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PROFESSIONAL MAGAZINE ANO 5 · Edição 14 Jan.Fev.Mar’2018 Nesta edição: NOVA COLUNA CONDUTA PROFISSIONAL PÔR DO SOL - INVESTIMENTOS NO EXTERIOR FELIPE DEXHEIMER INVESTIMENTOS EM CRIPTOMOEDAS GUSTAVO CUNHA, CFP ® ESPECIAL - FINANÇAS E MULHERES VIVIANE FERREIRA, CFP ®

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PROFESSIONALM A G A Z I N E

ANO 5 · Edição 14 Jan.Fev.Mar’2018

Nesta edição:

NOVA COLUNACONDUTA PROFISSIONAL

PÔR DO SOL - INVESTIMENTOS NO EXTERIORFELIPE DEXHEIMER

INVESTIMENTOS EM CRIPTOMOEDASGUSTAVO CUNHA, CFP®

ESPECIAL - FINANÇAS E MULHERESVIVIANE FERREIRA, CFP®

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EditorialFrancisco José Levy CFP®

InvestimentosWellington Lanza, CFP®

Especial - Finanças e MulheresViviane Ferreira, CFP®

TecnologiaGustavo Cunha, CFP®

Espaço AcadêmicoArthur Kernkraut / Lucas Yamamoto Magna

Indicações de LeituraRene Almeida Sampaio Santos, CFP®

EntrevistaPaulo Marostica, CFP®

A Vida como ela éHelena Rezende / Renan Lima, CFP®

Investimentos no ExteriorFelipe Dexheimer

Conduta ProfissionalMárcia Scaramela, CFP®

Educação Continuada

pag. 3

pag. 5

pag. 27

pag. 29

pag. 33

pag. 10

pag. 15

pag. 21

pag. 25

SUMÁRIO

pag. 37

pag. 40

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Editorial

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O ambiente atual traz enormes desafios para a excelência na prestação de serviço de um bom planejamento financeiro, que é um dos valores institucionais da Planejar. Temos como pano de fundo um ambiente internacional que, embora benigno em termos de perspectivas de crescimento global, traz ruídos e complexidades marginais, na medida que a ampliação de barreiras comerciais começa a reverberar. Ademais, a perspectiva de normalização das taxas de juros e preços de ativos em patamares historicamente elevados, exigem um cuidado adicional.

No ambiente local, a proximidade do pleito eleitoral de maneira indefinida, o ambiente de retomada gradual do crescimento e o impulso monetário confrontam os dilemas da alocação.

O papel do planejador no bom entendimento das necessidades, anseios e objetivos torna-se crucial. O bom entendimento do “suitability” dos seus clientes, tanto no aspecto de seus portfolios, quanto no aspecto de seus produtos utilizados, merece atenção ainda particular dado o impulso ao risco que os juros estão promovendo. O histórico recente em termos da relação favorável de retornos elevados e volatilidades baixas podem ofuscar a análise.

O olhar atento do planejador às questões, não só do entendimento do apetite ao risco - este mais relacionado ao aspecto de tolerância ao risco -

mas o da capacidade em assumir este risco, exige que o profissional experiente esteja levando em consideração os contrapontos a este apetite e anseio tendo conversas diligentes e eventualmente duras, mas que trazem um ganho de credibilidade e percepção tornando a relação duradoura e de plena confiança.

Alguns tópicos relacionados limitantes precisam estar mais atrelados à capacidade financeira, frente ao planejamento orçamentário e aos aspectos comportamentais de excesso de confiança ou de visão retrospectiva, os quais, temporariamente, podem estar ofuscando a visão para a possibilidade, mesmo que improvável, de eventuais processos de correções mais acentuadas e ampliação de volatilidade. Visto que, momentaneamente, o desconforto é de não estar “surfando” de maneira máxima a queda dos juros, a alta da bolsa ou os fortes ganhos dos multimercados.

Ampliações táticas de risco são importantes, porém compete ao profissional que assiste o seu cliente, garantir que eventuais ampliações de risco estejam condizentes com um planejamento amplo e com orçamentos pré-definidos para ajustes cíclicos da alocação, evitando o erro clássico de querer mudar seu perfil ao sabor da circunstância.

O portfólio e os produtos podem e devem mudar, dentro de intervalos de risco pré-acordados,

EDITORIAL

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Editorial

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conforme dito anteriormente. Já o perfil de risco, dificilmente deve ser alterado e deve estar mais restrito a questões estruturais que são revisadas periodicamente por questões de planejamento, de maneira a evitar a contaminação pelas oscilações entre altos e baixos, euforia e depressão ou ganância e medo - que constantemente nos desafiam como profissionais que tem o dever de garantir a diligência e o profissionalismo na relação.

Uma boa leitura!

Planejador financeiro certificado desde 2007.

Atuou principalmente em tesouraria e assets nas mesas de operações de câmbio, renda fixa e renda variável. Atuou nos últimos 10 anos junto a clientes no aconselhamento e gestão de fortunas como Head da Área de Investimentos, Produtos e Serviços do Banco UBS e como Estrategista Chefe do Itaú Private Bank.

Francisco José Levy CFP®

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Investimentos

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INVESTIMENTOS EM IMÓVEIS E NTN-B

Wellington Lanza, CFP®

Um dos segmentos de investimento predileto dos brasileiros é o de imóveis, fato explicado primordialmente por razões culturais, tradição e por vezes, desconhecimento das demais alternativas disponíveis no mercado financeiro, desprezando-se, em alguns casos, a avaliação financeira a que todo investimento deve ser submetido antes do aporte de capital. Nestas situações, nas quais os imóveis podem ser aventados como investimento, é extremamente recomendável uma reflexão junto aos clientes e investidores acerca da avaliação das demais alternativas de aplicação dos recursos à luz da análise financeira.

Uma destas alternativas são os títulos públicos federais emitidos pelo Tesouro Nacional, que possuem baixíssimo risco de crédito, liquidez imediata e, apesar de recentemente popularizados como “Tesouro Direto”, ainda mantêm-se distantes do conhecimento de parcela significativa dos poupadores.

O problema de pesquisa deste artigo é verificar qual o maior VPL (Valor Presente Líquido) entre estas duas alternativas de investimentos: a NTN-B 2024 e um imóvel destinado à geração de aluguéis mensais e, como consequência, verificar qual seria o melhor investimento, dentro das premissas propostas. Os objetivos são esclarecer alguns motivos que tornaram os imóveis tão populares entre os brasileiros, elencar as vantagens e desvantagens do investimento em títulos públicos federais, ressaltar a importância do conceito de custo de oportunidade e incentivar o cálculo do VPL na avaliação e comparação entre alternativas de investimento.

O Tesouro Nacional emite, através do Banco Central, títulos da dívida pública federal que concedem aos seus detentores o direito de receber num prazo e indexador previamente conhecidos, o capital investido, acrescido de juros. Os títulos públicos federais são considerados como ativos “livres de risco de crédito” pois, em última instância, o governo federal emitiria

dinheiro para honrar a dívida.

Para fins desta comparação, optou-se por utilizar a NTN-B como referência, por ser o ativo que mais se assemelha aos rendimentos locatícios, pois, assim como os contratos de aluguel, aquela também é corrigida por um índice de inflação. O Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais (ou NTN‐B) é um título cuja rentabilidade é composta por uma taxa anual conhecida no momento da aquisição do papel acrescida da variação do IPCA, calculado pelo IBGE. Possui fluxos semestrais de pagamento ao investidor, logo, a rentabilidade total é calculada pela taxa anual de juros mais a variação do IPCA até o vencimento. Trata-se de um título negociável e de alta liquidez.

Apesar dos indexadores da NTN-B (IPCA) e dos contratos de aluguel (IGP-M) apresentarem uma variação anual considerável entre si, quando se aumenta a janela móvel de observação e capitalizam-se as variações, a diferença é extremamente reduzida,

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Investimentos

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tornando-se assim uma variável que não influencia com ponderação relevante a comparação entre os dois investimentos.

Foi selecionada a NTN-B 2024 (adquirida em 15/02/2018) com objetivo de suavizar oscilações que poderiam afetar a precificação deste ativo por flutuações nas expectativas de juros e/ou de inflação, no curto prazo, bem como “tangibilizar” os retornos num horizonte de tempo não tão longo sob a ótica do investidor.

A metodologia mais eficiente para avaliar a aceitação de um investimento e compará-lo à outra alternativa é o cálculo do VPL, que consiste basicamente em trazer a valor presente (data zero) todos os fluxos de caixa futuros (cupons e aluguéis, neste caso) descontados por uma taxa (que também pode ser chamada de custo de oportunidade) e deste valor subtrair o valor investido. Quanto maior for este valor encontrado, melhor será o investimento em termos financeiros.

Adotou-se o valor de R$ 500 mil (quinhentos mil Reais) para simulação do investimento inicial. O valor dos cupons semestrais era de 4,74% ao ano, naquela data. O efeito da inflação foi mantido à parte, considerando que o IPCA e o IGP-M convergem ao longo do tempo. A taxa de desconto utilizada neste é 3% ao ano, preservada a correção inflacionária do investimento

além do cupom. Logo, o VPL dos fluxos de caixa de um investimento de R$ 500mil num lote de NTN-B 2024, adquirido em 15/02/2018, seria de R$ 138 mil.

A escolha pela aquisição de um imóvel tem raízes na cultura do brasileiro, que, de modo geral, sempre valorizou a “casa própria”, sinal de sucesso, status e aceitação. Além disso, somada à tradição latino-europeia de possuir bens de raiz, o Brasil sofreu durante muitos anos o castigo do efeito inflacionário sobre o poder de consumo, o que tornava os imóveis um porto seguro para proteção contra a inflação (CALADO), além do perceptível desconhecimento da maioria das pessoas acerca dos investimentos disponíveis no mercado de capitais, a exemplo da caderneta de poupança, que permanece como uma das preferidas opções de investimento.

Assim como observado em todos os mercados de bens/ativos, a principal causa na variação no valor dos imóveis é dada pela Lei da Oferta e da Demanda e, por sua vez, neste caso, os principais fatores que impactam esta relação são a renda das pessoas, o nível de desemprego, a disponibilidade de financiamento bancário e até mesmo a demografia.

O aumento do PIB per capita e da renda das famílias impactam proporcional e diretamente a demanda por imóveis, proporcionando valorização dos ativos, ao

“...a principal causa na variação no valor dos imóveis é dada pela Lei da Oferta e da Demanda...”

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Investimentos

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passo que o desemprego ou até mesmo a perspectiva de perda da renda agem no sentido contrário, adiando a decisão de aquisição do imóvel. A disponibilidade de financiamento bancário é outro fator que influencia diretamente as vendas do segmento. Quanto à demografia, a influência no setor é advinda dos nascimentos, mortalidade e da migração de pessoas de uma área para outra. A redução do número de filhos por família (população) diminui a demanda, enquanto o aumento do número de divórcios a aumenta.

