anomalocardia brasiliana gmelin, 1791 (mollusca bivalvia...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ (UFPI) Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (TROPEN) Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (PRODEMA) Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente (MDMA) Anomalocardia brasiliana Gmelin, 1791 (Mollusca Bivalvia): rendimento, composição química e dados etnobiológicos das marisqueiras de Barra Grande, Cajueiro da Praia, Piauí. SIMONE TUPINAMBÁ FREITAS TERESINA-PI 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

(UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(MDMA)

Anomalocardia brasiliana Gmelin, 1791 (Mollusca Bivalvia):

rendimento, composição química e dados etnobiológicos das

marisqueiras de Barra Grande, Cajueiro da Praia, Piauí.

SIMONE TUPINAMBÁ FREITAS

TERESINA-PI

2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

(UFPI)

Núcleo de Referência em Ciências Ambientais do Trópico Ecotonal do Nordeste

(TROPEN)

Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(PRODEMA)

Mestrado em Desenvolvimento e Meio Ambiente

(MDMA)

SIMONE TUPINAMBÁ FREITAS

Anomalocardia brasiliana Gmelin, 1791 (Mollusca Bivalvia):

rendimento, composição química e dados etnobiológicos das

marisqueiras de Barra Grande, Cajueiro da Praia, Piauí.

Dissertação apresentada ao Programa Regional de

Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente da Universidade Federal do Piauí

(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito à

obtenção do título de Mestre em

Desenvolvimento e Meio Ambiente. Área de

concentração: Desenvolvimento do Trópico

Ecotonal do Nordeste. Linha de Pesquisa:

Biodiversidade e Utilização Sustentável dos

Recursos Naturais.

Orientadora: Profª. Drª. Roseli Faria Melo de

Barros. Coorientadores: Prof. Dra. Paulo Augusto

Zaitune Pamplin e Pesquisadora Dra. Fabíola

Helena dos Santos Fogaça.

TERESINA-PI

2011

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Anomalocardia brasiliana Gmelin, 1791 (Mollusca Bivalvia):

rendimento, composição química e dados etnobiológicos das

marisqueiras de Barra Grande, Cajueiro da Praia, Piauí.

Dissertação apresentada ao Programa Regional de

Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio

Ambiente da Universidade Federal do Piauí

(PRODEMA/UFPI/TROPEN), como requisito à

obtenção do título de Mestre em

Desenvolvimento e Meio Ambiente.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________

Prof. Dra. Roseli Farias Melo de Barros (Orientadora)

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

__________________________________________________

Prof. Dr. José Luís Lopes Araújo (Membro Interno)

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

__________________________________________________

Pesquisadora Dra. Alitiene Moura Lemos Pereira (Membro Externo)

(EMBRAPA - Meio Norte UEP/Parnaíba)

__________________________________________________

Prof. Dr. José de Ribamar de Sousa Rocha (Suplente)

Universidade Federal do Piauí (PRODEMA/UFPI)

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AGRADECIMENTOS

Ao programa de pós-graduação (PRODEMA/UFPI), e a Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Meio-Norte/UEP/Parnaíba, obrigada a todos pela

formação e oportunidade de crescimento profissional

Ao Laboratório de Recursos Aquáticos (LARAq/UFC), especialmente a Cinthia

Oliveira pela ajuda nas analises. A Universidade Federal de Sergipe, pelo uso dos

laboratórios.

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela

concessão da bolsa de estudo.

Ao Instituto Chico Mendes (ICMBio), através do Sistema de Biodiversidade e

Conservação (SISBIO), e ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFPI, pela aprovação do

projeto.

A minha orientadora Profa. Dr

a. Roseli Farias Melo de Barros, que tão gentilmente me

recebia em sua casa para orientações.

Aos meus co-orientadores Prof. Dr. Paulo Augusto Zaitune Pamplin por tudo que me

ensinou e pela paciência e a Pesquisadora Dra. Fabíola Helena dos Santos Fogaça pela

convivência em épocas de coleta e orientação.

Aos pesquisadores da Embrapa/UEP/Parnaíba; Jefferson Legatt pelo auxílio no

decorrer do projeto; e ao Laurindo André Rodrigues pela assistência em laboratório e nas

analises estatísticas.

As marisqueiras de Barra grande pelo acolhimento na comunidade.

Ao professor Dr. Juan Carlos Cisneiro pela orientação no estágio a docência. Aos

meus colegas da turma 2009-2011, especialmente a Elaine Aparecida e Leonardo Madeira

amigos e companheiros nessa jornada. E a turma de 2008-2010. Aos funcionários do

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TROPEN, Sr. Batista Araújo pelo carinho, Sr, Raimundo Lemos pelo cafezinho das horas de

descontração e pela sua simpatia e a Sra. Maridete Alcobaça.

Ao meu amado marido Ricardo Gomes Ramos pelo carinho e compreensão em todo o

processo do mestrado e antes dele. A minha família, em especial a minha mãe (Beatriz

Tupinambá Freitas) minha avó (Alice Domenech Tupinambá) e aos meus queridos irmãos

(Ana Clara, José Luis e Ana Luisa).

Aos Funcionários da Embrapa/UEP/Parnaíba: Neném, Delegado, Chico de Diniz,

Chicó, Admilson, Silvana, Edna, Ivana, Lucelene, Jeudis, Assis e a Andrea.

E a todos que me ajudaram no decorrer deste trabalho.

Obrigada!!

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RESUMO

O molusco bivalve Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) é coletado pelas marisqueiras ao

longo do estuário do rio Camurupim, comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI.

Partindo-se do pressuposto que o povoamento desta comunidade se deu pela atividade

pesqueira e que a mariscagem, assim como a pesca artesanal, é tradicional no povoado,

espera-se que as marisqueiras possuam um conhecimento êmico sobre os recursos pesqueiros

explorados por elas, bem como do ecossistema em que esses moluscos habitam. Tendo em

vista que a espécie possui potencial para cultivo e comercializações foram obtidas

informações acerca da composição química de sua carne ao longo dos meses e valores de seu

rendimento em seis locais ao longo do rio Camurupim. Para a obtenção de informações sobre

as formas de compreensão e percepção ambiental das marisqueiras em relação a A. brasiliana

e sua pesca, foram selecionadas todas as 63 marisqueiras cadastradas na Colônia de Pesca (Z-

6) e residentes em Barra Grande. Estas foram entrevistadas com auxilio de formulários

estruturados e semi-estruturados, contendo perguntas sobre a atividade de mariscagem,

conceitos de conservação e aspectos socioeconômicos para uma melhor compreensão de sua

percepção ambiental e do contexto em que ocorre a atividade de cata. Também foram

realizadas observações diretas do processo de coleta. Os dados obtidos foram analisados sob a

abordagem emicista/eticista, na qual é feita uma comparação entre os conhecimentos

tradicionais/êmicos com os obtidos na literatura acadêmica/éticos. Para avaliação da

composição química e de seu rendimento indivíduos de A. brasiliana foram coletados de

março a junho (período chuvoso) e de setembro a dezembro (estiagem). Medidas mensais da

temperatura da água e da salinidade foram registradas. Os dados de precipitação

pluviométrica foram obtidos junto à Estação Meteorológica sediada na Embrapa Meio-Norte,

UEP/Parnaíba-PI. Foram calculados os valores de rendimento, Índices de Condição, proteína

bruta, fração lipídica, umidade da carne e cinzas. Os dados abióticos foram correlacionados

com os biológicos utilizando a correlação de Pearson. Como conclusão foi obtida que a carne

da espécie manteve uma média constante durante os meses de chuva e estiagem da região,

variando apenas sua porcentagem lipídica em virtude de seu período reprodutivo e o seu

rendimento não sofreu influência da sazonalidade. Neste estudo foi observado que o grupo de

marisqueiras encontra-se à margem da sociedade, já que estas convivem com situações nem

sempre favoráveis a segurança, tampouco à qualidade de vida. Tratando do conhecimento

tradicional demonstrado pelas marisqueiras de Barra Grande/PI, observou-se muitas vezes

compatibilidade com o conhecimento acadêmico apresentado em artigos científicos que

abordam estudos sobre A. brasiliana, ressaltando que esse conhecimento deve ser confrontado

e complementado com o científico na busca da consolidação de um mecanismo de mão dupla,

incrementando assim a gestão pesqueira.

Palavras chaves: Percepção Ambiental, Marisqueiras, Lipídios, Variação.

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ABSTRACT

The mussel Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) is collected by women catcher sellfish,

known as “marisqueiras” along Camurupim river estuary, located at Barra Grande community

in Cajueiro da Praia / PI. Taking into consideration that this community was started by fishery

activity and shellfish activities, as well, artisanal fisheries activities are traditional in the

village, its expected that the “marisqueiras” should have an emic knowledge about fisheries

resources exploited by themselves, and also about the ecosystem in which those molluscs are

collected. Knowing that this specie has potential for commercialization and cultivation,

information about quantity and meat chemical composition were taken along the months in

six different locations at Camurupim river estuary. To obtain information about ways of

understanding and environmental perception by “marisqueiras” in relation to A. brasiliana

and its collection, all the 63 “marisqueiras” residents at Barra Grande and enrolled at the

shellfish fisheries local organization (Z-6) were selected, being interviewed under structured

and semi-structured forms, with questions concerning shellfish activity, concepts of

conservation and socioeconomic factors to get a better understanding about environmental

perception over the context in which activity occurs, including direct observations about the

process of collection used by them. The data were analyzed under the emic/ethicist approach,

demanding a comparison between traditional/emic knowledge and academic literature. To

evaluate the chemical composition and its meat yield, were monthly collected, from March to

June (rainy season) and from September to December (dry season), A. brasiliana individuals.

Data about water temperature and salinity average were recorded as well. Rainfall data were

obtained from the Meteorological Station based at Embrapa Meio-Norte, UEP/Parnaíba-

PI. Meat yield, condition index, protein, total lipids, ashes and moisture of the meat were

calculated from the individuals collected. Abiotic data were correlated with the biological

one, using the Pearson correlation statistical method. As a conclusion was observed that the

meat of the species maintained a constant average during the rainy and drought season,

changing only its lipid percentage because of their reproductive period once its yield was not

affected by seasonality. This research also observes that the “marisqueiras” group is on the

fringe of society, living in a non favorable safety, neither with conditions to provide an

average life quality to themselves. About traditional knowledge demonstrated by the

“marisqueiras” of Barra Grande/ PI, was observed compatible in comparison with the

academic ones, presented in scientific articles that discuss studies about A. brasiliana,

remembering that this knowledge must be confronted and complemented with the scientific

one, to increase the fishery management under emic and academic information.

Key Words: Environmental Perception, Lipid, Variation.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Página

Figura 1. Ilustração dos recursos pesqueiros mais utilizados e sua localização no

entorno da comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI. Fonte:

Davilson (2010).

ARTIGO 1

26

Figura 1. Localização da comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI,

Brasil.

35

Figura 2. Distribuição segundo freqüência das faixas etárias das marisqueiras da

comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI, no ano de 2010.

37

Figura 3. Dados socioeconômicos das marisqueiras da comunidade de Barra

Grande, Cajueiro da Praia/PI, no ano de 2010: A. Material utilizado

para construções de casas; B. Material utilizado para cobertura do piso;

C. Serviço de abastecimento de água nas residências; D. Destino do

lixo produzido nas residências.

39

Figura 4. Frequências de citações por moluscos coletados na comunidade de

Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI, no ano de 2010.

43

ARTIGO 2

Figura 1. Ilustração do rio Camurupim, Barra Grande, Piauí, com indicação dos

pontos de amostragem.

64

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LISTA DE TABELAS

Página

ARTIGO 1

Tabela 1. Nível de escolaridade das marisqueiras da comunidade de Barra

Grande, Cajueiro da Praia/PI, no ano de 2010. 38

Tabela 2. Tempo de mariscagem por faixa etária das marisqueiras da

comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI, no ano de

2010.

40

Tabela 3. Comparação do conhecimento êmico das marisqueiras de Barra

Grande, Cajueiro da Praia/PI, coletados em 2010 com os

científicos.

50

ARTIGO 2

Tabela 1. Médias de temperatura, salinidade e pluviosidade nos pontos de

coleta no estuário do rio Camurupim, PI, em 2010. 62

Tabela 2. Principais características do sedimento coletado ao longo do rio

Camurupim, Barra Grande, Piauí, em 2010. 63

Tabela 3. Médias da composição química da carne de Anomalocardia

brasiliana (Gmelin, 1791) nos meses coletados em 2010 na

comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI.

65

Tabela 4. Média do rendimento (%) da carne de Anomalocardia brasiliana

(Gmelin, 1791) coletados nos pontos A, B, C, D, E e F no litoral

da comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/ PI, no período

chuvoso e de estiagem.

66

Tabela 5. Média do rendimento (%) por classes de comprimento de concha

da carne de Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) coletados

nos pontos A, B, C, D, E e F no litoral da comunidade de Barra

Grande, Cajueiro da Praia/ PI.

66

Tabela 6. Média dos Índices de Condição de Booth (1983) e Imai e Sakai (1961)

para o período chuvoso e de estiagem dos indivíduos coletados no litoral

da comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI.

67

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LISTA DE QUADROS

Página

Quadro 1. Nomes populares e científicos dos recursos pesqueiros mais

utilizados em BG com os respectivos períodos de maior abundância,

na comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI.

27

ARTIGO 1

Quadro 1. Espécies coletadas pelas marisqueiras da comunidade de Barra

Grande, Cajueiro da Praia, PI, no ano de 2010. 41

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SUMÁRIO

1 Introdução 12

2 Revisão de Literatura 15

2.1 Áreas de estuários e as Etnociências 15

2.2 A qualidade nutricional do pescado 18

2.3 Distribuição, abundância e biologia de Anomalocardia brasiliana 21

3 Histórico sobre a comunidade de Barra Grande 24

4 Referências 28

5 Artigos 53

5.1 Mariscagem e conhecimento tradicional na Comunidade de Barra Grande,

área de proteção ambiental do Delta do rio Parnaíba, Piauí, Brasil.

A ser enviado ao periódico Ambiente e Sociedade.

33

5.2 Avaliação sazonal da composição química e do rendimento da carne de

Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) no litoral do Piauí.

A ser enviado ao periódico Alimentos e Nutrição.

58

6 Conclusões 76

Apêndices 78

Apêndice A. Roteiro de entrevista semiestruturada 79

Apêndice B. Procedimento da coleta de Anomalocardia brasiliana (Gmelin,

1791) e entrevista com marisqueira em Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI – A.

Transporte utilizado para a coleta; B. Demarcação do quadrado no ponto de

coleta; C. Remoção do sedimento para o travesseiro de ostra; D. Lavagem do

sedimento para retirada de areia; E. Moluscos coletados; F. Seleção dos moluscos

entre cascalhos e folhas; G. Leitura de parâmetros abióticos; H. Coleta de solo

para análises; I. Entrevista com marisqueira.

94

Apêndice C. Pontos de coleta, aspectos socioeconômicos e culturais na

comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI – A. Afloramentos rochosos;

B. Estuário do Rio Camurupim; C. Marisqueiras em coleta; D. Moluscos

coletados pelas marisqueiras; E. Mariscos; F. Cocção dos mariscos pelas

marisqueiras; G. Mariscos desconchados e cozidos; H. Artesanato feito com

conchas; I. Artesanato feito com conchas; J. Colônia de Pescadores (Z6); L.

Restaurante administrado pelas marisqueiras; M. Sede de uma das Associações

85

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dos Condutores de Turismo.

Anexos 86

Anexo A – Normas para publicação, Periódico Ambiente e Sociedade 87

Anexo B – Normas para publicação, Periódico e Nutrição 92

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12

1 INTRODUÇÃO

O conhecimento sobre os invertebrados do Brasil é escasso, principalmente em relação

à microfauna. O número de espécies registradas, cerca de 3.900, é inferior a média

internacional (em torno de 100.000), porém o número de espécies endêmicas é relativamente

alto. A faixa de ocorrência mais estudada dos invertebrados se limita à zona entremarés, até

aproximadamente 20 metros de profundidade (AMARAL; JABLONSKI, 2005).

De acordo com o Diagnóstico para Avaliação e Ações Prioritárias da Biodiversidade

dos Bentos Marinhos do Brasil de 1999, o filo Mollusca foi o mais bem inventariado dos

invertebrados, seja pelo interesse comercial, pela beleza de suas conchas ou pelo interesse

alimentício, além de ser o segundo maior filo animal com mais de 100.000 espécies viventes.

Seus integrantes possuem o corpo mole constituindo tipicamente de uma cabeça anterior, um

pé ventral e uma massa visceral dorsal. O corpo carnoso é coberto por um manto fino,

comumente abrigado em uma concha calcária externa. Possuem larga distribuição no tempo e

no espaço, tendo seu registro contínuo desde o período Cambriano, sendo a maioria marinhos

(STORER et al., 2003).

Os ambientes mais estudados para esse filo são os costões rochosos, as praias e o de

águas rasas, carecendo de pesquisa mais aprofundadas os ambientes sublitorâneos. Nos

manguezais, apesar de sua grande importância econômica, diversos grupos têm sido

negligenciados. Mesmo espécies de bivalves de grande interesse econômico, precisam de

mais pesquisas para qualificar seu real status taxonômico (BELÚCIO, 1999).

No Brasil existem coleções do filo Mollusca no Museu de Zoologia (Universidade de

São Paulo, SP); no Museu Nacional (Universidade Federal do Rio de Janeiro, RJ); no Museu

Oceanográfico (Fundação Universidade do Rio Grande, RS); no LABOMar (Universidade

Federal do Ceará, CE); Universidade do Estado do Rio Grande do Norte e na Universidade

Federal Rural de Pernambuco (BELÚCIO, 1999).

Os bivalves constituem a segunda grande classe de moluscos, e têm maior importância

econômica, pois além de servirem de alimento, alguns produzem pérolas (STORER et al.,

2003). Existem aproximadamente 20.000 espécies largamente distribuídas nas águas doces e

salgadas, sendo bilateralmente simétricos, com o corpo mole incluído em uma concha rígida

de duas partes, daí a denominação “bivalve” (BARNES; CALOW; OLIVE, 1995). Sua

importância ecológica, além da cadeia trófica, está ligada ao seu hábito cavador, pois

redistribui os sedimentos na área em que se enterram provocando aeração, transporte de

micronutrientes e a turvação da água, assim criando mosaicos de sedimentos dinâmicos

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13

estimulando a microflora e aumentando as taxas de decomposição do meio onde habita

(JONES; LAWTON; SHACHAK, 1994). A partir dessas modificações em seu meio, o

bivalve cavador pode criar ambiente mais favorável a outras espécies e até para outros

bivalves e ao mesmo tempo impor condições inadequadas para outras espécies que

compartilham de seu habitat (JONES; LAWTON; SHACHAK, 1997).

No Brasil, muitas espécies de bivalves presentes em áreas intermareais são

comestíveis e têm sido amplamente coletadas em várias regiões do país. Muitas vezes esses

moluscos garantem a segurança alimentar das populações litorâneas e geram renda pela venda

de sua carne e de artesanatos elaborados com suas conchas (NISHIDA; NORDI; ALVEZ,

2004).

A atividade pesqueira foi determinante para o povoamento do litoral piauiense

(COSTA, 1974). Um exemplo disso é Barra Grande, povoado do município de Cajueiro da

Praia, onde habitantes possuem estreita ligação com o manguezal, utilizando este ecossistema

como recurso pesqueiro e também na exploração do ecoturismo, especialmente pela

observação “in loco” do cavalo-marinho (Hippocampus reidi Ginsburg, 1933) e do peixe-boi

(Trichechus manatus Linnaeus, 1758) (IBAMA, 2010).

Dentre outras espécies coletadas por mulheres na comunidade, conhecidas localmente

como marisqueiras, encontra-se o molusco bivalve Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791)

o marisco, sendo amplamente consumido.

