análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

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Setembro 2021 Sebastião de Sousa Peres Duarte Ferreira Licenciado em Ciências de Engenharia Civil Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo hidromecânico 3D e modelos de fenda discreta Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil Perfil de Estruturas Orientador: João Rocha de Almeida, Professor Associado, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa Coorientadora: Maria Luísa Mendes de Vasconcelos Braga Farinha, Investigadora Auxiliar, Departamento de Barragens de Betão, Laboratório Nacional de Engenharia Civil Júri Presidente: Professor Doutor Armando M. S. N. Antão Arguentes: Professora Doutora Fátima M. P. Gouveia Professor Doutor Mário Jorge Vicente da Silva Vogal: Doutora Maria Luísa Braga Farinha

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Page 1: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

Setembro 2021

Sebastião de Sousa Peres Duarte Ferreira Licenciado em Ciências de Engenharia Civil

Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo hidromecânico

3D e modelos de fenda discreta

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil – Perfil de Estruturas

Orientador: João Rocha de Almeida, Professor Associado, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa

Coorientadora: Maria Luísa Mendes de Vasconcelos Braga Farinha, Investigadora Auxiliar, Departamento de Barragens de Betão, Laboratório Nacional de Engenharia Civil

Júri

Presidente: Professor Doutor Armando M. S. N. Antão Arguentes: Professora Doutora Fátima M. P. Gouveia

Professor Doutor Mário Jorge Vicente da Silva Vogal: Doutora Maria Luísa Braga Farinha

Page 2: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

Setembro 2021

Page 3: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

Setembro 2021

Sebastião de Sousa Peres Duarte Ferreira Licenciado em Ciências de Engenharia Civil

Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo hidromecânico

3D e modelos de fenda discreta

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Civil – Perfil de Estruturas

Orientador: João Rocha de Almeida, Professor Associado, Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa

Coorientadora: Maria Luísa Mendes de Vasconcelos Braga Farinha, Investigadora Auxiliar, Departamento de Barragens de Betão, Laboratório Nacional de Engenharia Civil

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Setembro 2021

Page 5: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo hidromecânico 3D e modelos de fenda discreta

“Copyright” Sebastião de Sousa Peres Duarte Ferreira, da FCT/UNL e da UNL.

A Faculdade de Ciências e Tecnologia e a Universidade Nova de Lisboa têm o direito, perpétuo e

sem limites geográficos, de arquivar e publicar esta dissertação através de exemplares impressos

reproduzidos em papel ou de forma digital, ou por qualquer outro meio conhecido ou que venha a

ser inventado, e de a divulgar através de repositórios científicos e de admitir a sua cópia e

distribuição com objetivos educacionais ou de investigação, não comerciais, desde que seja dado

crédito ao autor e editor.

Page 6: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo
Page 7: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

i

AGRADECIMENTOS

Finalizada esta dissertação, termina também o meu percurso académico. Um trajeto desafiante,

com momentos altos e baixos, mas que felizmente posso dizer que, no cômputo geral, decorreu de

forma positiva. Muita desta sensação de conquista se deve a diversas pessoas às quais devo

expressar a minha gratidão e reconhecimento.

A todos os docentes da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa

(FCT/UNL), que de uma forma ou de outra, transmitiram-me os ensinamentos e conhecimentos

necessários ao meu crescimento gradual até atingir esta etapa final, preparando-me para desafios

futuros.

Ao meu orientador, Professor Doutor João Rocha de Almeida, pela disponibilidade que sempre

demonstrou em ensinar, e conhecimentos que foi passando no decorrer deste meu percurso

académico. Quero expressar também um agradecimento especial por me ter aberto a porta à

experiência única que foi estar inserido numa instituição tão prestigiante como é o Laboratório

Nacional de Engenharia Civil (LNEC).

À Doutora Maria Luísa Braga Farinha, pelo apoio, simpatia e disponibilidade constante ao longo

de toda esta estadia no LNEC. As palavras motivadoras, o à-vontade com que sempre me deixou e

todo o conhecimento que me foi transmitindo, facilitaram e enriqueceram a minha experiência de

uma forma extraordinária.

Ao Doutor Nuno Monteiro Azevedo, pelos preciosos conhecimentos que me transmitiu ao longo

de inúmeras reuniões e explicações. Devo agradecer também pela enorme paciência que teve a

ensinar e a explicar, em momentos em que tudo parecia um desafio, mas que com a sua calma e

boa disposição, tudo se resolveu da melhor maneira. Queria agradecer também pelo prazer que

tive em aprender e poder trabalhar com um módulo computacional que o próprio desenvolveu.

Ao LNEC por me ter dado a oportunidade de desenvolver a minha dissertação no âmbito do

projeto de investigação do LNEC “DAMFA: Soluções de ponta para a avaliação sustentável das

fundações de barragens de betão”, que está a ser desenvolvido em parceria com a NOVA.ID.FCT

– Associação para a Inovação e Desenvolvimento da Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT)

da Universidade Nova de Lisboa.

Page 8: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

ii

Aos meus amigos e companheiros de faculdade, que sempre cumpriram com o referido

companheirismo e que por isso, tornaram o meu percurso académico mais facilitado e

enriquecedor. Pudemos aprender juntos e eu pude aprender com eles. Tenho de lhes agradecer por

isso.

Aos meus amigos de longa data, por serem uma ajuda e inspiração constante. A amizade e a

motivação que sempre me transmitiram é algo que estas palavras não podem representar. Apenas

posso agradecer e esperar poder contar com eles em todos os meus desafios futuros.

À Catarina, pela sua genuína felicidade nos bons momentos e pelo seu apoio e motivação

incansável nos momentos menos bons. Obrigado pela compreensão, incentivo, admiração e por

ser o pilar insubstituível que me acompanhou ao longo do meu percurso. Obrigado pelo teu amor.

Finalmente, agradeço a toda a minha família, em especial aos meus pais. Por estarem

constantemente a meu lado, a desejarem, tanto ou mais que eu, o meu sucesso. Agradeço por toda

a educação e segurança que sempre me transmitiram, pelo esforço constante para que eu evoluísse

não só como estudante, mas também como pessoa. Foram sempre eles a fundação e as bases de

todo o meu percurso enquanto ser humano. Esta dissertação é certamente dedicada a eles. Muito

obrigado.

Page 9: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

iii

RESUMO

Neste trabalho é feita uma análise de estabilidade de barragens gravidade para cenários de rotura

por deslizamento, considerando para esse efeito elementos de junta com modelos constitutivos

com enfraquecimento na interface barragem/fundação e no interior do betão. Nas análises

realizadas é tida em consideração a interação hidromecânica na realização de modelos

tridimensionais das barragens em análise.

O estudo desenvolvido nesta dissertação recorre a modelos de barragens gravidade, pelo que foi

realizada uma apresentação introdutória aos principais aspetos relativos a este tipo de barragem,

nomeadamente o seu funcionamento estrutural e principais causas de rotura. Apresentam-se os

princípios fundamentais para a compreensão do comportamento hidromecânico e são

apresentados estudos de verificação e validação do modelo hidromecânico, com recurso ao

módulo computacional utilizado neste trabalho, Parmac3D-FFlow. Apresentam-se também os

modelos constitutivos com enfraquecimento adotados, incluindo uma análise comparativa do

desempenho destes modelos em ensaios de tração, ensaios de corte simples e ensaios de corte sob

compressão constante.

Analisaram-se duas barragens gravidade com alturas diferentes, fundadas em maciços rochosos.

Em ambos os modelos tridimensionais considera-se a existência de cortina de impermeabilização

e de sistema de drenagem. Realizaram-se estudos de estabilidade da superfície de fundação

através do método de redução de resistências e do método de amplificação de carga hidrostática

por aumento da cota de água. Nos estudos apresentados teve-se em consideração o

comportamento linear e não-linear na fundação rochosa, adotando-se modelos com

enfraquecimento no betão e na interface barragem-fundação; analisaram-se também as pressões e

os caudais no inicio de cada análise iterativa.

Palavras-chave: barragem gravidade, fundação rochosa, comportamento hidromecânico,

modelos com enfraquecimento, rotura por deslizamento.

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Page 11: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

v

ABSTRACT

In this paper, stability analysis of gravity dams is carried out for sliding failure scenarios,

considering joint finite elements with softening based constitutive models in the dam body and in

the dam-foundation contact surfaces. The three-dimensional models developed for the dams under

analysis included hydromechanical interaction.

The study presented herein uses models of gravity dams, so a preliminary presentation was made

concerning the main aspects related to this type of dam, namely its structural functioning and

main failure causes. The fundamental principles for understanding the hydro-mechanical

behaviour are presented as well as verification and validation studies of the hydro-mechanical

model, using the computational module used in this work, Parmac3D-FFlow. Constitutive models

with softening are also presented along with comparative studies of the results obtained with such

models for tensile tests, simple shear tests and shear tests under constant compression.

Two dams with different heights founded on rock masses, were analysed. In both three-

dimensional models, the existence of a grout curtain and a drainage system was considered.

Stability studies of the foundation surface were carried out using the resistance reduction method

and the hydrostatic load amplification method by increasing the water level. In the numerical

analyses carried out, linear and nonlinear behaviour of the rock foundation and softening models

in the concrete and in the dam/foundation interface were considered. The pressure and flow rate

distribution in each model at the start of the iterative analysis are also presented.

Keywords: gravity dam, rock foundation, hydromechanical behaviour, softening models, shear

sliding

Page 12: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo
Page 13: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

vii

ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 1

1.1 Enquadramento do tema ................................................................................................................. 1

1.2 Objetivos e metodologia ................................................................................................................. 3

1.3 Organização da dissertação ............................................................................................................. 4

2 BARRAGENS GRAVIDADE ............................................................... 5

2.1 Funcionamento estrutural ............................................................................................................... 5

2.2 Principais problemas associados a barragens gravidade ................................................................... 8

2.3 Legislação e segurança de barragens ............................................................................................. 13

2.3.1 Segurança de barragens .........................................................................................................13

2.3.1.1 Segurança estrutural ......................................................................................................13

2.3.1.2 Monitorização de segurança ..........................................................................................14

2.3.1.3 Segurança operacional...................................................................................................16

2.3.1.4 Plano de emergência .....................................................................................................16

3 COMPORTAMENTO HIDROMECÂNICO DE FUNDAÇÕES DE

BARRAGENS ........................................................................................... 17

3.1 Características dos maciços rochosos de fundação de barragens de betão ....................................... 17

3.2 Interação hidromecânica ............................................................................................................... 21

3.3 Modelação numérica .................................................................................................................... 24

3.3.1 Modelos contínuos e descontínuos ........................................................................................24

3.3.2 Modelo mecânico .................................................................................................................26

3.3.3 Modelo hidráulico.................................................................................................................30

3.3.4 Modelo hidromecânico .........................................................................................................34

3.4 Validação do modelo hidromecânico do módulo computacional Parmac3D-FFlow ........................ 35

3.4.1 Considerações iniciais ...........................................................................................................35

3.4.2 Geometria, propriedades mecânicas e propriedades hidráulicas ..............................................36

3.4.3 Modelo numérico ..................................................................................................................39

3.4.4 Análise de resultados ............................................................................................................41

4 MODELOS CONSTITUTIVOS DE INTERFACE .......................... 53

4.1 Introdução .................................................................................................................................... 53

4.2 Modelo de Mohr-Coulomb com limite de resistência à tração........................................................ 53

4.3 Modelo constitutivo com enfraquecimento bilinear (MC1) ............................................................ 55

4.4 Modelo de fratura/fendilhação de base elasto-plástica (MC2) ........................................................ 56

Page 14: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

viii

4.5 Comparação dos resultados numéricos obtidos com os modelos de enfraquecimento ..................... 61

4.5.1 Ensaio de tração ................................................................................................................... 62

4.5.2 Ensaio de corte ..................................................................................................................... 65

4.5.3 Ensaio de compressão/corte .................................................................................................. 68

4.6 Análise dos resultados .................................................................................................................. 73

5 ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE BARRAGENS GRAVIDADE

PARA CENÁRIOS DE ROTURA POR DESLIZAMENTO ................. 75

5.1 Considerações iniciais .................................................................................................................. 75

5.2 Geometria, condições de fronteira e propriedades dos materiais .................................................... 76

5.2.1 Geometria do modelo ........................................................................................................... 76

5.2.2 Condições de fronteira mecânicas e hidráulicas ..................................................................... 79

5.2.3 Propriedades dos materiais .................................................................................................... 80

5.3 Modelos numéricos ...................................................................................................................... 81

5.4 Análise de estabilidade da superfície de fundação ......................................................................... 83

5.4.1 Método de redução das resistências ....................................................................................... 84

5.4.1.1 Pressões da água na base da barragem e na cunha do maciço a jusante da obra ............... 88

5.4.1.2 Caudal percolado .......................................................................................................... 89

5.4.2 Método de amplificação da carga hidrostática ....................................................................... 90

5.4.2.1 Pressões na base da barragem e na cunha de fundação ................................................... 95

5.4.2.2 Caudal percolado .......................................................................................................... 97

6 CONCLUSÕES ................................................................................... 99

6.1 Aspetos relevantes dos estudos efetuados ..................................................................................... 99

6.2 Desenvolvimentos futuros .......................................................................................................... 100

7 REFERÊNCIAS ................................................................................ 103

ANEXO - VERIFICAÇÃO E VALIDAÇÃO DO MÓDULO

COMPUTACIONAL PARMAC3D-FFLOW ....................................... 107

A1.1 Consola ..................................................................................................................................... 107

A1.2 Pórtico com elementos de interface.......................................................................................... 112

Page 15: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

ix

LISTA DE FIGURAS

Figura 2.1 - Perfil transversal de uma barragem gravidade (adaptado de INAG, 2001) e

vista geral da barragem de Hoover, EUA (https://www.researchgate.net).......................6

Figura 2.2 – Forças horizontais (FH) e verticais (FV) a considerar no dimensionamento de

uma barragem gravidade (INAG, 2001). .......................................................................7

Figura 2.3 - Barragem de Austin, Pensilvânia (http://www.austindam.net/). ......................... 10

Figura 2.4 - Cidade de Austin antes do acidente (http://www.austindam.net/). ..................... 11

Figura 2.5 - Cidade de Austin depois do acidente (http://www.austindam.net/). ................... 11

Figura 2.6 - Ruínas da barragem de Austin (http://www.austindam.net/). ............................. 11

Figura 2.7 - Barragem de Bouzey, França (http://aufildesmotsetdelhistoire.unblog.fr/) ......... 12

Figura 3.1 - Perfil transversal tipo de uma barragem gravidade com dispositivos de controlo

de escoamento (adaptado de Fel et al., 2005). .............................................................. 20

Figura 3.2 - Diagrama de subpressões na base de uma barragem sem sistema de drenagem. . 21

Figura 3.3 - Diagrama de subpressões na base de uma barragem com sistema de drenagem. 21

Figura 3.4 - Definição de abertura mecânica. ....................................................................... 23

Figura 3.5 - Abertura hidráulica (adaptado de Azevedo & Farinha, 2015). ........................... 24

Figura 3.6 - Ciclo de cálculo do modelo mecânico. .............................................................. 27

Figura 3.7 - Modelo de elemento mecânico de interface (Azevedo et al., 2021). ................... 28

Figura 3.8 - Modelo do elemento de interface - funções de forma e eixos locais (adaptado

de Azevedo & Farinha, 2015)...................................................................................... 29

Figura 3.9 - Elemento de 20 nós e respetivo elemento de interface de 8 nós. ........................ 30

Figura 3.10 - Interface do modelo mecânico, interface hidráulica e elementos de canais de

escoamento. ................................................................................................................ 31

Figura 3.11 - Ciclo de cálculo do modelo hidráulico (Freitas, 2020). .................................... 32

Figura 3.12 - Ciclo de cálculo do modelo hidrodinâmico. .................................................... 35

Figura 3.13 - Geometria do modelo. .................................................................................... 36

Figura 3.14 - Sentido de escoamento da água e identificação das interfaces. ........................ 38

Page 16: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

x

Figura 3.15 - Elemento hexaédrico de 20 nós. ..................................................................... 40

Figura 3.16 - Modelo numérico (malha hexaédrica de 20 nós). ............................................ 41

Figura 3.17 - Variação de pressão de água ao longo da descontinuidade horizontal no

modelo hidráulico. ..................................................................................................... 42

Figura 3.18 - Variação de pressão de água ao longo da descontinuidade horizontal no

modelo hidromecânico elástico linear. ........................................................................ 43

Figura 3.19 - Variação de pressão de água ao longo da descontinuidade horizontal no

modelo hidromecânico não-linear. .............................................................................. 44

Figura 3.20 - Caudal escoado para o modelo hidráulico. ..................................................... 45

Figura 3.21 - Ampliação da Figura 3.20 para valores de abertura a0 < 0,0002. .................... 46

Figura 3.22 - Caudal escoado para o modelo hidromecânico – junta elástica linear. ............. 46

Figura 3.23 - Ampliação da Figura 3.22 para valores de abertura a0 < 0,0002. .................... 47

Figura 3.24 - Caudal escoado para o modelo hidromecânico – junta elástica não-linear. ...... 47

Figura 3.25 - Ampliação da Figura 3.24 para valores de abertura a0 < 0,0002. .................... 48

Figura 3.26 - Aberturas mecânicas e hidráulicas considerando valores de a0, a0 × 2 e a0 × 10

para modelo linear dos elementos de junta. ................................................................. 49

Figura 3.27 - Aberturas mecânicas e hidráulicas considerando valores de a0, a0/2 e a0/10

para modelo linear dos elementos de junta. ................................................................. 49

Figura 3.28 - Aberturas mecânicas e hidráulicas considerando valores de a0, a0 × 2 e a0 × 10

para modelo não-linear das juntas. .............................................................................. 50

Figura 3.29 - Aberturas mecânicas e hidráulicas considerando valores de a0, a0/2 e a0/10

para modelo não-linear das juntas. .............................................................................. 51

Figura 3.30 - Variação dos valores de un e a0 com a pressão da água, considerando o

modelo hidromecânico linear...................................................................................... 52

Figura 3.31 - Variação dos valores de un e a0 com a pressão da água, considerando o

modelo hidromecânico não-linear. .............................................................................. 52

Figura 4.1 - Modelo constitutivo de Mohr-Coulomb para tensão de tração limite. ............... 54

Figura 4.2 - Modelo de enfraquecimento unidirecional não acoplado do elemento de junta

(adaptado de Azevedo, 2003). .................................................................................... 55

Page 17: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

xi

Figura 4.3 - Modelo constitutivo de enfraquecimento baseado na teoria da plasticidade:

superfície de cedência (F) e potencial plástico (Q) (adaptado de Caballero et al. 2008).57

Figura 4.4 - Evolução de σt e c para diferentes valores de α (adaptado de Caballero et al.,

2008). ......................................................................................................................... 59

Figura 4.5 - Curvas de tan φ para diferentes valores de α (adaptado de Caballero et al.,

2008). ......................................................................................................................... 59

Figura 4.6 - Evolução da superfície de fendilhação em Modo I (adaptado de Caballero et

al., 2008). ................................................................................................................... 60

Figura 4.7 - Evolução da superfície de fendilhação em Modo II (adaptado de Caballero et

al., 2008). ................................................................................................................... 61

Figura 4.8 - Modelo dos ensaios de comparação de modelos constitutivos de junta com

enfraquecimento ......................................................................................................... 62

Figura 4.9 - Modelo frágil no ensaio de tração. .................................................................... 63

Figura 4.10 - MC1 (esquerda) e MC2 (direita) no ensaio de tração. ...................................... 64

Figura 4.11 - Análise comparativa entre MC1 e MC2 no ensaio de tração. ........................... 64

Figura 4.12 - Modo de fratura em tração e correspondente deslocamento ampliado. ............. 65

Figura 4.13 - Modelo frágil no ensaio de corte. .................................................................... 66

Figura 4.14 - MC1 (esquerda) e MC2 (direita) no ensaio de corte. ....................................... 66

Figura 4.15 - Comparação entre MC1 e MC2 no ensaio de corte. ......................................... 67

Figura 4.16 - Modo de fratura em corte e correspondente deslocamento ampliado. .............. 68

Figura 4.17 - Modelo frágil no ensaio de compressão/corte. ................................................. 69

Figura 4.18 - MC1 no ensaio de compressão/corte. .............................................................. 69

Figura 4.19 - MC2 com redução do coeficiente de atrito no ensaio de compressão/corte. ..... 70

Figura 4.20 - MC2 sem redução do coeficiente de atrito no ensaio de compressão/corte. ...... 70

Figura 4.21 – Comparação entre MC1 e MC2 no ensaio de compressão/corte (com redução

de coeficiente de atrito). .............................................................................................. 71

Figura 4.22 – Comparação entre MC1 e MC2 no ensaio de compressão/corte (sem redução

de coeficiente de atrito). .............................................................................................. 71

Page 18: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

xii

Figura 4.23 - Modo de fratura em compressão/corte e correspondente deslocamento

ampliado. ................................................................................................................... 72

Figura 5.1 - Geometria dos modelos. .................................................................................. 77

Figura 5.2 - Dimensões do modelo da barragem com altura de 15 m. .................................. 78

Figura 5.3 - Dimensões do modelo da barragem com altura de 30 m. .................................. 78

Figura 5.4 - Malhas 2D geradas em AutoCAD para os Modelos 1 e 2. ................................ 79

Figura 5.5 - Modelo hidromecânico 1. ................................................................................ 82

Figura 5.6 - Modelo hidromecânico 2. ................................................................................ 82

Figura 5.7 - Interfaces dos materiais que constituem o modelo hidromecânico. ................... 83

Figura 5.8 - Deslocamento horizontal do coroamento durante o processo de redução do

ângulo de atrito para a barragem com altura de 15 m, considerando modelos elásticos

e não-lineares para o betão e fundações lineares e não-lineares. .................................. 85

Figura 5.9 - Deslocamento horizontal do coroamento durante o processo de redução do

ângulo de atrito para a barragem com altura de 30 m, considerando modelos elásticos

e não-lineares para o betão e fundações lineares e não-lineares. .................................. 86

Figura 5.10 - Distribuição de pressões na base da barragem e na cunha do maciço a jusante

para os Modelos 1 e 2. ................................................................................................ 88

Figura 5.11 - Majoração da pressão hidrostática através do aumento da cota de água........... 90

Figura 5.12 - Deslocamento horizontal do coroamento durante o processo de aumento da

cota de água para os Modelos de barragem 1 e 2. ........................................................ 91

Figura 5.13 – Modo de rotura (ampliado 20 vezes) da barragem na interface betão/rocha,

considerando os Modelos 1 e 2 com fundação linear. .................................................. 93

Figura 5.14 - Modo de rotura (ampliado 200 vezes) da barragem na interface betão/rocha,

considerando os Modelos 1 e 2 com fundação não-linear. ........................................... 94

Figura 5.15 - Dano nas interfaces considerando MC1 e MC2 para o Modelo 1 de barragem

com fundação linear. .................................................................................................. 95

Figura 5.16 - Dano nas interfaces considerando MC1 e MC2 para o Modelo 2 de barragem

com fundação linear. .................................................................................................. 95

Page 19: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

xiii

Figura 5.17 - Distribuição de pressões na base da barragem para os Modelos de barragem 1

e 2. ............................................................................................................................. 96

Page 20: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo
Page 21: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

xv

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 - Problemas típicos, parâmetros críticos, métodos de análise e critério de

segurança para barragens e fundações (adaptado de Hoek, 2007). ..................................9

Tabela 3.1 - Propriedades mecânicas dos materiais. ............................................................. 37

Tabela 3.2 - Propriedades mecânicas dos elementos de interface. ......................................... 37

Tabela 3.3 - Propriedades hidráulicas do canal de escoamento e aceleração gravítica. .......... 39

Tabela 3.4 - Discretização da malha do modelo numérico. ................................................... 40

Tabela 3.5 - Caudal escoado na descontinuidade horizontal para o modelo hidráulico. ......... 45

Tabela 3.6 - Caudal escoado na descontinuidade horizontal para o modelo elástico linear. ... 46

Tabela 3.7 - Caudal escoado na descontinuidade horizontal para o modelo não-linear. ......... 47

Tabela 4.1 - Propriedades mecânicas do material dos blocos. ............................................... 62

Tabela 4.2 - Parâmetros elásticos e resistentes adotados para o ensaio de tração. .................. 63

Tabela 4.3 - Parâmetros elásticos e resistentes adotados para o ensaio de corte..................... 65

Tabela 4.4 - Parâmetros elásticos e resistentes adotados para o ensaio de compressão/corte. 68

Tabela 4.5 - Valores esperados das tensões de corte face às tensões normais estipuladas. ..... 72

Tabela 5.1 - Profundidades das cortinas de impermeabilização e de drenagem. .................... 79

Tabela 5.2 - Propriedades mecânicas dos materiais. ............................................................. 80

Tabela 5.3 - Propriedades mecânicas dos elementos de interface. ......................................... 80

Tabela 5.4 - Propriedades mecânicas dos elementos de interface em regime não-linear. ....... 81

Tabela 5.5 - Propriedades hidráulicas dos canais de escoamento. ......................................... 81

Tabela 5.6 - Discretização das malhas dos modelos numéricos. ........................................... 83

Tabela 5.7 - Fatores de segurança considerando o método de redução das resistências

(Modelo 1). ................................................................................................................. 87

Tabela 5.8 - Fatores de segurança considerando o método de redução das resistências

(Modelo 2). ................................................................................................................. 87

Tabela 5.9 - Caudais percolados para os Modelos de barragem 1 e 2. ................................... 89

Page 22: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

xvi

Tabela 5.10 - Fatores de segurança considerando o aumento de carga hidrostática através

do aumento da cota de água. ....................................................................................... 93