Apesar dos rendimentos proporcionados pela locação de imóveis possuírem fluxos mensais, os riscos e as desvantagens de se investir em ativos imobilizados para fins de locação são muitos: vacância, inadimplência e a depreciação do imóvel, por exemplo. Havendo vacância, não é apenas o custo de oportunidade que se assume, mas também as despesas de condomínio (se for este o caso), taxas de água e luz. A inadimplência é o equivalente ao risco de crédito do mercado financeiro, qual seja, o de uma

contraparte (neste caso, o inquilino) não honrar o seu compromisso. Deve ser observado também o risco legal que sucede ao risco de inadimplência, que são as alterações nas leis, que podem alterar os direitos do locador.

Neste estudo, consideramos um investimento de prazo bastante extenso e eventuais alterações no preço do imóvel seriam refletidas no preço do aluguel. Ademais, não foi considerado o aspecto do imóvel ter um movimento eventualmente aleatório ao mercado imobiliário, devido a questões como variação do preço especificamente daquele local ou daquele tipo de planta, a despeito das flutuações de preço do mercado como um todo.

De acordo com o FipeZap, calculado pela Fipe, o retorno médio da locação de um imóvel de 2 (dois) dormitórios na cidade de São Paulo é 0,40% ao mês. Assim como foi feito em relação à NTN-B 2024, foi

calculado o VPL dos fluxos dos aluguéis mensais do imóvel entre fevereiro/2018 e agosto/2024. O resultado obtido foi de aprox. R$ 110 mil, descontado o IPTU médio anual de 1,1%, além da correção inflacionária.

Quanto aos fluxos de recebimento, o imóvel proporciona relativa vantagem financeira, pois, enquanto a NTN-B proporciona cupons semestrais, o aluguel auferido é mensal. Entretanto, por ser de imediata liquidez, as NTN(S) podem ser vendidas diariamente se necessário, enquanto os imóveis são ativos que possuem baixa liquidez e que invariavelmente sofrem descontos em seu preço, quando o proprietário necessita vendê-los no curto prazo.

Em termos de precificação, os títulos públicos possuem vantagem em relação aos imóveis, pois podem ser “marcados a mercado”, ou seja, estes ativos são fácil e universalmente precificáveis e estes preços são públicos e de fácil acesso, extinguindo

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Investimentos

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assim a necessidade de tempo de pesquisa de preço, modelo etc., ao passo que a correta precificação de um imóvel depende de uma serie de variáveis, como visto anteriormente.

Adicionalmente, em algum momento, o imóvel irá requerer investimento em manutenção, ou seja, despesas com reformas que podem representar percentuais consideráveis em relação ao valor do bem.Em termos de recolhimento de imposto, a principal diferença é a existência do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU), cuja base de cálculo é o valor do imóvel e a alíquota é estabelecida por cada município. Quanto à tributação sobre os rendimentos, ambos sofrem incidência de Imposto de Renda. Enquanto os aluguéis

ASPECTOS TITULO PUBLICO (NTN-B) IMÓVEIS (ALUGUEL)Fluxos Semestrais MensaisCorreção (Indexadores) IPCA IGP-MTributação IR IR e IPTULiquidez Imediata Baixa LiquidezPrecificação Uniforme e transparente Complexa Risco de Crédito Baixíssimo Inadimplência Risco Legal Não há Alteração nas LeisDespesas Custódia corretagem CartoráriasManutenção Taxa de custódia ReformasOperacional Cadastro simples Certidões e registros

TABELA DECOMPARAÇÃO

podem ser tributados em até 27,5% (conforme tabela da Receita Federal), as NTN-B(s) e seus cupons são tributados conforme o prazo de resgate/vencimento, variando entre 15 e 22,5%.

Sob o aspecto operacional, enquanto a aquisição de um imóvel requer a observação de uma série de documentos, tais como certidões cartorárias por exemplo, a aquisição de títulos públicos federais requer apenas um simples cadastro em corretora de valores, proporcionando notável vantagem em eficiência e agilidade à conclusão da efetivação da compra dos títulos públicos comparada à compra de um imóvel.

“...as NTN-B(s) e seus cupons são tributados conforme o prazo de re s g a t e / ve n c i m e n t o, variando entre 15 e 22,5%.”

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Investimentos

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Planejador financeiro certificado desde 2011.

Formado em Administração (FECAP), em Ciências Atuariais (UniFMU) e MBA em Economia e Setor Financeiro (FIPE). Possui 10 anos de experiência como Relationship manager de clientes Institucionais. Planejador financeiro CFP pela Planejar e Analista de Carteiras e Valores Mobiliários pela APIMEC.

Wellington Lanza, CFP®

CONCLUSÃO

Apesar de o investidor enxergar as alternativas sob uma ótica muito particular, alguns aspectos quantitativos e fundamentais não podem ser desprezados quando comparamos o investimento em imóveis ao investimento em títulos públicos.

Primeiramente, a decisão de se investir em imóveis deve ser definitivamente descartada, por exemplo, se o recurso necessário à aquisição é o único disponível pelo investidor, pois, dentre todas as recomendações dos especialistas em planejamento financeiro pessoal, a recomendação menos conservadora orienta que se tenha investido no mínimo o equivalente a 3 (três) meses de despesas, em investimento de liquidez imediata e de baixíssimo risco, a chamada margem de segurança.

O investimento em imóvel poderia ser justificado pela sua capacidade de impor disciplina orçamentária ao definir prioridades de compromisso, tornando a poupança um sacrifício necessário e mais suportável, pois muitos justificam ainda que assumir o compromisso da prestação é a única maneira através da qual conseguem economizar recursos.

Após a análise e a comparação dos diversos aspectos qualitativos, de riscos e de liquidez, percebeu-se

que os títulos públicos apresentam vantagens representativas em relação aos imóveis, tais como a eficiência para concluir a operação, o baixíssimo risco de crédito e a liquidez imediata, respectivamente.

Mesmo desconsiderando todos os custos com reformas, o investimento em NTN-B mostrou-se financeiramente mais vantajoso nas premissas adotadas. Naturalmente, esta avaliação econômica financeira não é estática, sobretudo à luz da redução da taxa Selic, que afeta proporcional e diretamente a remuneração dos títulos públicos e, portanto, deve ser revista e calculada constantemente à medida que se observam variações nos cupons e no valor dos imóveis/aluguéis praticados.

Alguns investidores poderiam ainda adquirir o imóvel antes da conclusão da obra, entretanto, como em todos os investimentos, quanto maior o retorno esperado, maior o risco agregado, e neste caso não é diferente. A valorização de imóvel adquirido “na planta” pode apresentar maior retorno ao investidor justamente porque o risco assumido pelo comprador também é muito superior, qual seja, do imóvel não ser entregue. Em linhas gerais, as teorias de investimentos sugerem assertivamente a diversificação do portfólio, contudo, se as duas opções de investimento pesquisadas fossem mutuamente excludentes, os imóveis seriam, nas premissas verificadas nesta pesquisa, preteridos em relação às NTN-B(s).

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Especial - Finanças e Mulheres

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SAIBA COMO IDENTIFICAR O PERFIL FINANCEIRODA SUA CLIENTE PELO SEU CONSUMO DE SAPATOS.

Viviane Ferreira, CFP®

PORQUE FALAR DE PLANEJAMENTOFINANCEIRO FEMININO?

Da mesma maneira que temos diferenças entre sapatos femininos, moda feminina, porque não ter diferença ao falar de planejamento financeiro feminino?

O ponto de vista, características e interesses dos homens e mulheres são diferentes, assim como a necessidade e a forma de ver o mundo, por este motivo é importante também falarmos de finanças com foco nas mulheres. Em termos de longevidade, a expectativa média de vida do brasileiro é de 75,8 anos, sendo que a mulher vive em média 7 anos a mais que o homem. A expectativa de vida da mulher é de 79,4 anos enquanto que a do homem é de 72,2 anos e este dado reforça a relevância do planejamento financeiro feminino.

Há alguns anos venho pesquisando sobre como incentivar as mulheres a investir mais e melhor e como conscientizar que pensar no longo prazo significa viver melhor no presente também.

Após a leitura de diversos livros especializados em mulheres, neste ano criei uma pesquisa online e uma intervenção na Av. Paulista, em São Paulo, para conscientizar as mulheres sobre a importância de investirem com o movimento: “Não compre sapatos, faça investimentos ... para realizar sonhos”. A intervenção contou também com a entrevista de uma especialista no assunto, criadora do método Estilo com Propósito, que já foi consumidora compulsiva, superou a compulsão e hoje é consultora de estilo pessoal e entusiasta do consumo consciente, a Vivian Cardinali.

Este artigo apresenta os resultados da pesquisa,

que teve o objetivo de identificar tanto os vícios de consumo de sapatos das mulheres quanto os hábitos de organização financeira e investimentos. Desta maneira os dados estarão disponíveis para que os planejadores financeiros possam utilizá-los em seu trabalho. 

O CONSUMO DE CALÇADOSPELAS MULHERES

Conforme dados coletados junto à FECOMERCIO, no mundo todo, as mulheres consomem 20% mais sapatos do que os homens. A produção mundial total de sapatos em 2017 foi de 22 bilhões, sendo 12 bilhões de calçados femininos.

A pesquisa foi realizada com cerca de 350 mulheres e as informações sobre o perfil do público estão disponíveis no final deste artigo.

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Especial - Finanças e Mulheres

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Os resultados em relação ao consumo de sapatos do público entrevistado são surpreendentes e 98% compraram pelos menos 1 par de sapato em 2017, sendo que 61% consumiram entre 1 e 5 pares, 27% entre 6 e 10 pares e 10% compraram mais do que 10 pares.

Em relação à quantidade de sapatos, a maioria, 72%, tem menos de 50 pares. O resultado desta pergunta foi interessante porque 4% especificaram que possuem bem menos do que 50 pares e algumas relataram que já tiveram por exemplo 120 pares e hoje possuem menos que 30, mostrando que conseguiram mudar radicalmente o vício de consumo.

A maioria do público pesquisado gasta R$ 200,00 por par de sapato. Ou seja, 67% das mulheres gastam entre R$ 100,00 e R$ 300,00, por par, 19% pagam menos que R$ 100,00, 12% entre R$ 300,00 e R$ 600,00 e apenas 2% compram sapatos com valores acima de R$ 600,00.

A pergunta que também indica sobre os hábitos de consumo é “Qual a forma de pagamento que você costuma usar ao comprar seus sapatos?” 41% compra parcelado no cartão de crédito, 25% paga à vista sempre negociando desconto antes, 20% só parcela no cartão se não tem desconto à vista, 10% paga à vista e não pechincha, 3% paga à vista no cartão de crédito.

