anjo amador

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Com apenas 18 anos, Ashley não é uma adolescente comum. Ela não apenas está morta, como, depois de sua morte, entrou por engano na fila errada - uma fila destinada a anjos da guarda treinados, prestes a iniciar a sua missão na Terra. Com um par de asas nas costas, ela é enviada para Los Angeles com a tarefa de substituir um anjo cuja "missão" era proteger ninguém menos do que o sexy roqueiro Cannon Michaels, líder da banda Sendher, o maior ídolo de Ashley.

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KARRI THOMPSON

Tradução:

Denise de C. Rocha Delela

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Título do original: Amateur Angel.

Copyright © 2012 Karri Thompson.Copyright da edição brasileira © 2013 Editora Pensamento-Cultrix Ltda.Publicado originalmente em inglês por Comfort Publishing.

Texto de acordo com as novas regras ortográfi cas da língua portuguesa.

1a edição 2013.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou usada de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico ou mecânico, inclusive fotocópias, gravações ou sistema de armazenamento em banco de dados, sem permissão por escrito, exceto nos casos de trechos curtos citados em resenhas críticas ou artigos de revistas.

A Editora Jangada não se responsabiliza por eventuais mudanças ocorridas nos endereços conven-cionais ou eletrônicos citados neste livro.

Esta é uma obra de fi cção. Todos os personagens, organizações e acontecimentos retratados neste romance são também produto da imaginação da autora e são usados de modo fi ctício.

Editor: Adilson Silva RamachandraCoordenação editorial: Denise de C. Rocha Delela e Roseli de S. FerrazProdução editorial: Indiara Faria KayoAssistente de produção editorial: Estela A. MinasEditoração Eletrônica: Join BureauRevisores: Liliane S. M. Cajado e Nilza Agua

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:

1. Ficção : Literatura norte-americana 813

Jangada é um selo editorial da Pensamento-Cultrix Ltda.Direitos de tradução para o Brasil adquiridos com exclusividade pelaEDITORA PENSAMENTO-CULTRIX LTDA que se reserva apropriedade literária desta tradução.Rua Dr. Mário Vicente, 368 — 04270-000 — São Paulo – SPFone: (11) 2066-9000 — Fax: (11) 2066-9008http://[email protected] feito o depósito legal.

Thompson, Karri Anjo amador / Karri Thompson ; tradução : Denise de C. Rocha Delela. — São Paulo : Jangada, 2013.

Título original: Amateur angel ISBN 978-85-64850-25-5

1. Ficção fantástica norte-americana I. Título.

12-14647 CDD-813

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Para meu marido, John, e meu fi lho, Kyle,por nunca me deixarem desistir;

Para minha mãe, meu pai e minha irmã, Korina,pelas suas críticas e apoio incondicional;

Para funcionários e alunos da Santana High School,pela inspiração;

Para Kathleen Rushall, a melhor agente queuma autora pode ter;

E para Oma, que sempre foi o meu anjo da guarda.

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Eu me tornei um anjo da guarda por acaso.Bem, na verdade, retiro o que disse. Como eu morri num aci-

dente de carro, tecnicamente me tornei um anjo da guarda poracidente, mas o que eu realmente quero dizer é que eu não deveria ter me tornado um anjo da guarda de jeito nenhum. Tudo aconteceu por engano, quando entrei na fi la errada.

Ora, não me interprete mal. Ser um anjo da guarda seria muito legal; o problema é que eu não estava realmente pronta para mor-rer ainda, embora não ache que alguém esteja. Perdi minha vida apenas duas semanas depois de me formar no ensino médio,que por acaso era o mesmo dia em que faria 18 anos. Que azar!, você deve estar dizendo. Ninguém nunca espera morrer no dia do pró-prio aniversário.

Enfi m, eu estava dirigindo pela autoestrada, seguindo o mesmo trajeto que fazia todos os dias ao voltar para casa do Sliders, o restau-rante onde sou... quero dizer... era recepcionista. Bem, o trânsito es-tava muito bom para uma tarde de sexta-feira e eu dirigia no limite da velocidade, o que provavelmente muito poucos motoristas fa-ziam. Peguei a minha saída e segui na direção do cruzamento onde eu sempre virava à direita.

