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ANÁLISE DE CONFIABILIDADE DE PROCESSOS INDUSTRIAIS VIA REDES BAYESIANAS LUCA NOBRE 1 ,PHELLIPE SILVA 1 , ALLAN VENCESLAU 1 , DANIEL MACEDO 1 ,IVANOVITCH SILVA 2 , LUIZ AFFONSO GUEDES 1 1. Laboratório de Informática Industrial, Departamento de Engenharia de Computação e Automação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte Av. Senador Salgado Filho, 3000 Lagoa Nova, Natal, Rio Grande do Norte 2. Laboratório de Informática Industrial, Instituto Metrópole Digital, Universidade Federal do Rio Grande do Norte Av. Senador Salgado Filho, 3000 Lagoa Nova, Natal, Rio Grande do Norte E-mails: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected], [email protected] Abstract Bayesian Networks are graphical tools that treat dependency between variables in a probabilistic space. Such tool is gaining value in the industrial automation area, especially for having flexibility to deal with problems which treats uncertainty. In the reliability analysis of systems, Bayesian methods became important for being able to use data from samples and previous observations in analysis and future conclusions. Due to its great potential, the following paper will present a case study of an industrial plant’s reliability analysis using this approach, pointing out the capability of generating different scenarios besides the visual representation of the results. Keywords Reliability Analysis, Bayesian Networks, Industrial Automation, Intelligent Automation, risk assessment. Resumo Redes Bayesianas são ferramentas matemáticas gráficas que tratam dependência entre variáveis aleatórias em um ambiente probabilístico. Tal ferramenta vem ganhando espaço na área de automação industrial, principalmente por possuir flexibilidade para lidar com problemas que tratam incertezas. Na área de análise de confiabilidade de sistemas, métodos bayesianos ganharam importância por poderem usar dados de amostras e observações passadas em análises e conclusões futuras. Diante do seu grande potencial, neste artigo será apresentado um estudo de caso de análise de confiabilidade de uma planta industrial utilizando-se essa abordagem, ressaltando-se capacidade para geração de diversos cenários de análise, além da representação visual dos seus resultados. Palavras-chave Confiabilidade, Redes Bayesianas, Automação Industrial, Automação Inteligente, Avaliação de Risco. 1 Introdução Com o advento da economia globalizada, observou-se um aumento na demanda por produtos e sistemas de melhor desempenho, seguros e a custos competitivos. Desta maneira, surgiu à necessidade de tornar os equipamentos industriais mais robustos a falhas, o que resultou numa ênfase crescente no estudo da confiabilidade industrial (Fogliato, 2009). Assim, definimos confiabilidade como sendo a probabilidade de que um componente, equipamento ou sistema exercerá sua função sem falhas por um período de tempo previsto, sob condições de operação especificadas. Essa medida para confiabilidade possui uma grande importância em diversos campos da engenharia, pois em um mercado competitivo procura-se não somente produzir um equipamento a um menor custo, mas também aumentar o valor agregado a ele (Simonetti, 2009). Portanto, torna-se indiscutível a importância do estudo da confiabilidade em sistemas industriais modernos. Dado a importância de se analisar a robustez dos sistemas, uma gama de formalismos foi criada para a modelagem quantitativa de confiabilidade dos mesmos. Os diagramas de bloco de confiabilidade (RBD), análise de árvores de falhas (FTA) e cadeias de Markov de tempo contínuo ou discreto (CTMC/DTMC) são exemplos de técnicas quantitativas amplamente usadas na indústria (Rouvroye, 2002). Técnicas qualitativas como a análise de modo e efeito de falhas (FMEA) e a análise no espaço de estados também são abordagens estabelecidas na área (Sellitto, 2002). Apesar disso, alguns formalismos apresentam limitações por não incorporar características dinâmicas e dependência entre os eventos, além de tornarem a analise de confiabilidade de sistemas mais complexas, sua modelagem pode se tornar uma tarefa bastante árdua. Em face a esse contexto, o formalismo de redes bayesianas (RB) vem ganhando espaço na área de análise de confiabilidade para sistemas industriais. Esse crescente interesse pelas RB se deve a vários motivos, dentre eles podemos destacar a flexibilidade na modelagem de sistemas, a facilidade intuitiva de entendimento e a capacidade de estabelecer uma relação de causa e efeito. Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014 2939

