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202 ANEXO G – Produção dos Estudantes

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ANEXO H - ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA COM AS PROFESSORAS A E B

DATA:19 de dezembro de 2003.

(transcrição de fita)

ENTREVISTA COM A PROFESSORA A

Entrevistadora: Professora dá para você falar um pouco da sua formação leitora? Como é que foi?

Professora A: Da sua formação o quê?

Entrevistadora: Leitora.

Professora A: De primeiro eu não gostava muito não, viu? Tive uma certa resistência pra leitura. Porque eu acho assim, que meus professores inicias eles não me incentivaram muito. Então, o ensino, em comparação ao ensino de antigamente era muito fraco, então eu não tive esse amor pela leitura. Depois que eu cresci que eu comecei, em casa mesmo, porque minha família gosta muito de ler, aí a partir daí que eu fui gostando, né, gostando da leitura mesmo, mas fora isso.

Entrevistadora: O que sua família te dava pra ler, ou você lia?

Professora A: Eu me interessava pelos livros que minha mãe lia, era livro de...não era livros de histórias infantis não. Era livro de...aqueles livros mais avançados. Começa a ler também, não entendia muita coisa, mas começava a ler e ela dizia pra mim que eu tinha que ler com o dicionário na mão. Aí comecei a fazer isso, ler com o dicionário na mão e gostei! Até hoje, até agora historinhas dos meninos mesmo, que eles ganham aqui na sala, literatura, eu leio com eles a gente discute na sala e tudo.

Entrevistadora: Você gostou de ler os livros de sua mãe porque via ela lendo ou por que...

Professora A: Porque via ela lendo.

Entrevistadora: E ela não te cobrava...

Professora A: Não.

Entrevistadora: Sua mãe é formada em que?

Professora A: Minha mãe só tem o primeiro grau.

Entrevistadora: Mas gosta de ler?

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Professora A: Gosta! Adora ler. Tem vários livros e todo livro...livro que você disser assim, ela tem.

Entrevistadora: Que tipo de livros, românticos...

Professora A: Não, ela tem mais livros é....como é que eu posso dizer....de reflexão, esses tipos de livros assim, ela tem...não tem história, essas coisas não.

Entrevistadora: Ela é católica?

Professora A: Católica.

Entrevistadora: Atualmente, o que você mais gosta de ler?

Professora A: Eu gosto de ler romance.

Entrevistadora: Tem algum preferido?

Professora A: Não. Gosto de todos. Dessa literatura dos meninos também eu gosto, gosto muito. Tem um até...até falei com eles que vai passar agora na televisão em forma de filme, “A terra dos meninos pelados”, né. Não sei nem se já passou.

Entrevistadora: Você leu esse?

Professora A: Li. Adorei. Minha filha também, ela ta começando a gostar da leitura, assim. Eu leio junto dela, eu não quero que ela passe a mesma coisa que eu passei, né. Que realmente é muito traumático.

Entrevistadora: Era o que, cartilha....

Professora A: Aí pronto.

Entrevistadora: Mas o romance que você gosta é...

Professora A: Romance aventura.

Entrevistadora: Você lê os clássicos ou os mais atuais?

Professora A: Atuais.

Entrevistadora: Mais esses da Literatura em minha casa?

Professora A: Isso. Por que até tempo mesmo pra parar pra ler um livro eu não tenho.

Entrevistadora: Esse livro “Terra dos meninos pelados” é de quem?

Professora A: Eu acho que é Graciliano Ramos. É, com certeza.

Entrevistadora: Eu não li ainda.

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Professora A: É uma maravilha.

Entrevistadora: O que você considera como sendo um texto? O que é um texto pra você?

Professora A: Eu tenho assim vários conceitos de texto, certo? Mas um, que eu digo que seja assim de verdade. Texto é algo que traz informação de vários tipos. Tenho assim como esse conceito.

Entrevistadora: Para você texto é material escrito, impresso?

Professora A: Não, não só, não só escrito.

Entrevistadora: Você tem algum exemplo pra dar?

Professora A: De texto que você disse...?

Entrevistadora: Tipos, que você considera também, que pode parecer mais é?

Professora A: Agora eu acho que entendi.

(risos)

(tempo)

Entrevistadora: Não precisa dizer agora não.

Há textos que você considera cansativos, esse não dá pra ler, pela estrutura dele, um texto que você realmente acha difícil ler.

Professora A: Pra mim, né? Não é pra sala de aula não, né?

Entrevistadora: Isso.

Professora A: Pra mim eu acho super cansativo, super estressante ler poemas, quer dizer, entre aspas, quer dizer, alguns poemas. Os poemas mesmo de Castro Alves. Menina, sinceramente tem vários...tem uns que são muito interessantes, mas pra você sentar e ler...

Entrevistadora: Por quê?

Professora A: Eu não...viche Maria! Quer que eu lhe fale? Não é muito pela linguagem, não sei. É a forma que ele se expressa. É alguma coisa nele que eu não...

Entrevistadora: Não bate?

Professora A: Não bate. Acho bonito, certo, alguém lendo, agora pra eu parar para ler.

Entrevistadora: Mais poemas mesmo, né?

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Professora A: É. Pode ter até outros, mas o que veio agora em minha cabeça.

Entrevistadora: Que textos você gosta mais de ler? Tem o hábito de ler.

Professora A: Textos que eu trabalho na sala de aula. Texto informativo, científico, né.

Entrevistadora: Você gosta de textos informativos, formais?

Professora A: Gosto, gosto, gosto muito. Trabalho muitos textos também científicos, é ...a música que é um poema, mesmo, né.

Entrevistadora: Mas por que você gosta desses textos?

Professora A: Eu acho que...porque eu acho que...me referindo a sala de aula, mais fáceis de trabalhar com eles. Que tá assim, na realidade deles. Por exemplo, o texto informativo mesmo, tem muitos textos informativos que dá pra você trabalhar com os alunos de forma que ele entenda melhor. A música mesmo, eles adoram a música e muitos deles não sabiam que a música era poema, né? Então eu já acho assim uma forma mais fácil de trabalhar com eles. Que é pra eles entenderem melhor, então eu gosto muito de trabalhar com esses textos. História também eu gosto, mas me referindo a sala de aula não conto muito história pra eles, não.

Entrevistadora: Mas por quê?

Professora A: Porque eu trabalho com quarta série e os meus alunos, tudo bem, são crianças, são crianças, mas eu já fiz um teste aqui na sala, tentei contar uma historinha pra eles e eles : Ah, pró! Historinha de criança, não! Nós não somos mais crianças. Eu fiquei até sem graça. Aí eu não contei mais histórias. Histórias assim, que tenham no livro didáticos deles tudo bem, que não são aquelas histórias antigas, são de outros tipos. Eles não gostam mesmo.

Entrevistadora: E esses contos e fábulas que tem nos cadernos, eles gostam.

Professora A: Não gostavam. Quando eu inicio a fábula eles dizem: Já sei professora, é fábula, por favor, não conte não, pegue outro texto. É sempre assim, então....a quarta série realmente aqui os meninos são maiores, então eles não gostam muito não.

Entrevistadora: Como você seleciona os textos para sala de aula?

Professora A: Eu seleciono... eu tenho o objetivo de alcançar o quê: primeiro eu trabalho a leitura individual na sala, pra ver o nível de leitura que eles estão.

Entrevistadora: É a leitura em voz alta que você está falando?

