aniversário de 34 anos do diário da manhã - 55 com o cinco de março

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Diário da Manhã SUPLEMENTO ESPECIAL EDIÇÃO Nº 9662 SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 P arei de publicar meus arti- gos há 9 meses e não parei de escrevê-los. E guardo. A Bíblia diz que tudo tem o seu tempo e esse é o tempo de esgo- tar corrupção. O estoque acumu- lado na pompa ladravaz dos so- beranos gerou furúnculos na consciência dos apátridas e ra- chou o caráter dos governos. Escorre muito pus o tempo to- do em toda parte do mundo. Os poderes estão infeccionados de desonestidades. A inflamação nos ânimos é geral no contexto da sociedade, entre os que rou- baram, os que estão roubando, os que querem roubar, e nos que foram roubados e nos que são roubados em seus sonhos e de vi- da, em sua fé religiosa, em seus ideais políticos, em sua confiança nos amigos desleais. A dor da pu- nhalada de inimigo passa rápido. A punhalada do amigo dói muito tempo, como se o punhal tivesse ficado cravado na gente. Por isso, decidi-me a não lance- tar os tumores latejando nos car- negões da corrupção, para não correr o risco de contaminar ino- centes no cisto dos culpados. O meu silêncio não é aleatório. Agi elucidado pela Espiritualidade. As atuais mudanças que reviram a estabilidade dos poderes terrenos são divinas e funcionam como cal- deiras da depuração moral da hu- manidade. São redentoras e se consumarão inexpugnáveis até não restar nenhum mal de pé na Terra. Tentar estancá-la é como esvaziar oceano com conta-gotas. Serão salvos os redimidos. Esta- rão expiados os irrecuperáveis. É a fervura da purificação e dela irão surgindo os novos estadistas, de onde não se sabe quando me- nos se espera. E não aguardem-os nos moços modelados nas velhas práticas da mentalidade materia- lista e nem se surpreendam se chegarem dos velhos inovados nas ideias do romantismo. Por isso, não bato nos líderes que foram ou nos que irão de su- as glórias para a desonra nessa queda mundial em toda forma de poder sujado no ilícito e no imo- ral. Pelejar para revertê-la, seria como catar no ar as gotas da água nas chuvas ou contar na ventania os grãos de chão nas poeiras. Pro- curar apressá-la, daria no mesmo que empurrar árvores podres que serão derrubadas pelos ventos dessa mudança prevista há dois mil anos por Jesus Cristo a João Evangelista. Essa reforma moral da humanidade será mais devas- tadora em Goiás, que é o polígo- no de terras delimitado na profe- cia do santo Dom Bosco onde surgirá a civilização que governa- rá a Terra a partir do atual milê- nio. Então não é prudente ficar cortando troncos da corrupção na selva apodrecida dos poderes. Como na floresta de árvores po- dres, o sábio é permanecer a uma distância delas, não tão longe que não possa ver suas copas balan- çado, nem tão perto que possam cair em cima da gente. O romantismo e o materia- lismo são as linhas divi- sórias das duas partes distintas entre si nas grandezas da vida habitada por dois seres igualmente indispensáveis nos valores que definem a evolução no mundo. O poeta e o merce- nário. Ambos são imprescindí- veis. No romantismo, o poeta é mais precioso que o mercenário e, no materialismo, o mercená- rio é mais valioso que o poeta. O que não deve acontecer é a estu- pidez recíproca de um subjugar o outro no seu mérito específico. Mas, lamentavelmente, a in- compreensão mútua é o que tem ocorrido e sido um desastre para os povos. O poeta é o que sonha e ousa. O mercenário é o que se atreve e realiza. São dife- rentemente iguais no oposto da mais-valia que consagra as pes- soas superdotadas. Do jeito que o poeta se encan- ta na sua música, na sua escultu- ra, na sua descoberta científica, na sua literatura, no seu quadro pintado e nos seus voos na liber- dade, do mesmo modo o merce- nário se maravilha na criação da sua empresa, no invento do seu produto exclusivo, na sua condi- ção de vencedor reconhecido. A obra do empresário e a do poeta são imprescindíveis no conjunto do notável. O que estraga a grandiosidade dos dois seres é o egoísmo. O merce- nário destrói o poeta que sonha nele e ousa no empresário. O poe- ta destrói em si o realizador que concretiza a realidade no visioná- rio que se atreve na oficina da ins- piração. Mas ambos se limitam no medíocre da inteligência quando passam a ouvir o canto de sereias da vaidade. E é onde ambos se matam em suas virtudes. T odos os governadores de Goiás cometeram erros. E não foram poucos. O maior deles nas grandes obras que fize- ram, foi o mesmo em todos eles. O de confiar nos chamados de ho- mens fortes de seus governos. Ho- mem forte de governo é fraqueza do governador. E o que são eles? São ambulantes nas ideias nôma- des. São furadores de buracos de dívidas no poço dos impostos. São paus-terra envernizados de aroei- ra. São bijuterias de teorias políti- cas falíveis na prática das ideologi- as exequíveis. São zero votos no povo e que, ao serem impostos ao eleitorado para deputado ou se- nador, são os causadores da der- rota dos governadores em suas re- eleições no pleito seguinte. Os homens fortes são contagio- sos. Não há um só erro dos gover- nadores que não seja só dos ho- mens fortes nos governos. Não há um só ex-governador que a sua derrota não tenha sido causada só pelos íntimos dele. Não há um só ex-governador que só ouvia os que só o elogiavam e que não ter- minou só na planície política. Não há um só ex-governador que acre- ditou só na más companhias no poder e não tenha sido responsa- bilizado só ele pelas malinagens e outras coisas só daqueles esper- talhões. Não há um só ex-gover- nador que não trocou os velhos amigos só pelos novos amigos no governo e que depois só lhe res- taram só os velhos amigos quan- do ficou só no ostracismo. Eles não criam um programa de metas para o governo. Fazem um plano de seu continuísmo no po- der. Mas o ciclo do fisiologismo nos governos acabou-se na vida pública. Entramos na era das mai- ores mudanças históricas de todos os tempos. Os camelôs da dema- gogia estão com os dias contados às vésperas de seu fim. Todos te- mos a própria culpa nos erros que vemos nos outros. Ary Valadão ter- minou pagando sozinho por haver sido o último governador nomea- do pela ditadura militar. O Marco- ni Perillo acaba responsabilizado em Goiás como o único culpado pela falência melancólica refletida sobre ele do ciclo petista no Brasil. O que precisa mudar é o mode- lo político. Gastou-se a disputa ací- vica do poder pelo poder a serviço de grupos. Os partidos giram atre- lados nos lados adversos do opor- tunismo e jogando corrupção uns nos outros. A presidente Dilma Rousseff é uma revolucionária e fi- cou prisioneira da corrupção dos outros que tomaram seu governo para outros. O governador Marco- ni Perillo é um guerreiro e se tor- nou refém dos que o deixaram de fora de seu governo no início, ele ficou com os problemas até o fim. Percebe-se a montagem de ca- nhões para alvejarem a campa- nha eleitoral com sobrecargas de lamas que se esborrifarão nos go- vernadoriáveis. São canhões de vi- dro que não aguentarão uma pe- drada da verdade de parte a parte. Precisam levantar a alça de mira para suas virtudes e não mais apontarem para os deméritos al- heios. Denúncias de corrupção não elegerão nenhum dos candi- datos. O denuncismo caiu em descrédito na rede de suspeitas da cumplicidade generalizada na de- monização dos políticos. N ão me fiz um conforma- do com a banalização da honradez. Tampouco perdi a capacidade de ficar in- dignado com a impunidade dos desmandos. Estou apenas um meditativo, igual a um peregri- no na contemplação desoladora da vastidão do deserto. Não jo- guei a batuta fora. Estou como o maestro organizando a sua or- questra para não desafinar na execução da sinfonia. Quebrarei o jejum dos meus artigos na co- munhão com o justo em abril. Rompi, só por hoje, o peniten- ciado de manter-me calado, por dever de apresentar aos leitores do Diário da Manhã o suplemento especial Aniversário da Liberdade , de 24 páginas, com artigos de pessoas que sua biografia se con- funde com a história de Goiás. A tradição nas edições comemora- tivas de aniversário do jornal é publicar matérias retrospectivas focando os episódios relevantes sobre a sua trajetória empunhan- do o mastro da liberdade de im- prensa. Agora, não. Todos os es- paços foram reservados para arti- gos de personalidades notórias nas elites pensantes e de jornalis- tas vivenciados nas causas digni- ficantes e decisivas nos sementei- os da opinião independente. Uma dúvida parou-me no di- lema: se limitava-me a escrever o texto formal e de praxe como edi- tor geral do Diário da Manhã, ou se exteriorizaria como jornalista as coisas silenciosas dentro de mim que pediam para sair e falar. O sentimento da cautela interfe- riu contra. A angústia arrastou- me à reflexão. O poder das pala- vras que vinham no pensamento era fuzilante. Pareciam-me um brado fora de hora. Busquei a Es- piritualidade nas orações dia 11, véspera do aniversário do Diário da Manhã, e fui ao Centro Espíri- ta Mãos Unidas. O Fábio Nasser veio nessa carta psicografada pe- la médium Mary Alves: “Meu pai, abençoe-me. As palavras realmente são poderosas. Jamais o deixaremos só. Nosso trabalho é comum. Um ao lado do outro. Em seu mundo interior, mergulhado em si mesmo, nos arquivos do passado, a compreensão surgiu de que um dia tudo será diferente. Hoje podemos chorar a dificuldade, a ingratidão, a decepção, mas o amanhã é de Deus e a vitória é certa. Estamos trabalhando para um futuro melhor. Não tem sido fácil. Meu pai, sinta-me ao seu lado sempre. O Dr. Almir está aqui comigo e abraça seu coração amigo. Com todo amor do seu, sempre seu Fábio Nasser Custódio dos Santos. * Abraço meus irmãos queridos.” O número dos artigos supe- rou a expectativa e o volu- me dos anunciantes sur- preendeu. O caderno Aniversário da Liberdade teve de ser adiado para hoje, 17 de março, dia do aniversário mensal nos 15 anos que meu filho foi da vida para a minha saudade. E somente on- tem vim para a Lexikon 80 escre- ver o artigo História dos Livres. Agora vou ao confessionário na mea culpa em dois pecados come- tidos por mim: um contra o Diário da Manhã, outro em desfavor do Cinco de Março. O DM foi funda- do em 12 de outubro e comemora o aniversário em 12 de março. O dúbio nos prazos acoplados nas duas datas advém do equívoco de se homenagear a sua reabertura quase dois anos após a decretação da falência judicial urdida nos bastidores do governo estadual no período. Natalícios não são im- portantes para mim. Data de ca- lendário é convencionalismo. O tempo não faz aniversário. O que conta nas legendas é o seu dimen- sionamento na História. Corrijo hoje outra distorção in- justa com os dois jornais. O selo conjugado ao logotipo do Diário da Manhã registra os 34 anos que ele herdou dos 56 do Cinco de Março no jornalismo que inaugu- rou o caderno OPINIÃOPÚBLICA, o espaço inédito na história da imprensa mundial para a liber- dade de opinião. Mudei o ca- rimbo em respeito às pessoas e às almas dos que se abençoa- ram na pia batismal dos liberta- dores da imprensa em Goiás. E sse ano, o povo goiano vai precisar de uma voz isenta da imprensa nas eleições. O Diário da Manhã será territó- rio livre no centro dos arquipéla- gos das ilhas de autoritarismo dos partidos políticos. Não me esperem na colheita da safra dos pensamentos odiosos, que esta- rei no plantio dos sentimentos amados. Sempre estive no com- boio da liberdade de imprensa, como o trem-de-ferro nos tri- lhos. Se me desencarrilham, conserto os vagões, realinho os trilhos, embarco de novo na li- berdade e não a apeio do sonho. O destinou peou-me na sina da história dos livres. O discurso que elegerá o governadoriável é o do combate à corrupção. O que não será difícil de vir a ser teorizado por quem tenha experi- ência na prática da própria. E não será fácil de criar esse discurso. Ele terá que trazer a força de um poema capaz de apagar o desencanto popular com um incêndio das emoções. Tenho apenas duas premoni- ções doidíssimas na intuição. A que poderá ser evitada pelo gover- nadoriável que tiver a compreen- são de que chegou a hora de parar de vasculhar os erros do passado e de perscrutar o correto para o fu- turo, pois os que continuarem só batendo, apanharão também da chibata das mudanças. O outro presságio é na percepção. Esse é inevitável. Qualquer um dos go- vernadoriáveis que se julga virtu- almente vitorioso nas urnas de 2014, pode começar a rezar des- de já, pois o próximo governador de Goiás sofrerá o inferno no céu do Palácio das Esmeraldas. E irá para a História, que é onde estão os poetas Sócrates, Platão, Aristóteles, Pitágoras, Sêneca, Churchill e vai o papa Francisco. Mas se for um mercenário, po- derá até ir para uma sepultura folheada a ouro, que estará joga- do para fora da posteridade. Q uero ir para junto dos que disseram o que pensaram, porque pensaram o que disseram. Nasci um vicia- do em liberdade. Não aceito gaio- la na opinião. Sou contra ditadu- ra de esquerda e de direita. Rotu- lo o esquerdismo e o direitismo como os dois lado da mesma bosta ideológica dos regimes po- líticos. Cultuo a república como mãe da democracia, filha do po- vo e alma da liberdade. Nasci as- sim e vou morrer assim. E se um dia tiver que ser ouvido o último brado da liberdade de imprensa, esse grito virá na minha voz. Desculpem-me, os leitores. Tenho que sair rápido. Preciso ir ali hoje. Ouvi um silêncio me chamando na saudade. Vou ao meu coração dar um abraço no filho Fábio Nasser. Batista Custódio Especial para OPINIÃOPÚBLICA L IBERDADE Aniversário da HISTÓRIA DOS LIVRES

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Suplemento especial onde os expoentes da sociedade goiana descrevem e homenageiam a trajetória do jornal Diário da Manhã que nasceu no Cinco de Março e como o veículo luta para se manter livre e independente!

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Page 1: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

Diário da ManhãSUPLEMENTO ESPECIAL EDIÇÃO Nº 9662 SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014

Parei de publicar meus arti-gos há 9 meses e não pareide escrevê-los. E guardo. A

Bíblia diz que tudo tem o seutempo e esse é o tempo de esgo-tar corrupção. O estoque acumu-lado na pompa ladravaz dos so-beranos gerou furúnculos naconsciência dos apátridas e ra-chou o caráter dos governos.

Escorre muito pus o tempo to-do em toda parte do mundo. Ospoderes estão infeccionados dedesonestidades. A inflamaçãonos ânimos é geral no contextoda sociedade, entre os que rou-baram, os que estão roubando,os que querem roubar, e nos queforam roubados e nos que sãoroubados em seus sonhos e de vi-da, em sua fé religiosa, em seusideais políticos, em sua confiançanos amigos desleais. A dor da pu-nhalada de inimigo passa rápido.A punhalada do amigo dói muitotempo, como se o punhal tivesseficado cravado na gente.

Por isso, decidi-me a não lance-tar os tumores latejando nos car-negões da corrupção, para nãocorrer o risco de contaminar ino-centes no cisto dos culpados.

O meu silêncio não é aleatório.Agi elucidado pela Espiritualidade.As atuais mudanças que reviram aestabilidade dos poderes terrenossão divinas e funcionam como cal-deiras da depuração moral da hu-manidade. São redentoras e seconsumarão inexpugnáveis aténão restar nenhum mal de pé naTerra. Tentar estancá-la é comoesvaziar oceano com conta-gotas.Serão salvos os redimidos. Esta-rão expiados os irrecuperáveis. Éa fervura da purificação e delairão surgindo os novos estadistas,de onde não se sabe quando me-nos se espera. E não aguardem-osnos moços modelados nas velhaspráticas da mentalidade materia-lista e nem se surpreendam sechegarem dos velhos inovadosnas ideias do romantismo.

Por isso, não bato nos líderesque foram ou nos que irão de su-as glórias para a desonra nessaqueda mundial em toda forma depoder sujado no ilícito e no imo-ral. Pelejar para revertê-la, seriacomo catar no ar as gotas da águanas chuvas ou contar na ventaniaos grãos de chão nas poeiras. Pro-curar apressá-la, daria no mesmoque empurrar árvores podres queserão derrubadas pelos ventosdessa mudança prevista há doismil anos por Jesus Cristo a JoãoEvangelista. Essa reforma moralda humanidade será mais devas-tadora em Goiás, que é o polígo-no de terras delimitado na profe-cia do santo Dom Bosco ondesurgirá a civilização que governa-rá a Terra a partir do atual milê-nio. Então não é prudente ficarcortando troncos da corrupçãona selva apodrecida dos poderes.Como na floresta de árvores po-dres, o sábio é permanecer a umadistância delas, não tão longe quenão possa ver suas copas balan-çado, nem tão perto que possamcair em cima da gente.

Oromantismo e o materia-lismo são as linhas divi-sórias das duas partes

distintas entre si nas grandezasda vida habitada por dois seresigualmente indispensáveis nosvalores que definem a evoluçãono mundo. O poeta e o merce-nário. Ambos são imprescindí-veis. No romantismo, o poeta émais precioso que o mercenárioe, no materialismo, o mercená-rio é mais valioso que o poeta. Oque não deve acontecer é a estu-pidez recíproca de um subjugaro outro no seu mérito específico.

Mas, lamentavelmente, a in-compreensão mútua é o quetem ocorrido e sido um desastrepara os povos. O poeta é o quesonha e ousa. O mercenário é oque se atreve e realiza. São dife-rentemente iguais no oposto damais-valia que consagra as pes-soas superdotadas.

Do jeito que o poeta se encan-ta na sua música, na sua escultu-ra, na sua descoberta científica,na sua literatura, no seu quadropintado e nos seus voos na liber-dade, do mesmo modo o merce-nário se maravilha na criação dasua empresa, no invento do seuproduto exclusivo, na sua condi-ção de vencedor reconhecido.

Aobra do empresário e a dopoeta são imprescindíveisno conjunto do notável. O

que estraga a grandiosidade dosdois seres é o egoísmo. O merce-nário destrói o poeta que sonhanele e ousa no empresário. O poe-ta destrói em si o realizador queconcretiza a realidade no visioná-rio que se atreve na oficina da ins-piração. Mas ambos se limitam nomedíocre da inteligência quandopassam a ouvir o canto de sereiasda vaidade. E é onde ambos sematam em suas virtudes.

Todos os governadores deGoiás cometeram erros. Enão foram poucos. O maior

deles nas grandes obras que fize-ram, foi o mesmo em todos eles. Ode confiar nos chamados de ho-mens fortes de seus governos. Ho-mem forte de governo é fraquezado governador. E o que são eles?São ambulantes nas ideias nôma-des. São furadores de buracos dedívidas no poço dos impostos. Sãopaus-terra envernizados de aroei-ra. São bijuterias de teorias políti-cas falíveis na prática das ideologi-as exequíveis. São zero votos nopovo e que, ao serem impostos aoeleitorado para deputado ou se-nador, são os causadores da der-rota dos governadores em suas re-eleições no pleito seguinte.

Os homens fortes são contagio-sos. Não há um só erro dos gover-nadores que não seja só dos ho-mens fortes nos governos. Não háum só ex-governador que a suaderrota não tenha sido causada sópelos íntimos dele. Não há um sóex-governador que só ouvia osque só o elogiavam e que não ter-minou só na planície política. Nãohá um só ex-governador que acre-ditou só na más companhias nopoder e não tenha sido responsa-bilizado só ele pelas malinagens eoutras coisas só daqueles esper-talhões. Não há um só ex-gover-nador que não trocou os velhosamigos só pelos novos amigos nogoverno e que depois só lhe res-taram só os velhos amigos quan-do ficou só no ostracismo.

Eles não criam um programa demetas para o governo. Fazem umplano de seu continuísmo no po-

der. Mas o ciclo do fisiologismonos governos acabou-se na vidapública. Entramos na era das mai-ores mudanças históricas de todosos tempos. Os camelôs da dema-gogia estão com os dias contadosàs vésperas de seu fim. Todos te-mos a própria culpa nos erros quevemos nos outros. Ary Valadão ter-minou pagando sozinho por haversido o último governador nomea-do pela ditadura militar. O Marco-ni Perillo acaba responsabilizadoem Goiás como o único culpadopela falência melancólica refletidasobre ele do ciclo petista no Brasil.

O que precisa mudar é o mode-lo político. Gastou-se a disputa ací-vica do poder pelo poder a serviçode grupos. Os partidos giram atre-lados nos lados adversos do opor-tunismo e jogando corrupção unsnos outros. A presidente DilmaRousseff é uma revolucionária e fi-cou prisioneira da corrupção dosoutros que tomaram seu governopara outros. O governador Marco-ni Perillo é um guerreiro e se tor-nou refém dos que o deixaram defora de seu governo no início, eleficou com os problemas até o fim.

Percebe-se a montagem de ca-nhões para alvejarem a campa-nha eleitoral com sobrecargas delamas que se esborrifarão nos go-vernadoriáveis. São canhões de vi-dro que não aguentarão uma pe-drada da verdade de parte a parte.Precisam levantar a alça de mirapara suas virtudes e não maisapontarem para os deméritos al-heios. Denúncias de corrupçãonão elegerão nenhum dos candi-datos. O denuncismo caiu emdescrédito na rede de suspeitas dacumplicidade generalizada na de-monização dos políticos.

Não me fiz um conforma-do com a banalizaçãoda honradez. Tampouco

perdi a capacidade de ficar in-dignado com a impunidade dosdesmandos. Estou apenas ummeditativo, igual a um peregri-no na contemplação desoladorada vastidão do deserto. Não jo-guei a batuta fora. Estou como omaestro organizando a sua or-questra para não desafinar naexecução da sinfonia. Quebrareio jejum dos meus artigos na co-munhão com o justo em abril.

Rompi, só por hoje, o peniten-ciado de manter-me calado, pordever de apresentar aos leitores doDiário da Manhã o suplementoespecial Aniversário da Liberdade,

de 24 páginas, com artigos depessoas que sua biografia se con-funde com a história de Goiás. Atradição nas edições comemora-tivas de aniversário do jornal épublicar matérias retrospectivasfocando os episódios relevantessobre a sua trajetória empunhan-do o mastro da liberdade de im-prensa. Agora, não. Todos os es-paços foram reservados para arti-gos de personalidades notóriasnas elites pensantes e de jornalis-tas vivenciados nas causas digni-ficantes e decisivas nos sementei-os da opinião independente.

Uma dúvida parou-me no di-lema: se limitava-me a escrever otexto formal e de praxe como edi-tor geral do Diário da Manhã, ouse exteriorizaria como jornalistaas coisas silenciosas dentro demim que pediam para sair e falar.O sentimento da cautela interfe-riu contra. A angústia arrastou-me à reflexão. O poder das pala-vras que vinham no pensamentoera fuzilante. Pareciam-me umbrado fora de hora. Busquei a Es-piritualidade nas orações dia 11,véspera do aniversário do Diárioda Manhã, e fui ao Centro Espíri-ta Mãos Unidas. O Fábio Nasserveio nessa carta psicografada pe-la médium Mary Alves:

“Meu pai, abençoe-me.As palavras realmente são

poderosas.Jamais o deixaremos só.Nosso trabalho é comum.

Um ao lado do outro.Em seu mundo interior,

mergulhado em si mesmo,nos arquivos do passado,a compreensão surgiu de queum dia tudo será diferente.

Hoje podemos chorar adificuldade, a ingratidão,a decepção, mas o amanhãé de Deus e a vitória é certa.

Estamos trabalhandopara um futuro melhor.

Não tem sido fácil.Meu pai, sinta-me

ao seu lado sempre.O Dr. Almir está aqui comigo e

abraça seu coração amigo.Com todo amor do seu,

sempre seuFábio Nasser Custódio dos

Santos.* Abraço meus irmãos queridos.”

Onúmero dos artigos supe-rou a expectativa e o volu-me dos anunciantes sur-

preendeu. O caderno Aniversárioda Liberdade teve de ser adiadopara hoje, 17 de março, dia doaniversário mensal nos 15 anosque meu filho foi da vida para aminha saudade. E somente on-tem vim para a Lexikon 80 escre-ver o artigo História dos Livres.

Agora vou ao confessionário namea culpa em dois pecados come-tidos por mim: um contra o Diárioda Manhã, outro em desfavor doCinco de Março. O DM foi funda-do em 12 de outubro e comemorao aniversário em 12 de março. Odúbio nos prazos acoplados nasduas datas advém do equívoco dese homenagear a sua reaberturaquase dois anos após a decretaçãoda falência judicial urdida nosbastidores do governo estadual noperíodo. Natalícios não são im-portantes para mim. Data de ca-lendário é convencionalismo. Otempo não faz aniversário. O queconta nas legendas é o seu dimen-sionamento na História.

Corrijo hoje outra distorção in-justa com os dois jornais. O seloconjugado ao logotipo do Diárioda Manhã registra os 34 anos queele herdou dos 56 do Cinco deMarço no jornalismo que inaugu-rou o caderno OPINIÃOPÚBLICA,o espaço inédito na história daimprensa mundial para a liber-dade de opinião. Mudei o ca-rimbo em respeito às pessoas eàs almas dos que se abençoa-ram na pia batismal dos liberta-dores da imprensa em Goiás.

Esse ano, o povo goiano vaiprecisar de uma voz isentada imprensa nas eleições.

O Diário da Manhã será territó-rio livre no centro dos arquipéla-gos das ilhas de autoritarismodos partidos políticos. Não meesperem na colheita da safra dospensamentos odiosos, que esta-rei no plantio dos sentimentosamados. Sempre estive no com-boio da liberdade de imprensa,como o trem-de-ferro nos tri-lhos. Se me desencarrilham,conserto os vagões, realinho ostrilhos, embarco de novo na li-berdade e não a apeio do sonho.O destinou peou-me na sina dahistória dos livres. O discursoque elegerá o governadoriável éo do combate à corrupção.

O que não será difícil de vir a serteorizado por quem tenha experi-ência na prática da própria. E nãoserá fácil de criar esse discurso.Ele terá que trazer a força deum poema capaz de apagar odesencanto popular com umincêndio das emoções.

Tenho apenas duas premoni-ções doidíssimas na intuição. Aque poderá ser evitada pelo gover-nadoriável que tiver a compreen-são de que chegou a hora de pararde vasculhar os erros do passado ede perscrutar o correto para o fu-turo, pois os que continuarem sóbatendo, apanharão também dachibata das mudanças. O outropresságio é na percepção. Esse éinevitável. Qualquer um dos go-vernadoriáveis que se julga virtu-almente vitorioso nas urnas de2014, pode começar a rezar des-de já, pois o próximo governadorde Goiás sofrerá o inferno nocéu do Palácio das Esmeraldas. Eirá para a História, que é ondeestão os poetas Sócrates, Platão,Aristóteles, Pitágoras, Sêneca,Churchill e vai o papa Francisco.Mas se for um mercenário, po-derá até ir para uma sepulturafolheada a ouro, que estará joga-do para fora da posteridade.

Quero ir para junto dos quedisseram o que pensaram,porque pensaram o quedisseram. Nasci um vicia-

do em liberdade. Não aceito gaio-la na opinião. Sou contra ditadu-ra de esquerda e de direita. Rotu-lo o esquerdismo e o direitismocomo os dois lado da mesmabosta ideológica dos regimes po-líticos. Cultuo a república comomãe da democracia, filha do po-vo e alma da liberdade. Nasci as-sim e vou morrer assim. E se umdia tiver que ser ouvido o últimobrado da liberdade de imprensa,esse grito virá na minha voz.

Desculpem-me, os leitores.Tenho que sair rápido. Preciso irali hoje. Ouvi um silêncio mechamando na saudade. Vou aomeu coração dar um abraço nofilho Fábio Nasser.

BatistaCustódio

Especial paraOPINIÃOPÚBLICA

LIBERDADEAniversário da

HISTÓRIA DOS LIVRES

Page 2: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 20142

Não existe país livre sem imprensalivre e, quanto mais livre é umanação, mais independentes e pluraissão os seus veículos de comuni-cação. No decorrer de seus 34 anosde história, o Diário da Manhã estru-turou-se e consolidou-se como umveículo plural, em cujas páginassempre prevaleceu a livre manifes-tação do pensamento.

Essa é a missão precípua estabele-cida por este diário, que a encaracomo um valor ético e como umdever cívico e democrático a sercumprido mesmo diante de todaadversidade. Tal postura só se tornoupossível e viável porque o Diário daManhã está sob o comando, durantetodo esse período, do jornalistaBatista Custódio, de quem tenho ahonra de ser amigo. Ele dedicou todaa sua vida à construção de umaequipe profissional, ética, dedicada ecompetente, comprometida com obom jornalismo e com a infornaçãoútil para a sociedade.

Como homem público, sou teste-munha do extremo cuidado com queBatista Custódio sempre manejou asinformações que serviram de matéria-

prima para as reportagens do DM,independentemente do espaço queocupassem nas edições do diaseguinte. Diversas ele procurou-mepessoalmente para tirar dúvidas sobreobras e ações do governo para evitar apublicações de imprecisões. “Estouligando para checar”, dizia, valendo-sede expressão da profissão que significa“conferir”, aferir se as informaçõestêm coerência e se coordenam.

Com esse extremo cuidado com anotícia – resultado da consciência daimportância e do impacto que a cir-culação de informações provoca –Batista converteu o DM em uma

espécie de catalisador da opinião dasmultidões. Invariavelmente, as pági-nas do jornal estão sempre abertaspara os diferentes tipos de posiciona-mentos, independentemente decredo, cor, posição social ou política.Poucos jornais no mundo con-seguiram atingir tamanho nível deinterlocução com a sociedade, bemcomo poucos são capazes de fazeristo com tanta eficiência e, principal-mente, com tanta presteza.

A conduta estabelecida pelo jornalistaBatista Custódio é clara: qualquercidadão pode, com a devida obediên-cia às responsabilidades legais, dizer o

que pensa nas páginas do DM. Nãohá assunto ou debate alvo de vetos.Justamente por isso, o DM vem susci-tando tantas discussões de relevânciapara Goiás e para o Brasil.

Mesmo diante do volume diáriode informações estampadas no DM,Batista prossegue como um editoratento a cada detalhe, a cada título, acada legenda de foto. Além de exce-lente editor, Batista é um excelentepauteiro de reportagens, como se dizno jargão jornalístico. Seu faroaguçado de repórter forjado nacobertura nas ruas antevê a notíciaonde quer que ela esteja. Por isso

mesmo, o fundador e editor-geral doDM tem uma visão diferenciada dahierarquia das notícias, antecipandoos debates que pautarão a sociedade.

Por isso mesmo, a história doDiário da Manhã e de BatistaCustódio se confundem e se entre-laçam. O jornal nasceu da luta pelaliberdade, na defesa dos direitos con-stitucionais e democráticos e logo setornou palco das grandes discussõesregionais e estaduais. Por suaRedação passaram jornalistas dediversas gerações e tendências, decarreiras brilhantes, e que con-tribuíram decisivamente para que oDM se convertesse num canal dediversidade e liberdade democrática.

Nesta data tão especial para Goiáse para o Brasil me resta desejar muitosucesso ao DM e ao meu amigoBatista Custódio, com a certeza deque este jornal seguirá levando, comeficiência e ética, informação dequalidade para seus leitores. Queessa história de luta e de conquistasilumine ainda mais os caminhos daequipe de profissionais que fazem doDM um veículo imprescindível paraquerer se manter bem informado eentender o funcionamento de Goiáse do Brasil. Parabéns, meu amigo jor-nalista Batista Custódio. Parabéns,Diário da Manhã!

(Marconi Perillo, governador doEstado de Goiás)

34 anos de democracia jornalísticaMarconi Perillo

Especial para o Diário da Manhã

Chegar aos 34 anos, seja na vidapessoal ou empresarial é sempreum momento de alegria, de come-moração, de júbilo e também dereflexão. É a idade da maturidade,o momento em que revemos a nos-sa trajetória, o caminho que esco-lhemos em nossa vida.

