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ANDRÉS FELIPE CARTAGENA; GUILHERME VILA REAL
SOARES
INSATISFAÇÃO DO PACIENTE APÓS TRATAMENTO COM
PRÓTESE TOTAL CONVENCIONAL: FATORES DE FALHAS
ASSOCIADOS.
Londrina
2017
ANDRÉS FELIPE CARTAGENA; GUILHERME VILA REAL SOARES
INSATISFAÇÃO DO PACIENTE APÓS TRATAMENTO COM
PRÓTESE TOTAL CONVENCIONAL: FATORES DE FALHAS
ASSOCIADOS.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Odontologia Restauradora da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Cirurgião-dentista. Orientador: Prof. Dr. Andrés Felipe Cartagena
Londrina
2017
ANDRÉS FELIPE CARTAGENA; GUILHERME VILA REAL SOARES
INSATISFAÇÃO DO PACIENTE APÓS TRATAMENTO COM
PRÓTESE TOTAL CONVENCIONAL: FATORES DE FALHA
ASSOCIADOS.
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Odontologia Restauradora da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Cirurgião-dentista.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________
Orientador: Prof. Dr. Andrés Felipe Cartagena Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Tiossi Universidade Estadual de Londrina - UEL
Londrina, _____de ___________de _____.
Dedico este trabalho a minha mãe, Rita
de Cássia Vila Real, ao meu pai, José
Milton Soares, e aos meus queridos
irmãos, Murilo Vila Real Soares e
Vinicius Vila Real Soares.
Agradeço ao meu orientador por sempre estar presente e disposto a
sanar as dúvidas frequentes durante a elaboração deste trabalho e também pelos
conhecimentos transmitidos por ele nesse periodo.
Agradeço a todos os professores que influenciaram positivamente na
minha formação profissional e pessoal.
Soares, G.V.R; Cartagena, A. F. Insatisfação do paciente após tratamento com prótese total convencional: fatores de falhas associados. 2017. 36 folhas. Trabalho de Conclusão de Curso (Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2017.
RESUMO
O objetivo desta revisão é a verificação de alguns fatores associados na confecção
de próteses totais que podem ou não alterar a satisfação final do paciente após o
tratamento protético, embasada em evidências cientificas. Fatores tais como
relacionamento interpessoal dentista-paciente, perfil psicológico do paciente,
alocação sociodemográfica, características dos rebordos alveolares residuais, tipos
de moldagens, utilização de arco-facial e tipo de esquema oclusal relacionados ao
tratamento com prótese total foram pesquisados na base de dados eletrônica
MedLine. A partir das informações obtidas, o relacionamento interpessoal demonstra
ter uma forte correlação com o sucesso do tratamento sendo até mesmo mais
significante que a qualidade da dentadura. Fatores psicológicos demonstram
influenciar o prognóstico também, visto que, pacientes com neuroticismo e
estressados tendem a serem menos satisfeitos, em geral, com os tratamentos
reabilitadores com próteses totais convencionais. Os rebordos alveolares residuais
severamente atrofiados foram associados a maiores problemas com retenções e
estabilidade, porém, não resultaram em uma menor satisfação do paciente,
provavelmente porque a capacidade adaptativa do paciente supere as suas limitações
físicas. A aplicação de técnicas mais complexas para a confecção de próteses totais
convencionais não parece alterar o prognóstico da reabilitação, pois variações entre
as técnicas de moldagens não demonstraram ser significantes ao fim do tratamento.
A utilização de arco-facial para determinação tridimensional da maxila em relação a
base do crânio e a utilização de uma oclusão bilateral balanceada também não foram
relacionadas a uma maior satisfação do paciente. Com base nesta revisão fica
evidente que o fatores psicológicos do paciente são tão importantes quanto os fatores
técnicos, por isso, o clínico deve estar atento e empenhado em construir uma boa
relação dentista-paciente e também em determinar o perfil psicológico do mesmo,
assim conseguindo prever a satisfação final do paciente após o tratamento
Palavras-chave: Insatisfação do paciente. Prótese total convencional. Prognóstico. Relacionamento interpessoal. Fatores de falha.
Soares, G.V.R; Cartagena, A. F. Patient dissatisfaction after treatment with conventional total prosthesis: associated failure factors. 2017. 36 pages. Trabalho de Conclusão de Curso (Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2017.
ABSTRACT
The objective of this review is the selection of some associated factors in the
manufacture of total dentures that may or may not alter the patient's final satisfaction
after the prosthetic treatment, based on scientific evidence. Factors such as dentist-
patient interpersonal relationship, patient's psychological profile, sociodemographic
allocation, residual alveolar ridge characteristics, types of molding, use of arch and
facet, occlusal type related to treatment with total prosthesis of researchers on the
basis of electronic data MedLine. From the information obtained, the interpersonal
relationship demonstrates a strong correlation with the success of the treatment being
even more significant than the quality of the denture. Psychological factors have been
shown to influence the prognosis as well, since patients with neuroticism and extension
tend to be less satisfied overall with rehabilitation treatments with conventional full
dentures. Severely atrophied residual alveolar ridges were associated with greater
problems with retention and stability, but did not result in lower patient satisfaction
because an adaptive capacity of the patient outweighed their physical limitations. The
application of more complex techniques for the manufacture of conventional full
dentures is not available, it is not the rehabilitation solution, few variations between the
molding techniques do not prove to be significant at the end of the treatment. The use
of arch for three-dimensional determination of the maxilla relative to the skull base and
a bilateral occlusion use were also not related to a higher patient satisfaction. Based
on this review, it is important for the technological factors, therefore, the clinician should
be attentive and committed to building a good dentist-patient relationship and also in
determining the psychological profile of the same, as well as being able to predict the
patient's final satisfaction after the treatment.
Key words: Patient dissatisfaction. Conventional total prosthesis. Prognosis.
