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1 Anexo A Análise do Discurso da Entrevista semi-estruturada – cuidadores informais

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  • 1

    AnexoA

    AnlisedoDiscursodaEntrevistasemiestruturadacuidadoresinformais

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    2

    Cdigo:CI01

    Quais os primeiros sinais que o levaram a suspeitar da existncia de um

    probma de sade?

    1

    O meu pai era uma pessoa muito alegre, sempre muito bem disposta, sempre a

    ver o lado positivo da vida, a partir de uma certa altura, que ele embirrava com as

    pessoas, principalmente com os estudantes mais novos, que fazem, assim, muito

    barulho. Outra coisa sublinhava muitas frases de coisas que lia, porque ele lia

    imenso, claro que ele sempre sublinhou aquelas frases que gostava, mas aqui era

    demasiado, um dia perguntei mesmo ao meu pai oh pai mas tem o jornal, o livro

    todo sublinhado, e ele respondeu-me no digas nada tua me, mas eu no me

    lembro nada do que li atrs nunca teve doente, de repente estas atitudes,

    mesmo mudanas de humor. Portanto achei que havia qualquer coisa da parte

    neurolgica, no era mdica, mas havia qualquer coisa que eu tinha de fazer.

    alteraes comportamentais

    alteraes comportamentais

    alteraes cognitivas

    PERCEPAO DE CONSIDERADAS ANORMAIS

    Conte-me um pouco como foi o percurso desde que comearam os primeiros

    sintomas, at lhes ser dado o possvel diagnstico.

    2

    o percurso foi fcil, porque eu tratei logo de saber se havia um medico de

    neurologia, li um jornal que existia, tentei arranjar uma consulta com o dr

    (neurologista), acabou por ser muito rpido, porque ele do hospital de SM,

    mandou imediatamente fazer os primeiros testes, atravs da neuropsicologia, e

    ele diagnosticou logo o principio de Alzheimer mas a partir dai muito bem

    acompanhado. E portanto, mesmo as consultas, o ir s consultas, que para ele, ele

    irritava-se e ns arranjamos um estratagema olhe pai vamos visitar o seu amigo,

    ele j esta com saudades suas, quer levar alguma coisa oh levo uns

    rebuadinhos, ento a primeira coisa que ele fazia era deixar 3 ou 4

    rebuadinhos em cima da secretaria, foi um jogo extraordinrio, e tivemos uma

    orientao muito boa, sobre o que havamos de fazer.

    resol pla problema

    comport de oposio

    avaliao positiva centrada em aspectos exploratrios co-construo de solues

    O que sabia sobre esta doena, e o que pensava sobre ela? (a gravidade, o

    que a causou, as consequncias que provocava, a sua evoluo?

    3

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    3

    no sabia nada, fui aprendendo com o o dr (neurologista), fui fazendo perguntas,

    ao lado da minha me, a minha me tambm ia as consultas, outra vezes ele pedia

    para minha me para sair com o meu pai, e falar mais, outras vezes ficava eu com

    ao meu pai, e ficava a minha me, mesmo a parte sexual, como que ele

    actuava. Portanto, houve aqui um jogo que permitia, a minha irm no podia

    estava fora, ia a muitas conferencias, eu que acompanhei sempre mais.

    desconhecimento

    avaliao positiva centrada em aspectos exploratrios co-construes de solues

    Recorreu a algum para receber informao? Informao obtida do mdico?

    Informao com recursos a outros elementos?

    4

    Ele prpria que nos depois indicava alguns livros ou algumas notcias. Ele na

    altura era extraordinrio, ele desenvolvia uma consulta, a qualquer hora, em que

    todas as perguntas tinham resposta. Lembro-me que nessa altura em que eu ia

    numa fase inicial s consultas com o meu pai, fui a um congresso, e a dr leu uma

    carta, resumida, mas uma carta extraordinrio, do que sentiu e do que viveu com

    o seu marido, apaixonei-me por aquilo. Entretanto as consultas que se fazia no

    hospital, para esclarecer os cuidadores, no se podia levar os doentes, a sala

    enchia-se, era sinal que existia muita gente com doentes, e muita gente

    interessada e foi isso que me ajudou a ter conhecimento e a ter mais possibilidade

    de encarar a doena ou de como tratar da doena.

    fornecimento de inf

    disponibilidade e abertura

    identificao emocional

    procura de suporte social

    competncias emocionais/instrumentais

    Relativamente ao conhecimento que tem sobre a doena, ao que pensa sobre

    a doena deve-se fundamentalmente possibilidade de ter contacto com

    diferentes pessoas, com experiencias diferentes?

    5

    a partir da altura em que eu tive que tratar do meu pai, e portanto tive contacto

    com a associao, ah eu tive logo muita vontade de saber tudo o aquilo que ia

    sabendo a determinadas pessoas que pensariam, que tinham ou que pensavam

    que tinham um doente doido, ou coisas do gnero. Portanto a nica arma de que

    eu tinha, era dizer: que o melhor era eles irem a um neurologista, talvez irem

    equipa do X.

    procura de suporte

    compreenso da doena

    identificao de preconceito social

    reav positiva comp altrustas

    Neste momento, recorre a algum para receber informao? Informao

    obtida pelo mdico? Informao com recurso a outros elementos?

    6

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    4

    Vou net, e depois ou s vezes, debate assim com algumas pessoas, ou com o

    mdico, a dr, que vou visitar praticamente. todos os meses ao hospital, as vezes

    mais uma conversa de amiga, do que propriamente falar de Alzheimer. mas

    experiencias de doentes que recebe, ou sei l, situaes de doentes que vo ter

    com ela e que podem ter atitudes mais agressivas ou mais meigas, portanto, esta

    ligao da vida real, quer dizer, s vezes, no s os livros. Leio todos os livros

    que a associao tem, portanto tambm tem uma boa biblioteca, isso ajuda. E

    depois vou perguntando, vou falando com as pessoas, descobri que na praceta

    onde eu moro, existe 5 pessoas com Alzheimer, isto por causa da tal tertlia do

    caf, de maneira que divulgo completamente, pronto depois digo pronto vocs

    depois querem mais coisas, querem aprender mais ou querem mais formao,

    ento contactem a associao de Alzheimer, fulano ou fulano, conforme a

    situao e encaminho para aqui, pronto, assim que eu fao.

    inf . estrategias comportamentais; procura de apoio social

    aspectos afectivos identificao/rejeio emocional

    co-construo de alternativas

    inf/compreenso

    procura de apoio social

    reav positiva - altruismo

    Como que acha que a doena vista pela maioria das pessoas? 7

    eu penso que as pessoas hoje em dia esto muito mais esclarecidas. Algumas que

    ainda no querem falar, mas eu acho que a partir da altura em que a tv divulgou, e

    tem divulgado h uns 5 anos a esta parte, no s pelo dia mundial do Alzheimer,

    como outras manifestaes, como notcias, como, ah vrias coisas que divulga,

    eu penso que hoje ah coitada, isto realmente uma doena complicado que tem-

    se que aprender a lidar e tal, j no ah Alzheimer coitadinho maluca, no,

    falo com imensas pessoas e no tenho essa noo. Se alguma no quer falar,

    entendendo perfeitamente de porqu no querer falar, muito complicado,

    ofereo um livro como cuidar do doente de Alzheimer, maneira de, dou-lhe um

    boletim, ofereo um livro, pronto.

    campanhas de inf.

    identificao de atitudes negativas vergonha/isolamento

    identificao de atitudes positivas - preocupao

    estrategias comportamentais esclarecimento fornecimento de inf a outras pessoas

    OU envolvimento no cuidar

    reav positiva

    Na fase do diagnstico e aos momentos iniciais de vivncia da doena o que

    pensou sobre a possibilidade de controlo sobre (na totalidade ou

    parcialmente) na doena no momento do diagnostico?

    8

    Fiquei um bocadinho apreensiva de como eu ia resolver o problema, porque a

    minha me com a idade que tinha, tambm no podia sozinha fazer isso, para j

    apreensiva - vulnerabilidade

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

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    somos uma famlia muito unida, quer dizer desde os filhos at aos netos,

    parecendo que no, uma famlia com uma base boa, j ajuda, apesar de no

    estarmos sempre ao p. E portanto ao principio, senti-me O que que eu vou

    fazer? O que que vamos fazer?, mas como lhe disse tivemos logo de imediato

    pessoas que no esclareceram, isso ajuda tanto, assim como estes grupos de

    suporte, que as pessoas vem para aqui desoladas, e de repente sente que afinal, eu

    consigo aprender qualquer coisa, e estive aqui umas horas em que me distrai e

    que aprendi, muito importante. O grupo em si, cada um falar, sem vergonha

    nenhuma, de nada, grupos que se abrem completamente, que extraordinrio,

    parece que somos um s e isso muito importante ns conseguirmos isso, porque

    as pessoas saem daqui com um brilho nos olhos, e isso a nossa bandeira.

    bom suporte familiar

    apreensiva

    grupos de suporte

    competncias instrumentais

    distraco ; competncias instrumentais

    reav positiva

    Fase do diagnstico e aos momentos iniciais de vivncia da doena que

    outros elementos ou pessoas considerou importantes no controlo da doena e

    suas consequncias? (mdicos, famlia, amigos)?

    9

    assim, no s os mdicos. Para mim foi o mdico e depois tudo aquilo que ele

    me dava como exemplo e eu ia tentar ver se dava, como seja, filmes de desenhos

    animados, como fotografias antigas, que adorava ver, lembrava-se, ficava feliz,

    calmo, como aqueles aparelhinhos, que hoje parece que , temos aqui uma sala

    com esses aparelhos ligados electricidade, que tem aquelas bolhas que sobem,

    que deixem, aquela coisa; eu comprei o meu no chins, teve que ser o azul,

    porque comprei um vermelho e ele ficou, ento fui comprar um azul; ento

    agarrava-se aquilo e via aquilo para cima, para baixo, calmo, calmo, as vezes

    deixava-se dormir e era assimeram fotografias, era cantar, pedia-lhe para ele

    canta-se uma cano, daquelas que ele cantava quando era mido, tudo o que se

    fosse de memria remota, ficava feliz, porque se lembrava, a ultima a

    desaparecer, portanto eu sabia isso, e jogava com isso, isto completamente. Desde

    as fotografias, s canes, as traquinices que ns sabamos porque eles nos

    contava, ficava felize assim que ns conseguimos levar com muita calma.

    atribuio de controlo ao profissionais de saude; competncias instrumentais

    reav positiva perecepo de reaces positivas na pessoa a quem presta cuidados

    atribuio de controlo a si reav positiva: perecepo de reaces positivas

    atribuio de controlo a si . reav positiva perceepo de reaces positivas

    reav positiva percepo de reaces positivas

    atriuio de controlo a si

    Considera que tem sido eficaz naquilo que tem feito para combater e

    controlar a doena, os sintomas e as suas consequncias?