Os 34 anos do Diário da Manhã,comemorados hoje, é um momentode celebração e de revermos a traje-tória empresarial e política de um ve-ículo de comunicação que nasceu davontade de um homem, de seu fun-dador Batista Custódio, mas que seconsolidou na alma do povo goiano.

Porque o Diário da Manhã, Ba-tista Custódio e o povo goiano têmmuito em comum. O jornal e seuidealizador, assim como os goianos,são daquelas pessoas e instituiçõesde boa cepa, formada na luta diáriadas intempéries políticas, econômi-cas e sociais que Goiás e o Brasil vi-veram nessas quase quatro décadas

de circulação desse jornal.Acompanhei de perto essa traje-

tória de Batista e do DM, desde osidos do Cinco de Março. Num certosentido, fui um espectador privilegi-ado porque participei ativamente dahistória política de nosso Estado edo País e vi as mais diversas opiniõese as minhas serem expressas corre-tamente nas páginas do jornal.

Li nas páginas do Cinco de Marçoe do Diário da Manhã o Brasil mu-dando politicamente. Saindo de umregime militar, aonde era arriscadofazer jornalismo como o que Batistafazia, para uma Democracia em quetodos têm direito a opinar, especial-mente na páginas de artigos do DM.

Nesse espaço democrático nosacostumamos a ler os pontos de vistadivergentes, o amplo de debate deopiniões distintas, no exercício plenoda liberdade de expressão, sem qual-quer tipo de censura ou de “controlesocial” como apregoam os falsos de-mocratas que hoje estão no poder.

Acompanhei o sucesso e as agru-ras de Batista Custódio e de seu gru-po de comunicação. Vi ele e suasempresas serem perseguidos – in-clusive com a prisão dele próprio –quando ainda se faziam sentir os

resquícios do autoritarismo militar.Assim como acompanhei o des-manche de seu conglomerado pelopoder econômico incrustrado napolítica, na vigência de um recém-instalado regime democrático. Mo-mento em que nós, a classe rural deGoiás, nos unimos para viabilizar oretorno do funcionamento do DMpor meio da liberação das máquinas

que estavam arrestadas.Batista, assim como os povos

goiano e brasileiro, não esmore-ceu, deu uma pausa, e retomoucom a mesma pujança, a mesmadisposição de luta de sempre. Ecom a mesma criatividade dosanos 1980, quando montou umadas melhores Redações do País.

Em tempos de internet, o Diá-

rio da Manhã de Batista é um dospoucos jornais brasileiros que dis-põe, gratuitamente, todo o conte-údo de sua edição impressa. Seguesua tradição inovadora: o DM foi oprimeiro jornal diário em Goiás,com sete edições semanais; o pri-meiro a se informatizar, o primei-ro a cores e o primeiro a criar umconselho de leitores.

Portanto, todos nós, goianos ebrasileiros, temos que comemorar, emuito, os 34 anos de existência doDiário da Manhã, um marco no jor-nalismo pela resistência, pela inova-ção, pela sua permanente defesa in-transigente dos legítimos interessesde Goiás e seu povo – mais umaidentidade de todos nós com BatistaCustódio e seu jornal.

Batista, com o seu preparo inte-lectual, sua capacidade de redigir eportador de uma cultura ampla, semnegar suas origens rurais, sobreviveua tudo isso porque Deus lhe deu omais importante dos predicados queum homem pode ter: a coragem.

Longa vida ao Diário da Manhã!

(Ronaldo Caiado, médico, produtor rural e cumpre o seu 5º

mandato como deputado federal)

O dia que a Liberdade amanheceu na imprensa goiana

Ronaldo Caiado

Especial para o Diário da Manhã

Page 3: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 3

O Diário da Manhã cada vezmais se torna não apenas um pa-trimônio de Goiás, mas do Brasil,ao dar sequência à histórica mar-cha de suas origens, o aguerridosemanário Cinco de Março queousou desafiar a censura, o auto-ritarismo e as limitações institu-cionais de sua época.

Os dois veículos são um só,uma iniciativa ímpar na impren-sa nacional comandada pelo jor-nalista Batista Custódio que veioda região de Caiapônia para mar-car de maneira definitiva os ru-mos de Goiás e do País com seutalento, coragem e eterna dispo-sição para dizer a verdade.

Ao celebrar 34 anos de existên-cia, o DM nos remete à sua com-batividade e irrestrita vocação paraa defesa das liberdades, mas é ho-je, sobretudo, uma grande tribunaa que a população pode semprerecorrer para manifestar suas idei-as, reivindicações e críticas.

A trajetória do DM/Cinco deMarço é caracterizada pela resis-tência do editor-geral BatistaCustódio. Ele jamais se curvou di-ante da permanente quebra dospadrões democráticos e da eclo-são de regimes autoritários quefulminaram o estado de direito e

a livre manifestação de ideias. Batista construiu o seu cami-

nho sob forte pressão e censuraem vários períodos, até que pu-déssemos viver a efervescênciada chamada sociedade midiáticacom o rápido avanço de novastecnologias que torna a informa-ção muito mais acessível, diversi-ficada e participativa.

O jornalista Batista Custódio esua grande obra, o DM e Cinco deMarço, sobretudo souberam e sa-bem retratar a defesa intransi-gente do direito universal à liber-dade de expressão, contra a into-lerância e o preconceito, a favorda diversidade e do debate aber-

to, sempre tendo como ponto departida e de chegada a verdade ea imprescindível ética.

Batista Custódio sempre teveconsciência de que não precisaapenas informar sobre as mudan-ças históricas, mas deve ser tam-bém agente de transformações,pugnando por um Goiás e um Bra-sil que superem as desigualdadessociais, as gritantes injustiças, osabusos contra crianças, mulheres,idosos e adolescentes, o flagelo daviolência e a precariedade dos ser-viços públicos principalmente nossetores de saúde, educação, tran-sporte e segurança pública.

O Diário da Manhã e seu ante-

cessor, o Cinco de Março, sempreestiveram vinculados aos interes-ses objetivos do cidadão, infor-mando sobre seus direitos e de-veres, fiscalizando os atos dosadministradores públicos, livreda censura, fazendo um jornalis-mo plural e democrático.

As dificuldades que o jornalistaBatista Custódio viveu e vive nãoforam capazes de aniquilar os seussonhos e esperanças e, hoje, elecontinua na trilha da resistência.

Ao contrário da maioria dosmeios de comunicação de massa,que acentuam o distanciamentoem relação às livres manifesta-ções da sociedade, o DM se tor-

nou no espaço maior para a opi-nião e a reflexão do leitor.

Na batalha para projetar aindamais o DM, Batista Custódio luta pa-ra modificar os valores reinantes, aofazer de seu jornal um livro abertoonde todos possam se manifestar.

Batista Custódio sabe que nãopodemos iniciar e muito menosconcluir nosso itinerário senão pe-lo compromisso firme de lutar poruma sociedade que vença a pobre-za, as injustiças, as desigualdades.

Que as celebrações em tornodos 34 anos do Diário da Manhãpossam cada vez mais ressaltar aimportância da impressa livrecomo a base e o combustível dosregimes democráticos.

Que a luta de Batista Custódiopossa sempre inspirar os jovensque hoje saem às ruas em sua ân-sia por um País livre das mazelas.E que possamos, cada vez mais,nos empenharmos no fortaleci-mento das liberdades como aconquista maior de um Estado ede uma Nação.

Parabéns, Batista Custódio. Pa-rabéns a todos os editores, jornalis-tas e funcionários que constroem agrandeza do Diário da Manhã.

(Iris Rezende Machado(PMDB), ex-prefeito de Goiâniaem três mandatos, foi vereador pe-la Capital; deputado estadual; go-vernador de Goiás por dois man-datos; senador da República; mi-nistro da Agricultura e da Justiça)

Iris Rezende

Especial para o Diário da Manhã

Cinco de Março, Diário dda MManhã e BatistaCustódio: a trincheira pelas liberdades

Page 4: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

Enaltecer o Diário da Manhã semressaltar o Cinco de Março é reconhe-cer o merecimento da cria e esquecero mérito do criador. A legenda do he-roico diário é uma página escrita nahistória do estoico semanário. Os doisjornais, o nascido em março de 1959 eo criado em outubro de 1980, são os56 anos da idade do Templo da Liber-dade na imprensa de Goiás.

O Diário da Manhã é o filho uni-gênito do Cinco de Março, e oOpiniãoPública é a alma do semaná-rio que se incorporou no Diário. E oideal fez-se em luz na usina de ideiasdos mestres da imprensa na escolaque formou os melhores jornalistasque revolucionaram Goiás e atraí-ram luminares do País para o Estado.

O Cinco de Março foi o guerreiroindômito no épico do punhado debravos que salgou a nossa terra como seu suor nas lutas da derrubadados caudilhos. E nunca se rendeu aomedo. Surgiu na época do jaguncis-mo político e impôs a coragem daspraças públicas à recuada da trucu-lência nos currais do poder.

Tornou-se uma legenda viva daresistência inexpugnável pelos dés-potas. Foi fechado no governo deMauro Borges ainda nas fumaças dogolpe de 64, renasceu das cinzas, re-fincou o mastro da liberdade no pei-to da censura na ditadura militar efez o canto dos clamores públicosressoar nas ruas os gemidos dos tor-turados nos quartéis.

Não se calou no Cinco de Março avoz dos líderes que tiveram seus man-datos populares cassados e os direitospolíticos suspensos por 10 anos; aocontrário, tinham espaço para publi-car seus artigos. Um deles era PedroLudovico Teixeira, que declarou:

“O Cinco de Março é o único es-paço da democracia na imprensade Goiás na transição da ditaduramilitar”.

Não era só isso. Foi mais. Ficoumaior com a bandeira que agalhouos jornalistas discriminados pelo re-gime dos Atos Institucionais e nãoeram aceitos nas redações dos ou-tros jornais goianos.

O povo fazia fila às segundas-fei-ras para comprar o Cinco de Março.Seus milhares de exemplares esgota-vam-se nos jornaleiros e nas ancasantes do meio dia. Um fenômeno devendagem! O deputado federal Be-nedito Vicente Ferreira o cunhou,

em um de seus discursos na tribunada Câmara Federal, com essa frase:

“O Cinco de Março é uma espéciede bíblia do povo goiano”.

Para mim, reintero, era um Tem-plo da Liberdade.

O Diário da Manhã veio como achegada da marcha triunfal dessaplêiade de jornalistas que cravou napilastra dos tempos a mudança daimprensa no Brasil em Goiás. Te-nho orgulho de haver participadodessa epopeia que assinalou os goi-anos com a posteridade. Era o go-vernador de Goiás e dediquei meuapoio e incentivo na criação e con-solidação do Diário da Manhã e in-seri meus passos nessa caminhadana proclamação da opinião livre.

O Diário da Manhã puxou a aten-ção dos centros do poder nacionalpara Goiás. Recebeu o prêmio comoo terceiro melhor jornal da imprensabrasileira, entregue pelo presidenteda República, Aureliano Chaves, emsolenidade no auditório da Acade-mia Brasileira de Letras. O ministroGolbery do Couto e Silva, da casa Ci-vil no governo do presidente João Fi-gueiredo, confidenciou ao Nilo Mar-gon Vaz e o Nilo me contou:

“Brasília não precisa mais espe-rar chegar os jornais do Rio e SãoPaulo. O Diário da Manhã passou aser a leitura preferida nos gabinetesde todos os ministros”.

Sentia-me parte dessa honra pa-ra Goiás. Quando deixei o Paláciodas Esmeraldas, o Diário da Manhãestava reconhecido como uma re-ferência do arrojo e da inteligênciados jornalistas locais e dos que ha-viam se mudado de São Paulo e doRio de Janeiro para Goiás.

O Diário da Manhã alçava a glóriada revolução que fizera na história daimprensa brasileira, quando foi fe-chado no governo de Iris Rezende,por uma dessas razões incompressí-veis e que só a irracionalidade do pro-vincianismo ofendido com a presen-ça da modernidade explica. E que ojornalista Batista Custódio sintetizounessa definição: “Os atrasos se uni-ram e venceram a inteligência”.

Como se houvesse feito noite a solpleno, o silêncio ante o inacreditávelpercorreu o coração do povo goiano.Pensei em criar um movimento de re-ação nos meios políticos. Mas estavana condição de ex-governador flage-lado por perseguições inomináveis.Vivia meses de amigos evitando-me.Não os culpava. O ódio os vigiava. Eeu era a caça das vinditas de plantão.A minha solidariedade exporia o meucompadre Batista Custódio ao recru-descimento do rancor nos esquarteja-dores do Diário da Manhã.

Um dia soube dele na penúria eameaçado de prisão. Não me con-tive. Convidei o Ibsen de Castro

para irmos visitá-lo. Custamosachá-lo. Estava morando numapequena casa de aluguel no JardimAmérica. Sentado, sozinho, em umbanco de madeira no alpendre,olhando para a tarde. Recebeu-nossurpreso. Eu e o Ibsen sentamosao seu lado e ficamos quietos. Co-movia-nos vê-lo meditativo e aemoção impedia-nos de falar. Avoz veio-nos e perguntamos comoestava. O meu compadre jornalistaBatista Custódio voltou-se paranós, pensativo e disse-nos:

— Estou me descansando, para ir àluta e reabrir o Diário da Manhã.

Conversamos bastante. A prosaficou boa. Senti vontade de inda-gar-lhe como iria conseguir rom-per o cerco do ódio dos governis-tas, para reabrir o Diário da Ma-nhã. Ele parece ter captado o meupensamento e atalhou-me:

“Não vou revidar o mal com omal. Vou retribuí-lo com o bem.Trabalharei com um material emuma oficina que não poderão fe-char. A oficina é a minha cabeça. Omaterial são as minhas ideias”.

O Fábio Nasser chegou na horae interrompeu o encontro. Disseque tinha ido buscar o pai e infor-mou-nos que os dois iam se mu-dar àquela noite para um barra-cão no Parque Amazonas.

Eu e o Ibsen saímos e ficamos pa-rados na calçada há uns passos daporta, trocando impressões e avalian-do a situação do nosso amigo. O Ib-sen garantiu-me:

“Com toda certeza, o Batista rea-brirá o Diário da Manhã. Conheço-odesde menino. Crescemos juntos emCaiapônia. Vi-o fazer coisas de a gen-te tirar o chapéu para ele”.

Estreitei ainda mais o convívio

com o meu compadre mês a mês.Ele sempre otimista. Mas um dianotei-o mais entusiasmado e quissaber a causa da sua euforia e segre-dou-me o motivo:

“O Francisco Cândido Xaviermandou chamar-me a Uberaba.Fez-me muitas revelações e termi-nou dizendo: “Não há poderes ter-renos capazes de impedir-me de re-abrir o Diário da Manhã”. A sua pa-lavra valeu-me como um salmo.

Então não tive a menor dúvida deque voltaria a ler o Diário da Manhã.O Batista cavou dois anos. Deu meiavolta na descida penosa e subiu re-signado a escalada das amarguras.Incansável e obstinado. Feliz na tris-tezas e renascido nos estragos. Am-parado pela solidariedade de tantose ajudado pelas doações de muitos.Essa é a história que acompanheidesse lutador que não se alterou nossacrifícios e vencedor dos desafiosnos 56 anos do Cinco de Março e doDiário da Manhã, em que liderou acaravana dos valorosos jornalistasque, mais que simbolizarem a vozde um povo, fizeram-se um hino àsliberdades públicas.

Os heróis, que a História irá lendoseus nomes para as gerações seguin-tes, formam uma enormidade inso-mável de notáveis jornalistas e citaraqui alguns deles seria um ato imper-doável para com os demais. Por isso,encerro essa minha homenagem acada um e extensiva a todos eles,com um pensamento do próprio jor-nalista Batista Custódio:

“Os sonhadores não morrem nossonhos. Apenas são acordados. Evoltam a sonhar”.

(Ary Ribeiro Valadão, governador doEstado de Goiás, de 1979 e 1983)

Ary ValadãoEspecial para o Diário da Manhã

Templos da Liberdade

OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 20144

Com o espírito da liberdade

Não se pode negar a vocaçãodemocrática do Diário da Ma-nhã em seus anos de história eapostolado como um defensordo princípio elementar do livreexercício do pensamento. O Di-ário da Manhã sempre foi as-sim: um misto de guardião eprodutor destas liberdades: a deopinião e a de expressão.

O jornalismo exercido por seueditor-geral, Batista Custódio,parte da necessidade de que épreciso estimular a sociedade adizer o que pensa. Tanto que setem por aqui a ideia de que umarua corta a Redação do jornal, tra-zendo as vozes do povo para oscomputadores, para depois, se-rem impressas em suas páginas.

Sempre foi assim e assim será.Batista, como editor-geral, che-

ga ao cúmulo de publicar artigosque, às vezes, o criticam. E, tam-bém, às vezes, a postura do jornal.Não receia o contraditório, o viésda sociedade democrática.

Sempre foi assim e sempre será:um defensor dos direitos funda-mentais, inclusive, compilado e dis-

posto no artigo XIX, da DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos:

— Toda pessoa tem direito à li-berdade de opinião e expressão; es-te direito inclui a liberdade de, seminterferência, ter opiniões e de pro-curar, receber e transmitir informa-ções e ideias por quaisquer meios eindependentemente de fronteiras— sentencia a declaração, corrobo-rada pela prática do DM.

Vale lembrar, o Diário da Ma-nhã é o único jornal no País (issomesmo, no País!) a ter espaço pri-vilegiado para seu leitor. Único: oseu caderno OpiniãoPública. Nelehá um passeio de pensamentos ede responsabilidades, onde cadaum sugere, critica e diz o que querdizer, sem a censura prévia ouposterior dos editores de área. Tu-do de acordo com os humores dasruas, das avenidas populares quecarregam em suas veias o valorrelevante da notícia.

O espírito democrático do Diárioda Manhã não para por aí e nemvai parar. Vai além quando percebeque o cidadão tem o direito de semanifestar e ser assistido, assim,por uma plataforma ou veículo decomunicação, e ser termômetro desua época, para aferir qual seria overdadeiro valor e a verdadeira ne-cessidade de nossas instituições.

Um jornal com os braços abertospara seus leitores.

Não há uma única pessoa quepossa dizer que foi vítima de cen-sura no Diário da Manhã. Aqui,todos são assistidos de forma im-parcial, onde a reportagem aten-de os pré-requisitos básicos de seouvir o quem acusa e o acusado,dentro da mesma proporcionali-dade pregada pela justiça.

O Diário da Manhã busca darvoz ativa ao cidadão, que experi-menta um processo novo, sem arepetição do velho atraso e sem ovício do autoritarismo. Cumprecom o preceito básico da partici-

pação como elemento primordialpara o desenvolvimento social.

Em épocas de eleição, das dis-putas partidárias, o Diário daManhã sempre liberou as suaspáginas para a declaração dosvotos de seu funcionário. O edi-tor-geral, sempre, sempre, emseus editoriais, declarou a suaopção eleitoral. Nunca escondeude ninguém ou deixou subenten-der a preferência partidária, múl-tipla, por sinal, da redação.

Sempre foi assim e assim será.Com esses preceitos, aposta-

se numa redação sem cabrestos,sem interesses econômicos eque possa representar a plurali-dade das avenidas, dessas vonta-des populares. Não há comodesdenhar a liberdade cívica dasopiniões públicas sob o pretextode estarmos construindo umambiente perfeito para as dita-duras, onde apenas os podero-sos têm o direito da opinião e seexpressam goela abaixo como‘cassandras do agouro’.

É preciso lavar a consciênciacom essas águas da liberdade eensinar as gerações hodiernassobre a importância de um jor-nalismo que pratique o bem, semo maniqueísmo, e que consideretodas as relevâncias sociais comoforma de ser e ter, inclusive, umaferramenta pedagógica para osmais novos aprenderem a fazerleituras de seu tempo.

Afinal, jornalismo é, de fato ede direito, o espelho da realidadee não pode ser visto de forma in-vertida, nem distorcida no senti-do de falsear ou manipular os fa-tos que não representam estamesma realidade.

O jornalismo do Diário da Ma-nhã é e sempre será assim: dire-to, imparcial, e feito com osolhos das multidões.

(Ulisses Aesse, jornalista)

Ulisses AesseEspecial para o Diário da Manhã

Page 5: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 5

Longos e espinhosos são os cami-nhos da imprensa. Batista Custódioque o diga, após essa caminhada, queainda vai pelo meio, mas que já dura55 anos. Que diga o quanto tem os péscansados e quantos arranhões traz napele e na alma, conquistados ao longodela. Acompanhei à distância o nascerdo Cinco de Março. Estudava no Riode Janeiro (que ainda era uma CidadeMaravilhosa), mas acompanhava pe-los jornais que minha mãe mandavareligiosamente, os acontecidos de Go-iás. A perseguição aos estudantes na-quele cinco de março de 1959, a vibra-ção do Jornal do Estudante, a suatransformação no Cinco de Março, aação corajosa de Batista Custódio eTelmo Faria, encarnando a rebeldia ea esperança da juventude estudiosadaquela época, pude acompanhar àdistância, como estudante que eutambém era. Na década de 1960, oumelhor, no seu início, já em Goiás, pordemais atarefado com a carreira deengenheiro recém-formado, traba-lhando no interior, fui apenas leitor,mas ler o Cinco de Março era obriga-ção. Afinal, mostrar o errado, sem pa-pas na língua, ou melhor, na pena, eracom Batista mesmo.

Comecei a torcer minha trajetóriade técnico para político em fins de1963, começo de 1964, quando pas-sei, com um grupo de oposição, aconspirar contra os governos de JoãoGoulart e Mauro Borges. João Goulartera uma Dilma de então, namorandocom o comunismo. Só que um pouco(se isto é possível) piorado, instigando

empregados contra patrões, solda-dos, cabos e sargentos contra oficiais.Dava cobertura às Ligas Camponesas,do deputado comunista Francisco Ju-lião, invasoras e depredadoras de pro-priedades rurais. Vejo hoje o banditis-mo do MST e como é manobrado pe-lo maluco marginal João Pedro Stédi-le e tenho a sensação de filme já visto.Principalmente quando membros dagang são recebidos pela presidenteapós tentar invadir o Supremo Tribu-nal Federal e surrar soldados da Polí-cia Militar do Distrito Federal.

Mauro Borges fazia um excelentegoverno, do ponto de vista administra-tivo, mas parecia ter suas simpatias pe-los comunistas, que ocupavam cargosimportantes no governo local. E está-vamos em plena Guerra Fria. É sabidoo que se passou depois, e acabou so-brando para o Cinco de Março, invadi-do e empastelado por Policiais Milita-res goianos, quando descobriu a cor-rupção envolvendo oficiais da corpo-ração. Em 1969, visitei Batista na pri-são. Amargava uma punição por crimede opinião, de que poderia ter se livra-do se dobrasse a espinha para algunspoderosos goianos, coisa que não acei-tou. Começando a me envolver com apolítica local, tinha amizade com o de-putado Emival Caiado, que havia sidoadversário ferrenho de Mauro Borges,e detinha, também um jornal, o Diáriodo Oeste. Leonino Caiado, primo deEmival havia sido indicado pelo gover-no militar como governador, a sereleito pela Assembleia Legislativa, em1970. Emival pretendeu disputar oSenado naquele ano, numa eleiçãopara três vagas. Batista Custódio, viado Cinco de Março, abriu as bateriascontra a pretensão, alegando queEmival, por ser primo do governador,seria beneficiado na disputa. Batista

ignorava a briga familiar que existia, ecomo Leonino via com má vontade apretensão do primo.

Vem daí meu melhor conheci-mento com Batista. Fiz um artigo de-fendendo a candidatura de Emival efui ao Cinco de Março, pedindo suapublicação. Fui muito bem recebido,e mesmo na minha presença Batistamandou que o artigo fosse para pu-blicação já na próxima edição, embo-ra contrariasse a opinião do jornal edo próprio. Estreitamos mais nossarelação quando fui presidente daCelg, no governo Leonino Caiado, emais de uma vez tive publicados arti-gos meus no Cinco de Março. Discutí-amos política local e nacional, e às ve-zes aquecíamos nosso debate, nemsempre convergente, mas dentro dorespeito democrático. Quando fui go-vernador, embora nunca tenhamosrompido nosso diálogo, tivemos nos-sas rusgas, mais por minha culpa. Afi-nal, eu era governador, e além disso

novo e inexperiente, e autoridadesgovernamentais só gostam mesmo éde elogios. Vejam a vontade que osgovernos do PT têm de censurar a im-prensa, e como não desistem da ideia,mesmo tendo a enorme coberturaque a imprensa lhes dá. Felizmente, orepúdio da sociedade à censura é to-tal, o que se não desencoraja os petis-tas, ao menos faz com que eles adiemas medidas autoritárias.

Findo meu governo, quando depu-tado e senador, e mesmo após, nãomais perdi o contato com Batista.Quando meu banco, o BBC foi liquida-do pelo Banco Central, foi Batista umdos poucos a me dar um conforto sin-cero e desinteressado. Houve umaépoca em que eu escrevia regularmen-te para o Diário da Manhã, sucessornatural do Cinco de Março, a partir de1979. Fui testemunha da luta dessesdois jornais – que na verdade são umsó – nessa trajetória encetada por Ba-tista e uma pequena tribo de compa-

nheiros que não o deixaram sozinhonos momentos duros que passou. E osmomentos difíceis, na atividade queele escolheu, ou pela qual foi escolhido– vá lá conhecer o determinismo divi-no – são muito mais numerosos queos de bonança. Telmo Faria, Jávier Go-dinho, Consuelo Nasser, a mulher in-teligente e companheira, os filhos.Além deles, poucos mais.

Como eu disse, uma pequena tribo.É evidente que falo dos companheirosde jornada, aqueles que levam paracasa toda a enormidade do problematécnico, empresarial e moral que en-volve uma empresa jornalística, e dor-mem com ela embaixo do travesseiro.Não falo dos funcionários da Redaçãoe da gráfica, pois sempre, mesmo nasdificuldades, sabe-se lá como, funcio-nou nos jornais uma boa equipe detécnicos, repórteres, fotógrafos e etcé-tera. Como eu disse lá em cima, a ca-minhada desse jornal – desses jornais– vai a meio, e vai a meio a de BatistaCustódio, que se confunde com eles.Ele pode não saber, mas não é só decarne e osso, é também um homemde papel e tinta, tanto que esses doiselementos se mesclaram com a suaexistência. E ele nos deve ainda a His-tória de Goiás que está escrevendo, eainda não saiu à luz. Por certo des-pertará polêmicas e melindres, com-panheiros inseparáveis da verdade,principalmente da verdade publica-da. Todos vimos a discussão recentesobre a proibição de publicar biogra-fias não autorizadas. Nossos cumpri-mentos, Cinco de Março, Diário daManhã e Batista Custódio.

(Irapuan Costa Junior, foigovernador de Goiás, de 15 de

março de 1975 a 5 de janeiro de 1979 ede 15 de janeiro a 15 de março de 1979)

Irapuan Costa JuniorEspecial para o Diário da Manhã

Batista Custódio – do Cincode Março ao Diário dda MManhã

Page 6: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 20146

Se tem uma coisa da qual me orgulhomuito é a minha profissão – jornalista. E dehá muito descobri que sou muito mais dealma e princípios, que no exercício profissi-onal. Trocando isso em miúdos, nasci paraser operário da notícia. Da informação quecria e respalda consciências, que se alimen-ta dos anseios de democracia e liberdade deum povo e que não negocia com nenhumde seus princípios e ideais.

Por ter conhecido de forma direta os ta-cões ditatoriais daqueles que temem o povoe tentam amordaçá-lo, pressionando órgãode comunicação com a podridão da censurae de objetivos inconfessáveis, me considero,sem modéstia, intransigente e inflexível de-fensor da liberdade de imprensa. Um paíssem imprensa livre é uma nação sem alma.Aliás, liberdade de pensamento e de expres-são faz parte dos anseios populares e se in-sere entre os direitos fundamentais garanti-dos na Constituição Federal.

Em Goiás, a trajetória do Diário da Ma-nhã (orgulho-me de ter feito parte da equi-pe que o lançou em março de 1980) tem si-do, ao longo dos anos, prova cabal de que aimprensa livre é a advogada soberana dosanseios populares e a grande arma da socie-dade contra a vilania dos que se atrevem ainsurgir contra o povo.

O DM é a alma e a feliz consequência doCinco de Março, que, nascido com a luta dosestudantes, bravamente combateu por vá-rios anos os oligarcas e tiranos que teima-vam em confundir Goiás com seus interes-ses pessoais. E se o Cinco de Março foi imo-lado pela opressão da Ditadura, o Diário daManhã é o canto de liberdade onde a novahistória da sociedade goiana se faz em tem-pos de paz e democracia.

Importante lembrar que uma democra-cia só se consolida quando tem uma im-prensa livre. O Diário da Manhã jamais ne-gou espaços a quem quer que seja. E sabereagir quando necessário, sem perder adignidade jamais.

Diferente do estopim curto de vários po-vos, o brasileiro tem a pausada calma dos

amantes da paz. Mas já aprendemos quepodemos reagir quando nossos brios sãoofendidos por adversários tenazes. A li-berdade de expressão que o DM ensejaaos que respaldam ou combatem deter-minadas posições permite o debate indis-pensável onde a soberania de um povodeve se erguer e se sustentar.

Em suas páginas, o Diário da Manhãsempre enfatiza que a grandeza de umpovo está intimamente ligada à liberdadede imprensa, com sua capacidade de crí-tica preservada e seu trabalho respeitado.E é com esse comportamento, imutávelem mais de três décadas, que o Diário daManhã atesta ser a liberdade de impren-sa um preceito democrático, no qual de-vemos atuar sem tréguas para que seconsolide cada vez mais.

Necessário destacar que essa postura deum veículo de comunicação não teria sidopossível manter-se coerente sem o ideal deum homem. E toda a vida do jornalista Ba-tista Custódio se confunde com a históriado Cinco de Março e do Diário da Manhã,ambos produtos qualificados de sua menteinquieta e aflita pelas necessidades libertá-rias de qualquer cidadão. A liderança deBatista pontifica serenamente, imposta pe-lo seu próprio exemplo, mas sempre com afirmeza dos bravos, sem medo dos podero-sos e em defesa dos que carregam a ban-deira da justiça e da igualdade.

(Jayro Rodrigues, jornalista)

Jayro Rodrigues

Especial para o Diário da Manhã

A alma e o coraçãodo DDiiáárriioo ddaa MMaannhhãã

O Diário da Manhã, cujo 34º aniversáriofoi neste 12/03/2014, é marco de significa-tiva evolução da mídia escrita em Goiás.Motivo: foi o primeiro jornal goiano comuma configuração nacional e mesmo uni-versal, ou seja, detentor de conteúdo emnível dos principais jornais do mundo. Foireferência, nos seus primeiros tempos decirculação. Depois, dificuldades econômi-cas levaram-no a deixar de circular por al-gum tempo. Ressurgiu em 1986 graças aoesforço e à obstinação de seu idealizador, ojornalista Batista Custódio dos Santos.

O Batista é protagonista de importantes ca-pítulos da história da imprensa em Goiás hámais de meio século. Há 55 anos, inspiradoem fatos marcantes do movimento estudantilsecundarista de então, ele criou o mais famososemanário de que se tem notícia em Goiás: oCinco de Março, que foi, a exemplo de seu su-cessor DM, um elemento novo no cenário deGoiás, denunciador de mazelas, polêmico,inovador. Desde o seu lançamento Goiás jánão seria o mesmo. Aquele semanário contri-buiu para mexer com a política, com as pesso-as, com a vida dos goianos.

Vale aqui um parêntese: a data de 5 de mar-ço é o aniversário do aparecimento da im-prensa em Goiás. Foi em 5 de março de 1930 olançamento na então Meia Ponte, hoje Pire-nópolis, do Matutina Meiapontense, o primei-ro jornal de Goiás. Uma coincidência feliz.