Professora A: É, primeiro silenciosa, pra eles conhecerem, faço antecipação do título, né. O que é que eles acham que vão encontrar no texto. Depois de trabalhar o texto, a interpretação, o tempo que está sendo....o tempo verbal em que foi escrito o texto, a gente vai trabalhar a parte gramatical. Agora a depender dos textos, né.

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Entrevistadora: Você acha que todo texto deve trabalhar a parte gramatical?

Professora A: Eu acho que sim, eu acho muito importante trabalhar esse...a parte gramatical. Se bem que na faculdade, a professora tava até conversando com a gente, que não existe essa coisa do aluno falar errado, né. Que a nossa gramática foi criada assim...não está adequada ao nosso país...então não existe esse negócio do aluno falar errado. Mas eu acho importante esse negócio de trabalhar a gramática, porque também tem aquela coisa, muita coisa da gramática a gente não usa. Tá lá pra enfeitar, mas é importante eles conhecerem a gramática.

Entrevistadora: Que disciplina é essa?

Professora A: Didática da Alfabetização?

(conversa informal)

Entrevistadora: Tem algum texto que os estudantes mais gostam. Existe um específico ou vários?

Professora A: Eles gostam de todos. Todos que eu trago eles gostam. Mas, tem um tipo de texto que...de tarde eu tenho aceleração de manhã eu tenho a quarta série normal. E os de de manhã gostam daquele tipo de texto assim que...quando a gente trabalha interpretação, não escrita, interpretação oral, as respostas estão assim nas entrelinhas do texto, né. Eles gostam de textos assim, que não tenha a resposta já direta no texto. Sabe? Agora a tarde não, eles têm uma certa dificuldade até na leitura, na interpretação. Gostam mais de textos objetivos, que a resposta já esteja ....

Entrevistadora: Eles gostam mais de interpretação oral, né?

Professora A: É.

Entrevistadora: Há textos que você não goste de trabalhar em classe?

Professora A:Textos que eu não goste de trabalhar em classe?

Professora A: Não, que eu me lembre agora assim, não. Não tem não. Tem aqueles que a gente prefere, mas que eu não goste mesmo de trabalhar, não. O que eu ache interessante assim, naquele momento.

Entrevistadora: Você já participou de alguma atividade ou formação que incluísse discussão sobre leitura e produção de texto em sala de aula?

Professora A: Eu fui nesse último, foi...

Entrevistadora: Gestar?

Professora A: Teve o Gestar. Eu fui também, na semana retrasada foi...poxa eu até ganhei cinco jogos de produção...o curso foi uma maravilha!

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Entrevistadora: Foi pela prefeitura? Foi. Uma maravilha! Maravilha, mesmo. Trabalhou a leitura e a produção de textos em forma de jogo. Eu ganhei cinco jogos, um pra mim e quatro pra escola. Não tô lembrada o nome. Foi...Oficina de Leitura e produção de textos. Mas eu vou lembrar o nome e vou lhe dizer. Mas foi assim ótimo, ótimo, mesmo. Por que realmente, né, hoje em dia na sala de aula se o professor não tiver uma forma diferente de trabalhar os alunos perdem o interesse. Eu gosto de trabalhar aqui em forma de jogo com eles, atividade dinâmica porque senão...

Entrevistadora: E eles deram alguma parte teórica?

Professora A: Só em forma de jogo. Foi a oficina todinha em forma de jogo.

Entrevistadora: Eles não deram nada escrito?

Professora A: Nada.

Entrevistadora: Quem foi que deu? Você conhece?

Professora A: Não. Mas tem o nome dela. Foi ela quem criou o jogo. Só eu que fui. Foi assim, escolheu, no caso uma CR.

Entrevistadora: O problema é esse. E o Gestar, você gostou?

Professora A: Gostei.

Entrevistadora: Você acha que contribuiu pra sua prática?

Professora A: Muito! Demais, demais, mesmo.

Entrevistadora: De que maneira você acha que contribuiu?

Professora A: Na forma de avaliar os alunos. Observar aqueles pontos importantes mesmo da ...O magistério com um pensamento de...totalmente diferente. Graças a Deus, quando eu entrei peguei logo o Gestar. E já deu pra mudar muita coisa!

Entrevistadora: Foi um ano o Gestar?

Professora A: Não, o Gestar foi praticamente dois anos.

Entrevistadora: Direto?

Professora A: Direto.

Entrevistadora: Todos os dias?

Professora A: Dia de terça-feira. Porque dia de terça é até dez horas a aula. Então ia de dez as doze e à tarde de três a cinco. Muito bom mesmo, ficou muita coisa. E até hoje, os trabalhos, o planejamento tudo isso a gente acompanha o que tem...o que o Gestar deu pra gente.

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Entrevistadora: E em relação a texto.

Professora A: Também. Porque houve a formatura de matemática e português, então trabalharam todos tipos de texto. Mas, eu acho assim...que pra mim valeu muito a pena.

Entrevistadora: Tem quantos anos de formada?

Professora A: Me formei em 98.

Entrevistadora: E agora tá no primeiro semestre de Pedagogia.

Professora A: É. Assim que eu saí eu comecei a estudar pra fazer vestibular. Mas, aí veio esse concurso da Prefeitura e aí minha mãe, Não minha filha você tem que fazer, tem que fazer. Mas minha mãe eu vou fazer o vestibular. Não, deixe o vestibular pra depois, faça esse concurso. Aí minha mãe ficava em meu pé, fiz, passei, aí tive que parar de estudar para o vestibular. Nem fui fazer a prova, nem nada.

Entrevistadora: Gosta de trabalhar na rede?

Professora A: Claro. E é isso mesmo que eu quero.

Entrevistadora: Tem algum livro, idéia ou autor que influencie você a selecionar textos, trabalhá-los?

Professora A: Não, porque...como eu disse eu trabalho e gosto de trabalhar com todo tipo de texto, mas eu trabalho muito com texto informativo, jornal, eu trabalho muito com jornal, então não tenho muito assim autor...

Entrevistadora: Que questões você diz assim: Essas são essenciais para se trabalhar com textos?

Professora A: A interpretação.

Entrevistadora: Mais que pontos, em que sentido?

Professora A: Por que eu acho assim, não adianta você ler o texto e acabou. Você tem que mostrar o que você entendeu do texto. Eu tô me referindo mais ao trabalho na sala. O aluno tem que mostrar o que entendeu, então eu acho que a interpretação do texto é muito, muito importante, mesmo. E não adianta você ler por ler. É isso que eu falo com eles: Gente façam a leitura do texto antes pra depois a gente começar a trabalhar, porque não adianta você ler por ler e pronto, ficar por aí. Então eu acho que a interpretação em primeiro lugar. Será que eu tô sendo clara aí. Pelo amor de Deus.

Entrevistadora: Tá. Ah! Esqueci até de te falar. História em quadrinhos, também. Eu gosto muito e eles gostam...de desenhar os quadrinhos com ....fazer charge, também, né.

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Entrevistadora: Quais são as perguntas mais freqüentes dos alunos quando você trabalha com textos? Solicitações?

(tempo)

Que eles sempre batem na mesma tecla?

Professora A: São várias. Eles perguntam mais sobre gramática.

Entrevistadora: Dúvidas da gramática.

Professora A: Dúvidas da gramática. Porque esses ...os meus alunos aqui eles gostam muito...eles se expressam muito bem oralmente. Então quanto à interpretação eles não são muito de perguntar, não.

Entrevistadora: Outra coisa, você sabe de quais bairros seus alunos vêm?

Professora A: Daqui mesmo. Maioria.

Entrevistadora: Daqui de São Caetano. Não tem nenhum mais distante?