Interpersonal relationship. Fault factors.
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Artigos que avaliaram a associação entre o relacionamento interpessoal
e a satisfação final do paciente na terapia com prótese total ................................... 14
Quadro 2 – Resumo dos artigos que analisaram os fatores psicológicos e sua
correlação com a satisfação do paciente ................................................................. 18
Quadro 3 – Lista dos artigos que buscaram a relação entre a sociodemográfia do
paciente e sua satisfação final com prótese total ..................................................... 19
Quadro 4 – Artigos sobre oclusão relacionados a satisfação final do paciente com
suas relevancias clínicas .......................................................................................... 25
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
S Simples
C Complexo
ASA Articulador semi ajustável
EUA Estados Unidos da América
OHIP Oral Health Impact Profile
OHRQoL Oral health related quality of life
Sumário 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 11
2. METODOLOGIA ......................................................................................................................... 13
3. FATORES ASSOCIADOS COM A INSATISFAÇÃO DO PACIENTE ....................... 14
3.1 RELACIONAMENTO INTERPESSOAL ............................................................................. 14
3.2 FATORES PSICOLÓGICOS DO PACIENTE ................................................................. 16
3.3 FATOR SOCIODEMOGRÁFICO DO PACIENTE ............................................................ 19
3.4 REBORDOS ALVEOLARES RESIDUAIS ..................................................................... 20
3.5 MOLDAGENS ...................................................................................................... 21
3.6 ARCO-FACIAL ..................................................................................................... 22
3.7 OCLUSÃO ........................................................................................................... 23
4. DISCUSSÃO ................................................................................................................................ 27
5. CONCLUSÃO .............................................................................................................................. 30
REFERÊNCIAS................................................................................................................................ 32
11
1. Introdução
As próteses totais convencionais são ainda hoje o método de maior acesso a
população desdentada para a reabilitação oral. Mesmo com as vantagens das
próteses retidas ou suportadas por implante, a resolução cirúrgica para reabilitações
orais em muitas situações é impossibilitada por fatores econômicos e sistêmicos do
paciente. Deste modo, próteses totais convencionais são e continuaram sendo um
ótimo meio para trazer grandes benefícios para os pacientes na estética, fonética,
mastigação e deglutição, facilitando assim a sua reinserção na sociedade e no âmbito
familiar.
A perda de todos os dentes é tão problemática, que isso gera um marco
importante na vida de um indivíduo, sendo um período mais estressante que o
casamento ou a aposentadoria para alguns pacientes (BERGENDAL. 1989) e muitas
vezes encarado como o fim da juventude e da virilidade pelos mesmos. (SAMANT et
al. 1987). Sendo assim, um protocolo adequado na reabilitação de pacientes
edentulos com próteses totais convencionais tem a capacidade de melhorar
significativamente a qualidade de vida destes pacientes (VIOLA et al. 2013),
conseguindo realizar tarefas rotineiras como sorrir, falar e mastigar afetadas pela
ausência de dentes. (CHAUNCEY et al. 1984; FISKE et al. 1998)
O cirurgião dentista deve estar atento quando realizar a reabilitação oral de um
paciente por meio de prótese total convencional, já que o mesmo é diretamente
afetado quando o paciente não se satisfazer com o resultado final, pois além das
consultas extras que serão realizadas a fim de adequar a prótese, o profissional
poderá se ver obrigado a até mesmo confeccionar uma nova dentadura para sanar as
reclamações do paciente.
Para que o fracasso não venha a ocorrer, o clínico deve estar atento a alguns
fatores que parecem ser determinantes no êxito da reabilitação oral de pacientes
desdentados com prótese totais convencionais, como um bom relacionamento
interpessoal entre dentista e paciente (CHEN et al. 2015). Entretanto, fatores que já
foram considerados relevantes para o sucesso do tratamento como a utilização de
técnicas mais complexas para a montagem das dentaduras e as variações nas
12
técnicas de moldagens não tem se demonstrado significantes na satisfação final do
paciente. (HEYDECKE et al. 2008) (OMAR et al. 2013)
Assim, o objetivo de esta revisão foi esclarecer e verificar os fatores que tenham
influência no prognóstico do tratamento com próteses totais convencionais,
objetivando a satisfação do paciente e profissional, evitando procedimentos
complexos tecnicamente muitas vezes dispensáveis, fazendo com que o tratamento
se torne mais confortável, acessível e rápido. Dessa forma, fatores tais como o
relacionamento interpessoal, aspectos psicológicos do paciente, condições
sociodemográficas, moldagens, utilização do arco facial e esquema oclusal utilizado
na confecção das próteses totais convencionais foram abordados.
13
2. Metodologia
Fatores como relacionamento interpessoal dentista-paciente, perfil psicológico
do paciente, alocação sociodemográfica, características dos rebordos alveolares
residuais, tipos de moldagens, utilização de arco-facial, tipo de esquema oclusal e
suas relações com a satisfação final do paciente foram pesquisados na base de dados
eletrônica MedLine. Após a busca a seleção dos artigos ocorreu por consenso pela
leitura dos resumos. Foram inseridos estudos clínicos na língua inglesa a partir de
1967 até 2017.
14
3. Fatores associados com a insatisfação dos pacientes
3.1 Relacionamento interpessoal
Os artigos que ilustram a associação entre o relacionamento interpessoal e a
satisfação dos pacientes encontram-se resumidos no Quadro 1.
Quadro 1 - Artigos que avaliaram a associação entre o relacionamento interpessoal
e a satisfação final do paciente na terapia com prótese total
Estudo Design do estudo Resultados
Chen et al.
2015
387 pacientes edêntulos com idade =<65
que receberam novos conjuntos de
próteses totais responderam a
questionários de satisfações.