HÁBITOS DE ORGANIZAÇÃOFINANCEIRA E INVESTIMENTOS

A pesquisa contempla várias questões de organização financeira e investimentos das mulheres. A maioria, 68% afirmam controlar as despesas de alguma maneira, 25% controlam às vezes e 7% não fazem controle de seus gastos.

Ao perguntar como fazem este controle, algumas perceberam que na verdade não controlam aumentando o indicador de 7% para 9%. A planilha de Excel ainda é a forma preferida por 38% das mulheres, as agendas e cadernos de anotação estão em seguida e são utilizados por 31%, os aplicativos

de celular ainda não caíram no gosto das mulheres e somente 11% utilizam, o controle pelo extrato da conta corrente e do cartão de crédito é usado por 7%. Ainda tem uma parcela que confia na grande cilada do nosso orçamento, as contas de cabeça: 4% do público confessa utilizar este péssimo método.

O planejamento das compras do mês seguinte é realizado pela maioria, 52% das mulheres, 38% não planejam as compras e 9% nunca pensaram sobre o assunto.

Os objetivos que as mulheres investem são diversos, entretanto identificamos os principais: 29% investe para garantir tranquilidade e qualidade de vida na

FORMAS DEPAGAMENTO

41%

3%26%

20%

10%

a prazo, parcelado no cartão decréditoà vista no cartão de crédito

à vista e negocia desconto

só parcela no cartão se não temdesconto à vistaà vista, não questiona o preço

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Especial - Finanças e Mulheres

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aposentadoria, 21% investe para ter segurança e ter reserva para imprevistos e emergências, 18% está preocupada em terminar de pagar o financiamento imobiliário ou comprar imóvel, 8% estão focadas em juntar dinheiro para viajar, 3% investem para o negócio próprio e o mesmo número investe pensando na educação dos filhos, 3% tem motivos diversos como tirar um ano sabático e 15% não identificaram objetivos para investir.

No meu ponto de vista, estes 15% sem objetivo mostra que uma parcela do público ainda não percebeu a importância dos investimentos na vida. Ter investimentos ajuda a evitar dívidas em momentos de crise e é fundamental para construir um patrimônio para a aposentadoria.

Em relação à investimentos financeiros, tive uma surpresa ao identificar que a maioria, 65% das mulheres tem investimentos financeiros e 35% não. A surpresa foi ainda maior ao perceber que 57% das mulheres que possuem investimentos conseguem se manter mais do que doze meses com os investimentos que possuem, 19% conseguem se manter de seis a doze meses, 15% possuem investimentos para se manter por dois a cinco meses e 8% conseguem se manter por somente um mês.

Sendo que das mulheres que possuem investimentos,

a maioria, 68%, não sabe onde investir ou não tem segurança nesta decisão. Somente 32% afirmaram que pensam saber onde investir. Investir com segurança é um ponto crítico para a grande maioria da população.O brasileiro esteve acostumado com altas taxas de juros por muitos anos e a cultura de “investir” na Poupança ainda é muito forte. Atualmente temos muitas opções interessantes de investimentos, entretanto a dificuldade em entendê-los, o medo do risco e de perder dinheiro, leva muitas pessoas a deixarem os investimentos na poupança por não ter segurança ao escolher os investimentos. Percebo que isso é muito frequente entre toda a população e principalmente as mulheres.

Entretanto, em geral, a mulher possui um perfil pesquisador e detalhista e quando se propõe a entender os investimentos, se torna uma investidora cautelosa e muito competente. Estamos vivendo um momento de posicionamento da mulher perante seu poder econômico devido ao significativo crescimento de renda que a mulher tem tido nos últimos 30 anos. O aprendizado e a segurança que a mulher precisa ao investir está sendo construído e acredito que em breve conseguiremos mudar este cenário e ensinar as mulheres a tomarem decisões de investimentos com segurança, tenho trabalhado neste sentido.

Em relação ao percentual da renda que elas investem,

MESES DE RESERVA DOS

INVESTIMENTOS

35%

5%

10%13%

37%Não possuem investimentos1 mês2 a 5 meses6 a 12 mesesmais que 12 meses

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Especial - Finanças e Mulheres

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14% das mulheres aplicam mais do que 20% da renda mensal, 23% investem entre 10 e 20% da renda, 33% guardam menos de 10% enquanto que 31% não investem com regularidade. Portanto 64% investem pouco, menos que 10% da renda ou não investem nada. Neste sentido acredito que é imprescindível conscientizarmos as mulheres sobre a importância de investirem mais dinheiro para que o percentual de mulheres que investem mais que 10% da renda aumente.

CONCLUSÃO: QUAL A RELAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE SAPATOS E O PLANEJAMENTO

FINANCEIRO FEMININO?

À primeira vista pode parecer que estes temas não têm relação, mas identificamos que muitas mulheres têm paixão por sapatos e compram muito mais do que o necessário.

A pesquisa nos possibilita fazer uma correlação entre o comportamento de consumo com a falta de planejamento financeiro. Ficou evidente que o consumo exagerado de calçados impacta no baixo investimento para a realização de objetivos, como por exemplo a construção da independência financeira e aposentadoria.Por este motivo escolhemos utilizar os sapatos como

símbolo do movimento e dos comportamentos de consumo excessivo e prejudicial à vida financeira das mulheres, utilizando a frase de impacto: “Não compre sapatos, faça investimentos”.

A pesquisa nos possibilitou cruzar diversos dados e identificar principalmente que as mulheres que mais consomem sapatos são as que menos investem, e por outro lado aquelas que mais investem, consomem menos sapatos.

Percebeu-se ainda que o preenchimento da pesquisa em si trouxe para diversas mulheres um efeito de reflexão, autoconhecimento dos vícios de consumo e consciência de gastos desnecessários. Recebi relatos interessantes como: “Ao responder a pesquisa refleti e fiquei consciente de que tenho 78 pares de sapatos e chocada ao perceber que no ano passado comprei 6 pares, mesmo estando desempregada!”.

O dado mais impactante da pesquisa é comprovar que as mulheres que mais compram sapatos são as que menos investem.

Entre as mulheres que compraram mais de 6 pares de sapatos no ano passado, 75% não possuem nenhum dinheiro guardado ou investem pouco, menos que 10% da renda.

Além disto, 37% é o total de mulheres que investem mais que 10% da renda mensal sendo que destas 50% compraram 0 a 5 pares de sapatos em 2017.

Este dado nos leva a concluir que temos uma relação direta entre o alto consumo de sapatos e o baixo nível de investimento financeiro das mulheres.

A chance de uma mulher que comprou mais que 6 pares de sapatos no ano passado não ter dinheiro guardado ou investir o suficiente é de 75%.

Este dado comprova que as mulheres compraram mais sapatos do que o necessário e guardaram menos do que precisam. Ao mesmo tempo podemos concluir que as pessoas que não possuem planejamento financeiro, gastam mais por impulso. Portanto o planejamento financeiro leva as pessoas a consumirem de forma mais inteligente e planejada, contribuindo para o consumo consciente.

Com o objetivo de compreender como viver com menos sapatos, entrevistei a consultora de estilo e consumo consciente, Vivian Cardinali. Ela contou como superou a compulsão de consumo ao desenvolver o autoconhecimento e perceber que sua infelicidade e ansiedade estavam dentro dela e não fora. Ela tinha 100 pares de sapatos e atualmente vive com 12 pares.

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Especial - Finanças e Mulheres

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Entre as principais mudanças em sua vida, ela conta que hoje vive em paz consigo mesma e aprendeu a escolher com critério tudo o que entra em sua vida. Todas as compras são muito bem planejadas e ela faz compras somente com muito tempo disponível para experimentar e testar qualquer calçado. Hoje ela compra sapatos de valores mais altos, geralmente entre R$ 400,00 e R$ 600,00 e ela não usa sapatos que machucam seus pés.

Uma grande dica que ela tem para nós e que podemos compartilhar com nossos clientes é que é importante comprar sapatos e outros itens que sejam usados em várias ocasiões, seja para ir a uma festa ou para trabalhar. Ao compreendermos a versatilidade das peças, podemos ter menos calçados com mais utilidade para cada par e assim é possível alcançar o objetivo de comprar menos sapatos e fazer mais investimentos.

Elaboramos um vídeo ilustrando a pesquisa que você pode conferir no link:https://youtu.be/6PA7OZW8Oik

PÚBLICO PESQUISADO

O público que respondeu à pesquisa foi de 350 mulheres.

É planejadora financeira certificada desde 2007.

Engenheira Química formada pela UFSCar com especialização em finanças e consultora de Investimentos credenciada pela CVM desde 2011.

Trabalha há 13 anos desenvolvendo estratégias de investimentos e planejamento financeiro para clientes. Anteriormente trabalhou 10 anos em consultoria ambiental. Atualmente é palestrante e realiza consultoria de planejamento e estratégias financeiras para pessoas e para empresas de pequeno e médio porte.

É autora do livro “Vivificar, superando o imponderável”, em 2ª edição.

Viviane Ferreira, CFP®

IDADE

FAIXA DE CUSTO DE VIDA

1%

34%

48%

17%0%

Menos que 22 anos Entre 23 a 40 anos Entre 41 a 53 anos Entre 54 a 73 anos Acima 74 anos

12%

27%

30%

31%

Até R$ 2.000,00 Entre R$ 2.001,00 a R$ 5.000,00De R$ 5.001,00 a R$ 10.000,00 Acima de R$ 10.000,00

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Tecnologia

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CONSIDERAÇÕES SOBRE INVESTIMENTOSEM CRIPTOMOEDAS

Gustavo Cunha, CFP®

No segundo semestre do ano passado não foram poucas as reportagens sobre pessoas que investiram alguns milhares de dólares ou reais em criptomoedas, e que fizeram uma fortuna incrível, coisa de 100, às vezes 1000 vezes o valor investido em pouco mais de dois anos.

Foi dentro desse cenário que eu e muitos outros investidores passamos a estudar o assunto, para ver se era mesmo possível que um ativo criado com base em criptografia, sem um emissor, sem órgão regulador (contraparte central) e totalmente virtual, fizesse de quem o comprasse um milionário num curto espaço de tempo.

Umas das afirmações que mais encontrei nas minhas pesquisas foi a de que as criptomoedas seriam a nova internet, e teriam no mundo impacto semelhante ao que tem o www dos anos de 1990. A diferença aqui é que na época do www não havia como comprar/investir nesta tecnologia, a não ser por investimentos em poucas startups que eram criadas, na sua maioria fora do Brasil, e que para nós investidores termos acesso precisaríamos ter contatos no local onde elas eram criadas (essencialmente no Vale do

Silício) e formas de se mandar o dinheiro para lá para investir. No caso das criptomoedas hoje, não só há liquidez para comprar e vender quando queremos, mas também um preço que é cotado nas “corretoras” de criptomoedas onde podemos comprar usando praticamente qualquer moeda emitida por qualquer país (USD, EUR, BRL...).

