomotricidade e sua influência na aprendizagem. Essa carência de informação engloba também os profissionais e os currículos escolares. Parece existir uma desvalorização conceitual da importância do desenvolvimento do corpo, do gesto e das sensações na criança e no adolescente.

Na Clínica tenho vivenciado um aumento das situações de crianças com dificuldades na grafia, no recorte e colagem, na aprendizagem da letra cursiva, na organização de suas produções no espaço da folha, bem como nas organizações do próprio corpo na sala de aula e dos materiais na mochila, etc., além de haver muitas crianças sem noções temporais estruturadas como dias da semana, meses e estações do ano...

Minha hipótese é que nossa vida mais fechada nos condomínios e prédios, mais sedentária com poucos e específicos horários para atividades corporais, bem como o alto nível de exigência de produção intelectual por parte das escolas tem desprivilegiado o desenvolvimento psicomotor.

O concorrido espaço para entrada nas universidades tem

conduzidos os currículos das escolas a darem cada vez mais ênfase às atividades cognitivas ligadas à escrita e às relações lógicas. Porém, cabe aqui perguntar:

Como podemos escrever um bom texto, com ideias e parágrafos bem encadeados se não temos organizado bem nosso corpo no espaço e no tempo? Como compreender bem um texto e fazer boas relações com conhecimentos anteriores se não estiver clara internamente nossa imagem corporal e o significado do nosso corpo para nós mesmos e para o mundo em que nos inserimos?

Vitor da Fonseca coloca:“Através da motricidade a criança não só organiza suas condutas,

mas também desenvolve as estruturas do seu sistema nervoso, estruturas, aliás, pelas quais, mais tarde, pode comunicar, pensar e ajuizar; isto é aprender” “É com meu corpo que me justifico como ser humano e é por meio dele que me projeto na aventura da minha existência”.

Acredito que devemos compreender, lembrar e respeitar que antes do lápis poder passear pela folha desenhando letras, compondo histórias, o braço, o cotovelo, o pulso e os dedos devem estar bem organizados, desenvolvidos, independizados. As Leis do desenvolvimento neuromotor próximo-distal e encéfalo-caudal devem ser lembradas de maneira mais generosa nos currículos das escolas infantis!!! O brincar na areia de castelinho, o empilhar inúmeras vezes objetos, o passar dentro de canos de cimentos, o deslizar por escorregadores, o equilibrar-se sobre muretas... tudo isso é anterior ao parágrafo no texto, à letra sobre a linha. A pintura de grandes espaços e painéis, as descobertas de

Page 17: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

17

Desenvolvimento, Técnica Psicoterápica e Psicopatologia da Infância e Adolescência, estudos nos quais se procura cotejar os aspectos teóricos com a prática clínica.

Temos ainda um seminário de triagem de pacientes novos, no qual é realizada entrevista em sala de espelhos, quando um dos estagiários participa com a psicóloga e os demais assistem, com posterior discussão sobre o que foi observado.

Além disso, o trabalho em equipe favorece a interação dos alunos entre si e com os demais profissionais, incrementando a qualidade das aprendizagens e a aquisição de novos conhecimentos e habilidades de interação e cooperação em grupo.

Pensando na integração do acadêmico/estagiário, um espaço foi criado para oportunizar a participação de estudantes, estagiários do CEAPIA ou não, que tenham interesse em participar de atividades da Instituição. Esse espaço se chama Núcleo de Estudantes e é possível saber mais sobre ele acessando o site do CEAPIA.

Enfim, aguardamos você, seja para conhecer e participar das atividades abertas à comunidade ou para fazer parte do nosso “time” de estagiários! O próximo processo seletivo será em outubro de 2014. Agende-se! Abraços.

texturas, formas, ângulos, vivências com bolas de diferentes pesos e tamanhos também são anteriores às relações geométricas, físicas e matemáticas.

O corpo necessariamente precisa viver antes de conceitualizar. É através das percepções sensitivas e das relações do indivíduo com o meio e do meio com o indivíduo que ele poderá depois conseguir, nos níveis simbólico e cerebral, efetuar relações e ideias.

Cabe a nós, psicopedagogos, entendermos a dificuldade de aprendizagem sob uma ótica também corporal, tendo a ideia de que esse corpo carrega uma história de vida, de relações e de experiências cheias de significados; percebermos que grande parte das origens das dificuldades de aprendizagem pode estar exatamente na psicomotricidade. Encerro citando novamente Vitor

da Fonseca, que resume assim a importância da psicomotricidade na aprendizagem:

• Perceber o mundo é aprender e compreender o mundo com o próprio corpo.

