anotações para pensar o sujeito nos estudos culturais
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8/2/2019 Anotaes para pensar o sujeito nos estudos culturais
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Anotaes para pensar o sujeito nos estudos culturais
Ana Carolina Escosteguy
RESUMO: O trabalho pretende recuperar a reflexo sobre o sujeito nos estudos culturais. Nessesentido, identifica que a preocupao em torno do sujeito vai aparecer, sobretudo, nos estudos derecepo e na reflexo das identidades culturais. Depois de rastrear essas duas rotas dos estudosculturais, concluo que a concepo de sujeito em si mesma no foco de ateno dos estudos culturais,sobretudo, se considerado aqueles que tomam como objeto central a cultura miditica e seu entorno.
Dada a amplitude do tema, restringirei minha reconstituio do debate das identidades aoitinerrio proposto por Stuart Hall, pois sua reflexo de incontestvel importncia na constituio eatual desenvolvimento dos estudos culturais. E em relao aos estudos de recepo, minhasobservaes so construdas a partir da leitura de pesquisas de recepo e de coletneas que registramo estado-da-arte dessa perspectiva.
No amplo e diversificado espao dos estudos culturais800
dos anos 90, influenciado pormatrizes tericas distintas como, principalmente, o ps-estruturalismo, o feminismo, a psicanlise e o
ps-marxismo, observa-se um interesse crescente no pensar em como se constituem as identidadesculturais na condio histrica atual. Tal tema est diretamente relacionado com a discusso sobre osujeito e sua insero no mundo, sobre os indivduos e suas identidades pessoais e coletivas. Em outraspalavras, diz respeito a como nos constitumos, percebemo-nos, interpretamo-nos e nos apresentamospara ns mesmos e para os outros.
Mas antes disso, identifica-se uma outra guinada dentro dos estudos culturais. Especialmentenaqueles preocupados com a mdia, houve um deslocamento do texto em direo audincia dos meiosmassivos e ao seu contexto. A partir dos anos 80 se inicia a constituio de uma vertente que defendeque o sentido no uma propriedade do prprio texto miditico, mas constitudo na interao entreleitores e textos. Tal perspectiva vai, em um primeiro momento, checar as pressuposies respeitodo receptor, construdas ainda nos anos 70, no plano emprico, perseguindo, ento, a captura das
posies assumidas pelos prprios receptores801
. Logo, tambm, a vertente dos estudos de audinciasfoi construindo uma noo particular de sujeito no campo dos estudos culturais.
O propsito, aqui, rastrear essas duas rotas dos estudos culturais com a inteno dereconstituir a noo de sujeito para os estudos culturais. Contudo, no desconheo que desde suasorigens esse campo mostra-se aberto a entendimentos diversos, no apresentando uma posio tericaunificada. Porm, tambm no est composto por um conjunto to dspar que no revele uma certaunidade. Por essa razo, essas duas rotas devem pelo menos se entrecruzar em algum momento.
Dada a amplitude da temtica, restringirei minha reconstituio do debate das identidades aoitinerrio proposto por Stuart Hall. Isto se justifica na medida em que devido ausncia de umconjunto preciso de princpios terico-metodolgicos que defina e delimite o campo dos estudosculturais, ele se funda e organiza em torno de formas de autoridade amparadas em trajetriasintelectuais individuais. A reflexo de Hall de incontestvel importncia na constituio e atualdesenvolvimento dos estudos culturais.Em relao aos estudos das audincias, minhas observaes so construdas a partir da leitura dealgumas das pesquisas de audincia ou recepo, inseridas - bvio - no marco dos estudos culturais,e de coletneas que registram o estado-da-arte dessa rea. No entanto, por razes de espao, nopoderei tecer comentrios detalhados a partir de cada investigao.
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Sobre o sujeito-receptor
A temtica da recepo e da densidade dos consumos miditicos tm seu marco na
divulgao do texto "Encoding and decoding in the television discourse", de Stuart Hall,
publicado pela primeira vez em 1973. A partir de um determinado entendimento do processo
de comunicao, Hall esboa um modelo de codificao e decodificao, desenvolvendo no
mnimo trs modalidades de estratgias de leitura/recepo: dominante, oposicional e
negociada.