Professora A: Tem uma que mora no...eu acho que é Castelo Branco, mas é região, também. Valéria, Castelo Branco, por aqui.

Entrevistadora: Você acha que eles se expressam oralmente bem em relação a texto, tem algum motivo específico. Você consegue visualizar qual o motivo?(cito os nomes de alguns alunos)

Professora A: A família. No caso deles, eu acho que não influi tanto assim.

Entrevistadora: Você já teve contato?

Professora A: Já. Mas, eu já observei aqui alguns....procurei saber os professores que eles vieram, isso tudo e tem professores aqui que realmente trabalham muito bem texto. Muito bem, mesmo. Trabalham tudo o que for preciso num texto.

Entrevistadora: Essa turminha estuda aqui desde a Alfabetização?

Professora A: Aqui tem Educação Infantil. Desde a Educação Infantil. A maioria. Esses mesmos que você citou agora. São todos bem...já tem um tempo aqui. Então eu acho que aí que tá, acho que...porque na família eu vejo que realmente não tem esse contato com texto, com...eles só tem contato com texto mesmo na escola.

Entrevistadora: São todos daqui?

Professora A: A maior parte. E realmente tem um professor aqui que trabalha texto muito bem, interpretação muito bem.

Entrevistadora: Essa professora é formada em que, você sabe?

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Professora A: Ela é formada em Pedagogia. Ela é do CEB I, então ela acompanha os meninos desde pequenos e eu vejo que ele trabalha muito bem texto mesmo.

Entrevistadora: Quem é? Você pode dizer?

Professora A: Posso. Maria (nome fictício).

Entrevistadora: Ela já coordenou aqui?

Professora A: Já.

Entrevistadora: Com você e com a Professora B (diz o nome dela)?

Professora A: Não, a Professora B (diz o nome dela) não estava nesse tempo não, né. Ela entrou esse ano.

Entrevistadora: E já fez projetos sobre texto...

Professora A: Que eu me lembre não. Quando entrei.....tem três anos que eu trabalho aqui e quando eu entrei ela já era coordenadora.

Entrevistadora: Aí depois ela saiu e ficou...

Professora A: Ela saiu e ficamos sem. Mas eu acho que taí, a influênca taí.

Entrevistadora: Eles (os alunos) foram alunos dela?

Professora A: Foram alunos dela. A maioria.

Entrevistadora: Mas foi só um ano?

Professora A: Não, foram dois anos.

Entrevistadora: E eles citam muito isso?

Professora A: Citam, bastante.

Entrevistadora: O que considera como uma atividade criativa com texto?

Professora A: Eles fazendo a leitura do texto, a interpretação oral e reescrever. Reescrever da forma que eles entenderam o texto. E eu gosto de fazer muito isso.

(descontração sobre as atividades dos alunos. A pesquisadora cobrando as atividades dos alunos para a professora)

Entrevistadora: Minha participação aqui te incomodou bastante, de influenciar no seu trabalho pedagógico? Como foi essa relação?

Professora A: Influenciou assim, porque eu, sempre, desde o magistério ficava nervosa quando vinha alguém me observar, pra fazer um seminário era a maior dificuldade, gaguejava e tudo. E sempre o planejamento que eu passava eu não conseguia dar conta daquele resultado. Eu pensava assim, se eu fizer dessa forma

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Aline vai, sei lá, vai falar alguma coisa, eu...aí eu pegava e mudava. Mas eu acho que influenciou, porque quando eu via que não tinha saída eu tinha que voltar, tinha que fazer aquele mesmo. Então eu acho que melhorou bastante, até me incentivou a não ter...parar com esse negócio de ficar com medo só porque vem alguém observar. Isso daí pra mim...pelo menos uma parte eu melhorei.

Entrevistadora: E quanto aos alunos?

Professora A: Os meninos se comportaram da mesma forma. Da mesma forma. Eu pensei que eles iam ficar até calminhos. Quem disse? Ficaram da mesma forma. Não via que toda hora: “Ah, mas a pró Aline vai fazer a brincadeira”.

Entrevistadora: E a graduação em Pedagogia tá dando mais suporte pra trabalhar texto ou por enquanto foi só aquilo que você me disse anteriormente?

Professora A: Não, foi só uma base, mesmo.

ENTREVISTA COM A PROFESSORA B

Entrevistadora: E a leitura, você tem alguma recordação, se foi algo agradável, como é que foi?

Professora B: Não, não foi uma coisa agradável não. Se você levar em consideração que eu tenho 51 anos, então você há de convir que foi assim uma coisa muito...dramática mesmo. E eu me recordo muito bem disso, apesar de já ter muitos anos, eu me recordo muito bem disso. Aquele processo assim... cartilhado mesmo, e que naquela carta de ABC, no finalzinho dela, tinha ainda aquela, aquelas...umas frases que eram decorativas que falavam da Independência do Brasil, do Descobrimento do Brasil. O menino terminava o ABC, passava por aquele período silabado, mesmo, né, e depois ele tinha que ler aquilo ali que tava na última folha da carta de ABC. E eu me lembro que era assim uma casa e nessa casa tinha uma pessoa que dizia ser alfabetizadora e essa pessoa era na base do puxão de orelha, era... foi muito dramático, foi dolorido, enfim. Mas eu não sei como eu já estava lendo. Não sei, acho que eu tinha muita curiosidade de saber aquilo ali e não passar vergonha porque eu tinha um medo danado e em casa também meu padrinho e minha mãe me ajudavam muito.

Entrevistadora: Eles te ajudavam como?

Professora B: Era assim no soletrar mesmo, decorar o ABC e soletrar.

Entrevistadora: Sem castigo?

Professora B: Sem castigo (tom de riso e rancor). Mas, não tinha castigo, mas tinham as pressões que eu acho que eram bem piores, porque era assim: “Não vai aprender, é burra”. Eu me lembro disso.

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Entrevistadora: Quem te dizia isso?

Professora B: Meu padrinho, dizia isso. “Não vai aprender, é muita burra essa menina. Não aprende nada e tal...” Então essa coisa marcou muito.

Entrevistadora: Isso durante a leitura?

Professora B: Durante a leitura. É, e daí eu fui me descobrindo porque a pessoa que morava comigo lia bastante e tinha gibi. Não sei se você conhece. Gibis eram a escrita do momento, então não se tinha acesso à televisão, pelo menos os pobres não tinham, né. E ele lia muito gibi e eu pegava sempre que podia e tinha curiosidade porque eu olhava aquelas figuras, achava interessante, mas não entendia e eu acho que isso me ajudou muito. Lendo os gibis de Didi que me ajudavam a ...

Entrevistadora: De Didi?

Professora B: Sim (risos). No caso, meu irmão emprestado, era Didi. Então os gibis de Didi me ajudavam a ler e eu fui me descobrindo e quando eu pensei que não eu estava lendo e muito bem pra minha idade. Eu morava num bairro...numa avenida paupérrima mesmo e eu era leitora daquele pessoal. E eu escrevia as cartas, já na segunda série eu já escrevia as cartas.

Entrevistadora: As cartas para quem?

Professora B: Para as pessoas que queriam, porque a maioria era analfabeta e eu escrevia as cartas os bilhetes.

Entrevistadora: Hum, legal.

Professora B: É, foi muito gostoso e foi daí que deu essa vontade de trabalhar e sempre trabalhar em educação e eu acho muito gratificante.

(trecho Inaudível)

Professora B: Eu tinha, porque como você sabe o menino ia para a escola com 7 anos. E então lá foi nove ou dez anos mais ou menos, nove ou dez anos que eu já escrevia alguma coisa, cheia de erro!

