angelina reys bellucco a introdução do teste rápido diagnóstico

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Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico para HIV e implicações para o processo de trabalho em um Centro de Testagem e Aconselhamento do Município de São Paulo. Monografia apresentada para conclusão do Primeiro Curso de Especialização em Prevenção HIV/aids no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos realizado pelo Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids da Universidade de São Paulo (NEPAIDS)- SP São Paulo 2011

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Page 1: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

Angelina Reys Bellucco

A introdução do Teste Rápido Diagnóstico para HIV e implicações para

o processo de trabalho em um Centro de Testagem e Aconselhamento

do Município de São Paulo.

Monografia apresentada para conclusão do Primeiro Curso de Especialização em Prevenção HIV/aids no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos realizado pelo Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids da Universidade de São Paulo (NEPAIDS)- SP

São Paulo – 2011

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Angelina Reys Bellucco

A introdução do Teste Rápido Diagnóstico para HIV e implicações para

o processo de trabalho em um Centro de Testagem e Aconselhamento

do Município de São Paulo.

Monografia apresentada para conclusão do Primeiro Curso de Especialização em Prevenção HIV/aids no Quadro da Vulnerabilidade e dos Direitos Humanos realizado pelo Núcleo de Estudos para a Prevenção da Aids da Universidade de São Paulo (NEPAIDS)- SP

Orientadora: Ligia Rivero Pupo

São Paulo – 2011

Page 3: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

Este Curso de ESPECIALIZAÇÃO EM PREVENÇÃO AO HIV/AIDS NO

QUADRO DA VULNERABILIDADE E DOS DIREITOS HUMANOS foi

promovido pela Universidade de São Paulo e o Núcleo de Estudos da USP

(NEPAIDS) em parceria com a Secretaria de Estado de São Paulo.

Page 4: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

AGRADECIMENTOS

A minha família, pela paciência, compreensão e apoio no decorrer desta

caminhada desafiadora e solitária.

A monitora Eliana Zucchi, pelo carinho, confiança e estímulo, no

acompanhamento do Curso.

A Ligia Rivero Pupo, pelo incentivo e confiança em que sinalizou e colaborou

para o foco deste trabalho.

Aos professores e monitores, pela dedicação, empenho, organização e

estrutura das aulas deste Curso de Especialização.

Aos colegas e amigos do Curso de Especialização, pelas reflexões,

discussões em aulas, encontros, ampliando horizontes e conhecimento,

neste período de convivência.

Aos colegas e amigos do Centro de Referência DST/aids, pela

compreensão, solidariedade e contribuição em todas as etapas do Curso.

Enfim, a todos que direta ou indiretamente colaboraram para a elaboração

desta monografia.

Page 5: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

Aids – Acquired Immune Deficiency Syndrome CN DST/Aids – Coordenação Nacional de DST e Aids COAS – Centros de Orientação e Apoio Sorológico CRT DST/Aids – Centro de Referência e Treinamento em DST/Aids CTA – Centro de Testagem e Aconselhamento DST – Doença Sexualmente Transmissível HIV – Human Immune Deficiency Virus MS – Ministério da Saúde PACS – Programa de Agentes Comunitários de Saúde PN DST/Aids – Programa Nacional de DST e Aids PE DST/Aids – Programa Estadual de DST e Aids PM DST/Aids – Programa Municipal de DST e Aids SAE – Serviço de Assistência Especializada SI-CTA – Sistema de Informação dos Centros de testagem e Aconselhamento SUS – Sistema Único de Saúde TRD HIV – Teste Rápido Diagnóstico para HIV UBS – Unidade Básica de Saúde

Page 6: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

RESUMO

No Brasil, os CTA, desde 1988, vêm sendo implantados, com o objetivo de ofertar testes anti-HIV, facilitando o acesso da população ao diagnóstico e tratamento precoce. Estes serviços são articulados com os princípios do SUS, de universalidade, integralidade e equidade, tendo como referência os direitos humanos. No estado de São Paulo, os CTA, seguem as diretrizes preconizadas pelo MS do PN DST/aids. Com a inserção do TRD HIV nos CTA, há uma demanda crescente, o que implica em mudanças na rotina do CTA. Esta monografia pretende discutir as principais implicações, para a configuração e organização do CTA, e para a operacionalização do aconselhamento, com a introdução do TRD HIV, tendo com o exemplo a experiência do CRT-DST/aids. Metodologia: Trata-se de estudo de levantamento e análise histórica sobre a política de implantação do TRD HIV no CTA e seu impacto na organização do serviço e na prática do aconselhamento, utilizando-se para isso de um relato de experiência em um serviço específico (CRT-DST/AIDS – SP) . Resultados e Discussão: O TRD HIV tem sido utilizado como importante dispositivo de prevenção e a mudança significativa é a rapidez do resultado, no mesmo dia, diferenciando-o do teste anti-hiv convencional. Os CTA identificados como “porta de entrada de acesso aos testes sorológicos” ampliam o acesso da população à testagem, mas tem de implementar variadas mudanças, na estrutura, organização e dinâmica de trabalho. Várias dificuldades e inseguranças perpassaram a experiência dos profissionais neste período de mudança, principalmente dos profissionais do aconselhamento, pois este espaço vem concentrando uma variedade grande de ações e de novas exigências, se descaracterizando. Faz-se necessário a inserção de outras atividades de escuta individualizada das demandas e encaminhamento das mesmas, para além do aconselhamento, tal como acolhimento. As reuniões sistemáticas da equipe inter-profissional, também favorecem estratégias de ações, propondo redirecionamentos da demanda espontânea, flexibilização de protocolos, mantendo-se a assistência integral, humanizada, acolhimento, aconselhamento individual, coletivo, continuado e qualificado.