• Perceber o mundo é perceber o corpo; só se percebe o um percebendo o outro.

• O corpo é, assim, um meio e um instrumento para a compreensão do ”mundo em um corpo” e de “ um corpo no mundo”.

• O corpo é o universo da sensação e da percepção na sua totalidade dinâmica na medida em que é nele que emerge a experiência, quer da criança quer do homem, na hierarquia das suas vivências singulares e plurais.

ANELISE MARIATH RECHIA (COORDENAÇÃO)

KATIA LUDWIG (COORDENAÇÃO), ADRIANA LOUREIRO FERREIRA, LENORA BELLINI

ESTÁGIO DE PSICOLOGIA

COMUNIDADE

Os estágios supervisionados de Psicologia Clínica e Psicopatologia, oferecidos pelo CEAPIA no Setor de Ambientoterapia e no Ambulatório, vão muito além do simples cumprimento de exigências acadêmicas. São atividades potenciais para o desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional.

Para crianças e adolescentes, ensaiar através do brinquedo e do jogo é uma maneira fundamental de aprender com a experiência e desenvolver-se. Dentro dessa mesma linha, nossa proposta de estágio envolve necessariamente oportunidades nas quais o aluno vivencia o lugar de psicoterapeuta e experimenta-se...

Acompanhados por uma equipe multidisciplinar, com supervisão individual e/ou coletiva de acordo com a modalidade de estágio, os estudantes trabalham diretamente com os pacientes, em atendimento psicoterápico individual e/ou no tratamento de pacientes em ambientoterapia, modalidade de tratamento sobre a qual você poderá saber mais em outra sessão desse boletim.

Nosso estágio contempla a questão teórico-clínica, através de variados espaços e oportunidades de ensaio. Os seminários teóricos incluem Introdução à Pesquisa, Psicologia do

O Setor da Comunidade, no ano de 2014, trouxe para os “Encontros da Comunidade” convidados que puderam abordar e debater assuntos sugeridos pelos participantes. Tivemos a satisfação de contar com a presença de um grande e fiel público, que sempre retorna. Os temas escolhidos e os convidados foram cuidadosamente pensados para atender a demanda da plateia que participa dessa atividade.

No mês de março contamos com a presença de Cheila Maria Schröer, Diretora do Centro Integrado de Desenvolvimento (CID), com o assunto “O que está acontecendo com a inclusão?”. Em abril recebemos a colega Aline Restano do CEAPIA, junto a Daniel Spritzer e Felipe Picon, parceiros do Grupo de Estudos das Adições Tecnológicas (GEAT), que falaram sobre “Os jovens e as novas tecnologias”. Finalizando o semestre, o Setor de Adoção do CEAPIA abordou o assunto “Adoção: particularidades e complexidades”.

Pensando no tema da 35ª Jornada Anual do CEAPIA, que será “Uma imagem vale mais que mil palavras?”, apresentamos algumas ideias suscitadas pelo encontro do mês de abril.

Os convidados trouxeram valiosas informações e reflexões sobre o uso das tecnologias na atualidade. Há inúmeros recursos tecnológicos usados pelos jovens, que já fazem parte do seu mundo, que não podem ser negados e tampouco pode ser desprezada sua importância na vida desses. As diferentes redes

sociais, mais utilizadas pelo público feminino, podem ser fonte de prazer a cada olhar do outro e instrumento para as primeiras aproximações na busca por um par. Podem, então, ser motivo de alegria, mas, por outro lado, de grande sofrimento. Os jogos interativos, mais presentes no universo masculino, estimulam a sensação de competência, com recompensas imediatas, e incentivam a interação com o grupo de jogadores, a fim de obter bons resultados. Da mesma forma que as redes sociais, podem gerar prazer e, paralelamente, dependência e sofrimento.

Já podem ser identificados diferentes tipos de dependências relacionadas ao uso das tecnologias, com algumas características, tais como: modificação do humor; alteração dos limites de tolerância, de modo que o tempo de uso necessita ser aumentado cada vez mais; tempo de uso exacerbado e prejuízo em outras áreas da vida do jovem (escolar, social, familiar). Dentre as comorbidades à dependência destacou-se a Depressão, Ansiedade Social e TDAH.