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Normalmente, eu fi cava parada naquele semáforo, que é o mais demorado da cidade e fi ca vermelho rápido demais, obrigando os motoristas a pararem bem no meio do cruzamento até o trânsito fl uir novamente. Mas, não sei como, o semáforo estava verde daquela vez, e eu pensei, “Uau, é meu aniversário, por isso é o meu dia de sorte! Se alguém merece este farol verde, com certeza sou eu”.

Acabei descobrindo a ironia do destino.Comecei a fazer a curva e, assim que dobrei a esquina, aconte-

ceu. Bang! E isso é tudo o que eu sei. Desculpe. A maioria das pessoas adoraria me ouvir contar que a minha vida inteira passou diante dos meus olhos numa fração de segundo, que eu senti meu corpo se chocando contra o airbag, expulsando o ar dos meus pulmões, justo quando meus órgãos internos eram esmagados dentro do abdômen, perfurando a minha aorta, matando-me quase instantaneamente, mas, infelizmente, eu não tenho uma história assim para contar, pois sinceramente não me lembro de nada.

Acho que elas iam querer ouvir sobre o túnel de luz que eu tinha que percorrer, onde todos os meus parentes mortos estavam espe-rando para me receber do outro lado, mas, lamento, também não tenho uma história assim para contar.

Eu, no entanto, me lembro de uma coisa: a música que estava tocando no rádio. Era da minha banda favorita, o Sendher. Vouvê-los num show na próxima semana. Desculpe. Eu quis dizer que teria ido vê-los num show se não tivesse morrido naquele dia. Ob-viamente, eu ainda não me adaptei completamente à ideia de estar morta. Mas, de qualquer maneira, Cannon Michaels, o vocalista mais gato do mundo, começou a cantar o refrão: “Duas noites para dois...”, quando o desastre aconteceu, e em seguida eu estava em ou-tro lugar, um lugar inimaginável, e é nesse ponto que começa a mi-nha história alucinante.

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– Por aqui, mademoiselle.– Mademoiselle? Está falando comigo? – Apontei o dedo para o

peito. Um peito sem batimento cardíaco.– Sim, por aqui. É hora de se juntar aos outros na fi la. – O

homenzinho inclinou a cabeça. Estava vestido com roupas decores brilhantes, que incluíam uma calça de malha justa e uma gola de babados.

– Do que está falando? Não vejo mais ninguém. Onde estou, afi nal?

Assim que o homem franziu a testa, três fi las de pessoas apare-ceram na minha frente.

– Você sabe onde está. Agora, por favor, mademoiselle. Pegue o seu lugar na fi la. Já sabe para onde ir.

– Mas você não está entendendo. Eu não sei para onde... – No entanto, quando me virei para encarar o homem outra vez, ele já tinha se afastado.

Dei uma olhada no lugar, uma sala cheia de luz pura e brilhante, que normalmente ofuscaria os meus olhos.

– Que lugar é este? – murmurei, balançando a cabeça.

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Alguém pegou no meu braço, uma mulher alta, de meia-idade, com cabelos grisalhos.

– Venha, Ashley, você não pode se atrasar. Onde está o seu...? – começou a perguntar, virando a cabeça para os lados. – Não importa. Siga-me.

– Quem é você e como sabe o meu nome?– Todas as perguntas serão respondidas mais tarde. Agora, por

favor, venha comigo. Está na hora.– Na hora de quê? Onde estou, afi nal?A mulher apontou para a terceira fi la. – É hora das suas Boas-Vindas.– Boas-Vindas? Eu não tenho tempo para nenhum tipo de boas-

-vindas, seja lá o que for isso. Onde está o meu carro? Eu preciso chegar em casa. Não posso fi car aqui.

A mulher me puxou pelo braço. – Ashley, você precisa seguir as minhas instruções.– Mas você não entende? Eu preciso sair deste lugar e ir para casa

agora. Hoje é o dia do meu aniversário. Meus pais estão me espe-rando. Na verdade, estão esperando que eu entre pela porta da frente a qualquer momento. Minha melhor amiga Veronica ajudou minha mãe a fazer uma festa surpresa para mim. Obviamente eu não deve-ria saber de nada, e elas não sabem que eu sei, mas peguei as duas várias vezes falando sobre a festa, então tive que me fi ngir de surda a semana inteira.