O relacionamento
interpessoal entre dentista e
paciente demonstrou ser
mais importante que a
qualidade da dentadura na
satisfação final do paciente.
Hirsch et al.
1973
20 alunos de odontologia foram
classificados de acordo com seu nível de
autoritarismo e após os pacientes foram
distribuídos a eles para tratamento com
próteses totais convencionais.
Os pacientes tratados pelos
alunos menos autoritários se
sentiram significativamente
mais satisfeitos.
Hirsch et al.
1972
40 pacientes foram apresentados a 4
configurações estéticas de próteses totais
convencionais para que participassem na
seleção da estética e separados em 4
grupos (grupo 1 recebeu sua 1ª escolha,
grupo 2, sua 2ª escolha, grupo 3, sua 3ª
escolha e grupo 4, sua 4ª escolha)
Foi constatado que os
pacientes se sentiram mais
satisfeitos quando os
dentistas fizeram com que o
paciente se sinta parte do
tratamento,
independentemente da
estética escolhida
inicialmente pelo paciente.
Fonte: o próprio autor
15
Alguns estudos vem demonstrando que um bom relacionamento interpessoal
entre paciente e dentista é um fator importante no sucesso da terapia com próteses
totais convencionais(DIEHL et al. 1996; SHIGLI e AWINASHE. 2010; CHEN et al.
2015). Pacientes que tem um bom diálogo com seu dentista se sentem parte do
projeto que está sendo desenvolvido e provavelmente o aceitarão mais
facilmente(HIRSCH et al. 1972). Além disso, uma interação favorável
dentista/paciente pode alcançar uma melhor compreensão das futuras limitações do
usuário, diminuindo assim as expectativas em excesso e diminuindo as chances de
frustações futuras.(SHIGLI e AWINASHE. 2010).
Em um estudo com a população idosa taiwanesa em que foram inclusos 387
pacientes desdentados com 65 anos ou mais e que receberam novos pares de
dentadura foi demonstrado que o relacionamento interpessoal teve até mesmo uma
consideração maior que a qualidade da dentadura no sucesso da terapia com prótese
total convencional para o contentamento final do paciente.(CHEN et al. 2015)
A boa comunicação entre dentista e paciente tem a capacidade de trazer uma
maior confiança ao paciente, pois esse bom relacionamento interpessoal gera uma
redução da ansiedade do paciente, ocorre também o decréscimo dos mal-entendidos
e consequentemente das reclamações. (SHIGLI e AWINASHE. 2010) aumentando
então os índices de sucesso.
O autoritarismo do profissional frente ao paciente durante o tratamento faz com
que este último se sinta menos satisfeito com a prótese total convencional após o
tratamento, segundo um teste de personalidade realizado na University of Southern
California School of Denstrity com o objetivo de avaliar a influência do nível de
autoritarismo dos estudantes que realizaram os tratamentos na satisfação final do
paciente. Neste estudo, foram separados 20 pacientes desdentados e demonstrado a
eles quatro tipos diferentes de dentes para a montagem das dentaduras, e então os
pacientes fizeram uma avaliação sobre as configurações da futura prótese no pré-
tratamento que variaram entre “bom” e “muito bom”, após isso os pacientes foram
distribuídos aleatoriamente para os alunos pouco e muito autoritário se procedeu a
realização do tratamento. Após a instalação da prótese foi realizada uma nova
avaliação e então verificou-se que os pacientes que haviam sido tratados pelos alunos
mais autoritários demonstraram uma diminuição na satisfação, por outro lado, os
16
pacientes tratados pelos alunos pouco autoritários demonstraram um aumento na
satisfação com o tratamento protético.(HIRSCH et al. 1973)
Hirsch et al. (1972) , teorizou duas hipóteses sobre a aceitação das próteses
totais convencionais; (1) os pacientes respondem mais favoravelmente as próteses
quando o dentista se aproxima de uma forma não autoritária e envolve os pacientes
no tratamento e (2) os pacientes respondem mais favoravelmente as próteses que
são mais agradáveis a eles. A partir destas hipóteses ele realizou um estudo para
verificar qual era a correta. Foram avaliados 40 pacientes, apresentando a eles quatro
configurações estéticas de próteses diferentes para assim, eles serem partícipes da
escolha da futura prótese. Foram separados quatro grupos de pacientes, sendo que,
o grupo um receberia sua primeira escolha, o grupo dois a sua segunda escolha, o
grupo três a sua terceira escolha e o grupo quatro a sua quarta escolha sem que eles
soubessem disso. Após o tratamento os examinadores avaliaram a satisfação dos
pacientes com suas próteses e mesmo o grupo 4, que recebeu a prótese com sua
última escolha estética, não demonstrou nenhuma diferença na satisfação final em
relação aos outros grupos, demonstrando que apesar do paciente não ter influenciado
verdadeiramente na confecção da prótese ele se achou participe do projeto a ser
realizado e consequentemente ficou mais satisfeito ao final do tratamento.
3.2 Fatores psicológicos do paciente
Ainda não é possível determinar o grau de influência de fatores psicológicos do
paciente no prognóstico do tratamento com próteses totais convencionais, um dos
motivos que tem dificultado a verificação deste fator é a grande variação entre os
testes utilizados para a avaliação psicológica do paciente entre diferentes estudos.
Alguns estudos demonstraram não haver uma significante relação entre o estado
psicológico do paciente e sua satisfação final (BERG et al. 1984; VAN WAAS.
1990).Contudo, parece ser prudente levar-se em consideração algumas
características psíquicas do paciente, como o neuroticismo, a expectativa em relação
ao resultado final e seu estresse cotidiano.
17
Em relação ao neuroticismo, este representa um indicador desfavorável na
confecção de próteses totais, visto que esses pacientes que se apresentam com
emoções negativas, como raiva, ansiedade e depressão, também se sentem menos
satisfeitos ao final do tratamento protético. (AL QURAN et al. 2001) Por outro lado,
alguns estudos têm direcionado seus objetivos a avaliar a possível relação existente
entre as expectativas do paciente e a satisfação final do tratamento com prótese total.