É óbvio que um assunto tão complexo e tão pouco conhecido acaba abrindo espaço para estelionatários que se aproveitam para construir esquemas fraudulentos de pirâmides... Inúmeros deles foram criados aqui no Brasil. O mais emblemático e conhecido foi o da Kriptacoin, de Brasília, que afetou mais de 40 mil pessoas, sumiu com mais de R$250 milhões, e hoje corre um processo penal com mais de dez pessoas indiciadas. Essa tecnologia está em sua infância e uma variação enorme de preço (para cima e para baixo) é bastante comum, fazendo com que qualquer garantia de rentabilidade seja no mínimo suspeita.

BEM, MAS VAMOS COMEÇAR PELO COMEÇO.

As criptomoedas foram criadas a partir da tecnologia

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Tecnologia

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conhecida como Blockchain, que tem o Bitcoin como sua primeira aplicação. Elas são uma forma segura, imutável e sem dependência de intermediários para fazermos transferência de valores através do meio virtual. São moedas sem lastro. Ou melhor, o lastro é a crença e o histórico de nove anos de que o software existe sem que nenhuma violação tenha ocorrido.

Essa questão do lastro é bastante recorrente, mas pouco entendida, já que nenhuma moeda hoje tem lastro no sentido literal da palavra. A última forma de lastro de moeda se extinguiu com o padrão-ouro, no início da década de 1970, e de lá para cá o que tivemos foram moedas “lastreadas” pelo governo. No caso do Bitcoin, o “lastro” passa a ser um software. Ou seja, nenhum dos dois tem lastro, mas no caso do primeiro (moeda fiduciária) temos um governo por trás, e no caso do Bitcoin e das demais criptomoedas temos a confiança em um software.

Outro ponto importante sobre o Bitcoin é que ele é ao mesmo tempo uma rede de software que possibilita e facilita todas as transações e também uma cripto com valor comercial e de troca. Na categoria de rede, o Bitcoin tem um mecanismo de consenso muito inovador, em que todos os participantes da rede têm muito mais incentivos a fazê-la funcionar do que a fraudá-la. Esse incentivo é dado através da emissão de novos Bitcoins a cada bloco que é registrado. Na

categoria de cripto, sua utilização como meio de troca e pagamento têm vantagens significativas em relação a várias operações feitas hoje, nas quais há a dependência de intermediários. Pagamentos de cartão de crédito, nos quais várias taxas são cobradas dos comerciantes, e operações de câmbio, que em geral demoram dois dias para serem liquidadas, são exemplos claros.

Mas nem tudo são vantagens quando se trata dessa “desintermediação”. Uma responsabilidade que essa tecnologia traz é a de guardarmos, nós mesmos, nossas senhas para acesso a esses valores. Como o sistema não tem intermediários, cabe a cada um dos usuários essa responsabilidade. Não há central de atendimento para pedir uma senha nova. E é aqui que tivemos inúmeras histórias tristes no decorrer desses últimos anos. Gente que perdeu a senha de acesso a sua conta (chave privada, como é usualmente chamada) e nunca mais terá acesso à conta e aos valores que estão nela. Ou de pessoas que acabaram deixando suas criptomoedas “custodiadas” em corretoras que foram rackeadas, ou que deixaram sua chave privada em algum arquivo que foi invadido e copiado. O fato de não termos intermediários traz coisas boas, mas também traz uma mudança no modus operandi que nós estamos acostumados a ter.

Para entendermos as criptos como investimentos,

“O fato de não termos intermediários traz coisas boas, mas também traz uma mudança no modus operandi que nós estamos acostumados a ter.”

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de dólares no mercado internacional (colocando-se valor nisso, foram mais de USD 5,0 bilhões captados somente no segundo semestre de 2017). Neste caso, para o investidor, é a mesma cabeça de um investidor em um startup: projeto bem no início, com altíssimo risco de entrega, mas cuja recompensa, se der certo, será imensa. Para quem for trilhar esse caminho, além dos cuidados mais tradicionais em avaliar o projeto, sócios, a proposta para não cair em algum esquema fraudulento, vale e muito a ideia de diversificação, já que inúmeros projetos não terão sucesso, mas os poucos que têm acabam dando uma rentabilidade que paga todos os outros.

Mais uma face é a dos tokens que são fichas de troca em um ambiente fechado. Podemos dar como exemplo as milhas de viagens, fichas de quermesse, fichas de cassino etc. São tokens que valem para trocas dentro do ambiente em que estão, mas não fora. Por exemplo: não se pode comprar um café com

temos que distinguir as várias faces que esses tokens (assim são chamados todos os valores emitidos com base na tecnologia Blockchain) podem ter.

A primeira é a de meio de pagamento. Aqui se encaixam, além do próprio Bitcoin, Litecoin, Dash, Monero, dentre outras. Esses tokens são conhecidos como criptos e têm em sua essência a ideia de cumprirem os três papéis que a moeda cumpre hoje (unidade de conta, meio de pagamento e reserva de valor). Nenhuma delas atingiu tal estado ainda, mas há uma esperança, ou aposta, de que no futuro isso seja possível.

Outra face vem através dos tokens que são valores mobiliários, ou seja, muito parecidos com as ações de empresas que conhecemos hoje. Esses tokens são geralmente emitidos via operações conhecidas como ICOs (Initial Coin Offering – em uma referência clara aos Initial Public Offering, IPOs, feita para emissão de ações em Bolsa) e chegam a levantar milhões

milhas de companhias aéreas, mas pode-se comprar passagens aéreas e algumas outras coisas dentro do ambiente provido pela empresa de milhas.

Essas três categorias muitas vezes não são autoexcludentes, e um token pode ser trocado por diversas moedas em algumas corretoras, assim como podemos ter tokens advindos de ICOs que são híbridos entre o que entendemos hoje como ações (valores mobiliários) e programas de milhagem. Temos que prestar bastante atenção e analisar com cuidado cada um deles.

Uma coisa igualmente importante é onde se informar sobre esse assunto, pois é um mundo muito dinâmico e a todo tempo temos novidades. Para quem for entrar nisso, ansiedade e angústia são termos muito comuns, já que é humanamente impossível acompanhar todos os desdobramentos todos os dias. Temos vários portais de informações sobre isso, dentre os quais eu

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destacaria os locais infochain, portaldobitcoin, além das corretoras foxbit e mercadobitcoin. Entre os sites internacionais, temos a coindesk e a cointelegraph, além de inúmeros outros portais.

Para saber mais sobre qualquer cripto no mundo o site coinmarketcap é o mais completo. Lá é possível acompanhar os preços diários (incluindo histórico) de mais de 1500 criptos. Para acompanhar os preços do bitcoin no Brasil, o site do bitvalor é o recomendado, pois traz os preços e volumes de praticamente todas as corretoras locais.

Em relação à legislação e regras aqui no Brasil, a receita federal é a mais clara e avançada nessa discussão. Todos os tokens são tratados como bens e devem ser declarados na declaração de ajuste anual da Receita. Se a venda desses ativos mensais for superior a R$ 35.000,00, os ganhos de capital devem ter seu imposto recolhido até o último dia do mês seguinte à venda pela tabela vigente (hoje é de 15% se o valor da venda for inferior a R$ 5 milhões, e sobe progressivamente até atingir a alíquota de 22,5% se o valor da venda for superior a R$ 30 milhões).

Quanto à emissão de tokens no Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) já se pronunciou algumas vezes com a mensagem de que todo e qualquer valor mobiliário têm que passar por sua análise para

posterior enquadramento nas regras de emissão de valores mobiliários ou dispensa de registro. O primeiro token emitido aqui no Brasil foi o da Bomesp, que passou pela análise da CVM, que depois de muito discutir, proferiu uma decisão na qual atesta que o Niobium (nome do token da Bomesp) não era um valor mobiliário e, portanto, não cabia a CVM nenhuma análise.

A CVM também se pronunciou recentemente sobre a possiblidade de fundos de investimentos no Brasil terem criptomoedas para compor o seu patrimônio, e disse claramente que tal possibilidade está vetada até que a CVM analise os riscos e controles necessários. Ou seja, proibiu até que entenda melhor.

O Banco Central do Brasil também tem se pronunciado regularmente sobre o assunto, colocando os perigos de se aplicar nesses ativos e para todos se atentarem à legislação cambial quando utilizarem essas criptos ou tokens para fazer operações que envolvam mais de uma jurisdição.

Em relação ao montante a ser investido, duas coisas são muito importantes. A primeira é estudar e entender como funciona e suas diferenças com o mundo de contrapartes centrais que temos hoje. O segundo é começar com pouco. Acredito que a melhor união sempre venha de uma teoria bem aprendida com

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SITES CITADOS:

• www.bitvalor.com.br• www.coinmarketcap.com• www.foxbit.com.br• www.mercadobitcoin.com.br

• Tributação de ganhos de capital: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2016/lei/l13259.htm

• Comunicado BCB:http://www.bcb.gov.br/pre/normativos/busca/normativo.asp?numero=31379&tipo=Comunicado&data=16/11/2017

• Comunicados CVM:ICO: http://www.cvm.gov.br/noticias/arquivos/2018/20180307-1.html

• Investimentos de fundos em criptos:http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/legislacao/oficios-circulares/sin/anexos/oc-sin-0118.pdf

• Manifestação CVM sobre o Niobium:http://www.cvm.gov.br/export/sites/cvm/decisoes/anexos/2018/20180130/088818_ManifestacaoSRE.pdf

aplicações práticas, então é estudar e começar a comprar valores pequenos para realmente “sentir” as diferenças, vantagens e desvantagens.

Por fim, de tudo que estudei e experimentei nesses últimos anos a respeito dessa tecnologia, está claro que o Blockchain irá mudar muito o mundo daqui para frente, e ter a possibilidade de participar dessa revolução através de investimentos que se beneficiarão disso é espetacular.

Planejador financeiro certificado desde 2017.

