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1 Análise Sociológica Da Indisciplina e Violência na Escola Trabalho realizado por: Ana Rita Andrade nº2 12º E1; Bruno Carmo nº8 12º E1; Miguel Vicente nº10 12º E1; Pedro Simas nº23 12º E1 Sociologia 2013/2014 Professora: Ana Silva

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

1

Análise Sociológica Da

Indisciplina e Violência na

Escola

Trabalho realizado por:

Ana Rita Andrade nº2 12º E1;

Bruno Carmo nº8 12º E1;

Miguel Vicente nº10 12º E1;

Pedro Simas nº23 12º E1

Sociologia 2013/2014 Professora: Ana Silva

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

2

Índice

Introdução ................................................................................................................... 6

Etapa I – Pergunta de Partida .................................................................................... 7

Etapa II – Exploração: Enquadramento teórico ........................................................ 9

Capítulo I- A escola enquanto organização específica ......................................... 10

1- A escola e socialização dos alunos……………………………………………….10

1.1- Conceito de Socialização ....................................................................... 10

1.2- Regras de funcionamento ....................................................................... 10

1.2.1- Regulamento Interno das Escolas ................................................. 11

1.2.2- Regras socialmente aceites .......................................................... 12

2- Processo educativo na escola…….……………………………………………….12

2.1- As interações na sala de aula ................................................................. 12

2.2- As relações de poder na sala de aula ..................................................... 13

Capítulo II- Indisciplina e a violência .................................................................... 15

1- Definição de conceitos……………………………………………………….…….15

1.1- Indisciplina ............................................................................................. 15

1.2- Violência ................................................................................................. 16

1.3- Bullying .................................................................................................. 18

2- Indisciplina e violência na escola.………………………………………..……… 19

2.1- Causas sociológicas da indisciplina e violência ..................................... 19

2.2- Consequências ....................................................................................... 23

2.3- Características e tipos de comportamento dos intervenientes ................ 24

2.4- Importância da relação escola família .................................................... 26

3- Combate e prevenção da violência e indisciplina na escola………...….……. 28

Capítulo III- Escola Secundaria Leal da Camara ................................................. 32

1- Regulamento Interno da escola: indisciplina e violência…...…………….…… 32

2- Projeto educativo da escola: indisciplina e violência…….……………..……… 39

Etapa III – A problemática ....................................................................................... 41

Etapa IV – Construção do modelo de análise ......................................................... 44

Etapa V – Observação .............................................................................................. 46

Etapa VI – Análise das informações ........................................................................ 53

Capítulo IV- Investigação Intensiva ...................................................................... 54

1- Entrevista ………………………………………………………………………….….54

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

3

2- Análise Documental…...……………………………………………………….…….70

2.1- Registo de Ocorrências disciplinares participadas pelos DTs na direção

no presente ano letivo (2013/14) .................................................................... 70

Capítulo V- Investigação Extensiva ..................................................................... 78

1- Questionário……………….…………………………..……………………..……… 78

1.1- Inquérito realizado aos alunos ............................................................... 78

1.2- Inquérito realizado aos professores ........................................................ 86

Etapa VII- Conclusões .............................................................................................. 92

Netgrafia .................................................................................................................... 98

Bibliografia ................................................................................................................ 98

Anexos..................................................................................................................... 102

Agradecimentos ...................................................................................................... 108

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

4

Índice de Gráficos e Tabelas

Quadro 1- Base de sondagem de alunos .................................................................... 51

Quadro 2- Base de sondagem de alunos 5% ............................................................. 51

Quadro 3- Base de sondagem de professores ........................................................... 52

Quadro 4- Base de sondagem de professores 20% ................................................... 52

Quadro 5- Tipos de ocorrências .................................................................................. 70

Quadro 6- Registo de ocorrências no 1º período ........................................................ 70

Gráfico 1- Registo de ocorrências no 1º período ........................................................ 71

Quadro 7- Registo de ocorrências nos 2º e 3º períodos .............................................. 72

Gráfico 2- Registo de ocorrências nos 2º e 3º períodos ............................................. 73

Quadro 8- Total de ocorrências .................................................................................. 74

Gráfico 3- Total de ocorrências ................................................................................... 75

Gráfico 4- Medidas corretivas e sancionatórias........................................................... 75

Gráfico 5- Ocorrências disciplinares por turnos ........................................................... 76

Gráfico 6- Ocorrências disciplinares por áreas............................................................ 76

Gráfico 7- Consideras que a falta de valores e normas incutidos pelos pais/família é

um fator determinante para o comportamento indisciplinado dos alunos na escola? .. 78

Gráfico 8- Já leste o Regulamento Interno? ................................................................ 79

Gráfico 9- Em que circunstância é que leste o Regulamento Interno? ....................... 79

Gráfico 10- Achas que a aula de PT é importante? ..................................................... 80

Gráfico 11- Vais/ias à aula de PT? .............................................................................. 81

Gráfico 12- Na tua aula de PT, costumam/costumavam ser tratados assuntos

relacionados com a indisciplina e violência da vossa turma? ..................................... 81

Gráfico 13- Consideras que a atitude dos professores pode influenciar as situações de

indisciplina na sala de aula? ....................................................................................... 82

Gráfico 14-Na tua turma os casos de indisciplina resultam de comportamentos: ........ 83

Gráfico 15 – Que nível atribuis às situações de indisciplina e/ou violentas na tua

turma? ........................................................................................................................ 83

Gráfico 16 – Em que turno achas que se registam situações conflituosas? ............... 84

Gráfico 17 – Em que ano de escolaridade sentiste existirem mais situações de

indisciplina? ................................................................................................................ 85

Gráfico 18 – Considera existirem problemas graves de indisciplina nas suas turmas? 86

Gráfico 19 – Como explica a indisciplina? ................................................................... 86

Gráfico 20- Age sempre de acordo com o regulamento interno do regulamento? ....... 87

Gráfico 21 – De que forma é que transmite o regulamento interno aos seus alunos? . 88

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

5

Gráfico 22 – Que assuntos costuma/costumava abordar na sua aula de PT? ........... 88

Quadro 9 – Assuntos abordados na aula de PT.......................................................... 89

Gráfico 23 – Considera que a atitude dos professores pode influenciar as situações de

indisciplina na sala de aula? ....................................................................................... 89

Gráfico 24 – Considera que a atitude dos professores pode influenciar as situações de

indisciplina na sala de aula? ....................................................................................... 90

Gráfico 25 – Que estratégias adota de forma a otimizar o ambiente na sala de aula? 91

Quadro 10- Estratégias utilizadas para otimizar o ambiente de sala de aula? ............ 92

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

6

Introdução

A temática assente no nosso trabalho é a indisciplina e violência existentes nas

escolas, tema que com o passar do tempo tem-se tornado mais polémico. O número

de casos em todo o país tem aumentado todos os anos, sendo esta evolução visível

tanto quotidiano como nos media. É por isso e, por outros motivos que o tema da

indisciplina está na ordem do dia. O fenómeno da indisciplina preocupa professores,

alunos, encarregados de educação, e todo o grupo docente e não docente das escolas

e, é por isso constituído o objeto de estudo da sociologia.

O nosso trabalho segue a metodologia do manual de investigação em ciências

socias desenvolvido pelo Raymond Quivy composto por sete etapas: pergunta de

partida; a exploração; a problemática; construção do modelo de análise; observação;

análise das informações; as conclusões.

Na primeira fase da realização do nosso trabalho desenvolvemos as duas

primeiras etapas: a pergunta de partida e a exploração.

Na exploração optamos pela divisão desta etapa em dois capítulos. O primeiro

capítulo aborda a escola e o seu papel a nível da socialização e procuramos estudar

como é que ocorre o processo educativo nas escolas. Em relação ao segundo

capitulo, este apresenta um grande foco sobre a indisciplina e a violência, onde

partimos de conceitos com o objetivo de obter um estudo aprofundado sobre estes

fenómenos na escola e que dimensões poderão tomar.

Na III etapa do trabalho, a problemática, incidimos mais na forma como as

características da família, da escola e do aluno, assim como questões sociais, podem

influenciar a formação do jovem e como se podem ver repercutidas nos

comportamentos desviantes ou conformistas dos mesmos. Neste sentido, elaboramos

um conjunto de questões, as quais iremos ver respondidas ao longo da etapa V, a

observação.

Na etapa IV, ou seja, com o modelo de análise, pretendemos apresentar os

pontos centrais do nosso trabalho e como estes se desenvolvem ao longo do mesmo,

de uma forma mais simples e sistemática.

Na V etapa deste trabalho (observação), definimos as estratégias a utilizar de

forma a responder às seguintes perguntas: “Observar o quê? Em quem? Como?”. A

nossa investigação que assentará sobre as estratégias intensiva (inquérito por

entrevista) e extensiva (inquérito por questionário e análise documental).

Na VI etapa (análise das informações), temos como objetivo central, como o

próprio nome da etapa indica, analisar as respostas obtidas nos inquéritos e nas

entrevistas e os documentos disponibilizados pelo Gabinete de Gestão de Conflitos

(GGC) referentes às ocorrências disciplinares.

Por fim, na VII etapa, a conclusão, procurámos apresentar os resultados

obtidos, evidenciando os novos conhecimentos adquiridos pela realização dos

inquéritos por entrevista e por questionário e pela análise documental a que nos

propusemos na V etapa.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

7

Etapa I – Pergunta de Partida

“ A formulação da pergunta de partida obriga o investigador a uma clarificação,

frequentemente muito útil, das suas intenções e perspectivas espontâneas. Põe em

prática uma das dimensões essenciais ao processo científico: a ruptura com os

preconceitos e as noções prévias.”

Quivy, Raymond

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

8

Pergunta de Partida

De acordo com Quivy, a pergunta de partida deverá respeitar os três seguintes

criterios:

Qualidade de clareza : as qualidades de clareza dizem respeito à precisão e à

concisão de modo a formular a pergunta de partida.

Qualidade de exequibilidade : estas qualidades estão ligadas ao carácter realista ou

irrealista do trabalho que a pergunta entrever.

Qualidade de pertinência : as qualidades de pertinência dizem respeito ao registo

(explicativo, normativo, preditivo…) em que se enquadra a pergunta de partida.

No âmbito do nosso trabalho que tem como objeto de estudo a indisciplina e a

violência na escola procuramos encontrar de acordo com QUIVY a resposta a seguinte

pergunta:

- Quais são os principais indícios causadores de indisciplina e violência

no contexto escolar?

“Uma boa pergunta de partida não deve procurar julgar, mas compreender. O seu

objetivo deve ser o do conhecimento.”

Quivy, Raymond

Page 9: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

9

Etapa II – Exploração:

Enquadramento teórico

“ Queremos agora saber como proceder para conseguir uma certa qualidade de

informação; como explorar o terreno para conceber uma problemática de

investigação. A exploração comporta as operações de leitura, as entrevistas

exploratórias e alguns métodos de exploração complementares.”

Quivy, Raymond

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

10

Capítulo I- A escola enquanto organização específica

1- A escola e socialização dos alunos

1.1- Conceito de Socialização

O ser humano é um ser social e por isso incapaz de viver isoladamente.

Precisa de conviver com o maior número possível de seres humanos de forma a

conseguir construir a sua própria personalidade. No entanto, para haver integração do

ser humano este terá de se submeter ao processo de socialização.

A socialização consiste no processo geral, interativo, contínuo e duradouro que

engloba todos os aspetos da vida humana. A integração do indivíduo na sociedade é

fundamental, sendo que é através deste processo que o indivíduo tem a capacidade

de interiorizar os valores, as normas, ideias e comportamentos das instituições às

quais o indivíduo vai pertencendo, primeiro à família (socialização primária) e segundo

à escola e, mais tarde, aos grupos profissionais (ambos constituem a socialização

secundária).

Como aprendemos em aula, a socialização primária é o processo pelo qual a

criança se transforma num membro ativo da sociedade e é na infância que este

processo é mais evidente. Neste processo dá-se a preparação para a socialização

secundária e para a sua integração nos grupos sociais. Relativamente à socialização

secundária, esta compreende todos os processos posteriores por meio do qual o

individuo é introduzido num mundo social específico. Cada nova experiência social

tem um papel fundamental no processo de socialização e na vida de um individuo é

uma sequência das suas experiências sociais.

Sendo constituinte da socialização secundária, a escola aparece como um

agente de socialização sendo que a criança entra em contacto com o novo meio

social, o qual lhe vai proporcionar instrumentos de trabalho, métodos de reflexão e

conhecimentos, impondo regras e disciplina.

1.2- Regras de funcionamento

Após apresentada uma breve introdução sobre a socialização, vamos agora

focar-nos na escola como uma organização e de que forma esta poderá contribuir para

a socialização dos indivíduos.

“Todas as sociedades, para sobreviverem, precisam de um grau de integração

mínima de todos os indivíduos no sistema de valores dominante ou nos socialmente

aceites. Dado que o processo não é automático nem natural, serão necessárias

instituições para esse desempenho”

José de Souza Martins

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

11

O estudo da escola como organização tem vindo a ganhar cada vez mais importância, permitindo um maior conhecimento da instituição escolar enquanto “unidade pedagógica, organizativa e de gestão” (Barroso, 2005)1, sem esquecer a sua identidade e individualidade. A escola é uma instituição, onde é vigente o sistema aberto estando, por isso, alargada à comunidade.

Nos dias de hoje, assume um papel de organização cultural sendo que respeita

a diversidade que lhe é inerente e privilegia a cultura de integração que nem sempre é

fácil e que se assume, cada vez mais, como uma realidade. Continuando a ter a

função de educar, a escola adota uma cultura e têm o dever de a transmitir aos seus

alunos, sendo que “as motivações e os resultados dos alunos são profundamente

afetados pela cultura ou espírito particular de cada escola e as escolas nas quais os

alunos obtêm bons resultados têm, essencialmente, as mesmas características “

(Costa, 1996)2.

É nesta escola que, cada vez mais ocorrem situações de indisciplina e

violência que fortemente perturba o seu funcionamento e constituem entraves para

esta atingir o sucesso desejado. A disciplina manifesta-se não só dentro, mas também

fora da sala de aula, onde cada vez mais alunos apresentam comportamentos que

diferem de uma situação normal de ensino. Os efeitos desses comportamentos

manifestam-se a vários níveis, afetando os vários agentes envolvidos no processo

educativo como os alunos, professores, funcionários, encarregados de educação,

afetando portanto a sociedade em geral.

E é aqui que aparece a necessidade de existência de regras mais profundas,

sendo que as sociais (que se entendem por regras socialmente adquiridas) não são

suficientes. Dá-se a necessidade de implementar um sistema de regras, garantindo

um bem-estar social generalizado. Regras essas sobre as quais nos vamos debruçar

nos subtemas que se seguem.

1.2.1- Regulamento Interno das Escolas

O regulamento interno é um documento que é elaborado segundo a

legislação em vigor e onde estão descritos os princípios, valores, metas e estratégias

definidas do projeto educativo da escola. Este documento pretende garantir a

democraticidade em relação a todos os agentes sociais envolvidos na escola de modo

a promover o respeito e o convívio saudável entre os mesmos. O regulamento interno

declara as regras formais que a escola adotou de modo a conseguir alcançar os seus

objetivos, isto é, a responder às verdadeiras necessidades da comunidade educativa e

que a sua aplicabilidade favoreça a concretização das grandes finalidades do ensino.

Constam neste documento regras e direitos da instituição escola.

1 BARROSO, J.(2005). Politicas Educativas e Organização Escolar. Lisboa: Livraria Aberta;

2 COSTA, Jorge Adelino. (1996). Imagens Organizacionais da Escola. Porto: Edições Asa;

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

12

1.2.2- Regras socialmente aceites

As regras informais, as quais nos referimos como regras socialmente

aceites, são as mais utilizadas pelos professores na escola e na sala de aula e, são

definidas pelos professores e alunos, servindo para regular as relações que estes

estabelecem entre si. Os professores e os alunos estão em permanentes acordos de

forma a criar e recriar regras sociais para manter “ordem” na sala de aula. Sendo o

mesmo tipo de relação estabelecido com os alunos e funcionários. Na escola

produzem-se, assim, regras não formais e informais que servem para omitir e

substituir as regras formais.

O facto de existirem regras, surge como forma de facilitar o processo de

ensino-aprendizagem e de relação entre os intervenientes na atividade escolar.

Geralmente, cabe ao professor produzir e definir as normas que lhe permitam exercer

a sua atividade pedagógica na sala de aula e que permitam a transição de normas

sociais e de cultura (como referimos no ponto 1.1). Como forma de facilitar a relação

com os alunos, o professor pede a sua colaboração na definição das regras de forma

que os alunos não as encarrem como injustas e aceitam-nas melhor, como podemos

ver “os estudantes gostam de conhecer as regras e os regulamentos e é injusto

esperar que eles as conheçam sem se ter falado nelas. O professor pode estabelecê-

las sozinho ou podem ser os estudantes a estabelecê-las. Estas regras que os

estudantes estabelecem, eles mesmos, são mais fáceis de forçar do que as que são

impostas pelo professor e que os estudantes sentem como opressoras ou injustas.

(…) Se os professores tomarem o tempo para explicar aos alunos porque é que as

coisas devem ser feitas de determinada maneira, as regras podem aparecer mais

razoáveis aos olhos dos alunos. Dizem ainda que os professores são diferentes uns

dos outros e o que é certo para um pode não ser para outro” (Silva 1993)3.

Todavia, esta situação nem sempre se verifica. Existem muitos professores

que não explicitam da forma mais correta as regras e não pedem a colaboração dos

alunos na sua definição o que resulta em situações de desentendimento que facilitam

o distúrbio na sala de aula.

2- Processo educativo na escola

2.1- As interações na sala de aula

Como professor, este tenta transmitir ao seu aluno um conjunto de

conhecimentos curriculares, atitudes e competências de forma ao individuo ter no

futuro capacidade de se inserir nos grupos sociais visto que “é ao professor que a

sociedade confia a tarefa de socializar os novos membros” (Alves-Pinto 1995)4.

Os professores e os alunos encontram-se em constante interação na sala de

aula. É na sala de aula que o professor ensina os seus alunos. No entanto, nem

sempre é fácil, sendo que há muitos obstáculos que podem impedir o professor de

3 SILVA, M. M. de A. (1993). Controlo Disciplinar na Sala de Aula: Implicações no processo

ensino-aprendizagem. Dissertação de mestrado. Universidade de Aveiro. 4 ALVES-PINTO, C. (1995). Sociologia da Escola. Lisboa: MacGraw-Hill.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

13

realizar com eficácia e eficiência o trabalho que lhe é competido. Entre essas

dificuldades podemos referir as seguintes:

Forma como a mensagem é transmitida pelas duas partes em

comunicação;

“Do ponto de vista dos comportamentos indisciplinados, a forma como o

professor transmite a sua mensagem e a forma como ela é percebida pelos alunos

assumirá eventualmente maior importância do que o seu próprio conteúdo. Assim,

uma mensagem interpretada pelos alunos como desajustada à situação poderá

desencadear neles comportamentos indisciplinados que o professor não previra, nem

pensara desencadear com a sua mensagem.” (Magalhães,1992)5

Distância entre o emissor e o recetor;

A aproximação ou afastamento dos alunos relativamente ao professor pode

facilitar ou prejudicar a relação que entre ambos se estabelece.

A adaptação da mensagem as características dos recetores;

Poderão existir problemas que dificultem a comunicação e contribuem para a

existência de comportamentos agitados e perturbadores. Cada vez mais há aulos com

diferentes culturas, com maiores ou menores dificuldades em compreender as

mensagens que lhe são transmitidas. Estas dificuldades levam o aluno a

desinteressar-se das aulas e mais tarde a ter comportamentos indisciplinares.

Funcionamento da turma enquanto grupo;

As turmas são constituídas por grupos heterogéneos onde se encontram

alunos com objetivos e disposições diferentes, com dificuldades de integração, que

podem tornar-se elementos desestabilizadores dentro da sala de aula. Esta situação

agrava-se quando se juntam vários elementos que perturbam o funcionamento das

aulas.

2.2- Relações de poder na sala de aula

É sobre o professor que assenta todo o peso fundamental da atividade da

escola. O professor detém o poder e a autoridade, estes que exercidos de forma

correta ou incorreta podem afetar as interações em sala de aula criando o clima de

instabilidade ou estabilidade. A pergunta que se coloca é: que tipo de poder é que se

pode encontrar na sala de aula?

A sala de aula confere ao professor intimidade e autonomia. A sala de aula é

espaço do professor, e este poderá organizá-lo da forma que melhor entender. Este

espaço confere ao professor autoridade e poder. A autoridade na medida que se

encontra hierarquicamente acima dos alunos. O poder na medida que a escola

concebe ao professor vários poderes e legitima ação em termos disciplinares.

5 MAGALHÃES, O. (1992). Verso e Reverso: Os alunos, os professores e a indisciplina. Tese

de Mestrado. Lisboa: Faculdade de Ciências de Lisboa, policopiado.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

14

Concluímos que a escola investe o professor de variados poderes, legitima a

sua ação em termos disciplinares. Da mesma forma, outros poderes do professor são

de natureza pessoal com especial destaque para o poder avaliativo do qual se serve

muitas vezes para efeitos dissuasores de comportamentos indisciplinados.

No entanto, embora o professor tenha grande parte do poder na escola e

mais particularmente na sala de aula, o professor não possui o poder total, existindo

outros atores que detenham algum poder. Estes autores são os alunos. A prova disso

é que são raros os professores que nunca se deixaram levar pelos alunos, por

exemplo, pela marcação da data de um teste de acordo com as preferências dos

alunos.

Embora seja um poder ilegítimo, não sendo socialmente aceite, podemos

observar que os alunos também adquiriram algum poder, na medida que, se os alunos

não tivessem qualquer tipo de poder existiria uma atitude completamente passiva

dentro da sala de aula e o professor seria praticamente o único interveniente no

processo produtivo. Mas como podemos ver “nem todos os alunos, porém, aceitam as

obrigações do papel, e seria perigoso supor que a dominação está assegurada à

partida, como muitos investigadores já supuseram” (Sara Delamont,1987)6.

Afonso7 realizou um estudo onde concluiu que os alunos detêm pouco poder

formal na sala de aula, no entanto, detém um grande poder informal. Esta análise

baseia-se na capacidade dos alunos manipularem os professores e interferir nos seus

métodos de ensino de forma a impor a sua vontade. Na sala de aula, os alunos

influenciam a atuação do professor com base em dois tipos de poder: o poder

individual e o poder do grupo, sendo este último a principal origem do poder dos

alunos. Se o aluno na sala de aula conseguir mobilizar conjuntos de interações pode

fazer desenvolver outros tipos de poder nos seus colegas, nomeadamente, o poder de

grupo, o poder físico e o poder pessoal. O mesmo autor refere que aluno detém,

ainda, outro tipo de poder, o poder de perito, que pode utilizar sob a forma de

comportamentos de resistência para pôr em causa a imagem profissional dos

professores. Quando tal acontece, quando se confrontam os poderes de professores e

alunos e se chega à fronteira entre o permitido e o proibido, surge a necessidade do

controlo disciplinar.

Podemos concluir que a sala de aula é o palco de inúmeras relações de poder

– o poder do professor e o poder dos alunos Destes dois tipos de poder apenas o

poder do professor é um poder legítimo e reconhecido pela instituição e pela

sociedade. O poder dos alunos é um poder informal, não legitimado pela instituição

nem reconhecido socialmente. Contudo, ele existe e é necessário contar com ele pelo

facto de poder interferir negativamente no normal funcionamento do grupo-turma e

impedir que objetivos definidos sejam atingidos.

6 DELAMONT, S. (1987). Interação na Sala de Aula. Lisboa: Livros Horizonte

7 AFONSO, A. J. (1988). “Insucesso, Socialização e comportamentos divergentes”. Revista

Portuguesa de Educação. 1, pp. 41-51.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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Capítulo II- Indisciplina e a violência

1- Definição de conceitos

1.1- Indisciplina

O conceito de indisciplina é suscetível de múltiplas interpretações. Poderemos

dizer que a indisciplina contempla todo o comportamento que leve ao não

cumprimento das regras, o que pressupõe que existam regras definidas. Estas podem

ser de carácter explícito – “regras que definem o que realizar” – ou implícito – “regras

que se assumem como aceites por todos, constituindo normas básicas de convivência”

(Domingues, 1995)8. Estes não cumprimentos são todavia denominados de forma

diferente conforme se trate de alunos ou de professores. Os alunos são apelidados de

indisciplinados e os professores de incompetentes.

Daniel Sampaio (1996)9, psiquiatra e escritor português, acrescenta ainda que

a Indisciplina assume um “significado relacional no contexto escolar. Significa um mal-

estar que pode ter múltiplas significações, mas não é desprovido de sentido”. É certo

que é necessário compreender os motivos, sendo essencial perceber que este termo

numa sala de aula possui uma compreensão diferente da violência escolar, pelo que a

indisciplina não se encontra diretamente associada à agressão.

Fernando Becker10 , professor de psicologia da educação, relativamente ao

conceito da indisciplina, apresenta uma outra dimensão de elevada importância.

Becker afirma que os comportamentos sociais dos indivíduos se explicam pela

interação dos sujeitos e que a indisciplina consiste num desvio à regra e à norma

instituída. Em termos sociológicos, o desvio não é só um comportamento no qual o

indivíduo desrespeita uma norma por mero acaso, trata-se de uma infração voluntária

e executada num dado contexto. Assim, o desvio corresponde a um conjunto de

comportamentos que não condiz com as normas e valores partilhados pelos membros

da sociedade e, exatamente por isso, podem ser sancionados pela mesma. Becker faz

ainda referência à visão de Marx, para quem o desvio diz respeito a uma opção

tomada pelos indivíduos como revolta face a situações de desigualdade presentes na

sociedade. Nesse sentido, Becker acredita que o desvio é uma consequência da

diferente distribuição de poder na sociedade, onde existe a tentativa de manutenção

desse mesmo poder por parte da classe dominante, que subjuga as restantes classes.

Assim, verificamos que o desvio assume-se como “produto e processo da

interação social, fruto de um conjunto complexo de transações entre uma pessoa que

se comporta de um determinado modo e outra pessoa ou grupo que responde de

modo peculiar” (Hargreaves, cit. por João Amado, 2001) 11 . Importa salientar que,

devido às características de uma aula, “não é de estranhar nem difícil de compreender

que os alunos espreitem as margens de «manobra» e que, quando a ocasião se

8 DOMINGUES, I. (1995). Controlo Disciplinar na Escola, Processos e Práticas. Lisboa: Texto

Editora. 9 SAMPAIO, D. (1996). Voltei à escola. Lisboa: Editorial Caminho.