Entrevistadora: Mas dava para entender?

Professora B: É, dava para entender. Havia comunicação, das cartas que eu fazia.

Entrevistadora: E você ainda continua lendo gibis?

Professora B: Não, eu li muito gibi até...Eu ficava doidinha por coisa...por qualquer tipo de literatura, eu não tinha acesso à livros...bons livros, né, então aí eu lia muito, consumia muito essas coisas de...

Entrevistadora: O que conseguia comprar.

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Professora B: É, o que era possível. Trocar então era um hábito, trocava na feira.

Entrevistadora: Trocava o quê?

Professora B: Lia e trocava por outras, por outras usadas.

Entrevistadora: Era freqüente essa troca?

Professora B: Era.

Entrevistadora: Atualmente, o que é que você mais gosta de ler?

Professora B: Atualmente, quando eu tenho tempo, sem ser os livros didáticos, as coisas que tem a ver com a nossa formação, eu reservo um tempo assim muito grande para tudo que me explica coisas da bíblia. É o livro que eu mais leio. E sou obrigada a ler outros, porque de repente eu não encontro informação lá e eu quero saber como é que acontecia, qual era o regime político daquela época, então pra entender o contexto eu tenho que buscar outras coisas.

Entrevistadora: Mas são livros mesmos religiosos. E você é católica, evangélica...?

Professora B: Evangélica.

Entrevistadora: Da Batista?

Professora B: É da Batista.

(conversa informal sobre religião)

Entrevistadora: E o que você considera como texto? Pra você o que é um texto?

(Um tempo de silêncio)

Entrevistadora: O que você definiria como texto?

Professora B: Que definição do texto?

Entrevistadora: Qual a sua visão do que seja texto, o que você considera como sendo texto...?

Professora B: Qualquer mensagem escrita é um texto.

Entrevistadora: Certo. Que tipo de texto você considera cansativo?

Professora B: Expositivo, aquele informativo, expositivo...cansativo.

Entrevistadora: Assim, como por exemplo qual que você já leu, que você achou... pesado...?

(tempo)

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Que dificultou um pouco pela organização dele, pelo modo como ele é organizado, a estrutura. Pode dar exemplo?

(tempo)

Esse informativo que você fala é de onde...jornal ou não?

Professora B: De jornal! De jornal, mesmo, tipo os livros didáticos, né?!

Entrevistadora: Dos livros didáticos, no caso, é aquela parte de orientação?

Professora B: De orientação.

Entrevistadora: Quais são os textos que você considera assim, bons para se trabalhar em sala de aula?

Professora B: Poéticos. As músicas, em específico. São os poemas musicados, eu acho que são fantásticos.

Entrevistadora: Por quê?

Professora B: Não sei, eu acho que tem um significado maior. Não sei se é porque eu gosto de poema, e às vezes a gente induz um pouco, né? A gente puxa mais sempre para aquilo que gosta. Talvez até não atinja muito, mas eu gosto desse tipo de texto.

Entrevistadora: Como é que você seleciona um texto para o aluno? Que critérios estão embutidos nessa seleção? Para avaliar o quê?

Professora B: Pra mim é assim, despertar o interesse pela leitura, né isso? A compreensão, a compreensão, o interpretar, o entender, né isso? Deixar uma mensagem, dar uma informação, informar, no caso, né?

Entrevistadora: E esses critérios que você utiliza, de informar, despertar interesse dos alunos, você está se baseando em algum autor em específico que te orientou pra isso ou é uma construção sua, de que o texto...você toma ele para que o aluno possa interpretá-lo, possa ter uma mensagem?

Professora B: Não tem autor específico, não. De tudo que a gente vê, pelo menos você, de tudo que você aprendeu Aline, sem um embasamento até, porque a nossa formação, pelo menos a minha que é nível I, eu não tenho essa formação, mas pelo dia-a-dia você vê a importância do texto, né? E vendo essa importância de texto, você sabe que dali é que você pode conduzir seu aluno. Não sei se eu respondi o que você queria, mas...não tenho assim nada específico pra lhe dizer.

Entrevistadora: Você conseguiu detectar algum tipo de texto que seus alunos mais gostam de trabalhar?

Professora B: Eles gostam muito de fábula. Muito mesmo, histórias infantis, eles se prendem mais, eu sei que dá vazão a imaginação e tal. Eles se transportam mesmo para o irreal e aí fica tudo mais fácil.

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Entrevistadora: Dos textos que você mais gosta de trabalhar em sala de aula são os poéticos ou são as fábulas?

Professora B: Não, eu gosto muito de poéticos, mas em vista da necessidade a gente não pode se prender a um, há só uma modalidade, né? Então, é bom trabalhar o que eu gosto, seria o poético, mas eu sinto que a preferência maior deles são as fábulas, os contos infantis, as histórias infantis, então eles preferem mais, eu acredito que eles preferem mais e que é mais fácil até trabalhar isso aí.

Entrevistadora: Você já participou de alguma atividade de formação que incluísse discussões sobre leitura e produção de textos.

Professora B: Especificamente leitura e produção de textos, não.

Entrevistadora: Mas você lembra de alguma coisa que tratou bem disso, alguma capacitação, nem com o coordenador pedagógica daqui?

Professora B: Não.

Entrevistadora: Então nunca tiveram nada voltado pra isso, né?

Professora B: Pelo menos eu não e eu tenho cinco anos na rede.

Entrevistadora: Tem cinco anos na rede, mas aqui têm quantos?

Professora B: Aqui um só. Eu acredito que as meninas sim. Nós já recebemos assim...muitos textos e dentro desses textos, o passo a passo, o como trabalhar. Isso aí a gente já teve.

Entrevistadora: E isso facilitou alguma coisa?

Professora B: Facilitou.

Entrevistadora: A sua formação qual é?

Professora B: Nível I, magistério.

Entrevistadora: Já fez algum outro...

Professora B: Não, só magistério.

Entrevistadora: Foi no ICEIA?

Professora B: Foi no ICEIA. Naquele tempo assim...sabe?

(conversa informal sobre o ICEIA)

Entrevistadora: Em que ano você fez?

Professora B: Terminei em 75.

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Entrevistadora: Que livros, ou idéias você acha que está lhe influenciando na seleção dos textos? Existem livros específicos, um autor ou uma idéia, que faça você dizer: Não, eu vou levar esse texto para sala de aula.

Professora B: Eu acho que o que me influencia mesmo em trazer um texto para sala de aula é a necessidade mesmo que é apresentada na rede e quando um texto é interessante aí você não esse daí eu posso levar, são as coisas do dia-a-dia, são os acontecimentos do dia-a-dia. Essa questão mesmo violência, eu trabalhei textos aqui que foram voltados só pra isso por conta do que tava acontecendo.

Entrevistadora: Quais foram os textos...de jornais?

Professora B: De jornais, tudo que aparecia. Quando houve mesmo aquela explosão, não esse ano, aquele problema nos EUA com as torres gêmeas, nós trabalhamos tudo que saia de...Se fazia necessário. Eu gosto mais de coisas do dia-a-dia. Esse ano eu fiquei meio solta porque eu cheguei aqui e o pessoal já estava andando com o Gestar e aí eu fiquei naquela... o que é que eu posso fazer, o que é que eu vou fazer, eu esqueço o que eu aprendi, o que eu já construí por lá e me engajo aqui ou eu começo...eu não sabia o que fazer. Ou continuo como eu estava, trabalhando como eu estava, porque a gente partia assim muito do concreto, do que estava acontecendo e tudo e surtia efeito e aqui eu fico um tanto...perdida.