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ANÁLISE DE CONFIABILIDADE DE PROCESSOS INDUSTRIAIS VIA REDES BAYESIANAS

LUCA NOBRE1,PHELLIPE SILVA1, ALLAN VENCESLAU1, DANIEL MACEDO1,IVANOVITCH SILVA2, LUIZ AFFONSO

GUEDES1

1. Laboratório de Informática Industrial, Departamento de Engenharia de Computação e

Automação, Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Av. Senador Salgado Filho, 3000 – Lagoa Nova,

Natal, Rio Grande do Norte

2. Laboratório de Informática Industrial, Instituto Metrópole Digital,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Av. Senador Salgado Filho, 3000 – Lagoa Nova,

Natal, Rio Grande do Norte

E-mails: [email protected], [email protected],

[email protected], [email protected],

[email protected], [email protected]

Abstract Bayesian Networks are graphical tools that treat dependency between variables in a probabilistic space. Such tool is

gaining value in the industrial automation area, especially for having flexibility to deal with problems which treats uncertainty. In

the reliability analysis of systems, Bayesian methods became important for being able to use data from samples and previous observations in analysis and future conclusions. Due to its great potential, the following paper will present a case study of an

industrial plant’s reliability analysis using this approach, pointing out the capability of generating different scenarios besides the

visual representation of the results.

Keywords Reliability Analysis, Bayesian Networks, Industrial Automation, Intelligent Automation, risk assessment.

Resumo Redes Bayesianas são ferramentas matemáticas gráficas que tratam dependência entre variáveis aleatórias em um

ambiente probabilístico. Tal ferramenta vem ganhando espaço na área de automação industrial, principalmente por possuir

flexibilidade para lidar com problemas que tratam incertezas. Na área de análise de confiabilidade de sistemas, métodos bayesianos

ganharam importância por poderem usar dados de amostras e observações passadas em análises e conclusões futuras. Diante do seu grande potencial, neste artigo será apresentado um estudo de caso de análise de confiabilidade de uma planta industrial

utilizando-se essa abordagem, ressaltando-se capacidade para geração de diversos cenários de análise, além da representação visual

dos seus resultados.

Palavras-chave Confiabilidade, Redes Bayesianas, Automação Industrial, Automação Inteligente, Avaliação de Risco.

1 Introdução

Com o advento da economia globalizada, observou-se

um aumento na demanda por produtos e sistemas de

melhor desempenho, seguros e a custos competitivos.

Desta maneira, surgiu à necessidade de tornar os

equipamentos industriais mais robustos a falhas, o que

resultou numa ênfase crescente no estudo da

confiabilidade industrial (Fogliato, 2009).

Assim, definimos confiabilidade como sendo a

probabilidade de que um componente, equipamento

ou sistema exercerá sua função sem falhas por um

período de tempo previsto, sob condições de operação

especificadas. Essa medida para confiabilidade possui

uma grande importância em diversos campos da

engenharia, pois em um mercado competitivo

procura-se não somente produzir um equipamento a

um menor custo, mas também aumentar o valor

agregado a ele (Simonetti, 2009). Portanto, torna-se

indiscutível a importância do estudo da confiabilidade

em sistemas industriais modernos.

Dado a importância de se analisar a robustez dos

sistemas, uma gama de formalismos foi criada para a

modelagem quantitativa de confiabilidade dos

mesmos. Os diagramas de bloco de confiabilidade

(RBD), análise de árvores de falhas (FTA) e cadeias

de Markov de tempo contínuo ou discreto

(CTMC/DTMC) são exemplos de técnicas

quantitativas amplamente usadas na indústria

(Rouvroye, 2002). Técnicas qualitativas como a

análise de modo e efeito de falhas (FMEA) e a análise

no espaço de estados também são abordagens

estabelecidas na área (Sellitto, 2002). Apesar disso,

alguns formalismos apresentam limitações por não

incorporar características dinâmicas e dependência

entre os eventos, além de tornarem a analise de

confiabilidade de sistemas mais complexas, sua

modelagem pode se tornar uma tarefa bastante árdua.