Ainda não havia chegado ao fim o ciclo doCinco de Março, Batista Custódio surpreendeude novo, lançando o Diário da Manhã no dia12-03-1980. Os dois jornais circularam simul-taneamente durante algum tempo. Eu escre-

via para ambos. Territórios livres para a difu-são da verdade e o autêntico e moderno jorna-lismo. Tanto isto é verdade que alguns dosprincipais nomes da imprensa no Brasil fize-ram opção por trabalhar no Diário da Manhã.

Ao longo de tantos anos o Diário da Ma-nhã tem materializado os sonhos de livrepensador de Batista Custódio. Continua mo-derno e inovador. Sim, querem prova? Poisbem: que outro jornal abre espaço a todas astendências, a todo o universo de pensamen-tos? Só mesmo o Diário da Manhã, atravésdo caderno OpiniãoPública. Assim será en-quanto o Batista Custódio puder dar vasão àsidéias que são o sustentáculo de sua luta.

Na condição de presidente da AGI, entida-de que em 10 de setembro deste ano chegaráao 80º ano de fundação, e que já foi presidida(1967/69) pelo Batista, saúdo o 34º aniversáriodo querido DM, bem como o 55º do bravoCinco de Março. Dois instrumentos de con-quistas para Goiás. Marcos relevantes da his-tória da imprensa em Goiás e no Brasil.

(Valterli Guedes, presidente da AssociaçãoGoiana de Imprensa (AGI) e componente doquadro e articulistas do Diário da Manhã).

Valterli Guedes

Especial para o Diário da Manhã

Os 34 anos do DDiiáárriioo ddaa MMaannhhãã

(E o 55º aniversário de fundação do Cinco de Março)

História de coragem

“Às segundas-feiras, os cor-ruptos acordam mais cedo”.

O forte slogan nunca deixoumargem para dúvidas sobre ocaráter da publicação: combati-vo, independente, guerreiro. As-sim foi o jornal Cinco de Março,fundado em 1959, há 55 anos.

A alusão às segundas-feirasno slogan tinha a ver com o diada semana em que o jornal cir-culava, embalado pela cora-gem e pela competência dojornalista Batista Custódio, seuidealizador e fundador, entãoapenas um jovem estudante,junto com outro estudante ide-alista, Telmo de Faria.

O nome deste lendário peri-ódico, de grande importânciana história de Goiás e do Brasil,remontava ao dia cinco de mar-ço de 1959. Naquela data, umgrupo de estudantes secunda-ristas que promovia um justo epacífico protesto contra au-mentos abusivos de anuidades,foram brutalmente reprimidospela Polícia Militar. Um episó-dio que gerou forte comoção egrande reação no país inteiro.

Das mãos de seu grandementor, jornalista Batista Cus-tódio, nas mais de duas déca-das em que circulou, o jornalCinco de Março nunca perdeuo perfil e as características quemarcaram a sua fundação. Foisempre, em toda a sua história,um guerreiro implacável con-tra a corrupção e pelas liberda-

des e a democracia.Em 1980, o projeto do Cinco

de Março foi substituído poroutro grande projeto, o Diárioda Manhã. Fundado sob osmesmos pilares, também sobos auspícios de Batista Custó-dio, o Diário da Manhã agrega-va uma nova e importante am-bição: o de fazer em Goiás umjornal diário de dimensões na-cionais. E assim foi feito: depoisdo Cinco de Março, o Diário daManhã marcou uma das pági-nas mais importantes da histó-ria da imprensa nacional.

Pelo Diário da Manhã desfi-laram o talento de jornalistasde peso nacional, como AloysioBiondi, Jânio de Freitas, MiltonCoelho da Graça, WashingtonNovaes, entre tantos outros.Juntos ao líder Batista Custó-dio, esse conjunto de homensidealistas e obstinados constru-íram algumas das mais belaspáginas de liberdade, de resis-tência e de coragem no jorna-lismo brasileiro.

Com a força de poucos, Ba-tista Custódio resistiu a crises,a ataques contra a liberdade eainda hoje mantém seu sonhode pé, através do mesmo Diá-

rio da Manhã, plural, inde-pendente, sempre inovador eaberto à sociedade. Caracterís-ticas refletidas no maior espa-ço que um jornal diário doBrasil abre às opiniões, atravésdo caderno OpiniãoPública, eda retidão com que se apre-senta diante dos grandes te-mas locais e nacionais.

E aqui há que se fazer umparêntese e ressaltar a figura deBatista Custódio, sem o qualnada disso teria acontecido.Ser humano excepcional, jor-nalista combativo, homem decoragem e caráter acima damédia, intelectual respeitado.

É a ele, Batista Custódio, aquem rendemos nossa homena-gem nessa data tão importantepara o jornalismo e a democra-cia brasileira, quando se marcaos 55 anos de fundação do len-dário Cinco de Março. Homena-gear Batista e o Cinco de Março éhomenagear o jornalismo livre eindependente, sem o qual osmais importantes pilares da de-mocracia não se sustentariam.

(Maguito Vilela, prefeito deAparecida de Goiânia e ex-go-vernador de Goiás)

Maguito VilelaEspecial para o Diário da Manhã

Page 7: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 7

Cinco de Março/Diário dda MManhã,dois jornais uma mesma história

Todas as pessoas nascem livres eiguais em dignidade e direitos. Sãodotadas de razão e consciência edevem agir em relação umas àsoutras com espírito de fraternida-de. ( Declaração Universal dos Di-reitos Humanos Artigo II )

As águas de março trazem lem-branças, boas lembranças, brabaslembranças da criação do Cinco deMarço na virada dos anos cin-qüenta para sessenta e do Diárioda Manhã (sucessor legítimo) dosanos setenta para oitenta do fimda ditadura e auroras e alvoradasda democracia, liberdade e cida-dania. Vejam pesquisa do Ibopefeita para e pelo Governo Dilmainforma que televisão e internetsão os dois meios de comunica-ção mais influentes hoje no Brasil.Metade da população principal-mente jovem acessa internet e umterço assiste televisão. Porém,sempre tem um, porém, é a im-prensa escrita que influencia maise melhor. Forma opinião. Os cha-mados meios de comunicação so-cial estão cada vez mais influentesmais os movimentos sociais emesmo as manifestações suas querepercutem na opinião publica epublicada. É verdade há uma opi-nião pública que vai e vem deacordo com os acontecimentos,eventos, mobilizações, histórias erepercussões. Às vezes seguem amídia, às vezes e muitas vezes se-guem outros caminhos sociais,culturais e políticos. Existem tam-bém a chamada opinião publica-da que é aquela que certa impren-sa tenta passar para o povo. Ve-jam e comparem notícias das cri-ses na Venezuela, na Ucrânia, naCrimeia, na Síria, antes no Iraquee mesmo recentemente na Argen-tina. Esta mídia quase sempreconservadora publica pesquisasobre queda da popularidade deDilma e em primeira página. De-pois uma semana depois colocana terceira pagina pesquisa quediz Dilma vencerá no primeiroturno eleição para a presidênciada república seja candidato quefor, foi ou será. A mídia global esatrapias joga pedra e esconde amão, mas uma coisa ninguém es-quece que buscam ibope com no-tícias cada vez mais ruins. Temosnotícias ruins sempre, mas a ma-neira de escrever, mostrar e publi-cá-las não tem nada de republica-no. E para isso vejam que os jor-nalistas dos institutos milênios(ipes e ibads de hoje como o fo-ram há cinqüenta anos no golpecivil e militar. E que estabeleceu aditadura no Brasil por longos anosde chumbos, exílios, prisões, tor-turas, desaparecimentos, censu-ras, formação de grandes gruposmidiáticos que colaboraram e

muito com a chamada ditaduranada branda. Houve até arrepen-dimentos. Revelam notícias nãorevelam interesses? E a opiniãopública? E os interesses públicos eprivados face verbas oficiais, par-ticulares, políticas, econômicas,religiosas estão na ordem do dia?E dos meios de comunicação, pu-blicidade, propaganda, versos,versões, opiniões, investigações,copiações, plágios, unilateralida-des? E a nave planetária segue porespaços e tempos cada vez maisdemocráticos, libertários, iguali-tários, solidários, comunicativos esocializadores? Quem viver, verá?Oxalá. Hoje e amanhã, sempre.

1. Estas são reflexões indoloresnão pagas com dinheiramas pu-blicas e ou privadas, econômicasou religiosas dizimáticas, culturais

ou políticas, culturais ou ambien-talistas. Cinco de Março/Diário daManhã de Batista, Consuelo, Fá-bio, Imara, Júlio, Marli e João doSonho e Maria do Céu. Cinco deMarço/Diário da Manhã realiza-ção das utopias de um jovem comoutros jovens. Sonhos de Caiapô-nia do Rio Bonito de todas as re-servas cerradinas encantadas damargem direita do Rio Araguaia.

2. Assim ao longo da históriameios de comunicação forjam suaexistência e sua presença em Goi-ás e no Brasil e podemos dizer nomundo? Quem souber ler as en-trelinhas sabe muito bem todaverdade da notícia no país da casagrande e senzala aos arbores doséculo XXI. Comunicação é umdireito humano. O direito a infor-mação, comunicação exige de to-dos nós cada vez mais e melhorobjetividade, transparência, alte-ridade, investigação, democraciae liberdade.

3. Posso dizer do Cinco de Mar-ço que surgiu das mobilizações emanifestações da juventude es-tudantil dos anos dourados de JKe Jango (com o hiato de Jânio)

aos anos de chumbo da ditadura.Ditadura que matou sonhos ehomens e mulheres, muitos ain-da imberbes e mesmo campo-neses que lutavam por democra-cia, liberdade, justiça e paz. Mui-tos dos lutadores dos anos dou-rados continuaram nas lutascontra a ditadura. Outros nemtantos! Pularam de lado. Silencia-ram, desapareceram nas brumasda ditadura militar. Muitos ou-tros desapareceram, mas onteme hoje falam, gritam por outrospor verdade, memória, justiça.Gritam por educação, saúde,passe livre, tipo fifa, pleno em-prego, carro. E segurança na lutacontra a droga, violência urbanae rural. Violência sempre contra?E por saneamento básico comoágua, esgoto tratados e felicida-

de. Muita felicidade porque sãotambém filhos de Deus ou não?

5. Muita imprensa e gente boagente goiana, brasileira contribu-iu pela democracia e liberdade,cidadania e oportunidade de vidae trabalho, melhores. E para todasas mulheres e homens da juven-tude, presente e futuro do Brasil.Assim acompanhamos a históriade dois jornais o Cinco de Março eseu sucessor, continuidade o Diá-rio da Manhã. Cinco de março de1959. Diário da Manhã dos anossetenta para oitenta. Cinco de Mar-ço do apoio da juventude. Jornalsemanário que apoiou as lutascamponesas de José Porfírio,Arão, Doracina, Manuel, NenémCarreiro, Dirce, Zesobrinho, Go-doy, Tibúrcio, Sebastião Abreu.Apoiou as lutas pelas reformas debase, agrária, universitária e ban-cária. Apoiou a luta contra a dita-dura sofrendo empastalamentoslocais e nacionais. Censuras econtroles diretos e indiretos eprincipalmente econômicos quedepois vai atingir seu sucessor oDiário da Manhã. Cinco de Mar-ço/Diário da Manhã de Batista,

Telmo Faria, Geraldo Vale, Valdo-miro, Edismar, Reinaldo Jardim,Washington Novais, Sérgio Paulo,Servito, Ulisses Aessie Javier Godi-nho, Marco Antonio, Pindé, JoãoSó. Cinco de Março que publicou aprimeira pesquisa e análise sobrepopulações posseiras (Pedro Wil-son, Lucia Peixoto, Lucia MoraesARQ/PUC/1976) de Goiânia de-pois republicada na Revista da Ar-quidiocese de Dom Fernando Go-mes que muito ajudou BatistaCustodio levar gráfica e indepen-dentemente o Cinco de Março. Cin-co que forjou gerações e geraçõesde comunicadores sociais com to-das as suas certezas, criticas, in-certezas, dificuldades e facilida-des, contradições e opiniões, im-pressões e circulações, leituras ecríticas. Cinco de Março foi ao lado

do Varadouro do Acre, Opinião,Movimento, jornais Estudantis,Pasquim, Jornais de MovimentosSociais e Partidos Clandestinos,Boletins da CPT, Jornal do CIMI eJornal dos Sem Terra, Coojornalde Porto Alegre, Em tempo, O SãoPaulo, O Deboche e o quase Pagi-na Um, os principais jornais deresistência a ditadura. Batistanum lance de ousadia cria um jor-nal diário num Brasil palpitantede opiniões e lutas pela anistiaampla, geral e irrestrita, novospartidos, diretas já, constituinte,volta dos irmãos do Henfil queeram todos os exilados para novoBrasil que agora estamos vivendopra melhor. Diário do colégio elei-toral que elegeu Tancredo e em-possou Sarney tutelado pelos mi-litares porque na verdade devería-mos ter novas eleições ou possedo Ulysses Guimarães. Diário daManhã testemunha a anistia im-posta. Não houve acordo ne-nhum. Havia dois projetos e o daoposição foi derrotado por pres-são do general de plantão. Fomospara frente e veio a Constituiçãode 1988 que o centrão barrou

muitas conquistas, mas que foimarco para fazer avançar a demo-cracia no Brasil. Diário das elei-ções diretas para prefeito de capi-tais e instâncias turísticas, gover-nadores e depois as memoráveiseleições de 1989, 1994, 1998 comCollor, Itamar e FHC. Eleições de2002, 2006, e 2010 que elegeramLula e Dilma para a presidênciacom eleição de um operário. E deuma mulher com governado-res/as, prefeitos/as, parlamenta-res, juízes e servidores públicos,MPs. E trabalhadores e empresá-rios que estão construindo umapátria mais justa e mais fraternanum mundo de profundas desi-gualdades sociais e econômicascapitalistas. Cinco de Março e Diá-rio da Manhã das lutas naciona-listas latino-americanas e africa-nas e mesmo asiáticas. Cinco deMarço e Diário da Manhã de JoãoXXI e agora de Francisco por umarenovada igreja do evangelho re-volucionário de Jesus para que to-dos os homens e mulheresamem-se uns aos outros por ummundo de paz e justiça social.Cinco de Março/Diário da Manhãda viagem de Gagarim ao espaço.Viagem à lua pelos americanos.Jornal da queda do muro de Ber-lim, das novas migrações, guerrasreligiosas, colonialistas que pro-movem a exclusão social, segrega-ção, tráfico de mulheres e crian-ças, Cinco de Março/Diário daManhã das notícias terríveis dosconsumos de drogas, tráfico dearmas, corrupções, lavagem dedinheiro. E das desigualdadessociais, manipulações midiáti-cas, doenças, analfabetismos. Ede violências e guerras regionaisnova guerra fria, controles ilegaisdas comunicações telefônicas,internets. E censuras econômi-cas para jornais livres. Cinco deMarço/D.Manhã das mudançasclimáticas? E das copas e olim-píadas aqui e do mundo. E daseleições livres e libertadoras aquie em todo lugar democrático. Di-tadura e tortura nunca mais.Longa memória do Cinco de Mar-ço, Longa vida para o Diário daManhã e para toda comunicaçãolibertadora e democrática. Hojee amanhã. Brasil emergente, sus-tentável, desenvolvido. Oxalá.Brasil com liberdade de expres-são e impressão.

(Pedro Wilson Guimarães, pre-sidente da Agência Municipal doMeio Ambiente de Goiânia/2013 –Amma. Presidente da AssociaçãoNacional dos Órgãos Municipaisde Meio Ambiente – Anamma2013/2015. Secretário do Ministé-rio do Meio Ambiente2012/2013.Prefeito e vereador de Goiânia. De-putado federal de 1993-2011PT/GO. Professor da UFG e daPUC-GOIÁS. Militante dos Movi-mentos de Direitos Humanos, Fé ePolítica, Educação, Cerrados. E-mail: [email protected])

Pedro WilsonEspecial para o Diário da Manhã

Page 8: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

Cinco de Março-DDiiáárriioo ddaa MMaannhhãã,patrimônio do povo e dos municípios

A trajetória dos jornais Cinco deMarço e Diário da Manhã é, na verda-de, uma conquista de toda a sociedade.

A grande obra do jornalista Batis-ta Custódio veio de encontro aos an-seios de Goiás e do Brasil, ao dar vozpara os que não tinham onde se ex-pressar, ao permitir o confronto deideias que revigoram os caminhosdo crescimento humano e social.

O protagonismo do Cinco de Mar-ço como o semanário que não se cur-vou diante dos desmandos, que resis-tiu bravamente frente aos censores,que ousou desafiar padrões autoritá-rios e valores da época, fundamentouo surgimento e enorme evolução doDiário da Manhã. Este já nasceu forte,robustecido pela história vitoriosa evibrante de seu antecessor, e não de-morou muito para fazer de Goiás ocentro da imprensa brasileira.

Batista Custódio conseguiu a pri-mazia de transformar o DM no jornalmais dinâmico do País, a ponto deatrair renomados jornalistas de proje-ção nacional, desde Washington No-vaes a Aluísio Biondi e Paulo Henri-que Amorim. As suas páginas tam-bém foram pioneiras ao contar com a

colaboração dos maiores intelectuaisdo Brasil, a começar por CarlosDrummond de Andrade.

O DM celebra 34 anos, mas sua lu-ta parece ter existido desde sempre,porque o jornal traz no seu interiorvalores imutáveis, como a ânsia pelademocracia, pela Justiça social e pelamais ampla participação popular.

Os grandes ideais podem e devemser tudo o que um jornal realmentenecessita mas, além personificar esteconceito, o Diário da Manhã soubetambém acumular uma série de pio-neirismos jamais vistos na trajetóriada mídia. No exercício pleno da de-mocracia, foi o primeiro jornal a terconselho de leitores.

O DM foi o primeiro com edi-ções nos sete dias da semana, a im-plantar TV integrada e interagindocom o público, a disponibilizar to-do o conteúdo na internet.

Além do pioneirismo técnico, o Di-ário da Manhã se notabilizou ao en-campar bandeiras que hoje cada vezmais se tornam realidade. Frente àsinúmeras dificuldades, defendeu emum grande livro a construção da Fer-rovia Norte-Sul quando o Brasil, porintermédio da opinião pública rei-nante, desdenhava da obra.

Os temas ligados ao meio ambi-ente também foram objeto das pri-meiras manifestações por parte doDM, que encampou inúmeras ba-

talhas em defesa dos nossos recur-sos naturais, desde o Rio Araguaiaaté o Vale do Encantado.

Mas o forte mesmo de Batista Cus-tódio é o eterno amor pela liberdade.Seu feito mais pujante foi criar um ca-derno inteiro, o OpiniãoPública, intei-ramente devotado ao leitor, a pontode o jornal trazer na sua capa umanúncio para que todos enviem arti-gos com foto. Esta abertura represen-ta, sim, uma revolução nas imprensasbrasileira e mundial, e coloca o DMcomo exemplo vivo a ser seguido.

Importa, especialmente, reco-nhecer a difícil caminhada do jor-nalista Batista Custódio que resistecom heroísmo aos sucessivos entra-ves desde os obstáculos políticosdos tempos do Cinco de Março, até

as questões de ordem econômicapara manter um jornal do tamanhoe da projeção do Diário da Manhã.

Mas Batista se torna forte namedida em que jamais abdica dosideais que forjam seus compromis-sos com o Goiás e o Brasil. Ele sabecomo ninguém que o jornalistatem que agir com toda devoçãovoltada para o bem público. Commuita coragem, precisa estar emperfeita sintonia com as aspiraçõesda sociedade, e dela se constituirnum servo fiel. Afinal, o jornalismopropicia um grau de influência so-bre a vida das pessoas maior doque a de qualquer outra profissão.

O DM, desta forma, sabe que osprincípios morais precisam serpraticados a qualquer custo, e não

se admite atitude fora deste parâ-metro fundamental. Quando osjornais se afastam desta prerrogati-va, o resultado é a imediata repulsada sociedade, que exige retidão, se-riedade e conduta elevada.

É a imprensa o principal agenteque exerce papel decisivo na fiscali-zação das atividades do poder pú-blico por meio do pleno controledemocrático. A verdadeira impren-sa vislumbra o coletivo e o alcancesocial. Não admite, em hipótese al-guma, o desvio e a incorreção. Ja-mais abre portas ou janelas para ousufruto pessoal, porque o jornalis-mo é, antes de tudo, renúncia.

Quero, portanto, deixar registra-do os meus sinceros cumprimentosao jornalista Batista Custódio e aosvalorosos profissionais que compõ-em o Diário da Manhã, o sucessordo Cinco de Março.

Mais do que isso, quero agrade-cer ao DM por ter se tornado umporta-voz dos municípios, sempreaberto aos clamores do interior etambém permitindo que as prefei-turas possam divulgar suas realiza-ções e conquistas.

Vamos, sempre, defender o Diárioda Manhã como o magistral patrimô-nio do povo goiano e brasileiro.

(Jânio Darrot (PSDB)é prefeito de Trindade)

Jânio Darrot

Especial para o Diário da Manhã

Ao completar 35 anos, o jornalDiário da Manhã, seu fundador Ba-tista Custódio, a equipe atual e to-dos que participaram deste impor-tante projeto com certeza estão or-gulhosos com os resultados alcan-çados e os que virão. Desde suafundação o jornal se propôs ser di-ferenciado, abrindo suas páginaspara todas as ideias, acolhendo, de-safiando a diversidade social, cultu-ral, econômica, política e religiosado País. Nasceu nos últimos anosda ditadura, já na transição. Goiásera governado pelo último gover-nador nomeado, Ary Valadão. ODiário o respeitava, mas dava am-plos espaços para as forças políti-cas de oposição, os resistentes con-tra a ditadura e ao governo Vala-dão. A direita e a esquerda tinhame continuavam a ter amplas condi-ções de manifestar suas opiniões.Vejamos: Ronaldo Caiado sempreteve acesso e cobertura do jornal,assim como Irapuan Costa Júnior,Ari Valadão, Jovenni Candido, Ge-raldo Lucas; pelos liberais: VilmarRocha, entre outros líderes destepensamento. Alfredo Nasser é umdos ícones do Diário, até o MarcusFleury, acusado de torturador tran-sitava, quando vivo, nas páginas enos corredores da Redação.

A esquerda então teve todas aschances. Os saudosos Henrique

Santillo, João Divino Dornelles,passando por Valdir Comárcio, De-lúbio Soares, professor Pantaleão,Marina Sant’Anna, Elias Vaz, AldoArantes, Pedro Wilson, Darcy Ac-corsi, Osmar Magalhães, Isaura Le-mos e muitos outros. Os governosdo PT, Lula e Dilma, receberam co-bertura, as vezes críticas, e conti-nuam bem nas páginas do Diário.As costumeiras reclamações dospetistas contra a chamada grandeimprensa definitivamente não sãoválidas para o jornal do Cerrado. Asduas correntes políticas que domi-nam Goiás, há mais de trinta anos,lideradas pelo PMDB, com Iris Re-zende e Maguito Vilela à frente, e oPSDB com Marconi Perillo e LúciaVânia. Em determinados momen-tos parece que o Diário esta a servi-ço de uma ou outra. Surpresa: ojornal dá e continua dando espaçoaos concorrentes que estão na opo-sição, PMDB, PT, PCdoB, PSol eoutros. É comum divulgar as obrase os feitos políticos do governoMarconi, mas logo em seguida dáespaço aos líderes da oposição. IrisRezende, Paulo Garcia, AntônioGomide, Maguito Vilela, VanderlanCardoso, Junior Friboi, são perso-nagens constantes nas páginas doPeriódico. Espera-se que este ano,importantíssimo por causa daseleições, ele seja um grande veículode idéias e debates para influenciarno rumo dos necessários avançosdemocráticos de que a sociedadebrasileira tanto necessita. Será semdúvida uma grande oportunidade.

Em outros campos e segmentossociais a abertura também é signifi-

cativa; na luta contra a homofobia eo racismo o jornal mostrou um pon-to significativo, talvez tenha sido oprimeiro que teve coragem de lan-çar uma coluna permanente em de-fesa dos direitos dos gays, lésbicas,transexuais, a “Coluna do Meio”, as-sinada pelo líder da categoria LéoMendes. Nesta questão muito aindaprecisa ser feito; é comum ver lan-ces ingênuos ou intencionais quetentam camuflar o racismo e a ho-mofobia existentes em grande esca-la no Brasil. Em defesa das mulherese meninas vítimas de todo tipo de

violência, nasceu inspirado e dentrodo jornal, sob o comando da brava esaudosa Consuelo Nasser, o Cevam,que tem prestado inestimáveis ser-viços à sociedade na luta contra aopressão da mulher. As prostitutasvítimas da sociedade e da incom-preensão, da hipocrisia e da discri-minação, tem no Diário espaço pa-ra a sua causa. É destacável o impor-

tante papel desempenhado pelojornal no respeito, e reconheci-mento, de todas as formas de religi-ões existentes em Goiás, sejam cris-tãs, islâmicas, judaicas, budistas,espíritas, candomblés, umbanda equimbanda, indígenas, etc. Somosum povo multicultural. É precisorespeitar as crenças religiosas detodas as nossas origens. A pauta dojornal leva em conta esta importan-te questão. Os ateus também sãoseres humanos, e muito sociáveis.Já vi matérias deste seguimentodando universalidade à publicação.

Não tenho notícias de outro jor-nal que convida as pessoas paraescreverem, com a informação deque terão seus textos publicados,basta enviar a matéria, foto e quali-ficação que será atendido; muitagente não compreende isto, é omáximo de risco.

O Caderno OpiniãoPública é omaior exemplo, todos tem acesso,

publicam artigos sobre todos os te-mas, os mais inimagináveis, algunsbeiram a genialidade, muitos a me-diocridade, mas são veiculadas como maior respeito. O Caderno faz es-cola, é uma importante tribuna queexpressa boa parte do viver e dopensar da sociedade goiana. Os in-telectuais de todas as tendências en-contram espaços, iniciantes ou an-dados sabem, que serão acolhidos.Para os jovens jornalistas o Diário éuma verdadeira escola, muitos fo-ram formados nesta instituição, ho-je trabalham em importantes órgã-os da imprensa nacional.

Colunas são várias, algumas ge-nais. Aproveito para mandar umabraço para meus amigos LuizPampinha e Ulisses Aesse, saudan-do suas impagáveis colunas.

Enfim, valeram a pena os 35 anosdo Diário da Manhã. Não foram emvão. Contribuiu o jornal, e continua-rá contribuindo para a formação deuma sociedade mais democrática etolerante com a diversidade huma-na. Quantas vezes ouvi dizer que ojornal estava em crise, prestes a fe-char ou ser vendido. O Batista sem-pre dá a volta por cima, renasce to-dos os dias, enfrentando as dificul-dades e doando a Goiás uma liçãode perseverança e fé na imprensa li-vre e no seu papel fundamental nu-ma sociedade democrática emconstante transformação.

Viva o Diário da Manhã, longa vi-da em liberdade.

(Tarzan de Castro, ex -deputado federal e estadual,

diretor da Revista Hoje)

Diário dda MManhã desafianteTarzan de CastroEspecial para o Diário da Manhã

OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 20148

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Tudo muito simples como a cria-ção do mundo por Deus, e tudo quenele há. Se havia a necessidade depovoar a Terra, nada melhor do quetirar um punhado da própria terrapara formar o homem. Nenhummistério. Unicamente do pó, foi fei-to gente. Soprado o barro ele andoue não parou mais. A partir daí, nadaficou sem forma e vazio. Mas a de-pravação de hábitos, com o livre-ar-bítrio, acompanhou a criatura.

Errante, a humanidade cami-nhou milênios entre virtudes e de-formações. A coisa fácil, sem lutapara a sua conquista, ganhou mui-tas almas. Mas, também, viu en-grandecer espíritos de resistência.Nem chego a dizer tratar-se daguerra do bem contra o mal. É lugarcomum demais. Antes, vejo como oesforço além do natural, de poucosiluminados, para recompor aquiloque desde o Gênesis precisa ser re-encontrado: a virtude.

Criado “à imagem e semelhança”Dele, Batista Custódio, lançou sua vi-

da, instruída de grande consciênciade si, qual lâmpada de Diógenes, co-mo raios em plena luz do dia nas es-curidões das pessoas. Ele é um raroque não se envergonha de ser. Em ne-nhum momento deixou de pelejar.

Era o dia 5 de março de 1959 eeu estava lá. Estudantes, quase to-dos secundaristas do Liceu, doAteneu, do Pedro Gomes, as meni-nas do Instituto de Educação ocu-pavam a Rua 4, em frente ao Mer-cado Central, em reivindicaçõespacíficas e ordeiras. Mas o gover-no não tolerava (hoje também nãotolera) povo na rua, quando não élouvação do seu interesse.

De cassete e baioneta calada, pa-ra dizer o menos, a polícia chegoucom violência desmedida e fez san-gue. Foi pancadaria geral em nomeda “ordem”. Um cenário de guerrapara calar a voz da juventude, aqual incomodava o poder com assuas teses progressistas.

Mal sabia o Palácio das Esmeraldasque estava unindo ideias em nome daliberdade sem compromisso com osdedos que puxavam os gatilhos crimi-nosos. Nasceu o Cinco de Março.

O moço Batista Custódio deu iní-cio à contundente resistência ao ar-bítrio. Nunca mais os poderosos ti-

veram sossego. O tempero ardidoem forma de letras, de palavras e detextos estragou os banquetes pala-cianos. A voz calada no chão da Rua4 passou a ecoar semanalmente ain-da mais estridente, pelas páginas deuma imprensa livre e destemida. Erao terror para os mandões.

O Cinco de Março foi a minha esco-la e de inúmeros jovens inconforma-dos com os desmandos. Nele, contu-do, o preço pela sobrevivência sem-

pre foi alto. Nada caía do céu. De em-pastelamento a perseguição de todaordem, por ser independente, sofreude tudo. Carregou durante duas déca-das as esperanças dos pequenos emdias menos sofridos. Ao cumprir inve-jável missão, abriu caminho para oseu filho Diário da Manhã.

O ano de 1980 viu as notícias emnova diagramação e cores. As opi-niões tiveram seus espaços amplia-dos. A tão sonhada democracia ga-

nhou alma e esperança.O jornalismo experiente abra-

çou a modernidade. Corpo editori-al de primeira linha, circulação diá-ria, o Diário da Manhã, atravessouo Rio Meia Ponte para merecer res-peito fora do Cerrado. Goiâniamostrou-se como um centro deimprensa com a estatura de gentegrande. Mais uma vez Batista Cus-tódio fez (e faz) escola e história.

Destemidos e costumeiramentefalando a verdade o Diário da Ma-

nhã e a sua alma, Batista Custódio,sempre são ameaçados de esmaga-mento pelos incultos encasteladosno poder. Até a eles, o DM e Batista,sem ódio e rancor, abrem espaçopara que livremente se manifestem.Eu não conheço exercício de demo-cracia mais amplo.

Cheguei menino ao Cinco de Mar-ço. Apenas 15 anos de idade e preten-do envelhecer ainda mais dentro daspáginas do Diário da Manhã. Muitobom desfrutar da amizade de BatistaCustódio, o moço que não deixa opensamento passar do tempo. Quevenham muitos e muitos 12 de marçopara festejarmos.

(Iram Saraiva, ministro emérito doTribunal de Contas da União)

Cinco de Março, Diário da Manhã e BatistaCustódio apenas um grito de liberdade

Ninguém pode se calar Uma trajetóriaextraordinária

Os regimes autoritários tudofazem para condenar o povo à ig-norância. E, assim, abolir o ele-mentar direito de ouvir e de falar.Oficialmente passados esses regi-mes, alguns dos seus mais perni-ciosos elementos continuampresentes nas instâncias demo-cráticas, impondo o desinteressecom a memória, conduzindo opovo ao silêncio e ao sombrioabismo da amnésia. Mas, para onosso reconforto, jornalistas têma mania de revirar fatos que ospoderosos de ontem e de hojegostariam de sepultar. Esses jor-nalistas terminam contribuindopara que luzes se acendam e pos-sibilitem a revelação de momen-tos cruciais da nossa História.