Profissional com mais de 20 anos de experiência no mercado financeiro brasileiro e internacional, com amplo conhecimento das dinâmicas de mercado especialmente em assuntos ligados a produtos financeiros, risco e regulamentação. Dentre outras posições, foi diretor estatutário responsável pelas áreas de tesouraria, capital markets e trade finance do Banco Rabobank Brasil. Hoje atua como consultor financeiro registrado na CVM, é sócio da Finlab Planejamento Financeiro, da Gorila.com.vc (fintech), professor da B3 (antiga Bmf&Bovespa), palestrante sobre temas relacionados a Blockchain e Criptomoedas e apresentador do programa F5 da InfomoneyTv. Formado em Administração de Empresas pela EAESP-FGV e em Economia pela PUC-SP, tem também mestrado em Economia Política pela PUC-SP e pós graduação pelo Programa de Desenvolvimento de Executivos do IMD-Suiça

Gustavo Cunha, CFP®

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GOVERNANÇAFAMILIAR

Arthur Kernkraut e Lucas Yamamoto Magna

O artigo em questão, sobre governança familiar, mostra a importância das empresas familiares para a economia como um todo, e suas dificuldades mais comuns. Ademais, sugere um modelo de estrutura para melhor acomodar os interesses familiares, de maneira eficiente para a perpetuação e até para a ampliação do patrimônio familiar.

Como a estrutura familiar permite uma tomada de decisões mais rápida e eficiente que a maioria das empresas, elas produzem algo entre 64% e 75% da renda nacional, tanto em países desenvolvidos quanto em países não desenvolvidos. Mesmo com todas essas vantagens, a taxa de mortalidade dessas empresas é alta, com número comparável ao das empresas comuns, sendo que 30% das empresas

sobrevivem à gestão dos filhos dos fundadores e apenas 5% sobrevivem à terceira geração da família.

As dificuldades enfrentadas pelas famílias herdeiras são a causa desses números impressionantes. Neste trabalho, procuramos sintetizar e agrupar esses problemas, de maneira a caracterizar os tipos mais frequentes de desafios enfrentados na sucessão patrimonial familiar, elencados abaixo:

• A superestimação do bem-estar do restante da família por quem está no comando da empresa, acreditando que o sucesso obtido nos negócios está alinhado com o bem-estar e prioridades dos demais familiares, o que causa problemas futuros e ainda atrapalha a adoção de práticas de

governança familiar;

• A affluenza, ou a tendência de herdeiros crescerem com excesso de luxo e falta de regras e propósito, levando-os assim a terem um comportamento autodestrutivo, que prejudica tanto a capacitação na perpetuação do patrimônio, quanto a imagem da família;

• A diluição do grupo entre a família como um todo, resultante do desgaste das relações dentro da família, culminando em um ponto em que consensos podem se tornar impossíveis. Um exemplo desse problema, que podemos citar, é a história da Reliance, uma empresa indiana que sofreu tantas brigas entre os dois filhos do

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Espaço Acadêmico

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fundador, que acabou sendo dividida em duas unidades menores, uma para cada filho.

• A falta de profissionalização na gestão da empresa é um outro grande fator que acaba por impedir a continuação das empresas familiares. Muitos comandantes de empresas familiares não se preocupam em passar o conhecimento para a próxima geração, ou em contratar gestores profissionais para auxiliar na gestão, o que pode levar até mesmo à falência do empreendimento.

• O sentimento de injustiça dentro da família aparece com frequência como um outro fator que desestabiliza o funcionamento da empresa familiar. Como uma empresa familiar toma várias decisões que afetam diretamente a família controladora, não é difícil que elas se tornem um motivo de ressentimento, principalmente se não forem tomadas de forma transparente. O caso do Grupo Matarazzo foi emblemático por combinar esses dois últimos pontos, resultando assim em uma família dividida que observou a destruição do conglomerado durante a gestão de um dos filhos do fundador.

• Não considerar os outros shareholders na tomada de decisões, mesmo quando já houve o processo de abertura de capital, considerando

somente os seus interesses individuais, de forma a utilizar os recursos da empresa para benefício exclusivamente próprio.

A implementação de uma boa governança familiar se mostra necessária para que essas dificuldades sejam contornadas. Entretanto, antes de entender a importância de uma boa governança, é fundamental a compreensão da dinâmica de uma empresa familiar. Segundo o modelo proposto por John Davis, a estrutura das empresas familiares é dividida em três círculos superpostos, como mostrado na imagem abaixo:

a) o de propriedade – regido pelo acordo de sócios;b) o de gestão – regido pela governança corporativa;c) o da família – regido pala governança familiar.

Para o bom funcionamento de cada círculo, as diretrizes de cada parte devem ser independentes, mas isso nem sempre ocorre, porque alguns indivíduos participam de mais de uma estrutura e podem confundir os seus papéis em determinadas situações. Além do mais, a estrutura ótima de governança familiar depende de vários fatores, como número de sócios na empresa, quantidade de gerações na família, grau de participação dos membros na empresa e até mesmo da cultura do país em que a família vive. Os dois principais instrumentos para a criação de uma boa estrutura de governança familiar são a constituição familiar e as instituições de governança familiar.

A constituição familiar é um documento sem poder legal que tem o intuito de explicitar os valores, a missão e a visão da família, além de servir como um código de conduta para os familiares. Além dos tópicos previamente mencionados, a constituição geralmente aborda assuntos como: a imagem da família perante o público, a política de emprego para familiares na empresa, o desenvolvimento dos membros da próxima geração para comandar a empresa no futuro e o funcionamento das instituições de governança. É sempre bom ressaltar que, como a constituição é parte da estrutura de governança familiar, ela deve se atualizar e melhorar com o tempo, de maneira a evoluir junto com a família. As instituições familiares são estruturas organizacionais que, em conjunto com

PROPRIEDADE GESTÃO

FAMÍLIA

Gestores nãofamiliares e

não proprietários

Propreitários nãogestores e não

familiares

Gestoresproprietários

não familiares

Propreitáriosfamiliares não

gestores

Familiares não gestoresnão proprietários

Gestoresfamiliares nãoproprietários

Gestoresfamiliares

proprietários

2

1

3

4 5

6

7

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a constituição familiar, têm como objetivo solucionar os problemas previamente mencionados.

A primeira instituição é a assembleia familiar, que é uma reunião periódica para que todos os membros da família participem. As funções da assembleia são: definir e reiterar a constituição familiar, preparar a nova geração da família para assumir o empreendimento, alinhar os interesses entre os membros da família, comunicar tomadas de decisão que exercem influência direta no futuro da família e discutir potenciais novos projetos. Resumidamente, a assembleia serve para o alinhamento dos interesses dos membros da família e para que haja maior transparência nas decisões que afetam diretamente a família.

Com o surgimento de novas gerações dentro da família, a assembleia familiar se torna cada vez menos eficiente para as decisões familiares, e por isso se cria o conselho familiar, eleito pelos membros da assembleia. O conselho familiar, que possui papel análogo ao do conselho de diretores para com a empresa, é considerado o principal órgão de governança familiar, sendo responsável pela comunicação entre a família e a empresa, além de determinar as diretrizes desse relacionamento. Justamente pela sua importância na governança familiar, o conselho deve tomar alguns cuidados, como não tentar se sobrepor ao conselho de diretores, estar em frequente contato com o resto da família, ser extremamente transparente etc.

Com o intuito de preparar as novas gerações para que possam assumir o empreendimento familiar, ou pelo menos ter capacidade de defender os interesses da família futuramente em assuntos relacionados a negócios, surge o banco familiar. Essa instituição financia empreendimentos que atendem a dois critérios: o primeiro deles é que haja participação dos membros da família; e o segundo critério é que essa empreitada esteja de acordo com os valores e propósitos da família.

Uma outra instituição de governança com o objetivo de aumentar a participação dos membros da família, porém com um foco em reforçar a união familiar, é a filantropia. Essa instituição ajuda a prevenir o surgimento da affluenza ao garantir trabalho para os membros que não querem participar da empresa, além de reforçar os valores da família e reafirmar que a família é mais do que a empresa ao realizar trabalhos sem objetivos financeiros.

Apesar de ser uma instituição do ciclo de propriedade da empresa, o conselho de diretores muitas vezes tem um papel crucial para o bom funcionamento da governança familiar. Quando o conselho conta com membros independentes, o que é recomendado, estes membros atuam para impedir que os conflitos geracionais dentro da família afetem o negócio. Outra função do conselho de diretores é auxiliar na sucessão, que é um processo delicado e extremamente

A primeira instituição é a assembleia familiar, que é uma reunião periódica para que todos os membros da família participem.

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importante para a empresa que, se não for feito de forma transparente e justa, pode gerar ressentimentos.

A última instituição analisada é o family office. Além das funções normais de gestão de recursos e assessoramento na parte legal e tributária, o family office pode ajudar de diferentes formas na criação de uma boa estrutura de governança familiar. A gestora pode propor a criação de instituições de governança, como o conselho familiar, ou, caso a família já tenha um conselho, auxiliar na atuação deste, preparando atas e organizando as reuniões. Além disso, o family office pode tornar os processos mais transparentes, tanto participando da organização destes, como sendo responsável pela aprovação de um projeto para o banco familiar financiar ou pela seleção de familiares para trabalhar na empresa, quanto divulgando os acontecimentos mais relevantes para os familiares por meio de uma newsletter. Por fim, o family office pode ser um dos responsáveis pela estrutura do programa de preparação das novas gerações para que adquiram conhecimentos sobre investimentos e uma boa governança familiar.

No caso do Grupo Gerdau, a gestão foi profissionalizada na 3ª geração desde os fundadores, sendo que a família sempre priorizou passar de forma eficiente os valores e o conhecimento entre gerações. Por isso, a família permaneceu ativa na gestão de empresa até o começo de 2018, quando, já na 5ª geração, decidiu se

afastar e participar apenas no conselho. Outro caso de sucesso foi o do grupo Votorantim, que também valoriza a educação dos membros mais jovens e a transmissão de seus valores. Além disso, a holding que controla o grupo, a Hejoassu, atua como um conselho familiar, e na diretoria da empresa sempre há um mínimo de conselheiros independentes.

Podemos considerar que a adoção de instrumentos de governança familiar amplia em muito a possibilidade de garantir a sobrevivência da empresa por mais tempo e de evitar os erros mais comuns, impedindo assim sua inclusão nas altíssimas taxas de mortalidade de grupos familiares. Temos identificado uma tendência de estruturas cada vez melhores das governanças familiares e acreditamos que poderemos observar uma redução nos fracassos nos processos de sucessão dessas empresas.

Segue link do artigo completo, caso haja interesse do leitor em um maior detalhamento do exposto:

http://eesp.fgv.br/sites/eesp.fgv.br/files/file/GVINVEST%20Short%20Studies%20Series%2019.pdf

Estudante da graduação de economia na Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (EESP-FGV).

É o atual diretor de projetos da Consultoria Júnior de Economia da FGV (CJE-FGV).

Arthur Kernkraut

Estudante da graduação de economia na Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (EESP-FGV).

É membro da Consultoria Júnior de Economia da FGV (CJE-FGV).

