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  • 101MALVESTIO, L. M.; NERY, J. T. Anlise da Precipitao Pluvial do Municpio de Campinas (SP)...

    Geografia - v. 16, n. 1, jan./jun. 2007 Universidade Estadual de Londrina, Departamento de Geocincias

    ANLISE DA PRECIPITAO PLUVIAL DO MUNICPIO DE CAMPINAS (SP), EM DIFERENTES ESCALAS

    Lenidas Mantovani MalvestioGraduado em Geografia pela Unesp Campus Experimental de Ourinhos

    Grupo Clima/CNPq. E-mail: [email protected]

    Jonas Teixeira NeryDoutor em Meteorologia, Docente do curso de Geografia da Unesp - Campus Experimental de Ourinhos.

    Av. Vitalina Marcusso, 1500. Cep: 19910-206 - Ourinhos, SP. Grupo Clima/CNPq. E-mail: [email protected]

    RESUMO

    O objetivo deste trabalho foi analisar a precipitao pluvial do municpio de Campinas, So Paulo, em diferentes escalas. Dados de precipitao pluvial, obtidos junto a Agncia Nacional de gua (ANA), referentes ao perodo compreendido entre os anos de 1937 a 1999 serviram de base aos estudos. Vrias anlises envolvendo es-tatsticas descritivas foram realizadas, como a mdia, a mediana, desvio padro, quartis superior e inferior. Alm da aplicao da estatstica descritiva gerou-se um ndice trimes-tral com base nos dados de precipitao pluvial do municpio de Campinas. Este ndice foi correlacionado com valores de anomalias trimestrais da Temperatura da Superfcie do Mar (TSM) do Oceano Pacfico Equatorial. Constatou-se a existncia de significativa variabilidade da precipitao pluvial, nas diferentes escalas de anlise, assim como significativa correlao entre o ndice trimestral gerado e os valores trimestrais das anomalias da TSM no Oceano Pacfico Equatorial para a maioria dos eventos El Nio Oscilao Sul (ENOS) selecionados e correlacionados, dentro do perodo de estudo.

    Palavras-Chave: Campinas, ENOS, precipitao pluvial, TSM.

    RAINFALL ANALISYS IN CAMPINAS (SP), IN DIFFERENT SCALES.

    ABSTRACT

    The purpose of this work has been to analyse the rainfall in Campinas, So Paulo, in different scale. Rainfall data from 1937 to 1999 provided by Agncia Nacional

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    de guas (ANA) have been studied. Several analyses including descriptive statistics as the average, median and standard deviation have been performed. Along with the appli-cation of the descriptive analysis, a trimestral index based on the rainfall data of Campi-nas have been created. This index was correlated with values of trimestral anomalies of the Sea Surface Temperature (SST) of the Equatorial Pacific Ocean. The existence of significant variability of the rainfall has been observed in the different scales of analysis, as well as a significant correlation between the trimestral index created and the trimes-tral values of the SST anomalies in the Equatorial Pacific Ocean for most of El Nio Southern Oscillation events (ENSO) selected and correlated within the period of study.

    Key-Words: Campinas, ENSO, rainfall, SST.

    INTRODUO

    A regio Sudeste afetada pela maioria dos sistemas sinticos que atingem o sul do pas, com algumas diferenas em termos de intensidade e sazonalidade do sistema. Segundo Fernandes e Satyamurty (1994), os cavados invertidos [...] atuam principalmente durante o inverno, provocando condies de tempo moderado principal-mente sobre o Mato Grosso do Sul e So Paulo. Vrtices ciclnicos em altos nveis, oriundos da regio do Pacfico, organizam-se com intensa conveco associada instabilidade causada pelo jato subtropical. Linhas de instabilidade pr-frontais, geradas a partir da associao de fatores dinmicos de grande escala e caractersti-cas de meso-escala so responsveis por intensa precipitao, segundo Cavalcanti (1992) e Cavalcanti e Gan (1992). Especialmente sobre a regio Centro-Oeste, a Alta da Bolvia, [...] gerada a partir do forte aquecimento convectivo (liberao de calor latente) da atmosfera durante os meses de vero do Hemisfrio Sul (VIRGI, 1981), considerada como um sistema tpico semi-estacionrio da regio. A regio Sudeste caracterizada pela atuao de sistemas que associam caractersticas de sistemas tropicais com aquelas de sistemas tpicos de latitudes mdias. Durante os meses de maior atividade convectiva, a Zona de Convergncia do Atlntico Sul (ZCAS) um dos principais fenmenos que influenciam no regime de chuvas dessas regies (QUADROS, 1994). O fato da banda de nebulosidade e chuvas permanecer semi-estacionrias por dias seguidos, favorece a ocorrncia de inundaes nas reas afetadas.

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    Com relao ao regime de chuvas sobre o territrio de So Paulo, so duas as reas com maiores precipitaes: uma que acompanha a linha do litoral e os domnios da Serra do Mar, onde as chuvas so trazidas pelas correntes de sul e outra, do Oeste de Minas Gerais ao municpio do Rio de Janeiro.