Quem participa dos aconteci-mentos políticos e sociais do Esta-do, nas últimas décadas, certa-mente conhece o papel desempe-nhado pelo jornalista Batista Cus-tódio. Não sei se ele é um visioná-rio ou um louco. Mas tenho con-vicção de que possui uma inteli-gência privilegiada, nunca permi-tindo que alguém consiga acorren-tar seus sonhos. O jornalismo é suacasa, sua vida, é onde ele constróisuas fantasias, ameniza suas an-gústias e rejuvenesce suas mãospara afagar o mundo.

Quando o Diário da Manhã seaproxima dos 35 anos, o seu fun-dador e editor-geral tem o dever decontar um pouco da sua história,para isso até recolhendo fragmen-tos de contribuições ou prejuízos

de jornalistas que um dia, em tem-pos mais difíceis, usaram suas má-quinas de escrever como metra-lhadoras da resistência. E se issodeve ser feito, é que a memórianão pode permanecer adormeci-da, sem incomodar os trapaceiros,porque as novas gerações mere-cem a oportunidade de conhecê-la. Ninguém pode se calar, muitomenos o Batista Custódio, quandoo lixo dos palácios de falsas esme-raldas tenta sufocar o direito à vi-da, à verdade e à felicidade.

Principalmente ao Diário da

Manhã atribuo a responsabilidadede fazer de mim o homem quesou, identificado com os rios, ca-choeiras, cerrados e montanhasde Goiás. Chegando a Goiânia, en-contrei o Marco Antônio TavaresCoelho e humildemente participeida primeira edição do Diário daManhã, no dia 12 de março de1980, data em que também nas-ceu o meu filho Raphael. Convivi

com os jornalistas Moura, Wilmar,Sáfadi, Sérgio Paulo, Abadia, João-mar, Masinho, Fleurymar, Graça,Edmílson, Zé Luiz, Hamílton, Bea-triz, Zarur, Sônia, Jorge Braga, Gu-gu, Spada, Bordoni, Pampinha,Mara, Lucinha, João Domingos,Doroty, Wilsinho e outros que,além de tudo, me ensinaram o en-canto da goianidade.

Muito me impressionaram oprojeto e a ousadia do Diário da

Manhã. Senti-me responsável porum veículo que desafiava os go-vernos nomeados pela tirania,com o exercício democrático ins-talado na mesa de trabalho de ca-da profissional. E vi pessoas po-bres, das invasões, dos bairros pe-riféricos de Goiânia, reunidas naRedação, definindo a linha edito-rial do jornal... Mas vi chegar a in-terferência do dinheiro, com suasexigências malévolas. Vi o salárioatrasado, a greve, a demissão, odesemprego, a dor das famílias deoperários da imprensa.

Batista Custódio fez a traves-sia. Nós sobrevivemos. O Diário

da Manhã completa 34 anos,num Estado em que a comunica-ção é tratada como mercadoria. Arecuperação da memória nos aju-da a entender o momento atual ereunir forças para a construçãode um futuro diferente. Com suaexperiência, Galeano nos confir-ma que “quando é verdadeira,quando nasce da necessidade dedizer, a voz humana não encon-tra quem a detenha”. Então, nin-guém pode se calar, ninguémconseguiria nos calar.

(Pinheiro Salles, presidente daComissão da Verdade, Memória e

Justiça do Sindicato dos JornalistasProfissionais no Estado de Goiás)

Neste dia 12 de março, assinalá-se um acontecimento de inestimá-vel valor para a afirmação da liber-dade de imprensa, da expansão dosespaços para a manifestação livredo pensamento popular, comemo-rando-se os 34 anos do jornal Diário

Manhã, percorridos numa trajetóriade idealismo, lealdade e coragempara com os seus leitores.

Batista Custódio, buscando for-ças em Deus, forças que se reno-vam, transformou a saudade do se-mário Cinco de Março, o marco deci-sivo do novo jornalismo que se fezem Goiás, rompendo com as amar-ras de estruturas arcaicas, cheias detemores e repletas de “jornalismode elogio”, fazendo da tinta escurade suas páginas as estrelas de umaconstelação de denúncias que fusti-gavam os poderosos, mostrando avergonhosa desfaçatez dos políticosenvolvidos em falcatruas tecidas emsilêncio, a violência como instru-mento de manutenção do podernas mãos dos maus.

Agora, esta aí o Diário da Manhã,

que sofreu as agressões que feriramo idealismo do talentoso Fabio Nas-ser, reconhecido esteio espiritual dojornal que fundou; Consuelo Nassersofreu até ao desespero, mas não sedeixou ser esmagada pela ignorân-cia, fazendo resplandecer sua inteli-gência que todos sabem respeitar.

O Diário da Manhã foi imagina-do para ser um modelo novo de im-

prensa em Goiás, mas os "coronéis"não gostam de novidades, porquevivem atolados numa ignorânciaatávica e numa estultice agônica...Mas a coragem do idealista venceu.Hoje, o Diário Manhã é trincheirademocrática na qual a qualidadedos seus articulistas e os escritos deseus colaboradores formam o pen-samento inderrotável dos queamam a liberdade de imprensa e vi-vem por ela.

(João Neder, jornalista, advogadocriminalista, promotor de Justiça

aposentado e membro do Institutodos Advogados de Goiás)

Iram Saraiva

Especial para o Diário da Manhã

Pinheiro Salles

Especial para o Diário da Manhã

João Neder

Especial para o Diário da Manhã

OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 9

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OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 201410

Ele está lá, em muitas das páginasque eternizam a história deste Esta-do, na Enciclopédia do jornalismo,em consonância com o processo deredemocratização deste País. É au-tor, protagonista e espectador doenredo desta cidade. Marcado pelacoragem e resiliência, sob o signoda modernidade, historiador donosso cotidiano, o Diário da Manhãsegue produzindo capítulos de umaobra sem fim, que ganha novos ele-mentos a cada dia seguinte.

Foi o Diário da Manhã que fezcom que Goiás saísse do polo recep-tor e se tornasse centro emissor denotícias para o Brasil. Sempre inova-dor, carrega consigo os ineditismosde ter sido o primeiro jornal em Goi-

ás a circular sete dias por semana, asertotalmente colorido, a ter Conse-lho de Leitores, plataforma digital,TV integrada e um forte sistema deinteração com o público, se anteci-pando ao que hoje é condição pri-meira para todos veículos de comu-nicação da Era digital. Visionário, Ba-tista Custódio segue inovando.

A única coisa que permanece inal-terada nestes 34 anos é o visionaris-mo de Batista Custódio. É pela cresçadele em grandes ideias que o Diárioda Manhã consegue dar voz à socie-dade, colocar a Redação nas ruas, le-var a liberdade de expressão além doconceito e criar uma perfeita simbio-se entre intelectuais e a he-terogêneacamada de cidadãos que diariamenteabre as páginas do DM. É tambémpor tanto valorizar a democracia, pe-la qual lutou, foi preso e perseguidonos tempos do regime militar; pordefender incondicionalmente a liber-dade, que esse jornal vence obstácu-los e consegue amplificar debates, re-

velar líderes, construir bandeiras,moldar talentos.

Batista acredita no novo. Temolhos de lince. Perspicácia que identi-ficou o potencial de gente como Ste-pan Nercessian, Washington Novaes,

Paulo Henrique Amorim, Mino Carta,Cláudio Abrão, Marco Antônio da Sil-va Lemos, Lilia Teles, Cleisla Garcia,entre tantos outros grandes nomesque passaram pelo jornal, desde 1959,ainda época do Cinco de Março, jornal

berço para o Diário da Manhã. Profis-sionais que hoje nacionalmente ma-terializam a grandeza que este jornalrepresenta e expõem aos quatro can-tos do mundo o bom jornalismo quese faz aqui. Um jornalismo pautadopelo entendimento de um homemque, sempre à frente do seu tempo,acredita que “jornalista não pode ternem Ideologia, nem Teologia, nenhu-ma forma de engajamento a não ser aIdeologia à Liberdade”.

Goiás cresceu. Tal qual Goiânia,continua agigantando-se. E, graças àmodernidade da visão de Batista Cus-tódio, a história ascendente deste Esta-do é pautada e contada entre máqui-nas de escrever e barulhos de impres-são. Parabéns Diário da Manhã. Para-béns, por essa história que encontrouno ponto final o impulso para retomaruma folha em branco e nela escreverum sinal de reticências.

(Paulo de Siqueira Garcia,prefeito de Goiânia)

Capítulos de uma obra sem fimPaulo Garcia

Especial para o Diário da Manhã

O jornal Diário da Manhã é umdos melhores jornais de Goiás. A sualuta em se manter aberto é diária econstante. Mas quando acordo e re-cebo o jornal, vejo um homem forte,decidido e sem medo de escrever oque pensa. Por isso, falar do Diárioda Manhã e do Batista Custódio medeixa sensível e emocionado. Ele éum grande homem das letras e quesempre acreditou na minha missão.

Agradeço a Deus, a cada manhã,pelo milagre de sua obstinação deser um bravo guerreiro e que sem-

pre me apoiou e me abriu o jornalpara divulgar a Casa de Dom Inácioem Abadiânia. Com isso muitospuderam compreender e saber so-bre minha pessoa. Me permitiucontinuar na missão que me foi de-signada: a de atender milhares depessoas que precisam de meu tra-tamento espiritual.

O grande jornalista Batista sempreacreditou na seriedade de meu tra-balho. É um homem que tem umaespiritualidade do amor e tambémde doação. Minha amizade com ele é

uma aliança contra a adversidade,sem a qual eu ficaria desarmadocontra as intempéries da vida.

Essa aliança é fruto de um amorde verdade. Será preservada parasempre. Batista é uma das pessoasque mais admiro, tenho respeito econsideração. Ele doa o seu belíssi-mo trabalho, sem descanso, em prolde levar informação aos leitores. Éum dos homens mais interessantes,inteligentes e altamente competen-tes que já conheci.

Parabenizo e me solidarizo com oseu belíssimo trabalho.

Que Deus esteja sempre ao seu la-do e que as entidades do amor teproteja. Grande Batista, você é Luz!

(João Teixeira de Faria - João de Deus)

Viajor do TempoJoão de Deus

Especial para o Diário da Manhã

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OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 11

O jornal Diário da Manhãcompleta 35 anos de trabalhoincessante pela construção da li-berdade e da cidadania em Goi-ás. O sonho libertário do jorna-lista Batista Custódio, que apósver o seu Cinco de Março cum-prir seu desiderato nas décadasde 1960 e 70 chegou, em 1980,com a disposição de fazer umjornal diário onde o compro-misso com a verdade e com aconstrução da história fossemassumidos como um trunfo dopovo goiano que quer ter seudestino nas mãos.

É com orgulho que vemosum jornal eminentemente goia-no que se destaca assim naconstelação dos órgãos de divul-gação e que o mundo olha comolhar diferenciado. É o Diário daManhã que os expoentes da ci-ência da informação observacom atenção redobrada, comdestaque para a divulgação am-pla e totalmente aberta em suaspáginas da opinião que circulaamplamente na sociedade.

A iniciativa do jornalista Ba-tista Custódio de fazer do ca-derno OpiniãoPública é umadas mais notáveis visões de de-mocracia e abertura para a li-berdade de opiniões que já seviu na história da humanidade.A publicação de artigos de opi-nião sobre os mais variados te-mas e assuntos que estejam napauta da sociedade é de umaenvergadura que somente da-qui há algumas décadas pode-remos vislumbrar com maiorprecisão o processo históricoque estamos vivendo.

O OpiniãoPública, encartadono Diário da Manhã traz em su-as páginas discussões sobre as-suntos das mais variadas mati-

zes e reflete com precisão o quese prega no seio da população.Ao expor seus pensamentos osleitores e articulistas que não seacanham em colocar pra fora oque formulam em suas mentesmaterializam a democracia pordifundir pensamentos, concei-tos e construções de todos osnortes do pensamento humano.

Em suas páginas se mistu-ram pensadores de renome,doutrinadores variados em suasáreas de atuação, gente anôni-ma com capacidade de observaro mundo ao seu redor e formu-lar alguma ideia que sirva para oaprimoramento do gênero hu-mano e para o engrandecimen-to dos espíritos que leem e que-rem algum aprendizado.

Podemos ver pessoas co-muns expondo suas posiçõessobre fé na humanidade e nacapacidade das pessoas de faze-rem juntas um mundo melhorpara se viver. Temos a chancede ler textos produzidos porpessoas que fazem recomenda-ções para que todos busquemosuma vida de mais meditação evoltada para Deus e das mesmaforma contundentes críticas agovernos, governantes e seusaproveitadores.

Toda difusão de ideias é boapara a evolução da humanidadee no Diário da Manhã tudo épermitido em nome do engran-decimento do pensamento.

Com muita sabedoria o jornalis-ta Batista Custódio estabeleceuuma única restrição: não se per-mitirá que as páginas do Opini-ãoPública sirva para ataquespessoais e para agressões a hon-ras de quem quer que seja. Espí-ritos elevados discutem ideias,porque são elas que mudam ahumanidade.

Sempre aprendi que deve-seouvir as pessoas mais experien-tes porque nelas a vida já se fezmais sentida. Com esse pensa-mento tenho sempre a satisfa-ção de poder conversar com Ba-tista Custódio porque sempre épossível aprender com ele asobservações sobre Goiás, sobrea política goiana e sobre os ru-mos que é possível trilhar paraatingir um objetivo mais eleva-do de bem comum.

A construção da democraciae de uma sociedade livre e evo-luída passa obrigatoriamentepela liberdade de se expressar oque se pensa e colocar essasideias em discussão. Goiás pre-cisa participar mais dessa inova-dora forma de divulgar pensa-mentos e informações e o Brasilterá muito a ganhar quando arevolução que está sendo feitano Diário da Manhã chegar aoutras Redações pelo País.

(Vanderlan Cardoso, presidente estadual do Partido

Socialista Brasileiro-PSB)

O motor da história

Vanderlan

Cardoso

Especial para o Diário da Manhã

Saudação à liberdade

Um jornal não é feito da noitepara o dia, como pode achar o leitordesinteressado. Em se tratando doDiário da Manhã, não é apenas avirada do dia que conta, mas prin-cipalmente a visceralidade daque-les que o fazem no arco do tempo.

Nada nada, 55 anos de históriavos contemplam destas páginas. Seuembrião foi o Cinco de Março, aque-le que, dependendo do ponto de vis-ta do mais fraco ou do mais forte, foio jornal mais combativo e maiscombatido da história goiana.

A proeza maior foi conseguir servários jornais em um só, talvez pa-rafraseando Walt Whitman, quedizia ser multidões. Assim, de espí-rito amplo e contendo multidões,antes o Cinco de Março e, agora, oDiário da Manhã, o OpiniãoPúbli-ca e o DM on-line refletem a mu-dança antropológica em relação aoantigo leitor. Seguem em frenteabrindo novos horizontes.

Mentes inquietas exigem nãoapenas o fato, mas a abordagem di-nâmica e múltipla, as repercussões eas análises filtradas na vida real. ODiário da Manhã, como uma reali-dade de comunicação coesa em seucerne, foi pioneiro em Goiás na cir-culação às segundas-feiras, na edi-ção em cores, no jornalismo on-linee no jornalismo cidadão, entre ou-tros, e segue pisando no acelerador,acentuando o processo sem volta damudança geracional da informação.

Isso se deve às suas bases sólidas,fincadas não apenas na eficiência darazão, mas principalmente na raízesda alma. É um jornal feito de muitos

neurônios, mas antes de tudo temsangue correndo nas veias. O suor éconsequência. Seus anos de vida, nãoimporta quantos, são uma eternidadeacrescida de sempre mais um dia,que não se finda até que outro come-ce, encadeando o presente no futuro.

Como falar de nomes importantesna vida de um organismo assim, quesó é capaz de surgir por conjunçõesextraordinárias? Impossível não lem-brar de seus timoneiros e dos maru-jos heróicos desta embarcação cerra-tense que vê muito além de seus limi-tes, não faz paradas no porto e nemouve o canto das sereias.

Dentre estas conjunções, se divi-nas ou casuais, não poderia deixarde citar um nome e um destino. Fá-bio Nasser abrigava neurônios salti-tantes em uma fortaleza de papel.Seu destino, a liberdade. Não a doscéus, mas a daqui mesmo na Terra.

Foi assim que Fábio viveu. Livreno pensar e no fazer. Investido davontade de mudar o mundo. Inqui-eto, visionário e sempre vibrante,desconcertava o mal feito. Ficar aoseu lado exigia raciocínio rápido eproatividade, para não ser engolidopela sua presença fulgurante.

Se a liberdade pode se corporificar,foi nele que a vi. Suas ideias voavamaos ares, com opulência e fartura, eele então as oferecia com gratidão atodos, faladas e impressas. Abraçavacom o mesmo fervor um amigo aoentrar no bar, uma ideia ao irromperna Redação ou o governador, ao sur-gir no Palácio sem ser convidado. Ecom todos mantinha diálogos cujafranqueza podia assustar o interlocu-tor. Conviver com ele era ao menostempo lição de vida e prova final.

O Diário da Manhã lhe deve muitodo espírito altivo e altruísta que hojeostenta para a eternidade ver e ler.Fábio, com sua grande alma, era do-

no de um raciocínio rápido e mortalpara qualquer discussão, não impor-tando o tema. Era sem igual no amorde se entregar ao próximo por meioda escrita e de seus abraços sempreapertados demais para o simplesmortal. A liberdade fazia dele uma sau-dação diária, lembrando que muitosde nós se deixam enganar.

Para ser saudável o sujeito necessitade inquietudes, incompletudes e bus-cas. Como dizia Lacan, “de todos os di-agnósticos, a normalidade é o diagnós-tico mais grave, porque ela é sem espe-rança”. O normal é um sujeito pobre,sem liberdade e sem experiências. Umsujeitinho de uma vida miserável. E pi-or, sem culpa nenhuma, pois não sabeque sofre de insuficiência mental.

Bem ao contrário do normal, Fá-bio tinha um nível elevado de tor-mento individual e de angústia cria-tiva. Era um vulcão fumegando oamor que estava prestes a saltar.Predisposto ao fazer, mergulhou devez na complexidade da vida.

Sem gente como o Fábio Nasser,fascinado pela vida e suas possibilida-des, a liberdade é uma palavra gasta esubutilizada. Em Fábio ela tinha umfim: ele mesmo. Hoje a percebo comoo ar, que só lhe damos importânciaquando nos falta. Hoje a percebo naspáginas cidadãs do OpiniãoPública doDiário da Manhã. A liberdade está si-nalizada em nossos dias na experiêni-ca de um jornal único no mundo, semcredos, ideologias ou amarras que odominem. É plural e é imparcial, por-que abriga todas as parcialidades.

Como uma edição diária que se fe-cha, o jornal termina hoje, mas nãoacaba. O Diário da Manhã renasce acada dia com força e paixão que não seextinguem mesmo depois de extintosseus inspiradores.

(Px Silveira, Instituto ArteCidadania)

PX Silveira

Especial para o Diário da Manhã

Fábio Nasser

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OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 13OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 201412

A LENDA DO CINCO

DE MARÇORecebendo dois telefonemas ilus-

tres, começamos um lindo sábado.Primeiro, foi Juvenal de Barros, mestrena história do rádio e na relações pú-blicas em Goiás. Depois, João Neder,líder estudantil, teatrólogo, jornalista eo promotor mais consagrado de suaépoca. Em situações diferentes, amensagem de ambos era a mesma:

— Amanhã, é aniversário do Cincode Março.

É no mínimo curioso o fato de,passados mais de 40 anos, continuarviva a memória de um jornal pobre eincompreendido, que teve contra sios poderosos do seu tempo e que, nasua ânsia ingênua de consertar omundo, no combate alucinado a to-das as formas de corrupção, errouporque o ardor do idealismo tam-bém motiva injustiças.

Quem escreve para a OpiniãoPú-blica não imagina nunca o tamanhoda sua responsabilidade, nem atéonde vão o bem e o mal de suas pa-lavras. Não é raro, até hoje, sermosde repente parado na rua por al-guém que à primeira vista não iden-tificamos e que conosco inicia umdiálogo nestes termos:

— Li, uma vez, no Cinco de Março,um artigo que você escreveu...

Que teve de diferente aquele se-manário de jovens não poucas vezesdestemperados?

Primeiro, foi um vulcão nascidocontra a violência oficial. Na noite decinco de março de 1959, a polícia mas-sacrou estudantes em pacífica mani-festação na Praça do Bandeirante. Ba-tista Custódio, Telmo de Faria e outrosjovens obstinados criaram a erupçãochamada Cinco de Março.

Era, outra vez, o metafísico presentena imprensa goiana, desafiando a com-preensão do homem. Cinco de marçode 1830 é a data de circulação do Matu-tina Meiapontese, primeiro jornal deGoiás. E o sobrenatural continuou nodia oito de agosto de 1964, quando ofi-ciais da Polícia Militar empastelam oCinco de Março.E estivera, antes, em oi-to de agosto de 1960, quando o jornalis-ta Adory Otoniel da Cunha morreunum desastre de avião, na campanhade Mauro Borges, consternando o Esta-do inteiro. E sete anos atrás, quando emoito de agosto de 1953, jagunços traves-tidos de policiais fuzilaram HaroldoGurgel e feriram gravemente os irmãosAntônio e João Carneiro Vaz, da equipede O Momento, ao sol do meio-dia, naporta do Lord Hotel.

Como explicar tantas coincidên-cias? O gênio Castro Alves, que aos24 anos de idade já era o maior poetado seu País, imortalizou em dois ver-sos situações como essas:

“Por uma fatalidade, dessas quedescem do Além...”

O Cinco de Março não foi umjornal comum. Depois dele, apa-receram dezenas de outros, atéimitadores da sua crítica mordaze da sua coragem inaudita, e pas-saram sem deixar lembranças.

Agora que os ódios não rugemmais, estamos sempre conversando,Batista Custódio e nós, sobre a mis-são, o certo e o errado do semanárioonde a dinâmica da vida nos reuniudurante seis anos. Juntos, sentimos apobreza muito de perto e os perigosmais próximos ainda. Juntos, fomosréus em processos e colegas na ala depresos políticos do Cepaigo, em 1964.

Amansados pelos anos, depura-dos no sofrimento e esclarecidos pe-la experiência, continuamos juntosno Diário da Manhã, onde as dificul-dades nem de longe se assemelhamaos rigores do Cinco de Março, nosárduos tempos da ditadura militar.

Com toda sinceridade, de vezem quando, sentimos saudadesdo Cinco de Março, dos compa-nheiros admiráveis que tivemosna sua equipe maravilhosa.

E, acredite o gentil leitor, há mo-mentos em que este humilde escribaprofissional tem a impressão que Ba-tista ainda sonha em renascer o se-manário que virou lenda.

(Publicado no Diário da Manhã de 5/3/2002)

OS FORASTEIROSQUE SAQUEAVAM

GOIÁSEm janeiro de 1965, tendo co-

mo governador o marechal EmílioRibas Júnior, Goiás começou a vi-ver o ano dos forasteiros debo-chados. Sobre seus mal-feitos, ogentil leitor não encontrará, forado Cinco de Março, qualquer refe-rência na imprensa. O Cinco deMarço, mesmo tão perto geografi-camente do centro do poder mili-tar em Brasília, em cima delesdeitou e rolou, cheio de graça.

A comédia começou quando omarechal Humberto de AlencarCastelo Branco, primeiro presiden-te do regime militar, perdeu a paci-ência com os políticos goianos.Com a deposição de Mauro Borges,o coronel Meira Matos, comandan-te das tropas de ocupação, caiu nabobagem de anunciar para Goiásum governo de coalizão.

— Governo de coalizão, que é isto? –imediatamente perguntaram os políti-cos daqui. Logo ficaram sabendo que aintervenção federal preconizava umagestão com a participação de todos,para pacificar a família goiana. Os par-

tidos poderiam indicar seus represen-tantes no novo poder constituído. Foicomo se um caminhão de bananasmaduras parasse na frente de umbando de macacos. A UDN, que se au-toapresentava como dona da nova si-tuação, teve que repartir os cargos comos egressos do PSD, viciados na má-quina do Estado em 34 anos de ludovi-quismo. Para gerenciar esse balaio decaranguejos e esse saco de gatos, fo-ram buscar no Amazonas Ribas Júnior,um guerreiro aposentado da FEB, quenunca, em sua já longa existência, ha-via pisado o território de Goiás.

Na absoluta falta de convivênciacom os goianos, o marechal-governa-dor trouxe de Brasília seus principaisauxiliares, aliás indicados por antigoscamaradas, porque também não osconhecia. Essa história inteira, cheia deepisódios hilariantes, está contada nacoleção do Cinco de Março. Para iní-cio de conversa, os principais dessesforasteiros se instalaram para um perí-odo de farras entre nós, que teve mui-tas idas e vindas, com direito a acom-panhantes, em aviões do Estado, prin-cipalmente às delícias do Araguaia.

Um deles foi morar no Hotel Ban-deirante, então o mais luxuoso deGoiânia. Logo o Cinco de Março oapelidou de teiú, pela capacidade in-crível de consumir ovos. Na verdade,ele bebia como gambá e assinavanas notas, para o Estado pagar, semaparecer as garrafas de uísque esva-ziadas: “duas dúzias de ovos, três dú-zias de ovos, cinco dúzias de ovos...”

Um segundo habitou o Paláciodas Esmeraldas, onde nos muitos re-ga-bofes com os amigos mandou as-sar o pavão que ali enfeitava os jar-dins, e pescou e digeriu os surubinsque ornamentavam o tanque de en-trada da residência oficial do gover-no, bem nas costas do busto de Pe-dro Ludovico Teixeira.

Quando dezembro de 1966 chegou,os forasteiros afivelaram malas e fecha-ram caixotes, porque no mês seguintetomaria posse o governador eleito Otá-vio Lage de Siqueira. OCinco de Mar-ço imediatamente denunciou o queeles estavam levando como lembran-ças: televisores, talheres, roupas de ca-ma e outros pertences do povo goiano,usados no Palácio das Esmeraldas. Aí,quase que a porca torceu o rabo.

Na noite de domingo, Batista enós fechávamos a capa da edição,juntamente com o paginador Ma-noel Pescador e o linotipista Edgar.Na chamada para o novo escânda-lo, relatado em página interna,planejávamos a seguinte manche-te: “Forasteiros saqueiam Goiás”,que tem 24 letras. A penúria, en-tretanto, respondia presente emtodos os departamentos. Quería-mos tipos garrafais e os de madei-ra, usados nessas ocasiões, erampoucos e não chegavam para astrês palavras completas. Então, amanchete saiu assim, com somen-te 17 letras, dentro do estoque dis-ponível: “Ribas saqueia Goiás”.

Foi o jornal circular e Goiânia eBrasília viverem um dia de tensão.O governador se enfureceu e exi-giu ao Palácio do Planalto o fecha-mento do Cinco de Março. Aindade manhã, chegou ao 10º Batalhãode Caçadores, de Goiânia, ordempara atendimento da solicitaçãogovernamental. No final da tarde,veio a contra-ordem. Entre mortose feridos, escaparam todos no Cin-co de Março. Em final de mandato,o marechal Ribas Júnior não teveforças e perdeu a parada para mili-tares honestos e destemidos que,em Goiás, confirmaram o que es-tava realmente acontecendo.

As malas fechadas dos saqueado-res tiveram que ser abertas e esvazia-das, para felicidade dos contribuin-tes do erário estadual.

(Publicado no livro “A Imprensa Amordaçada – Contribuição à histó-

ria da censura no Brasil – 1964-1984”)

UM JORNALISTA MOVIDO A FÉ Reza a lenda que, um dia, Deus

resolveu distribuir a verdade en-tre os homens. Em forma de es-pelho, lançou-a sobre a Terra e,ao cair, ela se partiu em mil e umpedaços. Todos os homens e to-das as instituições se apossaramde seus fragmentos. Desde então,ela está dividida entre a humani-dade. Ninguém é seu dono ou adetém inteira, todos a possuem,em maior ou menor tamanho.

Sábado à noite, no Centro deCultura e Convenções de Goiânia,na linda festa comemorativa aos20 anos do Diário da Manhã, cen-tenas de alegres convidados expu-seram sua parcela de verdade so-

bre o jornal, e a alma e a vida dojornal, seu cérebro e seus braços,que é Batista Custódio dos Santos.

Este humilde escriba, contudo,que há quase 40 anos conhece,convive e trabalha com Batista,não viu ninguém se referir aomotivo que considera principalno sucesso do Diário da Manhã.

Para nós, o motivador númeroum desse êxito é a fé.

Já fomos, juntos, panfletáriosterríveis querendo consertar omundo. Batendo, apanhando eaprendendo, nos transformamoslentamente. Algumas vezes ouvi-mos seu filho Fábio Nasser, no ver-dor dos anos talentosos, dizer comuma nesga de decepção:

— Hoje, eu sou Batista Custó-dio dos velhos tempos e meu paié Alfredo Nasser...

Magnífica referência, porqueum dia, milionário de realismo, osaudoso jornalista Leonan Cura-

do escreveu que Nasser era guer-reiro e monge. Batista está atin-gindo a culminância da paciênciae do bom senso, conciliador e sá-bio tantas vezes, incapaz de dei-xar crescer no próprio coração aárvore da mágoa ou do ódio. Ver-gastado no vendaval da adversi-dade, contempla um ponto inde-finível no horizonte, lá onde che-garemos todos nós, no devidotempo, para encontrar as solu-ções de todos os problemas.

A FÉ É DIVINA E CIENTÍFICAHá poucos anos, de 269 médi-

cos entrevistados durante con-gresso na cidade de Norwalk, nosEstados Unidos, 99% não tiveramdúvida em afirmar: a fé religiosade uma pessoa pode ajudá-la a serecuperar de doenças.

Os Evangelhos estão repletos depassagens nas quais o Cristo promo-ve a recuperação de um doente e lhe

afirma, ele que nunca mentia e paraquem o falar era sim, sim; não, não:

— Tua fé te curou.Por falta de fé, São Pedro quase

morreu afogado, quando Jesus, ca-minhando sobre o mar o chamou,ele desceu da barca e vacilou por-que ventava e as ondas se agitavam.

Cientista da Laurentian Univer-sity, no Canadá, o neuropsicólogoMichael Persinger chegou à conclu-são que a fé ativa uma parte do cére-bro reguladora do sistema imunoló-gico. Seu grande desafio atual é des-cobrir de que maneira a fé e outrosfatores psicológicos agem sobre océrebro e os hormônios, estimulan-do o corpo no combate às doenças.

Friedrich Nietzsche errou quan-do escreveu que todos os grandesintelectuais são céticos. Batista é umgrande intelectual e é um homemde fé inabalável. E se a fé sem obrasnão passa de um cadáver bem vesti-do e adornado, a fé de Batista temproduzido obras admiráveis.

É a fé a confiança na realizaçãode uma coisa, a certeza de atingirdeterminado fim. É a confiança dacriatura de Deus em seus destinos.

Existiria Goiânia se Pedro Ludo-vico não tivesse fé na sua realiza-ção? E Brasília, se Juscelino Ku-bitschek não acreditasse piamentena sua capacidade de arrancar deum litoral viciado a Capital do Bra-sil e edificar para ela uma cidadefantástica, no Planalto Central?

É a fé o espantalho até do medo.Não dizia o reverendo Luther Kingque o medo bateu à porta, a fé foiabrir e não havia ninguém?

É a fé o indutor do autor intelec-tual e do operário construtor e man-tenedor do Diário da Manhã.

Foi sua companheira a fé quandoele, adolescente, trocou a vida ruralem Caiapônia pelos desafios do estu-do e do trabalho em Goiânia.