Em face a esse contexto, o formalismo de redes

bayesianas (RB) vem ganhando espaço na área de

análise de confiabilidade para sistemas industriais.

Esse crescente interesse pelas RB se deve a vários

motivos, dentre eles podemos destacar a flexibilidade

na modelagem de sistemas, a facilidade intuitiva de

entendimento e a capacidade de estabelecer uma

relação de causa e efeito.

Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014

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Diante da relevância das RB para a área de

confiabilidade, o principal objetivo deste trabalho é

descrever um procedimento básico para a modelagem

de um processo industrial para análise de

confiabilidade. O procedimento consiste em criar um

modelo de inter-relação de falhas, quantificar a

probabilidade de cada evento isoladamente e

implementar esse modelo em uma ferramenta

computacional. Em seguida, podem ser realizadas

análises quantitativas a respeito da influência de cada

componente, tanto para a falha do sistema e quanto

para suas respectivas sensibilidades. Para melhor

explicitar os detalhes do modelo proposto, será

utilizado um estudo de caso de uma planta de controle

de nível devidamente instrumentada.

O restante desse artigo é organizado nas seguintes

seções: Na Seção 2 é introduzido o conceito de redes

bayesianas. Na Seção 3, é descrito um sistema que

será utilizado como estudo de caso para a análise de

confiabilidade. Na Seção 4, é apresentado o

procedimento para modelagem de confiabilidade via

RB, com as análises quantitativas e qualitativas

realizadas sobre esse modelo. Finalmente, na Seção 5

conclui-se o artigo e é apresentado direções para

trabalhos futuros.

2 Redes Bayesianas

Redes bayesianas são grafos acíclicos dirigidos que

representam dependências entre as variáveis de um

modelo probabilístico. Esta abordagem representa

uma boa estratégia para lidar com problemas que

tratam incertezas, onde conclusões não podem ser

construídas apenas do conhecimento prévio a respeito

do problema (Marques, 2002). Popularizadas no

campo da inteligência artificial, as RB possuem

inúmeras aplicações e são notadamente úteis e

flexíveis em situações onde existem dependências

locais entre variáveis. Algumas das diversas

aplicações são sugeridas em artigos na área da

engenharia espacial (ACS, 1996), robótica (Charniak,

1991) e medicina (Lucas, 2001). Weber (2012)

apresenta uma revisão bibliográfica sobre a aplicação

de redes bayesianas em diversas áreas, mostrando o

crescente interesse da utilização desse formalismo

para análise de confiabilidade de sistemas.

Em uma rede bayesiana, os nós representam

variáveis probabilísticas discretas ou contínuas e as

arestas representam a dependência entre os nós.

Também devemos levar em consideração que uma

variável pode possuir múltiplos estados e um nó pode

ligar-se com qualquer outro nó, isso levando em

consideração a ausência de ciclos no grafo em

questão.

Na Figura 1 exemplifica-se uma rede bayesiana

que modela a relação de causa-efeito entre variáveis

de um processo hipotético, onde nós

Defeito_valvula_01 e Alta_Temperatura são ditos nós

raízes e ao mesmo tempo são pais de Pressão_Bomba.

Isso significa dizer que existe uma relação de

dependência probabilística entre os pais e seu filho.

Esta relação nos permite estabelecer um vínculo de

causa e efeito, viabilizando a inferência probabilística,

que é uma das principais funções das redes

bayesianas.

Essa relação de causa e efeito é proveniente da

famosa fórmula de Bayes para probabilidade

condicional, (equação 1). Nesta relação, a

probabilidade do evento A ocorrer, dado que o evento

B ocorreu, é função das probabilidades a priori de

ocorrência dos eventos A e B e da probabilidade que

B ocorra dado que A ocorreu. Na estatística, o teorema

de Bayes é resultado de manipulações matemáticas

das probabilidades condicionais, sendo o mesmo

núcleo da teoria das redes bayesianas (Pearl, 1988).

)(

)()|()|(

BP

APABP=BAP (1)

Figura 1. Exemplo de rede bayesiana para modelar relações

causais.

A grande relevância da fórmula de Bayes se deve

ao fato que o conhecimento total sobre um cenário é

quase sempre incompleto; raramente, toda a verdade

sobre o ambiente é conhecida, assim, na maioria dos

casos as análises são feitas sob incerteza, no qual o

conhecimento é representado por um grau de crença

sobre os fatos conhecidos previamente. A crença em

determinado fato dependerá das percepções recebidas.