Page 7: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

SUMÁRIO

1- INTRODUÇÃO.................................................................................1

1.1 - Histórico do CTA no Brasil................................................... 1

1.2 - O teste anti-HIV convencional..............................................6

1.3 – O teste rápido diagnóstico para HIV (TRD HIV)................... 7

2- OBJETIVOS.................................................................................... 9

3- METODOLOGIA.............................................................................10

4- IMPLANTAÇÃO DO CTA NO CRT-DST/AIDS................................11

5- O PROCESSO DE INTRODUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO TRD

HIV NO CRT-DST/AIDS................................................................. 13

6- RESULTADOS E DISCUSSÃO.......................................................16

7- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................23

Page 8: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

1

1 - INTRODUÇÃO

O presente trabalho versa sobre as mudanças ocorridas no processo de

trabalho desenvolvido pelo Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA)

com a introdução do Teste Rápido Diagnóstico de HIV (TRD HIV), tendo

com o exemplo, sua implantação e atual implementação no Centro de

Referência e Treinamento DST//aids de São Paulo (CRT-DST//aids), sede

da Coordenação do Programa Estadual DST/AIDS, do estado de São Paulo.

Consideramos importante inicialmente traçar um breve histórico da

criação e organização dos CTAs mostrando que independentemente da

introdução do TRD HIV, esses serviços já tiveram que passar por variadas

mudanças em sua organização, como forma de readequar-se as mudanças

que foram ocorrendo no perfil da epidemia e no foco das políticas de

DST/HIV/aids.

1.1 - Histórico do CTA no Brasil

Em 1983, foi estruturado o Programa Estadual DST/aids, em S.Paulo.

No Brasil, o Programa Nacional de Aids foi criado em 1985 pelo

Ministério da Saúde, tendo como resultado imediato a constituição e

consolidação de uma liderança e de um saber nacional sobre a doença.

Desde o início, o programa teve suas ações centradas e integradas ao

âmbito preventivo e assistencial, articulados com os princípios do Sistema

Único de Saúde (SUS), de universalidade, integralidade e equidade, tendo

como referência os direitos humanos (Souza, 2007; Brasil, 2008; Pupo,

2007; Grangeiro, 2010).

Page 9: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

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Em 1986, com base em resultados de pesquisa dos EUA e Europa e na

atuação da sociedade civil, tornou-se obrigatória, no estado de São Paulo, a

testagem de todo o sangue a ser transfundido. Em seguida, em 1988, a

triagem sanguínea, tornou-se obrigatória em todo o território nacional,

mesma época da promulgação da Constituição Federal.

O primeiro Centro de Orientação e Apoio Sorológico (COAS) foi

implantado em 1988, no Rio Grande do Sul, seguido em 1989, no município

de São Paulo (atual CTA Henfil). O COAS foi uma alternativa de serviço para

oferecimento de sorologia anti-HIV de forma gratuita, confidencial, anônima

e orientada.

Os objetivos do COAS eram identificar pessoas infectadas e seus

parceiros, para quebra da cadeia epidemiológica, encaminhar os

soropositivos para tratamento e apoio psicossocial; disponibilizar

informações sobre a epidemia, discutir e promover a adoção de práticas

sexuais seguras, fornecer insumos gratuitos para esta finalidade. As ações

de prevenção deveriam ocorrer por meio de atividades educativas e do

aconselhamento.

Os segmentos populacionais prioritários eram homossexuais,

profissionais do sexo e usuário de drogas injetáveis, identificados como de

maior risco para a infecção. Este foco que o serviço tinha em populações

específicas consideradas de maior risco, colaborou para a escolha dos

locais de implantação do COAS, em unidades fisicamente autônomas e

compostas por equipes próprias e contribuiu para a assunção de princípios

norteadores como a voluntariedade, o anonimato, a agilidade e a

Page 10: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

3

resolubilidade ao diagnóstico de HIV. Aos poucos, a estratégia de testagem

e aconselhamento passaram a ocupar um lugar de destaque nos programas

de prevenção, sendo cada vez mais enfatizada.