Estava com ele a fé, quando ao la-do de outros idealistas, num brado deindignação contra a violência oficial,fundou o Cinco de Março, em 1959.

A fé, quando no golpe de 1964a equipe do Cinco de Março foiperseguida e dispersada, presamas não desfeita.

A fé, em agosto daquele ano,quando a polícia invadiu e empaste-lou o Cinco de Março.

A fé, em 1969, quando Batista, casoúnico no Brasil, por crime de opinião,cumpriu oito meses de reclusão, namasmorra do DI, de onde continuouescrevendo e protestando.

A fé, em 1980, quando ele e Consu-elo Nasser, no auge de um sonho, fi-zeram nascer o Diário da Manhã, do-tando-o da melhor equipe de jorna-lista de que se tem notícia em Goiás.

A fé, em 1984, quando a censurapolítica e econômica, depois de asfi-xiar a Folha de Goiaz de ConsueloNasser, fechou o Diário da Manhã,na vã ilusão de aniquilá-lo na falên-cia, que é a lepra da economia.

A fé, em 1986, quando Batista rea-

briu o Diário da Manhã, para o man-ter cada vez mais moderno, mais bo-nito, mais sério, mais alegre, maisdemocrático e mais progressista.

A fé, quando incontáveis vezes, àsdezenas, lhe tiraram os principaisjornalistas que formara e ele, paci-entemente, escolheu, treinou e sele-cionou outros, melhores ainda.

A fé, em 1999, quando Fábio, suamaior esperança de continuidadeno futuro, precocemente quis irembora, machucando-lhe as fímbri-as da alma e desabando-lhe o mun-do interior.

É, assim, a fé descomunal, queem toda a vida permitiu a Batista sa-cudir a poeira e dar a volta por cima,o alicerce, o sustentáculo e a realforça motriz do Diário da Manhã.

(Publicado no Diário da Manhã de14/3/2000)

ATRÁS DE CABOS DE CHICOTE

Em Harvard, Estados Unidos,uma das universidades mais concei-tuadas do mundo, ficou pronta umapesquisa cujo resultado é prática co-mum na Redação do Diário da Ma-nhã, há pelo menos 10 anos. É otempo que assistimos a Batista Cus-tódio insistindo junto aos integran-tes da sua equipe, em permanenterenovação, ensinando ser a melhornotícia a boa notícia mesmo.

Cada vez menos leitores prefe-rem as más notícias. Aliás, as pesso-as, a multidão e o povo estão cansa-dos de notícias ruins. .

Os jovens, muitos adolescen-tes ainda, constituem a esmaga-dora maioria dos jornalistas naativa. Importantíssimos na evo-lução da sociedade, pelo idealis-mo, ímpeto e arrojo que repre-sentam, eles ainda dependem dotempo, contudo, para amadure-cer e alcançar o clímax da lógicae da razão. Por serem verdes,imaginam que liberdade de im-prensa é distribuir bordoadasverbais, a torto e a direito. Só aexperiência, que requer muitosuor e lágrimas, os fará galgar osdegraus do bom senso e da res-ponsabilidade. Batista tambémfoi assim, nós também já trope-çamos, escorregamos e caímosmuito na travessia desse estágio,machucando os outros e com is-to nos machucando, porque nadinâmica da vida a cada um édado segundo as suas obras.

Batista já cansou de esmurrarmesas, no afã de transmitir-lhesque a palavra escrita é filha do pen-samento e que não existe no uni-verso força maior do que o pensa-mento, para o bem e para o mal.Pode um pensamento positivo sa-

near o mais infecto dos pântanos, epode um pensamento negativo en-venenar e empestar o mais lindo eperfumado dos jardins.

É norma de sabedoria a vigilânciados próprios pensamentos, para quea sua repetição habitual não destruanem ocasione sofrimentos alheios.Pensamentos negativos são ódio,medo, rancor, ressentimento, vin-gança, desânimo, ciúme, inveja, pes-simismo, desconfiança, vontade deaparecer, covardia e, sobretudo, amaledicência, que os assimila, inter-preta e dissemina como língua de fo-go solta no capinzal seco.

A pesquisa em Harvard foi feitapor Thomas E. Patterson e mostraque mesmo os leitores que se interes-sam por notícias “quentes” na políti-ca, economia e administração públi-ca, deixam-se atrair mais por boasnotícias. É o contrário do conceitodominante entre os jornalistas, se-guidores da velha tese de que “boanotícia não é notícia”, ou do quantopior, melhor.

A pesquisa se chama, no originalinglês, “Well and doing good” – emportuguês, Fazer bem e fazer o bem– e se desenvolveu no centro de po-líticas públicas da Universidade, noano passado. Um subtítulo do estu-do de Patterson, que está na inter-net, revela o seu conteúdo: “Comoas notícias leves e o jornalismo críti-co estão reduzindo a audiência dojornalismo e enfraquecendo a de-mocracia” .

A conclusão: emanada desse tra-balho é que a obsessão pela má no-tícia e pelo jornalismo crítico fazcom que o jornalismo transmitauma ideia errada sobre os políticos eas instituições públicas, causandouma reação de repúdio entre os lei-tores que, dentre outras manifesta-ções, diminuem a compra de jornaise a audiência da mídia eletrônica.

O exemplo mais claro citado é areação da opinião pública ao notici-ário sobre o caso Bill Clinton e Mô-nica Lewinsky. Os norte-america-nos, em grande número, apoiaramo presidente prevaricador, emboradiscordando do seu comportamen-to pessoal. Ao mesmo tempo, repu-diaram a dimensão dada pela im-prensa ao escândalo.

Em mais de duas décadas de pi-oneirismo em tantos setores daimprensa goiana, o Diário da Ma-nhã adiantou-se mais uma vez, re-cusando-se a divulgar denúncias,ainda que documentadas, valendoa exceção para os casos já decidi-dos pela Justiça.

Agora que ingressamos em perí-odo pré-eleitoral, dizem que vai ex-plodir a guerra dos dossiês. Fari-seus armam o bote pretendendo,de preferência, jogar pedra e escon-der a mão. Para bater no adversá-rio, estão atrás de cabos de chicote.

(Publicado no Diário da Manhã de 2/5/2002)

Do Cinco de Março ao Diário dda MManhãJávier GodinhoEspecial para o Diário da Manhã

O jornalismo, de forma geral,sempre se pautou como um instru-mento da liberdade de expressão,justiça social e democrática.

Em Goiás, a imprensa jornalísticanão fugiu a essa regra, sendo consti-tuída também por muito sonho eidealismo. Desde a distante época dapublicação do primeiro jornal goia-no, A Matutina Meyapontense, naprimeira metade do século XIX, pas-sando pelo Diário Oficial de Goyaz,já na antiga Vila Boa de Goyaz, entãocapital do Estado, o ideário de liber-dade de expressão marcou suas pá-ginas com interessantes matérias,informações e política.

Com o surgimento da Repúbli-ca e o início do século XX, foimaior o desejo por liberdade deexpressão e democracia; A im-prensa jornalística tornando-semais popular alimentou sonhosliterários, históricos e, principal-mente, políticos, ao motivar osurgimento de inúmeros periódi-cos, diários e semanários nas ci-

dades goianas. Foram vários osjornais surgidos na esteira doidealismo e da esperança de umasociedade mais justa e feliz.

Dentre esses jornais e periódi-cos, dois marcaram politicamenteaquela época na antiga capital go-iana: O Democrata e A Voz do Po-vo (antagonistas).

Em meados do século XX, jáem Goiânia, a nova Capital doEstado, jovens secundaristas serebelaram movidos pelo mesmoideal de liberdade de expressãoe lutas democráticas. Esses jo-vens, Javier Godinho, Telmo Fa-ria e Batista Custódio, contaramcom apoio de grande número deestudantes em que se destaca-vam Consuelo Nasser, ValterliGuedes e Zoroastro Artiaga.

Outro apoio indispensável à con-cretização desse grande voo libertáriodos jovens goianos foi a do inteligentee irreverente político Alfredo Nasser,na cessão, ao grupo jovem da antigatipografia do Jornal de Notícias. Nasceentão, o jornal Cinco de Março, noano de 1959, com o grande objetivo

de alçar novos voos de liberdade e al-truísmo, na luta por uma sociedadedemocrática em defesa da cidadaniae liberdade de expressão.

Com a passagem do dia 5 de mar-ço, dia comemorativo dos 55º aniver-sário desse antigo jornal que hoje re-cebe o nome de Diário da Manhã,

importante veículo de liberdade deexpressão do povo goiano (cadernoOpiniãoPública), jornal que sempreprimou por abrir as portas a jovenstalentos ou a calejadas cabeças es-branquiçadas e privilegiadas, quebuscam no ideal humanístico alçarnovos voos, novas formas de liberda-

de de expressão, o reverso da moedaou o outro lado da história.

Hoje, me ponho a relembrar a agi-tada trajetória de ambos os jornais: oCinco de Março e jornal Diário daManhã (não passaram a vida embrancas nuvens). Viveram cada jornale seu único presidente, os altos e bai-xos do destino, as glórias, a luz e, re-pentinamente, o fundo do poço, a es-curidão da injúria, o abandono mo-ral, as palavras vãs. Por duas vezesdesceu ao inferno da injustiça social,da arbitrariedade política e por duasvezes renasceu com mais força e de-terminação, qual ave mitológica.

Ao felicitar a continuidade dessacaminhada democrática do jornalDM, estendo-a também, a toda fa-mília jornalística e ao jornalista-mor, Batista Custódio, que há mui-to vem segurando este bastão comsabedoria, fé e pulso forte. Reve-rencio, na oportunidade, as me-mórias de Alfredo Nasser, Consue-lo Nasser e Fábio Nasser, que hojeestão em outra dimensão, mas dei-xaram aqui o exemplo de seus so-nhos e suas realizações.

(Maria Elizabeth Fleury Teixeira,pedagoga, escritora, presidente daAcademia Feminina de Letras e Artesde Goiás, pertence a UBE, AGI, Atlecae Ablac)

Inspirado na luta dos estudantes,o Cinco de Março nasceu da ousadiaempreendedora de Batista Custódio,garantindo-o como tribuna livre paraas manifestações da juventude, dasua geração, de cujo idealismo se tor-nou destemido arauto.

Ainda bem não haviam cessado asrefregas locais, em que predominavaa política dos coronéis, eis que eclodeo golpe militar de 1964, com a sangui-nária ditadura dos generais, sem cle-mência nem piedade. As autoridadesda época, inclusive as mais elevadas,acovardavam-se no medo e na trai-ção, tentando se manter nos cargos.No Executivo, no Legislativo, no Judi-ciário, nas igrejas (principalmente acatólica), no empresariado, na intelec-

tualidade, por toda parte só se assistiaa submissão, o agachamento, o servi-lismo. Até porque quem se rebelavaera sequestrado, preso, torturado, es-tuprado, assassinado e dado comodesaparecido. Pior: nem se podiaquestionar o paradeiro das vítimas, ta-xadas de comunistas e inimigos dapátria. A imprensa, então, bajulavacom nojenta sebosidade os militaresencastelados no poder. A quase una-nimidade da mídia enaltecia os farda-dos e lustrava seus coturnos com asaliva dos covardes, ao mesmo tempoem que escondia do público as lágri-mas dos perseguidos.

Como uma das raríssimas exce-ções, o Cinco de Março insistia, nu-ma guerrilha, em cujos quadros seposicionavam os maiores intelectuaisgoianos. Em sua Redação, tive o privi-légio de conviver com Bernardo Élis,Godoy Garcia, Zoroastro Artiaga, Car-mo Bernardes, Geraldo de Araújo Va-le, Jávier Godinho, Antônio José deMoura, Carlos Alberto Santa Cruz

Serradourada, Paulo Gonçalves, Este-fan Nercessian, Anatole Ramos, Ga-briel Nascente, Waldomiro Santos, Je-an Pierre Conrad, Hélbio de Brito, Ed-son Hermano, Eugênio Rios, Amir Sa-bag, Henrique Himelraich, Castro Fi-lho, Valterli Guedes e tantos outros,atrevidos baluartes na defesa da liber-dade de expressão. Todos capitanea-dos pelo talento de Batista Custódio eConsuelo Nasser, que varavam noitespara não permitir que a opressão si-

lenciasse a voz da verdade, estampa-da nas páginas do mais respeitado se-manário que já se editou em Goiás.

Naquele cenário de horror, queaterrorizava o País, a delação, o de-dodurismo, a covardia de denunciarcolegas, para fazer média e tirar pro-veito junto aos milicos, contaminavatodas as classes, disseminando a des-confiança até entre familiares. Os go-rilas espalhavam olheiros por todaparte e a cada instante alguém caíaem desgraça, na unha da Polícia Fe-deral, que recambeava ao Exército, àMarinha ou Aeronáutica.

A noite era tenebrosa; fazia escuro,mesmo assim cantávamos, certos deque a liberdade abriria as asas sobrenós. Não obstante o sacrifício martiri-zasse tantos companheiros, o heroís-mo compensou os sobreviventes,com o alvorecer da democracia, em-bora já tão prostituída pela corrup-ção, em sua moderna versão do rou-ba e reparte, de combate tão difícil.Por isso mesmo, o sonhador Batista

Custódio, à semelhança de Dom Qui-xote de la Mancha, continua caval-gando seu bravo Rocinante e bran-dindo sua incansável espada, atravésdo Diário da Manhã. O caderno Opi-niãoPública esbanja espaço e desafiaa coragem de quem se propõe a ma-nifestar com independência qualqueridéia. Pena que muitos aproveitem-no apenas para justificar o soldo dopuxassaquismo. Decorrido meio sé-culo, ainda vivo um terrível dilemapessoal: adoro política, mas não tole-ro os corruptos que dominaram ostrês níveis dos quatro poderes (inclu-indo aí o Ministério Público). Assimcomo as drogas degradam a raça hu-mana, a corrupção denigre os setorespúblicos. Enquanto não me decido,continuo escrevendo.

(José Elias Fernandes, jornalista,escritor, ex-vereador em Goiânia,

ex-deputado, ex-prefeito de Aragarças, delegado aposentado e anistiado político.

E-mail: [email protected])

Qual fênix...Maria ElizabethFleury Teixeira Especial para o Diário da Manhã

José EliasFernandes Especial para o Diário da Manhã

Alfredo Nasser Consuelo Nasser

O Cinco de Março reuniu os maiores talentos da imprensa goiana

Page 13: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 201414

Diário dda MManhã: um defensor da liberdade e dademocracia na imprensa e na vida do cidadão goiano

Celebrar o aniversário do Diárioda Manhã é também celebrar aconquista democrática nacional ea garantia e a defesa dos direitosindividuais dos cidadãos goianos.Isto porque sua história pode seratrelada diretamente a estas ban-deiras, uma vez que o perfildemocrático e libertário deste jornalreúne todos os ingredientes para amanutenção destas conquistas.

Com a missão de informar, ensi-na. Com o compromisso de dizer averdade, revela. Esta é, sobretudo, ameta de um veículo de comunicaçãoque, mais do que ser uma referênciacomercial e de mercado no jornalis-

mo de Goiás é, também, uma escolapara centenas de profissionais queestão ou que passaram pelo DM.

Sabemos da importância dosveículos de comunicação para garan-tirmos a transparência e a cobrançapor ações e melhorias na vida docidadão comum. Para isto, a rua pre-cisa passar dentro da Redação, afinal,um corpo produtivo sem o contatodireto com os anseios do povo é depouca utilidade nesta missão e acabapor atender outros interesses quenão dá maioria. E, neste aspecto, oDM dá um novo exemplo: tem umperfil e um contato íntimo com opovo de Goiás. Do entretenimento àpolítica, passando pelas reportagenselucidativas de Saúde, o jornal semostra identificado com a causapopular, o que nos serve como umalento em vários níveis.

Somamos, portanto, aos mi-

lhares de eleitores e parabenizamoso Diário da Manhã pela comemo-ração, felizes, por saber que na lutadiária pela democracia, principal-mente na pessoa de seu fundador eprincipal pensador, o jornalistaBatista Custódio. Este que doou asua própria trajetória pela luta pelaliberdade e Justiça social. Uma per-sonalidade que preferiu ter o peitoferido pela bala da repressão a ter alíngua engrossada por lamber asbotas do poder. E é este exemplo devida que, sabemos, transpõe-separa as páginas do jornal e para asua lide diária. Parabéns aos cola-boradores, jornalistas e todos quedão a sua contribuição decisivapara que tenhamos o Diário daManhã em nossas mãos.

(Antônio Gomide ,prefeito de Anápolis)

Antonio GomideEspecial para o Diário da Manhã

DDiiáárriioo ddaa MMaannhhãã: 34 anos de compromisso com a liberdade de expressão

Ao longo dos seus 34 anos de exis-tência, o Diário da Manhã não apenasrevelou ao mundo as muitas nuancesde um Goiás em plena transformação.Um Estado que rompeu o isolamento,a tradição agrária e se consolidou co-mo uma grande economia, em pro-cesso acelerado de industrialização.Graças à coragem e ao idealismo deseu fundador, Batista Custódio, o DMassumiu um papel de protagonista. Ojornal ajudou a forjar a nova sociedadegoiana: integrada ao cenário globaliza-do; capaz de se adaptar rapidamenteàs mudanças; com a autoestima recu-perada e comprometida com os valo-res democráticos.

Neste 12 de março, Goiás tem muitoa comemorar e infinitas razões para seorgulhar. Nas páginas do DM, a liber-dade de expressão se materializa, sem-pre com responsabilidade e inteligên-cia. Os que jamais tiveram voz podemse manifestar sem amarras por meiodo Caderno OpiniãoPública. As repor-tagens ultrapassam as fronteiras do jor-nalismo declaratório e denunciam asmazelas, assim como revelam as mui-tas conquistas da nossa sociedade.

Importante destacar que o Diárioda Manhã se transformou em refe-rência para quem quer compreenderGoiás, em qualquer lugar do mundo.Com conteúdo aberto na rede mun-dial de computadores, o jornal é umadas mais relevantes fontes de consul-ta sobre a realidade do nosso Estado.

Se o Diário da Manhã é uma luz queinsiste em não se apagar, uma tribuna li-vre onde os mais relevantes temas sãodebatidos, Batista Custódio é a alma

desse jornal com vocação para a van-guarda. Desde o final da década de 50,quando fundou o extinto semanárioCinco de Março, esse ilustre jornalistatem sido exemplo de vigor intelectual,coragem para enfrentar arbitrariedades,capacidade de superação.

As mais diversas dificuldades, in-clusive financeiras, jamais impedi-ram Batista de seguir com seus so-nhos. Ainda que o preço de tama-nha ousadia fosse o sacrifício de suavida pessoal.

Em nome de todos os goianos,desejamos ao Diário de Manhãuma longa e bem-sucedida traje-tória. Que o jornal siga como ins-trumento de transformação soci-al. Que continue sendo uma teste-munha privilegiada da história donosso Estado.

(Helder Valin, deputado, presiden-te da Assembleia Legislativa)

Helder ValinEspecial para o Diário da Manhã

Um valor sagrado para a democracia

Meu hábito de ler jornais é anti-go, mas mudou bastante de unstempos para cá. É diferente ler ojornal e ver o seu nome lá. Foi umaopção que fiz, ao escolher entrarna política. Quem faz isso, precisaestar preparado para virar vidraça.Tenho lido muito sobre mim mes-mo nos jornais de Goiás. Nemsempre concordo. Algumas vezes,até me incomodo. Mas sem nuncaperder o respeito pela imprensa domeu Estado. E sem, jamais, questi-onar a liberdade de imprensa.

Essa é a base da democracia: umaimprensa livre, que cobre tudo, detodos. Prefiro ler algo que me inco-mode a conviver com uma imprensaamordaçada, comprada ou submeti-da a pressões de governos.

Muitas vezes a imprensa cometeerros a meu respeito, como eu tam-bém posso julgar errado algum ór-

gão de imprensa. Mas o que deveprevalecer é o respeito mútuo e aampla liberdade de expressão.

O mais importante, para mim, éa pluralidade. O direito de escolhaé do leitor, do ouvinte ou telespec-tador. É ele quem decide em quaisveículos confia e com quais seidentifica. Seu julgamento é o defi-nitivo sobre a qualidade e a credi-bilidade de cada veículo.

Os únicos mestres do bom jorna-lismo são os fatos. O verdadeirocompromisso do jornalista é com averdade. Ele deve satisfações apenaspara seus leitores. A nós, que porqualquer motivo somos objetos dasreportagens, fica a obrigação de agircom transparência e respeito.

Conheço poucos jornais com umrespeito tão grande pelo direito deopinião quanto o Diário da Manhã.O Caderno OpiniãoPública é umainiciativa tão corajosa quanto de-mocrática. Oferece espaço para li-vre manifestação de todas as cor-rentes de pensamento. Muitas ve-zes, lado a lado, estão opiniõescompletamente divergentes sobre omesmo assunto. Para o julgamentofinal de quem importa: o leitor.

Essa abertura ao debate é umamarca pessoal de Batista Custódio.Vem desde os tempos do jornal 5de maio, há 55 anos. E prosseguiu,com a mesma dignidade, na traje-tória do Diário da Manhã. As pági-nas do caderno de opinião não dis-criminam. Acolhem quem pensadiferente. Mesmo quem discordado jornal, ou de seu proprietário.Não dá para negar a importânciadesse espaço democrático.

A imprensa de Goiás se destacapor seus espírito crítico e combativi-dade. Promove o debate político co-mo poucas do país. Isso ajuda naeducação política do nosso Estado.

Mesmo se algumas vezes isso sig-nificar erros ou injustiças, em nadainvalida a sua importância. Porque,ao fim, a verdade sempre prevalece.E uma opinião pública bem infor-mada estará mais do que preparadapara distinguir o joio do trigo.

Aos profissionais da imprensade Goiás, em especial ao Diárioda Manhã, meu respeito e meuscumprimentos.

José Batista Junior, o Junior Friboi, é empresário.

Júnior FriboiEspecial para o Diário da Manhã

Page 14: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

O Diário dda MManhã tem oDNA do Cinco de Março

“Na quarta parte nova os campos araE, se mais mundo houvera, lá chegara”

(Luiz de Camões)

Sempre que se contar a história daimprensa de Goiás se falará de BatistaCustódio que nos últimos 50 anosvem escrevendo com o próprio suor,dia a fora e noite a dentro, ao sol e aosereno, a trajetória do jornalismo noCentro-Oeste brasileiro.

Não é exagero dizer que quase to-dos os jornalistas de Goiás – dos mai-ores aos menores – aprenderam es-crever com ele, que mantém os jor-nais que comanda como oficinas deaprendizado. Centenas de noviços, alichegaram e chegam verdes, quaseadolescentes, e de lá saem jornalistasinteiros, assumindo a vanguarda domercado de comunicação aqui ealhures. Muitos deles pagaram-lhecom indefensáveis ações trabalhistas.

Qual sacerdote, Batista fez do jor-nal seu breviário, cujas contas do ter-ço tinha escrita em cada uma delas eem todas a palavra liberdade.

Foi tão fiel às suas convicções quemuitas vezes vendeu o carro na pri-meira marreta da esquina, e ficava apé para garantir a tiragem do Cincode Março na segunda-feira. Muitomais do que isto: chegou a vender aprópria casa de morada, só para vero jornal pendurado nas bancas co-mo bandeira avançada, esvoaçandoao vento de seu idealismo utópico. Eessa casa é aquela onde, hoje, fun-

ciona a Churrascaria do Walmor, àRua 3, no Detor Oeste.

A história do jornal Diário da Ma-nhã vem de longe e tem o DNA do se-manário Cinco de Março, o mais lan-cinante protesto de uma geração. Du-rante 22 anos tremulou em todas asbancas de revistas de Goiás, l5 dosquais sob os coturnos da ditadura, amais longa de nossa história. Aquelesemanário, nascido no chão da grevedos estudantes, foi o muro onde o po-vo pobre e humilde vinha escrever acarvão, com letras garranchadas, asua fome de pão, liberdade e Justiça.

Em lugar nenhum e em Língua ne-nhuma existiu jornal mais libertáriodo que o Cinco de Março. E lá foi orancho que nos abrigou da tempesta-de de canivetes que a ditadura militarfez chover nos ásperos tempos quenunca mais hão de voltar.

E no front dessa trincheira estavaBatista Custódio, exposto a todos osassaltos da polícia oficial que por maisde uma vez empastelara o jornal, que-brando suas máquinas a coice de fuzil.

No momento mais arreganhadoda ditadura, Batista foi condenadopor opinião e teve que cumprir penano quartel da Polícia Militar de Goiás.O senador governista Benedito Vicen-

te Ferreira chegou à sede do Cinco deMarço à Avenida Goiás, esquina daRua 61, no Bairro Popular, e me pediupara levá-lo à prisão onde estava Ba-tista. O senador goiano estava acom-panhado pelo senador capixaba Euri-co Rezende, líder do governo Costa eSilva no Congresso Nacional.

No percurso, Benedito me adian-tou que estava ali em missão oficial“da revolução” e trouxera o senadorEurico Rezende para tirar Batista Cus-tódio da cadeia. Chegamos ao quartelda Polícia Militar, e os dois senadoresentraram para falar com Batista. De-moraram cerca de uma hora. Saírame eu fiquei lá para despachar comoBatista questões do jornal. Naquelahora, Batista me disse que o senadorEurico Rezende fora lá e levara umdocumento para ele assinar.

“—Não concordei com o teor dodocumento e me recusei a assiná-lo.Prefiro continuar preso, a assinar umdocumento que me desonra” – en-cerrou a conversa.

Na época, o ex-prefeito de GoiâniaIris Rezende tinha o mandato cassadoe suspensos os direitos políticos por 10anos. Quando terminou de cumprir apena, Batista encarregou justamenteIris de levar o seu Alvará de Soltura ebuscá-lo na cadeia. Eis aí a coragemde escolher justamente um políticocassado, só para promovê-lo e até in-sultar a ditadura envergonhada.

O jornal Cinco de Marco trazia nacapa uma marca com forte apelo naci-onalista: “Nem Washington, nem Ro-ma, nem Moscou: tudo pelo Brasil.”

Com o advento da anistia política,já em 1980, o semanário Cinco deMarço havia cumprido com bravura,valentia e muita honra, a sua missão

e, antes de encerrar a sua heróica tra-jetória, gerou o jornal Diário da Ma-nhã que já nasceu grande e nacional,porque trazia o DNA do legendárioCinco de Março. O Diário surgiu com-petindo com a grande imprensa doeixo Rio/São Paulo e com ele vierampara cá os grandes nomes da impren-sa nacional. Um luxo só.

O jornal nasceu no fim do governoAry Valadão que nele anunciou, semnenhuma censura, mesmo sabendoque o DM patrocinava abertamente aeleição do candidato oposicionista IrisRezende que, em 82, chegou ao gover-no e não tolerou o jornal que o ajudaraa se eleger. O jornal foi fechado e sóvoltou no governo Henrique Santillo.

Há que se lembrar que no Cinco deMarço e no Diário da Manhã estavatambém a jornalista Consuelo Nasser,mulher culta, determinada e batalha-dora pela causa das mulheres. E foi láno Diário da Manhãque Consuelo fun-dou o Centro da Valorização da Mulher

(Cevam), uma entidade não governa-mental que é hoje referência nacionalna defesa dos direitos da mulher.

Quando se diz que o Diário da Ma-nhã tem o DNA do semanário Cincode Março é porque os dois tem a mes-ma origem: são filhos do jornalistaBatista Custódio que a cada dia reno-va, reinventa e ressurge com as coisasnovas em comunicação.

O Caderno OpiniãoPública é umaclarinada de liberdade e democracia.Se o Cinco de Março era o muro, ondeo povo escrevia a carvão, com letrasgarranchadas, OpiniãoPública é o jor-nalismo distribuído nos cultos e nosquase analfabetos, é o desabafo cole-tivo, onde os jornalistas profissionais,às vezes, aprendem, com a voz dasruas, escrever certo por linhas tortas.

Os governos podem até abrir ca-deias. Mas os governos só não podemfechar escolas e jornais.

(Carlos Alberto Santa Cruz, jornalista)

Carlos AlbertoSanta CruzEspecial para o Diário da Manhã

Consuelo, o Cevam nasceu dentro do DMBatista escreve

com o próprio suor, aosol e ao sereno, ahistória do jornalismono Centro-Oeste”

“O Cinco de

Março foi o muro ondeo povo escrevia acarvão, com letrasgarranchadas, suafome... O DM é a vozdas ruas ensinandoaos jornalistas escrevercerto por linhas tortas”

OPINIÃODiário da Manhã 15GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014

“Existe uma terrível desvantagem de não se ter a qualidade abrasiva da

imprensa aplicada a nós todos os dias...mesmo que não gostemos, e mesmo quedesejássemos que não tivessem escrito, e mesmo que não aprovemos, não existenenhuma dúvida de que não faríamos o

nosso trabalho numa sociedade livre sem uma imprensa ativa, muito ativa.”

John Kennedy

PPaarraabbéénnss aaoo Diário da Manhã ppeellooss sseeuuss 3344 aannooss ddee vviiddaa!!PPaarraabbéénnss ppoorr ssuuaa jjoorrnnaaddaa iinnccaannssáávveell nnaa pprroodduuççããoo ddee nnoottíícciiaass!!

Wilder MoraisSenador pelo DEM

“Existe uma terrível desvantagem de não se ter a qualidade abrasiva da

imprensa aplicada a nós todos os dias...mesmo que não gostemos, e mesmo quedesejássemos que não tivessem escrito, e mesmo que não aprovemos, não existe nenhuma dúvida de que não faríamos o

nosso trabalho numa sociedade livre sem uma imprensa ativa, muito ativa.”

Page 15: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

Hoje em dia já não existe mais opequeno, mas bravo e combativo jor-nal Cinco de Março. Porém, fez histó-ria. Deixou na memória e na históriagoiana o exemplo de um jornalismoautêntico e de resistência aos des-mandos dos poderosos; uma voz dopovo simples de nossa cidade.

E eu me lembro bem daquelesemanário.

Até dezembro, ano de 1963, eumorava com meus pais em Piracan-juba, minha cidade natal. Meu paitinha um açougue na principal ruada cidade, em frente à farmácia doJoãozinho. Ali, naquele ponto co-mercial, funcionava um centro decríticas e oposição à prefeitura locale aos governantes em geral. E haviauma espécie de disputa de espaçocom o outro centro dos apoiadoresdo governo, que ficava meia quadraabaixo, no posto de gasolina da es-quina, em frente da grande casa re-sidencial de Dr. Rui Cavalcante, co-nhecido chefe político local. Noaçougue, reuniam os mais simples.No posto, os grandes fazendeiros.

Foi em Piracanjuba, naqueleambiente político, que iniciei acompreensão sobre o que aconte-cia no Brasil e em Goiás.

Meu pai sempre havia sido e foi avida toda muito crítico, muito ácido atodo e qualquer governo. Era contraa máquina do estado, que ele sempreconsiderou como parasitária por na-tureza. Tanto que esses vegetais pa-rasitas que hospedam uma árvore epassa a roubar-lhe a seiva, meu paisempre lhes dava o nome de “vegetalestatal”. Por isso, naquele ponto daRua Pedro II, no açougue do Belo Vi-eira (apelido de meu pai), funcionavaum centro de notícias e fofocas políti-cas, um centro vivo de debates daoposição ao prefeito, ao governadorou ao presidente da República. E ojornal que mais circulava por lá, quedava o tom dos debates e municiavaa todos com fatos e argumentos, erao famoso semanário Cinco de Março,do Batista Custódio.

Sempre no anoitecer, quando che-gava o ônibus vindo de Goiânia, eu iabuscar os jornais que meu pai enco-mendava, geralmente a Folha de Goi-ás, jornal diário conservador . Mas,nas segundas-feiras, era diferente. Erao dia de chegar um novo número do

panfletário Cinco de Março, recheadode novas críticas, novas denúncias,novos argumentos, que iriam abaste-cer os debates por mais uma semana.