Para o caso que nenhuma evidência foi observada, as

probabilidades serão chamadas de probabilidades a

priori ou incondicionais. Após a observação de

qualquer evidência, as probabilidades serão chamadas

de a posteriori ou condicionais (Miralles, 2012).

Como dito anteriormente, a inferência é uma das

principais funções que uma rede bayesiana pode

oferecer, pois através dela pode obter-se conclusões e

atualizar as probabilidades da rede a partir de

observações.

Vamos tomar como exemplo a rede da Figura 1.

Cada nó possui sua probabilidade a priori, mas caso

alguma observação seja realizada, todas as outras

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Figura 2. Exemplo de inferência em uma rede bayesiana.

probabilidades da rede serão atualizadas a partir

dessa amostra. Isso é ilustrado pela Figura 02, onde o

nó Alta_Temperatura foi observado como verdadeiro.

Para que isso seja possível, todos os nós possuem uma

tabela de probabilidade condicional, mais conhecida

com CPTable, como exemplificado na Figura 3.

Y

X 1 0

1 P (Y|X) P (~Y|X)

0 P (Y|~X) P (~Y|~X)

Figura 3. Ilustração da Tabela de Probabilidade Condicional da

rede X → Y.

Antes de realizar as inferências e obter conclusões

da RB, há a necessidade de se ter as tabelas de todos

os nós devidamente preenchidas. Essas tabelas podem

ser vistas como uma matriz estocástica de todas as

probabilidades condicionais de cada nó.

Um dos problemas tradicionais da análise

probabilística de risco e de confiabilidade é como

contornar a escassez de dados. Muitas vezes, para que

se realizem inferências mais realistas é necessário que

nossa base de dados seja consistente e usualmente

faltam dados para preencher as tabelas. Para isso,

métodos de quantificação estão sendo sugeridos por

muitos autores, um deles é a elaboração de intervalos

de probabilidade (Firmino,2005) ou algoritmos de

população de tabelas (Das, 2004).

3 Descrição do processo

Nessa seção descreveremos a operação de um sistema

de controle de nível de um tanque, que será utilizado

como estudo de caso para melhor explicar os

procedimentos para análise da confiabilidade baseado

nas redes bayesianas. Esse sistema será baseado em

um sistema de controle de nível já estudado por

Lampis (2010), porém foram realizadas adaptações de

modo a melhor exibir os procedimentos de

modelagem via RB.

O sistema é composto por um tanque e uma

bandeja, conforme mostrado na Figura 4. Dois

sensores embutidos no tanque (representados por S1 e

S2) analisam se o nível está adequado e enviam essas

informações a seus respectivos controladores (C1 e

C2). Para uma boa execução do processo, o valor do

nível não deve ser menor que o estabelecido por S1 e

tampouco maior que o estabelecido por S2. O

controlador C1 é responsável por controlar a válvula

de entrada (V1) enquanto que o controlador C2 é

responsável pela válvula de saída de segurança (V3).

Caso uma falha ocorra e o tanque transborde, a

bandeja de segurança evitará que o líquido atinja

outros componentes do sistema, a mesma está

equipada com um sensor SP1 que indica se existe

presença de água ou não. Por sua vez, a válvula de

saída (V2) também está presente no sistema, porém

esta é operada manualmente. Dutos numerados de P1

a P6 são os meios por onde o líquido flui e estes

também são alvos de falhas como rachaduras e

obstruções. Neles estão embutidos três sensores de

vazão VF1, VF2 e VF3.

Figura 4. Sistema de controle de nível

Em operação normal, a válvula V2 se encontra

sempre aberta deixando o líquido sair, enquanto que a

válvula V1 fica aberta para tentar substituir o que

vazou da V2. Dessa forma, o nível do tanque se

mantém constante. A válvula V3 se encontrará

fechada a não ser que o nível do tanque alcance um

valor crítico.

Consideram-se também alguns outros aspectos

importantes, como:

V1 e V2 possuem a mesma capacidade de

vazão.