10 BECKER, F. (1999). Revisitando Piaget

11 AMADO, J. (2001). “Dinâmica de turma e indisciplina na aula”. Violência e Indisciplina

na Escola: Livro do Colóquio, XI Colóquio AFIRSE. Lisboa: FPCE/UL.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

16

apresentar propícia, ultrapassem os limites do «tolerável» no desafio às normas”

(Vasquez & Martinez, cit. por João Amado, 2001). Como refere Cohen (cit. por Amado,

2001), “cada regra cria um desvio potencial”.

Carlos Fontes apresenta duas teorias: uma que defende a indisciplina é uma

tendência inata (nasceu connosco) de todos os seres humanos tendo sido defendida

por personalidades como Charles Darwin; a outra teoria defende que a natureza

humana é uma espécie de recipiente vazio que é preenchido pelo conhecimento

empírico, obtido através dos sentidos.

Simplificando, esta é uma definição não uniforme, na medida em que a

conceção de “comportamento aceitável” varia de professor para professor e de escola

para escola (Domingues, 1995).

1.2- Violência

O fenómeno associado ao conceito da violência tem sido muito falado nas

escolas, na medida em que se estão a proceder a algumas conceções e noções

equívocas, entre elas a atribuição da violência a indivíduos com carácter desviante, a

existência de naturalização das situações violentas e o facto de a violência em

situações escolares ser um fenómeno dito recente, são algumas das conceções

realizadas.

A violência tem-se revelado bastante complexa devido, principalmente, à

inexistência de uma definição consensual, quer entre os autores que se vão

debruçando no estudo desta temática, quer entre os protagonistas e agentes que se

apresentam ativos no espaço escolar. No entanto, não deixam de haver pontos

comuns entre alguns autores e intervenientes no espaço escolar.

A definição deste fenómeno depende muito da perspetiva curricular do

estudante. Coloquialmente, a “violência” está relacionada com atos agressivos, quer

físicos, quer emocionais e mesmo com atos criminosos. Apesar de nas escolas

portuguesas, as situações de violência serem bastante pontuais, este tema não deixa

de ser uma preocupação fundamental dado o potencial impacto negativo quer na

vítima quer nos agressores quer, ainda, no clima escolar no geral.

Em Portugal, existem duas abordagens diferentes na investigação sobre a

violência na escola. Na primeira, enquadram-se os estudos sobre a indisciplina,

tomando como objeto as diferentes situações e comportamentos (sejam violentos ou

não) que não estão em conformidade com as regras estipuladas no regulamento

interno de cada escola (Freire, 1995)12. Na segunda abordagem, foca-se a violência

como um fenómeno específico, realçando o seu carácter social e psicológico (Costa &

Vale, 1998)13.

Passando agora à definição mais concreta do conceito de “Violência”, tendo

por base algumas perspetivas de diversos autores.

12

FREIRE, P. (1995).À sombra desta Mangueira, São Paulo: Olho d’Água. 13

COSTA, M. & E VALE, D. (1998). A violência nas escolas. Linda-a-Velha, Ministério da Educação.

Page 17: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

17

Segundo Guillotte14, a violência é entendida como um estado interior ou como

um código que revela a angústia do emissor. Este autor acrescenta, ainda, que a

violência não é tida como uma ação unilateral, na medida em que o comportamento

agressivo é uma reção a algo que é exterior ao indivíduo. Por outro lado, Fischer15,

defende que a Violência se caracteriza pelo “recurso à força para atingir o outro na sua

integridade física e/ou psicológica” (1994), manifestando-se através da agressão e

significando o uso material da força. Além disso, este autor também considera que os

atos violentos devem ser entendidos na relação com outros fenómenos que o

acompanham, não se podendo negligenciar o contexto social, económico e cultural

onde os indivíduos se inserem.

A violência também pode ser entendida como um ato de demonstração de

poder, na medida em que pretende visar a construção de um estado de domínio, no

qual rege a coação (Sebastião et al, 2003)16. Esta relação de poder caracteriza-se,

então, através da capacidade que um indivíduo ou grupo, (A), tem de influenciar um

outro indivíduo ou grupo, (B), de ta modo que este último faça o que o primeiro quer

(Amado, 2001). Contudo, (B), não é um sujeito meramente passivo, por isso o poder “é

a resultante de duas forças, uma puxando para a mudança e a outra exprimindo a

resistência do sujeito” (Richmond & Roach, cit. Por Amado, 2001: 126).

Assim sendo, o poder resume-se como um “fenómenos relacional,

essencialmente assimétrico, que pode gerar conflitos e resistências por um lado, e

negociações, por outro”. No que diz respeito ao ambiente escolar, esta assimetria

poderá ser visível entre professores e alunos, alunos e instituição escolar e alunos e

alunos, interessando compreender os motivos que levam alguém a aceitar uma

relação de subordinação e de obediência, reconhecendo o poder de outrem (Amado,

2001).

Desta forma, o termo violência abarca situações esporádicas e de grande

gravidade, com frequência já na área da criminalidade (Sampaio,1996). Importa ainda

mencionar que os comportamentos violentos na escola têm uma intencionalidade

lesiva que raramente surge em situações de indisciplina, podendo assumir as

seguintes formas: violência contra a escola - desafio à ordem e à hierarquia escolares

por parte dos alunos - violência na escola - dentro da mesma -, podendo ainda ser de

carácter exógeno - determinados de fora da escola para dentro (Sampaio, 1996).

Por outro lado, segundo Bourdieu e Passeron (1975)17, a violência escolar

pode ainda ser de natureza simbólica quando se considera que a ação pedagógica se

traduz na imposição de um poder arbitrário, dado que reproduz a cultura dominante,

as suas significações e convenções, impondo um modelo de socialização que

favorece a reprodução da estrutura das relações de poder. Sendo assim, entende-se

que a violência simbólica consiste no desprezo da cultura popular e na interiorização

da expressão cultural de um grupo mais “poderoso” por parte de um grupo mais

14

GUILLOTTE, A. (2003). Violência e Educação 15

FISCHER, G. (1994). A Dinâmica Social: Violência, Poder, Mudança. Lisboa: Planeta ISPA. 16

SEBASTIÃO, João, ALVES, Mariana Gaio e CAMPOS, Joana (2003). “Violência na escola: das políticas aos quotidianos”. Sociologia, Problemas e Práticas, nº 41, pp. 38-39. 17

BOURDIEU, P. e PASSERON (1975), J.-C. A Reprodução: Elementos para uma Teoria do Sistema de Ensino. Lisboa: Editorial Veja.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

18

“dominado” – que facilmente se pode relacionar com um dos problemas

epistemológicos resultantes da não rutura com o senso comum ao produzir

conhecimento científico - etnocentrismo. Tal faz com que os grupos “dominados”

percam a sua identidade pessoal e as suas referências, tornando-se fracos, inseguros

e mais vulneráveis à dominação que sofrem na própria sociedade.

Deste modo, as instituições escolares, muitas vezes, não procuram estudar

muito algumas singularidades presentes na comunidade que a rodeia. Pelo contrário,

tem maior preocupação com aquela cultura “dominante”, a que surgiu através da

imposição de relações de poder sobre as minorias, podendo vir a criar conflitos entre a

comunidade escolar (docentes, não docentes, encarregados de educação e familiares

e, principalmente, os alunos).

1.3- Bullying

Outro conceito associado à Indisciplina e à Violência Escolar é o Bullying. Este

é um termo inglês que não possui tradução direta para a língua portuguesa, sendo-lhe,

no entanto, atribuído, de uma forma simplista, o significado de “agressão em contexto

escolar” (Veiga, 1999)18.

Os estudos sobre o bullying revelam que este fenómeno atinge tanto os

adolescentes como as crianças, constituindo, assim, uma grande preocupação para os

educadores, dada a sua influência no desenvolvimento dos alunos.

Considera-se, também, que o Bullying diz respeito à existência de

comportamentos agressivos de intimidação que apresentam características comuns,

entre as quais se identificam diversas estratégias de intimidação do outro e que

resultam em práticas violentas exercidas por um indivíduo (bully ou “valentão”) ou um

grupo, com carácter regular e frequente (Olweus, 1993)19.

Segundo o mesmo autor (1991)20, um aluno é vítima de bullying quando se

encontra exposto repetidamente e com frequência a ações negativas por parte de um

ou mais colegas. O sofrimento pode ser físico, psicológico ou ambos.

Pereira (2002: 16)21 defende que este termo “identifica-se pela intencionalidade

de magoar alguém, que é vítima e alvo do ato agressivo, enquanto os agressores

manifestam tendência a desencadear, iniciar, agravar e perpetuar situações em que as

18

Veiga, F. H. (1999). Indisciplina e Violência na Escola: Práticas Comunicacionais para

Professores e Pais. (2ª ed.). Coimbra: Almedina. 19

Olweus, D. (1993). Bullying at School. What we know and what we can do. Oxford: Blackwell 20

Olweus, D. (1991). “Bully/victim Problems Among Schoolchildren: Intervention and prevention”, in Peters, R., McMahon, R. J. & Quinsey, V. L. (eds.). Agression and Violence throughout the lifespan. SAGE Publications, Inc. :California, USA. 21

Pereira, B. O. (2002). Para uma escola sem violência – Estudo e prevenção das práticas agressivas entre crianças. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian

Page 19: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

19

vítimas estão numa posição indefesa”, podendo assumir a forma de agredir, vitimar,

violentar, maltratar, humilhar ou assediar sexualmente (Pereira, 1997)22.

Em suma, é a intencionalidade de “fazer mal” e a persistência de uma prática a

que uma vítima é sujeita é o que diferencia o Bullying de outras situações ou

comportamentos agressivos (Olweus, 1993).

Por seu lado, a violência deve ser entendida como um ato intencional de

destruição do outro, seja de carácter físico ou psicológico, enquanto a Indisciplina

pode ser percecionada como uma ação de contestação à escola (Veiga, 1999),

podendo ainda implicar violência mas não sendo necessário que esta ocorra (Fontes,

2005)23. Para além disso, importa salientar que a violência escolar ocorre nas escolas,

dentro das mesmas, nos seus espaços contíguos ou a caminho de casa ou da escola.

No pátio, na cantina, nos corredores, nas casas-de-banho ou em espaços reservados

aos alunos. As ações ocorrem, habitualmente, na ausência dos adultos. Trata-se de

comportamentos violentos “invisíveis” para os adultos e os professores dificilmente

terão conhecimento do que está a acontecer (Medina, s.d.)24

2- Indisciplina e violência na escola

2.1- Causas sociológicas da indisciplina e violência

Os motivos que levam alguém a ter comportamentos violentos podem ser de

diversas ordens e é sobre eles que refletiremos nas próximas linhas. Nesse sentido,

Veiga (1999) apresenta alguns dos fatores considerados determinantes para que este

tipo de condutas ocorra, sendo eles a falta de valores familiares, escolares e sociais; a

falta de perspetivas quanto ao futuro; a influência dos órgãos de comunicação social; o

clima de concorrência existente; os conteúdos inadequados às capacidades dos

alunos e às necessidades sociais e laborais e, ainda, a frustração provocada por

obstáculos diversos que dificultam a satisfação das necessidades de pertença e de

reconhecimento através de condutas sociais úteis.

De acordo com Lobo (2008) 25 , algumas das causas da indisciplina e da

violência nas escolas prendem-se com a desmotivação sentida pelos alunos face às

perspetiva de desemprego, com a visão negativa da escola e com o

descontentamento dos professores face às políticas educativas. A autora acrescenta

ainda que muitos alunos não possuem quaisquer expectativas em relação à escola,

frequentando a mesma por falta de opção ou porque são forçados a isso.

22

PEREIRA, B. O estudo e prevenção do bullying no contexto escolar: os recreios e as práticas agressivas da criança. 1997. 506 f. Dissertação (Doutoramento em Estudos da Criança) – Universidade do Minho, Instituto de Estudos da Criança, Braga, 1997 23

FONTES, C (2005). Navegando na Educação – Indisciplina nas Escolas 24

Medina, V. (s.d.). O agressor e a vítima de Violência Escolar. Acedido em 8 de Junho de 2009 25

Lobo, A. (2008). Violência nas escolas: causas e consequências. Acedido em 2 de Fevereiro de 2009

Page 20: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

20

Na tentativa de explicitar as causas dos comportamentos violentos em contexto

escolar, Amado e Estrela (2007)26, apresentam um estudo sobre a compreensão e

prevenção da indisciplina, violência e delinquência na escola, no qual apontam quatro

causas essenciais no que se refere a este fenómeno: características do aluno;

características das famílias; características escolares e pedagógicas; e características

sociais.

No que respeita às características do aluno, são indicados os seguintes

fatores: idade; desajuste entre maturação psicológica e aquisição da autonomia na

adolescência; problemas motivacionais; ausência de hábitos de trabalho ou de projeto

de vida, etc.

Nas características familiares são referidos estilos parentais desajustados;

violência em contexto familiar; problemas de comunicação, etc.

Relativamente às características da escola, são referidos os aspetos

organizacionais (turmas, horários, organização de espaços educativos) e pedagógicos

(modos de atuação dos professores), assim como, retenção; abandono e insucesso

escolares.

Por fim, as questões sociais prendem-se com os aspetos de vivência social dos

alunos que poderão apresentar referenciais de regras e valores diferentes dos que são

exigidos na escola.

Outra perspetiva a considerar é a de Sebastião et al (2003) que assumem que

as razões que levam à existência de comportamentos violentos se prendem com as

alterações profundas que se produziram na estrutura, nos métodos e públicos dos

sistemas educativos. Se, por um lado, a massificação do acesso à escola coincidiu

com a democratização política, o que contribuiu para a emergência de conflitos nos

contextos escolares; por outro, permitiu o acesso a níveis de escolarização mais

elevados aos grupos sociais mais desfavorecidos. Este autor adverte que, estes

fatores, a par com os processos migratórios, têm contribuído para a transformação da

sociedade portuguesa, desencadeando situações de conflito nos sistemas educativos

que resultam da manutenção de métodos organizacionais e pedagógicos típicos da

escola de elites e do acréscimo da presença de grupos portadores de quadros

culturais e valores conflituais na instituição escolar. Assim sendo, Sebastião et al

afirmam que o alargamento progressivo da escolaridade veio influenciar o papel e

estatuto dos professores. A democratização do acesso à escolarização originou

movimentos de defesa dos processos educativos menos autoritários, incentivando a

participação dos alunos e criando uma ideia de desorganização e de perda de

autoridade dos professores.

Por outro lado, a inércia do sistema educativo e a sua centralidade na

reprodução de desigualdades estruturais no acesso à escolaridade por partes das

crianças provenientes de meios sociais mais desfavorecidos são também apontados

como contributos para um clima de insegurança e violência. De facto, são alguns os

aspetos que condicionam a efetiva democratização dos processos de aprendizagem,

26

Amado, J., Estrela, M. (2007). “Indisciplina, violência e delinquência na escola – Compreender e prevenir”, in Fonseca, A., Seabra-Santos, M., Gaspar, M. (Eds.). Psicologia e Educação: Novos e velhos temas. Coimbra: Almedina, pp.335-363.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

21

nomeadamente, os modelos organizacionais das instituições escolares, ao nível da

gestão e da hierarquização interna dos estabelecimentos, a forma de organização das

turmas e a elaboração dos horários, assim como a designação dos docentes para

essas turmas.

Em relação à questão da indisciplina propriamente dita, Carlos Fontes (2005)

assume que não é fácil realizar o inventário das causas da indisciplina nas escolas, no

entanto, enuncia algumas: a família, os próprios alunos, os grupos e turmas, o

Ministério da Educação, a escola, os programas, os regulamentos disciplinares, os

professores, a sociedade, os grupos sociais problemáticos, as ideologias.

Mais concretamente, a família assume um papel preponderante, na medida em

que é em casa que os alunos adquirem os modelos de comportamento que

exteriorizam nas aulas. Questões como a pobreza, a violência doméstica, o

alcoolismo, a desagregação dos casais, a droga, a ausência de valores, a

permissividade, a demissão dos pais da educação dos filhos são causas apontadas.

Fontes assume mesmo que, na maioria das vezes, os alunos mais indisciplinados são

aqueles que provém de famílias onde ocorrem estes problemas. Para além disso, são

muitos os pais que assumem uma participação direta nas cenas de violência nas

escolas, acusando os professores de não saberem “domesticar” os filhos e chegando

mesmo a agredir professores e funcionários.

Os alunos constituem também uma causa de indisciplina, sendo necessário

compreender que, por vezes, os casos de indisciplina tratam-se de questões que

deveriam ser tratadas no âmbito da saúde mental infantil e adolescente, da proteção

social ou do foro jurídico e para as quais a escola não se encontra preparada. O autor

acrescenta ainda que todos os alunos são potencialmente indisciplinados, já que a

escola é vista como uma imposição por parte da família ou do Estado.

Por outro lado, Fontes entende que os grupos e turmas assumem uma grande

importância nos processos de socialização e de aprendizagem dos alunos, sendo a

sua influência decisiva para explicar determinados comportamentos que resultam, em

diversas ocasiões, de processos de imitação de outros membros do grupo. As

situações de violência assumem-se como manifestações públicas de identificação com

modelos de comportamento característicos de certos grupos e, através das mesmas,

os jovens procuram obter a segurança e a força que lhes é dada pelos respetivos

grupos, adquirindo “prestígio” no seio da comunidade escolar.

O Ministério de Educação assume-se, igualmente, como um promotor de

indisciplina nas escolas, devido às medidas que toma, à morosidade dos processos,

às reformas escolares que promove mas que não conclui ou avalia e, ao discurso que

desresponsabiliza o Ministério, atribuindo aos professores a culpa pela ineficácia do

sistema. Fontes afirma ainda que todas estas questões criam uma cultura de

irresponsabilidade, potenciando não só comportamentos desviantes, como a

desmotivação dos professores.

Não obstante, a falta de organização e eficácia da escola, a dependência do

Ministério da Educação e a falta de preparação para enfrentar os problemas atuais

motivam a ocorrência de comportamentos de indisciplina num espaço que deixou de

ter um papel integrador dos alunos, passando a ser um “ponto de encontro” onde,

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

22

apesar de passarem muito tempo, os alunos não sabem, muitas vezes, as suas

regras, valores e normas de funcionamento.

Os programas, desfasados da realidade dos alunos, não os conseguem

motivar, já que, além de desinteressantes, não lhes garantem um emprego no futuro.

Originando, assim, frustração e desmotivação, potenciando situações de crescente

indisciplina

Através dos regulamentos disciplinares, os professores consideram-se

protegidos de muitos problemas disciplinares, mesmo quando existem

comportamentos desviantes. Por outro lado, é considerado que os alunos vão acatar

os regulamentos, dado que estes foram aprovados, na maioria das vezes, pelos seus

representantes. No entanto, estes regulamentos não existem para os alunos, dado que

estes consideram que na escola impera apenas a vontade dos professores e do

Conselho Executivo, sendo os regulamentos mais um instrumento desse poder

Os professores também podem potenciar situações de indisciplina, através de

ações como a estigmatização e a rotulagem dos alunos, acompanhadas de uma forma

agressiva como tratam os alunos, da falta de capacidade para os motivarem,

nomeadamente, utilizando métodos e técnicas inadequadas e a impreparação para

lidarem com situações de conflito, são fatores que estimulam ações violentas.

A sociedade influencia os comportamentos sociais dos seus membros,

nomeadamente através das práticas de diversão (touradas, jogos, combates, séries e

filmes violentos, grupos e géneros musicais) mas também devido ao facto de a própria

sociedade ser violenta, passando a ideia de que só é possível sobreviver assumindo

uma cultura de violência.

Outra questão importante prende-se com a existência de Grupos Sociais

Problemáticos. De facto, as escolas públicas são frequentadas por populações

socialmente e culturalmente heterogéneas, contando com um crescente número de

alunos que provém de grupos sociais onde subsistem graves problemas de integração

social. Apesar da especificidade dos problemas destes alunos, a escola recusa-se, por

uma questão ideológica, a tratá-los de um modo diferenciado. A democraticidade do

tratamento não elimina os problemas de socialização e os problemas são

transportados para dentro da sala de aula.

Para além disso, a abordagem da questão da violência não pode ser

dissociada das ideologias políticas. As ideologias de direita sempre defenderam a

ideia de ordem e de responsabilização individual, lutando pelo combate à indisciplina,

enquanto as ideologias de esquerda tendem a ser mais tolerantes com esta questão,

uma vez que colocam o enfoque das suas políticas sobre as causas que motivam a

indisciplina e não tanto na responsabilização dos comportamentos desviantes. Os

alunos acabam por ser vistos como “vítimas" e não como "responsáveis" e o resultado

é a adoção de práticas "desculpabilizadoras" e "permissivas".

Ainda no que respeita a Indisciplina, Amado (2000)27 aponta como causas da

mesma a ausência de modelos familiares positivos, currículos desajustados ao

27

AMADO, J. (2000). A Construção da disciplina na escola. Suportes teórico-práticos. Porto: Edições ASA.

Page 23: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

23

interesse dos alunos, ausência de hábitos de trabalho, entre outros. Sugere três níveis

de indisciplina: Desvio às regras de produção (1º nível); Conflitos interpares (2º nível)

e Conflitos da relação professor/aluno (3º nível).

Em suma, muitas são as causas indicadas para os problemas de indisciplina e

violência escolar, importa então compreender o que motiva a indisciplina e a violência

escolar, sendo necessário repensar a instituição escolar com alunos, professores, pais

e comunidade envolvente, isto porque é sabido que o meio social, a cultura, a família,

os amigos influenciam, em larga escala, os comportamentos das crianças, no sentido

de desenvolver estratégias eficazes de prevenção e intervenção.

2.2- Consequências

O comportamento violento provoca um impacte negativo, tanto físico como

psicológico, sobre as vítimas (João Amado, 2001)28, mas também sobre os próprios

agressores, sendo as suas consequências visíveis a curto, médio ou longo prazo.

(Dan Olweus, 1991).

No caso das vítimas podem verificar-se:

Fraca autoestima;

Depressão;

Problemas ao nível da saúde mental;

Fraco rendimento escolar;

Dificuldade em adormecer;

Falta de vontade de aproveitar o recreio.

A generalidade das vítimas de violência escolar levam uma vida triste, tem

dificuldades de concentração e problemas de relacionamento, exteriorizando

dificuldades em estabelecer relações íntimas e em confiar nos outros. Não são

assertivas, predomina o medo e a falta de confiança, demonstram níveis elevados de

ansiedade e incapacidade de reagir por si próprios, tendo dificuldade em interagir,

donde resulta, na maioria das vezes, a exclusão social. A longo prazo tendem a

manter-se os problemas de autoestima e a dificuldade em estabelecer relações.

Segundo Armanda Zenhas (2008)29, quando os alunos são vítimas de violência

tendem a calar-se, com vergonha e medo de represálias. Muitos são também os

professores, que permanecem no silêncio quando observam ou vivenciam

comportamentos violentos. O medo de vingança, a vergonha, aliados à morosidade do

sistema judicial e à obtenção de justiça constituem as principais causas para esse

silêncio.

Por último, Olweus (1993) afirma que existe uma relação entre o ter sido vítima na

escola e uma possível depressão na vida adulta. Contudo, segundo o mesmo, a

frequência de ser vítima decresce com a idade.

28

AMADO, J. (2001). A Interação Pedagógica e Indisciplina na aula. Porto: Edições ASA. 29

Zenhas (2008). A Violência nas Escolas. Acedido em 8 de Junho de 2009

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

24

Relativamente aos efeitos da violência escolar nos agressores, estes tendem a

possuir dificuldade no controlo de impulsos, apresentando confiança em si próprios e

não demonstrando quaisquer sinais de medo. (Olweus, 1993). Criam a ideia de que

nada vale a pena na construção de relações positivas, têm dificuldade em conviver

com outras crianças e agem, múltiplas vezes, de forma autoritária (Zevallos, s.d.)30.

Comportam-se de forma impulsiva, irritada e intolerante. Necessitam impor-se através

do poder, da força e da ameaça.

Para além disso, apresentam tendências agressivas, muitas vezes devido às

relações familiares, visto que os pais fomentam a hostilidade.

Durante a vida adulta, tende a persistir a conduta antissocial, podendo encarrilar

por caminhos de criminalidade (Smith, cit. por Pereira, 1997)31. Os agressores têm

dificuldade em respeitar a lei, dificuldade na inserção social e problemas de

relacionamento afetivo e social (Olweus, 1991).

Em suma, diversos estudos demonstram os efeitos nocivos da exposição a

situações de violência escolar. Em muitos casos, a violência escolar pode provocar

danos irreparáveis à vida dos indivíduos, influencia os comportamentos das vítimas e

até a imagem que constroem em relação a si, aos outros e ao mundo. Em último caso,

pode mesmo conduzir à morte e ao suicídio.

A indisciplina pode também manifestar-se em turma. Neste tipo de indisciplina

podem verificar-se:

Implicações no trabalho do professor;

Decréscimo na produtividade da turma;

2.3- Características e tipos de comportamento dos intervenientes

Agressores

De acordo com Vilma Medina, por norma, o agressor assume um

comportamento provocador e de intimidação constante. Este, adota um modelo

agressivo na resolução dos conflitos e problemas, apresenta dificuldade em colocar-se

no lugar do outro, vive uma relação familiar pouco afetiva e detém pouca empatia por

parte do seu agregado. A autora assinala ainda que, de acordo com diversos

especialistas, criminalistas e psicólogos, uma criança pode desencadear

comportamentos violentos quando espera e quer que lhe satisfaçam uma determinada

vontade, ao mesmo tempo que gosta de pensar que detém algum poder, quando não

se sente bem ou não tem possibilidade de brincar com outros agentes sociais da sua

faixa etária, quando sofre intimidações ou algum tipo de abuso em casa, na escola ou

na família, quando é frequentemente humilhado por adultos, ou quando vive sob

constante pressão para que tenha êxitos nas suas atividades diárias. Estes

intervenientes procedem a sua ação contra a vítima sob diversas maneiras: provocam,

30

Zevallos, P. (s.d.). Consequências da Violência Escolar. Acedido em 8 de Junho de 2008 31

PEREIRA, B. O estudo e prevenção do bullying no contexto escolar: os recreios e as práticas agressivas da criança. 1997. 506 f. Dissertação (Doutoramento em Estudos da Criança) – Universidade do Minho, Instituto de Estudos da Criança, Braga, 1997.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

25

agridem (empurrões, socos), chamam-lhes “nomes” ou procedendo a comentários

menos agradáveis ou depreciativos, gerando intrigas, mentiras, boatos, obrigando-os a

isolarem-se do grupo.