Entrevistadora: Passaram para você informações sobre o Gestar e não coincidiu com a formação que você já tinha?

Professora B: De repente, você já ir tomando intimidade com ele você vê que é tudo a mesma coisa.

Entrevistadora: Só muda um pouco a linguagem, o modo de falar.

Professora B: É. Então... mas da maneira que era apresentado, tinha termos até que eu nem conhecia.

Entrevistadora: E eram esclarecidos pra você esses termos?

Professora B: Se você questionasse.

Entrevistadora: Quem passava era a coordenadora na época?

Professora B: Não, não tive um trabalho...quando eu tinha uma dúvida assim muito inicial ia pra... (cita nome das pessoas do Gestar) assim alguma uma coisa que eu precisasse de momento.

Entrevistadora: Você foi avaliado por esse Gestar?

Professora B: Não.

Entrevistadora: Não teve essa cobrança direta (ir observar a sala do professor)

Professora B: Não, porque também não tinha o que se cobrar. Eu não trabalhei, eu trabalhei CEAP.

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Entrevistadora: O que é CEAP?

Professora B: Foi uma capacitação que foi dada com o pessoal do CEAP, mesmo. São pessoas que trabalham com a ciência e tal, com a consciência negra, essa questão de discriminação. E foi um trabalho muito bom, foi uma capacitação até um tanto longa, mas eu cheguei aqui e aí...trabalhar a igualdade na sala de aula...fiquei pegando o bonde andando.

Entrevistadora: Você recebeu o material do GESTAR?

Professora B: Tem muita coisa aí, só que a gente não tem tempo pra ler.

Entrevistadora: É, eu já vi.

Professora B: Você já viu! Você não tem tempo pra ler. Ou você senta para preparar sua aula com aquilo que você tem na sua mão ou você vai parar para estudar isso aí e depois chegar na sala de aula...

Entrevistadora: Pior que não tem ajuda, né, pra isso. Dê exemplo de que questões, questões mesmo formuladas, que você tem em mente, que você considera essenciais para se trabalhar textos em sala de aula?

(tempo)

Questões que você diz assim: Essas são essenciais para se trabalhar qualquer texto.

Professora B: Cidadania, respeito ao ser humano, isso aí é fundamental.

Entrevistadora: O que é que você considera como uma atividade criativa com textos?

Professora B: É aquela atividade que vai atingir sua sala toda. Não vai deixar ninguém de fora, não é isso? Que vai envolver seus alunos. Isso é uma criativa.

Entrevistadora: Você tem exemplo de alguma atividade que envolveu, que deu certo?

Professora B: A gente fez aqui com textos um trabalho assim: Eles leram o texto e depois representaram, foi assim...eu achei que foi rico, não ficou registro disso aí, mas foi rico porque eles, porque você quer que eles aprendam e aí você tem dificuldade e se você vai lá pra frente e discursa somente não fica, mas eles leram e depois foram mostrar cá na frente, foi ótimo.

Entrevistadora: Que texto foi?

Professora B: Foi uma coisa sobre preconceito, um texto sobre preconceito, mas o preconceito X discriminação.

Entrevistadora: É, eles gostam mesmo. Eu ouvi eles falando.

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Professora B: Gostam. E aí eu sei que isso marcou tanto que tudo que eles fazem na sala eles botam esse preconceito e discriminação.

Entrevistadora: Por que você acha isso?

Professora B: Eu acho que isso é muito pertinente na vida deles, acontece muito, eles vivenciam muito isso.

Entrevistadora: Você sabe de onde eles vêm, de quais bairros?

Professora B: Eles são da Golméia. Lá embaixo que não sei o nome dali?

Entrevistadora: Boa Vista?

Professora B: Não.

Entrevistadora: Jaqueira?

Professora B: Jaqueira. Tem meninas aqui do Alto do Peru. E aí eu perguntei por quê? É porque ensina legal, ensina bem.

Entrevistadora: Como você vê o papel do texto colado com a gramática? Com o ensino da gramática? Como é que você visualiza isso?

Professora B: Eu acho fundamental, porque quando ele se distancia a gente vê que não tem o mesmo efeito.

Entrevistadora: Você acha que texto e gramática devem estar colados?

Professora B: Devem estar juntos.

Entrevistadora: Dê um exemplo para que eu possa entender melhor?

Professora B: Por exemplo, eu trabalho um texto, eu posso naquele texto desmembrar tudo que eu quero de gramática, sem precisar conceituar fora aí dentro eu posso pegar os elementos que eu quero e trabalhar e fazer uma interdisciplinaridade.

Entrevistadora: Mas você acha que sem conceituar?

Professora B: Sem conceituar. Bom, vai chegar o momento em que você vai ter que fazer isso, né? Você vai ter que fazer isso, mas não é aquela coisa de você ir pra decoreba, ele vai estar entendendo o que é que ele tá...os elementos que ele tá usando...as figuras que ele tá usando, gramaticais.

Entrevistadora: Você gostaria de ter, talvez não um curso, mas diálogos com pessoas sobre que temática com relação a sua prática pedagógica? O que é que te faz falta?

Professora B: Essa questão mesmo, estrutura de texto.

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Entrevistadora: Como assim?

Professora B: É a formação mesmo Line, o esqueleto de um texto, não que você não tenha isso.

Entrevistadora: É saber os tipos? É isso que você quer dizer?

Professora B: Não. Não é tipologia. É, assim, por exemplo, como você vai conduzir seu aluno para ele estar elaborando um bom texto. Entendeu?

Entrevistadora: Mais produção, mesmo?

Professora B: É. O que é que você tem que fazer, de que maneira você tem que fazer para que você não alcance três alunos, quatro, cinco, mas você alcance um todo, para ele ser um bom escritor. Se tivesse algum curso que fizesse essa mágica, aí! Eu sei que tem uma série de coisas embutidas nisso aí, mas isso aí já tá um discurso aí tão defasado, que o aluno não tem um ambiente de leitura, que facilite a produção e tal, tal, mas não vejo por aí, eu acho que tá na sala de aula, que a dificuldade tá na sala de aula e não é só minha essa dificuldade. Quando a gente conversa com outros colegas a gente vê que há essa dificuldade, o professor acha que até porque, por não ser um bom escritor ele não conduz o aluno a ser também um bom escritor, a produzir um bom texto.

Entrevistadora: E você acha isso de você também?

Professora B: Eu acho.

Entrevistadora: E você é uma boa escritora?

Professora B: É.

Entrevistadora: Até pela história de vida?

Professora B: Isso, é.

Entrevistadora: E sobre as estratégias de leitura, não sei se você lembra, que você colocou na porta sobre como escrever um texto. Você achou que aquilo ajudou, facilitou ou ficou no mesmo?

Professora B: Ficou no mesmo.

Entrevistadora: Eles não seguiram aquilo?

Professora B: Não.

Entrevistadora: Por mais que você explicasse?

Professora B: Eles não seguiram. Então é essa mágica que eu gostaria de ter. Porque você tá orientando todo dia, você coloca...quando você corrige você coloca lá embaixo algumas observações, você chama individualmente e fala tá faltando assim, tá faltando fazer isso e depois não surte efeito, então que taí em algum lugar.

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Entrevistadora: E aqueles livros que foram distribuídos pelo município, o de “literatura em minha casa”, houve avanço? E só na leitura ou também na produção textual?

Professora B: Não, houve algum avanço.

Entrevistadora: Quais foram?