O maior elogio que meu pai faziaàquele jornal, lendo em voz alta suasmatérias para as pessoas em volta,era assim: “Eu gosto desse jornalCinco de Março. Para mim é o melhorque existe em Goiás. E querem saberpor quê? Porque nesse jornal, comoele mesmo diz, não existe espaço pa-ra elogios. E ele tem coragem paracriticar, doa a quem doer”. E havianele uma coluna, que era a mais lidachamada ‘Café da Esquina’. Talvezem referência indireta ao Café Cen-tral, ponto das fofocas políticas da

política goiana na capital.Em abril de 64, quando os norte-

americanos patrocinaram o golpemilitar contra João Goulart, nossafamília já morava em Goiânia. Éra-mos recém-chegados. Havíamosmudado pra capital em dezembrodo ano anterior, porque minha irmãJoana D’arc havia passado no vesti-bular de Medicina na UniversidadeFederal de Goiás (UFG). Para apoiá-la, mudamos para Goiânia. Maseram muito tristes as notícias na-queles dias do golpe militar. Muitasprisões, terrorismo de direita, de-nuncismo, destruição de reputa-ções. E meu pai dizia profeticamen-te: “Esse golpe é coisa dos america-nos. E vai durar 20 anos, porque esseé ciclo da vida política do Brasil”.

E o jornal Cinco de Março tam-bém passou a ser atacado pelos mili-tares golpistas. Batista Custódio che-gou a ser preso e ameaçado de coisaspiores. Porém, mesmo em situaçãoadversa, travou, através de seu jornal,uma heroica resistência pela demo-cracia, pelas liberdades e em defesa

dos perseguidos. E como não queriaelogiar o governo pró-americano re-cém-instalado e para proteger seujornal e evitar que fosse chamado decomunista ou a favor da Rússia, Batis-ta Custódio mandou acrescentar logoabaixo da logomarca do jornal, as pa-lavras: “Nem Washington, nem Mos-cou, nem Roma. Tudo pelo Brasil!”.

E essa forma de se expressar aju-dou muita gente a se livrar de situa-ções políticas perigosas e constran-gedoras. Era uma frase nacionalista,por isso mais difícil de ser atacadapelos militares; combatia o entre-guismo para esse ou aquele país. Etodas as pessoas medianamente in-formadas, ou mesmo minimamente

informadas, sabiam que os militaresgolpistas eram apenas marionetesdos magnatas de Washington.

E essa frase do Cinco de Marçomuito ajudou minha defesa duranteum interrogatório a que fui submeti-do pelos homens da ditadura, noano de 1968, quando de minha pri-são política no Rio de Janeiro. Na-queles dias, eu era diretor da UBEs(União Brasileira dos Estudantes Se-cundaristas). Havia sido preso fa-zendo agitação pelas liberdades nocolégio Visconde do Cairú, no bairrodo Meyer, no Rio de Janeiro.

Eu era muito jovem, alto e magér-rimo, mas muito atento. E, ao serpreso, era uma questão de honranunca trair ou mesmo vacilar. Erapreciso ser firme, mas, ao mesmotempo, astuto. A prisão era um mo-mento de provação dos revolucio-nários. Era preciso saber marcarnossa postura e nossa conduta dian-te daquele governo ditatorial. Mas,ao mesmo tempo, era necessárioevitar provocações desnecessárias.

O preso político isolado e inter-

rogado é um ser completamenteindefeso diante dos seus algozesque querem, acima de tudo, lhequebrar a moral, quebrar seu espí-rito de luta. Assim, o interrogatórioconduzido pelo famoso delegadode presos políticos no Rio de Janei-ro, Dr. Manoel Vilarinhos, era umdesses momentos difíceis.

Ele me perguntou: “Você é contraou a favor de nosso governo?” Olheiem torno. Além do delegado, havia oescrivão e eu assentado no meio dasala, numa cadeira colocada lá, iso-lada no meio da sala. Atrás de mim eencostados nas paredes, estavamdois ou três brutamontes mal enca-rados, propositalmente ameaçado-

res para que eu me intimidasse.Então imediatamente me lembrei

do jornal Cinco de Março, de sua lo-gomarca, de seus dizeres. E respondicalmamente ao delegado: “Eu sougoiano. Tenho a mesma opinião denosso jornal goiano chamado Cincode Março. Lá está escrito: Nem Was-hington, nem Moscou, nem Roma,tudo pelo Brasil. Por isso, eu sou umpatriota. Acima de tudo pelo Brasil.Primeiro o Brasil”.

Mas o delegado não se deu porsatisfeito e voltou a carga: “Sim, maseu quero saber se você é a favor oucontra nosso governo?”. Naquela al-tura, eu já me sentia bem mais fortee orientado para dizer claramente:“Sou contra, porque é um governo afavor de Washington. E eu defendoo Brasil acima de tudo”. O delegadodeu um sorriso aberto, embora si-lencioso, meio maroto e passou ame respeitar mais.

Tempos depois, eu narrei esse fatopara o Batista Custódio. Creio que es-sas minhas palavras devem estar ano-tadas em meu depoimento, cujas có-

pias eu solicitei recentemente ao cen-tro de memória, no antigo Deops, emSão Paulo. Meu advogado no Rio deJaneiro, naquela ocasião, foi o Dr.Modesto da Silveira, grande jurista,hoje com mais de 90 anos, mas lúcidoe na ativa, com quem tive o prazer defalar ao telefone meses atrás.

Por isso, tenho orgulho em elogiare também saudar as comemoraçõessobre esse pequeno e afiado jornalpopular e de resistência democrática,chamado Cinco de Março. Um exem-plo de jornal. Eu condeno os mono-pólios em todos os sentidos, inclusiveo monopólio das comunicações. Paramim, jornalismo autêntico é aquelenaturalmente ligado ao povo, não im-porta a qual segmento. Mas que ex-presse a opinião formada pela vida enão a opinião formada pelo dinheiro,a falsa opinião de um falso jornalis-mo, para iludir as massas e perpetuaruma elite no poder.

Por ironia da política, quando em1982 aconteceram as eleições diretaspara governador, a primeira depoisde muitos anos de governos nomea-dos pelos militares, parecia que iradescortinar um grande ambiente deliberdade. E assim, dois anos antes,prevendo a nova realidade que seabria desde a anistia e preparandopara vivê-la, Batista Custódio decidiutransformar seu velho Cinco de Marçoem um novo Diário da Manhã. Com-prou novas máquinas, contratou mui-tos jornalistas famosos e arregaçou asmangas para fazer um grande jornal.Mas aconteceu justamente que o no-vo governo eleito iria fechar seu novojornal. Batista Custódio e seu jornalis-mo novamente enfrentaram dificul-dades ainda maiores. Mas resistiramao tempo. Mesmo mais modesta-mente que ao projeto inicial, o Diárioda Manhã continua a circular sob ocomando do calejado jornalista.

Respeito muito Batista Custódiopelo seu idealismo, sua coragem ededicação. Marx dizia que “tal e co-mo os homens manifestam sua vi-da, assim eles são”. Batista Custódiodedicou sua vida para o jornalismoverdadeiro. É o mais legítimo jorna-lista goiano, orgulho de todos nós. Emesmo depois de tantas dificulda-des e tantas décadas de resistência,ele mantém sua resistência crítica.Parabéns ao seu estilo de jornalis-mo. Parabéns àqueles que o acom-panham e o seguem.

Viva o jornal Cinco de Março!Viva o jornalista Batista Custódio !

(Euler Ivo, ex-vereador de Goiânia)

Euler IvoEspecial para o Diário da Manhã

A luz que furou a escuridão

DDiiáárriioo ddaa MMaannhhãã, uma tribuna livre do direito de expressão!

Recordo que, ainda acadêmico dedireito da PUC-GO, meu estimadoprofessor José Mendonça Telles, emsala de aula, fez à turma uma per-gunta que jamais esqueceria. Inda-gou ele quem seria mais forte, o ca-nhão ou a caneta? Antes que respon-dêssemos, sorrindo, o professor dis-se que era a caneta. Então explicouque a caneta revelava a idéia e for-mava opinião, criando nos homensa consciência, força motriz das gran-des transformações no mundo.

Em um gesto incomum, o jorna-lista e fundador do Diário da Manhã,Batista Custódio dos Santos, abriu aspáginas do jornal de uma forma am-plamente democrática permitindo atodos, sem distinção, utilizar esse es-paço para emitir sua opinião exer-cendo seu direito constitucional deexpressão, fazendo do Diário umatribuna livre, fato inédito no País.

Com a revolução da informática,os artigos e matérias são lidos em to-do o mundo através da internet e sãocomentados também no espaço opi-nião do leitor, criando uma interaçãoainda maior com a sociedade, for-mando opiniões e criando consciên-cia, realizando transformações, fa-zendo com que a sociedade participe

ativamente dos acontecimentos so-ciais, artísticos, políticos, econômi-cos, científicos dentre tantos outrosdo País e do mundo. Essa democrati-zação da liberdade de imprensa cria-da nas entranhas do Diário da Ma-nhã que completa 35 anos de exis-tência, tem história, começou nosanos amargos do regime de exceçãoinstalado em 1964, com a criação dosemanário 5 de março em 1969, quefoi uma trincheira de luta dos idealis-tas da época que lutaram em desvan-tagem contra a ditadura militar.

Entre eles se destacaram BatistaCustódio dos Santos diretor, JavierGodinho, redator chefe, Telmo deFaria, João Neder, Consuelo Nasser,Taufic Sebba, Descleux Crispim, Joséde Moraes, Waldomiro Santos, Car-los Alberto Santa Cruz Serradourada,Antônio José de Moura, Carmo Ber-nardes, Edson Nunes, Haroldo deBrito, José Elias Fernandes, Tupi-nambá dos Reis, Antônio Gomes,dentre outros notáveis e corajososjornalistas, me desculpem não citartodos, foram os jovens que não secalaram, e sempre trouxeram nopeito o desejo indômito de discor-dar, de criticar, de desafiar o poderusurpado pela imposição ditatorial,usando como arma apenas a canetacomo forma de expressão do pensa-mento livre, que somente em 1988viria a ser concebido através daConstituição Cidadã do saudosoUlisses Guimarães, insculpido no ca-pítulo que cuida dos direitos e ga-

rantias fundamentais do cidadão,inciso IV do artigo 5º, que vem seaperfeiçoando no decorrer do tem-po pelos anos de consolidação doestado democrático de direito.

Já se passaram décadas, que vi-vemos uma democracia, que vemse aperfeiçoando dia a dia, mas ho-je sabemos que outros instrumen-tos tentam barrar a imprensa livre edemocrática, pessoas que nãoconseguem conviver com a liber-dade do pensamento e perseguemjornalistas com ações infundadas etemerárias, não buscam justiça,buscam vingança, utilizando-se,indevidamente, da via judicial paratanto, fazendo valer o poder econô-mico e o decantado poder políticopara calar a imprensa livre.

Em decisão histórica do STF, oministro Celso de Mello proferiumemorável voto em defesa da liber-

dade de expressão, ressaltando: “Li-berdade de Imprensa(CF art. 5º,IV,c/c o art.220), Jornalistas Direitode Crítica Prerrogativa Constitucio-nal, cujo suporte legitimador repou-sa no pluralismo político (CF1º, V).Que representa um dos fundamen-tos inerentes ao regime democráti-co. O exercício do direito de críticainspirado por razões de interesse pú-blico. Uma prática inestimável de li-berdade a ser preservada contra en-saios autoritários de repressão Penal.A crítica jornalística e as autoridadespúblicas arena política; Um espaçode dissenso por excelência.” (RTJ200/277. Rel Min. Celso de Mello).Finalizando citou os postulados daDeclaração de Chapultepec, de 1994,adotada pela Conferência hemisféri-ca sobre liberdade de expressão, fri-sou: (...) a imprensa livre é condiçãofundamental para a solução de con-

flitos sociais, a promoção do bem es-tar e a proteção da liberdade. Nadamais nocivo, nada mais perigoso doque a pretensão do Estado de regulara liberdade de expressão (ou legiti-mamente interferir em seu exercí-cio) pois o pensamento há de ser li-vre, permanentemente livre, essen-cialmente livre” sentenciou.

Hoje o Diário da Manhã, comuma extraordinária equipe de jor-nalistas trabalha incansavelmentepara manter o Diário circulando,para bem informar, merecendo oreconhecimento de toda socieda-de goiana, peço licença para citardentre estes destacados profissio-nais do jornalismo Ulisses Aesse,Helmiton Prateado, Edson Costa,Antéro Sóter, Sabrina Ritiely, Weli-ton Carlos, Arthur da Paz, dentretantos outros que merecem o nos-so respeito e reconhecimento.

Mas, verdade seja dita, essesonho não estaria completandoseus 35 anos, não fosse a lutaincansável e determinação docombativo jornalista BatistaCustódio que, inegavelmente,faz parte da história do jornalis-mo goiano e do Brasil, com todomerecimento por sua luta pelaliberdade de expressão, comuma fé inabalável de que o pen-samento deve ser permanente eincansavelmente livre!

(Alex Neder, advogado criminalista e consultor jurídico).

Alex NederEspecial para o Diário da Manhã

OPINIÃOGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 201416

Page 16: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 17

O Diário da Manhã chega aos 34anos com corpinho de 70, envelhecidoprecocemente por uma trajetória deglórias, quedas, lutas e vitórias, tudoassim, junto e misturado. Mas qual é aboa história que não reúne esses ingre-dientes? O roteiro começa em 1980,quando o jornal nasceu da costela dosemanário Cinco de Março, que BatistaCustódio resolveu transformar em jor-nal diário com um projeto ousado so-bre uma megaestrutura desenhadapor seu idealismo. Muitos acharamque seria um sonho a mais de Batista eConsuelo Nasser. Não foi. O jornalnasceu sob o signo do sucesso e fezhistória no jornalismo goiano e ga-nhou o Brasil, chegando a ser conside-rado o quarto do País pela respeitadaAcademia Brasileira de Letras, onde re-cebeu o prêmio alusivo.

Batista e Consuelo fizeram uma re-volução na imprensa. Selecionaram osmelhores jornalistas do Estado, comoCarlos Alberto Sáfadi, Isanulfo Cordei-ro, Jayro Rodrigues, Fleurymar de Sou-za, Carlos Alberto Santa Cruz, MarcoAntônio da Silva Lemos, Lorimá Dioní-sio, Wilson Silveira , Sônia Penteado,Hélio Rocha, Jávier Godinho, entre ou-tros. Não satisfeito, buscaram mais no-mes consagrados nos jornalões do Rio,São Paulo e Minas. Assim se juntaramao time goiano, profissionais da quali-dade de Washington Novaes, AloysioBiondi, Reinaldo Jardim, Eloí Callage,que ganharam dos enciumados (nobom sentido) colegas o bem-humora-do apelido de “legião estrangeira”. Bri-ancadeira à parte, os dois times convi-viam harmoniosa e respeitosamente,tanto que o coleguismo virou amizadee eles mesmo riam muito da recepção,em princípio não muito cordial.

O DM deu tão certo, que estavabom demais para continuar. Jornalforte nem sempre agrada a empresá-rios e políticos, principalmente. Dizerque exite imprensa independente degrupos econômicos e políticos, pelomenos pelas bandas aqui da América

Latina, é utopia, infelizmente. Foinessas águas revoltas que o DM em-barcou e afundou. Salários altos pa-gos em dia, tiragem que alcançava to-do o Estado, Distrito Federal e outrascapitais brasileiras gerava custo ope-racional que aos poucos foi tornando-se inviável. Goiás, à época não conta-va ainda com empresas e indústriasde grande porte para anunciar seusprodutos. O maior anunciante era ogoverno mesmo e ponto.

Quando Iris Rezende assumiu ogoverno sucedendo a Ary Valadão, oDM tinha milhões para receber emnotas empenhadas e não recebeu. Irispagou algumas e foi rolando a dívidaaté Batista e Consuelo não consegui-ram mais esperar. Eles tinham pressa,Iris não. Daí nasceu o desentendi-mento entre compadres e amigos atéque virou briga feia, prejudicandocentenas de funcionários, fornecedo-res, os donos do jornal e o próprio go-verno. Nesse cenário não faltaram astraições, intrigas e mentiras. Poderiarelembrar várias, mas vou citar umadas piores que presenciei: a históriainventada por bajuladores do gover-nador, que corromperam jornalistasde caráter frágil para se aliar a eles,com oferta de emprego no governo.

Assim, fizeram malabarismo sabe-se lá de que jeito, mas tiveram acesso aum artigo que o Batista havia escrito(ainda não publicado) com críticas pe-sadas NÃO a Iris Rezende, mas ao seugoverno, sem resvalar para o planopessoal. Mas para ofender o homempara valer tinha de haver ataques à fa-mília do governador. Se era isso quefaltava, estava resolvido. O grupetomaldoso, de posse às laudas do artigo,"enxertou" um parágrafo escrito poreles, que atingia em cheio a honra de

Iris Rezende no que há de mais sagra-do para um pai, a honra de um filho. Elá foram eles, excitados entregar o arti-go ao Iris, jurando ser o texto original.Iris perdeu o chão, claro.

Só que no meio dos cizaneiros haviaum jornalista que resolveu telefonarpara o Lázaro Custódio, irmão de Ba-tista, e comentou o fato, em tom atéameaçador. Apavorado, Lázaro che-gou à Redação do DM pouco antes dameia-noite e aos berros pedia explica-ções ao irmão para tanta mesquinha-ria, citando o tal trecho fabricado pelaturma oportunista. Batista, sem enten-der nada, me chamou e pediu que eupegasse na minha gaveta os originaisdo tal artigo (havia deixado comigoporque na época eu era secretária deRedação e responsável por decidir emque página e dia o artigo deveria serpublicado). O próprio Batista pediu

para que segurasse a publicação até apróxima semana, na esperança de re-solver a situação com o governo.

Entreguei as quase dez laudas aoLázaro, ele leu uma a uma, releu e nãoachou sequer uma linha que se refe-risse à família de Iris.“Tem algumacoisa errada”, disse Lázaro, comple-tando: “O fulano de tal leu para mimuns comentários deploráveis sobre afamília de Iris que estariam nesse arti-go e não vejo nada disso. Onde está oerro, Batista?”, indagou todo descon-certado com a maneira agressiva quehavia chamado atenção do Batista.“O erro, Lázaro, está nas mãos infec-tas de gente que até pouco tempo le-vava uma vida nababesca bancadacom o gordo salário que recebia doDM e me enchia de elogios e afagostão falsos e interesseiros como os quehoje depositam aos pés do Iris.”

Resultado da ópera bufa: o artigoverdadeiro não foi publicado, outrosforam mas este não, sou testemunhado seu conteúdo (guardo comigo umacópia do original até hoje). Porém, Iris,inflamadíssimo pelos puxa-sacosoportunistas (toda gente desse naipeé), preferiu acreditar que o tal artigoexistiu e iniciou uma perseguição aoDM até que conseguiu fechá-lo.

Batista viveu dias infernais. Os“amigos” desapareceram, a família sedesintegrou, os políticos que viviam àcata de espaço no jornal não atendiamaos seus telefonemas, vendeu os pou-cos bens que lhe restaram e passouum ano com despensa vazia numachácara emprestada por Mané de Oli-veira. Sabe que ia lá visitá-lo? ValterliGuedes, Gabriel Nascente, PotencianoMonteiro (já falecido), Samyr Helou(também falecido) o Luis Carlos e eu.Sem contar o filho Fábio Nasser que foimorar com o pai e o fiel Orlando Con-de, um “faz-tudo”, que só abandonouBatista quando a morte lhe buscou.

Não se pode omitir nunca o nomede Ronaldo Caiado nessa história. De-putado federal e presidente da podero-sa UDR, procurou Batista e garantiu:“Vou ajudar você a reabrir o DM”. A es-sas alturas, até o Batista duvidou. PoisCaiado, com sua lealdade e bravezaque trouxe do berço, fez uma série dereuniões com os ruralistas, políticos,amigos e quase que como uma ordemconvocou todos: “Cada um como pu-der, tem de ajudar o Batista a reabrir ojornal”. Entre eles, havia alguns que seafastaram do Batista, mas não tive-ram coragem de contrariar Caiado. Aícomeçou o longo caminho de voltado Diário da Manhã, que completa 34anos. Nessas três décadas, outras cri-ses viriam. Mas isso é assunto paraoutra história pautada no idealismo,força, coragem e persistência paraservir de exemplo para os jovens queestão chegando agora ao jornalismo,com a cabecinha cheia de ilusão. Háflores nessa seara? Sim, mas os espi-nhos não são poucos. Como em qual-quer profissão, há alegrias, conquis-tas, decepções e glamour. Mas nadaque a persistência carregada com ospés ficados no chão não vença.

(Suely Arantes, jornalista)

As vezes em que a Liberdade chorou

A previsão de Nasser

A história política brasileiratem me causado especial fascí-nio. Gosto especialmente do ca-pítulo que abrange desde a eraVargas à atuação de JuscelinoKubitschek. Neste estimulanteconjunto de acontecimentosque compõem boa parte da Re-pública, aprecio ainda os relatosbiográficos. Fascina-me ler a vi-da de homens como GetulioVargas, Juscelino Kubitschek, Jâ-nio da Silva Quadros, Carlos La-cerda, João Goulart e de outrasfiguras que estiveram à generosasombra do poder, como o jorna-lista Assis Chateaubriand.

Nessa rica e densa teia queforma palco para a política bra-sileira, há um aspecto igualmen-te instigante. É o conjunto detextos com relatos e análise dapolítica de Goiás. Esse é um ca-pítulo ainda carente de obrasmais completas e interessantes.Nas últimas décadas, tenho mededicado ao estudo da trajetóriade personagens políticas de Goi-ás, como Pedro Ludovico Teixei-ra, o fundador de Goiânia.

Entre as figuras mais expres-sivas da história sociopolíticade Goiás está Alfredo Nasser,ministro da Justiça e NegóciosInteriores do governo JoãoGoulart e uma das vozes goia-nas no Parlamento.

Nasser residia em um barra-cão que ele construíra no fundodo quintal da sobrinha StelaNasser, na Rua 74, em Goiânia,conversava todos os dias com ospolíticos Camargo Júnior, JoséLuiz Bittencourt, Hélio Seixo deBrito, José Fleury e Dante Unga-relli. Ali era o ponto de conver-

gência de encontros dos oposi-cionistas ao ludoviquismo.

Alfredo Nasser despontoupela inteligência brilhante, luci-dez das análises que fazia e ain-da pela eloquência do discurso.Essa aguda percepção de sábioo permitia, às vezes, antever ofuturo, acerto notável.

Recentemente deparei-mecom uma entrevista a mim con-cedida, em março de 1992, porDante Ungarelli, um dos pionei-ros de Goiânia. Na fala, Ungarelliobserva: "Um dia eu estava nacasa do professor Alfredo Nassercom Camargo Júnior, Hélio Sei-xo de Brito, Randal do EspíritoSanto e José Fleury quando láchegou um moço magro, tímido,

com pouco mais de 22 anos deidade. Indiferente a tudo, sen-tou-se e ficou observando a figu-ra de Alfredo Nasser que a ele de-dicava atenção especial ao pontode interromper uma reunião eretirar-se com o jovem para a ou-tra sala e ali demorarem quaseuma hora conversando. Certodia, perguntei a Alfredo Nasserporque todas as vezes que essemoço chegava ele interrompia a

nossa reunião para atendê-lo se-paradamente e com ele ficavaconfabulando por várias horas.

Nasser respondeu-me: "Ah,Dante, esse jovem é o goianomais inteligente, idealista, hon-rado e corajoso da sua geração.Vai ser o maior jornalista de Goi-ás e, se ingressar na política par-tidária e seguir carreira, será go-vernador do Estado. Esse moço,Dante, é filho de várias geraçõesdos fazendeiros que desbrava-ram o Centro-Oeste goiano eamigo da minha família. Gostodele como o filho que não tive.Preste atenção nele, Dante, o Ba-tista Custódio vai mudar a histó-ria da imprensa de Goiás."

A vida de Alfredo Nasser con-tém capítulos interessantes quedenotam a vivacidade de um ho-mem culto, de grandes ideais. Ovelho político goiano sabia distin-guir o joio do trigo. À força de umsimples olhar, separava o ho-mem de valor de um canalha.Sua perspicácia permitia-lheapontar com antecedência o queviria a ser um jornalista combati-vo, destemido, como Batista Cus-tódio, à frente do Cinco de Marçoe depois, do Diário da Manhã.

O cenário político nacionaltem figuras brilhantes, tipo Getu-lio Vargas, Juscelino Kubitschek eAssis Chateaubriand. O capítulopolítico de Goiás igualmente pos-sui nomes consideráveis: PedroLudovico Teixeira, Alfredo Nassere Batista Custódio. Cada um nasua seara e em seu momento, elescompõem o ponto comum deuma história política que conti-nua viva. Atualíssima e pulsante.

(Luiz Alberto de Queiroz, escritor,autor de: O Velho Cacique (sobre Pe-dro Ludovico, 8ª Edição); Iris, o Caris-ma (sobre Iris Rezende, 3ª Edição);Marcas do Tempo (de Getulio Vargasa Tancredo Neves); Memorial de umRebelde (2ª Edição), entre outros)

Suely ArantesEspecial para o Diário da Manhã

Luiz Alberto de QueirozEspecial para o Diário da Manhã

Page 17: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

Este ano de 2014 é de muita sig-nificância para o País. Muitas são asdatas históricas, que contam nesteano a partir deste mês de março. Navirada do dia 31 de março de 1964para o dia 1º de abril, civis e milita-res mergulharam o País na sua maislonga, dura e infame ditadura. Ogolpe de 1964 completa 50 anos etodos os brasileiros e brasileiras quelutaram contra o arbítrio tem refle-xões a fazer sobre o período maissombrio de nossa história.

É também neste ano de 2014 quecompleta-se no dia 15 de junho, 30anos do primeiro comício pelas Dire-tas Já. Foi aqui, em Goiânia, na PraçaCívica, que dezenas de milhares degoianos foram às ruas para pedir avolta da democracia e a eleição, pelovoto direto, do presidente do Brasil.

A estas duas datas, soma-se no dia12 de março os 35 anos de fundaçãodo Diário da Manhã. E é impossíveldissociar a história deste veículo daluta pela democracia em Goiás e noBrasil. Cria do Cinco de Março, sema-nário que tanto incomodava a ditadu-ra em Goiás, o Diário da Manhã apoi-ou as lutas pela redemocratizaçãodesde o nascedouro da campanhapela Anistia até os primeiros movi-mentos da campanha Diretas Já.

Um jornal, como todo veículo decomunicação, tem avanços e recuos.Mas na soma dos seus 35 anos, o DMesteve mais próximo das lutas demo-cráticas do que à favor dos governosde exceção. E é isto que conta.

Democrático, o DM teve na suaRedação jornalistas de todas as mati-

zes partidárias e ideológicas: udenis-tas, peemedebistas, comunistas,trotskistas, petistas, tucanos e pefelis-tas. E como isto foi possível, pode per-guntar-se o leitor. Como administraruma salada ideológica destas? Isto sófoi possível porque o editor-geral, Ba-tista Custódio, foi o primeiro a acredi-tar na liberdade de expressão. Todosos pensamentos estavam representa-dos nas páginas do Cinco de Março, e

depois, nas páginas do DM, com osincero objetivo de tornar plural aopinião. Cabe ao leitor tirar suas con-clusões, sem cerceamento algum.

Hoje não se vê este tipo de postu-ra na imprensa. Vivemos tempos bi-cudos no jornalismo, onde as Reda-ções dos grandes jornais do eixoRio-São Paulo expressam alinha-mento incondicional às teses doConsenso de Washington, as mes-mas teses que num outro tempo, 50anos atrás, levariam à deposição deum presidente legitimamente eleito

pelo povo: João Melchior Goulart.O que se vê na Folha, Globo, Esta-

dão e adjacências, é a falta de com-promisso com a pluralidade. Preva-lece o pensamento único. Há uminsano combate aos governos tra-balhistas de Lula e Dilma e um ódiodesmedido ao Partido dos Traba-lhadores e seus principais líderes.Assim como em 1964 estes mesmosjornais pediram em seus editoriais o

golpe para deposição do presidenteJoão Goulart, hoje encampam sempudor o papel de oposição aos go-vernos progressistas.

É certo que a imprensa tem um pa-pel importante na democracia. É in-verossímil dizer que a mídia tem pa-pel de fiscal do poder. Isto faz parte datentação autoritária que alguns arti-culistas tentam cravar nas páginasdos jornais. Fiscal do poder é o pró-prio povo, que o faz através do voto,ou através do Parlamento, com depu-tados e senadores legitimamente elei-

tos para cumprirem o seu papel deguardiães da Constituição e fiscais dopoder Executivo. Querer como que-rem alguns órgãos de informação,usurpar os poderes do Legislativo eencurtar o raio de ação do Executivo éconspirar contra a democracia.

Quem segue alguma religião, cris-tã ou não, sabe que o maior truquedo diabo é fazer a humanidade acre-ditar que ele não existe. O mal existe.

Está no coração dos homens e se fazpresente pelos seus atos. Meu sau-doso pai dizia: “Filho, Deus fez omundo em seis dias e descansou nosétimo, o diabo, infelizmente, nuncadorme. Por isto, orai e vigiai”.

Nestes 50 anos do golpe de 1964,todos nós, amantes da democracia,temos que ficar atentos contra asmentiras que os setores mais conser-vadores da mídia tentam incutir napopulação. Mentem que o povo “nãoquer a Copa”. Pesquisa feita pelo ins-tituto Ibope mostra que na média na-

cional, 58% dos brasileiros apoiam aCopa, contra 38% que são contra. Amaior parte dos que são contra a Co-pa são os ricos. Entre os que ganhamaté um salário, o apoio vai a 68%.

É por estas e outras mentiras que omesmo Ibope revela que 75% dos en-trevistados nunca leem jornais e 85%nunca leem qualquer revista. Apenas6% dos brasileiros entrevistados dis-seram ler jornais diariamente. Os jor-nais impressos são o meio prediletode informação para apenas 1,5%.

O DM tem remado contra a ma-ré do pensamento único. O sucessodo caderno OpiniãoPública é umexemplo de como é importante dardireito à opinião aos mais amplossegmentos sociais.

É certo que o DM não é um jornalpronto e acabado. Convive, desde oseu nascedouro, com problemas decaixa. É deficitário, porque ao contrá-rio dos grandes jornalões, não tem aoseu lado uma emissora de TV, uma re-de de rádio ou outros meios para am-pliar sua capacidade de faturamento.

A história do DM, que já foi vítimade toda sorte pressões, que leva-ram-no uma vez ao fechamento, é aprova viva do quanto o Brasil precisadiscutir um marco regulatório para amídia, que impeça a concentraçãonas mãos de uns poucos gruposeconômicos como é hoje.

Se não existisse, o DM teria deser inventado. Se fosse fechado,deveria ser reaberto. Se extinguir-se, merece ser recriado.

Parabéns a Batista Custódio e to-dos aqueles que colaboraram e aindacolaboram com a história do Diárioda Manhã.

(Marcus Vinícius, jornalista, econo-mista, foi repórter e depois editor depolítica do DM entre 1991 e 2002)

Marcus Vinícius

Especial para o Diário da Manhã

Os 34 anos do DM, os 50 anos da ditadura e a luta contra o pensamento único

OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 201418

Page 18: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 19

Esses são tópicos que geram tão con-sistentes argumentos que o debate fre-quentemente fica prejudicado por viesescognitivos. Tornaram-se dogmas queprecisam ser matizados, sendo possívelque suas diferenças sejam apenas ques-tão de medida e contexto.