A distribuição geográfica deste bivalve segundo Rios (1994) estende-se das Antilhas

até o Uruguai e Índias Ocidentais. Preferencialmente, habita áreas protegidas da ação de

ondas e de correntes, tanto na faixa entremarés, como no infralitoral raso, onde se enterra

superficialmente no substrato lodoso ou areno-lodoso (BOFFI, 1979; BOEHS;

MAGALHÃES, 2004). Para Nibbaken (2001) o local de maior abundância é a região entre

marés, podendo ser encontrado em uma grande amplitude de salinidades da água, desde

estuários e manguezais, até lagoas hipersalinas (NARCHI, 1976; RIOS, 1994). A espécie é

dióica, porém não apresenta dimorfismo sexual aparente. Somente estudos histológicos

permitem a sexagem dos indivíduos (GROTA; LUNETA, 1980).

De acordo com Bispo, Santana e Carvalho (2004a); Nishida, Nordi e Alvez (2004) e

Boehs, Absher e Cruz-Kaled (2008), esta espécie possui grande importância socioeconômica,

sendo comercializada em diferentes escalas ao longo da costa brasileira, principalmente pelas

comunidades litorâneas.

Segundo Nishida, Nordi e Alvez (2004) a maioria dos trabalhos realizados com

comunidades pesqueiras artesanais tem abordado o extrativismo de peixes, sendo escassos

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14

aqueles que contemplam a atividade de catação de moluscos e, mesmo assim, esses fornecem

apenas informações superficiais sobre esse segmento da pesca.

No Brasil, a pesca artesanal sofre de uma carência generalizada de informações

biológicas, e especialmente, sócio-econômicas. Apesar de possuir elevada importância

ecológica, social e ambiental, não existem pesquisas sobre o etnoconhecimento e o perfil

socioeconômico das pessoas que coletam esse bivalve no litoral do Piauí, assim como o

rendimento e composição química de sua carne, sendo essas informações importantes para o

manejo e incremento da atividade de pesca deste bivalve na região. O conhecimento sobre os

elementos bióticos e abióticos que compõem os diversos ecossistemas é fundamental para a

correta utilização dos recursos vivos marinhos bem como, as ações antrópicas que os

modificam. Somente dessa forma, será possível chegar ao manejo sustentável desses recursos

(DIAS-NETO; DORNELLES, 1996).

O presente trabalho objetivou realizar o estudo sobre o conhecimento etnobiológico

das marisqueiras acerca do molusco bivalve A.brasiliana, obter informações do perfil

socioeconômico e percepção ambiental do contexto em que ocorre a atividade de coleta na

comunidade de Barra Grande, município de Cajueiro da Praia/PI, assim como a obtenção de

dados sobre a composição química e rendimento de carne da espécie.

A dissertação encontra-se estruturada da seguinte forma: na primeira parte segue

introdução, revisão bibliográfica, histórico da comunidade e referências. Os artigos científicos

elaborados conforme as normas das revistas de publicação estão na segunda parte da

dissertação, finalizando estão a conclusão geral, apêndices e anexos.

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15

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Estuários a as Etnociências

De acordo com Shaeffer-Novelli (1995), as zonas de estuários são caracterizadas pelo

depósito de sedimentos e de matéria orgânica provocados por inundações periódicas da maré.

Este sistema pode ser dividido em dois subsistemas, o infralitoral, com substrato geralmente

areno-lodoso e que se encontra permanentemente submerso, e o intermareal, com substrato

periodicamente exposto ao ar e inundado pelas marés. Na zona infralitoral estão presentes

algas azuis, verdes, pardas e vermelhas, enquanto que na zona intermareal ocorre vegetação

herbácea, com espécies perenes, que apresentam adaptações anatômicas, fisiológicas e

bioquímicas, que exercem importante papel na estabilização do substrato. Alguns organismos

do estuário estão especialmente adaptados para resistir às constantes variações de salinidade.

De acordo com Whitfield (1999), os organismos devem sobreviver a níveis de salinidade de 0

ppm (partes por mil) na água doce e a 36 ppm na água tropical dos oceanos. A fauna estuarina

é composta por espécies de caranguejos, moluscos, insetos, aranhas, pequenos roedores e aves

aquáticas.

Belúcio (1999) aponta que quase metade da área estuarina do Brasil está localizada

nos estados do Piauí, Maranhão, Pará e Amapá, sendo os estuários, lagoas costeiras e

manguezais abundantes desde o Piauí, no Delta do Parnaíba, até a divisa da Bahia com o

Espírito Santo.

Schaeffer-Noveli (1999) cita que a fauna estuarina representa uma importante fonte de

alimentos com alto valor nutricional para populações humanas ribeirinhas e costeiras como os

pescadores artesanais. Essas populações se adaptaram a esse nicho ecológico específico pela

transmissão de saberes e práticas consolidadas por gerações sobre os ciclos naturais,

reprodução, migração de fauna, influência das variantes ambientais nas atividades de pesca

sendo justamente esses saberes e práticas que reproduzem o seu modo de vida e asseguram o

manejo sustentável dos recursos naturais visando a conservação.

Diegues (2000) aponta os pescadores artesanais, os caiçaras, os sitiantes e roceiros

tradicionais, as comunidades quilombolas, ribeirinhas e os grupos extrativistas, como um

segmento da população nacional que desenvolveram modos particulares de existência,

adaptando-se a nichos ecológicos específicos e, podendo ser classificados como populações

tradicionais, caracterizando-se por:

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a) Uma relação de simbiose entre a natureza, os ciclos naturais e os recursos naturais

renováveis com os quais se constrói um modo de vida; b) pelo conhecimento

aprofundado da natureza e de seus ciclos que se reflete na elaboração de estratégias

de uso e de manejo dos recursos naturais, sendo esse conhecimento transferido por

oralidade de geração em geração; c) pela noção de território ou espaço onde o grupo

social se reproduz econômica e socialmente; d) pela moradia e ocupação desse

território por várias gerações, ainda que alguns membros individuais possam ter se

deslocado para os centros urbanos e voltado para a terra de seus antepassados; e)

pela importância das atividades de subsistência, ainda que a produção de

mercadorias possa estar mais ou menos desenvolvida, o que implica uma relação

com o mercado; f) pela reduzida acumulação de capital; g) pela importância dada à

unidade familiar, doméstica ou comunal e às relações de parentesco ou compadrio

para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais; h) pela importância

das simbologias, mitos e rituais associados à caça, à pesca e as atividades

extrativistas; i) pela tecnologia utilizada que é relativamente simples, de impacto

limitado sobre o meio ambiente, havendo uma reduzida divisão técnica e social do

trabalho, sobressaindo o artesanal, cujo produtor (e sua família) dominam o processo

de trabalho até o produto final; j) pelo fraco poder político, que em geral reside com

os grupos de poder dos centros urbanos e l) pela auto-identificação ou identificação

pelos outros de se pertencer a uma cultura distinta das outras (DIEGUES, 2000, p.

27).

Diegues (2001) distingue dois tipos de populações tradicionais: a indígena e a não-

indígena. Apesar destes dois conjuntos compartilharem características comuns, no que diz

respeito ao conhecimento sobre a biodiversidade, a indígena se particulariza por possuir uma

história sociocultural anterior e distinta da sociedade nacional, além da linguagem própria.

Em outro estudo, Diegues (2004) destaca que a Etnociência parte da linguística para

estudar o conhecimento tradicional dessas populações, identificando a lógica oculta ao

conhecimento humano do mundo natural, suas taxonomias e classificações.

Para Haverroth (1997) quando o meio científico utiliza o prefixo ethno seguido de

uma disciplina acadêmica expressa que os pesquisadores estão buscando as percepções locais

dentro desse contexto, como por exemplo, a Etnobiologia.

De acordo com Posey (1987) a Etnobiologia se relaciona com a Ecologia Humana ao

estudar como o homem se adapta a determinados ambientes abordando o misticismo

desenvolvido por eles enfatizando as categorias e conceitos cognitivos utilizados pelos povos

em estudo. Begossi (1993) e Diegues (2000) assinalam que a Etnobiologia busca abranger os

processos de influência mútua das populações humanas com os recursos naturais, com

destaque à percepção, conhecimento e usos incluindo o manejo de recursos, contribuindo para

esclarecer diferenças culturais e analisa a diversidade ou heterogeneidade cultural. Para

Santos-Fita e Costa-Neto (2007) as ferramentas de que a Etnobiologia dispõe pertencem a

diferentes campos científicos como a Antropologia, Sociologia, Zoologia, etc.

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Para Berkes et al. (1998) o conhecimento tradicional pode complementar o científico

com a experiência prática adquirida pelos povos tradicionais. Um exemplo disso são as

pesquisas que fazem uso das etnociências para estudar os saberes das populações tradicionais

que sobrevivem ou complementam a sua renda com a coleta de bivalves esse tipo de pesquisa

vem sendo desenvolvida ao longo do litoral nordestino.

Nishida, Nordi e Alvez (2004) e Souto e Martinz (2009) apresentaram a abordagem

etnoecológica da coleta de moluscos demonstrando que o conhecimento adquirido pelas

marisqueiras, são, por vezes, compatíveis com o conhecimento biológico acadêmico.

Alves (2006) analisou o zooartesanato comercializado em Recife/PE, e relatou que a

A. brasiliana foi a espécie mais utilizada, com 50.771 valvas encontradas em várias peças

utilitárias e figurativas e que a produção artesanal é a única ou a principal fonte de renda para

essas famílias. A origem da matéria-prima se dá por meio de compra diretamente aos

pescadores, aquisição nos mercados públicos, ou através de coleta pessoais.

Martins e Souto (2006) realizaram uma análise biométrica de bivalves coletados por

marisqueiras em um manguezal da Bahia, concluindo que a não captura de indivíduos

pequenos possui um cunho ecológico (para deixá-los crescer e reproduzir) e econômico (por

não oferecerem um melhor rendimento e os indivíduos maiores é uma exigência do mercado).

Outro fator que pode trazer consequências conservacionistas positivas é a quantidade de

marisco coletado ser limitado pelo peso que cada marisqueira consegue carregar.

Costa Neto (2006) através de uma revisão de literatura discutiu a importância clínico-

farmacológica dos moluscos nas práticas e crenças médicas tradicionais. No estado de

Pernambuco, entre outros, em sua revisão foram catalogados três espécies de bivalves:

Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791), Iphigenia brasiliana (Lamarck, 1818) e

Crassostrea rhizophorae (Guilding, 1828) utilizadas para fins medicinais entre pescadores e

marisqueiras por se acreditar que tivesse ação cicatrizante, coagulante, fortificante e

afrodisíaca.

Dias, Rosa e Damasceno (2007) e Nishida (2008) caracterizaram o perfil

socioeconômico dos catadores de moluscos do litoral do Rio Grande do Norte e da Paraíba

respectivamente, relatando que essa classe possui condições de trabalho precárias e que para a

melhoria da qualidade de vida esse quadro deve ser revertido. Dias, Rosa e Damasceno (2007)

acreditam que para haver esse desenvolvimento algumas medidas devem ser implantadas

como, por exemplo: melhoria nas condições de trabalho no mangue, melhoria nas condições

de processamento do marisco, beneficiamento e agregação de valor ao produto, e

principalmente, viabilização de mercado consumidor garantido. Nishida, Nordi e Alves

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(2008) ainda destacam que apesar da necessidade de mais estudos sobre a biologia dos

moluscos e sua dinâmica populacional no litoral paraibano é de conhecimentos dos catadores

e de intermediários, que os estoques vêm diminuindo ao longo dos anos.

A mariscagem no período observado por El-Deir (2009) foi desenvolvida

predominantemente por homens com poucos equipamentos, baixa escolaridade e que

desenvolviam uma segunda atividade. Os marisqueiros apresentaram profundo conhecimento

da ecologia e dinâmica dos bancos de areia, porém não possuiam uma percepção do impacto

causado pela mariscagem. Apesar de quando analisada a visão histórica dos marisqueiros

sobre o assunto esses relatam que o estoque de A.brasiliana está diminuindo, tanto de

tamanho, quanto na abundância.

Souza (2010) na Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba/PI investigou o

conhecimento etnobotânico e etnozoológico das comunidades pesqueiras do povoado de

Barra grande e do Morro da Mariana. No que tange ao conhecimento etnozoológico foram

registradas 141 espécies, distribuídas em 10 Classes, sendo as mais representativas em

número de espécies, Pisces (65) e Aves (22). As categorias de uso com maior número de

citações de uso de animais foram alimentícias (62% em Barra Grande e 57% no Morro da

Mariana) e medicinais (13% e 15%, respectivamente). As demais foram representadas por

menos de 10% das citações. A maioria dos animais é útil para alguns pescadores, sendo que

em Barra Grande a ostra (Crassostrea rhizophorae Guilding, 1828) e em Morro da Mariana o

jacaré (Caiman crocodilus Linnaeus, 1758) foram as espécies com maior potencial de uso.

Através do uso desses conhecimentos aliados a ciência acadêmica, pode-se obter

informações acerca de heterogeneidade biológica e processos cognitivos envolvidos no

manejo e conservação dos recursos, técnicas de coleta e seu impacto sobre as diferentes

populações animais e demais informações almejadas que forneçam subsídios aos planos de

manejo para cada área a ser conservada.

2.2 Qualidade nutricional dos pescados

De acordo com Baruffaldi e Oliveira (1998) o pescado engloba os animais que vivem

na água doce ou salgada e que servem para a alimentação humana como os peixes, crustáceos,

moluscos, quelônios, anfíbios e alguns mamíferos. Santos (2006) cita ainda que o pescado

possui características nutricionais específicas que traz benefício à saúde humana, sendo rico

em proteínas de alta qualidade e de rápida digestibilidade; rico em aminoácidos essenciais

como a lisina; importante fonte de vitamina A e D, micronutrientes que geralmente não são

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encontrados em alimentos básicos. Também contêm tiamina e riboflavina; fonte de ferro,

fósforo e cálcio, sendo o pescado marinho fonte de iodo, contendo, ainda, ácidos graxos

necessários ao desenvolvimento do cérebro e do corpo humano.

Pigott e Tucker (1987) descrevem que os lipídeos de alimentos marinhos possuem

baixa quantidade total de óleo saturado (que favorecem a formação do colesterol do tipo

LDL), variando sua concentração de 11 a 17%, possuindo a presença de ácidos graxos

poliinsaturados, principalmente os da família ômega-3, aos quais são atribuídos benefícios ao

organismo humano.

De acordo com Hart e Fisher (1971) e Stansby (1973) o músculo da maioria dos

pescados possui de 64 a 90% de umidade, de 8 a 23% de proteína, 1 a 2% de cinzas, 0,5 a

25% de gorduras e em carboidratos, menos que 1%. Badolato et al. (1994) ressaltam que a

carne do pescado apresenta a mesma proporção de protídeos que a carne bovina, suína e de

aves, porém de qualidade superior, pois contém menos teor de tecido conjuntivo, constituídos

de protídeos de baixa qualidade, do que os outros mencionados.

Para Jay (1996) a diferença mais marcante no tocante a composição química de

espécies de peixes, crustáceos, e a composição química de bivalves é o conteúdo de

carboidrato, sendo esse insignificante para a maioria do pescado, mas para determinados

moluscos bivalves, a sua reserva de energia é em forma de glicogênio, o que contribui para o

seu sabor adocicado. Enquanto alguns crustáceos como lagostas contêm teor de glicogênio

inferior a 1%, vieiras, mexilhões, ostras e caramujos contêm de 3 a 5% ou mais.

Como ressaltam Mustafa e Medeiros (1985), Belda e Pourchet-Campo (1991) e

Marchini et al. (1993) a composição química dos alimentos é muito importante para subsidiar

a determinação de dietas adequadas para certos grupos populacionais, assim como para

biólogos pesqueiros e cientistas que trabalhem com alimentos, para auxiliar na formulação de

dietas, classificação nutricional, processamento e conservação do pescado, pesquisas

ecológicas sobre populações exploradas e para a aquicultura.

Ogawa e Maia (1999) citam que a água é o principal componente do pescado,

constituindo de 60 a 85% da composição química dos mesmos. Os lipídeos e a água possuem

seus teores inversamente proporcionais, quando o pescado é rico em lipídeo, a umidade é

baixa, sendo que a soma desses componentes varia em torno de 80%. Salientam, ainda, que a

sua composição química varia intensamente de uma espécie para outra ou dentro de uma

mesma espécie. Tais variações estão relacionadas à época do ano e local em que foi

capturado, idade, sexo, hábito alimentar, disponibilidade de alimento, assim como o

processamento e o manuseio de sua carne durante o beneficiamento.

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A composição química, rendimento e o beneficiamento do marisco bivalve

Anomalocardia brasiliana tem sido fonte de estudos em diversas regiões do Brasil, como

descrito a seguir:

Pedrosa e Cozzolino (2001) analisaram a composição centesimal e os teores de zinco,

cobre e ferro de cinco tipos de pescado crus e cozidos: camarão (Penaeus brasiliensis

Latreille, 1817), caranguejo (Ucides cordatus, Linnaeus, 1763), lagosta (Panulirus argus

Latreille, 1804), ostra (Crassostrea rhizophorae Guilding, 1828) e marisco (Anomalocardia

brasiliana Gmelin, 1791), crus e cozidos, provenientes da cidade de Natal/RN. Os crustáceos

e moluscos foram considerados fontes expressivas de proteínas e minerais, enquanto as

quantidades de lipídeos e calorias foram baixas. Após a cocção foi observado que os teores de

proteína e cinzas na maioria das amostras aumentaram significativamente. A ostra possuiu a

maior fonte de zinco dentre as espécies estudadas. Os maiores teores de ferro e cobre foram

verificados em A.brasiliana e na ostra. A cocção provocou perdas de 50% de cobre em

A.brasiliana e praticamente não alterou as concentrações do referido nutriente no caranguejo.

Bispo (2004a) estudou as condições de aproveitamento industrial do marisco na

produção de linguiça. No processo, sua carne foi acidificada (25g do marisco em 30 ml de

vinagre a 4% por 15 minutos) depois lavada, triturada, homogeneizada e embutida em tripas

naturais. O processamento aplicado forneceu ao produto, apreciável aceitabilidade e

conveniente estabilidade durante 90 dias, quando armazenado a temperatura de -18°C.

Bispo, Santana e Carvalho (2004b) para ampliar a comercialização deste molusco

desenvolveram um processo de obtenção de marinado, envolvendo acidificação do produto

com vinagre (pH<4,5) e tratamento térmico convencional (banho-maria) durante 30 minutos.

O Índice de Aceitabilidade foi de 78-82%, em relação à aparência, cor, aroma, sabor e textura.

Sob os pontos de vista microbiológico, físico- químico, químico e sensorial, a preparação

manteve-se estável durante 240 dias de armazenamento, a temperatura ambiente. O processo

proposto atende a possibilidade de um melhor aproveitamento comercial.

Lira (2004) objetivou caracterizar o perfil de ácidos graxos, a composição centesimal e

o valor calórico de moluscos crus e cozidos (ao molho de coco) provenientes de Maceió/AL.

Analisaram as espécies: sururu (Mytella falcata Orbigny, 1846), marisco (A. brasiliana

Gmelin, 1791) e unha-de-velho (Tagelus plebeus Ligthfoot, 1786). Os moluscos “in natura”

apresentaram elevados teores de umidade e proteínas. Os maiores teores de lipídeos e cinzas

foram encontrados no sururu e marisco, respectivamente. O sururu apresentou maior valor

calórico. Em base seca, detectaram que a cocção provocou redução significativa nos teores de

proteínas e aumento significativo nos teores de lipídeos e cinzas em todos os moluscos. O

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maior valor calórico foi detectado em unha-de-velho cozida. No perfil de ácidos graxos de

todas as amostras cruas, os poliinsaturados predominantes foram o docosaexaenóico e

eicosapentaenóico. Também foram encontrados os ácidos linoléico, linolênico e araquidônico.