Professora B: Eles entendem mais o enunciado, entendeu? Já discorre sobre um assunto, o que era difícil antes. Você dava um tema e eles ficavam perdidos, se distanciavam muito. Agora não, agora acho que por ler eles já sabem trabalhar assim, o começo, já sabem localizar o meio, já fazem a trama ao modo deles mesmo eles fazem e já colocam o final, já fazem uma conclusão. Antes eles achavam assim, que reescrever um texto era copiar uma parte do texto, dizer uma parte do texto. Hoje eles já colocam conclusão. Pra mim eu achei que avançou. E ler também, né? Entrevistadora: Tem algum recurso que você acha que seria bom para trabalhar com textos, mas que você não tem? Um recurso pedagógico que você gostaria e que você fala assim: Olha, se eu tivesse isso em mãos...

Professora B: Eu faria melhor? É aqui a gente conta assim, com muito material escrito, mas o que nós temos aí de textos, eles vêm no CEB I, II, terceira série e quarta série. Aí quando você coloca um texto desses aí eles dizem “eu já conheço”. Aí se ele já conhece o que acontece, perdem o interesse. Se nós tivéssemos mais variedades, mas acesso a isso, eu acho que seria melhor.

Entrevistadora: Por sinal eu tô lhe devendo um.

Professora B: Às vezes você tem um cd, arranja às vezes um cd aí você tem a dificuldade, o som tá aqui, o som tá ali e tal, você não tem isso na sua mão e a gente sabe que ajuda, né? Ajuda muito. Então, uma coisa que tivesse... que fosse acessível ao professor...mas eu digo acessível é porque a gente vai lá e pega, mas de repente eu quero dar nessa aula, mas tá na sala da pró x, eu não vou fazer agora, então eu não tenho isso disponível. Eu não tenho livros, esse ano parece que tem, mas eu não tenho livros e quando você tem são aqueles textos, daquele mesmo jeito...

Entrevistadora: Você está falando dos livros didáticos?

Professora B: É, dos didáticos. E os outros também, os que nos ajudam também já são ultrapassados porque tá o que, porque desde que eu cheguei no município que eu estou vendo esses mesmos cadernos. Então ele lê, lê a primeira vez, a segunda, a terceira, não quer mais ler.

Entrevistadora: São aqueles de contos, fábulas...

Professora B: É. Eu acho que se eu tivesse mais Literatura, se tivéssemos mais livros não fosse somente...porque a gente tava cobrando isso aí. Se esses livros de Literatura em minha casa não fossem somente para quarta série, a terceira série teria um avanço melhor. Mas livros mesmos! E a diversidade, que não fosse somente aqueles livros manjadão.

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Entrevistadora: Pronto, acho que é só.

Professora B: Só?

(risos)

Entrevistadora: Quer falar mais alguma coisa, sobre sua história? Isso me ajuda a entender um pouco mais da prática de vocês, por isso que eu pergunto sobre a história de vocês. Porque não é só a gente sugerir uma coisa e não dizer que isso ela não fez por falta de motivos, não é?

Ah, sim! Outra coisa. A minha presença em sala de aula interferiu negativamente em alguma prática sua?

Professora B: Interferiu. Interferiu assim, primeiro porque eu pareço assim que não sou tímida, né? Todo mundo me diz isso, quando eu vou apresentar algo na Igreja nego fala isso. Você não parecia que estava nervosa. Arrasada! Então, no momento em que eu...eu geralmente dou aula solta, mas se você estava aqui, eu ficava atrapalhada.

Entrevistadora: Sempre?

Professora B: Nem sempre, mas às vezes sim. Eu planejava uma coisa e depois saia uma porcaria, meu Deus do céu! Eu não agüento isso! Aí quer dizer...

Entrevistadora: Eu sei que incomoda.

Professora B: Não, nada contra você. Você é ótima, mas me deixava...

Entrevistadora: Tensa?

Professora B: É, tensa. E os meninos também ficavam a vontade, porque no geral eles não ficavam assim. E eles ficavam assim à vontade, à vontade mesmo. Pra mim foi assim, às vezes eu planejava tudo bonito e tal, porque geralmente eu dou minha aula assim...eles participam e tal, mas eles não participavam! E o que eu achava interessante é que...quando Aline tá aqui vocês não falam nada. Tinha vezes que eu ficava perdida, perguntava, perguntava, nem tavam aí...parecia que eles não tinham entendido nada. Que eles não sabiam nada, que eles só conversavam na hora inversa. Não era hora para eles conversarem e eles conversavam e aí...

Entrevistadora: Pronto, eu acho que só.

[...]

Professora B: Ah, [...] foi esquecido. Eu fiz no início com eles assim, a título de diagnóstico. E ficou esquecido, eu não corrigi, acho que isso acontece na vida do professor, né. Não corrigi, como eu tinha que entregar os trabalhos, quando eu fui observar aqueles trabalhos estavam sem correção. Então eu disse, bom vou ter que usar de um recurso qualquer. Entreguei a todo mundo e disse olhe, façam a autocorreção, vejam como vocês melhoraram. Fiz aquele floreto todo, vejam como

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vocês melhoraram, olhem aí o que foi que vocês erraram. Oh, menina! Mas foi uma coisa impressionante! Menina, escrevi não sei o que lá com s, isso foi no final do ano, porque essa atividade foi na primeira semana! Foi na semana diagnóstica. Porque eu fiquei feliz com isso. Porque foi assim, eles foram descobrindo....Alice mesmo disse assim “professora, eu era muito burra”. Por que, menina? “E escrevi nossa com um s só”. E eu achei incrível porque foi no mesmo ano e eles avançaram de verdade e eles mesmos já estavam fazendo suas próprias correções. Não precisou de interferência nenhuma minha. Eles foram detectando os erros que eles foram...

[...]

Entrevistadora: Que até você não sabia que eles poderiam consertar?

Professora B: Bom, eu sabia que havia erros ortográficos, bastante. Mas eu não tinha olhado...olhei em princípio, dei uma olhada superficial, aí guardei, porque pra mim também não era um trabalho significativo naquela época, foi somente pra preencher. Houve um trabalho lá fora, que foi aquela apresentação, não sei se você já estava aqui.

Entrevistadora: Eu comecei em abril, aqui.

Professora B: Não. Foi no carnaval.

Entrevistadora: Não estava.

Professora B: Aí então eles foram lá para fora apresentar um trabalho sobre o carnaval e depois nós voltamos e fomos reescrever. Carnaval de outras épocas e tal...se eles conheciam, então. Primeiro conversamos e depois fomos pra escrita. E aí nessa escrita eu percebi que tinha muitas palavras escritas erradas, não houve pontuação. Poxa, eu levei aqui direto, o Leonardo disse. O Outro disse, Eu fiz um poema. Professora, eu fiz um poema. Aí eu disse e eu pedi a você um poema? Não, eu fiz um poema com minha burrice. Porque ficou todo fragmentado. Então achei assim, incrível. E eles usando, corrigindo mesmo, pegando o dicionário, olhando as palavras para tirar as dúvidas e tudo. Foi incrível. Então, tudo isso aí foi o que...acrescentado durante esse ano, né? E como ele cresceu. E pra mim foi um trabalho...eles mesmo olharam e viram onde estavam errado, né? Pra mim foi muito melhor do que eu fazer uma correção e pra mim serviu de experiência. Aí falei com Maria (nome fictício), ela pegou e entregou também pra fazer autocorreção, assim mesmo pra provocar e aí ela apresentou até o desenvolvimento de um menino que...o quanto ele cresceu durante o ano...que ele era da turma de aceleração, que ela tem à tarde,,. Então ela mostrou isso aí, o que ele tinha crescido e ele mesmo já reconhecia que cresceu e o que ele já sabia, o que ele tinha aprendido durante esse ano. E ele mesmo que aprendeu, o que eu achei mais incrível foi isso. Eu achei fantástico isso aí, muito bom mesmo. E não foi uma pessoa só que tava experimentado aquilo do crescimento né? Aquela coisa do crescimento. Até os que eu achava que não renderam nada, que não foram pra lugar nenhum como a gente costuma dizer, mas esses estavam também achando que tinham melhorado. E que tinham que consertar.