Após realizarem um estudo, com 130 pacientes, sendo 88 mulheres e 42
homens, com uma idade média de 57,2 anos Van Wass et al. (1990) demonstraram
que os pacientes que possuíam pensamentos negativos sobre as próteses futuras se
sentiram mais insatisfeitos após a instalação das mesmas, sendo que o inverso
também foi verdadeiro, os pacientes com opiniões positivas sobre a futura prótese
ficaram mais satisfeitos após a instalação. Entretanto, neste estudo não foi possível
correlacionar os fatores psicológicos do paciente com a satisfação final do mesmo
com as próteses totais convencionais.
Porém, Diehl et al. (1996) investigou pacientes com próteses completa em pré-
tratamento e pós instalação durante 18 meses, com uma amostra de, sessenta
pacientes que responderam questionários antes e a após o tratamento. Os resultados
dos autores demostraram uma forte relação entre resultados bem-sucedidos e
variáveis psicossociais, como as expectativas pré tratamento, satisfação com o
atendimento odontológico e a saúde mental.
Um outro aspecto psicológico interessante, se refere a correlação entre o
estresse cotidiano do paciente e a sua satisfação final após o tratamento, visto que os
pacientes com quadros típicos de estresse representam uma dificuldade para ficarem
contentados após os tratamento protéticos, pois, em geral, eles se apresentam menos
satisfeitos com suas próteses totais convencionais. Ozdemir et al. (2006)
No Quadro 2 é possível observar resumidamente alguns estudos sobre os
fatores psicológico dos pacientes.
18
Quadro 2 - Resumo dos artigos que analisaram os fatores psicológicos e sua
correlação com a satisfação do paciente
Estudo Design do estudo Resultado
Quran et al.
2001
100 pacientes que receberam próteses
totais convencionais na School of
Dentristry Royal Victoria Hospital Belfast
responderam a um questionário de
personalidade.
Os fatores psicológicos
influenciam
significativamente a
satisfação final do paciente.
Sendo que os pacientes
que apresentaram
neuroticismo foram os
menos satisfeitos.
Wass et al.
1990
130 pacientes foram investigados em
relação as suas características
psicológicas e as qualidades de suas
próteses.
Não foi possível
correlacionar fatores
psicológicos a satisfação
final do paciente. Entretanto
os pacientes com
pensamentos positivos
sobre a futura prótese se
sentiram mais satisfeitos ao
final do tratamento.
Diehl et al.
1996
60 pacientes responderam a
questionários no pré e pós tratamento
com próteses totais convencionais
Observou-se uma
correlação positiva entre a
expectativa do paciente
pré-tratamento, sua saúde
mental e a sua satisfação
final.
Ozdemir et al.
2006
Avaliou-se o nível de estresses dos
pacientes separando os mesmo em 3
grupos (grupo A estressados, grupo B
relaxados e grupo AB meio termo).
Os pacientes mais
estressados estavam em
geral menos satisfeitos com
suas próteses totais
convencionais.
Fonte: o próprio autor
19
3.3 Fator sociodemográfico do paciente
Fatores como idade, gênero, escolaridade e profissão são algumas vezes
associados a indicadores de prognóstico nas próteses totais convencionais,
entretanto, essas associações são referidas de maneira errônea e empírica, visto que
os fatores sociodemográficos demonstram estar fracamente correlacionado a
satisfação final do paciente, isso se houver essa correlação. No Quadro de número 3,
mostram-se resumos de alguns estudos relacionados ao paciente e seus aspectos
sociodemográficos.
Quadro 3 - Lista dos artigos que buscaram a relação entre a sociodemográfia do
paciente e sua satisfação final com prótese total
Estudo Design do estudo Resultado
Carlsson,
Otterland et al.
1967
Reavaliação médico social com 182
homens e mulheres com mais de 60 anos.
Sexo, idade, vocação, status
social, educação e ambiente
social do paciente não estão
relacionados ao sucesso do
tratamento protético.
Celebic,
Knezovic-
Zlataric et al.
2003
222 pacientes foram submetidos a
avaliação de suas próteses totais e
responderam questionários sobre suas
características sociodemográficas
Os pacientes que
acreditavam ter uma boa
qualidade de vida e um bom
estado afetivo estavam mais
satisfeitos. Em contrapartida,
pacientes que se
consideravam com um bom
nível sócio econômico eram
menos satisfeitos.
Cerutti-Kopplin
et al.
2017
117 indivíduos com uma idade média de
73,7 anos responderam a um questionário
para classificar seus níveis de satisfação
geral com próteses totais.
Não se correlacionou
nenhuma característica
sociodemográfica pesquisada
(idade, sexo, lugar de
residência do paciente (rural
ou urbano), estado civil e
20
educação) com a satisfação
final do paciente
Fonte: o próprio autor
Diversos estudos demonstraram que os fatores como sexo, idade, vocação,
status social, educação e ambiente social do paciente não se correlacionam com o
sucesso do tratamento protético com próteses totais convencionais (CARLSSON et
al. 1967; DIEHL et al. 1996). Entretanto, pode ser que os pacientes que creem ter uma
boa qualidade de vida e um bom estado afetivo se sintam mais satisfeitos ao final de
uma reabilitação com próteses totais convencionais e os pacientes com um status
sócio econômico mais elevado podem ser mais difíceis de se sentirem satisfeitos com
suas próteses convencionais segundo Celebic et al. (2003)
Cerutti-Kopplin et al. (2017), encontraram resultados semelhantes a outros
estudos quando realizaram um estudo no sul do Brasil com 117 indivíduos tendo idade
média de 73,7 anos em que eles classificaram os níveis de satisfação geral do
paciente com suas próteses totais convencionais utilizando uma escala analógica
visual, e após verificar a correlação desta satisfação com os aspectos
sociodemográficos não foi possível obter evidências significativas que a idade, o sexo,
o lugar de residência do paciente (rural ou urbano), o estado civil, a educação e o
contentamento final dos pacientes estejam relacionados.