Após o cozimento, os teores dos ácidos graxos saturados láurico e mirístico aumentaram

significativamente e o esteárico apresentou redução significativa em relação aos valores “in

natura” em todas as espécies. O ácido linoléico sofreu redução significativa em unha-de-

velho e no marisco. Os poliinsaturados linolênico, araquidônico, eicosapentanóico e

docosaexaenóico apresentaram redução em todos os moluscos.

Vincenzia, Barrera-Arellano e Tramonte (2009) determinaram a composição lipídica

do marisco A. brasiliana “in natura” e cozido, coletados na Reserva Extrativista Marinha do

Pirajubaé, Florianópolis/SC, no outono e primavera. Os resultados mostraram que a espécie

apresenta baixos teores de ácidos graxos saturados e colesterol, indicando que pode ser

ingerido diariamente em uma dieta saudável.

2.3 Biologia, distribuição e abundância de Anomalocardia brasiliana

Em relação a esse molusco bivalve estudos foram executados sobre sua biologia,

distribuição, ecologia e fatores abióticos que determinam sua densidade na zona faunística.

Mouëza, Gros e Frenkiel (1999) estudaram o desenvolvimento larval e pós-larval da

espécie em Guadalupe, na região Caribenha e relataram que a espécie possui um pequeno

estágio larval, de 11 a 30 dias, comparado a outras espécies e uma boa taxa de sobrevivência

larval e pós-larval. Dado que pode estar relacionado ao fato de que a espécie não necessita de

um substrato específico para sua metamorfose e a mesma não é demorada fato que leva as

altas mortalidades de outras espécies.

Boehs e Magalhães (2004) pesquisaram os simbiontes associados a espécie na ilha de

Santa Catarina/SC, partindo das premissas de Anderson e May (1978) para classificar um

organismo como parasito (habitar, depender nutricionalmente e causar danos ao hospedeiro).

Dentre os organismos observados em associação simbiótica com a espécie consideraram

apenas os platelmintos como casos seguros de parasitismo.

Paiva, Coelho e Torres (2004) relataram que na zona entre marés no canal de Santa

Cruz/PE, encontraram espécimes em estágio juvenil com maior abundância e densidade, nas

áreas com ação direta das ondas com predominância de grãos de areia média no sedimento.

Comentaram que essa área provavelmente apresenta condições favoráveis para o

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desenvolvimento como um “berçário”, pois concluíram que o tipo de sedimento e a salinidade

foram os fatores abióticos mais importantes na estruturação da macrofauna.

Araújo e Rocha-Barreira (2004) encontraram em Fortim/CE, um padrão de

distribuição espacial bem característico, com os juvenis concentrados em áreas com

sedimento fino e mais úmido e os adultos mais frequentes nos bancos arenosos, com

sedimentos mais grosseiros. Relacionaram a distribuição aos fatores: (a) padrão de circulação

da água, que movimenta o sedimento grosseiro (bancos arenosos) e (b) áreas de deposição de

sedimento fino e bastante úmido, mesmo durante a maré baixa, com menor turbulência e

acumulação de matéria orgânica. Comentam, ainda, que a diferenciação sexual ocorreu nessa

população em organismos medindo de 12,9 a 17,9 mm de comprimento e com ciclo de

reprodução contínuo.

Santos, Feres e Lopes (2007) em sua prospecção por bivalves na praia de Panaquatira,

ilha de São Luis/MA, constataram que a Família Veneridae e Tellinidae foram as mais

representativas, pois possuíam uma grande diversidade de espécies adaptadas a viver em

diferentes habitats, como ambientes arenosos, lamosos, entremarés e de fundo. Os venerídeos

foram compostos em maioria por A.brasiliana, espécie suspensívora, que vive

superficialmente enterrada em águas rasas formando bancos com outros de sua espécie.

Moreira (2007) estudou os impactos do extrativismo da espécie nos estuários dos rios

Paciência e Cururuca em São Luis/MA, e concluiu que apesar do extrativismo ser

descontrolado, os bancos de A.brasiliana estão suportando os impactos antropogênicos, pois o

tamanho de coleta desses moluscos estão acima do limite mínimo aceitável (20 mm de

comprimento de concha).

Boehs, Absher e Cruz-Kaled (2008) verificaram que na Baía de Paranaguá/PR, a

densidade populacional de A. brasiliana é controlada, em grande parte pelas altas densidades

populacionais e competição intraespecífica, que provavelmente são fatores limitantes para

essa espécie hidrodinâmica e as características texturais dos sedimentos já que o molusco não

se encontra presente nas áreas mais internas da baía. Outra causa apontada para a redução de

densidade é o incremento de precipitação pluviométrica, o que pode causar choque osmótico

na população levando a mortalidade. Os autores citam que a espécie apresenta reprodução

contínua no litoral paranaense, com dois picos reprodutivos, um na primavera (setembro-

outubro) e outro no outono (março-maio).

El-Deir (2009) verificou que a A. brasiliana esteve presente desde o infra-litoral em

locais com até 1mm de lâmina d‟água em maré de sizígia e em sedimento arenoso e areno-

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lodoso, enterrados até 18 cm. Constatou, também, que a abundância do marisco e o

comprimento de concha apresentam uma relação inversa.

Oliveira (2010) verificou que no litoral norte do estado de Pernambuco, os indivíduos

da espécie A.brasiliana apresentam uma distribuição espacial característica, com uma maior

abundância de juvenis no período de verão, enquanto que os adultos são mais abundantes no

período de inverno. As estações inverno e verão têm grande influência na abundância da

espécie, com maior quantidade de animais em tamanho recomendado para pesca no período

do inverno.

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3 HISTÓRICO SOBRE A COMUNIDADE DE BARRA GRANDE

A atividade pesqueira foi determinante para a ocupação da comunidade de Barra

Grande, sendo sua população constituída em sua maioria de remanescentes de pescadores e

marisqueiras, como são chamadas as mulheres dos pescadores que coletam mariscos para a

subsistência de sua família ou para a venda.

Essa comunidade possui uma grande relação com o estuário, pois além de prover

alimento para a população, seus braços de rio são utilizados para o turismo, no qual o visitante

tem a chance de ver cavalos marinhos em seu habitat. Outro nicho ecológico utilizado como

fonte de alimento são os recifes que ficam descobertos pela maré baixa servindo de abrigo

para moluscos, crustáceos, peixes e outros animais.

De acordo com o relato de moradores antigos, o litoral que corresponde hoje ao estado

do Piauí era ocupado pelas populações indígenas do grupo denominado Tremembés, até a

chegada dos primeiros europeus no alvorecer do século XVI. Toda esta região foi

devidamente mapeada pelas diversas expedições ocorridas no primeiro século da colonização,

considerando-se tratar de uma rota de tráfego entre São Luis do Maranhão e as capitanias do

Ceará e Pernambuco. Neste período, a citada região pertencia à capitania do Maranhão. A

futura capitania do Piauí só viria a ser criada em 1761 através de uma carta Régia que

determinava a sua autonomia e sua área territorial (COSTA, 1974).

Na metade do século XIX, a região foi motivo de conflito entre os estados do Piauí e

Ceará que reivindicavam sua posse, até que no ano de 1880 o Piauí assumiu definitivamente

os direitos sobre a área mediante a cessão de outra localizada na região da Serra da Ibiapaba,

hoje município de Crateús (COSTA, 1974).

Até o ano de 1935, o município chamava-se Amarração, quando foi mudado para Luís

Correia, do qual foi posteriormente desmembrado o território que hoje corresponde ao

município de Cajueiro da Praia. O processo de ocupação histórica deste município originou-se

com os pequenos povoados de pescadores que praticavam a pesca artesanal e posteriormente

passaram também a utilizar pequenas embarcações motorizadas, como também dos pequenos

aglomerados rurais formados por agricultores e pecuaristas que utilizavam mão de obra

familiar (MAVIGNIER; MOREIRA, 2007).

No início da década de 1980, ocorreram as primeiras mudanças no padrão de uso e

ocupação no espaço tradicional mantido pelas pequenas comunidades de pescadores e

agricultores de subsistência nesta região costeira. Foi quando surgiram as primeiras fazendas

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de criatório de camarão implantadas nas áreas de “salgado”, cujo aproveitamento econômico

até então era mantido pela atividade salineira. Outro fator de mudanças importantes foi o

começo da atividade turística, com as pessoas que se aventuravam pelas estradas de terra para

“descobrir” aquelas praias desertas onde o maior atrativo era a natureza e a vida simples das

comunidades de pescadores, principalmente a comunidade de Barra Grande e o povoado de

Barrinha. Nestes últimos anos o município de Cajueiro da Praia vem se tornando um ponto de

atração para investimentos nas atividades econômicas da carcinicultura e do turismo,

impulsionados pela pavimentação das rodovias de acesso, assim como pela ampliação do

sistema de energia elétrica, e implantação de infra estrutura urbana (FLOAGRO, 2003).

Na busca de consolidar a atividade turística gerando o menor impacto possível para a

comunidade e o meio ambiente já foram realizadas pesquisas na área do turismo nesse

povoado e região: Costa (2006) realizou a abordagem do turismo de Barra Grande através do

desenvolvimento local sustentável e Carvalho (2010) que identificou as limitações e

possibilidades do desenvolvimento sustentável do turismo em Cajueiro da Praia.

Outras pesquisas também foram realizadas na comunidade e em seu entorno:

Baptista (2004) realizou a caracterização e avaliou a importância ecológica e

econômica dos recifes da zona costeira do estado do Piauí elucidando que de forma geral, os

animais são utilizados para consumo próprio como suplemento alimentar, não havendo

nenhuma referência ao uso das algas, embora estas tenham comprovadamente uma

significativa expressão econômica por permitirem os mais diversos usos.

Araripe (2005) analisou a gestão ambiental da carcinicultura através do estudo de caso

da Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba e uma de suas conclusões é a formação

de um cluster que atue em todos os municípios que compõem a APA, envolvendo as

atividades de aquicultura e pesca extrativa.

Souza (2010) investigou na Área de Proteção Ambiental do Delta do Parnaíba/PI, o

conhecimento etnobotânico e etnozoológico das comunidades pesqueiras de Barra Grande e

do Morro da Mariana. Destacando o conhecimento êmico sobre recursos pesqueiros e

botânicos de suas regiões.

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De acordo com a afirmativa, foi solicitado a um pescador residente na comunidade que

ilustrasse os recursos pesqueiros mais utilizados, suas respectivas localizações e períodos de

maior abundância em Barra Grande, juntamente com o auxílio de outros pescadores (Figura

1).

Figura 1. Ilustração dos recursos pesqueiros mais utilizados e sua localização no entorno da comunidade de

Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI.

Elaboração: SANTOS (2010).

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Com tal ilustração podemos perceber que a comunidade usufrui amplamente de

crustáceos, moluscos e peixes oferecidos pelo mar e manguezal. No Quadro 1 estão descritos

os nomes científicos para os recursos em questão e épocas de maiores abundância. Vale

ressaltar que as marisqueiras e pescadores de Barra grande relacionam os períodos de verão e

inverno à pluviosidade, sendo o inverno a época chuvosa e verão a época de seca.

Quadro 1. Nomes populares e científicos dos recursos pesqueiros mais utilizados em BG com

os respectivos períodos de maior abundância, na comunidade de Barra Grande, Cajueiro da

Praia/PI em 2010.

Nome Popular Nome Científico Períodos de maior abundância

Marisco Anomalocardia brasiliana Gmelin,

1791 Verão

Sururu Mytella SP Verão

Tarioba Iphigenia brasiliana Lamarck, 1818 verão/inverno

Muelinha Neritina virginea Linnaeus, 1758 verão/inverno

Pixixi Thais SP verão/inverno

Siri Callinectes sp verão/inverno

Lagosta Panulirus argus Latreille, 1804 Verão

Carapeba Diapterus auratus Ranzani, 1842 verão/inverno

Saúna Mugil liza Valenciennes, 1836 verão/inverno

Judeu Menticirrhus americanus Linnaeus,

1758 verão/inverno

Cavalo

Marinho Hippocampus reidi Ginsburg, 1933 verão/inverno

Ostra Crassostrea rhizophorae Guilding,

1828 Verão

Não obstante, como comentado ao longo desse histórico, a comunidade de Barra

Grande vem mostrando que possui um rico contexto socioeconômico e cultural para região

sendo alvo de pesquisas em diferentes áreas do conhecimento e investimentos.

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MARISCAGEM E CONHECIMENTO TRADICIONAL NA COMUNIDADE DE

BARRA GRANDE, ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL DO DELTA DO RIO

PARNAÍBA, PIAUÍ, BRASIL

Resumo: Neste estudo foram coletados dados sobre a atividade de mariscagem, conceito de

conservação e aspectos socioeconômicos das marisqueiras, mulheres que coletam moluscos,

da comunidade de Barra Grande, litoral do Piauí, visando compreender a percepção ambiental

destas mulheres.

Palavras-chave: Anomalocardia brasiliana, Percepção Ambiental, Marisqueiras.

Abstract: In this study were collected data about the activity of shellfish catching, the

concept of conservation and socioeconomic aspects of the “marisqueiras”, women who collect

shellfish, from the village of Barra Grande, coast of Piauí, to understand the environmental

perception of these women.

Keywords: Anomalocardia brasiliana, Environmental Perception, Marisqueiras.

1. Introdução

A atividade pesqueira foi determinante para o povoamento do litoral piauiense. Um

exemplo é Barra Grande, comunidade do município de Cajueiro da Praia (COSTA, 1974).

Seus habitantes possuem estreita ligação com o manguezal, utilizando-o como área de captura

de recursos pesqueiros e também na exploração do ecoturismo, especialmente, pela

observação “in loco” do cavalo-marinho (Hippocampus reidi Ginsburg, 1933) e do peixe-boi

(Trichechus manatus Linnaeus, 1758) (IBAMA, 2010).

Os manguezais possuem papel de grande importância ecológica na ciclagem de

nutrientes e matéria orgânica dos ecossistemas adjacentes. Além disso, possuem importância

econômica fornecendo às populações ribeirinhas e litorâneas sustento, por meio da coleta de

animais como peixes, moluscos e crustáceos (SCHAEFFER-NOVELLI, 1995).

Entre os indivíduos que utilizam esses recursos, estão às mulheres de pescadores,

conhecidas localmente como marisqueiras, por coletarem mariscos para a complementação da

renda familiar, e também para subsistência. Schaeffer-Novelli (1989) destaca que a ostra

(Crassostrea rhizophorae Guiding, 1828), sururu (Mytella guyanensis Lamarck, 1819) e

marisco (Anomalocardia brasiliana Gmelin, 1791), estão entre as maiores capturas em áreas

estuarinas e de manguezais do Brasil.

Partindo-se do pressuposto que o povoamento desta comunidade se deu pela atividade

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pesqueira e que a mariscagem, assim como a pesca artesanal, é tradicional no povoado, supõe-

se que as marisqueiras possuam um conhecimento êmico sobre os recursos pesqueiros

explorados por elas, bem como do ecossistema em que esses moluscos habitam.

Estudos demonstram que o conhecimento das populações tradicionais deve ser

considerado na formulação de políticas públicas sobre recursos naturais regionais (VALBO-

JØRGENSEN; POULSEN, 2000; OLSSON; FOLKE, 2001; DREW, 2005; SILVANO;

VALBO-JØRGENSEN, 2008). No Brasil, vários estudos apontam para este fato (COSTA-

NETO, 2006; NISHIDA et al., 2004, 2006; MARTINZ; SOUTO, 2006; MOURÃO; NORDI,

2006; LINHARES et al., 2008; NISHIDA et al., 2008; EL-DEIR, 2009; SOUTO; MARTINZ,

2009).

A utilização de conhecimentos tradicionais de comunidades extrativistas, associados a

dados coletados através de metodologia científica podem auxiliar na elaboração de planos de

manejo e delineamento de programas de apoio à pesca artesanal, dessa forma a presente

pesquisa possui como objetivo a obtenção de informações acerca do perfil socioeconômico,

conhecimento sobre a mariscagem e percepção ambiental, com a finalidade de valorizar o

conhecimento tradicional das marisqueiras.

2. Metodologia

2.1. Área de Estudo

O povoado de Barra Grande situado nas coordenadas (02º55‟40”S e 41º24‟40”W) está

localizado no município de Cajueiro da Praia, parte setentrional do estado do Piauí (Figura 1).

Possui uma faixa de praia com 4 km de extensão, constituindo o limite leste da Área de

Proteção Ambiental (APA) do Delta do Rio Parnaíba. (IBAMA, 2010). Esta unidade de

conservação é da categoria de uso sustentável dos recursos naturais e foi criada pelo Decreto

Federal S/N de 28 de agosto de 1996, sob responsabilidade do Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente dos Recursos Naturais (IBAMA, 2010).

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Figura 1. Localização da comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia, Piauí, Brasil.

Na praia de Barra Grande ocorrem recifes areníticos sobre o supralitoral, apresentando

uma suave inclinação na interface com o continente, os quais mantêm uma intensa presença

de conchas incrustadas, dando às vezes uma coloração esbranquiçada aos mesmos. A

biodiversidade é abundante, com destaque para a ocorrência de algas marinhas em

determinadas épocas do ano, moluscos e crustáceos. Além disso, aves terrestres também são

comuns nas áreas recifais dessa praia em busca de alimentos (BAPTISTA, 2004).

O clima é tropical chuvoso (STRAHLER, 1974), quente e úmido com chuvas de verão

e outono, temperaturas médias de 27°C. Seu período chuvoso ocorre de janeiro a maio e de

estiagem de junho a dezembro com seu índice pluviométrico variando em torno de 1.000 mm

a 1.800 mm (INMET, 2011). Os solos são basicamente de areias quartzosas de origem

marinha e fluvial, tendo nos manguezais solos indiscriminados próprios da área e nos

tabuleiros associação de areias quartzosas, latossolos e podzólicos (CAVALCANTI, 2000).

Localizado próximo a comunidade, encontra-se o estuário do Rio Camurupim. Em seu

mangue abriga várias espécies de crustáceos, peixes, caranguejos, camarões e moluscos.

Servindo também como área de alimentação para espécies em extinção como o guará-

vermelho (Eudocimos ruber, Linnaeus, 1758), o peixe-boi (Trichechus manatus, Linnaeus,

1758) e o cavalo-marinho (Hippocampus reidi, Ginsburg, 1933) (IBAMA, 2010).

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2.2. Coleta e Análises de Dados

Para a coleta de dados, duas reuniões de sensibilização foram realizadas na Colônia de

Pesca da comunidade (Z-6), onde o projeto foi apresentado com ênfase à importância da

participação das marisqueiras na obtenção de informações consoantes a realidade da

comunidade, ocasião em que foi formalizada a autorização institucional para a participação

das marisqueiras colonizadas.

Para a obtenção de informações sobre as formas de compreensão e percepção

ambiental das marisqueiras em relação ao bivalve A. brasiliana (Gmelin, 1791) e sua pesca,

foram selecionadas todas as 63 mulheres cadastradas na Colônia de Pesca (Z-6) e residentes

em Barra Grande. Estas foram entrevistadas com auxílio de questionários estruturados e semi-

estruturados (BERNARD, 1988), contendo perguntas sobre a atividade de mariscagem,

conceitos de conservação e aspectos socioeconômicos para uma melhor compreensão da

percepção ambiental das marisqueiras e do contexto em que ocorre a atividade de cata dos

moluscos. O cálculo para a estimativa da média de extração de mariscos foi baseado a partir

das seguintes perguntas: “quantas vezes você vai ao mangue por mês para coletar?” e “qual a

quantidade em quilos de mariscos coletados por dia de mariscagem?”

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do

Piauí (UFPI) com número de protocolo: 0349.0.045.000-10. Antes de cada entrevista, lia-se o

Termo de Consentimento Livre Esclarecido (TCLE), esclareciam-se possíveis dúvidas sobre o

trabalho e após a compreensão por parte das marisqueira, o mesmo era assinado. As que não

sabiam escrever tiveram sua digital recolhida no termo.