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Entrevistadora: Às vezes é por causa da estrutura da escola, que naquele momento eles não se mostram, né? Tem outra experiência, quer contar?

Professora B: Eu morava entre Baixa de Quintas e Macaúbas, aí tinha uma avenidazinha e nessa avenida tinha muita gente que tinha vindo do interior, analfabetos mesmo. Então eu e algumas outras pessoas que estudavam, eram o dondodó da...então nós fazíamos cartas, ganhávamos alguma coisa em troca, não era dinheiro, mas sempre tinha aquele bem querer, né? Aí eu pensei comigo que tinha um jeito da gente colocar pessoas pra ficarem lendo também, não somente eu e uma outra menina, Edna, ficávamos encarregadas de fazer as cartas, saber da vida dos outros e tal. E a gente sabia e contava aos outros também. E aí pronto, daí veio aquela necessidade. Lá mesmo eu comecei a ajudar meninos, eu tinha já o que? Uns treze anos. Comecei a ajudar meninos a fazer o dever de casa. Ótimo, né? É o máximo. Eles me ajudavam a carregar água e eu a fazer o dever de casa. Legal. Aí pronto, com quatorze anos eu já estava fazendo o curso de admissão ao ginásio, que tinha que se prestar a esse curso de admissão ao ginásio. E aí com quatorze anos eu fiz esse curso de admissão e entrei no ginásio no Carneiro Ribeiro. Aí pronto, beleza, já tava no ginásio.

Entrevistadora: O carneiro Ribeiro é na Lapinha?

Professora B: É, na Lapinha, bem pertinho. Aí eu podia já ensinar. E a minha professora, que eu tinha feito admissão, achava que eu tinha uma letra muito boa, ensinava no município, naquela época em que o município não tinha essa cobrança que tem hoje e que eu acho muito justa. Que não era creditado, que o ensino não era creditado. Ela viajou e me deixou com quatorze anos de idade tomando conta de uma sala de quarenta alunos, mais ou menos. E eu fiquei nessa sala e amei porque era tudo o que eu queria.

Entrevistadora: Eram crianças de quantos anos?

Professora B: Eles eram da minha idade também, tinha uns mais velhos do que eu. E foi bom, eu fiquei, e fiquei tanto que sempre que ela viajava eu ficava lá, sempre que ela viajava eu ficava lá. Nesse mês eu não pagava a banca, que eu tomava banca lá na casa dela, entendeu? Ela tinha uma escola particular. Eu digo bom, vou botar minha escola também! Se ela pode, eu também posso. Aí botei. Agora como era a minha escola? Aí eu já morava na Capelinha. Como era minha escola? Tábuas de construção em cima de blocos. Não é cascata, não é conversa fiada. Eu tinha quinze anos, já. Já tinha passado quinze anos, já namorava.

Entrevistadora: Seu marido de hoje?

Professora B: É, meu marido de hoje. Aí botava alguns bancos, alguns blocos, botava aquela tábua em cima e ensinava. Nessa época eu alfabetizei...ao meu modo, né, quinze meninos, nesse ano eu alfabetizei quinze meninos. Meninos hoje que já são homens, que tem contato comigo, que conversa comigo, alguns deles só teve esse caminhar na educação. E ai pronto, eu me casei e continuei trabalhando, era lá mesmo na casa da minha mãe, na Capelinha. Eu fui morar em Pirajá, mas vinha ensinar na Capelinha e tinha....e trabalhava, nesse período sem registro, sem

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nada, na casa de minha mãe. E aí a escola foi crescendo e esse meu noivo, que já era meu noivo, me ajudou a fazer alguns bancos e aí pronto topei a sala da minha mãe toda e fui trabalhando lá. Aí me casei e continuei a trabalhar na casa da minha mãe. Mas a escola não era ainda tudo direitinho, não era no passo a passo. Não era tudo como manda o figurino, mas eu tava lá, o que era preciso fazer eu tava fazendo ao meu modo. Não tínhamos caderno... direito, os meninos conseguiam folhinhas de papel e juntavam e a gente tava lá, com o livro que achava, eu...essa professora me ajudava assim: os livros do mestre que vinha, ela me dava, o que não usava, que eram muitos que ela não usava. Ela me dava e eu usava com os meus meninos, mas não dava a eles não, passava no caderno, ficava aquele monte de caderno. Quando eu fui ter meu primeiro filho, uma menina ficou tomando conta dos meus alunos e eram 28 nessa época, de manhã e de tarde. E eu ainda estudava no ICEIA. Me casei e aí foi aquela coisa toda, perdi um ano e tal, eu ainda estudava no ICEIA. Aí em 75 eu me formei e fui me embora de uma vez pra Pirajá, porque não precisava mais vim pra casa de mãe. E lá em Pirajá, aí sim, aí eu botei a minha escolinha, que eu já tinha ganho também um pouquinho de dinheiro, botei a minha escolinha. E nessa escolinha eu criei meus filhos e alfabetizei.

Entrevistadora: Até que série?

Professora B: Era até a terceira série. Só não dava a quarta série porque tinha aquela problemática de dar a transferência. Já me conheciam, eu dava a transferência sem problema nenhum, só tinha o RG, não tinha autorização da Secretaria pra trabalhar, acho que por isso também que eu tive que acabar, porque eles é...quando...você vê o município bota uma escola ela funciona em qualquer lugar, mas se você não ta com tudo padronizado, tudo ajeitadinho, nego fecha e minha escola era boazinha mesmo. Nós trabalhávamos, eu...aí no caso minhas filhas já tinham crescido, foram dez anos que passamos e tal. Elas se criaram lá, e aí vieram, foram trabalhar na escola. Só foram dez anos de registro. Aí trabalharam na escolinha, elas trabalhavam as duas e uma delas veio...que é Pedagoga hoje, trabalhou dentro da escola comigo, indo pra Faculdade e tudo enfim. Então tudo que nós tínhamos era tirado dali, daquela escola. Então, eu não vejo assim que você tenha que levar a educação assim, parecendo que é um buraco escuro, que não é, que a gente pode fazer muito. Ainda que eu me ache precária, ainda que eu me ache fraca enquanto profissional, mas eu sei que a força de vontade conta muito, eu sei que não é só a boa vontade, mas eu sei que ela fala muito alto. Eu acredito que ela fale muito alto e se você busca ajuda, como eu tenho feito, o que é pra fazer eu tenho que fazer, se é pra ler eu tô lendo, se é pra chegar cedo eu tô chegando, então eu acho que isso ajuda muito. E com relação a minha escola, ela funcionou em regime assim, com registro mesmo ela funcionou dez anos em Pirajá, tem meninos hoje que já estão na faculdade e que saíram de lá. E tenho esse reconhecimento deles, porque já são pais de família e Vera hoje é tida, que é minha filha, é tida como bem velha, porque ela começou junto comigo. Quando começou ler e escrever já tava ali me ajudando e aí apareceu o gosto pela educação.

Entrevistadora: Você já estava na Prefeitura nessa época?