3.4 Rebordos alveolares residuais
Parece ser lógica a associação entre o tamanho e formato das cristas residuais
mandibulares com o sucesso do tratamento. Assim rebordos, maiores e com formatos
que gerem menos traumas trarão mais conforto e estabilidade ao paciente,
consequentemente, levando a uma maior chance de sucesso da prótese total
convencional. Entretanto, alguns estudos não conseguiram demonstrar que rebordos
atróficos causassem maiores insatisfações ao paciente.(CARLSSON et al. 1967; VAN
WAAS. 1990; VAN AKEN et al. 1995; DIEHL et al. 1996; CELEBIC et al. 2003; WOLFF
et al. 2003) Wolff et al. (2003), publicou um estudo em que avaliou a correlação entre
a satisfação do paciente com próteses totais convencionais e a qualidade da prótese,
condição oral e a taxa de fluxo das glândulas salivares, e através de 50 pacientes não
21
foi possível correlacionar significativamente a resiliência da mucosa e a forma do
rebordo alveolar residual com a satisfação do paciente com a prótese.
Van Aken et al. (1995), introduziu um conceito chamado de “condição protética”
que combinava a qualidade da dentadura avaliada pelo profissional e a qualidade da
crista alveolar. Neste estudo ele avaliou 397 usuários de próteses totais convencionais
maxilares e mandibulares e então ele correlacionou a satisfação dos pacientes com
relação as suas próteses totais com a “condição protética” da dentadura e da cavidade
oral do paciente, como resultado ele concluiu que não foi significativa a condição do
rebordo residual com o sucesso do tratamento protético.
Entretanto, a forma e a resiliência do rebordo alveolar mandibular podem
influenciar a retenção e a estabilidade das próteses totais convencionais (RIBEIRO et
al. 2014), porém esta afirmação não dita necessariamente o prognóstico da prótese
total convencional, visto que outros estudos não demonstraram existir uma correlação
entre a qualidade do rebordo alveolar residual e a satisfação final do paciente (VAN
AKEN et al. 1995).
3.5 Moldagens
Atualmente existe uma grande variação de materiais e técnicas diferentes para
realizar as moldagens de estudo e funcional para a confecção de próteses totais
convencionais, sabendo-se que, em geral, as técnicas mais complexas geram maiores
custos e um maior tempo clínico de trabalho em detrimento dos materiais utilizados e
das etapas laboratoriais e clínicas adicionais, alguns estudos tem surgido no intuito
de verificar a verdadeira relação das diferentes técnicas existentes com a satisfação
final do paciente.
Em um ensaio clínico randomizado realizado por Kawai et al. (2010), utilizaram
dois métodos diferentes de técnicas para confecção de próteses totais convencionais
que foram classificados como simples (S) e complexo (C).
No grupo C, foram utilizadas moldeiras de estoque (McGowan, Coe GC
America, Alsip, IL) com alginato (Blueprint Cremix, Dentsply, York, PA) para as
moldagens preliminares, para a impressão final foi utilizada uma moldeira individual,
fabricada a partir do modelo de estudo, e usado para a moldagem de bordo um
22
composto de impressão (Type 1, Kerr, Orange, CA) e após, para a moldagem do corpo
um material a base de poliéter (ImpregumR", 3M ESPE, Minneapolis, MN). Após os
registros oclusais, os modelos foram montados em um articulador semi ajustável
(ASA) (Hanau H2, Teledyne Water Pik, Fort Collins, CO) usando os registros do arco
facial. Para o grupo S foi utilizado uma moldeira de estoque (McGowan) com alginato
(Blueprint Cremix) para a impressão final, as bordas das dentaduras foram delineadas
de acordo com o modelo e pelas referências anatômicas, e os arcos oclusais foram
preparados para os registros oclusais. Os modelos foram montados em um articulador
mono plano. Como resultado não foi encontrada nenhuma evidência de que o método
C tenha trazido uma maior satisfação do paciente, melhor função ou qualidade de
vida. Os autores concluíram que o método mais simples pode trazer um melhor custo
benefício nos tratamentos protéticos com próteses totais convencionais sem afetar
significativamente o resultado final.
Entretanto, um ensaio clínico randomizado, forneceu evidências científicas que
a moldagem com silicone pode trazer maiores benefícios ao paciente, ao comparar
dois conjuntos de próteses totais convencionais confeccionados a partir de modelos
funcionais obtido com esse material e alginato. Os resultados mostraram por parte dos
pacientes uma preferencia de 67,9% quando as impressões foram com silicone.
Por outro lado, os modelos de trabalho que são obtidos através da moldagem
funcional com a utilização de moldeiras individuais para moldar o selado periférico e
o corpo da maxila ou mandíbula parecem não serem fundamentais. Omar et al. (2013),
comparando a satisfação final do paciente e a omissão de alguns passos laboratoriais,
entre eles a confecção de um modelo de trabalho, não encontrou uma correlação
positiva no decréscimo da satisfação do paciente com a eliminação desta etapa.
3.6 Arco-facial
A perpetuação dos ensinamentos da utilização do arco-facial para a montagem
de dentaduras completas parece ser um assunto dogmático na odontologia, visto que
mesmo sem fundamentações científicas, as escolas de odontologia continuam
mantendo em seus currículos as técnicas do uso do arco-facial para a confecção de
próteses totais convencionais. Um estudo de Shah e Koka (2016) mostrou que a
prevalência de universidades nos EUA (Estados Unidos da América) que ensinavam
23
a transferência do arco facial aumentou de 84% em 2003 para 93,75% em 2015.
