anotações dicionário de filosofia de cambridge

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ANOTAÇÕES: DICIONÁRIO DE FILOSOFIA DE CAMBRIDGE AUDI, Robert et al. Dicionário de filosofia de Cambridge. 2. ed. São Paulo: Paulus, 2006. Acosmismo: Termo formulado por Ernst Platner em analogia com “ateísmo” que significa negação da realidade última do mundo. No séc. XIX (tempo de Ludwig Feuerbach) o acosmismo era característica fundamental do cristianismo (p. 9). Ágape e Agapismo: Amor desinteressado por todas as pessoas. Teoria ética segundo a qual este tipo de amor é a virtude mais importante, sendo as ações boas à medida que o expressam (p. 11). Agathon: Palavra grega que significa “um bem” ou “o bem”. A partir de Sócrates, agathon começou a ser o objeto central do interesse filosófico, tendo sido frequentemente considerado como sendo a finalidade de toda ação racional (p. 11). Agnosticismo: Do grego a-, “não”, e gnastos “conhecido”. Termo criado por Thomas Henry Huxley em 1869 para designar a atitude filosófica e religiosa daqueles que afirmam que as ideias metafísicas não podem ser demonstradas nem refutadas. Eis o que escreveu Huxley: “Quanto a mim, não afirmo nem nego a imortalidade do homem. Não tenho nenhum motivo para crer nisto, mas por outro lado não tenho meios de refutá-lo. Não tenho a priori nenhuma objeção contra esta doutrina”. O agnosticismo é uma forma de ceticismo aplicado a metafísica, especialmente ao teísmo. Esta posição é às vezes atribuída a Kant, que sustentava que não temos conhecimento de Deus ou da imortalidade, devendo contentar-nos com a fé. Não se deve confundir agnosticismo com ateísmo, a crença segundo a qual não existe nenhum deus (p. 11). Aitia: Palavra grega que significa “causa”. Vem se referir a um sentido de causa maior que abrange sentido muito mais amplo que o do português “causa”. Aristóteles escreve sobre a aitia. Embora alguns traduzam-na por “princípio explicativo” ou “razão”, estas expressões sugerem inadequadamente uma existência meramente mental. Aitia é uma coisa ou o aspecto de uma coisa (p. 13). Akrasia (incontinência) e Enkrateia (continência): Palavras gregas que significam fraqueza ou inclinação e seu oposto. Segundo Aristóteles, tanto a akrasia como a enkrateia “estão relacionadas com aquilo que existe em excesso, se comparado com o estado característico da maioria das pessoas; de fato, o continente suporta mais por seu caráter resoluto, e o incontinente menos, do que aquilo que pode suportar a maioria das pessoas”. Estas decisões podem ser vistas como juízos a respeito de se seria melhor praticar uma ação de determinada maneira, ou se seria melhor fazer determinada coisa em vez de outra (p. 13).

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Alguns verbetes retirados do Dicionário de FIlosofia de Cambridge

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ANOTAÇÕES: DICIONÁRIO DE FILOSOFIA DE CAMBRIDGE AUDI, Robert et al. Dicionário de filosofia de Cambridge . 2. ed. São Paulo: Paulus, 2006. Acosmismo : Termo formulado por Ernst Platner em analogia com “ateísmo” que significa negação da realidade última do mundo. No séc. XIX (tempo de Ludwig Feuerbach) o acosmismo era característica fundamental do cristianismo (p. 9). Ágape e Agapismo : Amor desinteressado por todas as pessoas. Teoria ética segundo a qual este tipo de amor é a virtude mais importante, sendo as ações boas à medida que o expressam (p. 11). Agathon : Palavra grega que significa “um bem” ou “o bem”. A partir de Sócrates, agathon começou a ser o objeto central do interesse filosófico, tendo sido frequentemente considerado como sendo a finalidade de toda ação racional (p. 11). Agnosticismo : Do grego a-, “não”, e gnastos “conhecido”. Termo criado por Thomas Henry Huxley em 1869 para designar a atitude filosófica e religiosa daqueles que afirmam que as ideias metafísicas não podem ser demonstradas nem refutadas. Eis o que escreveu Huxley: “Quanto a mim, não afirmo nem nego a imortalidade do homem. Não tenho nenhum motivo para crer nisto, mas por outro lado não tenho meios de refutá-lo. Não tenho a priori nenhuma objeção contra esta doutrina”. O agnosticismo é uma forma de ceticismo aplicado a metafísica, especialmente ao teísmo. Esta posição é às vezes atribuída a Kant, que sustentava que não temos conhecimento de Deus ou da imortalidade, devendo contentar-nos com a fé. Não se deve confundir agnosticismo com ateísmo, a crença segundo a qual não existe nenhum deus (p. 11). Aitia: Palavra grega que significa “causa”. Vem se referir a um sentido de causa maior que abrange sentido muito mais amplo que o do português “causa”. Aristóteles escreve sobre a aitia. Embora alguns traduzam-na por “princípio explicativo” ou “razão”, estas expressões sugerem inadequadamente uma existência meramente mental. Aitia é uma coisa ou o aspecto de uma coisa (p. 13). Akrasia (incontinência) e Enkrateia (continência): Palavras gregas que significam fraqueza ou inclinação e seu oposto. Segundo Aristóteles, tanto a akrasia como a enkrateia “estão relacionadas com aquilo que existe em excesso, se comparado com o estado característico da maioria das pessoas; de fato, o continente suporta mais por seu caráter resoluto, e o incontinente menos, do que aquilo que pode suportar a maioria das pessoas”. Estas decisões podem ser vistas como juízos a respeito de se seria melhor praticar uma ação de determinada maneira, ou se seria melhor fazer determinada coisa em vez de outra (p. 13).