Lucas Yamamoto Magna

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Indicação de Leitura

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INDICAÇÕES DE LEITURAA VERDADE É TEIMOSA, DIÁRIOS DA CRISE QUE ADIOU O FUTURO,DE MIRIAM LEITÃORene Almeida Sampaio Santos, CFP®

Em primeiro lugar, recomendo a leitura desse livro de maneira apartidária, apenas se atentando aos dados apresentados.

Na metade do livro já fiquei perplexo, pois fica muito claro que o governo vinha conduzindo a máquina pública e as políticas monetária e principalmente fiscal de maneira temerosa, de maneira que o final não tinha como ser outro, senão aquele a que infelizmente fomos condenados: uma das piores recessões do país e caos político culminando no impeachment da presidenta.

O livro é uma compilação de artigos publicados pela escritora em colunas de jornais da qual era colunista entre 2010 e final de 2016. E de forma estarrecedora o governo fecha os ouvidos aos alertas que são dados de forma clara.

Entendo ser importante a leitura desse livro para profissionais CFP® e investidores pois, numa gestão de carteira, o risco de mercado dos títulos públicos pode ser melhor administrado antevendo uma crise fiscal.

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Indicação de Leitura

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INDICAÇÕES DE LEITURAA ASCENSÃO DO DINHEIRO. A HISTÓRIA FINANCEIRA DO MUNDO, DE NIALL FERGUSON

O livro é uma leitura muito agradável pois o escritor, de maneira muito didática e rica em dados, vai discorrendo sobre a história das finanças nas civilizações.

Grana, tutu, dindin, numerário: chame-o do que quiser, ele tem importância. Para os cristãos, amá-lo é a raiz de todo o mal, para os revolucionários os guilhões do trabalho, mas para Niall são os fundamentos do progresso humano.

Existe uma frase socialista que fala que: abrir um banco e roubar um banco é a mesma coisa, mas para Niall “o acesso ao sistema bancário por mais pessoas traria maior prosperidade para qualquer nação”.

Leitura importante para profissionais e investidores pois, sem entendermos os erros e acertos do passado, não podemos tornar o futuro melhor e mais próspero.

Planejador Financeiro certificado desde outubro de 2016.

Formado em administração de empresas na Universidade Cidade de São Paulo. Com MBA em Banking pela FIA e diversos cursos de especialização em finanças na Anbima, FGV e The Wharton School.

Rene Almeida Sampaio Santos, CFP®

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A Vida Como Ela É

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voltarEntrevista

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ENTREVISTA:PAULO MAROSTICA, CFP®

Qual a pergunta mais frequente dos seus clientes?

Resposta: Muitos chegam até mim sem uma dúvida específica, sabem que precisam fazer algo pelo patrimônio, mas não tem ideia do que fazer. Assim poderia afirmar que a pergunta mais frequente é “Por onde começo?”

Qual o maior desafio do planejador financeiro hoje?

Resposta: Creio que o maior desafio é deixar claro para o cliente que o planejador é uma das peças da formação/manutenção do patrimônio, e o planejador não substitui a determinação pessoal/disciplina do cliente na construção/manutenção do patrimônio. Este desafio torna-se dificultado pelo atual momento

de mudanças demográficas previdenciárias.

As exigências e necessidades dos clientes têm mudado nos últimos anos? Como o planejador deve se adaptar às novas demandas?

Resposta: Penso que a atualização constante seja a melhor forma de se adaptar. Se o Brasil deixar de ser o “país do 1% ao mês” com risco soberano e passar a se aproximar dos países mais desenvolvidos no que diz respeito às taxas de juros, teremos que buscar uma maior eficiência nos benefícios e diferimentos fiscais e vantagens sucessórias para que no longo prazo a construção do patrimônio atinja a expectativa do cliente. “Assim poderia afirmar que

a pergunta mais freqüente é ‘Por onde começo?’”

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A Vida Como Ela É

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voltarEntrevista

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Como as novidades tecnológicas, os aplicativos principalmente, têm ajudado o planejador financeiro?

Resposta: Percebo algumas corretoras e mesmo bancos com funcionalidades que auxiliam o cliente no controle de entradas e saídas. Particularmente, no formato de trabalho por mim utilizado, deixo o cliente bem à vontade para que utilize qualquer ferramenta com a qual melhor se adapte.

Como a volatilidade no mercado brasileiro tem afetado os clientes e como o papel do planejador pode ser um diferencial no momento?

Resposta: Acredito fortemente na via da educação. Não abro mão de que os meus clientes passem por um nivelamento básico antes que inicie os atendimentos. Objetivamente, a volatilidade causa ansiedade nos clientes, a educação equilibra/reduz tal ansiedade.

Qual a importância da reciclagem educacional e profissional do planejador? Quais são as suas fontes de atualização?

Resposta: Não há competitividade sem reciclagem em nossa profissão. Sem reciclagem sua carteira vai estagnar isto se não reduzir. Como fontes, acompanho sites institucionais do Tesouro Direto, BACEN, CVM, além dos conteúdos da Planejar, sem abrir mão de

uma boa conversa com agentes autônomos, gerentes de contas e mesmo outros profissionais CFP®.

Planejador financeiro certificado desde 2015

É graduado em Ciências Contábeis pela UFPE, com MBA pela Hult International Business School, em Boston e Xangai, e Pós-graduado em Direito de Família e Sucessões pela Damásio Educacional, além de possuir o CFP® (Certified Financial Planner). Sua metodologia de trabalho considera um amplo espectro de informações acerca do cliente para oferecer-lhe planejamento financeiro pessoal e gestão patrimonial, além de oferecer palestras fechadas para conscientização no planejamento financeiro.

Com atuação em matéria tributária, bem como nas áreas bancária e de consultoria, Paulo destaca-se pela capacidade de oferecer soluções de planejamento financeiro que vão além da mera busca por um retorno imediato.

Paulo Marostica, CFP®

“Acredito fortemente na via da educação. Não abro mão de que os meus clientes passem por um nivelamento básico antes que inicie os atendimentos.”

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A Vida Como Ela É

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A VIDA COMO ELA ÉPLANEJAMENTO FINANCEIRO: TEORIA E PRÁTICA

Helena Rezende e Renan Lima, CFP®

A forma como as pessoas próximas a mim lidam com as finanças pessoais sempre me chamou a atenção. Observava como elas gastavam, como guardavam seu dinheiro e sempre tinham algum sonho para ser realizado. Percebi que não havia nenhum controle sobre os gastos e que, apesar de terem sonhos que demandavam um planejamento, não o faziam. A partir dessa curiosidade sobre as finanças do próximo, comecei a olhar para as minhas próprias finanças e se eu não estava cometendo os mesmos erros. Desde então, pesquiso e estudo sobre o planejamento financeiro a fim de aplicar no meu dia a dia e ajudar outras pessoas.

Diante da grande importância e diferença que o planejamento financeiro promove na qualidade de vida das pessoas, decidi me aprofundar sobre o assunto em um estudo de trabalho de conclusão de curso, no qual procurei conhecer a teoria e a prática

do processo. Uma pesquisa sobre os detalhes das formas de se realizar o processo, ou seja, as principais características a serem consideradas para nortear a elaboração do plano financeiro, como informações pessoais e financeiras, objetivos principais do cliente, identificação do perfil para tornar possível a efetividade do plano.

Para aprofundar o conhecimento sobre a teoria, realizei pesquisas em obras de autores especializados no assunto, em trabalhos acadêmicos, em vários sites como da Planejar, a Associação Brasileira de Planejadores Financeiros, da ANBIMA e do FPSB (Financial Planning Standards Board), entre outros que gerenciam, desenvolvem e operam certificação, educação e programas relacionados para a população e organizações de planejamento financeiro, nos quais foi possível compreender a classificação do quadro de conhecimento do planejamento financeiro:

1. Princípios, Processos e Habilidades de Planejamento Financeiro;

2. Gestão Financeira;3. Princípios fiscais e otimização;4. Planejamento de investimentos / Gestão de

ativos;5. Gerenciamento de riscos e planejamento de

seguros;6. Planejamento de aposentadoria;7. Planejamento imobiliário e transferência de

riqueza; e8. Planejamento Financeiro Integrado.

Pesquisas realizadas em obras como a de Frankenberg (1999, p. 31) foram imprescindíveis para entender o significado do Planejamento Financeiro Pessoal, definido como: “estabelecer e seguir uma estratégia precisa, deliberada e dirigida para a acumulação de bens e valores que irão formar o patrimônio de

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A Vida Como Ela É

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uma pessoa e de sua família”. Essa estratégia pode estar voltada para o curto, médio ou longo prazo. Assim como a definição encontrada em Marioni (2011, p. 26): “O planejamento é uma atividade que desenvolve planos para determinar antecipadamente os resultados desejados e os meios para atingi-los”. O processo básico do planejamento consiste em: verificar a situação atual, estabelecer objetivos e metas, examinar as alternativas, estabelecer cenários de decisão, escolher a melhor alternativa e detalhar os planos.

Para entender como funciona a prática do planejamento financeiro, fiz uma entrevista com o planejador financeiro CFP® e Embaixador da Planejar no Estado do Espírito Santo, Renan Lima. Nessa entrevista busquei entender as etapas da realização do processo do planejamento financeiro pessoal, como se estabelece a confiança e a relação entre cliente e planejador, como a diferença entre a situação de cada cliente interfere no planejamento financeiro, quais dados e características são usados para fazer a classificação e identificar o perfil de cada um, as dificuldades pra realizar o plano e a efetividade do planejamento de acordo com a aderência do cliente ao processo.

Uma das conclusões do trabalho é que dividir o processo em etapas é uma forma de se planejar e

orientar para realizar todo o planejamento financeiro, e isso pode ser feito a partir de três fases: coleta de dados, análise e desenvolvimento do plano que é apresentado e implementado, além das revisões, através das monitorias realizadas periodicamente.

Aprendi que, para ser um planejador financeiro, é importante ter empatia e ser perspicaz para lidar com os diferentes tipos de situações que vêm de cada cliente, além de perceber e ajudar cada um a encontrar as melhores formas de lidar com as finanças. Em casos como o de um cliente que se encontra em situação de endividamento, a prioridade é o orçamento, ou seja, o foco é diminuir e quitar as dívidas; já para o cliente que já possui capital, o foco está na otimização dos rendimentos e contratação de seguros para proteção do patrimônio e do próprio cliente.

O planejador financeiro, através das informações coletadas na fase inicial do processo, irá identificar e classificar o perfil do cliente, utilizando o questionário para Análise do Perfil Financeiro, no qual procura identificar qual o racional por trás da decisão do cliente quando se trata de dinheiro. Através da classificação dos perfis, o profissional irá se orientar para realizar o plano que melhor se adéqua ao perfil e à realidade do cliente e, consequentemente, terá maior aderência e efetividade. Esta classificação poderá ser utilizada também como estratégia para fazer uma comunicação

“Aprendi que, para ser um planejador financeiro, é importante ter empatia e ser perspicaz para lidar com os diferentes tipos de situações que vêm de cada cliente, além de perceber e ajudar cada um a encontrar as melhores formas de lidar com as finanças.”