Além das entrevistas, foram realizadas observações diretas do processo de coleta dos

moluscos. Os dados obtidos com os questionários foram tabulados em uma planilha eletrônica

por meio do recurso de tabela dinâmica para uma melhor visualização dos resultados, e

analisados sob a abordagem emicista/eticista, onde é feita uma comparação entre os

conhecimentos tradicionais/êmicos com os obtidos na literatura acadêmica/éticos (FELEPPA,

1986).

3. Resultados e Discussão

3.1. Aspectos socioeconômicos

A idade média das marisqueiras entrevistadas foi de 42 anos, sendo esse exercício

verificado na faixa de 22 a 83 anos. Considerando as faixas etárias, verifica-se uma maior

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participação de marisqueiras na faixa de 31 a 40 anos (30,16%) e de 41 a 50 anos (23,81%)

conforme demonstrado na Figura 2.

A idade média e faixa etária das marisqueiras variam entre outros grupos avaliados no

Brasil. Há participação de indivíduos na faixa de 20 a 60 anos na atividade de coleta de

moluscos, como no caso das marisqueiras do estuário do rio Paraíba do Norte/PB (NISHIDA

et al., 2008), ou em faixas menores, como das marisqueiras na Reserva de Desenvolvimento

Sustentável Ponta do Tubarão/RDSPT, RN, onde a média de idade é de 31,5 anos, tendo as

entrevistadas de 12 a 50 anos (DIAS et al., 2007).

Figura 2. Distribuição segundo freqüência das faixas etárias das marisqueiras pertencentes a

comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia, PI, no ano de 2010.

Aproximadamente 60% das marisqueiras de Barra Grande são nativas do local, sendo

que as demais vieram dos municípios de Cajueiro da Praia, Luís Correia, Parnaíba ou de

outros estados como Maranhão e Ceará.

Quando questionadas se exerciam outra função além da mariscagem, 55% afirmaram

serem somente donas de casa, enquanto que 45% possuíam uma segunda atividade

remunerada vendendo produtos (renda, crochê, cosméticos, peixe, tapioca) ou trabalhando em

restaurantes exercendo atividades como cozinheira, diarista, lavadeira ou em comércios.

A média de idade das entrevistadas que possuem somente a atividade de mariscagem

(44 anos) como forma de remuneração (55% do total), em contraste com e média de idade

revelada para as marisqueiras (38 anos) que possuem outras formas de remuneração (45% do

total), podem evidenciar a carência de alternativas para essas mulheres.

Aproximadamente 40% das marisqueiras afirmaram não possuir carteira de pescador,

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mesmo estando associadas à colônia de pescadores (Z-6). Quando questionadas por que não

possuíam a carteira diziam que existe muita burocracia, questões políticas ou que não

possuíam o dinheiro para o despacho da documentação, geando como conseqüência a

impossibilidade do acesso a benefícios disponibilizado pela colônia.

As primeiras colônias de pescadores foram criadas pela União com o objetivo de

proteger o território nacional (MALDONADO, 1986) e facilitar o cooperativismo entre os

pescadores. Fato que ainda deixa a desejar em Barra Grande, pois a colônia é vista pelas

entrevistadas, somente como coletora de benefícios nos períodos de defeso.

Os dados sobre a formação escolar demonstraram que um percentual de 17,46% é de

marisqueiras não escolarizadas (Tabela 1), se aproximando da porcentagem apresentada por

Linhares et al. (2008) na APA do Delta do rio Parnaíba. Em estudo realizado por Nishida et

al. (2008), o nível de não escolarização atingiu 26,3% dos catadores de moluscos do litoral

paraibano. Relacionando a escolaridade por faixa etária, notou-se que a não escolarização

somente ocorreu entre as mulheres de 51 a 83 anos em Barra Grande. A taxa de marisqueiras

que possuem ensino fundamental completo ou grau de escolaridade superior a isso obteve

47,56% (Tabela 1) das entrevistadas, o que demonstra um potencial para a captação e repasse

de informações que venham a ser disponibilizadas para esse grupo como conservação e

educação ambiental, podendo impactar positivamente em ações futuras relacionadas a

conscientização da comunidade sobre aspectos ambientais.

Tabela 1. Nível de escolaridade das marisqueiras da comunidade de Barra Grande, Cajueiro

da Praia, PI, no ano de 2010.

GRAU DE ESCOLARIDADE PORCENTAGEM (%)

Superior incompleto 1,53

Ensino médio completo 9,52

Ensino médio incompleto 17,46

Ensino fundamental completo 19,05

Ensino fundamental incompleto 34,92

Não escolarizadas 17,46

Em relação à natalidade, a média de filhos por marisqueira foi de quatro, variando de

nenhum até 12 filhos. Dados semelhantes foram apresentados por Linhares et al. (2008) na

APA do Delta do Rio Parnaíba para catadores de caranguejo, em que apenas diferiu na

variação de filhos, de nenhum a nove. Dias et al. (2007) na Reserva de Desenvolvimento

Sustentável Ponta do Tubarão (RDSPT)/RN encontrou uma média de 2,69 filhos por

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marisqueiras, variando de nenhum a oito filhos. Esse panorama demonstra falta de políticas

públicas na área de planejamento familiar para essas comunidades.

Sobre a situação conjugal das marisqueiras foi observado que o casamento é

predominante (44,44%), 28,57% moram junto e 12,70% são solteiras, havendo casos de

desquite (6,35%) ou viuvez (7,93%).

Quanto às residências observou-se que 84% são de alvenaria, enquanto que 16% são

de taipa (casa que utiliza alicerce de madeira e é recoberta de barro). No piso da casa, 79%

utilizaram cimento batido, 13% cerâmica e 8% possuem o piso de barro. A cobertura da casa

de 100% das entrevistadas é de telha de cerâmica. A água encanada é usufruída por 86% do

total e 14% utilizam poços para o abastecimento doméstico de água. Apenas 1,59% não

possuem energia elétrica disponível em casa, 77,78% afirmam terem fossa séptica negra, não

existindo a impermeabilização do solo e laterais nas construções das fossas, 15,87% possuem

fossa séptica e 6,35% não possuem nenhum tipo de fossa. Quanto ao destino do lixo 73,02%

possuem coleta pública, 19,05% deixam seu lixo a céu aberto, 4,76% queimam e 3,17%

enterram o lixo doméstico (Figura 3).

Figura 3. Dados socioeconômicos das marisqueiras da comunidade de Barra Grande,

Cajueiro da Praia, PI, no ano de 2010: A. Material utilizado para construções de casas; B.

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Material utilizado para cobertura do piso; C. Serviço de abastecimento de água nas

residências; D. Destino do lixo produzido nas residências.

Em aspectos habitacionais, observaram-se carências em determinados serviços

públicos, contudo, a comunidade possui condições básicas de moradia, se comparado com o

observado por Dias et al. (2007) na comunidade Diogo Lopes e Sertãozinho, as margens do

rio Tubarão, na RDSPT/RN onde, 43,75% das casas são feitas de taipa e 56,25% de alvenaria.

3.2. Mariscagem

A mariscagem se inicia ainda quando criança, por volta dos oito aos doze anos, sendo

uma atividade familiar, onde 40,20% das mulheres levam seus filhos para ajudar na coleta de

mariscos, 33,33% são acompanhadas pelo marido e as restantes praticam a coleta com primos,

pai, mãe, tios, sogra, irmãos e vizinhos. Conforme o avanço da idade os anos da prática na

mariscagem aumenta (Tabela 2). O tempo médio verificado para todas as entrevistadas em

anos na atividade da mariscagem foi de 20,22 anos, variando de 2 a 50 anos, média superior

ao encontrado por Dias et al. (2007) que observaram média de 11,5 anos de mariscagem,

variando de 1 a 30 anos.

Tabela 2. Tempo de mariscagem por faixa etária das marisqueiras da comunidade de Barra

Grande, Cajueiro da Praia, PI, no ano de 2010.

Faixa etária (anos) Média por ano de mariscagem

(DP)* N

Jovens (18-29) 10,1(+5,9) 10

Adultos (30-59) 24,72 (+12,1) 46

Idosos (60 ou mais) 41,14 (+9,4) 7

*Desvio padrão

A mariscagem é considerada uma atividade rudimentar, pois não necessita de

tecnologia para sua execução. Em Barra Grande, as marisqueiras utilizam apenas as mãos

para cavar e retirar os moluscos do sedimento. Para se proteger contra o sol, 61,91% das

marisqueiras utiliza camisa de manga comprida e boné, ao passo que 38,09% não utilizam

nada como forma de proteção contra a radiação solar, fator de grande risco nessa atividade

que pode culminar em doenças graves na pele.

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O transporte utilizado no exercício da mariscagem por 31,74% das mulheres é a

carroça, seguida da canoa por 20,65% das mulheres, o restante (47,61%) não utiliza condução

indo a pé para os pontos de coleta. Ainda relativo às marisqueiras que usam condução para

facilitar seu trabalho, 53,12% afirmam alugar a carroça ou a canoa para o dia da mariscagem

no qual o aluguel muitas vezes é pago com uma parte da produção diária que varia conforme

o volume de coleta, 18,76% alegam o transporte ser da família, 25% utilizam transporte

emprestado de amigos e apenas 3,12% possuem transporte próprio.

Os animais coletados pelas marisqueiras no mangue, no estuário ou nos afloramentos

rochosos que ficam descobertos durante as marés baixas na praia, além do molusco A.

brasiliana estão relacionados no Quadro 3, sendo o bico-de-pato (Tagelus pebleius Ligthfoot,

1786), ostra (Crassostrea rhizophorae Guiding, 1828), búzio (Chione sp) e o siri (Callinectes

exasperatus Gerstaecker, 1856) coletados ocasionalmente.

Quadro 1. Espécies coletadas pelas marisqueiras da comunidade de Barra Grande, Cajueiro

da Praia, PI, no ano de 2010.

Nome

Popular Nome Científico Classe Habitat

Marisco Anomalocardia brasiliana

(Gmelin, 1791) Bivalvia substrato areno-lodoso

Sururu-de-

dedo Mytella guyanensis(Lamarck, 1819) Bivalvia substrato areno-lodoso

Sururu-de-

texto

Mytella charruana

(d‟Orbigny, 1842) Bivalvia substrato areno-lodoso

Tarioba Iphigenea brasiliensi

(Lamarck, 1818) Bivalvia substrato areno-lodoso

Pixixi Thais sp Gastropoda

afloramentos rochosos,

substrato areno-lodoso e

arenosos

Muelinha Neritina virgínea

(Linnaeus, 1758) Gastropoda afloramentos rochosos

Búzio Chione sp Gastropoda afloramentos rochosos

Siri-azul Callinectes exasperatus

(Gerstaecker, 1856) Crustacea Manguezais

Ostra Crassostrea rhizophorae Bivalvia substratos com cascalho e

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(Guiding, 1828) aderido nas árvores

Bico-de-pato Tagelus pebleius

(Ligthfoot, 1786) Bivalvia substratos arenosos e lodosos

3.3. Dinâmica da coleta e comercialização

No período de estiagem, a coleta acontece no estuário aonde são pescados: marisco,

ostra, bico-de-pato, tarioba (Iphigenea brasiliensi Lamarck, 1818), sururu-de-dedo (Mytella

guyanensis Lamarck, 1819), sururu-de-texto (Mytella charruana d‟Orbigny, 1842), siri-azul e

pixixi.

No período de chuva, a atividade passa a ocorrer também nos afloramentos rochosos

que ficam a vista na praia durante a maré baixa. Aqui os moluscos coletados são: o pixixi

(Thais sp), a muelinha (Neritina virgínea Linnaeus, 1758) e os búzios, pois sua abundância

aumenta nesse período e a atividade passa a ocorrer com maior intensidade nessa área.

Outra causa que pode ser apontada para a atividade se intensificar nas croas de rocha é

a acessibilidade nessa área ser melhor no período de chuva que no manguezal, pois de acordo

com as marisqueiras a lama do mangue aumenta dificultando a passagem. A mesma situação

foi observada por Baptista (2004) durante o período chuvoso, nos afloramentos rochosos de

Barra Grande. A autora comenta ainda, que a chuva pode influenciar a abundância e

variedade dos moluscos aumentando a produção de recursos biológicos dos recifes.

No Piauí, o período chuvoso ocorre no verão de janeiro a junho, e o inverno é seco

entre os meses de julho e dezembro. As marisqueiras de Barra Grande reconhecem esses dois

períodos como, inverno e o verão, relacionando-os à pluviosidade. Segundo D‟Antona (2000)

nas regiões próximas do equador, não ocorrem quatro estações, típicas das zonas temperadas,

mas apenas duas diferenciadas pela incidência de chuvas. Marques (1991) apud Souto e

Martinz (2009) afirma que entre pescadores alagoanos “o escalonamento do tempo não se faz

com base nos mesmos critérios que fazemos” e que „inverno‟ e „verão‟ não significam

exatamente as estações do ciclo oficial, e sim „pedaços de tempo‟ relacionados com chuva e

estiagem”, fato também observado entre as marisqueiras de Barra Grande. A Figura 4

apresenta dados sobre a preferência de coleta de moluscos pelas marisqueiras de Barra

Grande. Entre os moluscos citados, os sururus possuem maior preferência devido a sua maior

demanda no mercado local, seguido do marisco, recurso também utilizado para venda, mas

por seu preço de mercado ter valor abaixo do sururu, muitas vezes é coletado para a

subsistência. O preço do quilo da carne do sururu no ano de 2010 variou de R$ 7,00, no

período de baixa estação (março a junho/outubro a novembro) a R$10,00 no período de alta

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estação (dezembro a fevereiro/julho a setembro). O preço do quilo da carne do marisco no ano

de 2010 variou de R$ 4,00 no período de baixa estação a R$ 7,00 no período de alta estação.

Apenas 23,80% das marisqueiras afirmaram que vendem a carne de marisco, mas a

venda não é constante, acontecendo somente por encomenda e com maior frequência em alta

temporada para bares e restaurantes na própria comunidade e para localidades próximas como

Luis Correia e Parnaíba. Sendo assim, essa espécie é mais utilizada para a subsistência na

comunidade.

Figura 4. Frequências de citações por moluscos coletados na comunidade de Barra Grande,

Cajueiro da Praia,/PI, no ano de 2010.

A média de extração mensal foi estimada em 351 kg de carne de marisco para a

comunidade, visto que o rendimento de carne da espécie nesse estuário é em torno de 9,52%

(+1,03) (Freitas et al., no prelo), cerca de 3.686 kg de A. brasiliana são coletadas “in natura”

do mangue por mês, havendo o descarte de 3.335 kg de conchas. É necessário enfatizar que os

dados podem estar subestimados uma vez que foram consideradas nessa pesquisa apenas as

marisqueiras cadastradas na colônia. Dias et al., (2007) estimaram uma produção mensal para

a comunidade da RDSPT/RN de 459,8 kg de carne, calculado pelo esforço de captura.

3.4. Beneficiamento

O beneficiamento da carne do marisco A. brasiliana é feito no quintal das casas das

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marisqueiras, pelo seguinte processo: as conchas são lavadas em água corrente para a retirada

de areia e lama e depois colocadas, em latões de querosene de 20 litros vazios ou em panelas

de alumínio para o processo de cozimento em fogueiras até que as conchas se abram. Com as

conchas abertas a carne é retirada e quando encomendada é ensacada e congelada. Processo

semelhante foi relatado por Dias et al. (2007). As conchas que sobram desse processo são

descartadas muitas vezes nos quintais das casas.

O processamento da carne do sururu é similar ao do marisco tendo como diferença que

após a coleta ele é lavado na própria água do mar para a retirada de qualquer resíduo, pois de

acordo com as marisqueiras se a carne do sururu é lavada com água doce ela se “desmancha”.

O preparo da carne da moelinha, do pixixi e do búzio também segue o processo do

marisco, sendo que sua carne é retirada com o auxílio de uma agulha tendo em vista que não

são bivalves e sim gastrópodes. Todos os processos acontecem sem seguir nenhum padrão de

higiene ou normas de segurança.

Silva (1997) afirma que para evitar a contaminação é necessário o controle da higiene

da lavagem das conchas, dos equipamentos e a higiene pessoal dos manipuladores durante

todo o processo pelas marisqueiras.

Neste contexto é necessária a adoção de medidas de higiene pessoal, ambiental e

operacional para reduzir ou eliminar os riscos de contaminação dos alimentos. O uso de latas

de querosene para cocção dos moluscos pelas marisqueiras é um risco para a saúde. O

recipiente utilizado deveria ser descartado de forma adequada (coprocessamento,

decomposição térmica ou aterro industrial) e nunca reutilizado por conter componentes

tóxicos que contaminam o alimento e pode causar reações adversas a saúde.

3.5. Perspectiva ambiental

Quando perguntadas se sabiam o que era conservação, 66,67% respondiam que não,

enquanto o restante associa a conservação do meio onde vivem como forma de proteção para

os animais do mangue, através do combate ao desmatamento e a poluição doméstica, assim

garantindo, o sustento do povoado e o turismo para a região. Cerca de 30% não sabiam o que

é uma Área de Proteção Ambiental apesar de residirem nela e nem o que era um plano de

manejo.

Diante desse panorama é necessário informações sobre conservação ambiental para a

comunidade, uma vez que seus limites residem em uma Área de Proteção Ambiental. Quando

questionadas se nas reuniões da associação é discutido a importância dos recursos locais da

comunidade, 41% responderam que sim, 18,80% que não e 40,20% afirmaram que não

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frequentam as reuniões da colônia. Se houvesse algum crime ambiental na comunidade,

66,66% das entrevistadas denunciariam, enquanto 33,34% não denunciariam por medo a

represálias. Sobre o conhecimento de qual órgão é responsável pela fiscalização sobre os

recursos pesqueiros na região, 79,19% responderam que é o Instituto Brasileiro do Meio

Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e 20,81% não sabem qual a

instituição responsável pela fiscalização. Este alto índice de porcentagem ao IBAMA deve-se

pela sua atuação na comunidade e seu entorno através do Projeto peixe-boi, o qual a partir do

ano de 2007 foi inserido no Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade

(ICMBio) pois no referente ano as competências relacionadas as Unidades de Conservação

como, implantar, gerir, proteger, fiscalizar e monitorar, que antes pertenciam ao IBAMA

foram transferidas para esta autarquia gerando uma confusão na comunidade, fato

demonstrado por esse instituto não ter nenhuma citação nas respostas das entrevistadas.

Em relação à frequência em reuniões, nota-se a solicitação de boa parte das

marisqueiras para a criação de sua própria associação, já que se sentem exclusas pela colônia

de pescadores existentes na localidade. Tal planejamento vem sendo desenvolvido pela

Organização Não Governamental; CARE, que já viabilizou a construção de um restaurante

para o comércio de pratos feitos a base do pescado local, como sururu, marisco e peixes

regionais, beneficiando um pequeno grupo de marisqueiras já que estas são responsáveis

diretas pela administração do empreendimento.

De acordo com a opinião das marisqueiras sobre quais intervenções ou alterações

poderiam ser realizadas na comunidade para melhorar a qualidade de vida, 65,09% citaram

geração de emprego de forma direta ou através da criação de cooperativa para a venda dos

mariscos e peixes coletados pela comunidade, juntamente com o funcionamento da fábrica de

gelo, pois de acordo com as entrevistadas no inverno como a intensidade do vento diminui, os

pescadores passam a dormir em alto mar e precisam conservar seus pescados até retornarem,

sendo indispensável a reativação da fábrica de gelo já existente na comunidade mas que

necessita de reformas em sua estrutura.

As outras intervenções citadas foram: investimentos em saneamento básico (4,76%),

energia elétrica (4,76%), hospital (7,94%), limpeza pública (3,17%), água de qualidade

(3,17%) e criação de cursos para a capacitação em turismo (3,17%), visto que a localidade

possui potencial para essa atividade.