Mesmo que algumas revisões de literaturas já apontaram que o arco-facial não tem
uma influência significativa no resultado final do tratamento protético com próteses
totais convencionais. (FARIAS-NETO et al. 2013; AL-FAHD. 2016)
Em um estudo duplo-cego contendo duas partes, von Stein-Lausnitz et al.
(2017) com uma amostra de 32 pacientes de próteses totais convencionais,
verificaram a influência do arco-facial em comparações com técnicas mais simples
como a utilização do triângulo de Bonwill e ângulo de Balkwill na satisfação final do
paciente. E após 3 e 84 dias da entrega das próteses os pacientes foram novamente
reavaliados sobre suas perspectivas sobre a próteses totais convencionais, e então
não foram achados dados significantes sobre a superioridade das próteses
confeccionadas utilizando o arco-facial sobre as técnicas mais simples para o
contentamento do paciente.
Heydecke et al. (2008), a fim de classificar a capacidade dos pacientes
edêntulos de mastigar de acordo com o método de fabricação de suas próteses totais
convencionais, entregou dois pares de dentaduras completas para 20 pacientes,
sendo que um dos pares foi construído com base em traçados para determinar a
relação central (Arco gótico de Gysi) e com a utilização do arco facial (prótese de
Gerber), também foram utilizados dentes semi anatômicos com padrão oclusal
lingualizado e equilibrado. Já o outro par, foi confeccionado usando um procedimento
simplificado sem a transferência do arco facial, as relações intermaxilares foram
realizadas através dos roletes de cera e os dentes de escolha foram os anatômicos
com guia dos caninos e pré-molares (prótese de Gysi). Após 3 meses de inserção os
pacientes avaliaram os 2 pares de dentaduras através de escalas analógicas visuais
para satisfação geral, conforto, estética, estabilidade, capacidade de pronuncia,
facilidade para limpar e capacidade de mastigar. Verificou-se então que os pacientes
avaliaram significativamente melhor as próteses de Gysi nos aspectos de: satisfação
geral, estabilidade e aparência estética e não houve uma diferença significativa entre
os 2 métodos nas características restantes que foram avaliadas.
3.7 Oclusão
24
Há muito tempo existe o conceito de oclusão balanceada bilateral em próteses
totais convencionais, este conceito parte do pressuposto de que uma dentadura
completa que tenha ao menos três pontos de contato durante seus movimentos
excêntricos tenha uma maior estabilidade sobre os rebordos e consequentemente
uma menor probabilidade de deslocar e gerar desconfortos ao paciente. Entretanto,
durante a alimentação, por exemplo, o bolo alimentar se interpõe entre as próteses
totais convencionais e “anula” a oclusão bilateral balanceada, pois não haverá mais 3
pontos de contatos simultâneos durante esta função. Sabendo-se das limitações da
oclusão bilateral balanceada, alguns estudos foram realizados para verificar as suas
significâncias clínicas, demonstrando não influenciar positivamente os prognósticos
das próteses totais convencionais.(FARIAS NETO et al. 2010; SHIRANI et al. 2014;
SCHIERZ e REISSMANN. 2016)
Na Quadro 4 existe um breve resumo dos artigos sobre oclusão e a suas
significâncias clínicas.
Quadro 4 - Artigos sobre oclusão relacionados a satisfação final do paciente com
suas relevâncias clínicas
Estudo Design do estudo Resultado Significância
clinica
Schierz and
Reissmann
2016
Foi verificado a
qualidade de vida de
19 pacientes após a
utilização de dois tipos
de próteses diferentes,
uma com oclusão
balanceada e outra
com guia canina.
Não foi verificado uma
alteração da qualidade
de vida dos pacientes
em detrimento dos
diferentes arranjos
oclusais.
Não se faz
necessário a
utilização da
oclusão bilateral
balanceada, o que
pode por vezes,
simplificar as etapas
laboratoriais.
(Kawai,
Ikeguchi et al.
2017
60 pacientes
receberam
aleatoriamente
próteses com oclusão
bilateral balanceada
ou oclusão
Não houve diferenças
significativas entre os
diferentes arranjos
oclusais, entretanto,
os pacientes com
atrofia severa da
A possibilidade da
utilização da
oclusão lingualizada
facilita as etapas
laboratoriais e ainda
parece ser mais
25
lingualizada e após
responderam a uma
escala de satisfação
com suas próteses.
mandíbula preferiram
a oclusão lingualizada.
confortável para
pacientes com a
mandíbula atrofiada.
Farias Neto,
Mestriner
Junior et al.
2010
24 pacientes com
idade média de 59,7
anos utilizaram um par
de prótese com
oclusão bilateral
balanceada e outro par
com desoclusão por
guia canino durante 3
meses cada par.
Não foram
encontradas
diferenças
significativas para
eficiência mastigatória
e nem satisfação geral
do paciente entre os 2
esquemas
É dispensável
despender tempo
com as complexas
técnicas e ajustes
para alcançar uma
oclusão bilateral
balanceada.
Shirani,
Mosharraf et
al. 2014
15 pacientes com
idade média de 58,9
anos receberam 3
pares de próteses com
esquemas oclusais
diferentes. (oclusão
bilateral balanceada,
oclusão lingualizada e
oclusão bucalizada)
A oclusão bucalizada
se demonstrou mais
eficiente em
comparação a bilateral
balanceada
A oclusão
bucalizada também
é uma alternativa
tão ou mais eficiente
que a oclusão
bilateral balanceada
Kimoto, Gunji
et al. 2006
28 pacientes com
idade média de 70,9
anos foram separados
em 2 grupos: 1 grupo
recebeu próteses com
oclusão lingualizada e
o outro grupo com
oclusão bilateral
balanceada
O grupo com oclusão
lingualizada
apresentou
significativa maior
satisfação com a
retenção da prótese
A oclusão
lingualizada pode
ser bem indicada
para pacientes que
apresentem
problemas com a
retenção das
próteses.