Tabela 5.11 - Caudais percolados para os Modelos de barragem 1 e 2. ................................ 97

Page 23: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

xvii

LISTA DE SÍMBOLOS

ah abertura hidráulica [L]

amax abertura hidráulica máxima [L]

amin abertura hidráulica mínima [L]

ao abertura da descontinuidade com tensão normal nula [L]

c constante de amortecimento [-]

a abertura da descontinuidade [L]

A área do elemento plano de interface triangular [L2]

ah,CE abertura média do canal de escoamento [L]

c coesão [L-1MT-2]

𝑐𝑄 coesão aparente [L-1MT-2]

E módulo de elasticidade; módulo de Young [L-1MT-2]

𝐹𝑖(𝑡) forças nodais atuantes num dado instante [LMT-2]

𝐹𝑖𝑐(𝑡)

forças externas devidas ao contacto com blocos vizinhos [LMT-2]

𝐹𝑖𝑒(𝑡)

forças externas aplicadas no ponto nodal [LMT-2]

𝐹𝑖1(𝑡)

forças internas devidas à deformação dos elementos finitos planos

associados [LMT-2]

g aceleração gravítica [LT-2]

GI energia de fratura em modo I [L-1MT-2]

GII energia de fratura em modo II [L-1MT-2]

H altura da barragem [L]

i gradiente hidráulico bidimensional [LL-1]

I momento de inércia [L4]

k coeficiente de resistência do canal de escoamento [LM-1T]

kf condutividade hidráulica [LT-1]

Page 24: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

xviii

kh,CE coeficiente de permeabilidade aparente [LT-1]

kn rigidez normal associada ao elemento de interface [L-2MT-2]

ks rigidez tangencial associada ao elemento de interface [L-2MT-2]

kw módulo de compressibilidade da água [L-1MT-2]

Li comprimento de aresta da interface triangular [L]

m massa nodal [M]

NI função de forma associada ao nó I

p peso uniformemente distribuído [MT-2]

Q caudal [L3 T-1]

s segundos [T]

t espessura do elemento de interface [L]

t tempo [T]

�̇�𝑖(𝑡) velocidade do ponto nodal [LT-1]

�̈�𝑖(𝑡) aceleração do ponto nodal [LT-2]

un deslocamento normal da descontinuidade (abertura e fecho) [L]

us deslocamento máximo na direção de corte [L]

v velocidade de escoamento [LT-1]

vk viscosidade cinemática do fluido [L2T-1]

w peso associado ao ponto de integração

w pseudo largura [L]

wcr trabalho interno [LT-2]

y cota; profundidade [L]

z distância a um plano horizontal arbitrário; cota [L]

δ deslocamento [L]

ΔPNH(t) variação de pressão no nó hidráulico [L-1MT-2]

Δt passo de cálculo [T]

Page 25: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

xix

μ coeficiente de atrito

ρ massa volúmica [L-3M]

ξII variável adimensional

σ tensão [L-1MT-2]

σn tensão normal na descontinuidade [L-1MT-2]

σt tensão de tração limite [L-1MT-2]

τmax tensão de corte máxima [L-1MT-2]

υ coeficiente de Poisson [-]

φ ângulo de atrito

φ0 ângulo de atrito inicial

φres ângulo de atrito residual

φQ ângulo de atrito aparente

Δun incremento de deslocamento na direção normal da interface [L]

Δus incremento de deslocamento na direção tangencial da interface [L]

ΔQNH(t) soma dos caudais que percorrem os canais de escoamento confluentes num

nó hidráulico [L3T-1]

𝜆 fator multiplicativo [-]

ρw densidade da água; massa volúmica da água [L-3M]

ξI variável adimensional

τs tensão de corte [L-1MT-2]

Page 26: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

xx

LISTA DE SIGLAS

ANEPC Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil

APA Agência Portuguesa do Ambiente

CSB Comissão de Segurança de Barragens

FCT/UNL Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa

ICOLD International Commission on Large Dams

INAG Instituto da Água

LNEC Laboratório Nacional de Engenharia Civil

NOVA.ID.FCT Associação para a Inovação e Desenvolvimento da FCT

RPB Regulamento de Pequenas Barragens

RSB Regulamento de Segurança de Barragens

LISTA DE ABREVIATURAS

1D 1 dimensão

2D 2 dimensões

3D 3 dimensões

A.C. antes de Cristo

BCC betão compactado com cilindros

EJ elementos de junta

FH força horizontal

FV força vertical

MEF método dos elementos finitos

NH nó hidráulico

Page 27: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

1

1 INTRODUÇÃO

1.1 Enquadramento do tema

As barragens, concebidas na sua génese como estruturas para retenção de água, foram criadas

pelo Homem a fim de suprir certas necessidades das populações, sendo utilizadas para diversos

fins, como rega, produção de energia, abastecimento de água para usos domésticos e industriais,

navegação e controlo de cheias. Não surpreende então que, desde a Antiguidade, se tenham

afirmado como uma solução prioritária para um bom funcionamento das civilizações.

A provável primeira barragem a ser construída, por volta do ano de 3000 A.C., estava localizada

na Jordânia a cerca de 100 km da capital Aman e servia como sistema de abastecimento de água à

cidade de Jawa, que deu o nome à referida barragem (Schnitter, 1994). Nos dias de hoje, devido

ao crescimento populacional e desenvolvimento de novas tecnologias, a construção de novas

barragens não está apenas destinada ao abastecimento de água às populações, mas tem também

múltiplos propósitos, como os referidos anteriormente, dos quais se destaca o aproveitamento da

água da barragem como fonte energética.

O crescimento da população global provocou o aumento das necessidades de água nos mais

diversos sectores, nomeadamente, os domésticos, agrícola e industrial. De acordo com a

Comissão Internacional das Grandes Barragens (ICOLD), durante os últimos três séculos, a

quantidade de água doce aproveitada a partir de recursos naturais aumentou 35 vezes e espera-se

que a procura de água aumente anualmente cerca de 2 a 3%, no decorrer das próximas décadas. A

fim de acompanhar a expansão da população e mitigar necessidades socioeconómicas, foi

necessária a construção de grandes barragens (ICOLD, 2021).

Existem atualmente, segundo dados da ICOLD de abril de 2020, 58713 grandes barragens a nível

mundial. A China, o país com o maior número de estruturas deste tipo, possui 23841 exemplares

no seu território, mais do dobro que o segundo país mais representado que são os Estados Unidos

da América. Note-se que, segundo a ICOLD, pode ser considerada como uma grande barragem

aquela que tenha uma altura não inferior a 15 metros, desde a cota inferior da fundação até à cota

de coroamento, ou que tenha uma altura compreendida entre 5 e 15 metros e uma capacidade de

albergar mais de 3 milhões de metros cúbicos de água (ICOLD, 2021).

Page 28: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

2

Em Portugal, existem aproximadamente 250 grandes barragens, sendo que parte delas foram

construídas com a finalidade de fornecimento de água para abastecimento público, especialmente

no Sul e no interior do país, ou para regadio. Na região mais a norte, onde os recursos hídricos são

mais abundantes e regulares, construíram-se aproveitamentos hidroelétricos para produção de

energia (APA, 2021).

Para classificar uma barragem é necessário avaliar certas características, como: a dimensão da

estrutura (grandeou pequena barragem), o material utilizado (betão, alvenaria ou aterro), o tipo de

estrutura (gravidade, arco, contrafortes, etc.), a sua utilização (controlo de cheias, regularização de

caudal de rios, produção de energia, etc.), a capacidade de armazenamento e os danos

potenciais/perigosidade. Em Portugal, de acordo com o Decreto-Lei nº 21/2018, de 28 de março,

que agregou num único diploma o Regulamento de Segurança de Barragens (RSB) e o

Regulamento de Pequenas Barragens (RPB), a classificação de barragens é feita em função da sua

perigosidade e dos danos potenciais associados à onda de inundação correspondente ao cenário de

acidente mais desfavorável (classe I, classe II ou classe III, estando a classe I relacionada com

maiores danos) (APA, 2018).

Os maciços rochosos, compostos por blocos de rocha separados por descontinuidades, compõem a

fundação das barragens de betão. É através das referidas descontinuidades que a água atravessa o

maciço desde a zona da albufeira até à zona a jusante da obra. Esta passagem de água (e as

correspondentes pressões instaladas nas descontinuidades) contribui para a deterioração do

maciço e possível deslizamento da estrutura. Segundo o European Club of Icold (2004), os locais

mais prováveis para ocorrer um deslizamento em barragens gravidade são as já referidas

descontinuidades do maciço rochoso, a superfície de contacto betão/rocha e as juntas de ligação

do betão que controlam os esforços de corte e possíveis infiltrações.

Atualmente, de modo a verificar a segurança das barragens, recorre-se a modelos numéricos que

simulam a ligação da barragem e da fundação rochosa, bem como as descontinuidades do maciço.

Um método usualmente utilizado é o Método dos Elementos Finitos (MEF), que permite

representar as descontinuidades das ligações barragem/barragem, barragem/fundação e

fundação/fundação considerando elementos de interface. Estas descontinuidades são

representadas através de elementos de junta com modelos constitutivos, que são apresentados e

discutidos nesta dissertação.

Page 29: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

3

1.2 Objetivos e metodologia

A presente dissertação insere-se no projeto de investigação do Laboratório Nacional de

Engenharia Civil (LNEC) “DAMFA - Soluções de ponta para a avaliação sustentável das

fundações de barragens de betão”, que está a ser desenvolvido em colaboração com a

NOVA.ID.FCT – Associação para a Inovação e Desenvolvimento da Faculdade de Ciências e

Tecnologia (FCT/UNL) da Universidade Nova de Lisboa.

Pretende-se com este trabalho averiguar a viabilidade da utilização, na avaliação de segurança ao

deslizamento de barragens de betão, de um modelo descontínuo tridimensional que simule a

interação hidromecânica da fundação. O modelo adotado é uma extensão para 3D do modelo 2D

proposto por Azevedo & Farinha (2015), que admite que o escoamento se dá através de canais

localizados nas arestas de elementos de interface triangulares que simulam as diferentes

descontinuidades.

Este trabalho enquadra-se no seguimento de outras dissertações de Mestrado, nomeadamente as

apresentadas por Reis (2018) e Gomes (2019), onde se consideram modelos não-lineares com

enfraquecimento nas superfícies de contato betão/betão e barragem/fundação, e em que se admite

que a fundação rochosa pode ter um comportamento elástico com coesão nula ou um

comportamento não-linear. A principal diferença para o primeiro dos trabalhos acima é a

utilização de um modelo 3D ao invés do modelo 2D anteriormente utilizado; em comparação com

o segundo trabalho referido acima, procede-se aqui à aplicação de um maior número de modelos

de interface com enfraquecimento.

Foi realizada uma análise de estabilidade de duas barragens gravidade com alturas diferentes,

através de dois métodos distintos: método de redução das resistências e método de amplificação

da carga hidrostática por aumento da cota de água. Determinaram-se os fatores de segurança ao

deslizamento considerando dois modelos constitutivos de interface que simulam as

descontinuidades betão/betão e betão/rocha e avaliou-se o desenvolvimento das pressões e dos

caudais, tendo em conta os diferentes modelos e alturas de barragem. Foi considerado um modelo

com enfraquecimento bilinear apresentado em Azevedo (2003) e outro modelo de fratura com

base elasto-plástica proposto por Caballero et al. (2008).

Por fim, é avaliado o desempenho dos modelos numéricos utilizados na análise para simular

cenários de rotura que envolvam deslizamento pelas superfícies de descontinuidade.

Page 30: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

4

1.3 Organização da dissertação

Esta dissertação encontra-se dividida em 6 capítulos, descritos sucintamente de seguida:

i. No primeiro e presente capítulo, apresenta-se sinteticamente o tema abordado ao

longo da dissertação, definindo-se os seus objetivos e a sua metodologia;

ii. O segundo capítulo apresenta uma introdução a diversos aspetos relevantes acerca das

barragens gravidade;

iii. No terceiro capítulo apresentam-se os fundamentos teóricos e práticos alusivos ao

estudo do comportamento hidromecânico de fundações de barragens gravidade, os

modelos numéricos utilizados e a validação do modelo hidromecânico do módulo

computacional utilizado nesta dissertação, Parmac3D-FFlow;

iv. O quarto capítulo apresenta fundamentos teóricos relacionados com os modelos

constitutivos de interface considerados nesta dissertação e estudos de verificação e

validação do modelo mecânico do módulo computacional Parmac3D-FFlow;

v. No quinto capítulo realiza-se uma análise de estabilidade para dois modelos de

barragem diferentes, considerando um cenário de deslizamento na interface

barragem/fundação, adotando-se modelos com enfraquecimento para o betão e

diferentes comportamentos na fundação;

vi. O sexto e último capítulo encerra esta dissertação, apresentando as principais

conclusões que se retiraram do trabalho e perspetivas de desenvolvimento futuro.

Page 31: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

5

2 BARRAGENS GRAVIDADE

Neste segundo capítulo são abordados diversos aspetos relativos a barragens gravidade (pois esta

dissertação aborda apenas este tipo de estrutura). Pretende-se expor o modo de funcionamento

estrutural, enunciar os principais problemas associados a este tipo de barragem, relatando alguns

exemplos reais, e por fim, apresentar alguns aspetos da legislação relativos à segurança de

barragens, relevantes para o trabalho que se apresenta.

As barragens gravidade são um dos principais tipos de barragem de betão e alvenaria, a par das

barragens abóbada e barragens de contrafortes. São concebidas e calculadas para resistir, apenas

pelo seu peso próprio, ao impulso da água que retêm e transmitir as solicitações à fundação. A

maioria das barragens de betão são do tipo gravidade, uma vez que estas possuem um elevado

grau de segurança e são, em regra, as mais económicas e simples de construir.

Segundo dados da (ICOLD, 2021), as barragens gravidade totalizam 14% das barragens no

mundo, sendo apenas ultrapassadas em número pelas barragens de aterro, que perfazem 65% do

registo mundial das barragens.

2.1 Funcionamento estrutural

A utilização do betão em obras de barragens gravidade iniciou-se na segunda metade do século

XIX, dado oferecer uma alternativa promissora à típica solução de pedra e alvenaria. Não sendo

perfeita inicialmente, a solução de betão foi sendo modificada, melhorada e atualizada

gradualmente, ajustando-se a composição do cimento e o seu processo de fabrico. No final dos

anos 70 e início dos anos 80 do século XX, surgiu outra alternativa, o betão compactado com

cilindros (BCC) (Schnitter, 1994). O BCC tem a mesma constituição que o betão convencional,

diferindo deste pelo facto de ter um abaixamento praticamente nulo por forma a permitir,

enquanto fresco, o trânsito de equipamentos pesados sobre ele. Comparativamente com as

barragens de betão convencional, as barragens de BCC têm algumas vantagens, tais como (INAG,

2001):

i. Prazos de construção mais reduzidos;

ii. Economia nas obras de derivação provisória;

iii. Menores exigências de qualidade no que se refere aos agregados constituintes do betão;

Page 32: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

6

iv. Possibilidade de redução ou eliminação das juntas de contração;

v. Disponibilidade de maior área de trabalho durante a construção e diminuição do risco de

fendilhação associado à retração do betão.

Em Portugal existe uma única barragem de BCC, a barragem de Pedrógão, localizada no rio

Guadiana, cerca de 23 km a jusante da barragem de Alqueva. É uma barragem com 43 m de altura

máxima e comprimento total de 448 m, dos quais 125 m são de betão convencional e 323 m são

de BCC (APA, 2021).

A secção transversal de uma barragem gravidade é aproximadamente triangular, sendo a base

cerca de 80% da altura, e a planta é reta ou com ligeira curvatura. Esta curvatura permite tirar

partido da resistência na direção normal ao eixo do rio, apesar de as barragens gravidade serem

projetadas para resistir tendo em conta apenas a sua secção transversal. As barragens de planta

curva são apropriadas para vales mais estreitos, enquanto as barragens de planta reta são mais

adequadas para vales largos. Na Figura 2.1 a), ilustra-se o perfil tipo de uma barragem gravidade

e em b), uma vista geral da barragem de Hoover, nos EUA, onde se observa a curvatura da

mesma.

Figura 2.1 - Perfil transversal de uma barragem gravidade (adaptado de INAG, 2001) e vista geral da

barragem de Hoover, EUA (https://www.researchgate.net).

No que concerne ao dimensionamento das barragens de gravidade, este deve atender aos seguintes

requisitos: segurança ao derrubamento segundo qualquer plano horizontal, definido no corpo da

Page 33: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

7

barragem ou no contacto com a fundação; segurança ao deslizamento em qualquer plano

horizontal, definido no corpo da barragem ou no contacto com a fundação e, ainda, segundo

qualquer descontinuidade geológica na fundação; garantir que as tensões no corpo da barragem e

na fundação não excedem as tensões admissíveis (Thomas, 1979). A relação entre a largura da

base e a altura é definida por forma a verificar estes requisitos.

No dimensionamento, é necessário ter em conta as principais forças atuantes (Figura 2.2). São

estas: as resultantes da pressão hidrostática nos paramentos (FH1, FV1, FH2, FV2); a resultante do

peso próprio (FV3); a resultante da subpressão na base da barragem (FV4); as forças de inércia do

corpo da barragem (FH5, FV5) e as pressões hidrodinâmicas no paramento de montante, devidas

às ações sísmicas (FH6).

Figura 2.2 – Forças horizontais (FH) e verticais (FV) a considerar no dimensionamento de uma

barragem gravidade (INAG, 2001).

Estas forças estão associadas a dois tipos de ações: ações estáticas e ações dinâmicas. As

primeiras incluem o peso próprio da barragem, a pressão hidrostática e a subpressão.

O peso próprio é a principal ação estabilizante a atuar numa barragem gravidade, pelo que o

correspondente esforço vertical deve ser o maior possível. Este é dado pelo volume da secção

considerada multiplicado pelo peso específico do material utilizado, neste caso o betão. Esta ação

deve ser considerada como carga permanente.

A pressão hidrostática corresponde ao impulso provocado pela água nos paramentos a montante e

jusante da barragem. A sua componente é calculada pela altura da água, a partir da base da

Page 34: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

8

estrutura até à superfície, multiplicada pelo peso específico da água. No caso ilustrado na Figura

2.2, dado que o paramento a montante tem uma dada inclinação, a pressão da água tem uma

componente horizontal e outra vertical.

A subpressão é o nome dado à pressão hidrostática normal à base da barragem, exercida no

contacto da estrutura com o maciço de fundação ou numa qualquer descontinuidade, devida à

presença de água no maciço de fundação da barragem. Nas barragens gravidade, essa pressão é

nociva à estabilidade da estrutura, devendo ser dimensionados órgãos de drenagem da água na

fundação a fim de diminuir a subpressão (Oliveira, 2018).

Quanto às ações dinâmicas a considerar, estas são as forças de inércia e as pressões

hidrodinâmicas. Ambas podem ser aproximadas a forças estáticas equivalentes, permitindo assim

simular o efeito de um sismo numa barragem.

2.2 Principais problemas associados a barragens gravidade

Segundo dados estatísticos, a fase crítica da vida de uma barragem ocorre durante a sua

construção ou durante o primeiro enchimento completo da albufeira, prolongando-se por 5 a 7

anos após a sua conclusão. No entanto, é importante apontar que esta aferição se refere

fundamentalmente à ocorrência de deficiências construtivas (Antunes do Carmo, 2013).

Segundo Hoek (2007), a principal causa de rotura de barragens gravidade é a falta de resistência

ao corte na superfície de ligação barragem/maciço da fundação ou em descontinuidades do

maciço rochoso de fundação próximas da base da barragem e com orientação desfavorável. Na

Tabela 2.1, esta informação está complementada com os principais problemas e outros parâmetros

e critérios relativos a este tipo de barragem

Como é sabido, as barragens gravidade enfrentam um potencial perigo no que toca ao

deslizamento. Sendo assim, os projetos neste tipo de barragem incluem tradicionalmente um fator

de segurança contra o deslizamento. Este define-se como o fator pelo qual os parâmetros de

resistência ao corte podem ser reduzidos de forma a conduzir a fundação da barragem a um estado

de equilíbrio limite (Morgenstern, 1991). O valor numérico do fator de segurança depende do

grau de confiança do projetista nos parâmetros de resistência ao corte, nas subpressões, no local

da superfície de falha crítica e na magnitude das forças externas que atuam sobre a estrutura.

Page 35: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

9

Nas barragens gravidade, é recomendado um fator de segurança de 3.0 para condições normais de

carregamento e quando a informação relativa aos parâmetros de resistência é limitada. Este valor

pode ser reduzido para 2.0 quando os parâmetros de resistência são determinados por amostras de

um programa de investigação ou por experiências anteriores (USBR, 1973).

De seguida, apresentam-se na Tabela 2.1, de forma estruturada, os problemas típicos, os

parâmetros críticos, os métodos de análise e os critérios de segurança referentes às barragens

gravidade e suas fundações.

Tabela 2.1 - Problemas típicos, parâmetros críticos, métodos de análise e critério de segurança para

barragens e fundações (adaptado de Hoek, 2007).

Problemas típicos

Rotura por corte na interface betão/fundação ou no maciço de

fundação.

Formação de fissuras por tração no pé de montante da barragem.

Escoamento pela fundação e descontinuidades.

Parâmetros críticos

Presença de zonas de menor resistência ou mais permeáveis no

maciço rochoso.

Resistência ao corte na interface betão/maciço rochoso.

Resistência ao corte do maciço rochoso.

Eficácia das cortinas de impermeabilização e dos sistemas de

drenagem.

Estabilidade das encostas das albufeiras.

Métodos de análise

Estudos paramétricos, utilizando métodos de equilíbrio limite,

devem ser usados para investigar o deslizamento na interface

betão/maciço rochoso e o deslizamento em descontinuidades de

fraca resistência na fundação.

É necessário efetuar um elevado número de testes à rotura, a menos

que esteja disponível uma análise com deteção automática de

superficies de rotura crítica.

Critério de segurança

O fator de redução contra a rotura da fundação deve exceder 1,5

para condições normais de operação de toda a albufeira, desde que

sejam usados valores de resistência ao corte conservativos (c´≈ 0).

Fator de segurança ˃ 1,3 para cheia máxima provável (CMP).

Fator de segurança ˃ 1 para sismo máximo credível e CMP.

Page 36: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

10

A fim de complementar melhor toda a informação enunciada, apresentam-se dois casos de

barragens gravidade em que se deu a rotura pela fundação.

O primeiro caso que se apresenta é o da barragem de Austin (Figura 2.3), construída em 1909 na

Pensilvânia, Estados Unidos da América. A barragem, construída em betão ciclópico,

media 13,1 m de altura e tinha uma extensão longitudinal de 162,8 m, tendo sido fundada em

arenito estratificado horizontalmente com camadas intercaladas de xisto e arenito desintegrado. A

estrutura sofreu dois acidentes, o primeiro em 1910 e o segundo em 1911. A primeira situação

deveu-se a um deslizamento da fundação, causado por chuva e neve derretida, que encheu a

albufeira e provocou um fluxo de água significativo, originando assim infiltrações no maciço que

acabaram por deslocar parte da base da barragem de 0,46 m. Infelizmente, após este primeiro

acidente, não foram realizadas as reparações necessárias e a barragem foi colocada em serviço

novamente. Assim, em 1911, devido a falhas estruturais (testemunhas indicam que um bloco perto

da base da barragem, a 30.5 m da margem direita, cedeu, deixando a água passar) foram

contabilizadas 78 fatalidades. Concluiu-se que o deslizamento se deu ao longo de uma camada de

argila xistosa, que era a zona mais fraca da fundação (USBR, 1998).

Figura 2.3 - Barragem de Austin, Pensilvânia (http://www.austindam.net/).

Nas Figuras 2.4, 2.5 e 2.6, pode-se observar, respetivamente, a cidade antes do desastre, a cidade

depois de ter sido devastada e, finalmente, as ruínas da barragem.

Page 37: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

11

Figura 2.4 - Cidade de Austin antes do acidente (http://www.austindam.net/).

Figura 2.5 - Cidade de Austin depois do acidente (http://www.austindam.net/).

Figura 2.6 - Ruínas da barragem de Austin (http://www.austindam.net/).

Page 38: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

12

O segundo caso que se apresenta é o da barragem de Bouzey (Figura 2.7), situada no rio

L’Aviere, Nordeste de França. Construída em 1880, esta barragem gravidade de alvenaria media

22 m de altura e tinha 525 m de desenvolvimento no coroamento, tendo sido fundada em estratos

horizontais de arenito. Em março de 1884, devido ao surgimento de fissuras e durante o primeiro

enchimento da albufeira, um troço central da barragem com extensão de 135 m deslizou 0,34 m

causando o primeiro de dois acidentes que a barragem sofreu. Após uma fase de estudo e análise,

iniciou-se um processo de melhoramento que resultou numa adição de um contraforte a jusante e

tratamento das fendas a montante.

Em novembro de 1895, durante o subsequente enchimento da albufeira, a barragem sofreu uma

rotura repentina. A faixa central superior da barragem, com extensão de 170 m e 10,5 m de altura,

desprendeu-se e a estrutura rompeu, inundando a aldeia de Bouzey e provocando a morte a mais

de 100 pessoas.

Foi após a rotura desta barragem que se começou a dar mais atenção aos efeitos da pressão interna

em barragens de alvenaria e aos efeitos da subpressão nas fundações; consequentemente,

começaram a existir critérios de segurança relacionados com estes efeitos. A fundação de estratos

de arenito apresentava descontinuidades e a cortina de impermeabilização no pé de montante não

tinha profundidade suficiente para mitigar a infiltração da água por debaixo da estrutura. Para

além disto, juntas de alvenaria deficientes permitiram a entrada de água a cotas mais elevadas

onde a espessura da barragem era mais reduzida (USBR, 1998).