Os rapazes são com maior frequência vítimas de violência física e ameaças. As

raparigas usam mais as formas verbais. Repetindo esta ideia, Pereira (1996) 32

menciona que, em Portugal, tal como em outros países, as raparigas são com maior

frequência vítimas de agressões dita indiretas (exclusão social, boatos, entre outros),

enquanto que os rapazes são mais frequentemente vítimas de agressões físicas e de

ameaças de diversos tipos e maneiras (Olweus, 1994)33. Segundo Whitney e Smith

(1993)34, os mais velhos têm menor probabilidade de serem agredidos mas são os que

mais agridem, acontecendo o oposto nos mais novos.

Agredidos

No que toca a estes intervenientes, Medina volta a referir que, habitualmente,

são crianças que não dispõem de recursos ou habilidades para reagir, são pouco

sociáveis, sensíveis e frágeis, são os escravos do grupo, e não conseguem reagir por

vergonha ou por conformismo, sendo prejudicados por ameaças e agressões.

As vítimas são, em geral, (…) do sexo masculino, são habitualmente mais

fracos em termos físicos (Olweus, 1997)35. São sensíveis, sossegadas e cautelosas.

Demonstram baixa-autoestima, têm dificuldade em acreditar nas suas próprias

capacidades e apresentam-se, habitualmente, deprimidas. (…) Não demonstram

sentido de humor, têm uma autoconfiança muito baixa, são submissos e desistem com

facilidade dos objetivos que pretendem alcançar. Estas crianças possuem uma visão

negativa sobre si e sobre a sua situação (Egan & Perry, 1998)36. Andam, por norma,

sozinhas, são solitárias e não possuem amigos próximos nem um bom amigo na sua

turma (Boulton & Underwood, 1992)37. Procuram evitar a escola porque não se sentem

felizes nem seguras nesses espaços (Kochenderfer & Lodd, 1996)38. Estas vítimas são

passivas e submissas, em oposição às vitimas provocadores, definidas por Olweus

(1997) que, para além de sofrerem de bastante ansiedade e terem reações

agressivas, apresentam dificuldades de concentração e agem de maneira a provocar

irritação e tensão à sua volta. As vítimas ditas ativas, procuram deliberadamente as

situações agressivas, ao contrário das vítimas passivas, que procuram evitá-las.

32

Pereira, B. O., Almeida, A. T., Valente, L. e Mendonça, L. (1996). “O bullying nas escolas portuguesas. Análise de variáveis fundamentais para a identificação do problema”, in Almeida, Silvério & Araújo (org.s). Actas do II Congresso Galaico-Português de Psicopedagogia (26-27 Abril), Universidade do Minho, Braga, 71-81. 33

OLWEUS, D. (1994). Bullying at School: Basicfacts and effects of a school based inervention program. 34

Whitney, I. & Smith, P. (1993). “A Survey of Nature and Extent of Bullying in júnior/middle and

secondary schools”, in Educational Research, 35 (1), 3-25. 35

Olweus, D. (1997). “Bully/victim problems in school. Facts and intervention”, in European Journal of Psychology in Education, XII, 495-509. 36

Egan, S. & Perry, D. (1998). “Does Low Self-Regard Invite Victimization?” Development Psychology, 34 (2), 209-309. 37

Boulton, M. & Underwood, K. (1992). “Bully/Victim problems among middle school children”, in British Journal of Educational Psychology, 62, 73-87 38

Kochenderfer, B. & Lodd, G. (1996). “Peer Victimization: Cause or Consequence of School Maladjustment?, in Child Development, 67 (4). 1305-1317.

Page 26: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

26

Alguns investigadores apresentam fatores que contribuem para a ocorrência de

situações violentas. A proximidade na sala de aula ou no recreio possibilita aos

agressores observarem as pessoas que serão as suas vítimas, dado que estas exibem

as suas fraquezas. Para além disso, fatores como chorar facilmente, falta de

autoestima e de sentido de humor podem originar situações de vitimização por parte

de alunos fisicamente mais fortes e com desejo de anular ou humilhar alguém mais

fraco (Perry et al, 1992)39.

Importa ainda mencionar a perspetiva de Stephenson & Smith (1989)40 que

referem que existe alguma dificuldade em caracterizar o agressor e a vítima, devido à

diversidade e incoerência de resultados existentes. Para os referidos autores, este

facto encontra explicação nas diferentes categorias de agressores e vítimas. Por

exemplo, os agressores propriamente ditos são autoconfiantes, ativos, fisicamente

mais fortes, gostam de agir de forma agressiva e não são populares no ambiente

escolar nem no ambiente entre amigos. Contrariamente, os agressores mais ansiosos

são aqueles que possuem maior popularidade entre os colegas, têm mais problemas

em casa, correspondendo ao estereótipo de cobarde que importuna as pessoas.

2.4- Importância da relação escola família

A relação escola-família tem sido objeto cada vez mais frequente de inúmeros

estudos, no sentido de compreender a sua complexidade. Com efeito, e visto que

muitos especialistas consideram que a família assume um importante papel na altura

de combater ou promover comportamentos violentos nas escolas, assume pertinência

a reflexão sobre a parceria escola-família ou a ausência dela.

Colocada a ênfase na importância da família, poderá afirmar-se que a ausência

de uma parceria de qualidade entre ambas as partes remete para a problemática da

culpabilização mútua onde não se resolvem, efetivamente, os problemas mas apenas

se indicam as causas e os contextos promotores, por exemplo, dos problemas de

indisciplina e de violência escolar.

Os resultados dos alunos associados à qualidade desta parceria são alvo de

questionamento e de investigação diversificada, evidenciando-se os efeitos positivos

para os alunos aquando de uma relação positiva entre escola e família, refletidos nos

seus resultados escolares. Esta parceria reflete-se numa dimensão mais ampla

atendendo que a comunidade e a sociedade sofrem influências e influenciam os níveis

de participação e democratização inerentes a esta relação, ou seja, para que os pais

participem democraticamente devem existir políticas de participação subjacentes e tal

fenómeno influenciará os níveis e a qualidade do envolvimento parental na escola

(Silva, 2003)41. As parcerias podem integrar práticas diversificadas que podem ser

adjuvantes na caracterização do envolvimento parental na escola. Consideramos, de

39

Perry, D. G., Perry, L. C & Kennedy, E. (1992). “Conflict and development at antisocial behavior”, in C. U. Shantz & W.W. Hartup (Eds), Conflict in child and adolescent development, pp. 301-329. New York: Cambridge University Press 40

Stephenson, P. & Smith, D. (1989). “Bullying in the Júnior School”, in D. P. Tattum & D. A. Lane (Eds). Bullying in Schools, pp. 45-57. Stoke-on-Trent: Trentham 41

Silva, S. (2003). “Natureza da Investigação-Acão”, in O Professor, 81, 38-48

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

27

seguida, a tipologia de Esptein (cit. por Villas-Boas, 2001)42 que identifica seis tipos de

envolvimento caracterizados por práticas de carácter coletivo e de carácter individual.

Assim, o tipo de parceria 1, designado como Função Parental caracteriza-se

pela ajuda que a escola pode dar às famílias quanto à sensibilização sobre o apoio

necessário à escolaridade e sobre o próprio desenvolvimento da criança. É nas

reuniões de pais e formação de pais que se processam as práticas referentes a este

nível.

O tipo 2, designado como comunicação, refere-se à responsabilidade e

obrigação da escola em transmitir às famílias diretrizes pedagógicas sobre os

programas implementados e sobre os progressos e dificuldades dos alunos. A

qualidade da comunicação depende do tipo de abordagem que a escola pratica com

os pais, podendo promover comunicação nos dois sentidos e dirigindo a informação de

modo compreensível para todos os intervenientes com base numa linguagem simples,

recorrendo ainda a estratégias apelativas de participação.

O tipo 3, designado por voluntariado, diz respeito à participação voluntária de

pais, familiares e outros elementos da comunidade nas atividades escolares. Estas

atividades e projetos complementares são programados de modo a permitir o

envolvimento dos pais, adequando horários, dando formação e criando estruturas de

apoio diversificadas.

A aprendizagem em casa, tipo 4, baseia-se na parceria entre professores e

pais/família na dinamização de atividades que ajudem a melhorar as suas

aprendizagens. É um complemento da ação do professor que, em conjunto com os

pais, define estratégias para otimizar as aquisições do aluno. De certa forma pretende-

se, nesta modalidade, promover junto dos pais a aquisição de competências para

interagir positivamente com os seus filhos no que se refere às atividades escolares.

O tipo 5, que se refere à tomada de decisões, remete para uma participação já

num nível estrutural da própria escola em que os pais já fazem parte dos conselhos

pedagógicos, conselhos escolares, associação de pais, entre outros. Este nível de

participação não deve ter uma conotação de conflito mas sim de parceria em que

escola e família caminham no mesmo sentido com o objetivo de resolver ou minorar

problemas e, em contrapartida, otimizar recursos para melhorar as condições de vida

escolar dos alunos e filhos.

A colaboração com a comunidade, tipo 6, introduz parcerias comunitárias de

qualidade em que se pretende respostas mais abrangentes e onde se envolvam

agentes como: autarquias, empresas diversificadas, estruturas de apoio social, etc.

Esta interação será de grande relevo aquando da integração dos jovens numa

perspetiva profissional, na medida em que promove uma aproximação positiva e

permite a adequação da formação às necessidades existentes na comunidade

abrangente (Villas-Boas, 2001).

Considerando esta tipologia de participação, será válido refletir sobre a

qualidade do envolvimento parental nos nossos dias. Até que ponto os pais têm tempo

42

Villas-Boas, M. (2001). Escola e Família – Uma relação produtiva de aprendizagem em sociedades multiculturais. Lisboa: Escola Superior João de Deus.

Page 28: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

28

e qual o seu interesse em relação à escola? Que condições económicas, profissionais

e temporais têm para apoiar os seus filhos nas tarefas escolares? Que competências

consideram possuir para tal apoio? Estas serão algumas das questões que nos

permitem refletir sobre a importância de estruturar programas que promovam as

competências educativas parentais, que os ajudem a adequar as suas atitudes e

comportamentos em função do desenvolvimento dos seus filhos e que lhes deem

estímulo e confiança para participar na vida escolar de modo colaborativo e não

apenas de reivindicação.

Repete-se, assim, que a disciplina em contexto familiar pode assumir

modalidades diversas e estar, em parte, associada aos estilos parentais, sendo

pertinente constatar como são estabelecidas as regras, por quem e que métodos são

utilizados para as fazer cumprir. O mesmo se aplica à disciplina em contexto escolar,

demonstrando-se indispensável avaliar todos os fatores que concorrem para a sua

prevenção ou, pelo contrário, que possam potenciar indisciplina.

Percebe-se, desta forma, que é essencial refletir sobre a qualidade de parceria

existente entre Escola e Família, em que modalidade de participação decorre o

envolvimento dos pais na vida escolar dos filhos e que condições ou dificuldades

apresentam neste acompanhamento aos seus educandos. A pertinência de promover

formação para os pais na área das competências sociais educativas poderá colmatar

algumas dificuldades e promover uma intervenção parental, na escola, com maior

assertividade, potenciando os níveis de interesse dos pais.

Manifestamente, a prevenção da indisciplina e da violência requer a família e a

escola. Esta “deve assumir a sua responsabilidade na formação da consciência moral

dos jovens, quer através do tipo de conteúdos que ensina, quer através da maneira

como tais conteúdos são transmitidos” (Veiga, 1999: 9). Por outro lado, a família

assume um papel primordial na prevenção de condutas violentas, devendo para tal

estabelecer o diálogo com os filhos, ouvindo-os e procurando compreendê-los. Os pais

devem estar atentos aos sinais dos filhos, determinar limites e regras, supervisionar as

condutas dos mesmos e educar para a convivência. Parece então inequívoco

considerar de grande importância o incentivo à participação das famílias no processo

educativo dos seus filhos, estabelecendo relações efetivas de colaboração com a

comunidade. Por outro lado, convém não esquecer que a exposição a atitudes e

comportamentos violentos em casa é um fator determinante para a ocorrência de

comportamentos de violência nas escolas (Olweus, 1993). Reitera-se, desta forma, a

pertinência da abordagem desta relação, demonstrando-se ainda conveniente dotar os

pais de habilidades sociais educativas.

3- Combate e prevenção da violência e indisciplina na escola

Ao longo de todo o nosso trabalho são muitas as vezes que referimos a

importância de atuar no sentido do combate e da prevenção da violência e da

indisciplina escolares. Com efeito, é necessário ponderar algumas formas gerais de

atuação, no sentido de atingir o referido objetivo. Assim sendo, forneceremos de

seguida algumas pistas para o combate e prevenção da Violência Escolar, devendo as

mesmas ser analisadas em função da complexidade do problema em questão e da

realidade a que se direciona.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

29

Ora, em primeiro lugar, é indispensável compreender que a prevenção da

Violência pressupõe uma mudança fundamental no silêncio social, que tem vindo a

tolerar este problema. Deve encorajar-se a quebra do “segredo” perante situações de

violência, compreender as causas da mesma e intervir afetivamente com as crianças

vítimas de violência, oferecendo-lhes atitudes e comportamentos alternativos.

Nos aspetos organizacionais e pedagógicos, será relevante considerar a

perspetiva de Taborda-Simões, Formosinho e Fonseca (2007) 43 , que indicam

pormenorizadamente a influência dos fatores escolares na promoção de indisciplina e

violência escolares, salvaguardando a importância de estruturar escolas eficazes. A

proposta de implementação de programas que sejam eficazes no combate aos

problemas de indisciplina e violência escolar devem assentar numa reforma de

promoção e sucesso dos alunos e não apenas proceder à vigilância e/ou controlo da

violência existente. Uma intervenção adequada ao nível do aluno, das suas

problemáticas, bem como uma reformulação e adequação curricular, serão de extrema

importância. Como nota final, os autores salientam a pertinência de iniciar os

programas em idades precoces garantindo, assim, a sua eficácia.

Sprinthall e Sprinthall (1993) 44 expõem a disciplina numa abordagem

desenvolvimentista, considerando que não há soluções únicas para problemas

complexos. Deste modo, apresentam um quadro-síntese indicando os estádios de

desenvolvimento do aluno, considerando, para tal, outros autores como, os estádios

de desenvolvimento de Piaget, as questões de valores de Kohlberg e os temas

pessoais de Erikson. Enunciam, igualmente, as estratégias de intervenção (positivas e

negativas) para cada nível. O ajuste dos níveis de disciplina aos alunos é um aspeto

primordial, pressupondo que o professor deverá atuar com sanções adequadas ao

nível de desenvolvimento intelectual e moral dos alunos. Estes autores aprofundam

ainda as propostas de estratégias para a implementação da disciplina na sala de aula

com base em 4 questões:

1) Quem estabelece as regras?

2) Quem mantém as regras?

3) Como são aplicadas as regras?

4) Porque razões obedecem os alunos às regras?

Outro quadro síntese aponta algumas estratégias para os professores e o tipo

de sanção com base nestas quatro questões, considerando os níveis de disciplina.

Deste modo, os autores sugerem ao professor o tipo de intervenção mais adequada e

eficaz em função do comportamento inadequado e os métodos que podem ser

implementados de forma a adequar os níveis de disciplina aos alunos.

43

Taborda M. C., Vale Dias, M. L., Formosinho, M., & Fonseca, A. C.(2007). Adolescence –

Portugal. In J. J. Arnett et al. (Eds.), International Encyclopedia of Adolescence: A historical and cultural survey of young people around the world. (pp.795-812). New York: Routledge. 44

Sprinthall, N., Sprinthall, R. (1993). Psicologia Educacional – Uma abordagem Desenvolvimentista. Lisboa: McGraw-Hill

Page 30: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

30

A propósito deste assunto, o Secretariado Nacional da FENPROF (2008)

propõe algumas medidas pela não-violência e convivência escolares que, em nosso

entender, devem ser observadas. São elas:

A promoção, pelo Governo, com o envolvimento da Assembleia da República e

do Conselho Nacional de Educação, junto das escolas e das comunidades

educativas, de um amplo debate "Por uma Cultura de Paz e de Não-violência",

que saia do foro exclusivamente legal e que procure o estabelecimento de um

compromisso, envolvendo, designadamente, as famílias e as comunidades

educativas, em geral

A atribuição às Escolas e Agrupamentos de Escolas dos recursos humanos,

financeiros e materiais necessários para o desenvolvimento de planos de

atividade que concretizem os seus Projetos Educativos, designadamente, para

estabelecer condições de acompanhamento e de mediação entre a escola e a

família, respeitar a diversidade cultural, religiosa e étnica como forma de

combater fenómenos de xenofobia e racismo; efetivar a criação de equipas

multidisciplinares que favoreçam o acompanhamento do percurso escolar dos

alunos e a mediação de conflitos, desenvolver uma efetiva política de apoios

educativos a todos os alunos com necessidades educativas especiais

O desenvolvimento de uma política favorecedora da fruição da atividade

cultural e da prática de atividade física e desportiva, enquanto fatores de

excelência para a convivência social em contexto de vivência coletiva;

O apoio a planos anuais das Escolas e Agrupamentos de Escolas para o

desenvolvimento de projetos de promoção da Convivência Escolar

A garantia de apoio jurídico e judicial a todos os profissionais de educação

(professores e pessoal auxiliar) vítimas de violência física e verbal em contexto

escolar

O estabelecimento de regras de co-responsabilização das famílias, dos

professores e dos alunos relativamente à convivência, frequência e sucesso

escolares e educativos dos alunos

A integração nos planos de estudo da formação inicial de docentes da temática

da gestão de conflitos e da não-violência e convivência escolar

O alargamento da obrigatoriedade de frequência à educação pré-escolar e da

escolaridade obrigatória até ao 12.º ano

A consagração de uma política de combate à indisciplina e violência escolares,

de compromisso, partilhado, que envolva toda a sociedade portuguesa e que

favoreça o desenvolvimento da consciência social dos cidadãos perante o

problema

A formação contínua de professores nesta área seja considerada no conjunto

de prioridades de financiamento e que estas ações sejam relevantes para a

sua avaliação de desempenho, sendo-lhes atribuído o mesmo peso que às

ações de carácter científico-pedagógico.

Estas são algumas medidas sugeridas pela FENPROF que podem conduzir a um

clima propício que vise atingir o objetivo ensino-aprendizagem, constituindo

importantes pistas para a prevenção da violência nas escolas.

Deve-se, ainda, procurar construir projetos educativos alargados cuja eficácia seja

avaliada; promover mecanismos de aprendizagem e acesso ao saber, em especial

Page 31: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

31

para os alunos com dificuldades de aprendizagem; estabelecer laços com a

comunidade envolvente, permitindo e incentivando a sua participação no meio escolar,

não esquecendo a importância da atualização científica e pedagógica dos docentes

para a qualidade do ensino.

Page 32: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

32

Capítulo III- Escola Secundária Leal da Camara

1- Regulamento interno da escola: indisciplina e violência

“O Regulamento Interno do Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro –

constituído pela Escola Básica do 1.º ciclo com Jardim de Infância de Rio de Mouro

n.º1, Escola Básica do 1.º ciclo com Jardim de Infância de Rio de Mouro n.º 2, Escola

Básica do 1.º ciclo com Jardim de Infância da Serra das Minas n.º 2, Escola Básica do

1.º ciclo da Rinchoa n.º 2, Escola Básica do 2.º e 3.º ciclo Padre Alberto Neto (PAN),

Escola Secundária Leal da Câmara (ESLC). Pretende contribuir para uma

concretização responsável das metas traçadas no Projeto Educativo e dos objetivos e

estratégias apresentados no Plano Anual de Atividades, garantindo a democraticidade

e participação de toda a comunidade educativa na vida da Escola com propósitos

comuns: o sucesso escolar, baseado numa educação com valores, promovendo o

respeito e o convívio saudável entre todos intervenientes do processo educativo.

Disciplina

Constitui infração, passível da aplicação de medida corretiva ou medida

disciplinar sancionatória, a violação pelo aluno de algum dos deveres previstos no

artigo 10.º, da Lei n.º 51/2012, de 5 de setembro, e no presente Regulamento, em

termos que se revelem perturbadores do funcionamento normal das atividades da

Escola ou das relações no âmbito da comunidade educativa.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

33

Qualquer medida corretiva ou disciplinar sancionatória proposta deve:

Qualquer medida corretiva ou disciplinar sancionatória proposta

deve:

Ter finalidades preventivas, dissuasoras e de integração.

Revestir um carácter pedagógico, não ofender a integridade física ou psíquica do aluno, contribuir para o reforço da sua formação cívica e ser adequada aos seus objetivos de formação.

Qualquer medida corretiva ou disciplinar sancionatória proposta

visa:

Garantir o normal prosseguimento das atividades da escola e a correção do comportamento perturbador.

O cumprimento dos deveres do aluno, bem como a segurança de toda a comunidade educativa.

Na determinação da medida corretiva ou disciplinar sancionatória deve-se ter

em consideração a gravidade do incumprimento do dever, as circunstâncias em que

este se verificou, a intencionalidade da conduta do aluno, a sua maturidade, os

antecedentes disciplinares, o seu aproveitamento escolar, e demais condições

pessoais, familiares e sociais.

A- Medidas corretivas

1 – As medidas corretivas assumem uma natureza eminentemente preventiva.

2 – São medidas corretivas:

a) A advertência feita ao aluno, por qualquer professor ou funcionário não

docente, perante um comportamento irregular, alertando-o para a necessidade de

evitar tal tipo de conduta;

b) A ordem de saída da sala de aula, e demais locais onde se desenvolva o

trabalho escolar;

c) A realização de tarefas e atividades de integração na escola ou na

comunidade educativa;

d) O condicionamento no acesso a certos espaços escolares, ou na utilização

de certos materiais e equipamentos, sem prejuízo dos que se encontrem afetos a

atividades letivas;

e) A mudança de turma.

3 – A ordem de saída da sala de aula, e demais locais onde se desenvolva o trabalho

escolar, é da responsabilidade do professor, a quem compete:

(…)

b) Estabelecer o período de tempo durante o qual o aluno deve permanecer

fora da sala de aula;

c) Definir as atividades que o aluno deve desenvolver, se for caso disso, no

decurso desse período de tempo;

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

34

d) Marcar a falta ao aluno, que será considerada injustificada.

4 – Quando sujeito à medida referida no número anterior, o aluno tem de permanecer

na Escola.

(…)

6 – A aplicação das medidas previstas na alínea c, do número 2, é da competência do

diretor, ouvido o professor titular/diretor de turma, e destina-se a desenvolver

competências que promovam a inserção pessoal e social do aluno, podendo ser

concretizada no âmbito de:

Uma ou mais disciplinas,

Direção de turma,

AGIR, Tutoria, Educação Especial, Gabinete de Inserção Profissional, do

Serviço de Psicologia e Orientação, de projetos, núcleos, clubes/oficinas

existentes na escola.

7 – As tarefas e atividades de integração poderão, ainda, ser realizadas:

Noutros locais da escola, em articulação com o AGIR e o Gab. Gestão de

Conflitos, na comunidade educativa, em articulação com a Equipa de Ação

Social e com o Gab. Gestão de Conflitos.

8 – A aplicação no decurso do mesmo ano letivo e ao mesmo aluno da medida

corretiva de ordem de saída da sala de aula pela terceira vez, por parte do mesmo

professor, ou pela quinta vez, independentemente do professor que a aplicou, implica

a análise da situação em Grupo de Ano/Conselho de Turma.

9 – A aplicação da medida prevista na alínea d, do número 2, é da competência do

diretor, ouvido o professor titular/diretor de turma e o responsável pelo espaço ou

equipamentos em causa, a quem cabe estabelecer as restrições no acesso, bem

como o período de tempo em que a medida irá ser aplicada.

10 – A aplicação da mudança de turma é da competência do diretor por sua iniciativa,

por solicitação do professor/diretor de turma, quer em representação do Conselho de

Turma, quer do encarregado de educação ou do aluno quando maior de idade.

11 – Consoante a natureza da medida, esta pode ser formalizada através de protocolo

estabelecido com o aluno e o encarregado de educação, de modo a tornar mais

relevantes os efeitos da sua aplicação:

As estratégias acordadas devem ser devidamente registadas em impresso

próprio.

12 – Quando aplicadas as medidas corretivas previstas da alínea b à alínea e, do

número 2, terá de ser dado conhecimento das circunstâncias que determinaram a sua

aplicação:

a) Ao diretor de turma, quando não for de sua iniciativa;

b) Ao encarregado de educação, pelo diretor de turma.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

35

13 – A realização de tarefas e atividades prevista na alínea c, do número 2, será

acompanhada pelos pais ou encarregados de educação ou por entidade local,

podendo determinar o aumento do período letivo do aluno:

(…)

Até ao limite máximo de dois tempos letivos semanais (secundário).

14 – O período de tempo durante o qual uma medida é aplicada pode variar até ao

limite máximo de um ano letivo.

15 – Os efeitos da aplicação de medidas corretivas deverão ser avaliados.

16 – Caso não cumpra as medidas corretivas que lhe tenham sido propostas, o aluno

poderá incorrer em procedimento disciplinar.

B- Medidas disciplinares sancionatórias

1– As medidas disciplinares traduzem uma censura sancionatória a um

comportamento assumido pelo aluno.

2 – São medidas disciplinares sancionatórias:

a) A repreensão registada;

b) A suspensão da Escola até 3 dias;

c) A suspensão da Escola entre 4 e 12 dias úteis;

d) A transferência de escola (para alunos de idade igual ou superior a 10 anos);

e) A expulsão da escola

3- A decisão da aplicação da medida disciplinar sancionatória de repreensão registada

é da competência do professor respetivo, quando a infração for praticada na sala de

aula, ou do diretor, nas restantes situações.