    10

    Acho que sim, porque eu j tenho dado estes exemplos a vrias pessoas, e s percepo de competncia

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

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    vezes, no resulta, nem todos so iguais, no essencialmente preciso

    conhecer a infncia, se a pessoa disse: quando era mido fazia isto e assado,

    quando era mais novo gostava de ir ali, quando era novo, se ns retemos isso,

    isso que nos vamos falar com ele; e isso resulta, que uma coisa fantstica; e

    depois no s, no isola-los, levar pessoas l em casa, pe-se a olhar de lado,

    depois no segundo dia j olham melhor, eles comeam a se apegar aquela figura,

    que ao principio no se deve aproximar, aproxima-se mas fala connosco. como

    uma criana, ah d um beijinho, quer dizer a criana vira a cara, portanto o

    sistema o mesmo, esta ali um doente, no vale a pena ah coitadinho como

    que o senhor como que voc est? no, boa tarde, a primeira coisa, at ele

    ganhar confiana, ou seja, conhecer aquela cara, familiar, ele sentir que existe ali

    alguma coisa de familiar.

    variabilidade de contextos

    valorizao da infncia

    reav positiva - sem

    estrategias comportamentais socializao

    TENTATIVA DE CONTROLO INCIDE SOBRE OS ASPECTOS RELACIONAIS E SOCIO-EMOCIONAIS

    comparao com uma criana

    reava positiva cuidar

    Que tipo de estratgias utilizou para confrontar a doena, no momento do

    diagnstico? E nos momentos iniciais do processo de doena?

    11

    eu penso que a estratgia foi de todos, quer dizer ns unimo-nos todos, e temos

    aqui um caso que no tem cura, que vai ser pior, e vamos lutar, para quando

    algum estiver mais em baixa, que o caso da minha me, que estava mais tempo

    com ele, darmos uma certa folga, leva-la a passear. Portanto entrar numa forma

    no dia-a-dia o mais distrado, a pessoas que esta mais tempo com o doente. Para

    que depois ela tambm transmita mais calma ao doente, porque o doente fica

    alterado se v a pessoa enervada. E uma pessoa que esta constantemente com o

    doente, tem que ficar enervada, tem que ficar cansado, porque repete muita vezes,

    muitas vezes a mesma coisa. Portanto, foi assim, que ns lutamos na primeira

    fase, foi tentarmos rodear compulsivamente, da pessoa, da empregada a dias, que

    foi excelente, mas que aprendeu connosco. Portanto, ela era fantstica, ele saia de

    casa e ela ia logo atrs, mas fingia, deixava-o andar, e tal, tal. Isto foi mesmo o

    princpio da doena, at ela estava a colaborar, extremamente quer dizer.

    reorganizao familiar

    necessidade de tempo livre

    reactividade emocional

    vivncia centrada em aspectos emocionais

    alterao cognitiva repetio

    dialectica cuidador-doente: aspectos relacionais e scio-emocionais

    reorganizao familiar

    estrategias comportamentais vigilncia

    apoio instrumental - empregada

    Na fase do diagnstico e aos momentos iniciais de vivncia da doena, quais

    os problemas decorrentes da doena que identificou como mais relevantes?

    12

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    7

    Quais os mais difceis de resolver? Como encontrou solues?

    Os problemas era assim, os hbitos que ele tinha, e aquilo que ns estvamos

    habituados o meu pai ter, como muita leitura, muita brincadeira com os filhos,

    ficou parado, mais sentado. Depois tinha qualquer coisa na cabea, que ele mexia

    muito na cabea, a olhar no sei para onde. Portanto tinha de haver um certo

    cuidado, nas forma como ns chegvamos a ele. Eu muitas vezes quando chegava

    ao pe dele, aprendi algumas canes dele e ento eu comeava logo a cantar

    baixinho, qualquer coisa que ele me tinha ensinado, ele depois olhava para mim,

    e tal, ria, e depois eu ia-me aproximando dele. No lhe perguntava se ele estava

    doente, se estava bem, se estava mal, quer dizercontava-lhe coisas que veja l

    se aconteceu isto assim, assim, inventava, era uma inveno pegada, a mim

    faz-me lembrar a primeira vez que fui com a minha neta ao cabeleireiro, uma

    criana com 3 anos uma maada. E ento eu lembrei-me logo das histrias, olha

    para l do espelho, havia uma menina que tambm se chamava assim, encontrou

    um espelho, e estive ali 30m, a engendrar uma histria, ate a prpria cabeleireira

    disse que estava encantada a ouvir a histria. Temos que por toda a nossa

    imaginao toda a trabalhar e depois temos de ter pessoas a nos revezar, no .

    Dai que quem no tem, tem que ter ajuda domiciliria, no vale a pena tentar.

    centrada em aspectos comportamentais

    scio-emocionais

    avaliao positiva competncias instrumentais

    reava positiva competncias instrumentais

    competncia instrumentais - atitude exploratoria

    percepo - necessidade de apoio instrumental

    Na fase do diagnstico e nos momentos iniciais de vivncia da doena tomou

    medicao regularmente?

    13

    tive, tive, uma coisa muito levezinha para poder dormir melhor, mesmo leve, foi

    suficiente o dr (neurologista) dizia: tem que dormir e a sua me tambm tem

    que dormir

    dificuldades em adormecer

    recomendaes estrategias comportamentais

    No dia-a-dia precisou de ajuda de algum para realizar certas actividades,

    ou consegui fazer tudo sozinha? Costumava planear algum tipo de

    actividade?

    14

    quer dizer eu fazia aquilo que tinha que fazer, como eu lhe disse, quer dizer,

    como havia muita gente, a estar, s tinha que esquematizar aquilo que eu tinha de

    fazer, no , durante o dia. Se de manh eu tinha que ir a qualquer lado, pois

    normalizao

    percepo positiva do apoio familiar

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

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    ficava a minha irm ou ficava a minha me havia ali, um espao que nos

    tentvamos no nos cansarmos, que era importante s vezes era difcil, porque

    nem sempre tnhamos pessoas disponveis, no . Mas era a nica maneira de

    fazer um horrio, quase um horrio.

    planeamento do dia-a-dia

    No suporte que tipo de actividades costumava fazer com o seu pai? 15

    Passear muito, pai vamos dar uma volta pronto dvamos a volta ao quarteiro,

    ele pensava que tinha feito um grande passeio, no outro dia era a mesma volta,

    ele j no se lembrava. Depois falava com A e B, ele era uma pessoa que falava

    muito com as pessoas, ele ficava parado, eu biscava os olhos para as outras

    pessoas, para no lhe perguntarem, assim, nada, ol, sr C como est bom

    pronto, mas olhava para o outro lado, porque j no conhecia a pessoa. Mas

    continuava, o que importante faz-lo andar, no estar parado, enquanto pode,

    havia alturas em que ele parecia que dava passinhos mais pequeninos, como as

    crianas, ah j esta a danar o fandango ele ria-se, ele ria-se , tnhamos que

    levar, aquilo sempre para a brincadeira porque, houve s uma altura em que eu

    lhe disse oh pai ento agora esta a andar assim, assim como, vamos j para

    casa foi a nica reaco, nunca mais reagi assim.

    valorizao de actividades de lazer

    evitar perguntas inoportunas

    valorizao de actividades de lazer/manuteno da funcionalidade

    valorizao do humor

    Na fase actual, que tipo de estratgias tem utilizado, para confrontar a

    doena?

    16

    ai, sabe que eu acho que preciso ir v-lo, muita meiguice, falar, no fazer

    muitas perguntas, porque fazer perguntas baralha completamente, ahportanto

    no perguntar porque que fiz isto ou aquilo ou se esta bem, ele no sabe o que

    isso se esta bem ou se esta mal, que fez isto ou aquilo. Conto-lhe uma histria

    que eu fiz, inventada ou a serio, ele esta ali, sente que esta acompanhado, sente

    que esta uma presena que ele j no sabe que a filha, mas esta habituado voz,

    portanto ele esta ali acompanhadoquando chego no fazemos perguntas ao meu

    pai, nem eu, nem a minha irm, qualquer uma dessas pessoas que no faz

    perguntas, pura e simplesmente no se faz perguntas ao meu pai. S fizemos

    perguntas ao meu pai, quando ele comeou ai, ai, ai, e ns no sabamos onde

    que doa, no resolveu nada, porque ele no sabia onde doa, ele tinha dores

    competncias instrumentais

    envolvimento no cuidar

    PROGRAMAO DE ACT A DOIS

    dificuldades de compreenso comunicao

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

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    horrveis, mas no sabia onde lhe doa.

    Neste momento quais os problemas decorrentes da doena que identifica

    como mais relevantes? Quais os mais difceis de resolver? Como encontra

    solues para os resolver?

    17

    o comer, tomar os medicamentos. Portanto o comer, que as vezes ns j lhe

    damos, ele mete o medicamento debaixo do prato. oh olhe esta um brinquedo,

    pai este para eu tomar, este para si, fazia assim e resultava. Outras vezes era

    renitente ah no toma agora, toma depois passado um minuto pai tome l isto

    alteraes funcionalidade diria

    medicamentos limitaes ; comportamento de oposio

    utilizar o jogo/ludico

    no insistir/contrariarprocu de solu alternativas

    Como descreve as recomendaes que lhe forma dadas pelos mdicos ou

    outros tcnicos de sade a que recorreu, em termos de utilidade e ajuda para

    os seus problemas, no momento do diagnostico e na fase inicial do processo?

    18

    Pois quer dizer, tambm tive o apoio do neurologista, portanto ia dando uns

    tpicos, c esta a ajuda do comprimido para dormir, porque realmente havia

    alturas em que eu tinha muita dificuldade; mas quer dizer, uma da coisa que ela

    dizia: eu no deixar de fazer as minhas actividades daquilo que eu gostava muito

    de fazer, no tanto como era possvel, por exemplo eu gosto muito de pintar, mas

    indo fazendo um pouco, porque tinha aquele trabalho para fazer. Portanto, eu tive

    que me concentrar nesta altura em que no existe retorno, em que a doena se

    vai agravando, tens que abdicar de alguma coisa, mas no de todo, nem pensar.