Figura 2.7 - Barragem de Bouzey, França (http://aufildesmotsetdelhistoire.unblog.fr/)

Page 39: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

13

2.3 Legislação e segurança de barragens

2.3.1 Segurança de barragens

Os dois objetivos fundamentais de um sistema de segurança são a mitigação de todos os riscos

associados e o controlo sobre os riscos que não foi possível minimizar. A fim de alcançar estes

objetivos, um sistema de segurança aplicado às grandes barragens deve assentar nos seguintes

elementos chave (Wieland, 2014):

i. Segurança estrutural (elementos principais: critérios de projeto geológico, hidráulico e

sísmico; critérios de projeto e métodos de análise podem ter de ser atualizados quando

nova legislação e regulamentação é introduzida);

ii. Monitorização da segurança da barragem (elementos principais: instrumentação da

barragem, inspeções e avaliações de rotina realizadas por técnicos especializados);

iii. Segurança operacional (elementos principais: regras para o funcionamento do

reservatório sob condições hidrológicas normais e extraordinárias, treinos de formação

para pessoal especializado, manutenção da barragem e descarga de sedimentos. O segredo

fundamental para uma longa duração de vida da barragem é a manutenção de todas as

componentes da estrutura);

iv. Emergência e gestão do risco (elementos principais: planos de ação para emergências,

mapas de inundação, sistemas de alarme, planos de evacuação, etc.).

Avaliações de segurança periódicas são indispensáveis, pois permitem definir que medidas devem

ser tomadas para manter ou melhorar a segurança da barragem. Todas as deficiências

identificadas devem ser imediatamente corrigidas após dado um parecer especializado. Assim,

desde que todos os critérios de segurança sejam garantidos, uma barragem pode ser considerada

segura.

2.3.1.1 Segurança estrutural

A segurança estrutural é o principal pré-requisito para um funcionamento seguro de uma

barragem e, consequentemente, para a sua sustentabilidade. A base para a segurança estrutural

começa na fase de projeto, tornando-se muito importante que todos os riscos que possam afetar a

Page 40: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

14

barragem sejam tidos em conta. Os riscos podem estar relacionados com o meio ambiente onde

está inserida a estrutura, mas também serem devidos ao local e a deficiências do projeto. Portanto,

o projeto deve ser desenvolvido tendo em conta o pior cenário possível para ocorrências que

possam afetar o normal funcionamento da barragem, nomeadamente inundações e sismos.

Em Portugal, de acordo com o Artigo 5.º da Secção II do RSB (APA, 2018), o controlo de

segurança é feito pelas seguintes entidades:

a. A Agência Portuguesa do Ambiente, I.P. (APA, I.P.), na qualidade de organismo com

competências genéricas de controlo de segurança das barragens (Autoridade), a quem

compete promover e fiscalizar o cumprimento do Regulamento de Segurança de

Barragens;

b. O Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC), na qualidade de consultor da

Autoridade em matéria de controlo de segurança das barragens;

c. A Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), como entidade orientadora e

coordenadora das atividades de proteção civil a nível nacional;

d. A Comissão de Segurança de Barragens (CSB), que funciona junto da APA e tem as

competências definidas no RSB, nomeadamente a de analisar a situação das barragens do

ponto de vista da segurança;

e. Dono de obra, cujo papel é promover o bom funcionamento e segurança de uma barragem

(aspetos principais: promover a elaboração do projeto, plano de observação e primeiro

enchimento, promover a execução da obra, suportar as despesas relativas ao controlo de

segurança e outros estudos considerados indispensáveis pela Autoridade, etc.).

2.3.1.2 Monitorização de segurança

De acordo com a Parte IV dos documentos técnicos de apoio ao RSB (APA, 2018), as atividades

de observação e inspeção das barragens têm por objetivos essenciais a avaliação das condições de

segurança estrutural e da modelação do comportamento das obras, assim como a aferição dos

critérios de projeto. Estas atividades desenvolvem-se ao longo da vida de uma obra e

compreendem, nomeadamente:

i. O planeamento dos trabalhos;

Page 41: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

15

ii. A inspeção visual das obras;

iii. A instalação, manutenção e exploração de um sistema de observação, constituído por

dispositivos de medida das grandezas, relativas às ações, às propriedades estruturais e às

respostas das estruturas, selecionadas para o controlo do comportamento das obras;

iv. A compilação, análise e interpretação de toda a informação recolhida.

Para além das já referidas inspeções visuais, o RSB prevê também inspeções conduzidas pela

Autoridade, durante e no final da construção, antes do primeiro enchimento, após o primeiro

enchimento e durante a exploração.

As inspeções visuais têm como objetivos essenciais (APA, 2018):

i. A deteção de sinais ou evidências de deterioração, comportamentos anómalos ou

sintomas de envelhecimento da barragem;

ii. A deteção de anomalias do sistema de observação.

As anomalias que se observam mais frequentemente durante as inspeções visuais relacionam-se

com a ocorrência de movimentos diferenciais entre blocos, existência de fissuração significativa e

percolações não controladas através do corpo da obra ou da fundação (INAG, 2001).

O plano de observação deve conter indicações sobre os locais e aspetos a ter em especial

consideração, em face das características da obra a observar, bem como prever a execução e

conter indicações sobre os resultados relativos aos três tipos de inspeção visual. São estes (APA,

2018):

a. Inspeções visuais de rotina;

b. Inspeções visuais de especialidade;

c. Inspeções visuais de carácter excecional.

Um plano de observação eficiente inclui o planeamento de um sistema de observação

perfeitamente adaptado a todas as fases da vida de uma obra. Entende-se por sistema de

observação o conjunto de dispositivos instalados para medição das grandezas selecionadas para o

Page 42: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

16

controlo de segurança da obra, relativas às ações, às propriedades dos materiais e às respostas das

estruturas e suas fundações.

2.3.1.3 Segurança operacional

A segurança operacional de barragens por vezes é esquecida; no entanto, não deve ser

menosprezada. Assim, devem ser tomadas todas as precauções necessárias, nomeadamente:

diretrizes operacionais para o reservatório para condições hidrológicas usuais, incomuns e

extremas, treino de pessoal especializado na manutenção da barragem, procedimentos de

manutenção da barragem, apoio especializado e reativo no caso de comportamentos incomuns na

barragem, etc. (Wieland, 2014).

2.3.1.4 Plano de emergência

O plano de emergência é definido para a pior situação possível, ou seja, é necessário saber lidar

com uma falha na barragem que provoque inundações graves e não controladas. Assim, o

principal objetivo num planeamento de um caso de emergência é assegurar que nenhuma vida

humana é perdida.

Em caso de emergência, o dono de obra é o responsável por monitorizar, determinar níveis de

alarme apropriados, notificar as autoridades competentes que devem avisar e evacuar a população

que pode ser afetada, implementar ações de emergência na barragem, determinar quando o

cenário de emergência já não existe e documentar todas as atividades ao longo do processo.

Segundo a INAG (2001), devem-se considerar dois tipos de planos de emergência: o plano de

emergência interno, referente à barragem, albufeira e zona ao redor do vale a jusante; e o plano

de emergência externo, referente à proteção do vale a jusante afastado da barragem.

Page 43: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

17

3 COMPORTAMENTO HIDROMECÂNICO DE FUNDAÇÕES DE

BARRAGENS

No presente capítulo abordam-se os principais fundamentos relacionados com o comportamento

hidromecânico de fundações de barragens. Numa primeira instância, apresentam-se as principais

características dos maciços rochosos requeridas para o bom comportamento de uma barragem de

betão e os dispositivos de controlo da percolação da água. Posteriormente, aborda-se o

comportamento hidromecânico das descontinuidades dos maciços rochosos e, finalmente,

apresentam-se os modelos de cálculo utilizados.

3.1 Características dos maciços rochosos de fundação de barragens de betão

Um maciço rochoso define-se como um conjunto de blocos de rocha que se encontram contíguos

e articulados. Estes são delimitados por superfícies denominadas por descontinuidades, que

afetam as propriedades e o comportamento mecânico do maciço, e cuja resistência à tração é

diminuta ou até mesmo nula. O termo “descontinuidade” pode ser classificado como termo geral

para superfícies de estratificação, planos de xistosidade, diaclases e falhas (ISRM, 2007).

As falhas e as diaclases consideram-se como os tipos de descontinuidades mais frequentes na

natureza. O primeiro tipo de descontinuidade referido (falha) é descrito como uma fratura que

provocou um deslocamento e que varia desde alguns centímetros até vários quilómetros ao longo

da superfície de falha. Importa mencionar que as paredes das falhas são rugosas, mas estão muitas

vezes polidas por consequência de movimentos de fricção entre rochas dos dois lados da falha,

devidos a deslocamentos de corte. Frequentemente, o maciço rochoso encontra-se alterado e

desgastado em ambos os lados da falha. Consequentemente, o material deteriorado pode

contribuir para o preenchimento das falhas. Finalmente, é de referir que as aberturas das falhas

variam entre milímetros até centenas de metros (ISRM, 2007).

A diaclase é um tipo de descontinuidade em que ocorre uma fratura com um deslocamento pouco

significativo ao longo da superfície de falha. Designa-se por família de diaclases, um conjunto de

diaclases que se formam paralelamente numa dada região, sendo que um conjunto de duas ou

mais famílias de diaclases identifica-se como um sistema de diaclases. As diaclases de corte são

aquelas que têm origem em tensões de corte, enquanto as diaclases de tração formam-se por

tensões de tração (Gomes, 2019).

Page 44: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

18

Apresentam-se de seguida os parâmetros que caracterizam as descontinuidades ou famílias de

descontinuidades, tanto a nível geométrico como a nível físico (ISRM, 2007). Dentro destes

parâmetros, são de mencionar:

i. A orientação, que define o plano de descontinuidade no espaço e é definida pela

inclinação correspondente ao ângulo da linha de maior declive (mergulho do plano) em

relação ao plano horizontal e pela direção de mergulho que corresponde ao ângulo entre a

linha de máxima pendente do plano de descontinuidade em relação ao Norte, medido no

sentido do ponteiro dos relógios;

ii. O espaçamento, geralmente referente ao espaçamento médio ou modal de uma família de

descontinuidades, condiciona o tamanho dos blocos que constituem um maciço rochoso.

Este parâmetro define a distância entre descontinuidades adjacentes e é medida

perpendicularmente aos seus planos;

iii. A persistência, também classificada como continuidade, define-se como a extensão em

área de uma descontinuidade ou como a dimensão de uma descontinuidade num plano;

iv. A rugosidade, existente nas paredes de uma descontinuidade, pode ser caracterizada por

ondulações relativas ao plano médio da descontinuidade e representa uma componente

importante na resistência ao corte;

v. A abertura, que se define pela distância, medida na perpendicular, que separa as paredes

adjacentes de uma descontinuidade no qual o respetivo espaço está preenchido com ar,

água e outros sedimentos provenientes das paredes das descontinuidades;

vi. O preenchimento, termo utilizado para descrever o material que ocupa o espaço entre as

paredes da descontinuidade e que possui propriedades distintas do material da rocha,

sendo usualmente mais fracas que as deste último.

Assim, sendo os maciços rochosos de fundações de barragens estruturas descontínuas,

heterogéneas e anisotrópicas, a água percola pelas descontinuidades, o que torna imprescindível

considerar o efeito das pressões da água nas descontinuidades do maciço e o efeito das

subpressões na superfície de contacto betão/fundação. Logo, requer-se que as fundações

disponham de algum tratamento para garantir os requisitos necessários de estabilidade,

deformação e estanquidade. Ao aplicarem-se estes tratamentos, deseja-se que certos objetivos

sejam cumpridos, tais como: melhorar o contacto entre a fundação e a barragem, aumentar a

Page 45: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

19

resistência ao corte e a rigidez da fundação, aumentar a estabilidade dos encontros, garantir que as

subpressões não são elevadas e reduzir a percolação de água na fundação (ICOLD, 2005). Nesse

sentido, a realização do tratamento envolve: i) injeções de consolidação; ii) injeções para

execução de um sistema de impermeabilização; e iii) criação de um sistema de drenagem.

As injeções de consolidação servem o propósito de aumentar a compacidade do material rochoso

ao melhorar a sua resistência mecânica e o seu módulo de elasticidade na zona adjacente à

superfície de inserção, de modo a diminuir a permeabilidade e a possibilidade de assentamentos

prejudiciais à estabilidade da estrutura. As injeções de calda de cimento são aplicadas em toda a

área de fundação da barragem, garantindo a consolidação de rochas fraturadas de baixa

resistência, sendo usualmente realizadas com uma grelha de furos primários espaçados de 3 m

entre si, excetuando zonas que exijam um tratamento especial. Por norma, é recomendável

realizar os furos em direções opostas, em fiadas alternadas, de maneira a aumentar a

probabilidade de interseção com descontinuidades (Gama, 2012). Este tipo de tratamento é

realizado a profundidades relativamente pequenas, não ultrapassando em geral 10 m para

barragens pequenas e 20 m para barragens grandes (Londe & Le May, 1993)

O sistema de impermeabilização tem o objetivo de reduzir a percolação de água sob as barragens

e atenuar a velocidade de escoamento das mesmas para um nível mais controlado. Em barragens

gravidade, é usual a instalação de uma galeria no seu interior, para efeitos de operações de injeção

da cortina de impermeabilização, bem como para a realização de furos para fins de drenagem. A

cortina é executada com injeção de calda de cimento (ou outro material) preenchendo as fissuras

do maciço. Numa barragem de betão assente num maciço rochoso de condições favoráveis, é

levada a cabo, o mais a montante possível, uma fiada de furos paralelos ao alinhamento da

barragem e orientados de tal modo que garantem o preenchimento com calda de cimento da maior

quantidade de descontinuidades, em regra com orientação perpendicular ao sentido de escoamento

da água (Gama, 2012).

Adicionalmente ao sistema de impermeabilização anteriormente descrito, é realizado, de maneira

complementar, um sistema de drenagem a jusante da cortina de impermeabilização, com o

propósito de recolher a água percolada na fundação que aflui à galeria de drenagem. Este sistema

mostra ser eficaz no controlo das subpressões, na medida em que as pressões na superfície de

contacto entre a barragem e fundação, bem como nos planos de descontinuidades, são aliviadas. É

exemplo da necessidade de execução de furos de drenagem a situação de fundações com

Page 46: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

20

descontinuidades de abertura bastante reduzida, onde existe a possibilidade de se instalarem

elevadas pressões de água.

Como referido anteriormente, a cortina de drenagem é executada a jusante da cortina de

impermeabilização, sendo que a primeira, por norma, possui um comprimento em profundidade

de um terço a metade da dimensão da segunda (Mendonça, 2017).

De seguida, representa-se na Figura 3.1 um perfil transversal tipo de uma barragem gravidade que

inclui os dispositivos de tratamento referidos anteriormente.

Figura 3.1 - Perfil transversal tipo de uma barragem gravidade com dispositivos de controlo de

escoamento (adaptado de Fel et al., 2005).

Nos casos em que a instalação de uma cortina de drenagem não é considerada, o diagrama de

subpressões na base da barragem é aproximadamente linear (admitindo-se que o maciço rochoso

de fundação é homogéneo) no percurso de percolação da água entre as posições de montante e

jusante, verificando-se a ocorrência de perdas de energia até a subpressão igualar a pressão de

água existente a jusante.

Quando é utilizado um sistema de drenagem, para além de se considerar a influência da altura da

água a montante e jusante da barragem, também se considera a cortina de drenagem para este

efeito. Nesta situação, o diagrama de subpressões é aproximadamente bilinear.

Page 47: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

21

Nas Figuras 3.2 e 3.3, observa-se, respetivamente, o diagrama de subpressões adotado em fase de

projeto de uma barragem gravidade caso não se considere um sistema de drenagem ou se admita

que o sistema de drenagem não está operacional, e outro considerando a presença de uma cortina

de drenagem.

Figura 3.2 - Diagrama de subpressões na base de uma barragem sem sistema de drenagem.

Figura 3.3 - Diagrama de subpressões na base de uma barragem com sistema de drenagem.

3.2 Interação hidromecânica

O escoamento de água em maciços rochosos ocorre sobretudo através das descontinuidades,

havendo de modo simultâneo e interdependente, uma interação entre o comportamento mecânico

e o comportamento hidráulico. Esta interdependência é garantida, na medida em que as variações

na percolação de água causam variações nas forças de escoamento e nas tensões efetivas, pelo que

Page 48: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

22

estas ações mecânicas modificam o campo de tensões, provocando deformações no maciço

rochoso alterado. Por sua vez, estas deformações afetam a permeabilidade e, consequentemente, a

percolação. Os mecanismos da interação acima referida, dão-se entre a abertura das

descontinuidades, a permeabilidade do maciço, a pressão efetiva e o campo de tensões no maciço

(Jing & Stephansson, 2007).

De modo a entender o comportamento hidrodinâmico das fundações de barragens de betão, é

essencial compreender o fenómeno do escoamento numa descontinuidade do maciço rochoso.

Esta ocorrência é usualmente analisada através de um modelo de escoamento denominado por

modelo de placas paralelas, que simula a descontinuidade como um espaço vazio (sem

preenchimento material) entre duas placas lisas e paralelas (Snow, 1965; Louis & Maini, 1970).

Tendo em conta a geometria descrita anteriormente para a descontinuidade de um maciço

rochoso, a velocidade média de escoamento para um fluxo laminar incompressível em estado

estacionário é dada por:

𝒗 = 𝒌𝒇 𝒊 (3.1)

Onde 𝑖 [m m-1] representa o gradiente hidráulico e 𝑘𝑓 [m s-1] a condutividade hidráulica da

descontinuidade, dada por:

𝒌𝒇 =𝒂𝟐 𝒈

𝟏𝟐 𝒗𝒌

(3.2)

Onde 𝑎 [m] representa a abertura da descontinuidade, 𝑣𝑘 [m2 s-1] a viscosidade cinemática do

fluido e 𝑔 [m s-2] a aceleração gravítica.

Assim, o caudal por unidade de largura, 𝑞, é expresso por:

𝒒 = 𝒗 𝒂 = 𝒂𝟑 𝒈

𝟏𝟐 𝒗𝒌 𝒊

(3.3)

Verifica-se na Equação (3.3) que o caudal entre placas paralelas é proporcional ao cubo da

abertura da descontinuidade (lei cúbica do escoamento), o que permite concluir que uma ligeira

alteração na componente da abertura tem implicações consideráveis no valor do caudal.

Page 49: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

23

Estudos laboratoriais revelam que a rugosidade e a abertura de uma descontinuidade são os

fatores principais que regem o escoamento da água (Barton & de Quadros, 1997). A lei cúbica do

escoamento, apoiada no modelo de placas paralelas, considera apenas a influência da abertura no

escoamento atendendo à impossibilidade de medição do fator de rugosidade em regime de

escoamento, revelando-se assim como um modelo aproximado da realidade. Contudo, apesar de o

modelo referido ser considerado adequado, alguns autores introduziram um coeficiente de

rugosidade para caracterização do escoamento em descontinuidades.

Tendo por base as noções anteriores, Barton et al. (1985) sugeriram a existência de uma abertura

mecânica e uma abertura hidráulica de valores distintos, em adição ao fator corretivo relativo às

descontinuidades do maciço rochoso. A abertura mecânica define-se como a distância média entre

duas superfícies de descontinuidade, medida na perpendicular ao plano estabelecido, como se

observa na Figura 3.4. No que concerne à abertura hidráulica (𝑎ℎ), verifica-se que esta é sempre

inferior à abertura mecânica e que a relação entre as duas depende da rugosidade da

descontinuidade. Para além desta característica, pode-se também aferir que a abertura hidráulica

depende não só da abertura mecânica, como também do caudal de escoamento que percorre a

descontinuidade. A abertura hidráulica pode ser determinada através de análises de escoamento

em laboratório ou através de testes in situ (Olsson & Barton, 2001).

Figura 3.4 - Definição de abertura mecânica.

Em conformidade com o esquema apresentado no programa UDEC (Itasca, 2004), a abertura

hidráulica é obtida em função do deslocamento normal da descontinuidade (abertura mecânica),

𝑢𝑛, e de três parâmetros (𝑎0, 𝑎𝑚𝑖𝑛 e 𝑎𝑚𝑎𝑥), de acordo com:

Page 50: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

24

𝒂𝒉 = {𝒂𝒎𝒊𝒏 𝒔𝒆 𝒖𝒏 + 𝒂𝟎 < 𝒂𝒎𝒊𝒏

𝒖𝒏 + 𝒂𝟎 𝒔𝒆 𝒂𝒎𝒊𝒏 ≤ 𝒖𝒏 + 𝒂𝟎 ≤ 𝒂𝒎𝒂𝒙

𝒂𝒎𝒂𝒙 𝒔𝒆 𝒖𝒏 + 𝒂𝟎 > 𝒂𝒎𝒂𝒙

(3.4)

Através da representação gráfica presente na Figura 3.5, é possível compreender melhor o

significado físico dos três parâmetros anteriormente referidos para definição da abertura

hidráulica. O valor 𝑎0 representa a abertura da descontinuidade com tensão normal nula,

traduzindo a permeabilidade do meio quando livre de tensões derivadas de solicitações exteriores.

O valor de 𝑎𝑚𝑖𝑛 representa a abertura hidráulica mínima, que é considerada em situações em que

as descontinuidades estão altamente comprimidas (embora a passagem de água nunca esteja

impedida). Finalmente, o valor de 𝑎𝑚𝑎𝑥 representa a abertura hidráulica máxima, que é adotada a

fim de limitar o caudal que percorre a descontinuidade.

Figura 3.5 - Abertura hidráulica (adaptado de Azevedo & Farinha, 2015).

3.3 Modelação numérica

3.3.1 Modelos contínuos e descontínuos

O comportamento hidromecânico dos maciços de fundação das barragens pode ser simulado

modelando o maciço rochoso através de um meio contínuo equivalente, ou considerando

explicitamente as descontinuidades. No segundo caso considera-se que o escoamento ocorre pelas

descontinuidades, desprezando assim o escoamento através da matriz rochosa. São alguns os

fatores que permitem optar ora pela abordagem contínua (utilizando o método dos elementos

Page 51: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

25

finitos, métodos das diferenças finitas ou método dos elementos de fronteira), ora pela abordagem

descontínua (através do método dos elementos discretos ou da análise descontínua de

deformação). Os fatores que devem ser apreciados previamente à escolha do tipo de modelação

são: a extensão e o espaçamento das descontinuidades (quando comparadas com a dimensão da

zona em estudo) e a geometria da fraturação do maciço.

Também é possível adotar um modelo descontínuo com elementos finitos, desde que se adotem

elementos finitos de junta na discretização das descontinuidades. Comparativamente a uma

modelação com elementos discretos, a abordagem com elementos finitos de junta é

computacionalmente menos exigente. No entanto, é necessário realizar um trabalho de pré-

processamento que garanta que a interação entre elementos finitos de volume ou área, é face/face,

em 3D, ou aresta/aresta, em 2D. Uma modelação descontínua com base num modelo de

elementos finitos apresenta, comparativamente a uma abordagem baseada no método dos

elementos discretos, a desvantagem de a análise ter de ser limitada a pequenos deslocamentos. No

entanto em (Azevedo & Farinha, 2015) demonstra-se que uma análise em pequenos

deslocamentos é suficiente para avaliar a segurança ao deslizamento de barragens gravidade, quer

sob ações dinâmicas, quer sob ações estáticas.

Em modelos contínuos equivalentes, devem ajustar-se as propriedades dos materiais de forma que

o comportamento hidrodinâmico do maciço rochoso seja adequadamente representado. Em

relação ao escoamento na fundação, este pode ser estimado através da identificação de diferentes

áreas do maciço rochoso em que são atribuídos valores de permeabilidade equivalente distintos

(obtidos por meio de ensaios in situ). As forças de percolação induzem deformações no meio

contínuo que acabam por alterar a permeabilidade. Assim, este tipo de análise requer o

estabelecimento prévio de correlações entre tensão/deformação e a permeabilidade do maciço

(Farinha, 2010).

Em modelos descontínuos, as descontinuidades são representadas através das suas próprias

propriedades hidromecânicas e assume-se que é apenas através destas que se processa o

escoamento pelo maciço rochoso. A pressão de água origina variações nas aberturas das

descontinuidades que, consequentemente, interferem com o valor do caudal escoado. Este tipo de

solução implica a existência de dados de caracterização do meio hidráulico e do meio mecânico,

tais como orientação e espaçamento das descontinuidades, a rigidez normal e tangencial das

mesmas, aberturas normais e aberturas residuais (Farinha, 2010).

Page 52: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

26

Nesta dissertação, é adotado um modelo hidrodinâmico descontínuo tridimensional baseado numa

tecnologia de elementos finitos de junta. Este modelo insere-se no módulo computacional

Parmac3D-FFlow, desenvolvido inicialmente para análise de fratura em betão, e que tem sido

adaptado para a análise do comportamento e da estabilidade de barragens de betão em situações

estáticas e dinâmicas. A adoção de discretizações equivalentes ao longo das arestas dos blocos em

contacto permite que se obtenham campos de tensões compatíveis nas interfaces (Azevedo, 2003;

Azevedo & Farinha, 2015), atingindo-se assim um desempenho superior ao obtido com base em

modelos de elementos discretos.