4- A aplicação da medida disciplinar sancionatória de repreensão registada deve ser

comunicada, por escrito:

a) Ao professor titular/diretor de turma o qual deve informar o encarregado de

educação;

b) Ao coordenar de estabelecimento/diretor, a quem compete mandá-la registar

no processo individual do aluno.

5 – Da repreensão registada deverão constar os seguintes elementos:

Identificação do autor da repreensão,

Data em que a repreensão foi decidida,

Fundamentação de facto e de direito que norteou a decisão.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

36

6 – A aplicação da medida disciplinar sancionatória de suspensão da escola até três

dias é da competência do diretor após o exercício dos direitos de audiência e defesa

do visado.

7 – Compete ao diretor, ouvidos os pais ou encarregado de educação do aluno,

quando menor de idade, fixar os termos e condições em que a aplicação da medida

disciplinar sancionatória referida no número anterior é executada, garantindo ao aluno

um plano de atividades pedagógicas a realizar.

8 – A aplicação da medida disciplinar sancionatória de suspensão da escola de 4 até

12 dias úteis, num máximo de três dias no caso dos alunos do 1.º ciclo, é da

competência do diretor, após realização de procedimento disciplinar, podendo este,

previamente, ouvir o professor titular/Grupo de Ano/Conselho de Turma.

A decisão de aplicar esta medida é precedida da audição em auto do aluno

visado, nos termos previstos na lei.

9 – Compete ao diretor, de acordo com o estabelecido no artigo 28.º, da Lei

n.º51/2012, de 5 de setembro, fixar os termos e as condições em que a aplicação da

suspensão será executada, garantindo ao aluno um plano de atividades pedagógicas

a realizar.

10 – As atividades pedagógicas referidas nas medidas sancionatórias de suspensão

da escola são estabelecidas pelo Grupo de Ano/Conselho de Turma e têm como

objetivo facilitar a recuperação de aprendizagens, quando o aluno retomar o seu

percurso normal.

11 – O Grupo de Ano/Conselho de Turma deve ponderar a possibilidade de realização

de momentos de avaliação sumativa alternativos, após o cumprimento dos dias de

suspensão.

12 – O não cumprimento do plano de atividades pedagógicas a que se refere o

número 10 pode dar lugar à instauração de novo procedimento disciplinar,

considerando-se a recusa circunstância agravante.

13- As faltas dadas pelo aluno no decurso do período de aplicação da medida

disciplinar de suspensão da escola até 12 dias úteis são consideradas faltas

injustificadas, produzindo os mesmos efeitos que estas.

14 – As faltas dadas em virtude da suspensão aplicada contarão apenas para efeitos

estatísticos no caso de o aluno ser suspenso preventivamente e se a decisão final não

imputar ao aluno qualquer culpa.

15– No caso de o aluno ser suspenso preventivamente, e se a decisão final implicar

um número de faltas inferior ao número de faltas dadas em virtude da suspensão

preventiva, as faltas remanescentes serão consideradas faltas justificadas.

16 – A aplicação da medida disciplinar sancionatória de transferência da escola,

reporta-se à prática de factos notoriamente impedidos do prosseguimento do processo

de ensino-aprendizagem dos restantes alunos da escola, ou do normal relacionamento

do aulo com membros da comunidade educativa.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

37

17 – A aplicação da medida disciplinar sancionatória de transferência de escola é da

competência do diretor-geral de educação.

18 – A aplicação da medida disciplinar sancionatória de expulsão da escola é aplicada

ao aluno maior quando se constate não haver outra medida no sentido do

cumprimento dos seus deveres como aluno.

19 – A aplicação da medida disciplinar sancionatória referida no número anterior

consiste na retenção do aluno no ano de escolaridade que frequenta e na proibição de

acesso ao espaço escolar até ao final daquele ano escolar e nos dois anos escolares

imediatamente seguintes.

20 – A medida disciplinar de expulsão da escola compete ao diretor-geral da

educação.

21 – Complementarmente às medidas previstas no número 2, compete ao diretor

decidir sobre a reparação dos danos, substituição de bens lesados ou indemnização

de prejuízos causado.

C- Cumulação de medidas corretivas/disciplinares sancionatórias

1 – A aplicação das medidas corretivas previstas é cumulável entre si.

2 – A aplicação de uma ou mais das medidas corretivas é cumulável apenas com a

aplicação de uma medida disciplinar sancionatória.

3 – Por cada infração apenas pode ser aplicada uma medida disciplinar sancionatória.

D- Procedimento Disciplinar

1 – A instauração e a instrução do procedimento disciplinar rege-se pelo disposto nos

artigos 30.º e 31.º, da Lei n.º 51/ 2012, de 5 de setembro:

a) Qualquer elemento da comunidade escolar que entenda que um

comportamento é passível de ser qualificado de grave ou de muito grave participa-o:

(…)

Ao diretor de turma que, depois de analisada a ocorrência, dela dará

conhecimento ao diretor, para efeitos de procedimento disciplinar (ensino

secundário);

b) No momento da instauração do procedimento disciplinar, o aluno pode ser

suspenso preventivamente da frequência da escola, mediante despacho

fundamentado do diretor, sempre que:

A sua presença se revele gravemente perturbadora do normal funcionamento

das atividades da escola,

Tal seja necessário e adequado à garantia da paz pública e da tranquilidade

na escola

Page 38: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

38

A sua presença se revele gravemente perturbadora da instrução do

procedimento disciplinar;

c) A suspensão preventiva tem a duração que o diretor considerar adequada na

situação em concreto, sem prejuízo de, por razões devidamente fundamentadas,

poder ser prorrogada até à data da decisão do procedimento disciplinar, não podendo,

em qualquer caso, exceder 10 dias úteis;

d) O encarregado de educação é imediatamente informado da suspensão

preventiva aplicada ao seu educando e, sempre que a avaliação que fizer das

circunstâncias o aconselhe, o diretor deve participar a ocorrência à respetiva comissão

de proteção de crianças e jovens;

e) Aquando da aplicação da medida de suspensão preventiva, o Conselho de

Turma procederá conforme o estabelecido nos números 14 e 15 da alínea b, Medidas

Disciplinares Sancionatórias;

f) Concluída a instrução do procedimento disciplinar será entregue cópia da

acusação ao aluno no momento da sua notificação, sendo de tal facto informado o

respetivo encarregado de educação;

g) A instrução do procedimento disciplinar é efetuada no prazo máximo de 6 dias

úteis, contados da data de notificação ao instrutor, sendo obrigatoriamente realizada,

para além das demais diligências consideradas necessárias, a audiência oral dos

interessados, em particular do aluno e do respetivo encarregado de educação;

h) No caso de o encarregado de educação não comparecer à audiência dos

interessados, o aluno menor de idade pode ser ouvido na presença de um docente por

si livremente escolhido e do diretor de turma ou, no impedimento deste, por outro

professor da turma designado pelo diretor;

i) Finda a instrução, o instrutor elabora e remete ao diretor, no prazo de 3 dias

úteis, o relatório final de acordo com o disposto da alínea a à alínea d do n.º 9, do Art.º

30.º, da Lei n.º 51/2012, de 5 de setembro.

2 – A instrução do procedimento disciplinar pode ser substituída, a pedido do aluno

maior de 12 anos, pelo reconhecimento individual, consciente e livre dos factos, de

acordo com o disposto no Art.º 31.º, da Lei n.º 51/2012, de 5 de setembro.

3 – A medida disciplinar sancionatória só será tornada pública se o diretor entender

que essa divulgação reveste caráter pedagógico.

E- Equipas Multidisciplinares

1 – Para efeitos de acompanhamento permanente aos alunos que revelem maiores

dificuldades de aprendizagem, risco de abandono escolar, comportamentos de risco

ou gravemente violadores dos deveres do aluno ou se encontrem na iminência de

ultrapassar os limites de faltas, definidos por lei, é constituída uma equipa

multidisciplinar.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

39

2 – A equipa a que refere o número anterior é composta por docentes, técnicos

detentores de formação especializada, diretores de turma, professores tutores,

serviços de ação social escolar e outros definir pelo diretor.

3 – Os membros da equipa multidisciplinar são escolhidos em função do seu perfil,

competência técnica, capacidade de liderança e motivação para o exercício da

missão.

4 – A equipa multidisciplinar é coordenada por um dos seus elementos, designado

pelo diretor, de acordo com o n.º4 do art.º 35.º da Lei n.º 51/2012, de 5 de setembro).

5 – A atuação da equipa multidisciplinar prossegue os objetivos previstos no número 5,

do art.º 35.º, da Lei n.º 51/2012, de 5 de setembro. “

Documento retirado e adaptado do Regulamento Interno do Agrupamento de escolas

de Rio de Mouro

2- Projeto educativo da escola: indisciplina e violência

“O atual Projeto Educativo encara a missão da Escola como sendo a de formar

cidadãos esclarecidos, autónomos e socialmente intervenientes, com capacidade de

apreender a conhecer, a fazer, a conviver ao longo da vida.”

“A escola dispõe de um conjunto alargado de serviços e atividades destinadas a

assegurar condições que propiciem e apoiem o desenvolvimento escolar e pessoal

dos alunos, a partir de diferentes valências:

Gabinete de Apoio ao Aluno (GAA):

- Provedoria do Aluno

- Tutoria

- Sala de estudo (componente curricular)

- Projeto de Educação para a Saude (PES)

Serviços Especializados de Apoio Educativo:

- Núcleo de Educação Especial

- Gabinete de Inserção Profissional (GIP)

- Ação Social Escolar

- CRE/ Plano TIC

Outros recursos e projetos:

-Plataforma de Apoio à Distância (Moodle)

Page 40: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

40

-Projeto Partilhar Futuros

- Projeto de Turma (10º ano)

(…)

Tutoria

As diversas experiências vivenciais e as expectativas que os nossos alunos

transportam para a Escola são, algumas vezes, perturbadoras de uma normal

integração na comunidade escolar. É neste contexto que se justifica esta valência da

Escola, enquanto serviço do Gabinete de Apoio ao Aluno.

A função essencial do professor tutor é a de construir uma relação com o aluno

e ajudá-lo a desenvolver potencialidades que lhe permitam superar e resolver

problemas ou conflitos pessoais e interpessoais. O fim último da tutoria é assim o de

contribuir para a formação integral do jovem, enquanto aluno e pessoa, no sentido de

favorecer e apoiar a construção da sua identidade, bem como a sua integração na

Escola.

Nesta perspetiva, é necessário divulgar junto dos alunos e encarregados de

educação esta valência do GAA, em particular no âmbito da direção de turma.

(…)

Projeto de Educação para a Saúde

A escola é um espaço de educação para uma cidadania ativa, dela fazendo

parte a consciência dos direitos e deveres de cada indivíduo. Neste âmbito, a

Educação para a Saúde constitui-se como uma das prioridades a incluir neste

documento de identidade de Escola. O Projeto de Educação para a Saúde (PES) é já

uma realidade na nossa comunidade educativa, pretendendo-se estabelecer como

uma referência permanente ao longo da vida dos nossos jovens. Neste sentido,

procura contribuir para o desenvolvimento pessoal e para a construção de relações

saudáveis entre e nos indivíduos. (…) “

Documento retirado e adaptado do Projeto Educativo de Rio de Mouro

Page 41: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

41

Etapa III – A problemática

“ A problemática é a abordagem ou a perspetiva teórica que decidimos adotar para

tratarmos o problema formulado pela pergunta de partida. Deve responder à pergunta

“Como vou abordar este fenómeno?”

Quivy, Raymond

Page 42: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

42

A problemática

Ao longo da parte exploratória mencionámos, várias vezes, de que forma as

características da família, da escola e do aluno, assim como questões sociais, podem

influenciar a formação do jovem e como estas se podem repercutir em

comportamentos desviantes ou conformistas.

A família assume um papel preponderante, uma vez que é no seio familiar que

os alunos adquirem os modelos de comportamento que exteriorizam na sociedade,

neste caso, nas aulas (socialização primária).

No que diz respeito ao papel da escola, este advém do processo de

socialização secundária que prepara o aluno para futuras relações decorrentes ao

longo da sua vida, que fornece aos alunos os padrões de conhecimento dos grupos de

referência e prepara-os para futuras interações sociais. Desta forma, as características

da escola, bem como os seus aspetos organizacionais e pedagógicos, irão influenciar

o comportamento dos alunos.

As características psicológicas do aluno poderão, também, ser causa de

indisciplina, violência e delinquência na escola.

Por fim, as questões sociais prendem-se com aspetos da vivência social dos

alunos que poderão apresentar referências de regras e valores diferentes dos que são

exigidos na escola, como é o caso de alunos provenientes de outras sociedades e/ou

culturas.

No capítulo seguinte, na etapa da Observação, iremos tentar ver respondidas

questões de diferente natureza que poderão causar indisciplina no espaço escolar -

natureza familiar e escolar , através das seguintes hipóteses:

Natureza familiar:

1. Relacionar a indisciplina na escola com a falta de valores e normas incutidos

pela família - processo de socialização primária;

2. De que forma o ambiente familiar (estilos parentais e novos tipos de família,

violência em contexto familiar, problemas de comunicação…) influencia a

indisciplina ou o comportamento do aluno na escola

Natureza escolar:

1. Serão as regras da escola (regulamento interno) suficientes e acatadas pela

comunidade escolar;

2. Avaliar a importância das aulas de PT (Projeto de Turma);

3. Avaliar a importância do trabalho do Diretor de Turma;

4. Relacionar os aspetos organizacionais da escola (organização da turma,

horários e dos espaços educativos) com a indisciplina e violência escolares:

Em que turno se registam maiores situações conflituosas?

Manhã ou tarde?

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

43

Critérios de realização das turmas;

5. Relacionar os aspetos pedagógicos (modos de atuação dos professores com a

indisciplina na escola).

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

44

Etapa IV – Modelo de Análise

“O trabalho exploratório traz perspetivas e ideias que devem ser traduzidas numa

linguagem e formas que permitam o trabalho sistemático de análise e recolha de

dados de observação ou experimentação. A fase da construção do modelo de

análise constitui a charneira entre a problemática fixada e o trabalho de

elucidação sobre um campo de análise restrito e preciso.”

Quivy, Raymond

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

45

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

46

´

Etapa V – Observação

“ A observação engloba o conjunto das operações através das quais o modelo de análise

(constituído por hipóteses e conceitos) é submetido ao teste dos factos e confrontado

com dados observáveis. Devemos responder às três perguntas seguintes: observar o

quê? Em quem? Como?”

Quivy, Raymond

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

47

Depois da construção do modelo de análise, passamos agora para a

observação da realidade da indisciplina e violência na escola. De forma a romper com

obstáculos epistemológicos e podermos obter uma noção da realidade deste

fenómeno, vamos escolher a melhor forma de responder a perguntas “Observar o

quê? Em quem? Como?” escolhendo o método e técnica de investigação que melhor

se adequa a nossa investigação.

Existem 3 métodos de investigação: intensiva, extensiva e investigação-

ação.

A investigação intensiva é utilizada em estudos que analisam grupos de

dimensão reduzida, privilegia-se a abordagem direta das pessoas nos seus próprios

contextos de interação, através da observação participante ou não. Uma estratégia de

investigação deve ser de carácter intensivo quando o universo a estudar é de pequena

dimensão, pois só desta forma é que o sociólogo pode recorrer a uma multiplicidade

de técnicas que lhe permitam estabelecer um contacto direto com a população em

estudo.

A investigação extensiva utilizada em estudos que analisam grupos de

dimensão muito grande, tem de se formar e aplicar um inquérito por questionário a

uma amostra representativa do universo, devido à sua grande dimensão que não

permite o contacto direto com toda a população do universo do estudo, permitindo a

generalização das suas conclusões ao mesmo. Uma estratégia de investigação não

pode ser de carácter intensivo quando o universo a estudar é de grande dimensão,

porque, sendo a população muito numerosa, o investigador não consegue ter contacto

direto com todos os seus elementos. Para resolver este problema há que se optar por

um carácter extensivo, constituindo-se um subgrupo representativo da população a

estudar que seja representativa do universo de estudo, isto é, que apresente uma

composição e características idênticas a ele – amostra. Desta forma, o sociólogo

poderá aplicar, nessa amostra, o inquérito por questionário que ia utilizar no universo

do estudo. Após a recolha e tratamento das informações recolhidas, os resultados

poderão ser generalizados ao universo do estudo.

Na investigação-ação, o investigador é simultaneamente Actor, pois envolve-se

diretamente com o grupo que vai analisar, aplicando diretamente os conhecimentos

produzidos.

Em ciências socias as técnicas de pesquisa podem ser: documentais e não

documentais. As técnicas de pesquisa documentais podem ser clássicas ou modernas

(análise de conteúdo), e as técnicas não documentais são: observação não

participante (entrevistas e inquérito por questionário); observação participante;

experimentação.

No âmbito da temática do nosso trabalho, obtemos por realizar uma

investigação intensiva e extensiva. Com a utilização das técnicas de pesquisa

documentais (modernas) e não documentais (observação não participante).

Page 48: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

48

Pelo método de investigação intensiva, vamos utilizar a estratégia denominada por

entrevista e, com esta, pretendemos avaliar numa prespetiva pessoal de alguns

órgãos da comunidade escolar, de que forma a indisciplina e violência na escola

afetam o bom funcionamento da escola. Para isso, iremos realizar entrevistas a

determinados órgãos da comunidade escolar, como:

Diretor do Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro;

Profª Adjunta do Concelho Diretivo do agrupamento responsável pelos

alunos;

Professor do Gabinete de Gestão de Conflitos (GGC);

Professor responsável pela Tutoria

Coordenadora dos Diretores de Turma de 10º ano – Disciplina PT;

Presidente do Conselho Geral;

Em termos globais, o objetivo de qualquer entrevista é abrir a área livre dos

dois interlocutores no que respeita à matéria da entrevista, reduzindo, por

consequência, a área secreta do entrevistado e a área cega do entrevistado.

Apresentamos, agora, as vantagens e desvantagens desta estratégia de

investigação:

Vantagens Desvantagens

Permite estudos profundos;

É menos útil para realizar uma generalização do estudo;

Ganha-se em profundidade mas perde-se em extensividade;

Técnica flexível, permite maior entendimento entre o

entrevistador e o entrevistado

As respostas podem ser influenciadas devido à intervenção direta do

investigador.

Também pelo recurso ao método intensivo de forma a obtermos uma análise

mais aprofundada da indisciplina e violência na escola decidimos através da técnica

de investigação documental moderna analisar o documento “Ocorrências disciplinares

participadas pelo DTs na Direção no presente ano letivo (2013/14)”. De seguida

apresentamos as vantagens e desvantagens deste processo de análise:

Vantagens Desvantagens

Recolhe informação diversa de acordo com as características do documento;

Depende muito da verosimilhança

das fontes, da sua qualidade, representatividade;

Recolhe informação muito abrangente (estatísticas, por exemplo) quer sobre

informação em profundidade;

A quantidade de informação, em geral, é enorme e dispersa, o que exige tratamento mais democrático;

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

49

Por outro lado, de forma a obtermos uma prespetiva dos alunos e professores

do agrupamento, optámos pela realização de outra estratégia, denominada por

questionário que se enquadra também no método de investigação extensiva, acima

explicado.

Desta forma, um questionário distingue-se de uma entrevista pelo facto do

investigador e inquiridos não interagirem diretamente.

As vantagens e desvantagens desta técnica de investigação assentam em:

Vantagens Desvantagens

Recolha de informação de grande número

de indivíduos;

O material recolhido é pouco profundo;

Não se fica a conhecer o que as pessoas realmente pensam.

Permite comparações precisas sobre

respostas;

Possibilita a generalização dos resultados da amostra à generalidade da população

(estuda regularidades)

Para a elaboração de um questionário devem ser seguidas oito etapas:

1. Definição do objetivo do inquérito e das hipóteses de trabalho (referência

obrigatória a uma problemática teórica);

2. Determinação do universo e construção da amostra;

3. Elaboração do guião do questionário;

4. Aplicação de um pré-teste para detetar erros;

5. Formação dos indicadores (Caso não seja o próprio investigador a administrar

o inquérito) e aplicação concreta dos questionários;

6. Tratamento da informação recolhida (o que implica a codificação das perguntas

e a eventual aplicação de medidas e testes estatísticos);

7. Análise das informações;

8. Redação do relatório final.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

50

Aquando da construção do questionário há também vários aspetos que se devem

ter em conta:

Quanto às perguntas:

Reduzidas ao Q.B.;

Tanto quanto possível fechadas;

Compreensíveis para os respondentes;

Não ambíguas;

Evitar indiscrições gratuitas;

Confirmar-se mutuamente;

Abrangerem todos os pontos a questionar;

Relevantes relativamente à experiência do inquirido.

Quanto à apresentação do questionário:

Apresentação do investigador;

Apresentação do tema;

Instruções precisas quanto ao seu preenchimento;

Envelope selado para resposta;

Qualidade e cor do papel;

Disposição gráfica;

Quadros;

Número de folhas.

Após escolher a metodologia a utilizar é necessário:

Definir a população em estudo;

Determinar a dimensão da amostra;

Selecionar a amostra;

A amostra que pretendemos realizar é a amostragem probabilística - a seleção

dos elementos que vão fazer parte da amostra é realizada aleatoriamente. Dentro

desta deve-se optar pela amostragem estratificada: a seleção da amostra é feita de

forma que subgrupos ou estratos identificados na população estejam representados na

amostra em proporção idêntica à que existe na população em estudo. Os elementos

pertencentes a cada um dos estratos, depois de numerados deverão ser relacionados

aleatoriamente. (Carmo & Ferreira, 1998).

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

51

Base de Sondagem alunos:

A base de sondagem de alunos que vamos utilizar na aplicação dos inquéritos será de

5%.

Quadro 1 - Base de sondagem alunos

Quadro 2 - Base sondagem alunos 5%

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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Base de Sondagem Professores:

A base de sondagem de professores que vamos utilizar na aplicação dos inquéritos

será de 20%.

´

Quadro 3 - Base sondagem professores

Quadro 4 - Base sondagem professores 20%

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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Etapa VI – A Análise das Informações

“ O objetivo da investigação é responder à pergunta de partida. Para este efeito, o

investigador formula hipóteses e procede às observações que elas exigem. Trata-se, em

seguida, de verificar se as informações recolhidas correspondem de facto às hipóteses. O

primeiro objetivo desta fase é, portanto a observação empírica.

Mas a realidade é mais rica e mais matizada do que as hipóteses que elaboramos

a seu respeito. Uma observação séria revela frequentemente outros factos além dos

esperados e outras relações que não devemos negligenciar. Por conseguinte, a análise

das informações tem uma segunda função: interpretar estes factos inesperados e rever ou

afinar as hipóteses para que, nas conclusões, o investigador esteja em condições de

sugerir aperfeiçoamentos do seu modelo de análise ou de propor pistas de reflexão e de

investigação para o futuro. É o segundo objetivo desta nova etapa.

Uma vez mais, partiremos aqui de um exemplo concreto, de forma que os

princípios de aplicação desta etapa apareçam claramente. A partir deste exemplo poderão

ser precisadas as três operações da análise das informações. Finalmente, será

apresentado um panorama dos principais métodos de análise das informações. Assim, ao

longo desta etapa serão progressivamente retirados ensinamentos generalizáveis, que

poderão ser aplicados no âmbito de investigações muito diferentes.”

Quivy, Raymond

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

54

Capítulo IV- Investigação Intensiva

1- Entrevista

1. Quais são os casos de indisciplina e violência que mais o preocupam no

agrupamento?

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“São os casos de alunos que normalmente não tem o devido acompanhamento das

suas famílias, porque a escola, obviamente, têm uma função formativa antes de

qualquer outro tipo de ação mais punitiva e portanto são os casos em que, de facto, os

alunos não tem o devido acompanhamento para que o efeito das medidas, quer sejam

medidas corretivas, quer sejam medidas sancionatórias, possam ter efeitos na sua

formação e na alteração dos seus comportamentos e das suas atitudes.

Especificamente a violência, aquela que resulta do consumo ou do tráfico de

estupefacientes, de substâncias psicoativas, ou aquela que resulta de Bullying ou de

violência verbal contra outros alunos, contra professores ou funcionários.”

Presidente do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro:

“Tenho conhecimento oficial de alguns casos de indisciplina, que não são muito

graves, pelo menos este ano as coisas melhorara (…). Aqui na escola, eu tenho um

bocadinho a ideia que esta escola é de brandos costumes, portanto, esta escola têm

uma tradição de disciplina de ordem, sempre teve, apesar de sempre existir um ou

dois casos de indisciplina. Existem picos de alguns problemas, depois há casos mais

isolados, um aluno que fez uma coisa numa aula, ou pronto teve uma atitude incorreta

com o professor, dois alunos que andaram a pancada assim coisas mais pontuais.

Mas tenho nenhuma ideia de que, e se calhar vocês também têm, que esta escola é

dentro dos portões uma escola segura e sem problemas graves de indisciplina.”

Professor do Gabinete de Gestão de Conflitos (GGC):

“São os casos dentro da sala de aula. Há casos de indisciplina e violência fora da sala

de aula, mas são sempre num contexto diferente, uma coisa é dizer-se asneiras ou

ser-se violento para um colega, uma bofetada ou qualquer coisa do género, ou até ser-

se mal-educado para uma contínua ou para com um professor fora da sala de aula, o

contexto é diferente, é um contexto muito mais amplo, enquanto num espaço pequeno

em que as pessoas mais concentradas, quando essa situações sucedem e têm

sucedido cada vez mais, infelizmente, isso é pôr em causa os colegas, o professor, ou

seja, pior ainda que tudo é pôr em causa a instituição escola, que não devia ser posta

em causa, e é muito preocupante, porque nos apercebemos que já não é só uma

questão de ocasião, é um espaço aberto, é uma situação em que se corrompe

totalmente a situação de respeito que devia haver, para consigo próprio

inclusivamente, isso é que me preocupa.”

Professora Adjunta da Direção Responsável pelos Alunos:

“A indisciplina sobretudo dentro da sala de aula, que é o que tem vindo a acontecer

com maior frequência, embora já tenham existido casos de violência no exterior mas,

os mais preocupantes são aqueles que decorrem dentro do espaço da sala de aula.