26
Sutton,
Worthington
et al. 2007
Comparação entre 50
indivíduos que
utilizaram 3 tipos
diferentes de próteses
(oclusão lingualizada,
oclusão bilateral
balanceada com
dentes anatômicos e
oclusão balanceada
com dentes zero
graus).
Não houve diferenças
significativas entre os
esquemas de oclusão
lingualizada e o de
oclusão bilateral
balanceada, porém os
esquemas com dentes
sem cúspides
resultaram em
menores níveis de
satisfação do paciente
em estética e
mastigação
A utilização de
dentes sem
cúspides pode
aumentar a
possibilidade de
uma insatisfação do
paciente com sua
nova prótese.
Fonte: o próprio autor
Schierz e Reissmann (2016) em um ensaio clínico randomizado, distribuiu
próteses totais convencionais bi maxilares para 19 pacientes, a fim de verificar o
impacto de próteses com guias caninas contra próteses com oclusão bilateral
balanceada na qualidade de vida relacionada à saúde bucal (OHRQoL). Os pacientes
responderam questionários baseados no Oral Health Impact Profile (OHIP-49) antes
do tratamento protético, 3 meses após a inserção das próteses com o conceito de
oclusão balanceada bilateral e 3 meses após a inserção das próteses com o conceito
oclusal alternativo (guia canina). Após a avaliação dos dados, ficou constatado neste
estudo que não houve diferenças clínicas significativas entre os diferentes tipos de
arranjos oclusais na OHRQoL.
Um esquema oclusal menos complicado de ser obtido clinicamente quando
comparado a oclusão bilateral balanceada, denominado de oclusão lingualizada tem
sido debatido desde os anos 1940, ele é definido pelos contatos apenas das cúspides
linguais maxilares contra as superfícies oclusais mandibulares nas posições cêntricas
e excêntricas da mandíbula. A partir deste conceito, Kawait et al. (2017), sintetizou um
ensaio clínico randomizado duplo cego utilizando o OHIP para determinar as
diferenças na OHRQoL dos pacientes com próteses totais convencionais com
oclusão bilateral balanceada e próteses com oclusão lingualizada. Após a distribuição
27
aleatória de próteses com oclusão bilateral balanceada e oclusão lingualizada para 60
pacientes e após a instalação das dentaduras completas, foi utilizada uma escala
analógica visual para verificar a satisfação dos pacientes com suas próteses totais
convencionais. Após a análise dos dados não se verificou diferenças significativas
entre os diferentes esquemas oclusais, entretanto, a oclusão lingualizada foi preterida
aos pacientes que apresentavam mandíbulas severamente atrofiadas, pois este
esquema gerou menor dor aos pacientes e uma melhor retenção de suas próteses
inferiores.
Kimoto et al. (2006) realizando um estudo piloto no ano de 2006, decidiu
comparar os resultados de pacientes tratados com dentaduras completas com oclusão
lingualizada e com oclusão bilateral balanceada. Através de uma escala analógica
visual de 100mm foram analisados a satisfação geral, capacidade de mastigar,
estabilidade e retenção da prótese. Os achados destes estudos demonstraram que os
pacientes utilizando dentaduras completas com oclusão lingualizada expressaram
maior satisfação com a retenção de suas próteses.
Dentes com cúspides com zero grau são geralmente os menos preteridos pelos
pacientes quando se trata de mastigação e estética, segundo os resultados obtidos
por Sutton et al. (2007). Este estudo enfatizou-nos preferências dos pacientes em
relação a 3 diferentes tipos de esquemas oclusais, sendo que um esquema oclusal
era com dentes anatômicos (33º) montados em uma oclusão bilateral balanceada, o
segundo esquema era composto por uma oclusão lingualizada com dentes
anatômicos adaptados para este esquema, e o último com dentes sem cúspides e
uma oclusão balanceada. Cada paciente recebeu 3 pares de próteses cada um com
uma configuração diferente e após 8 semanas de uso com cada autoavaliaram as
próteses em referencia a: aparência, estabilidade, facilidade de limpar, capacidade de
falar e capacidade de mastigar. Os achados demonstraram que não há diferença
significativa entre o esquema oclusal com dente anatômicos montados em oclusão
balanceada e com o esquema oclusal lingualizado em nenhuma característica
analisada, entretanto, os pacientes demonstraram significativamente estarem mais
insatisfeitos com a aparência estética e a função mastigatória de próteses com dentes
sem cúspides em relação aos outros dois tipos de esquema oclusal.
28
4. Discussão
Este trabalho visou verificar fatores que estejam relacionados a satisfação final
do paciente após a instalação da prótese total convencional, alguns destes vistos
historicamente como fatores importantes e outros conotados a um papel discreto
dentro do tratamento reabilitador.
Alguns fatores técnicos relacionados na confecção de próteses totais
convencionais não parecem ser superiores aos fatores relacionados ao paciente.
Neste sentido, o relacionamento entre dentista e paciente já foi relatado como sendo
mais importante que a qualidade da dentadura para a satisfação final do paciente
(CHEN et al. 2015). Sendo assim, o clínico que dispende tempo e dedicação para
construir um bom relacionamento com seu paciente não perde nada em comparação
ao que se tem a ganhar quando o paciente confia e entende sobre o procedimento a
ser realizado em si.
O bom relacionamento interpessoal também pode facilitar a identificação do
perfil psicológico do paciente pelo dentista, e mesmo com todas as limitações sobre
os dados obtidos neste fator, é prudente o dentista considerar que os pacientes que
apresentam neuroticismo, ou seja, tendências negativas e os pacientes que possuem
uma vida estressante, estarão de modo geral, menos satisfeitos após o tratamento.