3.3.2 Modelo mecânico

A análise mecânica, realizada a partir do módulo computacional Parmac3D-Fflow, adota um

método de solução explícita baseado no método das diferenças centrais e em algoritmos de

relaxação dinâmica de modo a obter-se a convergência para a solução estática (Azevedo, 2003). É

possível considerar a deformabilidade dos blocos se o domínio estiver dividido num sistema de

blocos e se o domínio de cada bloco for discretizado através de malhas de: i) elementos

hexaédricos de 8 a 27 nós e elementos tetraédricos e ii) elementos de junta de 3x3, 4x4 e 8x8 nós

(Azevedo et al., 2019). É necessário garantir que a interação entre blocos é sempre face-face, que

as superfícies de contacto entre os mesmos são compatíveis e que as interfaces capazes de deslizar

e ter movimentos de abertura.

Para um dado ponto nodal ou partícula as equações do movimento são dadas por:

𝒎 �̈�𝒊(𝒕) + 𝒄 �̇�𝒊(𝒕) = 𝑭𝒊(𝒕) + 𝒎 𝒈𝒊 (3.5)

Em que, �̇�𝑖(𝑡) é a velocidade, �̈�𝑖(𝑡) é a aceleração, 𝑐 é a constante de amortecimento

(proporcional à velocidade), 𝑚 é a massa modal, 𝑔𝑖 é a aceleração da gravidade e 𝐹𝑖(𝑡) são as

forças nodais a atuar num dado instante, definidas por três termos:

𝑭𝒊(𝒕) = 𝑭𝒊𝒆(𝒕) + 𝑭𝒊

𝒄(𝒕) + 𝑭𝒊𝟏(𝒕) (3.6)

Em que 𝐹𝑖𝑒(𝑡) são as forças externas aplicadas no ponto nodal, 𝐹𝑖

𝑐(𝑡) são as forças externas

devidas ao contacto com blocos vizinhos, existentes apenas nos pontos nodais na fronteira do

bloco, e 𝐹𝑖1(𝑡) são as forças internas devido à deformação dos elementos finitos associados

(Lemos & Cundall, 1999). A integração da Equação (3.5) é efetuada tendo em conta o método das

Page 53: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

27

diferenças centrais, que é condicionalmente estável. A definição do passo de cálculo e o esquema

de solução a adotar quando se requer apenas a solução estática do problema podem ser

encontrados em Azevedo (2003). A Figura 3.6 representa o ciclo de cálculo do modelo mecânico

adotado.

Figura 3.6 - Ciclo de cálculo do modelo mecânico.

Como já foi referido, estudos realizados por Azevedo & Farinha (2015) demonstram que é válida

a hipótese dos pequenos deslocamentos na análise do comportamento hidromecânico de

fundações de barragens de betão e em análises de estabilidade sob ações estáticas. Assim, a

interação entre os blocos é estabelecida através de elementos finitos de interface, que requerem

que as malhas de elementos finitos de cada bloco sejam compatíveis e que, por norma, são

adequados para análises em pequenos deslocamentos. Em casos onde se registam deslocamentos

incompatíveis com a hipótese dos pequenos deslocamentos, o comportamento estrutural pode ser

estimado recorrendo a um modelo em grandes deslocamentos (Azevedo & Farinha, 2015). Como

referido, estes elementos finitos de interface requerem que exista compatibilidade entre as malhas

de elementos finitos de cada bloco, ou seja, que as discretizações associadas às faces dos blocos

que estão em contato sejam iguais. Se existir uma perfeita compatibilidade do campo de

deslocamentos ao longo das interfaces, é possível obter também a representação do campo de

tensões ao longo dos elementos de junta (Azevedo et al., 2021).

Na Figura 3.7 ilustra-se a interação entre dois blocos tetraédricos e o correspondente elemento de

interface. É de notar que os pontos de integração do elemento de junta coincidem com os pontos

nodais.

Page 54: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

28

Figura 3.7 - Modelo de elemento mecânico de interface (Azevedo et al., 2021).

Em cada ponto de integração do elemento de junta, as tensões nos eixos locais são dadas por:

𝝈𝒏(𝒕 + ∆𝒕) = 𝝈𝒏(𝒕) + 𝒌𝒏 ∆𝒖𝒏(𝒕) (3.7)

𝝉𝒔(𝒕 + ∆𝒕) = 𝝉𝒔(𝒕) + 𝒌𝒔 ∆𝒖𝒔(𝒕) (3.8)

Em que 𝜎𝑛(𝑡) e 𝜏𝑠(𝑡) correspondem, respetivamente, aos valores de tensão normal e tensão de

corte num instante 𝑡, 𝜎𝑛(𝑡 + ∆𝑡) e 𝜏𝑠(𝑡 + ∆𝑡) são as estimativas elásticas dos valores de tensão

normal e de corte no instante posterior (𝑡 + ∆𝑡), ∆𝑢𝑛(𝑡) e ∆𝑢𝑠(𝑡) são os incrementos de

deslocamento na direção normal e tangencial da interface, definidos com base nos deslocamentos

dos pontos nodais que definem a interface, e 𝑘𝑛 e 𝑘𝑠 são os valores de rigidez normal e tangencial

que estão associados ao elemento de junta. Os pontos de integração coincidem com a posição dos

nós da interface no plano médio, cujas coordenadas são dadas pela média das coordenadas dos

pontos nodais dos elementos planos de cada lado da interface.

A integração numérica dos elementos de interface baseia-se na regra de Lobatto, em que os

pontos de integração coincidem com os pontos nodais do elemento de interface. Na Figura 3.8

apresentam-se para um exemplo 2D as interações entre blocos B1, B2 e B3 com base em

elementos de interface, bem como as funções de forma linear associadas ao elemento de interface

e o sistema de eixos adotado (s, n).

Page 55: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

29

Figura 3.8 - Modelo do elemento de interface - funções de forma e eixos locais (adaptado de Azevedo

& Farinha, 2015).

Os parâmetros da rigidez normal e tangencial em elementos de interface são dados por:

𝒌𝒏 ≈𝑬

𝒕 (3.9)

𝒌𝒔 ≈ 𝜶𝒌𝒏 (3.10)

Onde 𝐸 representa o módulo de Young, 𝑡 a espessura do elemento de interface e o parâmetro 𝛼

relaciona a rigidez normal e de corte tomando o valor de 0,4.

Em cada ponto de integração, o vetor das tensões nos eixos globais é obtido em função das

tensões locais e dos vetores normal e tangencial do elemento de interface através de:

�⃗⃗� (𝒕) = 𝝈𝒏(𝒕) �⃗⃗� + 𝝉𝒔(𝒕) �⃗� (3.11)

As forças nodais internas em cada ponto nodal fictício do plano médio da interface são dadas por:

�⃗⃗� 𝒊𝒏𝒕,𝑰(𝒕) = ∑�⃗⃗� (𝒕) 𝑵𝑰 𝒘𝒊 𝐝𝐞𝐭 𝑱𝒊 𝒕

𝒏

𝒊=𝟏

(3.12)

Em que 𝑁𝐼 é o valor da função de forma associada ao nó 𝐼 no ponto de integração 𝑖, 𝑤𝑖 é o peso

associado ao ponto de integração 𝑖, det 𝐽𝑖 é o determinante do Jacobiano no ponto de integração 𝑖

e 𝑡 é a espessura da interface, a que normalmente se atribui o valor unitário.

Page 56: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

30

As forças internas nos nós superiores e inferiores da interface são definidas por:

�⃗⃗� 𝒊𝒏𝒕,𝑰𝒔𝒖𝒑 (𝒕) = +�⃗⃗� 𝒊𝒏𝒕,𝑰(𝒕) (3.13)

�⃗⃗� 𝒊𝒏𝒕,𝑰𝒊𝒏𝒇 (𝒕) = −�⃗⃗� 𝒊𝒏𝒕,𝑰(𝒕) (3.14)

A Figura 3.9 apresenta o elemento de 20 nós adotado nos modelos apresentados neste trabalho,

bem como o respetivo elemento de junta triangular considerado. Relembra-se que cada vértice

corresponde a um nó mecânico e que os pontos de integração coincidem com os pontos nodais do

elemento de interface.

Figura 3.9 - Elemento de 20 nós e respetivo elemento de interface de 8 nós.

Na Figura 3.9 está representado o elemento de interface de 8 nós utilizado nesta dissertação. Estes

elementos são posteriormente discretizados em elementos triangulares, originando um nó central

no elemento de interface, denominado de nó escravo. O campo de deslocamentos e velocidades

são definidos neste nó escravo em função dos nós adotados na discretização dos elementos finitos

entre as faces em contacto. Este processo de discretização explica-se pelo facto de o modelo

hidráulico ter sido desenvolvido para elementos triangulares.

3.3.3 Modelo hidráulico

O modelo hidráulico é sobreposto ao modelo mecânico, pelo que existe uma sobreposição entre

os nós hidráulicos (NH) e os nós mecânicos (Azevedo & Farinha, 2015). Na Figura 3.10

apresenta-se o modelo mecânico, que inclui o elemento de interface triangular utilizado para a

Page 57: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

31

interação entre blocos e duas formulações hidráulicas diferentes para simulação do escoamento

num domínio tridimensional, diretamente relacionadas com o modelo mecânico.

A primeira formulação (Figura 3.10 b), baseada no modelo proposto em Yan & Zheng (2017),

assume que o escoamento se dá ao longo de interfaces bidimensionais do domínio (interfaces

hidráulicas). A segunda formulação utiliza um modelo de escoamento bidimensional baseado

numa discretização unidimensional (1D) com canais de escoamento situados nas arestas das

interfaces triangulares (Figura 3.10 c).

Cada canal de escoamento designa-se como pseudo canal de escoamento. Esta formulação é uma

extensão para 3D do modelo hidromecânico apresentado por Azevedo & Farinha (2015) para

análise de fundações de barragens gravidade (Azevedo et al., 2021).

Figura 3.10 - Interface do modelo mecânico, interface hidráulica e elementos de canais de

escoamento.

Os elementos de interface triangulares hidráulicos são definidos com base nos elementos de junta

(EJ) triangulares, sendo que cada nó hidráulico (NH) representa os respetivos nós adjacentes do

domínio mecânico, que no início da simulação apresentam as mesmas coordenadas. Estas

coordenadas de cada nó hidráulico são dadas pela média das coordenadas do grupo de nós

associado do modelo mecânico (Azevedo & Farinha, 2015).

Page 58: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

32

No modelo em que se adotam pseudo canais de escoamento nas arestas das interfaces

triangulares, é necessário definir a largura, 𝑤, do pseudo canal de escoamento associada à aresta

de cada interface hidráulica. Esta largura (ver Figura 3.10 c) é calculada numa primeira fase de

maneira que a área total dos referidos pseudo caudais de escoamento tenha equivalência com a

área da interface hidráulica. Assim, a largura é dada por:

𝒘 =𝑨

𝑳𝟎 + 𝑳𝟏 + 𝑳𝟐

(3.15)

onde 𝐴 representa a área da interface hidráulica e 𝐿𝑖 representa o comprimento de cada aresta da

interface triangular hidráulica. Da análise comparativa entre o modelo de interfaces triangulares e

o modelo de pseudo canais de escoamento, (Sá (2019), verificou-se ser necessário adotar um fator

multiplicativo de 2 na definição da largura do pseudo-canal de modo a se obterem caudais com a

mesma ordem de grandeza. Consequentemente, nos modelos numéricos apresentados adotou-se o

valor multiplicativo de 2.

Na Figura 3.11 apresenta-se o ciclo de cálculo do modelo hidráulico.

Figura 3.11 - Ciclo de cálculo do modelo hidráulico (Freitas, 2020).

Em cada instante, são conhecidas as aberturas mecânicas dos elementos de junta. Tendo em conta

estes valores, para cada canal de escoamento, são calculadas as aberturas hidráulicas, a

condutividade hidráulica, o gradiente hidráulico e o caudal percolado (Equações (3.1) a (3.4)). A

Page 59: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

33

partir dos caudais percolados em cada canal de escoamento, definem-se os caudais associados a

cada nó hidráulico e obtém-se novas pressões nos nós (Azevedo & Farinha, 2015).

A abertura média do canal de escoamento é dada em função das aberturas hidráulicas obtidas em

cada extremidade. Este valor é utilizado para o cálculo do caudal que percorre o canal de

escoamento (Equação 3.3) e para o cálculo do volume hidráulico associado ao canal de

escoamento:

𝒂𝒉,𝑪𝑬 =𝒂𝒉,𝟏 + 𝒂𝒉,𝟐

𝟐

(3.16)

Dada a abertura média do canal de escoamento o coeficiente de permeabilidade aparente é dado

por:

𝒌 𝒉,𝑪𝑬 = 𝟏

𝟏𝟐 𝝁𝒂 𝒉,𝑪𝑬

𝟑 = 𝒌 𝒂 𝒉,𝑪𝑬𝟑

(3.17)

em que 𝑘 é o coeficiente de resistência do canal de escoamento, definido em função da

viscosidade dinâmica do fluido (𝜇), a partir de:

𝒌 =𝟏

𝟏𝟐 𝝁

(3.18)

A abertura mecânica de cada canal de escoamento unidimensional é definida de forma direta a

partir dos valores registados nos dois pontos de integração do elemento de junta a que o canal está

associado.

A variação de pressão no nó hidráulico (NH) para um fluido compressível depende do valor dos

caudais confluentes e da variação de volume associado ao NH (Azevedo et al., 2021):

∆𝑷𝑵𝑯(𝒕) =𝒌𝒘

𝑽𝑵𝑯(𝒕)(𝑸𝑵𝑯(𝒕) ∆𝒕 + ∆𝑽𝑵𝑯(𝒕))

(3.19)

onde ∆𝑃𝑁𝐻(𝑡) é a variação de pressão no nó hidráulico (NH), 𝑘𝑤 é o módulo de deformabilidade

volumétrica do fluido, ∆𝑉𝑁𝐻(𝑡) é a variação de volume associado ao NH entre dois passos

consecutivos, 𝑄𝑁𝐻(𝑡) é o somatório dos caudais que percorrem os canais de escoamento

Page 60: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

34

confluentes nesse nó hidráulico e ∆𝑡 é o passo de cálculo adotado no domínio hidráulico. Caso se

considere o escoamento em regime permanente, a variação de volume entre dois passos

consecutivos pode ser desprezada. Deste modo, a pressão no instante subsequente é dada por:

𝑷𝑵𝑯(𝒕 + ∆𝒕) = 𝑷𝑵𝑯(𝒕) +𝒌𝒘

𝑽𝑵𝑯(𝒕)𝑸𝑵𝑯(𝒕) ∆𝒕

(3.20)

3.3.4 Modelo hidromecânico

O modelo hidromecânico resulta do acoplamento sequencial do modelo mecânico e do modelo

hidráulico. Adota-se no domínio mecânico e hidráulico um passo de cálculo comum, o menor dos

passos de cálculo de cada um deles. Nas análises em que se admite um escoamento em regime

permanente e se pretende obter apenas a solução estática do modelo mecânico, adota-se um passo

de cálculo unitário nos dois domínios.

Os volumes hidráulicos associados aos nós hidráulicos e as massas associadas aos pontos nodais

do modelo mecânico são escalados assumindo um passo de cálculo unitário de maneira a ser

garantida a estabilidade numérica que existe entre os dois domínios (Azevedo & Farinha, 2015).

As aberturas hidráulicas, 𝑎ℎ,𝐶𝐸 , são calculadas tendo em conta os deslocamentos normais nas

juntas obtidas no modelo mecânico (𝑢𝑛). De seguida, as pressões de água obtidas no modelo

hidráulico (𝑃𝑁𝐻(𝑡 + ∆𝑡)) são utilizadas no modelo mecânico, sendo consideradas no cálculo das

forças internas nas juntas (𝐹𝑖𝑛𝑡(𝑡+∆𝑡)

) correspondentes às tensões efetivas, permitindo assim obter as

novas aberturas mecânicas. No módulo computacional Parmac3D-Fflow existe uma sobreposição

perfeita entre o modelo mecânico e o modelo hidráulico, uma vez que os pontos nodais do modelo

mecânico estão na mesma posição dos pontos nodais do modelo hidráulico, o que facilita a

definição de condições de fronteira e otimiza a transferência de informação entre os dois domínios

(Azevedo et al., 2021).

Page 61: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

35

Figura 3.12 - Ciclo de cálculo do modelo hidrodinâmico.

3.4 Validação do modelo hidromecânico do módulo computacional Parmac3D-

FFlow

3.4.1 Considerações iniciais

De forma a avaliar e a compreender o modelo hidrodinâmico utilizado nesta dissertação, analisou-

se o escoamento ao longo de uma descontinuidade horizontal num maciço rochoso. O modelo

analisado traduz-se num sistema com seis blocos impermeáveis, separados por duas

descontinuidades verticais impermeáveis e por uma descontinuidade horizontal através da qual

ocorre o escoamento. O modelo foi discretizado por uma malha com elementos hexaédricos de 20

nós com elementos de interface triangulares. Um estudo similar é apresentado em (Farinha et al.,

2018), onde se utiliza um modelo em que se admite que o escoamento se dá através de canais

localizados nas arestas dos elementos de interface triangulares e elementos finitos de volume

tetraédricos.

Analisaram-se as seguintes hipóteses de comportamento:

i) Cálculo hidráulico sem acoplamento, para avaliar a influência dos parâmetros

hidráulicos no caudal escoado e na distribuição de pressões;

ii) Modelo hidromecânico acoplado em que se admite que os elementos de junta, adotados

na discretização da interface horizontal, têm comportamento elástico linear (junta

aberta/tracionada);

Page 62: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

36

iii) Modelo hidromecânico acoplado em que se admite que os elementos de junta, adotados

na discretização da interface horizontal, têm comportamento não-linear de Mohr-

-Coulomb sem coesão (junta fechada/em compressão).

Com as várias hipóteses de comportamento, pretende-se analisar a influência de alguns

parâmetros, nomeadamente a distribuição de pressão da água ao longo da descontinuidade, e

consequentemente, no valor do caudal percolado, tendo em conta a própria influência que outros

parâmetros podem ter nos referidos modelos, tais como a abertura mecânica, a abertura hidráulica

e o coeficiente de resistência do canal de escoamento (𝑘). Este coeficiente, tal como indicado na

Equação (3.18), é obtido a partir do coeficiente de viscosidade dinâmico do fluido.

Esta análise permitiu adquirir conhecimentos relacionados com os parâmetros hidráulicos e

mecânicos inseridos nos cálculos, e em geral, no modelo hidromecânico considerado. Permitiu

também entender e dominar melhor o módulo computacional utilizado, Parmac3D-FFlow.

3.4.2 Geometria, propriedades mecânicas e propriedades hidráulicas

A Figura 3.13 apresenta a estrutura analisada, constituída por seis blocos impermeáveis separados

por duas descontinuidades verticais e uma descontinuidade horizontal. O conjunto total da

estrutura tem um comprimento total (na direção x) de 3 m, 0,5 m de altura (na direção y) e 0,5 m

de largura (na direção z), sendo que cada bloco tem 1 m de comprimento, 0,25 m de altura e 0,5 m

de largura.

Figura 3.13 - Geometria do modelo.

Page 63: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

37

Impediram-se os deslocamentos em todas as direções dos pontos nodais adotados na discretização

dos blocos da base (blocos 1, 3 e 5). Nas faces de montante (lado esquerdo dos blocos 1 e 2) e

jusante (lado direito dos blocos 5 e 6) impediram-se os deslocamentos na direção x (ver Figura

3.13). Nas faces exteriores com normal com direção segundo o eixo z, impediram-se os

deslocamentos na direção z.

Na Figura 3.13 observa-se que cada bloco está identificado com o tipo de material que o compõe,

apesar de as propriedades mecânicas dos materiais constituintes de cada bloco serem idênticas

(ver Tabela 1). Contudo, esta distinção do material de cada bloco justifica-se pela existência dos

elementos de junta adotados na discretização das interfaces.

Tabela 3.1 - Propriedades mecânicas dos materiais.

Material

1

Material

2

Material

3

Material

4

Módulo de Young

𝐸 [GPa] 20,0 20,0 20,0 20,0

Coeficiente de Poisson

𝜐 [-] 0,20 0,20 0,20 0,20

Massa volúmica

𝜌 [ton/m3] 2,40 2,40 2,40 2,40

Na Tabela 3.2 apresentam-se os valores adotados para a rigidez normal e rigidez tangencial das

interfaces (verticais e horizontal) que estabelecem a ligação entre os blocos. A relação entre os

dois parâmetros deriva da Equação (3.10), de onde resulta que o parâmetro da rigidez tangencial

(ou de corte) adotado é igual a 0,4 vezes a rigidez normal, valor usual neste tipo de problemas.

Nos elementos de interface verticais adotou-se um valor nulo para a rigidez tangencial,

permitindo assim o deslizamento entre blocos.

Tabela 3.2 - Propriedades mecânicas dos elementos de interface.

Interfaces Rigidez normal

𝑘𝑛 [GPa/m]

Rigidez tangencial

𝑘𝑠 [GPa/m]

Interfaces Verticais 20,0 0

Interfaces Horizontais 20,0 8,0

Como anteriormente referido, para simular a ligação entre os elementos estruturais, nas interfaces

de ligação entre blocos adotaram-se dois modelos constitutivos, um elástico linear e outro não-

Page 64: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

38

linear. Na Figura 3.14 apresentam-se as interfaces verticais e horizontais do modelo numérico,

bem como o sentido do escoamento da água que, como se observa na figura, ocorre na

descontinuidade horizontal, no sentido da esquerda para a direita.

Figura 3.14 - Sentido de escoamento da água e identificação das interfaces.

Em relação ao modelo hidráulico, adotou-se uma pressão de 25 MPa na face lateral esquerda do

modelo (x = 0 m) e uma pressão imposta de 5 MPa na face lateral direita (x = 3 m). Desta forma,

dada a diferença de pressões nas extremidades da junta, o escoamento da água na interface

horizontal ocorre da esquerda para a direita, pois a água desloca-se de zonas de maior energia

para zonas de menor energia.

Tal como referido adotou-se para os canais de escoamento uma largura efetiva com base num

valor de fator de multiplicação 𝜆 = 2, tal como proposto por Sá (2019).

Na Tabela 3.3 indicam-se as características hidráulicas da descontinuidade horizontal consoante

as diferentes análises realizadas, tendo em conta a variação de alguns parâmetros, como 𝑘,

referido na Equação (3.18), e 𝑎0, referente à abertura hidráulica. Outros fatores que se admitem

constantes são: 𝑘𝑤, que representa o módulo de compressibilidade da água e 𝜌𝑤, que representa a

massa volúmica da água. No caso do modelo hidromecânico com elementos de junta não lineares,

adotou-se para os blocos superiores uma aceleração gravítica 𝑔 de 50 m/s2, valor necessário para

contrabalançar a subpressão instalada na interface horizontal.

Page 65: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

39

Tabela 3.3 - Propriedades hidráulicas do canal de escoamento e aceleração gravítica.

𝜌𝑤 [ton/m3]

𝑔 [m/s2]

𝑘𝑤 [GPa]

𝑎0 [mm]

𝑎𝑚𝑖𝑛 [mm]

𝑎𝑚𝑎𝑥 [mm]

𝑘 [kPa-1s-1]

1,0 10

50 2,2

8,34 × 10-5

1,67 × 10-5 4,17 × 10-5

8,34 × 10-4

8,34 × 10-6

1

3× 𝑎0 10 × 𝑎𝑚𝑖𝑛

0,83 × 105 4,15 × 105

1,66 × 104

Nos vários exemplos apresentados, os parâmetros do modelo hidráulico são definidos, o campo de

subpressões é instalado numa primeira fase com um modelo hidráulico não acoplado, e

posteriormente é adotado um modelo hidromecânico acoplado em que as principais ações sobre

os blocos superiores da interface horizontal são o peso próprio do bloco e o campo de subpressões

instalado.

Em primeira instância, considerou-se um valor de 𝑎0 equivalente a 8,34 × 10-5 mm e uma

permeabilidade constante de 0,83 × 105 kPa-1s-1. Posteriormente, alterou-se o parâmetro 𝑎0 para o

dobro (1,67 × 10-5), para metade (4,17 × 10-5), para o décuplo (8,34 × 10-4) e para um décimo

(8,34 × 10-6) do valor inicial. Da mesma forma, também se fez variar o parâmetro referente à

permeabilidade, inicialmente igual a 0,83 × 105 para o quíntuplo (4,15 × 105) para um quinto do

valor original (1,66 × 104). Os restantes parâmetros referidos na Tabela 3.3 mantiveram-se

constantes ao longo da validação do modelo hidromecânico do módulo computacional.

3.4.3 Modelo numérico

A discretização do domínio interior de cada bloco é obtida através de elementos finitos

hexaédricos de 20 nós (Figura 3.15). No que diz respeito às dimensões das arestas de cada

elemento finito, estas apresentam um comprimento (x) de 0,10 m, uma altura (y) de 0,125 m e

uma largura (z) de 0,125 m.

Page 66: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

40

Figura 3.15 - Elemento hexaédrico de 20 nós.

O modelo numérico apresentado na Figura 3.16, que representa o modelo de escoamento a

analisar, apresenta a discretização do modelo mecânico e a discretização do modelo hidráulico

indicadas na Tabela 3.4.

Tabela 3.4 - Discretização da malha do modelo numérico.

Modelo mecânico Modelo hidráulico

Malha Número de elementos

hexaédricos

Número de pontos

nodais

Número de

elementos de

interface triangulares

Número de nós

hidráulicos

Número de interfaces

hidráulicas

Número de canais de

escoamento

Volume: 20 Nós

Elementos

de junta: 3x3

480 4638 1216 549 960 2880

Na Figura 3.16 apresenta-se o modelo mecânico, o modelo hidráulico e a representação dos canais

de escoamento do modelo hidráulico.

Page 67: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

41

a) Modelo mecânico

b) Modelo hidráulico

Figura 3.16 - Modelo numérico (malha hexaédrica de 20 nós).