P5 e P6 são mais largos que os outros dutos,

a fim de facilitar no processo de secagem do

tanque em situações críticas.

Rachaduras em P2 e P4 não são consideradas

falhas, pois estas não interferem no

funcionamento natural do processo.

Se o tanque possui rachaduras, a vazão de

saída será maior que o normal.

Em relação às falhas do sistema, existem várias

possibilidades que serão explicitadas na Tabela 1.

Assume-se também que um componente apenas

apresenta uma falha por vez, por exemplo, um duto

não pode estar bloqueado e rachado ao mesmo tempo.

X Y

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4 Modelagem e resultados obtidos

O primeiro passo para fazer a modelagem de falhas

na abordagem proposta é a criação de um diagrama

arquitetural de causalidade. Como o sistema do estudo

de caso possui relativamente muitos nós e por

questões de simplicidade, optou-se por mostrar neste

trabalho apenas a modelagem de causalidade das

falhas que descreve o transporte de líquido pela

válvula V2. Esse diagrama é mostrado na Figura 5 e

foi baseado no modelo proposto por Lampis (2010). A

partir dele, foram extraídos os nós e as ligações entre

eles na RB.

Tabela 1 – Descrição das falhas dos componentes do sistema de

controle de nível.

Falha em componente

Descrição

PiB Duto Pi Bloqueado (Obstruído)

PiF Duto Pi Rachado

ViFC Válvula Vi falha em fechar

ViFO Válvula Vi falha em abrir

SiFH Sensor Si falha para cima

SiFL Sensor Si falha para baixo

CiFH Controlador Ci falha pra cima

CiFL Controlador Ci falha pra baixo

TR Tanque rachado

TL Tanque transbordando

NWMS Sem água na fonte

No diagrama mostrado na Figura 5, os nós com

fundo cinza escuro são os eventos primários ou folhas,

estes são descritos na Tabela 1 e serão preenchidos

com as probabilidades a priori na RB. Os nós com

fundo cinza claro representam eventos aleatórios que

são combinações de outros nós. A Figura 5 é um

exemplo de arquitetura de causalidade de falhas onde

é analisado o fluxo pela válvula 2 da planta em

questão.

De posse da arquitetura de causalidade de falhas,

como descrito na Figura 5, a próxima etapa no

procedimento é construir uma RB para modelar essa

causalidade. Essa modelagem é descrita na Figura 6.

Cada nó é representado por um quadrado cinza, esses

nós da rede são eventos aleatórios que possuem dois

estado, verdadeiro ou falso, ou seja, aconteceu ou não.

A probabilidade de um evento acontecer é

representada por uma barra vertical. As ligações entre

os nós representam a dependência entre eles. No caso,

considerou-se que todos os eventos descritos na

Tabela 1 têm probabilidade de ocorrência de 1%.

Figura 5. Arquitetura de causalidade de falhas para um cenário

específico de transporte de líquido pela válvula V2.

Após a modelagem das falhas via RB, o próximo

passo no procedimento é o preenchimento das tabelas

de probabilidade condicional de todos os nós que

possuem pais. O número de linhas da tabela a ser

preenchida cresce de acordo com o produto entre o

numero de estados de seus nós pais, como mostra a

equação 2, onde Ln é a quantidade de linhas da tabela

do nó e Pi é a quantidade de estados de seu nó pai i.

in P=L (2)

Em outras palavras, a CPTable é uma tabela

verdade das probabilidades condicionais de um dado

nó em relação ao seus pais. Como exemplo, pode-se

observar a CPTable do nó V1_Normal descrita na

Tabela 2.

Tabela 2 – Tabela de probabilidade do nó V1_Normal.

V1FC C1FH S1FH V1_

Normal

~V1_

Normal

Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro 0 1

Verdadeiro Verdadeiro Falso 0 1

Verdadeiro Falso Verdadeiro 0 1

Verdadeiro Falso Falso 0 1

Falso Verdadeiro Verdadeiro 0 1

Falso Verdadeiro Falso 0 1

Falso Falso Verdadeiro 0 1

Falso Falso Falso 1 0

Após completar todas as CPTables, temos acesso

a probabilidade a priori de todos os nós, e

posteriormente será possível realizar inferências sobre

a RB. Em primeiro caso, considerou-se que existiria

falha em um nó caso um dos pais falhasse, assim,

completamos as CPTables com valores binários,

representando falha ou não. Analisada as

probabilidades na Figura 6, podemos observar que o

fluxo na válvula 2 tem 88,6% de chance de ser

verdadeiro e 11,4% de chance de ser falso.