Na década de 90, com as mudanças nas tendências da epidemia da

Aids, com o crescimento do número de casos novos entre os

heterossexuais, mulheres e populações de baixa renda, com a

disponibilidade de novos medicamentos para o tratamento da Aids, com a

possibilidade de se prevenir o aumento de casos de DST pela abordagem

sindrômica e pela investigação das hepatites virais, novas atribuições

começaram a ser cobradas destes serviços. Tornou-se prioridade a

ampliação da cobertura e da população ao diagnóstico precoce dessas

doenças, bem como o fornecimento de apoio no processo de adesão ao

tratamento.

As recomendações foram sistematizadas em normas técnicas

publicadas pelo Ministério da Saúde em 1993, em documento denominado

“Normas de Organização e Funcionamento dos Centros de Orientação e

Apoio Sorológico (COAS). A partir dessas normas, iniciou-se a política de

indução e implantação de novas Unidades no Brasil, visando estruturar uma

rede nacional de serviços de oferta do diagnóstico do HIV à população.

Em 1997, ocorreu a mudança de nome de COAS para CTA (Centro de

Testagem e Aconselhamento), expressando de forma mais direta à

população as atividades do serviço. Também foi publicado o Manual

“Aconselhamento em DST/HIV/aids: diretrizes e procedimentos básicos”,que

tem sido o principal documento de referência até hoje para os profissionais

Page 11: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

4

da equipe psicossocial que desenvolvem ações em aconselhamento. Este

material veio acompanhado do “Manual de Treinamento em Aconselhamento

em DST/HIV/aids”.

Nesse contexto, em 1999, os CTAs passaram a incorporar o papel de

subsidiar a universalização do diagnóstico do HIV e garantir a equidade no

acesso à testagem, especialmente das populações mais vulneráveis.

Assim, durante esta década, ocorreram diversas mudanças na estrutura

e organização do CTA. O Ministério da Saúde passou a preconizar a

universalização da oferta do teste anti-HIV, na rede pública da saúde,

especialmente no âmbito da atenção básica da saúde e pré-natal, e também

para pacientes com tuberculose e usuários de drogas injetáveis. O Manual

recomendava que os CTA adotassem procedimentos para flexibilizar a

exigência de anonimato dos usuários, realizar atividades de prevenção intra

e extramuros e apoiar as ações de profilaxia da transmissão vertical.

Neste documento, bem como nos documentos de diretrizes seguintes,

foi reforçada a diretriz de priorização de ações voltadas às populações mais

vulneráveis e com dificuldades de acesso aos serviços. Em 2001 foi

implantado o Sistema de Informação de CTA (SI-CTA) que além das

informações epidemiológicas, ofereceu instrumentos para a gestão do

serviço como registro de atendimento ao usuário e controle das amostras de

sangue. (Brasil, 2008).

Estratégias para aumentar o acesso e o interesse da população pela

testagem anti-HIV, também passaram a ser realizadas com a Campanha

Nacional “Fique Sabendo”.

Page 12: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

5

Em 2008, o Ministério da Saúde publicou o Manual Centro de Testagem

e Aconselhamento do Brasil: Desafios para a Equidade e o Acesso, que foi

fundamentado nos resultados de uma pesquisa sobre os CTAs do Brasil. As

informações geradas por este estudo mostraram que dependendo da época

da epidemia em que os CTAs foram implantados, e da região do país, eles

se estruturaram de forma diferente, encontrando soluções diversas para os

problemas identificados e respondendo a demandas e necessidades

específicas. Este manual reitera a importância destes serviços para a

promoção da eqüidade e do acesso ao diagnóstico e prevenção do HIV e

das DST e a integralidade no cuidado. Os CTAs articulados aos demais

serviços do Sistema Único de Saúde, representam ainda uma estratégia

importante nesse processo de universalização do diagnóstico de HIV.

Este Manual recomenda que é possível “aumentar a oferta de

sorologias, com a capacidade existente, definir estratégias de divulgação

dos CTA e reduzir as taxas de abandono na busca de resultados”,

melhorando ainda o encaminhamento de usuários infectados, fornecimento

de insumos de prevenção da transmissão sexual e pelo uso de drogas,

acolhimento e aconselhamento dos usuários.

Dentre os novos princípios organizacionais adotados, segundo o

Manual, destacam-se uma maior ênfase na promoção de práticas sexuais

seguras, em que o aconselhamento assume papel central de prevenção,

recomendando-se que seja processual, não obrigatório e que ocorra de

acordo com a necessidade e demanda de usuários.

Page 13: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

6

É importante apontar que neste documento há várias recomendações

para os CTAs, e entre elas está o oferecimento do teste rápido como método

diagnóstico para HIV (BRASIL,2010).