Quando indagadas se praticavam alguma forma de manejo, 36,51% responderam que

coletavam os mariscos maiores para os menores crescerem, mostrando um viés ecológico

46,03% disseram que não é vantajoso coletar mariscos menores, pois o rendimento não vale a

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pena, coletando assim só os maiores, demonstrando um pensamento de cunho econômico,

mas em conformidade com a sustentabilidade. Apenas 17,46% afirmaram que não possuem

critério para a coleta de mariscos, coletando indivíduos pequenos e grandes. Situação

semelhante foi levantada no distrito de Acupe/BA, onde Martins e Souto (2006) apontaram

que todas as marisqueiras abordadas em sua pesquisa citaram critérios econômicos e

ecológicos na escolha de tamanho para a coleta, sendo esses critérios esquecidos quando não

houvesse mariscos maiores disponíveis.

Quando questionadas se os bancos de mariscos podem um dia acabar, 66,67% acham

que isso não é possível. Enquanto 33,33% responderam que sim e que isso pode acontecer se

não houver cuidado com a exploração ou pela intensidade das chuvas, pois de acordo com as

marisqueiras depois das chuvas eles desaparecem.

Sobre aquicultura, 31,74% afirmaram conhecer cultivo de ostra e/ou camarão. Todas

as entrevistadas que possuem conhecimento sobre o cultivo de camarão trabalharam

beneficiando o mesmo em fazendas da região. O conhecimento sobre o cultivo de ostra surgiu

através de um projeto piloto que foi desenvolvido na comunidade.

A maior parte das marisqueiras (80,86%) afirmou que na área de coleta no manguezal

não existe poluição e 19,14% afirmaram que somente na maré alta aparece algum lixo

(garrafas, sacos, latas), provavelmente trazido da praia; contudo reforça-se aqui a necessidade

em se promover a disposição correta do lixo dos 26,98% que não descartam o lixo de forma

adequada, no intuito de se prognosticar possíveis ocorrências advindas do acúmulo de lixo.

3.6 Mariscos

Quanto à ecologia da A.brasiliana foi pesquisado o conhecimento das marisqueiras

sobre seu ciclo de vida. Provavelmente devido ao desenvolvimento microscópico nos

primeiros estágios de sua vida, apenas cinco marisqueiras (7,94%) responderam

afirmativamente ter alguma informação dizendo que são gerados na água, que se reproduzem

dentro do mangue e que nascem dentro da concha e crescem com ela. Segundo Mouëza et al.

(1999) a espécie inicialmente possui comportamento pelágico e a diferenciação da concha

acontece no estágio larval, onde o molusco se desenvolve juntamente com a concha,

demonstrando que a maioria das entrevistadas desconhecem o seu ciclo de vida.

Em relação à alimentação dos mariscos, 46,08% afirmaram que os mariscos comem

lama ou areia; 47,61% não sabem qual o seu alimento e 6,35% dizem que os mariscos se

alimentam de pequenas algas, sendo observado que há uma associação feita pelas

marisqueiras entre o habitat e o hábito alimentar, situação essa também observada por Souto e

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Martins (2009) nas marisqueiras de Santo Amaro/BA. De acordo com Resgalla Jr. e Piovezan

(2009) a espécie filtra o séston, ou seja, o conjunto de partículas totais, orgânicas e

inorgânicas, que se encontram dispersas na coluna de água. Narchi (1974) menciona que A.

brasiliana capta seu alimento por meio do sifão exalante, com o qual a água e as partículas

são levadas para dentro da cavidade do manto. Como esses animais ingerem grande

quantidade de dejetos orgânicos e inorgânicos juntamente com a alimentação, parte dos

componentes é eliminada na forma de pseudo-fezes, composta por “pellets”, formada por

partículas rejeitadas associadas a muco protéico (POLI et al., 2004).

Sobre a cadeia alimentar do marisco foi perguntado qual o seu predador, 47,62%

responderam que não sabiam, enquanto 34,92% citaram que são os peixes do tipo baiacu

(Sphoeroides testudineus Linnaeus, 1758), 6,35% que é o siri-azul, 1,58% arraia, 9,53% aves

(pássaros e garça) e/ou o pixixi (Thais sp). Autores como Carqueija e Gouveia (1998),

Vasconcellos Filho et al. (1998) e Mourão e Nordi (2006) afirmaram que o molusco foi

encontrado em conteúdo estomacal de siris, peixes (Sphoeroides testudineus Linnaeus, 1758)

e arraias. Sick (1997) comenta que os Ceconuformes (garças e socós), além de peixes, se

alimentam de moluscos e Manzonni (1998) afirma esse hábito alimentar do pixixi, portanto,

pertencente a sua dieta alimentar, fato que corrobora com as observações das marisqueiras de

Barra Grande.

Em relação à melhor época para a coleta e porque elas a consideram assim, 69,66%

responderam que é o período de estiagem, pois existem mais mariscos e pela ausência da

chuva, pois quando chove os mariscos morrem. Esta observação é corroborada por Monti et

al. (1991) que afirmam que altas pluviosidades causam mortalidade nas populações de A.

brasiliana. Não obstante, Boehs et al. (2008) afirma que as chuvas podem causar

ressuspensão de material do fundo, com o conseqüente aumento da carga de sedimentos na

coluna de água, condição que parece ser inadequada para esses moluscos; 12,70% das

entrevistadas preferiram o período chuvoso para a mariscagem, mas não apresentaram

justificativas e 17,64% disseram que mariscam o ano todo, não possuindo diferença para elas.

Para 34,93% das marisqueiras, o período chuvoso é a época em que aparecem os

menores mariscos, para 30,16% aparecem mariscos pequenos o ano todo, 26,98% não sabe

dizer qual é a época dos menores indivíduos e 7,93% acham que é o período de estiagem. Tal

panorama é retratado por Oliveira (2010) na praia de Mangue Seco/PE, onde a abundância

dos mariscos se faz maior no período chuvoso, contudo com menor tamanho, e no período de

estiagem encontram-se as espécies maiores e com menor abundância. Quando perguntadas,

em que época os mariscos estão maiores foi verificado porcentagens de 53,04% para o

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período de estiagem, 23,81% acham que é o ano todo, 20,63% indicam o período chuvoso e

2,52% não souberam responder qual era a época de mariscos maiores.

Souto e Martinz (2009) citaram que as marisqueiras do litoral de Santo Amaro/BA

afirmaram a flutuação de espécie em conformidade ao clima e a precipitação, sendo o período

chuvoso classificado para algumas como o mais fraco, e por outras com maior abundância,

causando controvérsia em relação a esse conhecimento, situação semelhante ao de Barra

Grande. Essa questão pode ser explicada por essa espécie possuir uma reprodução continua

durante o ano, de acordo com Narchi (1976) e Grota e Luneta (1980) na Paraíba, próximo a

linha do equador, a espécie apresenta indivíduos produzindo gametas o ano todo.

Todas as entrevistadas concordaram que os mariscos mudam de lugar. Quanto ao

modo de locomoção, 30,16% afirmam que eles se locomovem cavando na areia, 22,22%

acham que eles são levados pela maré e 47,62% não souberam responder. Boehs et al. (2008)

e Araujo e Rocha-Barreira (2004) indicaram que há migração desses organismos nos estuários

do litoral do Paraná e do Ceará, resultados em conformidade ao observado pelas marisqueiras

de Barra Grande/PI.

A. brasiliana utiliza seu “pé” muscular para cavar a areia, permitindo assim, que o

animal se enterre no solo, se locomovendo verticalmente, o movimento de extensão do pé,

entretanto, é muito lento e se faz devido à pressão sanguínea nas lacunas do mesmo, sendo a

sua locomoção horizontal influenciada pela hidrodinâmica (BELUCÍO, 1995).

Barreira e Araújo (2005) caracterizam a morfologia interna da A. brasiliana citando

que as gônadas quando maduras apresentam-se esbranquiçadas, com dois picos de reprodução

(julho a outubro e entre fevereiro e abril). Quando perguntado se a cor da carne do marisco

mudava durante o ano e por que isso ocorria, 66,68% responderam que a cor da carne não

mudava; 14,28% responderam que a cor da carne muda para amarelo no período de estiagem

e para branco no período chuvoso, correlacionando essa característica a ele estar “gordo” ou

“magro”; 9,52% responderam que a cor da carne não mudava, mas que a concha sim e que

isso era devido ao tipo de lama em que ela estava enterrada e 9,52% não souberam responder,

fato que demonstra o desconhecimento por parte da maioria das marisqueiras sobre o ciclo

reprodutivo da espécie.

Quando indagadas se a lua influenciava na coleta de mariscos, 53,73% responderam

que sim, argumentando que a lua cheia ajuda na cata, pois é nela que aparece a maré mais

baixa; 24,05% acham que não possui influência e 22,22% não souberam responder. Grande

parte das marisqueiras é casada ou é filha de pescadores que possuem sua atividade

relacionada as fases da lua repassando esse conhecimento a elas. Sabendo-se que a maré é um

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importante elemento influenciador na pesca, nota-se que esta, quando baixa, numa maior

amplitude durante a lua cheia, oportuniza melhores resultados de coleta (NISHIDA et al.,

2006).

De acordo com a Tabela 4 pode-se verificar que a porcentagem de acertos (38,30%)

acerca da biologia da espécie é próxima ao desconhecimento (34,86%), superando os erros

(26,84%) em 11,9%, o que não descarta a possibilidade dessas informações serem utilizadas

para a gestão da pesca, contudo é necessária a complementação do conhecimento científico

para validação do mesmo. Ressalta-se a necessidade de intercambio de informações entre a

comunidade cientifica/acadêmica e o conhecimento tradicional, para que este possa ser

incrementado, uma vez que o mesmo é gerado a partir de observações diárias e repassado para

a geração seguinte, e quanto maior o conhecimento mais observações podem ser feitas sobre

os recursos explorados.

Sobre a redução da abundância de recursos pesqueiros ao longo dos anos, tais como o

marisco, o caranguejo ou mesmo o camarão pescado pelos maridos das marisqueiras, é

percebida por elas com certa preocupação; afirmando ainda que, para se pescar certos tipos de

peixe e camarão, precisam deslocar-se numa distância maior do que a percorrida antigamente,

fato que dificulta a continuidade, em longo prazo, da pesca artesanal.

Segundo Vasconcellos et al. (2007) a pesca artesanal brasileira pode ser considerada

coadjuvante da pesca industrial, beneficiada por incentivos fiscais e linhas de créditos

variados, colaborando com a forte capitalização do setor industrial cuja conseqüência é

retratada pelo aumento da marginalização dos produtores artesanais.

Tal realidade pode ser percebida na comunidade de Barra Grande, pois neste estudo

foi observado que o grupo de marisqueiras encontra-se à margem da sociedade, já que estas

convivem com situações nem sempre favoráveis à segurança, tampouco à qualidade de vida,

retrato este recorrente em outros pontos do litoral nordestino, tais como comunidades no

Ceará (CASTRO et al., 2009), na Paraíba (NISHIDA et al., 2008) e no Rio Grande do Norte

(DIAS et al., 2007), envolvendo, principalmente pescadores artesanais, catadores de

caranguejo e marisqueiras, demonstrando que as arestas político-econômicas da pesca

artesanal ainda não foram resolvidas.

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Tabela 3. Comparação do conhecimento êmico das marisqueiras de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI, coletados em 2010 com os científicos.

*Como não foi especificado para as marisqueiras o tipo de locomoção a se referir (horizontal ou vertical) as duas foram consideradas corretas.

Questão Opinião das Marisqueiras Literatura consultada Erros

(%)

Acertos

(%)

Desconhecimento

(%)

Sobre Ciclo de vida

da espécie

São gerados na água, nascem

dentro da concha e crescem

com ela

Möueza (1999) 0 7,94 92,02

Sobre alimentação da

espécie

Comem lama ou areia; se

alimentam de pequenas algas

Narchi (1974); Resgalla Jr. e

Poli et al. (2004); Piovezan

(2009)

46,08 6,35 47,61

Predador da espécie Peixe baiacu; siri-azul;

arraia; aves e/ou pixixi

Sick (1997); Carqueja e

Gouveia (1998); Monzani et

al. (1998); Vasconcelos Filho

et al.; Mourão e Nordi

(2006);

0 52,38 47,62

Melhor época para coleta e

justifique

Época de estiagem; pois

existem mais mariscos e pela

ausência da, pois quando

chovem há mortalidade

Monti et al. (1991);

Boehs et al. (2008) 12,70 69,66 17,64

Período de menores

indivíduos

Todos os períodos foram

citados Oliveira (2010) 38,09 34,93 26,98

Período de maiores

indivíduos

Todos os períodos foram

citados Oliveira (2010) 44,44 53,04 2,52

Locomoção* São levados pela maré;

cavam na areia

Belucio (1995); Araújo e

Rocha-Barreira (2004);

Boehs et al. (2008)

0 52,38 47,62

Ciclo reprodutivo

(mudança de coloração da

gônada)

A cor não muda; Muda de

branco para amarelo; O que

muda é a concha e não a

carne

Barreira e Araújo (2005) 76,2 14,28 9,52

Influência da lua na coleta

A lua cheia ajuda na cata,

pois é nela que aparece a

maré mais baixa; Não possui

influência

Nishida et al. (2006) 24,05 53,73 22,22

MÉDIA (%) 26,84 38,30

34,86

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51

É verdade que, em relação à escolarização, houve melhorias na comunidade de Barra

Grande, vez que, diferente dos indivíduos inseridos na faixa etária de 51 a 83 anos cujo índice de

não escolarização foi de 100%, as novas gerações já possuem maior acesso a educação.

Em relação à conservação das áreas protegidas, destaca-se que esta depende não só do

governo, pois o envolvimento das comunidades locais é uma questão estratégica, tanto para o uso

do conhecimento local sobre a dinâmica dos ecossistemas, como para mitigar ou evitar conflitos

(OLSSON; FOLKE, 2001). A sinergia entre órgãos do governo e a comunidade de Barra Grande é

fundamental à melhoria da gestão da pesca artesanal para promover possibilidades de geração de

renda aos pescadores artesanais contemplando a valorização da pesca como atividade existente para

fins de manutenção do modo de vida dessas populações.

Dentro deste contexto, destaca-se a necessidade em se valorizar o conhecimento tradicional,

importante para a gestão da pesca no intuito de se criarem mecanismos institucionais eficientes. O

desafio da política é estimular arranjos institucionais que estejam em sintonia com a dinâmica dos

ecossistemas e fazer a ligação sócio-ecológica em seu planejamento (OLSSON; FOLKE, 2001).

Não obstante, na conclusão estão alguns pontos evidenciados em cada tópico dessa pesquisa

que carecem de aprimoramento em suas formulações de políticas públicas, podendo servir como

incremento à gestão pesqueira, assim como para a melhoria da qualidade de vida na comunidade de

Barra Grande.

4. Conclusão

Tratando do conhecimento tradicional demonstrado pelas marisqueiras de Barra Grande/PI,

observou-se muitas vezes compatibilidade com o conhecimento acadêmico apresentado em artigos

científicos que abordam estudos sobre A. brasiliana, ressaltando que esse conhecimento deve ser

confrontado e complementado com o científico na busca da consolidação de um mecanismo de mão

dupla, incrementando assim a gestão pesqueira.

É necessária a implementação de programas que esclareçam o risco da mariscagem devido à

elevada exposição ao sol. Esta proteção está prevista na Constituição Federal (BRASIL, 1988), ou

seja, caracteriza-se como um dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que

visam à melhoria de sua condição social a “redução de riscos inerentes ao trabalho, por meio de

normas de saúde, higiene e segurança” (art. 7°, XXII), preceituando, ainda, que o direito à saúde

deve ser garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença

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52

e de outros agravos (art. 196).

O aperfeiçoamento do planejamento familiar se faz fundamental assim como a melhoria na

distribuição e na qualidade de água que abastece a região. A coleta pública de lixo precisa ser

abrangente para toda a comunidade.

Boas práticas de fabricação devem ser passadas para essa comunidade, ressaltando

informações sobre segurança e higiene no preparo dos alimentos, incluindo um conjunto de

princípios e normas para uma apropriada manipulação, a sanidade do local de beneficiamento

também é importante, com isso ressalta-se a melhoria dos quintais e/ou a disponibilidade de um

local adequado para a manipulação dos mariscos.

O relato da redução da abundância de certos recursos pesqueiros ao longo dos anos, como os

caranguejos, mariscos e o camarão, devem ser investigados. É necessária uma melhor divulgação

sobre educação ambiental, conservação ambiental e seus conceitos na comunidade, e também pela

ICMBIO que se mostrou desconhecida na comunidade. Enquanto ao grau de escolaridade a

porcentagem revelada de marisqueiras que possuem o ensino fundamental completo ou superior a

esse grau (47,56%) pode facilitar o entendimento e a multiplicação dessas informações na

comunidade. Planos de manejo para o marisco e o sururu devem ser implementados, visto que são

importantes recursos de subsistência e de comercialização.

Considerando que a atividade desenvolvida pelas mulheres marisqueiras é o produto

principal de sua renda e que os entraves na comercialização e na organização social impossibilitam

o seu crescimento, a criação de uma associação de marisqueiras pode contribuir para valorização do

seu trabalho. Artesanato com uso das conchas dos mariscos coletados poderia vir a colaborar com

sua renda mensal, evitando assim, o descarte inadequado das conchas durante o processamento da

carne.

Agradecimentos

As marisqueiras da comunidade de Barra Grande; ao Conselho Nacional de Pesquisa e

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq); a ONG CARE e a Empresa Brasileira de

Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) Meio-Norte/Unidade de Execução de Pesquisa.

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AVALIAÇÃO SAZONAL DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA E DO RENDIMENTO DA

CARNE DE Anomalocardia brasiliana (GMELIN, 1791) NO LITORAL DO PIAUÍ

Simone Tupinambá Freitas¹; Roseli Farias Melo de Barros²; Fabíola Helena dos Santos Fogaça3; Jefferson

Francisco Alves Legat4; Paulo Augusto Zaitune Pamplin

5

1. Engenheira de pesca e mestranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente na Universidade Federal do Piauí. E-mail: [email protected] 2.

Bióloga, Dra. em Botânica e professora do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Piauí. E-mail: [email protected] 3. Zootecnista, Dra. em Aquicultura, pesquisadora da Embrapa Meio-Norte. E-mail: [email protected] 4. Oceanógrafo, M.Sc., em

Oceanografia Biológica, pesquisador da Embrapa Meio-Norte E-mail: [email protected] 5. Biólogo, Dr. em Ecologia e Recursos Naturais e

Professor do Departamento de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal de Alfenas – Campus Poços de Caldas. E-mail: [email protected]

Resumo: A composição química é importante na classificação nutricional, no desenvolvimento de

técnicas de processamento e conservação do pescado. O objetivo do trabalho foi avaliar a

composição química e o rendimento de mariscos durante os períodos de seca e chuva, no litoral do

Piauí. Indivíduos de Anomalocadia brasiliana foram coletados, de março a junho e de setembro a

dezembro, em seis pontos ao longo do estuário do rio Camurupim, localizado no município de

Cajueiro da Praia, litoral do Piauí. O lipídio total foi o nutriente que apresentou a maior

variabilidade ao longo dos meses investigados. O rendimento nos pontos avaliados não sofreu

influência da sazonalidade no período investigado.

Palavras chaves: Mariscos, Moluscos, Lipídeos, Variação.

Abstract: The chemical composition is important as nutritional assessment, for development

processing techniques and conservation of seafood. The objective of this paper was to evaluate the

chemical composition and yield of shellfish during drought and rainfall periods in Piauí state.

Individuals of Anomalocadia brasiliana were collected from March to June and from September to

December, at six points (A, B, C, D, E, F) along the estuary of the river Camurupim, located in

Cajueiro da Praia coastline of Piauí. The total lipid was the nutrient that showed the greatest

variability throughout the months investigated. The yield points measured were not influenced by

seasonality.

Key words: Shellfish, Molluscs, Lipid, Variance.