Tendo em vista a forte presença das tecnologias na vida dos jovens, é importante que terapeutas incluam em suas anamneses questões que investiguem o uso da tecnologia pelo paciente e pelo entorno familiar. Pais e familiares que desejam incentivar o uso saudável devem oferecer estímulos diversificados às crianças e jovens, estabelecer limites e rotina e conhecer parte desse mundo para poder acompanhar e orientar.

MÁRCIA FRIDMAN (COORDENAÇÃO)

Page 18: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

18

tipo de encaminhamento e tratamento dado aos pacientes.O perfil de busca de atendimento por crianças em clínicas-

escola se mantém o mesmo há trinta anos, correspondendo a meninos, na faixa etária de 6 a 10 anos, encaminhados a tratamento por escolas devido a queixas de comportamento externalizante e problemas de aprendizagem3. Com o intuito de refletir sobre essa temática, realizou-se um levantamento do perfil atual da clientela do CEAPIA e seu motivo de busca de atendimento.

Após consulta e análise de 115 prontuários, classificaram-se as queixas a partir do CBCL³. Os resultados apontam para predominância de meninos (59,1%), na faixa etária entre 7 a 10 anos (40%), com queixas classificadas como internalizantes (40%). Essas compreendem queixas somáticas, de depressão, ansiedade e isolamento. Desse modo, o perfil atual parece corresponder ao que a literatura da área vem apontando ao longo dos anos.

Entretanto, observa-se o aumento de queixas classificadas como internalizantes, o que nos faz pensar que a inclusão de adolescentes nessa amostra, diferentemente das pesquisas encontradas na literatura, pode ser uma explicação para essa mudança, cujas causas deverão ser melhor investigadas.

SETORES

DIREÇÃO DE PESQUISA

CORPO CLÍNICO

Este ano o CEAPIA passou a contar com uma Direção de Pesquisa, refletindo o investimento institucional na produção científica sobre a clínica da infância e adolescência. Existem duas principais pesquisas em desenvolvimento no CEAPIA:

1- CARACTERIZAÇÃO DA CLIENTELA DO CEAPIA Com essa pesquisa será possível saber um pouco mais sobre a história do CEAPIA e contribuir para o conhecimento científico a respeito de sua clientela.2- ANÁLISE DOS PRONTUÁRIOS ATIVOS DO CEAPIA

Espera-se que essa pesquisa contribua para a modernização e o aperfeiçoamento dos registros dos atendimentos na Instituição.

A seguir alguns resultados produzidos neste ano de 2014.

As clínicas-escola representam instituições prestadoras de serviço psicológico acessível à grande parte da população brasileira1. O CEAPIA, há mais de 35 anos, oferece atendimento psicoterápico para crianças e adolescentes em modalidade de clínica-escola. A Instituição vem investindo em estudos de caracterização de sua clientela e motivo de busca de atendimento2. Estudos dessa natureza são importantes para o redimensionamento das modalidades de atendimento oferecidas em clínicas-escola, melhorando o

OUTROS TEMPOS, MESMAS QUEIXAS?

#SELFIES

1 BARBOSA, J. & SILVARES, E. (1994). Uma caracterização preliminar das clínicas-escola de Fortaleza. Est.Psico (Campinas), 11 (3), 50-56. 2 LUCAS, B e colaboradoras. (2013). Perfil da clientela que buscou atendimento no CEAPIA: estudos iniciais da comissão de pesquisa. Publicação CEAPIA (22),102-113. 3 MERG, M. (2008). Caracterização da clientela infantil em clínicas-escola. Diss. de Mestrado. Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul.

SÍLVIA HALLBERG E MILENE MERG (DIREÇÃO); CRISTIANE FRIEDRICH FEIL, CLARISSA MATTOS,

FERNANDA AMORIM, FERNANDA PORTO, LAURA ARNONI E VANESSA GIARETTA.

Neste ano o Corpo Clínico pensou em discutir um tema bastante atual junto com os leitores do Boletim CEAPIA.

Todos nós sabemos o quanto as redes sociais fazem parte do nosso dia a dia e não há como contestar isso. Porém, também é fato o quanto pode ser tênue a linha entre o uso saudável e o patológico da internet.