Como podemos perceber, desde sua implantação, os CTAs têm sido

demandados a incorporar novas tecnologias, estratégias e políticas para

manejar com as mudanças na epidemia da Aids. Esta condição tem forçado

estes serviços a repensarem constantemente sua identidade e sua forma de

organização. O modo como estes serviços tem incorporado e manejado com

as novas diretrizes e recomendações e as alterações que elas provocam no

processo de trabalho, merece ser alvo de estudo e investigação, pois, isto

tem um impacto tanto na população como no cotidiano dos profissionais.

1.2 – O teste anti-HIV convencional

Em 1985, foi introduzido o ensaio imunoenzimático ELISA – Enzyme-

linked inmunosorbent assay para triagem de amostras, seguida pela

realização de Western blot (WB) daquelas reativas. Estes testes são hoje

universalmente adotados e classificados como “estratégia convencional de

diagnóstico da infecção pelo HIV”

Entretanto, apesar da precisão desta estratégia, o teste ELISA, implica

em dificuldades, precisando de estrutura laboratorial, condições para coleta

e insumos de testagem. Após a coleta, existe um prazo de espera para o

resultado (em torno de 15 dias úteis), necessitando ainda de nova coleta

para o exame confirmatório, o que o torna mais demorado, provocando

problemas institucionais (necessidade de agendamentos) e ansiedade para

o usuário (MASSA, 2007).

Page 14: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

7

Vale enfatizar, que exames sorológicos convencionais, ao serem

ofertados para populações mais vulneráveis (HSH, profissionais do sexo,

usuários de drogas,..) também podem contribuir para uma menor efetividade

de política de testagem nestes moldes, dada a dificuldade desta população

para ir diversas vezes ao serviço com o intuito de realizar exame e buscar o

resultado.

1.3 - O teste rápido diagnóstico para HIV (TRD HIV)

Em 1999, iniciou-se a utilização do teste rápido para HIV, como triagem,

sendo absorvido nos serviços de pré-natal e parto e se estendeu a outros

contextos como prevenção pós-exposição ocupacional com risco biológico,

usuários de drogas, casos de violência sexual, abuso ou estupro e pessoas

em situação de exclusão social e confinamento.

Os testes rápidos Diagnóstico para HIV (TRD HIV), antes de serem

implantados, para serem validados tiveram seu desempenho avaliado por

meio de um estudo promovido pelo Ministério da Saúde/Programa Nacional

de DST e Aids e o Center for Disease Control and Prevention, por meio de

seu Global Aids Program (CDC/GAP), dos EUA. A proposta foi a

determinação de seu algorítimo em ambiente laboratorial e sua validação em

ambiente não laboratorial. Este estudo comparou os resultados dos testes

rápidos com os obtidos por meio de testes convencionais (Elisa e Western

Blot), o que comprovou sua eficácia e confiança (BRASIL, 2006).

Após a realização deste estudo avaliativo, em 2005, houve a publicação

do Ministério da Saúde da portaria 34/SVS/MS, que regulamentou o uso do

TRD HIV no Brasil, direcionando a oferta a populações em áreas de difícil

Page 15: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

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acesso (como a região Norte); em gestantes que não realizaram o teste anti-

HIV durante o pré-natal, populações mais vulneráveis ou estigmatizadas

(usuários de drogas, profissionais do sexo); populações móveis ou

itinerantes/migrantes (caminhoneiros); pessoas identificadas com sinais ou

sintomas de Aids; pessoas que sabem ser portadoras do HIV (sem

comprovação do exame) como uma estratégia de ampliação do diagnóstico

de HIV e melhora no acesso desses grupos aos serviços e ao diagnóstico

precoce (Brasil, 2006; Campos ,2008; Massa, 2007).

Este trabalho pretende dar visibilidade aos efeitos de tal política no

serviço, evidenciar as questões relacionadas a operacionalização do TRD

HIV no CTA, utilizando-se como exemplo o do CRT DST/aids de SP.

Buscou registrar as mudanças, e analisar criticamente o impacto na

configuração do CTA, provocado pela oferta do teste anti-HIV, através do

TRD HIV. Para tanto, utilizamos como exemplo a experiência pessoal de

trabalho da autora, no papel de aconselhadora e a análise desde a

experiência prática em relação à absorção das diretrizes elaboradas pelo

Ministério da Saúde, na prática do CTA do CRT/DST/aids.

Lembramos que o TRD HIV é um importante dispositivo de prevenção,

porém, exige mudanças gerenciais, técnico-operacionais e ético-valorativas,

tanto na forma de organização do serviço, quanto nos papéis dos

profissionais de saúde e uma reformulação da concepção de trabalho no

contexto da epidemia.

Page 16: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

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2 - OBJETIVOS:

Objetivo Geral: Caracterizar as diferentes implicações e momentos de

mudanças no processo de trabalho do Centro de Testagem e

Aconselhamento (CTA) do CRT DST/aids, com a introdução do Teste

Rápido Diagnóstico para HIV (TRD HIV).

Objetivos Específicos:

1- Caracterizar os diferentes momentos na política de introdução do

Teste Rápido Diagnóstico para HIV (TRD HIV).