Professora B: Não, eu não estava na prefeitura. Aí quando terminou a escola eu disse assim: “Pronto, não quero fazer mais nada em educação”. Ma aí eu fiquei

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parada? Não, não fiquei parada, fiquei... porque sempre me procuravam, alguém me procurava, achavam que eu fazia bem e me procuravam. Aí, quando... o interessante é mais isso aí, aí quando foi em 97, foi em 97? Noventa e seis, noventa e seis, se eu tiver errada me perdoe. Mas eu sei que Vera estava na faculdade e disse “mainha abriu um concurso”, ela não estava fazendo nada se sentia vazia, não fazendo nada vírgula, ela tava trabalhando como telefonista na Telebahia, serviço prestado, pra manter porque não havia mais a escola. Ficou espremida, pela questão do município não autorizar, porque não era...não tínhamos coordenadores e tal, aquela coisa toda. Não autorizaram e o que eu acho também justo, né? E pelo espaço também físico, que ela não era na rua da frente e nem tinha a dimensão que a prefeitura exigia. Aí então não teve a autorização. Foi difícil e tal, a gente fechou. Aconteceu também aquela coisa de plano Collor, as escolas caíram e tal, aí nós fechamos. Aí...plano Collor eu não sei não, mas eu sei que houve uma, uma...teve uma dificuldade na economia brasileira e que aí quem tinha filho na escola particular foi botando lá pra rede pública e parece que moralizou também um pouco. Então fechamos, tava pouco menino, nós fechamos. Aí um dia Vera veio da rua e disse “mainha tem concurso, vais ter concurso esse ano”. Aí eu disse, “não Vera não quero mais não, não quero saber mais de educação”. “Mas mainha a senhora não pode ficar assim porque a senhora tá triste e tal, não tá trabalhando, tem que fazer alguma coisa, eu vou fazer também, vamos”. Foi ela, Aline, colega dela, e eu. Estudamos juntas. Vera pegava as coisas, porque eu não tinha nem material mais. Tudo que era de educação eu me desfiz e fiquei uns três anos sem fazer nada. Aí ela e Aline iam pra biblioteca, estudavam, resumiam e trazia pra mim, resumia e trazia pra mim. Tá bom, vou estudar só porque vocês querem. E aí pronto, eu fui e estudei e aí fizemos o concurso, as três juntas, que foi pra entrar no município. E nesse fazer concurso quando é um dia de madrugada Aline liga pra mim, dizendo assim: “Dona Maria a senhora passou”. Eu disse: “E vocês?” “Não, a gente não passou”. Aí eu disse “Ochente, como é que pode se vocês é que resumiam e me davam pra estudar”. E eu passei e elas realmente não passaram nesse concurso.

Entrevistadora: Passaram em outro?

Professora B: Passaram no outro. Aí eu disse, bom eu passei, mas disse assim passei lá no rabo do cachorro (risos). Aí porque foi bem baixa a minha classificação. A senhora ainda acha que passou, vai chamar. Vai chamar nada. E esqueci. Mas Vera não esqueceu. Ela ia pra faculdade e toda vez que saia o diário oficial ela olhava. Toda vez que saia o diário oficial ela pegava. Quando é um dia, ela liga pra mim: Mainha, ói prepare seus documentos que o município ta te chamando. Não, primeiro ela disse: Mainha, o que é que você gostaria de...que notícia você gostaria de receber? Ai eu cheguei e disse a ela, que eu não me lembrava mais do município, que uma escola, a mais fajuta da Bahia, a que está na periferia, a que está no lugar mais difícil, está precisando de uma professora que trabalhe de graça. Aí ela disse “pois, então vá procurar uma escola de periferia, porque a senhora só vai achar de periferia, mas que você vai ganhar um salário para trabalhar”. Aí pronto, eu fui, ajeitei meus documentos e vim trabalhar, feliz de minha vida porque eu estava fazendo uma coisa que eu gosto. E eu não trabalho, lhe digo, com pureza de alma, necessidade a gente tem, mas minha necessidade maior é me realizar. Eu não tenho assim a pretensão, de fazer uma faculdade, mas eu quero abraçar tudo

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que venha pra me ajudar e tudo que for... que vier eu vou aceitar e eu não quero parar de trabalhar. Quando eu vejo gente dizendo aqui eu tô doida que chegue minha aposentadoria eu tô pedindo a Deus que me dê forças porque eu acho que ainda eu tenho alguma coisa pra fazer.

Entrevistadora: Tem quantos anos na rede?

Professora B: Cinco anos. Eu não quero, eu podia pegar minhas coisas privadas e batalhar e tal e poder...e...porque meu filho mais velho tem trinta anos e desde já que eu venho, paro um ano, trabalho no outro.

Entrevistadora: Tem trinta anos?

Professora B: É, meu filho mais velho, meu filho mais velho tem trinta e um anos, não é trinta não!E quando eu pari esse filho eu já trabalhava com criança.

Entrevistadora: E você não tem nada reconhecido desse tempo, né?

Professora B: Não. A não ser os anos que eu tenho que eu tô enveredada aí nessas coisas todas e que talvez possa servir de alguma ajuda, mas... e assim alguns anos que eu trabalhei em escola particular. Mas assim pra justificar mesmo, mas como eu já disse a você eu já tenho filhos crescidos, já tenho minha filha que está trabalhando, tá como vice-diretora, tenho outras também trabalhando em área de economia e tudo, mas eu...eu poderia, se eu fosse acomodada, ficar em casa porque eu não preciso de muito pra viver. Tenho marido, bom. Muito bom, uma pessoa muito legal e que acha que eu tô me cansando, porque eu tô trabalhando dois turnos e ele não queria isso, mas eu não me vejo fazendo...em casa. Não é só pela questão do afazer de casa, não, que eu gosto. Mas eu não me vejo sem dar uma contribuição pra minha sociedade e que eu sei que pra mim foi difícil e eu acho que não é hora de jogar...deixar pra lá, não.

Entrevistadora: Você tem quantos filhos?

Professora B: Eu tenho seis.

Entrevistadora: Seis! Eu pensei que meus pais tinham muitos!

(risos)

Professora B: Seus pais têm quantos?

Entrevistadora: Quatro

Professora B: Pois eu sou delirada!

(risos)

Eu tenho seis e estão todos aí, todos criados, criados porque o mais velho tem trinta e um, o mais novo tem vinte e um. Eles me ajudam, são assim parceiros mesmo, se eu precisar de ...

Page 32: ANEXO G – Produção dos Estudantes - repositorio.ufba.br · Professora A: Porque eu trabalho com quarta série e os meus alunos, tudo bem, são crianças, são crianças, mas eu

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Entrevistadora: Sua filha então, hein! Nem se fala. Ela é companheira mesmo.

Professora B: É, é companheira. E eles são assim, eu preciso de um desenhozinho, vem aqui e faz. Eu preciso de um texto, vai lá e procura pra mim.

Entrevistadora: Todos você alfabetizou na sua escola?

Professora B: Todos. Inclusive Ana (nome fictício da filha) e foi a mais fácil porque assim...eles ficavam comigo, porque era melhor estar comigo do que estar na rua ou pagar alguém, né. Também não tinha dinheiro pra isso. Era mais difícil, até. Mas quando eu pensava que não já estavam ali lendo e escrevendo. Aí já iam pra escola, quando tinham que ir porque Ana (nome fictício da filha) e José (nome fictício do filho) foram, mas as outras ficaram até a terceira série, que era o que eu tinha. E essa foi a minha vida e é a minha vida.