3.4.4 Análise de resultados

Após obtidos os resultados numéricos, foram analisados os valores das pressões, caudais nos

canais de escoamento e aberturas hidráulicas, de forma a validar os cálculos obtidos através do

módulo computacional Parmac3D-FFlow. Como referido anteriormente, o cálculo realizou-se

Page 68: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

42

numa primeira instância para o modelo hidráulico e de seguida através do modelo hidromecânico

acoplado, considerando quer um modelo elástico linear quer um modelo não-linear.

Relativamente às pressões instaladas ao longo da interface horizontal, impôs-se uma pressão de

25 MPa na face esquerda da descontinuidade horizontal e uma pressão de 5 MPa na face direita.

Estas condições mantêm-se qualquer que seja o modelo analisado. No modelo hidráulico, as

pressões ao longo da descontinuidade horizontal decrescem linearmente e de forma constante ao

longo da interface, no sentido da esquerda para a direita. A variação é linear devido ao facto de a

abertura hidráulica ser constante ao longo da descontinuidade e das propriedades hidráulicas se

manterem ao longo da interface.

Da mesma forma, variando o coeficiente relacionado com a permeabilidade, 𝑘𝐶𝐸 , adotado para a

interface horizontal, a pressão da água é igualmente decrescente e varia linearmente entre os

valores limite impostos. A variação de 𝑘𝐶𝐸 somente influencia o valor de caudal percolado.

Analisando a Figura 3.17, conseguem-se confirmar os resultados enunciados anteriormente.

a) Variação de pressões tendo em conta

𝑎0

b) Variação de pressões tendo em conta

𝑘, para 𝑎0 = 8,35𝑒−5

Figura 3.17 - Variação de pressão de água ao longo da descontinuidade horizontal no modelo

hidráulico.

Na Figura 3.18 apresenta-se a variação de pressões da água obtidas com o modelo hidromecânico

acoplado com um modelo elástico linear. Neste caso, verifica-se que a variação da pressão de

água ao longo da descontinuidade horizontal deixa de ser linear devido ao acoplamento mecânico,

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

0,0 1,0 2,0 3,0

Pre

ssão

da

águ

a [M

Pa]

Distância ao longo da interface [m]

a0 = 8,34e-5

a0 (x2)

a0 (/2)

a0 (x10)

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

0,0 1,0 2,0 3,0Pre

ssão

da

águ

a [M

Pa]

Distância ao longo da interface [m]

k = 0,830e5k*5 = 4,15e5k/5 = 1,66e4

Page 69: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

43

pois as aberturas mecânicas deixam de ser constantes ao longo da interface e passam a variar ao

longo da descontinuidade, em função do seu peso próprio e da subpressão a que estão sujeitos.

Por este motivo ocorre uma variação das aberturas hidráulicas ao longo da interface horizontal.

Da Figura 3.18 verifica-se que uma variação do valor do parâmetro 𝑘𝐶𝐸 não tem influência no

campo de pressões instalado.

a) Variação de pressões tendo em conta 𝑎0

b) Variação de pressões tendo em conta 𝑘, para 𝑎0 = 8,35𝑒−5

Figura 3.18 - Variação de pressão de água ao longo da descontinuidade horizontal no modelo

hidromecânico elástico linear.

Na Figura 3.19 apresenta-se a variação de pressões de água ao longo da descontinuidade

horizontal tendo em conta um modelo não-linear de Mohr Coulomb sem coesão e com coeficiente

de atrito nulo. Observa-se que esta variação não é representada por um troço reto para a

generalidade dos valores 𝑎0 adotados. Só para um valor de 𝑎0 dez vezes superior ao de referência

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Pre

ssão

da

água

[MP

a]

Distância ao longo da interface [m]

a0 = 8,34e-5

a0 (x2)

a0 (/2)

a0 (x10)

a0 (/10)

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Pre

ssão

da

águ

a [M

Pa]

Distância ao longo da interface [m]

k = 0,830e5

k*5 = 4,15e5

k/5 = 1,66e4

Page 70: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

44

é que a pressão da água apresenta uma distribuição linear. Tal ocorre porque no último bloco a

pressão já não é significativa face ao peso próprio (g=50m/s2) e por isso a abertura mecânica é

reduzida, em especial na parte final do bloco, o que se traduz num valor reduzido da abertura

hidráulica na parte final da interface horizontal.

Novamente, observa-se (ver Figura 3.19 b)) que, para uma variação do parâmetro de

permeabilidade 𝑘𝐶𝐸 , não ocorre uma variação de pressão de água ao longo da descontinuidade.

a) Variação de pressões tendo em conta 𝑎0

b) Variação de pressões tendo em conta 𝑘, para 𝑎0 = 8,35𝑒−5

Figura 3.19 - Variação de pressão de água ao longo da descontinuidade horizontal no modelo

hidromecânico não-linear.

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Pre

ssão

da

água

[MP

a]

Distância ao longo da interface [m]

a0 = 8,34e-5

a0 (x2)

a0 (/2)

a0 (x10)

a0 (/10)

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Pre

ssão

da

águ

a [M

Pa]

Distância ao longo da interface [m]

k = 0,830e5

k*5 = 4,15e5

k/5 = 1,66e4

Page 71: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

45

Nas Tabelas 3.5 a 3.7 são analisados e comparados os valores dos caudais para o modelo simples

sem acoplamento (modelo hidráulico), para o modelo com acoplamento hidromecânico elástico

linear e para o modelo com acoplamento hidromecânico não-linear. Observando as tabelas,

conclui-se, que quanto maior o valor da abertura de referência do canal, 𝑎0, maior será o caudal

escoado. De igual forma, verifica-se que, quanto maior for o coeficiente de permeabilidade da

junta, 𝑘, maior será o caudal escoado.

De modo a compreender melhor como varia o caudal escoado, apresentam-se também as Figuras

3.20 a 3.25, que representam a variação do valor do caudal em função de 𝑎0 e de 𝑘 da junta.

Através da análise dos três casos estudados, pode-se observar que o caudal no modelo elástico

linear é superior ao obtido no modelo simples não acoplado; no entanto, o caudal no modelo não-

linear é inferior ao obtido no modelo hidráulico e no modelo elástico linear. Isto explica-se pelo

aumento do peso dos blocos superiores no modelo não-linear, que provoca uma redução nas

aberturas mecânicas e consequentemente nas aberturas hidráulicas, resultando dessa forma, num

menor caudal escoado.

Tabela 3.5 - Caudal escoado na descontinuidade horizontal para o modelo hidráulico.

𝑘 = 0,830𝑒5 𝑘 = 4,15𝑒5 𝑘 = 1,66𝑒4

𝑎0

[𝑚]

𝑄

[𝑚3/𝑠]

𝑎0

[𝑚]

𝑄

[𝑚3/𝑠]

𝑎0

[𝑚]

𝑄

[𝑚3/𝑠]

8,34 × 10-6 1,36 × 10-7 8,34 × 10-6 6,79 × 10-7 8,34 × 10-6 2,72 × 10-8

4,17 × 10-5 1,70 × 10-5 4,17 × 10-5 8,49 × 10-5 4,17 × 10-5 3,40 × 10-6

8,34 × 10-5 1,36 × 10-4 8,34 × 10-5 6,79 × 10-4 8,34 × 10-5 2,72 × 10-5

1,67 × 10-4 1,09 × 10-3 1,67 × 10-4 5,45 × 10-3 1,67 × 10-4 2,18 × 10-4

8,34 × 10-4 1,36 × 10-1 8,34 × 10-4 6,79 × 10-1 8,34 × 10-4 2,72 × 10-2

Figura 3.20 - Caudal escoado para o modelo hidráulico.

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,0000 0,0002 0,0004 0,0006 0,0008 0,0010

Q [

m3/s

]

a0 [m]

k = 4,15e5

k = 0,830e5

k = 1,66e4

Page 72: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

46

Figura 3.21 - Ampliação da Figura 3.20 para valores de abertura a0 < 0,0002.

Tabela 3.6 - Caudal escoado na descontinuidade horizontal para o modelo elástico linear.

𝑘 = 0,830𝑒5 𝑘 = 4,15𝑒5 𝑘 = 1,66𝑒4

𝑎0

[𝑚]

𝑄

[𝑚3/𝑠]

𝑎0

[𝑚]

𝑄

[𝑚3/𝑠]

𝑎0

[𝑚]

𝑄

[𝑚3/𝑠]

8,34 × 10-6 5,02 × 10-6 8,34 × 10-6 2,51 × 10-5 8,34 × 10-6 1,00 × 10-6

4,17 × 10-5 3,81 × 10-4 4,17 × 10-5 1,90 × 10-3 4,17 × 10-5 7,62 × 10-5

8,34 × 10-5 1,02 × 10-3 8,34 × 10-5 5,11 × 10-3 8,34 × 10-5 2,04 × 10-4

1,67 × 10-4 3,45 × 10-3 1,67 × 10-4 1,73 × 10-2 1,67 × 10-4 6,91 × 10-4

8,34 × 10-4 1,76 × 10-1 8,34 × 10-4 8,80 × 10-1 8,34 × 10-4 3,52 × 10-2

Figura 3.22 - Caudal escoado para o modelo hidromecânico – junta elástica linear.

0,00

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

0,07

0,08

0,09

0,10

0,0000 0,0001 0,0001 0,0002 0,0002

Q [

m3/s

]

a0 [m]

k = 4,15e5k = 0,830e5k = 1,66e4

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,70

0,80

0,90

1,00

0,0000 0,0001 0,0002 0,0003 0,0004 0,0005 0,0006 0,0007 0,0008 0,0009

Q [

m3/s

]

a0 [m]

k = 4.15e5

k = 0.830e5

k = 1.66e4

Page 73: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

47

Figura 3.23 - Ampliação da Figura 3.22 para valores de abertura a0 < 0,0002.

Tabela 3.7 - Caudal escoado na descontinuidade horizontal para o modelo não-linear.

𝑘 = 0,830𝑒5 𝑘 = 4,15𝑒5 𝑘 = 1,66𝑒4

𝑎0 [𝑚]

𝑄

[𝑚3/𝑠]

𝑎0 [𝑚]

𝑄

[𝑚3/𝑠]

𝑎0 [𝑚]

𝑄

[𝑚3/𝑠]

8,34 × 10-6 6,88 × 10-8 8,34 × 10-6 3,44 × 10-7 8,34 × 10-6 1,38 × 10-8

4,17 × 10-5 3,70 × 10-6 4,17 × 10-5 1,85 × 10-5 4,17 × 10-5 7,41 × 10-7

8,34 × 10-5 3,54 × 10-5 8,34 × 10-5 1,77 × 10-4 8,34 × 10-5 7,07 × 10-6

1,67 × 10-4 4,54 × 10-4 1,67 × 10-4 2,32 × 10-3 1,67 × 10-4 9,27 × 10-5

8,34 × 10-4 1,14 × 10-1 8,34 × 10-4 5,68 × 10-1 8,34 × 10-4 2,27 × 10-2

Figura 3.24 - Caudal escoado para o modelo hidromecânico – junta elástica não-linear.

0,00

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

0,07

0,08

0,09

0,10

0,0000 0,0001 0,0001 0,0002 0,0002

Q [

m3/s

]

a0 [m]

k = 4,15e5

k = 0,830e5

k = 1,66e4

0,00

0,10

0,20

0,30

0,40

0,50

0,60

0,0000 0,0001 0,0002 0,0003 0,0004 0,0005 0,0006 0,0007 0,0008 0,0009

Q [

m3/s

]

a0 [m]

k = 4.15e5

k = 0.830e5

k = 1.66e4

Page 74: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

48

Figura 3.25 - Ampliação da Figura 3.24 para valores de abertura a0 < 0,0002.

Por fim, apresenta-se uma análise ao comportamento das aberturas mecânicas e aberturas

hidráulicas. Novamente, compara-se o modelo hidromecânico acoplado em que se admite que a

interface horizontal tem comportamento elástico linear (junta aberta), com o modelo em que se

considera que a interface horizontal tem comportamento não-linear com coesão e atrito nulo

(junta fechada).

Recordando as noções apresentadas na Figura 3.5 do presente capítulo, exibem-se de seguida nas

Figuras 3.26 e 3.27, as aberturas mecânicas (𝑢𝑛) e, consequentemente, as aberturas hidráulicas

(𝑎ℎ) para diferentes valores de 𝑎0 (ver Tabela 3.3), considerando o modelo linear e tendo em

conta a distância ao longo da interface. Verifica-se que quanto menores são os valores de 𝑎0,

menores são os valores das aberturas hidráulicas. Apresentam-se duas figuras, dividindo os

parâmetros analisados em dois gráficos, para melhor visualização dos valores de abertura

hidráulica e abertura mecânica ao longo da interface.

0,00

0,01

0,02

0,03

0,04

0,05

0,06

0,07

0,08

0,09

0,10

0,0000 0,0001 0,0001 0,0002 0,0002

Q [

m3/s

]

a0 [m]

k = 4,15e5

k = 0,830e5

k = 1,66e4

Page 75: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

49

Figura 3.26 - Aberturas mecânicas e hidráulicas considerando valores de a0, a0 × 2 e a0 × 10 para

modelo linear dos elementos de junta.

Figura 3.27 - Aberturas mecânicas e hidráulicas considerando valores de a0, a0/2 e a0/10 para modelo

linear dos elementos de junta.

0,0E+00

2,0E-04

4,0E-04

6,0E-04

8,0E-04

1,0E-03

1,2E-03

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Aber

tura

hid

ráuli

ca (

ah)

e ab

ertu

ra m

ecân

ica

(un

)

[mm

]

Distância ao longo da interface [m]

ah (a0 = 8,34e-4)

ah (a0 = 1,67e-4)

ah (a0 = 8,34e-5)

un (a0 = 8,34e-5)

un (a0 = 1,67e-4)

un (a0 = 8,34e-4)

0,0E+00

5,0E-05

1,0E-04

1,5E-04

2,0E-04

2,5E-04

3,0E-04

3,5E-04

4,0E-04

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Aber

tura

hid

ráu

lica

(ah

) e

aber

tura

mec

ânic

a (u

n)

[mm

]

Distância ao longo da interface [m]

ah (a0 = 4,17e-5)

un (a0 = 4,17e-5)

un (a0 = 8,34e-6)

ah (a0 = 8,34e-6)

Page 76: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

50

Na Figuras 3.28 e 3.29 estão representadas as aberturas mecânicas (𝑢𝑛) e, consequentemente, as

aberturas hidráulicas (𝑎ℎ) para diferentes valores de 𝑎0, considerando neste caso um modelo não-

linear tendo em conta a distância ao longo da interface. Novamente, verifica-se, que quanto

menores são os valores de 𝑎0, menores são os valores das aberturas hidráulicas. Tal como na

representação anterior relativa ao modelo linear, apresentam-se duas figuras.

Conclui-se que, tal como esperado, no caso em que o peso volúmico na parte superior da estrutura

é superior às subpressões, as aberturas mecânicas são negativas em praticamente toda a extensão

da interface (modelo de junta fechada).

Figura 3.28 - Aberturas mecânicas e hidráulicas considerando valores de a0, a0 × 2 e a0 × 10 para

modelo não-linear das juntas.

-2,0E-04

0,0E+00

2,0E-04

4,0E-04

6,0E-04

8,0E-04

1,0E-03

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Aber

tura

hid

ráu

lica

(ah

) e

aber

tura

mec

ânic

a (u

n)

[mm

]

Distância ao longo da interface [m]

ah (a0 = 8,34e-4)

ah (a0 = 1,67e-4)

ah (a0 = 8,34e-5)

un (a0 = 8,34e-5)

un (a0 = 1,67e-4)

un (a0 = 8,34e-4)

Page 77: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

51

Figura 3.29 - Aberturas mecânicas e hidráulicas considerando valores de a0, a0/2 e a0/10 para modelo

não-linear das juntas.

Seguidamente, apresenta-se para o modelo hidromecânico com interface linear e para o modelo

hidromecânico com interface não linear uma representação dos valores de 𝑢𝑛 e 𝑎ℎ, considerando

paralelamente o desenvolvimento das pressões nas mesmas condições, para um valor 𝑎0 = 4,17 ×

10-5 (𝑎0/2).

Por observação da Figura 3.30, verifica-se que, para o modelo de junta linear, a interface se

encontra aberta e a abertura mecânica apresenta uma forma inicialmente retilínea e posteriormente

parabólica. Verifica-se igualmente que na primeira fiada de elementos; a abertura hidráulica

corresponde ao valor máximo de abertura hidráulica (ver Figura 3.5) e de seguida apresenta uma

distribuição parabólica. Observa-se que a distribuição de pressões é homotética da distribuição de

aberturas mecânicas.

-1,0E-04

-5,0E-05

0,0E+00

5,0E-05

1,0E-04

1,5E-04

2,0E-04

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Aber

tura

hid

ráuli

ca (

ah)

e ab

ertu

ra m

ecân

ica

(un

) [m

m]

Distância ao longo da interface [m]

ah (a0 = 4,17e-5)

ah (a0 = 8,34e-6)

un (a0 = 8,34e-6)

un (a0 = 4,17e-5)

Page 78: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

52

Figura 3.30 - Variação dos valores de un e a0 com a pressão da água, considerando o modelo

hidromecânico linear.

Figura 3.31 - Variação dos valores de un e a0 com a pressão da água, considerando o modelo

hidromecânico não-linear.

Da análise da Figura 3.31, verifica-se que o peso volúmico adotado é suficiente para a interface

estar comprimida em grande parte da sua extensão. Verifica-se igualmente que a abertura

hidráulica apresenta uma variação linear, terminando, na última fiada de elementos, com um valor

correspondente ao valor mínimo de abertura hidráulica (Ver Figura 3.5). Observa-se, tal como no

exemplo anterior, que a distribuição de pressões é homotética da distribuição de aberturas

mecânicas.

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

0,00E+00

2,00E-05

4,00E-05

6,00E-05

8,00E-05

1,00E-04

1,20E-04

1,40E-04

1,60E-04

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Pre

ssão

da

água

[MP

a]

Aber

tura

hid

ráuli

ca (

ah)

e

aber

tura

mec

ânic

a (u

n)

[mm

]

Distância ao longo da interface [m]

ah (a0 = 4,17e-5) un (a0 = 4,17e-5) Pressão (a0 = 4,17e-5)

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

30,0

35,0

-1,00E-04

-8,00E-05

-6,00E-05

-4,00E-05

-2,00E-05

0,00E+00

2,00E-05

4,00E-05

6,00E-05

8,00E-05

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0

Pre

ssão

da

águ

a [M

Pa]

Aber

tura

hid

ráu

lica

(ah

) e

aber

tura

mec

ânic

a (u

n)

[mm

]

Distância ao longo da interface [m]

ah (a0 = 4,17e-5) un (a0 = 4,17e-5) Pressão (a0 = 4,17e-5)

Page 79: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

53

4 MODELOS CONSTITUTIVOS DE INTERFACE

4.1 Introdução

Na maioria dos casos de rotura em barragens gravidade, a principal razão que determina este

acontecimento é o deslizamento ao longo da superfície de contacto barragem/fundação, de

descontinuidades do maciço rochoso, ou de camadas do maciço rochoso de menor resistência

(Reis et al., 2018). A possibilidade de ocorrência de um deslizamento é avaliada com base em

técnicas simplificadas de equilíbrio limite, baseadas em cálculos onde se considera que as

características resistentes das superfícies de descontinuidade são progressivamente minoradas

(Reis et al., 2018).

Na análise de segurança ao deslizamento pela superfície de ligação da barragem ao maciço, é

habitualmente adotado um modelo simplificado de Mohr-Coulomb em que se despreza a coesão.

Este modelo, a partir do momento em que as forças de atrito que ocorrem na superfície de

deslizamento são vencidas, considera o evento de rotura por corte.

No entanto, as superfícies de ligação betão/betão e betão/fundação apresentam coesão e

resistência à tração, duas características que vão diminuindo com o fenómeno do deslizamento.

Portanto, de forma a simular corretamente o comportamento das descontinuidades, considera-se o

enfraquecimento dos elementos de junta representativos das referidas descontinuidades, através

da adoção de dois modelos constitutivos descritos no presente capítulo.

Como referido, são adotados dois modelos constitutivos: um modelo de enfraquecimento bilinear

e um modelo baseado na teoria da plasticidade. Ambos são testados e analisados, como forma de

validação do módulo computacional Parmac3D-FFlow, apresentado no Capítulo 3, para três tipos

de ensaios distintos: ensaios de tração, ensaios de corte puro e ensaios de corte sob compressão

constante.

4.2 Modelo de Mohr-Coulomb com limite de resistência à tração

O Modelo de Mohr-Coulomb (Figura 4.1), também caracterizado como modelo frágil, adota um

critério de rotura de Mohr-Coulomb com tensão de tração limite. Neste modelo, quando a força de

corte exercida sobre o contacto excede a força de corte máxima, ou analogamente, quando a força

Page 80: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

54

de tração máxima admissível é excedida, o contacto deixa de apresentar coesão, passando a

funcionar em atrito puro, sendo apenas possível a transmissão de forças no contacto sob

compressão (Azevedo & Gouveia, 2013).

Figura 4.1 - Modelo constitutivo de Mohr-Coulomb para tensão de tração limite.

Importa referir certos parâmetros importantes neste modelo, nomeadamente os valores da tensão

de tração limite (𝜎𝑡), da coesão (𝑐) e do coeficiente de atrito (𝜇), este último dependente do

ângulo de atrito do material (𝜑) e dado por:

𝝁 = 𝐭𝐚𝐧 𝝋 (4.1)

O valor de tensão máxima de corte (𝜏𝑚𝑎𝑥), para um dado valor de tensão normal assumindo que

esta é negativa em compressão, é dado por:

𝝉𝒎𝒂𝒙 = 𝒄 − 𝝈𝒏 𝝁 = 𝒄 − 𝝈𝒏 𝐭𝐚𝐧𝝋 (4.2)

de onde se conclui que este modelo assume uma relação linear entre a resistência ao corte num

plano e a tensão normal que atua sobre ele. Salienta-se que a deformabilidade é caracterizada pela

rigidez normal (𝑘𝑛) e pela rigidez tangencial (𝑘𝑠).

Nos elementos de junta associados a uma rocha fraturada e na análise de segurança ao

deslizamento, desprezam-se os valores de coesão e tração limite, admitindo-se que as

descontinuidades apenas transmitem tensões sob compressão, sendo a tensão tangencial máxima

proporcional ao valor da tensão normal atuante, com base no valor do coeficiente de atrito.

Page 81: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

55

4.3 Modelo constitutivo com enfraquecimento bilinear (MC1)

Num modelo com enfraquecimento, a resistência é reduzida gradualmente após a força máxima

admissível ser atingida. Este modelo constitutivo com enfraquecimento (MC1) é sustentado por

um modelo de junta com enfraquecimento bilinear nas direções normal e tangencial (Rokugo et

al., 1989), como ilustrado na Figura 4.2, que tem sido utilizado em modelos de partículas

(Azevedo, 2003). Um modelo similar com enfraquecimento linear foi adotado na análise da

segurança ao deslizamento de barragens gravidade e abóbada (Resende & Lemos, 2003).

Figura 4.2 - Modelo de enfraquecimento unidirecional não acoplado do elemento de junta (adaptado

de Azevedo, 2003).

Os parâmetros resistentes do contacto para este modelo de enfraquecimento bilinear, são: a tensão

máxima de tração no contacto (𝜎𝑡), a coesão máxima (𝑐), o coeficiente de atrito (𝜇), a energia de

fratura de tração (𝐺𝐼) e a energia de fratura de corte (𝐺𝐼𝐼). A tensão máxima de coesão no contacto

(𝜏𝑚𝑎𝑥) é definida em função dos valores da coesão, da tensão normal e do coeficiente de atrito.

Note-se que as áreas sob os gráficos da Figura 4.2 correspondem às energias de fratura do

contacto na direção em análise.

Neste tipo de modelo, o dano do contacto é considerado de forma simplificada. Quando os valores

máximos de resistência referentes à tração e/ou coesão são atingidos, as forças de tração e coesão

máximas são reduzidas tendo em conta o valor no dano do contacto, que pode variar entre 0 (sem

dano) e 1 (quando o contacto é considerado totalmente fendilhado e funcionando em atrito puro).

Page 82: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

56

O valor do dano em tração e no termo coesivo é definido com base no deslocamento máximo num

ponto de contacto na direção normal (𝑈𝑛) e tangencial (𝑈𝑠), respetivamente.

Comparativamente com o modelo frágil, é esperado que no modelo com enfraquecimento bilinear

o processo de propagação de fendas ocorra de forma mais suave e controlada, conferindo maior

ductilidade ao material (Azevedo & Gouveia, 2013).

4.4 Modelo de fratura/fendilhação de base elasto-plástica (MC2)

O segundo modelo constitutivo com enfraquecimento (MC2) é baseado na teoria da plasticidade e

descreve o comportamento mecânico das interfaces em função da coesão e do atrito. Este modelo,

aplicado na presente dissertação, constitui uma extensão da formulação em 2D de Carol et al.

(1997), posteriormente modificada por Caballero, (2005) e Caballero et al., (2006; 2007) ao nível

da sua robustez e eficiência computacional para um modelo constitutivo de interface em 3D.

