‘não me sinto segura para voltar à escola. colegas dizem ...… · sorocaba teme mais...
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‘Não me sinto segura para voltar àescola. Colegas dizem que mereci
agressão’Casos de meninas agredidas por serem “bonitas demais” se espalham. Aluna de
Sorocaba teme mais violência
POR MARINA COHEN17/09/2014 6:00 / ATUALIZADO 17/09/2014 9:30
PUBLICIDADERIO - “Quero ver quem vai te querer, quero
ver você ser bonita agora”. Com essas
palavras, uma menina de 16 anos deu início
a uma série de agressões físicas a Júlia
Apocalipse, de 13 anos, dentro da Escola
Estadual Hélio Del Cístia, em Sorocaba (SP),
na semana passada. Assim como ela, outras
duas adolescentes foram recentemente
atacadas nos arredores de escolas, em São
Paulo e Santa Catarina, em atos que,
segundo testemunhas, foram motivados
pela “inveja” da beleza das vítimas. Em
comum ainda aos casos, a exposição nas
redes sociais — “palco” de discussões prévias
entre as envolvidas e da publicação de
vídeos dos espancamentos —, no que
especialistas classificam como um novo tipo
de espetacularização da humilhação.
Júlia perdeu dois dentes e ficou com
hematomas no rosto depois do episódio, no
último dia 9. O inchaço na boca ainda a
incomoda, e ela tem dificuldade para comer.
Por conta do trauma, não quer voltar para a
escola. Aluna do sétimo ano, corre o risco de
ser reprovada por faltas.
SOCIEDADE COMPARTILHAR BUSCAR
g1 ge gshow famosos vídeos
— Não me
sinto segura
para voltar.
Tenho
recebido nas
redes sociais
mensagens de
colegas que
acham que eu
mereci a
agressão. Sei
que nada
mudou lá
dentro e que,
se alguém se
aproximar de
novo, não vou
ter socorro —
afirma.
Ela conta que,
dias antes do
embate,
recebeu uma
ameaça no
celular pelo
aplicativo
WhatsApp. A
agressora,
que só a
conhecia por redes sociais, avisara que a
atacaria na saída da escola.
— Ela já chegou falando que eu era muito
metida e que não gostava de mim. Pediu
para eu ajoelhar e pedir desculpas. Eu me
recusei. Foi aí que veio o primeiro soco —
lembra Júlia, que correu para a escola, onde
a agressão continuou. — Apanhei mais na
escola do que na rua. Lá dentro, nenhum
inspetor interferiu. Só recebi ajuda quando
já estava desmaiada.
A menina atribui à “inveja” dos selfies que
posta no Facebook a ira da agressora:
— Tirar fotos era meu passatempo, mas
agora tenho vergonha do meu rosto e medo
de despertar raiva nas pessoas.
A garota que a espancou alega que defendia
uma amiga chamada de “macaca” pela
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adolescente. Júlia nega.
Vídeo de espancamento
compartilhado
Num caso parecido em Florianópolis, além
de dar socos e chutes em uma estudante de
13 anos, duas jovens cortaram o cabelo dela
em frente à Escola Estadual Padre Anchieta,
no bairro de Agronômica, no fim do mês
passado. O vídeo da agressão circulou pelas
redes sociais. Enquanto uma adolescente
segurava o cabelo da vítima, outra fazia os
cortes. É possível ouvir as agressoras
xingando a vítima de “vagabunda”. O pai da
menina, Alcerir Weirich, pediu que o nome
da filha não fosse publicado. Ele diz que o
ataque foi por ciúmes:
— Dizem que o namorado da menina que
bateu nela arrasta asa para a minha filha.
Foi uma vingança mesmo. Ela tem um
cabelo lindo, e elas queriam deixá-la feia e
colocar na internet para todo mundo ver.
As agressoras não estudam na mesma
escola da vítima e a emboscaram no portão
de saída. Com hematomas no rosto, ela só
voltou a estudar 20 dias depois.
— Preciso levá-la e buscá-la todos os dias.
Ela ficou traumatizada — lamenta o pai, que
aguarda uma audiência marcada para
novembro para que o caso seja resolvido
judicialmente.
Já a agressão a Ágatha Luana Roque, em
abril, deixou sequelas neurológicas. A
menina de 16 anos sofreu traumatismo
craniano e, segundo sua mãe, “pisca sem
parar, por conta da pancada forte”. Ela
também teve os cabelos cortados. O
espancamento, a cargo de duas outras
garotas, ocorreu dentro da sala de aula na
Escola Estadual Castelo Branco, no bairro
Vila Cláudia, em Limeira (SP). Depois de
quase um mês em casa para se recuperar
das lesões, ela voltou às aulas, desta vez em
outra escola, onde ainda sofre com o
bullying dos colegas.
— Muita gente fica rindo — relata a mãe,
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Edineia
Demarco,
para quem a
agressão foi
motivada pela
beleza da
menina. —
Falaram que
Ágatha
andava de
nariz
empinado,
mas isso é
inveja. Por
que mais
teriam
arranhado
todo o rosto
dela e cortado
o cabelo?
A socióloga
Miriam
Abramovay,
que
coordenou o
projeto
“Violência e
convivência
nas escolas
brasileiras”, diz que as agressões físicas
partem de uma necessidade de afirmação de
poder e precisam ser discutidas no ambiente
escolar, algo que hoje é falho. Já o papel das
redes sociais torna o controle dessas
agressões mais difícil. Numa busca rápida,
encontram-se inúmeros registros de brigas
entre garotas em escolas de diversas regiões
do país.
— Os vídeos de espancamento são um
fenômeno criado pela sociedade do
espetáculo. Para o jovem, não basta mais
agredir, é preciso exibir para o mundo
inteiro. É a humilhação globalizada —
observa Miriam.
A insegurança típica do adolescente — sobre
o próprio corpo e as relações sociais — ainda
é um fator que intensifica a reação do
indivíduo à inveja e pode levar o jovem a ter
uma resposta agressiva à pressão para
corresponder ao ideal de beleza. É o que diz
a coordenadora do curso de Especialização
em Psicologia Clínica com Crianças da PUC-
Rio, Silvia Zornig:
— Isso, é claro, se o adolescente não tiver as
ferramentas para elaborar esse sentimento
de inveja, como, por exemplo, conversar
com colegas, professores ou a família. É
importante abrir um canal para que a
questão seja discutida sem julgamentos
dentro da escola, com a intermediação de
professores.
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para voltarà escola.Colegasdizem quemereciagressão’
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