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COPPE/UFRJ COPPE/UFRJ UMA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO PARA P&D IMPLANTADOS EM EMPRESAS BRASILEIRAS FRENTE AOS PRINCÍPIOS DE CONSTRUÇÃO IDENTIFICADOS NA LITERATURA André Ribeiro de Oliveira Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção, COPPE, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Engenharia de Produção. Orientador: Heitor Mansur Caulliraux Rio de Janeiro Abril de 2010

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COPPE/UFRJCOPPE/UFRJ

UMA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO PARA P&D

IMPLANTADOS EM EMPRESAS BRASILEIRAS FRENTE AOS PRINCÍPIOS DE

CONSTRUÇÃO IDENTIFICADOS NA LITERATURA

André Ribeiro de Oliveira

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de

Pós-graduação em Engenharia de Produção,

COPPE, da Universidade Federal do Rio de

Janeiro, como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Doutor em Engenharia de

Produção.

Orientador: Heitor Mansur Caulliraux

Rio de Janeiro

Abril de 2010

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UMA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO PARA

P&D IMPLANTADOS EM EMPRESAS BRASILEIRAS FRENTE AOS PRINCÍPIOS

DE CONSTRUÇÃO IDENTIFICADOS NA LITERATURA

André Ribeiro de Oliveira

TESE SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO INSTITUTO ALBERTO LUIZ

COIMBRA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA DE ENGENHARIA (COPPE) DA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS

REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE DOUTOR EM

CIÊNCIAS EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO.

Examinada por:

________________________________________________

Prof. Heitor Mansur Caulliraux, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Marcos do Couto Bezerra Cavalcanti, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Adriano Proença, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Mário Sérgio Salerno, D.Sc.

________________________________________________

Prof. Roberto Marx, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

ABRIL DE 2010

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Oliveira, André Ribeiro de

Uma Avaliação de Sistemas de Medição de

Desempenho para P&D Implantados em Empresas

Brasileiras Frente aos Princípios de Construção

Identificados na Literatura/ André Ribeiro de Oliveira. –

Rio de Janeiro: UFRJ/COPPE, 2010.

XVII, 401 p.: il.; 29,7 cm.

Orientador: Heitor Mansur Caulliraux

Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa de

Engenharia de produção, 2010

Referencias Bibliográficas: p. 329-344.

1. Sistema de Medição de Desempenho. 2. Gestão da

Inovação. I. Caulliraux, Heitor Mansur. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, COPPE, Programa de

Engenharia de Produção. III. Titulo.

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Dedicatória:

Este trabalho é fruto de suor, espinhos, e, especialmente, muito amor. Às pessoas que

mais amo dedico este trabalho.

Meu pai e minha mãe foram os maiores incentivadores que eu tive na minha vida e o

amor que os dois dedicaram aos filhos é algo incomensurável. Pena que minha mãe não

esteja presente neste mundo neste momento, pois estaria tão ou mais feliz do que eu me

encontro agora pelo encerramento desta importante etapa da minha vida. Meu pai foi e

continua sendo tudo para mim: pai, mãe, melhor amigo e, às vezes, até filho. Ao meu

pai e minha mãe dedico este trabalho em primeiro lugar, essa tese é de vocês também.

Minha mais “recente” família também é tudo para mim. Ter conhecido a minha esposa

Izabel foi algo mais precioso que me aconteceu na vida, e este amor está muito bem

representado pelo nosso filhão Caio, com a mesma idade desta tese. A alegria e a pureza

deste menininho foram inspiradores para não esmorecer diante dos obstáculos que se

apresentaram ao longo do caminho. O amor que eu tenho por essas duas pessoas é tão

forte quanto o amor pelos meus pais e, a eles, também dedico este trabalho.

Falando em amor e falando em família, não posso deixar de lembrar as minhas lindas

irmãs. Agradeço a elas pelo amor e pelo incentivo dado durante toda a minha vida,

desde meu primeiro dia de aula no primário, há 30 anos. Não podem ficar de fora desta

lembrança meus tios e primos, de primeiro e segundo grau, que vivem aqui no Brasil e

em Portugal.

Novamente falando em família, a partir de uma simples curiosidade, sem maiores

aspirações, iniciei no ano passado um levantamento da minha árvore genealógica a

partir dos registros de nascimento arquivados nos cartórios portugueses. Nomes e

histórias contadas pelos velhos me fizeram resgatar imagens de pessoas que,

infelizmente, pouco ou nada pude conviver. A essas pessoas, meus avós, bisavós,

trisavós, tataravós, da família dos Fernandes, Araújos, Cachadas, Jesus, Vieiras,

Machados, Santos, Pires, Ricotes, Castiços, Sigurelhos, etc. agradeço imensamente todo

o esforço de vocês na educação dos filhos até chegar a mim, nos dias de hoje. Esse

trabalho também pertence a todos vocês, mesmo que não estejam aqui presentes em

corpo físico.

Finalmente a Deus, pela vida, pela bondade e pelas relações de amor.

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Agradecimentos:

Desde 1996, há exatos 14 anos, quando entrei no Grupo de Produção Integrada como

estagiário do suporte de informática, três pessoas têm contribuído de maneira

inestimável para o meu crescimento profissional, acadêmico e pessoal: professores

Heitor Caulliraux, Adriano Proença e Renato Cameira. Obrigado Renato, por ter me

contratado em 1996 (me lembro até hoje do dia da entrevista, junto com a Maria e o

André Valadares) e por ter me dado “a maior força” para trilhar os caminhos do mundo

acadêmico. Obrigado Adriano, por ter orientado o meu primeiro trabalho relacionado à

Engenharia de Processos de Negócios no SENAI, lá por meados de 1997, e ter me

mostrado, com sua inesgotável cultura e sabedoria, a importância da Engenharia de

Produção. Obrigado Heitor, pelas inúmeras oportunidades oferecidas, desde os

primeiros trabalhos na Engenharia de Produção, até a possibilidade de me tornar um

doutor em ciências em engenharia. Agradeço também a todos os integrantes do Grupo

de Produção Integrada, dos mais novos até os quais convivo desde 1996. Não listarei o

nome de todos, pois certamente estarei cometendo alguma injustiça esquecendo o nome

de alguma pessoa importante.

Este trabalho não teria nascido sem a participação de algumas pessoas. Agradeço aos

professores Vinícius Cardoso e Rafael Clemente, pelas orientações realizadas na etapa

inicial da tese. As nossas conversas foram fundamentais para o nascimento deste

trabalho. Aos professores Anne Marie, Thiollent, Francisco Duarte, Marcos Cavalcanti,

Domício Proença, Lia Hasenclever e Luis Mello, pelas disciplinas oferecidas que me

ajudaram a formar um embasamento teórico fundamental para o trabalho de tese. À

Priscila Soares, pela paciência de ler e comentar o caso Bio-Manguinhos. Agradeço às

inúmeras orientações do professor Adriano Proença, topando discutir a tese até mesmo

na quarta feira de cinzas! Orientações igualmente importantes foram feitas pelo

professor Junico Antunes, principalmente à época da Qualificação, que me deram

coragem de seguir com as intenções de tese.

Agradeço também a todos os professores integrantes, direta ou indiretamente, do projeto

Gestão de Operações em Organizações Inovadoras, no âmbito do Pro-Engenharia. A

alguns desses professores sou especialmente grato: Mario Salerno e Roberto Marx, por

terem aceitado fazer parte da banca avaliadora deste trabalho; Junico Antunes e Daniel

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Lacerda (grande companheiro de tese!), e Araken Lima e Eduardo Winter, pelas

indicações de empresas a serem estudadas na tese, particularmente, a Ouro Fino.

Pessoas fora do círculo acadêmico foram também fundamentais neste processo: na Ouro

Fino, agradeço imensamente o carinho com o qual fui recebido pela Milenni Michels e

pelo José Walter. A Milenni também capitaneou o processo de revisão do documento do

caso Ouro Fino, de forma bastante profissional. O mesmo carinho e profissionalismo

foram percebidos em Bio-Manguinhos, e assim agradeço ao Diretor Artur Couto e todos

aqueles que me receberam, tornando possível a realização deste trabalho. Agradeço

também ao Hilton Almeida, pela rapidez do agendamento das entrevistas no CENPES,

ao Gerente da GTE, Joca, e sua equipe de trabalho pela disponibilidade das informações

e ao Luciano Rodrigues, pela paciência de ler e comentar o caso CENPES. Espero que

este trabalho possa tanto contribuir para avanços nas discussões acadêmicas quanto para

resolução de problemas práticos do mundo empresarial.

Algumas pessoas “de fora” do circuito COPPE devem ser lembradas: lá na PUC,

agradeço aos professores Mauro Speranza, Leila Vilela e Mario Rodrigues pela

deliciosa experiência de condução do curso de Introdução à Engenharia; na UERJ,

agradeço aos professores Cyro Borges Jr. e Alexandre Prado, e a secretária Rita Valéria,

agora companheiros de trabalho; e no CEFET, ao professor Rafael Paim, pelo exemplo

de vida.

Finalmente, não poderia esquecer o pessoal da Rua Babilônia, cenário de tantas boas

lembranças de infância e adolescência: Braga, Velho, Magal, Colibri, Fob, Pelicano,

Fábio, André, Rafael, Cabeça, Blau, Pe. Rogério (isso mesmo: Padre Rogério!),

Paulinho, Delano, Neco, Caçapa, Sapão, Trog, e tantos outros. É... Manelzinho virou

doutor!!! Desejo aos nossos filhos a mesma rua e a mesma felicidade que nós tivemos, e

que eles possuam amigos tão sinceros e leais por tantos anos, assim como nós tivemos.

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Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários

para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D.Sc.)

UMA AVALIAÇÃO DE SISTEMAS DE MEDIÇÃO DE DESEMPENHO PARA

P&D IMPLANTADOS EM EMPRESAS BRASILEIRAS FRENTE AOS PRINCÍPIOS

DE CONSTRUÇÃO IDENTIFICADOS NA LITERATURA

André Ribeiro de Oliveira

Abril/2010

Orientador: Heitor Mansur Caulliraux

Programa: Engenharia de Produção

A inovação tem se mostrado um elemento primordial para sustentação da

vantagem competitiva das organizações e das nações. Sob este aspecto, saber gerir o

processo de inovação é uma fonte fundamental de vantagem competitiva, em particular,

no que tange a gestão por indicadores de desempenho. Inúmeros trabalhos foram

publicados ao longo dos anos com propostas de sistemas de medição de desempenho

para avaliar o processo de inovação e, particularmente, a função P&D das empresas.

Entretanto, poucas empresas efetivamente, possuem sistemas de medição de

desempenho adequados para gestão da função P&D, o que leva a crer que existe um gap

entre teoria e prática relacionada a este assunto. Esta tese tem como objetivo central

avaliar os sistemas de medição de desempenho da P&D de empresas brasileiras, que

utilizam a inovação como fonte de vantagem competitiva, frente às prescrições

presentes na literatura, e se tais prescrições mostram-se adequadas à realidade brasileira.

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Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Doctor of Science (D.Sc.)

AN ASSESSMENT OF R&D PERFORMANCE MEASURING SYSTEMS

IMPLANTED IN BRAZILIAN COMPANIES IN COMPARE TO CONSTRUCTION

PRINCIPLES IDENTIFIED IN THE THEORY

André Ribeiro de Oliveira

April/2010

Advisor: Heitor Mansur Caulliraux

Department: Production Engineering

Innovation has to be shown as a vital element for supporting the competitive

advantage of the organizations and nations. So, managing innovation process is a key

source of competitive advantage, in particular, regarding the management by

performance measurements. Several studies propose performance measurement systems

to assess innovation process and, in particular, performance measurement systems to

assess R&D functions. However, few organizations have effective performance

measurement systems to R&D management, so that, probably, there is a gap between

theory and practice related to this matter. This thesis aims to assess performance

measurement systems of R&D´s innovative Brazilian enterprises, comparing

performance measurement systems to literature prescriptions and verifying if

prescriptions are fitted for Brazilian organizations.

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Sumário:

1. Introdução______________________________________________________ 1

1.1. Objetivos da Tese _________________________________________________3

1.2. Como se Pretende Alcançar os Objetivos de Pesquisa ______________4

1.3. Delimitações da Tese ______________________________________________6

1.4. Estrutura do Documento ___________________________________________7

2. A Importância do Assunto da Tese ______________________________ 10

2.1. Evidências que Apontam para a Importância da P&D na Academia 10

2.2. Evidências que Apontam para a Importância da P&D no Nível das

Nações ________________________________________________________________13

2.3. Evidências que Apontam para a Importância da P&D no Nível

Empresarial_____________________________________________________________15

2.4. Evidências que Apontam para a Importância de Sistemas de Medição

de Desempenho para Avaliar a P&D sob a Perspectiva Acadêmica _______20

2.5. Evidências que Apontam para a Importância de Sistemas de Medição

de Desempenho para Avaliar a P&D nas Empresas _______________________22

3. O Papel da Pesquisa em Gestão para Geração de Conhecimento 24

3.1. Ciências de Design_______________________________________________24

3.2. Método de Estudos de Caso ______________________________________30

3.3. Projeto de Estudos de Caso _______________________________________32

4. Revisão Bibliográfica sobre Gestão da Inovação e Conceitos de

Sistemas de Medição de Desempenho______________________________ 37

4.1. Conceitos Básicos de Inovação___________________________________37

4.1.1. A Inovação sob o Aspecto Empresarial _______________________________ 45 4.1.2. Atividades Inovadoras _______________________________________________ 52

Atividades Inovadoras da P&D ____________________________________________ 52 Por que Avaliar Desempenho da P&D _____________________________________ 55

4.2. Sistemas de Medição de Desempenho Empresariais _______________56

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4.2.1. Conceitos Básicos ___________________________________________________ 57 4.2.2. A Ineficiência do Sistema de Medição de Desempenho Tradicional Frente

às Necessidades das Organizações__________________________________________ 59 4.2.3. Projeto de Sistemas de Medição de Desempenho _____________________ 61

5. O Estado da Arte de Sistemas de Medição de Desempenho para

P&D 66

5.1. Considerações Gerais ____________________________________________66

5.2. Propostas de Indicadores de Desempenho para P&D_______________69

5.2.1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais________ 69 5.2.2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência,

Produtividade e Efetividade da P&D _________________________________________ 72

5.3. Propostas de Sistemas de Medição de Desempenho para P&D _____81

5.3.1. Sistemas Alinhados à Lógica de Controle e Avaliação _________________ 81 5.3.2. Visão Processual da P&D _____________________________________________ 87

Diferentes Naturezas Presentes na P&D ____________________________________ 88 Visão da P&D como um Processo de Negócio _____________________________ 91

5.3.3. Elementos Multidimensionais da P&D_________________________________ 106 Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto___ 106 Diferentes Níveis de Criação de Valor ____________________________________ 111 Propostas que Consideram Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob

Diferentes Perspectivas de Avaliação_____________________________________ 115 Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos _______________ 120 Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação __________________________ 126

5.3.4. Fatores de Contingência____________________________________________ 137

5.4. Problemas na Área de Pesquisa__________________________________160

5.5. Síntese do Quadro Conceitual e dos Princípios de Construção de

Sistemas de Medição de Desempenho para P&D ________________________164

6. Método de Trabalho Adotado na Tese__________________________ 173

6.1. Verificação dos Princípios de Construção em Casos ______________173

6.2. Quadro Conceitual de Apoio às Buscas das Evidências ___________174

6.3. Protocolo de Estudos de Caso da Pesquisa _______________________175

6.4. Escolha das Empresas que Fizeram Parte dos Estudos de Caso _____180

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7. Estudo de Caso da Ouro Fino __________________________________ 184

7.1. Dados Gerais da Organização e do Setor em que Atua ___________184

7.2. Atribuições das Principais Diretorias da Ouro Fino _________________188

7.3. A Estrutura de Inovação da Ouro Fino ____________________________192

7.3.1. Estratégia de Inovação _____________________________________________ 192 7.3.2. Geração de Ideias _________________________________________________ 195 7.3.3. Seleção e Priorização _______________________________________________ 197 7.3.4. Implementação de Novos Produtos/ Serviços ________________________ 199 7.3.5. Pessoas e Organização _____________________________________________ 200 7.3.6. Síntese da Estrutura de Inovação da Ouro Fino _______________________ 202

7.4. Sistema de Medição de Desempenho da Ouro Fino _______________205

8. Estudo de Caso do Instituto Bio-Manguinhos ____________________ 212

8.1. Dados Gerais da Organização e do Setor em que Atua ___________212

8.2. Atribuições das Vice-Diretorias de Bio-Manguinhos _______________218

8.3. A Estrutura de Inovação de Bio-Manguinhos ______________________222

8.3.1. Estratégia de Inovação _____________________________________________ 222 8.3.2. Geração de Ideias _________________________________________________ 227 8.3.3. Seleção e Priorização _______________________________________________ 229 8.3.4. Implementação de Novos Produtos/ Serviços ________________________ 231 8.3.5. Pessoas e Organização _____________________________________________ 234 8.3.6. Comentários sobre a Estrutura de Inovação de Bio-Manguinhos_______ 240

8.4. Sistema de Medição de Desempenho de Bio-Manguinhos_________243

9. Estudo de Caso do CENPES ____________________________________ 252

9.1. Dados Gerais da Organização e do Setor em que Atua ___________252

9.2. Atribuições das Principais Diretorias do CENPES ___________________255

9.3. A Estrutura de Inovação do CENPES ______________________________257

9.3.1. Estratégia de Inovação _____________________________________________ 257 9.3.2. Geração de Ideias _________________________________________________ 263 9.3.3. Seleção e Priorização _______________________________________________ 264 9.3.4. Implementação de Novos Produtos/ Serviços ________________________ 266 9.3.5. Pessoas e Organização _____________________________________________ 267

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9.3.6. Comentários sobre a Estrutura de Inovação do CENPES_______________ 270

9.4. Sistemas de Medição de Desempenho do CENPES ________________272

10. Avaliação Comparativa dos Princípios de Construção de Sistemas

de Medição de Desempenho para P&D nos Casos Estudados _______ 279

10.1. Verificação dos Princípios de Construção na Ouro Fino____________279

10.2. Verificação dos Princípios de Construção em Bio-Manguinhos_____291

10.3. Verificação dos Princípios de Construção no CENPES______________303

10.4. Observações Finais Diante dos Casos Estudados __________________314

11. Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros________ 322

12. Bibliografia _________________________________________________ 329

Anexo 1: Método de Pesquisa Bibliográfica_________________________ 345

Anexo 2: Síntese dos Princípios de Construção para Sistemas de

Medição de Desempenho para P&D Identificados na Literatura______ 355

Anexo 3: Roteiro de Questões a Serem Verificadas nos Estudo de Casos

__________________________________________________________________ 364

Anexo 4: História da Empresa Ouro Fino ____________________________ 369

Anexo 5: História de Bio-Manguinhos_______________________________ 373

Anexo 6: História do CENPES _______________________________________ 376

Anexo 7: Segmentos de Atuação do CENPES _______________________ 378

Anexo 8: Avaliação dos Casos à Luz das Princípios de Construção de

Sistemas de Medição de Desempenho para P&D Identificadas na

Literatura _________________________________________________________ 383

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Lista de Figuras:

Figura 1: Evolução de Publicações sobre P&D e correlatos .......................................... 12

Figura 2: Investimentos em P&D feito pelas empresas dos países mais ricos do mundo

(em milhões de euros) ............................................................................................ 14

Figura 3: Gráfico Comparativo do Indicador de Retorno ao Acionista (Total

Shareholder Return - TSR), no Período entre 1996 e 2005, entre Empresas

Inovadoras e Empresas das Listas da Standard&Poor´s......................................... 16

Figura 4: Investimentos com Inovação Esperados em 2006, na Opinião dos Executivos

Entrevistados. ......................................................................................................... 17

Figura 5: Desempenho das 94 Empresas mais Inovadoras/ Desempenho das 906 Demais

Empresas Inovadoras.............................................................................................. 18

Figura 6: Quantidade de empresas que inovaram, segundo as três pesquisas conduzidas

pela PINTEC .......................................................................................................... 19

Figura 7: Evolução de Publicações sobre o Tema Medição de Desempenho para P&D e

correlatos ................................................................................................................ 21

Figura 8: Causas da não Implantação de Sistemas de Medição de Desempenho para o

Processo de Inovação, segundo Executivos Entrevistados..................................... 22

Figura 9: Ciclos de Pesquisa e Desenvolvimento na Design Research.......................... 28

Figura 10: Tipos Básicos de Projetos para Estudos de Caso.......................................... 34

Figura 11: Elementos que Constituem o Sistema Nacional de Inovação....................... 43

Figura 12: Processo Típico de Inovação nas Organizações. .......................................... 45

Figura 13: A Dinâmica Evolutiva na Inovação de Produto e Processo.......................... 47

Figura 14: Síntese das Cinco Gerações de P&D, o Comportamento das Organizações e

as suas Principais Características Gerenciais. ........................................................ 51

Figura 15: Fases Contempladas em um Projeto de Sistema de Medição de Desempenho.

................................................................................................................................ 62

Figura 16: Cálculo do Retorno sobre Investimentos em P&D. ...................................... 70

Figura 17: Forças e Fraquezas dos Indicadores de Desempenho para Inovação............ 77

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Figura 18: Modelo Conceitual da Base de Dados sobre Indicadores Empresariais de

Inovação Tecnológica............................................................................................. 78

Figura 19: Circuitos de Avaliação e de Controle. .......................................................... 82

Figura 20: Representação dos aspectos que levam a efetividade da inovação............... 83

Figura 21: Diferentes Técnicas para Avaliar Desempenho de Diferentes Etapas de P&D.

................................................................................................................................ 88

Figura 22: Sistema de Medição de Desempenho para P&D, em uma Visão de Sistema.

................................................................................................................................ 92

Figura 23: Lógica dos Stage-Gates. ............................................................................... 93

Figura 24: Diferentes Indicadores são Necessários para Diferentes Propósitos. ........... 96

Figura 25: Indicadores de Desempenho para P&D de Acordo com Etapas do Processo97

Figura 26: Modelo de Sistema de Medição de Desempenho. ...................................... 107

Figura 27: Pirâmide de Valor Tecnológico. ................................................................. 111

Figura 28: Proposta de BSC para P&D. ....................................................................... 116

Figura 29: Modelo de Indicadores de Desempenho à Luz do BSC. ............................ 117

Figura 30: Mapa Estratégico Genérico para P&D........................................................ 118

Figura 31: Indicadores de Desempenho Frequentemente Utilizados para Avaliar

Estratégia de Projetos ........................................................................................... 123

Figura 32: Estrutura de Auditoria para Avaliação de Práticas de P&D. ...................... 129

Figura 33: Estrutura de Gestão da Inovação................................................................. 132

Figura 34: Taxonomia de Indicadores de Desempenho, segundo a Associação Tempo,

Aspectos de Desempenho e Alcance das Metas................................................... 140

Figura 35: Taxonomia de Sistemas de Medição dse Desempenho segundo Diferentes

Níveis do Objeto Tratado. .................................................................................... 141

Figura 36: Proposta de Sistema de Medição de Desempenho...................................... 149

Figura 37: Elementos para Definição de uma Estrutura de Gestão Considerando a

Heterogeneidade da Função P&D. ....................................................................... 151

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Figura 38: Arquétipos Emergentes dos Estudos de Caso sobre Sistemas de Medição de

Desempenho para P&D. ....................................................................................... 155

Figura 39: Quadro Conceitual de Referência para Projetos de PMS para P&D. ......... 156

Figura 40: Evolução das Publicações Encontradas na Literatura Frente à Abrangência

dos Sistemas de Medição de Desempenho. .......................................................... 165

Figura 41: Lógica de Composição dos Princípios de Construção dos Sistemas de

Medição de Desempenho para P&D. ................................................................... 169

Figura 42: Organograma da Ouro Fino ........................................................................ 189

Figura 43: Estrutura de Inovação da Ouro Fino, Segundo Quadro Conceitual de Goffin e

Mitchell (2005) ..................................................................................................... 203

Figura 44: Organograma de Bio-Manguinhos (2008) .................................................. 219

Figura 45: Mapa Estratégico de Bio-Manguinhos (versão 2005) e Identificação dos

Objetivos Associados Diretamente à VDTEC ..................................................... 226

Figura 46: Organograma de Bio-Manguinhos, destacando as principais interfaces da

VDTEC................................................................................................................. 237

Figura 47: Estrutura matricial interna da VDTEC........................................................ 239

Figura 48: Estrutura de Inovação de Bio-Manguinhos, Segundo Framework de Goffin e

Mitchell (2005) ..................................................................................................... 241

Figura 49: Organograma do CENPES.......................................................................... 255

Figura 50: Sistema Tecnológico da Petrobras. ............................................................. 259

Figura 51: Mapa Estratégico do CENPES.................................................................... 261

Figura 52: Mapa Estratégico da Função Tecnológica do CENPES. ............................ 262

Figura 53: Estrutura de Inovação do CENPES, segundo o Framework de Goffin e

Mitchell (2005) ..................................................................................................... 270

Figura 54: Base de Dados Contendo Artigos Relacionados ao Tema Central da Tese 351

Figura 55: Quadro comparativo entre países da União Europeia e Brasil em relação à

composição de investimentos com inovação........................................................ 353

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Lista de Tabelas:

Tabela 1: Resultado das buscas realizadas nas principais bases de dados acadêmicas

disponíveis no Portal da CAPES com a inserção dos termos relacionados à P&D e

inovação.................................................................................................................. 11

Tabela 2: Gastos com P&D como % de PIB - todos os setores da economia ................ 13

Tabela 3: Indicadores de Desempenho para P&D mais Utilizados................................ 74

Tabela 4: Estrutura dos Indicadores de Resultado da Atividade de P&D...................... 75

Tabela 5: Indicadores de Desempenho mais Utilizados na Literatura. .......................... 76

Tabela 6: Atividades e Avaliação por Níveis de Maturidade......................................... 95

Tabela 7: Lista de Objetivos Perseguidos com a Medição de Desempenho em cada

Elemento da Estrutura de Brown e Svenson (1988)............................................... 99

Tabela 8: Framework para Projeto de Sistemas de Medição de Desempenho............. 100

Tabela 9: Aplicação do framework para Avaliação da Criação de Valor da P&D. ..... 102

Tabela 10: Sumário de Indicadores/ Metodologias Utilizados para Avaliar Desempenho

da Inovação........................................................................................................... 108

Tabela 11: Menu de Indicadores de Desempenho para P&D....................................... 112

Tabela 12: Lista de Indicadores de Desempenho Identificados na Literatura de Processo

de Desenvolvimento de Novos Produtos.............................................................. 120

Tabela 13: Padrão de Adoção de Indicadores de Desempenho para Avaliação do

Processo de Desenvolvimento de Produto ........................................................... 124

Tabela 14: Avaliação de Desempenho dos Pilares de Inovação. ................................. 126

Tabela 15: Indicadores de Desempenho a Serem Considerados segundo Estrutura de

Auditoria para Avaliação de Práticas de Inovação............................................... 130

Tabela 16: Lista de Elementos de Inovação a Serem Avaliados.................................. 131

Tabela 17: Área Consideradas em Projetos de Sistemas de Medição de Desempenho

para Inovação........................................................................................................ 134

Tabela 18: Indicadores de Desempenho Identificados por Nível de Objeto Tratado... 139

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Tabela 19: Taxonomia dos indicadores de desempenho para P&D, segundo a natureza

dos indicadores e da medição. .............................................................................. 143

Tabela 20: Taxonomia dos indicadores de desempenho para P&D, segundo Associação

Tempo, Aspectos de Desempenho e Alcance das Metas. .................................... 144

Tabela 21: Taxonomia dos indicadores de desempenho para P&D, Segundo Diferentes

Níveis de Objetos Tratados .................................................................................. 145

Tabela 22: Taxonomia dos indicadores de desempenho para P&D, Segundo Diferentes

Objetivos dos Sistemas de Medição de Desempenho. ......................................... 146

Tabela 23: Dimensões de Desempenho de P&D.......................................................... 147

Tabela 24: Objetivos dos Sistemas de Medição de Desempenho para P&D e suas

Características....................................................................................................... 153

Tabela 25: Lista de Entrevistas Realizadas nas Empresas ........................................... 179

Tabela 26: Declaração de Visão, Missão e Posicionamento da Ouro Fino.................. 193

Tabela 27: Indicadores de Desempenho Praticados na Ouro Fino............................... 207

Tabela 28: Declaração de Visão, Missão e Valores de Bio-Manguinhos .................... 223

Tabela 29: Objetivos e Indicadores de Desempenho do Mapa Estratégico de Bio-

Manguinhos .......................................................................................................... 244

Tabela 30: Indicadores de Desempenho Apresentados no Relatório Anual de Atividades

.............................................................................................................................. 247

Tabela 31: Declaração de Visão, Missão e Valores do CENPES ................................ 257

Tabela 32: Indicadores de Desempenho do Mapa Estratégico do CENPES................ 274

Tabela 33: Verificação dos Princípios de Construção no Sistema de Medição de

Desempenho da P&D da Ouro Fino. .................................................................... 288

Tabela 34: Verificação dos Princípios de Construção no Sistema de Medição de

Desempenho da P&D da Ouro Fino e de Bio-Manguinhos ................................. 300

Tabela 35: Verificação dos Princípios de Construção no Sistema de Medição de

Desempenho da P&D da Ouro Fino, Bio-Manguinhos e CENPES ..................... 312

Tabela 36: Principais Periódicos Identificados com Artigos sobre Inovação e P&D .. 346

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Tabela 37: Principais Periódicos Identificados com Artigos sobre Performance

Measurement ........................................................................................................ 348

Tabela 38: Resultado das buscas sobre “Medidas de Desempenho para Inovação” em

diferentes bases de pesquisa. Acesso em 20/07/2008........................................... 350

Tabela 39: Principais Eventos Ocorridos em Bio-Manguinhos. .................................. 373

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1. Introdução A inovação tem se mostrado um elemento primordial para sustentação da vantagem

competitiva das organizações e das nações. Pesquisas realizadas, como a da Boston

Consulting Group em 2006 (BCG, 2006), apontam que organizações consideradas

inovadoras superam suas concorrentes não inovadoras (ou que se apropriam da

inovação de forma não satisfatória), em termos de market share e lucratividade no longo

prazo. No nível das nações, países pertencentes à União Europeia têm como meta

aumentar os investimentos em P&D para, no mínimo, 3% do Produto Interno Bruto até

2010 – e apenas sete países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia, França

e Suécia) dos 27 pertencentes à União Europeia possuem % de investimento em P&D

em relação ao PIB próximos ou superiores a este percentual (EUROSTAT

<http://epp.eurostat.ec.europa.eu>, acesso em 25/08/2008).