2- Caracterizar as diferentes estratégias para a operacionalização do

TRD HIV do CTA no CRT DST/aids.

3- Discutir as principais implicações de mudanças na estrutura e

organização de trabalho do CTA no CRT DST/aids.

Page 17: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

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3 - METODOLOGIA

Este trabalho pretende ser um relato de experiência pessoal sobre a

implantação do TRD HIV em um Centro de Testagem e Aconselhamento

específico aonde a autora trabalha (o CRT-DST/AIDS) e as implicações

desta introdução no processo de trabalho no serviço e na prática do

aconselhamento.

Para isso a autora inicialmente fez um levantamento histórico das

mudanças nas diretrizes técnicas e políticas dos Centros de Testagem e

Aconselhamento no Brasil e dos diferentes momentos da implantação do

TRD HIV. Para isso foram levantados e analisados todos os manuais e

documentos de diretrizes produzidos pelo Ministério da Saúde relativos ao

CTA e ao TRD HIV.

Posteriormente a autora fez um levantamento de materiais do Programa

Estadual de DST/AIDS de São Paulo e do próprio Centro de Referência e

Treinamento em DST/AIDS de SP sobre a implantação do CTA e sobre o

TRD HIV (revistas, vídeos, artigos, documentos)

Por fim, a autora fez uma análise crítica destes materiais, identificando

o processo histórico tanto no nível nacional como neste serviço específico e

ao mesmo tempo, uma análise crítica das implicações que ocorreram no

serviço, a partir de uma reflexão crítica sobre a própria experiência pessoal.

Page 18: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

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4 – IMPLANTAÇÃO DO CTA NO CRT-DST/aids

O CTA, no CRT-DST/aids foi implantado em 1995, junto com o

Ambulatório de DST, que preconizava a abordagem sindrômica (tratamento

de DST imediato, com prescrição de medicamentos, com base em sinais e

sintomas de DST), conduta válida e adotada até hoje. O CTA funcionava no

período da tarde e o Ambulatório de DST, no período da manhã.

Inicialmente, a equipe era constituída por profissionais de saúde, de

outros núcleos que em determinados dias da semana, prestavam serviços

no CTA. As ações de aconselhamento para a oferta do teste anti-HIV, eram

o pré-teste coletivo, com horário determinado para palestra sobre a infecção

pelo HIV/aids. O pós-teste individual, para a entrega do resultado de

exames, sem agendamento, dificultando as possibilidades de vínculo entre o

profissional e usuário.

Ao longo do tempo, ocorreram modificações, foi constituída uma equipe

fixa, mantendo-se as ações de aconselhamento nos moldes já descritos.

Com o objetivo de personalizar o atendimento, a equipe, modificou a oferta

de teste anti HIV, e o aconselhamento pré e pós-teste passaram a ser

realizados individualmente, para os usuários. Os resultados de exames

sorológicos não eram agendados, mas eram entregues de acordo com o

interesse e apresentação voluntária do usuário.

O Ambulatório de DST e o CTA funcionavam no mesmo local, porém

em períodos diferentes, o que dificultava o atendimento da demanda de

usuários que apresentavam problemas de DST e eram encaminhados para o

Page 19: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

12

CTA, a fim de realizar o teste anti-HIV e vice-versa. Esta situação, foi

resolvida com a união de equipe, que passou a disponibilizar os dois

serviços (DST e CTA) em período integral, a partir de 2002.

Na junção dos serviços, a equipe de aconselhadores foi composta por

assistentes sociais, psicólogos e educadores de saúde pública. O

aconselhamento continuou no atendimento de usuários individualmente, nas

testagens. O pós-teste passou a ser agendado para o mesmo profissional do

pré-teste, objetivando estabelecer vínculo, permissão de contato, diálogo

sobre as vulnerabilidades, e outros aspectos relevantes no momento do

atendimento.

Em 2009, no CRT-DST/aids, foi implantando o Ambulatório de Saúde

Integral para Travestis e Transexuais, no período da tarde, no mesmo local

e utilizando-se da mesma equipe de profissionais de saúde que também

atendiam no CTA e no ambulatório de DST, ampliando-se a oferta de

testagens a esta população prioritária, além de outros serviços

especializados.

Page 20: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

13

5 - O PROCESSO DE INTRODUÇÃO E IMPLEMENTAÇÃO DO TRD

HIV NO CRT-DST/aids DE SÃO PAULO:

Em 2006, houve a implantação do TRD HIV, no CTA do CRT DST/aids,

de São Paulo, sendo que este foi o primeiro serviço do município de São

Paulo, a inserir esta nova tecnologia. Posteriormente, houve a capacitação

da área de Laboratório do Programa Estadual DST/aids (SP) e a expansão

desta estratégia para outros serviços do estado de São Paulo.