    No abdiquei de muita coisa, no me quis distrair, andei ali um bocadinho a

    tremer, no mas

    recomendaes instrumentais

    recomendaes instrumentais valorizao de actividades pessoais

    reorganizao /definio de prioridades

    Segui-o s riscas ou foi adaptando? 19

    assim as pessoas davam as recomendaes, eu depois fui adaptando ao meu

    horrio, minha vida e minha famlia, tinha que ser. Quer dizer eles do

    tpicos, e depois nos vamos buscar aqueles que possvel fazer, no esquecemos,

    vamos buscar aqueles que possvel fazer. por exemplo, podia estar ao p do

    meu pai, e ele j no falava e ler o livro e de vez em quando ah engraado o que

    esta aqui a dizer, ele podia era no saber responder, ele ficava assim, depois

    adeso parcial integrao e coordenao das diferentes perspectivas autonomia conceptual

    vivencia centrada em aspectos scio emocionais

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    10

    assim as pessoas davam as recomendaes, eu depois fui adaptando ao meu

    horrio, minha vida e minha famlia, tinha que ser. Quer dizer eles do

    tpicos, e depois nos vamos buscar aqueles que possvel fazer, no esquecemos,

    vamos buscar aqueles que possvel fazer. por exemplo, podia estar ao p do

    meu pai, e ele j no falava e ler o livro e de vez em quando ah engraado o que

    esta aqui a dizer, ele podia era no saber responder, ele ficava assim, depois

    volta outra vez ao seu mundo, mas ele gostava que a gente comunica-se, eles

    gostam que a gente comunique, mesmo quando eles esto na ultima fase, no

    coisas muito complicadas, mas ele gostam que se fale.

    adeso parcial integrao e coordenao das diferentes perspectivas autonomia conceptual

    vivencia centrada em aspectos scio emocionais

    No momento presente como descreve as recomendaes que lhe so dadas

    pelos mdicos ou outros tcnicos de sade a que tem recorrido, em termos de

    utilidade e ajuda para os seus problemas?

    20

    eu acho que eles devem ter percebido que eu realmente apanhei to bem, aquilo

    que devia fazer ou se tinha duvidas perguntava directamente estou a fazer mal,

    o que devo fazer, no fundo estamos todos a aprender, o familiar, o prprio

    medico, quer dizer que eles prprios juntam muitas experiencias, e muitas

    perguntas. Portanto, isto tem que ser muito aberta, e dizer tudo o que possvel

    fazer, por exemplo, houve uma altura em que a minha me teve um problema de

    parte sexual. Mas rapidamente ele esqueceu, e tive que dizer minha me fale

    com a mdica, porque ela esclarece tambm, porque so momentos e depois

    desaparece esquece, as pessoas no podem entrar em pnico, no podem deixar

    de no dizer, tem que dizer tudo, a nica maneira.

    valorizao de competncia instrumentais

    centrado em aspectos exploratrios co-construo de alternativas

    expectativas quanto a uma consulta/acompanhamento- comunicao aberta

    Como foram vividos os momentos do diagnstico? E os dias que se

    seguiram?

    21

    eu acho que foi um bocadinho assustador, porque ningum fica impvido e

    sereno ahdepois do medico, tive sorte do me esclarecer tudo, e dizer o que ia

    acontecer daqui para a frente. Portanto, escreveu logo tudo o que ia acontecer, a

    pessoa fica um bocado apreensiva, como que eu vou lidar com esta coisa, no .

    Como que eu? Tenho que ter ajuda, ns temos que ter um esquema de vida,

    para nos distrairmos todos e no nos abandonarmos. penso que foi criar um

    esquema, com a famlia toda, quer dizer, para uma pessoa de adaptar, umas

    pessoas adaptam-se melhor que outras, umas que se calhar pensam que estou a

    dar mais ao doente, e devia dar a ele, tem que haver uma conversa, pessoas mais

    sensveis que outras.

    assustador vulnerabilidade

    apoio mdico inf/compreenso conh da doena

    vulnerabilidade apreensiva competncias instrumentiais/emocionais

    reorganizao familiar

    planeamento

    menos disponibilidade para atender s necessidades de pessoas significativas

    No momento do diagnostico o que mais a preocupava na altura? 22

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    11

    Acho que mais a relao com o meu filho e com o meu marido. Foi o que me

    preocupou mais, principalmente com o meu marido, o meu filho era um mido

    que j podamos ter assim umas conversas e dizer que o av que no estava bem,

    que no se perguntava nada ao av se estava doente ou no, mais ou menos uma

    conversa infantil. Para o meu marido trabalhava e estava muitas vezes fora, mas

    quando vinha tambm no lhe podia dar o mesmo que antes. Porque a relao do

    meu marido com o meu pai tambm era boa porque o meu pai era um brincalho;

    porque ns sempre que almovamos eram sempre 12, 14 pessoas, toda a gente

    brincava e toda a gente ria, quer dizer ainda hoje so recordaes muito

    agradveis e muito felizes, muito felizes.

    no atender s necessidades de pessoas significativas

    no atender s necessidade s de pessoas significativas

    recordaes anteriores positivas

    No momento do diagnostico, quais as necessidades sentidas? 23

    Pois foi ouvir o mdico, pedir ajuda ao mdico e ele tambm, fomos os dois,

    mesmo, a um psiclogo, e falarmos abertamente o que estava a acontecer.

    Portanto, se bem que para ele foi um bocado mais difcil, tinha morrido a me,

    ele adorava, o pai j tinha falecido, passados dois anos morreu a me, muito,

    muito sofrida, mexeu muito com ele. uma pessoa mais fechada, e quando as

    pessoas no se conseguem abrir, no consegue falar mais difcil.

    apoio instrumental/emocional

    apoio emocional

    Para alm do psiclogo recorreu a mais algum para receber suporte/ajuda

    nessa altura? Quem mais a ajudou?

    24

    acho que foi o prprio medico que foi o nico que me ajudou, no tentei procurar

    mais nada, no dava, sabe que desabafar abertamente, e falar abertamente das

    coisas, outra vezes com o meu marido, outras vezes no, outras vezes eu sozinho.

    temos que ir para a frente com isto, quer dizer, assim que tem que ser, as

    pessoas no se podem fechar.

    apoio emocional

    tentativa de compromisso mal menor

    Como foram nesse momento a sua relao com os profissionais de sade?

    Pode falar sobre como correram as coisas?

    25

    muito boa, ainda hoje somos amigos, da dr(psicloga), que uma coisa

    extraordinria, verdade.

    ava centrada centrada em aspectos scio-emocionais

    Quais as principais consequncias que identifica, na sua vida pessoal? E a 26

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    12

    Quais as principais consequncias que identifica, na sua vida pessoal? E a

    nvel profissional? E em termos de actividades sociais?

    26

    Foi a nvel profissionala nvel social tive que abdicar de algumas coisas,

    ahcomo, quer dizer, eu no me afastei dos amigos, mas j no era com aquela

    frequncia, assim que saia do servio ia logo para casa de minha me, j no

    estava disponvel para certas coisas. no entanto, tive sempre o cuidado de fazer

    uma viagem de 2 ou 3 dias, ou ir ver um espectculo, que eu sabia que era

    necessrio, para mim era necessrio.

    limitaes profissionais ; restrio de acti sociais

    envolvimento no cuidado

    necessidade de tempo livre

    estrategias comportamentais - valorizao de actividades de lazer

    Na fase do diagnstico e aos momentos iniciais de vivncia da doena como

    foi a sua adaptao doena? O que fez para viver/sentir melhor?

    27

    O que podia fazer, olhe eu acho que nessa altura ia mais ao cabeleireiro, ia ao

    cinema, quando podia, noite, realmente, ah amos jantar fora, as vezes.

    Tambm tnhamos o filho pequeno, tambm nos ocupava, ele acabava,

    dividamos as coisas, ele que ia ao colgio saber o que se passava com o filho,

    por exemplo, enquanto eu canalizava mais para o meu pai.

    estrategias comportamentais acti lazer/recreao bem-estar

    planeamento das responsabiliaddes

    Como vive hoje a doena? O que se alterou? Porque acha que se alterou? 28

    Eu acho que tudo o que passamos, sem desespero, sem negativo, ah eu acho

    que sai muito mais forte, acho que ajudo mais as pessoas, eu prpria encaro as

    coisas de outra maneira, as coisas que acontecem na vida, e que muitas vezes,

    no, so ms, encaro de outra maneira, engraado. Mesmo, bom a morte para

    mim, encarei-a sempre bem, a morte a morte, acabou; o sofrimento para mim,

    muito pior, agora, acho que estou mais disponvel para ajudar as pessoas, muito

    mais. obrigatorio, coitada esta a precisar, se calhar no primeiro impacto, sou

    capaz isto capaz de me maar, ocupar o tempo, o ritmo, e agora que estou

    reformada, melhor ainda. Mas uma coisa que a mdica diz X, no pode ser to

    altrusta, tem que pensar em si, fazer as suas coisas, ir hidroginstica, ir

    internet, ir ao francs, a ver espectculos aquelas coisas que eu gosto.

    reav positiva aprendizagem evol.

    reav positiva

    recomendaes - mdica

    valorizao de actividades prazer distractivas

    Quais so as suas preocupaes presentes? O que que hoje mais a

    preocupa? Em relao ao futuro?

    29

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    13

    Olhe o que me preocupa mais eu, uma coisa fantstica, eu at aqui tenho

    conseguido resolver as coisas, daqui para a frente, no sei se posso fazer, mas

    tambm no penso nisso, amanha logo se v. Mas que no dvida nenhuma que

    no futuro, eu preocupo-me como que eu resolvo, algumas coisas mais graves

    que podem acontecer. Se a mim que me acontece, como o outro, no penso

    isso, agora se por exemplo, se acontece ao meu marido ou minha me, que de

    uma independncia extraordinria, que depois de passar tudo isto, ainda vai de

    frias connosco, ainda veste o seu fato de banho, ainda nada.

    expectativas de incapacidade de ocnfronto

    expectativas negativas

    Quais so hoje as suas maiores necessidades? 30

    exactamente o enfrentar, como que eu vou enfrentar, se houver qualquer

    coisa, tenho receio. J falei isso com a mdica, ela diz que existe remdio para

    essas coisas, os comprimidinhos para ajudar tambm a superar. Porque

    realmente um vida sempre a lutar, sempre a lutar, sempre a conseguir as coisas,

    mas chega a uma certa altura, com uma pessoa negativa a meu lado, que

    negativa por natureza, outra luta. Eu j sei que daquele lado, no vou ter apoio,

    vou ter um silncio, um silncio que no egosta, porque no sabe, tem receio,

    no sabe dizer, estou aqui, eu sei que ele pensa assim, mas no capaz.

    Portanto, eu ai, a minha irm j no, mas eu vou sentir um bocado, porque o meu

    filho tem a sua vida a sua famlia, os seus filhos, no vou pedir, nem pouco mais

    ou menos, claro que vai-me dar ajuda, mas no por ai que vou, vou arranjar

    outra caminho.

    insegurana quanto sua capacudade de confronto no futuro

    apoio social

    expectativas negativas de confronto

    antecipao negativas continuao de suporte

    antecipao negativa da continuidade suporte disponibilidade de suporte no futuro

    Neste momento, como sua adaptao a esta doena? O que faz para

    viver/sentir melhor? Como faz para se sentir melhor?