A discussão não só do investimento em si com inovação, mas dos aspectos que

fundamentam e justificam tais investimentos, são fundamentais para o sucesso de países

e organizações. Neste sentido, é fundamental gerir o processo de inovação. Mecanismos

e estruturas de gestão da inovação vêm sendo adaptadas de forma a suprir as

necessidades das organizações. Medir o desempenho da inovação é um dos aspectos de

gestão mais importantes e desafiadores para o sucesso das organizações modernas

(NEELY, 1999). Entretanto, algumas características da inovação nas empresas, como as

destacadas por Kerssels-van Drongelen et al. (2000) torna a tarefa de projetar um

sistema de medição de desempenho bastante complexa, a saber: i) presença de

elementos intangíveis como conhecimento, criatividade e motivação; ii) a incerteza dos

tempos envolvidos entre início e fim do processo; e iii) a imprevisibilidade dos

resultados.

Inúmeros trabalhos vêm sendo publicados na academia ao longo dos anos, desde Quinn

(1960) até os mais contemporâneos como Kerssen van-Drongelen et al. (2000); Ojanen

(2003); Frattini et al. (2006); Chiesa e Frattini (2007); Chiesa et al. (2008), Chiesa et al.

(2009), propondo sistemas de medição de desempenho para avaliar a inovação e, alguns

mais específico, o desempenho da área de Pesquisa e Desenvolvimento, o cerne da

inovação das organizações. Vários são os consensos presentes na literatura – por

exemplo, necessidade de se projetar diferentes indicadores para diferentes atividades

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presentes na Pesquisa e Desenvolvimento (Pappas e Remer, 1985, e Chiesa e Fratini,

2007), necessidade de uma visão processual da organização (Brown e Svenson, 1988),

de forma a entender entradas, saídas e resultados da área de P&D, e a necessidade de

uma visão multidimensional da área de P&D (por exemplo, Kerssens-van Drongelen e

Cook, 1997; Bremser e Barsky, 2004; Osama, 2006; e Baglieri et al. 2006) que

considere elementos tangíveis como financiamento e intangíveis como criatividade e

motivação. Foi constatado, contudo, que poucos desses trabalhos propõem sistemas de

medição de desempenho mais amplos, considerando, por exemplo, a capacidade de

inovação de uma empresa, avaliando elementos externos ao P&D – exceções podem ser

observadas, por exemplo, em Chiesa et al. (1996) e Adams et al. (2006). Além disso, de

acordo com as buscas bibliográficas realizadas, poucos são os trabalhos que propõem

sistemas de medição de desempenho para avaliar outros tipos de inovação, que não são

inovação de produto – exceções podem ser observadas em Armbruster et al. (2008), que

verificaram como empresas europeias estão avaliando inovação organizacional; e

Mantel Jr et al. (1983), que propuseram um método para avaliar o potencial econômico

da inovação de processos. Ademais, há uma ampla gama de trabalhos que propõem

frameworks para se projetar sistemas de medição de desempenho para avaliar o P&D

das organizações.

Entretanto, mesmo com a diversidade de frameworks propostos para P&D, foi

constatado a partir da revisão bibliográfica que existem problemas na implementação de

fato desses frameworks. Segundo a pesquisa realizada pela Boston Consulting Group

em 2009, embora a maior parte dos executivos de grandes empresas americanas

considere que a inovação deva ser avaliada de forma tão rigorosa quanto qualquer outra

operação da empresa, apenas 32% deles estão satisfeitos com as práticas presentes na

sua empresa em relação à mensuração de desempenho da inovação. Ainda em relação a

esta pesquisa, grande parte desses executivos disseram não saber como implementar

indicadores de desempenho para inovação, o que mostra a não aderência dos

frameworks desenvolvidos com as necessidades das empresas.

No Brasil, o problema parece ser ainda mais complexo. Estatísticas da PINTEC (2005)

mostram que apenas 18% das empresas que inovaram nos últimos dois anos de pesquisa

(2003 a 2005) assim o fizeram a partir de atividades contidas internamente na área de

P&D. Sob este aspecto, a limitação identificada na literatura (que limita seus

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frameworks em propostas de avaliação de desempenho para P&D, e não para inovação

de forma geral) pode ser crítica para a realidade brasileira.

Sob este aspecto, dada a dificuldade de se adequar frameworks à realidade das

organizações, em especial no caso das organizações brasileiras, quais projetos de

sistemas de medição de desempenho para avaliar a P&D estão presentes nas

organizações brasileiras que utilizam a inovação como fonte de vantagem competitiva?

Esses sistemas de medição de desempenho são utilizados efetivamente nas organizações

como mecanismos de gestão para avaliar a sua estratégia, em particular, no que se refere

às questões afetas à sua capacidade de inovação? Quais os problemas presentes na

adaptação das prescrições contidas na literatura à realidade das organizações brasileiras?

Os objetivos gerais e específicos da tese são descritos na seção a seguir e estão

relacionados às perguntas acima destacadas.

1.1. Objetivos da Tese

Tendo em vista que as organizações consideradas inovadoras superam suas concorrentes

não inovadoras, e que os mecanismos que promovem a inovação nas organizações

exigem um aporte muito grande de recursos, produzem resultados incertos e não

imediatos, a gestão da inovação é fundamental para racionalizar esses aportes e tornar

gerenciáveis os riscos e incertezas, no que tange aos resultados desses investimentos.

Sendo o sistema de medição de desempenho um dos mais importantes instrumentos de

gestão presentes nas organizações, e considerando que tal instrumento se mostra

primordial para gestão da inovação, é importante que as empresas que utilizam a

inovação como fonte de vantagem competitiva saibam projetar, implementar e utilizar

este instrumento.

No entanto, a adoção de sistemas de medição de desempenho propostos em frameworks

teóricos na prática não é automática, o que leva a crer que existe um gap considerável

entre teoria e prática neste campo de pesquisa.

Esta tese tem como objetivo central avaliar os sistemas de medição de desempenho da

P&D de empresas brasileiras, que utilizam a inovação como fonte de vantagem

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competitiva, frente às prescrições presentes na literatura, e se tais prescrições mostram-

se adequadas à realidade brasileira.

Como objetivos específicos, pode-se destacar:

• Entendimento das definições de inovação empresarial e o papel da P&D no

processo de inovação

• Identificação dos princípios de construção para sistemas de medição de

desempenho para P&D a partir de consensos verificados nas propostas de

frameworks vistos na literatura

• Estudo dos sistemas de gestão de inovação de empresas brasileiras e descrição

de seus sistemas de medição de desempenho para P&D

• Verificação da adequação dos princípios de construção identificados da literatura

e as características dos sistemas de medição de desempenho das empresas

brasileiras.

1.2. Como se Pretende Alcançar os Objetivos de Pesquisa

Esta tese foi construída para buscar elementos que respondam as questões apresentadas.

Como método de trabalho, primeiramente foi necessário realizar uma extensa busca na

literatura para identificar os principais frameworks propostos para avaliar a P&D das

organizações.

Uma das primeiras evidências percebidas foi a existência de inúmeras propostas de

frameworks de projetos de sistemas de medição de desempenho para avaliação da P&D,

e não da inovação como um todo – muito embora, esses quadros conceituais tenham

sido concebidos prevendo, inclusive, a consideração de elementos externos a um

departamento de P&D, como o seu impacto na linha de montagem e no mercado,

referidos neste trabalho como elementos da função da P&D.

A partir de vasta revisão da literatura foi percebido que, para o projeto de sistemas de

medição de desempenho para P&D, as estruturas multidimensionais e as que

consideram os fatores de contingência pareceram ser as mais completas e as mais

robustas por, justamente, serem adaptáveis a qualquer caso onde a P&D esteja inserida.

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Da revisão bibliográfica realizada foram identificados alguns padrões, não em termos de

prescrições detalhadas (como um passo-a-passo a ser seguido), mas em um conjunto de

elementos que definem e orientam tais padrões, denominados princípios de construção,

conforme o conceito Romme e Endenburg (2006). O princípio de construção consiste

em um conjunto de proposições imperativas, fundamentadas no estado da arte da teoria

organizacional, para a produção de novas soluções organizacionais e para reprojeto das

soluções organizacionais existentes. Sob este aspecto, visando facilitar um trabalho

analítico de verificação da adoção de práticas relacionadas ao projeto de sistema de

medição de desempenho para P&D pelas organizações, foram identificados os

princípios de construção que regem tais projetos. Esses princípios seriam, pois, as

proposições imperativas que poderiam orientar projetos de sistemas de medição de

desempenho para P&D.

Após a identificação dos princípios de construção, tais princípios foram analisados

frente aos sistemas de medição de desempenho de empresas brasileiras

reconhecidamente inovadoras, de forma a verificar a aderência desses princípios na

prática. O estudo de caso foi escolhido como método de pesquisa, de forma a permitir

um entendimento mais profundo não só da adoção de práticas de gestão relacionadas a

avaliação de desempenho da P&D, mas também para verificar a sua aderência no

contexto de um instrumento de apoio à gestão da inovação.

Duas organizações foram escolhidas originalmente – Ouro Fino e Instituto Bio-

Manguinhos, que atuam em segmentos semelhantes da indústria - ambas produzem

medicamentos, sendo a primeira atuante no setor veterinário e a segunda no setor

farmacêutico, mas com arranjos institucionais bastante diferentes – a primeira atua no

mercado privado e a segunda, fundamentalmente, no mercado público. Entretanto, como

a comparação não foi suficiente para entender a aderência dos frameworks teóricos às

suas necessidades específicas, utilizou-se uma terceira empresa como estudo de caso, o

CENPES, Centro de Pesquisa da Petrobras, de forma a ser possível avaliar essas

questões no maior centro de pesquisa da América Latina.

Esta tese, portanto, se desenvolve no sentido da teoria para prática. Embora o objetivo

não seja esgotar as possibilidades de aplicação dos conceitos a casos práticos, há a

pretensão de se avaliar a aplicabilidade dos quadros conceituais identificados em uma

amostra de casos brasileiros, de forma a verificar a sua aderência à realidade brasileira.

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1.3. Delimitações da Tese

Uma vez definidos os objetivos e o método de trabalho para o alcance dos objetivos, é

importante limitar os assuntos a serem abordados, explicitando o que não será tratado na

tese:

• Uma (na verdade, mais uma) proposta de framework para projeto de sistemas de

medição de desempenho para inovação ou especificamente para P&D: o que se

busca aqui neste sentido é a identificação das prescrições presentes na literatura

e como tais prescrições apoiam os gestores a definirem seus projetos de sistemas

de medição de desempenho para inovação, seja elas limitadas às atividades de

P&D ou fora da P&D;

• Avaliação da aplicabilidade dos princípios de construção de sistemas de medição

de desempenho para inovação, além da P&D, à realidade brasileira. Conforme já

destacado, este trabalho tem como foco os sistemas de medição de desempenho

para a função P&D e, por isso, contempla aspectos fora do departamento de

P&D, como impacto no mercado e nos sistemas produtivos. Entretanto, questões

que tipicamente não são abordadas no âmbito da P&D, como compra de

informações técnicas, desenvolvimento de capacitações de funcionários,

reformulações de estruturas de gestão, não serão abordadas neste trabalho;

• Identificação e avaliação da aderência das regras de projeto para sistemas de

medição de desempenho para P&D identificadas na literatura à realidade

brasileira. Conforme será visto no capítulo conceitual, a academia ainda não

consolidou tais regras de projeto, embora importantes passos tenham sido dados

nesta direção. Esta limitação teórica inviabiliza, pois, um trabalho de tese de

doutorado em direção à verificação das regras à realidade das empresas

brasileiras;

• Implantação dos princípios de construção identificados na literatura e nos

estudos de caso, visto que exigiria um número muito maior de amostra de

empresas, o que exigiria um tempo muito maior do que o disponível em um

projeto de tese de doutorado. Na verdade, a tese busca verificar a adequação dos

princípios de construção, identificados na literatura, aos casos de empresas

brasileiras, o que equivale apenas à primeira etapa do ciclo de pesquisa

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estabelecida por Romme e Enderburg (2006) – ou seja, as fases seguintes

(projeto organizacional, implantação e experimentação) são opções de

continuidade não apenas desejável, mas também recomendável, de forma a

tornar a teoria sobre indicadores de desempenho para gestão da inovação mais

completa;

• Um projeto de controle gerencial: não serão abordadas aqui questões que

extrapolem o projeto de sistemas de medição de desempenho, como avaliação de

riscos organizacionais, vinculação com orçamento, avaliação comportamental

das organizações, avaliação da estrutura de gestão, etc.;

• Um projeto (completo) de implantação de sistemas de medição de desempenho

para P&D: algumas questões consideradas em um projeto de implantação de

indicadores de desempenho, como a definição da identidade dos indicadores,

escolha dos sistemas de informação, etc. não serão consideradas no âmbito da

avaliação pretendida nesta pesquisa. Apenas o sistema de medição de

desempenho em si para P&D, concebido na etapa inicial de um projeto de

implantação, será objeto deste trabalho;

• Finalmente, este trabalho não contemplará um projeto de sistema de gestão da

inovação: aspectos de gestão da inovação como a estrutura das áreas

responsáveis pela pesquisa e desenvolvimento, seus processos, podem ser

abordados apenas quando necessário entender o impacto nos sistemas de

medição de desempenho (“onde eu preciso atuar para melhorar o indicador

XYZ”).

1.4. Estrutura do Documento

De forma a alcançar os objetivos da pesquisa, esta tese encontra-se estruturada da

seguinte forma:

• O presente capítulo buscou apresentar o estudo conduzido no âmbito desta tese de

doutorado, explicitando o contexto da questão central da tese, os objetivos a serem

alcançados, a proposta de método para se alcançar tais objetivos, as delimitações

deste estudo e a estrutura do documento;

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• No Capítulo 2 são apresentadas as justificativas da condução desta tese, sob a ótica

acadêmica e empresarial. Ou seja, embora este estudo seja conduzido no âmbito de

uma pesquisa acadêmica, seus resultados podem ser interessantes para o mundo

empresarial;

• No Capítulo 3 são apresentados os conceitos centrais relacionados ao método de

trabalho, que traz a discussão da pesquisa em design como instrumento

metodológico para geração de conhecimento, e como os estudos de caso podem

apoiar a geração deste conhecimento;

• No Capítulo 4 é realizada uma revisão bibliográfica sobre conceitos de gestão da

inovação e sobre sistemas de medição de desempenho, de forma a compreender as

questões que são consideradas o pano de fundo de projetos de sistemas de medição

de desempenho para inovação;

• No Capítulo 5 é apresentado o que é considerado o estado da arte da literatura sobre

as propostas de sistemas de medição de desempenho para P&D, a partir de extensa

busca bibliográfica sobre o tema. Neste capítulo são identificados os principais

problemas na área de pesquisa e é concluído com uma síntese do quadro conceitual

identificado, a partir de princípios de construção identificados para se projetar

sistemas de medição de desempenho para P&D;

• No Capítulo 6 é apresentado o método de trabalho dentro dos estudos de caso,

destacando a forma pela qual optou-se por verificar os princípios de construção nos

casos estudados, como os casos foram estudados e o quadro conceitual de apoio que

norteou a condução das entrevistas, e quais os critérios definiram a escolha da

amostra das empresas a serem estudadas;

• No Capítulo 7, 8 e 9 são apresentados os estudos de caso das empresas Ouro Fino,

Bio-Manguinhos e CENPES, respectivamente, que fizeram parte desta pesquisa.

Cada uma das empresas é inicialmente apresentada, seus sistemas de inovação

descritos, e os sistemas de medição de desempenho específicos para avaliar P&D

identificados e descritos;

• No Capítulo 10 será verificada a aderência dos princípios de construção de sistemas

de medição de desempenho para P&D identificados na literatura frente aos casos

estudados;

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• No Capítulo 11 são tecidas as principais conclusões deste trabalho e recomendações

para trabalhos futuros;

• No Capítulo 12 é apresentada a lista de fontes bibliográficas utilizadas neste

trabalho;

• No Anexo 1 é detalhado o método de pesquisa bibliográfica utilizado, com a

descrição das várias modalidades de busca na literatura de acordo com o objetivo da

busca;

• No Anexo 2 é apresentada a síntese dos princípios de construção para sistemas de

medição de desempenho da P&D identificados na literatura, a partir da revisão

elaborada e apresentada no Capítulo 5

• No Anexo 3 é apresentado o roteiro de questões utilizado para a condução das

entrevistas nos estudos de caso.

• No Anexo 4, 5 e 6, são apresentados os descritivos da história das três empresas

estudadas: Ouro Fino, Bio-Manguinhos e CENPES, respectivamente;

• Finalmente, no Anexo 7, é apresentada uma tabela consolidando a avaliação dos

casos frente aos princípios de construção de sistemas de medição de desempenho

para P&D identificados na literatura.

No capítulo seguinte serão apresentadas as justificativas que comprovam a importância

desta pesquisa no nível de doutorado, tanto sob o ponto de vista da academia quanto do

ponto de vista das empresas.

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2. A Importância do Assunto da Tese Neste capítulo são apresentadas algumas evidências que comprovam a relevância de

cunho nacional, empresarial e acadêmico da gestão da P&D. Inicialmente será

apresentada a evolução das publicações científicas sobre temas relacionados à P&D.

Em seguida, a importância do tema é apresentada no nível das nações, com informações

sobre a necessidade de crescentes investimentos em P&D não só dos países

desenvolvidos, mas também dos emergentes.

A importância do tema também é vista sob uma perspectiva no nível empresarial, onde

várias pesquisas apontam para a necessidade cada vez maior de gerir P&D, o que

justamente instigou o investimento em esforços para a presente pesquisa de tese.

Finalmente, a importância do tema específico ‘medição de desempenho da P&D’ é

verificada sob as perspectivas das publicações científicas e das publicações

empresariais.

2.1. Evidências que Apontam para a Importância da P&D na

Academia

Um aspecto que retrata a crescente relevância do tema é a evolução das publicações

científicas. Buscas nas principais bases de pesquisa foram realizadas de forma a obter

evidências da discussão na academia. As seguintes bases foram acessadas a partir do

Portal CAPES: Web of Science, Engineering Village, EBSCO, Wiley Interscience,

Scopus, Wilson, Science Direct e Proquest.

Além dessas bases, foram pesquisadas teses e dissertações desenvolvidas no Brasil e no

exterior através de mecanismos de busca contidos nos portais da CAPES e Proquest

Theses and Dissertations, respectivamente.

As bases foram escolhidas por critérios de relevância, de acordo com o conteúdo que

mais se aproximava do tema de tese.

A definição do termo “P&D” e correlatos (como Inovação, Invenção, Criação, etc.) é

bastante ampla, com grande número de trabalhos identificados a partir das buscas

realizadas nas bases. A Tabela 1 sintetiza o resultado das buscas mais amplas realizadas

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nestas bases, a partir da entrada dos termos “R&D" OR "Research and Development”

OR “innov*”1 no campo Título.

Tabela 1: Resultado das buscas realizadas nas principais bases de dados acadêmicas disponíveis no

Portal da CAPES com a inserção dos termos relacionados à P&D e inovação

Base Título

Web of Science 66.743

Scopus 61.347

Engineering Village 27.259

Wilson 24.473

EBSCO 22.486

Proquest 17.614

Science Direct 13.634

Proquest Teses Internacionais 6.337

Springer Link 5.604

Wiley Interscience 4.011

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações 1.730

A partir destas buscas, foi realizada a avaliação propriamente dita da evolução do

número de publicações nesta área, desde 1970, a partir das bases que possuíam

mecanismos para organização das publicações no tempo2. O gráfico da Figura 1 ilustra

essa evolução.

1 O caractere “*” inserido nas buscas permite uma varredura mais ampla, contemplando variações

do termo a partir da raiz “innov”, como “innovation”, “innovative”, “innovativiness”, “innovate”, etc.

2 Em janeiro de 2010, apenas as bases Web of Science, Engineering Village e Scorpus possuíam

funcionalidades que permitiam organizar os resultados da busca por ano de publicação.

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Web of Science Engineering Village Scopus

Figura 1: Evolução de Publicações sobre P&D e correlatos

Fonte: Web of Science, Engineering Village e Scopus. Acesso em jan/2010

Pode-se perceber o crescente interesse da academia pelo tema, a partir da evolução do

número de trabalhos publicados por ano. Especial atenção deve ser dada à quantidade de

publicações a partir da segunda metade dos anos de 1990, onde houve crescimento

exponencial, corroborando a importância dada pelo mundo acadêmico ao tema da

inovação.

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13

2.2. Evidências que Apontam para a Importância da P&D no

Nível das Nações

Na Europa, a discussão da inovação e gestão da P&D vem ganhando relevância ao

longo dos anos. Países pertencentes à União Europeia têm como meta aumentar os

investimentos em P&D, mas dados do EUROSTAT3 (EUROSTAT

<http://epp.eurostat.ec.europa.eu>, acesso em 25/08/2008) revelam que, de acordo com

a Tabela 2, apenas sete países (Alemanha, Áustria, Bélgica, Dinamarca, Finlândia,

França e Suécia) dos 27 pertencentes à União Europeia possuem % de investimento em

P&D em relação ao PIB acima da média e próximo ao patamar almejado dos 3% do

PIB.

Tabela 2: Gastos com P&D como % de PIB - todos os setores da economia

Fonte: http://epp.eurostat.ec.europa.eu

Países da União Européia 2003 2004 2005 2006 2007

1 Alemanha 2.52 2.49 2.48 2.54 2.53

2 Austria 2.26 2.26 2.44 2.46 2.56

3 Bélgica 1.88 1.87 1.84 1.88 1.87

4 Bulgária 0.5 0.5 0.49 0.48 0.48

5 Chipre 0.35 0.37 0.4 0.43 0.45

6 Dinamarca 2.58 2.48 2.45 2.46 2.54

7 Eslováquia 0.57 0.51 0.51 0.49 0.46

8 Eslovênia 1.27 1.4 1.44 1.56 1.53

9 Espanha 1.05 1.06 1.12 1.2 1.22

10 Estônia 0.77 0.86 0.94 1.15 1.14

11 Finlândia 3.43 3.45 3.48 3.45 3.47

12 França 2.17 2.15 2.1 2.1 2.08

13 Grécia 0.57 0.55 0.58 0.57 0.57

14 Holanda 1.76 1.78 1.72 1.71 1.7

15 Hungria 0.93 0.88 0.94 1 0.97

16 Irlanda 1.17 1.24 1.25 1.3 1.31

17 Itália 1.11 1.1 1.09

18 Letônia 0.38 0.42 0.56 0.7 0.63

19 Lituânia 0.67 0.75 0.75 0.79 0.82

20 Luxemburgo 1.65 1.63 1.56 1.66 1.63

21 Malta 0.26 0.53 0.6 0.64 0.6

22 Polônia 0.54 0.56 0.57 0.56

23 Portugal 0.74 0.77 0.81 1 1.18

24 Reino Unido 1.75 1.69 1.73 1.76

25 República Tcheca 1.25 1.25 1.41 1.55 1.54

26 Romênia 0.39 0.39 0.41 0.45 0.54

27 Suécia 3.85 3.62 3.8 3.74 3.63

Média da União Européia 1.86 1.82 1.82 1.84 1.83

3 Trata-se do gabinete de Estatísticas da União Europeia que produz dados estatísticos para a

União Europeia e promove a harmonização dos métodos estatísticos entre os estados membros.

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Investimentos em P&D estão, portanto, na agenda governamental dos países da União

Europeia, e há um longo caminho a percorrer por países sem tradição em programas

desta natureza.

Sob a perspectiva industrial, empresas localizadas em países membros do grupo dos

mais ricos vêm aumentando seus investimentos em P&D ao longo dos anos, o que vai

ao encontro das diretrizes apontadas pela União Europeia. O gráfico da Figura 2

explicita o volume de investimento específicos em P&D entre 2002 e 2005 dos sete

países mais ricos do mundo.

141 149 162 167

26 27 27 27

569 580 586 587

93 99 105 112

22 28 32 40

216 228 233 237272 287

320 327

0

100

200

300

400

500

600

700

2002 2003 2004 2005

Alemanha Canadá Estados Unidos França Itália Japão Reino Unido

Figura 2: Investimentos em P&D feito pelas empresas dos países mais ricos do mundo (em milhões de euros)

Fonte: EUROSTAT <http://epp.eurostat.ec.europa.eu >, acesso em 25/08/2008

É notória a diferença, em termos financeiros, dos investimentos em P&D feitos pelas

empresas americanas em relação às empresas europeias. Seguindo exemplo dos países

membros da União Europeia, em janeiro de 2008 o Advisory Commitee on Measuring

Innovation in the 21st Century Economy elaborou um documento para a Secretaria de

Comércio americano apresentando algumas considerações que justificassem a

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necessidade de melhor estruturar dados e informações sobre a P&D e inovação de forma

geral, de modo a entender o impacto da inovação na economia nacional, corroborando a

importância do tema no nível das nações (SCHRAMM, 2008). O Advisory Commitee

recomendou a exploração das seguintes áreas de pesquisa (SCHRAMM, 2008, p. 17-

19):

• Identificação e avaliação de medidas de resultado da inovação;

• Identificação de falhas na existência e fornecimento de dados estatísticos sobre

inovação;

• Estudo da relação entre atividades de inovação e colaboração, desempenho da

inovação e da firma, desempenho da economia.

2.3. Evidências que Apontam para a Importância da P&D no

Nível Empresarial

Diversas pesquisas, como a realizada pela Boston Consulting Group em 2006 (BCG,

2006), apontam que organizações consideradas inovadoras superam suas concorrentes

não inovadoras (ou que se apropriam da inovação de forma não satisfatória), em termos

de market share e lucratividade no longo prazo. O gráfico da Figura 3 ilustra a diferença

entre o valor de mercado de organizações inovadoras, comparando o desempenho entre

empresas europeias, americanas e asiáticas frente a organizações da lista da

Standard&Poor´s.

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16

18

Média Global EUA União Européia Ásia

Indi

cado

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Reto

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ao A

cioni

sta

(199

6 a 2

005)

InovadoresBenchmark

Figura 3: Gráfico Comparativo do Indicador de Retorno ao Acionista (Total Shareholder Return -

TSR), no Período entre 1996 e 2005, entre Empresas Inovadoras4 e Empresas das Listas da

Standard&Poor´s.

Fonte: BCG (2006, p.6)

A capacidade de inovação das organizações depende de uma série de fatores, todos eles

envolvendo volumosos financiamentos em recursos como transferências de tecnologias,

financiamento de pesquisas, aquisição de máquinas e equipamentos, etc. Na mesma

pesquisa realizada pela Boston Consulting Group em 2006, há indicações que as

organizações estarão propensas a gastar mais com inovação (BCG, 2006). O gráfico da

Figura 4 ilustra os resultados desta pesquisa, realizada a partir de entrevistas com

executivos de empresas com diferentes níveis de crescimento entre 2005 e 2006.

4 Tais empresas foram consideradas inovadoras pelos entrevistados de cada região/ país. A média

global considerou as 25 empresas com maior número de entrevistados que as consideraram inovadoras.

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2005 2006

Perc

entu

al de

Res

posta

s

Aumento significativo (> 10%)

Aumento pouco significativo (1% - 10%)

Estável Diminuição pouco significativa (1% - 10%)

Diminuição significativa (> 10%)

Figura 4: Investimentos com Inovação Esperados em 2006, na Opinião dos Executivos

Entrevistados.