Alquimia: Uma prática quase científica e uma arte mística, principalmente antiga e medieval, que tinha dois objetivos gerais: transformar metais não preciosos em ouro e desenvolver o elixir da longa vida, o meio de se alcançar a imortalidade. A alquimia clássica ocidental provavelmente originou-se no Egito nos três primeiros séculos d. C. (com variantes chinesas primitivas e variantes islâmicas e hindus posteriores), tendo sido levada a sério na Europa por personagens eminentes como Paracelso (1493-1541) e Newton (1643-1727) até o séc. XVIII. A alquimia ocidental dirigiu as suas preocupações para a metalurgia prática, mas o seu significado filosófico proveio de antiga teoria grega das relações entre os elementos básicos e também de uma compreensão religioso-alegórica da transformação alquímica de minérios em ouro, e entendendo que ela trata este processo como escalada espiritual a partir do humano até a perfeição divina. Achava-se que a purificação de metais não preciosos (matéria universal) em ouro (perfeição material) exigia um agente de transformação, a pedra filosofal, uma substância mística que, segundo se acreditava, quando misturada com álcool e engolida, produzia a imortalidade (a perfeição espiritual). A procura alquímica da pedra filosofal, embora abortiva, resultou finalmente no desenvolvimento de instrumentos experimentais úteis (por exemplo, a bomba de água) e métodos igualmente úteis (por exemplo, a destilação) (p. 20). Análise: Processo de decompor um conceito, uma proposição, um complexo lingüístico ou um fato nos seus componentes simples ou últimos (p. 23). Ateísmo: Do grego a-, “não”, e theos “deus”. É a opinião segundo a qual não existem deuses. Num sentido mais largamente usado denota apenas que não se acredita em Deus e é compatível com o agnosticismo. Em sentido estrito denota a crença segundo a qual não existe Deus; este uso se tornou o uso padrão. [...] Alguns distinguem entre ateísmo teórico e ateísmo prático. Um ateu teórico é alguém que nega com consciência a existência de um ser supremo, ao passo que um ateu prático pode até acreditar que existe um ser supremo, mas vive como se não existisse nenhum deus (p. 54). Atributos Divinos: Propriedades de Deus; especialmente aquelas que são tidas como essenciais e exclusivas de Deus. Entre as propriedades tradicionalmente aceitar como sendo atributos de Deus, a onipotência, a onisciência e a onibenevolência entende-se naturalmente como significado que Deus tem, respectivamente, poder, conhecimento e bondade moral no máximo grau. Neste caso Deus é entendido como sendo um ser eterno (ou de duração ilimitada), possuidor de imenso poder, imenso conhecimento e bondade igualmente imensa, sendo também o criador e sustentador do universo, sendo por isso mesmo digno de adoração do homem (p. 55-56). Causa Sui: Do latim, “causa de si mesmo”. Expressão aplicada a Deus para significar em parte que Deus deve a sua existência a ninguém mais que a si mesmo. [...] Aquilo que conta para a existência de um ser que é causa sui é a sua própria natureza (p. 123). Ceticismo: No seu sentido mais comum, é a recusa de admitir que existe algum conhecimento ou que se possa provar algo. O ceticismo pode ser parcial

ou total, prático ou teórico, e, se for teórico, moderado ou radical, e ainda de conhecimento ou de prova. O ceticismo é parcial se, e somente se, está restrito a campos particulares de crenças ou proposições, e total se, e somente se, não está assim restrito. E se é parcial, pode ser altamente restrito, como no ceticismo para o qual a religião é apenas um ópio, ou muito mais geral, como quando não só a religião é chamada de ópio, mas a história também não passa de besteira e a metafísica não tem sentido. O ceticismo é prático se, e somente se, é uma atitude de negar deliberadamente tanto a crença como a descrença, acompanhada talvez (mas não necessariamente) do compromisso de recomendar geralmente às pessoas que façam o mesmo. (O ceticismo prático pode ser total ou parcial, é claro, e se for parcial, pode ser mais ou menos geral). O ceticismo é teórico se, e somente se, é um compromisso com a crença de que não existe nenhum conhecimento (crença justificada) de determinada espécie ou de determinadas espécies. Um ceticismo teórico deste tipo ocorre em diversas variedades. É moderado e total se, e somente se, sustenta que não existe conhecimento absolutamente certo (uma crença totalmente justificada), nem na lógica ou na matemática, nem mesmo através da introspecção da experiência atual de uma pessoa. É radical e total se, e somente se, sustenta que não existe nenhum conhecimento comum (crença justificada) de espécie alguma. É moderado e parcial, por outro lado, se e somente se, sustenta que não existe nenhum conhecimento certo (uma crença totalmente justificada) de certa espécie determinada K ou de determinadas espécies K1, ..., Kn (menos que a totalidade dessas espécies). É radical e parcial, finalmente, se e somente se ele sustenta que não existe absolutamente nem mesmo um conhecimento ordinário (uma crença justificada) desta espécie K ou das espécies K1, ..., Kn (p. 129-132). Ceticismo Moral: Toda opinião metaética que levanta dúvidas fundamentais a respeito da moralidade como um todo. Diferentes espécies de dúvidas levam a diferentes espécies de ceticismo moral. As principais modalidades de ceticismo moral são de índole epistemológica. O ceticismo acerca da justificação moral é aquele que sustenta que ninguém jamais tem uma justificação (qualquer e muito menos adequada) para se acreditar em qualquer afirmação moral de alguma importância. Já o ceticismo acerca do conhecimento moral afirma que ninguém jamais sabe com certeza que qualquer norma moral de alguma importância seja verdadeira (p. 132-133). Dupla Negação: O princípio, chamado também de lei da dupla negação, que diz que toda proposição é logicamente equivalente à sua dupla negação. Assim, a proposição que afirma que Rogério é um coelho é equivalente à proposição que afirma que Rogério é não não um coelho (p. 247). Einfühlung : (alemão, “sintonia”), empatia. Diferentemente da simpatia, na qual a identidade da pessoa é preservada ao sentir com outra ou por ela, na empatia ou Einfühlung a pessoa tende a perder-se na outra. [...] Husserl usou um conceito fenomenológico purificado de Einfühlung para explicar a maneira como o si-mesmo reconhece diretamente outro si-mesmo. Uma discípula de Husserl, Edith Stein, descreveu a Einfühlung como sendo um