    31

    eu acho que, no tenho que me arrepender de tudo aquilo que tentei fazer. Eu

    acho que apanhei rapidamente aquilo que eu tenho necessidade de fazer com ele.

    No sei, talvez porque desde de mida, eu gosto muito de ajudar as pessoas de

    idade e gosto muito das crianas, portanto, isso parecendo que no um estar na

    vida, completamente diferente. Portanto, quando pessoas assim que tem

    convvio com pessoas de idade, que tem uma certa vontade de os ajudar, ou com

    crianas, acho que fcil. Claro que existe alturas que so teimosos, como as

    reav positiva das competncias instrumentais

    reav positiva aspectos existenciais

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    14

    eu acho que, no tenho que me arrepender de tudo aquilo que tentei fazer. Eu

    acho que apanhei rapidamente aquilo que eu tenho necessidade de fazer com ele.

    No sei, talvez porque desde de mida, eu gosto muito de ajudar as pessoas de

    idade e gosto muito das crianas, portanto, isso parecendo que no um estar na

    vida, completamente diferente. Portanto, quando pessoas assim que tem

    convvio com pessoas de idade, que tem uma certa vontade de os ajudar, ou com

    crianas, acho que fcil. Claro que existe alturas que so teimosos, como as

    crianas, mas a gente temos que arranjar uns estratagemas, que as vezes da

    vontade de dizer, olha vai dar uma volta que eu j venho, mas ai quer dizer,

    temos que arranjar uma ajuda, para nos podermos dar uma volta, tomar beber

    uma bica ou uma coisa qualquer, para depois voltarmos outra vez, porque no se

    pode sobrecarregar uma pessoa s, isso que impossvel.

    reav positiva das competncias instrumentais

    reav positiva aspectos existenciais

    Afastamento temporrio -estrategias distractivas

    necessidade de apoio instrumental

    Existe algo que queira contar, que ajude a melhorar a compreenso em

    relao sua experiencia/vivncia?

    32

    No sei acho que de uma maneira geral eu resumi aqueles aspectos que de inicio

    mais me assustavam, e depois tentar refazer, refazer no, elaborar a minha vida

    no dia-a-dia ajudando quanto podia. Uma coisa que ficou, eu no devo ir para

    alem daquilo que eu acho posso fazer, porque ai sou eu que caio. Portanto eu

    tenho que saber travar, e o meu travo no ficar em casa, uma actividade

    fsica, uma ldica ou uma coisa qualquer desse gnero ir para um jardim, ou ir

    para ao p do mar, que me d muitas foras, ahacho que o mar muito especial

    para mim. e espero que nessa altura e possa fazer, esse receio que eu tenho

    maisas pessoas vo perdendo as pessoas que gostam, vo lutando para que a

    vida delas seja boa, mas depois tambm quando se tem ao lado uma pessoa, eu

    no digo fraca, que negativa, pronto, por natureza. Depois eu tambm no

    tenho fora para me mexer para agarrar, o que eu digo, ns tambm temos

    aquela amiga mdica que lhe d assim um puxo e diz-lhe assim duas ou trs,

    cuidado com a sua mulher, que neste momento ela que precisa.

    centrao no dia-a-dia

    auto-controlo racionalizao

    valorizao de actividades prazer

    expectativas negativas capacidade de confronto

    relativizao - percepo de apoio emocional/instrumental - mdica

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    15

    Cdigo:CI02

    Quais os primeiros sinais que a levaram a suspeitar da existncia de um

    problema de sade?

    1

    Os primeiros sinais foram, portanto os esquecimentos, o meu marido comeou-

    se a esquecer da carteira, dos culos, das chaves. Todos os dias se esquecia, ia ao

    caf e esquecia-se das chaves, chegava a casa no tinha chaves para entrar,

    tocava campainha, e depois no outro dia era, esquecia-se de outra coisa

    Depois a minha filha que me chamou a ateno oh me tens que levar o pai ao

    mdico, pois isto pode ser a doena de Alzheimereu tinha um pavor, digamos

    assim, dessa doena, eu suspeitava bastante, nas notcias e lia, porque eu gosto

    de ler coisas sobre as doenas, e assim, mas tinha um pavor dessa doena, e de

    facto veio-me a calhar assim Levei-o ao mdico, em 2003, e a mdica disse

    que tudo indicava que podia ser, fez-lhes umas perguntas ele enganou-se, da

    esquerda para a direita, mais nos movimentos mandou levar a mo testa, a

    mo esquerda e a direita, e ele enganou-se. E nessa altura em 2003, proibiu-o

    logo de conduzir Mas eu s achei que ele tinha a doena h dois anos atrs,

    porque at l era s os esquecimentos e aquela coisah dois para c que eu

    me convenci que ele tem a doena, que no bem Alzheimer, a doena ah

    no sei qu temporal, esqueci-me agora do nome, que uma prima da doena de

    Alzheimer. E pronto e agora est, agora est terrvel, tenho que ajud-lo a tomar

    banho, hoje deixei-o vestido, no conseguia vestir as calas, por exemplo hoje,

    ele vira a calas, vira as calas, e veste-as sempre ao contrrio, eu tenho que

    estar ali, a segurar nas calas para ele as vestir.

    alteraes cognitivas esquecimentos

    antecipao negativa (vulnerabilidade ameaa); inf/compreenso da doena

    percepo da doena reflecte a acumulao e na intensificao de sinais

    recomendaes instrumentais mdica

    evitamento

    avaliao subjectiva - terrivel

    EVOL CENTRADA EM NA DISFUNCIONAL DAS ACT DE VIDA DIARIAvivncia centrada em aspectos instrumentais

    Conte-me um pouco como foi o percurso desde que comearam os primeiros

    sintomas, at lhes ser dado o possvel diagnstico?

    2

    Ele, portanto, os sintomas deles, ele no tem sintomas de nada, Ele no aceita se

    quer que tem doena, nem nada dissoporque eu que tenho a doena, no ,

    ele diz que eu que estou doente, portanto os sintomas para ele, ele no sente

    nada, portanto ele, eu levava-o ao mdico, ele diz que no quer ao mdico,

    porque no est doente, mas ele fez exames, fez um TAC, fez a ressonncia

    negao da doena reaco da pessoa a quem se presta cuidados

    comportamentos de oposio

    NEGAO -acumulao

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    16

    magntica, fez tudo o que, fez um TAC enceflico, fez fez tudo e mais alguma

    coisa, mas no por aiportanto eles ali no viram que ele tinha a doenaFoi

    medida que foi passando o tempo, que se viu que ele ele agora no

    consegue falar, gagueja, no encontras as palavras para falar, para ter uma

    conversa, isto tudo ao contrrio, uma coisa inaceitvel!

    emprica no suficiente para justificar

    alteraes comportamentais comunicao

    revolta isto uma coisa inaceitvel

    O que sabia sobre esta doena, e o que pensava sobre ela? (a gravidade, o

    que a causou, as consequncias que provocava, a sua evoluo? Na fase do

    diagnstico e aos momentos iniciais?

    3

    Aquilo que eu sabia e que eu ouvia, e assimPassar por isto, completamente

    diferente, do saber, no , ou do ouvir dizer, no tem nada a ver. Passar por a

    nossa casa, indiscutvel, nem sequer palavras para uma coisa destas.

    choque_______________

    Recorreu a algum para receber informao? Informao obtida do

    mdico? Informao com recursos a outros elementos?

    4

    Recorri, foi aqui dr. Eee apoio social - mdico

    Neste momento o que sabe actualmente sobre a esta doena, o que pensa

    sobre ela? (a gravidade, o que a causou, as consequncias que provoca,

    como vai evoluir) Sempre pensou assim, ou inicialmente pensava de outra

    forma?