Por hábito, parei no meio da divagação para tomar fôlego, mas descobri que isso não era apenas desnecessário, como tambémimpossível. A conhecida passagem do ar através do meu nariz até os meus pulmões, que faria as minhas costelas se expandirem, nunca chegou a acontecer. Apertei a garganta com a mão, esperando que isso me fi zesse desfalecer, mas a sensação de vertigem que eu estava esperando não aconteceu. Aparentemente eu não precisava mais respirar, embora ainda pudesse sentir cheiros. O ar estava fresco, mas um tipo difuso de frescor, como se a atmosfera estivesse

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impregnada com uma névoa palpável e aromática de fl ores de hi-bisco e melão.

– O que há de errado comigo?A senhora de cabelos grisalhos apertou os lábios num meio sor-

riso e balançou a cabeça.– Não há nada fi sicamente errado com você; pelo menos não

mais. Agora venha comigo.– Mas minha irmãzinha fez um presente especial para mim. Le-

vou um mês inteiro para terminar. Ela até embrulhou sem a ajuda de ninguém. Ficou falando disso a semana toda. Eu não posso decep-cioná-la. Ela tem que me dar o presente esta noite, entende? Então eu preciso ir para casa. Onde está meu carro? Se eu sair agora, talvez chegue lá a tempo. – Olhei para o meu pulso. – São apenas cinco e quatorze? Espere aí. Isso não pode estar certo. Eu saí do trabalho às cinco horas, devem ser quase seis agora.

– Venha agora, senhorita Ashley. – A mulher colocou a mão no meu ombro e inclinou o queixo para baixo até que seus olhos en-contrassem os meus. – Ashley, precisa entender que você não é mais um ser mortal de carne e osso. Você fez a travessia fi nal da mortali-dade terrena para a imortalidade celestial.

Eu afastei o meu ombro da mão dela e dei um passo para trás. – Mas eu não quero esse sei-lá-o-quê celestial. Quero voltar para

a minha família. Não posso deixá-los, especialmente agora. Minha irmãzinha precisa de mim. Ela não vai entender por que eu não vol-tei para casa, compreende? É por isso que eu tenho que ir embora agora mesmo. Não posso desapontá-la. Então, me mande de volta, por favor. Apenas me mostre para onde eu tenho que ir.

A mulher falou com fi rmeza, apontando para mim com um dedo torto, de articulações inchadas.

– Eu lamento, mas isso não é possível. Você não faz mais parte do mundo dos vivos. Agora, por favor, Ashley, pegue a fi la número três.

– O quê? Não sou mais do mundo dos vivos? Então, você está me dizendo que eu estou morta ou o quê? Eu não posso estar morta.

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Olhe aqui, eu não quero estar morta. Espere aí. Já sei! – eu disse em pânico. – Isso é apenas um pesadelo. Tem que ser. Eu vou provar isso a você. – Fechei os olhos e estendi a mão. – Eu quero um leite com baunilha gelado, tamanho grande. – Abri os olhos, mas a minha mão estava vazia. – Não, não, isso não pode ser real! Por favor, me ajude. Eu só quero ir para casa.

– Ashley, eu estou ajudando você. Agora pegue a minha mão. Está na hora.

– Não, eu não vou. Eu não vou fi car aqui. Você não pode me obrigar a fi car aqui. Me mande de volta, agora! – gritei, piscando freneticamente e esquadrinhando o salão para localizar uma saída e uma fuga rápida, mas não havia nenhuma. Uma onda de claustro-fobia percorreu o meu ser. Meus ombros fi caram tensos enquanto eu tremia, prendendo os pés no chão e me impedindo de fugir para ninguém sabe onde.

A mulher prendeu a minha mão na dela, apertando um pouco quando tentei puxá-la.

– Ashley, por favor. Você precisa aceitar o que aconteceu. A claustrofobia se dissipou aos poucos, deixando-me momenta-

neamente tonta e mais desequilibrada sobre os meus pés, mas eu não me mexi.

– Mas eu não quero estar morta. Eu não posso acreditar que isso esteja acontecendo comigo.

– Eu sei – disse ela. Sua mão nodosa era áspera, mas quente, e seus olhos tinham fi cado mais suaves quando pronunciou essas úl-timas palavras. – Agora, venha comigo. – Seus lábios fi nos se arre-dondaram num sorriso sincero o sufi ciente para me fazer baixar a guarda e deixar a mão relaxar na dela.