modo cego de conhecimento que alcança a experiência do outro sem possuí-lo (p. 254). Epistemologia: (do grego episteme, “conhecimento”, e logos “explicação”), o estudo da natureza do conhecimento e da justificação; especificamente, o estudo (a) das características da definição, (b) das condições essenciais das fontes, e (c) dos limites do conhecimento e da sua justificação. As três últimas categorias são representadas pela tradicional controvérsia filosófica sobre a análise do conhecimento e a sua justificação (por exemplo, racionalismo versus empirismo) e a viabilidade do ceticismo a respeito do conhecimento e a sua justificação (p. 269). Escola peripatética: também chamada Perípato, a comunidade filosófica fundada por Aristóteles como um ginásio público (o Liceu) [...]. A derivação de ‘peripatético’ a partir do suporto costume de Aristóteles de “passear de um lado para outro” (peripatein) é provavelmente errada. A palavra seria explicada pela referência a um “caminhar circulando como num claustro” (peripatos) entre as instalações da escola [...] (p. 285). Epistemologia da Virtude: Uma virtude epistêmica é uma qualidade pessoal tendente à descoberta da verdade e à evitação do erro, ou a algum outro objetivo intelectualmente valioso. Seguindo Aristóteles, distinguiremos estas virtudes de qualidades como sabedoria ou bom julgamento, que são a base intelectual do sucesso prático, mas não necessariamente do sucesso intelectual. Estaria ligada a qualquer qualidade que conduz à verdade ou qualquer mecanismo cognitivo que funcione adequadamente; ou estaria ligada a qualidades pessoais (como a imparcialidade ou a desatenção) cujo exercício alguém poderia associar a uma ética da crença (p. 274). Estética e a Filosofia da Arte: [...] o ramo da filosofia que investiga a natureza da arte e o caráter da nossa experiência da arte e do ambiente natural. A estética surgiu como um campo separado da investigação filosófica durante o século XVIII tanto na Inglaterra como no Continente. O reconhecimento da estética como um ramo separado da filosofia coincidiu com o desenvolvimento de teorias da arte que agrupavam a pintura, a poesia, a escultura, a música e a dança (e geralmente o ajardinamento paisagístico) como uma mesma espécie de coisa, lês beaux arts, ou as belas-artes. Mas foi Baumgarten quem cunhou o termo ‘estética’ na sua obra Reflexões sobre a poesia (1735) como o nome de um dos dois ramos do estudo do conhecimento, isto é, do estudo da experiência sensória junto com o sentimento, que segundo ele era o que fornecia um tipo diferente de conhecimento a partir das idéias [sic] distintas e abstratas estudadas pela “lógica”. Este termo ele o derivou do grego antigo aisthanomai (“perceber”), tendo sido “a estética”, por isso mesmo, sensória e as espécies de sentimentos que suscita. Questões específicas do campo da estética são as seguintes: Será que existe uma atitude especial, a atitude estética, que experimentaríamos em relação às obras de arte e ao ambiente natural, e, se existe, como seria ela? Existe um tipo distinto de experiência, uma experiência estética, e em que consiste? Existe um objeto especial da atenção que podemos chamar de objeto estético?

Por último, existe um valor distinto, um valor estético, comparável aos valores morais, epistêmicos e religiosos? Algumas questões coincidem em parte com aquelas da filosofia da beleza, e se existe uma faculdade do gosto que é exercida quando se julgam o caráter e o valor estético dos objetos naturais ou das obras de arte. A estética inclui também a filosofia da arte . A questão mais importante da filosofia da arte tem sido a de como definir ‘arte’. Nem todas as culturas têm, ou tiveram, um conceito de arte que coincide com aquele que surgiu na Europa Ocidental durante os séculos 17 e 18. O que justifica o fato de aplicarmos este nosso conceito às coisas que as pessoas produziram nestas outras culturas? Existem também alguns quadros (inclusive pinturas), canções, construções e fragmentos de escritos, que não são arte. O que é que distingue estes quadros, estas obras musicais etc., que são arte, daquelas outras que não o são? Foram propostas várias respostas que identificam as características distintivas da arte sob o ponto de vista da forma, da expressividade, das intenções do criados, e dos papéis [sic] ou usos sociais do objeto. Desde o século XVIII houve debates a respeito de quais espécies de coisas devem ser tidas na conta de “arte”. Alguns filósofos chegaram a sustentar que tanto a arquitetura como a cerâmica não são arte porque as suas funções são primariamente utilitárias, também os romances, por muito tempo, não foram incluídos entre as “belas artes” porque não estão incorporados em um meio sensório. E continuam a surgir debates a respeito dos novos meios de comunicação e sobre aquelas que podem ser novas formas de arte, como o filme, o vídeo, a fotografia, a arte do espetáculo, a arte de fundir os metais, fabricar móveis, fazer cartazes, erguer fortificações, isto para não falarmos da arte do computador e da eletrônica. As esculturas em nossos dias podem ser feitas de sujidade, fezes ou de vários objetos descartáveis e produzidos em série, mais do que de mármore ou de bronze. Há geralmente rejeição explícita do artesanato e da técnica pelos artistas do século XX, e este tema se expandiu para incluir o banal e o cotidiano, e não meramente os assuntos mitológicos, históricos e religiosos, como ocorria em épocas passadas. Todos estes desenvolvimentos levantam questões a respeito da importância da categoria de arte “bela” ou “superior”. Outro conjunto de questões em filosofia da arte se refere ao problema de como as obras de arte devem ser interpretadas, apreciadas e compreendidas. Algumas opiniões enfatizam que as obras de arte são produtos dos esforços individuais, de modo que uma obra deveria ser compreendida à luz do conhecimento, da destreza e das intenções do seu criador. Outros vêem o significado de uma obra determinado pelas convenções sociais e pelos usos da própria época do artista, mas que podem não ser conhecidas ou compreendidas pelo criador. Outros ainda vêem o significado como estabelecido pelas práticas do usuários, mesmo que elas não fossem efetivas quando a obra foi produzida. Será que existem critérios objetivos ou padrões para a avaliação das obras de arte individuais? Houve muita discordância a respeito desse os julgamentos de valor possuem uma validade universal, ou se não pode haver discussão a respeito de gosto, se os juízos de valor são relativos aos gostos e interesses de cada indivíduo (ou a algum grupo de indivíduos que compartilham os mesmos gostos e interesses). Um julgamento como “Isto é bom” certamente parece fazer um afirmação a respeito da própria obra, embora uma afirmação como