(AL QURAN et al. 2001; OZDEMIR et al. 2006)
Ainda sobre o paciente, uma quantidade considerável de estudos já abordou
as características sociodemográficas do paciente como sexo, idade, localização em
que reside (rural ou urbana), grau de escolaridade, estado civil e suas relações com o
contentamento final do paciente. Porém a maioria dos resultados indicam que estas
características possuem, se houver, uma fraca correlação com a satisfação final do
paciente.
Em relação as características físicas do paciente como a presença de rebordos
alveolares reabsorvidos identificados como desafios para os clínicos na confecção de
próteses totais convencionais, pois sabe-se que os rebordos reabsorvidos estão
relacionados a problemas com retenção e estabilidade (RIBEIRO et al. 2014), houve
um achado cientifico interessante, pois, os estudos que avaliaram rebordos alveolares
29
reabsorvidos e a satisfação final do paciente demonstraram uma correlação muito
fraca com esta condição clínica (CARLSSON et al. 1967; VAN WAAS. 1990; VAN
AKEN et al. 1995; DIEHL et al. 1996; CELEBIC et al. 2003; WOLFF et al. 2003). Isto
pode ser explicado, provavelmente, porque a capacidade adaptativa do paciente com
a qual ele supera suas limitações físicas.
Os fatores técnicos parecem gerar conflitos de opiniões na confecção de
próteses totais convencionais, como por exemplo, muitos profissionais insistem em
afirmar que as realizações de técnicas mais complexas trazem um maior
contentamento final ao paciente. Um exemplo disto é a utilização do arco-facial, que
é amplamente ensinado nas escolas de odontologia como um passo técnico a ser
realizado na confecção de próteses totais convencionais (SHAH e KOKA. 2016).
Porém, existem evidencias suficientes para comprovar que a realização desta etapa
técnica não traz maiores benefícios ao paciente, podendo então, ser descartada,
economizando tempo e recursos financeiros. Outro fator técnico que gera
controvérsias são os materiais e as variações nas técnicas de moldagens. Com tudo
isso, gera-se a necessidade do protesista estabelecer a existência de uma técnica e
um material de moldagem superior em relação a outras técnicas e outros materiais,
porém, os estudos mostraram que não há uma técnica que apresente benefícios
superiores significantes em relação as outras (KAWAI et al. 2010; OMAR et al. 2013),
Desta forma, para a seleção de um método preterido de moldagem, o clínico deve
levar em consideração o custo do material e a sua afinidade com a técnica
selecionada.
Um fator técnico que parece estar sendo escolhido como padrão ouro
empiricamente é a oclusão bilateral balanceada, visto que diversos estudos
analisados nesta revisão, abordaram este tema e nenhum conseguiu comprovar um
melhor resultado na satisfação final do paciente com a seleção deste
esquema(KIMOTO et al. 2006; SUTTON et al. 2007; KAWAI et al. 2010; FARIAS-
NETO et al. 2013; SHIRANI et al. 2014; SCHIERZ e REISSMANN. 2016). Se faz
importante salientar também que os paciente que apresentavam rebordos alveolares
extremamente reabsorvidos ficaram mais satisfeitos com a utilização de uma oclusão
lingualizada em comparação a bilateral balanceada(KIMOTO et al. 2006; KAWAI et al.
2010), questionando a real eficácia deste esquema oclusal. No entanto, a obtenção
de uma oclusão bilateral balanceada em uma prótese total convencional é um
30
processo complexo que dispende considerável tempo laboratorial, parece ser
prudente economizar este tempo atrás de um esquema que não traz reais benefícios
ao paciente.
Três principais limitações foram encontradas durante a busca das informações,
tais como: a pequena quantidade de artigos que investigaram a influência do
relacionamento entre dentista e paciente com a satisfação final do paciente, a grande
variação na metodologia utilizada pelos estudos para determinar o perfil psicológico
do e a quantidade mínima de artigos realizados atualmente utilizando próteses totais
convencionais.
Por outro lado, grande benefício a comunidade cientifica teria com a
determinação de um único protocolo para a avaliação do perfil psicológico do paciente,
pois a maioria dos estudos utilizam protocolos diferentes, dificultando a extração de
informações que possam ser plausíveis de comparação. Um outro fator que parece
ter um alto impacto no contentamento final do paciente é o relacionamento
interpessoal entre dentista e paciente, mesmo assim, pesquisas são insuficientes para
valida-lo como essencial, por isto mais pesquisas nesta área poderia trazer luz a
influência deste fator.
Atualmente, o foco das pesquisas em próteses parece ser nas próteses
implanto-suportadas, porém, nem sempre um paciente poderá receber este tipo de
prótese, portanto seria importante que mais pesquisas fossem realizadas com
próteses totais convencionais para ser possível a determinação de um protocolo
clinico que traga mais benefícios a esses pacientes, em relação a sua satisfação com
suas próteses após o tratamento. Contudo, fica demonstrado através desta revisão
que independentemente das capacidades técnicas do clinico, o mesmo deve estar
sempre disposto a construir um bom relacionamento com seu paciente analisando
atentamente suas características psicológicas.
5. Conclusão:
Esta revisão conclui através da análise dos artigos selecionados que:
1. O relacionamento interpessoal deve ser construído adequadamente para uma
melhor satisfação final do paciente;
31
2. Pacientes estressados e negativos são menos satisfeitos em geral;
3. Características sociodemográficas não geram influenciam significativas no
tratamento com prótese total convencional;
4. Pacientes com rebordos alveolares atróficos podem ser reabilitados com
próteses totais convencionais com sucesso;
5. As aplicações de técnicas mais complexas para a confecção de próteses totais
convencionais não trazem melhores níveis de satisfação para o paciente.
32
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