    5

    No, eu sou muito a dr esta farta de dizer para, sempre que tenha

    problemasmas eu fecho-me mais na minha, na minha concha, digamosFoi

    muito difcil aceitar isto, muito difcil, e chorei muito e gritei muito, o que

    tambm no resolve nadaAhno h nada a fazer, no temos que levar

    isto para a frente, e estarmos sempre, eu no posso chorar em frente do meu

    marido, eu no posso dizer nada, tenho que dizer tudo que sim, que tudo que

    sim, aceitar tudoporque se no ele diz que eu que estou mal, que fao tudo

    mal e Porque ele no aceita a doena se quer, tambm a mdica nunca lhe

    disse olhe o sr est doente, tem esta doena. Diz-lhe que, por outras coisas

    sabe sr CCC, porque ele no aceita Eu no estou doente, eu estou bem,

    como bem, durmo bem, no me di nada. Mas eu que estou a ver ele dia-a-

    vivncia emocional isolamento

    evitamento

    tentativa de compromisso mal menor

    revolta

    negao pessoa de quem se presta cuiadados

    revelao do diagnostico consciencia fechada

    negao pessoa de quem se presta cuiadados

    evoluo da doena pode ser quantificada com o a

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    17

    dia, pior, ou hoje faz uma coisa que no fazia, ahcome, no come como devia,

    ele agora como todo inclinado, se eu lhe digo para se endireitar, ele refila

    comigo Olhe complicado, muito complicado

    vivencia do dia-a-diacentrada em aspectos funcionais; alteraes comportamentais

    avaliao negativa

    Como que acha que a doena vista pela maioria das pessoas? 6

    Uns tm, portanto, o meu marido em AAAAA, muito conhecido porque ele

    fala a toda a gente, e agora muito mais ele fala a pessoas que no falava ouEle

    sempre foi muito comunicativoTrabalhou num banco, foi delegado sindical

    durante todo que esteve no bancoporque ele tem conversao, tinha e

    assimento todos os anos era eleito delegado sindical, ia s reunies, e

    transmitia aos colegas. Foi rbitro de futebol, ento ele tem muita comunicao

    com as pessoas, e continua ele ri-se muito, e agora ri-se por coisas que no

    deve rir-se, ri-se muito, gargalhadas e continuadamente, as vezes tenho que lhe

    dar um encontrozinho, porque a conversa que se esta a ter no para ele estar a

    rir, no ahmas j me perdi, estvamos a falar

    alteraes comportamentais

    alteraes comportamentais - comunicao

    alteraes comportamentais

    Como que Sr. acha que a doena vista pela maioria das pessoas? 7

    Eu j ouvi pessoas que tem pena dele e que me falam, me Aborda---Um dia um

    senhor chegou ao p de mim, olhe acho que a minha mulher tem a doena do

    seu marido. Por acaso j a vi na rua com o senhor, e acho que est pior que o

    meu marido, porque eu vejo assim, como o meu marido no bem Alzheimer, ele

    esta muito agressivo, ainda agora me deu uma palmada, a ajud-lo a vestir, eu

    no aceitei aquilo que ele estava oh CCC, por amor de deus no sabes vestir

    umas calas e no sei qu, por acaso bateu-me no braoEle esta muito

    agressivo, completamente, e isso que me esta a custar mais Mas as pessoas,

    depois s com a continuao de falar com ele, que vem e dizem este senhor

    no esta bem, que este senhor tem qualquer coisa Mas at pensam que

    depresso, portanto ele vai falando e depois esquece-se ah j no sei e

    depois diz que j se perdeu e assim e abordam-no se esta com depresso, ou est

    com uma doena nervosa, ou assim, porque ele treme muito o maxilar, a falar ou

    assim treme muito o maxilareu depois digo que no, que tem uma doena de

    compaixo

    relativizao comparao com outros

    alteraes comportamentais agressividade

    estrategias de confronto confrontativo

    alt comportamental prob

    alteraes cognitivas

    minimizao confront da pessoa com demencia

    identificao de atitudes

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    18

    Alzheimer, ah Mas tambm j vi, por exemplo, um senhor a fazer uma critica

    com um outro, que eu conheo, porque ali ao p do caf, juntam-se ali um

    grupo de pessoas E j vi um senhor que o meu marido estava maluquinho a

    fazer mesmo o gestoeu at conheo o senhor, por acaso estive a falar com ele,

    mas depois no tive coragem, a mulher dele tambm morreu alguns dois anos

    com uma doena de cancroE achei mal de ele estar a dizer que ele esta

    maluquinho, e pronto Mas vejo que as pessoas nesta altura, no ajudamat

    mesmo a minha prpria famlia a minha me ainda telefona, mas acho que

    nica, porque tenho muitas irm, so capazes de telefonar, sei l, no natal, no

    fim do novo, e estar um ano inteiro sem nos falarmos muito complicado

    sentidas como desagradveis

    minimizao da atitudes dos outros

    identificao de atitudes sentidas como desgradaveis

    ausncia de apoio familiar

    O que pensou sobre a possibilidade de controlo (na totalidade ou

    parcialmente) na doena no momento do diagnostico?

    8

    Numa altura inicial eu, pequenas coisas, eu, as vezes, tambm me

    esqueciacheguei-me a esquecer das chaves na ignio, quando eu a mdica

    me disse, depois tambm Eu estou a tomar anti-depressivos, tambm, para

    tomar um calmante para dormir noite, mas s vezes no tomo, no . Numa

    altura inicial eu Aceitar aquelas pequenas coisasmas como eu lhe digo h uns

    dois anos para c, que estou a entrar, porque eu no me convenci que o meu

    marido tinha essa doena, porque at ai ia esquecendo-se e assim Mas

    tambm, como eu me esquecia, no notei muito, mas nestes dois anos, como eu

    lhe digo, que me comecei. Aperceber que ele realmente tem Alzheimer, ou

    uma doena parecida. Mas que agora ele, 2003, 4 e 6, estamos em 2009, no

    at 2006, era s aqueles esquecimentos, porque falava bem, e no estava to

    nervoso como esta agora, e assim A partir dai, tem sidoPortanto, no posso

    sair de casa sem o ajudar, no posso sair de casa sem fazer o pequeno-almoo,

    eu at ai no tinha preocupaes portanto sempre deixei uma sandes feita, ele

    tirava o leite do frigorifico, ele agora no faz nada, ele no sabe onde esta o leite,

    ele no sabe onde o frigorifico. Se eu lhe digo oh CCCC tira o leite do

    frigorfico ele anda, anda, anda, capaz de ir ao quarto procura do

    frigorificoPortanto, Ns vermos isso, muito complicadoeu portanto eu as

    vezes at lhe dou um grito, eu at j conversei com a dr ah no faa isso.

    Porque eu Tenho que ter uma grande dose de disponibilidade, para suportar uma

    minimizao do problema de saude

    terapia farmacolgica anti depressivos

    perturbaes do sono

    no adeso aspectos instrumentais

    dificuldades em aceitar o diagnostico incredulidade

    minimizao do problema sade

    evoluo da doena centrada em aspectos scio-emocionais

    limitaes funcionais da acti bsicas e instrumentais de vida

    evol da doena centrada em aspectos funcionais

    vivencia centrada em aspectos instrumentais

    estrategias confronto confrontativo

    estrategias confronto confrontativo

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    19

    coisas desta oh CCCC no sabes onde o frigorifico!s vezes ainda lhe dou

    um grito o frigorifico aqui na cozinha. Outras vezes deixo andar, o que

    que tu disseste, e depois anda de novo a procura do que eu tinha dito, entretanto

    eu no te disse nada vou eu abrir o frigorifico e tiro-lhe o leite. Ele no sabe

    pr uma mesa, por exemplo, a toalha, a tarefa dele, tirar e as vezes sacudir a

    toalha mas tambm j foi com a toalha para casa de banho, e sacudiu a toalha

    para sanita e sujou tudo de migalhasah isto . Isto para ns , ainda continua

    dizer que no tem nada, e que eu que estou doente, que preciso de ir ao mdico

    ests maluca, ests maluca o que ele me diz. Ahtermos que, ter pacincia,

    para dizer tudo que sim, o que esta mal e o que no est, e depois ainda ter que o

    ouvir que eu que estou doente, eu que tenho isto e aquiloahpara ns

    muito complicado, doloroso.

    estrategias de confronto auto-controlo emocional

    evol centrada em aspectoas instrumentais

    negao confronto por parte da pessoa a quem se presta cuidados

    vivencia centrada em aspectos somato-emocionais

    doloroso/ complicado

    Nesta fase do diagnstico e nos momentos iniciais de vivncia da doena,

    que outros elementos ou pessoas considerou importantes no controlo da

    doena e suas consequncias (mdicos, famlia, amigos)?

    9

    Eu fui a vrios mdicos, eu contei s minhas irms, minha irm mais velha,

    mas tambm no tem muito tempo, e desabafei muito com ela e assim Toda a

    gente tem pena do CCCC, porque ele foi sempre uma boa pessoa, no , para

    minha famlia e assime ficou tudo a dizer que ele no merece, no merecia ter

    esta doena e assimmas o que que se pode fazer, no podemos fazer nada,

    porque no melhor Ah Olhe foi chorar, chorar muito, muito, a minha

    maneira E agora j nem telefone, a minha me que me telefone, quando

    estou dois dias ou isso sem telefonar, ah de resto a famlia todos tem os seus

    afazeres, e preocupados e no sei qu, no me telefonam.

    expresso de sentimentos apoio emocional

    perda

    revolta

    estrategias de confronto emocional - expresso de sentimentos

    percepo de apoio familiar insuficiente

    Neste momento, considera que tem sido eficaz naquilo que tem feito para

    combater e controlar a doena?

    10

    Ah, sinceramente, tenho, fao coisas como se fizesse ao meu neto, preocupada

    com, o meu neto tem agora 10 mesinhos, preocupo-me em deixar tudo mais ou

    menos, para que ele no mexa nas facas, que no v cozinha, o fogo no sabe

    mexer, porque fiz obras cozinha Quer dizer, eu preocupe-me como se fosse

    percepo de auto-eficacia

    preocupao segurana

    alteraes cognitivas

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    20

    uma criana, no , como um filho que eu estivesse ali, assim pequenino, que eu

    tenhoSe eu estiver na cama at ao meio-dia, por exemplo ele esta na cama at

    ao meio Ele no sabe que horas so, ele no sabe que dias so Eu

    preocupou-me todos os dias em dizer sabes o dia que hoje, de lhe dizer o dia

    que , e quantos estamosporque ele no sabe, ele no sabe a idade que tem

    Ele diz agora que tem 30 anos, ele fez 59 anose portanto ele levanta-se, tenho

    que, ele mete-se na casa de banho, eu vou atrs dele, como eu estivesse mesmo

    um filho. Isto para mim +e doloroso, tenho que manda-lo lavar os dentes, que ele

    no lava, bochecha com a agua e no sei qu mas no pem a pasta, ou ento

    agarra na pasta, eu agora j descobri que ele no mete a pasta na escova, mas que

    mete na boca, espreme um bocadinho, coisas que ele no faziaIsto a gente ver

    isto, todos os dias ele faz uma coisa diferente, muito complicado, para ns,

    porque ele acha que normal, e algum mal, algum mal depois refila

    comigoFazer as necessidades fora do sitio, agora j a imenso tempo ele no

    faz isso, j me fez umas 4 vezes, que eu, quando eu vi aquilo, eu no aguentei de

    no chorar, a chorar mas a gritar, Ah meu deus o que me devia de acontecer e

    e ele mas o que que aconteceu, algum mal, algum mal, Mas isso algum

    mal, e eu a chamar a ateno e isso, Porque ele acha que ali que devia ter

    acontecidoOu no chuveiro, j fez no bid

    desorientao

    estrategias comportamentaos orientao temporal

    centrada em aspectos cognitivos

    evol centrada em aspectos instrumentais - funcionalidade

    aspectos somato-emocionais

    negao reaco da pessoa a quem se presta cuidados

    REVOLTA

    vulnerabilidade centrada em aspcetos instrumentais

    desespero

    revolta/raiva

    negao reaco da pessoa a quem s epresta cuidados

    Tudo o que se vai construindo ao longo da vida quer das regras sociais, quer

    em termos morais, essas noes bsicas, do bem e do correcto, tudo se torna

    confuso

    11

    Ele faz coisas do arco da velha, ah no tem explicao, as coisa que ele faz

    no tem explicaoEle acha que isso foi normal, uma das vezes pediu-me

    desculpa, acho que na primeira vez ou na segunda, que fez no chuveiro ele nunca

    mais fechava a agua, no consegui-o, porque depois o chuveiro ficou entupiu,

    ele esborrachava com os ps, com as mos, com tudo assim, eu no fui capaz de

    no chorar Coisas que ele faz, ele agora fecha a porta por dentro, no outro dia

    fui ao ginsio, meti-me no ginsio, para desanuviar, ando na hidroginstica, mas

    tenho que deixar, desistirPor que ele ainda vai rua, mas no se afasta

    muitoportanto as pessoas ali no caf, j sabem que ele esta doente, j o

    perda funcional sentimentos de desespero

    EVITAMENTO

    estrategias distractivas

    estrategia - esclarecimento de diagnostico a pessoas vizinhas

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    21

    ajudam, mas ele perder-se ainda no se perdeuj me disseram que ele fica

    assim muito com as mos na cabea, a olhar para cima, a olhar ali no

    cruzamentoe as pessoas que o conhecem chegam ao p dele ento esta tudo

    bem, vais para casa e ele estava mesmo agora aqui a pensar, estava aqui a

    pensara pensar, devia estar a pensar por onde devia ir para casa Mas por

    enquanto eu chego a casa e ele est l em casaMas tambem j me fechou a

    porta, por dentro com trinco, que eu tenho, agora j pus a fita adesiva, para ele

    no puxar e isso, e eu no conseguia abrir a portaele depois no sei o que

    quePedi minha vizinha, para ver se podia entrar pela cozinha, mas no dava

    era longeMas depois com calma, porque ele l dentro foste tu que fechaste a

    porta, foi a tua filha, e foi no sei quem gritava que no era elecomo

    que ns tnhamos fechado a porta por dentro. Mas l conseguimos, eu disse-lhe

    para ele acender a luz, e tinha o fecho para ele por a direito, l se abriu-o o

    fecho, e l se abriu-se a porta agora j tenho isso, portanto, com adesivo, onde

    ele fechava o fechoE pronto tenho assim, fao coisas, com preocupaes,

    como uma pessoa pequena, como o meu neto.

    relativizao

    apoio instrumental vizinhos colaborao vigilncia

    minimizao estrategia adoptada pela pessoa a quem presta cuidados

    estrategias comportamental preveno -vigilancia

    auto-controlo emocional

    tentativa de controlo centrado nos aspectos relacionais e socio-emocionais

    estrategia comportamental vigilncia

    vivencia centrada na perdade autonomia

    Que outros elementos ou pessoas considera importantes no controlo da

    doena e suas consequncias (mdicos, enfermeiros, psiclogos, famlia,

    amigos, outros)?