Numa análise de fratura, a interface define-se como a superfície de cedência que representa a zona

do processo de falha. Neste modelo, o comportamento da zona/superfície de falha é descrito por

uma função hiperbólica, cuja expressão depende de três parâmetros fundamentais: tensão máxima

de tração (𝜎𝑡), coesão (𝑐) e coeficiente de atrito (tan𝜑). Em termos de formulação, os três

parâmetros são agrupados num vetor [Φ] = [𝜎𝑡 , 𝑐, 𝜑]. Assim, a expressão hiperbólica

representativa da superfície de falha é dada por:

𝑭{𝝈,𝚽} = −(𝒄 − 𝝈 𝐭𝐚𝐧𝝋) + √𝝉𝟏𝟐 + 𝝉𝟐

𝟐 + (𝒄 − 𝝈𝒕 𝐭𝐚𝐧 𝝋)𝟐 = 𝟎 (4.3)

Este modelo constitutivo é formulado em termos do estado de tensão do ponto de integração do

elemento de junta, dado por 𝜎 = [𝜎, 𝜏1 , 𝜏2]𝑡 .

É também adotada uma função de potencial plástico não-associada, com o propósito de

gradualmente eliminar o fenómeno da dilatância para níveis altos de compressão (Caballero et al.,

2008). A sua formulação é caracterizada igualmente por uma função hiperbólica, embora os seus

parâmetros sejam ligeiramente diferentes. Tal como no caso anterior, a função depende da tensão

máxima de tração (𝜎𝑡), da coesão aparente (𝑐𝑄) e de um coeficiente de atrito aparente (tan𝜑𝑄).

Os parâmetros são agrupados e definidos no vetor [Ψ] = [𝜎𝑡 , 𝑐𝑄 , 𝜑𝑄], apresentando-se de seguida

a expressão do potencial plástico:

Page 83: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

57

𝑸{𝝈,𝚿} = −(𝒄𝑸 − 𝝈𝐭𝐚𝐧 𝝋𝑸) + √𝝉𝟏𝟐 + 𝝉𝟐

𝟐 + (𝒄𝑸 − 𝝈𝒕 𝐭𝐚𝐧𝝋𝑸)𝟐 = 𝟎 (4.4)

Na Figura 4.3, apresentada de seguida, está ilustrado o potencial plástico (𝑄 = 0) e a superfície

de fratura (𝐹 = 0) no plano 𝜎 − 𝜏.

Figura 4.3 - Modelo constitutivo de enfraquecimento baseado na teoria da plasticidade: superfície de

cedência (F) e potencial plástico (Q) (adaptado de Caballero et al. 2008).

A Equação (4.4) apresenta algumas vantagens na sua definição, nomeadamente:

i. Permite uma transição suave entre fratura por tração e fratura por corte;

ii. Apresenta dilatância decrescente em alta compressão com valores decrescentes de 𝑐𝑄 < 𝑄

e tan𝜑𝑄 < tan𝜑;

iii. Se os parâmetros da coesão aparente e do coeficiente de atrito aparente equivalerem à

coesão e coeficiente de atrito da superfície de fratura, a formulação é associada.

Quando uma fenda inicia um processo de abertura ou deslizamento, a superfície de fratura

começa a mover-se e a encolher. A evolução desta superfície é controlada por uma variável

interna (𝑊𝑐𝑟) correspondente ao trabalho realizado durante o processo de fratura. A lei de

Page 84: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

58

evolução da superfície de cedência e do potencial elástico é definida com base em duas variáveis

adimensionais, 𝜉𝐼 e 𝜉𝐼𝐼 . A primeira (𝜉𝐼), no caso de tração pura, depende da energia de fratura em

modo I (𝐺𝐼):

𝝃𝑰 =𝟏

𝟐−

𝟏

𝟐𝐜𝐨𝐬 {

𝝅𝑾𝒄𝒓

𝑮𝑰} (4.5)

A segunda variável adimensional (𝜉𝐼𝐼) depende da energia de fratura em modo II (𝐺𝐼𝐼) e é

aplicada para o caso de corte:

𝝃𝑰𝑰 =𝟏

𝟐−

𝟏

𝟐𝐜𝐨𝐬 {

𝝅𝑾𝒄𝒓

𝑮𝑰𝑰} (4.6)

No entanto, as leis de evolução são formuladas com base numa função de escala 𝑆{𝜌}:

𝑺{𝝆} =𝒆𝒙𝒑−𝜶𝝆

𝟏 + (𝒆𝒙𝒑−𝜶 − 𝟏)𝝆 (4.7)

em que 𝜌 pode ser atribuído como equivalente para as variáveis adimensionais 𝜉𝐼 e 𝜉𝐼𝐼 . Caso o

expoente 𝛼 seja zero, sabe-se que 𝑆{𝜌 ≡ 𝜉𝐼} = 𝜉𝐼 e 𝑆{𝜌 ≡ 𝜉𝐼𝐼} = 𝜉𝐼𝐼 .

No que se refere à evolução da tensão de tração máxima, esta varia entre 𝜎𝑡 e 0 (quando a

interface não suporta mais esforços de tração) e é definida com base na seguinte expressão:

𝝈𝒕 = 𝝈𝒕(𝟏 − 𝑺{𝝃𝑰}) (4.8)

Analogamente à situação anterior, a coesão varia entre 𝑐 e 0, sendo definida com base na equação

seguinte:

𝒄 = 𝒄𝟎(𝟏 − 𝑺{𝝃𝑰𝑰}) (4.9)

Esta expressão (4.9) difere da anterior (4.8) no modo de energia de fratura. Seguidamente, na

Figura 4.4, ilustram-se as curvas das leis de evolução da tensão de tração máxima e da coesão

para diferentes valores do parâmetro de forma 𝛼.

Page 85: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

59

Figura 4.4 - Evolução de σt e c para diferentes valores de α (adaptado de Caballero et al., 2008).

O ângulo de atrito varia entre o seu valor inicial tan𝜑0 e o seu valor residual tan𝜑𝑟𝑒𝑠 , de acordo

com a seguinte expressão:

𝐭𝐚𝐧 𝝋 = 𝐭𝐚𝐧 𝝋𝟎 −(𝐭𝐚𝐧 𝝋𝟎 − 𝐭𝐚𝐧 𝝋𝒓𝒆𝒔)𝑺{𝝃𝑰𝑰} (4.10)

De forma similar para o caso da coesão, a evolução do ângulo de atrito considera a energia de

fratura no modo II. Na Figura 4.5 ilustra-se a evolução das curvas para diferentes valores de 𝛼.

Figura 4.5 - Curvas de tan φ para diferentes valores de α (adaptado de Caballero et al., 2008).

Page 86: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

60

Finalmente, analisa-se a evolução da superfície de fendilhação para os modos de fratura I e II. A

evolução da superfície para o modo I (tração) está representada na Figura 4.6. No final de um

ensaio de tração, a superfície sofre uma translação para a esquerda até atingir uma tensão normal

nula, enquanto os parâmetros 𝑐 e tan𝜑 alteram-se ligeiramente tendo em consideração os

diferentes valores de 𝛼 referidos anteriormente, tal como indicado na hipérbole 2 em comparação

com a hipérbole 1. É de notar que, após a fendilhação se manifestar, quaisquer deslocamentos de

abertura adicionais são considerados como plásticos, abrindo ainda mais a interface fendilhada

sob tensão normal nula e sem gerar qualquer alteração na energia de fratura em modo I adotada.

No entanto, se porventura a evolução da superfície de fendilhação corresponder ao modo II (corte

puro ou compressão/corte) a variável de trabalho interna, 𝑊𝑐𝑟, pode aumentar para além da

energia de fratura em modo I, atingindo o valor da energia de fratura para o modo II, verificando-

se um encolhimento da superfície para além do que é ilustrado na hipérbole 2 da Figura 4.6. Este

cenário é contemplado através das hipérboles 3 e 4 indicadas na Figura 4.7, onde essas hipérboles

transitam para um estado de linearização da relação corte/tensão normal correspondente ao atrito

residual da interface (Caballero et al., 2008).

Figura 4.6 - Evolução da superfície de fendilhação em Modo I (adaptado de Caballero et al., 2008).

Page 87: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

61

Figura 4.7 - Evolução da superfície de fendilhação em Modo II (adaptado de Caballero et al., 2008).

4.5 Comparação dos resultados numéricos obtidos com os modelos de

enfraquecimento

Para comparar os diferentes modelos de enfraquecimento referidos nos subcapítulos anteriores,

ensaiaram-se três tipos diferentes de esforços atuantes nas interfaces:

i. Ensaio de tração;

ii. Ensaio de corte;

iii. Ensaio de compressão/corte.

Nos três ensaios foi considerado um modelo com dois blocos sobrepostos e um elemento de junta

(Figura 4.8) onde nos correspondentes vértices/ponto de integração está representada uma fenda.

Ambos os blocos têm faces quadradas com um metro de aresta e admite-se um comportamento

elástico linear no interior de cada bloco, estando as suas propriedades apresentadas na Tabela 4.1.

Page 88: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

62

Figura 4.8 - Modelo dos ensaios de comparação de modelos constitutivos de junta com

enfraquecimento

Tabela 4.1 - Propriedades mecânicas do material dos blocos.

Propriedades mecânicas Bloco

Módulo de Young

𝐸 [GPa] 30,0

Coeficiente de Poisson

𝜐 [-] 0,15

Massa volúmica

𝜌 [ton/m3] 2,50

4.5.1 Ensaio de tração

Neste primeiro ensaio, averigua-se a resposta da interface ao aplicar-se um esforço de tração no

modelo referenciado na Figura 4.8. A todos os pontos nodais do bloco superior é aplicada uma

velocidade vertical de baixo para cima, enquanto nos pontos nodais do bloco de baixo é imposto

um deslocamento nulo. Assim, impõe-se um deslocamento normal relativo na interface, tal como

pretendido.

De seguida, apresentam-se os parâmetros elásticos e resistentes adotados para o ensaio:

Page 89: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

63

Tabela 4.2 - Parâmetros elásticos e resistentes adotados para o ensaio de tração.

Rigidez elástica normal

𝑘𝑛 [MPa/mm] 1000

Rigidez elástica tangencial

𝑘𝑠 [MPa/mm] 500

Tensão de tração limite

𝜎𝑡 [MPa] 3,0

Coesão

𝑐 [MPa] 8,0

Coeficiente de atrito

tan 𝜉 0,8

Coeficiente de atrito residual

tan 𝜉𝑟𝑒𝑠 0,2

Seguidamente, nas Figuras 4.9 a 4.11 ilustram-se os resultados para o ensaio de tração obtidos

com os dois modelos constitutivos com enfraquecimento abordados em subcapítulos anteriores

(MC1 e MC2), bem como uma exemplificação caso seja considerado o modelo frágil. Neste

estudo, consideram-se diferentes valores de energia de fratura em modo I, designadamente 𝐺𝐼 =

0,01; 0,05; 0,1; 0,2 N/mm.

Na Figura 4.9, observa-se que em modelo frágil a rotura ocorre imediatamente após ser atingido o

pico. No que se refere aos outros dois modelos, após atingida a tensão de tração limite (estipulada

na Tabela 4.2), as curvas tensão/deslocamento exibem um ramo descendente do tipo bilinear

(MC1) e exponencial (MC2). Pode-se concluir que quanto maior é a energia de fratura, mais

dúctil é o comportamento do contacto. Deduz-se também a partir da análise comparativa entre os

modelos, que a resposta destes é próxima. No entanto, numa primeira instância o modelo MC2

apresenta maior ductilidade, o que contrasta com uma fase posterior, pois à medida que o

deslocamento se torna mais elevado, o modelo MC1 tem uma resposta mais dúctil.

Figura 4.9 - Modelo frágil no ensaio de tração.

0,00

1,00

2,00

3,00

4,00

0,00 0,05 0,10 0,15

σ[M

Pa]

Deslocamento normal [mm]

Page 90: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

64

Figura 4.10 - MC1 (esquerda) e MC2 (direita) no ensaio de tração.

Figura 4.11 - Análise comparativa entre MC1 e MC2 no ensaio de tração.

Apresenta-se na Figura 4.12 o modelo numérico obtido no Parmac3D-FFlow no final do ensaio à

tração para o modelo do tipo MC1, após todos os pontos de integração do elemento de junta

apresentarem dano unitário. Assim, após a conclusão do processo de fendilhação, ocorre a rotura

na interface e o consequente afastamento dos blocos.

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

0,00 0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35

σ[M

Pa]

Deslocamento normal [mm]

G = 0,01 N/mm - MC1

G = 0,01 N/mm - MC2

G = 0,2 N/mm - MC1

G = 0,2 N/mm - MC2

Page 91: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

65

Figura 4.12 - Modo de fratura em tração e correspondente deslocamento ampliado.

4.5.2 Ensaio de corte

Neste ensaio pretende-se avaliar a resposta do elemento de junta quando é aplicado um

deslocamento horizontal nos pontos nodais do bloco superior do modelo da Figura 4.8, mantendo-

se fixos os nós do bloco inferior. Assim, é considerado um deslocamento tangencial na interface.

Os deslocamentos nos pontos nodais do bloco superior são definidos através da imposição de uma

velocidade constante na direção horizontal. Seguidamente, apresentam-se os parâmetros elásticos

e resistentes adotados no ensaio de corte:

Tabela 4.3 - Parâmetros elásticos e resistentes adotados para o ensaio de corte.

Rigidez elástica normal

𝑘𝑛 [MPa/mm] 50000

Rigidez elástica tangencial

𝑘𝑠 [MPa/mm] 25000

Tensão de tração limite

𝜎𝑡 [MPa] 3,0

Coesão

𝑐 [MPa] 4,5

Coeficiente de atrito

tan 𝜉 0,8785

Coeficiente de atrito residual

tan 𝜉𝑟𝑒𝑠 0,2

Page 92: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

66

Nas Figuras 4.13 a 4.15 apresentam-se os resultados para o ensaio de corte obtidos com os dois

modelos com enfraquecimento adotados, MC1 e MC2, e indicam-se novamente os resultados para

um modelo frágil. Neste ensaio, consideraram-se diferentes valores de energia de fratura em

modo II, designadamente 𝐺𝐼𝐼 = 0,05; 0,1; 0.2 N/mm.

Figura 4.13 - Modelo frágil no ensaio de corte.

Figura 4.14 - MC1 (esquerda) e MC2 (direita) no ensaio de corte.

0

1

2

3

4

5

0 0,005 0,01

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

Page 93: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

67

Figura 4.15 - Comparação entre MC1 e MC2 no ensaio de corte.

Na Figura 4.13 observa-se que, após atingido o valor máximo de coesão no modelo frágil, a rotura

é imediata. Após o valor limite de coesão ser atingido, as curvas tensão/deslocamento exibem um

ramo descendente do tipo bilinear para o caso do MC1 e exponencial para o MC2. Verifica-se que

neste ensaio a resposta dos modelos com enfraquecimento é similar e que quanto maior é a

energia de fratura maior é a ductilidade dos modelos referidos. Através da análise comparativa

entre os dois modelos, conclui-se que para o menor valor de energia de fratura o MC2 apresenta

maior ductilidade numa primeira fase e, posteriormente, o MC1 apresenta uma resposta mais

dúctil. Ao observar o caso da energia de fratura de valor mais elevado, constata-se que o MC2 é

mais dúctil, não alterando essa condição com o aumento do deslocamento tangencial relativo. No

entanto, o valor da tensão máxima de corte é ligeiramente inferior ao obtido com o modelo MC1,

que corresponde ao valor da coesão máxima adotada.

Apresenta-se na Figura 4.16, o modelo numérico adotado no Parmac3D-FFlow para um dado

instante do ensaio de corte realizado.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

5

0 0,1 0,2 0,3

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,05 N/mm - MC1

G = 0,05 N/mm - MC2

G = 0,2 N/mm - MC1

G = 0,2 N/mm - MC2

Page 94: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

68

Figura 4.16 - Modo de fratura em corte e correspondente deslocamento ampliado.

4.5.3 Ensaio de compressão/corte

Neste ensaio aplica-se inicialmente uma força vertical de sentido descendente nos pontos nodais

do bloco superior, de forma a simular a imposição de um valor de tensão normal de compressão

nos pontos de integração dos elementos de junta. Analogamente aos ensaios de tração e de corte,

os pontos nodais do bloco inferior mantêm-se fixos. Quando atingido o equilíbrio estático, é

imposto um deslocamento horizontal nos pontos nodais do bloco superior, através da definição de

uma velocidade constante na direção horizontal, que origina um deslocamento tangencial na

interface sob a ação de compressão constante. Os pontos nodais do bloco superior têm liberdade

de deslocamento na direção vertical. De seguida, apresentam-se os parâmetros elásticos e

resistentes fundamentais no ensaio de corte sob compressão constante.

Tabela 4.4 - Parâmetros elásticos e resistentes adotados para o ensaio de compressão/corte.

Rigidez elástica normal

𝑘𝑛 [MPa/mm] 50000

Rigidez elástica tangencial

𝑘𝑠 [MPa/mm] 25000

Tensão de tração limite

𝜎𝑡 [MPa] 3,0

Coesão

𝑐 [MPa] 4,5

Coeficiente de atrito

tan 𝜉 0,8785

Coeficiente de atrito residual

tan 𝜉𝑟𝑒𝑠 0,2

Page 95: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

69

Neste ensaio, tiveram-se em conta diferentes valores de energia de fratura em modo II,

designadamente 𝐺𝐼𝐼 = 0,05; 0,1; 0,2 N/mm. Analisou-se a resposta do modelo MC2 para os

casos de se tomar como constante o coeficiente de atrito (tal como acontece com o MC1), ou seja,

admitindo que o termo de atrito não se reduz em função do dano até ao valor limite (de 0,8785

para 0,2) e para o caso de haver redução do termo de atrito durante o processo de deterioração do

elemento de junta. As Figuras 4.17 a 4.22 apresentam os resultados obtidos para um ensaio de

corte sob compressão com os modelos com enfraquecimento MC1 e MC2, bem como com um

modelo frágil, considerando diferentes valores de tensão normal de compressão, designadamente:

𝜎𝑛 = −0,1; −5,0; −15,0 MPa, e um valor de tensão normal de tração 𝜎𝑛 = +0,1 MPa.

Figura 4.17 - Modelo frágil no ensaio de compressão/corte.

Figura 4.18 - MC1 no ensaio de compressão/corte.

0

5

10

15

20

0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

σ = -0,1 MPaσ = -5,0 MPaσ = -15,0 MPaσ = +0,1 MPa

0

10

20

0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,05 N/mm

0

10

20

0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,1 N/mm

0

10

20

0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,2 N/mm

Page 96: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

70

Figura 4.19 - MC2 com redução do coeficiente de atrito no ensaio de compressão/corte.

Figura 4.20 - MC2 sem redução do coeficiente de atrito no ensaio de compressão/corte.

0

5

10

15

20

0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,05 N/mm

0

5

10

15

20

0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,1 N/mm

0

5

10

15

20

0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,2 N/mm

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,05 N/mm

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,1 N/mm

0,00

5,00

10,00

15,00

20,00

0,0 0,1 0,2 0,3 0,4

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

G = 0,2 N/mm

Page 97: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

71

Figura 4.21 – Comparação entre MC1 e MC2 no ensaio de compressão/corte (com redução de

coeficiente de atrito).

Figura 4.22 – Comparação entre MC1 e MC2 no ensaio de compressão/corte (sem redução de

coeficiente de atrito).

Tal como nos ensaios anteriores, no modelo frágil ocorre rotura assim que o ponto de pico é

atingido. Quando o limite de tensão tangencial máximo é atingido, as curvas tensão/deslocamento

apresentam um ramo descendente do tipo bilinear no caso de MC1 e exponencial no caso de

MC2. Como era esperado, tanto o modelo frágil como o modelo MC1 como o modelo MC2 sem

redução do coeficiente de atrito convergem para o valor da tensão de corte, em função da tensão

normal imposta e do coeficiente de atrito imposto. Este valor pode ser determinado através da

seguinte expressão:

𝝉 = 𝝈𝒏 𝐭𝐚𝐧 𝝋 (4.11)

0

2

4

6

8

10

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

σn = -5 MPa

G = 0,1 N/mm - MC1

G = 0,1 N/mm - MC2

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

0 0,05 0,1 0,15 0,2 0,25 0,3 0,35

τ[M

Pa]

Deslocamento tangencial [mm]

σn = -5 MPa

G = 0,1 N/mm - MC1

G = 0,1 N/mm - MC2

Page 98: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

72

Onde tan𝜑 toma o valor, consoante seja considerado o ângulo de atrito (φ) ou o ângulo de atrito

residual (𝜑𝑟𝑒𝑠), e a tensão normal 𝜎𝑛 é a adotada para o ensaio. Na tabela seguinte apresentam-se

os valores esperados para as tensões de corte tendo em conta as tensões normais e os coeficientes

de atrito assumidos.

Tabela 4.5 - Valores esperados das tensões de corte face às tensões normais estipuladas.

Tensão normal 𝜎𝑛 [MPa]

-0,1 -5,0 -15,0 0,1

𝜏 (𝜙) [MPa] 0,09 4,39 13,18 0,09

𝜏 (𝜙𝑟𝑒𝑠) [MPa] 0,02 1,00 3,00 0,02

Na Figura 4.22 observa-se que, tal como nos ensaios anteriormente descritos, a resposta dos

modelos é similar. Numa primeira fase, o modelo MC2 apresenta maior ductilidade, mas à

medida que o deslocamento tangencial relativo aumenta, observa-se que o modelo MC1 inverte a

situação anterior, passando a ter maior ductilidade.

Quando existe um esforço de tração, observa-se que o modelo de contacto entra em rotura mais

rapidamente, não havendo resistência no mesmo. Efetivamente, para tal existir, teria de haver

atrito devido a compressão, o que neste caso não acontece.

Apresenta-se na Figura 4.23 o modelo numérico adotado no Parmac3D-FFlow para os ensaios de

compressão/corte realizados.

Figura 4.23 - Modo de fratura em compressão/corte e correspondente deslocamento ampliado.

Page 99: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

73

4.6 Análise dos resultados

Os ensaios numéricos realizados permitiram comparar o desempenho dos modelos de

enfraquecimento apresentados, contribuindo para que fossem detetados e corrigidos alguns

problemas na implementação em 3D do modelo de enfraquecimento de base elasto-plástica.

O modelo de enfraquecimento bilinear MC1 é um modelo simplificado, computacionalmente

robusto e não apresenta problemas de convergência. O modelo de enfraquecimento MC2, de base

elasto-plástica, apresenta uma base teórica mais fundamentada na física do problema em análise,

no entanto é menos robusto e requer um processo de iteração complexo, por vezes com

dificuldades de convergência.

Os exemplos apresentados permitem concluir que, para estes testes simples, destinados a simular

o comportamento dos elementos de junta num cenário real de barragens de betão, os dois modelos

apresentam uma resposta muito semelhante. Observa-se assim que o modelo simplificado MC1

tem potencial para ser aplicado em análise tridimensional não linear.

Page 100: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

74

Page 101: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

75

5 ANÁLISE DE ESTABILIDADE DE BARRAGENS GRAVIDADE

PARA CENÁRIOS DE ROTURA POR DESLIZAMENTO

5.1 Considerações iniciais

No presente capítulo apresenta-se a análise de estabilidade de barragens gravidade para cenários

de rotura por deslizamento pelas superfícies de ligação betão/rocha e rocha/rocha, tendo em

consideração o comportamento hidromecânico da fundação e, quando aplicável, modelos de

enfraquecimento para reproduzir o comportamento não linear da ligação betão/betão e

betão/rocha.

A avaliação da estabilidade teve em consideração duas metodologias:

i) Método de redução das resistências, método usualmente adotado em fase de

projeto, que consiste na redução do termo de atrito da descontinuidade,

admitindo-se que a superfície de ligação betão/rocha apresenta coesão nula. Para

as juntas betão/betão, adotam-se três hipóteses de comportamento: modelo

elástico, usualmente adotado em projeto, e modelo não-linear com

enfraquecimento (MC1) e modelo não linear com enfraquecimento (MC2);

ii) Método da amplificação de carga, através do aumento do nível da água no

paramento de montante da barragem, resultando num aumento da pressão

hidrostática a montante. Nesta análise adotaram-se modelos de enfraquecimento

para o comportamento não linear da ligação betão/betão e betão/rocha. É uma

análise distinta da anterior, em que é necessário adotar propriedades próximas das

reais para os materiais, mas que se entende conduzir a fatores de segurança mais

adequados a uma situação de galgamento associada a um cenário de rotura por

deslizamento.

Em ambas as metodologias, analisaram-se as subpressões na interface betão/maciço de fundação e

os caudais percolados através do maciço de fundação. Em todas as análises realizadas

considerou-se a presença de uma cortina de impermeabilização e de um sistema de drenagem

instalados na fundação da barragem. A análise de segurança para ambas as metodologias foi

realizada para dois tipos de fundação: comportamento elástico linear das interfaces rocha/rocha, e

Page 102: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

76

comportamento não-linear das interfaces rocha/rocha baseado num modelo de Mohr-Coulomb

sem coesão.

Em relação ao módulo computacional Parmac3D-FFlow, primeiramente desenvolveu-se um

modelo tridimensional de elementos finitos com base num modelo 2D. Posteriormente, a partir do

modelo 3D de elementos finitos, definiram-se as juntas mecânicas, o modelo hidráulico e

posteriormente definiram-se as condições de fronteira.

O efeito mecânico do peso da barragem foi estabelecido admitindo um nível de água na albufeira

à cota do terreno a montante e a jusante da barragem e um campo de tensões in situ verticais e

horizontais. O valor da tensão vertical aumenta com a profundidade proporcionalmente ao peso

próprio do maciço rochoso e admitiu-se de forma simplificada que a variação da tensão horizontal

é igual à variação da tensão vertical. Realizou-se em seguida um cálculo hidromecânico de forma

a se obter uma solução de equilíbrio com base nas condições iniciais.

