andrei rublev

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE CENTRO DE HUMANAS UNIDADE ACADÊMICA DE ARTE E MÍDIA DISCIPLINA: Análise do filme cinematográfico PROFESSOR: Helton Paulino ALUNA: Maria Raquel Alves da Silva ANÁLISE SIMBOLICA

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Page 1: Andrei Rublev

UNIVERSIDADE FEDERAL DE CAMPINA GRANDE

CENTRO DE HUMANAS

UNIDADE ACADÊMICA DE ARTE E MÍDIA

DISCIPLINA: Análise do filme cinematográfico

PROFESSOR: Helton Paulino

ALUNA: Maria Raquel Alves da Silva

ANÁLISE SIMBOLICA

Page 2: Andrei Rublev

ANDREI RUBLEV

Filme do ano de 1966 dirigido pelo russo Andrei Tarkovsky, o filme aborda vários

períodos da vida do pintor russo Andrei Rublev, um dos mais importantes da idade

média, realizou várias obras em afrescos, ícones e miniaturas para iluminuras, sua obras

mais conhecidas são as suas decorações feitas na Catedral da Anunciação, em Moscou,

em meados de 1405.

Cronologicamente o filme se passa em um prólogo, oitos episódios e um epílogo.

Iniciamos com a visão aérea do balonista, onde o mesmo termina indo de encontro ao

chão; na transição dessa cena para a seguinte, onde encontramos nosso protagonista,

temos um plano em que um cavalo rola no chão. A cena é atípica mesmo levado em

consideração circunstancias reais (é bastante improvável encontrar um cavalo nessa

posição) e denota algo que se repete com bastante substância com o passar do filme:

cenas pouco comuns com animais, muitas delas relacionadas com a morte. Passada esse

plano, encontramos Andrei Rublev, com seus dois companheiros de Viagem, Danil e

Kirill.

Os três chegam a uma região nova, onde se relacionam com outros indivíduos, um

ambiente que difere de forma completa daquele ao qual estavam habituados, dentro da

sobriedade e silêncio da igreja. Essa mudança simboliza um novo status na vida de

Rublev, onde ele perde sua crença naquilo que lhe fora ensinado dentro das paredes da

instituição religiosa e passa a acreditar que apenas no embate com a realidade e o

retorno aos sentimentos de forma mais primitiva e simples (como o amor, compaixão e

a fraternidade) levariam o ser humano ao entendimento da plenitude verdadeira, e não

aquela que era ensinada pelos religiosos.

No filme, existe uma dicotomia constante entre o conhecer e o sentir. Rublev opta

pelo segundo, quando questionado do porquê ele se recusar a ler livros novamente.

Danill e Kirill possuem uma relação conflituosa com a questão da leitura, acreditam que

aquele que se interessa pelos mesmos é uma pessoa de caráter dúbio, Kirill sendo ainda

mais radical e questionando a real autoridade dos religiosos letrados; nessa passagem o

mesmo é repreendido pelo o que fala, sendo castigado com o dever de copiar as

escrituras quinze vezes. Entretanto, a cena nos faz refletir que não importa o quantas

vezes o repreendido Kirill escrever, tudo isso não passa de uma mera cópia, não é uma

compreensão real; essa, de acordo com o filme, será obtida apenas com a vivência e não

com ensinamentos que não foram vividos.

Page 3: Andrei Rublev

Novamente retomando o episódio de Teófanes, o cego, orientam Rublev dizendo

que a busca por conhecimento só traz mais sofrimento, um velado convite a ignorância.

Tarkovsky acreditava que as experiências pessoais são mais importantes que o

conhecimento, pois a partir delas que você pode sentir e esse sentimento que guia o

homem por toda a sua vida, uma postura considerada deveras influenciada pelos antigos

autores românticos.

Essa obra cinematográfica possui diversas liberdades poéticas, muito devido ao

fato de que pouco se sabe acerca da vida desse pintor. Ensimesmado, Rublev nos parece

mais um observador da vida humana do que alguém interessado em juntar-se a ela;

assim podemos considerar que o próprio artista tem em si muitas semelhanças com o

cineasta Tarkovsky e sua estética meticulosa, observadora, que busca compreender a

natureza humana, através de metáforas e simbolismos. Em boa parte dos diálogos, nosso

protagonista se abstêm de conversas, principalmente em conversas realizados por

grupos.

A pintura do juízo final é o seu maior e mais tortuoso desafio. Após o convívio

maior e mais efetivo com outros humanos Rublev não admite que sua obra transpareça

medo e deixe as pessoas com sentimentos de culpa, sua intenção não é essa, pois ele não

acredita que seja assim que as pessoas compreenderão o verdadeiro significado da

compaixão e do amor; ele não procura trabalhar o medo nas pessoas e sim a sua

elevação espiritual, a proximidade do ser humano em relação a Deus. Isso pode ser

considerado um intento do próprio diretor, tratar a arte como algo sagrado, algo que

pode elevar aquele que a contempla.

Entretanto, o próprio Tarkovsky nega que suas obras cinematográficas possuam

significados simbólicos e/ou metafóricos e, para ele, se os mesmo existirem são apenas

coisas que podem ser relegadas ao segundo plano. Entretanto vale salientar que o

cinema, além da representação feita pelo próprio autor e/ou diretor, é um feedback entre

aquilo que o cineasta que nos passar e a nossa interpretação pessoal. Dentro desses

parâmetros, podemos sim encontrar inúmeros elementos simbólicos, levando em

consideração desde a ação dos personagens, suas características e a própria linguagem

impressa pelo diretor.