    12

    Portanto eu vou mdica, ao princpio fui mais vezes, mdica, ele ia todos os

    meses mdica e assimAt descobrir se realmente era, a doena, porque eu

    via, como ningum me dizia o que que ele tinha, tudo indicava que sim, e

    pronto ento fui a mdicos particulares, fui ao Egas Moniz e continuo a andar

    num mdico particularportanto agora tenho medicamentos para 6 meses, fui

    agora em Outubro, tenho medicao para 6 meses mas quando eu vejo que ele

    est mais nervoso, ou est, vou ao mdico particular, que neurologista, e

    portanto eu gosto muito dele, trabalha no Egas Moniz e em Santa Maria, e ele

    diz que est bem medicadocheguei a dizer ao mdico no h outra

    medicao melhor, ele esta a piorar ele, no acho que a medicao no lhe faz

    nada. Eu continuo a dizer que a medicao no faz nada, mas ele diz que sim,

    que est bem medicamentado, e que portanto no h, um medicamento recente

    que ele esta a tomar, axura e a Peroxina, que a depresso, para o ajudarmas

    dificuldades em aceitar o diagnostico insuficincia de justificao para responder s incerteza. estrategias comportamentais procura de novos profissionais. planeamento

    atribuio de controlo aos profissionais

    PROCURA DE SUPORTE SOCIAL

    insuficincia /no atribuio de controlo aos medicamentos

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    22

    eu digo que a medicao, ou a ento doena, como diz aqui a dr, como ele

    novo a doena est a andar muito rapidamente o que eu acho, a minha filha j

    me chamou a ateno, ele agora at est, portanto, ns no acreditamos, no ,

    portanto h trs anos, no acreditamos que era a doena, depois camos,

    realmente Alzheimer, ele esta a fazer coisas, que tudo indica que Mas agora

    tambm ele esta naquela fase que esta na mesma, faz coisas que fazia h um ano

    atrs ou h dois anos atrs, esta assima minha filha j me ateno olhe me

    prepara-te, que quando ele cair vai ser de rajada, ests a pensar o que que

    vamos fazer depois a seguir. A minha filha que est em casa com esta idade,

    no aceita que o pai, por exemplo, est aqui o copo dele, ele vem buscar aqui o

    meuou por exemplo ele baralha os talheres, e comea a comer com uma faca,

    por exemplo, ele trocou tudo, mas entretanto comea a comer com a faca, a

    apanhar a comida com a faca, e eu as vezes sem lhe dizer nada tiro a faca da

    mo, e troco-lhe a faca, mas a minha filha pare com essas coisas, porque que

    estas a comer com a faca, tu ensinavas a ns a comer correctamente, a faca

    daquele lado. Ele comea logo a refilar connoscoportanto ele prprio no

    aceita que ns o chamemos ateno ento agora estas a ensinar a comer,

    assim que eu quero comer. E continua agressivo, e continua a comer como ele

    quer, e no como a gente quer

    VIVENCIA descontrolo centrada na acumulao progresso

    dificuldade aceitar - por parte de familiares significativos

    EVOL centrada em aspectos instrumentais

    auto controlo

    estrategias confrontativa centrada na perda de autonomia funcional

    negao reaco agressiva

    Na fase do diagnstico e nos momentos iniciais de vivncia da doena, que

    tipo de estratgias utilizou para confrontar a doena?

    13

    Que estratgias que eu utilizei eu acho que no utilizei estratgias

    nenhumas, eu fui encarando a doena, pensando muito, chorando muito, no

    e falando com amigas minhas, que eu tinha uma amiga muito, para falar com ela,

    ela disse sempre se precisa-se de ajuda e assim mas depois eu vi, que ela at,

    eu que ia l falar com ela, portanto, ela no me telefona, noe fui-me

    preocupando, em por exemplo, deixei de trabalhar, mas agora tive que arranjar

    umas horas, h dois anos tive que arranjar umas horas, porque tive que meter a

    minha sogra num lar, porque tinha a minha sogra comigo h 4 anosportanto

    expresso emocional estrategias emocionais

    estrategias comportamentais procura de apoio emocional

    afastamento percepo de ausncia de apoio emocional

    consequencia profissional

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    23

    como eu no fui arranjando formas, tinha uma vida, fiquei com muitos

    problemas e portanto todos os problemas e portanto, todos os problemas, acho

    que no arranjei estratgias, foi chorar, sei l, chorar ao pequeno-almoo, chorar

    hora do almoo, a todas as horas

    estrategias emocionais expresso emocioanal

    evitamento

    Muitos problemas que foram surgindo ao mesmo tempo 14

    Sim, portanto, o meu marido deixou de trabalhar, no pela doena eu fui saber

    seco pessoal do banco Ainda o meu sogro, quando o chamaram para a

    reforma, foi antes do natal, o meu sogro faleceu no natal. Faleceu a 23 de

    Novembro e ele em Fevereiro do ano 2004, veio de reforma, portanto veio para

    casa, e o meu sogro tinha falecido, portanto E a doena manifestou-se mais,

    portanto ele poderia ter a doena, como diz aqui a dr. mas com a morte do pai,

    a doena despertou, no Mas depois eu fiquei, caiu-me o mundo em cima de

    mima minha casa ficou completamente destruda, digamos assim, eu fiquei

    com a minha sogra que estava j acamada, h dois anos, mesmo paralisada do

    lado direito, e fez fisioterapia, fez no sei qu, mas que ela no fazia nada, ela ia

    fisioterapia porque o meu sogro levava-a Fiquei com ela 4 anos, portanto

    com a doena do meu marido, eu no estive tempo para arranjar estratgias para

    a doena dele ou assimporque fiquei com a minha sogra, e portanto era dar-lhe

    o pequeno almoo boca, porque o meu sogro, depois comprei uma cama

    daquelas articuladas, porque ela no queria ir para o cadeiro, porque caia Ela

    j tinha as pessoas que a iam lavar noite e foi uma vida em que eu ainda

    trabalhava, pois estive que deixar de trabalharportanto eu no arranjei

    estratgiasdepois comecei a ficar a emagrecer, emagrecer, agora j estou um

    bocadinho melhormas depois tive que ir tambm para psiquiatria, e chorar e

    portanto eu depois tive que, foi o que a doutora me disse o que tem a fazer, tem

    a sua sogra doente, tem o seu marido doente, tem que arranjar um sitio para pr a

    sua sogra. ele depois deixou de dar os comprimidos minha sogra, como devia

    de serAs senhoras da APOIO, comearam a dizer-me olhe o sr CCCC, j

    noai que pirou bastante, porque at ai ele esquecia-se dos comprimidos, ou

    da agua, ou assim Depois comeou procura de onde que deixou o copo de

    agua, porque ela tinha um copo da Chico, para lhe dar agua, era um bebe que eu

    tinha ali, e dar o comer boca e assimento tive que arranjar um lar, para por

    atributos da doena causas

    choque

    a vulnerabilidade da doena confunde-se com a perda existencial

    co-responsabilidade por uma terceira pessoa dependente

    aspectos somticos perda de peso

    estrategias

    COMPETENCIAS INSTRUMENTAISis - procura de apoio

    EVOL CENTRADA NOS ASPECTOS FUNCIONAIS

    sentimentos de culpa

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

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    Sim, portanto, o meu marido deixou de trabalhar, no pela doena eu fui saber

    seco pessoal do banco Ainda o meu sogro, quando o chamaram para a

    reforma, foi antes do natal, o meu sogro faleceu no natal. Faleceu a 23 de

    Novembro e ele em Fevereiro do ano 2004, veio de reforma, portanto veio para

    casa, e o meu sogro tinha falecido, portanto E a doena manifestou-se mais,

    portanto ele poderia ter a doena, como diz aqui a dr. mas com a morte do pai,

    a doena despertou, no Mas depois eu fiquei, caiu-me o mundo em cima de

    mima minha casa ficou completamente destruda, digamos assim, eu fiquei

    com a minha sogra que estava j acamada, h dois anos, mesmo paralisada do

    lado direito, e fez fisioterapia, fez no sei qu, mas que ela no fazia nada, ela ia