Estes têm acontecido com mais frequência, desde falta de respeito para com os

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

55

professores e, sobretudo, a nível de turma que se começam a desencadear como um

efeito dominó: dois ou três alunos que se portam mal e o efeito depois alastra-se à

turma. Isso é bastante preocupante. Ou o professor “trava” logo, se consegue

identificar os alunos causadores desses problemas ou, se não, o efeito alastra-se.”

Podemos concluir que os casos mais preocupantes são os que ocorrem dentro da

sala de aula e põem em causa o valor desta instituição, constituída por uma

comunidade, que sem dúvida merece ser respeitada. A ESLC (Escola Secundaria Leal

da Câmara) é uma escola segura e os casos que podem oferecer maior resistência

são aqueles em que os educandos não são devidamente acompanhados pela sua

família, uma vez que a escola tem maior dificuldade em levar a sua mensagem ao

principal contexto de socialização, o contexto familiar.

2. Considera que os casos de indisciplina podem pôr em causa qualidade

do ensino?

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“Pode, sem dúvida, pôr em causa a qualidade do ensino, porque num ambiente de

tensão, num ambiente de grande agitação não há concentração necessária para que

todos possam aprender, sobretudo aqueles que tem mais dificuldades de

aprendizagem, mais dificuldades em acompanhar o que se esta a fazer na aula.

Portanto, num ambiente de maior perturbação, de barulho, de mais agitação é mais

difícil aprender.”

Presidente do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro:

“Há uma coisa que esta ligada a indisciplina, que é uma coisa que até me preocupa

mais agora, que é a questão da autoridade. Eu acho que por vários motivos que a

sociedade desacredita um bocadinho da escola, daquilo que é a escola oficial, acho

que os políticos desacreditam, os jornalistas também desacreditam, os pais também,

na onda, desacreditam e eu acho que é uma coisa que é problemática para todos nós,

não há uma grande autoridade, não é prestigiante andar numa escola pública, ser

professor, o ensino português é um ensino que não está prestigiado. (…) Eu acho que

os alunos, professores e auxiliares deviam revoltar-se um bocadinho, pois vocês têm

experiencia que acontecem coisas espetaculares nas escolas, coisas ótimas, aulas de

excelente qualidade, que há professores de excelente qualidade, alunos de excelente

qualidade eu acho que quase tudo o que acontece é bom. Depois há pontualmente,

como em todos os sítios, algumas coisas que passam lá para fora que isto não tem

qualidade, que os professores não trabalham muito, que os alunos não querem fazer

nada. (…) Ficamos desacreditados, tristes, perdemos a noção da hierarquia,

perdemos o brio que teríamos em fazer as coisas e isso cria uma indisciplina que é já

ninguém acredita na escola, nos professores, tudo é possível, tudo é válido, eu acho

que isso é o mais grave.”

Professor do Gabinete de Gestão de Conflitos (GGC):

“Põem definitivamente em causa a qualidade do ensino, isso está provado que põe,

repare que um miúdo que, puro e simplesmente, é agressivo para com colegas,

professor, numa situação dentro de uma sala de aula, é um miúdo que, puro e

simplesmente, não respeita a situação em que está, ou seja, ele não respeita a escola

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

56

e, portanto, se não respeita a escola nos seus representantes máximos que são os

professores dentro da sala de aula, a partir daí ele próprio já está desligado da

instituição escolar, daquilo que se aprende na instituição escolar e ele, se calhar já não

acredita, a maior parte dos miúdos e os pais dos miúdos, não acreditam na escola.”

Professora Adjunta da Direção Responsável pelos Alunos:

“Afetam principalmente as turmas. Numa turma onde haja casos de indisciplina, a

aprendizagem é menor, o aproveitamento é muito menor. No que diz respeito à

violência, que por sua vez é um conceito dúbio; relativamente à violência física, só

houve dois casos em que os alunos se agrediram mas fora do espaço da sala de aula.

Os restantes casos afetam principalmente o aproveitamento das turmas e os

professores não têm o dever de dar aulas a pessoas que se portam mal. Ninguém

merece isso, e é uma falta de respeito para com o trabalho dos outros.”

Sem dúvida que os casos de indisciplina põem em causa a qualidade do ensino,

na medida em que não havendo um ambiente de aprendizagem ideal, existe maior

dificuldade na aprendizagem. Outra perspetiva é o facto de os casos de indisciplina

representarem um desrespeito pelo trabalho dos professores, colegas e funcionários,

levando a pôr em causa a qualidade do ensino. Todas as situações indesejáveis que

acontecem na instituição escolar levam a que se deixe de acreditar na escola.

3. Como devem ser tratados os casos de indisciplina?

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“Depende, nós normalmente numa primeira fase, o próprio professor dentro da sala

procura que o aluno tenha outra atitude, outro comportamento. Quando isso não

acontece normalmente o diretor de turma é chamado a intervir, fala como os

encarregados de educação, enfim, digamos, há aqui um conjunto de degraus até se

chegar ao limite que é por exemplo uma medida sancionatória porque há medidas

corretivas antes das medidas sancionatórias. Nós procuramos, digamos, evitar que a

escola seja um tribunal ou que tenha apenas um papel ou uma função punitiva,

portanto, procuramos que de facto aquele comportamento seja alterado, que seja

mudado, e que o aluno reconheça que de facto agiu mal e que deve agir de outra

forma, portanto, procuramos sempre ir por esse caminho, nem sempre isso acontece,

infelizmente.”

Presidente do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro:

“Há um processo, uma participação, eu acho que o professor deve sempre tentar

resolver os casos de indisciplina que tem e eu acho que é há professores aqui que

nunca tiveram um caso de indisciplina, eu nunca tive um caso de indisciplina, isto quer

dizer que os professores em primeiro lugar, sabem resolver os seus assuntos e há

sempre uma ação primeiro que é a do professor. Se o professor consegue resolver, o

aluno fez um disparate, fez uma coisa que até é grave, mas o professor é mais velho e

têm mais experiencia tolera um bocadinho, ou apanha o aluno no intervalo e fala com

ele e explica-lhe, e há por isso, um tipo de ação que pode ser resolvido e a maior parte

das pessoas resolvem quase todas as ações assim, e é bom. Depois, há outros casos

um bocadinho mais graves e aí passa por uma participação disciplinar, de um

professor ou diretor de turma, e depois o diretor de turma acaba por desencadear um

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

57

processo, se o assunto é muito grave o diretor pode logo tomar medidas pode logo por

exemplo aplicar suspensão até 3 dias, medidas que pode tomar de imediato

praticamente sem consultar ninguém, uma repreensão também é uma coisa que ele

pode fazer de imediato, mas se for mais grave normalmente é aberto um processo

disciplinar, e depois há pessoas que defendem os interesses dos alunos, outras dos

professores que tentam averiguar a verdade, e depois têm de apresentar ao diretor

uma possibilidade de medida que aquela equipa que acabou por desenvolver todo o

processo disciplinar acha que é justa, o aluno ter 4 dias de suspensão por exemplo, é

proposta ao diretor, o diretor pode achar que aquilo é pouco, pode achar que aquilo é

muito, portanto pode aumentar ou diminuir, pronto, e depois o aluno tem possibilidade

de recorrer e portanto ai recorre para o conselho geral, se não concordar pode recorrer

para o conselho geral nomeia uma equipa para fazer uma segunda averiguação e

depois pode concordar com a decisão do diretor pode não concordar, pode alterar a

pena.”

Professor do Gabinete de Gestão de Conflitos (GGC):

“São resolvidos da maneira primária que devem ser resolvidos, através da punição,

isto é como as crianças, levam um açoite no rabo e eles percebem, levou um açoite

porque fez uma asneira e percebe que não deve fazê-lo, é o processo endoculturativo,

aqui é a mesma coisa, ou seja, normalmente tem essas duas componentes, há um

castigo, poderão ser dias de suspensão, poderão ser outros, e há depois o ser

acompanhado por um tutor, que se estipulará, às vezes dão efeito, outras vezes não

serve para nada, mas pelo menos tem de se tentar sempre.”

Professora Adjunta da Direção Responsável pelos Alunos:

“Cada caso é um caso. Depende muito do professor que têm à frente, do caso em si e

do próprio aluno, é bastante relativo. Eu acho que é uma coisa que não se consegue,

ou melhor, ninguém consegue dizer como atuar nos casos, porque cada caso é um

caso, não se pode ter uma “bitola”, por isso é que eu acho que depende muito do

aluno, do professor, do contexto e de tantas outras situações. É claro que se tenta

sempre seguir a lei, ou seja, se o aluno adotar um comportamento incorreto, a primeira

fase será fazer uma advertência oral, uma advertência escrita e estes processos

todos; dependendo da situação, o aluno também pode ser suspenso, etc. Tenta-se

sempre, ou melhor, falando por mim, tento sempre levar o aluno à razão, é assim, se o

problema é comigo, eu resolvo o assunto com o próprio, não dou a ninguém para

resolver o meu próprio problema e é assim que eu penso e admito, porém, que é uma

forma de pensar muito particular, porque nem toda a gente pensa/faz o mesmo. Isto,

claro, se não for um caso muito exagerado mas, é muito difícil uniformizar este critério,

ou seja, um colega que esteja a dar aulas na sala ao lado pode muito bem pensar que

se o aluno está a perturbar o bom funcionamento da sua aula, que o deve mandar

para a rua. Por isso é que não se consegue chegar a um consenso, porque nem todos

agem da mesma forma.”

Os casos de indisciplina, na opinião da maioria dos entrevistados devem ser

tratados, primeiramente, na sala de aula com o professor, de seguida, se o caso não

ficar resolvido, é realizada uma advertência escrita, onde o diretor de turma e os

encarregados de educação tomam conhecimento da ocorrência, em último caso

aplica-se uma medida sancionatório, pode ser, por exemplo, uma suspensão. No

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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entanto, os alunos devem sempre ser punidos, com o objetivo principal de levar o

aluno à razão.

4. Como é que a socialização primária vai condicionar nos comportamentos

de indisciplina?

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“Muito, porque nos para já temos um contexto socioeconómico muito baixo que se

agravou com a crise, temos famílias e temos alunos que vem de facto de famílias

destruturadas, alguns cresceram sozinhas como nos costumamos dizer «entregues a

si próprios», com os valores que eles definiram ou com os valores que viram definidos

pelo grupo de pares a que pertencem e portanto isso condiciona a sua postura, a sua

atitude, o seu comportamento, sobretudo quando estão na escola, não é? E dentro de

uma sala de aula, onde há regras o problema é que de facto não houve essa

socialização, não houve uma família que os acompanhasse, que lhes indicasse o

melhor caminho, que lhes dissesse que em determinados momentos da vida deles há

um conjunto de regras e a gente tem que as cumprir.”

Professor do Gabinete de Gestão de Conflitos (GGC):

“Não há um estudo feito em termos estatísticos que nos mostre uma relação entre a

casa, o comportamento em casa, os índices comportamentais em casa, a condição

social, salarial, afetiva, etc. e a escola, mas, e eu falo por experiência, até há uma

causa-efeito, ou seja, normalmente verifica-se que miúdos que têm problemas

sistemáticos ou ocasionais em casa, questões afetivas, emocionais, económicas,

ausência de pais, etc. pode dar origem a comportamentos indisciplinados,

normalmente coincide com esses problemas, mas isto não é determinante, portanto,

também há miúdos que têm pais separados ou dificuldades económicas que não se

sucede nada e também há miúdos que se habituaram a viver com pais conflituosos, a

ter conflitos e, no entanto, não trazem problemas para a escola, portanto não existe

uma determinante.”

Professora Adjunta da Direção Responsável pelos Alunos:

“Para mim, o primeiro núcleo social onde um indivíduo tem acesso a normas e valores,

ou seja, a família, é o fundamental. Quer dizer, tudo o que um aluno traz para a

escola, adquiri-o em casa: os bons hábitos, os maus hábitos, o respeito que têm pelas

pessoas… Tudo é adquirido em casa e transportam para a escola aquilo que têm ou

seja, tudo, primeiro, começa em casa e, um bocadinho, pela educação que os

encarregados de educação lhes dão portanto, os alunos são o reflexo que têm em

casa. Ou seja, primeiro devia-se começar em casa e depois alargar à escola, o que é

difícil de controlar porque nós não temos o direito nem o dever de dar aulas aos pais

nem ensinar os pais.”

Na generalidade, a socialização afeta os valores condicionando, por isso, a

postura do aluno, sendo assim, o primeiro núcleo social que é a família é um fator

fundamental, podendo, por isso, inferir-se que os alunos são o reflexo daquilo que têm

em casa. No entanto, isto é apenas uma tendência, não sendo uma regra.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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4.1. O que pode fazer a escola para minorar os comportamentos

desviantes que derivam da socialização primária.

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“A escola tem um papel importante, eu não diria que é o papel central, porque o papel

central na educação têm que ser o das famílias, está a ser pedido à escola um esforço

suplementar nos últimos anos que a escola não consegue dar resposta, portanto as

famílias têm que ter o papel que é delas na educação dos filhos. A escola tem

procurado ultrapassar este problema criando estruturas para darem resposta, por

exemplo, ao nível da educação para a saúde, para a sexualidade, as tutorias, os

gabinetes de mediação, exatamente para procurar ultrapassar alguns comportamentos

e dirigir um pouco mais o comportamento de certos alunos e temos tido bastante

sucesso não podemos dizer que não, porque os problemas que nos temos, apesar de

tudo, são pontuais.”

Professor do Gabinete de Gestão de Conflitos (GGC):

“O que se pode fazer no secundário, quando os miúdos já têm de 15 anos para cima,

é assim, aquilo que não foi feito lá atrás, que as escolas básicas não fizeram, é difícil

agora fazer-se, mas é possível, se calhar ate é mais fácil, porque há uma capacidade

de compreender e de dialogar pela própria idade, a partir dos 16 anos é mais fácil

dialogar da vossa parte, antes não, há uma revolta latente muito grande, há uma raiva

e parte-se para partir e acabou-se, a partir dos 16 anos há… pode haver essa raiva e

isso sucede muitas das vezes, mas as pessoas procuram conversar e os miúdos já

entendem a conversa. Principalmente quando confiam um no outro, o outro neste caso

será o tutor, o papel do tutor que é isso que nós estamos a experimentar este ano de

uma maneira mais alargada, já houve essa experiência, já há 3 anos que temos

tutores aqui na escola, 3 ou 4, mas este ano estamos a alargar esse conceito de

tutoria, em que precisamente o tutor não vai repreender o aluno, não vai também

apoiar o aluno, o tutor vai falar com o aluno, ou seja, eu acho que é esse o papel da

escola e de alguns professores.”

Professora Adjunta da Direção Responsável pelos Alunos:

“O principal motivo é o tempo, que é bastante reduzido, que os pais estão com os

filhos e é muito difícil a escola conseguir combater esses casos porque, por mais que

nós (professores) nos ofereçamos para dar uma espécie de “formação” aos pais, se

eles não têm tempo para estar com os filhos, como é que vão ter tempo de estar

connosco? Há miúdos que não vêem os pais durante o dia inteiro. No entanto,

também há casos em que sim senhor, os pais estão com os filhos mas, os valores que

lhes transmitem são maus, porque os pais também podem ser pessoas que não

tiveram educação e isto funciona como que uma bola de neve e nós não temos o

direito de ultrapassar a autoridade dos pais e nenhuma destas entidades aqui faladas

pode abdicar da sua posição e do seu papel, mas tentamos fazer o que podemos para

colmatar aquilo que os alunos não têm em casa; cada vez mais os pais depositam na

escola o dever de lhes ensinar aquilo que não lhes ensinam em casa.”

Para ultrapassar este problema, a escola criou estruturas como a educação

para a saúde, para a sexualidade, tutorias, gabinetes de mediação de conflitos que

sem dúvida têm ajudado a minorar os efeitos das famílias não terem tido um papel

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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central na educação dos filhos. Uma das soluções para o problema poderia ser dar

formação aos pais, no entanto, esta medida não funcionaria pois se os pais não têm

tempo para os filhos como poderiam ter tempo para receber formação nas escolas?

5. Considera existir alguma relação entre o horário dos alunos (tarde ou

manhã) e os respetivos casos de indisciplina?

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“Alguma, para já existe uma relação direta entre turmas mais indisciplinadas e mau

aproveitamento portanto existe uma relação muito direta. Obviamente que se a

pressão da rede não fosse tão grande, o ideal, era termos uma escola das 8h às 13h

ou das 8h às 15h, aproveitando, assim, o período de concentração máxima dos alunos

em que o nosso próprio biorritmo aconselha a estar na escola e a ter níveis de

concentração mais elevados. Depois, a escola procura corrigir e está a procurar

corrigir, diminuindo a pressão, diminuindo o nº de turmas, nós conseguimos pôr maior

nº de turmas de manhã e termos um menor nº de turmas à tarde, portanto, isso vai

com certeza contribuir, esperamos nós, para a diminuição dos casos de indisciplina.

Também há aqui uma outra questão, os professores mais experientes, normalmente,

são pessoas que têm o horário mais concentrado de manhã, têm turmas que estão na

sua mancha horária sobretudo de manhã e, portanto, de manhã, naturalmente, que

isso ajuda.”

Presidente do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro:

“Tenho a ideia que as escolas da parte da tarde tem uma maior tendência para ter

uma maior turbulência pelo menos, pronto, e eu acho que até há escolas que tem uma

dupla personalidade, a escola do turno da manha e a escola do turno da tarde, que

são completamente diferentes, e que normalmente do turno da tarde é mais

complicado gerir as questões. Em minha opinião, os motivos para esta perceção os

alunos que já têm hábitos de trabalho mais estruturados ou horários mais organizados,

horários pessoais com muita frequência querem entrar de manhã ou organizar a sua

vida de manha e os pais também preferem que seja assim, e se calhar quem pede

para ir a tarde, já é uma pessoa que gosta de dormir até tarde, que já tem um horário,

que pode ser a mesma organizado, mas não é tão, a pessoa também pode ser

organizada, eu estudei também à tarde e não foi por isso que fui mais ou menos

organizado, mas eu acho que, em média, as pessoas mais organizadas trabalham

mais de manhã. Depois eu acho que a escola, também se organiza na escolha de

horários, quer dizer, não é bem uma escolha, pois os horários são atribuídos pelo

diretor de turma, mas se poder haver escolha de horários, se o professor poder

escolher, a maior parte prefere ter aulas da parte da manhã, portanto, se quiserem,

quem tem mais experiência se calhar tem possibilidade de escolher mais de manhã e

a experiencia conta nestas coisas e portanto se calhar as coisas são um bocadinho

mais organizadas da parte da manhã apesar de, isto é tudo muito, isto é uma leitura

assim, é uma perceção, depois existem muitas exceções e varia muito, como é lógico,

é um bocadinho mais pequenas perceções.”

Professor do Gabinete de Gestão de Conflitos (GGC):

“Também não há estatísticas sobre isso, mas por experiência própria, eu acho que há

mais casos de indisciplina ao fim da manhã e à tarde, mais à tarde, são sempre mais à

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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tarde e isso implica duas coisas, primeiro porque as turmas da tarde são sempre

feitas… as instituições escolares, não estou a dizer que é esta, têm uma tendência

para fazer as turmas a partir da manhã para a tarde, começa-se a fazer as turmas,

então, as da manhã para a tarde, então os melhores alunos, os alunos não sei quê

não sei que mais ficam de manhã, depois os da tarde são normalmente despejados,

digamos, e são os restos das outras turmas que se juntam ali, isso dá inevitavelmente

sempre problemas, por outro lado, os alunos que vêm de manhã, eu costumo dizer, e

se calhar até é um bocado de verdade, aos primeiros tempos os alunos vêm sempre

cheios de sono, estão ali meio a dormir, ao longo do dia vão acordando e vão-se

queixando e vão-se fartando, enquanto que à tarde já houve coisas para fazer de

manhã e… mas há mais indisciplina à tarde.”

Professora Adjunta da Direção Responsável pelos Alunos:

“As turmas de manhã são muito mais bem comportadas que as da tarde que é quando

os casos de indisciplina são em maior número. Não sei porquê e ninguém sabe

porquê. Naturalmente seria um bom caso de estudo, não sei bem porque é que de

manhã as turmas são mesmo muito melhores. O certo é que são. Por isso é que toda

a gente quer ficar de manhã. Se a escola só funcionasse de manhã (das 8h às 15h)

era muito melhor para todos. Ninguém quer ter aulas à tarde.”

Através das respostas obtidas, concluímos que existe uma relação entre as

turmas mais indisciplinadas e o mau aproveitamento. Todos os professores têm a ideia

que as turmas da tarde são mais indisciplinadas do que as turmas da manhã e

professores com mais experiência também lecionam de manhã. No entanto, o diretor

do agrupamento está a procurar corrigir o problema das turmas da tarde serem mais

indisciplinadas, através da diminuição da pressão horária, diminuindo o nº de turmas e

assim a ESLC conseguiu pôr maior nº de turmas de manhã e menos à tarde. De

acordo com a professora adjunta da direção responsável pelos alunos e o diretor do

agrupamento, o ideal seria a escola a funcionar a apenas das 8h até às 15h.

5.1. Os professores escolhem horários consoante a sua experiência?

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“Os professores não escolhem horários, mas tem-se em conta, um pouco, não é uma

questão de hierarquia, mas conta um pouco o tempo de serviço e a graduação

profissional na atribuição do serviço, como sabem, também, nos anos de escolaridade

mais avançados, o 11º e o 12º, convém que as pessoas mais experientes e mais

batidas sejam aquelas que têm esses anos que são anos de exame de maior

responsabilidade. Isto não quer dizer que haja professores mais competentes ou

menos competentes, não é disto que estamos a falar, de competência, estamos a falar

de experiencia, que é uma coisa diferente, experiência e anos de serviço. E portanto,

naturalmente, que depois isto também tem alguns impactos depois no modo com se

encaram os problemas e como se resolvem os problemas. A experiência ajuda muito,

não é?”

O facto dos professores com maior tempo de serviço poderem “escolher” o horário,

e a maioria prefere a manhã, leva a que os professores com mais experiência tenham

um horário maioritariamente do período da manhã e isso contribui para que as turmas

da tarde tenham professores com menos experiência e isto não quer dizer que sejam

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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menos competentes, mas influencia o modo como encaram e resolvem os problemas.

Sendo este um dos motivos que justificam as turmas da tarde mais indisciplinadas.

5.2. E o facto de, por exemplo, haver algum professor contratado que por

ausência de outro professor (ex: licença de parto) que depois volta,

isso também afeta o aproveitamento?

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“Sim, aliás nós temos um problema no agrupamento que tem a ver com isso onde os

problemas de indisciplina, vocês no vosso estudo, não sei se vocês fizeram essa

análise, mas os problemas de indisciplina são muito maiores no 2º e 3º ciclos. Tem a

ver, obviamente, com a idade, com a ausência de maturidade, mas tem a ver,

também, com o facto do corpo docente da escola padre alberto neto não ser um corpo

docente estável, nós temos muita gente que esta este ano, mas que não esteve no

ano passado nem estará no próximo ano, portanto, metade do corpo docente é

contratado, isto, não quer dizer que não sejam competentes, mas não há estabilidade

no trabalho, o conhecimento das turmas que já vêm dos anos anteriores, uma relação

com os alunos que vêm de anos anteriores, isso ajuda muito, não se identificam com a

escola, com os alunos, com as turmas.”

Conclusão: o entrevistado dá destaque ao facto de este problema existir na Escola

Padre Alberto Neto, onde a maioria do corpo docente é contratado, o que leva a que

não exista tanta estabilidade no trabalho, melhor conhecimento da turma e até, por

vezes, não se identifiquem com a escola. Estas situações conduzem a existirem

maiores problemas de indisciplina, sendo estes problemas mais evidentes no 2º e 3º

ciclo devido à idade e falta de maturidade.

6. Desde o seu tempo de aluno até agora, será que a indisciplina e violência

na escola, aumentou?

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“Quando dizem «isto está cada vez pior, isto agora ninguém se entende!», eu acho

piada, porque quando eu entrei no ensino dizia-se exatamente isto, que isto está cada

vez pior, o «está cada vez pior», também já se dizia há quase 30 anos atrás, portanto,

há situações que ocorrem hoje que não ocorriam no passado, mas há também outras

situações que ocorriam no passado e que hoje não ocorrem. Alguns alunos não

traziam nem caneta nem lápis, ou seja, estavam num processo de socialização, que

foi quando a escolaridade obrigatória passou para o 9º ano, coisa que agora,

eventualmente, vai acontecer com o 11º e 12º ano, a situação que está a acontecer

hoje nas escolas secundárias, alguma degradação de alguma qualidade, do nível dos

alunos que cá chegam tem a ver com o mesmo fenómeno que se passou outrora,

estes são os fenómenos naturais da massificação do ensino, portanto, e nós não

podemos ser hipócritas ao querermos um ensino para todos e depois estarmos a

criticar que…não, nós temos que ter toda a gente na escola, os bons, os maus, em

termos de comportamento, os que aprendem muito bem e depressa, os que aprendem

mais devagar ou os que têm muitas dificuldades em aprender. Temos que ter esta

gente toda na escola, os que são invisuais, os que são surdos, os que têm dificuldade

de motricidade, etc.. Eles têm que estar na escola e nós temos que nos preparar para

isto, para a diversidade, porque isso também reduz os ricos de termos, também,

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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problemas dentro da nossa sala de aula, naturalmente que temos alunos muito

diferentes, porque estamos a falar duma época que só vinha para o ensino secundário

quem efetivamente…uma minoria e portanto se alguém se portasse mal, naturalmente

que se dizia «olhe meu amigo, ou é para estar aqui ou então siga outro caminho, vá

trabalhar com o seu pai». Hoje, até aos 18 anos toda a gente tem que estar na escola

e, portanto, a escola tem que estar preparada para dar essa resposta. Nem sempre

temos as ajudas externas necessárias, a tutela, por parte das famílias, da

comunidade, nem sempre há uma resposta adequada, a escola nem sempre é

dignificada no seu papel e nem sempre a autoridade dos professores é valorizada e

isso, também, contribui para que depois haja problemas no interior das escola, porque

se os media não transmitem uma imagem positiva da escola, uma imagem digna do

trabalho que se realiza nas escolas, isso começa a construir uma imagem deturpada,

errada, da escola, isso também contribui para aumentar os fenómenos de indisciplina

dentro dos estabelecimentos de ensino.”

