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 Anjo Negro (1946)- Nelson Rodrigues Dênis Moura de Quadros

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Apresentação da peça em aula de literatura dramática

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Anjo Negro (1946)- Nelson Rodrigues

Anjo Negro (1946)- Nelson RodriguesDnis Moura de QuadrosNelson Rodrigues escreveu 17 peas, a primeira foi A mulher sem pecado (1941) e a ltima foi A Serpente (1978). O crtico Sbato Magaldi divide as obras em: Peas psicolgicas; peas mticas e tragdias cariocas.A pea mais conhecida, trabalhada, estudada e montada do autor Vestido de Noiva (1943), pea que foi o divisor de guas, introduzindo o teatro moderno.Peas Mticaslbum de Famlia (1945) encenada em 1967;Anjo Negro (1946) encenada em 1948;Doroteia (1949) encenada em 1950;Senhora dos Afogados (1947) encenada em1954.Teatro Desagradvel de Nelson Rodrigues Com Vestido de noiva, conheci o sucesso; com as peas seguintes, perdi-o, e para sempre. No h nesta observao nenhum amargor, nenhuma dramaticidade. H, simplesmente, o reconhecimento de um fato e sua aceitao. Pois a partir de lbum de famlia drama que se seguiu a Vestido de noiva enveredei por um caminho que pode me levar a qualquer destino, menos ao xito. Que caminho ser este? Respondo: de um teatro que se poderia chamar assim desagradvel. Numa palavra, estou fazendo um teatro desagradvel,peas desagradveis. No gnero destas, inclui (sic, devendo-se ler-se incluo ou inclu), desde logo, lbum de famlia, Anjo negro e a recente Senhora dos afogados. E por que peas desagradveis? Segundo j disse, porque so obras pestilentas, ftidas, capazes, por si ss, de produzir o tifo e a malria na platia.Anjo Negro (1946)- Nelson RodriguesCensurado em fevereiro de 1948 e liberada em 2 de abril do mesmo ano no Teatro Fnix no Rio de Janeiro;TBC (Teatro Brasileiro de Comdias) que encenou Vestido de Noiva se nega a encenar Anjo Negro, mesmo na direo de Ziembinski;Quem encena a Cia de Maria Della Costa, com a atriz encenando no papel de Virgnia;O ator negro Abdias do Nascimento, criador do TEN (Teatro Experimental do Negro) no foi liberado para atuar com Maria Della Costa, por conter na pea cenas que poderiam incitar uma batalha de raas;Quem atua no papel de Ismael Orlando Guy, utilizando a tcnica Blackface;Anjo Negro uma das peas mais trabalhadas, estudadas e montadas de Nelson Rodrigues;

Anjo NegroCia Teatral Sala 3Direo e Adaptao:Altair de Sousa.Elenco:Marcelo Marques, Renata Ghizzi, Andreane Lima, Renata Weber, Lohanny Carvalho, Ju Albuquerque, Flavia Caroline, Cris Paim, Clcia SantAna, Serjo Bastos e Eduardo Teixeira.

Encenado em 2012.ANJO NEGROTragdia em 3 atosElias: Josef GuerreiroIsmael: Orlando GuyVirgnia: Maria Della CostaTia: Itlia FaustaAna Maria: Nicette BrunoProduo e cenrios: Sandro.Direo, cenrios e figurino: ZiembinskiA ao se passa em qualquer tempo, em qualquer lugar

Personagens de Anjo NegroISMAEL;VIRGNIA;ELIAS;ANA MARIA;TIA;PRIMAS;CRIADA;COVEIROS DE CRIANAS;E o CORO DAS PRETAS DESCALAS.

O grande problema que permeia os estudos sobre a pea de Nelson Rodrigues sua classificao e, da maioria das peas mticas sendo a exceo apenas Doroteia classificada como Farsa Irresponsvel, de tragdia. Contudo, os estudos afirmam que Rodrigues atualiza alguns mitos e coloca o heri contra a fatalidade trgica, ou seja, que constri peas que contm o efeito trgico.O Conceito de TrgicoPara Aristteles (1996) a obteno do efeito trgico s pode ser concebida atravs de uma harmoniosa composio;Compreendemos que para o filsofo grego o trgico tem relao com a queda do heri principiada por sua desmedida;Kitto (1990) afirma que o heri trgico culpado de presuno contra os deuses e punido por isso, tal queda acontecer, contudo cabe ao autor da tragdia manifestar a intensidade dessa queda;