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Figura 6 - Probabilidade a priori de todos os nós com tabelas binárias.

Apesar de conseguir dados interessantes, deve-se

levar em consideração que a rede bayesiana do

sistema anterior foi modelada com valores binários

nas CPTables, como mostra a Tabela 2. Essa

característica particular de configuração faz com que

alguns nós da RB trabalhem como portas lógicas AND

ou OR, de forma similar às árvores de falhas

(Bobbio,2001).

Assim, fazendo uso de uma das principais

vantagens das RB, que é sua flexibilidade, é sugerido

um novo preenchimento das CPTables, agora com

valores mais condizentes com a realidade, entre o

intervalo de zero a um, como mostra a Tabela 3. Essa

análise de causa e consequência é feita com maior

dinamismo nas RB do que nas árvores de falhas.

Tabela 3 – Tabela de probabilidades do nó V1_Normal com

intervalo de zero a um.

V1FC C1FH S1FH V1_

Normal ~V1_

Normal

Verdadeiro Verdadeiro Verdadeiro 0.05 0.95

Verdadeiro Verdadeiro Falso 0.2 0.8

Verdadeiro Falso Verdadeiro 0.1 0.9

Verdadeiro Falso Falso 0.4 0.6

Falso Verdadeiro Verdadeiro 0.1 0.9

Falso Verdadeiro Falso 0.5 0.5

Falso Falso Verdadeiro 0.2 0.8

Falso Falso Falso 1 0.0

Seguindo uma configuração semelhante da

Tabela 3 para todos os nós da rede, temos uma rede

Bayesiana com probabilidades diferentes da anterior.

Assim, atingem-se os resultados da Rede 2 mostrados

na Tabela 4.

Também na Tabela 4, comparam-se as

probabilidades iniciais das duas redes Bayesianas. A

primeira modelada com tabelas binárias e outra

modelada com tabelas de intervalos de zero a um.

Após a quantificação das probabilidades de falhas

na rede bayesiana, podem ser realizadas as

inferências. Este procedimento basicamente analisa

como as probabilidades são influenciadas dado que

alguma evidência foi observada.

Por exemplo, caso seja observado que o nó

Tank_Water_Avalib se tornou falso, outros nós que

dependem diretamente e indiretamente deste serão

atualizados com novas probabilidades. Os resultados

dessa inferência na rede 2 podem ser observados na

Tabela 5.

Tabela 4 – Probabilidade a priori das duas redes.

Nós Rede 1 Rede 2

Flow_V2 0.886 0.877

V2FC 0.01 0.01

Water_Flows_P3_P4 0.97 0.952

Tank_Water_Avalib 0.923 0.926

NWMS 0.01 0.01

P1B 0.01 0.01

P3_Obst_Or_Cracked 0.02 0.03

P4B 0.01 0.01

TR 0.01 0.01

Water_Flows_System 0.932 0.932

P1_Obst_Or_Cracked 0.02 0.03

P1F 0.01 0.01

P3B 0.01 0.01

P3F 0.01 0.01

V1_Normal 0.97 0.981

S1FH 0.01 0.01

Water_Flows_P1_P2 0.97 0.952

P2B 0.01 0.01

V1FC 0.01 0.01

C1FH 0.01 0.01

Com essa análise, se torna claro alguns aspectos

que sem ajuda de uma ferramenta gráfica como o BR-

BayesianExpert seriam menos evidentes.

Fazendo uma análise comparativa das

probabilidades dos nós-folhas da rede bayesiana após

a inferência, percebe-se que as prováveis causas para

a falta de água no tanque (representado pelo nó

Tank_water_Avalib) possivelmente foi gerada por um

dos nós P2B, P1B e P1F, uma vez que suas

probabilidades são, respectivamente, 0.113, 0.112 e

0.112, levando a crer que a causa mais provável para

não haver água no tanque é o cano 2 estar obstruído.