Fonte: BCG (2006, p. 5)

Entretanto, o volume absoluto de investimentos com inovação não indica efetivo

desempenho corporativo. Estudos realizados pela Booz Allen & Hamilton (2006)

chamam atenção para a ausência de correlação entre níveis de financiamento de P&D e

desempenho corporativo. Das 1.000 empresas consideradas inovadoras pela pesquisa,

94 foram identificadas como as que obtiveram maior retorno sobre investimento com

inovação e, também, melhor nível de desempenho em relação às outras 906 em termos

de Margem Bruta Média (Average Gross Margin), Margem Operacional Média

(Average Operational Margin), Retorno Médio aos Acionistas (Relative Total

Shareholder Return), Crescimento de Vendas (Sales Return), Crescimento das Receitas

Operacionais (Operating Income Growth), Crescimento das Receitas Brutas (Gross

Profit Growth), e Crescimento do seu Valor de Mercado (Market Capitalization

Growth). O gráfico da Figura 5 ilustra que esse melhor desempenho varia de 20% a

mais (no caso da Margem Bruta Média) até seis vezes mais (no caso do Valor de

Mercado).

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1,21,8

2,52,9

3,3 3,4

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0

1

2

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4

5

6

7

Margem Bruta Média

Margem Operacional

Média

Retorno Médio aos Acionistas

Crescimento de Vendas

Crescimento das Receitas Operacionais

Crescimento das Receitas

Brutas

Crescimento do Valor de Mercado

Figura 5: Desempenho das 94 Empresas mais Inovadoras/ Desempenho das 906 Demais Empresas

Inovadoras.

Fonte: Booz Allen & Hamilton (2006, p. 59)

No Brasil, pesquisas feitas pela PINTEC5 apontam um crescimento em termos absolutos

das empresas que realizaram inovação nos últimos dois anos. O universo de empresas

5 No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) elaborou a Pesquisa em

Inovação Tecnológica (PINTEC) visando a “construção de indicadores setoriais nacionais e, no caso da

indústria, também regionais, das atividades de inovação tecnológica das empresas brasileiras,

comparáveis com as informações de outros países. O foco da pesquisa é sobre os fatores que influenciam

o comportamento inovador das empresas, sobre as estratégias adotadas, os esforços empreendidos, os

incentivos, os obstáculos e os resultados da inovação” (http://www.pintec.ibge.gov.br/ acesso em

15/07/2008).

Esta pesquisa encontra-se na sua terceira edição, finalizada em 2005. Nas duas primeiras versões (2000 e

2003), os horizontes de pesquisa eram trienais. Na última versão da pesquisa (2005), o horizonte foi

bienal (referente ao intervalo entre 2003 e 2005).

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que inovaram frente às empresas pesquisadas aumentou de 31,5% em 1998-2000 para

34,4% em 2003-20056, conforme pode ser observado no gráfico da Figura 6.

31,5%

33,3%

34,4%

2000 2003 2005

Figura 6: Quantidade de empresas que inovaram, segundo as três pesquisas conduzidas pela PINTEC

Fonte: PINTEC (2001, 2003 e 2005)

De acordo com informações contidas na quarta versão do CIS7, esse percentual no

Reino Unido e na Finlândia é de 43%, na Suécia, 50%, na Dinamarca, 52%, na

Alemanha, 65%.

A necessidade da inovação como condição para obtenção de sucesso competitivo, os

crescentes movimentos por maiores investimentos em P&D e a necessidade de se obter

melhor resultado com o investimento realizado são elementos que fazem com que a

discussão de gestão da P&D das organizações torne-se fundamental. Entretanto,

organizações inovadoras geralmente encontram-se inseridas em ambientes competitivos

e complexos, onde os movimentos dos atores envolvidos não são conhecidos ou são

6 Importante ressaltar que as duas primeiras pesquisas não contemplaram as empresas de serviço

no seu universo de pesquisa, o que ocorreu apenas na última versão da pesquisa.

7 Acrônimo de Community Innovation Survey. Trata-se de uma série de pesquisas sobre inovação

executadas por órgãos estatísticos em toda a União Europeia desde 1992. Atualmente essas pesquisas

encontram-se na quarta edição (finalizadas em 2004).

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pouco previsíveis. O processo de inovação, embora conhecido, possui tempos longos e

resultados raramente conhecidos (principalmente nas fases iniciais de geração de ideias

e pesquisa). Alguns recursos exigidos por esse processo, como criatividade,

conhecimento, técnicas, são pouco controláveis, o que dificulta a alocação de fundos

para o seu desenvolvimento. Essas são algumas das particularidades que torna a gestão

da P&D uma questão fundamental, mas complexa e desafiadora.

Neste aspecto, é fundamental gerir P&D com instrumentos adequados à realidade das

organizações. Esses instrumentos precisam ser continuamente aprimorados para atender

as necessidades dos gestores no processo de tomada de decisão. Por exemplo, se nas

organizações dos anos 60, tipicamente orientadas para eficiência, os instrumentos de

gestão para definição de alocação de recursos em projetos eram baseados em simples

indicadores de retorno sobre investimento, atualmente, para organizações tipicamente

inovadoras, tais instrumentos mostram-se insuficientes (NEELY, 2005).

Instrumentos de gestão vêm sendo adaptados de forma a suprir as necessidades de

inovação das organizações. Um desses instrumentos, a medição de desempenho, vem

sendo crescentemente aprimorada por acadêmicos e profissionais, de forma a responder

de forma mais satisfatória às necessidades dos gestores.

As duas seções seguintes apresentam um conjunto de evidências que apontam para a

importância da discussão dos sistemas de medição de desempeno para P&D sob a

perspectiva acadêmica e empresarial.

2.4. Evidências que Apontam para a Importância de Sistemas

de Medição de Desempenho para Avaliar a P&D sob a

Perspectiva Acadêmica

Da mesma forma em que foi conduzida a pesquisa nas bases de dados de revistas e

artigos sobre P&D, foram inseridos termos textuais mais específicos, de forma a

pesquisar a evolução das publicações relacionadas à avaliação de desempenho da P&D

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nas organizações8. A partir destas buscas, foi realizada a avaliação propriamente dita da

evolução do número de publicações disponíveis nas bases que possuíam mecanismos

para organização das publicações no tempo9. O gráfico da Figura 7 ilustra essa

evolução.

0

50

100

150

200

250

1970

1972

1974

1976

1978

1980

1982

1984

1986

1988

1990

1992

1994

1996

1998

2000

2002

2004

2006

2008

Web of Science Engineering Village Scopus

Figura 7: Evolução de Publicações sobre o Tema Medição de Desempenho para P&D e correlatos

Fonte: Web of Science, Engineering Village e Scorpus. Acesso em jan/ 2010

Pode-se perceber o mesmo crescente interesse da academia pelo tema, a partir da

evolução do número de trabalhos publicados por ano. Especial atenção deve ser dada à

quantidade de publicações a partir da segunda metade dos anos de 1990, onde houve

crescimento exponencial, corroborando a importância dada pelo mundo acadêmico ao

tema.

8 O método de buscas bibliográficas pode ser melhor compreendido no Apêndice 1 - “Busca a

Partir dos Termos “Sistemas de Medição de Desempenho (ou Indicadores de Desempenho) e

Inovação” deste documento.

9 Em janeiro de 2010, apenas as bases Web of Science, Engineering Village e Scorpus possuíam

funcionalidades que permitiam organizar os resultados da busca por ano de publicação.

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2.5. Evidências que Apontam para a Importância de Sistemas

de Medição de Desempenho para Avaliar a P&D nas Empresas

Estudo conduzido pela Boston Consulting Group (BCG, 2009) sobre a mensuração de

desempenho para P&D aponta que apenas 32% dos executivos estão satisfeitos com as

práticas presentes na sua empresa. Além disso, 73% dos executivos americanos

entrevistados acreditam que o processo de inovação deve ser avaliado de forma tão

rigorosa quanto qualquer outra operação da empresa – entretanto, apenas 46% desses

executivos afirmaram que a empresa realiza acompanhamento do desempenho do

processo de inovação de forma tão estreita quanto as demais operações.

O que mais chamou a atenção dessa pesquisa foi a razão pela qual as organizações não

implementam sistemas de medição de desempenho para avaliar seu processo de

inovação. As respostas podem ser observadas a partir do gráfico da Figura 8.

32%31%

12%

8%

17%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

Não sabe quais indicadores utilizar

Baixa prioridade da prática de gestão

Ausência de apoio dos executivos seniores

Elevados custos de implantação

Outros

Figura 8: Causas da não Implantação de Sistemas de Medição de Desempenho para o Processo de

Inovação, segundo Executivos Entrevistados.

Fonte: BCG (2009, p. 8)

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Ou seja, 63% dos entrevistados não sabem ou ignoram a importância da implantação de

sistemas de medição de desempenho para inovação.

Tanto o interesse da academia quanto as pesquisas conduzidas em torno das

organizações justificam, assim, um trabalho sobre sistemas de medição de desempenho

para P&D. No capítulo seguinte são apresentados os aspectos metodológicos nos quais

esta tese está embasada: a pesquisa em design e a relação entre teoria e prática que

devem ser considerada para o avanço do conhecimento científico.

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3. O Papel da Pesquisa em Gestão para Geração de Conhecimento

O objetivo deste capítulo é apresentar os conceitos que balizam o método que será

empregado para a condução desta pesquisa. Primeiramente serão apresentados os

conceitos relacionados a ciências de design, enfatizando a sua importância para a

construção de conhecimentos teóricos e práticos. Em seguida será apresentada a

metodologia de estudos de caso, já que nesta tese, serão conduzidos estudos de caso em

três empresas visando verificar a adequação dos princípios de construção de sistemas de

medição de desempenho para P&D identificados na literatura. Finalmente, serão

apresentados elementos fundamentais que devem fazer parte de um projeto de estudo de

caso. Tais elementos serão a base para a elaboração do protocolo que orientou a

condução dos estudos de caso nas empresas.

3.1. Ciências de Design

A maior parte das pesquisas acadêmicas realizadas nas ‘ciências de gestão’ é baseada na

noção de que a missão de todas as ciências é ‘entender’, isto é, descrever, explicar e

possivelmente prever (VAN AKEN, 2004). Entretanto, entender um problema é apenas

parte para resolvê-lo. O segundo passo é desenvolver e testar alternativas de soluções.

Por exemplo, entender as razões para os atrasos no processo de desenvolvimento de

novos produtos continua deixando em aberto a tarefa de projetar sistemas efetivos para

o desenvolvimento de produtos.

A natureza da ‘pesquisa em gestão’ exige uma forte interação entre a academia e os

profissionais, tanto para a formulação das proposições, quanto para seu teste na prática.

Esta e outras características particulares da ‘pesquisa em gestão’ exigem perguntas e

respostas diferenciadas, relevantes tanto para o ‘mundo acadêmico’ quanto para os

‘profissionais’, o que, por sua vez, leva a necessidade de enquadramentos e sistemáticas

de pesquisa específicos.

Um dos elementos que precisam ser considerados fundamentais em uma pesquisa em

gestão é a sua relevância, tanto acadêmica quanto prática. A pesquisa em gestão precisa

atender esses dois universos. Para Popper (2006), um critério chave para distinguir os

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resultados da pesquisa acadêmica das prescrições encontradas em pesquisa não

acadêmica é a justificação. A justificação não deve apenas ser perseguida através de

sucessivas observações, conforme propunham os defensores do método indutivo. As

teorias devem ser construídas (ou fortalecidas) a partir de uma lógica sistemática de

conjecturas a serem apresentadas com certos critérios lógicos e serem passíveis de

refutações, no caso de não se ajustarem às observações empíricas. Assim, para Popper,

uma dada hipótese derivada de uma dada conjectura deve ser passível de ser falseada

para ser verificada por métodos científicos.

Thomas Kuhn propõe em sua obra ‘A Estrutura das Revoluções Científicas’ que o

progresso científico tem um caráter revolucionário (KUHN, 2007). Uma revolução

implica em um abandono de uma estrutura teórica e substituição por outra. Este

processo ocorre de forma gradativa, quando uma anomalia é descoberta e viola as

expectativas paradigmáticas que governam a ciência estabelecida. Os cientistas que

defendem a ciência estabelecida tentam lidar com esta anomalia, ajustando de forma a

caber no paradigma vigente. Quando estas anomalias vão se acumulando e não for mais

possível lidar com elas, instaura-se uma crise de paradigmas e novos paradigmas são

propostos candidatos a serem os vigentes. Vence aquele paradigma que seja capaz de

substituir o paradigma antigo, e ao mesmo tempo contemplar as anomalias não cabíveis

a ele.

Pode-se perceber que os conceitos trazidos por estes autores possuem estreita aderência

com os conceitos baseados na pesquisa de design, reconhecendo esta como um método

de pesquisa elaborado para “dar cientificidade” às ações organizacionais que atenderão

não só aos requisitos pragmáticos do mundo empresarial, mas também aos requisitos do

mundo acadêmico.

Da mesma forma em que as consideradas ‘ciências puras’ buscam padrões e leis que

retratem a configuração do núcleo duro de determinado campo de conhecimento, as

‘ciências de design’ (design sciences) também buscam estabelecer normas ou padrões

que explicam o comportamento das organizações. Bunge (1967) denomina esses

padrões de regras. As regras prescrevem o curso de ações, indicando como alguém deve

proceder de acordo com um conjunto finito de ações para atingir determinado objetivo.

As regras podem ser classificadas, de acordo com Bunge (1967, p. 132), como “regras

de conduta (social, moral e legal), regras de trabalho pré-científico (princípios básicos

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26

envolvidos em artes e em elementos em geral não dominados pela tecnologia), regras de

sinais (sintáticas e semânticas), e as regras de ciência e tecnologia (que balizam as ações

de ciência e tecnologia nas ciências pura e aplicada)”.

Nas ciências explicativas (explanatory sciences) o produto típico da pesquisa é o

modelo causal, no qual uma ou mais variáveis dependentes são explicadas por uma ou

mais variáveis independentes. O conhecimento sobre essas variáveis pode ser utilizado

para o entendimento e predição do comportamento das variáveis dependentes. Já nas

ciências de design o produto típico é a prescrição, que pode ser visualizada a partir das

regras tecnológicas, que podem ultrapassar questões relacionadas a ciência e tecnologia,

de acordo com a definição original de Bunge (1967) e comportar quaisquer questões de

natureza organizacional, de acordo com a abordagem de Van Aken (2004). A regra

tecnológica foi definida anos mais tarde por Van Aken (2004) como uma amostra

conveniente de conhecimento geral, relacionando uma intervenção ou um artefato com

um resultado desejado ou desempenho em um determinado campo de aplicação. Isto

significa que uma regra tecnológica não é uma receita que se deve seguir para

solucionar um determinado problema, mas um conjunto de regras gerais e bem

fundamentadas para serem usadas de acordo com a natureza específica do problema. A

regra tecnológica tem o seguinte formato: “se você quiser alcançar Y na situação Z,

então faça algo próximo a X.”, onde X é o elemento principal da regra, uma solução

com uma boa probabilidade de solucionar o problema.

Importante observar que a pesquisa descritiva é tão relevante academicamente como a

pesquisa prescritiva. Neste contexto, é importante reconhecer a distinção entre a ‘teoria

organizacional’ (organizational theory) e a ‘teoria de gestão’ (management theory). A

teoria organizacional é produzida a partir de pesquisas baseadas no paradigma das

ciências explicativas e a teoria de gestão é baseada no paradigma da pesquisa de design.

A teoria organizacional pode ser usada como referência conceitual pelos praticantes e

pode, ainda, alimentar a pesquisa na teoria de gestão. Ou seja, os resultados da teoria

organizacional podem ser utilizados para derivar potenciais regras tecnológicas (ou

proposições de projeto) que serão subsequentemente testadas e fundamentadas (Van

Aken, 2004). Por outro lado, as regras tecnológicas podem também contribuir para a

teoria organizacional. A natureza indeterminada de uma regra heurística – e a maior

parte das regras tecnológicas no campo da gestão é heurística – torna impossível a sua

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prova. Entretanto, estas podem ser testadas em seus contextos e, a partir de múltiplos

estudos de casos, é possível o acúmulo de evidências até que a ‘saturação teórica’ tenha

sido obtida (EISENHARDT, 1989; VAN AKEN, 2004). Em função disso, na ‘teoria de

gestão’ a estratégia típica de pesquisa é a de múltiplos estudos de caso, utilizando o

ciclo reflexivo para o desenvolvimento teórico.

As regras tecnológicas geradas pela pesquisa de design servem como estrutura

conceitual (framework) para uma interação mais produtiva entre profissionais e

acadêmicos. As fronteiras entre as duas naturezas epistemológicas muito distintas

precisam ser trabalhadas com linguagens instrumentais que auxiliem acadêmicos e

profissionais trabalharem juntos de forma produtiva (ROMME e ENDENBURG, 2006).

Além disso, é importante ressaltar que, na intervenção em uma organização, é

necessário que a passagem entre as regras gerais para a solução específica realizada

pelos profissionais (agentes de mudança), conhecida como primeiro redesign, seja

seguida por uma transformação dos comportamentos, conhecida como segundo

redesign (CLEMENTE, 2007). No campo da gestão, o projeto não se dá sobre

materiais, mas sobre indivíduos e grupos que possuem capacidade de auto-organização

e autocontrole. Desta forma, a grande consequência do segundo redesign é que, no

campo da gestão, o agente de mudança tem muito menos controle sobre a realização do

projeto por ele elaborado do que em outras ciências de design (como a engenharia civil,

por exemplo). A grande particularidade, por sua vez, é que os agentes de mudança não

precisam (nem devem) projetar tudo em detalhes, e muita coisa deve ser deixada para

um autoprojeto (VAN AKEN, 2005).

Romme e Endenburg (2006) propõem que a agenda de pesquisa deve seguir um ciclo

que envolva a teoria organizacional, princípios de construção, regras de projeto, projeto

da organização, implementação e experimentação, conforme o diagrama contido na

Figura 9.

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Figura 9: Ciclos de Pesquisa e Desenvolvimento na Design Research.

Fonte: Romme e Endenburg (2006, p. 288)

O seu foco deve ser o desenvolvimento de princípios de construção e regras de projeto

fundamentadas na teoria organizacional, assim como soluções organizacionais

implementadas e testadas no ‘mundo real’.

A teoria organizacional é o corpo acumulado de conceitos, teorias e relações verificadas

experimentalmente, que são úteis para explicar os processos e resultados

organizacionais. Configuram-se como a fundamentação teórica para o desenvolvimento

dos princípios de construção. Entende-se por relações verificadas as evidências

empíricas e pragmáticas, obtidas pelo engajamento direto em situações reais.

Independente da natureza do dado, o modo de pensamento na teoria organizacional é

principalmente explicativo e descritivo.

Os princípios de construção são o conjunto de proposições imperativas, fundamentadas

no estado da arte da teoria organizacional, para a produção de novas soluções

organizacionais e reprojetar as existentes. Estes princípios servem como uma ponte

entre a natureza descritiva da teoria organizacional e a natureza prescritiva das regras

tecnológicas, enfatizando a importância de certo tipo de solução para determinados

valores ou metas.

Se o participante engajado no desenvolvimento de um projeto construir um

entendimento dos princípios de construção utilizados, a sua capacidade de

aprendizagem bem como a sua capacidade de ação tendem a ser melhoradas. Neste

sentido, os princípios de construção destacam os significados e intenções por trás das

regras tecnológicas, sendo importantes para fundamentar a reconstrução das regras

tecnológicas, em situações, por exemplo, em que os resultados de implantações sugerem

necessidades de mudar essas regras.

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As regras de projeto são o conjunto de diretrizes para o projeto da organização,

fundamentados em um conjunto de princípios de construção. Estas servem como base

instrumental para o trabalho de projeto na organização. Estas regras, normalmente, não

podem ser aplicadas de forma independente de outras regras. Em função da natureza

integrada das organizações, as regras tecnológicas devem ser desenvolvidas e

apresentadas como parte de um sistema coerente de regras. Tal definição de regra de

projeto se encontra estreitamente alinhada com a definição de regras tecnológicas de

Van Aken (2004).

O design/projeto organizacional é o desenvolvimento de representações da organização

almejada utilizando-se a ajuda das regras tecnológicas. Todo projeto para uma

organização particular emerge da interação entre as regras tecnológicas, as

contingências da situação de design (ex. história, tamanho, tecnologia), e a preferência

das pessoas engajadas no projeto da organização.

A implementação e experimentação é a implantação propriamente dita do projeto

realizado e o teste dos processos ocasionados por este projeto. Implementar e testar um

projeto preliminar na dinâmica complexa de uma organização particular é uma atividade

altamente pragmática, ou seja, a experimentação trata de descobrir de que forma o

projeto realmente ‘funciona’.

Este ciclo da ‘ciência de design’ é complementado pela observação, análise,

interpretação do processo e dos resultados gerados e, quando necessário, adaptação das

teorias organizacionais ou a construção de novas teorias (Romme e Endenburg, 2006).

Neste sentido, o uso de princípios de construção e regras de projeto explícitas facilita a

transferência dos resultados do aprendizado entre diferentes projetos (Romme e

Endenburg, 2006) e permite um caráter cumulativo das pesquisas realizadas, na direção

da formulação de teorias fundamentadas que passem a integrar o corpo de conhecimento

da teoria organizacional.

Esta sistemática de pesquisa pode contribuir para a formulação de teorias que

preencham tanto os critérios de rigor acadêmico quanto o critério de relevância na

melhoria das organizações. A lógica contida na ciência do design é, portanto,

perfeitamente cabível tanto para a necessidade de solução de problemas nas

organizações quanto para a relevância científica. Por saturação empírica, as regras

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tecnológicas são validadas e reproduzidas em casos semelhantes nas organizações. Por

outro lado, as regras tecnológicas podem também servir de elemento de comprovação

de hipóteses presentes no campo da teoria10, fortalecendo o cinturão protetor do

programa de pesquisa, ou apontar para anomalias que não se enquadrem na teoria,

conforme.

A seção seguinte descreve de forma pormenorizada o método de estudos de caso,

método amplamente utilizado para construir conhecimento na teoria de gestão, onde a

partir de tal método se busca o acúmulo de evidências para que ocorra a ‘saturação

teórica’ (EISENHARDT, 1989; VAN AKEN, 2004).

3.2. Método de Estudos de Caso

Em ciências sociais, as pesquisas podem assumir diferentes aspectos dependendo do seu

objetivo, que pode ser a exploração de fenômenos não conhecidos ou pouco dominados,

a explicação de fenômenos ocorridos, ou a descrição de tais fenômenos. O estudo de

caso é uma das estratégias de pesquisa existentes reconhecidas em ciências sociais. A

escolha da estratégia de pesquisa a ser seguida depende de uma série de fatores, entre

eles, o tipo de questão de pesquisa, da extensão de controle que o pesquisador tem sobre

eventos comportamentais atuais, e do grau de enfoque em acontecimentos

contemporâneos em oposição a acontecimentos históricos (YIN, 2005).

O estudo de caso, sob o ponto de vista de uma estratégia de pesquisa, pode ser definido

como um questionamento empírico que investiga um fenômeno contemporâneo dentro

de seu contexto na vida real, onde as fronteiras entre o fenômeno e o contexto não são

claramente evidentes e múltiplas fontes de evidência são usadas (YIN, 2005). Por

exemplo, em um experimento, separa-se o fenômeno do seu contexto, deliberadamente,

10 Buscou-se aqui um quadro apenas analítico tentativo da Design Research à luz dos conceitos de

Kuhn (2007) e Popper (2006). Far-se-ia necessário, contudo, reconhecer como as teorias contempladas na

Engenharia de Produção se inserem frente aos programas de pesquisa de Lakatos (1978): por ex. qual é o

núcleo duro da Engenharia de Produção? Quais as hipóteses e axiomas que formam o seu cinturão

protetor? Quais as anomalias hoje reconhecidas? Como não fez parte do escopo do presente trabalho e

dada a complexidade, e polêmica, da questão, decidiu-se apenas apontar para a possibilidade de um

desenvolvimento mais categórico deste quadro analítico.

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de forma a dedicar atenção apenas a algumas variáveis. Esta não seria a estratégia mais

adequada para lidar com contextos na vida real, já que fenômeno e contexto não se

separam e, por conseguinte, o número de variáveis a ser analisada seria muito grande.

Neste sentido, no estudo de caso, a investigação baseia-se em múltiplas fontes de

evidências, com os dados precisando convergir em uma espécie de triangulação, de

forma a evitar inconsistências no processo de busca por evidências.

A característica central presente em todos os tipos de estudo de caso é que este método

de pesquisa tenta analisar uma decisão ou conjunto de decisões: por que elas foram

tomadas, como elas foram implantadas e com quais resultados. Assim, “o estudo de

caso permite uma investigação para se preservar as características holísticas e

significativas dos acontecimentos da vida real tais como ciclos de vida individuais,

processos organizacionais e administrativos, mudanças ocorridas em regiões urbanas,

relações internacionais e a maturação de setores econômicos.” (YIN, 2005, p. 20).

Esta estratégia traz vantagens em ser capaz de abordar temas complexos, sem a

necessidade de manter a rigidez de um estudo na lógica da ciência natural, nem a

necessidade de redução do número de variáveis em questão. Para determinar as questões

mais significativas para um determinado tópico, é útil que se faça uma revisão da

literatura. Esta revisão auxilia o pesquisador a formular questões mais claras e

instigantes sobre o tópico em questão, e não para dar respostas.

O estudo de caso pode assumir diferentes perspectivas. Pode ser necessária a elaboração

de casos múltiplos ou um caso único apenas é suficiente. Podem incluir evidências

quantitativas (e mesmo a ela ficar limitado) e qualitativas11. E, finalmente, os estudos de

caso podem ter cinco diferentes aplicações, segundo Ellram (1996) e Yin (2005):

• Explicar vínculos causais em intervenções da vida real que são complexos

demais para as estratégias experimentais ou aquelas utilizadas em

levantamentos;

11 Yin (2005) chama a atenção para não haver confusão com a estratégia de pesquisa a ser seguida:

alguns experimentos (como em estudos de percepções psicológicas) e algumas questões feitas em

levantamentos (aquelas que buscam respostas numéricas em vez de categóricas) têm como base

evidências qualitativas, e não quantitativas. Da mesma forma, a pesquisa histórica pode incluir grandes

quantidades de evidências quantitativas.

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• Descrever um fenômeno, ou a intervenção e o contexto na vida real em que ela

ocorre;

• Explorar aquelas situações nas quais a intervenção que está sendo avaliada não

apresenta um conjunto simples e claro de resultados;

• Predizer características de um determinado fenômeno;

• Ser uma “meta-avaliação”, ou seja, o estudo de um estudo de avaliação.

Uma das questões centrais que o pesquisador deve se deparar no inicio da pesquisa é a

identificação das atividades que deverão ser desenvolvidas e como elas serão

desenvolvidas. Um projeto de pesquisa deve ser desenvolvido com este intuito, de

forma a facilitar o foco do pesquisador na pesquisa em questão, permitindo a ele aceitar

eventuais desvios inerentes às próprias características da pesquisa, sem que haja perda

de foco no objeto central da pesquisa.

3.3. Projeto de Estudos de Caso

Um projeto de pesquisa constitui a lógica que conecta os dados empíricos a serem

coletados (e conclusões a serem tiradas) às questões iniciais de estudo e, em ultima

análise, à sua conclusão (YIN, 2005, p. 39).

Um projeto de pesquisa deve tratar das seguintes questões: quais questões estudar, quais

dados são relevantes, quais dados coletar, e como analisar os resultados. Para estudos de

caso, em particular, cinco componentes são fundamentalmente importantes para um

bom projeto de pesquisa (YIN, 2005, p. 42-47):

• As questões do estudo – conforme visto anteriormente, a forma da questão (o

que, quem, onde, como e por que) oferece importantes pistas para estabelecer a

estratégia de pesquisa a ser utilizada;

• Suas proposições – cada proposição direciona a atenção a alguma coisa que

deveria ser examinada dentro do escopo do estudo. Suponha que uma pesquisa

sobre parcerias tenha sido iniciada. Uma questão que poderia ser construída:

como e por que as organizações estabelecem parcerias para prestar serviços?

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Algumas proposições, contudo, precisam ser estabelecidas. Por exemplo,

organizações estabelecem parcerias porque obtém benefícios mútuos. Esta

proposição, além de refletir uma importante questão teórica (existem outros

benefícios, que não esses, para o estabelecimento de uma parceria?), aponta para

importantes questões de busca de evidências (para definir e conferir a extensão

dos benefícios estabelecidos com a parceria);

• Unidade de análise – relaciona-se com o problema fundamental de se definir o

que é um caso (por exemplo, pessoas: estudantes exemplares, líderes políticos;

organizações: empresas têxteis, setor de compras; ou outros aspectos: programas

de governo, processo de implantação, decisões, etc.). As proposições são

fundamentais para ajudar na identificação de que aspectos precisam ser

levantados sobre cada unidade, de forma que o pesquisador não fique tentado a

coletar todas as informações;

• A lógica que une os dados às proposições – trata-se do prenúncio das atividades

de análise, em que o projeto de pesquisa orienta esta análise. Uma abordagem

bastante interessante e, por isso, utilizada no âmbito deste trabalho, é a ideia da

“adequação ao padrão”, descrita por Campbell (1975) por meio da qual várias

partes da informação do mesmo objeto podem ser relacionadas à mesma

proposição teórica;

• Os critérios para interpretar as constatações – talvez a questão menos

desenvolvida nos estudos de caso por, talvez, se mostrar muito particular à

forma do pesquisador conduzir a pesquisa. Um dos critérios mais utilizados, e

que isenta o pesquisador da opinião pessoal, é a estatística dos dados, mas nem

sempre é possível aplicar regras estatísticas às constatações evidenciadas. Para

Yin (2005), não existe nenhuma maneira precisa de estabelecer os critérios para

interpretação dessas constatações, que não seja o critério estatístico.