Na verdade, o marco que Hall (1980) introduz, significa o abandono de um modelo
behaviorista em direo a um marco interpretativo onde todos os "efeitos" dependem de uma
interpretao das mensagens miditicas pelas pessoas, sendo que as possibilidades de
recepo decorrem do pressuposto de que a linguagem no transparente. Assim, as
mensagens miditicas no tm uma nica e mesma decodificao garantida de uma vez e para
sempre.
Entretanto, nesse texto no h referncias fortes sobre o sujeito-receptor, entendidocomo algum concreto e situado em um contexto particular. O ponto-chave em questo trata
dos 'momentos' do processo de produo na televiso, isto , um momento determinado - a
codificao, articulado a outro momento, o da decodificao. "Produo e recepo da
mensagem televisiva no so, contudo, idnticos, mas so relacionados: eles so momentos
diferenciados dentro da totalidade formada pelas relaes sociais do processo comunicativo
como um todo" (Hall, 1980:130).
principalmente a partir The Nationwide Audience (1980), de David Morley, que oreceptor, de carne e osso, entra em cena. Nesse estudo, Morley se detem em um momento
determinado do processo comunicativo: o momento da decodificao. Selecionando grupos
distintos e apresentando-lhes o programa televisivo Nationwide, Morley pode confirmar a
existncia de posies distintas diante da mesma mensagem, corroborando a formulao de
Hall.
Entre o modelo de Hall e o desenvolvimento mais acentuado dos, hoje, conhecidos como
estudos etnogrficos de audincia, foram realizadas investigaes que ainda tentaram
relacionar um determinado texto e sua recepo em um determinado grupo social.
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Metodologicamente, algumas dessas pesquisas j ensaivam uma aproximao etnografia.
Identifico desse modo as pesquisas de Janice Radway (1984) emReading the Romance,
Ien Ang (1985) em Watching Dallas; de Dorothy Hobson (1982) em Crossroads: The drama
of a soap opera; de Jacqueline Bobo (1988) em "The Color Purple: Black women as cultural
readers", entre outras. Logo em seguida uma srie de estudos qualitativos de recepo e
audincia indicaram a formao de uma nova matriz: a etnografia de audincia - entre outros,
Gray (1987, 1992); Gillespie (1995).
Em termos gerais, observa-se a reivindicao desses estudos em enfocar a localizao
social, cultural e sub-cultural do receptor, assim a audincia no mais vista como formada
por indivduos isolados. Os indivduos esto definidos por diferenas, baseadas na classe, no
gnero, na raa, na etnia, na idade e em relaes sub-culturais. E, sobretudo, os membros da
audincia so vistos como ativos, pois entendeu-se que os textos miditios abriam espao para
a resistncia e reao da audincia.
O eixo dessas pesquisas se concentra na atividade da audincia, na idia de que ela
produz/constri sentidos a partir das mensagens miditicas. E que a maioria desses
significados so leituras resistentes, traduzidas em discursos coerentes que expressam os
interesses, os desejos e os prazeres da audincia.
Raros so os trabalhos que apontam para o fato de que as respostas reais dessas
audincias no se apresentam de forma to bvia e clara como um contra-discurso coerente.
Mesmo situado dentro dos limites dos estudos culturais e sua preocupao com a audincia, o
estudo de Joke Hermes (1995) pode ser utilizado para exemplificar essa exceo. Ao realizar
oitenta entrevistas em profundidade com leitores de revistas femininas, Hermes (1995)
confessou seu desalento diante das afirmaes coletadas de que esses textos no tinham
nenhuma ou quase nenhuma importncia no cotidiano de seus leitores.Comentando a respeito de seu trabalho de campo, Hermes (1995:12) diz: as entrevistas
foram um sucesso em termos de interao social. Embora entrevistar seja um trabalho
cansativo, eu apreciei faz-lo. (...) Os informantes foram muito falantes, mas eles no tinham
muito a dizer sobre as revistas femininas. (...) Falando em temos gerais, a prtica de leitura
aparentemente no levava a uma reflexo nem a um envolvimento que estivesse pronto e fosse
possvel ser comunicado, embora muitos deles tivessem um conhecimento genrico sobre
essas revistas. Em sua pesquisa, Joke Hermes (1995) acaba questionando a viso geral dosestudos de audincia que associa o uso cotidiano dos meios com uma leitura atenta e
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significativa.