A constatação de que a operacionalização do TRD HIV não requeria

grande habilidade por parte dos profissionais, embora necessitasse de

capacitação, a comprovação da efetividade e a confiabilidade do teste,

facilitou o processo de implantação, com a adesão dos municípios e com o

envolvimento dos interlocutores regionais e coordenadores municipais. A

retaguarda técnica, de profissionais capacitados de laboratórios de

referência foi fundamental neste momento.

Para introdução do TRD HIV no CTA no CRT DST/aids (SP), devido a

dificuldade de inserir algumas mudanças necessárias para o oferecimento

do TRD HIV no fluxo de atendimento do serviço, elaborou-se critérios

pautados nas diretrizes do CTA, conforme a Portaria 34/SVS/MS, que

regulamentou o uso do TRD HIV para segmentos populacionais mais

vulneráveis.

A equipe de aconselhamento do CRT-DST/Aids (SP) após capacitação

assumiu as orientações para efetuar o aconselhamento pré e pós-teste,

conforme preconiza o Plano Nacional DST/aids, garantindo o uso correto da

Page 21: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

14

informação e postura ética. A prática do aconselhamento, na ação mantém

os componentes de troca de informações, avaliação de

riscos/vulnerabilidades e apoio emocional.

Uma pesquisa feita no CTA do CRT DST/aids, sobre a implantação do

TRD HIV, em 2006 realizada por Massa (2007), enfatizou que “ quanto a

relevância do TRD HIV para o serviço foi apontado a maior resolubilidade

de resposta a demanda do usuário, embora este permaneça mais tempo no

serviço. No mesmo dia, o resultado do TRD HIV, diminui angústias,

principalmente de usuários com sinais e sintomas à infecção pelo HIV/aids.

Antes, nesses casos, o exame de HIV convencional era solicitado com

urgência e o resultado era disponibilizado após uma semana”.

A introdução de testagem através do TRD HIV, possibilitou a ampliação

do acesso, permitindo que, no mesmo dia, o usuário tivesse conhecimento

de sua situação sorológica com relação a infecção pelo HIV. Além disso, o

TRD HIV se constitui como um importante dispositivo, para atividades de

prevenção extramuros, pois pode fornecer o resultado no mesmo dia.

(Wolffenbüttel – 2006, 2009).

O Ministério da Saúde, em 14/10/ 2009, publicou a portaria n. 151/SVS,

revogando a portaria n. 34/SVS de 28/04/2005, e ampliou a oferta do TRD

HIV, estendendo o acesso para a população em geral. Teve relevância esta

iniciativa considerando as vantagens do TRD HIV para a saúde e o usuário,

relacionadas ao diagnóstico precoce do HIV retarda o adoecimento da

população e diminui as taxas de transmissão; o Saber mais rápido do

“status” sorológico é um importante dispositivo de prevenção; maior

Page 22: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

15

resolubilidade de resposta a demanda do usuário diminuindo a angústia pela

espera do resultado; menos custo para o usuário, na medida em que não é

necessário o retorno ao CTA.

Atualmente, são utilizados testes de produto integralmente nacional:

Rapid Check HIV 1 e 2 (teste imunocromatográfico para detecção de

anticorpos anti HIV 1 e 2) do Núcleo de Doenças Infecciosas da

Universidade Federal do Espírito Santo (ES). Para confirmar o resultado

REAGENTE é utilizado o Teste rápido HIV 1 e 2 Bio-Manguinhos (Fiocruz)

(Triagem qualitativa para detecção de anticorpos por HIV 1 e 2) do Instituto

de Tecnologias em Imunobiológicos Bio-Manguinhos do Rio de Janeiro (RJ).

A introdução desta nova tecnologia no CTA do CRT-DST/aids, alterou a

organização e a dinâmica de trabalho, implicando em mudanças no fluxo de

atendimento para absorver a uma crescente demanda espontânea.

A equipe inter-profissional, tem realizado reuniões sistemáticas,

discutindo e modificando os fluxos de atendimento aos usuários, num

esforço conjunto de solucionar problemas que emergem no cotidiano,

superando desafios.

Page 23: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

16

6 - RESULTADOS E DISCUSSÃO:

Previamente a implantação do TRD HIV, o processo de criação do

SI/CTA (implantado desde 2002 no CTA do CRT DST/Aids) já havia

repercutido em toda dinâmica de trabalho do serviço, visto que todos os

usuários que se submetessem as sorologias deveriam ser registrados por

este sistema com a abertura da Ficha SI/CTA. Desde o início, ficou como

competência do aconselhador o registro do atendimento consolidado com o

preenchimento desta ficha, logo após a realização do pré-teste e também no

pós-teste, completando os dados com os resultados de exames.

Assim, desde este momento, cabia ao aconselhador uma específica

disponibilidade de tempo e de atenção para o preenchimento adequado

deste formulário, foco esse, que passou a competir na sessão de

aconselhamento, com uma interação mais livre e espontânea do

aconselhador com o usuário. Era de obrigação do aconselhador também, o

registro desses dados, no sistema de informática, o que passou aos poucos

a significar a necessidade de um profissional exclusivo para esta ação.