esta esteja geralmente baseada na espécie de sentimento, compreensão ou experiência que a pessoa tenha conseguido a partir da obra. A estética ou o valor artístico de uma obra se distingue realmente do mero gostar dela. Mas será que é possível estabelecer que espécie(s) de conhecimento ou experiência(s) toda obra de arte dada forneceria para todo observador devidamente preparado, e o que deveria ele ser para estar devidamente preparado? É matéria de discussão saber se a estética e os valores artísticos de uma obra são independentes em relação à sua postura moral, política ou epistêmica quanto ou ao seu impacto sobre estas mesmas áreas. A filosofia da arte tratou também da natureza do gosto, da beleza, da imaginação, da criatividade, da representação, da expressão e da expressividade; do estilo; da questão de se saber se as obras de arte comunicam conhecimento ou verdade; da natureza da narrativa e da metáfora; da importância do gênero; do status ontológico das obras de arte; além da questão do caráter das nossas respostas emocionais à arte. A pesquisa neste campo foi sempre influenciada pelas teorias filosóficas da linguagem ou do significado, e pelas teorias do conhecimento e da percepção, e continua a ser muito influenciada pela teoria psicológica e cultural, inclusive pelas versões da semiótica, da psicanálise, da psicologia cognitiva, do feminismo e do marxismo. Alguns teóricos, no final do século XX, negaram que a estética e as “belas-artes” possam ser legitimamente postas à parte e entendidas como fenômenos humanos separados e autônomos; eles sustentam, ao contrário, que estas categorias conceptuais manifestam, elas próprias, reforçando-os, certos tipos de atitudes culturais e relações de poder. O que estes teoristas tentam mesmo é nos convencer de que a estética pode e deveria ser eliminada como um campo distinto de estudo, e de que a “estética” não deveria ser concebida como tipo especial de valor. Ao invés disso, eles são partidários de uma crítica dos papéis [sic] que estas imagens (não só a pintura, mas o filme, a fotografia e a publicidade), os sons, a narrativa e as construções tridimensionais possuem ao expressarem e moldarem as atitudes e as experiências humanas (p. 292-293, grifo meu). Forma: Na metafísica, especialmente de Platão e de Aristóteles, a estrutura ou essência de uma coisa como contrastada com a sua matéria. (1) A teoria das Formas de Platão é uma ontologia realista dos universais. Na sua refutação lógica, Sócrates procurava aquilo que é comum a, por exemplo, todas as cadeiras. Já Platão acreditava que deve existir uma essência – ou Forma – comum a tudo aquilo que fica sob o domínio de um conceito, que faz que algo seja o que é. Uma cadeira é uma cadeira porque “participa da” Forma de Cadeira. As Formas são, pois, “modelos” ideais, imutáveis, imtemporais, e perfeitos. Existem num mundo todo delas (c. o domínio numenal kantiano). Platão fala delas como sendo auto-predicativas [sic]: a Forma do Belo é perfeitamente bela. Isto leva, como ele entendeu, ao argumento do Terceiro Homem segundo o qual deve existir um número infinito de Formas. O único conhecimento verdadeiro é o das Formas. Este nós alcançamos através da anamnese, “reminiscência”. (2) Aristóteles concorda com a idéia [sic] de que as formas estão intimamente ligadas à inteligibilidade, mas nega que elas tenham uma existência separada. O mesmo Aristóteles explica a mudança e a geração através de uma distinção entre a forma e a matéria das substâncias. Um

pedaço de bronze (matéria) se torna uma estátua através do processo de ser moldado dentro de certa figura (forma). Na sua metafísica, Aristóteles inicialmente identificou a substância primordial com o compósito de matéria e forma, por exemplo, Sócrates. Mais tarde ele sugeriu que a substância primordial é a forma – que faz que Sócrates seja o que ele é (a forma aqui é a sua alma). Esta noção das formas como essências tem óbvias semelhanças com a doutrina platônica. Elas se tornam as “formas substanciais” da escolástica, aceita até o século XVII. (3) Kant via a forma como o aspecto a priori da experiência. Estamos diante de uma “matéria” fenomenológica, que não tem nenhum significado enquanto a mente não lhe impuser alguma forma (p. 405). Gnosticismo: Movimento religioso e filosófico dualista surgido nos primeiros séculos da igreja cristã, especialmente importante no século segundo sob a liderança de Valentino e Basílides. Eles ensinavam que a matéria era o mal, sendo o resultado de um transtorno cósmico no qual um mau archon (geralmente associado ao deus do Antigo Testamento, Javé) ter-se-ia rebelado contra o pleroma celestial (o mundo espiritual completo). Neste processo faíscas divinas eram soltas a partir do pleroma e alojadas no corpo humano material. Jesus era um arconte posto em posição de destaque (Logos), enviado para restabelecer estas almas com faíscas divinas para o pleroma por meio da comunicação do conhecimento esotérico (gnosis) a eles. O gnosticismo influenciou e ameaçou a igreja tradicional a partir de dentro e de fora. Seitas gnósticas não-cristãs competiam com a cristandade, e os gnósticos cristãos ameaçavam a ortodoxia ao enfatizar a salvação mediante o conhecimento mais do que pela fé. Teólogos como Clemente de Alexandria e seu discípulo Orígenes sustentaram que havia dois caminhos para a salvação, o caminho da fé para as massas e o caminho do conhecimento esotérico ou místico para os filósofos. O gnosticismo influenciou profundamente a igreja primitiva, levando-a a definir seu cânon bíblico e a criar um conjunto de credos e uma organização episcopal (p. 431). Hedonismo: a idéia [sic] [sic] de que o prazer (incluindo a ausência de dor) é o único bem intrínseco na vida. O hedonista pode afirmar que, deixando de lado questões de moral, as pessoas inevitavelmente buscam o prazer (hedonismo psicológico); que, questões de psicologia à arte, moralmente devemos buscar o prazer (hedonismo ético); ou que, inevitavelmente, buscamos e devemos buscar o prazer (hedonismo ético e psicológico combinado) (p. 447). Hermenêutica: a arte ou teoria da interpretação, bem como um tipo de filosofia que parte de questões de interpretação. Originalmente relacionado mais estreitamente com a interpretação de textos sagrados, o termo adquiriu sentido muito mais amplo no seu desenvolvimento histórico, e finalmente tornou-se uma posição filosófica na filosofia alemã o século XX. [...] A análise que Schleiermacher fez da compreensão e expressão relacionada a textos e à fala marca o início da hermenêutica no sentido moderno de uma metodologia científica. Essa ênfase na metodologia continua no historicismo do século XIX e culmina na tentativa de Dilthey de fundamentar as ciências humanas numa teoria da interpretação, entendida como o