Porm, a grande maioria das investigaes centradas na audincia salienta que os
receptores constroem seus prprios sentidos, sabem o que esto fazendo, preenchem suas
necessidades e usam a mdia para seus propsitos. Assim se poderia sintetizar que o sujeito-
receptor visto como um indivduo, embora o social seja reconhecido dentro do individual
atravs das mltiplas posies que ele assume802
.
O sujeito-receptor, tambm, encarado como um indivduo racional, por isso sua
resistncia est localizada em posies interpretativas e conscientes, reveladas pelos seus
prprios relatos que, por sua vez, compem o eixo de sustentao de tais pesquisas.
Enfim, a audincia para os estudos culturais constri ativamente sentidos, resiste
dominao e faz isso conscientemente, configurando um sujeito que transparente para ele
prprio. Mas como essa noo de sujeito se integra com posturas dentro dos estudos culturais,
como a de Hall, que enfatizam a multiplicidade de posies do sujeito e seu profundo
descentramento na condio contempornea?
Sobre as identidades
O debate sobre as identidades oscila basicamente entre duas grandes matrizes: o
essencialismo e a construo social. A primeira posio caracterizada por compreender a
existncia de grupos e/ou comunidades atravs de uma categoria inerente e inata aos mesmos,
e a segunda posio, por atribuir a sua presena como um produto social.
De forma genrica, pode-se dizer que os estudos culturais assumem uma posio que
concorda que as identidades so culturalmente construdas e historicamente condicionadas.Dentro desse mbito, diversas idias-chave marcam a contribuio de Stuart Hall sobre a
identidade no mundo contemporneo.
Para Hall, a identidade uma categoria poltica e culturalmente construda. Como figura
discursiva, para compreend-la precisamos conceitu-la. Adquirindo sentido por meio da
linguagem e dos sistemas simblicos, a identidade relacional, pois depende de outra
identidade para existir. Mas, a identidade , tambm, um processo social, pois ela articula ou
"sutura", como prefere Hall (1999:12), o sujeito estrutura.
A experincia da dispora que se desconecta do sentido estrito da disperso dos judeus
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ou de outros povos por motivos polticos ou religiosos, em virtude da perseguio de grupos
intolerantes, para Hall a sntese de como as identidades culturais se configuram hoje.
Essa idia enfatiza tanto um deslocamento espacial quanto temporal. Este ltimo sentido
relaciona as identidades permanncia de uma ligao com o passado - mesmo que possa
estar associado imagem de um passado em runas. Por essa razo, Hall vai discutir a
formao das novas formas de identidades ligadas ao recontar o passado atravs da memria.
Assim como a afirmao da diferena e da etnicidade (caractersticas culturais como lngua,
religio, costumes, tradies, sentimento de "lugar") so outros de seus elementos
constituintes.
As identidades na modernidade tardia so o produto de vrias histrias e culturas
interconectadas (Hall, 1999:89), pertencem a um e, ao mesmo tempo, a vrios 'lugares', por
isso, a hibridao imprime sua marca e a fluidez da identidade torna-se ainda mais complexa
pelo entrelaamento de outras categorias socialmente construdas (sexualidade, incapacidade
fsica, gerao, etc), alm das de raa, gnero, classe e nao.
Essas ltimas categorias somadas narrativa do Ocidente, segundo Hall, so "as grandes
identidades coletivas sociais" que no desapareceram, mas no tm mais a fora de antes.
Como pensar, ento, a problemtica da identidade na esteira do esmaecimento dessas "grandes
identidades", sendo que elas j no tm mais o poder explicativo e compreensivo que tiveram?
Esse questionamento ainda mais crucial em relao classe, pois esta era o principal
referente de posio social. E, hoje, a posio de classe desvalorizada em favor de uma
noo de mltiplas posies onde conta, sobretudo, o gnero e a etnicidade.