Seguidamente, aplicou-se a pressão hidrostática no paramento de montante da barragem e a

montante no topo do maciço no modelo hidráulico e no modelo mecânico, realizando-se em

seguida um cálculo hidromecânico até se obter o equilíbrio. De seguida adotou-se, em função do

exemplo em análise, comportamento não linear nas descontinuidades, realizando posteriormente

um novo cálculo hidromecânico até se atingir o equilíbrio. Posteriormente, e de forma iterativa,

realizaram-se análises de equilíbrio adequadas a cada metodologia.

5.2 Geometria, condições de fronteira e propriedades dos materiais

5.2.1 Geometria do modelo

A geometria 2D de cada modelo inicial de blocos foi definida com o software AutoCAD (ver

Figura 5.4), tendo-se representado de forma aproximada as possíveis descontinuidades na

fundação. Após a definição da malha de elementos finitos 2D, pontos nodais e incidências dos

elementos planos, recorreu-se ao módulo computacional Parmac3D-Fflow para estabelecer o

modelo mecânico 3D através da extrusão do modelo 2D e do refinamento automático de cada

elemento plano inicial.

Foram considerados dois modelos que representam barragens gravidade que apresentam uma

geometria proporcional entre si e que diferem nas suas dimensões, nomeadamente no parâmetro

Page 103: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

77

H, que traduz a altura da barragem, e no parâmetro 𝑎, que descreve a largura do coroamento e

altura da cunha a jusante da barragem. Os valores de H assumidos para os modelos de análise de

estabilidade foram de 15 e 30 m, sendo as respetivas larguras de coroamento e a altura da cunha

de 3 e 5 m. Apresenta-se nas Figura 5.1 a 5.3 a geometria base dos modelos e as dimensões dos

modelos das barragens com alturas de 15 m e 30 m.

Figura 5.1 - Geometria dos modelos.

Tanto a cortina de impermeabilização como o sistema de drenagem são considerados nos dois

modelos. Como indicado na Figura 5.1, para ambos os modelos que a cortina de

impermeabilização tem uma largura de 1/10 da altura da barragem (H) e uma profundidade

correspondente a 0,6H. Quanto à cortina de drenagem, apresenta uma profundidade de 0,3H e

situa-se a jusante da cortina de impermeabilização. Na Tabela 5.1 estão representados os valores

de profundidade atribuídos a cada elemento da barragem, tendo em consideração o modelo

adotado. Designou-se por Modelo 1 o relativo à barragem de 15 m de altura e por Modelo 2 o

relativo à barragem de 30 m de altura.

Em ambos os modelos, foi considerada a jusante da barragem uma cunha de maciço de modo a

garantir a possibilidade de ocorrência de modos de rotura mais complexos, envolvendo interfaces

fora do plano horizontal da interface de fundação.

Page 104: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

78

Figura 5.2 - Dimensões do modelo da barragem com altura de 15 m.

Figura 5.3 - Dimensões do modelo da barragem com altura de 30 m.

Page 105: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

79

Tabela 5.1 - Profundidades das cortinas de impermeabilização e de drenagem.

Modelo H

[𝑚]

Profundidade da cortina

de impermeabilização

[𝑚]

Profundidade da cortina

de drenagem

[𝑚]

1 15 9 4,5

2 30 18 9

a) Modelo 1 b) Modelo 2

Figura 5.4 - Malhas 2D geradas em AutoCAD para os Modelos 1 e 2.

5.2.2 Condições de fronteira mecânicas e hidráulicas

Consideraram-se as seguintes condições de fronteira mecânicas: i) base da fundação fixa nas três

direções do espaço, e ii) fronteiras laterais com deslocamentos impedidos na direção normal à

fronteira. As pressões equivalentes à pressão hidrostática são aplicadas no paramento de montante

da barragem e no topo do maciço a montante da barragem.

Quanto às condições de fronteira hidráulicas, admitiu-se permeabilidade nula na base da fundação

e nas fronteiras laterais do modelo. Considerou-se uma pressão hidrostática equivalente à altura

de barragem de cada modelo imposta nos nós hidráulicos localizados no topo da fundação rochosa

a montante da barragem e no pé de montante. A fim de se considerar o sistema de drenagem,

simulou-se esse dispositivo impondo um potencial hidráulico ao longo dos drenos equivalente a

1/3 do potencial a montante da barragem. A cortina de impermeabilização foi simulada através da

redução de permeabilidade dos pseudo canais hidráulicos localizados na zona de influência da

cortina.

Page 106: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

80

5.2.3 Propriedades dos materiais

Para as propriedades dos materiais, foram utilizados valores adotados em estudos anteriores (Reis,

2018). Assim, o modelo mecânico é constituído por dois materiais: Material 1, correspondente ao

betão que define a barragem, e Material 2, referente aos blocos da fundação rochosa. As

características destes materiais apresentam-se na Tabela 5.2.

Tabela 5.2 - Propriedades mecânicas dos materiais.

Material

1 Material

2

Módulo de Young

𝐸 [GPa] 20,0 12,0

Coeficiente de Poisson

𝜐 [-] 0,20 0,20

Massa volúmica

𝜌 [ton/m3] 2,40 2,65

Relativamente aos elementos de interface admitiram-se três materiais: Material 1, correspondente

à interface betão/betão (barragem), Material 2, relativo à interface betão/rocha, e Material 3,

associado à interface rocha/rocha (fundação rochosa). Os parâmetros de rigidez normal e

tangencial referentes a cada material apresentam-se na Tabela 5.3. De forma aproximada, adotou-

se uma largura fictícia de junta de 0,5 m.

Tabela 5.3 - Propriedades mecânicas dos elementos de interface.

Material

1

Material

2

Material

3

Rigidez normal

𝑘𝑛 [GPa/m] 40,0 24,0 24,0

Rigidez tangencial

𝑘𝑠 [GPa/m] 20,0 12,0 12,0

Nas análises em que se consideraram modelos de enfraquecimento nas ligações betão/rocha e

betão/betão foram utilizados os modelos constitutivos MC1 e MC2 descritos no Capítulo 4. Nas

análises em que se admitiu comportamento não linear da fundação, adotou-se um modelo frágil

para as descontinuidades do maciço rochoso (rocha/rocha), admitindo-se coesão e resistência à

tração nulas e um ângulo de atrito de 45°. As propriedades mecânicas das interfaces em regime

não-linear apresentam-se na Tabela 5.4.

Page 107: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

81

Tabela 5.4 - Propriedades mecânicas dos elementos de interface em regime não-linear.

Betão/Betão Betão/Rocha

tan𝜑 [-]

1,0 1,0

𝑐 [MPa]

8,0 8,0

𝜎𝑡 [MPa]

2,9 2,9

𝐺𝐼 [N/mm]

0,25 0,25

𝐺𝐼𝐼 [N/mm]

2,5 2,5

𝐶𝑄 120 120

tan𝜑𝑄

[-] 0,04 0,04

Na Tabela 5.5 apresentam-se as propriedades hidráulicas dos pseudo canais de escoamento para

os modelos.

Tabela 5.5 - Propriedades hidráulicas dos canais de escoamento.

𝜌𝑤

[ton/m3] 𝑘𝑤

[GPa] 𝑎0

[mm] 𝑎𝑚𝑖𝑛 [mm]

𝑎𝑚𝑎𝑥 [mm]

𝑘 [kPa-1s-1]

Canais de escoamento 1,0 2,2 8,34 × 10-5 1

3× 𝑎0 10 × 𝑎𝑚𝑖𝑛 0,83 × 105

Nos canais de escoamento localizados na zona da cortina de impermeabilização adotou-se um

fator de permeabilidade 10 vezes inferior ao adotado no restante maciço rochoso. Como já foi

referido, o sistema de drenagem foi simulado por meio de uma imposição do valor do potencial

hidráulico correspondente a um terço da altura da água a montante da barragem.

5.3 Modelos numéricos

Em relação à discretização do modelo mecânico, a malha adotada para cada um dos modelos no

estudo hidromecânico da análise de estabilidade da barragem é constituída por elementos

hexaédricos de 20 nós. As Figuras 5.5 e 5.6 apresentam, para cada um dos modelos em análise, os

correspondentes modelos mecânico e modelo hidráulico adotados.

Page 108: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

82

c) Modelo mecânico d) Modelo hidráulico

Figura 5.5 - Modelo hidromecânico 1.

a) Modelo mecânico b) Modelo hidráulico

Figura 5.6 - Modelo hidromecânico 2.

A Tabela 5.6 apresenta informação relativa à discretização das malhas dos modelos numéricos

tridimensionais 1 e 2.

Page 109: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

83

Tabela 5.6 - Discretização das malhas dos modelos numéricos.

Modelo mecânico Modelo hidráulico

Modelo Número de elementos

hexaédricos

Número de pontos

nodais

Número de

elementos de

interface triangulares

Número de nós

hidráulicos

Número de interfaces

hidráulicas

Número de canais de

escoamento

1 1392 17139 9728 4473 8640 25920

2 3216 39597 23552 10683 20992 62976

Na Figura 5.7 estão representadas, com cores diferentes, as interfaces que identificam os materiais

da estrutura adotados para o modelo hidromecânico. Neste caso, apresenta-se o Modelo 1, embora

a lógica para o Modelo 2 seja a mesma. A amarelo representa-se o material dos elementos de

junta da barragem, a vermelho representam-se as interfaces da barragem/fundação, a azul

representa-se a fundação e a cinzento representa-se a cunha de fundação. Esta cunha a jusante da

barragem foi considerada de modo a garantir a possibilidade de ocorrência de modos de rotura

mais complexos que envolvem interfaces fora do plano horizontal da interface de fundação.

Figura 5.7 - Interfaces dos materiais que constituem o modelo hidromecânico.

5.4 Análise de estabilidade da superfície de fundação

Os modelos em análise foram analisados de modo a averiguar a segurança do sistema

barragem/fundação relativamente à rotura por deslizamento, tendo em conta que o deslizamento

pode ocorrer no contato barragem/fundação ou nas descontinuidades do maciço de fundação.

Nestas análises, recorreram-se a dois métodos: método de redução das resistências e método de

amplificação de carga hidrostática.

Page 110: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

84

Nos estudos realizados, consideraram-se dois cenários de comportamento da fundação:

i) Comportamento linear na fundação, com exceção das interfaces na proximidade da cunha

a jusante da barragem onde se admitiu um modelo frágil de Mohr-Coulomb com coesão

nula;

ii) Comportamento não-linear para a fundação, admitindo-se um modelo frágil de Mohr-

Coulomb com coesão nula em todas as interfaces.

Para definição do comportamento do betão, consideraram-se os dois modelos de enfraquecimento,

MC1 e MC2, apresentados nos subcapítulos 4.3 e 4.4.

Em todas as análises realizadas, assumiu-se que as subpressões se mantêm constantes e iguais às

obtidas na situação de equilíbrio inicial, não tendo sido realizado o cálculo hidráulico durante o

procedimento de determinação do fator de segurança, quer no método da redução das resistências,

quer no método da amplificação de cargas.

5.4.1 Método de redução das resistências

O método de redução das resistências é frequentemente utilizado em estudos de segurança em

barragens de betão (Farinha et al., 2017), quer na fase de projeto, em barragens novas, quer em

barragens em operação.

Esta análise consiste na progressiva redução do coeficiente de atrito da interface em análise até se

atingir o ponto de rotura, que se considera ser o valor do coeficiente de atrito para o qual não é

possível obter equilíbrio estático. Por fim regista-se o menor valor do coeficiente de atrito para o

qual se verifica o equilíbrio.

Admitiu-se inicialmente um ângulo de atrito (𝜑) de 45° na superfície de ligação betão/maciço

rochoso. Assim, neste processo de minoração sequencial, o coeficiente de redução é aplicado à

tangente do ângulo de atrito (𝑡𝑎𝑛𝜑), sendo a segurança ao deslizamento verificada através do

fator de segurança ao deslizamento, em conformidade com a equação seguinte:

Page 111: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

85

𝑭𝑺 =𝐭𝐚𝐧𝝋𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒂𝒍

𝐭𝐚𝐧𝝋𝒇𝒊𝒏𝒂𝒍 (5.1)

Nas Figuras 5.8 e 5.9 apresenta-se, para os dois modelos de barragem, a evolução do

deslocamento horizontal do coroamento da barragem ao longo do procedimento de redução do

ângulo de atrito, procurando-se comparar as hipóteses de adotar um modelo elástico para o betão

considerando tanto uma fundação linear como uma fundação não-linear, e adotar modelos não-

lineares para o betão (MC1 e MC2), considerando novamente uma fundação linear e uma

fundação não-linear e admitindo-se que a ligação betão/barragem funciona em atrito puro. Nestas

Figuras, o ângulo de atrito está representado no eixo x, de forma decrescente.

a) Fundação linear b) Fundação não-linear

Figura 5.8 - Deslocamento horizontal do coroamento durante o processo de redução do ângulo de

atrito para a barragem com altura de 15 m, considerando modelos elásticos e não-lineares para o

betão e fundações lineares e não-lineares.

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

1,40

1,60

010203040

Des

loca

men

to [

mm

]

Ângulo de atrito [°]

23,50°

12,80°

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

3,50

010203040

Des

loca

men

to [

mm

]

Ângulo de atrito [°]

30,47°

12,80°

Page 112: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

86

a) Fundação linear b) Fundação não-linear

Figura 5.9 - Deslocamento horizontal do coroamento durante o processo de redução do ângulo de

atrito para a barragem com altura de 30 m, considerando modelos elásticos e não-lineares para o

betão e fundações lineares e não-lineares.

Da análise das Figuras 5.8 e 5.9 é possível identificar os ângulos de atrito onde se observam

mudanças no comportamento de cada modelo e os ângulos de atrito mínimos para os quais o

equilíbrio do sistema é garantido. Observa-se na Figura 5.8 que o ângulo de atrito foi reduzido,

para as duas possibilidades de comportamento da fundação, até um mínimo de 12,80°, enquanto

no exemplo de barragem de maior altura, (Figura 5.9) o ângulo de atrito mínimo obtido é,

respetivamente, de 15,95° e 16,39°, para, respetivamente, o modelo de fundação elástico e o

modelo de fundação não linear. Assim, apesar de se terem adotado os mesmos princípios

geométricos na definição da geometria da barragem, o Perfil 2, com maior altura, apresenta um

menor fator de segurança ao deslizamento.

Conclui-se com base nas Figuras 5.8 e 5.9 que os modelos não lineares com enfraquecimento para

o betão não têm influência na rotura da barragem pela interface betão/rocha, observando-se que os

resultados, caso se considere para o betão um modelo linear, ou modelos não lineares (MC1 e

MC2), são idênticos na análise de estabilidade por redução das resistências. Assim, para os

exemplos estudados, a hipótese de projeto de se assumir um comportamento elástico linear para o

betão afigura-se válida.

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

010203040

Des

loca

men

to [

mm

]

Ângulo de atrito [°]

23,50°

15,95°

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

010203040

Des

loca

men

to [

mm

]

Ângulo de atrito [°]

30,47°

16,39°

Page 113: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

87

Constata-se também que, tal como expectável, os deslocamentos obtidos no coroamento são mais

elevados na hipótese de comportamento não linear da fundação. Por fim, verifica-se que, quando

se considera uma fundação com comportamento não linear, o instante onde se observam

mudanças de comportamento para cada modelo corresponde a um ângulo de atrito de valor

superior ao obtido com uma fundação linear.

Nas Tabelas 5.7 e 5.8 apresentam-se, para os modelos de barragem analisados, os fatores de

segurança e os ângulos de atrito correspondentes à situação que assegura o equilíbrio. São

consideradas em cada um dos modelos de barragem, as situações de modelo elástico e modelos

constitutivos não-lineares no betão (MC1 e MC2), tanto para uma fundação linear como não

linear.

Tabela 5.7 - Fatores de segurança considerando o método de redução das resistências (Modelo 1).

Modelo de

barragem

Comportamento

do betão

Comportamento

da fundação

Ângulo de

atrito

em equilíbrio

𝑡𝑎𝑛𝜑𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑡𝑎𝑛𝜑𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝐹𝑆𝑡𝑎𝑛𝜑

1

Modelo elástico Não-linear 30,47 1,00 0,59 1,70

MC1 Não-linear 30,47 1,00 0,59 1,70

MC2 Não-linear 30,47 1,00 0,59 1,70

Modelo elástico Linear 23,50 1,00 0,44 2,30

MC1 Linear 23,50 1,00 0,44 2,30

MC2 Linear 23,50 1,00 0,44 2,30

Tabela 5.8 - Fatores de segurança considerando o método de redução das resistências (Modelo 2).

Modelo de

barragem

Comportamento

do betão

Comportamento

da fundação

Ângulo de atrito

em

equilíbrio

𝑡𝑎𝑛𝜑𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑡𝑎𝑛𝜑𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝐹𝑆𝑡𝑎𝑛𝜑

2

Modelo elástico Não-linear 30,47 1,00 0,59 1,70

MC1 Não-linear 30,47 1,00 0,59 1,70

MC2 Não-linear 30,47 1,00 0,59 1,70

Modelo elástico Linear 23,50 1,00 0,44 2,30

MC1 Linear 23,50 1,00 0,44 2,30

MC2 Linear 23,50 1,00 0,44 2,30

Da análise das tabelas anteriores conclui-se que os fatores de segurança obtidos para os dois

modelos de barragem são idênticos, tanto considerando uma fundação elástica como uma

fundação com comportamento não-linear. Como se esperava, com uma fundação não-linear os

Page 114: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

88

fatores de segurança calculados são inferiores aos determinados quando se adota uma fundação

elástica.

5.4.1.1 Pressões da água na base da barragem e na cunha do maciço a jusante da obra

A distribuição de pressões no conjunto base de fundação da barragem e cunha depende das

subpressões que atuam na estrutura. Em todas as análises realizadas, considerou-se a presença da

cortina de impermeabilização e do sistema de drenagem. Na Figura 5.10 apresenta-se a

distribuição de pressões relativas aos Modelos 1 e 2, ao longo da base da barragem, desde o pé de

montante até parte da cunha. Realizou-se uma análise comparativa para cada malha de modelo de

barragem, considerando um comportamento de fundação não linear do tipo frágil e uma fundação

elástica (com exceção da zona de influência da cunha).

a) Modelo 1 b) Modelo 2

Figura 5.10 - Distribuição de pressões na base da barragem e na cunha do maciço a jusante para os

Modelos 1 e 2.

Verifica-se pela análise da Figura 5.10 que a variação das pressões é similar para os dois modelos.

Tanto no modelo de barragem de altura de 15 m como no modelo de barragem de altura de 30 m,

constata-se que as pressões hidrostáticas no pé de montante de barragem correspondem aos

valores definidos pelas alturas das barragens. Em ambos os modelos se observa também que na

zona onde está inserido o sistema de drenagem a pressão decresce de forma linear para o valor

previsto tendo em conta a existência deste dispositivo de controlo de escoamento (1/3 da pressão

no pé de montante), terminando com uma pressão nula na zona da cunha, como seria de esperar.

0

50

100

150

0 5 10 15 20 25

Pre

ssão

da

águ

a [k

Pa]

Distância ao longo da base da barragem

a partir do pé de montante [m]

Fundação não-linear

Fundação linear

0

50

100

150

200

250

300

0 10 20 30 40

Pre

ssão

da

águ

a [k

Pa]

Distância ao longo da base da barragem

a partir do pé de montante [m]

Fundação não-linear

Fundação linear

Page 115: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

89

Comparando-se os gráficos da Figura 5.10, observa-se que a distribuição de pressões para os dois

modelos de barragem é muito semelhante, registando-se pressões ligeiramente superiores para

uma fundação linear no Modelo de barragem 1, a montante do sistema de drenagem, enquanto no

Modelo 2 se observa uma distribuição de subpressões ligeiramente superior a jusante do sistema

de drenagem na hipótese de fundação não linear.

Através dos resultados apresentados é possível verificar que as distribuições de subpressões ao

longo da base de fundação e na zona da cunha não são influenciadas pelo comportamento

assumido para a fundação. Conclui-se assim que a diferença de resposta observada em cada

geometria de barragem não se deve a diferenças nos valores das subpressões, mas sim à influência

que o comportamento da fundação tem no comportamento global da barragem.

5.4.1.2 Caudal percolado

De modo a analisar a influência que o tipo de fundação adotado (fundação não-linear e fundação

linear) tem sobre o caudal percolado, aliado ao facto de existir um sistema de drenagem que prevê

uma quantidade de caudal drenado, determinou-se para cada tipo de fundação o caudal percolado

na fundação da barragem. Na Tabela 5.9 encontram-se os valores dos caudais obtidos para os

Modelos 1 e 2 e para os tipos de fundação apresentados anteriormente.

Tabela 5.9 - Caudais percolados para os Modelos de barragem 1 e 2.

Fundação linear Fundação não-linear

Modelo Caudal percolado

𝑄 [𝑚3𝑠−1]

Caudal percolado

𝑄 [𝑚3𝑠−1]

1 1,55 × 10-4 1,95 × 10-4

2 2,99 × 10-4 3,51 × 10-4

Observando os caudais percolados, pode-se aferir que, como seria de esperar, a adoção de um

modelo de fundação não-linear com interfaces frágeis sem coesão conduz a caudais percolados na

fundação mais elevados do que os obtidos com modelos de fundação com junta elástica. A

abertura das descontinuidades que ocorre com maior facilidade num modelo de fundação não

linear contribui para o aumento da permeabilidade do meio, registando-se caudais superiores.

Comparativamente ao Modelo 1, verificam-se maiores caudais no Modelo 2 devido à maior cota

de água a montante que provoca um aumento significativo da carga hidráulica igualmente a

montante.

Page 116: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

90

5.4.2 Método de amplificação da carga hidrostática

A análise de segurança foi também realizada a partir de uma majoração da pressão hidrostática

aplicada no paramento de montante (Figura 5.11). Esta majoração foi efetuada admitindo-se um

aumento da carga hidrostática em consequência de uma subida da cota de água (análise

aproximada a um cenário de galgamento da barragem). Entende-se que esta metodologia conduz a

fatores de segurança mais adequados a uma situação de galgamento associada a um cenário de

rotura por deslizamento do que a metodologia baseada no método da redução das resistências.

Contudo, a aplicação deste método requer uma caracterização mais completa das propriedades

dos materiais, nomeadamente do seu comportamento à rotura em tração e compressão-corte, em

especial na interface barragem/fundação.

Nos modelos analisados, o aumento da pressão é realizado com base em incrementos de 1,0 m na

cota de água em cada ciclo de cálculo onde se verifica se o modelo consegue atingir o equilíbrio

estático. Em cada perfil de barragem analisado, a análise sequencial começa com uma altura de

cota de água coincidente com a altura do coroamento. O cálculo sequencial é interrompido caso

não se verifique o equilíbrio estático para um número de passos de 100 vezes superior ao número

de passos máximo registado nas análises sequenciais anteriores. Admite-se como altura de água

máxima o último valor de altura de água para o qual se obteve uma situação de equilíbrio estático.

Figura 5.11 - Majoração da pressão hidrostática através do aumento da cota de água.

Na Figura 5.12 apresenta-se a evolução do deslocamento do coroamento na direção horizontal, no

sentido de montante para jusante, em função do aumento da cota de água, para os dois modelos de

barragem e tendo em consideração os modelos não-lineares com enfraquecimento (MC1 e MC2)

Page 117: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

91

adotados nas interfaces betão/betão e betão/rocha para as duas hipóteses de comportamento da

fundação (linear e não-linear do tipo frágil).

a) Modelo 1 b) Modelo 2

Figura 5.12 - Deslocamento horizontal do coroamento durante o processo de aumento da cota de água

para os Modelos de barragem 1 e 2.

Por observação dos gráficos correspondentes aos Modelos 1 e 2, constata-se que no Modelo 2 os

deslocamentos que se obtêm com o aumento da cota de água são maiores que no Modelo 1, o que

é expetável dado a barragem com maior altura ser mais deformável. Verifica-se igualmente que a

barragem com menor altura resiste melhor a um cenário de galgamento, obtendo-se equilíbrios

estáveis para acréscimos de cota de água mais elevados que no Modelo 2.

Neste processo de majoração da pressão hidrostática, os fatores de segurança obtêm-se a partir do

quociente entre a componente horizontal equivalente ao diagrama de pressões final (força

correspondente ao último ciclo de incremento de água para o qual se atinge o equilíbrio estável) e

a componente horizontal equivalente à distribuição de pressões inicial, tal como indicado na

Equação (5.2).

𝑭𝑺 =𝑭𝒇𝒊𝒏𝒂𝒍

𝑭𝒊𝒏𝒊𝒄𝒊𝒂𝒍

(5.2)

0

5

10

15

20

25

30

0 20 40 60

Des

loca

men

to [

mm

]

Altura de água acima da cota de

coroamento [m]

Fundação não-linear (MC1)Fundação não-linear (MC2)Fundação linear (MC1)Fundação linear (MC2)

01020304050607080

0 20 40 60 80Des

loca

men

to [

mm

]

Altura de água acima da cota de

coroamento [m]

Fundação não-linear (MC1)Fundação não-linear (MC2)Fundação linear (MC1)Fundação linear (MC2)

Page 118: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

92

Na Tabela 5.10 apresentam-se os fatores de segurança obtidos quando se considera o aumento da

carga hidrostática, bem como as forças aplicadas (iniciais e finais) e as alturas de água máximas

para cada modelo de barragem. Observa-se que se obtiveram fatores de segurança maiores com o

Modelo de barragem 1 em comparação com os que se obtiveram com o Modelo 2.