restabelecimento imaginativo mas publicamente verificável das experiências subjetivas de outros. Tal método de interpretação revela a possibilidade de um conhecimento objetivo de seres humanos não acessível à pesquisa empírica e, assim, de uma metodologia distinta para as ciências humanas. Um resultado da análise da interpretação no século XIX foi o reconhecimento do “círculo hermenêutico”, primeiro desenvolvido por Schleiermacher. A circularidade da interpretação do todo. Mas a interpretação é circular num sentido mais forte: se toda interpretação está ela mesma baseada em interpretação, então o círculo da interpretação, ainda que não vicioso, não pode ser evitado. A hermenêutica do século XX desenvolvida por Heidegger e Gadamer radicaliza essa noção do círculo hermenêutico, considerando-o uma característica de todo conhecimento e atividade. Assim, a hermenêutica não é mais o método das ciências humanas, mas “universal”, e a interpretação faz parte do caráter finito e situado de todo conhecimento humano. Por isso a “hermenêutica filosófica” critica o fundacionalismo iluminista na ética, vendo a ciência como uma prática cultural, e os pré-juízos (ou pré-julgamentos) como inelimináveis em todos os julgamentos. Positivamente enfatiza a compreensão como continuação de uma tradição histórica, e também como abertura dialógica, em que são desafiados os pré-juízos e ampliados os horizontes (p. 458). Hexis : (grego, de hexo, “ter”, “estar disposto”), uma (boa ou má) condição, disposição ou estado. A tradução tradicional “hábito” (latim habitus) é equívoca, pois tende a sugerir uma idéia [sic] [sic] de um padrão de comportamento involuntário ou meramente repetitivo. Uma hexis é, antes, um estado de caráter ou de espírito que nos dispõe a escolher deliberadamente agir ou pensar de certa maneira. [...] Analogamente, se alguém é constantemente bom em identificar o que é o melhor para si, pode-se dizer que ele possui uma hexis chamada prudência. Nem todos os estados e disposições são recomendáveis. Também a covardia e a estupides são hexeis (p. 460). Instituição: (1) Uma organização como, p. ex., uma empresa ou uma universidade. (2) Uma prática social como o casamento ou fazer promessas. (3) Um sistema de regras definindo uma possível forma de organização social como, p. ex., princípios capitalistas versus princípios comunistas de troca econômica (p. 510). Lebensphilosophie : termo alemão, traduzido como “filosofia de vida”, que se tornou corrente numa variedade de inflexões populares e filosóficas durante a segunda metade do século XIX. O termo foi aplicado por filósofos como Dilthey e Eucken em distinção à construção dos sistemas abrangentes de Hegel e seus seguidos e em oposição a tendência do empirismo e positivismo antigo de reduzir a experiência humana a questões epistemológicas sobre sensações e impressões. A Lebensphilosophie, pelo contrário, devia partir de um reconhecimento da variedade e da complexidade da experiência humana concreta e já dotada de sentido, tal como é “vivida”. Essas filosofias anteciparam algumas ideias centrais da fenomenologia, em particular o conceito de Lebenswelt (Mundo da Vida) de Husserl, e certos temas estreitamente relacionados na versão do existencialismo de Heidegger (p. 551).

Lebenswelt (conceito verificado em “Husserl, Edmund” na p. 488): Um dos temas importantes que Husserl desenvolveu na última década da sua obra é o do mundo da vida ou Lebenswelt. Ele afirma que a abstração científica e matemática tem raízes no mundo pré-científico, o mundo em que vivemos. Este mundo tem suas próprias estruturas de aparência, identificação, evidência e verdade, e o mundo científico é estabelecido sobre a sua base. Uma das tarefas da fenomenologia é mostrar como as entidades idealizadas da ciência tiram seu sentido de mundo da vida. Husserl sustenta, p. ex., que as formas geométricas têm suas raízes na atividade de medir e na idealização de volumes, superfícies, bordas, intersecções que experimentamos na vida do mundo. O sentido do mundo científico e de suas entidades não deve ser posto em oposição ao mundo da vida. Deve-se mostrar, por meio de análise fenomenológica, que é um desenvolvimento de aparências encontradas nele. Além disso, as estruturas e evidências do próprio mundo da vida precisam ser descritas filosoficamente (p. 488). Logos : (plura: logoi) (grego, “palavra”, “fala”, “razão”), termo com os seguintes sentidos filosóficos principais. (1) Regra, princípio, lei. Por ex., no estoicismo o logos é a ordem divina, e no neoplatonismo as forças reguladoras inteligentes que se manifestam no mundo sensível. Depois, no cristianismo, o termo passou a referir-se à Palavra de Deus, à instanciação da sua ação na criação e, no Novo Testamento, à pessoa de Cristo. (2) Proposição, explicação, tese, argumento. Por ex., Aristóteles apresenta um logos a partir dos primeiros princípios. (3) Razão, raciocínio, a faculdade racional, teoria abstrata (em oposição à experiência), raciocínio discursivo (em oposição à intuição). Por ex., Platão na República usa o termo com referência à parte intelectual da alma. (4) Medida, relação, proporção, razão. Por ex., Aristóteles fala dos logoi das escalas musicais. (5) Valor. Por ex., Heráclito fala do homem cujo logos é maior que o dos outros (p. 592). Metafísica : Em sentido mais geral, a investigação filosófica da natureza, constituição e estrutura da realidade. Tem um escopo mais amplo que a ciência, p. ex., a física e até a cosmologia (a ciência da natureza, estrutura e origem do universo como um todo), pois uma das suas preocupações tradicionais é a existência de entes não-físicos, p. ex., Deus. Também é mais fundamental, pois investiga questões de que a ciência não trata, mas as respostas àquilo que esta pressupõe. Há, realmente, por exemplo, objetos físicos, e todo evento tem uma causa? Assim entendida, a metafísica foi rejeitara pelo positivismo pela razão de que suas afirmações são “cognitivamente sem sentido”, uma vez que não são empiricamente verificáveis. [...] No seu sentido mais geral, a metafísica pode parecer coincidir com a filosofia como um todo, uma vez que qualquer coisa que a filosofia investiga é presumivelmente uma parte da realidade, p. ex., conhecimento, valores e raciocínio válido. Mas é útil reservar a investigação de tópicos mais específicos para ramos distintos da filosofia, p. ex., epistemologia, ética, estética e lógica, pois estes levantam problemas peculiares a eles mesmos. Talvez a questão mais conhecida em metafísica é se há somente entes materiais – materialismo – ou apenas entes mentais, isto é, mentes e seus estados – idealismo – ou ambos – dualismo. Aqui ente tem o seu sentido mais