    fisioterapia porque o meu sogro levava-a Fiquei com ela 4 anos, portanto

    com a doena do meu marido, eu no estive tempo para arranjar estratgias para

    a doena dele ou assimporque fiquei com a minha sogra, e portanto era dar-lhe

    o pequeno almoo boca, porque o meu sogro, depois comprei uma cama

    daquelas articuladas, porque ela no queria ir para o cadeiro, porque caia Ela

    j tinha as pessoas que a iam lavar noite e foi uma vida em que eu ainda

    trabalhava, pois estive que deixar de trabalharportanto eu no arranjei

    estratgiasdepois comecei a ficar a emagrecer, emagrecer, agora j estou um

    bocadinho melhormas depois tive que ir tambm para psiquiatria, e chorar e

    portanto eu depois tive que, foi o que a doutora me disse o que tem a fazer, tem

    a sua sogra doente, tem o seu marido doente, tem que arranjar um sitio para pr a

    sua sogra. ele depois deixou de dar os comprimidos minha sogra, como devia

    de serAs senhoras da APOIO, comearam a dizer-me olhe o sr CCCC, j

    noai que pirou bastante, porque at ai ele esquecia-se dos comprimidos, ou

    da agua, ou assim Depois comeou procura de onde que deixou o copo de

    agua, porque ela tinha um copo da Chico, para lhe dar agua, era um bebe que eu

    tinha ali, e dar o comer boca e assimento tive que arranjar um lar, para por

    a minha sogra, a minha sogra esta num lar h 2 anos, mas custou-me imenso

    porque ela criou os meus filhos, custou-me imenso, imenso, a pr num lar

    porque a minha sogra foi uma me para mim, fez coisas que a minha me no

    feze ela hoje est, durante 6 meses, eu pensei que ela no ia aguentar, foi-se

    muito abaixo, mas agora est melhorzinha, j come com a mo esquerda,

    portanto, no esta todo o dia na cama, como estava em casaPorque depois, ns

    tambem no podamos estar ali constantemente ir rua com o meu marido beber

    um cafezinho, ou tinha de ir s compras e deix-la ali, tambm no podia ter

    pessoas, ali, porque no tinha dinheiro para isso, no para ter ali uma pessoa

    a pagar e assim mas pronto ela hoje esta boazinha, est melhor que o filho,

    com 88 anos, pelo menos de cabea, e e prontoah portanto eu acho que no

    atributos da doena causas

    choque

    a vulnerabilidade da doena confunde-se com a perda existencial

    co-responsabilidade por uma terceira pessoa dependente

    aspectos somticos perda de peso

    estrategias

    COMPETENCIAS INSTRUMENTAISis - procura de apoio

    EVOL CENTRADA NOS ASPECTOS FUNCIONAIS

    sentimentos de culpa institucionalizao

    reav postiva

    tentativa de compromisso mal menor

    tentativa de compromisso mal menor

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    25

    Tento resolver, eu houve uma altura em que falava com minha filha, ela tambm

    est a passar uma fase terrvel de desemprego e issoeu, sei l, tento agora

    tento, no ser, no lhe gritar, ou aceitar tudo, dizer tudo que sim, ou tudo que

    no, j no digo que no, dizer tudo que sim e no responder ou assimficar

    mais calada e ajud-lo, portanto agora j no digo veste assim, ou veste

    assado, por acaso hoje disse-lhe j no sabes vestir umas calas Ser mais

    paciente e dizer tudo que sim, ou ento no responder e dar a volta questo e

    ajud-lo eu agora estou a ajud-lo a vestir a camisa, ele no consegue abotoar

    os botes, ou ento comea a abotoar os botes todos ao contrrio, no consegue

    por a camisa para dentro das calas, assim que eu vou, assim que eu vou,

    anda com o cinto ao contrrio, no consegue por o cinto nas presilhas, muito

    complicado

    apoio emocional filha

    aceitao incondicional

    estrategia de confronto confrontativo

    reformulao

    vivencia ce ntrada na perda de funcionalidade aspectos instrumentais

    No seu dia-a-dia precisa de ajuda de algum para realizar certas

    actividades, ou consegue fazer tudo o quer sozinha?

    18

    Eu agora estou a fazer tudo sozinhaahestou a ajud-lo, eu estou preocupada,

    ele mete-se na casa de banho, eu vou logo com ele, tenho que o ajudar a fazer a

    barba, seno ele corta-se, j se cortou, se me distraio, seja, dois minutos ou trs,

    j tenho porque comea a fazer a barba em seco, no mete o creme da barba,

    Tenho que lhe pr o gele, digo-lhe CCCC tens que aqui o gele e ele para que

    que isso, para que que isso, no preciso disso para nada, e eu disse no tens

    que pr porque isto que amacia a barba, seno cortaste todo, ento tenho-lhe

    que por o gele na barba, tenho que espalhar o gele, tenho que o ajudar fazer a

    barba, O stio onde no consigo fazer assim, porque depois ele no estica o

    queixo, e digo-lhe para ele fazer, mas estou ali ao p dele. Ele no sabe qual o

    champ, nem qual o champ para a cabea, Ou o gele, tenho que o ajudar a

    tomar banhoahdepois complicado, por exemplo dou-lhe o sabonete, e ele

    tem o sabonete na mo, mas no consegue, esfregar os pssou eu fao todas as

    tarefas, pode ser que as tantas no vou conseguir, depois estou a pensar, quando

    numa fase mais complicada, para o ajudar a tomar banho, ou assim, chamar as

    senhoras da APOIO, que ns temos em X, e que, as senhoras que at ajudavam a

    minha sogra, e quando for necessrio dar-lhe banho, que eu no consigo, chamar

    no necessita de apoio nas tarefas instrumentais

    vivencia centrada em aspectos instrumentais

    EVOL vivencia centrada nas perda de funcionalidade diria

    expectativas negativas de incapacidade de lidar com a situao

    resol plan de probl antecipao de procura de apoio instrumental

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    26

    Eu agora estou a fazer tudo sozinhaahestou a ajud-lo, eu estou preocupada,

    ele mete-se na casa de banho, eu vou logo com ele, tenho que o ajudar a fazer a

    barba, seno ele corta-se, j se cortou, se me distraio, seja, dois minutos ou trs,

    j tenho porque comea a fazer a barba em seco, no mete o creme da barba,

    Tenho que lhe pr o gele, digo-lhe CCCC tens que aqui o gele e ele para que

    que isso, para que que isso, no preciso disso para nada, e eu disse no tens

    que pr porque isto que amacia a barba, seno cortaste todo, ento tenho-lhe

    que por o gele na barba, tenho que espalhar o gele, tenho que o ajudar fazer a

    barba, O stio onde no consigo fazer assim, porque depois ele no estica o

    queixo, e digo-lhe para ele fazer, mas estou ali ao p dele. Ele no sabe qual o

    champ, nem qual o champ para a cabea, Ou o gele, tenho que o ajudar a

    tomar banhoahdepois complicado, por exemplo dou-lhe o sabonete, e ele

    tem o sabonete na mo, mas no consegue, esfregar os pssou eu fao todas as

    tarefas, pode ser que as tantas no vou conseguir, depois estou a pensar, quando

    numa fase mais complicada, para o ajudar a tomar banho, ou assim, chamar as

    senhoras da APOIO, que ns temos em X, e que, as senhoras que at ajudavam a

    minha sogra, e quando for necessrio dar-lhe banho, que eu no consigo, chamar

    estas senhoras para o ajudarportanto, de manh e noite

    no necessita de apoio nas tarefas instrumentais

    vivencia centrada em aspectos instrumentais

    EVOL vivencia centrada nas perda de funcionalidade diria

    expectativas negativas de incapacidade de lidar com a situao

    resol plan de probl antecipao de procura de apoio instrumental

    Descreva de forma resumida as suas actividades dirias, que costuma

    realizar nesta fase actual? Costuma planear algum tipo de actividade?

    19

    Portanto com o meu marido de manh, venho beber um cafezinho, a por volta

    das 10h30, 11 horas, depois vamos dar uma volta, ele no quer ir para muito

    longe, no quer andar de carro, e quando o levo de carro, para ir da minha

    me, que mora em T, tenho que o meter no carro e digo-lhe a ele que lhe vou

    fazer uma surpresa, ele surpresa, mas que surpresa, no quero ir para lado

    nenhum, depois quando ele v que se esta a afastar para onde me levas, para

    onde me levas. depois pelo caminho, olha vamos almoar com a minha

    meou ver ver a minha me ou assim, comea a refilar. Mas s assim que

    eu consigo que ele v de carro Vamos dar uma volta, e depois hora do

    almoo, vou para casa tarde a seguir ao almoo, antes do lanche, pergunto-

    lhe se ele queres jogar domin, ele no quer fazer rigorosamente nada, ele no

    que ler, ele j no l, escrever muito menos Ele deixou tudo, pura e

    simplesmente, de um momento para outro, portanto O IRS j no faz h dois

    anos, e h dois anos atrs ainda assinou o IRS, mas j muito mal, portanto ele

    nessa altura caiu-o mesmoDeixou de assinar, deixou de escrever, deixou de

    ler, portanto ele no consegue ler nada, nem sequer, ele no consegue fazer nada.

    Eu ainda fui, h dois anos atrs a um psiquiatra, porque, falei com uma senhora

    valorizao de actividades de lazer

    evoluo da doena centrana diminuio de aspectos intelectuais

    evol centra-se em aspectos intelectuaos impossibilidade de cumprir deveres e responsabilidades

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    27

    Est tudo de rasto completamente tudo virado do avessovou para o ginsio,

    sexta sexta vou tarde, para o ginsio fazer l uma aulazinhasah, ao

    sbado, vou hidroginstica, de manh, que s 12h15m, mas j fui beber um

    cafezinho, j ficou, ele j ficou arranjada, a minha preocupao deixa-lo

    arranjado, vestido, com a barba feita, pequeno-almoo tomado, depois sai

    comigo fico preocupada, quando ele fica em casa, ento eu fico

    preocupadssima, no , mas ao fim de semana a minha filha ainda fica deitada.

    A minha vida esta reduzida, ao domingo, tambm tenho hidroginstica s

    10h15m, mas tambm j o tenho que o deixar vestidoportanto a minha

    preocupao, deixa-lo arranjado, e pronto Agora vou para casa fazer o

    almoo, almoamosah, s vezes no me apetece ir beber caf, porque no me

    apetece j sair de casa, ele fica aborrecido porque eu no vou ento no vais,

    ficas aqui em casa, e no sei qu, tento ir com ele. Depois tenho coisa para

    fazer em casa, muitas coisas para fazer em casa, arrumar a casa e as roupas e

    assim a minha vida est sem sentido, digamosEle no quer ir ao cinema, no

    outro dia levei-o ao cinema, mas fui ver com ele, no domingo tarde, ele foi a

    refilar, por acaso at fomos a p, porque perto, ali no centro

    comercialPortanto, ele ficou ali a ver, acho que no lhe ligou nenhuma, ficou

    ali calado, no dizia nada, no se riaEu perguntei-lhe se ele gostou, ah giro,

    giro, mas pronto, ele no quer ir assim para lado nenhum Depois em

    centros comerciais, ele tem pavor em ir para centroshouve um altura que eu

    levei-o para Lisboa, no sabe andar de metro, no sabe como que de sair ou

    entrar, ou assim, temos o bilhete, ele fica ali baralhado, ele no sabe meter, dou-

    lhe o bilhete para meter. No ano passado fui algumas vezes, andar de metro com

    ele, fui para Lisboa, almoamos por l, mas agora no quer, para ir a lado

    nenhum, ele esta de tal maneira que refila, que no quer ir para lado nenhum,

    porque est com medo. Ento no metro, quando estamos espera, ele comea a

    gritar e a dizer h ladres, h ladres, vieste para aqui e no sei qu fica

    mesmo em pavor a dizer que h ali ladres. Ele v ali um grupinho de pessoas,

    oh CCC no vs que no h ali ladres, as pessoas esto ali espera do

    metro, ah agora estas com a mania, estas com a mania que sabes tudo, eu que

    estou a ver e depois diz que h ladres e isso isto para ns que estamos a ver

    isto, no , e vermos aquela pessoa que ns conhecemos, ele era uma pessoa

    RESTRIO/LIMITAO

    planeamento de actividades distractivas

    valorizao de actividades de normalizao

    centrada em aspectos instrumentais

    perda de autonomia

    restrio/limitao pessoal

    planeamento de actividades distractivas

    terafas dirias instrumentais

    vivencia aspectos instrumentais

    perda de sentido

    vivencia centrada aspectos scio-emocionais

    centrada em aspectos scio-emocionais

    EVOL centrada em aspectos funcionais de vida diria

    vivencia centrada em aspectos scio-emocionais relacionais

    alteraes cognitivas

    EVOL CENTRADA EM ASPECTOS

  • A Vivncia Subjectiva dos Cuidadores de pessoas com Demncia: temas centrais da vivncia, sintomatologia emocional e estratgias de confronto

    28

    inteligentssima, e que tinha uma actividade, ele tinha sempre coisas para fazer,

    no , e que metia-se em tudo, e agora temos aquela pessoa que pior que um

    bebe, no . Enquanto o meu neto esta a aprender coisas, ele est a desaprender,

    em que temos que lhe dizer tudo, mas que ele no percebeele comeou a dizer

    H ladres, h ladres, e eu oh CCC, no vs que ali no h ladres,

    ningum te esta a roubar nada, as pessoas esto ali a apanhar o metro, Agora

    ests inteligente, agora no sei qu.