No Modelo 1, barragem com menor altura, constata-se que os modelos não-lineares com

enfraquecimento, MC1 e MC2, conduzem a fatores de segurança semelhantes para as duas

hipóteses de fundação testadas. No Modelo 2, barragem com maiores dimensões, os modelos com

enfraquecimento conduzem a resultados ligeiramente diferentes, mas dentro da mesma ordem de

grandeza. Os resultados obtidos permitem concluir que em perfis gravidade o modelo com

enfraquecimento MC1, mais simples, mas mais robusto, permite obter fatores de segurança

próximos dos obtidos com um modelo de enfraquecimento MC2, com uma sustentação teórica

mais rigorosa, mas que requer um processo de convergência iterativo.

Ao contrário do observado com o método de redução de resistências, no método de amplificação

de cargas os fatores de segurança mais elevados obtêm-se para a hipótese de comportamento não

linear da fundação. Tal facto poderá estar relacionado com a aplicação de incrementos de pressão

hidrostática no topo do maciço a montante da barragem, melhorando assim o comportamento das

interfaces por aumento da tensão de compressão.

Comparando os valores apresentados nas Tabelas 5.7 e 5.8 com os apresentados na Tabela 5.10

verifica-se que os fatores de segurança associados a um cenário de amplificação de carga são

bastante mais elevados que os obtidos com o método simplificado de redução das resistências,

indicando que a metodologia de redução de resistências usualmente adotada em projeto pode ser

muito conservativa. Considera-se, pois, que os fatores de segurança obtidos num cenário de

amplificação de carga são mais próximos dos reais do que os obtidos com a metodologia de

redução das resistências.

Page 119: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

93

Tabela 5.10 - Fatores de segurança considerando o aumento de carga hidrostática através do

aumento da cota de água.

Modelo de

barragem

Modelo

não-linear no betão

Comportamento

da fundação

Força

inicial [kN]

Altura de água

máxima

[m]

Força final

[kN]

Fator de

segurança

1

MC1 Não-linear

1,69 × 103

64,00 16,09 × 103 9,53

MC1 Linear 46,00 12,04 × 103 7,13

MC2 Não-linear 64,00 16,09 × 103 9,53

MC2 Linear 46,00 12,04 × 103 7,13

2

MC1 Não-linear

6,75 × 103

58,00 32,85 × 103 4,87

MC1 Linear 37,00 23,40 × 103 3,47

MC2 Não-linear 61,00 34,20 × 103 5,07

MC2 Linear 37,00 23,40× 103 3,47

Na Figura 5.13 observa-se o modo de rotura na barragem, apenas existente na interface

betão/rocha, considerando a hipótese de fundação elástica no Modelo 1 e no Modelo 2 de

barragem. O fenómeno de deslizamento é predominante, ocorrendo uma pequena rotação na zona

da cunha. No entanto, não se observam tensões significativas no interior do betão.

a) Modelo 1 b) Modelo 2

Figura 5.13 – Modo de rotura (ampliado 20 vezes) da barragem na interface betão/rocha,

considerando os Modelos 1 e 2 com fundação linear.

Page 120: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

94

Apresenta-se na Figura 5.14 o modo de rotura dos Modelos 1 e 2, considerando a hipótese de

fundação com comportamento não-linear. Relativamente ao exemplo anterior, em que o modo de

rotura ocorria fundamentalmente na interface betão/rocha (Figura 5.13), observa-se que para uma

fundação não linear o modo de rotura é mais complexo, envolvendo o maciço rochoso.

a) Modelo 1 b) Modelo 2

Figura 5.14 - Modo de rotura (ampliado 200 vezes) da barragem na interface betão/rocha,

considerando os Modelos 1 e 2 com fundação não-linear.

Seguidamente, apresenta-se nas Figuras 5.15 e 5.16 a representação do dano (a azul) para os

modelos de barragem analisados (considerando um modelo de fundação linear), podendo-se

observar na interface barragem/betão e, em menor dimensão, no interior da barragem, pontos de

integração com valores de dano positivo. Nota-se que as diferenças entre considerar o modelo

MC1 e o modelo MC2 são bastante diminutas. Verifica-se ainda que no Modelo 2, o número de

pontos com dano na interface betão/rocha é ligeiramente superior ao obtido no Modelo 1.

Page 121: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

95

a) MC1 b) MC2

Figura 5.15 - Dano nas interfaces considerando MC1 e MC2 para o Modelo 1 de barragem com

fundação linear.

a) MC1 b) MC2

Figura 5.16 - Dano nas interfaces considerando MC1 e MC2 para o Modelo 2 de barragem com

fundação linear.

5.4.2.1 Pressões na base da barragem e na cunha de fundação

Para verificar o efeito das subpressões ao longo da base da barragem e da cunha de fundação,

também se analisou esta distribuição das pressões previamente à aplicação de forma iterativa da

amplificação de carga hidrostática por aumento da cota de água. Em todas as análises realizadas

considerou-se a presença da cortina de impermeabilização e do sistema de drenagem.

Page 122: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

96

Na Figura 5.17 apresenta-se a distribuição de pressões relativas aos Modelos 1 e 2, ao longo da

base da barragem, desde o pé de montante até parte da cunha. Verifica-se que, tal como no

método de redução das resistências, as pressões são semelhantes para os dois modelos e para as

duas hipóteses de comportamento da fundação.

Tanto no modelo de barragem de altura de 15 m como no de 30 m, observa-se que os valores de

pressão hidrostática no pé de montante de barragem correspondem aos valores da carga hidráulica

impostos a montante. Observa-se também que em ambos os modelos a pressão decresce de forma

linear para o valor previsto devido à presença do sistema de drenagem (1/3 do valor da pressão no

pé de montante) na zona onde está inserido este dispositivo de controlo do escoamento,

terminando com a pressão imposta a jusante (valor nulo) na zona da cunha. O digrama bilinear

obtido reproduz de forma aproximada o modelo bilinear regulamentar adotado em fase de projeto.

Dado que a distribuição de subpressões é muito semelhante em ambos os modelos para as duas

hipóteses de comportamento da fundação, a diferença de comportamento observada em cada

geometria de barragem em função do comportamento da fundação não se deve a diferenças nos

valores das subpressões, mas sim à influência que o comportamento da fundação tem no

comportamento global da barragem.

a) Modelo 1 b) Modelo 2

Figura 5.17 - Distribuição de pressões na base da barragem para os Modelos de barragem 1 e 2.

0

50

100

150

0 5 10 15 20 25

Pre

ssão

da

águ

a [k

Pa]

Distância ao longo da base da barragem a

partir do pé de montante [m]

Fundação não-linear

Fundação linear

0

50

100

150

200

250

300

0 10 20 30 40

Pre

ssão

da

águ

a [k

Pa]

Distância ao longo da base da barragem a

partir do pé de montante [m]

Fundação não-linear

Fundação elástica

Page 123: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

97

5.4.2.2 Caudal percolado

De forma a estudar a influência que a hipótese de comportamento da fundação tem sobre o caudal

percolado, registaram-se os valores numéricos do caudal percolado na fundação da barragem. Na

Tabela 5.11 apresentam-se os caudais obtidos nos Modelos 1 e 2 para os tipos de fundação

considerados.

Tabela 5.11 - Caudais percolados para os Modelos de barragem 1 e 2.

Fundação linear Fundação não-linear

Modelo Caudal percolado

𝑄 [𝑚3𝑠−1]

Caudal percolado

𝑄 [𝑚3𝑠−1]

1 1,55 × 10-4 1,70 × 10-4

2 2,99 × 10-4 3,51 × 10-4

Por observação da Tabela 5.11, conclui-se que os caudais são mais elevados se for adotado um

modelo de fundação não-linear, como seria de esperar. Tomando em consideração a abertura das

juntas, pode-se concluir que essa situação afeta o escoamento e explica os caudais mais elevados

registados numa fundação não-linear. O facto de o Modelo 2 apresentar caudais superiores deriva

da maior dimensão da barragem em comparação com o Modelo 1. Constata-se também que os

valores dos caudais são quase idênticos aos obtidos através do método de redução das

resistências.

Page 124: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

98

Page 125: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

99

6 CONCLUSÕES

6.1 Aspetos relevantes dos estudos efetuados

Neste trabalho propõe-se a utilização de modelos de fenda discreta para o contacto betão/rocha e

betão/betão, assim como um modelo hidromecânico tridimensional de base discreta para análise

da estabilidade de barragens de betão ao deslizamento. Os modelos de enfraquecimento adotados,

quando comparados com modelos do tipo frágil, permitem a obtenção de uma resposta mais

próxima da observada experimentalmente em ensaios de tração e de corte em provetes

betão/rocha e betão/betão.

Apresenta-se de forma sucinta o modelo tridimensional de comportamento hidromecânico de base

discreta adotado, que considera um acoplamento sequencial entre o modelo hidráulico e o modelo

mecânico, realizando-se estudos paramétricos de validação que permitiram avaliar a importância

dos parâmetros mais relevantes do modelo hidráulico, nomeadamente a abertura das

descontinuidades com tensão normal nula e o fator de permeabilidade do canal de escoamento, e a

sua influência na distribuição de pressões e nos caudais percolados. Procurou-se igualmente

estabelecer a relação entre a abertura mecânica, a abertura das descontinuidades com tensão

normal nula e as aberturas hidráulicas mínima e máxima e quantificar a influência de cada um

desses parâmetros na definição da abertura hidráulica do canal de escoamento.

Apresentam-se de forma sucinta os modelos constitutivos de interface com enfraquecimento

adotados na avaliação da estabilidade de barragens ao deslizamento. Apresentam-se exemplos de

validação para campos de tensão de tração, corte e compressão/corte que ocorrem quer no interior

do betão quer na interface de contacto betão/rocha. Os exemplos apresentados validam a

implementação tridimensional do modelo do tipo elasto-plástico, verificando-se ainda que ambos

os modelos de enfraquecimento apresentam comportamentos semelhantes para os ensaios

analisados.

Apresenta-se a metodologia de análise de segurança tradicionalmente adotada na verificação à

rotura pela superfície de ligação betão/rocha, baseada no método de redução das resistências para

valores elásticos. Apresenta-se ainda a análise de um cenário de majoração da pressão hidrostática

associado a uma subida de cota de água. Para ambas as situações, analisam-se duas barragens

gravidade com alturas de 15 e 30 m, considerando um modelo de fundação elástica e um modelo

Page 126: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

100

de fundação não linear com famílias de descontinuidades horizontais e verticais, formando uma

malha ortogonal. Em ambos os modelos, considerou-se a jusante a existência de uma

descontinuidade inclinada que permite modos de rotura mais complexos.

A análise de redução de resistência permite concluir que em ambos os modelos o modo de rotura

não é influenciado pelo comportamento não linear do betão, estando apenas associado ao

deslizamento na interface betão/rocha. Assim, em barragens gravidade a adoção de modelos de

comportamento não linear no betão não é essencial para a análise de segurança relativamente a

este cenário.

Num cenário de majoração da pressão hidrostática associado a uma subida de cota de água

verifica-se em ambos os modelos que os fatores de segurança são muito superiores aos obtidos na

análise de redução de resistências, observando-se ainda que a barragem com maior altura

apresenta fatores de segurança ao deslizamento inferiores. Verifica-se ainda que ambos os

modelos de enfraquecimento conduzem a fatores de segurança similares. Nos modelos com

fundação elástica o modo de rotura é um modo misto de deslizamento, com rotação em torno do

pé de jusante e nos modelos com fundação não linear a rotura corresponde a um modo misto de

deslizamento numa descontinuidade horizontal localizada a uma cota inferior à da base da

barragem, com rotação para jusante.

6.2 Desenvolvimentos futuros

Como sugestão para trabalhos futuros considera-se interessante a realização dos seguintes

estudos:

Aplicação da formulação apresentada a barragens abóbada, onde é expetável que a

adoção de um comportamento não linear no betão seja mais relevante, quer no cenário de

redução de resistências, quer no cenário de amplificação de cargas;

Introdução no modelo das principais falhas e famílias de descontinuidades do maciço de

fundação que permita a obtenção de cenários de deslizamento mais complexos;

Consideração da amplificação das subpressões em conjunto com a amplificação das

pressões no modelo mecânico, e modelação do comportamento hidromecânico durante o

processo de amplificação de cargas;

Page 127: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

101

Aplicação da metodologia adotada na análise da segurança ao deslizamento sob ações

sísmicas.

Page 128: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

102

Page 129: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

103

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Page 133: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

107

ANEXO - VERIFICAÇÃO E VALIDAÇÃO DO MÓDULO

COMPUTACIONAL PARMAC3D-FFLOW

De modo a verificar e validar o módulo computacional Parmac3D-FFlow foram analisadas duas

estruturas simples. Em primeiro lugar, considerou-se uma consola, com a finalidade de se obterem

(e compararem) os deslocamentos na mesma, para três diferentes tipos de elementos finitos: 8

nós, 20 nós e tetraedros. Esta abordagem inicial permitiu conhecer os instrumentos de comando

do programa, assim como o seu ciclo de cálculo. Seguidamente analisou-se, tendo em conta

diferentes tipos de elementos de interface, um pórtico composto por uma viga e dois pilares, a fim

de se obterem os correspondentes deslocamentos e tensões. Em ambos os casos os valores obtidos

com os modelos numéricos foram comparados com soluções analíticas.

A1.1 Consola

Na Figura A.1 apresenta-se a geometria do modelo da consola referida anteriormente, com 12 m

de comprimento, secção quadrada com 1 m de aresta e um encastramento na face esquerda,

impedindo assim, nessa secção, os deslocamentos e rotações em todas as direções. Note-se que

nesta análise apenas de considerou a consola sujeita ao seu peso próprio.

Figura A. 1 - Modelo geométrico da consola.

As propriedades mecânicas adotadas para a consola estão apresentadas na Tabela A.1.

Page 134: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

108

Tabela A. 1 - Propriedades mecânicas do material da consola.

Módulo de Young

E [GPa] 30,0

Coeficiente de Poisson ν [-]

0,20

Massa volúmica

ρ [ton/m3] 2,40

Modelo Numérico

Usando o módulo computacional Parmac3D-FFlow, foram analisadas diversas malhas, com

diferentes tipos de elementos e níveis de discretização.

No que concerne ao tipo de elemento, utilizaram-se elementos hexaédricos de 8 e 20 nós e

hexaedros de 27 nós com o interior discretizado por 24 tetraedros e 48 tetraedros. Em todas as

malhas consideraram-se hexaedros com 0,50 m de comprimento e 0,25 m de largura e altura.

De seguida, realizou-se um refinamento para a malha de elementos hexaédricos de 8 nós através

da redução das dimensões das arestas dos elementos. Os hexaedros, neste caso, passaram a ter

0,125 m de comprimento e 0,0625 m de largura e altura.

Na Tabela A.2 indicam-se os números de elementos e de nós das diferentes malhas utilizadas. Na

Figura A.2 ilustram-se as deformadas obtidas com as diferentes malhas testadas.

Tabela A. 2 - Caracterização das malhas.

Comprimento

[m]

Largura

[m]

Altura

[m]

Número

de nós do

elemento

[N]

Discretização

[T]

Número total

de elementos

Número

total de nós

Sem

refinamento

0,5 0,25 0,25 8 - 384 625

0,5 0,25 0,25 20 - 384 2225

0,5 0,25 0,25 27 24

Tetraedros 9216 2369

0,5 0,25 0,25 27 48

Tetraedros 18432 3969

Com

refinamento 0,125 0,0625 0,0625 8 - 24576 28033

Page 135: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

109

Figura A. 2 – Deformadas obtidas com as diferentes malhas.

Por observação da Figura A.2, observa-se que só com um refinamento muito significativo da

malha de elementos finitos de 8 nós (8N refinado) é que se consegue obter um desempenho

próximo do da malha de elementos finitos hexaédricos de 20 nós. Verifica-se igualmente que com

uma malha de elementos finitos tetraédricos (27N24) obtém-se uma curva de deflexão próxima da

obtida com uma malha de elementos finitos hexaédricos de 8 nós (8N), no entanto a malha

tetraédrica requer um maior número de elementos finitos. Conclui-se que a malha de elementos

finitos hexaédricos de 20 nós com funções de interpolação do 2º grau é a que apresenta

deslocamento máximo mais próximo do valor teórico (Tabela A.3). Caso se adotem elementos

finitos do tipo tetraédrico ou do tipo hexaédrico de 8 nós é necessário adotar na discretização um

número significativo de elementos finitos de modo a se obter um desempenho da mesma ordem.

Por este motivo em problema estruturais com flexão (ex. barragens abóbada) é usual adotar-se na

discretização elementos finitos hexaédricos de 20 nós.

A Figura A.3 representa o modelo numérico obtido através do Parmac3D, para a malha

anteriormente referida.

-0,025

-0,02

-0,015

-0,01

-0,005

0

0 2 4 6 8 10 12

Des

loca

men

to Y

[m

]

Distância à secção de encastramento [m]

27N24

8N

27N48

8N Refinado

20N

Page 136: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

110

Figura A. 3 - Modelo numérico para a malha de elementos de 20 nós.

Por curiosidade, também se testou uma malha de hexaedros de 20 nós para um caso em que o

amortecimento na consola não foi considerado, podendo-se desse modo visualizar a vibração não

amortecida da consola. A Figura A.4 ilustra o gráfico onde se observa o fenómeno referido.

Figura A. 4 - Vibração não amortecida para malha de 20 nós.

Solução Analítica

O deslocamento na extremidade livre da consola obtido com a malha de 20 nós foi comparado

com o deslocamento teórico dado pela teoria de vigas (modelo de viga de Euler-Bernoulli). A

-60

-50

-40

-30

-20

-10

0

10

0,00E+00 1,00E+05 2,00E+05 3,00E+05 4,00E+05 5,00E+05

Des

loca

men

to [

mm

]

Tempo [s]

Vibração não amortecida

Page 137: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

111

Figura A.5 apresenta a correspondente deformada da consola devida ao seu peso próprio, sendo o

deslocamento da extremidade da consola dado pela Equação (A.1).

Figura A. 5 - Deformada da consola segundo o modelo de Euler-Bernoulli.

𝛅 =𝐩 𝐋𝟒

𝟖 𝐄 𝐈 (A.1)

onde 𝑝 representa o peso uniformemente distribuído [kN/m], 𝐿 o comprimento da consola [m], 𝐸

o módulo de Young [kPa] e 𝐼 o momento de inércia [m4].

Análise de Resultados

Seguidamente, realizou-se a comparação entre os resultados numéricos e analíticos para o

deslocamento da extremidade livre da consola. Observou-se que os valores são praticamente

iguais, como se conclui pela análise da Tabela A.3, sendo o valor obtido através do Parmac3D

somente 0.27% superior ao valor obtido analiticamente. Na Figura A.6 está representada a

deformada da consola devida ao peso próprio, obtida pelo programa.

Concluiu-se assim que a malha de hexaedros de 20 nós fornece resultados bastante precisos e

satisfatórios para o deslocamento na extremidade livre da consola.

Tabela A. 3 - Deslocamentos na extremidade livre da consola.

δ [mm]

Parmac3D 0,02495

Solução Analítica 0,02488

Page 138: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

112

Figura A. 6 - Deformada da consola devida ao peso próprio.

A1.2 Pórtico com elementos de interface

Na análise numérica do pórtico consideram-se malhas com: hexaedros de 20 nós, hexaedros de 20

nós com elementos triangulares nas interfaces e tetraedros com elementos triangulares nas

interfaces. Fazendo-se variar a rigidez (normal e de corte) dos elementos de interface, obtiveram-

se e compararam-se os resultados relativos a deslocamentos e a tensões segundo o eixo x.

Na Figura A.7 apresenta-se a estrutura do pórtico, com dois pilares e uma viga. Esta última tem

comprimento total de 10 m e secção transversal quadrada com 1 m de aresta. Os pilares, também

com secção transversal quadrada de iguais dimensões às da viga, têm 5 m de altura e encontram-

se encastrados nas suas bases. Na ligação viga-pilar consideram-se elementos de interface.

Figura A.7 - Modelo geométrico do pórtico.

Page 139: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

113

A viga, representada na Figura A.7 pelo número 1, e os pilares, referenciados pelo número 2, têm

propriedades mecânicas diferentes, apresentando-se na Tabela A.4 as propriedades

correspondentes a cada elemento estrutural.

Tabela A. 4 - Propriedades mecânicas dos elementos que constituem o pórtico.

Viga (1) Pilares (2)

Módulo de Young

E [GPa] 30,0 20,0

Coeficiente de Poisson

ν [-] 0,20 0,15

Massa volúmica ρ [ton/m3]

2,40 2,60

Os parâmetros da rigidez normal (𝑘𝑛) e de corte (𝑘𝑠) das interfaces, são definidos através das

seguintes equações:

𝒌𝒏 ≈𝑬

𝒕 (A.2)

𝒌𝒔 ≈ 𝜶𝒌𝒏 (A.3)

onde 𝐸 representa o módulo de Young, 𝑡 a espessura fictícia do elemento de interface e o

parâmetro 𝛼 relaciona a rigidez normal e de corte, tomando o valor de 0.4.

De modo a variar a rigidez normal e de corte das interfaces, tiveram-se em conta duas espessuras

fictícias (𝑡) diferentes. Na Tabela A.5, indicam-se as componentes de rigidez correspondentes às

propriedades mecânicas dos dois diferentes materiais, tendo em conta as espessuras fictícias.

Tabela A. 5 - Variação de rigidez dos elementos de interface.

Viga (1) Pilares (2)

kn [GPa/m]

ks [GPa/m]

kn [GPa/m]

ks [GPa/m]

t [m]

1 30 12 20 8

0,1 300 120 200 80

Na Figura A.8 apresenta-se a deformada do pórtico para a ação do peso próprio, assumindo

comportamento elástico nos elementos de interface.

Page 140: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

114

Figura A. 8 - Deformada do pórtico.

Solução Analítica

Nas Equações (A.5) e (A.6) apresentam-se, respetivamente, os valores teóricos do deslocamento a

meio vão de uma viga encastrada em ambas as extremidades e do deslocamento a meio vão de

uma viga simplesmente apoiada:

𝜹 = 𝒑 𝑳𝟒

𝟑𝟖𝟒 𝑬 𝑰

(A.5)

𝜹 =𝟓 𝒑 𝑳𝟒

𝟑𝟖𝟒 𝑬 𝑰

(A.6)

Onde 𝑝 representa a carga aplicada (kN/m), 𝐿 representa o comprimento da viga (m), 𝐸 representa

o módulo de Young (kPa) e 𝐼 representa o momento de inércia (m4)

Análise de Resultados

Na Figura A.9 estão representados os deslocamentos da viga segundo o eixo y, para as diferentes

variações de rigidez adotadas nos elementos de interface e considerando diferentes malhas no

modelo numérico. Foi testado na malha de 20 nós (20N) um modelo não-linear para uma

espessura de 𝑡 = 1 𝑚, verificando-se que é este o modelo que apresenta maiores deslocamentos

ao longo do comprimento da viga. Constata-se também que não há grandes diferenças entre os

resultados obtidos com a malha de 20 nós (20N) e com a malha de 20 nós com elementos de

Page 141: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

115

interface triangulares (20N-Triangular), ao passo que a malha de tetraedros apresenta menores

deslocamentos a meio vão.

Figura A. 9 – Deslocamentos da viga segundo y, para diferentes malhas e diferentes rigidezes.

Na Tabela A.6 apresentam-se os deslocamentos a meio vão da viga obtidos a partir do módulo

computacional Parmac3D-FFlow para as diferentes hipóteses de rigidez e comparam-se esses

valores com os obtidos a partir das Equações (A.5) e (A.6), correspondentes aos deslocamentos

teóricos de uma viga encastrada e de uma viga simplesmente apoiada.

Tabela A. 6 – Deslocamentos a meio vão da viga.

δ [mm]

Parmac3D-FFlow t [m]

1 NL (20N) 0,572

0,1 (Tetraedros) 0,348

0,1 (20N) 0,386

0,1 (20N-Triangular) 0,386

1 (Tetraedros) 0,408

1 (20N) 0,439

1 (20N-Triangular) 0,441

Solução Analítica Encastrado 0,417

Apoiado 2,083

-0,7

-0,6

-0,5

-0,4

-0,3

-0,2

-0,1

0

0,1

0,2

0 2 4 6 8 10

Des

loca

men

to [

mm

]

Comprimento da viga [m]

t = 0,1m (Tetraedros)

t = 0,1m (20N)

t = 0,1m (20N-Triangular)

t = 1m (Tetraedros)

t = 1m (20N)

t = 1m (20N-Triangular)

t = 1m NL (20N)

Page 142: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

116

Seguidamente, apresentam-se os campos de tensões segundo x considerando as diferentes

espessuras fictícias e as diferentes malhas.

Verifica-se que o modelo não-linear apresenta as maiores tensões na parte inferior da viga.

Constata-se também que não existem diferenças substanciais entre a malha de 20 nós (20N) e a

malha de 20 nós com interfaces triangulares (20N-Triangular). Verifica-se também que a malha

de tetraedros apresenta menores tensões que as restantes.

Comparando as tensões e os deslocamentos obtidos através das malhas e das espessuras fictícias,

é possível concluir que os deslocamentos e as tensões segundo x a meio vão da viga seguem a

mesma relação de ordem para os diferentes modelos analisados.

Figura A.10 - Tensões na viga segundo eixo x: malha 20N (t = 0,1 m).

Page 143: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

117

Figura A.11 - Tensões na viga segundo eixo x: malha 20N (t = 1 m).

Figura A. 12 - Tensões na viga segundo x: malha 20N - modelo não-linear.

Page 144: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

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a) t = 0,1 m (20N-Triangular)

b) t = 1 m (20N-Triangular)

Figura A. 13 - Tensões na viga segundo x: malha 20N-triangular.

Page 145: Análise de estabilidade de barragens gravidade com modelo

119

a) t = 0,1 m (Tetraedros)

b) t = 1 m (Tetraedros)

Figura A. 14 - Tensões na viga segundo x: malha tetraédrica.