Sabe-se desde os anos 50, com os experi-mentos de Solomon Asch sobre a conformi-dade, que basta alguém ou algumas pessoasdizerem respostas absurdas a uma questãoóbvia, que 75% das pessoas o acompanha-rão. Entre as principais "patologias" do pen-samento de grupo destacam-se a radicaliza-ção de ideias, a animosidade e a supressão dodissenso. Assim, fugir das armadilhas dopensamento de grupo, escapar da “tirania damaioria”, não é tarefa fácil. Ato contínuo, esti-mular a existência de pessoas ou grupos depessoas "do contra" é fundamental. Essas fi-guras "do contra" embora frequentementeproduzam cizânia, produzam atritos de ele-vado custo emocional, também costumaminduzir à contextualização e reformulação depensamentos, ideias e argumentos. Qualifi-cam a diversidade. Para funcionarem comoefetivos contrapesos, é preciso que haja con-flito. A fragmentação e o confronto são essen-ciais. Apesar de contraintuitivo, o equilíbrio, aharmonia, nasce do atrito. Atrito pautado pe-lo paradoxo de travar uma luta incessantecontra determinadas ideias, entretanto, ape-nas o podemos fazer com a ajuda das ideias.Não conformar, e aceitar que a soma das ra-cionalidades individuais não produz uma ra-cionalidade coletiva, conforme defendido noteorema da impossibilidade de Arrow.

Como já alertava o filósofo John StuartMill, existem muitas maneiras de oprimiruma pessoa. Ciente da prevalência da cida-dania passiva, os principais atores a fazê-losão o Estado, com sua polícia, suas leis e ten-dências de hiper-regular, e a sociedade, pormeio de suas opiniões prevalentes. A maisobjetiva maneira de contrapor-se, não con-formar-se a isso, é assegurar ao indivíduo umcerne de liberdades não negociáveis, entre asquais se destacam a de pensamento e ex-pressão. A liberdade, por sua magnitude e

transversalidade, perpassa outros importan-tes tópicos. Serve mais para desestabilizar vi-sões de mundo do que para referendá-las. Aliberdade de expressão implica inclusive, sera favor da liberdade de exprimir com preci-são as opiniões que mais se despreza, ouaceitar afirmações exatamente sobre aquiloque não se quer ouvir. Serve para articularprodutivamente dissensos e consensos. Emum mundo mutante, com composição plu-ral, a liberdade de pensamento implica, emseu extremo, até em conviver com o funda-mentalismo secular.

Saúdo os 34 anos do Diário da Manhãe os 55 anos de liberdade de expressão.Saúdo o seu corpo editorial, e em especi-al, o Sr. Batista Custódio.

Não é difícil imaginar a dificuldade porque passou toda a mídia, em particular oDiário, em se equilibrar entre a Conformi-dade e Liberdade. Em diferentes períodosde crise e desilusão, foi assertivo o suficien-te para atenuar a radicalidade e delíriosnarcísicos de onipotência, que ainda tantoseduz. Atento a realidade que os meios decomunicação proporcionam, às vezes, umaexibição desproporcional da importânciade determinado fato menor, apresentou-seao longo do tempo com uma idiossincráti-ca disposição de balancear o trato de as-suntos essenciais, que nunca são parcela-dos, e os problemas globais que são cadavez mais essenciais. Disponibilizou acesso àcultura geral, que estimula a contextualiza-ção de qualquer informação ou de qual-quer ideia e equilibrou a cultura científica etécnica, que parcela, desune e comparti-menta os diferentes saberes. Não cedeu àtentação de trocar repercussão por exati-dão, versão por fatos, nem textos moldadospara não ferir suscetibilidades. E ainda, per-maneceu atento a ideia de ofertar espaçoao ativismo político-ideológico, entretanto,protegendo a saúde das instituições.

Ainda que tenha algo de ficcional a neu-tralidade absoluta e o equilíbrio na emissãode juízos de moral e de valor, impera no cor-po editorial do Diário a subsunção de discus-sões metafísicas em favor das discussões cul-turais e liberdade.

Parabenizo o Diário da Manhã pelos 34anos de jornada e pelo adequado balanço ecalibragem entre Conformidade e Liberdade.

(Aureo Ludovico de Paula, médico, doutorpela Universidade de São Paulo)

Conformidade e Liberdade

Aureo Ludovico

de PaulaEspecial para o Diário da Manhã

A vida, seus encantos

e desencantos

A roda da vida leva-nos a tantos caminhose descaminhos que provocam sabores, dis-sabores, alegrias, tristezas e todas as varia-ções que a alma humana comporta. Na pri-meira infância tudo é encanto e descoberta.Deus na sua infinita sabedoria contenta auns com pouco e aos que querem demaisnem sempre contempla.

Na juventude está assentada a estrutura paraa vida toda, nessa fase o ser humano constróisua rota, consegue fazê-la conforme suas defini-ções de caráter e de coragem. Os caminhos sãovários e estão à escolha de cada um. Nessa eta-pa, é que se constrói um verdadeiro Homem, ouum arremedo dele.

Hábitos, costumes, parcerias, companhias,sociedades, formação profissional, com rarasexceções, são edificadas antes de chegarmosao meio da vida. E aí, estaremos definidos.

É bem verdade que os descaminhos exis-tem e que podem nos alcançar a qualquer

tempo, entretanto, um jovem bem formado ecom boa estrutura familiar, com raras exce-ções, será um homem de sucesso. Essa palavramágica comporta as mais variadas interpreta-ções, mas a que vale mesmo é aquela que seupróprio usuário lhe atribui.

Fazer sucesso é, em síntese, ser feliz e hápoucos dias a grande imprensa brasileira noti-ciou que no Rio de Janeiro os mais felizes sãoos que moram no morro, o que a nós outrospode parecer estranho. Entretanto, é mesmoassim, só o ser humano fala com sua própriaalma, desvenda seus próprios mistérios, supor-ta sua própria cruz, fazendo-o com lágrimasnos olhos ou com sorriso nos lábios, é incom-preensível. É preciso que nos eduquemos parasabermos fazer essa opção de sorrir ou de cho-rar por uma mesma razão, levando a vida emfrente da melhor maneira possível.

Há motivos óbvios para alegria e para a tris-teza, mas muitos deles podem ser convertidos,basta que lutemos por isso. Os mesmos moti-vos que encantam podem entristecer e tudo oque nos entristece pode ser sublimado ao pon-to de convivermos com sua lembrança sem so-frimento e sem angústia.

(Felicíssimo Sena, advogado).

Felicíssimo Sena

Especial para o Diário da Manhã

João Soh

Especial para o Diário da Manhã

“Quando uma criatura humana des-perta para um grande sonho e sobre elelança toda a força de sua alma, todo o uni-verso conspira a seu favor". Esse pensa-mento de Johann Goethe bem que pode-ria ser a história de Batista Custódio e oDiário da Manhã em sua longa trajetória.

É inegável e inquestionável o sucesso edi-torial obtido pelo DM junto aos seus leitorese na população do estado. A ousadia e adeterminação de Batista Custódio fizeram doDiário da Manhã uma referência nacional deluta pela liberdade de imprensa justamenteno período de transição política que o paísexperimentava.

Mas como disse o notável MárioQuintana "sonhar é acordar-se para den-tro", Batista enfrentou boicotes econômi-cos e políticos e até incompreensões famil-iares e de colaboradores muito próximos.Seguiram-se anos de dificuldadesenfrentados com dignidade, coragem ecompetência. "O sonho não acabou"como escreveu o jornalista Fábio Nassernos piores momentos da história do DM eda política de Goiás.

E Batista se inspirou numa frase deChe Guevara "luta e serás livre na vida"e num pensamento do grande FernandoSabino que disse:

"Façamos da interrupção um caminho novo,da queda um passo de dança,do medo uma escada,do sonho uma ponte,da procura um encontro!"para retomar a trajetória vitoriosa do jornal.E assim foi..O Diário da Manhã continua vivo,

desafiando os pensamentos retrógadostanto da direita quanto da esquerda, queinsistem em tentar impor ideologias na linhaeditorial do jornal através de boicoteseconômicos.

Batista,"Nunca se afaste de seus sonhos, porque se

eles forem, você continuará vivendo, mas terádeixado de existir", disse Mark Twain.

E mais:"O sonho é a satisfação de que o desejo se

realize", escreveu Sigmund Freud.E você, Batista, realiza.

(João Soh, jornalista)

O sonho continua

Page 19: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

Batista Custódio dos Santos nãoexiste. É um personagem criado por Mi-guel de Cervantes Saavedra, na fornadaem que assou Dom Quixote. Tão irrealque todo governo tenta fritá-lo e...quem sai chamuscado é o puxa-sacoencarregado da queimação. Se Cervan-tes, em dia iluminado, tivesse deixadoescapar a oportunidade de gestar Batis-ta, a obra teria sido adiada por meromeio milênio, mas não haveria comodispensar sua presença no planeta. Ga-briel García Márquez, o Gabo, o criaria.Só uma pessoa de ficção atravessariauma trajetória como a de Batista. Se fos-se protagonista de um gibi ou desenhoda Pixar, era um sujeito correndo à fren-te de dezenas de engravatados com pis-tolões à mão para o matar. O enredo seencerraria com os poderosos encaixota-dos no esquecimento e Batista rindodos perseguidores.

A história de Batista é única, dáuma série de livros se escritos por gen-te do ramo. Saiu da lavoura em Caia-pônia, foi gênio precoce detectado porprofessores em Goiânia, montou jor-nal sem um tostão no bolso, brigoucom tudo quanto é forma de poder,escapou de jagunços, contratou asmaiores estrelas da imprensa nacio-nal, tombou temporariamente numafalência arranjada por Executivo e Ju-diciário, enterrou 90% dos que o julga-vam morto. Contada em detalhes, abiografia de Batista deixa o narradorcom fama de mentiroso, de tão irreal.

Mauro Borges ainda era vivo quan-do escrevi no e falei em entrevista à re-vista Bula que ele havia mandado ma-tar Batista. O acusado não contestou.Perguntado sobre o assunto alguns di-as antes do lançamento de um livro,ele me disse que não se lembrava, pe-diu para repetir a acusação, falei maisalto e ele negou. Mas o fato é que pis-toleiros, alguns deles com cargos naárea de segurança do Estado, empaste-laram o jornal Cinco de Março, sema-nário fundado por Batista. As novas ge-rações podem achar que empastelar écomprar uma porção no QG ou na fei-ra. Empastelar é um verbo da épocaem que conheci Batista, em 1979.

Comecei na faxina em sua gráfica,então a maior do Centro-Oeste, superi-or até à do Congresso Nacional. Com-parada à dele, a de O Popular era umsebinho, gíria para oficinas minúsculas.A Rosana Artes Gráficas mudou de en-dereço e nome algumas vezes, mascontinuou gigantesca. Funcionava dia enoite, 24 horas ininterruptamente, comencomendas do Brasil inteiro. Meu ser-viço inicial era percorrer a gráfica comuma espécie de ancinho, um pedaço deferro, recolhendo papel jogado fora pe-los impressores. Saía do Colégio Gon-çalves Ledo por volta das 11 da noite,chegava na Rosana à meia-noite e saíaàs 6 da manhã. Para nós, da gráfica, ain-da mais um badeco (aprendiz) igual amim, Batista era inatingível, um homãolá de cima, o hômi. Era grandão mes-mo, fortão, bravo que só ele.

O diretor da gráfica era AméricoCustódio, irmão de Batista. Um cui-dava da oficina, o outro do jornal. Fa-lei com meu chefe imediato que dese-java aprender outra profissão, afinal,havia sido aprovado entre os primei-ros em duas escolas técnicas, concor-rência acirradíssima, e catar papelnão era exatamente a realização deum sonho. O chefe disse que para ser“oficial gráfico” (sim, oficial gráfico,como o oficial sapateiro, oficial costu-reiro...) teria de fazer o curso no Senaidurante três anos. Afrontei-o: “Apren-do qualquer desses serviços em trêssemanas”. Ele não deixou.

Como a gráfica era uma bagunça doponto de vista administrativo (ninguémvigiava o cartão-de-ponto, era uma rou-balheira sem fim), passei a ficar tam-bém durante o dia, observando a moça-da trabalhar. Na sessão de chapa (umanacronismo que só se vê em museu ouem raríssimas coleções – eu, por exem-plo, ainda tenho uma seção de chapa)não pude ficar porque atrapalhava opessoal. Não me deixavam ser impres-sor por causa dos riscos – vários forammutilados, como o Célio Galdino, quehoje é um artista gráfico de primeiragrandeza, e o Baltazar Seabra, o melhorrevisor de todos os tempos (ambos per-deram dedo, como o Lula).

Pedi para ser linotipista e ninguémbotou fé porque duvidaram que sou-besse datilografia (mais coisa do passa-do remoto, linotipista e datilógrafo).

Havia feito o curso de datilografia naescola dos padres em Guaraí (o Colé-gio Cristo Redentor, outro personagemque daria um livro: nos anos 1960 e1970, era o único estabelecimento deensino com curso ginasial daquelaparte do hoje Tocantins, seu exame deadmissão faria o vestibular do ITA e oEnem da USP parecerem concursomunicipal para aliado do prefeito. Fi-quei mais de 30 anos sem voltar aoGuaraí, estive lá em agosto de 2013 eperguntei para várias pessoas onde erao Colégio Cristo Redentor. Ninguémconhece. Claro, foi derrubado há mui-tos anos. Hoje, o curso ginasial mudoude nome e é feito em 30 dias por cor-respondência ou à distância).

Voltando à vaca fria, esquentei o te-clado da velha linotipo de tão rápidopara “digitar”. O principal defeito doslinotipistas, a rebatida (ou seja, tentarconsertar a letra “clicada” errado), nãome atingia porque a professora Naza-ré, lá na escola dos padres em Guaraí,punia com rigor qualquer erro e compena capital a rebatida. Passei no testepara linotipista. Durei pouco no cargode linotipista da gráfica dos Custódio.Como em colégio de padre se apren-de, mesmo!, Português e Latim, e emcasa recebi uma educação rigorosa notratamento com o idioma de Camões,corrigia os textos que pegava para “di-gitar”. Meu pai era uma espécie deFrancisco, o do Zezé & Luciano, e,mesmo morando num povoado (Ta-bocão) que não tinha correio, com-prava por correspondência os livrosanunciados nas revistas “Manchete”,“Cruzeiro”, “Fatos & Fotos”, que eleadquiria no Guaraí, junto com o se-

manário Cinco de Março, vendidonum bar que tinha sinucão, na beirada BR 153, a Belém-Brasília.

Vizinhos e parentes chamavam seuAugusto de doido porque pagava numlivro uma semana de seu serviço de pe-ão de roça, marceneiro, pedreiro, arte-são, uma mistura que se fosse na comu-nicação a gente batizaria de “multimí-dia”. Uma das aquisições foi um Dicio-nário. Avisaram a um amigo do meu paino Guaraí, para onde não havíamos nosmudado ainda, que chegara uma enco-menda. Foi lá buscar e voltou com o bi-chão, um lepa de Dicionário, da grossu-ra de um adobe (não, nada do xará datecnologia: adobe é o tijolo sem o fornoda cerâmica, que não tinha no Tabo-cão). Meu pai nunca permitiu que seuscinco filhos trabalhássemos com ele naroça ou em construções. Nosso serviçoera estudar (se bem que, escondido, to-dos fazíamos bicos). Seu argumento: “Opior advogado do Guará (à época aindanão tinha o “í”) ganha mais que o me-lhor pedreiro”. Então, não fomos peõesnem serventes. Deixava tarefa mais difí-cil: decorar 50 palavras por dia, a grafia eo significado. Ele chegava à noite e per-guntava sobre as 50, mandava escrevê-las e, duas horas depois de fumaça delamparina nas ventas, acabava o teste.Diário. Se tirasse bomba na escola, sur-ra de lanhar as costas.

O resultado é que, ao chegar a Goiâ-nia, aos 13 anos, meu vocabulário eramaior do que eu. Não deixaria, de jeitonenhum, linotipar frases com erro sóporque o cliente enviara daquele jeito.Chegamos a imprimir serviço corrigin-do os erros, o cliente recusava, eu levavauma “sentada” daquelas de sair lasca, erodávamos novamente as porqueiras,agora com as agressões ao idioma. Masnão foi suficiente para me tirarem a ca-deira de linotipista. Deixei a funçãoaconselhado por meu primeiro ídolo,Phaulo Gonçalves, que fazia as páginasde humor do Cinco de Março, o Café deEsquina. Antes de trabalhar como ba-

deco na gráfica, eu vinha de meses mo-rando na rua e estava esquálido, apesarde comer as sobras de marmitas das ga-ris (as funcionárias da Comurg não con-seguiam devorar o rango todo e deixa-vam as quentinhas ainda morninhaspara nós, meninos de rua, encostadasnas árvores do Centro de Goiânia; meuponto de pegar marmita era numa vielaentre a Rua 3 e a Avenida Anhanguera).Baixinho, macérrimo, meu destaqueera a cabeça, descomunal para aquelecorpo franzino. Phaulo achou que fossedoença advinda do chumbo com quese faziam as linhas para impressão (pa-ra dar ideia a quem não conheceu es-sa arte gráfica: era como se colocasseo seu tablete sobre chumbo derretidoe, para aparecerem as palavras na te-la, você digitasse sobre um teclado ro-to até o chumbo endurecer). E, detanto ele falar que eu estava doente,saí da linotipo. Phaulo pedia para oscolegas mais velhos levantarem a ca-misa para me provar que quase todosali haviam sido operados de apendici-te e úlcera, que a gente supunha pro-vocadas pelo chumbo. Sem contarque o chumbo faz cair o cabelo e aca-ba com as vistas – hoje, o cabelo é raloe uso óculos, mas nada de corte nabarriga e a cabeça continua do mes-mo (e grande) tamanho.

Todo mundo achou que estava doi-do quando pedi para mudar de cargo...para baixo. Aprendi o serviço de bloca-dor que, como diz o nome, é fazer blo-cos, intercalar as folhas, dar acaba-mento no serviço. Ganhava a metadedo salário de linotipista. Mas não eraessa a grande notícia da gráfica. A novi-dade era o que o pessoal chamava de

“loucura do seu Batista”, o persona-gem do Cervantes. O quixote da Aveni-da Goiás (depois, 24 de Outubro e,agora, Anhanguera) endoidara de vez equeria montar um jornal diário. Coisade maluco. No final dos anos 1970, oEstado tinha 5% das indústrias hojeinstaladas. O comércio, fraquíssimo. Oempresariado era composto de genteque acabara de sair da roça, não davaimportância a seu empreendimentoser anunciado no jornal (ou seja, mu-dou pouco nos últimos 40 anos). Nin-guém tirava da cabeça do Batista (aliás,brilhantes, ele e sua cabeça). E eis o .

Acabou-se o sossego do Batista –se é que algum dia já teve tranquili-dade na vida.

Se até hoje o maior empregador e omaior anunciante são a mesma pessoajurídica, o governo do Estado, imaginena época de Ary Valadão... Sem juízo,completamente maluco, Batista querianão apenas fazer um jornal diário, que-ria-o todos os dias – sim, os demais diá-rios não consideravam a segunda-feiraum dia da semana. Mais ainda: Batistasonhava alçar o DM ao topo da im-prensa nacional. Para isso, colocou opatrimônio em jogo e contratou osmais celebrados (e, portanto, caros)profissionais do Brasil. A gente não po-dia, mas passava (no mínimo, olhava)pela Redação e via o Paulo HenriqueAmorim, o Aloysio Biondi, o Washing-ton Novaes, o Reynaldo Jardim... Umaconstelação. Gente, mas aquele ali nãoé o Biondi, que acaba de ganhar o Prê-mio Esso de Economia? Ué, mas o No-vaes não tá no Jornal do Brasil com omais inovador projeto da imprensabrasileira, com o Caderno de Culturacomandado pelo criativo Jardim? Na-da, estavam todos no. Batista contratoutambém os melhores da imprensa goi-ana. Enfim, coisa de sonhador. Mesmo.Até o sonho acordar pesadelo.

No início, deu tudo certo. Aplausos.Jornal de primeiríssima. Academia Bra-sileira de Letras escolheu o DM como

um dos cinco melhores do País. Mas amentalidade de alguns em Goiás é deuma província, de poucos avanços des-de a chegada dos bandeirantes. Paracada Batista Custódio há no Estado 1milhão de eunucos mentais. Fofoca,governantes com pulgas atrás das des-comunais orelhas, inveja, falatório, es-sas coisinhas mais letais que os jagun-ços do coronelismo. Ary Valadão já ha-via saído e Iris Rezende vencera OtávioLage, o último governador eleito antesda noite da ditadura. Quem não sabia oque era ditadura não perdia por espe-rar. Aliás, perdeu tudo esperando. Emais ainda durante o mandato.

Batista cai nos golpes dos políticos evira compadre deles. O compadrio dálucro aos áulicos, mas virar compadresó lhe dá encrenca. Iris era padrinho(no sentido católico do termo, não napouca-vergonha dos significados atu-ais de padrinho) de Fábio, o talentosís-simo filho de Batista e Consuelo Nas-ser, uma das mais belas, inteligentes eguerreiras mulheres que Deus permi-tiu que passassem pelo Estado de Goi-ás. Em tese, vivíamos numa democra-cia. Nada de pistoleiro fazendo arma-dilha para matar Batista. Chegara umnovo método para aniquilar: impedirque empresários anunciassem nojornal que não servia ao mandantede plantão (o deputado Roberto Ba-lestra entende bastante disso na suaInhumas). O DM, com tantas estre-las, incomodava Iris e seus asseclas –muito mais aos asseclas que a Iris. Ofim foi trágico: as secretarias estadu-ais asfixiaram os anunciantes, queretiraram suas publicidades, e o DMentrou em declínio. Eu estava de fol-

ga no dia em que o jornal foi lacrado.Não havia celular, não tinha telefone,mas fiquei sabendo. Fui lá checar.Era verdade. Xinguei Iris naquele diae pelas três décadas seguintes. Batis-ta retomou a amizade com ele; eu,que nunca gozei dessa proximidade,continuo querendo distância.

A empresa de Batista era uma po-tência. Além de um dos cinco melho-res jornais do País, coalhado de estre-las do jornalismo, e da maior gráfica doCentro-Oeste, Batista tinha diversosoutros investimentos, empresas e imó-veis. Era dono de duas emissoras de TV(as hoje Record e Goiânia), três de rá-dio (as agora Executiva, 730 e Daqui) etrês diários (o DM, o Diário da Manhãde Cuiabá e a Folha de Goiás, com no-me corrigido). Foi tudo arrolado na fa-lência fraudada pelos quatro poderes(o Judiciário, o Executivo, o Legislativoe o aquisitivo). Batista passou a morarde favor num barracão emprestadopelo radialista Mané de Oliveira noParque Amazônia, quando o hoje bair-ro nobre era periferia. Com a ajuda deamigos como os jornalistas SuelyArantes e Luiz Carlos de Morais Rodri-gues, Batista ainda tentou se reerguer,lançando o jornal Edição Extra, masnão houve escapatória: o jaguncismofiscal mata, enterra e joga pá de cal so-bre o sepulcro.

Qual fênix, provando novamenteque é um personagem que não existe,Batista ressurgiu. Aos poucos, refez asua gráfica e montou o jornal. Queriaespantar os fantasmas e renegou o no-me Diário da Manhã. Preferia batizar onovo rebento de Diário da Nova Repú-blica. Foi convencido a abandonar ajeguice e eis, de novo, o Diário da Ma-nhã. Mal sabia que seu martírio estavasó começando. Desde o ressurgimen-to, o DM enfrentou todos os governos.Todos os governadores, ao menosuma vez, tentaram fechar o Diário daManhã. Todos: Iris Rezende, MaguitoVilela, Alcides Rodrigues e Marconi Pe-

rillo – com as devidas escusas a doisque já morreram e não podem se de-fender, Henrique Santillo e OnofreQuinan, ele, como todos os poderososdesde que o mundo é mundo, tam-bém odiavam imprensa livre. Todos.Uns, diretamente; outros, através depaus-mandados. Como não podemaniquilar um personagem que nãoexiste, têm de conviver com BatistaCustódio mais vivo que nunca.

Assim como a democracia, só tenhoa agradecer a Batista Custódio. Por seuintermédio fui trabalhar na redação, naqual conheci alguns de meus inspirado-res, fiz amizades que são para sempre,desfrutei do convívio de uma gente semigual, a começar do próprio Batista. Al-guns heróis da resistência continuamcom Batista, como Suely Arantes, LuizCarlos, Ulisses Aesse, Luiz AugustoPampinha e Édson Costa. Pode existirno mundo um coração do tamanho doque Deus plantou no peito de SuelyArantes, maior que o dela não existe.Suely também não existe de tão gene-rosa, tão altiva. Só no DM, num timereunido por Batista Custódio, se en-contra uma pessoa tão maravilhosacomo Suely Arantes. Se Batista Custó-dio não tivesse feito por mim e pela li-berdade de expressão o tanto que fezem 55 anos de militância, só por umdia ter me apresentado a Suely Aranteseu já o consideraria um dos mais im-portantes de minha história.

Esse é o Batista Custódio de tantasguerras, um homem tão à frente de seutempo que ainda cultua a amizade, es-sa velharia abandonada pelas novasformas de relações, os “amigos” do Fa-cebook, os “seguidores” do Twitter.Ainda bem que sou amigo e seguidor éde Suely Arantes e Batista Custódio,por coincidência, dois raros que aindanão acham que as mídias sociais fo-ram invenções mais importantes que aroda, a imprensa e o antibiótico. Ape-sar de ainda usar máquina de datilo-grafar, Batista Custódio não envelhece:o portal do DM é o mais acessado deGoiás, superior ao de seu concorrentede sempre, O Popular. Aliás, no quesi-to, O Popular parou no prédio da Ave-nida Goiás e, se possível, quer voltar aser composto em linotipo e impressonuma máquina manual Heidelberg.Fechar o site para assinantes numapraça tão democrática quanto a inter-net é voltar ao chumbo – o das linoti-pos, não ao da ditadura ou dos pisto-leiros dos coronéis políticos.

Além de Ulisses, Suely, Batista,Pampinha, Édson Costa e Luiz Carlos,para citar apenas os que ainda bri-lham na Redação, conheci centenasde pessoas maravilhosas no Diário daManhã. Presto homenagem a todaselas cultuando um colega que já se foi,Phaulo Gonçalves. É um troço egoísta,homenagem a mim mesmo, porquefoi Phaulo quem me deu a primeiraoportunidade de publicar texto emjornal, mas me considero um privile-giado. Eu editei crônicas do CarlosDrummond (cheguei a conversar como próprio, irritado porque eu conserta-ra uma frase, num episódio que aindavou pesquisar para rememorar). Eupolemizei com Bernardo Élis e CarmoBernardes. Eu revisei com Baltazar Se-abra. Eu diagramei com o Leandrinho.Eu discuti com Biondi. Eu fui amigode Consuelo Nasser. São oportunida-des que não voltam – e não apenasporque eles já morreram: o nível tam-bém está debaixo da terra.

Ainda bem que sobraram Batista,Ulisses, Suely, Luiz Carlos, Pampi-nha, Édson Costa. Com uma novageração, capitaneada por Sabrina Ri-tiely e Arthur da Paz, certamentesurgirão outros tão inteligentesquanto – e a Sabrina e o Arthur sãoprovas de que Batista continua cra-que para revelar talentos. Milharesdesses talentos se foram. Fizerampós-graduação no DM e arrumaramvaga em outras empresas por esseBrasilzão de meu Deus. E que estemeu Deus continue protegendo Ba-tista dos governos. Os moinhos devento podre vão continuar tentandoenvergar Batista. Em vão: ele não sedobra – a não ser para se ajoelhar epedir a Deus que conserve a Seu la-do o Fábio, a Consuelo, o Américo, oBernardo Élis, o Carmo, o Baltazar, oLeandrinho e tantas almas maravi-lhosas que lá de cima velam por nós.E que o capeta carregue logo para sios trastes que tanto tentam enterrarnovamente o Diário da Manhã.

Muito obrigado, Batista, pelas oportu-nidades. Inclusive, a deste texto.

(Nilson Gomes, jornalista)

Nilson GomesEspecial para o

OPINIÃOGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 201420

Se Batista Custódio não existisse pelasmãos de Cervantes, Gabo o inventaria

Page 20: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

O Diário da Manhã já fez outrosaniversários: de trinta, de trinta eum, de trinta e dois, de trinta e trêsanos de vida.

Mas hoje completa trinta e quatroanos!

Compareci a outros aniversá-rios, como o de trinta e três anos,mas a este também não poderiadeixar de estar presente, de dizerminha pequena, mas verdadeira esincera palavra de congratulação.

Quando dos trinta e três anos, es-crevi: “Trinta e três é um númeroemblemático, altamente simbológi-co, profundamente humano e divi-no. O divino Mestre completou suatarefa aos trinta e três anos, mas parachegar a eles passou por duras pro-vas: total esquecimento dos doze aostrinta anos, tentação no deserto, hu-milhação de um julgamento injusto,preterição do povaréu em favor deBarrabás, criminoso conhecido, atéalcançar a morte dolorosa e humi-lhante reservada aos piores crimino-sos: a cruz. Mas pôde exclamar: Tudoestá consumado. E, afinal, ressurgiu.

O Diário da Manhã, sob o coman-do deste inexplicável e às vezes con-trovertido jornalista Batista Custódio,

combativo e combatido, quieto e al-voroçado, cego e profundamente vi-dente, silencioso e loquaz, é o típicoser que vê sem olhar e realiza semprecisar fazer ou pelo menos mostrar.

Empunhando uma bandeira de-mocrática de informar a verdade e deformar opinião abalizada, o Diário daManhã vem atravessando lagos cal-mos e mares tempestuosos, mas sem-pre navegando, de vagar ou rapida-mente, conforme o nevoeiro ou suaausência, sempre indo na direção doalvo pretendido, sempre caminhandopara a frente na busca daquilo que en-tende verdadeiro, justo e aceitável.

Impressiona o senso de liberda-de, de democracia na mídia, abrin-do espaço para todos, com suasmanifestações, as mais dísparespossíveis, mas reais, sinceras.

Produzir imprensa por tantos anosnão é tarefa para anões, nem paramesquinhos, nem para deslumbra-dos. É trabalho penoso, para denoda-dos e gente que desesperadamenteagarra a esperança e não a deixa fugirnunca, e vai até o fim da jornada, sor-ve até a última gota do cálice.

Aliás, se bem pensar, é pormais tempo, pois o Diário da Ma-nhã é a evolução sequencial doCinco de Março, pioneiro, cami-nho de imensas dificuldades.

Atravessou o Diário da Manhãsuas tempestades e continua muitomais em mar revolto do que em marcalmo, mas registrou momentos his-

tóricos importantíssimos, da cidade,do Estado, do País e do mundo.

Chegou até a era digital e adotou-a, de modo que o que se escreve noDM está na boca do mundo, ante arevolução da informática.

Liberal, abre suas páginas a to-dos, abriga todas as tendências, dá-se ao luxo de ser um portal ao qualse pode ter acesso, atravessando-opara os confins do mundo.

Mas algo que, pessoalmente,

me toca profundamente é a sensi-bilidade desse jornalista para como belo, a arte, a cultura em geral e,especialmente, a literatura.

Há anos e anos vem o Diário daManhã cedendo espaço aos escrito-res (articulistas, cronistas, ensaístas)em cadernos como OpiniãoPúblicae DMRevista, ou página inteira paraa Oficina Poética, aos domingos.

Especialmente à Academia Goia-na de Letras tem o Diário da Ma-

nhã cedido espaço, seja nas notíciasdos eventos, nas entrevistas comseus dirigentes, seja na publicaçãode artigos, crônicas e outras produ-ções literárias de seus membros, se-ja na publicação de SuplementosLiterários como o hoje tabloideAcademia, Suplemento Literário daAcademia Goiana de Letras.

São fatos como este que tornamespecialíssima esta data em que es-te importantíssimo veículo da im-prensa goiana e brasileira completatrinta e três anos de atividade.

E é por isto que, seja pessoal-mente, seja em nome da AcademiaGoiana de Letras, seria impossíveldeixar de comparecer e de procla-mar: “Salve o trigésimo quarto ani-versário do Diário da Manhã”.