Os assuntos referentes à dependência ou ao uso excessivo das tecnologias têm sido bastante frequentes em nossa área. Acompanhar a vida online de nossos pacientes é um desafio constante em nossa prática como psicoterapeutas, uma vez que essas tecnologias estão muito presentes no setting terapêutico. As sessões, muitas vezes, são preenchidas com os “games” que mais interessam aos pacientes, o que postam nas redes sociais, os aplicativos que usam e de que forma se comunicam com seus amigos no mundo virtual.

Um fenômeno que vem ocorrendo de forma bastante intensa no universo da tecnologia são as “selfies”. Nessa modalidade de foto, uma ou mais pessoas tiram fotos de si mesmas e postam em suas redes sociais. É natural pensar que tal atividade possa ser comum entre os adolescentes, já que é justamente nessa fase da vida que as questões relativas à identidade possuem grande impacto, pois o jovem necessita reconhecer-se e adaptar-se a um novo corpo e suas constantes transformações.

Ainda que saibamos que a maioria dos jovens utiliza essa ferramenta sem que isso traga Zmaiores efeitos para sua vida, sabemos também que há aqueles que exageram em seu uso. A facilidade com que se registra um número grande de

ANDREA ZELMANOWICZ E CIBELE COUTO FLECK (COORDENAÇÃO); ALINE RESTANO, ANA LUIZA

BITTENCOURT BERNI, BRUNO FRIES, CRISTINA GERHARDT SOUZA, GABRIELA TOMAZELI, LISANDRA

FUCHS, LUCIANA GRILLO, NATÁLIA LEUSIN, PRISCILLA STERNBERG, VANESSA GIARETTA.

uma mesma foto, o uso de filtros para que a foto fique a mais “linda” possível, aliados a características da personalidade de determinada pessoa, pode gerar um comportamento compulsivo. A pessoa segue em uma constante busca pela imagem perfeita, o que obviamente é impossível de ser alcançado, gerando muito sofrimento e angústia.

O assunto das “selfies” sem dúvida é bastante amplo, mas gostaríamos de chamar atenção para um fenômeno específico relativo a esse tipo de imagem de si próprio que temos observado em nossa clínica. Alguns jovens vêm tirando fotos de cortes realizados em sua pele, ou seja, após terem um comportamento de automutilação eles tiram uma foto da própria pele e compartilham com seus amigos na internet. Evidentemente a compreensão desse comportamento irá variar de situação para situação, mas algumas hipóteses podem ser levantadas. É provável que alguns queiram impressionar ou chocar seus amigos; outros parecem querer visualizar de forma mais objetiva a consequência do seu ato; e há também os que lidam com a situação como se acontecesse com uma outra pessoa.

Contudo, na base de tudo isso, parece haver uma tentativa de aliviar a dor psíquica que não pode ser pensada naquele momento.

Não há dúvida, porém, que existem grandes chances de tal comportamento ser um desesperado pedido de ajuda, por isso mesmo merecendo a devida atenção tanto dos pais quanto dos profissionais da saúde.

Page 19: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

19

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃOEM PSICOTERAPIA

DA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA(Início em Dezembro de 2014)

OBJETIVODesenvolver a capacitação teórica e clínica para o exercício da especialidadede psicoterapeuta de orientação analítica da infância e adolescência, através

do estudo do desenvolvimento normal e patológico, desde as relações precocespais-bebê, passandopela infância até a adolescência, havendo seu complemento

pela abordagem clínica de todas essas faixas etárias.

CARGA HORÁRIA1.940 horas, em três anos letivos.

Inscrições abertas de Julho a Outubropara o processo seletivo da 35º turma.

DIVULGAÇÕES

Queridos colegas Ceapianos

Estamos organizando, para o próximo ano, um curso especialmente dirigido para ex-alunos do curso de especialização do CEAPIA, visando atualizar nossos conhecimentos teóricos e nossa prática clinica psicoterápica de crianças e adolescentes diante do mundo contemporâneo, das novas configurações familiares e das atuais psicopatologias. Aguardem!