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A Vida Como Ela É

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mais assertiva para orientar e incentivar a motivação do cliente de acordo com os propósitos de cada um.Durante a pesquisa foi possível perceber também que a falta de educação financeira e de conhecimento da figura do planejador financeiro pela população, além da escassez deste profissional no mercado, contribui para que a organização das finanças não seja um hábito da sociedade, sendo assim um desafio para o profissional. Na maioria das vezes, o público que tem interesse em se organizar financeiramente busca no gerente de banco a orientação para lidar com as finanças pessoais e esta orientação muitas vezes pode ser tendenciosa, visto que, para cuidar das finanças, devem-se buscar os interesses do cliente em primeiro

capacitados para tornar o processo de planejamento financeiro mais acessível e popular, a fim de ajudar a população a administrar sua renda, seu patrimônio e suas dívidas para garantir a tranquilidade econômico-financeira. Alguns aspectos como conscientização, determinação e comprometimento com e do cliente são os direcionadores para o desenvolvimento e sucesso do processo. O planejamento deve ser flexível e revisado periodicamente, e adequado a mudanças tanto pessoais quanto da situação econômica do país.O planejamento financeiro responde à pergunta: para onde o dinheiro vai? Com tal resposta, o planejamento traz segurança e tranquilidade ao cliente, além da possibilidade de fazer escolhas e até incluir novos

lugar e, no caso de bancos, pode haver conflito de interesses, o que não é benéfico para o cliente.

Cheguei à conclusão de que, para ser um planejador financeiro, é necessária, além do aperfeiçoamento técnico, uma comunicação clara que transmita confiança, profissionalismo e empatia. Desenvolver o planejamento financeiro para famílias que não possuem o hábito de planejar seus gastos, em um ambiente em que o mercado está sempre estimulando o consumo, enquanto o estímulo à educação financeira quase não existe, é desafiador, porém, em um âmbito de alto endividamento das famílias e inadimplência, observa-se a necessidade de profissionais

“O planejador financeiro, através das informações coletadas na fase inicial do processo, irá identificar e classificar o perfil do cliente, utilizando o questionário para Análise do Perfil Financeiro, no qual procura identificar qual o racional por trás da decisão do cliente quando se trata de dinheiro.”

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A Vida Como Ela É

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Engenheira formada pela Universidade Federal de Viçosa-UFV, com MBA em Investimentos e Mercado Financeiro pela FUCAPE Business School. Atuou com planejamento em projetos de engenharia na MMX Mineração e Metálicos e atualmente trabalha como servidora pública do estado do Espírito Santo no Instituto de Desenvolvimento Agrícola e Florestal. Aluna do curso Planejamento Financeiro - Da Teoria à Prática da Planejar.

Helena Rezende

Planejador financeiro certificado desde 2013.

Economista e pós-graduando em Economia Comportamental pela ESPM. Sócio da Alphamar Investimentos e Embaixador da Planejar no estado do Espírito Santo. Atuou no Financial Times Group - Merger Market - em Londres, Inglaterra, e foi Trainee na Lojas Riachuelo.

Renan Lima, CFP®

objetivos para o futuro, conquistando cada vez mais qualidade de vida. As etapas de conhecimento, análise e monitoria são direcionais, no entanto, as particularidades de comportamento, orçamento e situação financeira familiar são analisadas e estudadas em conjunto com o cliente para encontrar a melhor maneira de se fazer um planejamento que seja efetivo e factível.

Portanto, existe um amplo campo de trabalho a ser preenchido a fim de ajudar a população no gerenciamento das finanças e evitar que as famílias trabalhem anos para pagar dívidas e, assim, não acumulem riquezas. O que se conclui, também, é que a população não está analisando suas alternativas financeiras e, muitas vezes, por falta de uma orientação adequada sobre o tema, acaba sendo seduzida pelas campanhas publicitárias sem mesmo analisar suas condições financeiras pessoais no momento de tomar uma decisão de consumo. Outro ponto que chama a atenção é a falta de visibilidade e divulgação sobre o assunto e sobre os profissionais que realizam este trabalho. Uma vez que as informações são disseminadas de forma muito mais rápida, a tendência é que as novas gerações se interessem mais em educar-se financeiramente, propiciando maior interação entre profissional e cliente.

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Investimentos no Exterior

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PÔR DO SOL

Felipe Dexheimer

O sol se põe no ciclo de crescimento da economia americana, após quase uma década de crescimento ininterrupto. Diversos são os sinais de que a maior expansão dos Estados Unidos no Pós-Guerra se aproxima do fim: o consumo se recupera enquanto o desemprego se aproxima das mínimas históricas, investimentos em capital e em residências crescem moderadamente, a curva de juros está achatada, a inflação ao consumidor se aproxima cada vez mais da meta do Federal Reserve, que já entregou metade do ciclo de aperto monetário estimado por eles e pelo mercado.

Investidores procuram por um canário morto entre os sinais de exuberância excessiva. A atividade de fusões e aquisições, por exemplo, está em nível muito forte, como mostra a Figura 1; algumas grandes empresas possuem alto consumo de caixa, sendo os casos mais famosos Netflix e Tesla Motors; por fim, viu-se uma bolha de ativos “financeiros” ser criada e caminhar para a implosão: a Bolha das Criptomoedas (figura 2) – depois de ultrapassarem US$ 750 bilhões em valor de mercado, esses recém-criados ativos perderam dois terços de seu valor.

Figura 1: Fusões e Aquisições nos Estados Unidos – Últimos 10 anos

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Ativos Adquiridos (US$ bi) Número de Transações Preço / Book Value (Direita)

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Investimentos no Exterior

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lucros gigantescos com ínfima regulamentação, políticos e a opinião pública começam a se voltar contra elas.

Muitos já se perguntavam se as redes sociais são um risco à democracia antes de descobrirem o vazamento de dados de dezenas de milhões de pessoas pelo Facebook, dados estes usados pela Cambridge Analytica para induzir eleitores americanos a trocar de opinião às vésperas da eleição presidencial de 2016 nos Estados Unidos.

Por tudo isso, quem quiser investir nos Estados Unidos (e no mundo) neste momento deve responder a uma série de perguntas.

QUAL É A TAXA DE JUROS DE EQUILÍBRIO?

Antes da crise de 2008 acreditava-se que a taxa de juros neutra americana se equilibrava pouco acima de 4% ao ano. Era por ali que flutuavam as taxas dos Treasury Bonds de 10 e 30 anos. Esse não é exatamente um número mágico, mas sim próximo da taxa de crescimento nominal do PIB: 2% ao ano de inflação, 2% ao ano em ganhos de produtividade e algum crescimento da população economicamente ativa.

Hoje a taxa do papel de 30 anos está pouco acima

A cereja no bolo das preocupações é o 45º Presidente dos Estados Unidos. Donald Trump é um personagem ímpar na História Americana, com seu temperamento quente, presença ostensiva, atenção dispersa e utilizando sua conta no Twitter de maneira inusitada.

E é necessário observar o que se passa nos bastidores: o maior corte de impostos dos últimos 30 anos e o maior esforço de desregulamentação da história recente do país não são feitos pequenos. As sanções comerciais, forte pressão sobre a China e o ditador

norte-coreano, Kim Jong-Un vindo para a mesa de negociações também são feitos importantes. Era algo impensável 6 meses atrás que os chineses se dispusessem a abrir mão da necessidade de controle doméstico em empresas dentro do Reino do Meio.

Por fim uma das previsões da revista The Economist para 2018 se materializou já no primeiro trimestre do ano, apelidada por sua equipe perfeitamente de Techlash: após as grandes empresas de tecnologia criarem monopólios com alcance global e gerarem

Jul/13 Jul/14Jan/14 Jul/15Jan/15 Jul/16Jan/16 Jul/16Jan/16 Jul/17Jan/17 Jan/18

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Figura 2: Valor de Mercado Total: Criptomoedas

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Investimentos no Exterior

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As ações de Donald Trump podem ter grandes efeitos aqui: ele atacou cada um destes problemas. Seu programa de corte de impostos aproximou a alíquota de imposto de renda das grandes empresas, que já era próxima de 20% antes do corte graças a estruturas no exterior, à das pequenas empresas, que estava em 35%. O alívio da regulação do setor financeiro faz com que bancos tenham maior facilidade de emprestar dinheiro a pequenas empresas. Por fim, os investimentos em capital feitos em 2018 poderão ser abatidos do lucro das empresas como se fossem despesas: um poderoso incentivo de curto prazo. Na contramão, uma economia mais fechada, com taxas de importação sobre vários produtos ou setores, é menos produtiva e mais inflacionária.

É ainda difícil saber quais serão os efeitos destas políticas, de forma separada ou conjunta. Mas é importante lembrar que esses eventos estão em curso.Combinados, maior produtividade e seguros mais caros contra maior inflação no futuro podem aumentar significativamente a taxa das Treasuries Bonds longas.

O S&P 500 PODE CONTINUAR SUBINDO?

Essa resposta é mais simples, ao menos do ponto de vista estatístico. E ela é positiva também do ponto de vista histórico: os mercados de ações continuam subindo praticamente até a véspera da recessão

de 3%, refletindo a realidade do pós-crise: inflação se aproximando de 2% e produtividade total dos fatores crescendo perto de 1% ao ano. Mas esse não parece ser um equilíbrio estável, e a primeira pista é a inflação.Até a Grande Recessão investidores continuamente compravam seguro contra uma inflação mais alta no futuro. A inflação implícita, obtida pela diferença entre o Treasury Bond de 30 anos e a TIPS (atrelada à inflação ao consumidor) de mesmo prazo, era próxima de 2,3% ao ano. Depois de um período turbulento, em que chegou a ser negociada abaixo de 1,5% a.a. em 2015, a inflação implícita hoje é ligeiramente superior a 2%. Uma convergência aos patamares pré-crise poderia causar 30 ou 40 bps de abertura na curva americana.

A segunda variável é a produtividade. O envelhecimento da população parece ter pesado contra, mas o debate é bem mais amplo. Diversos artigos indicam que a regulamentação excessiva, tanto da economia real quanto do setor financeiro, parece ter tido um efeito relevante. Outros culpam os incentivos de curto prazo dados aos gestores das grandes empresas, que passaram a se preocupar com o resultado trimestral e não com o crescimento de suas corporações. Outros ainda dizem que sentimos falta do dinamismo das pequenas empresas: o número de empresas abertas por ano nos Estados Unidos está nas mínimas históricas.

“A cereja no bolo das preocupações é o 45º Presidente dos Estados Unidos. Donald Trump é um personagem ímpar na História Americana...”