    A altura anual da precipitao nestas reas superior a 1.500mm. Na serra da Mantiqueira estes ndices ultrapassam 1.750mm, e no alto do Itatiaia, 2.340mm. Na serra do Mar, em So Paulo, chove em mdia mais de 3.600mm. Prximo de Parana-piacaba e Itapanha foi registrado o mximo de chuva do pas (4.458mm, em um ano). Nos vales dos rios Jequitinhonha e Doce so registrados os menores ndices pluviom-tricos anuais, em torno de 900 mm. O mximo pluviomtrico da regio Sudeste normal-mente ocorre em janeiro e o mnimo em julho, enquanto o perodo seco (normalmente centralizado no inverno) possui desde uma durao desde seis meses, no caso do vale dos rios Jequitinhonha e So Francisco, at cerca de dois meses nas Serras do Mar e da Mantiqueira. As ligaes entre os efeitos climticos em diferentes partes do globo com os eventos El Nio tm sido estudadas devido as influncias que esses eventos provocam no clima do Brasil e do mundo. Foi necessrio muito tempo para compreender as vrias peas do quebra-cabea contendo correntes ocenicas, ventos e pesadas chuvas. Algumas dcadas atrs o cientista britnico

    Durante a dcada de 1920, enquanto cientistas na Amrica do Sul estavam atarefados documentando os efeitos locais do El Nio, Walker estava na ndia tentando en-contrar uma maneira de prever as mones. medida que manuseava registros mundiais de tempo, ele descobriu uma notvel conexo entre leituras baromtricas de estaes nos lados oriental e ocidental do oceano Pacfico. Ele observou que quando a presso cresce no leste ela geralmente cai no oeste e vice-versa. Walker criou o termo Oscilao Sul para representar esse sobe-desce dos barmetros no Pacfico equatorial. Quando a oscilao est em seu mximo, a presso alta no lado oriental do Pacfico e baixa no lado ocidental. Ao longo do Equador, o contraste de presso leste-oeste provoca ventos superficiais de les-te para oeste, que se estendem das Ilhas Galpagos at a Indonsia. Quando a oscilao muda para seu estado mnimo de pouco desequilbrio baromtrico, os ventos superficiais de leste para oeste se enfraquecem. Gilbert Walker, em seus trabalhos sobre conexes das chuvas em diferentes regies, associados a dinmicas climticas, em outros, observou que a estao das mones com a Oscilao Sul, em seu mnimo correspondia a severas se-cas na Austrlia, Indonsia, ndia e parte da frica. Ele tambm observou que os invernos, em perodos de oscilao mnima, tendiam a ser bastante amenos na poro ocidental do Canad (KOUSKY, 1989, 1996; ROPELEWSKI e HALPERT, 1987).

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    Nos anos seguintes, pesquisadores adicionaram outros aspectos ao quadro que contemplava a Oscilao Sul. Um desses aspectos veio de uma regio remota do globo terrestre (Walker no possua informaes das ilhas desrticas do Pacfico equa-torial central). De acordo com dados climticos comuns, essas ilhas recebiam tanta chuva, quanto em as que ocorrem em outras regies que apresentam uma vegetao exuberante, como as Florestas Tropicais. Ao analisar longas sries de dados pluviais observa-se que, na realidade, essas ilhas recebem pequenos volumes de precipitao na maioria dos anos. Entretanto, durante perodo de Oscilao Sul mnima elas experi-mentam chuvas torrenciais dia aps dia, ms aps ms. Portanto, o sobe-desce obser-vado por Walker est associado a mudanas dramticas na distribuio de chuvas nas regies tropicais (KOUSKY et al., 1984; HALPERT et al., 1996).

    Nesse sentido, o objetivo deste trabalho foi estudar a variabilidade da pre-cipitao pluvial no municpio de Campinas, So Paulo, buscando entender a evoluo das precipitaes em diferentes escalas temporais.

    MATERIAL E MTODO

    Foram utilizados dados de precipitao pluvial, no perodo 1937 a 1999. Os dados foram obtidos atravs do Sistema de Informaes Hidrolgicas (hidroweb) da Agncia Nacional de gua (ANA). Realizaram-se clculos de medidas de posio (me-didas que oferecem uma idia sobre o comportamento do conjunto de dados estudados) e de medidas de disperso (informam sobre a variao dos dados em relao mdia), tais como amplitude, desvio padro e coeficiente de variao para se compreender as caractersticas da precipitao do municpio de Campinas. Tais medidas so expressas atravs das seguintes equaes:

    Mdia:

    Sendo o valor mdio da varivel precipitao, o qual pode se referir a uma mdia mensal ou anual, por exemplo; o somatrio de todos os dados, sejam mensais ou anuais e a quantidade de dados envolvidos no clculo da mdia.

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