    INTELECTAUIS

    estrategias de confronto confrontativo parania

    Como descreve as recomendaes, dadas pelos mdicos ou outros tcnicos

    de sade a que tem recorrido, em termos de utilidade e ajuda para os seus

    problemas?

    20

    O que os mdicos me dizem que, a senhora tem de pedir a ajuda, pedir ajuda

    psiquitrica, ou ento um psiclogo para falar, desabafar e assimEu sei que em

    X, existe psiclogos, que nem se paga e assim, mas que eu ainda no recorri.

    Portanto, eu tento, tento eu sozinha e dar a volta, issoah, porque uma

    pessoa para ir para ali, agora estou a falar contigo, a chorar e assimtento

    chorar, e s vezes, vou, o meu marido no quer ir sozinho, agarro no carro e vou

    at ao Inatel, que no V, porque ele no quer ir, mas fao isso ao sbado ou ao

    domingo, digo minha filha olha a me vai ali ao Inatel, ou vou at da

    minha me, e depois l desabafo com ela e choro com ela. Mas isso, sei l, a

    minha filha j disse oh me escolhe um dia ou dois dias da semana, que ela

    agora no esta a fazer nada, para ires com uma amiga tua, ou ires ter com a tua

    irm ao caf. J fiz mais isso, do que estou a fazer agora, a minha irm tem um

    restaurante, ali na F, ela tem muito trabalho, vou para l, enquanto estou a ajudar

    ou, ela esta a trabalhar com o meu sobrinho, mas agora tambm no estou a fazer

    isso... agora estou a ficar tambm, no sei se estou a ficar pior, estou a ficar

    muito, no me apetece sair, se no vou com o meu marido, deito-me ali no sof,

    vejo um bocadinho de tv, outra vez.

    recomendaes indicaes instrumentais

    relutncia em procura apoio emocional

    EVITAMENTOestrategias emocionais expresso emocional

    PROCURA DE apoio emocional - me

    estrategias distractivas ennvolvimento em terafas instrumentais

    vivencia centrada em aspectos INSTRUMENTAIS

    At que ponto considerou as recomendaes que lhe foram dadas pelos

    mdicos ou outros tcnicos de sade a que tem recorrido, em termos de

    utilidade e ajuda para os seus problemas? At que ponto que segui-o

    risca ou foi adaptando essas recomendaes? Quer falar um pouco sobre

    21

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    isso, a sua interaco com os tcnicos de sade, at que ponto foram teis as

    recomendaes que os tcnicos de sade lhe deram?

    Claro que sim, foi til falar, quando eu vou mdica, eu falo muito, at digo ao

    meu marido para ficar ali um bocadinho, porque as vezes no falo, porque o meu

    marido esta ali e assimah, sempre til falar com eles, e portanto a mdica at

    disse, eu l at choro muito, porque no consigo fazer outra coisaah, e sigo

    risca, o que me dizem que eu tenho que ter uma grande dose de pacincia

    eeu at tenho muita pacincia. A minha filha diz-me oh me como que tu

    consegues, como que tu tens pacincia mas por acaso eu tenho muita

    pacincia, porque, ns ramos uma famlia muito grande, portanto somos 10

    irmos, e ns fomos nos criando uns aos outros. Portanto, a minha me deixava

    tarefas para fazer, crimos os nossos irmos e fazamos coisas do arco da

    velhae portanto eu sou uma pessoa at, at muito calma, vou tendo, vou-me

    adaptando sozinha, sem andar sempre nos mdicos, fui duas vezes psiquiatra,

    tambm. Pronto, Ela tambm receitou medicao para 6 meses e assimMas

    depois, eu fico sozinha, e eu vou-me adaptando sozinha. Mas acho importante,

    sempre que eu vou falo, ia mais era mdica de famlia, qualquer coisa, antes do

    meu marido, at a gente aceitar esta doena ou acreditarmos que ele tinha a

    doena, eu ia muita era mdica de familia que, sempre que eu vou l, estou

    sempre meias hora com ela, falava da minha filha, que no tem emprego, e no

    sei qu. Ela tem muita pena de mim, mas tambm no pode fazer muito, eu que

    tenho que me virar sozinha, tomar a minha medicao, quando eu vejo que estou

    pior, vou ao mdico, se no tenho medicao mas que eu vejo, por exemplo,

    eu agora para dormir, tenho que tomar sempre um medicamento para dormir,

    seno eu durmo at s duas, e a partir da no consigo dormir mais, no consigo

    descansar. Mas sempre bom ir mdica e falar e assim

    comunicao aberta . centrada nos aspectos relacionais - apoio emocional

    recoomendaes/indicaes

    valorizao da competncia emocionais no cuidados

    valorizao de competncia emocional

    aspectos instrumentais

    aspectos relacionais

    disponibilidade aspectos relacionais

    apoio emocional

    impossibilidade alterar a sua situao concreta

    ADESO CENTRADA EM aspectos instrumentais necessidade

    perturbaes de sono

    aspectos relacionias

    Agora gostava que se concentra-se nos momentos do diagnstico e nos

    momentos iniciais de vivncia da doena, como que foram vividos esses

    momentos? Quer falar um bocadinho sobre isso?

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    No inicio foi terrvel, no , ahcomo que isto pode estar com ele e connosco,

    comigo e com ele, ele no merecia issoparece que nos cai tudo em cimaah,

    revolta

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    No inicio foi terrvel, no , ahcomo que isto pode estar com ele e connosco,

    comigo e com ele, ele no merecia issoparece que nos cai tudo em cimaah,

    e foi vivido, foi terrvelportanto, eu nem quero pensar nesse, nesse, a minha

    filha ainda, quando ele ainda foi fazer, quando a mdica me disse que tudo

    indicava que era Alzheimer, ele foi fazer uns psicotcnicos e linguagem

    gestualah, paguei esses exames foram 30 contos, porque o SAMS no tinha, e

    deram-me para a uns 20 ou 30 e tal eurosah, quando ele foi fazer esses

    exames, ainda foi uns trs quartos de hora, ele saiu-o de l, com os olhos que

    pareciam que estavam a sair, Ele todo muito vermelho, porque ele ficou nervoso

    de no conseguir fazer algumas coisas, que devia fazer, alguns desenhos, no sei

    como que aquilo foiE a mdica o que me disse, eu perguntei se realmente ele

    tinha Alzheimer e a mdica disse-me, e como que ele estava, se ele estava mal,

    s me vez assim com a cabea, portantoento a minha filha quando eu cheguei

    a casa, eu disse minha filha, que a mdica tinha dito, que sim, que o pai, ela

    vez assim com a cabea Ela telefonou para l, ento ela gritou ao telefone,

    mesmo, no pode ser, o meu pai ter esta doena, no pode ser. Ento a dr MG,

    na avenida da Lllll, ela esta farta de nos dizer, at aqui a dr., irmos l falar com

    ele sempre que, e aqui tambm posso vir quando eu quiser, mas eu que, eu

    prpria que no tenho Estou a aceitar esta doena com resignao, comah,

    uns dias a chorar, outros dias a rir, outros dias eu sei l

    revolta

    aspectos econmicos

    insuficincia esclarecimentos aspectos comunicacionais

    reaco revolta de pessoas significativas

    Evitamento

    No momento do diagnostico e nos momentos iniciais o que mais a

    preocupava na altura? Quais eram as necessidades sentidas?

    23

    O que que eu sentia, eu sentia revoltasentia revolta e porqu a ns, no ,

    esta doena. Porqu ao meu marido esta doena, se ele foi uma pessoa que foi

    sempre bom...

    revolta

    O que que mais a preocupava, na altura? 24

    O que que me preocupava e o que me preocupa, o medo de seguir em frente,

    com a doena do meu marido, de no ser capaz, de o ajudar at ao fim.

    expectativas futuro negativas - vulnerabilidade antecipada no confronto de no ser capaz de o acompanhar

    Nessa altura inicial quem que mais a ajudou? Recorreu a algum para

    receber suporte/ajuda nessa altura?

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    Eu acho que no procurei suporte nenhum, no no procurou suporte

    Viveu tudo muito sozinha 26

    Eu, portanto ia mdica, depois chorava muito tem que ir a uma consulta, vou-

    lhe passar um documento como que se chama, a credencial para ir ao

    psiquiatra, falo, ela diz-me que tenho que tomar a medicao, diz se calhar tem

    que arranjar algum, para ficar algum com o seu marido, para a senhora ir a

    qualquer lado, fazer outra actividade ou assim. S que Eu no arranjo, porque

    no tenho dinheiro para issoportanto Eu j fao umas horas, que tiro 300

    euros, mas que um dia destes vou ter que deixar de fazer, porque tenho a minha

    sogra no lar, a pagar, a minha parte, pago 52 contos, para lhe complementar o

    pagamento do lar, as fraldas, e a medicao delae portanto, eu no tenho

    tempo, para, para arranjar um suporte para mim, no eu tenho que, arranjar,

    sei l estratgias para conseguir suportar isto tudotenho que ir mdica,

    quando no tenho medicao ou o meu marido no tem medicao, tenho que,

    andar a ver qual a medicao que tenho l, ou a da minha sogra, depois

    telefonam-me do lar olhe a dona T no tem fraldas e eu tenho que ir comprar.

    Eu tenho uma vida to preenchida, de