Um importante aspecto na etapa de planejamento de estudos de caso é a formulação de

uma teoria preliminar relacionada ao tópico a ser estudado. Em estudos de caso, uma

teoria pode ser reforçada ou questionada, abrindo a possibilidade de reformulação desta

teoria ou mesmo a construção de uma nova teoria, caso os estudos de caso sejam

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generalizáveis. Tais generalizações podem ser estatísticas, onde é feita uma inferência

sobre uma determinada população com base nos dados empíricos coletados de uma

amostra, ou analítica, no qual se utiliza uma teoria previamente desenvolvida como

modelo com o qual se devem comparar os resultados empíricos do estudo de caso.

Uma percepção importante que se deve ter é considerar casos múltiplos como se

consideraria experimentos múltiplos - isto é, seguir a lógica da “replicação”. Por

exemplo, após revelar uma descoberta significativa a partir de um experimento único, o

objetivo imediato da pesquisa seria replicar essa descoberta conduzindo um segundo,

um terceiro, o até mais experimentos. Algumas dessas replicações talvez tenham

tentado duplicar as condições exatas do experimento original. Outras replicações podem

ter alterado uma ou duas condições experimentais consideradas irrelevantes à

descoberta original, para ver se ela ainda poderia ser duplicada. Somente com essas

replicações é que a descoberta original seria considerada robusta e isenta de

interpretações pessoais.

Sob este aspecto, podem existir quatro tipos básicos de projetos de estudo de caso:

holístico e incorporado, caso único ou múltiplos estudos de caso. Esses quatro tipos

podem ser representados na matriz 2 x 2 conforme ilustrado na Figura 10:

CONTEXTO

Caso

CONTEXTO

Caso

Unidade Incorporada de Análise 1

Unidade Incorporada de Análise 2

CONTEXTO CONTEXTO

Caso Caso

CONTEXTO CONTEXTO

Caso Caso

CONTEXTO

CasoUnidade Incorporada de

Anál ise 1

Un idade Incorporada de Anál i se 1

CONTEXTO

CasoUnidade Incorporada de

Anál ise 1

Un idade Incorporada de Anál i se 1

CONTEXTO

CasoUnidade Incorporada de

Anál ise 1

Un idade Incorporada de Anál i se 1

CONTEXTO

CasoUnidade Incorporada de

Anál ise 1

Un idade Incorporada de Anál i se 1

Holístico(Unidade Única

de Análise)

Incorporado(Unidades Múltiplas

de Análise)

Projetos de Caso Único Projetos de Caso Múltiplo

Figura 10: Tipos Básicos de Projetos para Estudos de Caso

Fonte: Yin (2005, p. 61)

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O contexto se dá pela localização do estudo de caso. A unidade incorporada de análise é

o elemento central dentro do estudo de caso que deverá ser profundamente investigado.

Uma distinção básica que deve ser feita ao projetar estudos de caso é entre projetos de

caso único e de casos múltiplos. Algumas lógicas fundamentam os estudos de caso

únicos, como o caso em que ele represente o caso decisivo ao testar uma teoria, caso ele

represente um caso raro, quando ele é um caso revelador, ou quando se trata de um caso

longitudinal no tempo (o mesmo caso é visto sob diversos pontos no tempo).

O mesmo estudo de caso pode envolver mais de uma unidade de análise. Isso ocorre

quando, dentro de um caso único, se dá atenção a uma subunidade ou a várias

subunidades (por exemplo, quando se avalia a implantação de sistemas integrados de

gestão e seus impactos em diferentes unidades organizacionais da empresa).

O projeto holístico é vantajoso quando “não é possível identificar nenhuma subunidade

lógica e quando a teoria em questão subjacente ao estudo de caso é ela própria de

natureza holística” (YIN, 2005, p. 65).

O estudo de caso múltiplo é a condução de diversos estudos de caso, onde a condução

de cada caso permanece única. Contudo, o estudo de caso múltiplo permite a replicação

e a comparação entre os diferentes casos (DUBÉ & PARÉ, 2003; YIN, 2005;

ELLRAM, 1996; EINSENHARDT, 1989).

Projetos de casos múltiplos apresentam vantagens e desvantagens distintas em

comparação aos projetos de caso único. As evidências resultantes de casos múltiplos

“são consideradas mais convincentes, e o estudo global é visto, por conseguinte, como

algo mais robusto” (YIN, 2005, p. 68). Ao mesmo tempo, o fundamento lógico para

projetos de caso único, em geral, não pode ser satisfeita por casos múltiplos. É provável

que o caso raro ou incomum, o caso crítico e o caso revelador envolvam apenas casos

únicos, por definição. A lógica subjacente ao uso de estudos de caso múltiplos é igual.

Cada caso deve ser cuidadosamente selecionado de forma a (YIN, 2005, p. 69):

• Prever resultados semelhantes (uma replicação literal);

• Produzir resultados contrastantes apenas por razões previsíveis (uma replicação

teórica).

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Poucos casos (dois ou três) seriam replicações literais, ao passo que um número maior

de casos (de quatro a seis) podem ser projetados para buscar padrões diferentes de

replicações teóricas. Se todos os casos se mostrarem previsíveis, esses seis a dez casos,

no conjunto, fornecerão uma base convincente para o conjunto inicial de proposições.

Se os casos forem, de alguma forma, contraditórios, as proposições iniciais deverão se

revisadas e testadas novamente com o outro conjunto de casos (YIN, 2005, p. 69).

Os elementos apresentados como base para realização dos estudos de caso serão

utilizados para a condução dos estudos de caso desta tese. O Capítulo 6 apresentará a

forma pela qual o método de estudos de caso foi utilizado na tese, destacando o

protocolo de pesquisa utilizado e os critérios que definiram a escolha da amostra das

empresas a serem estudadas.

Antes disso, porém, uma extensa revisão bibliográfica foi realizada de forma a mapear o

campo de pesquisa contido na teoria organizacional, no que tange especificamente à

gestão da inovação e sistemas de medição de desempenho para P&D. Sob este aspecto,

os dois capítulos seguinte trazem os resultados das revisões bibliográficas relacionadas

à gestão da inovação e indicadores de desempenho, e às propostas de sistemas de

medição de desempenho para inovação, respectivamente.

A revisão bibliográfica do Capítulo 5, contudo, foi estruturada de forma a ser a base

para a identificação de princípios de construção de sistemas de medição de desempenho

para P&D. Neste sentido, além da própria revisão bibliográfica, cada tipo de quadro

conceitual identificado na literatura foi sintetizado e seus princípios de construção

elaborados, de forma a facilitar o trabalho de avaliação da adequação dos conceitos à

realidade das empresas.

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4. Revisão Bibliográfica sobre Gestão da Inovação e Conceitos de Sistemas de Medição de Desempenho

No presente capítulo serão apresentados inicialmente os conceitos e definições sobre

inovação, em especial, a que ocorre nas empresas dentro do contexto da P&D. Além das

definições gerais sobre inovação, este capítulo abordará as questões afetas ao que se

entende por atividades inovadoras e a importância da avaliação de desempenho da

P&D. Em seguida será feita uma revisão da literatura sobre sistemas de medição de

desempenho, no sentido mais amplo da definição dos indicadores de desempenho para

gestão organizacional.

4.1. Conceitos Básicos de Inovação

O conceito de inovação foi amplamente discutido por diferentes autores, sendo alguns

deles dispostos nesta seção.

Primeiramente deve-se diferenciar inovação de outros termos, como imitação e

invenção. A invenção é considerada um ato de descoberta. Se essa descoberta

disponibiliza ao público um novo produto, um novo processo produtivo de um produto

novo ou existente, ou uma melhoria de um produto ou processo, então essa invenção

torna-se uma inovação. Em muitos casos, existe um considerável espaço de tempo entre

os dois, que pode levar até décadas (FAGERBERG, 2005). Esse espaço de tempo se

deve às diferentes questões envolvidas em um processo de invenção e de inovação.

Enquanto o processo de invenção é mais subjetivo, dependente de variáveis nem sempre

tangíveis, como criatividade e geração de ideias, além de não linear e sequencial, o

processo de inovação é mais objetivo, no que tange a sua capacidade de transformação

de uma ideia em um bem comercialmente viável. A invenção pode ocorrer em

diferentes contextos: seja na figura de um empreendedor, seja em uma Universidade,

seja em um Centro de Pesquisa.

A inovação, contudo, exige uma estrutura para que haja condições de comercialização

dos bens e serviços gerados a partir da nova ideia. Geralmente esta estrutura exige uma

combinação de diferentes tipos de conhecimento, capacitações, habilidades e recursos -

por exemplo, para a implantação de um processo produtivo, para criar conhecimento do

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comportamento do mercado alvo, para desenvolver seus meios de distribuição, para

desenvolver capacidade financeira. Assim, em linhas gerais, a inovação, ao contrário da

invenção, exige uma estrutura mais complexa e formal como a existente em uma firma.

O primeiro autor a tratar com maior rigor a questão da inovação nas firmas foi Joseph

A. Schumpeter em 1934 com sua obra “The Theory of Economic Development”. Para

Schumpeter (1961, p. 73), o conceito de inovação engloba cinco possíveis formas de

mudança:

1. A aceitação de um novo bem - ou seja, de um bem com o qual o consumidor não

esteja ainda familiarizado - ou da nova qualidade de um bem;

2. A adoção de um novo método de produção, isto é: aquele ainda não

comprovado pela experiência no ramo da indústria a que está ligado, o qual não

precisa absolutamente basear-se numa descoberta cientificamente recente e pode

também consistir em uma nova maneira de tratar comercialmente uma utilidade;

3. A abertura de novo mercado: um mercado onde ainda não explorado quer este

mercado existisse ou não anteriormente;

4. A conquista de nova fonte de suprimento das matérias-primas ou produtos semi-

industrializados, também sem levar em conta, se esta fonte já existe ou primeiro

precisa ser criada;

5. A mudança na organização de uma indústria, como a criação de uma posição

monopolista ou a interrupção de uma posição de monopólio.

Essas mudanças permanecem como "o impulso fundamental que perpetua e mantém o

sistema capitalista em movimento" (SCHUMPETER, 1961, p. 85). Três fatores foram

considerados importantes para tratar dessas mudanças:

1. O comportamento empreendedor, que é uma forma de comportamento

competitivo que busca novas combinações de elementos gerando a inovação;

2. O fator humano, que é um componente de atividade econômica e por

consequência da inovação;

3. A visão de longo prazo que os indivíduos devem incorporar para que possam

dirigir a desenvolver pequenos e grandes empreendimentos.

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O conceito de inovação está baseado então no processo de descoberta (fruto de

atividades intelectuais, de cunho científico) que levam a invenções (fruto de atividades

tecnológicas, de cunho teórico, que visa uma aplicação prática) e que essas são levadas

a exploração comercial de um novo, ou melhor produto ou processo, com motivações

econômicas (conforme definições 1 e 2 de Schumpeter, 1934).

Importante aqui a ideia de cadeia de atividades da inovação, o que contempla não só o

processo produtivo intraempresa, mas também o relacionamento com mercados e fontes

de suprimento (conforme definições 3 e 4 de Schumpeter, 1934).

Finalmente, a inovação pode ser vista como uma nova forma de se fazer negócio, um

novo empreendimento, que traz implicações não só para a empresa, mas também para o

setor em que tal empresa encontra-se inserida, tal como colocado na definição 5 de

Schumpeter (1934).

Muitos trabalhos são corroborações, desdobramentos e interpretações das ideias de

Schumpeter. Pelas definições contidas no Manual de Oslo (OECD, 2005, p.55)12,

considerado uma importante compilação das principais definições sobre inovação, uma

inovação é “a implementação de um produto (bem ou serviço) novo ou

significativamente melhorado no mercado, ou um processo, ou um novo método de

marketing, ou um novo método organizacional nas práticas de negócios, na organização

do local de trabalho ou nas relações externas.”

Esta definição corrobora as definições 1, 2 e 3 de Schumpeter (1934). A definição 4

(novas fontes de suprimento) é tratada no Manual de Oslo como interações externas das

atividades de inovação de uma empresa. Segundo o Manual (OECD, 2005, p. 27), “cada

interação conecta a firma inovadora com outros atores do sistema de inovação:

laboratórios governamentais, universidades, departamentos de políticas, reguladores,

12 Trata-se de um manual organizado pelos países membros da Comunidade Europeia, em particular pela

OECD (Organization for Economic Co-Operation and Development). O Manual de Oslo, desde sua

primeira versão em 1990, tem o objetivo de orientar e padronizar conceitos, metodologias e construção de

estatísticas e indicadores de pesquisa em inovação de países industrializado. O Manual se tornou

referência para várias pesquisas que examinaram a natureza e os impactos da inovação no setor

comercial, tais como o European Community Innovation Survey (CIS), citada no presente documento.

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competidores, fornecedores e consumidores”. Porter (1990) corrobora a definição 4 de

Schumpeter (1934), expandindo o escopo da inovação para novas formas de

comercialização e distribuição, o que resulta em geração de aprendizado das

organizações.

A única novidade contida na definição do Manual de Oslo é a consideração de novo

método organizacional nas práticas de negócios: talvez essa definição possa ser vista na

definição 2 de Schumpeter, considerando que novos métodos organizacionais

impliquem em novos processos e métodos de produção13.

Uma das conclusões mais importantes dessas definições é que a geração de aprendizado

oriundo das atividades de inovação extrapola os limites contemplados pelas atribuições

da área de P&D, tipicamente, “centro nervoso” da condução de tais atividades. Tal

conceito é compartilhado no Manual de Frascati (OECD, 2002)14, onde atividades

relacionadas à pesquisa científica, desenvolvimento tecnológico, organizacional,

financeiro e comercial são consideradas fontes de inovação (e no departamento de P&D

estão contempladas algumas dessas atividades).

Alguns estudos complementaram a teoria construída por Schumpeter. Drucker (1986, p.

25), assim como Schumpeter em suas primeiras obras, direciona o conceito de inovação

para o empreendedorismo, afirmando que se trata do “meio pelo qual eles exploram a

mudança como uma oportunidade para um negócio ou serviço diferente”. O

comportamento empreendedor deve ser, pois, característico não apenas de

13 Um exemplo clássico que ilustra a relação da inovação de processos com métodos

organizacionais é o Sistema Toyota de Produção, que trouxe mudanças significativas ao Sistema de

Produção em Massa. Tais mudanças ocorreram não só em relação aos processos produtivos (por exemplo,

na diminuição dos tamanhos de lotes, na multifuncionalidade das estações de trabalho, na forma de

programar produção e inspecionar produtos), mas também na forma de organização do Sistema Produtivo

e da empresa como um todo (por exemplo, com a formação de times autônomos e na descentralização da

tomada de decisão). Aliás, neste caso específico, não seria viável a inovação dos processos produtivos

sem ocorrer mudanças na forma da organização e gestão da produção.

14 Trata-se de um manual organizado pelos países membros da Comunidade Europeia, em

particular pela OECD (Organization for Economic Co-Operation and Development). Elaborado em sua

primeira versão em 1963 em Frascati, Itália, o manual trouxe uma primeira versão de práticas propostas

para survey em pesquisa e desenvolvimento das organizações.

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pesquisadores ou acadêmicos, de forma isolada, mas também de organizações que

buscam vantagens no seu ambiente competitivo.

Tether (2003) traz algumas orientações que buscam melhorar o entendimento do que é

inovação. Embora reconheça que a definição do termo não seja absoluta, havendo

sempre a necessidade de julgamento caso a caso, Tether (2003) destaca algumas

questões que caracterizam a inovação:

• A necessidade de estabelecer distinções entre inovação como realizações e o

impacto (ou consequência) destas realizações. Casos onde há consequências não

intencionadas não devem ser classificados como inovações;

• A necessidade de se dar ênfase na decomposição hierárquica de sistemas

tecnológicos. Deve se dar atenção aos casos onde os sistemas não são facilmente

decompostos, onde seus subsistemas estão intrinsecamente relacionados. A

inovação pode ocorrer em diferentes níveis de sistema, e ela pode ser

considerada radical quando há melhoria no nível acima em que se deu a

inovação. Assim, um novo material componente de uma turbina de avião pode

ser considerado uma solução revolucionária para um problema específico, mas

para o ‘sistema’ avião pode ser considerado uma melhoria incremental;

• A necessidade de estabelecer distinções entre inovação e melhoria por adoção de

tecnologia, destacando o envolvimento de um processo de aprendizado e

adaptação. Schmmookler (1966) diferencia a inovação da mudança técnica, a

partir do timming das mudanças. Quando uma empresa produz um bem ou

serviço ou usa um método ou recursos novos, ela faz uma mudança técnica. A

primeira empresa que procede a mudança técnica é inovadora;

• A necessidade de tratar a inovação como uma questão multidimensional, onde a

novidade conceitual, incertezas tecnológicas e de mercado, e aprendizado e

adaptação são dimensões chave para se entender inovação;

• Finalmente, a necessidade de tratar a inovação como um processo, em um

conjunto de comportamentos e práticas voltadas para lidar com as novidades.

Pesquisa, desenvolvimento e inovação podem ser vistos, portanto, a partir de um

conjunto sistemático de processos, que lidam com a capacidade de aprender e

adaptar.

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Pinto (2004, p.12-13) estabelece alguns elementos que complementam as definições de

inovação feitas por Schumpeter (1934) e que auxiliam a compreensão do processo de

inovação contemporâneo:

• A inovação pressupõe incerteza, uma vez que os resultados do esforço inovador

dificilmente podem ser conhecidos de antemão. Tal incerteza não envolve

apenas a falta de informação relevante sobre a ocorrência de eventos conhecidos,

mas, fundamentalmente, envolve a existência de problemas técnico-econômicos,

cuja solução é desconhecida, bem como a impossibilidade de prever

consequências para ações;

• As novas oportunidades tecnológicas estão cada vez mais se baseando nos

avanços obtidos pelo conhecimento científico, principalmente a partir deste

século (da termodinâmica à biologia eletricidade, física quântica, mecânica,

etc.);

• O aumento da complexidade envolvendo as atividades de inovação tem

favorecido a organização formalizada (laboratórios de P&D em empresas,

universidades, institutos governamentais etc.) em oposição ao "inovador

individual". Como consequência, obtém-se uma maior integração entre os

diversos agentes envolvidos no processo;

• Uma significante gama de inovações tem se originado por meio do learning-by-

doing e learning-by-using. Pessoas e organizações, principalmente empresas,

podem aprender como usar, melhorar ou produzir coisas por meio de atividades

informais, tais como reuniões com clientes, solução de problemas práticos,

redução de gargalos na produção etc;

• A mudança tecnológica não pode ser descrita simplesmente como uma reação às

mudanças nas condições de mercado. Ela é mais uma função da experiência

tecnológica obtida pelas empresas, organizações e até mesmo países. Em outras

palavras, a inovação tecnológica é uma atividade cumulativa.

Andreassi (1999) destaca que a incorporação do fenômeno da mudança tecnológica

explica como a produção das atividades técnico-científicas é incorporada ao processo

produtivo. A mudança tecnológica e seus efeitos no mercado devem ser entendidos

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como sendo mutuamente interativas em que cada qual afeta e é afetado pela outra e na

qual a inovação é uma escolha não inteiramente conhecida, podendo dar certo ou não.

Neste ambiente de incerteza e diversidade, as empresas lançam mão de suas rotinas ou

"trajetórias naturais". Tais rotinas são, na verdade, as técnicas de produção, os

procedimentos para escolha de insumos e produtos, as regras de preço, as políticas de

P&D e outras atividades da empresa. As empresas que possuírem as melhores rotinas

frente a seu ambiente tenderão a prosperar e a crescer mais que as demais. Sob este

aspecto, é importante entender a questão da inovação sob o ponto de vista das empresas.

O Manual de Oslo posiciona a discussão sobre inovação da empresa em uma

perspectiva de sistema de inovação. Tais sistemas contemplam elementos que estão

além da estrutura empresarial. A Figura 11 sintetiza esses elementos

Infraestrutura e estrutura institucional

Outras empresas

Políticas de inovação

Demanda

Educação e sistema público

de pesquisa

A empresa

Inovações de produto

Inovações de marketing

Inovações de processo

Inovações organizacionais

Figura 11: Elementos que Constituem o Sistema Nacional de Inovação

Fonte: OECD (2005, p.45)

Resumidamente, os elementos que constituem o sistema de inovação são (OECD, 2005,

p.45):

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• O sistema educacional básico para a população em geral, que determina padrões

educacionais mínimos na força de trabalho e o mercado consumidor doméstico;

• O sistema universitário;

• O sistema de treinamento técnico especializado;

• A base de ciência e pesquisa;

• Os reservatórios públicos de conhecimento codificado, tais como publicações,

ambiente técnico e padrões de gerenciamento;

• Políticas de inovação e outras políticas governamentais que influenciam a

inovação realizada pelas empresas;

• Ambiente legislativo e macroeconômico como lei de patentes, taxação, regras de

governança corporativa e políticas relacionadas a taxas de lucro e de câmbio,

tarifas e competição;

• Instituições financeiras que determinam, por exemplo, a facilidade de acesso ao

capital de risco;

• Facilidade de acesso ao mercado, incluindo possibilidades para o

estabelecimento de relações próximas com os consumidores, assim como

assuntos como o tamanho e a facilidade de acesso;

• Estrutura industrial e ambiente competitivo, incluindo a existência de empresas

fornecedoras em setores complementares.

Elementos pormenorizados sobre o sistema de inovação não serão tratados no âmbito

deste trabalho, mas podem ser encontrados em Freeman (1984) e Nelson (1993).

Importante destacar que neste trabalho o enfoque será dado na inovação que ocorre

dentro das organizações, em especial, no âmbito das suas atividades de P&D. As seções

seguintes abordarão esses conceitos.

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4.1.1. A Inovação sob o Aspecto Empresarial

Para Lazonick (2005) a inovação deve ser analisada sob “condições sociais” de

“experiências comparativas e históricas” (p. 30). Tais condições sociais se baseiam em

três atividades centrais presentes na inovação: estratégia (strategy), financiamento

(financing) e estrutura (organizing). Firmas fazem estratégia quando elas escolhem o

produto e o mercado nos quais elas irão competir, e as tecnologias com as quais elas

escolhem para serem competitivas em um determinado instante do tempo. Firmas fazem

investimentos para transformar tecnologia e acessar mercados que gerarão receitas no

futuro, ou seja, para traçar sua trajetória tecnológica. Firmas se organizam quando elas

querem combinar recursos na tentativa de transformá-los em produtos comercializáveis,

determinando a estrutura de incentivos que caracterizará o processo organizacional que

transformará capacitações individuais em um processo de aprendizado coletivo.

Este último aspecto pode ser caracterizado como um processo típico de inovação, que

segundo Tidd et al. (2005), pode ser descrito conforme Figura 12:

Implementação

Pesquisa Seleção Aquisição Execução Lançamento Sustentação

Aprendizado

Figura 12: Processo Típico de Inovação nas Organizações.

Fonte: adaptado de Tidd et al. (2005, p. 68)

• Pesquisa: monitoramento do ambiente (externo e interno) de forma a detectar

oportunidades (e ameaças) para mudanças;

• Seleção: decisão, a partir da orientação estratégica da empresa, quais dos sinais

detectados no monitoramento que indicam oportunidades (e ameaças) serão

considerados e desdobrados em ações;

• Implementação: transformação de uma ideia em algo novo a ser lançado no

mercado. A implementação exige:

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o Aquisições de recursos (conhecimento, tecnologia) habilitadores de

inovação;

o Execução do projeto sob condições de incerteza, o que exige contínuas

avaliações de andamento e risco do projeto;

o Lançamento do produto/ serviço e gerenciamento do processo que

sustenta tal produto/ serviço;

o Sustentação do sucesso do produto/ serviço ou revisando a sua ideia

central para modificá-lo (re-inovação)

• Aprendizado: onde as empresas devem ter capacidade de aprender com o ciclo

desde a geração de ideias até o lançamento e sustentação do produto/ serviço no

mercado, sendo hábil a construir sua base de recursos e melhorar seus processos

de inovação

Este modelo típico de processo de inovação é mais claro e facilmente entendido para

inovações de produto e processo do que para os demais tipos de inovação. Sob este

aspecto, Abernathy e Utterback (1975) desenvolveram um modelo que contempla três

fases típicas de uma inovação em produto e processo. Na Figura 13 é ilustrado como se

dá o esforço em cada uma dessas fases.

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Esforço para Inovação

Tempo

Inovação de Produto

Inovação de Processo

Figura 13: A Dinâmica Evolutiva na Inovação de Produto e Processo.

Fonte: adaptado de Abernathy e Utterback (1975, p.633)

Inicialmente, sob condições de incerteza e risco de insucesso elevado, há uma fase

fluida, onde inúmeras ideias são discutidas em meio acadêmico e empresarial, mas

ainda se encontram em baixo grau de maturidade em termos de produto/ serviço a ser

definido, qual o público alvo, e como o conhecimento tecnológico disponível irá ser

usado para criar e difundir este novo produto/ serviço. Geralmente esta fase está

associada ao processo de pesquisa.

Gradualmente, experimentos são feitos e começa-se a convergir para um contexto

denominado “design dominante” (ABERNATHY e UTTERBACK, 1975, p. 634). As

“regras do jogo” começam a se delinear, com a conformação da solução mais adequada

(não necessariamente a mais sofisticada) emergindo e estreitando cada vez mais as

possibilidades de solução. Trata-se da fase de transição, onde há apontamentos para a

solução dominante de um mercado. Esforços passam a ser orientados para adequação da

solução ao mercado, onde a inovação incremental passa a ser dominante neste processo.

Geralmente esta fase está associada ao processo de seleção.

As características chave da solução dominante são refinadas e melhoradas, de forma a

se tornar atraente e cada vez mais competitiva no mercado, onde são pensadas soluções

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específicas para cada tipo de público-alvo, dentro de um escopo já definido de padrão

de solução. É a fase da especificação onde a competição se dá sobre a capacidade de se

ofertar a solução de forma mais eficiente ao mercado. Trata-se, pois, da melhor forma

do processo de implementação.

O processo de aprendizado está relacionado a como as organizações lidam com os

diferentes ciclos de inovação de produto e processo no tempo, reconhecendo o momento

certo de iniciar e abandonar uma iniciativa estratégica. Sob este aspecto, organizações

inovadoras são diferentes de organizações otimizadoras.

Organizações otimizadoras buscam otimizar o lucro, considerando o emprego de

recursos a partir de um conjunto de restrições tecnológicas e de mercado. Uma

organização inovadora, ao contrário, busca gerar produtos/ serviços de maior qualidade,

a custos menores, e diferenciar-se no ambiente competitivo, transformando as condições

tecnológicas e mercadológicas, que as organizações otimizadoras consideram como

restrição (KUMPE E BOLWIJN, 1994). Este aspecto encontra-se relacionado ao

conceito de destruição criativa de Schumpeter (1961), onde modos existentes de

negócio são “destruídos” quando um modo novo emerge de um processo de inovação.

Uma empresa inovadora não é aquela que somente introduz um novo produto, mas

aquela que está engajada em práticas voltadas para aumentar a capacidade de novas

descobertas, melhores produtos e melhores processos. Essas são características de

firmas que possuem “dynamic capabilities” (Teece et al., 1997), ou seja, aquelas

capacitações chave que permitem a geração sistematizada de melhorias de suas rotinas

operacionais, objetivando o alcance da melhoria de sua efetividade. É, portanto, a

habilidade da firma aprender a melhorar.

Assim a inovação só estará presente se houver aprendizado em como comprometer

recursos para desenvolver tecnologias que apoiem a geração de receitas pela conquista

de mercados atrativos. O aprendizado é uma atividade social que faz um processo de

inovação ser incerto, cumulativo e coletivo (LAZONICK, 2005). Incerto, pois o que

precisa ser aprendido de forma a transformar tecnologia e acessar mercados só pode ser

conhecido durante o processo. Cumulativo, pois o aprendizado não acontece em um

único momento: o que é aprendido hoje se torna fundamento para o que será aprendido

adiante. Coletivo, pois não se pode aprender sozinho: o aprendizado deve envolver

diferentes pessoas, com diferentes capacitações.