Se um sentido de identidade se perdeu, precisamos de outro. Isso faz com que tornemo-
nos cientes de que identidades no so nunca completas, finalizadas. Ao contrrio, esto em
permanente processo de constituio. So narrativas, discursos contados a partir do ponto devista do Outro."[] identidade sempre em parte uma narrativa, sempre em parte um tipo de
representao. Est sempre dentro da representao803
. Identidade no algo que formado
fora e, no final, ns narramos histrias sobre ela. o que est narrado na nossa prpria
pessoa (Hall, 1991:49, grifo meu).
Hall concebe a identidade articulada ao passado e presente, em permanente construo,
atravessada tanto pelos discursos pblicos quanto pelas prticas e experincias dos sujeitos,
entranhados numa determinada conjuntura histrica. A identidade, ento, " um assunto de
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'chegar a ser' como tambm de 'ser'. Pertence ao futuro tanto quanto ao passado. No algo
que j existe, transcendendo lugar, tempo, histria e cultura. As identidades culturais vm de
algum lugar, tm histrias. Mas, como tudo o que histrico, elas sofrem uma transformao
constante. Longe de estarem eternamente fixas num passado essencializado, esto sujeitas ao
contnuo 'jogo' da histria, da cultura e do poder. Longe de estarem fundadas numa mera
'reproduo' do passado que est esperando ser encontrado e que, quando encontrado,
assegurar nosso sentido de ns mesmos at a eternidade, as identidades so os nomes que
damos s diferentes maneiras como estamos situados pelas narrativas do passado e como ns
mesmos nos situamos dentro delas" (Hall, 1990: 225).
Dentro desse contexto, como j foi dito, Hall presta acurada ateno s identidades
"diaspricas", isto , o que a experincia da "migrao" afeta a identidade, pois ningum se
translada de um lugar a outro ou herda e se apropria de culturas diversas sem ser afetado por
essa experncia. E, aqui, as caractersticas da hibridez e do movimento integram-se s
caractersticas, anteriormente descritas, na constituio das identidades.
Mas resta pelo menos um aspecto que necessita ser sinalizado. A problemtica da
identidade, tambm, remete ao nvel psquico, a dimenses e desejos inconscientes, a aes
racionais e irracionais, o que implica a existncia de contradies. Stuart Hall tem presente
que a - no vnculo entre a ordem social e a psquica - reside um ncleo perturbador de
questes, mas admite que isso talvez no possa ser pesquisado (1994, 1996a).
Precrias anotaes finais
A problematizao das identidades culturais que corresponde a um determinado
entendimento de sujeito, em Hall ocorre no plano discursivo, mas ele no subscreve uma
posio terica que diz que "ns no somos nada seno reflexos do discurso de um outro"
(1994). J os estudos de audincia capturam o sujeito-receptor no plano emprico, do corpo e
conscincia ao sujeito mediante a captura de suas experincias no cotidiano, revelando uma
concepo racionalista de sujeito.
Entretanto, se as investigaes das audincias se pretendem originadas no modelo de
codificao/decodificao de Hall, importante contrapor alguns pressupostos de tal modelo,
recuperando inclusive comentrios do prprio autor, e como esses estudos vem trabalhando
algumas noes que deveriam estar ajustadas tanto com aquela proposta como com suasreflexes mais atuais.
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Em 1994, em uma entrevista onde avalia a formulao das idias expostas no artigo
citado (1980), Hall diz: "Meu modelo totalmente cognitivo. No verdadeiro, penso dizer
que no centro dele est o sujeito cartesiano: j se trata do sujeito descentrado, mas de um tipo
de sujeito descentrado cognitivo; ainda se trata de um sujeito atuando com muitos cdigos
interpretativos; mais ainda no um sujeito com um inconsciente."
Acredito que os estudos das audincias tentam trabalhar com um sujeito descentrado,
pois ele configurado por diversas posies, sobretudo, pelo gnero e por sua gerao e, mais
recentemente, pela raa e etnicidade. Assim como, em outro lugar Hall diz que a posio de
classe j no tem mais tanta importncia na constituio das identidades, tambm essas
investigaes no tem essa categoria como central na constituio dos sujeitos-receptores.