– Isso, Ashley. Isso mesmo. Agora, venha comigo. Ela me levou em direção ao fi nal da terceira fi la e desapareceu

antes que eu pudesse dizer “obrigada”, algo que eu provavelmente não teria dito, de qualquer maneira.

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A terceira fi la era a mais longa e volumosa. Cada pessoa estava em pé ao lado de alguém usando uma longa túnica branca. Essa fi la serpenteava por toda a sala, alongando-se cada vez mais, enquanto eu fi cava ali olhando, hesitando em tomar o meu lugar atrás deum idoso com camisolão de hospital, parado ao lado de um homem de meia-idade, com uma túnica e um bigode no formato de guidão de bicicleta.

Quando fi nalmente me aproximei, o velho virou-se e sorriu para mim, exibindo uma fi leira de dentes cariados. Eu já estava pronta para dar um passo para trás, mas então ele sorriu de novo, desta vez com a boca fechada, e minha atenção foi atraída para os olhos dele. Eram olhos gentis, azuis-celestes, rodeados de pregas de pele branca. Lembrava o meu avô por parte de pai.

– Eu não esperava isso. – Ele riu novamente, mas desta vez evitei olhar para baixo da linha do seu nariz. – Fila longa, mas não me importo. Ninguém se importa mais. Pense nisso. Temos todo o tempo do mundo agora.

– É, acho que temos. Isto é, se isso estiver realmente acontecendo. Eu ainda não estou totalmente convencida. Continuo esperando acordar e descobrir que tudo não passa de um sonho.

– Pode acreditar. Você não está sonhando. Quer que eu belisque você? – Ele riu.

– Não, não, obrigada – agradeci, esfregando o braço. – Você quer voltar, não é?– É, quero.Desviei os olhos do velho.– Isso é porque você está sozinha. Onde está o seu companheiro?

Todos deveriam ter um. – Ele apontou para o lado esquerdo da fi la, onde estavam as pessoas vestidas de branco e – sem brincadeira – cada uma delas tinha um par de asas enormes nas costas.

Ok, agora eu sabia que estava sonhando. Acorde, Ashley! Acorde! Isso não pode ser real, pode?

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– Meu companheiro? – perguntei baixinho. – É, seu anjo. Este sujeito aqui está ao meu lado desde o dia em

que nasci. Todos nesta fi la têm um, exceto você. – O anjo do velho sorriu, mostrando uma fi leira de dentes perfeitos e brancos que de-viam fazer o velho sentir vergonha, embora os do anjo estivessem encobertos pelo longo bigode.

– Eu não sei onde está o meu anjo. Acho que nunca tive um. Talvez eu tenha entrado na fi la errada ou não esteja...

O velho beliscou o meu braço. —Ai! – exclamei, embora não tenha sentido dor. Tudo o que eu

senti foi uma leve pressão. – Veja, você não está sonhando. Está apenas morta. O anjo do velho sorriu e inclinou a cabeça. Por um momento,

me senti quente por dentro como se eu pudesse respirar fundo e sentir as batidas do meu coração se colocasse a mão sobre o peito, mas depois a sensação desapareceu e eu comecei a acreditar que o velho estava certo.

Mais à frente na fi la havia uma menina da mesma idade que a minha irmã. Ela saltava no lugar e sua boca se mexia como se ela estivesse cantarolando uma canção alegre, enquanto seu anjo, tam-bém uma garotinha, segurava a mão dela e sussurrava em seu ouvido.

O velho deu um tapinha no meu ombro. – Você é tão jovem! Como morreu? Meus ombros enrijeceram quando tentei respirar fundo e

suspirar. – Não sei direito.– Pense. Pense bem. Você vai se sentir melhor se falar sobre isso.

Isso é o que meu amigo e eu temos feito. Vai ajudá-la a acreditar, ajudá-la a entender.

– Hum, eu acho que foi um acidente de carro. Na verdade, é, agora me lembro, foi mesmo um acidente de carro. Lembro que o meu carro bateu na lateral de uma picape azul, foi isso. Eu não seio que aconteceu depois.