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Outra possível análise feita a partir das redes

bayesianas é estudar seu comportamento à variação de

probabilidade. Isso pode ser feito de duas formas:

através de uma inferência nos nós-folha, gerando uma

propagação em direção aos nós subsequentes da rede

analisada de forma que é possível perceber o impacto

desta variação nos seus nós-filhos, ou ainda fazendo a

inferência inversa, observar um fato em um nó

subsequente e analisar quais os nós que podem ter

ocasionado aquela falha.

Tabela 5 – Probabilidade após inferência no nó

Tank_Water_Avalib na rede 2.

Nós Rede 2 após inferência

Tank_Water_Avalib 0.0

P2B 0.113

P1B 0.112

P1F 0.112

TR 0.097

NWMS 0.094

C1FH 0.026

S1FH 0.022

V1FC 0.02

V2FC 0.01

P4B 0.01

P3B 0.01

P3F 0.01

Assim, partido dos dispositivos da planta (V2FC,

V1FC, C1FH e S1FH), percebe-se que a primeira

análise, onde foi efetuada a variação de Flow_V2 indo

de 0% a 100% (eixo das abscissa) e foi analisado o

impacto dessa variação sobre cada dispositivo do

sistema (eixo das ordenadas), podendo ser visualizado

da Figura 7. Assim, se torna possível perceber qual o

provável elemento do processo que causou a falta de

fluxo em V2.

Esse estudo demonstrou que, das falhas de

dispositivos, a que tem maior influencia sobre a falta

de fluxo em V2 é a válvula 2 ter problema para fechar,

uma vez que, quando Flow_V2 foi falso, a maior

probabilidade de falha será no nó V2FC.

Figura 7 - Probabilidade em Flow_V2 X Probabilidade dos Nós-

Folha

A segunda análise estudou o comportamento do

nó Flow_V2 em função das probabilidades falhas dos

dispositivos (Figura 8). Esse tipo de análise nos

possibilita perceber quais os dispositivos e seções

mais criticas do sistema. Dessa forma, definir quais

deles são mais passiveis de reparo ou substituição.

Dito isso, percebe-se que a falha V2FC seja a

causa raiz mais provável para a não existência de fluxo

em V2. Esse resultado se justifica pelo fato de que

quanto maior a proximidade de dois nós em uma Rede

Bayesiana, maior será a influência de um nó com o

outro.

5 Conclusão

Esse trabalho abordou a análise de confiabilidade

de plantas industriais utilizando uma rede bayesiana.

O modelo proposto compreende as etapas de

modelagem das situações de falhas, a arquitetura de

causalidade, atribuições de valores para ocorrências

de falhas e inferências sobre a rede bayesiana. Para

melhor compreensão dessa abordagem, ao longo do

trabalho foi utilizado um sistema de controle de nível

como estudo de caso. Adicionalmente, para as análises

quantitativas e de influências de cada elemento na

falha do sistema, foi utilizada uma ferramenta

computacional, concebida e desenvolvida pelos

próprios autores para análise de confiabilidade,

denominada de BR-BayesianExpert.

Os resultados apresentados neste trabalho

mostraram que a rede bayesiana é um formalismo

matemático favorável a resolver problemas onde

conclusões não podem ser obtidas apenas do domínio

do problema, já que o conhecimento total de todas as

características de um sistema é muito difícil. Além

disso, a modelagem de falhas e inferências são

bastante intuitivas e flexíveis. Assim, esse formalismo

se apresenta como uma abordagem extremamente

promissora na área de análise de confiabilidade de

processos industriais.

Como trabalho futuro, pretende-se analisar o

emprego de redes bayesianas dinâmicas, de modo a

incorporar características sequenciais e temporais

associadas a falhas. Pretende-se também incorporar

outros índices de confiabilidade à ferramenta BR-

BayesianExpert, como criticidade e grau de

sensibilidade de um componente.

Figura 8 - Probabilidade dos Nós-Folha x Probabilidade em

Flow_V2

Anais do XX Congresso Brasileiro de Automática Belo Horizonte, MG, 20 a 24 de Setembro de 2014

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Agradecimentos

Os autores agradecem a Petrobrás/Cenpes,

CAPES, CNPq e a UFRN pela infraestrutura e suporte

ao desenvolvimento deste trabalho.

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