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Voltando ao modelo de processo típico de inovação, importante observar que tal modelo

não ocorre de forma linear e sequencial. Na verdade, o entendimento do modelo de

processo de inovação vem sendo desenvolvido ao longo dos anos e foi classificado de

acordo com as gerações aos quais pertence. As primeiras gerações tratam de modelos

simples de processo, por representarem lógicas simples de inovação – baseadas,

fundamentalmente, nas atividades básicas de setores de P&D. As gerações posteriores

identificadas tratam de modelos mais complexos, que buscam abordar as diferentes

perspectivas da inovação. Rothwell (1994) apresenta cinco gerações de percepções da

inovação:

• “O modelo technology-push constitui o modelo de 1ª geração de inovação que

vigorou fortemente entre as décadas de 1950 e 1960. A partir do potencial

tecnológico não plenamente explorado do pós-guerra mundial, a administração

de P&D nas empresas era centralizada, dispunha de recursos ilimitados e

mantinha pouca ligação com unidades de negócio. Dentro desse contexto, o

processo de inovação, em seu sentido mais amplo, tinha seu desenvolvimento

obedecendo a uma sequencia linear, com ênfase dada em P&D, onde o mercado

era um elemento secundário deste processo, recebendo passivamente os

resultados alcançados pelas inovações das empresas;

• O modelo market-pull constituiu o modelo de 2ª geração de inovação que

vigorou fortemente entre as décadas de 1960 e 1970. Tendo em vista as pressões

advindas das restrições de recursos, popularização de tecnologias e aumento da

competitividade empresarial, a administração de P&D dentro das empresas

tendeu à descentralização. O importante era atender às necessidades comerciais

das unidades de negócio e de atuar por meio de projetos, avaliados

quantitativamente em termos de seus benefícios/custos, mas com evidentes

dificuldades em estabelecer prioridades estratégicas entre projetos, entre

unidades de negócio e de P&D, e da corporação como um todo. O

correspondente processo de inovação obedecia a uma sequencia linear, mas

agora no sentido inverso: a ênfase passou a ser dada ao mercado, e a P&D

assumiu um papel reativo às demandas do mercado;

• O modelo de 3ª geração de inovação vigorou fortemente entre as décadas de

1970 e 1980. A administração de P&D passou a ser intencional e

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estrategicamente orientada, na qual se fundem os modelos de oferta de P&D e de

demanda de P&D. O portfólio de projetos de P&D é estabelecido e as

prioridades dadas em função dos objetivos estratégicos da corporação. Tais

projetos de P&D realizam-se em parceria com as unidades de negócio, têm

caráter multidisciplinar e contribuem para identificar oportunidades tecnológicas

em negócios atuais e/ou perspectivos. Nesta situação, o correspondente processo

de inovação, embora ainda sequencial, passa a dispor de mecanismos de

retroalimentação entre a P&D (oferta) e o mercado (demanda);

• O modelo de 4ª geração de inovação vigorou fortemente entre as décadas de

1980 e 1990, e corresponderia a um processo de inovação dentro de um “modelo

integrado”, no qual são mantidas equipes de P&D trabalhando simultaneamente,

mas de forma integrada. Diferencia-se do anterior, na medida em que estabelece

ligações com fornecedores primários bem específicos, mantém colaboração

horizontal (como “joint ventures” e alianças estratégicas) e atende a clientelas

diferenciadas no mercado. O pressuposto de um modelo de P&D linearmente

sequencial, com origens nos avanços científicos em direção de tecnologias

(oferta) e destas para produção de bens e serviços, em atendimento às

necessidades de mercados consumidores (demanda) ou, no sentido oposto, perde

seu tradicional significado. Configura-se como um modelo de P&D sistêmico,

com interações simultâneas entre componentes e estrategicamente delineadas;

• O modelo de 5ª geração de inovação que passou a vigorar a partir da década de

1990 e seria um modelo de sistemas integrados e em rede (“networking”), com

as seguintes características: tendência de equipes paralelas de P&D trabalharem

integradas; uso de sistemas especialistas e modelos de simulação de P&D;

integração cooperativa, tanto as com fornecedores primários (a montante) como

as no sentido horizontal (“joint ventures” e grupos colaborativos de pesquisa) e

as situadas na comercialização de produtos inovadores (a jusante)”.

A Figura 14 sintetiza as características das cinco gerações de inovação.

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Geração da P&D

Comportamento daEmpresa

Práticas Gerenciais Típicas

Laboratório de P&Dcorporativo

Desenvolvimento de Unidades de Negócios

Projetos de P&D

Projetos interdisciplinares

Alianças entre empresas

- Envolvimento de redes de empresas- Foco na integração de sistemas- Separação e Inter-relacionamento P e D

-Atividades em paralelo- Envolvimento de fornecedores e principais clientes- Integração P&D e manufatura

- Estrutura de processos de P&D-Avaliação de estratégias tecnológicas de longo prazo- Integração P&D e marketing

-Apontamento de clientes internos- Ideias geradas pelo mercado

- Estímulo ao avanço científico- Escolha da localização após competências

Figura 14: Síntese das Cinco Gerações de P&D, o Comportamento das Organizações e as suas

Principais Características Gerenciais.

Fonte: Nobelius (2004, p. 372)

Nobelius (2004) sugere a existência de uma 6ª geração de inovação, uma geração que

enxerga a pesquisa como parte de uma rede multitecnológica de livre acesso. As bases

para esta nova geração de inovação é a disponibilidade de uma ampla gama de bases

multitecnológicas e uma estrutura mais distribuída de diferentes fontes de tecnologia.

Este tipo de inovação foi identificado pelo autor no desenvolvimento da tecnologia

Bluetooth na Ericsson, que se deu livre de impedimentos travados pelos segredos

industriais a partir do esforço de mais de mil empresas para trazer tal tecnologia para o

mercado.

Cabe agora destacar o que se entende por atividades contempladas em um processo de

inovação, o que nem sempre é claro para os gestores das organizações. Um esforço

considerável foi feito por órgãos internacionais, como a OECD, no sentido de

padronizar alguns conceitos para que a inovação pudesse ser estudada, analisada e

comparada não só no nível empresarial, mas também no nível regional ou nacional.

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4.1.2. Atividades Inovadoras

Um dos conceitos mais importantes desenvolvidos no Manual de Oslo (OECD, 2005) e

no Manual de Frascati (OECD, 2002) é o que pode ser considerado uma atividade

inovadora. Atividades inovadoras em geral são “atividades representativas dos esforços

das empresas voltados para a melhoria do seu acervo tecnológico e, consequentemente,

para o desenvolvimento e implementação de produtos ou processos tecnologicamente

novos ou significativamente aprimorados” (OECD, 2002, p. 18). Importante detalhar as

atividades inovadoras que são tipicamente características da P&D.

Atividades Inovadoras da P&D

Segundo o Manual de Frascati, a pesquisa e o desenvolvimento experimental

compreendem o trabalho criativo realizado de forma sistemática com o objetivo de

aumentar o estoque de conhecimentos, incluindo os conhecimentos do homem, da

cultura e da sociedade, e o uso desse estoque de conhecimentos para antever novas

aplicações (OECD, 2002, p. 30).

No Manual de Frascati (OECD, 2002) estão estabelecidos critérios bastante detalhados

para a distinção das atividades de inovação baseadas em P&D das atividades não

baseadas em P&D. Em termos gerais, quando há a presença de um elemento de

novidade considerável, cujo tratamento a ser dado a este elemento é dotado de

considerável incerteza de cunho científico e/ou tecnológico, ou seja, quando a solução

para um problema não está prontamente disponível na base de conhecimentos e técnicas

existentes, há fortes evidências que as atividades desenvolvidas sejam de natureza de

P&D15.

No Manual de Oslo há uma síntese das atividades consideradas típicas da P&D e as

consideradas externas à P&D (OECD 2005, p. 44-45):

15 O texto original foi adaptado pelo autor de forma a tornar o entendimento do critério mais

inteligível: “The basic criterion for distinguishing R&D from related activities is the presence in R&D of

an appreciable element of novelty and the resolution of scientific and/or technological uncertainty, i.e.

when the solution to a problem is not readily apparent to someone familiar with the basic stock of

common knowledge and techniques for the area concerned” Manual de Frascati (OECD, 2002, p. 24)

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1) Atividades típicas da P&D:

a) Pesquisa básica ou aplicada para adquirir novos conhecimentos e em

desenvolvimentos em busca de invenções específicas ou modificações de

técnicas já existentes;

i) A pesquisa básica é o trabalho experimental ou teórico realizado para

adquirir novos conhecimentos sobre fenômenos e fatos observáveis, ainda

pouco conhecidos, sem qualquer aplicação particular à vista;

ii) A pesquisa aplicada também é uma investigação realizada para adquirir

novos conhecimentos, mas é dirigida para um objetivo específico;

iii) O desenvolvimento é o trabalho sistemático, que se apropria de

conhecimentos novos adquiridos de forma a produzir novos materiais,

produtos ou dispositivos, para implantar processos novos, sistemas e

serviços, ou para melhorar substancialmente esses elementos caso já tenham

sido produzidos ou implantados. (OECD, 2002, p. 30).

b) Novos conceitos de produtos ou processos ou outros métodos novos para estimar

se eles são factíveis e viáveis, um estágio que pode compreender:

i) Desenvolvimento e teste; e

ii) Pesquisas adicionais para modificar desenhos ou funções técnicas.

2) Outras atividades de inovação (tipicamente não P&D):

a) Identificação novos conceitos para produtos, processos, métodos de marketing

ou mudanças organizacionais:

i) Via marketing e relações com os usuários;

ii) Via identificação de oportunidades para comercialização, resultante seja de

sua própria pesquisa básica ou estratégica, seja da pesquisa realizada por

outras empresas;

iii) Via suas capacidades de concepção e desenvolvimento de produtos;

iv) Pelo monitoramento dos competidores; e

v) Pela utilização de consultores;

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b) Compra de informações técnicas, pagando taxas ou royalties por invenções

patenteadas (que normalmente exigem trabalho de pesquisa e desenvolvimento

para adaptar e modificar a invenção de acordo com suas próprias necessidades),

ou comprar experiência e know-how por meio de engenharia, design ou outros

serviços de consultoria;

c) Desenvolvimento de habilidades humanas por meio de treinamento interno ou

compradas (pela contratação); o aprendizado tácito e informal – “learning by

doing” – pode também estar incluído;

d) Investimento em equipamentos, softwares ou insumos intermediários que

incorporam o trabalho inovador de outros;

e) Reorganização dos sistemas de gerenciamento e todas as suas atividades de

negócios;

f) Desenvolvimento de novos métodos de marketing e venda de seus produtos e

serviços.

As atividades de P&D são caracterizadas como investimentos capazes de render

retornos no futuro e esses retornos frequentemente vão além da inovação específica para

a qual a atividade se direciona. Por exemplo, os investimentos em P&D e o treinamento

ligado à inovação são muitas vezes de uso amplo, permitindo sua aplicação em outras

tarefas. A P&D é apenas uma etapa no processo de inovação. Ademais, muitas empresas

podem possuir atividades de inovação sem uma área de P&D estruturada.

No âmbito deste trabalho, serão considerados aspectos relacionados à necessidade de

avaliação de desempenho da P&D. Desta forma, um dos aspectos centrais que precisou

ser melhor entendido é o papel que a área de Pesquisa e Desenvolvimento possui no

desenvolvimento tecnológico, que leva as organizações a inovarem. A P&D, pois, não é

a única fonte geradora de tecnologia empresarial, já que a engenharia industrial, o

design, a engenharia reversa e a imitação podem ser conduzidos fora da área de P&D,

por exemplo no Marketing ou na área Industrial. Sob este aspecto, serão considerados

elementos do que Kerssens-van Drongelen e Bilderbeek (1999) denominaram de função

P&D.

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O objetivo da função de P&D é iniciar, coordenar e acompanhar atividades relacionadas

ao processo de desenvolvimento de produto e de desenvolvimento tecnológico de uma

organização. A partir desta definição, a função de P&D precisa contribuir com a

estratégia da organização e tal contribuição deve se dar independente de existir ou não

um departamento de P&D: por exemplo, compra de licenças e desenvolvimentos

tecnológicos externos podem ser feitos sem uma área específica de P&D16. Entretanto, o

que se observa na prática é que todas as médias e grandes empresas possuem

departamento específico de P&D para apoiar sua função de P&D.

Resumindo, a P&D desempenha um importante papel para a inovação das empresas.

Alguns estudos indicam uma relação significativa entre inovação e atividades de P&D

(por exemplo, Baldwin e Johnson, 1996; e Koen e Kohli, 1998). Ou seja, um pré-

requisito para a capacidade de inovação de uma organização é sua excelência das

atividades de P&D (Lowe 1995). A P&D pode, no entanto, ser um direcionador de

várias trajetórias estratégicas de uma organização: pode ser usado como uma estratégia

ofensiva de uma empresa contra seus competidores, como melhorar desempenho de um

produto e atrair, consequentemente novos clientes, desenvolvendo novos mercados, etc.

(Lowe 1995). Sob este aspecto, é fundamental que a organização esteja preparada para

gerir seu processo de inovação, em especial, suas atividades de P&D. Um dos aspectos

mais importantes de gestão da P&D é a avaliação do seu desempenho, que será

destacado na seção a seguir.

Por que Avaliar Desempenho da P&D

A avaliação é um importante instrumento para fortalecer o elo existente entre a

estratégia da organização e o esforço de P&D. Para Viotti (2003, p. 53), a “adequada e

oportuna definição, atualização e condução da estratégia competitiva das empresas

depende da existência de informações sobre a situação tecnológica das demais empresas

de seu setor ou da cadeia produtiva no país ou no exterior. Ademais, a própria

16 Sob este aspecto, sempre que for mencionado o termo “P&D” no presente trabalho, a ideia

refere-se à função de P&D, e não só o departamento. Quando o departamento de P&D precisar ser

mencionado, isto será evidenciado.

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habilidade para coletar, processar e assimilar informações tecnológicas e econômicas

tem sido identificada como uma característica básica das empresas inovadoras”.

Referindo-se especificamente a projetos de P&D, Vasconcelos e Ohayon (1988)

apontam numerosas vantagens que justificam uma avaliação formal. Em primeiro lugar,

a avaliação permite identificar se (e por quê) os objetivos dos projetos de P&D foram ou

não atingidos. Em segundo lugar, o processo de avaliação cria uma base de aprendizado

com registro de boas e más experiências, constituindo uma fonte de informação

relevante para futuros projetos. Em terceiro, o desempenho tende a melhorar quando

existe um sistema de avaliação e quando as pessoas sabem que os resultados de suas

atividades serão apreciados. Em quarto lugar, os procedimentos de avaliação tendem a

aumentar o nível de definição dos objetivos da organização e das metas assinaladas aos

projetos. Finalmente, as informações obtidas pela avaliação das atividades de P&D

serão úteis para a reorientação da estratégia tecnológica da empresa.

Assim, a disponibilidade de um bom sistema de indicadores é vital para que seja

possível expandir e sofisticar a compreensão dos processos de produção, difusão e uso

de conhecimentos científicos, tecnologias e inovações. Entretanto, como a própria

definição de atividades de P&D relaciona-as a questões repletas de consideráveis níveis

de novidade e incerteza, torna-se difícil, se não impossível, avaliar atributos por meio de

medidas e técnicas e, portanto, o grau de inovação contida em uma atividade de P&D

(PINTO, 2004). Para Andreassi (1999), não há consenso (na literatura) sobre quais

variáveis devam ser incluídas para explicar o esforço inovador, a natureza da inter-

relação entre as variáveis, e nem sobre a mensuração empírica mais adequada.

Entretanto, é importante que se conheça os principais conceitos envolvidos em projetos

de sistemas de medição de desempenho, que possam ser incorporados no âmbito da

P&D. Na próxima seção esses conceitos serão apresentados.

4.2. Sistemas de Medição de Desempenho Empresariais

Nesta seção, serão apresentados os conceitos de sistemas de medição de desempenho

empresariais, as questões centrais que nortearam o desenvolvimento de projetos desses

sistemas de medição, frente à incapacidade das ferramentas tradicionais apoiarem a

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tomada de decisão gerencial e as etapas típicas de um projeto de sistema de medição de

desempenho.

4.2.1. Conceitos Básicos

A definição formal de sistemas de medição de desempenho passa por um entendimento

do que seja medidas de desempenho (ou indicadores de desempenho)17. Entende-se por

indicador de desempenho, segundo Franceschini et al. (2007, p. 7), “a informação

qualitativa e/ou quantitativa de um fenômeno (ou um processo, ou um resultado), que

torna possível a avaliação de sua evolução no tempo e se os objetivos estão sendo

alcançados, orientando ações e decisões”.

Em um ambiente complexo, faz sentido pensarmos em um conjunto de medidas de

desempenho que devem estar organizadas de forma articulada e equilibrada visando não

apenas explicitar se os objetivos vêm sendo cumpridos, mas também os meios pelos

quais tais objetivos serão cumpridos. Assim temos que as medidas de desempenho não

devem estar dispersas em uma organização, mas estruturadas e organizadas,

constituindo assim a necessidade de um sistema de medição de desempenho. Um

sistema de medição de desempenho “permite que as decisões e ações sejam tomadas

com base em informações porque ele quantifica a eficiência e a eficácia das ações

passadas por meio da coleta, compilação, classificação, análise, interpretação e

disseminação de dados adequados” (Neely, 1998, p.5).

Kaydos (1991) identificou alguns elementos que tornam o sistema de medição de

desempenho um importante instrumento de gestão organizacional:

• Capacidade de comunicação – os sistemas de medição de desempenho são

capazes de facilitar o processo de comunicação da estratégia e valores, alinhando

o entendimento de todos os funcionários de uma organização;

17 Não foram encontrados na literatura elementos convincentes que diferenciam de fato as

“medidas de desempenho” dos “indicadores de desempenho”. Para fins de simplificação neste trabalho

serão usados os termos “sistemas de medição de desempenho” para caracterizar o sistema como um todo,

e “indicadores de desempenho”, para caracterizar o indicador em si.

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• Entendimento dos processos – os sistemas de medição de desempenho permitem

o alinhamento entre resultados dos preocessos e metas estratégicas (questões de

eficiência e eficácia), facilitando o alinhamento entre estratégia e operações;

• Identificação de melhorias – os sistemas de medição de desempenho permitem

um processo de melhoria contínua a partir da identificação dos problemas e

apontamento onde as melhorias tornam-se necessárias (questões de análise e

melhoria de processos);

• Envolvimento das pessoas – os sistemas de medição de desempenho facilitam a

delegação de responsabilidades das pessoas nas diversas atividades,

influenciando comportamentos e, inclusive, podendo fazer parte ativa da

remuneração funcional.

Ghalayini e Noble (1996) identificam duas grandes fases de utilização dos sistemas de

medição de desempenho. A primeira fase se inicia no final do século XIX e se

caracteriza pela ênfase na eficiência do processo produtivo e nos resultados desta

eficiência, ou seja, a lucratividade e o retorno sobre investimento. Destacam-se nesta

fase dois trabalhos que, embora elaborados com diferentes objetivos, influenciaram

fortemente os sistemas de medição de desempenho dali em diante: a Pyramid of

Financial Ratios, desenvolvida pela família DuPont, que deu origem a contabilidade

tradicional empregada nas organizações até hoje (CHANDLER A. D, 1977); e os

Princípios da Administração Científica desenvolvidos por Frederick Taylor,

caracterizado pela medição de desempenho das atividades operacionais, de forma a

facilitar o processo de divisão e distribuição do trabalho pelos trabalhadores, marcando

fortemente a era das organizações orientadas para a eficiência (TAYLOR, 1990).

Variantes desses dois sistemas de medição – o da contabilidade tradicional orientado

para os resultados financeiros e o da produtividade, orientado ao processo produtivo –

foram utilizados ao longo do século XX, até meados dos anos de 1970, quando se

tornaram incapazes de fornecer subsídios para tomada de decisão em ambientes mais

complexos.

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4.2.2. A Ineficiência do Sistema de Medição de Desempenho Tradicional Frente às Necessidades das Organizações

Diversos autores apontaram para a ineficiência dos sistemas tradicionais de desempenho

frente a sua capacidade de apoiar o processo de tomada de decisão em um novo

ambiente competitivo.

Johnson e Kaplan (1987) identificou a perda do foco estratégico pela orientação a

otimizações locais, voltadas mais para a estabilidade de ações previstas nos planos

estratégicos e menos para melhorias de âmbito global das organizações.

Hayes e Abernathy (1980) mostraram o problema da excessiva orientação financeira no

curto prazo, apontando como esta a principal causa da perda de competitividade global

das organizações norte americanas. Banks e Wheelwright (1979), e Hayes e Garvin

(1982), corroboraram a orientação dos sistemas de medição de desempenho tradicionais

para questões de curto prazo, em detrimento de aspectos orientados para o longo prazo.

Richardson e Gordon (1980) expressaram a inadequação desses sistemas de medição de

desempenho para apoio a gestão. Em estudo realizado em empresas canadenses em

1978, Richardson e Gordon (1980) destacam uma empresa da indústria eletrônica na

qual os autores verificaram que a forte ênfase na eficiência no uso dos recursos e na

redução de custos dificultava a introdução de novos produtos, o que era vital para a

sobrevivência da empresa no longo prazo.

Um dos trabalhos mais importantes da literatura foi elaborado por Johnson e Kaplan

(1987) que apontam a perda da relevância dos sistemas de contabilidade gerencial,

devido a questões relacionadas à imprecisão e desatualização na provisão de

informações realmente importantes para tomada de decisão, às falhas na alocação de

custos aos produtos finais (segundo os autores, feito a partir de critérios simplistas e

arbitrários), e ao tratamento de informações sobre receitas e custos em ciclos temporais

excessivamente curtos (por exemplo, os custos com manutenção preventiva entram

como despesas, mas não são contabilizados os ganhos referentes à prevenção).

Kaplan e Norton (1992 e 1993) apontam que tais sistemas tradicionais possuem uma

forte ênfase na gestão interna de uma organização, negligenciando os elementos

externos (tais como competitividade, relação com mercado, regulamentação, etc.).

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Neely (1999) sintetizou as causas centrais que promoveram a inadequação dos sistemas

de medição de desempenho baseados na contabilidade tradicional:

• Mudanças da natureza do trabalho, no que tange, principalmente, ao uso de

horas diretas trabalhadas como direcionador de rateio de overheads. Na década

de 1950/ 1960, esse critério de rateio fazia sentido, já que o custo de trabalho

direto representava 50% dos custos dos produtos vendidos. Na década de 1980,

esses custos representavam somente entre 5% e 10%;

• Aumento dos níveis de competitividade, onde custos deixaram de ser o único

diferencial competitivo, e fatores como qualidade, flexibilidade, customização,

inovação e rapidez tornaram-se fundamentais;

• Necessidade de melhoria contínua dos processos, exigindo o uso de ferramentas

que levem a tais melhorias (TQM, reengenharia, etc.) e de indicadores que

apóiem o resultado do emprego dessas ferramentas;

• Prêmios e certificações nacionais e internacionais – premiações têm sido

concedidas a empresas que têm praticado melhorias substanciais na sua gestão,

como o Prêmio Deming, Malcom Baldridge, European Foundation for Quality

Management (EFQM), Prêmio Nacional da Qualidade (PNQ). Essas

certificações exigem novos sistemas de medição de desempenho;

• Mudanças organizacionais – diferentes áreas vêm discutindo o seu papel dentro

da organização: por exemplo, o Chartered Institute of Management Accountants

(CIMA) e o Institute of Chartered Accountants of Scotland (ICAS) organizam

regularmente conferências onde são discutidos sistemas de medição de

desempenho com equilíbrio entre indicadores financeiros e não financeiros;

• Mudanças do ambiente externo – mudanças que ocorrem fora do ambiente

organizacional, como regulação e desregulamentação de ambientes

competitivos, relação com fornecedores, clientes e competidores que trazem

agendas específicas para o sistema de medição de desempenho;

• Poder da tecnologia da informação – não servindo apenas como um capturador

de informações, mas também apoiando a tomada de decisão (por exemplo, com

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o desenvolvimento de sistemas de identificação de padrões com tecnologia de

Data Mining).

Eccles (1991), quatro anos após a publicação do livro de Johnson e Kaplan, publicou

um artigo na Harvard Business Review prevendo um forte movimento das organizações

em direção a adaptações dos seus sistemas de medição de desempenho. De fato, o que

foi observado foi um aumento considerável de publicações com diferentes propostas de

projetos de sistemas de medição de desempenho, considerando modificações frente aos

sistemas de medição de desempenho tradicionais.

Na seção seguinte uma síntese das características de um projeto de sistema de medição

de desempenho e das diferentes propostas presentes na literatura serão apresentados.

4.2.3. Projeto de Sistemas de Medição de Desempenho

Um dos primeiros autores a tratar da importância dos sistemas de medição de

desempenho para uma efetiva gestão da organização foi Peter Drucker. Em seu livro

lançado em 1954 e intitulado “The Practice of Management”, ele sugere a inserção de

indicadores de desempenho “balanceados”, tendo em vista a busca de solução para

outro problema identificado por ele: o desejo excessivo por medição de desempenho e o

comportamento gerado por esse desejo (DRUCKER, 1981). O balanceamento dos

indicadores de desempenho é um dos aspectos mais importantes ressaltados por Kaplan

e Norton (1992) que deve fazer parte de um sistema de medição de desempenho.

Um projeto de sistema de medição de desempenho consiste de três principais fases,

segundo Neely et al. (2000): (1) o projeto em si dos indicadores de desempenho; (2) a

implementação dos indicadores de desempenho e; (3) o uso dos indicadores de

desempenho na gestão da organização. A Figura 15 sintetiza essas fases.

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Projeto de Indicadores de Desempenho

Identificação de Objetivos

Coleta inicial

Avaliação Preliminar

Análise

Distribuição

Medição

Revisão

Ação

Reflexão

(1)Revisão das

Metas

(2) Desenvolvimento de Indicadores

(3) Revisão de Indicadores

(4) Avaliação da Estratégia

Projeto de sistema de medição de desempenho

Implantação dos indicadores de desempenho

Uso dos indicadores de desempenho para

avaliar a implementação da estratégia

Uso dos indicadores de desempenho para questionar a estratégia

Figura 15: Fases Contempladas em um Projeto de Sistema de Medição de Desempenho.

Fonte: Neely et al. 2000, p.757

A fase do projeto de indicadores de desempenho pode ser subdividida em: (1) na

identificação dos objetivos a serem acompanhados e; (2) na escolha dos indicadores de

desempenho. Diversos autores (por exemplo, Keegan et al., 1989; Lynch e Cross, 1991;

e Kaplan e Norton, 1992 e 1993) enfatizam a importância do acompanhamento da

estratégia a partir de indicadores de desempenho adequados.

A fase de implementação consiste em definir procedimentos e sistemas para coletar e

processar regularmente os dados que serão transformados em informação para tomada

de decisão. Não se trata apenas de implementação de sistemas de informação, mas

também de procedimentos que padronizem atividades relacionadas à coleta, tratamento,

análise e decisão orientadas para estratégia da organização. Além disso, o sistema de

medição de desempenho deve fazer parte integrante da gestão da organização, estando

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relacionada a outros elementos de gestão, como por exemplo, processo de tomada de

decisão e sistemas de recompensas.

Finalmente, a última fase é subdividida em duas subfases: (1) acompanhamento da

implementação da estratégia, uma vez que o propósito dos indicadores de desempenho é

monitorar a estratégia (Kaplan e Norton, 1992 e 1993) e; (2) o uso dos indicadores de

desempenho em uma lógica sistêmica, não para avaliar o acompanhamento da

estratégia, mas para confrontar e validar as premissas que balizam a estratégia

(ECCLES E PYBURN, 1992; e KAPLAN E NORTON, 1992 e 1993).

Há inúmeras propostas de estrutura de projeto de sistemas de medição de desempenho

voltados para suprir as deficiências dos sistemas tradicionais de medição de

desempenho. Autores como Martins (1999) e Neely et al. (2000) fazem um

levantamento razoavelmente completo dessas propostas. Destaque pode ser dado a

algumas dessas propostas.

A Matriz de Medição de Desempenho (Keegan et al., 1989) propõe um modelo que visa

o balanceamento de medidas internas e externas à organização e entre medidas

financeiras e não financeiras. A Pirâmide de Performance (Lynch e Cross, 1990) integra

vários níveis de desempenho a partir da estrutura hierárquica de uma organização. O

Modelo de Medição de Desempenho para Gestão por Processos (Rummler e Brache,

1995) integra vários níveis de desempenho a partir da estrutura de processos de uma

organização. O Modelo de Determinantes e Resultados (Fitzgerald et al., 1991)

distingue medidas de resultado de seus determinantes.

O Balanced Scorecard (Kaplan e Norton, 1992 e 1993) consiste de um modelo

organizado por perspectivas (financeiras, mercado, processos internos e aprendizado e

crescimento) que contempla indicadores de desempenho balanceados nessas

perspectivas. O conceito de balanceamento se enquadra na necessidade do sistema

conter indicadores de desempenho financeiros e não financeiros, que medem

perspectivas de curto prazo e longo prazo, que medem eventos passados (decorrência de

esforços já realizados) e ainda não ocorridos (indicadores de tendência), contemplando

perspectivas internas e externas à empresa. Essas são as principais características que,

por não estarem presentes nos sistemas de medição de desempenho tradicionais,

dificultava a gestão por indicadores de desempenho.