amplo: tudo o que é real. Questões mais específicas da metafísica dizem respeito à existência e à natureza de certos indivíduos – também chamados particulares – (p. ex., Deus), ou certas propriedades (p. ex., há propriedades que nada exemplificam?), ou relações (p. ex., existe uma relação de causação que é uma conexão necessária e não mera conjunção regular entre eventos?). A natureza do espaço e do tempo é outro importante exemplo de tais temas mais específicos. Espaço e tempo são indivíduos peculiares que “contêm” indivíduos ordinários, ou são apenas sistemas de relações entre coisas individuais, como ser (espacialmente) mais elevado ou (temporalmente_ anterior. Qualquer que seja a resposta, espaço e tempo são aquilo que faz da totalidade dos entes, que fazem parte dele, um mundo. Como em qualquer explicação que se dê do conhecimento o nosso conhecimento do mundo é extremamente limitado, tanto em relação às suas dimensões espaciais e temporais como um relação à sua constituição interna, devemos admitir um número indefinido de maneiras possíveis como o mundo pode ser, podia ter sido ou será. E esse pensamento dá origem à idéia [sic] de um número indefinido de mundos possíveis. Essa idéia [sic] é útil para tornar vívida a nossa compreensão da natureza da verdade necessária (uma proposição necessariamente verdadeira é aquela que é verdadeira em todos os mundos possíveis), e assim é comumente empregada na lógica modal. Mas a idéia [sic] também pode fazer mundos possíveis parecerem reais, uma doutrina altamente controvertida (p. 624). Misticismo : Doutrina ou disciplina a qual sustenta que se pode obter um conhecimento da realidade que não é acessível à percepção dos sentidos ou ao pensamento conceitual, racional. Geralmente associada com uma tradição religiosa, a mística pode assumir uma forma teísta, como nas tradições judaica, cristã e islâmica, ou não-teísta como ocorre no budismo e algumas variantes do hinduísmo. Os místicos afirmam que a experiência mística, o veículo do conhecimento místico, geralmente é o resultado de treinamento espiritual que envolve alguma combinação de oração, meditação, jejum, disciplina corporal e renúncia às preocupações mundanas. [...] Os místicos afirmam que, embora verídicas, as suas experiências não podem ser adequadamente descritas pela linguagem, porque a comunicação ordinária está baseada na experiência dos sentidos e na diferenciação conceitual: por isso os escritos místicos se caracterizam por metáforas e comparações (p. 636). Nihil est in intellectu quod non prius fuerit in se nsu : (latim, “Não há nada no intelecto que não tenha estado antes no sentidos”), um princípio maior do empirismo. Uma interpretação fraca do princípio sustenta que todos os conceitos são adquiridos da experiência sensorial; nenhum conceito é inato ou a priori. Uma interpretação mais forte acrescenta que todo conhecimento proposicional deriva da experiência dos sentidos. A interpretação fraca foi defendida por Tomás de Aquino e Locke, que pensavam, todavia, que podemos saber que algumas proposições são verdadeiras em virtude das relações entre os conceitos envolvidos. A interpretação mais forte foi endossada por J. S. Mill, que afirmou que até as verdades da matemática são baseadas individualmente na experiência (p. 669).

Nihil ex nihilo fit : (latim, “Nada vem do nada”), um princípio metafísico pela primeira vez enunciado do Ocidente por Parmênides, muitas vezes considerado equivalente à proposição de que nada surge sem uma causa. A criação ex nihilo é a produção do mundo por Deus sem nenhuma causa natural ou material, mas envolve uma causa supernatural, e assim não viola o princípio (p. 669). Panteísmo : A idéia [sic] de que Deus se identifica com tudo. O panteísmo pode ser visto como o resultado de duas tendências: um intenso espírito religioso e a crença de que toda realidade está de alguma maneira unida. Deve-se distinguir panteísmo de panenteísmo, a idéia [sic] de que Deus está em todas as coisas. Como a água pode saturar uma esponja e assim estar em toda a esponda, mas não ser idêntica à esponja, assim Deus pode estar em todas as coisas sem ser idêntico a todas as coisas. Spinoza é o panteísta mais notável na filosofia ocidental. Dizia que como a substância é completamente auto-suficiente e só Deus é auto-suficiente, Deus é a única substância. Em outras palavras, Deus é tudo. Às vezes também Hegel é considerado panteísta, visto que identifica Deus com a totalidade do ser (p. 691). Paradigma : Conforme usado por Thomas Kuhn (The Structure of Scientific Revolutions (1962), um conjunto de crenças científicas e metafísicas que constituem um quadro de referência teórico dentro do qual podem ser testadas, avaliadas e, se necessário, revistas teorias científicas (p. 692). Paradoxo : Uma peça de raciocínio aparentemente sólida baseada em pressupostos aparentemente verdadeiros que leva a uma contradição (ou outra conclusão obviamente falsa). Um paradoxo revela que, ou os princípios do raciocínio, ou os pressupostos em que se baseia estão errados. Dizemos que o paradoxo é resolvido quando os princípios ou pressupostos equivocados são claramente identificados e rejeitados. O interesse filosófico por paradoxos nasce do fato de que às vezes revelam pressupostos fundamentalmente equivocados ou técnicas errôneas de raciocínio (p. 693). Per accidens : (latim, “por acidente”), por, como sendo um acidente ou característica não-essencial. Uma predicação per accidens é aquela em que um acidente é predicado de uma subtância. (A terminologia é medieval. Mote-se que o próprio acidente e a própria substância, e não palavras em seu lugar, são os termos da relação de predicação). Um ens (ente) per accidens é, ou um acidente, ou a “união acidental” de uma substância e de um acidente (Descartes, p. ex., insiste em que uma pessoa não é uma união per accidens de corpo e alma) (p. 714). Pessoalidade : A condição ou propriedade de ser uma pessoa, especialmente quando se considera que isso tem implicações morais e/ou metafísicas. Tem-se admitido que a pessoalidade envolve vários aspectos, incluindo o de se agente (moral), razão ou racionalidade, linguagem ou capacidades cognitivas que a linguagem pode suportar (tais como intencionalidade e consciência de si) e capacidade de entrar em relações apropriadas com outras pessoas (concebidas como membros de um grupo que se autodefine). Buber enfatizou a