SILVIA DIAN E ANDREA NIECKELEDiretoria Científica

AGENDA DA COMUNIDADE2º Semestre 2014

13/09 A aprendizagem conectada aos acontecimentos da Atualidade

08/11 Famílias: novas constituições e desafiosConvidada: Rosa Lúcia Severino - Especialista em Psicoterapia de Familia e Casal

Palestrante: Esther Pillar Grossi - Doutora em Psicologia das Aprendizagens

(Atividade gratuita incluída na Jornada Anual do CEAPIA)

Local: CIEE - Rua Dom Pedro II, 861 - Horário: das 17h às 19h

Público-alvo: pais, estudantes, educadores e profissionais da saúde

ATIVIDADE GRATUITA - CERTIFICADO DE PARTICIPAÇÃOInscrições antecipadas pelo fone 3343.6490 ou e-mail [email protected]

Integrantes do setor Comunidade: Adriana Ferreira e Lenora Bellini

www.ceapia.com.br

Diretora de Atendimento

Viviane Amaro da Silveira

Codiretora de Atendimento

Roberta P. Loureiro da Silva Breda

Coordenadora do Setor Comunidade

Katia M. F. Ludwig

Apresentação: Victor Guerra (APU) - Direção de audiovisual: Maximiliano GuerraCoordenação: Katia Ferraro Ludwig (CEAPIA)

24/10Apresentação do DocumentárioIndicadores de intersubjetividade 0-12 meses:do encontro de olhares ao prazer de brincar juntos

26setembrosexta-feira

O ENCONTRODA ARTE COM

A PSICOTERAPIA

O encontro acontecerá às 18h30min no CEAPIA.INSCRIÇÕES ANTECIPADAS!

Aberto e gratuito para toda a comunidade.

“Cuerdas: Laços de Amizade”

Organização:Comissão Científica:Aline Restano, Andrea Nickele, Bruna Mello, Christine Silveira, Gisele Cervo, Marília Schmidt, Paula Milagre, Philip Brew, Renata Kreutz, Silvia Dian e Vanessa Giaretta

Maria Fernanda S. HennemannPsicóloga Clínica e Escolar

Ineida AliattiProfessora e Supervisora do CEAPIA

PARTICIPANTES

Coordenação: Silvia DianDiretora Científica do Ceapia, MD em Psicologia Clínica

ATUALIZAÇÕES

18/09 COMUNICAÇÃOALTERNATIVA

MINISTRANTE: RENATA BONOTTO

02/10 AUTISMO EINCLUSÃO

MINISTRANTE: NADJA FAVEROPedagoga, Orientadora Educacional. Especialista emPsicopedagogia Clínica, Formação em Transtornos do desenvolvimento e neurociências cognitivas, em TERAPIA DIR/FLOORTIME (ICDL-USA). Formação em processos inclusivos na Deficiência Intelectual e TEA (AAIDD-USA), Formação em Análise Aplicada do Comportamento (IFT-USA).

04/09 DESENVOLVIMENTODA LINGUAGEM E AUTISMO

MINISTRANTE: RENATA BONOTTOLicenciatura Letras (UFRGS), Mestre em Linguística Aplicada(UFRGS), Especialista em Educação a Distância (UniversidadeCatólica de Brasília) e Doutoranda em Informática na Educação (PGIE/UFRGS). 30/10 ASPECTOS

EMOCIONAISMINISTRANTES: CÁTIA OLIVIER MELLOPsicóloga CEAPIA. Mestre em Psicologia do Desenvolvimento (UFRGS) e Psicanalista pela SPPA.

EQUIPE DA AMBIENTOTERAPIA DO CEAPIAPsicólogos: Cristiane Feil, Paula Milagre, Philip Brew, Renata Kreutz, Vanessa GiarettaPsicopedagoga : Adriana Ferreira

16/10MINISTRANTE: MARIA SONIA GOERGENMédica neuropediatra representante do Play Project no Brasil.

ASPECTOSNEUROLÓGICOS

13/11MINISTRANTES: CÁTIA OLIVIER MELLO E EQUIPE DA AMBIENTOTERAPIA DO CEAPIA

TRATAMENTO E INTERVENÇÕES POSSÍVEIS

VALOR POR ENCONTROESTUDANTE: R$ 30,00SÓCIO CEAPIA E PAIS: R$ 40,00PROFISSIONAL NÃO SÓCIO: R$ 50,00

CURSO COMPLETOESTUDANTE: R$ 200,00SÓCIO CEAPIA E PAIS: R$ 300,00PROFISSIONAL NÃO SÓCIO: R$ 400,00

HORÁRIO DAS 20h ÀS 22h - INSCRIÇÕES NO CEAPIA

Visite nosso blog ceapia.blogspot.com.br

Curta a nossa página no facebook!www.facebook.com/curtaceapia

Winnicott

DATA: Terças-Feiras INÍCIO: 11 de MarçoHORÁRIO: 12h40min às 13h50min

Coordenação: Psic. Caroline Milman

PÚBLICO ALVO: Aberto para profissionais, estudantes, sócios e não-sócios

Coordenadora: Psic. Anelise Mariath RechiaDIAS: Quintas-feirasHORÁRIO: das 8h15min às 9h30min