Presidente do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro:

”No meu tempo quem andava na escola já era um grupo muito selecionado de

pessoas, aqueles que não tinham possibilidade e que eventualmente eram mais

conotados com situações de indisciplina já não iam a escola a partir de determinada

ideia, de certa maneira é mais fácil resolver as coisas. Hoje a escola é de toda a

gente, toda a gente tem que ca estar, sem exceção, é obrigatório, pronto, no meu

tempo não era assim. De qualquer modo, eu acho que os alunos no certo sentido hoje,

estão mais protegidos, o que se passa entre portas, hoje em dia as escolas estão mais

controladas e no tempo em que eu tinha a vossa idade era impensável haver controlo

de entradas nas escolas, como há agora, em que se controla as entradas cartões,

pronto, nós eramos mais livres, entravasse quase a hora que queríamos, saíamos da

escola quando queríamos com mais facilidade pessoas estranhas entravam nas

escolas, era um mundo completamente diferente. Hoje há um controlo maior, o que

evita algumas situações negativas mas também é verdade que esta toda a gente cá

na escola o que também trás, potencialmente, situações mais graves para dentro da

escola, que na altura não existiam tanto.”

Podemos concluir que a escola foi, em tempos, só para alguns, agora é de todos e

esta escola, que é de todos, tem de estar preparada para receber todo o tipo de

alunos. Também existe um maior controlo nas escolas, hoje em dia, e a

democratização do ensino traz potencialmente situações mais graves para dentro das

escolas.

7. Serão as regras da escola (regulamento interno), acatadas e praticadas

pela comunidade escolar?

Diretor do Agrupamento da Escolas de Rio de Mouro:

“Em termos gerais, eu julgo que sim, as situações pontuais são objeto de tratamento

cuidado através dos tais gabinetes, tutorias, do encaminhamento dos alunos

procurando sempre que eles alterem a sua atitude, o seu comportamento. Em termos

gerais, penso que o regulamento é acatado.”

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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Presidente do Conselho Geral do Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro:

“Sim, acho que sim, não tenho grandes dúvidas que o regulamento interno é cumprido

e se faz cumprir nesta escola.”

Professora Adjunta da Direção Responsável pelos Alunos:

“Pela grande maioria é. Só não é naqueles casos em que se registam

comportamentos indisciplinados. Aliás, gostaria de enfatizar que os casos de

indisciplina são muito, muito poucos, atendendo ao número de alunos que a escola

tem. Mas não é pela totalidade, senão não haveria processos disciplinares. Estes

últimos surgem, precisamente, quando o regulamento interno não é acatado e o que

está no regulamento interno não é nada que não seja exequível, tudo o que está no

regulamento interno é possível de cumprir, não é pedido nada fora do normal. Mas não

é acatado quando existem processos disciplinares e, este ano letivo, a escola registou

20 processos disciplinares, que é muito pouco relativamente ao número de alunos na

minha opinião.”

Na generalidade, todos os entrevistados consideram que as regras do

regulamento interno são acatadas pela comunidade escolar.

8. No espaço da sala de aula, que método costuma utilizar para evitar

comportamentos desviantes no decorrer da mesma?

Professor do Gabinete de Gestão de Conflitos (GGC):

“Não tenho métodos, eu acho que tenho uma relação com os alunos de compromisso,

eu não acredito nos afetos, o professor não tem que ser amiguinho, o professor tem

que ser uma personagem em que o aluno tenha confiança, e para ter confiança não é

preciso andar «ah diz lá o teu problema», não, estou ali, tenho que dar as minhas

matérias e as pessoas estão, se não estão calam-se, se não se calam, vão para a rua,

normalmente não vão para a rua, os meus alunos não vão para a rua normalmente,

resumindo e concluindo, eu acho que é, simplificando as coisas, eu acho que o papel

do professor tem que ser um papel ativo e diretivo e o professor tem que assumir isso

de uma vez para sempre, o papel do professor é um papel ingrato, ele não é um

«entertainer», ele não está ali para entreter, ele não é um palhaço, fazemos às vezes,

mas pronto mas não é, portanto, a minha posição é esta e eu tenho de fazer isto, sou

diretivo, ou seja, digo o que é que quero, sou objetivo em todos os aspetos, dentro da

sala de aula há silêncio e há trabalho, quando for para descansar, descansamos

todos, quando for para trabalhar, trabalhamos todos, portanto, tem que haver uma

diretividade, uma assertividade, e eu acho que é isso que os alunos precisam, de ser

dirigidos, ser diretivo não é ser autoritário, é dizer que vamos fazer isto e fazemos isto

desta maneira, isto é ser muito assertivo e a partir daí os alunos ganham confiança,

conhecem as regras, sabem como é que é e funcionam muito bem.”

Para o professor não existe um método definido, mas a relação com os alunos

é de compromisso, cada um tem a sua posição e, por isso, tem que haver diretividade

e assertividade na sua relação com os alunos, só assim os alunos podem ganhar

confiança.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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9. O facto da escolaridade obrigatória ter aumentado até aos 18 anos, não

pode também influenciar o número de casos de indisciplina?

Professora Adjunta da Direção Responsável pelos Alunos:

“Sim, bastante. Principalmente por estarem aqui obrigados. Porque muitos não

queriam estar. E por esse facto, ou seja, por estar desmotivado, perturba, estraga,

contamina as aulas, boicota as aulas… Porque é assim, os professores têm sempre

uma audiência adversa à frente, sempre! São muito raros os alunos que gostam de

estar numa aula, aliás, todos preferiam estar na praia do que ali. Agora, o que é difícil

é os professores conseguirem captar a atenção dessa audiência, ou porque as

matérias não interessam, ou porque são coisas que o aluno não gosta e, então

quando o próprio aluno não está absolutamente nada interessado, é o caos. E isso

provoca muita indisciplina: o desinteresse provoca indisciplina. Também a maneira

como o professor lida com a turma e com os alunos é muito importante, porque a

mesma turma age de maneiras diferentes conforme o professor que tem à frente.”

Não restam dúvidas que o facto de a escolaridade aumentar, leva a que os

alunos estejam na escola por obrigação, o que leva a haver alunos desinteressados,

aumentando, assim, os casos de indisciplina.

Entrevista ao professor da tutoria:

1. Será que a indisciplina que os alunos apresentam na escola/aula tem a

ver com o que os pais transmitem aos jovens, em casa?

“Eu acho que tem mais a ver com o que não transmitem aos jovens em casa. Eu não

acredito que nenhum pai defenda a indisciplina ou sequer defenda valores expressos

que conduzam à indisciplina. Agora, pela omissão de transmissão de valores, ou pela

omissão de chamar à atenção para atitudes que não conduzam a indisciplina, nós

acabamos por estar a promovê-la, porque podemos apoiá-la, incentivando-a, ou

podemos apoiá-la inconscientemente, julgo eu, não a contrariando e eu acho que é

isso que acontece mais em casa. Pela dificuldade de tempo dos pais e às vezes pela

tentativa dos pais ganharem, enfim, alguma “amizade” e eu acho que essa é tácita,

mas ganharem alguma amizade dos filhos de forma a compensar essa ausência até

por motivos de trabalho são condescendentes e essa condescendência pode levar à

indisciplina.”

A indisciplina que os alunos apresentam na escola, está relacionada com o que

não é transmitido em casa, a omissão de valores promove a indisciplina.

2. O ambiente familiar, hostil ou não, afeta o comportamento do aluno na

escola?

“Claramente, não sei bem o que é que tu chamas ambiente familiar, mas se tivermos

daquilo que se chama uma família estruturada ou uma família não estruturada, e o não

estruturada não quer dizer que as pessoas se deem mal ou que nem sequer coabitem,

não é isso, olha vou-te dar um exemplo concreto que foi vivenciado por mim aqui há

uns tempos, a minha filha costumava levar algumas colegas lá para casa para

estudarem, para fazerem trabalhos, e uma dessas colegas, e eu sou amigo do pai

dela, é uma pessoa por quem eu tenho consideração, uma das coisas que a admirava

muito era nós juntarmo-nos a uma determinada hora para tomar a refeição, coisa que

Page 66: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

66

em casa dela não era habitual, não porque as pessoas não se dessem bem mas

porque tinham ritmos de trabalho, tinham vidas de tal forma diferentes, digamos assim,

que quando chegavam cada qual fazia a sua vida, não é? Ora, o tipo de ambiente

prejudica porque não há discussão, não há reflexão sobre o que aconteceu no dia-a-

dia de cada um, não há análise, naturalmente que o ambiente que se vive em casa

condiciona a interpretação dos alunos e a sua vivência na escola.”

O ambiente afeta o comportamento do aluno, pois um ambiente onde não há

discussão/reflexão condiciona a interpretação da escola pelos alunos.

3. Como é que a escola deve agir em casos de indisciplina que estão

relacionados com ambientes familiares hostis?

“A tua pergunta tem dois tipos de resposta, em relação à indisciplina eu acho que a

escola não pode ser branda e não pode ser branda basicamente por causa do

indisciplinado, não é só para proteger os outros alunos da indisciplina daquele mas

para fazer ver àquele, ao tal indisciplinado, que há regras, normas, leis que são

absolutamente essenciais para o convívio social. Se essa indisciplina resulta, e a

escola tem condições para identificar isso, do próprio ambiente familiar, esse

acompanhamento tem de ser feito de uma forma mais cuidadosa, porque punir por

punir não leva a lado nenhum, tem que se fazer ver à pessoa em o que é que falhou e

se houver reincidência aí a coisa complica-se, ela tem de perceber o que é que falhou

e temos que tentar captar a atenção do encarregado de educação para a necessidade

da sua ajuda, portanto, para a alteração de alguns comportamentos em casa, porque

se não, não vamos a lado nenhum. A escola só por si não funciona.”

A escola tem de agir para combater os casos de indisciplina para mostrar ao

aluno que existem regras, no entanto, é preciso que a família esteja envolvida nesta

ação, o que podemos retirar desta resposta é “a escola só por si não funciona.

4. Há maiores ocorrências em casos em que os pais são mais

despreocupados?

“Tenho esse sentir mormente pelo trabalho que tenho desenvolvido na tutoria. Há

famílias muito preocupadas, muito estruturadas e que têm filhos que são muito

indisciplinados, a maior parte dessas indisciplinas resultam todavia de famílias, que

por motivos diversos, não tem muito tempo para acompanhar o percurso do filho e a

coisa fica limitada normalmente ao fim de semana e é pouco. Portanto, há uma

relação.”

É habitual mas não é certo, pois há famílias muito preocupadas que não têm

tempo para acompanhar os filhos.

5. De que forma pode agir a escola perante alunos que não possuem os

valores pedidos pela escola? Seja por estes serem provenientes de

outras culturas, ou por desleixo da família.

“Também são duas coisas distintas a meu ver, valores diferentes, porque são oriundos

de outra cultura, não é propriamente em si um perigo, é preciso que as pessoas

percebam, e aqui as pessoas, são todos os alunos e escola que culturas diferentes

conduzem a representações da realidade diferentes. Temos que encontrar um ponto

intermédio, um ponto de encontro em que todos, enfim, nos sintamos bem. Na maior

Page 67: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

67

parte dos casos, há valores que são transversais a todas as culturas: sabemos que

não se deve roubar, sabemos que não se deve mentir, sabemos que não se deve

matar; esses são comuns. Portanto, partir desses valores que são comuns, digamos

assim, ao ser humano, para tentar construir uma plataforma comum à escola e esses

alunos que vêm de outras realidades culturais. Quando os valores não são partilhados

pela família, aí a coisa é mais complicada, porque se não houver reforço da família e

se não houver apoio da família em termos de fazer eco do que fazemos na escola, é

complicado, e os exemplos que tenho na tutoria têm levado a desfechos menos

agradáveis, com a intervenção da segurança social com a intervenção do tribunal de

menores, às vezes com consequências um bocadinho drásticas. A escola sem a

família tem muita dificuldade em progredir e o aluno, estamos a falar num jovem, estou

a pensar num do 10º ano, se não tiver, digamos assim, a reciprocidade de valores, o

que é dito em casa é repetido na escola e o que é dito na escola é reforçado em casa,

ele anda um meio perdido e isso não tem conduzido a bons resultados.”

Tem que existir adaptação à escola por parte do aluno, para isso acontecer é

fundamental o apoio da família, uma vez que “a escola sem família tem muita

dificuldade em progredir” e, como o professor referiu e é importante relevar, “o que é

dito em casa é repetido na escola e o que é dito na escola é reforçado em casa”.

6. Segundo a sua experiência, considera que existe uma relação entre os

casos de indisciplina e o tipo de família?

“Não necessariamente, isso às vezes pode conduzir a problemas de entidade por

parte do aluno, ele pode andar mais angustiado ou menos angustiado, pode sentir-se

mais confortável ou menos confortável, a indisciplina não necessariamente. A

indisciplina é a ausência de valores, é normalmente o resultado da ausência de

valores, não me parece que pelo facto de uma família ser monoparental esses valores

não existam, não é? E preocupa-me mais uma família dita estruturada que não tem

tempo, por qualquer motivo, para acompanhar o filho, portanto, para acompanhar o

aluno do que uma família constituída só por um elemento, mas em que esse

acompanhamento é feito. Portanto, aí não estabeleço qualquer relação direta, ela

pode existir em relação à representatividade do aluno, o seu sentimento pessoal, em

relação à indisciplina não me parece que exista relação.”

Podemos concluir que o professor considera que não existe nenhuma relação.

Entrevista a coordenadora diretores de turma de 10º ano:

1. Qual é a função da hora letiva de Projeto de Turma?

“O projeto de turma é basicamente a possibilidade que os diretores de turma têm de

ter outro tipo de atividade mais consistente e mais prolongada no tempo, digamos

assim, com os elementos da turma que estão a conhecer pela primeira vez. Portanto,

como vocês sabem, a escola, neste momento, sempre só teve Ensino Secundário, já

de alguns anos para cá e, os alunos chegam aqui no 10º ano, não conhecem os

professores, a escola, a vivência desta escola, etc… e o projeto de turma permite,

realmente, que o diretor de turma, enfim, utilize esse período de tempo para ou fazer

um projeto em conjunto com os alunos, que pode ter “n” temas, tocando “n” assuntos;

ou até para tratar, analisar e debater por exemplo casos de indisciplina; para debater e

analisar o funcionamento da escola, dar um melhor conhecimento aos alunos de como

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

68

é que a escola funciona; utilizamos, também, muito no 10º ano, para esmiuçar um

bocadinho mais o próprio regulamento interno da escola. Portanto, para turmas com

mais dificuldade, por exemplo, em termos de organização pessoal, pode-se utilizar

essa hora de PT para fazer algum trabalho em conjunto com os alunos da turma, de

modo a que eles desenvolvam algumas técnicas. Portanto, é um assunto que

geralmente até é recorrente e as pessoas fazem-no frequentemente na hora de PT,

essas tais sessõezinhas de organização do trabalho. Portanto, tem várias utilidades,

se assim se poderá dizer. Pode ser utilizado conforme aquilo que o DT achar que é

pertinente, perante a realidade (turma) que tem pela frente.”

A hora de PT pode ser utilizada pelos diretores de turma para fazerem qualquer

tipo de atividade mais consistente e prolongada no tempo, com os alunos que

acabaram de conhecer, por exemplo, realizando um projeto em conjunto com os

alunos. Assim, pode ser utilizado para qualquer coisa que o professor ache pertinente,

perante a turma com que esteja lidar.

2. A hora de PT contribui para a obtenção de comportamentos conformistas

adotados pelos alunos?

“O que é que vocês entendem por comportamentos conformistas? Segundo as regras

da escola/regulamento interno. Acabei de dar um exemplo. Portanto se nós, por

exemplo, vamos analisar e esmiuçar o próprio regulamento interno da escola e o

projeto educativo, porque não? Obviamente que isso contribui, aliás, é esse o

propósito.”

A hora de PT deve mesmo ser utilizada para a análise de comportamentos

desviantes para que estes não voltem a acontecer.

3. Qual o papel que deve o DT adotar para resolver os casos de indisciplina

na sua turma?

“Depende dos casos de indisciplina. Não há regras. Isto é um assunto muito profundo

e cada situação é uma situação e tem que ser analisada à luz do que realmente

aconteceu e agir em conformidade com o que aconteceu e com as pessoas que estão

envolvidas nessa situação de indisciplina. Portanto terá que ser analisado caso a caso

e arranjar uma solução de acordo com a circunstância do momento. Não há regras

definidas. É um problema muito profundo, muito complexo. Não tem a ver só com a

escola, na minha opinião, tem a ver com muito mais que a escola. E muitas das vezes,

a escola, sofre como consequência determinadas atitudes e determinados valores que

não estão bem organizados na formação das pessoas e, isso acaba por se refletir

aqui.”

O papel do DT deve variar consoante os casos de indisciplina, cada situação é

diferente, tendo de ser analisada conforme o que aconteceu e com as pessoas

envolvidas.

Page 69: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

69

4. No espaço da sala de aula, quais são as orientações que dá aos

professores (diretores de turma) para a resolução de comportamentos

menos conformistas?

“É assim, eu não dou bem orientações no espaço de sala de aula. Só nas reuniões

que faço com os restantes diretores de turma. Nessas reuniões, a começar logo pela

primeira reunião do ano, quando realmente se faz aquela receção um bocadinho mais

ampla aos alunos, há sempre o cuidado e, este ano, o tema focado nessa receção foi

mesmo a indisciplina e, o próprio “Tapa Furos”, o grupo de teatro da escola, acabou

por fazer uns pequeninos sketchs relacionados também com o tema da indisciplina.

Isto porque, realmente, a indisciplina, tem-se notado que de ano para ano tem estado

a ser cada vez maior; são mais os casos concretos que vão acontecendo ao longo do

ano e, então, de modo a que houvesse assim um bocadinho de “forcing” logo inicial

em relação aos alunos que vinham pela primeira vez para a escola, resolveu-se

aprofundar um bocadinho mais o assunto. E agora as orientações que eu dei aos

meus colegas, portanto, nessas reuniões fez-se um debate e uma análise mais

exaustiva sobre o novo estatuto do aluno, como sabem, vigora à relativamente pouco

tempo (cerca de 2 anos) e, os deveres e os direitos da comunidade educativa, ou seja,

não só dos alunos mas de toda a gente que faz parte desta grande casa e não só,

porque os encarregados de educação e os pais e a família, também fazem parte da

comunidade educativa e, portanto, isso foram tudo determinados pontos relativos

porque como já disse, aos direitos e deveres da comunidade educativa, foram

salientados, foram analisados, foram debatidos, de modo a que essa mensagem

pudesse passar, também, para os encarregados de educação e, também, ser

analisada e debatida com alunos, encarregados de educação e família. Portanto acho

que as pessoas devem estar conscientes dos seus direitos, mas também dos seus

deveres, e a escola é uma instituição que tem de ser respeitada. Não quero dizer, com

isto, que não se usufrua tudo de bom e agradável que ela tem, com certeza que sim,

mas acima de tudo, é bom saber respeitar esta instituição e saber respeitar os outros,

os que pertencem a esta comunidade e instituição, portanto foi essencialmente isso.

Foi o debater desde o início e chamar a atenção para determinadas realidades que até

estão legisladas no próprio estatuto do aluno e que, portanto, muitas vezes são

esquecidas. A partir daí, lá está, tem-se feito um acompanhamento, caso a caso, de

acordo com a circunstância, de acordo com a situação, com a turma, portanto, através

do diálogo, essencialmente com os colegas, para além das reuniões. Portanto temos

um acompanhamento diário. Às vezes até nos próprios intervalos nós trocamos

impressões e para saber as últimas novidades em relação a este ou aquele assunto.”

No início de todos os anos é realizada uma reunião, na qual este ano o assunto

principal em discussão foi o da indisciplina, pois o nº de casos tem vindo a ser cada

vez maior, nessa reunião houve uma análise exaustiva sobre o novo estatuto do aluno,

aos seus direitos e deveres da comunidade escolar (professores, alunos, funcionários,

pais), tentando fazer chegar a todos quais os seus direitos mas também os seus

deveres, por forma, também a respeitar-se a instituição escola.

Page 70: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

70

2- Análise Documental

2.1- Registo de ocorrências disciplinares participadas pelos DTs na Direção no

presente ano letivo (2013/2014)

Lei 51/201245 Ocorrências da Escola Leal da Câmara

c), f), i), o) 1.Desrespeito pelo professor (dentro da sala de aula)

d), e), f),o) 2. Desrespeito por elementos da comunidade educativa

g), i), o) 3. Confronto físico entre alunos

k), o), x) 4.Danos causados aos equipamentos/instalações.

f), o), q), r), s) 5.Uso indevido de equipamentos tecnológicos na sala de aula.

f), o), q), r),s), t) 6.Difusão através da internet de imagens ou sons capturados em sala de aula.

a), b), d), f), g) 7.Comportamento indisciplinado na sala de aula e consequentes faltas de disciplina.

Registo de Ocorrências 1º período

Registo de ocorrências

10º ano 11º ano 12º ano Profissionais Medidas

2013/2014 2013/2014 2013/2014 2013/2014 Corretivas Sancionatórias

Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde

1. - - - - - -

3º ano (2 casos)

1º ano (2 casos)

- Acompanhamento pela tutoria (3 casos)

- Repreensão escrita;

- 3 dias de suspensão;

- Repreensão escrita;

- 2 dias de suspensão

2. - - - - - - - - -

3. - E

(1caso) - - -

E (1caso)

- - Acompanhamento

pelo DT e tutoria -

4. - - - - - - 1ºano

(3casos) - Repreensão oral -

5. - - - - - - - - -

6. - - - - - - 2ºano

(1caso)

- Acompanhamento pela tutoria de alguns

alunos da turma

- 12 dias de suspensão

7. - H

(2casos) - - - -

2ºano (1caso)

- Acompanhamento pela tutoria (2 casos); - Acompanhamento

pela tutoria e DT

- 3 dias de suspensão; - 1 dia de

suspensão a cada aluna/o

45

Ver anexo “Lei 51/2012 - Artigo nº10”

Quadro 5 – Tipo de ocorrências

Quadro 6 – Registo de Ocorrências 1º Período

Page 71: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

71

Gráfico 1 - Registo de Ocorrências no 1º Período

No 1º período do ano letivo 2013/2014 registaram-se 13 ocorrências de

indisciplina, podemos verificar que 9 casos aconteceram em turmas de cursos

profissionais, 2 em turmas de ciências socioeconómicas da tarde e 2 em turmas de

línguas e humanidades também da tarde, não havendo nenhum registo de ocorrências

em turmas com a mancha horaria da manhã. Das 13 ocorrências, 4 dizem respeito ao

desrespeito pelo professor, onde foram tomadas medidas corretivas (nomeadamente,

acompanhamento pela tutoria) e sancionatórias (repreensão escrita, suspensão

máxima de 3 dias). Na ESLC aconteceram duas situações de confronto físico entre

alunos, ambos em turmas de economia, tendo sido corrigidos através do

acompanhamento pelo DT e tutoria. Nos cursos profissionais registam-se mais quatro

casos, três por danos causados nos equipamentos/instalações que resultaram em

repreensões orais e outro por difusão através da internet de imagens ou sons

capturados em sala de aula que deram origem ao acompanhamento pela tutoria de

alguns alunos da turma (medida corretiva) e 12 dias de suspensão (medida

sancionatória). Os dois casos que ocorreram nas turmas de 10º ano de humanidades

e um numa turma de 2ºano profissional devem-se comportamento indisciplinado na

sala de aula e consequentes faltas de disciplina que foram corrigidos através de apoio

pela tutoria e acompanhamento do diretor de turma, como medida sancionatória, 3

dias de suspensão (pena máxima aplicada).

2 1

1

1

1

4

0

2

4

6

8

10° ano 11° ano 12° ano Profissionais

R E G I S TO D E O C O R R Ê N C I A S N O 1 ° P E R Í O D O

Desrespeito pelo professor (dentro da sala)

Confronto físico entre alunos

Danos causados aos equipamentos/ instalações

Uso indevido de equipamentos tecnológicos na sala de aula

Difusão através da internet de imagens ou sons capturados em sala de aula

Comportamento indisciplinado na sala de aula e consequentes faltas de disciplina

Page 72: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

72

Registo de Ocorrências 2º e 3º períodos

Registo de ocorrências

10º ano 11º ano 12º ano Profissionais Medidas

2013/2014 2013/2014 2013/2014 2013/2014 Corretivas Sancionatórias

Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde

1. A

(1 caso) H

(1 caso) -

H (1 caso)

H (2

casos)

C (1

caso) -

- Advertência oral a dois alunos; - Acompanhamento pela tutoria (2 casos); - 3 dias de tarefas na biblioteca; - 1 dia de tarefas na biblioteca

- 1 dia de suspensão (3 casos); - 1 dia de suspensão (recurso ao Conselho Geral)

2. - - - - - - 1º ano

(1 caso)

- Advertência pelo Gabinete de Mediação de Conflitos/acompanhamento pela tutoria

-

3. - - - - -

2º ano (1 caso)

- Monitorização pelo Gabinete de Mediação de Conflitos e pela PAN

-

4. - - - - - - - - -

5. - - - H

(1 caso) - - - -

- 1 dia de suspensão

6. C

(1 caso) - - - - -

- Intervenção direta do diretor; - Intervenção da tutoria

-

7. - C

(1 caso) - - - -

1º ano (3 casos)

- Acompanhamento pela tutoria/Gabinete de Mediação de Conflitos/Coordenadora dos CP; - Repreensão oral do diretor à turma; - Tarefas a cumprir no ginásio por 5 dias

- 1 dia de suspensão; - 2 dias de suspensão; - 3 dias de suspensão (2 casos); - Repreensão registada

Quadro 7 – Registo de Ocorrências 2º e 3º Períodos

Page 73: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

73

Gráfico 2 - Registo de Ocorrências 2º e 3º Períodos

No 2º e 3º (até dia 21/maio) período verificaram-se 14 casos, sendo que nestes

dois períodos registaram-se 5 casos em turmas de cursos profissionais, 5 em turmas

de línguas e humanidades, 3 em turmas da tarde e 2 em turmas da manhã, apenas

um caso em turmas de artes visuais (manhã) e 3 casos em turmas de ciências e

tecnologias, 2 em turmas da tarde e um numa turma da manhã. Das 14 ocorrências

registadas, 6 são referentes a desrespeito pelo professor, tendo sido resolvidos com

advertência oral (2 casos), acompanhamento pela tutoria em casos, 3 dias de tarefas

na biblioteca num caso e 1 dia de tarefas na biblioteca noutro caso (medidas

corretivas) e foram, também, aplicados 1 dia de suspensão em três casos e 1 dia de

suspensão que resultou de um recurso ao conselho geral (medidas sancionatórias);

um foi por desrespeito por elementos da comunidade educativa e foi resolvido com

uma advertência pelo Gabinete de Mediação de Conflitos/acompanhamento pela

tutoria (medida corretiva), um caso foi por confronto físico entre alunos, que foi

resolvido com monitorização pelo Gabinete de Mediação de Conflitos e pela PAN

(medida corretiva); um caso de uso indevido de equipamentos tecnológicos na sala de

aula, que foi resolvido com 1 dia de suspensão; um caso de difusão através da internet

de imagens ou sons capturados em sala de aula que foi resolvido com uma

intervenção direta do diretor e uma intervenção da tutoria; e quatro casos que dizem

respeito a comportamento indisciplinado na sala de aula e consequentes faltas de

disciplina, que foram resolvidos com acompanhamento pela tutoria/Gabinete de

Mediação de Conflitos/Coordenadora dos C, repreensão oral do diretor à turma,

tarefas a cumprir no ginásio por 5 dias (medidas corretivas) e com 1 dia de suspensão,

2 dias de suspensão, 3 dias de suspensão (2 casos) e uma repreensão registada.