diferença entre relação eu-coisa que existe entre o eu e um objeto, e a relação eu-tu, que existe entre o eu e outra pessoa (à qual o eu pode dirigir-se). Dennett interpretou pessoas em termo de “posição intencional” que envolve explicar o comportamento de outro em termos de crenças, desejos, intenções etc. Questões sobre quando começa a pessoalidade e quando termina têm sido decisivas em debates acerca de aborto, infanticídio e eutanásia, pois freqüentemente [sic] a pessoalidade é concebida como a marca, se não a base, da posse de status moral especial por um ser (p. 720). Phantasia : (grego “aparição”, “imaginação”), (1) o estado em que nos encontramos quando algo nos parecer ser; (2) a capacidade em virtude da qual as coisas nos aparecem. Embora freqüentemente [sic] usada para denotar experiências conscientes e imaginásticas, phantasia não é limitada a esses estados. Em particular, pode ser aplicada a qualquer atitude proposicional em que se considera que algo ocorre. Mas assim como o termo português “parece” conota [sic] que temos reservas epistêmicas a respeito do que realmente ocorre, assim phantasia sugere a possibilidade de sermos enganados por aparências, e por isso muitas vezes é objeto de crítica. Segundo Platão, phantasia é uma “mistura” de sensação e crença. Em Aristóteles é uma faculdade distinta que torna possíveis verdade e falsidade (p. 721). Physis : Termo grego para natureza, usado primariamente com referência à natureza ou essência de uma coisa viva (Aristóteles, Metafísica V.4). Physis é definida por Aristóteles na Física II.1 como fonte do movimento e repouso que faz parte de algo em virtude de si mesmo e é identificada por ele primariamente com a forma, não com a matéria da coisa. O termo também é usado para significar o mundo natural como um todo. Muitas vezes physis é contrastada com techne, arte. Em ética também é contrastada com nomos, convenção, p. ex., por Cálicles no Górgias de Platão (482 e SS.), que distingue a justiça natural da justiça convencional (p. 721). Poder : Uma disposição; habilidade ou capacidade de produzir um resultado. Uma tradição (que inclui Locke) distingue poder ativo e poder passivo. Uma faca tem o poder ativo de cortar uma maçã, e esta tem o poder passivo de ser cortada pela faca. Mas a distinção parece ser predominantemente gramatical. Os poderes atuam em conjunto: o poder de um grão de sal de dissolver-se em água e o poder da água de dissolver o sal são recíprocos e suas manifestações são mútuas (p. 732). Poiesis : (grego “produção”), comportamento que visa a uma finalidade externa. Em Aristóteles, poiesis é oposta a práxis (ação). É característica dos ofícios, p. ex., construção, cuja finalidade são casas. É, portanto, uma kinesis (processo)1. Para Aristóteles, o exercício das virtudes, visto que este deve ser empreendido em vista de si mesmo, não pode ser poiesis. Conseqüentemente [sic], o conhecimento envolvido na virtude não é o mesmo envolvido nos ofícios (p. 733).

1 “Todas as coisas naturais estão sujeitas à mudança” (ver Aristóteles, p. 46)

Pragmatismo : Filosofia que enfatiza a relação entre teoria e prática e toma a continuidade entre a experiência e a natureza como sendo revelada pelo resultado da ação dirigida como o ponto de partida da reflexão. A experiência é a contínua transação entre organismo e ambiente, isto é, tanto o sujeito como o objeto são constituídos no processo. Quando inteligentemente ordenadas, as condições iniciais são deliberadamente transformadas, segundo objetivos em vista, isto é, intencionalmente, num estado de coisas subseqüente [sic] concebido como mais desejável. O conhecimento é, portanto, guiado por interesses e valores. Como a realidade dos objetos não pode ser conhecida antes da experiência, as afirmações de verdade só podem ser justificadas como a realização das condições que são experimentalmente determinadas, ou seja, o resultado da investigação (p. 741). Práxis : (Do grego prasso, “fazer”, “agir”), em Aristóteles a esfera do pensamento e da ação que compreende a vida ética e política do homem, em contraste com o projetos teóricos da lógica e da epistemologia (theoria). Foi assim que “práxis” adquiriu sua definição geral de “prática” por uma comparação com “teoria”. Ao longo de toda a história da filosofia ocidental o conceito encontrou lugar em vários vocabulários filosóficos. Marx e os neomarxistas ligaram o conceito com um paradigma da produção no interesse da explicação histórica. Em tal esquema de coisas as atividades que constituem as relações de produção e de troca são vistas como os aspectos dominantes da história socioeconômica da humanidade. Significações de “práxis” também são discerníveis na raiz do sentido de pragma (feito, negócio), que determinou o desenvolvimento do pragmatismo americano. Em tempos mais recentes o conceito de práxis teve um papel proeminente na formação da escola da teoria crítica, na qual os performativos da práxis são considerados mais diretamente associados com os fenômenos entrelaçados de discurso, comunicação e práticas sociais (p. 742). Principium individuationis : A causa (ou base) da individualidade nos indivíduos; o que tona algo individual em oposição a universal, p. ex., o que faz o gato Félix individual e conseqüentemente [sic] diferente do universal gato. Questões referentes ao princípio de individuação foram levantadas explicitamente pela primeira vez no início da Idade Média. Os autores clássicos em grande parte ignoraram a individuação; seu interesse ontológico era o problema dos universais. Os textos-chave que deram origem à discussão do princípio da individuação encontram-se em Boécio. Entre Boécio e o ano de 115. A individuação era sempre discutira no contexto de questões mais prementes, particularmente o problema dos universais. Após 1150. A individuação emergiu lentamente como um centro de atenção, e pelo fim do século XIII tornara-se um assunto independente de discussão, especialmente em Tomás de Aquino e Duns Scotus (p. 753). Realidade : No uso filosófico padrão, como as coisas realmente são, em oposição à sua meta aparência. A aparência refere-se a como as coisas parecem a um observador particular ou a grupo de observadores. Às vezes se diz que a realidade é duplamente independente da aparência. Isso significa que a aparência não determina a realidade. Primeiramente, por maior concordância que haja, com base na aparência, acerca da natureza da realidade, sempre é