Apesar do envolvimento da equipe de aconselhamento na coleta e registro

dessas informações, não há ainda um retorno dos dados quantitativos do

sistema SI/CTA, para os profissionais de saúde. A percepção do quadro

epidemiológico favorecerá discussões e reflexões sobre ações de prevenção

viáveis na prática do aconselhamento.

Em seguida, o CTA passou a ofertar um leque maior de exames em seu

cardápio sorológico, não apenas o exame de HIV e da Sífilis, mas também

Page 24: Angelina Reys Bellucco A introdução do Teste Rápido Diagnóstico

17

de Hepatites B e C. Esta estratégia, significou um aumento de usuários de

demanda espontânea e de usuários encaminhados, para o CTA.

Para a equipe de aconselhamento do CRT-DST/aids (SP) houve

novamente a necessidade de adaptação e preparo a esta nova situação: a

exigência de conhecimento, apropriação e significado do conteúdo de

hepatites, para sua própria compreensão, interpretação para o usuário do

resultado, além de absorver mais esta demanda que após as testagens

aumentou consideravelmente o número de atendimentos, com a criação do

Ambulatório de Hepatites virais.

Posteriormente, a campanha nacional “Fique Sabendo” representou

uma maior divulgação dos exames sorológicos, facilitando o acesso da

população as testagens, ações de prevenção, possibilidades de assistência,

tratamento e medicamentos, enfim uma importante iniciativa governamental.

Mas, é inegável, que para o CTA representou mais uma absorção de

demanda de usuários novos para as testagens, sem ampliação de espaço

físico ou de recursos humanos.

Os CTA, segundo Wolffenbüttel (2006) por serem identificados como

uma porta aberta e por serem uma porta de entrada para a rede de saúde,

possuem a “missão de ofertar testagens para detecção da infecção por HIV,

sífilis e Hepatites B e C, bem como acesso às tecnologias de prevenção

representadas pelo aconselhamento em DST/HIV/aids e hepatites virais e

também a insumos como preservativos e kits de redução de danos”. De

fato, os CTAs ocupam uma posição estratégica nisso, porém estas ações

precisam ser realizadas em integração com as redes de serviços de outros

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programas assistenciais, como a rede de atenção básica à saúde, que

também devem representar uma “porta aberta” de acesso à população com

ampliação dos horários de atendimento direcionado aos trabalhadores.

Desta forma, os CTAs teriam mais condições de proporcionar o acesso mais

estruturado as populações de maior prevalência e risco.

Desde 2006, com a implantação do TRD HIV, no CRT-DST/aids (SP),

muitas mudanças foram introduzidas na organização do serviço, visto ter

este criado outro fluxo de atendimento, além do fluxo convencional,

alterando a dinâmica de trabalho para os profissionais de saúde.

A dinâmica de trabalho do serviço foi se alterando, no sentido de

precisar absorver mais uma demanda populacional espontânea crescente,

com os mesmos recursos humanos. Mesmo assim, os profissionais do

serviço buscaram adaptar-se às demandas no cotidiano de trabalho,

buscando alternativas para ainda garantir um atendimento humanizado,

acolhimento e aconselhamento qualificado, em prol do TRD HIV.

É importante registrar que a mudança significativa e importante, trazida

pelo novo método (TRD HIV) é o menor período de tempo entre a coleta e o

resultado, diferenciando-o da metodologia tradicional (entre coleta e

resultado agendado, prazo mínimo 15 dias úteis) o que representa um

avanço para oferta de testagem, especificamente do TRD HIV no CTA.

Apesar de ser um procedimento de fácil manipulação, inicialmente

muitas inseguranças estavam presentes nas ações dos diversos

profissionais da equipe em relação ao manejo do TRD HIV. Inclusive a

leitura do resultado do exame era realizada com insegurança, o que exigia

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para a maior tranqüilidade da equipe a utilização de dois profissionais

(aconselhador e enfermagem), principalmente nos casos de resultados

positivos. Havia insegurança do profissional em digitar um laudo de exame

(que antes era um trabalho exclusivo do laboratório) de TRD HIV

REAGENTE. Os profissionais consideravam necessário, saber mais sobre o

usuário para fornecer o diagnóstico final. Atualmente, os profissionais, após

tantas testagens, adquiriram maior habilidade no manejo do TRD HIV, estão

mais seguros e confiantes, na digitação do resultado do exame.

A proposta de mudança, indicada no Manual do Ministério da Saúde

(2010) que tem acontecido neste último ano no CTA, foi a possibilidade de

flexibilização do aconselhamento pré-teste que implica em respeitar a

autonomia do sujeito em escolher se quer ou não conversar sobre o teste

antes da realização do mesmo.