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59

1. Introdução

O molusco Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) pode ser encontrado em diferentes

níveis de salinidade de água, desde estuários e manguezais até lagoas hipersalinas (NARCHI, 1976;

RIOS, 1994), com incidências em toda costa brasileira, nas Antilhas, Índia e Uruguai (RIOS, 1994).

No Brasil, é amplamente consumido por populações litorâneas (NISHIDA; NORDI; ALVEZ, 2004;

BISPO, 2004; BOEHS; ABSHER; CRUZ-KALED, 2008).

A espécie é um molusco bivalve da família Veneridae. Caracteriza-se por ser euritérmica e

eurihalina, apresentando grande resistência à deficiência de oxigênio (SCHAEFFER-NOVELI,

1976), sobrevivendo até 240 horas em condições de anoxia (HIRIKI, 1971) e temperatura limite de

42°C (READ, 1964), características que facilitam seu transporte e comercialização (ARRUDA-

SOARES et al., 1982).

A composição química dos pescados varia intensamente de uma espécie para outra ou dentro

de uma mesma espécie. Tais variações estão relacionadas à época do ano e local em que foi

capturado, idade, sexo, hábito alimentar e disponibilidade de alimento (OGAWA; MAIA, 1999;

KHAN et al., 2006; ASTORGA-ESPAÑA et al. 2007). De acordo com Magalhães (1985), nos

bivalves são frequentes as variações nos teores de carboidratos e lipídeos e menos comum nos de

proteína, que se correlacionam, diretamente com a reprodução. Porém, a regulação da reprodução

não está restrita a um único fator. A salinidade, especialmente em ambiente estuarino, onde existem

grandes flutuações e a disponibilidade do alimento, também podem contribuir na regulação dos

processos reprodutivos. O suprimento de alimento pode atuar na transferência de reservas

armazenadas na glândula digestiva para as gônadas utilizadas nos processos gametogênicos

(CONTRERAS-GUZMÁN, 1994). Dentro deste contexto a avaliação da composição química em

função da sazonalidade se torna interessante, pois a mesma afeta o rendimento, sabor e textura da

carne.

Dentre os parâmetros avaliados com importância para o processamento do pescado está o

rendimento de carne. Os moluscos e crustáceos oferecem rendimentos menores do que os peixes.

Isso porque o rendimento da carne útil para a comercialização está intimamente relacionado pelo

tipo de concha, que por sua vez varia de acordo com o habitat, a espécie e o metabolismo do

indivíduo (FURLAN, 2004). Há espécies em que apenas o músculo adutor é consumido, como

acontece com as vieiras (Pecten maximus Linnaeus, 1758). No caso da A. brasiliana, esta é

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consumida por inteira após a retirada das valvas, entretanto, dados sobre seu rendimento ainda são

escassos, assim como a variação sazonal de sua composição química.

Diante do exposto, e devido ao fato de esta espécie apresentar potencial para consumo e

comercialização, o objetivo deste trabalho foi avaliar a composição química e rendimento da

espécie no período de chuva e estiagem.

2. Material e métodos

2.1 Coleta de amostra

Indivíduos de A. brasiliana foram coletados de março a junho (período chuvoso) e de

setembro a dezembro (estiagem) no ano de 2010 em seis pontos marcados por Global Position

System (GPS) definidos como; A (S 02° 54' 26,3" W 41° 26' 03"); B (S 02° 54' 35,3" W 41 25'

48,8"); C (S 02° 54' 47,7" W 41° 25' 38,5"); D (S 02° 54' 48" W 41° 25' 37,5" ); E (S 02° 54' 53,5"

W 41° 25'33,4") e F (S 02° 54' 50,9" W 41° 25' 26,1"), com distância média de 200 metros entre

eles, ao longo do estuário do rio Camurupim, localizado no município de Cajueiro da Praia, na

comunidade de Barra Grande. Em cada ponto foram demarcados aleatoriamente cinco quadrados de

0,5m por 0,5m com 30 centímetros de profundidade, a areia retirada foi peneirada em um

travesseiro de ostra com 5mm de abertura entre nós e os mariscos separados, um total de 2.287

indivíduos foram utilizados nesse estudo. A espécie foi acondicionada em sacos plásticos

devidamente etiquetados e colocada dentro de isopor com gelo e conduzidos para o Laboratório de

Tecnologia do Pescado da Embrapa Meio-Norte, UEP/Parnaíba-PI para a realização das análises.

2.2 Aferições dos Parâmetros Abióticos

Medidas mensais da temperatura da água e da salinidade foram determinadas utilizando-se

um refratômetro modelo F-3000 da Bernauer Aquacultura®. Os dados de precipitação pluviométrica

foram obtidos junto à Estação Meteorológica sediada na Embrapa Meio-Norte, UEP/Parnaíba-PI.

Bimestralmente, foram também coletadas amostras do sedimento para a análise granulométrica

(EMBRAPA, 1997) e de matéria orgânica (perda por ignição em mufla), sendo os mesmos

realizados no Laboratório de Água e Solo da Embrapa Meio-Norte UEP/Parnaíba, Piauí.

2.3 Análises

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Como o peso médio da carne de cada animal (0,44g +0,20) não é suficiente para que sejam

executadas todas as análises de composição química, a cada mês, para cada ponto, a carne de todos

os animais coletados nos pontos A, B, C, D, E e F foram homogeneizadas para a obtenção da

amostra necessária para a composição química, ficando assim estabelecido uma única amostra de

composição para cada mês, sendo utilizado para isso os animais de todos os pontos.

Com a amostra homogeneizada as análises seguiram os métodos da A.O.A.C. (1997). A

umidade foi determinada por perda de peso da amostra em estufa aquecida a 105 ±1°C, até peso

constante. A análise de proteína bruta foi mediante determinação do nitrogênio total, pelo método

Kjeldahl, e conversão em proteína, multiplicando o valor obtido pelo fator 6,25. O teor de lipídeos

foi determinado por meio do extrato etéreo em aparelho Soxhlet. As análises de proteína e lipídeo

foram determinadas a partir da base seca. A cinza foi obtida por incineração da matéria orgânica,

em forno mufla a 550°C, até peso constante. O percentual de carboidrato nas amostras foi obtido

por diferença [%CHO = 100 – (Matéria Seca + Proteínas + Lipídeos + Cinzas)] conforme descrito

por BRASIL (2001) e em seu cálculo a umidade foi convertida em matéria seca.

O percentual do rendimento da carne foi calculado baseado na medição individual de 30

amostras, segundo a equação: Peso do filé x 100/Peso. Para o rendimento por classe de

comprimento os indivíduos foram separados em quatro lotes: 5,0 a 9,9 mm de comprimento de

concha, 10 a 14,9 mm de comprimento de concha, 15,0 a 19,9 mm de comprimento de concha e 20

a 29 mm de comprimento de concha.

2.4 Determinação do Índice de Condição

Os índices de condição podem ser utilizados como parâmetros econômicos, expressam a

qualidade de um produto comercializado. Na avaliação de rendimento do estudo dois índices foram

utilizados. O índice de Imai e Sakai (1961) foi calculado da seguinte forma: altura da concha x [0,5

(comprimento da concha + largura da concha)1] e o índice de Booth (1983), que é calculado a partir

do peso úmido da carne x peso total-1

. Alto valor para esse índice indica que grande porcentagem do

peso total do bivalve é decorrência de sua carne e não pelos fluidos existentes entre suas valvas.

2.5 Análise Estatística

Os dados foram analisados estatisticamente através da análise de variância – ANOVA e

teste de comparação de médias (Tukey) entre o período chuvoso e de estiagem. O programa

utilizado para a realização da análise estatística foi o SAS for Windows (versão 8.0, 2000). A

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diferença significativa foi encontrada a P < 0,05. A correlação de Pearson foi utilizada para analisar

os dados abióticos com os biológicos (umidade, proteína, carboidrato e cinzas) e na verificação do

crescimento da espécie.

3. Resultados

Dentre os parâmetros abióticos examinados a temperatura obteve menor variação entre os

meses analisados (Tabela I). No período estudado a pluviosidade e a temperatura obtiveram

diferença significativa entre assim como a salinidade que no período chuvoso atingiu 37 ppm e na

estiagem 44 ppm (CV= 4,24).

Tabela I – Médias de temperatura, salinidade e pluviosidade nos pontos de coleta no estuário do rio

Camurupim, PI, em 2010.

Mês Temperatura*

(c°)

Salinidade*

(ppm)

Pluviosidade

(mm)

Mar 30,9

(+0,21)

38,7

(+1,04)

145

Abr 30,5

(+0,54)

36,4

(+0,76) 175.9

Mai 29,6

(+0,92)

34,6

(+1,25) 49.4

Jun 30,58

(+0,40)

38,3

(+1,63) 45.1

Set 29,1

(+0,96)

45,2

(+2,59) 0

Out 30,3

(+0,94)

45,2

(+0,45) 12.1

Nov 29,5

(+0,49)

43,6

(+1,12) 7.1

Dez 28,7

(+0,65)

42,1

(+1,57) 43.6

*Os valores se referem a média + desvio padrão, N=5

Com relação ao sedimento, a areia grossa foi o principal componente com valor médio

igual a 92,86%. As frações finas (silte e argila) não representaram mais que 4% da fração

inorgânica. O teor de matéria orgânica variou entre 0,49% e 3,28 (Tabela II).

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Tabela II – Principais características do sedimento coletado ao longo do rio Camurupim, Barra

Grande, Piauí, em 2010.

Sedimento N Amplitude Média ± D.P.

Areia Grossa (%) 30 79,30 – 98,20 92,86 ± 4,84

Areia Fina (%) 30 0,35 – 17,20 4,24 ± 4,09

Silte (%) 30 0,05 – 0,95 0,51 ± 0,31

Argila (%) 30 0,60 – 3,60 1,75 ± 0,84

Matéria Orgânica (%) 24 0,49 – 3,28 1,15 ± 0,71

Os pontos A e B possuíram as maiores médias de matéria orgânica em todos os meses

analisados em comparação aos outros pontos, obtendo sua máxima em novembro (A=2,60%;

B=3,28%) e mínima em março (A=1,36%; B=1,21%). Os pontos E e F se caracterizaram por suas

médias inferiores de matéria orgânica em relação aos outros pontos durante o ano, com sua máxima

também em novembro (E=0,87%; F=0,85%) e mínima registradas em março (E= 0,58%; F=0,49%).

O ponto C apresentou maior porcentagem de areia fina em relação aos demais pontos, possuindo

seu valor superior no mês de julho (17,20%) e sua porcentagem mínima em setembro (0,35%). O

sedimento do ponto D variou ao longo dos parâmetros monitorados.

Em relação a localização os pontos A e B são os mais externos, em contato com a foz

do rio, os pontos C e D são os mais próximos um ao outro, sendo que o D é o ponto mais raso, ou

seja, é o primeiro de todos os pontos a ficar descoberto com a maré mais baixa. Os pontos E e F são

os pontos mais interiores ao manguezal como demonstra a Figura 1.

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Figura 1 – Mapa do rio Camurupim, Barra Grande, Piauí, com indicação dos pontos de

amostragem.

A composição centesimal segundo os meses coletados se encontra na Tabela III. Os valores

de umidade foram maiores nos meses de estiagem (outubro e novembro) enquanto que os lipídeos

foram superiores nos meses de chuva (março e abril).

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Tabela III – Médias da composição química da carne de Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791)

nos meses coletados em 2010 na comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI.

Mês Umidade**

(%)

Cinzas**

(%)

Proteína bruta*

(%)

Lipídeos*

(%)

Carboidrato

(%)

Mar 76,06 (+0,43) 2,87 (+0,66)

56,40 (+0,57)

11,86 (+0,35)

4,92 (+0,50)

Abr 78,54 (+0,10) 2,65 (+0,11)

56,00 (+0,10)

9,77 (+0,90)

10,12 (+1,25)

Mai 79,45 (+0,27) 2,78 (+0,20)

56,34 (+0,11)

8,51 (+4,0)

11,82 (+2,00)

Jun 76,57 (+0,08) 3,23 (+0,05)

56,50 (+0,15)

8,94 (+0,59)

7,89 (+0,71)

Set 79,09 (+0,22) 2,88 (+0,18)

57,56 (+0,06)

5,50 (+0,05)

13,14 (+0,15)

Out 82,67 (+0,12) 3,22 (+0,08)

57,65 (+0,04)

7,58 (+3,04)

14,22 (+2,88)

Nov 83,11 (+0,37)

3,14 (+0,10)

57,09 (+0,04)

6,12 (+0,31)

16,75 (+0,05)

Dez 79,26 (+0,40) 2,74 (+0,10)

58,54 (+0,21)

7,93 (+0,10)

10,04 (+0,80)

Os valores se referem a média + desvio padrão,*N=2; **N=6

A proteína bruta 57,71% (CV:0,79) e o lipídeo 9,77% (CV:16,11) obtiveram diferença

significativa no teste de Tukey para o período de estiagem (setembro a dezembro) e chuvoso (março

a junho) respectivamente. Fato não observado para cinzas (CV: 8,08) e umidade (CV:8,08). Na

fração de carboidrato não foi realizado teste estatístico, na medida em que esse dado foi obtido por

diferença das médias.

Os valores de r obtidos com a correlação de Pearson entre os parâmetros abióticos e os

componentes da composição química mostraram que a umidade, proteína e carboidrato possuíram

uma correlação moderada negativa com a temperatura (-0,5< r < -0,8), enquanto o lipídeo obteve

correlação direta moderada (0,5 < r <0,8) e as cinzas valor nulo, indicando nenhuma correlação (r =

0). A salinidade possuiu correlação fraca positiva com a umidade e o carboidrato (0,1 < r < 0,5) e

fraca negativa com a proteína e o lipídeo. A pluviosidade apresentou correlação moderada negativa

(-0,8 < r < -0,5) para a proteína, carboidrato e cinzas. O lipídeo possuiu correlação forte positiva

com a pluviosidade (0,8< r <1).

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Os rendimentos de modo geral (Tabela IV) apresentaram uma tendência de incremento ao

longo dos meses analisados. Devido a migração da espécie em alguns pontos (A em maio e

setembro, B em março e C em outubro e novembro) não houve indivíduos coletados.

Tabela IV – Média do rendimento (%) da carne de Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791)

coletados nos pontos A, B, C, D, E e F no litoral da comunidade de Barra Grande, Cajueiro da

Praia/ PI.

Mês Ponto A Ponto B Ponto C Ponto D Ponto E Ponto F

Mar 9,72 (+1,56)

* 7,40 (+1,79)

7,90 (+2,07)

7,93 (+1,10)

9,45 (+1,68)

Abr 9,25 (+1,80)

9,84 (+2,20)

6,79 (+1,43)

9,18 (+1,88)

10,70 (+3,11)

9,76 (+1,64)

Mai * 8,85 (+1,12)

9,75 (+1,72)

9,19 (+2,15)

10,38 (+1,90)

9,94 (+1,04)

Jun 9,66 (+1,63)

10,41 (+1,51)

8,98 (+1,73)

9,35 (+1,46)

7,99 (+1,73)

8,22 (+2,13)

Set * 9,10 (+1,63)

8,08 (+1,70)

10,25 (+3,30)

9,49 (+2,57)

10,26 (+2,12)

Out 10,45 (+2,68)

9,05 (+2,16)

* 10,15 (+1,68)

10,75 (+1,00)

9,19 (+1,96)

Nov 8,59 (+1,81)

11,03 (+1,40)

* 10,07 (+1,68)

10,00 (+2,33)

9,29 (+1,99)

Dez 10,17 (+2,14)

12,01 (+2,60)

10,62 (+1,90)

9,64 (+1,66)

9,97 (+1,01)

10,40 (+2,05)

Os valores se referem a média + desvio padrão, N=30 *Não houve indivíduos coletados. Período chuvoso (março, abril, maio e junho)

Período de estiagem (setembro, outubro, novembro e dezembro)

Em relação ao rendimento de carne, o ponto D foi o único que obteve diferença significativa

no teste de Tukey entre o período chuvoso 8,91% e estiagem 10,03% (CV: 5,42).

A média de rendimento por comprimento de classes (Tabela V) demonstrou diferença

significativa entre todos os lotes, mas entre os lotes três e quatro não houve diferença significativa.

Tabela V – Média do rendimento (%) por classes de comprimento de concha da carne de

Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) coletados nos pontos A, B, C, D, E e F no litoral da

comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/ PI.

Rendimento

Lotes Classes (mm) Médias

1 5-9.9 5,91c

2 10-14.99 7,60b

3 15-19.99 9,60a

4 20-29 9,90a

N=30 CV(%) 5,68 a,b,c letras diferentes na coluna indicam diferença significativa (α=0,05)

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O índice de Imai e Sakai atingiu o seu valor máximo (0,9061 + 0,20) em março no ponto C,

enquanto seu mínimo (0,5484 + 0,06) foi registrado no ponto E do mesmo mês. O índice de condição de

Booth obteve seu valor máximo (0,6951 + 0,13) no ponto D em outubro, e em junho no ponto C o

seu mínimo valor registrado em (0,0618 + 0,03).

As médias do índice de condição de Booth (1983) não obtiveram diferença significativa para

nenhum ponto entre a estação chuvosa e de estiagem, o índice de Imai e Sakai (1961) mostrou

diferença significativa apenas para o ponto D no período de estiagem, sendo esse período obtendo a

maior média (Tabela VI).

Tabela VI – Média dos Índices de Condição de Booth (1983) e Imai e Sakai (1961) para o período chuvoso

e de estiagem dos indivíduos coletados no litoral da comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI.

A B C D E F

Período Imai Booth Imai Booth Imai Booth Imai Booth Imai Booth Imai Booth

Chuvoso 0,6282

a 0,0988

a 0,6418

a 0,0987

a 0,7283

a 0,1030

a 0,6269

a 0,1014

a 0,6167

a 0,0959

a 0,6379

a 0,0931

a

Estiagem 0,6348

a 0,0976

a 0,6308

a 0,1030

a 0,6755

a 0,0935

a 0,6541

b 0,2403

a 0,6381

a 0,1011

a 0,6329

a 0,1058

a

CV(%) 2,35 10,04 1,83 147,04 8,43 20,89 2,25 125,48 6,13 10,92 2,05 18,88 a,b,letras diferentes na coluna indicam diferença significativa (α=0,05).

4. Discussão

O teor de umidade variou em torno de 79,34% (+2,52), comparado com peixes (Traíra

77,71%, segundo, Santos et al., 2001; sardinha 77,2%, segundo, Caula, 2008) e com crustáceos

(70,6% camarão de água doce Macrobrachium amazonicum, Furuya, 2006) o teor de umidade

encontrada foi superior para este molusco, corroborando com Ogawa e Maia (1999) e Furlan (2004)

que indicam maiores valores de umidade para moluscos em relação a peixes e crustáceos.

A diferença mais importante entre a composição química de espécies de peixe e crustáceos e

a composição de moluscos é o conteúdo de carboidrato, este conteúdo é insignificante pra a maioria

dos pescados, mas para determinados moluscos bivalves, a reserva de energia é em forma de

glicogênio armazenado nas células (JAY, 1996; LOMOVASKY; MALANGA; CALVO, 2004).

Diferentemente dos lipídeos, o glicogênio é uma molécula hidrofílica, que carrega consigo várias

moléculas de água, ligadas à sua estrutura por meio de pontes de hidrogênio. Sendo assim, quanto

maior a reserva energética, maior o teor de água no interior das células (NELSON E COX, 2002). O

que explica o elevado teor de água dos moluscos comparados a peixes e crustáceos.

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Os teores de umidade, proteína, carboidrato e cinzas demonstraram uma correlação inversa à

pluviosidade, sendo que o carboidrato manteve essa relação mais forte. O lipídio demonstrou uma

correlação direta, ou seja, com o aumento da pluviosidade o seu teor também aumenta. A correlação

dos componentes com a salinidade foi fraca, tendo a umidade, carboidrato e cinzas uma correlação

direta e a proteína e lipídeo inversa. A temperatura obteve seu valor de correlação semelhante ao da

pluviosidade, possuindo uma relação inversa com a umidade, proteína e carboidrato, mas sendo

nulo em cinzas. Com exceção das cinzas o valor de r foi muito próximo ou semelhante ao da

pluviosidade.