concebível que a realidade difira da aparência. Em segundo lugar, as aparências não são de maneira alguma necessárias para a realidade: a realidade pode sobrepujar o alcance de todas as investigações que possamos fazer. Pode ser que a realidade sempre traga consigo a possibilidade de aparências, no sentido contrafactual e que se houvesse observadores adequadamente situados, então, se as condições não foram tendentes a erros, teriam experiência de tal e tal tipo. Mas a verdade de tal contrafactual parece baseada nos fatos de realidade. O fenomenalismo, pelo contrário, sustenta que os fatos da realidade podem ser explicados por tais contrafactuais, mas os fenomenalistas não conseguiram produzir análises não-circulares adequadas (p. 795). Relativismo : A negação de que existem certos tipos de verdades universais. Há duas formas principais de relativismo: o relativismo cognitivo e o relativismo ético. O relativismo cognitivo afirma que não existem verdades universais acerca do mundo: o mundo não tem características intrínsecas, há apenas diferentes maneiras de interpretá-lo. O sofista grego Protágoras, a primeira pessoa da qual há registro de ter defendido essa idéia [sic] [sic], disse: “O homem é a medida de todas as coisas: de coisas que são que elas são, e de coisas que não são, que elas não são.” (p. 814). Rerum natura : (latim, “a natureza das coisas”), metafísica. A expressão também pode ser usada em sentido mais estrito para significar a natureza da realidade física, e muitas vezes pressupõe uma visão naturalística de toda a realidade. O poema épico de Lucrécio De rerum natura é uma física epicurista, com a finalidade de confirmar a moral epicurista (p. 816). Sabedoria : Compreensão dos princípios superiores das coisas, que funciona como um guia para levar uma vida humana verdadeiramente exemplar. Nos pré-socráticos e em Platão a noção de sabedoria era unificada. Aristóteles, porém, introduziu a diferença entre sabedoria teórica (sophia) e sabedoria prática (phrónesis). Sophia é a virtude intelectual que dá a alguém a condição intelectual de compreender a natureza da realidade em sua causa final (metafísica). Phrónesis é a virtude prática fundamental que dispõe alguém para fundamentar juízos conforme sua conduta de vida. A primeira diferencia compreensão profunda de informação ampla, enquanto a segunda faz um contraste entre juízo fundamentado e mera facilidade técnica. A distinção dessas duas formas de sabedoria perdurou por toda a Idade Média e continua ainda hoje quando se usa a palavra “sabedoria” para designar tanto o alto conhecimento como juízo fundamentado em matéria de conduta (p. 828). Solipsismo : A doutrina de que existe uma perspectiva de primeira pessoa que tem características privilegiadas e irredutíveis, em virtude das quais nos encontramos em várias espécies de isolamento de quaisquer outras pessoas ou coisas que possam existir. Essa doutrina é associada com o egocentrismo, mas distinta deste (p. 872). Sublime : Um sentimento provocado por objetos que são infinitamente grandes ou vastos (como o céu ou o oceano), ou avassaladoramente poderosos (como torrente furiosa, grandes montanhas ou profundos precipícios). Os primeiros

(na terminologia de Kant) constituem o matematicamente sublime e os últimos o dinamicamente sublime. Embora a experiência do sublime seja desagradável sob certo aspecto, também é acompanhada de certo prazer: deleitamo-nos com o sentimento de ser subjugados. No pensamento de Kant, esse prazer resulta de uma consciência de que tempos poderes da razão que não dependem da sensação, mas legislam sobre os sentidos. Assim o sublime mostra não só as limitações da experiência dos sentidos (donde o nosso sentimento de desprazer) quanto o poder da nossa mente (daqui o sentimento de prazer). O sublime foi um conceito especialmente importante na teoria estética dos séculos XVIII e XIX. [...] Enquanto a beleza está associada com aquilo cuja forma pode ser apreendida, o sublime está associado com o informe, o que é “inapresentável” (p. 883). Summum Bonum : (Latim, “bem supremo”), aquilo em relação ao qual todas as outras coisas têm no máximo um valor instrumental (valem só à medidade que são produtivas daquilo que é o supremo bem). As concepções filosóficas do summum bonum na sua maior parte têm sido de natureza teleológica. Isto é, identificam o bem supremo em termos de um objetivo ou objetivos que os seres humanos, assim se supõe, perseguem pela sua própria natureza. Esses objetivos ou fins naturais mudaram consideravelmente. Para o teísta, essa finalidade é Deus, para o racionalista a compreensão racional do que é real, para o hedonismo o prazer etc (p. 886). Suppositio : (Latim, “suposição”), na Idade Média, referência. A teoria da suposição, a noção central na teoria da proprietates terminorum, foi desenvolvida no século XII e refinada e discutida até o começo dos tempos modernos (p. 891). Teleologia : Doutrina filosófica que afirma que toda a natureza, ou pelo menos os agentes intencionais, são direcionados para um fim, ou funcionalmente organizados. Platão, por primeiro, sugeriu que a organização do mundo natural pode ser entendida comparando-a com o comportamento de um agente intencional – teleologia externa. Por exemplo, os seres humanos podem antever o futuro e comportar-se segundo maneiras calculadas para conseguir suas intenções. Aristóteles dou a própria natureza de fins – teleologia interna. Cada espécie tem a sua própria causa final e os entes são construídos de tal modo que têm a tendência de realizar esse fim. Os corpos celeste andam da melhor maneira possível em círculos perfeitos, porque isso é da sua natureza, enquanto cavalos são origem a outros cavalos, porque essa é a sua natureza. Os teólogos naturais combinaram essas duas perspectivas teleológicas para explicar todos os fenômenos por referência às intenções de um Deus beneficente, onisciente e onipotente. Deus construiu de tal maneira o mundo que cada ser é dotado de uma tendência de realizar a natureza que lhe foi dada por Deus. Darwin explicou o caráter teleológico do mundo vivo não-teleologicamente. O processo evolutivo não é teleológico, mas dá origem a sistema funcionalmente organizados e agentes intencionais (p. 899). Transcendência : Em sentido bem geral, a propriedade de elevar-se fora ou acima de outras coisas (virtualmente sempre entendido figurativamente); em

filosofia, a propriedade de ser, de alguma maneira, de uma ordem superior. Pode-se dizer que um ser, como Deus, é transcendente no sentido de não apenas ser superior mas incomparavelmente superior, a outras coisas, em qualquer espécie de perfeição. A transcendência de Deus, ou o seu ser fora ou além do mundo, também é contrastada, e por alguns pensadores combinada, com a imanência ou a existência de Deus dentro do mundo. [...] Na Crítica da razão pura de Kant, princípios que pretendem (erroneamente) levar-nos além dos limites de qualquer experiência possível são chamados transcendentes; ao passo que qualquer coisa pertencente ao pensamento não empírico, que estabelece a possibilidade e os limites da experiência, e disso tira conseqüências [sic], pode ser chamada transcendental (p. 958).