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Investimentos no Exterior

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vindoura, pois recessões são extremante difíceis de prever. Os lucros das empresas também continuam a se expandir, impulsionados ainda pelo corte de impostos e pela desvalorização do Dólar.

Do lado negativo estão a Guerra Comercial com a China e os temores regulatórios acerca do setor de Tecnologia. Infelizmente esses fatores são incerteza, não risco: são difíceis de quantificar. E é, portanto, a aversão a risco que definirá o resultado do principal índice da bolsa americana nos próximos meses.

QUÃO RUIM PODE SER A GUERRA COMERCIAL COM A CHINA?

É difícil ainda medir os efeitos das sobretaxas e alíquotas anunciadas. Mas as primeiras vítimas começam a aparecer: as empresas com cadeias de produção complexas, que abrangem vários países, em especial fabricantes de bens de consumo ligados à tecnologia, como a Apple. Na construção do iPhone, por exemplo, são usadas peças de mais de 200 fabricantes ao redor do globo, montadas em uma planta da Foxconn na China. Países emergentes também são normalmente mais sensíveis a fluxos menores de transações comerciais internacionais.

Várias medidas ainda podem ser adotadas pela China no embate com os Estados Unidos: uma limitação da

oferta de serviços pelas empresas americanas ao país, por exemplo. Os EUA têm um superávit comercial com a China no setor de serviços de quase US$ 40 bilhões por ano. O gigante asiático também importa mais de 400 mil barris de petróleo/dia do país governado por Trump, sanções ao setor poderiam afetar a indústria do petróleo de xisto.

O maior risco vem das chamadas Terras Raras: metais difíceis de encontrar e extrair que são a base de várias das tecnologias mais modernas, de baterias a celulares, passando por aviões de caça e mísseis de alta precisão. A China é o maior extrator destes metais, respondendo por 92% da produção global. Há quem tema que um boicote aqui gere um abalo com magnitude similar ao Choque do Petróleo do final dos anos 70.

Em uma coisa o ciclo atual de crescimento, iniciado em 2009, não consegue se diferenciar dos anteriores: ainda existem muitas oportunidades, mas, à medida que se aproxima a próxima recessão, os riscos crescem. Mas ele ainda é único: um ambiente em que o risco político está nos maiores níveis desde o fim da Guerra Fria.

Mestre em economia pela Fundação Getúlio Vargas - SP e Gestor de Carteiras certificado pela CVM. Sócio da GPS, empresa do Grupo Julius Baer, onde atua como Portfolio Manager há mais de 5 anos.

Felipe Dexheimer

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Conduta Profissional

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CONSELHO DE ÉTICA

Andrea Moufarrege, CFP® e Márcia Scaramela, CFP®

Não conheço nenhum profissional CFP® que consciente e deliberadamente escolha caminhos profissionais de forma a ter sua ética questionada. Ao contrário, a imagem de profissional ético é perseguida por todos. As armadilhas que ameaçam essa construção, porém, encontram-se em todas as etapas do desenvolvimento de um bom planejamento financeiro. A melhor proteção contra essas ameaças é a discussão constante sobre o tema, tendo muito claros os princípios que norteiam a atuação do profissional CFP®.

A CFP Professional Magazine é um canal de discussão e disseminação de conhecimento sobre temas relevantes para os profissionais CFP®. No contexto brasileiro atual são poucos os temas mais relevantes que ética profissional. A partir dessa edição vocês verão presentes temas éticos discutidos e apresentados por quem atua, como você, nesse campo. Iniciamos com um texto da Marcia Scaramela,

membro do Conselho de Ética da Planejar, que nos provoca a pensar sobre nossas responsabilidades, convicções e virtudes.

O Código de Ética da Planejar passou por uma revisão e será relançado em junho de 2018. Os princípios permanecem os mesmos, mas o texto estará mais simples e atualizado. A maior utilidade do código é nortear nossas ações como CFPs. É a proteção que construímos contra as armadilhas presentes na nossa atuação profissional. Convido todos vocês a conhecerem a nova versão do Código e a usarem seu espírito para construir conosco essa discussão sobre Ética no dia a dia de nossa atuação.

A ÉTICA E OS ESPELHOS PARA ELEVADOR

Lembro-me de ler um artigo de meu orientador de mestrado, Roberto Patrus M. Pena (Doutor em Filosofia, Mestre em Administração, Psicólogo e Filósofo... ufa!), que começava com uma metáfora dos filósofos Carlos Llano e Héctor Zagal (autores de um livro sobre tal tema) a respeito de um luxuoso prédio comercial onde os usuários se queixavam continuamente da lentidão dos elevadores.

Quando se estava a ponto de substituir todo o maquinário obsoleto por equipamentos mais modernos e mais caros, foram colocados espelhos no hall de espera, onde se aguarda o elevador. As pessoas começam a se ver, o tempo se ocupa e se elimina a sensação de espera. De acordo com a metáfora, a ética estaria sendo introduzida nas empresas mais para tranquilizar as consciências do que para promover aperfeiçoamentos morais, ganhando um

Andrea Masagão Moufarrege, CFP®

Presidente do Conselho de Ética Planejar

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Conduta Profissional

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efeito “pomada”: utilizada exclusivamente para uso externo.

Muito se reflete e se escreve sobre o assunto, na busca de seguir-se por um caminho de uma conduta considerada correta, principalmente no mundo dos negócios. O compromisso com os valores éticos dentro das organizações, empresários e Planejadores Financeiros é um tema que vem adquirindo particular relevância e destaque nos últimos anos, inclusive está inserido na Governança Corporativa das empresas. Como diz Sergio Volk, economista e membro do Conselho Fiscal do IBEF-SP: “Os valores éticos não podem ser usados simplesmente para obter resultado econômico na empresa ou um destaque na mídia, mas sim em uma perspectiva filosófica de uma vida feliz, que vale a pena ser vivida”.

Um Planejador Financeiro, um banco, uma empresa e até mesmo uma organização do terceiro setor se relaciona com diferentes públicos – empregados, governo, pessoas físicas/jurídicas, fornecedores, concorrência, acionistas – e suas ações podem beneficiar ou prejudicar esses públicos, inclusive indiretamente. Patrus utiliza, como parâmetro para fundamentar uma ética no mundo dos negócios (extensiva às organizações da sociedade civil) de um modelo composto de três dimensões: a responsabilidade, a convicção e a virtude.

Podemos dizer que, no caso do Planejador Financeiro, estas dimensões se somam aos Princípios do Código de Ética da Planejar, já que, mais do que uma aspiração, constituem as bases de conduta do Profissional CFP®. Os comentários que acompanham

cada Princípio possuem regras que determinam os padrões éticos. Assim sendo, as Regras clarificam os padrões de conduta ética e responsabilidade profissional que devem ser observados e perseguidos em determinadas situações, com responsabilidade, convicção e virtude.

A responsabilidade implica prever os resultados das ações e a noção de que toda ação afeta pessoas ou grupos sociais, ou seja, os públicos com os quais se relaciona. No mundo dos negócios, um dos resultados que se espera das ações de uma organização é o lucro. Hoje em dia, essa finalidade econômica também é compartilhada pela finalidade social (educação financeira, transmissão de capital intelectual, promoção de melhorias sociais para pessoas e comunidade, principalmente). A dimensão da responsabilidade reúne o tripé econômico-social-ambiental da sustentabilidade, não só da organização, mas do mundo em que vivemos.

A dimensão da convicção implica a adoção de valores de humanidade que, de algum modo, limitam a busca dos resultados estrategicamente planejados. Nem todos os caminhos são válidos para cumprir as metas estabelecidas. Uma pessoa ou uma organização ética preocupa-se com os resultados sim, mas sabe o que não deve fazer para realizá-los. Novamente associamos aqui o Código de Ética e as ações da

“A CFP Professional Magazine é um canal de discussão e disseminação de conhecimento sobre temas relevantes para os profissionais CFPs®. No contexto brasileiro atual são poucos os temas mais relevantes que ética profissional.”

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Conduta Profissional

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Planejar, no sentido de que a ética da convicção é um limite para a ambição do Planejador Financeiro. Esse limite só se realiza se existir debate sobre os meios para o alcance dos seus fins, para que se espalhe e incorpore o modo ético de fazer negócios.

Já a dimensão da virtude é a disposição firme e constante para a prática do bem. As decisões de uma organização são decisões de pessoas, da estrutura dos sistemas, da informação gerada ao público que se atende. Lideranças éticas promovem o hábito de fazer a coisa certa em cada processo decisório, o que exige coragem, virtude.

Como diria Patrus, “a ética de uma organização não se reduz à ética da responsabilidade, pois os resultados nem sempre justificam a violação de princípios éticos. Não se reduz, também, a uma ética da convicção, pois a defesa de valores legítimos pode ter consequências que invalidam a sua intenção. Não se pode desprezar o impacto das decisões em cada um dos públicos da empresa, o que seria irresponsabilidade. Desconsiderar os resultados das ações no processo de tomada de decisão não é apenas ingenuidade, é má gestão”.

Enfim, o modelo de ética organizacional aqui apresentado soma-se aos Princípios do Código de Ética, integrando responsabilidade (resultados), convicção (valores) e virtude (modo habitual do Planejador Financeiro agir), que é governança do

profissional CFP®. Por isso o mesmo passou por uma atualização e simplificação e, em breve, será divulgado!

A busca pela ética se traduz nas escolhas que fazemos. As opções certas levam-nos a um caminho de virtude, verdade e às relações justas. Um grande desafio é colocar tudo isso somado a três ações esperadas dos Certificados CFP: engajamento (voluntariado; ações voltadas ao social), integridade (a ética em si) e a excelência (educação continuada). Sem estar totalmente alinhada com tais dimensões, a ética será mero discurso, desarticulado da prática cotidiana, ou uma estratégia de marketing para atender uma necessidade mercadológica. Será como um espelho no hall de um elevador.

Planejadora financeira certificada desde 2015.

Iniciou sua carreira em 1986 no Lloyds Bank, tendo atuado em diversos bancos de renome, tais quais BankBoston e Itaú, com experiência em Tesouraria, Investimentos e Derivativos para clientes institucionais e corporativos. Em 2003 foi Head do Private do Opportuntiy por 6 anos. Desde 2010 é sócia na TAG e atua com advisory de investimentos. É membro do Conselho de Ética da Planejar; Membro da Comissão de Gestores Independentes na Anbima. Bacharel em Economia e MBA - Fundação Dom Cabral, com Post-MBA pela Kellogg School of Management Liderança e Negociação.

Márcia Scaramela, CFP®

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Educação Continuada

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EDUCAÇÃO CONTINUADA

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VALE 2 CRÉDITOS NO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA

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Ano 5 . Edição 14 . Jan.Fev.Mar’2018

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