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Tais modelos possuem como característica fundamental em comum a possibilidade de

realizar gestão de desempenho a partir do uso de indicadores de desempenho

balanceados e articulados. Para Kaydos (1991), o sistema de medição de desempenho,

para contribuir efetivamente para a gestão de desempenho, deve possuir as seguintes

propriedades:

• Ser capaz de comunicar estratégia e clarear valores – onde o sistema de medição

de desempenho deve ser capaz de traduzir a estratégia da organização de forma

clara para todos os seus integrantes;

• Facilitar a identificação de problemas e oportunidades – problemas e

oportunidades devem ser identificados de forma a superar eventuais problemas

de alinhamento entre ações e a estratégia;

• Facilitar o entendimento de processos – para melhorar o desempenho estratégico

de uma organização, é necessário conhecer os processos, seus resultados

esperados e a relação desses resultados com metas estratégicas;

• Subsidiar a tomada de decisão em relação à alocação de recursos – informações

sobre o desempenho da organização e a relação de tais desempenhos com os

resultados dos seus processos ajudam a colocar as opções de alocação de

recursos em perspectiva, permitindo o estabelecimento, por exemplo, de critérios

para ações de melhoria;

• Apoiar a definição de responsabilidades, tornando a delegação de tarefas efetiva

e os resultados visíveis: dentro de uma perspectiva processual, com resultados

compartilhados, sistemas de medição de desempenho devem ser orientadores de

performance de atividades individuais, facilitando a definição de

responsabilidades dos funcionários e tornando visível o esforço empreendido nas

ações;

• Servir de orientador para comportamentos, envolvendo as pessoas e

recompensando bons desempenhos: por clarear e comunicar a estratégia, os

sistemas de medição de desempenho acabam por influenciar o comportamento

dos funcionários, em especial, quando as medidas de desempenho são utilizadas

como parte ativa da remuneração funcional.

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Neely (1999) identificou alguns desdobramentos possíveis da discussão em torno de

projetos de sistemas de medição de desempenho. Segundo ele, há diferentes linhas de

pesquisa sendo delineadas, sob diferentes enfoques. O primeiro deles é a contribuição

dos autores clássicos, como Kaplan e Cooper (1998), que vem desenvolvendo estudos

para melhor adequar os sistemas de tradicionais de desempenho ao projeto de sistemas

de medição de desempenho atuais.

Há uma segunda linha de pesquisa que se caracteriza pelo aperfeiçoamento do

entendimento e aprendizado estratégico a partir do uso de sistemas de medição de

desempenho, como pode ser visto nos trabalhos de Eccles and Pyburn (1992), Kaplan e

Norton (1992; 1993) e Simons (1995).

Há uma terceira linha de pesquisa que se propõe a projetar sistemas de medição de

desempenho mais específicos, por exemplo, para medir satisfação dos clientes,

satisfação dos funcionários, inovação, etc. É justamente nesta linha que a tese se

enquadra. O Capítulo seguinte traz uma revisão dos trabalhos publicados sobre sistemas

de medição de desempenho específicos para a função P&D.

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5. O Estado da Arte de Sistemas de Medição de Desempenho para P&D

O capítulo que se segue apresenta uma revisão mais detalhada das publicações feitas

sobre propostas de sistemas de medição de desempenho para P&D.

São apresentados os diferentes conceitos e abordagens sobre projetos de sistemas de

medição de desempenho, desde propostas direcionadas a elementos específicos da P&D,

até propostas consideradas mais abrangentes, que consideram a P&D não como um

departamento, mas sim como uma função central que propulsiona a capacidade

inovadora de uma organização.

Sob este aspecto, este capítulo é organizado de acordo com as diferentes classificações

de propostas de sistemas de medição de desempenho para P&D. Em cada seção, as

propostas relacionadas a dada tipologia é apresentada, juntamente com uma síntese das

principais discussões apresentadas e com os princípios de construção que, dessas

propostas, puderam ser identificadas.

5.1. Considerações Gerais

Os primeiros trabalhos identificados que relatam a preocupação da comunidade

científica sobre a necessidade de gestão da P&D nas organizações são do final da

década de 1950 e início da década de 1960. Duas linhas gerais de trabalho que norteiam

a discussão de sistemas de medição de desempenho para P&D foram identificadas a

partir da leitura desses trabalhos.

A primeira linha de trabalho identificada está voltada para a discussão de sistemas de

medição de desempenho sob o ponto de vista quantitativo. Para esses autores, a área de

P&D deve ser enxergada como um elemento a ter seu desempenho otimizado, cabendo

assim a aplicação de métodos da Pesquisa Operacional, Teoria da Decisão, Análise

Econométrica, entre outros.

Esses trabalhos podem ser considerados uma importante vertente de pesquisa

relacionada com a avaliação de desempenho de P&D. Por exemplo, uma aplicação de

redes probabilísticas para apoiar o planejamento e controle de atividades de P&D pode

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ser vista em Ritchie (1972). Para seleção de projetos e decisão de alocação de recursos,

um resumo dos principais modelos quantitativos pode ser visto em Chien (2002). Para a

questão específica de controle de projetos de P&D, Roman (1964) propôs a aplicação de

alguns diagramas de controle de orçamento e de atividades, o que segundo ele, torna-se

bastante efetivo para o controle sobre o orçamento de P&D. Finalmente, Gee (1972)

sugere um método quantitativo para o cálculo de avaliação de oportunidade de receita e

vendas oriundas de novos produtos ou melhoria dos produtos existentes.

Entretanto, as propostas puramente quantitativas apresentam sérias restrições. Hubert,

um pesquisador da Unilever, elaborou um artigo seminal intitulado “R&D and the

Company’s Requirements”, onde questionou o uso dos métodos matemáticos que

priorizam o retorno máximo do investimento em P&D como critério de avaliação de

projetos (HUBERT, 1970). Segundo ele, a estratégia de P&D carrega um componente

de grande incerteza de avaliação de sucesso a longo prazo e, contudo, de sub-otimização

da performance de curto prazo (HUBERT, 1970).

Seria impossível, desta forma, estabelecer uma equação matemática visando a

maximização de uma função objetivo, tendo em vista as incertezas presente nas

variáveis a serem controladas. Neste sentido, embora importantes, essas propostas não

serão tratadas no âmbito deste trabalho, justamente por não contemplarem

características que a tornem capazes de fornecer insumos para a constituição de sistemas

de medição de desempenho – por outro lado, sempre que pertinente, elas serão

mencionadas como integrantes dos sistemas de medição de desempenho.

A segunda linha de trabalho consiste em combinações de métodos quantitativos e

qualitativos, sem a preocupação central de se otimizar as funções da P&D. A

preocupação nesta linha está bastante voltada para a coleta de dados relacionados à

estrutura de P&D de forma a ser possível gerenciar a P&D e o processo de inovação da

organização.

Chiesa e Frattini (2009, p.4) fazem uma importante classificação das propostas de

sistemas de medição de desempenho para avaliação da P&D. Para eles, há propostas sob

diferentes perspectivas:

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1. A P&D da firma – sob este aspecto, as propostas estão voltadas para avaliar a

contribuição da P&D para a criação de valor econômico e vantagem

competitiva;

2. A P&D como constituinte do valor de mercado – sob este aspecto, as propostas

estão voltadas para avaliar as relações entre investimento em P&D e o valor de

mercado das empresas;

3. A P&D dentro do sistema nacional de inovação – sob este aspecto, as propostas

estão voltadas para avaliar a P&D no nível das nações ou de regiões.

Este trabalho abordará apenas as propostas de sistemas de medição de desempenho para

P&D que se enquadrem na primeira perspectiva de Chiesa e Frattini (2009), ou seja,

abordando a P&D como gerador de valor da empresa.

Diferentes propostas puderam ser identificadas na literatura sob esta perspectiva. O

primeiro conjunto dessas propostas constitui em indicadores de desempenho específicos

para a área de P&D, sem considerar a função P&D, tampouco, elementos relacionados

aos sistemas de medição de desempenho. Neste conjunto, estão contempladas propostas

baseadas na adaptação dos conceitos da contabilidade tradicional para avaliação do

retorno sobre investimento da P&D, já que a P&D passa a ser vista como um centro de

lucro, ou seja, uma área que recebe investimentos e gera uma receita. Outras propostas

inseridas neste conjunto consistem em indicadores de desempenho que ultrapassam a

dimensão financeira de avaliação, como as que relacionam indicadores de entradas,

saídas, eficiência, produtividade e efetividade da P&D. Sob este aspecto, a função da

P&D passa a ser considerada: para se conhecer a efetividade da P&D, elementos

contidos fora da área de P&D precisam ser considerados.

O segundo conjunto de propostas constitui em sistemas de medição de desempenho para

avaliação da função P&D, a saber: as que consideram o alinhamento da P&D com o

planejamento estratégico, as que consideram a P&D como um processo e as que

consideram vários recortes para avaliação da P&D (referidas aqui como as propostas

que consideram uma visão multidimensional da P&D). Ainda dentro deste conjunto, as

propostas mais atuais referem-se a fatores que contingenciam projetos de sistemas de

medição de desempenho para P&D. As propostas que consideram elementos

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multidimensionais da P&D e as que consideram os fatores contingenciais podem ser

consideradas as propostas mais completas presentes na literatura.

Essas propostas, resultado de um estudo aprofundado da literatura mundial, serão

apresentadas nas seções a seguir.

5.2. Propostas de Indicadores de Desempenho para P&D

Nesta seção serão apresentadas as principais propostas identificadas na literatura sobre

medidas de desempenho para P&D. O foco central dessas propostas são os indicadores

de desempenho em si, onde há pouca (ou nenhuma) preocupação com a constituição de

um sistema de medição de desempenho mais completo, nos moldes do que foi definido

por Kaydos (1991) conforme visto na seção 4.2.3.

Deste conjunto, fazem parte indicadores de desempenho definidos a partir da adaptação

dos conceitos da contabilidade tradicional para avaliação do retorno sobre investimento

da P&D, com a P&D vista não apenas como um centro de custo, mas como um centro

gerador de lucro, ou seja, uma área que recebe investimentos e gera receitas.

Também foram incluídas neste conjunto propostas de indicadores de desempenho não

financeiros, relacionados a um ou mais aspectos da P&D como entradas, saídas/

resultados, eficiência, produtividade e efetividade. Maior parte dessas propostas foi

realizada tanto a partir de revisão bibliográfica quanto por observação direta e

identificação dos indicadores utilizados nas organizações pesquisadas.

5.2.1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

Quinn (1959) elaborou um quadro conceitual como tentativa de adaptar os conceitos da

contabilidade tradicional, em especial, o cálculo do retorno sobre investimento em

pesquisa básica.

Galloway (1971) concebeu um método relativamente simples de avaliação do

desempenho econômico da P&D, combinando métodos qualitativos e quantitativos. O

primeiro passo consistia de rever a lista de produtos e identificar quais aqueles em que a

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P&D fez contribuições críticas para seu desenvolvimento – tal contribuição deveria ter

sido vital para o sucesso comercial do produto no longo prazo. O segundo passo era

somar as receitas desses produtos e comparar com anos anteriores. Uma consideração

importante feita pelo autor, mas não considerada no método, é que a P&D é uma das

áreas (não a única) que contribuiu para o sucesso comercial do produto. Trata-se, pois,

de um dos primeiros encaminhamentos da avaliação projetada para medir os resultados

da P&D para fora da P&D, que será desenvolvida em propostas mais recentes.

Adaptações do trabalho pioneiro de Quinn (1959) foram realizadas por outros autores, e

os que mais se destacaram foram os dois trabalhos de Foster et al. (1985a,1985b). Este

autor determinou a fórmula para o cálculo do Retorno sobre Investimento em P&D

como sendo a receita de vendas oriunda de investimentos em P&D. A Figura 16 mostra

essas relações que compõem o cálculo do Retorno sobre Investimento em P&D.

Retorno de Investimentos em P&D= Receita/

Investimentos em P&D

Produtividade do P&D= Melhorias

Identificadas/ Investimentos em

P&D

Ganho do P&D = Receita/

Investimentos em P&D

Produtividade Potencial

Eficiência do Desenvolvimento

Tecnológico

Potencial de Lucro

Eficiência Operacional

Figura 16: Cálculo do Retorno sobre Investimentos em P&D.

Fonte: Foster et al. (1985a, p. 13)

Dois fatores determinam o Retorno sobre Investimento em P&D: a Produtividade da

P&D, como sendo as melhorias identificadas em determinados parâmetros do produto

ou processo devido aos investimentos em P&D, e Ganho da P&D, determinado pelas

receitas obtidas frente aos investimentos em melhoria de produto ou processo. O

primeiro (Produtividade da P&D) é função da máxima produtividade possível obtida

pela melhor tecnologia disponível, e da eficiência da organização, caso a melhor

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tecnologia disponível fosse utilizada. O segundo (Ganho da P&D) é função do máximo

lucro possível dada a estrutura do mercado, e da eficiência do esforço de

comercialização.

McGrath et al. (1994) propuseram um indicador de desempenho para avaliar a

efetividade da P&D, denominado Índice de Efetividade (IE) da P&D que considera:

IE = % de Receitas Oriundas de Novos Produtos x (% de Margem de Lucro + % Investimentos em P&D)

% Investimentos em P&D

Os autores identificaram importantes direcionadores que compõem essas medidas de

desempenho, como as receitas geradas pelos novos produtos durante determinado nº de

anos, os custos do lançamento desses produtos, os gastos com os projetos que levaram

ao lançamento desses produtos e os gastos com projetos cancelados.

Uma importante proposta foi apresentada por Meyer et al. (1997) para medir eficiência

e efetividade para P&D, no contexto de família de produtos dentro de determinada

plataforma tecnológica. Para os autores, dois indicadores de desempenho devem ser

considerados:

• Eficiência da plataforma tecnológica, como sendo a razão entre custos realizados

para desenvolvimento de produtos sobre os custos para desenvolvimento e

manutenção das plataformas tecnológicas associadas;

• Efetividade da plataforma tecnológica, como sendo a razão entre o retorno com

P&D relacionado a lucros acumulados durante um determinado número de anos

e os custos de desenvolvimento.

Análise e Síntese das Propostas

Essas propostas baseadas na avaliação de desempenho no âmbito financeiro têm como

principal vantagem a facilidade de avaliação, já que são construídas a partir de

elementos tangíveis e concretos para tomada de decisão.

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Desta lista de publicações pesquisadas, puderam ser identificados alguns princípios de

construção que, embora simplificadas em relação a publicações posteriores, foram

amplamente utilizados nas propostas de sistemas de medição de desempenho para P&D.

São eles:

P.C. 1 Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

A avaliação de desempenho da P&D deve se dar a partir de medidas de desempenho financeiras, considerando que tais medidas servirão para apoiar decisões relacionadas ao resultado da P&D, conforme pode ser visto no método para o cálculo de retorno sobre investimentos de P&D (FOSTER et al., 1985a; e FOSTER et al., 1985b) e índice de efetividade (MCGRATH et al., 1994)

a. Tal avaliação financeira pode ser feita também em cima de elementos mais específicos da P&D, como a partir de medidas de desempenho tradicionais em projetos de P&D (Retorno sobre Investimento, Avaliação Custo versus Benefício) e a utilização de indicadores de eficiência e efetividade da plataforma tecnológica (MEYER et al., 1997)

Entretanto, essa vantagem traz desvantagens correspondentes. É justamente pela

natureza intangível das atividades de P&D e da incerteza inerente aos resultados dessas

atividades, em especial, das atividades mais próximas às etapas iniciais de pesquisa, que

os indicadores de desempenho financeiros são empregados de forma limitada na P&D.

Neste sentido, algumas propostas foram realizadas considerando outros elementos

presentes na P&D, diferentes das questões financeiras.

5.2.2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

Em relação aos métodos para a determinação de desempenho não financeiro da P&D,

um dos primeiros trabalhos foi elaborado por Hodge Jr. (1963), que sugeriu a utilização

de indicadores de desempenho para avaliar resultados da P&D e sua produtividade (pela

razão entre resultados e entradas da P&D) a partir do sucesso comercial dos produtos

lançados, patentes e publicações.

Entretanto, inúmeros problemas foram identificados na adoção desses indicadores,

como a dificuldade da obtenção de histórico de dados, sendo impossível assim a

comparação do desempenho entre organizações, e a inexistência de indicadores de

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desempenho de resultado da P&D: só os indicadores de entrada, como custos e pessoas,

eram conhecidos, tendo em vista a dificuldade de medição dos resultados alcançados

com pesquisa.

Visando a criação de um processo de decisão de alocação de recursos em projetos, Cook

(1966), a partir da sua experiência como gestor de centros de pesquisa, sugeriu a criação

de um ambiente de discussão e amadurecimento de novas ideias. Com base em

indicadores subjetivos e inteiramente qualitativos, as decisões sobre alocação de

recursos deveriam ser feitas já que, reconhecidamente, esta forma de se conhecer os

processos de P&D seria mais adequada do que se fosse feita a partir de indicadores

financeiros e qualitativos.

Allio e Sheehan (1984) consideraram que a alocação de recursos em P&D deveria ser

feita de acordo com a maturidade em que a indústria se encontra – estágios embrionário,

de crescimento, de maturidade e de obsolescência, pois esta seria a melhor forma de

avaliar o comportamento que o setor de P&D deveria ter – se mais orientado a pesquisa

básica, à pesquisa aplicada, ao desenvolvimento, etc.

Moser (1985) aplicou um questionário em 124 empresas, representando os 40 setores

industriais americanos, para avaliar quais os indicadores de desempenho que mais

frequentemente são utilizados nas organizações com alto nível de aprendizado18. Esses

indicadores mais utilizados seguem listados na Tabela 3.

18 Empresas foram classificadas com alto nível de aprendizado por Moser (1985)

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Tabela 3: Indicadores de Desempenho para P&D mais Utilizados.

Fonte: Moser (1985, p. 32)

Ranking Indicador de Desempenho

1 Qualidade da saída do P&D

2 Nível das metas atendidas por unidade de negócio

3 Quantidade de trabalho realizado dentro do prazo estimado

4 Nível de eficiência da unidade de negócio

5 Percentual de projetos concluídos

6 Percentual de resultados do P&D adotados pela empresa

7 Frequência de orçamentos ultrapassados

8 Número de patentes ou copyrights

9 Percentual de projetos aprovados

10 Nº de reports técnicos produzidos

11 Lucratividade da unidade de negócio

12 Nº de artigos apresentados em encontros

13 Nº de recompensas concedidas a profissionais

Sbragia (1987) realizou um estudo em um universo de 47 empresas brasileiras buscando

identificar os critérios que determinavam os resultados das atividades de P&D dentro da

firma a partir de técnicas semiquantitativas. Deste estudo, foi possível identificar 31

indicadores de resultado das atividades de P&D agrupados em nove dimensões,

conforme ilustrado na Tabela 4.

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Tabela 4: Estrutura dos Indicadores de Resultado da Atividade de P&D.

Fonte: Sbragia (1987, p. 58)

Fatores/ Indicadores Poder de Explicação

1. Competência Intrínseca Adquirida 5,4% 01. Qualidade dos trabalhos executados 02. Aumento da qualificação do pessoal técnico 2. Potencialidades Técnicas Construídas 3,4% 03. Obtenção de progressos tecnológicos extraordinários04. Capacitação para mudança tecnológica 05. Assimilação de novos conhecimentos técnicos 06. Melhoria das interfaces com Iicenciadores de tecnologia 07. Melhoria das interfaces com Univesidades e Institutos de Pesquisa 3. Credibilidade Interna Conquistada 6,4% 08. Confiança despertada na Alta Administração 09. Prestígio junto às áreas de Marketing e Produção 10. Reconhecimento como importante função empresarial 11. Participação no processo de planejamento estratégico da empresa 4. Assistência provida à Produção 7,5% 12. Redução de custos de fabricação 13. Aumento da eficiência dos processos produtivos 14. Aurnento da produtividade da mão-de-obra operacional 15. Melhoria das condições de trabalho na fábrica 16. Assistência na solução de problemas técnicos 5. Assistência provida à Marketing 5,1% 17. Ajuda na introdução de novos produtos/processos no Mercado 18. Assistência técnica à equipe de vendas 6. Contribuição para Exploração de Mercado Externo 8,6% 19. Apoio ao aproveitamento de oportunidades de exportação 20. Projeção da firma em mercados externos 21. Melhoria da posição da empresa junto a concorrentes externos 7. Impacto Tecnológico Obtido 10,5% 22. Substituição de tecnologias importadas 23. Obtenção de novas marcas/patentes 8. Impacto sobre Vendas 12,4% 24. Aumento do nível de vendas da empresa 25. Aumento do poder de competitividade da empresa 26. Possibilidade de lançamento de novos produtos/processos 9. Impacto sobre o Negócio 40,3% 27. Aumento do potencial de retomo financeiro 28. Possibilidade de acesso a novos mercados 29. Criação de oportunidades de diversificação 30. Aumento da taxa de participação no mercado 31. Aumento dos lucros correntes da empresa

O percentual contido ao lado direito da lista de indicadores agrupados indicam como

cada agrupamento impacta os resultados de P&D, segundo método matemático aplicado

às informações coletadas das empresas. Pode-se perceber que o “Impacto sobre o

Negócio” é a dimensão mais potente para explicar os resultados da P&D.

Andreassi (1999), a partir de revisão de indicadores de desempenho mais comuns

utilizados, baseada principalmente em Archibugi (1988) e Sbragia (1986), classificou os

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indicadores de desempenho do processo de inovação tecnológica em seis grupos,

conforme a Tabela 5.

Tabela 5: Indicadores de Desempenho mais Utilizados na Literatura.

Fonte: Adaptado de Andreassi (1999, p. 38-45)

Classe de Indicadores Descrição

Estatísticas de P&D

Por exemplo, Gastos com P&D e Mão de Obra Alocada em P&D são tradicionalmente utilizados em estatísticas para finscomparativos. Trata-se de indicadores com definições relativamente consistentes e coletados regularmente pelas empresas.Estudos conduzidos pela OCDE ainda na década de 1970 alertam sobre o problema de se utilizar dados de P&D para avaliar emensurar inovação, uma vez que eles representavam apenas uma parte do total de entradas do processo de inovação. Alémdisso, Patel e Pavitt (1995) apontam que as estatísticas de P&D são aplicadas em maior ou menor grau, dependendo do setorem que são aplicadas – por exemplo, PMEs sem P&D estruturado são, geralmente, desconsideradas dessas estatísticas

Patentes

O nº de depósitos (ou concessões) de patentes é um dos indicadores mais indicados para representar os resultados da P&D -conforme pode ser visto em Pavitt (1982) e Griliches et al (1991), já que são informações facilmente disponibilizadas erepresentam parte significativa dos custos com inovação. Entretanto, nem todas as invenções são patenteáveis e a propensãoao patenteamento varia de acordo com o setor ou com o país, o que pode mascarar a capacidade inovativa da empresa

Indicadores Macroeconômicos

Esses indicadores apontam a balança de pagamentos em tecnologia e a exportação de produtos de alta e média tecnologia. Oprimeiro fator expressa as transações entre empresas e setores de diferentes países, sendo computado, contudo, apenas aatividade tecnológica de empresas que exportam tecnologia. O segundo é autoexplicativo, e tem como limitação exatamente ofato de considerar apenas tecnologias exportadas

Indicadores Bibliométricos

Consiste basicamente na contabilização de artigos científicos ou nas citações em artigos científicos. A principal limitaçãodeste método é o fato de estar mais direcionado à pesquisa básica, uma vez que as inovações provenientes de pesquisaaplicada e, principalmente, de desenvolvimento experimental, raramente estão documentados em artigos científicos

Monitoração Direta da Inovação

Trata-se de indicadores criados para suprir as limitações dos indicadores de desempenho citados nos grupos anteriores. Umindicador muito utilizado é a contabilização e classificação de anúncios de descobertas de novos produtos publicados na mídiaespecializada. Entretanto, este indicador pode ser apenas utilizado quando se trata de inovação de produto, não permitindoassim uma avaliação das inovações de processos. Além disso, uma simples enumeração das inovações de uma empresa nãoreflete necessariamente o sucesso mercadológico do produto

Técnicas Semi-Quantitativas

São indicadores de desempenho originados a partir de técnicas semi-quantitativas, que buscam converter em uma unidademétrica as impressões de pessoas sobre o desempenho da atividade de P&D. Como exemplo, pode-se citar a avaliação dedesempenho do departamento de P&D, segundo objetivos anteriormente citados, e análise da produtividade em organizaçõesde P&D, e a análise do retorno da P&D a partir de um quadro de referências que extrapolam dados financeiros

Classificação semelhante foi feita por Tidd (2001), que avaliou como a inovação afeta o

desempenho organizacional, identificando as principais classes de indicadores de

desempenho utilizados para apoiar esta avaliação, apontando vantagens desvantagens de

cada uma delas, tal como apresentado na Tabela 6.

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Avaliação de Desempenho Forças/ Vantagens Fraquezas/ Desvantagens

Indicadores de P&D Dados obtidos regularmente das principais fontes de informação sobre tecnologia

- Perda de detalhes- Indicador geralmente subestimado em pequenas empresas, ou em empresas específicas (como as de de software)

Indicadores de Patentes

- Dados detalhados obtidos regularmente com provisões de informação de longo prazo- Compensa fragilidades das estatísticas de P&D

Não considera desigualdades da indústria - questão das patentes para algumas indústrias são mais importantes do que em outras industrias

Inovações Significativas Medidas diretas de saída - Custos elevados da coleta de dados

- Não considera mudanças/ melhorias incrementais

Surveysde Inovação - Medidas diretas de saída- Cobertura abrangente

- Necessidade de definição criteriosa das variáveis envolvidas no processo de inovação- Custos elevados na coleta de dados

Divulgação de Produtos Focado em Comercialização

- Não considera inovação em processos, nem melhorias incrementais nos produtos- Facilmente manipuláveis pelo Marketing

Funcionários Técnicos Pode medir conhecimento tácito Perda da homogeneidade na qualificação dos funcionários

Julgamento de Experts Acesso direto à opinião dos experts Dependência da opinião de experts - julgamentos podem estar além da expertise

Figura 17: Forças e Fraquezas dos Indicadores de Desempenho para Inovação.

Fonte: adaptação de Tidd (2001, p. 171)

Uma das principais conclusões que o autor chegou é que não há única melhor medida de

inovação. Alguns indicadores atendem bem a avaliação de alguns setores, por exemplo,

indicadores de P&D funcionam bem para grandes empresas do setor Químico e

Elétrico, e estatísticas de patentes para o setor Farmacêutico e setores que trabalham

com tecnologia mecânica.

Em relação às propostas que visam fundamentalmente a coleta de informações da P&D

para fins estatístico, algumas considerações podem ser feitas. Trata-se de indicadores

utilizados principalmente para fins comparativos, geralmente em nível de nação, mas

que podem ser incorporados pelas organizações para fins de gestão. Entretanto, sua

finalidade central é a composição de estatísticas mais amplas, tais como as conduzidas

no European Innovation Scoreboard (EIS)19, no Comunity Innovation Survey (CIS),

entre outros.

Por exemplo, o Manual de Frascati (OECD, 2002) recomenda que os indicadores de

entrada do processo de P&D tais como características dos funcionários (formação,

19 Pesquisa conduzida pelos países membros da Comunidade Europeia de forma a prover uma

avaliação comparativa do desempenho de inovação desses países.

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qualificação técnica), gastos com funcionários, e o que denominam de “facilities”

(como equipamentos, bibliotecas, espaço em laboratório, inscrições em jornais e

revistas especializadas) sejam utilizados. Além desses, o Manual recomenda que outros

indicadores relacionados aos resultados da ciência e tecnologia podem ser utilizados,

como a estatística de patentes, o balanço de pagamentos de tecnologia (que registra o

fluxo internacional de propriedade intelectual e know-how) e bibliometria.

No Brasil, uma das grandes dificuldades encontradas na análise do comportamento

inovador das empresas industriais é a disponibilidade de dados, tanto do lado dos

“inputs” quanto do lado dos “outputs”. A ANPEI (Associação Nacional de PD&E das

Empresas Inovadoras) vem realizando esforço para padronização dos indicadores de

desempenho para compor uma base de dados das empresas brasileiras de forma que seja

possível avaliar seu comportamento inovador. Tal comportamento inovador pode ser

retratado por meio de indicadores de “input” quanto de “output”. Tais indicadores

podem ser estratificados de diversas maneiras, com prioridade para o setor industrial ao

qual as empresas pertencem (Classificação ISIC – International Standard Industrial

Classification, até 4 dígitos), porte (micro, pequena, média, grande e mega empresa) e

origem do capital (privado nacional, multinacional e estatal). Essa base de dados pode

ser representada simplificadamente a partir da Figura 18.

EMPRESA

- Setor Industrial

- Tamanho

- Origem do Capital

- Outras Estratificações

INPUT• Despesas Operacionais

• Em P&D• Em serviços tecnológicos• Em aquisição de tecnologia• Em engenharia não rotineira

• Investimentos de Capital• Em ativos fixos• Em ativos intangíveis

• Configuração organizacional orientada a P&D&E

• Recursos Humanos em P&D&E• Nível superior• Nível médio• Nível administrativo

• Área Física Ocupada por Laboratórios

OUTPUT• Projetos finalizados (5 anos)

• Patentes (10 anos)• Requeridas• Concedidas

• Receita da venda da tecnologia

• Faturamento gerado por novos produtos (5 anos)

• Economia de custos nos processos produtivos (5 anos)

Figura 18: Modelo Conceitual da Base de Dados sobre Indicadores Empresariais de Inovação

Tecnológica.