Mouëza, Gros e Frenkiel (1999) relata que a liberação de gametas da espécie através do

estresse osmótico é um estimulo efetivo, contudo a maior disponibilidade de alimento no meio dão

melhores resultados. Com o aumento da pluviosidade pode ter ocorrido uma maior disponibilidade

de alimento no ambiente estimulando a liberação de gametas da espécie, assim o teor de carboidrato

e por consequência a umidade possui uma correlação inversa com a pluviosidade. A relação direta

do teor de lipídeo com a pluviosidade também está relacionada à maior disponibilidade de alimento

no ambiente para o bivalve, este sendo reserva energética.

O valor médio das cinzas ao longo do ano foi de 2,94% (+0,23), e a proteína obteve média

de 57,01% (+0,85), valores inferiores aos encontrados por Lira (2004) para a espécie, 8,50%

(+2,74) e 70,58 % (+6,80) para cinzas e proteínas, respectivamente. Os lipídeos também obtiveram

o valor de sua média 8,28% (+2,02) inferior ao de Lira (2004) 10,40% (+2,30).

Comparando os percentuais de proteínas, com outros moluscos, são observados neste

trabalho valores inferiores aos encontrados por Lira (2004) para o sururu (Mytella falcata 73%

+6,23), e unha de velho (Tagelus plebeus 69,71% +10,59). Para a ostra do pacífico (39,1 a 53,1%

Crassostrea gigas, segundo Linenhan, Connor e Burnell 1999) A. brasiliana apresentou valor

superior 57,01% (+0,85).

A variação de umidade da espécie (76,06 a 83,11%) se mostrou inferior em comparação ao

encontrado no mexilhão (Perna perna 81,41 a 85,37%, segundo Furlan et al. 2007). E superior ao

da ostra do pacífico (Crassostrea gigas 73 a 79,5% de acordo com Linehan, Connor e Burnell 1999)

e próximo ao valor encontrado por Pedroza e Cozzolino (2001) para A. brasiliana (76 a 88%).

Em relação aos carboidratos foi encontrada grande flutuação nos meses analisados. De

acordo com Quayle e Newkirk (1989) a ostra, também um bivalve, utiliza o glicogênio como uma

fonte de energia para a produção de gametas na época de reprodução e o restante é convertido em

lipídeo. Neste período também são relatados baixos valores de índice de condição.

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Esse perfil foi encontrado no período chuvoso, onde a porcentagem de carboidrato foi

menor, possivelmente devido a picos reprodutivo nesse período, pois o glicogênio é utilizado como

fonte de energia para a rápida proliferação das células sexuais (LINEHAN; CONNOR e BURNELL

1999). O índice de Booth (1983) apesar de não mostrar diferença significativa esteve com sua

média menor em quatro pontos (B, D, E, e F) na estação chuvosa (Tabela VI). Na tabela III podem

ser observados dois picos com menor valor de carboidrato, nos meses de março e junho,

pertencentes ao período chuvoso. E de acordo com Ogawa e Maia (1999) particularmente, antes e

após o período reprodutivo, observa-se notável diferença nos teores de lipídeo. No presente estudo

tal diferença foi presente somente nos meses posteriores (abril e setembro). Entretanto após a

desova, com a liberação dos gametas, são registrados os teores mínimos de glicogênio, o que

ocorreu nos meses de junho e março.

As maiores médias do índice de Booth (1983) apesar de não possuírem diferença

significativa, foram presentes no período de estiagem em quatro pontos (B, D, E e F), época quando

as reservas de carboidrato atingiram o seu máximo, os quais foram provavelmente determinados em

função da maior quantidade de glicogênio acumulado. Galvão et al. (2000) afirmam que o peso e o

volume da carne estão intimamente ligados a fatores relacionados à reprodução, pois, antes dela, as

gônadas estão repletas de gametas. É nesta fase, que se encontram maiores valores de índice de

condição.

A. brasiliana apresenta sua gametogênese contínua, mas com picos de liberação mais

acentuada a depender da região estudada (MORTON, 1991). Estudos apontam que o seu ciclo é

influenciado por diferentes fatores como: salinidade, temperatura (MÖUEZA; GROS; FRENKIEL,

1999; BARREIRA; ARAÚJO, 2005), períodos de chuva e disponibilidade de alimento (ARAÚJO,

2001). No litoral do Piauí ainda não foram realizadas pesquisas sobre o ciclo reprodutivo deste

bivalve. Mas de acordo com Boehs (2000) a liberação de gametas de A. brasiliana varia de acordo

com as ampliações de temperatura, reflexo da latitude. De acordo com Barreira e Araújo (2005)

pesquisas feitas na Bahia, Paraíba e Ceará sobre seu ciclo reprodutivo obtiveram como resultado a

liberação de gametas continua ao longo do ano, mas em relação a picos de liberação esses não

foram simultâneos. No Ceará, estado próximo ao Piauí, os picos de liberação de gametas foram de

julho a outubro, fevereiro e abril, com o amadurecimento da gônada ocorrendo entre maio e junho e

de novembro a janeiro (BARREIRA e ARAÚJO, 2005). De acordo com Morton (1991) diferenças

entre picos de eliminação de gametas entre populações de regiões próximas podem ocorrer

naturalmente.

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O regime pluviométrico da região de coleta não foi regular, alcançando apenas 579,4 mm no

ano da pesquisa, sendo sua normal registrada de 1.000 mm a 1.800 mm ao ano (INMET, 2011). Não

foi verificada diferença significativa para a temperatura e a pluviosidade entre os meses que foram

coletados os indivíduos nos períodos chuvoso e de estiagem, o que pode ter provocado a

homogeneidade entre os índices de condição. Mas entre as estações foi verificado diferença

significativa.

A média de rendimento para os meses estudados foi de 9,52% (+1,03). A diferença nas

médias de rendimento entre os pontos coletados no período chuvoso e de estiagem só obteve

diferença significativa no ponto D com maior rendimento apontado para a estação de estiagem

(Tabela IV). O índice de condição de Imai e Sakai‟s (1961) obteve diferença significativa indicando

que esse ponto na estação de estiagem possuiu maiores indivíduos em relação ao período chuvoso

(Tabela VI), o índice de Booth (1983) também foi maior no período de estiagem apesar de não ter

tido diferença significativa, demonstrando que nessa estação alta porcentagem do peso total dos

indivíduos foi por consequência do peso de sua carne e não pelos fluidos que ficam retidos entre

suas valvas, o que pode ter sido decorrência da maturação gonadal e/ou por maior disponibilidade

de alimento especificamente nesse local. Em estudos no Complexo estuarino da Baía de Paranaguá,

Brandini (2000) relata que a abundância de fitoplâncton é mais acentuada em períodos chuvosos,

devido ao aumento no aporte de nutrientes, e também nos setores mais rasos da baía que favorece a

ressuspensão de sedimentos finos, disponibilizando mais nutrientes. O ponto D é o ponto mais raso

estudado, como mostra a Figura 1, podendo assim ter sido favorecido pela ressuspensão de

nutrientes na época de estiagem.

O rendimento entre as classes (5,0 a 9,9 mm de comprimento de concha, 10 a 14,9 mm de

comprimento de concha, 15,0 a 19,9 mm de comprimento de concha e 20 a 29 mm de comprimento

de concha) obteve diferença significativa entre todos os lotes, exceto entre os lotes 3 e 4 (Tabela V).

Nestes o crescimento da A. brasiliana se mostrou isométrico, ou seja o seu crescimento é

proporcional ao peso de sua carne. A correlação de Pearson mostrou que o comprimento da concha

possui correlação moderada positiva (r = 0,7) com o peso de sua carne, e o peso total do indivíduo

possui correlação forte positiva com o peso da carne (r = 0,85).

De acordo com Arruda-Soares et al. (1982) e Araújo (2001) os indivíduos de A. brasiliana

com 20 mm de comprimento de concha já passaram por sua primeira reprodução, sendo interessante

o extrativismo desse bivalve diante do comprimento estabelecido, garantindo assim o estoque

necessário para o equilíbrio da população. No entanto para a maricultura, o animal pode ser abatido

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com comprimento acima de 15 mm. Pois não houve diferença significativa entre o rendimento de

indivíduos acima de 15 mm de comprimento de concha com os indivíduos acima de 20 mm,

podendo assim contribuir para a diminuição dos custos operacionais, nos casos de cultivo, uma vez

que existem pesquisas sobre captação de sementes para a produção desta espécie.

Os valores de rendimento da carne ao longo dos meses coletados (Tabela IV), em geral, são

muito baixos (6,79 a 12,01%), se compararmos essa espécie com peixes (30 a 50% segundo

MACEDO-VIEGAS e SOUZA, 2004) e camarões (50%, LIMA et al. 2007), porém mais próximos

a ostras (6 a 10%, PORTELLA, 2005) e caranguejos (11 a 18%, OGAWA et al. 2008). Dessa

forma, para obter um quilo de carne seria preciso coletar aproximadamente 10 kg de conchas

fechadas, sendo que o preço comercializado na região é de R$ 7,00/kg de carne de marisco. Por

isso, há necessidade de estudos que determinem a captura por unidade de esforço (CPUE) para

avaliar o quanto cada marisqueira coleta por hora/dia e qual o impacto dessa atividade no ambiente.

5. Conclusão

A composição química da carne de A. brasiliana coletada ao longo do estuário do rio

Camurupim no litoral do Piauí manteve uma média constante durante os meses de chuva e estiagem

da região, variando apenas sua porcentagem lipídica em virtude do período reprodutivo da espécie.

O rendimento de sua carne não sofreu influência da sazonalidade no período estudado.

A extração do bivalve no estuário deverá atender a largura de 20 mm de comprimento de

concha apesar do seu rendimento se mostrar igualmente vantajoso aos 15 mm, somente assim

poderá ser garantido a sustentabilidade da atividade de extração no estuário, para isso, contudo é

necessário uma divulgação dessa informação para a comunidade por meio de educação ambiental.

Agradecimentos

A Masayoshi Ogawa, pelo auxílio nas análises de composição protéica; ao Conselho

Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Empresa Brasileira

de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), pelo apoio na execução do projeto.

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6 CONCLUSÕES

Os dados socioeconômicos revelaram o seguinte perfil para a marisqueira de Barra Grande,

Cajueiro da Praia/PI.

A prática da mariscagem se iniciou cedo, por volta dos oito aos doze anos, possui idade

média de 42 anos, é nativa de Barra Grande, não pratica outra atividade remunerada além da

mariscagem é associada à colônia de Pescadores e não completou o ensino fundamental. Está na

pratica da mariscagem á 20,22 anos. Sendo casada e possuindo quatro filhos, os quais a

acompanham na atividade. Para se proteger contra o sol utiliza camisa de manga comprida e boné

indo a pé para os pontos de coleta. Reside em casa de alvenaria com cimento batido no piso e

telhado de cerâmica. Usufrui de água potável, utiliza fossa séptica/negra para o esgoto de sua

residência, sendo existente a coleta pública de lixo em sua rua. Neste estudo foi observado que o

grupo de marisqueiras encontra-se à margem da sociedade, já que estas convivem com situações

nem sempre favoráveis a segurança, tampouco à qualidade de vida, neste cenário é evidente a falta

de políticas públicas que apreciem esse grupo.

Os moluscos e crustáceos coletados são: o marisco (Anomalocardia brasiliana Gmelin, 1791),

sururu-de-texto (Mytella guyanensis Lamarck, 1819), sururu-de-dedo (Mytella charruana d‟Orbigny,

1842) , taioba (Iphigenea brasiliensi Lamarck, 1818), pixixi (Thais sp), muelinha (Neritina virgínea

Linnaeus, 1758), búzio (Chione sp), siri-azul (Callinectes exasperatus Gerstaecker, 1856) , ostra

(Crassostrea rhizophorae Guiding, 1828) e bico de pato (Tagelus pebleius Ligthfoot, 1786) . Os critérios

utilizados por elas são de cunho econômico e/ou ecológico. Possuem preferência pela venda dos

sururus, uma vez que esse possui maior valor de mercado, o marisco é coletado para subsistência e

o restante ocasionalmente. O beneficiamento feito por elas é simples e inadequado é necessária a

melhoria dos quintais e/ou a disponibilidade de um local adequado para a manipulação dos

mariscos. Sendo imprescindível para a comunidade informações sobre conservação ambiental.

O conhecimento tradicional demonstrado pelas marisqueiras de Barra Grande/PI obteve

muitas vezes compatibilidade com o conhecimento acadêmico apresentado em artigos científicos

que abordam estudos sobre a espécie, ressaltando que, esse conhecimento deve ser confrontado e

complementado com o científico na busca da consolidação de um mecanismo de mão dupla

incrementando, assim a gestão pesqueira.

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O rendimento da carne de A. brasiliana não sofreu influência da sazonalidade, sua

composição química durante os meses de chuva e estiagem da região manteve uma média

constante, variando apenas sua porcentagem lipídica, em virtude do período reprodutivo da espécie.

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APÊNDICES

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Apêndice A: Formulário de entrevista

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ

NÚCLEO DE REFERÊNCIA EM CIÊNCIAS AMBIENTAIS DO TRÓPICO ECOTONAL DO NORDESTE [TROPEN]

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE [PRODEMA]

CURSO DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE [MDMA]

Data_________________________________________________________________________

Nome________________________________________________________________________

Idade_________________________________________________________________________

() casada () solteira () viúva () divorciado () junto

Comunidade/Localidade_________________________________________________________

Naturalidade__________________________________________________________________

Tempo de moradia na comunidade_________________________________________________

Quantos filhos possuem?_________________________________________________________

Escolaridade___________________________________________________________________

1- Há quanto tempo você trabalha na extração de marisco?

_____________________________________________________________________________

2- Que pessoas da sua família também trabalham nesta atividade com você?

() Filhos (as) () Marido () Tios () Primos () Pai/ Mãe () Nora

() Outros______________________________________________________________________

3- Quais os tipos de mariscos coletados por vc. ou seu grupo?

() Sururu () Moelinha () Tabaco da senhora () Ostra () Tarioba () Bico de Pato

() Marisco () Pixixi () Pomba de Burro () outros________________________________________

4- Quais os materiais que você utiliza para a coleta do marisco?

() mãos () pás () talher (garfo, faca, colher) () gancho () sacas () baldes () caçuá

5- Usa alguma roupa especial (Equipamentos de Proteção Pessoal)?

() camisa de manga comprida () luvas () boné () lenço () sapato () outros___________________

Nº:

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6- Qual transporte vc. usa?

() canoa () barco a motor () a pé () barco a vela () outros________________________________

7- Como vc. tem acesso ao transporte?

() aluguel () emprestado () próprio () da família

8- Quantas vezes por mês vc. coleta?

() 1 () mais de 2 () toda semana () de acordo com encomenda () outros__________________

9- Quantos mariscos são tirados por coleta?

_____________________________________________________________________________

10- Como é vendido o produto (marisco) ?

() desmariscado () com casca () por quilo da carne () por copo (carne)

11-Há algum período que vc. não pode coletar mariscos?

() não () sim Qual?______________________________________________________________

12-Você possui alguma atividade além de marisqueira?

() dona de casa () rendeira () vende produtos (roupa, estéticos, etc.) () vende peixe

() camarão () outros____________________________________________________________

13- Como é feito o beneficiamento?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

14- Existe conhecimento de alguma forma de cultivo? Qual?

() ostra () sururu () camarão () peixe () marisco () outros_________________________________________

15-O que vc. entende por conservação ?

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

15-Você já ouviu falar em Áres de Proteção Ambiental?

() Sim () Não

16-Você já ouviu falar em Plano de Manejo?

() Sim () Não

17-Vc. participa de alguma associação? Qual?

() Sim () Não___________________________________________________________________

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18-Vc tem carteira de marisqueira?

() Sim () Não

19- Em alguma reunião foi discutida a importância da conservação dos recursos naturais

na localidade em que vive?

() Sim () Não

20-Vc. denuncia se houver uma situação que ocorra algum crime ambiental? Para quem?

() Sim () Não ________________________________________________________________

21-Vc. sabe qual o órgão é responsável pela fiscalização dos recursos pesqueiros da sua

região?

() Sim () Não ___________________________________________________________________

22-Em sua opinião quais intervenções ou alterações poderiam ser realizadas no local

onde vc. vive para melhorar a qualidade de vida da comunidade local?

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________

23-Vc. sabe como os mariscos nascem?

_____________________________________________________________________________

24-Vc. sabe de que eles se alimentam?

_____________________________________________________________________________

25-Vc. sabe que animal os come?

_____________________________________________________________________________

26-Qual a melhor época para a cata? Qual o melhor mês? Por que?

_____________________________________________________________________________

27-Vc. acha que os bancos podem um dia acabar?

_____________________________________________________________________________

28-Vc. pratica alguma forma de manejo?

_____________________________________________________________________________

29-Em que mês do ano aparecem os menores mariscos desse tipo?

_____________________________________________________________________________

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30-Os mariscos costumam mudar de lugar?

_____________________________________________________________________________

31-Como e quando eles mudam? De onde para onde e em que época do ano?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

32-Quando os mariscos estão maiores?

_____________________________________________________________________________

33-Quando os mariscos estão mais gordos?

_____________________________________________________________________________

34-Eles mudam a cor da carne durante o ano? Por que vc. acha que isso ocorre?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

35-Eles aparecem mais em alguma época do ano? Quando?

_____________________________________________________________________________

36-A lua influência na cata? Como? Em que lua a cata rende mais?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

37- Existem muitas marisqueiras na sua região? Quantas?

_____________________________________________________________________________

38-A produção possui um destino certo (atravessador)?

_____________________________________________________________________________

39-Vc. acha que existe poluição na área que vc. coleta?_______________________________________________________________________

40- Possui água encanada e fossa na sua residência?

() água e fossa () só água encanada () nenhum dos dois

41- Qual o material utilizado para a fabricação de sua casa?

() tijolo () taipa () outros__________________________________________________________

42- Qual o piso de sua casa?

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() cerâmica () barro () cimento () outros_____________________________________________

43- Sua casa é coberta por:

() telha () palha () outros_________________________________________________________

44- Se for de palha, qual a origem da palha?

_____________________________________________________________________________

45-Abastecimento de água

() encanada () poço () rio () outros__________________________________________________

46- Possui energia elétrica?

() Sim () Não

47- Possui fossa séptica?

() Sim () Não

48- Destino do lixo?

() enterra () queima () coleta pública () deixa a céu aberto

() outros______________________________________________________________________

OBS:

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Apêndice B. Procedimento da coleta de Anomalocardia brasiliana (Gmelin, 1791) e entrevista

com marisqueira em Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI – A. Transporte utilizado para a

coleta; B. Demarcação do quadrado no ponto de coleta; C. Remoção do sedimento para o

travesseiro de ostra; D. Lavagem do sedimento para retirada de areia; E. Moluscos coletados; F.

Seleção dos moluscos entre cascalhos e folhas; G. Leitura de parâmetros abióticos; H. Coleta de

solo para analises; I. Entrevista com marisqueira.

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Apêndice C. Pontos de coleta de organismos aquáticos e aspectos socioeconômicos e culturais

na comunidade de Barra Grande, Cajueiro da Praia/PI – A. Afloramentos rochosos; B. Estuário

do Rio Camurupim; C. Marisqueiras em coleta; D. Moluscos coletados pelas marisqueiras; E.

Mariscos; F. Cocção dos mariscos pelas marisqueiras; G. Mariscos desconchados e cozidos; H.

Artesanato feito com conchas; I. Artesanato feito com conchas; J. Colônia de Pescadores (Z6); L.