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– Você não se lembra de ter ouvido nenhuma sirene?– Não, nada. – Ah, entendo. Você deve ter morrido instantaneamente. No

meu caso, acho que fui um dos sortudos. Tive uma longa vida na Terra até o meu velho coração fi nalmente começar a bater pino. Mas eu já estava esperando por isso. Sabia que ia acontecer a qualquer momento. Tive tempo para me despedir das pessoas. Mas no seu caso, você não teve essa oportunidade.

– Não, não tive. Num minuto eu estava indo para casa e no mi-nuto seguinte estava aqui.

– Certo. Agora, esse sujeito aí – o velho apontou para o homem na frente dele – morreu de repente também. Ataque cardíaco como eu. Estava morto ao chegar ao hospital, mas ele tinha apenas 37 anos de idade. Acredita nisso? Que injustiça! Como você, ele também não teve tempo de se despedir. Mas, se você for pensar, vai ver que no fi nal não importa realmente como ou por que ou quando vai morrer. Quer dizer, todos nós, um dia, acabamos no mesmo lugar, ou seja, aqui, certo?

– É, acho que sim. – Não se preocupe. O homem dos babados, aquele que parece

um bobo da corte, ele me disse que as Boas-Vindas nos trariam a felicidade eterna, contentamento e uma total compreensão do uni-verso, e meu companheiro, aqui, me disse a mesma coisa. É só esperar, você vai ver.

Com o movimento, o camisolão do velho se abriu, expondo a pele muito branca e enrugada das suas nádegas. Eca! Antes que eu pudesse me conter, dei um passo para o lado, afastando-me da minha fi la e juntando-me à fi la número dois, à esquerda.

Eu furei a fi la, mas ninguém pareceu se importar. As pessoas não acompanhadas por anjos se afastaram como o Mar Vermelho para me acolher. Então, antes eu estava na fi la errada, afi nal. Esse devia ser o meu lugar. Eu só esperava que estivessem servindo cappuccinos gelados no começo da fi la.

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– Oi. – Uma menina com um vestido azul e chapéu combinando se ergueu na ponta dos pés para fi car no nível dos meus olhos.

Eu pisquei. – Oi. – Então você está pronta para o Bota-Fora?– O quê?– O Bota-Fora.– Como assim?– Ai, você é tão engraçada! A Aceitação. Precisamos estar na Fase

da Aceitação para que possamos fazer o nosso trabalho. Então, você precisa aceitar o fato de que tem idade sufi ciente e está pronta para essa oportunidade especial.

– Que oportunidade? Você quer dizer uma oportunidadede trabalho?

– É, nossos empregos, Ashley.– Ei, espera aí! Você também sabe o meu nome. Deve traba-

lhar aqui. – Eu? Não, eu não trabalho aqui. Não seja boba, Ashley. Eu sei

seu nome porque sei tudo sobre você. Sua mãe lhe deu esse nome por causa da senhora Brett Ashley, uma personagem de seu romance favorito, mas na época em que você tinha 5 anos passou a ser cha-mada de Ashley, que muitos achavam um nome mais apropriado para uma garotinha. E, vamos ver, você se formou no colegial como melhor aluna da classe, nunca teve um namorado e nunca se apai-xonou. Eu acho que mereço um elogio por isso. O que me diz, Ash? Você não se importa se eu te chamar de Ash, se importa?

– Não, claro que não, mas você merece um elogio por quê?– Por ler sua alma tão rapidamente. Eu tenho praticado. Você é

tão rápida quanto eu?– Hum... não.– Oh, sinto muito, Ash. Orgulho. Isso é o que eu preciso tra-

balhar. Ainda sou defi ciente nessa área. Sua defi ciência é, obvia-mente, a difi culdade que sente para aceitar o seu dever, enquanto a

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minha é o orgulho. Eu não quis me vangloriar. Aceite meu pedido de desculpas.

– Ah, ok. Aceito seu pedido de desculpas.– Obrigada. Vou lhe dizer meu nome, em vez de desafi á-la a ler

a minha alma com a mesma rapidez que eu li a sua. Meu nome é Sarah Louise Haverford. Eu nasci em 1882 e morri em 1896.

Sarah encaixou o dedo do pé direito atrás do calcanhar esquerdo e fez uma reverência.