Fonte: ANPEI (2000, p.11)

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Análise e Síntese das Propostas

Conforme exposto na revisão bibliográfica desta seção, percebe-se que as propostas

apresentadas têm como finalidade tanto propor formas de avaliar desempenho de

questões específicas de P&D (por exemplo, para tomada de decisão de alocação de

recursos ou para a elaboração de benchmarkings) quanto classificar os indicadores de

desempenho identificados na literatura vigente e em bases de dados estatísticos.

Destaque pode ser dado ao trabalho de Sbragia (1987) junto às empresas brasileiras, que

aponta para importantes considerações sobre o que impacta os resultados da P&D. Para

ele, as questões relacionadas ao impacto sobre o negócio explicam boa parte dos

resultados da P&D (cerca de 40%), fornecendo assim pistas importantes para a escolha

dos indicadores de desempenho que monitorem essas questões (como se pode observar

na Tabela 4).

Outra questão percebida a partir da revisão destas propostas foi a clara tentativa de

classificação dos indicadores de desempenho (conforme visto em Andreassi, 1999; e

complementado pela ANPEI, 2000; e OECD, 2001), que vão além de propostas

pontuais de indicadores ou simples listas de indicadores de desempenho observados na

literatura ou nas empresas. Essas classificações serão amplamente adotadas nas

propostas que serão vistas adiante e tais classificações auxiliam a concepção de

indicadores de desempenho sob a ótica de sistemas de medição de desempenho mais

completos.

Desta forma, os trabalhos que parecem mais robustos em relação à proposta de sistemas

de medição de desempenho parecem ser os que contemplam diferentes elementos para

gestão da P&D, que não sejam apenas os financeiros, conforme classificações contidas

em Andreassi (1999), ANPEI (2000) e OECD (2001). Como síntese destas propostas,

podemos identificar o segundo princípio de construção:

P.C. 2 Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

A avaliação de desempenho da P&D não deve ser feita apenas com parâmetros financeiros. Indicadores de desempenho devem ser considerados para a solução de questões específicas da P&D, por exemplo, alocação de recursos (COOK, 1966), benchmarking (HODGE Jr., 1963). Para tal, os indicadores de desempenho devem ser

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propostos sob diferentes classificações, por exemplo, aquelas que apoiam a avaliação dos resultados das atividades de P&D (SBRAGIA, 1987; ANPEI, 2000) como Patentes, Bibliografias, Resultado da Inovação (ANDREASSI, 1999); e as entradas da P&D em termos de dispêndios (ANDREASSI, 1999; ANPEI, 2000; e OECD, 2001).

a. Tais avaliações dependem de alguns elementos, por exemplo, os resultados das atividades de P&D dependem do estágio em que o P&D se encontra - estágios embrionário, de crescimento, de maturidade e de obsolescência (ALLIO e SHEEHAN, 1984). Os indicadores de saída e entrada dependem de caracterísicas que a empresa possui, tais como setor industrial, tamanho, origem do capital, etc. (ANPEI, 2000)

b. Essas regras ajudam a explicar os resultados da P&D (SBRAGIA, 1987) e devem considerar facilidades e dificuldades para sua implementação (TIDD, 2001)

Contudo, algumas limitações precisam ser consideradas. Trabalhos como o de Hodge

(1963), embora importantes pelo pioneirismo, não podem ser considerados suficientes

para a inserção do método em um sistema de gestão de P&D, já que seu alcance é

baseado em questões muito específicas – no caso desta proposta, para comparação entre

empresas.

Outros trabalhos, como o de Moser (1985) são importantes pela representatividade das

observações e pela lista de indicadores de desempenho mais utilizados na P&D das

organizações. Contudo, não há esclarecimentos que apoiem a construção de tais

indicadores, tampouco uma classificação que ajude a entender os tipos de indicadores

de desempenho que podem ser propostos para gestão da P&D.

Mesmo as classificações sugeridas como forma de padronizar a coleta de informações

das empresas também não são suficientes para a construção de um efetivo sistema de

medição de desempenho, já que vários elementos que precisam ser considerados no

projeto desses sistemas (conforme Kaydos, 1991) não foram contemplados. Sob este

aspecto, outras propostas foram identificadas na literatura, não no sentido de

indicadores de desempenho pontuais, mas em direção a elementos que contemplem

projetos mais robustos de sistemas de medição de desempenho para P&D.

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5.3. Propostas de Sistemas de Medição de Desempenho para

P&D

Nesta seção estão apresentadas as propostas que buscam estruturar sistemas de medição

de desempenho para P&D, que vão além de propostas de indicadores de desempenho

específicos para área de P&D, conforme visto na seção anterior.

5.3.1. Sistemas Alinhados à Lógica de Controle e Avaliação

Um dos primeiros trabalhos que seguem esta linha é o de Rubenstein (1957), que diante

da percepção de insucesso das organizações em avaliar seus programas de pesquisa,

recomendou a adoção de duas diferentes perspectivas de avaliação de desempenho: a de

controle e avaliação.

O propósito do controle é garantir que a atividade de P&D seja executada dentro do que

foi planejado originalmente, provendo base de informação para ações corretivas

imediatas, caso seja necessário. O propósito da avaliação é garantir que os resultados

alcançados pela P&D estejam dentro do que foi planejado, provendo base para ações

corretivas futuras.

Os resultados da P&D são informações (resultados diretos, tais como novos

conhecimentos adquiridos, formulações, patentes, novas instruções de operação, novas

especificações de produto, etc.) e desempenho econômico (resultados mais indiretos

relacionados a aumento de receitas, diminuição de custos, etc., pois outras áreas podem

contribuir para estes resultados). A Figura 19 sintetiza a lógica dos circuitos de

avaliação e de controle.

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Atividade de P&D

Outras atividades da organização

DecisãoComparação

ComparaçãoDecisão

Saídas indiretas

(resultados econômicos)

Saídas diretas

(Informação)

Diferença entre

o esperado e o real

Decisão para ajustes

nas design features

Critérios para estabelecimento das saídas do P&D (baseado na relação entre

informações e resultados econômicos)

Decisão para rever objetivos do P&D

Critérios para estabelecimento

das saídas indiretas do P&D (resultados

econômicos)

Diferença entre

o esperado e o real

Circuito Avaliação

Circuito Controle

Figura 19: Circuitos de Avaliação e de Controle.

Fonte: adaptado de Rubenstein (1957, p. 104)

A dificuldade principal da implantação desse método é justamente relacionar ações

imediatas de ajustes nos programas e efeitos futuros, o que levou o autor a investigar

diferentes critérios adotados pelas organizações para monitorar progresso e resultados

da P&D. A partir desta investigação, o autor verificou um conjunto de características e

condições sobre os quais um laboratório de pesquisa deve operar – denominado por ele

de design features que são, por exemplo, técnicas de comunicação, procedimentos

operacionais, fontes de informação disponíveis, pessoas alocadas; e o impacto que eles

proporcionam na informação de saída e como a informação de saída impacta nos

resultados econômicos.

Por fim, Rubenstein (1957) desenvolveu o método em si para tratar a questão do

controle da P&D (através das informações de saída) e da avaliação da P&D (através dos

resultados econômicos), sugerindo considerações a respeito da qualidade das

informações geradas pelo P&D, como tais informações são disponibilizadas e utilizadas

de forma a promover efetiva avaliação dos resultados econômicos da P&D.

Quinn (1960), a exemplo de Rubenstein (1957), utilizou o conceito de cadeia causal

para entender os resultados gerados pela inovação. A discussão da cadeia causal foi

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estruturada a partir da ideia de um processo de inovação20, conforme pode ser

visualizado na Figura 20.

As três fases de pesquisa...

Produzem tecnologia...

Que alavancam possibilidades para explorar

oportunidades...

Que podem ser usadas na

organização...

Para apoiar suas metas estratégicas

Figura 20: Representação dos aspectos que levam a efetividade da inovação.

Fonte: Quinn (1960, p. 70)

Para ele, o sistema de medição deveria avaliar não só as entradas (valor econômico das

tecnologias) e resultados das três fases da pesquisa (entendidos aqui como a fase da

pesquisa fundamental, aplicada e de desenvolvimento), mas também o quanto eles

seriam tão bem explorados para apoiar as metas estratégicas da organização. Trata-se de

uma estrutura do tipo entrada – saída – resultados (input – output – outcomes),

consolidado por Brown e Svenson em 1988, quase três décadas depois.

Quinn (1961) expandiu seu horizonte de pesquisa, considerando não apenas a

necessidade de medir o desempenho da pesquisa industrial, no contexto de alocação de

recursos no curto prazo, como também a necessidade de uma estrutura capaz de

proporcionar planejamento a longo prazo – estrutura que deve considerar entendimento

dos objetivos dos programas de pesquisa, alinhamento desses objetivos com os

objetivos estratégicos da organização e alinhamento entre as áreas de pesquisa e

operações, prevendo a participação de gestores “técnicos e não técnicos” garantindo a

efetiva transferência de tecnologia para as operações. Quinn and Mueller (1963)

detalharam a ideia contida no artigo anterior, destacando que programas que garantem

efetiva transferência de resultados de pesquisa para as operações devem prever

iniciativas que identifiquem resistências nas atividades de transferência, estimulem a

motivação no ambiente e apoiem o planejamento e controle da exploração dos

resultados de P&D. Quinn and Cavanaugh (1964) consolidaram os conceitos

20 Embora o termo “processo de inovação” não tenha sido mencionado em seu trabalho, a relação

causal explicitada por Quinn (1960, p.70) representa justamente uma das primeiras representações de um

processo de inovação verificadas na literatura.

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desenvolvidos nos trabalhos anteriores para o desenvolvimento de uma estrutura mais

ampla de gestão de programas de pesquisa alinhados com a estratégia organizacional.

Na mesma época, alguns autores como Randle (1959) e Longstreet (1961) buscaram

estabelecer mecanismos que garantissem efetiva gestão da área de P&D. O primeiro

autor destacou os principais problemas existentes na gestão de P&D a partir de pesquisa

empírica junto a diversas organizações envolvidas com pesquisa e desenvolvimento.

Destaque pode ser dado à ausência de avaliação de resultados e sistemas de incentivo

aos pesquisadores.

O segundo autor prescreveu um conjunto de práticas – como a necessidade de

estabelecer interfaces entre P&D e as demais áreas da organização, e estabelecer

parcerias com consultores especialistas, para que fosse possível tomar decisões no curto

e no longo prazo.

Collier (1977) propôs um método para avaliar o desempenho de P&D, considerando

como premissa que o papel da P&D é gerar novas tecnologias necessárias para que a

organização atinja seus objetivos estratégicos. Este método consiste em avaliar o quanto

o P&D alcança suas metas estratégicas e o que oportunidades podem ser conquistadas

com a geração dessas novas tecnologias.

Collier (1977) criou então dois índices visando essa avaliação:

• Taxa de alcance das metas, um indicador composto por avaliações qualitativas

(para avaliar se a tecnologia desenvolvida contribuiu para o alcance das metas

estratégicas) e quantitativas (custo de desenvolvimento das tecnologias); e

• Retorno sobre pesquisa (calculado com base na estimativa nas oportunidades de

negócio proporcionadas pela tecnologia desenvolvida – por exemplo, pela venda

de novos produtos, dividida pelo investimento feito).

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A percepção de alinhamento da P&D com metas estratégicas (em especial, de natureza

financeira) foi também compartilhada por Mansfield (1981), que apresentou a

importância de métodos quantitativos21 de avaliação de efetividade da P&D.

Complementar à proposta de Collier (1977), Gee (1975) sugeriu a utilização de árvores

de objetivos, para estruturar a relação causal entre objetivos estratégicos e metas da

P&D – uma forma possível de se avaliar a taxa de alcance das metas. O mesmo pode ser

dito sobre a proposta de Packer (1983), que sugeriu o mapa de resultados como forma

de se avaliar o retorno sobre o investimento com pesquisa.

Análise e Síntese das Propostas

A busca pelo alinhamento da P&D às necessidades do negócio pode ser considerada o

elemento central contido nessas propostas. Sobre este aspecto, a P&D deixa de ser

considerada apenas um departamento gerador de custos e passa a ter papel estratégico

fundamental para o sucesso competitivo das organizações, conforme notado por alguns

estudos realizados sobre estrutura de P&D nas organizações, por exemplo, Afuah

(1998), Chiesa (2001), Roussel et al. (1991), e Jain e Triandis (1997).

Assim, as propostas baseadas na estrutura do planejamento estratégico trazem

importantes considerações para a constituição do quadro conceitual para projetos de

sistemas de medição de desempenho para P&D. A diferenciação feita por Rubenstein

(1957) entre estrutura de avaliação e estrutura de controle é um elemento fundamental

para caracterizar, anos mais tarde, as avaliações de curto e longo prazo, elemento que

deve ser considerado em qualquer projeto de sistemas de medição de desempenho.

Outro elemento importante dessas propostas é a relação entre operação da P&D e

estratégia tecnológica, considerada principalmente nos trabalhos de Quinn e outros

autores (1960, 1961, 1963 e 1964), que permite a elaboração de sistemas de medição de

21 Tais como o PROFILE (Programmed Functional Indices for Laboratory Evaluation) and

QUEST (Quantitative Utility Estimates for Science and Technology) – desenvolvidos para a U.S. Navy e

o PATTERN (Planning Assistanee Through Technical Evaluation of Relevance Numbers), desenvolvido

pela Honeywell. (Mansfieled, 1981, p. 102)

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desempenho que avaliem efetivamente os programas de pesquisa à luz da estratégia das

organizações.

O conceito da cadeia causal, explicitado em Quinn (1960), é uma importante elemento a

ser considerado no projeto de sistemas de medição de desempenho, já que permite a

promoção do alinhamento entre o que o autor denomina “operações de P&D” (pesquisa

fundamental, pesquisa aplicada e desenvolvimento) e estratégia organizacional.

A partir destas propostas, podemos identificar mais dois princípios de construção para

sistemas de medição de desempenho para P&D:

P.C. 3 Controle e Avaliação

A avaliação de desempenho da P&D deve conter duas diferentes perspectivas: a de controle e avaliação. O propósito do controle é garantir que a atividade de P&D seja executada dentro do que foi planejado originalmente. O propósito da avaliação é garantir que os resultados alcançados pelo P&D estejam dentro do que foi planejado (RUBENSTEIN, 1957)

P.C. 4 Relações Causais

O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar as relações causais entre resultados técnicos das operações da P&D e resultados econômicos, relacionados às três fases da pesquisa (entendidos aqui como a fase da pesquisa fundamental, aplicada e de desenvolvimento) dentro de um contexto de planejamento de curto, médio e longo prazo (QUINN, 1960; GEE 1975; e COLLIER, 1977)

Algumas considerações precisam ser elucidadas no âmbito dessas propostas.

Primeiramente, a própria lógica contida no planejamento estratégico tradicional é

conflitante com o ambiente estratégico em que uma organização inovadora está inserida.

Uma das perspectivas de medição de desempenho proposta por Rubenstein (1957) é a

estrutura de controle, que deve contemplar avaliação do planejamento dentro daquilo do

que foi originalmente concebido. Ou seja, a proposta de Rubenstein (1957) pressupõe

um ambiente estratégico estável, que traz estabilidade para o planejamento estratégico

da organização e do seu P&D, diferente do que se observa nas organizações na

atualidade. Assim, o princípio de construção que determina a medição de desempenho

do planejamento deve ser observado com cautela, pois nem sempre mudar aquilo que

foi planejado significa falha de planejamento.

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Por outro lado, deve-se observar com certo nível de ceticismo as incertezas inerentes à

relação causal entre atividades da P&D e resultados econômicos derivados, a questão

central dos artigos de Rubenstein (1957) e Quinn e outros (1960, 1961, 1963 e 1964).

Devido às incertezas de resultado e de tempos envolvidos nessas atividades, pode ser

bastante difícil estabelecer uma relação de causalidade com indicadores financeiros. Sob

este aspecto, pode ser necessário considerar como elementos contidos nesta causalidade,

não só indicadores de desempenho quantitativos, mas também elementos qualitativos.

Outras questões precisam ser consideradas de forma a permitir o alinhamento da P&D

com a estratégia das organizações. A lógica causal determinada por Quinn (1960) pode

ser complementada com a determinação das atividades da P&D, considerando suas

diferentes naturezas, e com a abordagem da P&D no âmbito de um processo de

negócio. Essas abordagens serão apresentadas na seção a seguir.

5.3.2. Visão Processual da P&D

Um dos primeiros artigos elaborados com a perspectiva de processos da P&D foi o de

Collier (1977), que direcionou seus esforços para uma proposta mais estruturada de

sistemas de medição de desempenho a partir de críticas aos métodos limitados aos

indicadores de produtividade, principalmente, por não reconhecer as metas estratégicas

da organização.

Ele apresentou a necessidade de distinção entre produtividade (ou eficiência) e

efetividade em diferentes estágios da P&D, desde a geração de ideias até o alcance das

metas financeiras relacionadas aos trabalhos da P&D.

Packer (1983) propôs um conjunto de indicadores de desempenho de P&D balanceados

para medir a produtividade da P&D. O balanceamento proposto deveria se dar entre

avaliações subjetivas (como por pesquisas de opinião sobre resultados dos trabalhos da

equipe de P&D), objetivas (baseadas em indicadores quantitativos) e objetivas-

subjetivas (seria como pesquisa de opinião, frente ao um resultado objetivo). O trabalho

de Packer (1983) é um dos primeiros a trazer a discussão dos conceitos relacionados a

sistemas de medição de desempenho – por exemplo, multidimensionalidade dos

indicadores, correlação entre indicadores, características dos indicadores, relação com

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metas estratégicas, comportamento dos funcionários e avaliação custo-benefício do

indicador.

Allio e Sheehan (1984) pesquisaram como empresas inovadoras, como a Unilever,

usaram a diferenciação entre atividades de pesquisa e desenvolvimento, não apenas para

manter o alinhamento com a estratégia, mas também para permitir um “desalinhamento

controlado”, de forma a encorajar pesquisas em áreas potencialmente relevantes.

Assim, no início dos anos de 1980, vários artigos que propuseram sistemas de medição

de desempenho para P&D foram desenvolvidos considerando não só uma lógica de

processos de P&D, mas, principalmente, reconhecendo a diferença da natureza das

atividades de pesquisa e desenvolvimento.

Diferentes Naturezas Presentes na P&D

Além do reconhecimento da necessidade de diferentes naturezas de indicadores para

diferentes propósitos, nem Collier (1977) nem Packer (1983) estruturam a discussão

para diferenciar as etapas da P&D. Pappas e Remer (1985) apresentaram a ideia de usar

diferentes tipos de técnicas para mensurar desempenho (qualitativo, semi-quantitativo e

quantitativo) em diferentes etapas da P&D (pesquisa básica, pesquisa exploratória,

pesquisa aplicada, desenvolvimento e melhoria de produto). A Figura 21 ilustra essa

ideia.

Etapas do P&D

Pesquisa básica

Pesquisa exploratória

Pesquisa aplicada

Desenvolvimento

Melhoria de produto

Técnicas para avaliar desempenho

Qualitativo

Semi-quantitativo

Quantitativo

Figura 21: Diferentes Técnicas para Avaliar Desempenho de Diferentes Etapas de P&D.

Fonte: Pappas e Remer, 1985, p.16

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Segundo os autores, a escolha das técnicas deve ser feita a partir da definição do

objetivo da P&D para a organização e o objetivo do sistema de medição de desempenho

para a P&D. Trata-se, portanto, de diferentes abordagens para medir desempenho da

P&D – desde métodos intuitivo-qualitativos (por exemplo, a partir de questionários) até

métodos quantitativos. Segundo este autor, nenhum método é suficiente por si só e a

combinação de métodos é a maneira mais apropriada de se medir a contribuição da

P&D para o desempenho da organização.

Análise e Síntese das Propostas

Brown e Gobeli (1992) e Werner e Souder (1997) destacaram vantagens e desvantagens

de indicadores quantitativos e qualitativos. Em relação aos indicadores de desempenho

quantitativos, as vantagens parecem óbvias: informações numéricas são mais bem

entendidas e mais facilmente comparadas. Existem também inúmeras desvantagens dos

indicadores quantitativos:

• Não funcionam bem em ambientes típicos de P&D, com elevada incerteza e

variabilidade dos resultados;

• Não funcionam bem onde projetos e produtos são altamente customizáveis,

impossibilitando assim um padrão de comparação;

• Não permitem percepções mais subjetivas de desempenho, nem por isso pouco

importantes, por exemplo, avaliação do impacto da tecnologia na satisfação do

cliente;

• Incapacidade de avaliação de resultados de mais longo prazo de uma tecnologia

emergente, ou do desenvolvimento de um novo produto – por exemplo, o

impacto estratégico da nova tecnologia ou do novo produto;

• Incapacidade de avaliação de questões não técnicas, como estilo de liderança,

padrões de comunicação, etc.

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Por outro lado, os indicadores de desempenho qualitativos, utilizados na maioria dos

casos para suprir as deficiências dos indicadores quantitativos, são menos precisos e

sofrem influência direta de quem avalia, podendo apontar evidências bastante diferentes

da realidade que está sendo avaliada.

Ainda, trabalhos com propostas puramente qualitativas têm aplicações limitadas na

prática. Merton (1968) destaca que ambientes de pesquisa são fortemente influenciados

por fatores que “contaminam” a decisão puramente “técnica”, tais como a reputação dos

pesquisadores e a sua “paixão” por determinada linha de projetos, o que faz com que

uma organização “faça mais do mesmo” e não “faz o que é mais certo” (Merton, 1968,

p.58). As palavras do autor exprimem a característica de uma organização engessada,

orientada mais pela paixão dos seus pesquisadores seniores do que pela necessidade de

ser bem sucedida em seu ambiente competitivo. Este fenômeno é comumente

denominado na literatura como “Efeito Mathew”22.

O seguinte princípio de construção pode ser identificado a partir destas propostas:

P.C. 5 Diferentes Naturezas Presentes na P&D

O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar as diferentes naturezas do trabalho de P&D e, assim, diferentes tipos de técnicas para mensurar desempenho – qualitativo, semiquantitativo e quantitativo - devem ser adotadas em diferentes etapas - pesquisa básica, pesquisa exploratória, pesquisa aplicada, desenvolvimento e melhoria de produto, respectivamente. (PAPPAS e REMER, 1985)

A criação de indicadores que não consideravam as diferenças no trabalho de P&D foi

fortemente criticada anos mais tarde por Chiesa e Frattini (2007), ao mostrarem que um

sistema de medição de desempenho não estaria completo sem considerar tais diferenças.

Além disso, o projeto de sistema de medição de desempenho para P&D pressupõe não

apenas que se conheça a natureza das atividades de P&D, mas que se conheça também

todas as atividades e a lógica sequencial presente em tais atividades que fazem parte da

22 Efeito descrito por Merton (1968), que expurga novas ideias oriundas de uma avaliação mais

criteriosa simplesmente por uma avaliação subjetiva e, em geral, inconsciente, dos pesquisadores de mais

alto escalão. Isto causa rigidez na organização e perda da capacidade de inovar em ambientes que exigem

mudanças e transformações.

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P&D. Sob este aspecto, é importante que o processo de P&D seja conhecido, e tal visão

por processos ultrapassa os limites do departamento da P&D. Na verdade, outras

atividades que não estão necessariamente localizadas na P&D devem ser conhecidas.

Propostas considerando o entendimento dos processos da P&D como base para

concepção de indicadores de desempenho serão apresentadas na seção a seguir.

Visão da P&D como um Processo de Negócio

Szyonkyi (1985), a partir de análise em diferentes organizações, afirmou que na maioria

dos casos, a avaliação de desempenho da P&D se dá apenas por indicadores de saída da

P&D, e não de produtividade. Ele propôs um quadro conceitual que, para medir

efetividade da P&D para a organização, seria necessário entender os objetivos de cada

interface do processo de inovação, identificando o porquê cada uma das interfaces

precisam ser gerenciadas (para o negócio, para melhorar o envolvimento das pessoas, e

para criar novas oportunidades).

Em seguida, o autor propôs o acompanhamento de 10 processos, de forma a

acompanhar o desempenho dessas interfaces: seleção de projetos de P&D, planejamento

e gerenciamento de projetos, geração de novas ideias, garantia de qualidade de

processos e métodos, motivação de pessoas, estabelecimento de times de trabalho,

coordenação de atividades de P&D e funções de marketing, transferência de tecnologia

de manufatura, colaboração entre P&D e finanças e a relação entre P&D com plano de

negócio.

A partir da ideia original de Quinn (1960), Brown e Svenson (1988) introduziram o

conceito de P&D como um sistema, onde o desempenho deste sistema deveria ser

medido sob diferentes atributos (qualidade, quantidade e custos) em diferentes etapas do

processo (entradas, processamento, saídas e resultados). Este conceito implicitamente

reconhece a área de P&D como um processo e, consequentemente, parte do pressuposto

que este processo é identificável e modelável. A Figura 22 ilustra com maior detalhe

este conceito.

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MarketingPlano de NegóciosManufaturaEngenhariaOperações

Atividades:

PesquisaDesenvolvimento

PatentesProdutosProcessosPublicaçõesConhecimento

Redução de CustosCrescimento de VendasMelhoria do ProdutoEconomia de Capital

PessoasIdéiasEquipamentosFacilidadesFinanciamentosInformaçãoRequerimentos específicos

Entradas

Sistema Processo

Saídas Resultados

Sistema Receptor das Saídas

Indicadores de Saída

Indicadores de Resultado

Indicadores de Processo

Figura 22: Sistema de Medição de Desempenho para P&D, em uma Visão de Sistema.

Fonte: Brown e Svenson (1988, p.31)

Entende-se o processo de P&D como atividades que envolvem: pesquisa,

desenvolvimento, testes e divulgação desses resultados. As entradas necessárias para

este processo são pessoas (enquanto detentoras de conhecimentos específicos e úteis

para o processo de P&D), ideias, equipamentos, financiamentos, informações, etc.

Ao lado direito da figura, os autores fazem uma classificação interessante ao

diferenciarem as saídas dos resultados. Entende-se por saídas as patentes geradas das

pesquisas, produtos novos, processos e métodos, publicações. Tais saídas não fazem

sentido sem que haja um “subsistema receptor” dessas saídas. Por exemplo, um novo

produto não tem importância, se ele não for aceito no mercado a que foi destinado. Idem

para uma patente de algo não importante para este mercado. Ou mesmo um novo

processo produtivo, se não houver redução de custos e/ou melhoria da qualidade do

produto final. Os resultados são, pois, consequências da ação da saída nesses

subsistemas.

Pelos conceitos vistos em sistemas de medição de desempenho e indicadores, os

indicadores de entrada são classificados como de eficiência (ou seja, o melhor uso dos

recursos); os de saída como de eficácia e os de resultado como de efetividade (ou seja,

as saídas causam impacto significativo no subsistema receptor das saídas).

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Especificamente para o processo de tomada de decisão para seleção e avaliação de

projetos, Cooper (1990) apresentou a ideia dos stage-gates, um mapa conceitual para

avaliação em etapas do processo de desenvolvimento de produtos, desde a concepção de

ideias até o lançamento comercial.

Os “stages” consistem em atividades que devem ser executadas por equipes

multidisciplinares de forma a subsidiar a tomada de decisão da gerência, se aprova ou

não a continuidade dos esforços em direção à próxima etapa dessas atividades. Os

“gates” de decisão são pontos de tomada de decisão em diferentes fases do processo de

desenvolvimento de produto, com foco na eficiência e efetividade de cada etapa.

Esta técnica permite à organização obter melhorias de qualidade, foco no processo,

capacidade de remoção das atividades que não agregam valor e a redução dos riscos

associados ao processo de desenvolvimento de produto. Desta forma, projetos que não

atendam determinados requisitos pré-definidos pelas equipes avaliadoras são

descartados o mais cedo possível, evitando assim gastos não necessários a partir de uma

interrupção tardia. Outro resultado possível a ser obtido em um gate de decisão é a

redefinição de um projeto, de forma a atender aos determinados parâmetros de

avaliação. A Figura 23 sintetiza a ideia dos stage-gates.

Gate1

Stage1

Gate2

Stage2

Gate3

Stage3

Gate4

Stage4

Ideia Inicial

Gate5

Stage5 $

“Screen” inicial

Avaliaçõespreliminares

“Screen” detalhado

Investigação Detalhada (preparação para o

business case)

Decisão no business case

Desenvolvimento

Revisãopós-desenvolvimento

Teste e validação

Análise pré-comercialização

Produção em massa e lançamento no mercado

Revisãopós-implementação

Figura 23: Lógica dos Stage-Gates.

Fonte: Cooper (1990, p. 46)

A entrada para cada estágio é um gate; estes gates controlam e condicionam a

continuidade do processo. Cada gate é caracterizado por um conjunto de informações de

entrada, um conjunto de critérios de saída e um diagnóstico. As entradas são os

entregáveis que um líder de projeto deve trazer para o gate, os critérios pelos quais o

projeto será avaliado e o diagnóstico tipicamente é algo do tipo continua, não continua,

aguarda, ou continua com restrições. Cada estágio de decisão geralmente envolve mais

recursos para decisão do que os estágios precedentes e, consequentemente, já

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consumiram mais recursos que os seus antecessores. Por outro lado, as informações

tornam-se mais precisas e o risco melhor gerenciado. Os gates de decisão são

compostos, geralmente, por gerentes que atuam como “gatekeepers”. Geralmente, esses

gatekeepers são compostos por gerentes multidisciplinares que tem poder para aprovar,

alocar e realocar recursos disponíveis para projetos.