Restaurante administrado pelas marisqueiras; M. Sede de uma das Associações dos Condutores de

Turismo

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ANEXOS

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Anexo A – Normas para publicação

PERÍODICO AMBIENTE E SOCIEDADE

SUBMISSÃO DE ARTIGOS: NORMAS

Observamos que todos os trabalhos enviados para Ambiente & Sociedade serão pré-avaliados pelos editores

desta publicação, e os que passarem nesta primeira fase serão enviados a assessores ad hoc para nova

avaliação.

O material submetido não poderá já ter sido publicado em periódicos nacionais, exceção feita a textos

publicados em revistas internacionais, em língua estrangeira.

Enquanto o processo de avaliação estiver em curso, o(s)/a(s) autor(es)/autor(as) não poderão submeter o

manuscrito à avaliação do mesmo material junto a outro periódico, nem efetuar submissões simultâneas

através do sistema eletrônico de submissão da

Ambiente & Sociedade – mesmo quando se tratar de casos em que, em uma submissão, o autor “X” é autor

principal, enquanto que, em outra submissão simultânea, o autor “X” é um dos co-autores. Trata-se de uma

forma de aumentar o escopo de autores publicados pelo periódico.

Exceção à proibição de submissão simultânea dá-se no caso de submissão simultânea de materiais de

distintas naturezas, ou seja, de artigo e de resenha submetidas simultaneamente com a mesma autoria ou

conjunto de autores/as.

Quando se tratar de autor(es)/autora(s) com trabalhos já aceitos, aguardando publicação, ou de autores

recentemente publicados, a Ambiente & Sociedade solicita que estes aguardem pelo menos um semestre

após a efetiva publicação do material, para submeter novas propostas.

Os trabalhos poderão ser apresentados em português, inglês ou espanhol, devendo observar as disposições

normativas relacionadas neste documento. Os autores serão responsáveis pela exatidão das referências

bibliográficas e pelas idéias expressas em seus textos.

O aceite de pareceres de assessores ad hoc gera apenas a expectativa de publicação do material, dado que a

Ambiente & Sociedade possui fila de espera para a publicação e que os fascículos dependem de uma

combinação temática do material aprovado.

Os editores observam ainda que, a partir de setembro de 2008, a Ambiente & Sociedade não aceitará mais a

submissão de material específico destinado à seção de “Resultados de Pesquisa”.

O periódico trabalha através do sistema de balcão, ou seja, não há uma definição prévia de temas, desde que

eles se encaixem no perfil da Ambiente & Sociedade, e o envio de manuscritos ocorre em fluxo contínuo,

durante todo o ano, exceto nos períodos de recesso, que são divulgados na página eletrônica.

Desde março de 2010 a Revista Ambiente & Sociedade está se adequando ao Novo Acordo Ortográfico da

Língua Portuguesa e pede aos autores e revisores que façam as devidas adequações. Por elas desde já

agradecemos. AUTORIA

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“A autoria deverá limitar-se àqueles que participaram e contribuíram substancialmente para o

desenvolvimento do trabalho. O autor para correspondência precisará obter a permissão de todos os autores

para realizar a submissão do artigo e para realizar qualquer alteração na autoria do mesmo.

Adicionalmente, o autor para correspondência deverá assinar e encaminhar, aos editores/as executivos/as da

Revista Ambiente & Sociedade, o Termo de Concordância e Cessão de Direitos Autorais, com a assinatura

de TODOS os autores do material submetido.

No caso de autores que se encontram em diferentes municípios ou localidades, as assinaturas poderão ser

remetidas em documentos enviados separadamente por fax e/ou e-mail, cada um deles contendo o título do

material que foi submetido, os nomes dos demais autores e o autor para correspondência”.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Citações no texto

As citações bibliográficas inseridas no texto devem ser indicadas pelo(s) sobrenome(s) do(s) autor(es) em

letra maiúscula, seguido(s) pelo ano da publicação (ex.: SILVA et al., 2005), sendo que:

1. em artigos com um ou dois autores, citam-se os sobrenomes de ambos;

2. em artigos com três ou mais autores, cita-se o sobrenome do primeiro autor, seguido da expressão “et al.”;

3. se o nome do autor não é conhecido, cita-se a primeira palavra do título.

NBR 10520: Regras gerais de apresentação:

Nas citações, as chamadas pelo sobrenome do autor, pela instituição responsável ou

pelo título incluído na sentença devem ser em letras maiúsculas e minúsculas e, quando

estiverem entre parênteses, devem ser em letras maiúsculas.

Exemplos:

A ironia seria assim uma forma implícita de heterogeneidade mostrada, conforme a

classificação proposta por Authier-Reiriz (1982).

“Apesar das transparências, a desconstrução do logocentrismo não é uma psicanálise da

filosofia [...]” (DERRIDA, 1967, p. 293)

Lista de referências

Toda a literatura citada ou indicada no texto deverá ser listada em ordem alfabética.

Artigos em preparação ou submetidos à avaliação não deverão ser incluídos nas referências. A formatação

das referências deve seguir o padrão estabelecido pela

Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) em “Regras Gerais de

Apresentação” - NBR-6023, de agosto, 2002.

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Exemplos de referências

Os exemplos a seguir não devem ser considerados como referências reais, pois alguns tiveram elementos

adicionados a título de exemplificação.

Livros

REID, D. Sustainable development: an introductory guide. 1. ed. London: Earthscan,

1995.

Capítulos de livro

ALMEIDA, L. T. Comércio e meio ambiente nas negociações multilaterais. In:

BRAGA, A. S.; MIRANDA, L. C. (Org.). Comércio e meio ambiente: uma agenda

positiva para o desenvolvimento sustentável. Brasília: MMA/SDS, 2002. p. 97-134.

Artigos em periódicos

ANYANWU, C. N. The technique of participatory research in community development.

The Community Development Journal, v. 23, n. 4, p. 11-15, 1988.

Trabalho apresentado em evento

SOUZA, L. S.; BORGES, A. L.; REZENDE, J. O. Influência da correção e do preparo

do solo sobre algumas propriedades químicas do solo cultivado com bananeiras. In:

REUNIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE

PLANTAS, 21., 1994, Petrolina. Anais... Petrolina: EMBRAPA, CPATSA, 1994. p. 3-4.

ANDRADE, T. Inovação tecnológica e meio ambiente: dando um passo acima. In:

ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E

PESQUISA

EM AMBIENTE E SOCIEDADE, 2., 2004, Indaiatuba, SP. Anais... Indaiatuba:

ANPPAS 1 CD-ROM.

ANDRADE, T. Inovação tecnológica e meio ambiente: dando um passo acima. In:

ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO E

PESQUISA EM AMBIENTE E SOCIEDADE, 2., 2004, , Indaiatuba, SP. Anais...

Indaiatuba: ANPPAS 2004. Disponível em:

<http://www.anppas.org.br/encontro_anual/encontro2/GT/GT01/thales.pdf>. Acesso

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em: 31 ago. 2007.

Dissertações, teses e relatórios

SERRANO, C. M. T. A invenção do Itatiaia. 1993. 179 f. Dissertação (Mestrado em

Sociologia) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, UNICAMP, Campinas. Trabalhos em meio-

eletrônico

SÃO PAULO (Estado). Secretaria do Meio Ambiente. Tratados e organizações

ambientais em matéria de meio ambiente. In: _____. Entendendo o meio ambiente.

São Paulo, 1999. v. 1. Disponível em:

<http:://www.bdt.org.br/sma/entendendo/atual.htm>. Acesso em: 8 mar. 1999.

Artigos de periódico em meio eletrônico

AIKAWA, N. Visión Histórica de la Preparación de la Convención Internacional de la

UNESCO para la Salvaguardia del Patrimonio Cultural Inmaterial. Museum

Internacional. Patrimonio Inmaterial. Paris, UNESCO, n. 221-222, p. 140-155, 2003.

Disponível em: <http://portal.unesco.org/culture/en/ev.php>. Acesso em: 5 set. 2006.

JOLY, C. A. Acesso a recursos genéticos, repartição de benefícios e proteção dos

conhecimentos tradicionais. Biota Neotrop., v. 5, n. 1, p. 3-3, 2005. Acesso em: 26 jun.

2006. Disponível em:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1676-

06032005000100001&lng=en&nrm=iso>. ISSN 1676-0603. online.

Legislação

BRASIL – SNUC. Lei nº 9.985 de 18 de julho de 2000. Institui o Sistema Nacional de

Unidades de Conservação e dá outras providências. Brasília, DF, 2000.

Tabelas

As tabelas deverão ser intituladas e citadas com numerais arábicos.

Cada tabela deverá ser apresentada em um arquivo separado e nomeado de maneira

clara. Como, por exemplo, tabela1.doc, tabela2.doc e tabela3.doc.

As tabelas deverão ser elaboradas utilizando-se o recurso de tabelas do programa

Microsoft® Word, e deverão:

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1. ter o número de algarismos significativos definidos com critério;

2. ser em número reduzido para criar um texto consistente, de leitura fácil e

contínua;

3. não apresentar os mesmos dados na forma de gráfico e tabela;

4. utilizar o formato mais simples possível, evitando sombreamento, cores ou

linhas verticais e diagonais;

5. utilizar somente letras minúsculas sobrescritas para denotar as notas de rodapé

que informem abreviações, unidades, etc.

Solicitamos que sejam demarcadas primeiramente as colunas e depois as linhas e, a

seguir, esta mesma ordem no rodapé.

Figuras e quadros

Deverão ser citados e numerados em ordem numérica, utilizando-se numerais arábicos.

Fontes

Deverão ser utilizadas as fontes Times New Roman 12, para o corpo do texto, e Times

New Roman 10, para notas de rodapé.

NORMAS ESPECÍFICAS POR CATEGORIA DE TEXTOS SUBMETIDOS

Artigos

Textos com, no máximo, 50.000 caracteres com espaços, incluindo as notas de rodapés,

resumos, bibliografia e legendas. Além de utilizar a fonte Times New Roman 12 e

espaços 1,5.

Deverão estar acompanhados de um resumo em português ou espanhol (a depender da

língua do manuscrito) e outro em inglês, sendo cada um deles de, no máximo, seis linhas de setenta toques

(420 caracteres).

As palavras-chave deverão ser de 3 a 5, em português ou espanhol (a depender da língua do manuscrito), e

de 3 a 5 em inglês.

As notas de rodapé deverão ser evitadas ao máximo e, quando existirem, restringirem-se a conteúdo e

estarem enumeradas automaticamente em algarismos arábicos em ordem crescente e listadas no final do

texto.

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Anexo B – Normas para publicação

PERÍODICO ALIMENTO E NUTRIÇÃO

Preparação de artigo original

Os manuscritos devem ser digitados em uma só face, fonte Times New Roman 12, formato A 4 (210x297mm),

mantendo margens laterais de 3 cm e espaço duplo em todo o texto. Todas as páginas devem ser numeradas a partir da

página de identificação.

O manuscrito deve ser organizado de acordo com a seguinte ordem: página de identificação, resumo, palavras-chave,

introdução, material e métodos, resultados, discussão, agradecimentos, "abstract", referências, tabelas e figuras com

legendas.

Página de identificação

a) Título do artigo: deve ser conciso, informativo e completo, evitando palavras supérfluas. Os autores devem

apresentar versão para o inglês, quando o idioma do texto for português ou espanhol e para o português, quando

redigido em inglês ou espanhol. Uso de um asterisco para indicação de apoio financeiro, caso haja (a indicação da

Instituição de fomento aparecerá no rodapé da página).

b) Autores: nome e sobrenome de cada autor por extenso, sendo apenas o sobrenome em maiúsculo.

c) Afiliação: indicar a afiliação institucional de cada um dos autores.

d) Autor correspondente: indicar o autor para o qual a correspondência deve ser enviada, com endereço completo,

incluindo e-mail, telefone e fax.

e) Título resumido: o título resumido será usado como cabeçalho em todas as páginas impressas, não deve exceder 40

caracteres.

RESUMO e ABSTRACT

Os artigos deverão vir acompanhados do resumo em português e do abstract em inglês. Devem apresentar os objetivos

do estudo, abordagens metodológicas, resultados e as conclusões e conter no máximo 250 palavras.

PALAVRAS-CHAVE e KEYWORDS

Deve ser apresentada uma lista de 3 a 6 termos indexadores em português e inglês de acordo com Tesaurus da área, por

ex. FSTA, Medline, DeCS-BIREME Lilacs, etc.

INTRODUÇÃO

Deve determinar o propósito do estudo e oferecer uma breve revisão da literatura, justificando a realização do estudo e

destacando os avanços alcançados através da pesquisa.

MATERIAL e MÉTODOS

Devem oferecer, de forma breve e clara, informações suficientes para permitir que o estudo possa ser repetido por

outros pesquisadores.Técnicas padronizadas podem ser apenas referenciadas.

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RESULTADOS

Devem oferecer uma descrição clara e concisa dos resultados encontrados, evitando-se comentários e comparações. Não

repetir no texto todos os dados contidos nas figuras e tabelas.

DISCUSSÃO

Deve explorar o máximo possível os resultados obtidos, relacionado-os com os dados já registrados na literatura.

Somente as citações indispensáveis devem ser incluídas.

AGRADECIMENTOS

Devem se restringir ao necessário (nome de empresas e/ou pessoas que auxiliaram na execução do trabalho).

REFERÊNCIAS

Devem ser citadas apenas aquelas essenciais ao conteúdo do artigo. Devem ser ordenadas alfabeticamente de acordo

com a norma NBR 6023 da ABNT.

PREPARAÇÃO DE ARTIGO DE REVISÃO

Deve conter uma revisão crítica de assunto atual e relevante baseando-se em artigos publicados e em resultados do

autor. O Artigo de Revisão não deve ultrapassar oito páginas impressas (aproximadamente 24 páginas impressas no

manuscrito). Deve apresentar resumo na língua em que estiver redigido e um Abstract quando redigido em português ou

espanhol.

PREPARAÇÃO DE COMUNICAÇÃO BREVE

Deve ser breve e direta sendo seu objetivo comunicar resultados ou técnicas particulares. No entanto recebe a mesma

revisão e não é publicada mais rapidamente que um artigo original. Deve ser redigida de acordo com as instruções

dadas para Artigo Original mas sem subdivisão em capítulos. As referências devem ser citadas no final do texto, usando

o mesmo formato utilizado para Artigo Original. Um resumo breve e três palavras -chave devem ser apresentadas. O

autor deve informar que o manuscrito é uma Comunicação Breve de modo a ser avaliado adequadamente durante o

processo de revisão.

INFORMAÇÕES ADICIONAIS

Recomenda-se fortemente que o(s) autor(es) busque(m) assessoria lingüística profissional (revisores e/ou tradutores

certificados em língua portuguesa e inglesa) antes de submeter(em) originais que possam conter incorreções e/ou

inadequações morfológicas, sintáticas, idiomáticas ou de estilo. Devem ainda evitar o uso da primeira pessoa "meu

estudo...", ou da terceira pessoa do plural "percebemos....", pois em texto científico o discurso deve ser impessoal, sem

juízo de valor e na terceira pessoa do singular. Originais identificados com incorreções e/ou inadequações morfológicas

ou sintáticas serão devolvidos antes mesmo de serem submetidos à avaliação quanto ao mérito do trabalho e à

conveniência de sua publicação.

Referências

Devem ser dispostas em ordem alfabética pelo sobrenome do primeiro autor e numeradas consecutivamente; seguir a

NBR 6023 (agosto 2002) da ABNT. Os autores são responsáveis pela exatidão das referências .

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Livros e outras monografias (até 3 autores colocar todos os nomes separados por “;”, quando tiver mais que 3

colocar o nome do 1º e usar et al.)

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, A. S. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. 2.ed.

São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978. 144p.

Capítulos de livros

BENAVIDES, H. et al. An exceptional bloom of Alexandrium catenella in the Beagle Channel, Argentina. In:

LASSUS, P. et al. (Ed.) Harmful marine algal blooms. 2nd ed. Paris: Lavoisier Intercept, 1995. p.113-119.

Entidades

ASSOCIATION OF ANALYTICAL COMMUNITIES. Official methods of analysis: method 959.08 paralytic

shellfish poison – biological method. Washington, DC, 2000. cap. 49, p.49-51.

Meio eletrônico

CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; SILVA, A. S. Metodologia científica: para uso dos estudantes universitários. 2.ed.

São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978. Disponível em: http://www.cerbrasil.com.br. Acesso em: 22 ago. 2007.

Dissertações e teses

VEIGA NETO, E. R. Aspectos anatômicos da glândula lacrimal e de sua inervação no macaco-prego (Cebus

apella), (Linnaeus, 1758). 1988. 63f. Dissertação (Mestrado em Ciências Biológicas) – Instituto de Biociências,

Universidade Estadual Paulista, Botucatu, 1988.

Artigos de periódicos

Abreviaturas.

Os títulos de periódicos deverão ser abreviados conforme o Biological Abstracts, Chemical Abstracts, Index Medicus,

Current Contents:

DELGADO, M.C. Potassium in hypertension. Curr. Hypertens. Rep., v.6, p.31-35, 2004.

Trabalho de congresso ou similar (publicado)

TRAINA JÚNIOR, C. GEO: um sistema de gerenciamento de base de dados orientado a objeto: estado atual de

desenvolvimento e implementação. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE BANCOS DE DADOS, 6, 1991, Manaus.

Anais... Manaus: Imprensa Universitária da FUA, 1991. p.193-207.

Legislação

BRASIL. Medida provisória nº 1.569-9, de 11 de dezembro de 1997. Estabelece multa em operações de importação, e

dá outras providências. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Poder Executivo, Brasília, DF, 14 dez.

1997. Secção 1, p. 29514.

BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução. RDC n. 216, 15 de setembro de

2004. Dispõe sobre regulamento técnico de boas práticas para serviços de alimentação. Diário Oficial [da] República

Federativa do Brasil, Brasília, 16 set. 2004. p. 1-10.

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BRASIL. Ministério da Agricultura e do Abastecimento. Portaria n°368, de 04/09/1997. Regulamento técnico sobre as

condições higiênico-sanitárias e de boas práticas de elaboração para estabelecimentos elaboradores/industrializadores de

alimentos. Diário Oficial [da] Republica Federativa do Brasil, Brasília, 1997. p.60.

Citação no texto

Utilizar sistema numérico. A citação de um autor no texto (quando necessária) deverá ser pelo sobrenome e o número

da referência sobrescrito. Ex: ...entendido por Silva.3 No caso de dois autores, os sobrenomes devem ser separados por

&. Ex: ... entendido por Silva & Rocha.3 Mais de dois autores, indicar apenas o sobrenome do primeiro seguido de et al.

Ex: ...entendido por Silva et al.,3 ou ainda, apenas pelo número de referência sobrescrito. Ex: ...entendido pelos autores.

2,3,4

Notas

Devem ser reduzidas ao mínimo e colocadas no pé de página. As remissões para o rodapé devem ser feitas por

asteriscos, na entrelinha superior.

Anexos e/ou Apêndices

Serão incluídos somente quando imprescindíveis à compreensão do texto.

Ilustrações

Figuras: Fotografias, gráficos, mapas ou ilustrações com as respectivas legendas, devem ser apresentadas em arquivos

separados, numeradas consecutivamente em algarismos arábicos segundo a ordem que aparecem no texto. Os locais

aproximados das figuras deverão ser indicados no texto. A elaboração dos gráficos, mapas e ilustrações deverá ser feita

em preto e branco ou em tons de cinza. As fotografias deverão ser encaminhadas em preto e branco, em cópia

digitalizada em formato .tif ou .jpg com no mínimo 300dpi.

Tabelas: Devem complementar e não duplicar o texto. Elas devem ser numeradas em algarismos arábicos. Um título

breve e descritivo deve constar no alto de cada tabela. Se necessário, utilizar notas de rodapé identificadas.

Unidades de medida e símbolos

Devem restringir-se apenas àqueles usados convencionalmente ou sancionados pelo uso. Unidades não-usuais devem

ser claramente definidas no texto. Nomes comerciais de drogas citados entre parênteses, utilizando-se no texto o nome

genérico das mesmas. Fórmulas e equações escritas em linha, por exemplo,