Porm, esse sujeito completamente um indivduo racional e consciente. Parece agir,
ento, como um sujeito unificado e no fraturado em distintas posies o que poderia lev-lo a
assumir posicionamentos contraditrios. E uma outra questo que no existe ainda nenhuma
- ou quase nenhuma - preocupao, nos estudos das audincias, no aspecto inconsciente.
Entretanto, hoje, Hall est preocupado em compreender o problema da identidade tanto
atravs do repertrio discursivo quanto do psicanaltico para dar conta tanto da ordem social
quanto da realidade psquica (imaginria). No que j tenha resolvido essa questo, mas pelo
menos sinaliza a existncia de tal problemtica. O mesmo no pode ser dito para os estudos
das audincias.
Retomo os comentrios de Hall (1994) para indicar uma possvel razo para os estudos
de audincia eximirem-se de contornar tal questo: "Quando ele se torna um sujeito com uminconsciente no qual a textualidade tambm envolve a resposta prazeirosa ou o consumo
prazeiroso do texto, muito difcil saber, empiricamente, como voc vai descobri-lo de
alguma maneira identificvel comportamentalmente, observacionalmente. Um dos problemas
desse ltimo desenvolvimento da teoria crtica que ela amplia nosso entendimento do quanto
realmente complexo o significado e de quantos lugares diferentes de determinao esto
envolvidos [nos processos culturais]. Ns sabemos muito mais sobre eles, mas de fato estamos
menos seguros em conseguir lhes dar um momento de pesquisa empiricamente demonstrvel,e isso uma das razes por que um dos problemas hoje que todo o mundo crtico literrio,
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o que no deixa de ser supreendente aps trinta anos."
Um ltimo ponto merece ser destacado. Hall identifica que a importncia de discutir sobre as
identidades reside, pelo menos em parte, na centralidade que essa temtica assume para a
questo da agncia e da poltica. Porm, ressalta que ao falar em agncia no quer "expressar
nenhum desejo de retornar a uma noo no-mediada e transparente de sujeito como o autor
centrado da prtica social"(Hall, 2000:105), nem tampouco pretende adotar uma abordagem
to soberana de sujeito que o coloque tanto como origem quanto como fim ltimo.
Do meu ponto de vista, mais uma vez os estudos de recepo se distanciam da posio
de Hall, pois atribuem uma agncia relativamente autnoma aos membros individuais da
audincia o que pode estar exlcuindo as estratgias de poder da mdia que esto a todo instante
tentando construir nosso papel como consumidores soberanos.
Os estudos de recepo reivindicam, legitimamente, que os textos miditicos adquirem
sentido no ato de sua leitura. Porm, o que me parece problemtico e perigoso que essas
investigaes revelam quase permanentemente um sujeito ativo e consciente de seus atos, ou
seja, uma audincia que sabe o que faz, logo escolhe o que v. Se for assim, os estudos
culturais - ou melhor, uma verso deles - correm o risco de dar sustentao as teses, por
exemplo, da televiso brasileira de que a audincia que exige "a baixaria" na programao e
que qualquer tentativa da sociedade em delimitar alguns princpios ticos e morais, pura
censura.
Resta enfatizar que todas as anotaes, aqui, apresentadas caracterizam-se por sua
provisoriedade e como j foi dito precariedade, na medida em que este um debate que est
em pleno andamento na atualidade.
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NOTAS
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800Esta perspectiva , aqui, identificada com o trabalho desenvolvido a partir do Centre for
Contemporary Cultural Studies, fundado em 1964, em Birmingham, na Inglaterra.
801Produzido, ainda, dentro do CCCS, o trabalho de Dorothy Hobson (1978)A Study of
Working Class Women at Home: Femininity, Domesticity and Maternity, MA Thesis,University of Birmingham, publicado apenas parcialmente em Hall et al. (1980), umexemplo desse deslocamento do texto para a audincia.
802Talvez este aspecto no esteja suficientemente teorizado.
803 Para Hall, eventos, relaes e estruturas tm condies de existncia e efeitos reais forada esfera do discursivo, mas somente dentro do discursivo que eles podem adquirir sentido.Por essa razo, as representaes tm um papel constitutivo, formativo e no meramentereflexivo e expressivo, na constituio da vida poltica e social.