Goiás, orgulhoso, saúda o jornale aplaude seu dirigente maior, jor-nalista Batista Custódio que, naverdade, está há mais de cinquentaanos nesta labuta, e todos aquelesque formam a denodada e compe-tente equipe que lhe emprestaapoio e sustentação.

De novo peço: Valha-nos a graçadivina.

De novo proclamo: Parabéns Ba-tista, parabéns Diário da Manhã!!!

(Getulio Targino Lima, advogado,professor, jornalista, escritor, mem-bro e atual presidente da AcademiaGoiana de Letras. E-mail: [email protected])

OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 21

Getulio Targino LimaEspecial para o Diário da Manhã

O plantador de Liberdade

A construção da democracia emGoiás deve muito ao trabalho do jor-nalista Batista Custódio e sua lutaincessante à frente dos dois jornaisque se fundem com sua biografia. Oprimeiro está cravado na história deGoiás e na memória dos goianos co-mo baluarte da luta a favor da cida-dania e da liberdade. Foram temposromânticos em que o jornal Cinco deMarço era a referência para os goia-nos e provocava terror nos podero-sos de então. O segundo, já em tem-pos modernos, é o jornal Diário daManhã, que muito nos orgulha deser um órgão informativo de van-guarda feito em Goiás e exemplo pa-ra o Brasil e para o mundo.

Conheço o jornalista Batista Cus-

tódio desde o Cinco de Março e tes-temunhei suas lutas que em muitosmomentos foram as mesmas que eutambém travei na batalha políticaem Goiás. Posso dar testemunho dadisposição de Batista Custódio paraas boas lutas em defesa da socieda-de goiana e de seu compromisso pa-ra com a moralidade na vida públicae o respeito aos cidadãos.

Ainda no Cinco de Março o jo-vem Batista Custódio ensinava aosvelhos jornalistas e envelhecidos po-líticos que não conseguiam projetarnada novo para o bem-estar do povogoiano que olhar para frente é sem-pre o começo de uma vida nova. Ba-tista nos ensinou sempre a renovarnossos pensamentos e buscar a ple-nitude da vida em comum com nos-sos companheiros de luta diária.

As grandes campanhas que oCinco de Março liderou ainda guar-do na memória. Uma delas, em queBatista Custódio de forma especiallegou um histórico de mudanças

para Goiás, foi contra o jaguncismo,prática corriqueira em Goiás aindanas décadas de 1950 e 1960. O usoda força para intimidar e contrariara democracia foi uma luta aguerridaque o Cinco de Março e seu funda-dor travaram e que marcaram Goiásde forma definitiva em sua história,merecendo lugar de destaque nashonrarias que o povo goiano develhe prestar a bem do compromissocom a história.

Batista Custódio sempre foi des-temido no combate ao arbítrio e emdefesa da liberdade, que muitas ve-zes nem mesmo a população sabiacompreender. Quando o golpe mili-tar se fez vitorioso pela força das ar-mas no Brasil e depôs um governolegítimo em Goiás uma das únicasvozes que se levantou contra a dita-dura foi a do jornalista Batista Cus-tódio, que não se acovardou comomuitos e combateu de frente a forçabruta que se implantou no poder.

A democracia que hoje tanto

agrada aos jovens teve sua sementeplantada e cultivada com tanta dedi-cação ainda nos estertores do golpemilitar de 1964. Batista Custódio foipreso e fichado como comunista.Como o compromisso dos podero-sos da ditadura era com a mentira eabominava a verdade, bastava dizerque alguém era comunista para queuma nódoa se impregnasse na pes-soa e ficasse uma mancha que nãosaía da biografia do indivíduo.

Essa mácula foi imposta tambéma mim e ao Batista Custódio, mesmoque todos soubessem que nossa ori-entação política sempre passoumuito longe do comunismo. Mas amentira com o uso da força serviupara nos levar ao cárcere do regimemilitar. Fui preso na mesma épocade Batista e aprendemos juntos queuma reclusão provocada por menti-ras aumenta nosso compromissopela construção da liberdade e parao primado da liberdade.

Todos os governos que persegui-

ram e lutaram para prejudicar Batis-ta Custódio fracassaram em seus in-tentos e sucumbiram ao determinis-mo histórico que faz a verdade tri-unfar e a liberdade se sobrepor. Écom alegria que dou testemunho dotrabalho incessante de Batista Cus-tódio e posso ver hoje que o Diárioda Manhã representa a vanguardado jornalismo e da cidadania.

A difusão de ideias e notícias,com destaque para o caderno Opini-ãoPública, em que artigos são publi-cados representando o pensamentoque circula na sociedade faz a dian-teira da história em Goiás e mostraao Brasil como se abrem as portasdo futuro para quem pensa.

Enquanto Deus me permitir esta-rei junto de Batista Custódio partici-pando de sua campanha ética e mu-dancista para fazer triunfar o bem ea verdade em nosso Estado.

(Olímpio Jaime, advogado e ex-deputado estadual)

Olímpio Jaime

Especial para o Diário da Manhã

Trinta e quatro anos do DM

Page 21: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

O jornalista Batista Custódio de-cidiu comemorar, em conjunto, osaniversários do semanário Cinco deMarço e do Diário da Manhã, seusucessor, o primeiro fundado em1959 e que circulou 20 anos, e o se-gundo lançado em 1980, conside-rando ambos uma só instituição.

Indiscutivelmente, eles consti-tuem marcos relevantes na im-prensa de Goiás e se incluem noconceito do dramaturgo america-no Arthur Miller, segundo o qual“um jornal é uma nação falandoconsigo mesmo”, daí a repercus-são extraordinária que em muitasocasiões alcançaram.

Em tempos bem diferentes, oCinco de Março, com o seu lema“Nem Washington, nem Moscou,nem Roma”, nasceu de um pacíficoprotesto estudantil repelido com vi-olência policial e depois se notabili-zou em confrontos desiguais com oregime militar imposto à Nação.

O Diário da Manhã, já respiran-do em longos haustos a atmosferada liberdade democrática, anun-ciou que veio para renovar, tra-zendo assim muitos benefícios ànossa imprensa e se tornando im-portante na divulgação das con-quistas e potencialidades de Goiásnos mais diferentes sentidos.

Do seu pioneirismo, sintetizado

no slogan: “O jornal do leitor inteli-gente”, externa e internamente ex-travasaram iniciativas como diáriocom circulação nos sete dias da se-mana (antes, domingo, não haviatrabalho nas redações), conselho deredação ao invés de simples editori-as, impressão em cores, site na in-ternet, informatização total da Re-dação e do setor gráfico.

Injetando ânimo novo em todasas atividades relacionadas à mídia –inclusive à televisão, ao rádio e àpropaganda, o DM importou gran-des nomes do jornalismo brasileiro,especialmente de Brasília, São Pau-lo e Rio de Janeiro.

Uma das doenças mais comuns

da sociedade atual chama-se pessi-mismo, daí porque, um jornal quese preza tem que mostrar sempreotimismo realista, o que habitua-mos a encontrar em suas páginas.

Outra realidade inconteste é queimprensa, em qualquer parte domundo, é voz do dono e BatistaCustódio sempre demonstrou pre-sença insubstituível em todas as ati-vidades de sua empresa, daí seucompleto domínio em tudo.

Além disso, se constituiu emprofessor para centenas de jovens,nos seus mais de 50 anos de deter-minado profissionalismo diário.Como resultado, sempre se temnotícias de jornalistas que se inicia-

ram sob seu comando, distribuin-do-se depois pelo País inteiro, mui-tos deles em funções de direção.

Quando surgiu o cinema se fa-lou no fim do teatro e do circo.Com a televisão, se previu o térmi-no do cinema. Jornais e livros esta-riam com os dias contados ao sepopularizar a internet, com sua va-riedade de maravilhas em todos ossentidos da comunicação social.

De repente, a própria Secretariade Comunicação Social da Presidên-cia da República, como aconteceu nasemana passada, divulga pesquisaque solicitou ao Ibope e que com-provou que o jornal impresso conti-nua a ser a fonte mais confiável para

a população, quando comparada àTV, ao rádio e à internet.

Em Goiás, particularmente,56% dos entrevistados declara-ram sua confiança nos impressos– os jornais e, por extensão, os li-vros. Na televisão, 48%; no rádio,42% e, nos sites, 29%.

Em suma, todos são essenciais,mas o jornal não perdeu sua lide-rança.

O Sistema Federação das Indús-trias do Estado de Goiás – Fieg, Se-si, Senai, IEL Goiás e ICQ Brasil,tradicionalmente, mantém a me-lhor relação com os veículos de co-municação social, reconhecendo-lhes o valor inestimável no desen-volvimento econômico, social, po-lítico, cultural e em outras áreas.

Do Cinco de Março e do Diário daManhã, livremente manifestandosuas opiniões como é de sua linha,recebeu cobertura em tudo que dizrespeito à indústria goiana, com cer-teza favorecendo esse setor produti-vo goiano que hoje se situa entre osque mais crescem neste País.

Documentos históricos do nossodia a dia, tornou-se impossível escre-ver a história de nossas últimas cincodécadas sem os consultar.

A Batista Custódio e à sua dinâmi-ca equipe, os nossos cumprimentos,com os votos de sucessos cada vezmaiores no admirável trabalho querealizam para Goiás e o Brasil.

(Pedro Alves de Oliveira, em-presário, administrador e presi-dente da Federação das Indús-

trias do Estado de Goiás)

No coração do Brasil, em 1959, ainda sé-culo XX, o povo goiano ganhava voz e se ilu-minava pela pluralidade de pensamentosque se apresentava a partir de então com aimplantação do jornal Cinco de Março, veí-culo de extrema relevância na luta contra aditadura, que deu origem ao Diário da Ma-nhã (DM). Nessa época acredito que forapreciso muita coragem e mais que isso umaveia verdadeiramente jornalística para exporideologias distintas, defender a liberdade deexpressão, denunciar as injustiças, lutar con-tra censura, expor fatos ocultos, e desenvol-ver na população, por meio da leitura do jor-nal, o censo crítico, a vontade de questionar,de rever direitos e deveres, de agir. Mas, seufundador Batista Custódio, jornalista nato,com certeza sequer titubeou diante dos ob-stáculos desse tempo em que ainda todo otrabalho intelectual, crítico, ético e compro-metido com o exercício da cidadania e deuma sociedade mais democrática ainda erafeito ao som das máquinas datilográficas.

Os 34 anos de Diário da Manhã, 55 anosde jornalismo goiano, quando se leva emconta suas raízes no Cinco de Março, vaialém de uma comemoração de aniversáriode um veículo de comunicação. Se come-mora mesmo toda uma revolução, constru-ção e evolução da sociedade goiana pormeio da palavra impressa, fruto do trabalhojornalístico sério, ousado, vocacionado, des-temido e comprometido com a verdade. Aleitura dos textos jornalísticos e opinativosnas páginas do Diário da Manhã é um ver-dadeiro encontro com o labor de uma equi-pe, que não mede esforços para apresentarao leitor o que de mais importante aconteceem Goiás, o que não deve se calar jamais.

O Diário da Manhã está de parabéns pe-lo trabalho jornalístico, que durante todosesses anos vem formando com responsabi-lidade a opinião pública e além disso de-sempenhando um papel de grande impor-tância, também, na formação de profissio-nais da área de jornalismo, uma vez que es-se veículo sempre deu oportunidade deaprendizado desse ofício aos que busca-ram suas Redações – seja de impresso, on-line, webTV – para desenvolver o conheci-

mento e a prática de se fazer jornal diaria-mente, tarefa árdua, mas extremamenteapaixonante, quando se encontra um espa-ço que sempre lutou pela liberdade da im-prensa. Cabe aqui lembrar que o Diário daManhã sempre se destacou por sua essên-cia genuinamente democrática.

Para finalizar, vale ressaltar-se que o Diá-rio da Manhã ao relatar, analisar, criticar, de-nunciar a história de seu tempo, sempre sedemonstrou visionário. Seu pioneirismo éinvejável e mostra o quanto o jornalista Ba-tista Custódio está à frente de nosso tempo,afinal o DM foi o primeiro veículo de comu-nicação de Goiás a ofertar ao público o jorna-lismo on-line e também a webTV que foi no-meada DMTV, a qual tive a honra de partici-par de sua constituição, quando em 2006 fuiconvidada a coordená-la. Do trabalho noDM guardo lições que hoje divido com o lei-tor: o bom jornalismo se faz com vontade deum mundo melhor, com responsabilidadesocial e com o humano, com ética e commuita coragem de tornar-se um ser ativo,ajudando a construir uma sociedade queexercite de fato a democracia. E isso extrapo-la qualquer técnica envolvida no processo deprodução da notícia, vai além da teoria e aca-ba por ajudar a refinar o saber jornalístico,tão importante na sociedade da informaçãoe do conhecimento em que vivemos.

(Profª Mª Tatiana Carilly, jornalista, autorade A arte de Ensinar e Praticar Jornalismo deTV em Goiás, coordenou o DMTV do DM en-tre 2006 e 2008, doutoranda em Educa-ção/PUC-GP, mestre pela Universidade Fede-ral de Goiás. professora no Ensino Superi-or/Faculdade Araguaia)

OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 201422

Tatiana Carilly Especial para o Diário da Manhã

Pedro Alves de Oliveira Especial para o Diário da Manhã

DDiiáárriioo ddaa MMaannhhãã::um jornal visionário

Dois jornais e omesmo sucesso

Page 22: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

OPINIÃODiário da Manhã GOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 2014 23

SÍMBOLOS DA RESISTÊNCIA

Criado em 1959, o jornal Cinco deMarço foi idealizado após uma ma-nifestação de estudantes contra au-mento das passagens de ônibus emensalidades escolares. Pasmem!Isso em 1959. A manifestação foi du-ramente reprimida pela polícia, e,para dar continuidade à luta, decidi-ram fundar um jornal, cujo o nomerelembra a data daquela batalha.

Como sempre, aquela manifesta-ção ocorreu na Praça dos Bandei-rantes, a mesma que nove anos de-pois seria palco de novas e violentasrepressões contra novos protestosdos estudantes e populares, dessafeita contra a ditadura militar, quan-do mataram um lavador de carros. Omorto era muito parecido com o lí-der estudantil goiano, Euler Ivo. Tãoparecido a ponto dos policiais bus-carem e levarem seus familiares atéo Hospital Santa Luzia para reco-nhecer o corpo.

Pois bem, voltando a 59, o jorna-lista Javier Godinho , em depoimen-to sobre aquele período, resgatou oinício do semanário Cinco de Março,lembrando dos pioneiros dessa im-prensa questionadora: Batista Custó-dio, Telmo Faria, ele próprio e líderesda UGES (União Goiana de Estudan-tes Secundaristas.) Também Consu-

elo Nasser, Valterly Guedes e Zoroas-tro Artiaga faziam parte da turma.Coube a Consuelo Nasser a grandecontribuição daquele ideal, ao con-seguir, junto do seu tio Alfredo Nas-ser, proprietário do Jornal de Notí-cias, a doação da máquina tipográfi-ca usada na feitura do jornal. Segun-do Godinho, a simplicidade das ins-talações e maquinário era visível. Ojornal era pequenininho e muito ba-rato, vendia muito. "Todo mundoganhava muito pouco, todo mundotrabalhava lá porque gostava".

Não poderia ser diferente a vida eo futuro daquele jornal cheio deidealismos e que deixou sua marcade resistência na memória da im-prensa goiana. O Cinco de Março jánasceu perseguido. Sua situação pi-orou com o golpe militar de 64. Foipreciso muita astúcia, muita deter-minação e matreirice para continu-ar existindo. Batista e Telmo forampresos. Por cinco meses, o jornalnão circulou. Após retornar, tevesua sede invadida por policiais quedestruiu máquinas e documentos.

Apesar da censura, o Cinco demarço continuou sua linha editorialvoltada para denúncias de corrup-ção e má prestação de serviços pú-blicos. Em 1965, chegou a vender 60mil exemplares por edição. Nos anos70, com a ascensão do general Gar-rastazu Médici, Batista foi novamen-te preso. Dessa vez, por crime deopinião. Apesar de tudo, o Cinco de

Março sobreviveu por 23 anos. Quando cheguei em Goiás, em

1982, o jornal Cinco de Março en-cerrava suas atividades de formatraumática. Logo reagiram. Ba-tista e Consuelo lideravam umnovo formato, um diário: o Diá-rio da Manhã.

Com o Diário da Manhã, asperseguições continuaram. O es-pírito libertário e irreverente deBatista não permitia tutela, e no-vamente a agressão, o boicote e ofechamento por dois anos do novojornal. Mesmo assim, o Diário da Ma-

nhã já circula em Goiás há 34 anos.Do idealismo e sofrimento, vie-

ram os pés no chão. Para continuarcom esse instrumento de luta, erapreciso aprender não dizer tudo.Todos lutadores que possuem es-tratégia percebem isso. Recente-mente, no filme premiado no Os-car: '12 anos de escravidão', o prin-cipal personagem - homem já livree que sequestrado por senhores es-cravistas do sul da América, viveumais doze anos de escravidão - foiaconselhado por seus companhei-ros escravos a não mostrar tudo que

sabia, pois poderia perder a vida. No lançamento do Diário da Ma-

nhã Digital, lembro-me das palavrasditas por Batista, de forma solene, atodas autoridades e personalidadespresentes. Pela experiência que tevea vida toda, poderia afirmar que nãoexistia imprensa independente. Fa-lou o que todos já sabiam, porém te-ve a coragem de dizer. Ao invés deum discurso exaltando a evoluçãode seu jornal, admitia suas limita-ções para poder sobreviver.

O Diário da Manhã foi inovandoa cada momento, se modernizandoem diversos aspectos. Depois abriuparte de suas páginas a quem querque quisesse se manifestar, atravésde artigos sem censura. Parabéns,Batista você continua resistindo !

Consuelo, que também lutoumuito pela imprensa independen-te, demonstrou em toda sua vida aforça de uma guerreira. Dedicou-se,nos últimos anos, à causa emanci-pacionista da mulher, transforman-do-se no maior símbolo da luta fe-minista do nosso estado.

Por isso, nesse mês de Março,quando comemoramos o aniversáriodo surgimento do Cinco de Março,depois do Diário da Manhã, reveren-ciamos seus fundadores resistentes eamantes da justiça e da verdade.

(Isaura Lemos, deputada estadualem seu quarto mandato e presidentaestadual do PCdoB)

Isaura Lemos

Especial para o Diário da Manhã

Cinco de Marçoe DDiiáárriioo ddaa MMaannhhãã

Page 23: Aniversário de 34 anos do Diário da Manhã - 55 com o Cinco de Março

Amanhã completo 28 anos de vida. Os últimos 20 foram na convivência direta na intimi-

dade familiar com Batista Custódio,pois só aos oito anos de minha meni-nisse que passei a morar sob o mes-mo teto que ele. Então, foi no alvore-cer da minha consciência que vi osmais belos exemplos de amor.

Lembro-me com vivacidade deque estávamos a caminho da Fa-zenda do Encantado. Batista diri-gia o nosso Voyage quatro portas,modelo 93/94. Minha mãe, ternu-ra em forma de mulher, estavasentada ao lado, no banco de pas-sageiros, e atrás, apreciando a pai-sagem e ouvindo a música clássicaque circulava no precioso toca-cds,me situava, contemplativo.

Saíamos da cidade de Bom Jar-dim de Goiás, um dos pontos deparada obrigatória na trajetória pa-ra a fazenda, onde sempre abaste-cemos o carro com recursos e pro-visões para as estadias no rancho ena sede do Encantado.

A paisagem corria bela e colori-da nos meus olhos, o carro estavaveloz. De súbito, Batista Custódio,meu padrasto por convenção, maspai em meu coração, freia o carro àmargem esquerda de extensa ave-

nida. Assustei-me e tentei entendero que acontecia, sem falar nada.

Batista colocou o tronco para fo-ra de sua janela, esticou os braços evi, – na sua mão que já voltava paradentro do carro –, uma flor verme-lha estridente, com detalhes amare-lo-pontilhados nos carpelos. Eleroubou-a e deu para minha mãe,junto com um beijo carinhoso. Sen-ti-me também amado naquele ges-to de carinho pela pessoa que maisme vale no coração, ainda hoje suaesposa, minha mãe Marly Vieira.

Então, foi assim. De exemplo emexemplo, de bravura à candura queBatista Custódio plantava e aindahoje semeia, que cresci sob um am-plo templo de forças morais. Ondeconstantemente a luz da caridadedas mãos deste homem sensibiliza-va meus olhos, ensinando-me peloato constante o amor ao próximo,com total desinteresse, com a postu-ra sincera do apóstolo crístico.

O jornalismo entrou na minha vi-da sem que eu soubesse. O gosto pe-la leitura me veio tardio. Mas sempretive intensa intimidade com as letrasem todos os aspectos. Sempre lia oque me interessava e agora leio comintensidade as recomendações lite-rárias de Batista Custódio. Desde es-se exercício para cá venho amplian-do meus horizontes nos grandes ex-poentes da humanidade. Sócrates,através de Platão, Nietzche, Carl Junge outras recomendações de peso es-tão nos livros que ando processando

dentro da usina cerebral. Além daleitura evangélica e espiritual, daobra do revolucionário Allan Kardec,que me foi posta nas mãos pela Divi-na Clemência como tocha acesa aalumiar meus caminhos.

Agora, com a capacidade de ob-servar do mais alto ponto que mi-nha racionalidade e meu espíritoconseguem atingir, vejo o quanto osonho de Batista Custódio está ma-terializado na batalha titânica noDiário da Manhã e iniciado nas lu-tas martíricas do Cinco de Março.Ouso, contudo, afirmar que o sonhonão é só dele. Também sonho a Li-berdade. Mas eu, ilha, ele oceano.

Atualmente, na travessia dossuores e lágrimas inenxugáveis doDiário da Manhã, na Editoria Exe-cutiva, entendo como as batalhasdiária contra os censores e os tirâni-

cos de toda ordem podem ser des-gastantes. Mas só ainda não enten-do como um homem pode carregarno peito tantas cicatrizes de amigosdesleais, e nas costas tantas punha-ladas de inimigos cruéis disfarçadosna máscara de amicíssimos.

Manter acesa a tocha da Liber-dade de Imprensa em Goiás, semferir a quem quer que seja em to-das as publicações, é uma tarefa gi-gante e onerosa. Precisei abrir mãoda minha vida pessoal, enlarguecerminha alma e romper com o ego-ísmo das mesquinharias diáriaspara entregar-me integralmente aoideal de ver circular com harmoniaas letras da opinião independentee do conteúdo focado na edifica-ção de uma sociedade dignificadaem todos os seus aspectos.

O legado do Diário da Manhã

não é só o jornal produzido tododia. É o legado do exemplo de tei-mosia e persistência em manter-selimpo e livre, e poder olhar paratrás e não ferir os olhos em todo osuor que já foi derramado.

A homenagem dos homensque o jornal recebe nesses seus55 anos (somando-se com o Cin-co de Março) é digna e justa. Masserá a História que vai honrarcom propriedade todas as pági-nas circuladas deste diário quesempre anteviu as necessidadesde direcionamentos morais dasociedade, quando esta achava-se subjugada ao poderio de ma-terialistas encarcerados pelas tei-as de corrupção entrelaçadas emtodos os aspectos do poder, co-mo assim hoje vivenciamos.

Existe um buraco negro na Ter-ra. Está aberto no peito das criatu-ras. E somente a luz do conheci-mento pode preencher esse vazioque está fazendo nossa sociedaderevivenciar barbaridades atrozes,dignas do homem primitivo dascavernas e dos selvagens idealis-tas dos tempos medievais.

Para honrar este veículo de liber-dade intensa, pedi permissão aoespírito do goiano Alfredo Nasserpara transcrever o que ele compôsquando orquestrava suas letras noCinco de Março. Extraí o artigoabaixo do livro O líder não morreu.

(Arthur da Paz,editor-executivo)

OPINIÃO Diário da ManhãGOIÂNIA, SEGUNDA-FEIRA, 17 DE MARÇO DE 201424

Caiapônia, antiga Torres doRio Bonito, começou co-mo sede da Comarca do

Rio Coxim, cujos limites iam doRio Verde, inclusive, até o Paragu-ai. Não sei se estou insultando averdade histórica. Mas aprendi is-so na escola primária e não me in-teressa desaprendê-lo. Em SãoPaulo, terminando o curso ginasi-al e morando com Irany Ferreirano mesmo quarto, eu lhe dizia fre-quentemente dando início a in-termináveis discussões e brigas:

– Estou estudando para coman-dar um dia as forças de Caiapôniaque vão invadir Rio Verde. Subire-mos a serra e reanexaremos vocês.

Caiapônia é uma pequena cida-de, bem menor que Rio Verde e Ja-taí. Construída sobre um espigão,as torres a dominam, de longe. Sãoblocos enormes, um dos quais pa-rece um gigante deitado. Compa-rado com o seu, o luar de outras ci-dades é leite com água, com muitaágua. Só é inferior ao da antiga Ca-pital do Estado, sobretudo visto deSanta Bárbara. Assim mesmo, seEly Camargo cantasse em Caiapô-nia as “!Noites Goianas”!, poderiamuito bem haver um empate.Pois essa pequena localidade, ve-lha Comarca do Rio Coxim, anti-go caminho dos garimpos do Ara-guaia e afluentes, com menos dequatro mil eleitores inscritos, situ-ada, com o desvio das estradaspara Mato Grosso, num cotoveloque lhe dificulta o progresso, Cai-apônia já deu, de 1934 para cá,três deputados federais, um sena-dor, um membro do ConselhoNacional de economia, um vice-governador do Estado, um minis-tro da Justiça. Agora, dela despon-tam, caminhando céleres para oestrelato, dois jornalistas: BatistaCustódio e Consuelo Nasser, dadireção do Cinco de Março.

Batista Custódio é o comandan-te da equipe deste jornal. Filho, ne-to, bisneto, tataraneto de fazendei-ros, traz ele nas veias o sangue devárias gerações de homens honra-dos. Por poucas pessoas me res-ponsabilizo moralmente comopor esse rapaz que tem, numa vo-cação de apóstolo, a alma do pan-

fletário. Seu pai foi meu compa-nheiro na escola primária e sua fa-mília é ligada à minha há mais decinquenta anos. Quando ouço fa-lar em imprensa marrom, com-preendo até onde pode chegar ainjustiça neste mundo.

Batista Custódio é um dos maispuros idealistas, um dos melhoresespécimes humanos que já co-nheci. A sua bondade dói. O Cincode Março tira-lhe dinheiro e nãolhe devolve um tostão. Nem eleprecisa disso.

O seu erro é imaginar que estemundo tem conserto, que lutarcontra a corrupção vale algumacoisa. Nas longas conversas quetemos tido, procuro transmitir-lheo pouco que aprendi, um poucodo que me ficou das coisas queme feriram, um pouco do quantoo caminho a percorrer é longo eduro. Ele me ouve, silencioso, por-que sabe que penso como ele.Bom, bravo, generoso, BatistaCustódio tem me arrastado à sualuta, numa solidariedade que nãonegaria a nenhum órgão de im-prensa, mas que para ele é maior,por sua bondade, sua bravura, suagenerosidade, seu puro idealismo.E seu caráter, também. Seu verda-deiro, sólido, indobrável caráter.

O mesmo se dá com ConsueloNasser, tecnicamente minha so-brinha. Um dia, as cruéis imposi-ções da política me levaram a cri-ticar um velho amigo: Galeno Pa-ranhos. Na resposta, achou o meuantigo chefe na campanha de1954 que sempre fui um boa-vida,pois sendo solteirão nunca tivecoragem de assumir os encargosde chefe de família. Coisa curiosa.Outra coisa não tenho feito senãoser chefe de família. Consuelo esua irmã Maria Stela fizeram-sepelo destino minhas filhas. Atual-mente tenho cinco filhos. Trêsmeninas de criação e dois filhosadotivos: um menino e uma me-nina. Vivem em minha compa-nhia, dou-lhes purgante e lombri-gueiro como qualquer pai. Masvoltemos à Consuelo e Maria Ste-la. Esta é tão inteligente como a ir-mã, tão lúcida como ela, tão prati-cante, como ela, da boa leitura. Foi

até o Normal, diplomou-se, nãoquis ir adiante. Casou-se com Ja-mil Issy, farmacêutico e professorda Faculdade de Farmácia, e nãopoderia ter seguido melhor cami-nho. Costumo dizer que ninguémé como Stela. E não é mesmo.Consuelo formou-se em Direito eao nos encontrarmos, nos primei-ros dias deste ano, lhe perguntei:

Filha, que vai você fazer? Elarespondeu:

– Trabalhar em jornal.Ao lhe fazer a pergunta esperava

que me fosse pedir um emprego,uma oportunidade, um jeito de ga-nhar dinheiro. Ante sua respostapensei no Jaime Câmara, no BragaSobrinho, no Waldemar de Melo.Afinal, são meus amigos e não me

seria tão difícil satisfazê-la. Elaajuntou, antes que eu concordasse:

– No Cinco de Março.Naquele momento ela me de-

volvia, sem saber, a preocupaçãoque dei ao seu pai, Gabriel Nasser,que me criou, quando iniciei mi-nha turbulenta vida de jornal, me-nino ainda. Os perigos não erammenores para a imprensa de com-bate, a incorporação era a mesma,os corruptos eram violentos, co-mo em todos os tempos. Como ofizera seu pai, fiquei calado. Essemeu irmão era um homem culto,conhecedor da boa literatura,enérgico e suave na medida justa,líder por nascimento. Sua vida foidedicada a educar seus irmãos.Dói-me até hoje a lembrança de

vê-lo na fazenda, nas geladas ma-drugadas de junho, ao pé do enge-nho, na faina da moagem. Ele nãonascera para aquilo, mas fazia-osem queixa e o fazia, como foi atéo fim, calado e sorrindo. A vidanão fez justiça ao meu irmão. Nãosó não teve as oportunidades quemerecia, como dela se foi cedo de-mais. Suas filhas foram criadas noambiente doméstico, sem receberordens. As decisões eram tomadasdepois de livre debate, dos quaisparticipava minha irmã (que tevenesse campo a maior parte dosencargos), por maioria de votos.

Um dia tivemos que decidir en-tre comprar carne ou papel para oJornal de Notícias, pois o dinheironão dava para as duas despesas.Contra apenas o meu voto, com-pramos o papel. Assim cresceramas meninas, assim cresceu Consu-elo. Julgo as pessoas, mesmo asmais chegadas, imparcialmente.

Consuelo irá longe, tomem no-ta. Sua revolta contra as injustiças,a corrupção, as mentiras, a hipo-crisia, trabalha em seu favor. Elanão calunia, sua linguagem é mo-derada, seu julgamento dos ou-tros impressiona pelo equilíbrio.

Galeno não tinha razão. Alémda nova geração de filhos quecrio e educo, aí estão marcandominha vida e meu coração Stela eConsuelo. Por elas sei que a exis-tência acabou para mim, sobmuitos aspectos. Enquanto a pri-meira me tira o sono vendo-a nalabuta de seu lar, quando os fi-lhos adoecem, a segunda me fazacordado sabendo-a no jornal,exposta aos mesmos perigos pe-los quais passei, ao mesmo frioque já me enregelou, ano apósano, tomando xícara após xícarade café, respirando o mesmo arenfumaçado, o mesmo ar viciadoe sonolento das madrugadas queenvolvem as redações. E acaboua vida para mim, sob muitos as-pectos, porque enquanto dois se-res que amo penetram nos mis-térios e nas dificuldades da exis-tência, não consigo mais ver,nunca mais verei – o sorriso demeu irmão nos claros, límpidos,doces olhos de suas filhas.

AlfredoNasser(Transcrito do jornalCCiinnccoo ddee MMaarrççoo, ediçãode 9/11/1963)

CONVERSA ÍNTIMA

Arthur da PazEspecial para o Diário da Manhã

Eu vejo o raiar do sol