1

3 1

1

1

1

2

1 3

0

1

2

3

4

5

6

10° ano 11° ano 12° ano Profissionais

R E G I S TO D E O C O R R Ê N C I A S N O 2 ° E 3 ° P E R Í O D O S

Desrespeito pelo professor (dentro da sala)

Confronto físico entre alunos

Desrespeito por elementos da comunidade educativa

Page 74: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

74

Registo de ocorrências 1º,2º e 3º períodos (até à data, 21/05/2014)

Registo de ocorrências

10º ano 11º ano 12º ano Profissionais Medidas

2013/2014 2013/2014 2013/2014 2013/2014 Corretivas Sancionatórias

Manhã Tarde Manhã Tarde Manhã Tarde

1. A (1

caso)

H (1 caso)

- H (1

caso)

H (2

casos)

C (1

caso)

3º ano (2 casos)

1º ano (2 casos)

- Acompanhamento pela tutoria (5 casos); - Advertência oral a 2 alunos; - 3 dias de tarefas na biblioteca; - 1 dia de tarefas na biblioteca

- Repreensão escrita (2 casos); - 3 dias de suspensão; - 2 dias de suspensão; - 1 dia de suspensão; - 1 dia de suspensão com recurso ao Conselho Geral

2. - - - - - - 1º ano (1

caso)

- Advertência pelo Gabinete de Mediação de Conflitos/ acompanhamento pela Tutoria

-

3. - E

(1caso) - - -

E (1caso)

2º ano (1 caso)

- Acompanhamento pelo DT e tutoria; - Monitorização pelo Gabinete de Mediação de Conflitos e pela PAN

-

4. - - - - - - 1º ano (1

caso) - Repreensão oral -

5. - - - H (1

caso) - - - -

- 1 dia de suspensão

6. C (1

caso) - - - - -

2ºano (3 casos)

- Acompanhamento pela tutoria de alguns alunos da turma; - Intervenção direta do diretor; - Intervenção da tutoria suspensa a pedido da direção ou da DT

- 12 dias de suspensão

7. -

H (2casos)

C (1 caso)

- - - -

2º ano (1 caso)

1º ano (3 casos)

- Acompanhamento pela tutoria (2 casos); - Acompanhamento pela tutoria e DT; - Acompanhamento pela tutoria/GMC/Coordenadora dos CP; - Repreensão oral do Diretor à turma; - Tarefas a cumprir no ginásio por 5 dias

- 3 dias de suspensão (3 casos); - 1 dia de suspensão a cada aluna (2 casos); - 2 dias de suspensão; - Repreensão registada

Quadro 8 – Total de Ocorrências

Page 75: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

75

Gráfico 3 - Total de Ocorrências

Gráfico 4 - Medidas corretivas e sancionatórias

0

2

4

6

8

10

12

14

10° ano 11° ano 12° ano Profissionais

TOTA L D E O C O R R Ê N C I A S

Danos causados aos equipamentos/ instalações

Desrespeito pelo professor (dentro da sala)

Confronto físico entre alunos

Desrespeito por elementos da comunidade educativa

Uso indevido de equipamentos tecnológicos na sala de aula

Difusão através da internet de imagens ou sons capturados em sala de aula

Comportamento indisciplinado na sala de aula e consequentes faltas de disciplina

15

7

1

1

0

0

6

1

21

6

3

0

1

2

8

0

0% 20% 40% 60% 80% 100%

Total

Comportamento indisciplinado na sala de aula…

Difusão através da internet de imagens ou sons…

Uso indevido de equipamentos tecnológicos na…

Desrespeito por elementos da comunidade…

Confronto físico entre alunos

Desrespeito pelo professor (dentro da sala)

Danos causados aos equipamentos/ instalações

M E D I DA S C O R R E T I VA S E S A N C I O N ATÓ R I A S

Medidas sencionatórias Medidas corretivas

Page 76: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

76

Gráfico 5 - Ocorrências disciplinares por turnos

Gráfico 6 - Ocorrências disciplinares por áreas

Desde o início do ano letivo 2013/2014 até a 21 de Maio de 2014 registaram-se

27 ocorrências na ESLC, 12 nos cursos científico-humanísticos e 14 nos cursos

profissionais. Os tipos de ocorrência que mais casos registaram foram o desrespeito

pelo professor (10 casos) e os comportamentos indisciplinados na sala de aula e

consequentes faltas de indisciplina (7 casos).

Em relação aos cursos científico-humanísticos, podemos verificar que apenas 4

das ocorrências foram em turmas da manhã sendo que, 8 das ocorrências deram-se

em turmas com maior mancha horária na tarde. Dessas 12 ocorrências podemos

4

9

14

O C O R R Ê N C I A S D I S C I P L I N A R ES P O R T U R N O S

Manhã Tarde Profissionais

1 2

3

7

14

O C O R R Ê N C I A S D I S C I P L I N A R ES P O R Á R E A S

Artes Economia Ciências Humanidades Profissionais

Page 77: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

77

salientar que 7 aconteceram em turmas de línguas e humanidades, apenas 1 na turma

de artes visuais e 2 nas turmas de ciências socio-economias e ciências e tecnologias.

Referentemente ao ano de escolaridade dos cursos cientifico-humanísticos, foi

no 10º ano que ocorreram mais casos (7 casos no total) e no 11º que ocorreram

menos casos (apenas 2 ocorrências) e no 12º ano apenas 4 casos.

Tendo agora em atenção os cursos profissionais, podemos verificar que o ano

em que ocorreram mais casos de indisciplina foi no 1º (7 casos), seguindo-se 2º ano

com 5 casos e o 3º ano com apenas 2 casos.

Page 78: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

78

Capítulo V- Investigação Extensiva

1- Questionário

1.1- Inquérito Realizado aos Alunos

Gráfico 7 – Consideras que a falta de valores e normas incutidos pelos pais/família é um fator determinante para o comportamento indisciplinado dos alunos na escola?

Segundo a análise direta deste gráfico em que os alunos responderam à

questão acima apresentada, podemos concluir que 58 dos inquiridos, o que

corresponde a 89 pontos percentuais, consideram que o papel da família no que

concerne à transmissão (ou falta dela) de valores e normas, condiciona o

comportamento adotado pelos mesmos (alunos) no espaço escolar.

Consequentemente, 11% dos mesmos, ou seja, 7 alunos do total dos inquiridos, têm

uma opinião contrária à acima falada, considerando que o comportamento adotado

pelos mesmos não está automaticamente relacionado com o processo de socialização

primária que estes recebem.

58; 89%

7; 11%

CONSIDERAS QUE A FALTA DE VALORES E NORMAS INCUTIDOS PELOS PAIS/FAMÍLIA É UM FATOR DETERMINANTE PARA O COMPORTAMENTO INDISCIPLINADO DOS ALUNOS NA ESCOLA?

Sim

Não

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

79

Gráfico 82 - Já leste o regulamento interno?

Relativamente ao conhecimento que os alunos têm do Regulamento Interno do

Agrupamento, através da visualização deste gráfico, pode-se concluir que, de acordo

com o estatuto socioprofissional dos pais, verifica-se uma tendência em que os alunos

que conhecem o regulamento interno são em maior número, ou peso (%), quanto mais

alto for o estatuto socioprofissional dos pais, à exceção dos alunos cujos pais são

licenciados, em que a tendência abranda devido à descida do valor absoluto dos

alunos que não têm conhecimento/não leram o Regulamento Interno.

Gráfico 9 - Em que circunstâncias é que leste o regulamento interno?

0% 38% 17% 50% 57% 33% 40%

100%

62%

83%

50% 43%

67% 60%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

JÁ LESTE O REGULAMENTO INTERNO?

Sim Não Linear (Sim)

15

6

2

EM QUE CIRCUNSTÂNCIAS É QUE LESTE O REGULAMENTO INTERNO?

Biblioteca Casa Aula de PT Outros

Page 80: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

80

No que concerne a esta pergunta, em que tentámos aferir em que

circunstâncias/onde é que os alunos leram o Regulamento Interno do Agrupamento,

daqueles que o fizeram, pode-se concluir que 15 alunos leram-no em casa, 6 no

decorrer da aula de PT (projeto de turma) e os restantes 2 alunos noutros locais (um

deles no teatro, outro não especificou).

Gráfico 10 - Achas que a aula de PT (Projeto de turma) é importante?

A análise deste gráfico permite concluir que as respostas a esta pergunta

sugerem uma tendência. Esta tendência assenta no facto de quanto maior for o

estatuto socioprofissional dos pais dos alunos inquiridos, maior é o desinteresse dos

alunos perante as aulas de PT. Neste sentido, podemos revelar de uma forma

pormenorizada, o facto de 80% dos alunos cujos pais têm o Mestrado, considerarem

que estas aulas não são importantes. Em contraste, 54% dos alunos cujos pais

prosseguiram os estudos até ao 9º ano, consideram importante esta aula.

50% 54% 42% 33% 43% 61% 20%

50% 46%

58%

67%

57%

39%

80%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

ACHAS QUE A AULA DE PT (PROJETO DE TURMA) É IMPORTANTE?

Sim Não Linear (Não)

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

81

Gráfico 11 - Vais/ias à aula de PT?

O gráfico acima permite aferir a frequência com que os alunos inquiridos

frequentam/frequentavam as aulas de PT. Através da análise do mesmo pode-se

denotar a existência de uma ligeira tendência que demonstra que quanto maior for o

estatuto socioprofissional dos pais destes alunos, menos frequentavam estas aulas.

Gráfico 12 - Na tua aula de PT, costumam/costumavam ser tratados assuntos relacionados com a indisciplina e violência da vossa turma?

100% 62% 58% 92% 43% 56% 100% 0

38% 42%

8%

57%

44%

0 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

VAIS/IAS À AULA DE PT?

Sim Não Linear (Sim)

29; 46% 34; 54%

NA TUA AULA DE PT, CO STUM AM / COSTUMAVAM SER TRATADO S ASSUNTO S RELACI O NADO S CO M A I NDI SCIPLINA E V I O LÊNCIA DA VO SSA TURM A?

Sim Não

Page 82: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

82

Com esta pergunta conseguimos aferir que, na aula de PT, mais de metade

dos Diretores de Turma das turmas de 10º ano (54%) não transmitem nem abordam

assuntos relacionados com a indisciplina e violência da turma em questão. Será que

não existem casos indisciplinados? Será que os professores não os abordam com os

alunos? E porquê? São algumas das questões que se levantam após a análise deste

gráfico.

Gráfico 13 - Consideras que a atitude dos professores pode influenciar as situações de indisciplina na sala de aula?

Como resposta a esta questão, podemos constatar que mais de 90% dos

inquiridos consideram que a atitude dos professores no decorrer da sala de aula,

influencia de alguma forma, o ambiente da aula em questão e, consequentemente, as

situações indisciplinadas decorrentes na mesma. Numa análise mais pormenorizada,

por sexos, podemos concluir que a maioria dos rapazes considera que a atitude dos

professores influencia pouco a atitude indisciplinada dos alunos na sala de aula (56%).

No entanto, podemos ainda relevar, embora em menor peso, a opinião dos alunos do

sexo masculino (2 alunos, o que corresponde a 6% dos inquiridos), de que a atitude

dos professores influencia totalmente o ambiente na sala de aula e do que este pode

decorrer. Relativamente aos alunos do sexo feminino, pode-se relevar o grande peso

de respostas na opção “Influencia” e, tal como nos rapazes, as 2 alunas que

consideram que a atitude dos professores perante os alunos e perante a forma como

se manifesta ao dar as aulas, influencia de forma total o ambiente da turma na sala de

aula.

3%

56%

24%

15%

6% 3%

26%

48%

16%

6% 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

CONSIDERAS QUE A ATITUDE DOS PROFESSORES PODE INFLUENCIAR AS SITUAÇÕES DE INDISCIPLINA NA SALA

DE AULA?

Rapazes Raparigas

Page 83: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

83

3; 5% 3; 5%

29; 44% 17; 26%

13; 20%

QUE NÍVEL ATRIBUIS ÀS SITUAÇÕES DE INDISCIPLINA E/OU VIOLENTAS, NA TUA TURMA?

Muito graves

Graves

Pouco graves

Não considero que haja situações de indisciplina

Nada graves

Com este gráfico pode-se concluir que cerca de 56% dos rapazes consideram

que os casos de indisciplina que ocorrem na sua turma, decorrem de comportamentos

de grupo e, consequentemente, 44% consideram que decorrem de comportamentos

individuais. As raparigas, tal como se pode verificar pelo gráfico, também consideram

existirem maior número de casos de indisciplina de comportamentos de grupo, embora

em maior valor (relativo – 68%) e, tal como se pode deduzir, uma percentagem menor

para os casos indisciplinados de comportamentos individuais, com uma

expressividade de 29 pontos percentuais. Neste sentido, haverá alguma razão

específica para esta divergência de opiniões entre sexos, apesar de em ambos, a

maior parte consideram que os casos indisciplinados resultam de comportamentos de

grupo?

Rapazes Raparigas

Grupo 56% 68%

Individuais 44% 29%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

NA TUA TURMA OS CASOS DE INDISCIPLINA RESULTAM DE COMPORTAMENTOS:

Individuais Grupo

Gráfico 14 - Na tua turma os casos de indisciplina resultam de comportamentos:

Gráfico 15 - Que nível atribuis às situações de indisciplina e/ou violentas, na tua turma?

Page 84: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

84

No gráfico acima, podemos constatar que 26% dos alunos inquiridos

consideram não existirem casos indisciplinados nas suas turmas. No entanto, os

alunos inseridos em turmas onde consideram existirem casos de indisciplina, 20%

categorizam esses casos como nada graves, 44% como pouco graves, 5%

consideram que existem graves casos inconformistas nas suas turmas e, por fim, e

não dando menor importância a estes, 5% dos alunos também consideram que na sua

turma existem casos muito graves.

Este gráfico traduz a clara impressão de que 52 alunos defendem que existe

um maior número de ocorrências de casos indisciplinados durante a tarde, o que

traduz uma percentagem de 84. Consequentemente, 16%, ou seja, 10 alunos,

defendem uma opinião contrária, ou seja, de que os casos indisciplinados ocorrem

durante a manhã. Agora perguntamos: Porque será que os alunos têm estas opiniões?

Será que já vivenciaram tempos/situações suficientes para deterem estes pontos de

vista? Ou será que é por opinião pessoal, ou seja, consideram que se trata de algum

tipo de senso comum, em que estereotipam os alunos do turno da tarde como sendo

aqueles que são mais indisciplinados?

Gráfico 16 - Em que turno achas que se registam maiores situações conflituosas?

10; 16%

52; 84%

EM QUE TURNO ACHAS QUE SE REGISTAM MAIORES SITUAÇÕES CONFLITUOSAS?

Manhã

Tarde

Page 85: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

85

A análise deste gráfico permite, claramente, concluir, em ordem crescente, que

os casos de indisciplina vivenciados pelos alunos inquiridos ocorreram,

maioritariamente, durante o 3º ciclo do ensino básico, ou seja, do 6º ao 9º ano de

escolaridade (42 alunos o que corresponde a, aproximadamente, 66%). O ensino

secundário surge como o segundo palco dos comportamentos indisciplinados, com um

peso de cerca de 20%, correspondendo às respostas de 13 dos alunos inquiridos. Por

último, todos os anos de escolaridade até ao 2º ciclo do ensino básico são aqueles em

que estes casos em análise ocorrem com menor frequência ou com menor grau de

gravidade.

9 42 13

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

EM QUE ANO DE ESCOLARIDADE SENTISTE EXISTIREM MAIS SITUAÇÕES DE INDISCIPLINA?

Até 6° ano Até 9° ano Ensino Secundário

Gráfico 17 - Em que ano de escolaridade sentiste existirem mais situações de indisciplina?

Page 86: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

86

1.2- Inquérito Realizado aos Professores

Gráfico 18 - Considera existirem problemas graves de indisciplina nas suas turmas?

No gráfico circular a cima podemos observar que a grande maioria dos

professores inquiridos (92%) consideram não terem situações de indisciplina graves

nas suas turmas, no entanto o facto de existirem professores - ainda que sejam

apenas 2 (8%) - que afirmam ter problemas graves de indisciplina nas suas turmas é

um facto a ter em consideração.

Gráfico 19 - Como explica a indisciplina?

2; 8%

22; 92%

CONSIDERA EXISTIREM PROBLEMAS GRAVES DE INDISCIPLINA NAS SUAS TURMAS?

Sim

Não

29%

0%

14%

43% 43%

24% 18% 12% 0% 53% 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

COMO EXPLICA A INDISCIPLINA?

Masculino Feminino

Page 87: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

87

No gráfico a cima podemos observar os motivos que os professores apontam

para a indisciplina na sala de aula, entre os quais, a ausência de valores é o mais

recorrente. O número elevado de inquiridos que não respondem a esta pergunta pode-

se prender com facto de os professores não terem problemas de indisciplina na sua

turma ou, por outro lado, não considerarem nenhuma das opções como motivo da

indisciplina.

Gráfico 20 - Age sempre de acordo com o regulamento interno do agrupamento?

Com esta questão, podemos observar que a maior parte dos professores

inquiridos (77%), ou seja, 17 professores afirmam agir sempre de acordo com o

regulamento interno, pelo que os restantes 23% admitem não agir sempre de acordo

com o regulamento interno, o que deve ser tido em conta, uma vez que na pergunta

anterior “Conhece o regulamente interno?”, todos os inquiridos responderam “Sim”. O

que nos faz levantar algumas questões relativamente ao motivo e consequências deste

acontecimento.

17; 77%

5; 23%

AGE SEMPRE DE ACORDO COM O REGULAMENTO INTERNO DO AGRUPAMENTO?

Sim

Não

Page 88: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

88

Gráfico 21 - De que forma é que transmite o regulamento interno aos seus alunos?

No gráfico acima podemos comparar as respostas de professores do sexo

masculino com as respostas de professoras do sexo feminino.

Enquanto quase todas as professoras (F) (94%) respondem que transmitem o

regulamento interno nas suas aulas, apenas 57% dos professores (M) responde o

mesmo, sendo que os restantes 43% afirmam só transmitir o regulamento interno aos

alunos enquanto Diretores de Turma.

4

16

3

0

0

1

0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%

Masculino

Feminino

DE QUE FORMA É QUE TRANSMITE O REGULAMENTO INTERNO AOS SEUS ALUNOS?

Nas suas aulas Apenas enquanto DT Nenhuma

Gráfico 22 - Que assuntos costuma/costumava abordar na sua aula de pt?

Page 89: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

89

Com os gráficos a cima podemos apurar os assuntos que os professores

costumam abordar na sua aula de PT, que obtivemos a partir de uma resposta aberta,

e ainda comparar as respostas dos professores do sexo masculino e das professoras

de sexo feminino. A predominância de inquiridos que não responderam a esta questão

pode se dever ao facto de alguns professores nunca terem sido diretores de turma e,

por isso não terem Projeto de turma ou, por outro lado, os seus alunos não comparem

nas aulas de PT (Recordo que projeto de turma não é uma disciplina curricular, logo

não tem faltas.)

Gráfico 23 - Considera que a atitude dos professores pode influenciar as situações de indisciplina na sala de aula?

14%

43%

0%

43%

0% 0%

53%

29%

18%

0%

4%

50%

21% 25%

0% 0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

CONSIDERA QUE A ATITUDE DOS PROFESSORES PODE INFLUENCIAR AS SITUAÇÕES DE INDISCIPLINA NA SALA DE

AULA?

Masculino Feminino Total

Regulamento

interno Questões

disciplinares Questões de

cidadania Futuro escolar

Aproveitamento escolar

Ambiente de turma

Projetos a desenvolver

Não responde

0 0 1 0 0 1 0 6

1 7 2 4 2 2 1 8

Quadro 9 – Assuntos abordados na aula de pt

Page 90: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

90

O gráfico acima é referente às opiniões dos professores relativamente à forma

como as suas atitudes podem influenciar, ou não, situações de indisciplina na sala de

aula. Permite-nos ainda comparar as respostas dos professores (M) com as respostas

das professoras(F). As opiniões divergem, mas quase todos consideram que as suas

atitudes influenciam os comportamentos na sala de aula de alguma forma, uma vez

que só 1 professor (4%) respondeu “não influencia” e, por outro lado, nenhum

respondeu “influência totalmente”.

O gráfico a baixo compara a mesma questão entre professores e alunos, sendo

as respostas semelhantes, apesar de 6% dos alunos considerarem que as atitudes

dos professores influenciam totalmente o comportamento indisciplinado na sala de

aula.

Gráfico 24 - Considera que a atitude dos professores pode influenciar as situações de indisciplina na sala de aula?

4%

50%

21% 25%

0% 3%

42%

35%

15%

6%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Não influencia Influencia pouco Influencia Influencia muito Influencia totalmente

CONSIDERA QUE A ATITUDE DOS PROFESSORES PODE INFLUENCIAR AS SITUÇÕES DE INDISCIPLINA NA SALA DE

AULA?

Professores Alunos

Page 91: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

91

Gráfico 25 - Que estratégias adota de forma a otimizar o ambiente na sala de aula?

Na questão a cima podemos retirar as estratégias que os professores adotam

de forma a otimizar o ambiente na sala de aula, isto é, diminuir os casos de indisciplina

e aumentar o aproveitamento. Para alem da ideia global que o gráfico circular

transmite, a tabela permite-nos comparar as respostas dadas pelos professores (M) e

pelas professoras(F). A estratégia mais recorrente é “individualizar os alunos”, ou seja,

o professor age de determinada forma dependendo do aluno com que se está a lidar.

No entanto esta estratégia foi apenas referida por professoras (F).

4

2

2

6

1 3

2

3

6

QUE ESTRATÉGIAS ADOTA DE FORMA A OTIMIZAR O AMBIENTE NA SALA DE AULA?

Evitar "tempos mortos" Reforço positivo Agradando os alunos

Individualizando os alunos Colocar objetivos concretos Regras de sala de aula

Recursos à tecnologia Ambiente de diálogo/informal Não responde

Evitar

“tempos mortos”

Reforço positivo

Agradar os alunos

Individualizar os alunos

Colocar objetivos concretos

Regras de sala de aula

Recurso à tecnologia

Ambiente informal

Não responde

1 0 0 0 0 2 0 2 4

3 2 2 6 1 1 2 1 2

Quadro 10 – Estratégias utilizadas para otimizar o ambiente de sala de aula.

Page 92: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

92

Etapa VII – As conclusões

“A conclusão compreende geralmente três partes: uma retrospetiva das grandes

linhas do procedimento; uma apresentação pormenorizada dos contributos para o

conhecimento originados pelo trabalho; e considerações de ordem prática.”

Quivy, Raimond

Page 93: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

93

Desde o início do nosso tralho, que neste capítulo irá culminar, que diligenciámos

apontar as causas da indisciplina e violência em contexto escolar, para que fosse

possível, à escola, eliminar ou contrariar essas causas, e assim atenuar os casos de

indisciplina. Ou seja, o nosso objetivo não é procurar maneiras de conter ou controlar

a indisciplina existente, é sim, compreende-la e, com isso, poder eliminar as suas

causas, deixando-a sem razões para existir.

Na primeira etapa colocámos a pergunta de partida “Quais são os principais

indícios causadores de indisciplina e violência no espaço escolar?”, que permitiu que

nos debruçássemos sobre este tema de uma forma bastante abrangente. Focámos

aspetos relativos às características da escola, do aluno e da sua família, assim como,

questões sociais. Mencionámos ainda os vários tipos de indisciplina e violência que

podem existir no contexto escolar.

Estas conclusões tornaram-se complicadas de escrever, uma vez que, quase

todos os indícios causadores de situações de indisciplina e violência estão,

irrevogavelmente, interligados e separá-los não é uma tarefa fácil e até pouco natural.

Nesta etapa final, iremos responder às hipóteses colocadas na etapa III

(problemática) tendo por base os dados obtidos e analisados na etapa da observação,

obtidos através de inquéritos por questionário, inquéritos por entrevista e, ainda,

análise documental. Estas hipóteses estavam divididas por questões de natureza

familiar e natureza escolar.

1.1. Questões de natureza familiar

As nossas duas hipóteses de estudo de natureza familiar são: “relacionar a

indisciplina na escola com a falta de valores e normas incutidos pela família –

socialização primária” e “a forma como o ambiente familiar influencia a indisciplina ou

comportamento do aluno na escola”, às quais iremos responder com base,

principalmente, nas entrevistas realizadas.

Apesar de não haver nenhum estudo estatístico oficial, conseguimos concluir que

o ambiente familiar seja este hostil ou não, está intimamente relacionado com o

comportamento do aluno na escola, isto é, na generalidade, a socialização primária

afeta os valores do aluno, condicionando, por isso, a postura do mesmo. Sendo assim,

o primeiro núcleo social, a família, é um fator fundamental sobre o qual se pode inferir

que os alunos são “o reflexo daquilo que têm em casa”. No entanto, isto é apenas uma

tendência, não sendo uma regra.

“(…) naturalmente que o ambiente que se vive em casa condiciona a interpretação

dos alunos e a sua vivência na escola.” – Professor da Tutoria.