Lesky (2010) compreende que as palavras de Goethe ao chanceler Von Mller so essenciais para captar o efeito trgico;Goethe diz que todo trgico se baseia numa contradio inconcilivel. To logo aparece ou se torna possvel uma acomodao desaparece o trgico";Lesky (2010) elenca trs requisitos bsicos para a obteno do efeito trgico:Dignidade da queda;Considervel altura da queda;Conscincia do sofrimento por parte do heri.Trajano Vieira (1999, p. XVII) diz que: O homem trgico um tipo problemtico por se situar entre dois universos absolutamente contraditrios. Compreendemos tais mundos como o mundo mtico dos deuses e o mundo racional dos homens;Bornheim (1992) diz que h dois pressupostos necessrios para a obteno do trgico: o heri trgico e o que o autor chama de ordem que varia entre valores, deuses, justia, entre outros;Bornheim (1992) ainda afirma que O conflito se compreende, assim, como suspenso na tenso dos dois polos. Deve-se mesmo afirmar que o trgico reside neste estar suspenso na tenso entre os dois pressupostos fundamentais (p. 74).O aparecimento do pensamento cristo com um deus onisciente que admite a conciliao faz com que o sentido trgico se distancie, tal pensamento, tambm, repele a tragdia.George Steiner cita trs possibilidades para as tragdias: que a tragdia esteja, de fato, morta; que ela continua em sua tradio essencial apesar das mudanas da forma tcnica; ou, por fim, que o drama trgico deve retornar vida (STEINER, 2006, p. 199).

Sendo a fbula, de acordo com Aristteles, a parte mais importante das tragdias, identificamos em ambas as peas que a peripcia acontece junto com o reconhecimento, alm das peas estarem permeadas de eventos patticos;De acordo com os trs requisitos elencados por Lesky (2010), Ismael consegue atend-los :Membros de famlias ilustres na sociedade;Ambos tm uma significativa queda, de considervel altura;Ambos tem conscincia dessa queda, desse sofrimento.Mesmo que haja a possibilidade de reconciliao, permitida pelo deus judaico-cristo, nem Ismael, nem Virgnia pensam em reconciliao ou fuga do constante sofrimento em que vivem. importante salientar e notar os fechamentos gradativos de espao em que Virgnia e, consequentemente, Ismael vo tendo: Casa>Quarto>mausolu.REFERNCIASRIES, P. Historia Social da Criana e da Famlia. Trad. Dora Flasman. 2 Ed. Rio de Janeiro: LTC, 2012;ARISTTELES. Potica. So Paulo: Nova cultural, 1996 (Coleo Os Pensadores);BOILEAU-DESPRUX, N. A Arte Potica. Trad. E Int. Clia Berrettini. So Paulo: Perspectiva, 1976;BORNHEIN, G. Breves observaes sobre o sentido e a evoluo do trgico. In O Sentido e a Mscara. So Paulo: Perspectiva, 1992;CASTRO, R. O Anjo Pornogrfico. So Paulo: Companhia das Letras, 1992;COSTA, L. M. A Potica de Aristteles: Mmese e Verossimilhana. So Paulo: tica, 1992;COSTA, L. M. e REMDIOS, M. L. R. A tragdia: Estrutura e Histria. So Paulo: tica, 1988;GOETHE, W., apud. LESKY, A. A tragdia Grega. trad. L. Guinsburg, Geraldo G. Souza e Alberto Guzik. So Paulo: Perspectiva, 2010. (debates);HERDOTO, Histria: O relato clssico da guerra entre Gregos e Persas. Trad. J. Brito Broca. So Paulo: Ediouro, 2001;KITTO, H. D. F. A Tragdia Grega. vol. 1 e 2. Trad. Jos Manuel C. Castro. Coimbra: Armnio Amado, 1990;LESKY, A. A tragdia Grega. trad. L. Guinsburg, Geraldo G. Souza e Alberto Guzik. So Paulo: Perspectiva, 2010. (debates);MAGALDI, S. Teatro da Obsesso: Nelson Rodrigues. So Paulo: Global, 2004;

NIETZSCHE, J. F. O nascimento da Tragdia ou Helenismo e Pessimismo. Trad. J, Guisburg. So Paulo: Companhia das Letras, 1992;RODRIGUES, N. Teatro Completo de Nelson Rodrigues, 2: Peas mticas. Org. e Int. Sbato Magaldi. So Paulo: Nova Fronteira, 1981._____________, O Reacionrio: Memrias e Confisses. So Paulo: Companhia das Letras, 1995._____________, A menina sem Estrela. So Paulo: Companhia das letras, 1993.ROMILLY, J. A tragdia Grega. Trad. Ivo Martinazzo. Braslia: Editora da Universidade de Braslia, 1998;SFOCLES. dipo Rei. Trad. Paulo Neves. Porto Alegre: L&PM, 1998.STEINER, G. A Morte da Tragdia. Trad. Isa Kopelman. So Paulo: Perspectiva, 2006 (Coleo Estudos);SZONDI, P. Ensaio sobre o Trgico. Trad. Pedro Sssekind. Rio de Janeiro: Zahar, 2004;VERNANT, J. P. As Origens do Pensamento Grego. Trad. sis Fonseca. Rio de Janeiro: Difel, 2002;VERNANT, J. P. e VIDAL-NAQUET, J. P. Mito e Tragdia na Grcia Antiga. So Paulo: Perspectiva, 1999.VIEIRA, T. Introduo Grcia de Jean-Pierre Vernant IN VERNANT, J. P. e VIDAL-NAQUET, J. P. Mito e Tragdia na Grcia Antiga. So Paulo: Perspectiva, 1999.