Grupo de Estudos“Introdução ao Pensamento de Melanie Klein”

Início do Grupo: 05 de Junho de 2014Público Alvo: Estudantes de PsicologiaInvestimento: R$63,00 (estudants de psico)

Isento para estagiários e ex-estagiários do CEAPIAInscrições na secretaria do CEAPIA ou pelo fone: 3342.7974

Page 20: ANOXXI NÚMERO24 AGOSTO2014 - ceapia.com.br · compreensiva do filme “Frozen - uma aventura congelante”, que muito empolgou e emocionou pequenos e adultos. Já no espaço Marca

20

16h30 - 17hCOFFEE BREAK

19h - 19h30COQUETEL

14h30 - 16h30TEMAS LIVRES

Organização:

Elisa Forster (CEAPIA)Luciana Grillo (CEAPIA)Vanessa Giaretta (CEAPIA)

19h30 - 20hABERTURA DA JORNADA

Cátia Olivier MelloPresidente do CEAPIA

Silvia DianDiretora Científica do CEAPIA

Apresentação: Victor Guerra (APU)Direção de audiovisual: Maximiliano GuerraCoordenação: Katia Ferraro Ludwig (CEAPIA)

17h - 19hENCONTRO COM A COMUNIDADE: APRESENTAÇÃO DO DOCUMENTÁRIO

Indicadores de intersubjetividade 0-12 meses: do encontro de olhares ao prazer de brincar juntos (atividade aberta à comunidade)

Convidada: Denise Hausen Psicóloga, Psicanalista e Doutora em Psicologia, Membro pleno do CEPdePA e fundadora do Espaço AnalíticoCoordenação: Fernando Linei Kunzler (SBPdePA e CEAPIA)

20h - 21h30CONFERÊNCIA: O PRINCÍPIO DA IMAGEM 100 ANOS APÓS“SOBRE O NARCISISMO: UMA INTRODUÇÃO”

PROGRAMAÇÃO 24 DE OUTUBRO

10h30 - 11hCOFFEE BREAK

16h - 16h30COFFEE BREAK

20h30JANTAR PORADESÃO

12h30 - 14h30INTERVALO PARAO ALMOÇO

9h - 10h30MESA REDONDA: O BEBÊ IMAGINÁRIO EO BEBÊ REAL DIANTE DA IMAGEM PRÉ-NATAL

Convidados:

Coordenação: Inta Muller (CEAPIA)

Katia Araujo (SPBdePA)Maria Mercedes Fonseca (Médica Radiologista e Ultrassonografista - Clinica Sidi)Vânia Dalcin (SPPA)

Participantes:

Aline Restano (CEAPIA e GEAT)Caroline Milman (SBPdePA e CEAPIA)Emílio Salle (SPPA)

Coordenação: Andrea Nieckele (CEAPIA)

11h - 12h30PAINEL: A INFÂNCIA E AS IMAGENS IDENTIFICATÓRIAS - A QUE AS CRIANÇAS ASSISTEM?

14h30 - 16hCONVERSAS REFLEXIVAS: A ADOLESCÊNCIA, O PSICOTERAPEUTA E AS REDES SOCIAIS

Participantes:

Eliane Nogueira (SPBdePA)Lucia Thaler (SPPA e ITIPOA)Patrícia Cohn (CEAPIA e CEPdePA)

Coordenação: Renata Kreutz (CEAPIA)

16h30 - 18hSESSÃO PIPOCA: O CULTO À IMAGEM – FILME: O RETRATO DE DORIAN GRAY

18hENCERRAMENTO DA JORNADA E PREMIAÇÃO DO TEMA LIVRE

PROGRAMAÇÃO 25 DE OUTUBRO

Convidados:

Celso Gutfreind (SPBdePA)Eneida Iankilevich (SPPA)Mayra Lorenzoni (SPBdePA e CEAPIA)

Coordenação: Silvia Dian (CEAPIA)

Cátia Olivier Mello Presidente do CEAPIA

Andrea Nieckele Codiretora Científica do CEAPIA

Inscrições: www.ceapia.com.brRua. Cel. Bordini, 434 / POA/RS

Fones: 51 3343.6490 - 51 3342.7974