Porém, esta alteração obriga a uma mudança no fluxo de atendimento e

altera a organização e concepção do trabalho realizado no CTA, a medida

que desloca para o atendimento pós-teste aspectos usualmente abordados

com o usuário no momento anterior a testagem.

Todavia, quando o usuário recebe o resultado de TRD HIV, após

aflições e angústias decorrentes da espera, mostra-se impaciente, não está

disponível para a escuta. Assim, da forma como isso começou a ser

realizado no serviço, percebe-se uma menor oportunidade para uma reflexão

sobre a vulnerabilidade individual, direcionando o diálogo para a prevenção,

incentivando práticas sexuais seguras. Assim, faz-se necessário atualmente

um maior aprofundamento sobre os diferentes espaços e momentos

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existentes no serviço (além do aconselhamento) para a realização de

avaliação de risco e de ações de prevenção individual e coletiva.

Porém, diante de uma demanda espontânea crescente, exigem

mudanças no atendimento, dos usuários que retornam para repetir o TRD

HIV, portanto já estão cadastrados no SI-CTA. Nesses casos, objetivando

resolubilidade e agilidade, se inseriu a flexibilização do aconselhamento pré-

teste. Estas testagens, contínuas e repetitivas, para o mesmo usuário,

merecem investigação específica.

Entretanto, percebe-se que historicamente, os CTAs concentram na

tecnologia de aconselhamento uma expectativa de resolução e absorção de

boa parte das novas estratégias e ações propostas para o CTA,

principalmente quando elas se dão a partir de um atendimento

individualizado. Isto faz com que este espaço tenha sempre de introduzir

novos conteúdos, procedimentos, formulários e demandas; sem

necessariamente avaliar se é o espaço mais adequado para isso, ou sem

avaliar as conseqüências dessa exigência para a qualidade da relação

profissional usuário, e para a escuta e a reflexão conjunta que esta

tecnologia pretende oferecer em relação aos problemas e demandas

pessoais.

Dessa forma, como nos afirma PUPO (2007) “o aconselhamento vai

perdendo assim, aos poucos, sua especificidade, sua identidade e

profundidade, seu real poder de atuação e algumas vezes, inclusive, sua

razão de existir, pois, ao se tornar quase que um “espaço coringa”, utilizado

para diferentes possibilidades (um lugar para facilitar o acesso orientado a

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insumos, a tratamentos específicos, a suporte social, a informações

específicas, lugar para explicação de procedimentos, para ajudar o indivíduo

a lidar com situações difíceis, entre outros) ele perde a capacidade de

executar uma reflexão conjunta, personalizada e individualizada sobre riscos

e dificuldades pessoais” Por este motivo “fazer do aconselhamento um

espaço estratégico” para a resolução de muitos problemas (de diferentes

ordens) e para o manejo de muitas questões ao mesmo tempo, sem

entender a especificidade de sua natureza e estrutura, e, portanto para qual

intento ele melhor se ajusta como técnica, acaba por torná-lo menos efetivo

e resolutivo, menos criativo e espontâneo, mais repetitivo e monótono para

os profissionais.

A inserção de outras atividades de escuta individualizada das

demandas e encaminhamento das mesmas, para além do aconselhamento,

tal como o acolhimento no momento de entrada do usuário no serviço, é

uma alternativa.

A equipe inter-profissional tem compartilhado com a gestão, através de

discussões em reuniões sistemáticas, a importância de ampliar o acesso e

expandir o mais rápido possível, o TRD HIV, a demanda espontânea, sem

limitações ou restrições, com opções para o teste anti-HIV convencional,

também. Para tanto, tem buscado soluções, criando novos fluxos, agilizando

atendimentos, redirecionando demandas, flexibilizando o aconselhamento

pré-teste, garantindo o aconselhamento pós-teste, e dentro das

possibilidades da equipe ofertando o aconselhamento individual, coletivo,

continuado e qualificado.

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Vale enfatizar, que cotidianamente, os profissionais de saúde do CTA,

superam desafios impostos pela realidade institucional, e que a motivação e

o apoio de gestores são imprescindíveis para o processo de reflexão sobre o

aprimoramento, criatividade e construção da prática, com a troca de saberes

entre a equipe inter-profissional.

A rede de serviços deve funcionar interligada, de fato, para a

assistência integral, prevenção e promoção de saúde para que haja um

trabalho em sintonia única, com os mesmos objetivos, onde a oferta de

testagens esteja inserida nos diferentes serviços existentes nas várias

regiões de São Paulo e demais estados.

Vale ressaltar, que os meios de comunicação, os órgãos da imprensa

devem ter também um papel transformador na sociedade e nesse sentido

estaríamos melhor servidos se houvesse mais divulgação sobre educação

em saúde direcionado à prevenção, em jornais, revistas, televisão, enfim

abrangendo todos os recursos da informática. Portanto, poderia ser incluída

como mais uma importante estratégia de prevenção.

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7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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