– É, hã, um prazer conhecê-la, Sarah. Seu vestido é muito bonito.– Oh, obrigada, Ash. Eu mesma fi z. Pena que não irei usá-lo por

muito mais tempo. Este tecido chegou de trem lá de Nova York. E este laço é… ah, meu Deus – Sarah riu com a mão na boca. – Lá vou eu de novo. Como eu disse, não vou me gabar. Vou simplesmente dizer: “Muito obrigada, Ash”. E agora vou retribuir o elogio. “Eu gosto da sua calça.”

Olhei para a minha calça e para os meus dedos se projetando da sandália de plástico. Minhas unhas estavam pintadas de cor-de-rosa brilhante e a unha do dedão do pé esquerdo tinha uma fl orzinha desenhada com esmalte branco.

– Obrigada, Sarah.Sarah juntou as mãos. – Estamos quase lá. Eu mal posso esperar para começar a minha

missão. Isto é tão empolgante! Você não está animada, Ashley?– Para dizer a verdade, eu não sei como deveria estar me sentindo

agora. Simplesmente não posso acreditar que eu seja realmente… um… você sabe o quê. Quero dizer, eu tenho que continuar dizendo a mim mesma que isso é real e que tudo vai fi car bem, senão vou surtar e tentar fugir daqui.

– Fugir? Convenhamos, Ashley – ela riu. – Não há necessidade de fugir. Além disso, não há para onde correr. É isso. Estamos prontas. Chegou a nossa vez. É por isso que fomos selecionadas. Acredite, Ashley, você está pronta para o Bota-Fora; caso contrário não estaria aqui.

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A fi la parecia desaparecer na nossa frente. No início, pensei que as pessoas estavam entrando em outra sala, mas, quando chegamos mais perto, vi que os outros literalmente desapareciam, sem deixar nem mesmo uma nuvem de fumaça; eles simplesmente se desvane-ciam no ar.

– Hum, Sarah, onde exatamente esta fi la vai dar?– É o que nos leva ao nosso trabalho, ao nosso protegido, é claro.– Eu ainda não entendo. Que trabalho? Que protegido? Você fi ca

falando em Bota-Fora. Eu pensei que estávamos esperando para re-ceber as Boas-Vindas ou coisa assim.

Sarah pegou minhas duas mãos nas dela. – Deixe-me dar mais uma olhada em você. – Seu sorriso desmo-

ronou e ela soltou as minhas mãos. – Oh, não, Ash, quero dizer, Ashley.– O que foi?– Acabei de ler sua alma de novo, um pouco mais profunda-

mente desta vez. Em primeiro lugar, você na verdade não gosta de ser chamada de Ash, porque um menino que conheceu na terceira série costumava chamá-la assim para fazê-la chorar, e vivia recitando um verso de uma canção infantil, “Ashes, Ashes we all fall down1”; ele não parou até que se mudou cinco anos depois e, em segundo lugar, e o mais importante, você é uma alma muito jovem.

– Eu não sou tão jovem, tenho 18 anos.– Não, não é isso que eu quero dizer. Veja, meu corpo terreno é

de uma menina de 14 anos de idade, mas minha alma tem mais de 100 anos. Eu deixei a Terra muito tempo atrás e, para muitos, uma alma de 114 anos ainda é considerada muito jovem. Eu mal atendi aos requisitos. Mas você, minha querida Ashley, eu… eu receio que você não deveria estar nesta fi la.

– Bem, antes eu estava naquela outra ali.

1. “Cinzas, cinzas, todos nós caímos.” (N. da T.)

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– Então você ainda nem chegou às Boas-Vindas. Onde está o seu anjo? Ele deveria estar aqui com você.

– Eu não sei. Nunca tive um. É por isso que pensei que deveria fi car nesta fi la. Sarah, tudo que eu sei é que quero ir para casa.

– Apesar do fato de você não ter um anjo, minha cara Ashley, estou certa de que esta não é a sua fi la.

– Então que fi la é esta? – Ashley, esta é a fi la dos guardiães recém-nomeados...Mal ouvi a última palavra de Sarah e ela se foi, como se tives -

se sido sugada; e, antes que eu pudesse voltar para a fi la à minhadireita, aquela em que eu supostamente deveria estar, o mesmo acon-teceu comigo!

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