“(…) normalmente verifica-se que miúdos que têm problemas sistemáticos ou

ocasionais em casa, questões afetivas, emocionais, económicas, ausência de pais,

etc. pode dar origem a comportamentos indisciplinados (…) mas isto não é

determinante (…)” – Professor do Gabinete de Gestão de Conflitos.

Este é um problema que afeta, claramente, a nossa escola, uma vez que o

contexto socioeconómico do meio envolvente é baixo, como nos foi transmitido pelo

Diretor do Agrupamento e confirmado através dos questionários. Existem, também,

alunos com famílias destruturadas que foram obrigados a definir os seus próprios

valores. Sendo assim, estes jovens perdem, muitas vezes, a noção de que todas as

instituições têm regras e que estas têm de ser cumpridas. Ainda, nestes casos, a

influência dos pares é mais significativa, uma vez que, sem os valores incutidos pelas

famílias, estes jovens definem, muitas vezes, os seus valores com base nos grupos

socias de pertença.

Page 94: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

94

No entanto, não considerámos existir uma relação direta entre o estatuto

socioeconómico dos pais ou o tipo de família (monoparental, homoparental, etc.) com

os comportamentos dos respetivos filhos na escola, sendo que não temos dados para

estabelecer essa ligação. Estabelecemos sim, uma relação direta entre a forma de

educar os filhos ou a forma como lhes transmitem os valores e as normas, com o

comportamento que estes irão ter no contexto escolar. Obviamente que os pais não

defendem valores que conduzam a comportamentos indisciplinados, ou seja, não

educam os filhos com intuito de estes serem mal formados, no entanto, pela omissão

de transmissão de valores ou pela falta de medidas sancionatórias para atitudes não

conformistas, acaba-se por estar a promover a indisciplina.

“(…) podemos apoiá-la (a indisciplina), incentivando-a, ou podemos apoiá-la

inconscientemente (…), não a contrariando.” – Professor da Tutoria.

“Pela dificuldade de tempo dos pais e, às vezes, pela tentativa dos pais ganharem

alguma amizade (dos filhos) (…), são condescendentes e, essa condescendência

pode levar à indisciplina.” – Professor da Tutoria.

Desta forma podemos concluir que, a escola está, inseparavelmente ligada à

família sendo que, a escola é um agente de socialização secundária em que os alunos

que nela estudam já deveriam ter uma socialização primária sólida incutida pela

família.

“A escola sem a família tem muita dificuldade em progredir (…), o que é dito em

casa é repetido na escola e o que é dito na escola é reforçado em casa”. – Professor

da Tutoria.

No que diz respeito às formas como a escola pode agir perante os casos de

indisciplina relacionados com ambientes familiares hostis, há pouco a dizer uma vez

que, o mecanismo da tutoria existente na nossa escola é bastante eficaz no apoio ao

aluno e tem dado bastantes resultados positivos. No entanto, é uma valência da

escola pouco divulgada entre os alunos e encarregados de educação, pelo que,

julgamos que são vários os alunos que poderiam beneficiar deste acompanhamento

se dele tivessem conhecimento.

“(…) o tutor não vai repreender o aluno, não vai também apoiar o aluno, o tutor vai

falar com o aluno, ou seja, eu acho que é esse o papel da escola e de alguns

professores, não é tutor quem quer, é tutor quem pode, (…) o tutor tem de ser uma

pessoa que inspira confiança.”

Em nossa opinião, todos os professores, mesmo aqueles que não têm o papel de

tutores, deveriam tentar acompanhar os seus alunos, tentar conversar com eles, dar-

lhes expectativas de forma a minorar este problema em que os alunos tiveram uma

socialização primária precária. Essa deve ser uma preocupação da escola e de toda a

comunidade escolar. Também a aula de PT (projeto de turma) pode ter um papel

importante para atenuar estas situações, sendo que, por um lado, são 45 minutos

semanais sem programa obrigatório em que o diretor de turma em questão tem

liberdade de escolha do tema a tratar, e por outro lado, o 10º ano é aquele em que os

alunos, em princípio, chegam ao ensino secundário e, é neste ano, em que as suas

espectativas, valores e normas devem ser moldados.

1.2. Questões de natureza escolar

A primeira hipótese que colocámos refere-se ao Regulamento Interno e à

importância que a comunidade escolar lhe atribui.

Page 95: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

95

Os processos disciplinares surgem sempre que o Regulamento Interno não é

acatado. Neste sentido, através da análise documental realizada às ocorrências

disciplinares do presente ano letivo podemos aferir que raramente o Regulamento

Interno não é tido em consideração, atendendo ao número de alunos que a escola

tem. No entanto, nos inquéritos por questionário, apurámos que a maioria dos alunos

(65%) admite não ter lido o Regulamento Interno, ao contrário dos professores em que

todos conheciam este documento, embora 23% dos professores tenham respondido

que nem sempre age de acordo com o Regulamento Interno.

Claramente, existe uma grave lacuna relacionada com o Regulamento Interno que

se prende com o facto de a maior parte dos alunos não o conhecerem. Isto é

problemático, uma vez que, os alunos não conhecem as normas formais da escola,

sendo até comum desrespeitarem as mesmas, sem disso terem conhecimento.

Como solução, o Regulamento Interno deveria ser lido na aula de PT ou noutra

aula, como por exemplo, uma primeira aula do ano letivo para que os alunos, não só

conheçam os seus deveres e as normas que têm de seguir, como também, os seus

direitos.

No que concerne à segunda hipótese – “A importância da aula PT” –, e esta sim dá

que falar, retirámos conclusões a partir das entrevistas e dos inquéritos por

questionário e, consequentemente, colocámos algumas questões relativas à sua

informalidade enquanto “não disciplina letiva”.

Para começar, devemos relembrar que a aula de PT, não sendo uma disciplina

letiva, não tem registo de faltas obrigatório, pelo que é comum os alunos não

comparecerem neste tempo letivo. Contudo, como já referimos, nós consideramos

estes 45 minutos essenciais para a formação do aluno e para a diminuição dos casos

de indisciplina.

Nós colocamos “Projeto de Turma” num patamar tão elevado, quase como “uma

chave”, pois só o facto de os alunos atenderem a este tempo letivo é uma vitória,

porque demonstra a motivação e interesse dos alunos relativamente à escola e, um

aluno motivado é um aluno disciplinado. Este, como já foi dito anteriormente, deve

ser um objetivo de toda a escola, motivar os alunos, dar-lhes espectativas e

possibilidades.

Embora esta seja uma preocupação para a escola, o “Projeto de Turma” tem as

melhores características para realizar este tipo de ações sendo que um professor, o

diretor de turma, tem a possibilidade de fazer qualquer tipo de atividade mais

consistente e prolongada no tempo com os seus alunos.

Afastamo-nos, agora, um pouco do tema “Projeto de Turma” para falarmos da

motivação dos alunos. Ao longo da realização deste trabalho apercebemo-nos que a

desmotivação é, muitas vezes, a causa mais direta da indisciplina. Esta falta de

motivação pode estar relacionada com as imagens parentais, com a desacreditação

geral do ensino público, com a falta de espectativas para o futuro devido a situação

atual do país, etc. Todos estes fatores são extrínsecos à escola, no entanto, cabe à

escola reverter esta situação, motivando os alunos. Isso poderá ser feito, não só

oferecendo formação aos professores relacionados com esta temática, como também

com palestras ou casos de vida que possam, de alguma forma, motivar um ou outro

aluno, ou informa-los das possibilidades que têm na continuação de estudos.

“Eu acho que por vários motivos a sociedade desacredita um bocadinho da escola,

daquilo que é a escola oficial, acho que os políticos desacreditam, os jornalistas

também desacreditam, os pais também na onda, desacreditam (…). Não é prestigiante

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

96

andar numa escola pública, nem ser professor, o ensino português é um ensino que

não está prestigiado” – Diretor do Conselho Geral do Agrupamento.

Não nos podemos esquecer que, os alunos são influenciáveis pelos seus pares,

tanto para aspetos negativos como para aspetos positivos, portanto, se o professor

conseguir motivar alguns alunos pode criar uma maré positiva na turma em que os

alunos se motivam uns aos outros.

Apesar de tudo o que já foi dito, a hora PT não é vista, pela comunidade educativa,

como nós a vemos. Nos inquéritos por questionário respondidos pelos alunos, um

pouco mais de metade dos alunos (52%) considera que este tempo letivo não tem

qualquer importância, pelo que concluímos não que este tempo letivo seja totalmente

desnecessário mas que, pelo contrário, é muito mal aproveitado.

Aquando da realização dos questionários, curiosamente, uma das turmas a que

estes foram aplicados, estava numa aula de PT, no entanto a atividade a decorrer

eram apresentações orais para uma disciplina terceira. Este exemplo ilustra, na

perfeição, o nosso argumento.

Em suma, o que poderia ser uma importante mais-valia para a escola, não o é por

desleixo ou falta de capacidade para motivar os alunos, podendo até tornar-se uma

menos valia sendo que, com as faltas dos alunos a esse tempo letivo, estes estão

psicologicamente a ter uma ação de “suposta rebeldia”.

A terceira hipótese colocada relaciona-se os aspetos organizacionais da escola

(organização das turmas e horários). Com esta questão pretendemos apurar qual é o

turno, tarde/manhã mais conflituoso e quais são os critérios para a realização das

turmas.

Em primeiro lugar, através dos inquéritos por entrevista realizados, apurámos que

as turmas são concebidas de forma aleatória com algumas exceções: alunos com

atestados médicos, alunos com NEE (necessidades educativas especiais), alunos

repetentes, os alunos pertencentes ao mega agrupamento do qual a nossa escola é a

sede e, ainda, alunos federados em algum desporto, que os obriga a estar num turno

ou no outro, apesar de a grande maioria pretender ficar de manhã.

“(…) é logo estipulado quantas turmas de cada área vão haver. (…) Consoante o

número de processos que chegam cá à escola, sabemos logo quantas turmas irão ser

feitas. Quando chegam os processos, estes são postos em cima de uma mesa.

Sabemos logo que as turmas ímpares ficarão do turno da manhã e as pares no turno

da tarde. É escrita a turma numa folha A4 e depois colocam-se os alunos consoante a

área científico-humanística que escolheram preenchendo, assim, as turmas.” –

Professora Adjunta da Direção responsável pelos alunos.

“(…) quando o processo dos alunos chega à escola, vindos das básicas, vêm em

papéis, fotografias, etc e ninguém os conhece de lado nenhum e são colocados em

turmas de forma aleatória.” - Professora Adjunta da Direção responsável pelos alunos.

Apesar de as turmas serem feitas de forma aleatória, como já verificámos, tanto no

senso comum dos alunos (obtido através da análise dos inquéritos por questionário),

como nas ocorrências disciplinares que ocorreram, efetivamente, este ano letivo, as

turmas da tarde são mais indisciplinadas e conflituosas. Sendo que 84% dos alunos

respondeu que considera que as turmas da tarde são mais indisciplinadas e, por outro

lado, 33% das ocorrências do presente ano letivo ocorreram no turno da tarde, em

contraste com os 14% dos casos indisciplinados verificados no turno da manhã. Note-

se que a maioria dos casos de indisciplina e violência, ocorre nas turmas de cursos

profissionais.

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

97

O critério de realização das turmas poderia ser um dos motivos para o contraste

verificado entre o turno da manhã e o turno da tarde, no entanto, as turmas são feitas

de forma aleatória. Então, o que poderá explicar esta situação?

Embora as turmas sejam feitas sem uma ordem definida, as prioridades existentes

poderão condicionar esta realidade, uma vez que alunos praticantes de desportos são,

geralmente, alunos mais disciplinados e habituados a seguir regras. Por outro lado,

alunos com encarregados de educação que exerçam pressão sobre a comunidade na

tentativa de colocar o(s) seu(s) educando(s) no turno da manhã são, frequentemente,

alunos educados com apreço ou, pelo menos, é uma situação que demonstra a

preocupação dos respetivos pais perante a vida académica do filho.

“Obviamente que se a pressão da rede não fosse tão grande, o ideal era termos

uma escola das 8 às 13 horas, ou das 8 às 15 horas.” – Diretor do Agrupamento das

Escolas de Rio de Mouro.

Outra teoria verosímil surge do facto, já estudado e sabido, de que o período de

concentração máxima de qualquer aluno é, geralmente, de manhã e, como diz o

Diretor do Agrupamento: “(…) em que o nosso próprio biorritmo aconselha a estar na

escola e a ter níveis de concentração mais elevados”.

Ainda apontamos como possível motivo deste fenómeno, o facto de os professores

mais experientes terem horários mais concentrados de manhã, uma vez que estes têm

prioridade na “escolha” do horário, se essa opção existir.

“(…) há escolas que têm uma dupla personalidade, a escola do turno da manhã e

a escola do turno da tarde, que são completamente diferentes e que, normalmente, no

turno da tarde é mais complicado de gerir as questões” – Diretor do Conselho Geral do

Agrupamento.

Em relação a esta temática não há muito que a escola possa fazer, a não ser

procurar tratar os alunos da tarde da mesma forma dos alunos da manhã, procurando

motivar esses alunos para que esta tendência desvaneça.

Nesta última hipótese – “relacionar os aspetos pedagógicos (modos de atuação

dos professores) com a indisciplina na escola” – pretendemos, não só analisar

criticamente o modo de atuação dos professores nos diferentes casos a que são

colocados, como também, aconselhar os professores nesta matéria.

Através dos inquéritos por questionário realizados aos professores apurámos, a

partir de uma resposta aberta, as várias técnicas que os professores adotam, de forma

a reduzir os casos de indisciplina. Entre os quais foram mencionados: evitar “tempos

mortos”, reforço positivo/elogio, realizar atividades do agrado do aluno, tratar dos

alunos de forma individualizada, recurso à tecnologia, procurando um ambiente de

diálogo/informal, colocar objetivos concretos e fazendo regras de sala de aula.

Em nossa opinião, o objetivo dos professores deve passar, não só pela redução da

indisciplina, mas também pela motivação dos alunos e transmissão da importância que

a escola representa para os alunos e, sobretudo, o seu futuro, como já foi “esmiuçado”

anteriormente, pois isso, automaticamente, levará à redução dos casos não

conformistas.

E assim chegamos ao fim do nosso trabalho onde, acima de tudo, pretendemos

responder à pergunta de partida deste trabalho, fazendo com que os leitores se

apercebam da realidade que é a indisciplina e violência na escola e até, aproveitem

estas informações e conselhos para que possam maximizar o ensino na nossa escola,

diminuindo cada vez mais as reduzidas situações indisciplinadas que nela ocorreram

ao longo deste ano letivo.

Page 98: An+ílise sociol+¦gica da indisciplina e viol+¬ncia na escola   relat+¦rio finalissimo

Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

102

Anexos

1. Anexo 1 – Lei 51/2012 – Artigo nº10

Na lei 51/2012, artigo nº10 encontram-se presentes os deveres do aluno:

“O aluno tem o dever, sem prejuízo do disposto no artigo 40.º e dos demais deveres

previstos no regulamento interno da escola, de:

a) Estudar, aplicando-se, de forma adequada à sua idade, necessidades educativas e

ao ano de escolaridade que frequenta, na sua educação e formação integral;

b) Ser assíduo, pontual e empenhado no cumprimento de todos os seus deveres no

âmbito das atividades escolares;

c) Seguir as orientações dos professores relativas ao seu processo de ensino;

d) Tratar com respeito e correção qualquer membro da comunidade educativa, não

podendo, em caso algum, ser discriminado em razão da origem étnica, saúde, sexo,

orientação sexual, idade, identidade de género, condição económica, cultural ou

social, ou convicções políticas, ideológicas, filosóficas ou religiosas.

e) Guardar lealdade para com todos os membros da comunidade educativa;

f) Respeitar a autoridade e as instruções dos professores e do pessoal não docente;

g) Contribuir para a harmonia da convivência escolar e para a plena integração na

escola de todos os alunos;

h) Participar nas atividades educativas ou formativas desenvolvidas na escola, bem

como nas demais atividades organizativas que requeiram a participação dos alunos;

i) Respeitar a integridade física e psicológica de todos os membros da comunidade

educativa, não praticando quaisquer atos, designadamente violentos,

independentemente do local ou dos meios utilizados, que atentem contra a integridade

física, moral ou patrimonial dos professores, pessoal não docente e alunos;

j) Prestar auxílio e assistência aos restantes membros da comunidade educativa, de

acordo com as circunstâncias de perigo para a integridade física e psicológica dos

mesmos;

k) Zelar pela preservação, conservação e asseio das instalações, material didático,

mobiliário e espaços verdes da escola, fazendo uso correto dos mesmos;

l) Respeitar a propriedade dos bens de todos os membros da comunidade educativa;

m) Permanecer na escola durante o seu horário, salvo autorização escrita do

encarregado de educação ou da direção da escola;

n) Participar na eleição dos seus representantes e prestar-lhes toda a colaboração;

o) Conhecer e cumprir o presente Estatuto, as normas de funcionamento dos serviços

da escola e o regulamento interno da mesma, subscrevendo declaração anual de

aceitação do mesmo e de compromisso ativo quanto ao seu cumprimento integral;

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

103

p) Não possuir e não consumir substâncias aditivas, em especial drogas, tabaco e

bebidas alcoólicas, nem promover qualquer forma de tráfico, facilitação e consumo das

mesmas;

q) Não transportar quaisquer materiais, equipamentos tecnológicos, instrumentos ou

engenhos passíveis de, objetivamente, perturbarem o normal funcionamento das

atividades letivas, ou poderem causar danos físicos ou psicológicos aos alunos ou a

qualquer outro membro da comunidade educativa;

r) Não utilizar quaisquer equipamentos tecnológicos, designadamente, telemóveis,

equipamentos, programas ou aplicações informáticas, nos locais onde decorram aulas

ou outras atividades formativas ou reuniões de órgãos ou estruturas da escola em que

participe, exceto quando a utilização de qualquer dos meios acima referidos esteja

diretamente relacionada com as atividades a desenvolver e seja expressamente

autorizada pelo professor ou pelo responsável pela direção ou supervisão dos

trabalhos ou atividades em curso;

s) Não captar sons ou imagens, designadamente, de atividades letivas e não letivas,

sem autorização prévia dos professores, dos responsáveis pela direção da escola ou

supervisão dos trabalhos ou atividades em curso, bem como, quando for o caso, de

qualquer membro da comunidade escolar ou educativa cuja imagem possa, ainda que

involuntariamente, ficar registada;

t) Não difundir, na escola ou fora dela, nomeadamente, via Internet ou através de

outros meios de comunicação, sons ou imagens captados nos momentos letivos e não

letivos, sem autorização do diretor da escola;

u) Respeitar os direitos de autor e de propriedade intelectual;

v) Apresentar-se com vestuário que se revele adequado, em função da idade, à

dignidade do espaço e à especificidade das atividades escolares, no respeito pelas

regras estabelecidas na escola;

x) Reparar os danos por si causados a qualquer membro da comunidade educativa ou

em equipamentos ou instalações da escola ou outras onde decorram quaisquer

atividades decorrentes da vida escolar e, não sendo possível ou suficiente a

reparação, indemnizar os lesados relativamente aos prejuízos causados.”

Documento retirado: Diário da República, 1.ª série — N.º 172 — 5 de setembro de

2012

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

104

1.6-

1.7-

2- Anexo 2 – Inquéritos por questionario

Grupos de Profissões Pai Mãe Outros

Profissões das Forças Armadas

Representantes do poder legislativo e de órgãos executivos, dirigentes, diretores e gestores executivos

Especialistas das atividades intelectuais e científicas

Técnicos e profissões de nível intermédio

Pessoal administrativo

Trabalhadores dos serviços pessoais, de proteção e segurança e vendedores

Agricultores e trabalhadores qualificados da agricultura, da pesca e da floresta

Trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices

Operadores de instalações e máquinas e trabalhadores da montagem

Trabalhadores não qualificados

Habilitações académicas dos Pais/E.E

Habilitações\Pais(E.E) Pai Mãe Outro________________

Até ao 9º ano

9º-12º ano

Ensino Secundário

Frequência Universitária

Licenciatura

Mestrado

Outro________________

2- Consideras que a falta de valores e normas incutidos pelos pais/família,

é um fator determinante para o comportamento indisciplinado dos alunos

na escola?

Análise Sociológica da Indisciplina e violência na escola

Sociologia | Ano letivo 2013/2014

Inquérito por questionário – Alunos

1- Caracterização do Inquirido

1.1- Sexo: M F 1.2- Ano de Escolaridade: 10º 11º 12º

1.3- Idade:____ 1.4- Área de Estudos: A C H E P

1.5- Com quem vives? __________________________________

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

105

2.1- Sim 2.2- Não

3- Já leste o regulamento interno?

3.1- Sim 3.2- Não

3.3- Se já, em que circunstâncias é que o leste?

3.4- Biblioteca 3.5- Casa 3.6- Aula de PT 3.7- Outros: __________

4- Achas que a aula de PT (projeto de turma) é importante?

4.1- Sim 4.2- Não

4.3- Se sim, quão importante?

4.4- Muito 4.5- Depende do assunto tratado 4.6- É importante, mas não

para mim

5- Vais/ias à aula de PT?

5.1- Sim 5.2- Não

6- Na aula de PT, costumam/costumavam ser tratados assuntos

relacionados com a indisciplina e violência da vossa turma?

6.1- Sim 6.2- Não

7- Consideras que a atitude dos professores pode influenciar as situações

de indisciplina na sala de aula?

7.1- Não influencia 7.2- Influencia pouco 7.3- Influencia

7.4- Influencia muito 7.5- Influencia totalmente

8- Na tua turma os casos de indisciplina resultam de comportamentos:

8.1- Individuais 8.2- Grupo

9- Que nível atribuis às situações de indisciplina e/ou violentas, na tua

turma?

9.1- Muito graves 9.2- Graves 9.3- Pouco graves 9.4- Não considero

que haja situações de indisciplina 9.5 Nada graves

10- Em que turno achas que se registam maiores situações conflituosas?

10.1- Manhã 10.2- Tarde

11- Em que ano de escolaridade sentiste existirem mais situações de

indisciplina?

11.1- Até ao 6º ano 11.2- Até ao 9º ano 11.3- No ensino secundário

Agradecemos a colaboração!

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

106

1- Caracterização do professor:

1.1- Idade:______ 1.2- Sexo: M F

1.3- Situação profissional: Contratado Quadro Destacado Efetivo

Outro Qual?___________________________________________________

1.4- Há quantos anos leciona? 5 anos 5-10 anos 10-15 anos

15-20 anos + 20 anos

1.5- Funções/Cargos desempenhados: DT Coordenador de departamento

Representante no Conselho Pedagógico Outro Qual?_________________

2 – Considera existirem problemas graves de indisciplina nas suas

turmas?

2.1- Sim 2.2- Não

3– Como explica a indisciplina?

3.1- Ausência de valores 3.2- Ausência/Falta de educação 3.3- Influência

dos pares 3.4- Características psicológicas do aluno

4– Qual o tipo de indisciplina que mais se regista na sua sala de aula?

4.1- Falta de educação 4.2- Comportamentos indisciplinados

4.3- Desrespeito com o professor 4.4- Utilização de aparelhos eletrónicos

4.5- Outros Quais?______________________________________________

5– Conhece o regulamento interno do agrupamento? 5.1- Sim 5.2- Não

6- Age sempre de acordo com o regulamento interno do agrupamento?

6.1- Sim 6.2- Não

7- De que forma é que transmite o regulamento interno aos seus alunos?

7.1- Nas suas aulas 7.2- Apenas enquanto DT 7.3- Nenhuma

8- Que assuntos costuma/costumava abordar nas suas aulas de PT?

8.1- ____________________________________________________________

9- Considera que a atitude dos professores pode influenciar as situações

de indisciplina na sala de aula?

9.1- Não influencia 9.2- Influencia pouco 9.3- Influencia

9.4- Influencia muito 9.5- Influencia totalmente

Análise Sociológica da Indisciplina e violência na escola

Sociologia | Ano letivo 2013/2014

Inquérito por questionário – Professores

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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10- Enquanto professor, ajuda sempre que acha necessário, na resolução

de situações indisciplinares da turma?

10.1- Sim 10.2- Não

11- Considera que todos os professores agem de igual forma perante as

mesmas situações de indisciplina?

11.1- Sim 11.2- Não

12- Procura adotar diferentes estratégias, conforme a turma que está a

lecionar, procurando otimizar o ambiente na sala de aula?

12.1 Sim 12.2- Não

13.1- Se sim, de que forma?

13.4- ___________________________________________________________

Agradecemos a colaboração!

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Análise Sociológica da Indisciplina e Violência na Escola

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Agradecimentos

O trabalho que aqui se apresenta desenvolveu-se ao longo de um período de 5

meses, sendo que a sua conclusão não teria sido exequível sem o vasto contributo de

um conjunto de pessoas e entidades às quais devemos a nossa gratidão.

Primeiramente, agradecemos à Profª Ana Maria Silva por nos ter

disponibilizado a sua larga ajuda no desenvolvimento deste trabalho, ao ter-nos

fornecido dados fulcrais para a realização deste trabalho, por nos ter orientado ao

longo da produção do mesmo e por nos ter dado a oportunidade de desenvolver este

tema que é, cada vez mais, fulcral para o bom funcionamento de uma escola ou até de

um agrupamento de escolas tal como o que nos inserimos.

De seguida, aos professores que se disponibilizaram quer para o

preenchimento de inquéritos por questionário onde apresentaram a sua opinião

relativamente a algumas questões relacionadas com este tema e, acima de tudo, por

terem disponibilizado parte das suas aulas para que os alunos inquiridos

contribuíssem para as conclusões que retirámos deste estudo, aos quais também

devemos a nossa gratidão.

Queremos também agradecer aos professores e restantes entidades

pertencentes à comunidade escolar do Agrupamento de Escolas de Rio de Mouro, por

nos terem concedido algumas entrevistas onde, de uma forma mais alargada,

responderam a algumas questões que, de uma forma mais intensiva, contribuíram

para a conclusão deste trabalho.

Por fim, e mais importante ainda, agradecemo-nos uns aos outros pela grande

dedicação que depositámos, de forma igualitária, a este trabalho. Sem o espírito de

grupo que se evidenciou ao longo destes 5 longos meses, não teria sido possível a

apresentação deste documento.