Embora Cooper (1990) não tenha sugerido indicadores de desempenho a partir do seu

quadro conceitual desenvolvido, justamente por buscar um modelo que seja aplicado a

diferentes situações que envolvam desenvolvimento de produtos (até mesmo o número

de gates pode ser alterado), é evidente que os gates de decisão devam ser estruturados

de forma a subsidiar a tomada de decisão, consequentemente, exigindo uma estrutura de

indicadores de desempenho adequada para este propósito. Entretanto, alguns exemplos

podem ser tecidos: as entradas para o estágio 2 poderiam ser:

• Análise de mercado: tamanho; crescimento; segmentação; tendências;

• Análise competitiva: players; market share;

• Reação de cliente: reação para conceito; sensibilidades a preço;

• Avaliação de desenvolvimento: viabilidade; rota; tempos e despesas;

• Avaliação de produção: viabilidade; rota; tempos e despesas;

• Legal: avaliação inicial de questões legais;

• Financeiro: período de payback;

Szakonyi (1994) apresentou uma estrutura semelhante a um audit para avaliar a

efetividade da P&D. O quadro conceitual proposto pelo autor baseou-se na sua

experiência de trabalhos de consultoria e pesquisa nas mais de 300 empresas,

conduzidos entre 1978 e 1992. Para o autor, a P&D só pode ser efetiva se estiver

integrada com as operações da organização. Atividades que estejam estritamente

relacionadas à P&D, e que por isso precisam ser avaliadas sob o domínio da P&D (por

indicadores de saída da P&D), precisam ser consideradas também dentro do contexto da

empresa sendo, portanto, efetivo para a empresa. Para avaliar a efetividade da P&D, o

autor sugere a avaliação de 10 atividades da P&D de acordo com seis níveis de

maturidade, conforme a Tabela 6.

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Tabela 6: Atividades e Avaliação por Níveis de Maturidade.

Fonte: adaptado de Szakonyi (1994)

Atividades

NíveisA

Questão não é

observada

BEsforços

iniciais em direção à questão

CHabilidade

s estão presentes

DMétodos apropriad

os são utilizados

EResponsab

ilidades estão

definidas

FMelhorias contínuas

são realizadas

1. Seleção de ideias e projetos

2. Planejamento e gerenciamento de projetos

3. Geração de ideias

4. Garantia da qualidade de processos e métodos

5. Motivação de pessoal técnico

6. Estabelecimento de equipes multidisciplinares

7. Coordenação de P&D e Marketing

8. Transferência de tecnologia para manufatura

9. Incentivo de colaboração entre P&D e Financeiro

10. Relação do P&D com Planejamento de Negócio

Por exemplo, a atividade de seleção de ideias e projetos tem nível “A” quando não há

critérios bem estabelecidos para esta seleção, ou seja, a seleção ocorre de acordo com o

feeling dos tomadores de decisão. Esta atividade alcança nível “F” quando o

departamento de P&D utiliza diferentes modelos de avaliação de viabilidade de

pesquisas básicas e exploratórias, visando o sucesso comercial.

Schumman et al. (1995) apontaram que, embora a função P&D seja bastante complexa

e que poucos indicadores de desempenho sejam insuficientes para mapear toda essa

complexidade, se existe um processo de P&D, então é possível haver um sistema de

medição de desempenho aceitável. Eles propuseram um modelo que permite avaliar a

P&D em duas dimensões. A primeira dimensão consiste nas diferentes classes de

indicadores de desempenho a partir do propósito de medida - indicadores internos e

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externos, e indicadores do resultado dos processos e indicadores do processo. A Figura

24 ilustra esses propósitos.

Monitoramento do Desempenho Melhoria da Produtividade Técnica

Avaliação de Competidores Benchmarking ou Melhores Práticas

Indicadores de Saída de Processo Indicadores de Processo

Indicadores Internos

Indicadores Externos

Figura 24: Diferentes Indicadores são Necessários para Diferentes Propósitos.

Fonte: Schumman et al. (1995)

Por exemplo, para monitorar desempenho interno da P&D, comparando o desempenho

da P&D em diferentes instantes do tempo, são necessários indicadores internos para

avaliar saída do processo (1º Quadrante). Para melhorar produtividade técnica,

orientando esforços para diminuição do ciclo de operação do processo, melhoria de

qualidade e redução de custos, são necessários indicadores internos inseridos no próprio

processo (2º Quadrante). Para avaliar competidores, são necessários indicadores usados

não só pela empresa, mas por outras empresas (externos) para avaliar saídas dos

processos internos do resultado do processo – o foco é em quê outras empresas

conseguem desempenho superior (3º Quadrante). Finalmente, para avaliar melhores

práticas ou benchmark são necessários indicadores usados também por outras empresas

– o foco é como outras empresas conseguem desempenho superior (4º Quadrante).

A segunda dimensão de avaliação foi construída a partir do quadro conceitual proposto

por Brown e Svenson (1988), para prover informações sobre os subsistemas da P&D –

além das partes estabelecidas por esses autores, Schumman et al. (1995) destacam o

subsistema “Pessoas” e consideram os resultados (outcomes) como consequências,

classificando-as como “Clientes Internos”, “Clientes Externos” e “Sociedade”. Os

indicadores de desempenho podem ser, então, classificados de acordo com os objetivos

a serem alcançados com a medição (monitorar desempenho, melhorar produtividade,

avaliar competidores ou benchmark) e o foco a ser dado (Pessoas, Processos, Saídas ou

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Consequências). Por exemplo, para o monitoramento de desempenho em processos, o

tempo de ciclo de operação, o break-even time, o rendimento inicial da produção (first-

pass yield) e o % tempo gasto com planejamento poderiam ser adotados. Para avaliação

dos competidores em Saídas, os indicadores padrão de desempenho dos produtos –

qualidade, confiabilidade, desempenho, % vendas de novos produtos seriam sugeridos.

Chiesa e Masella (1996) determinaram um conjunto de indicadores de desempenho para

P&D de acordo com duas grandes etapas presente em um processo de inovação: uma

sobre controle total da P&D e outra fora do controle (ou controle parcial da P&D). A

Figura 25 traz essa classificação.

Sobre Controle Completo do P&D

Projeto

Sucesso Técnico

Eficiência

Produtividade

Aderência ao Planejado

Portfolio EficiênciaSinergias

Risco Balanceado

Sobre Controle Parcial do P&D

Integração com a Manufatura:

-Tempo para lançamento no mercado

-Nº de reprojetos

-Desempenho do design

Integração com Marketing

-Nº de novos produtos, licenças e patentes

-Percentual de vendas e lucros de novos produtos

-Satisfação do cliente

Figura 25: Indicadores de Desempenho para P&D de Acordo com Etapas do Processo

Fonte: Chiesa e Masella (1996, p.54)

A primeira se inicia com a pesquisa básica e vai até a entrega dos resultados da P&D.

Sob este aspecto, é importante medir o desempenho (eficácia e eficiência) dos projetos

individuais e da eficiência do portfólio de projetos. A segunda etapa se inicia na entrega

dos resultados da P&D, especificamente no processo comercial com a integração com a

Manufatura e preparativos para o lançamento do produto, e vai até o fim de horizonte de

tempo da exploração comercial da tecnologia.

Hauser (1996) classificou as atividades de P&D em três camadas (tiers), onde a

primeira camada refere-se às atividades que conformam as atividades mais exploratórias

(tais como a estrutura de pesquisa básica, formas de estruturação de equipes de trabalho,

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etc.). “Capacitação das pessoas”, “qualidade da pesquisa”, “papers publicados” seriam

exemplos de indicadores mais aderentes a esta camada.

A segunda camada refere-se às atividades que selecionam e desenvolvem programas

para a criação de competências centrais. “Nº de patentes depositadas”, “nº de inovações/

novas ideias surgidas a partir do desenvolvimento de uma plataforma tecnológica”, e

“adequação dos objetivos da estratégia tecnológica aos objetivos estratégicos” seriam

exemplos de indicadores sugeridos nesta camada.

A terceira camada refere-se às atividades ou projetos focados em necessidades mais

diretas e imediatas dos clientes. “Receita de novos produtos (três próximos anos)/ custos

P&D”, “margem de contribuição de novos produtos”, “break-even point” seriam

exemplos de indicadores sugeridos nesta camada.

O conjunto de indicadores de desempenho das três camadas comporia desta forma, um

balanceamento razoável para medir desempenho da P&D a partir das principais etapas

de um processo de P&D (desde a pesquisa básica e aplicada até o desenvolvimento e

lançamento de produtos), evitando foco excessivo em uma determinada atividade ou

estágio da P&D.

García-Valderrama e Mulero-Mendigorri (2005), a partir do quadro conceitual de

Brown e Svenson (1988) elaboraram, utilizando vasta revisão da literatura e a opinião

de experts em assuntos relacionados à gestão de P&D, uma lista de objetivos

perseguidos com a medição de desempenho em cada elemento considerado na estrutura

de Brown e Svenson (1988). Esses objetivos são listados na Tabela 7.

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Tabela 7: Lista de Objetivos Perseguidos com a Medição de Desempenho em cada Elemento da

Estrutura de Brown e Svenson (1988).

Fonte: adaptado de García-Valderrama e Mulero-Mendigorri (2005, p. 326)

Dimensão Elementos Objetivos da Medição de Desempenho

Entradas do P&D

Investimentos e Infra-estrutura de P&D

-Esforço com P&D-Utilização da infraestrutura de P&D

Recursos Humanos para P&D

-Aumento da capacidade dos Recursos Humanos-Treinamento e experiência dos Recursos Humanos-Aptidão dos Recursos Humanos-Atitude dos Recursos Humanos

Processos de P&D

Planejamento das Atividades de P&D

-Capacidade de adaptação das atividades planejadas aos objetivos-Escolha (se acertada) dos processos e resultados

Implementação das Atividades Planejadas de P&D

-Capacidade de adaptação das atividades planejadas ao orçamento-Adaptação do pessoal de P&Dao uso de novas tecnologias-Aptidão dos trabalhadores envolvidos com a produção no processo de transferência de tecnologia-Fluxo de informações entre os departamentos da empresa-Clima/ ambiência no P&D-Nível de coordenação entre atividades de P&De Marketing-Dificuldade de se alcançar objetivos-Esforço para modificar e diversificar atividades de P&D-Envolvimento dos stakeholders- Influência da regulação no P&D

Saídas do P&D

Alcance dos Objetivos de P&D

-Dificuldade em alcançar objetivos determinados no planejamento e orçamento do P&D

Resultados Diretos com Esforço em P&D

-Utilização da tecnologia adquirida-Utilização da tecnologia desenvolvida-Aumento do nº de patentes e artigos apresentados em conferências- Inovação em produto e processo-Qualidade do P&D

Resultados do P&DCrescimento do lucro -Nível de sucesso financeiro e comercial obtido com as aplicações

desenvolvidas no P&DMelhorias Gerenciais -Nível de melhorias gerenciais na empresa

Baglieri et al. (2006), a partir de uma extensa revisão da literatura, propuseram um

framework para projetar sistemas de medição de desempenho para P&D, considerando a

intangibilidade da atividade e sob duas dimensões.

A primeira dimensão é baseada nas diferentes fases típicas de um projeto de P&D,

segundo a curva em formato de “S”. As três fases podem ser identificadas como

“geração”, isto é, todas as atividades que geram saídas relacionadas a progressos

tecnológicos, tanto para inovação incremental quanto para inovação radical; “transição”,

isto é, todas as atividades cujos objetivos destas estejam associados à transferência de

know-how para o produto ou para os processos de manufatura; e “difusão”, ou seja, as

atividades relacionadas ao lançamento do produto no mercado. Os autores denominaram

esta dimensão de indicadores de desempenho de domínio das medidas de desempenho.

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Outra dimensão considerada pelos autores como importante é o objeto das medidas de

desempenho, relacionada ao processo de P&D como sistema: entradas, processos e

saídas, conforme classificação de Brown e Svenson (1988).

Esses elementos então constituiem a avaliação de desempenho da P&D, que considera

resultados tangíveis e intangíveis das fases de geração, transição e difusão, a forma pela

qual as fases contribuem para criação de valor da empresa (como a avaliação da

consistência das atividades com a estratégia de negócio), e os recursos humanos,

financeiros e tecnológicos usados na entrada de cada uma dessas fases.

A Tabela 8 ilustra exemplos de indicadores de desempenho considerando essas duas

dimensões.

Tabela 8: Framework para Projeto de Sistemas de Medição de Desempenho.

Fonte: Baglieri et al. (2006, p. 8)

Domínio das Medidas de Desempenho

Geração Transição Difusão

Objeto das Medidas de

Desempenho

Saída

Quantidade e qualidade do "estoque tecnológico":-Excelência e originalidade;-Visibilidade no longo prazo;-Capacitações habilitadas no curto prazo.

Capacidade de sustentabilidade das metas estratégicas:-Nº de novos produtos- Impacto na eficiência produtiva-Contribuição para a estratégia de marketing e serviços

Alcance das metas estratégicas:-Margem de lucro de novos produtos-Market share -Crescimento do negócio-Fidelidade da marca

Processo

Qualidade e efetividade do :-Planejamento no longo prazo;-Atividades de seleção no curto prazo;-Gestão de projeto;-Atividades operacionais.

Tempo, Custo, Qualidade em:-Processo de desenvolvimento de novos produtos-Desenvolvimento tecnológico de novos produtos

Eficiência e efetividade dos processos comerciais e de marketing

Entrada

Quantidade de recursos para inovação:-Nº de pesquisadores;-Despesas com P&D/ turnover.

Quantidade de recursos para desenvolvimento:-Nº de designers- Investimentos em tecnologias de projeto, como CAD

Quantidade de recursos para lançamentos comerciais:-Nº de funcionários envolvidos na força de vendas-Orçamento com propaganda e marketing

Como o objetivo central dos autores era monitorar a contribuição dos departamentos

relacionados ao desenvolvimento tecnológico para a criação de valor da P&D, os

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autores consideram apenas os quatro primeiros quadrantes da esquerda para a direita

(Geração + Transição e Saídas + Processo) para apresentar os componentes desta

avaliação: WR&D = WKos + WKip, onde:

• Kos = valor do conhecimento desenvolvido/ disponível (knowledge on the shelf);

• Kip = valor do conhecimento em progresso/ em desenvolvimento (knowledge in

progress).

O primeiro consiste de todo o conhecimento técnico e científico que pode ser

contabilizado e transferido para um produto ou serviço, interno ou externo à empresa. O

segundo consiste de dois componentes: o conhecimento embarcado em projetos em

desenvolvimento e o conhecimento alimentado por competências e expertises de

pessoas que participam dos projetos em andamento. Os autores então propõem

indicadores de desempenho que irão avaliar esses dois componentes, nas fases de

geração e transição, segundo ilustrado na Tabela 9.

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Tabela 9: Aplicação do framework para Avaliação da Criação de Valor da P&D.

Fonte: Baglieri et al. (2006, p. 12)

Componentes do P&D Geração Metodologia para Avaliação

Kos na fase de geração

Quantidade e qualidade do "estoque tecnológico":- Excelência e originalidade;- Visibilidade no longo prazo;- Capacitações habilitadas no curto prazo.

- Custo de reprodução- Custo de atualização- Coeficientes empíricos e indicadores setoriais- Multiplicadores e razões

Kip na fase de geração

Qualidade e efetividade do :- Planejamento no longo prazo;- Atividades de seleção no curto prazo;- Gestão de projeto;- Atividades operacionais.

Kos na fase de transição

Capacidade de sustentabilidade das metas estratégicas:- Nº de novos produtos- Impacto na eficiência produtiva- Contribuição para a estratégia de marketing e serviços

- Fluxo de caixa descontado- Valor presente líquido- Lucratividade incremental- Royalties esperados- Custo da perda- Opções reais- Multiplicadores e razõesKip na fase de transição

Tempo, Custo, Qualidade em:- Processo de desenvolvimento de novos produtos- Desenvolvimento tecnológico de novos produtos

Análise e Síntese das Propostas

A dimensão processual constitui uma importante estrutura para projetos de sistemas de

medição de desempenho para P&D. Trata-se de um conjunto de propostas que vão além

das propostas pontuais vistas anteriormente, que se limita em avaliar separadamente

eficiência, efetividade e produtividade.

A visão processual permite que o sistema de medição de desempenho contemple todas

as dimensões de desempenho, no que se refere aos indicadores de entrada, processos e

saídas, além de permitir que se identifique a cadeia causal das atividades de P&D. Ou

seja, é possível identificar como, por exemplo, investimentos em P&D impactam o

andamento dos projetos de pesquisa e/ou de desenvolvimento, e como estes impactam a

qualidade técnica do produto gerado, ou a efetividade do produto no mercado.

A proposta de Brown e Svenson (1988) é interessante não só por adotar esta abordagem,

mas por diferenciar as saídas dos resultados por reconhecerem a existência de um

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subsistema “receptor” do produto que sai da P&D. Isto torna possível a discussão de

eficácia e efetividade da P&D, já que nem todos os produtos gerados pela P&D serão

efetivamente serem transformados em valor para a empresa.

Algumas propostas utilizam a visão processual da P&D com diferentes propósitos. Por

exemplo, Szakonyi (1994) propõe um framework que tem como objetivo avaliar o nível

de maturidade da alguns processos de P&D, articulando audit e visão processual,

mesmo que ficando de lado a preocupação de mensurar entradas, saídas e resultados

desses processos. Entretanto, a lógica causal pode ser utilizada: se grande parte dos

processos de P&D possuem nível elevado de maturidade, então é provável que a P&D

gere boas saídas e que essas sejam efetivas para a organização. Cabe ao gestor da P&D

saber identificar quais os processos que merecem ser avaliados e saber definir quais são

as saídas desses processos e o quanto essas saídas são efetivas.

A utilização da estrutura de processo da P&D com complementaridades de outras

estruturas de avaliação são também interessantes. Schumman (1995) utiliza o quadro

conceitual de Brown e Svenson (1988) para definir uma dimensão importante de

indicadores: os indicadores internos e externos. Os indicadores internos avaliam

processos e suas saídas sob a perspectiva da organização. Os indicadores externos

avaliam processos e saídas sob a perspectiva comparativa com atores externos à

organização – competidores, parceiros ou colaboradores.

Hauser (1996), a partir das diferentes camadas presentes na P&D, sugere a concepção

de indicadores de desempenho a partir do propósito por trás de cada uma dessas

camadas, a que está mais relacionada com pesquisa básica, a que se refere ao processo

de desenvolvimento, e a que se refere às interfaces com cliente.

Chiesa e Masella (1996) diferenciam os indicadores de desempenho que estão sob

domínio total da P&D (indicadores de projetos e portfólio) daqueles sob o domínio

parcial da P&D (que diz respeito às saídas da P&D e seus impactos nos subsistemas

receptores, como Manufatura e Marketing).

García-Valderrama e Mulero-Mendigorri (2005) detalham o quadro conceitual de

Brown e Svenson (1988), criando diferentes indicadores de desempenho para cada etapa

do processo de P&D, segundo diferentes objetivos do sistema de medição.

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Outra importante proposição de framework foi feita por Baglieri et al. (2006) que

relaciona o quadro conceitual de Brown e Svenson (1988) com as fases típicas de um

projeto de P&D (geração, transição e difusão) para a criação de indicadores de

desempenho que irão avaliar conhecimento desenvolvido e conhecimento em progresso,

importantes informações para determinação de valor de ativo intangível das

organizações.

Cooper (1990) elabora um quadro conceitual que não se propõe a apoiar projetos de

sistemas de medição de desempenho para P&D, mas estrutura um processo específico

para avaliação de projetos de desenvolvimento de produtos por meio da lógica “gates”

de decisão: em cada gate devem existir critérios objetivos e bem definidos para avaliar

se um projeto deve ser iniciado, continuar, ser interrompido ou ser modificado. Já que

cada “gate” vai tornando a avaliação mais detalhada, é de se esperar que, na medida em

que o projeto passe por estágios mais avançados de decisão, o critério de avaliação do

projeto vá se tornando mais objetivo e quantitativo. Ou seja, a lógica dos stage gates

exige a utilização de indicadores de desempenho de diferentes naturezas, conforme

apresentado na seção anterior.

Diante esta revisão, alguns princípios de construção podem ser identificados a partir

dessas propostas:

P.C. 6 Visão da P&D como um Processo de Negócio

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar a P&D como um processo, onde o desempenho deste processo se dá em diferentes etapas: entradas, durante o próprio processamento, saídas e resultados (BROWN e SVENSON, 1988).

P.C. 7 Stage Gate para Desenvolvimento do Produto

Para o caso específico do processo de desenvolvimento de produto, o sistema de medição de desempenho deve considerar a ideia dos stage-gates, um roadmap conceitual para avaliação do processo de desenvolvimento em diferentes etapas, desde a concepção de ideias até o lançamento comercial (COOPER, 1990).

P.C. 8 Nível de Maturidade dos Processos

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar o nível de maturidade de alguns processos da P&D considerados relevantes, tendo em vista a servir como um instrumento de audit para avaliação do desempenho da P&D (SZAKONYI, 1994)

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P.C. 9 Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar não só a P&D como um processo, mas também a dimensão relacionada ao escopo do indicador, ou seja, se se trata de indicadores internos ou externos à organização. (SCHUMMAN et al., 1995)

P.C. 10 Processos em Diferentes Camadas

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar os processos de P&D como apresentado nas três camadas de Hauser (1996), que relacionam atividades que conformam as atividades exploratórias (por exemplo, pesquisa básica); as atividades que selecionam e desenvolvem programas para a criação de competências centrais; e as atividades ou projetos focados em necessidades mais diretas e imediatas dos clientes (HAUSER, 1996). Importante considerar que, desses indicadores, alguns estarão sob o domínio total da P&D (por exemplo, entradas de projeto e do portfólio de projetos) e outros estarão sob domínio parcial da P&D (por exemplo, aqueles relacionados ao impacto da saída da P&D na Manufatura ou no Marketing) (CHIESA e MASELLA, 1996)

P.C. 11 Relação com Objetivos Envolvidos em Cada Processo

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar a relação entre as etapas do processo da P&D com objetivo que está por trás de cada etapa - esforço com P&D, aumento da capacidade com recursos humanos, envolvimento dos stakeholders, etc. (GARCÍA-VALDERRAMA e MULERO-MENDIGORRI, 2005)

P.C. 12 Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar a relação entre etapas do processo da P&D – entrada, processo, saída, e fases típicas de um projeto de P&D, geração, transição, e difusão (BAGLIERI et al., 2006)

A visão processual constitui em uma das possíveis dimensões para avaliação do

desempenho da P&D das organizações, conforme observado acima. O que torna essas

propostas melhores a anteriores é justamente a necessidade de se conhecer os processos

da P&D de forma a ser possível identificar os indicadores de desempenho.

Conforme observado em propostas, por exemplo, de García-Valderrama e Mulero-

Mendigorri (2005), e Baglieri et al. (2006), há uma tentativa de se combinar a dimensão

de processos com outras dimensões, como objetivos do sistema de medição e fases

típicas de um projeto de P&D, respectivamente. A evolução dessas propostas consiste,

justamente, em combinar diferentes dimensões de desempenho, além da dimensão de

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processos, como forma melhorar o projeto de sistema de medição de desempenho para

P&D. Essas propostas serão consideradas na seção a seguir.

5.3.3. Elementos Multidimensionais da P&D

Nesta seção serão apresentadas propostas baseadas na consideração de elementos

multidimensionais presentes na P&D.

Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

Cordero (1990) buscou a elaboração de sistemas de medição de desempenho para P&D

a partir da separação de indicadores de efetividade e eficiência (o que medir), assim

como os primeiros autores a tratar o assunto desta forma, como Collier (1977).

Além disso, Cordero (1990) propôs que os indicadores de desempenho fossem pensados

sob diferentes níveis de responsabilidade (nível organizacional ou de uma unidade de

negócio dentro de uma corporação, unidade de P&D, unidade de marketing/

manufatura).

Finalmente, os indicadores de desempenho precisariam ser concebidos de acordo com

as fases típicas de um projeto – para fase de planejamento e para fase de controle. A

Figura 26 sintetiza a lógica contida nesta classificação.

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Unidade de Negócio

Unidade Técnica:P&D

Unidade Comercial:Marketing, Manufatura,

Pós Vendas

Recursos alocados para Unidade Técnica

Recursos alocados para Unidade Comercial

Saíd

as d

a Un

idad

e Té

cnic

a

Saídas: produtos/ serviços comercialmente viáveis

Figura 26: Modelo de Sistema de Medição de Desempenho.

Fonte: Cordero (1990, p. 186)

Desta forma, o autor reconhece que a função de P&D não é a única a contribuir para a

geração de desempenho econômico. Outros autores passaram a então a discutir a função

da P&D não somente como um centro de custo, mas também como um centro

profissional de prestação de serviço (GRADY E FINCHAM, 1991) e como um centro

de lucro (PEARSON et al. 2000).

O autor discutiu então diferentes métodos e dimensões de desempenho para cada um

dos elementos. A Tabela 10 sumariza a discussão, elencando os indicadores de

desempenho para cada dimensão de desempenho.

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Tabela 10: Sumário de Indicadores/ Metodologias Utilizados para Avaliar Desempenho da

Inovação

Fonte: Cordero (1990, p. 189)

Indicadores de Desempenho/ Metodologia de Medição Comercial Tecnológico Comercial Tecnológico Planejamento Controle

Indicadores Financeiros

Receitas X X XDespesas X X X XTaxa de retorno, valor presente, payback

X X X X X

Árvore de decisão, análise de risco, análise risco-recompensa

X X X X

Percentual de vendas de novos produtos

X X X

Oportunidade de negócio X XIntensidade de pesquisa X X

Fluxo de caixa X X X X

Indicadores não Financeiros

Market share X X XPERT, CPM (tempo) X X X XMatéria prima, fornecedores, maquinário

X X X X

Novos produtos: quantidade, significância, importância, taxa de sucesso

X X

Aspectos de resultados por cada unidade comercial

X X X

Publicações e patentes X X XCitações e análise de patentes

X X

Recompensas, honrarias X XIndicadores de ciências X X X

Qualitativos

Modelos gráficos, checklists, placares

X X X X X X

Q-sorting X X X X XRevisões subjetivas X X X X X X

Quantitativos/ Qualitativos

Análise de fator X X XConverging partial indicators X X X

Saídas Recursos Timming

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Para a fase de planejamento, os indicadores de desempenho precisam ser utilizados para

avaliar alternativas e selecionar aquelas que ajudem a empresa a atingir seus objetivos

estratégicos, além de estabelecer padrões de saída e recursos a serem alocados. Para a

fase de controle, os indicadores de desempenho devem ser utilizados para registrar

saídas e recursos utilizados por projetos ou pela carteira de projetos em diferentes níveis

de responsabilidade, comparando-os com os que foram planejados.

Em relação aos níveis de responsabilidade, o autor reconheceu a necessidade da

utilização de indicadores globais, como os financeiros - a partir de métodos

reconhecidamente empregados para se avaliar projetos, como taxa de retorno, valor

presente líquido e tempo de payback, e não financeiros – relacionados ao sucesso

comercial do novo produto (como market share, quantidade de novos produtos

desenvolvidos durante determinado período e sua performance no mercado, etc.). O

autor destacou também nestes casos a importância de indicadores qualitativos, baseados

em checklists.

Exemplos de indicadores típicos para avaliar desempenho tecnológico são os que

avaliam patentes, publicações, citações, etc. Geralmente, não se usa indicadores

financeiros para avaliar o resultado de etapas mais básicas do processo de

desenvolvimento tecnológico, conforme apontado por Pappas e Remer (1985). Como

exceção, segundo Cordero (1990), a ‘oportunidade de negócio’ pode ser definida como

uma tentativa de medir o resultado financeiro previsto a partir da comercialização de um

produto desenvolvido com as saídas tecnológicas da P&D.

Como indicadores de entrada do processo de P&D o autor destacou aqueles baseados

em alocação orçamentária, baseados em relações com saídas (como a intensidade de

P&D, percentual de receita de vendas alocada em P&D) ou baseados em comparativos

históricos. Outros indicadores de entrada são aqueles que avaliam quantidade e

formação do staff – número de pesquisadores com doutorado, mestrado ou

especialização. Finalmente, o autor destacou também a possibilidade de se avaliar

desempenho individual ou de times de pesquisadores a partir de chekclists, aplicados a

seus superiores, subordinados e aos pares.

Em relação à avaliação da unidade comercial, o autor propôs que tal avaliação fosse

feita individualmente para cada unidade. Nota-se que as saídas da unidade tecnológica

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são as entradas da unidade comercial. Qualidade e quantidades físicas são normalmente

utilizadas para avaliar resultado da manufatura.

Análise e Síntese da Proposta

O principal ponto forte da proposta de Cordero (1990) é a visão multidimensional da

P&D considerando saídas diferentes para cada unidade (técnica e comercial),

explicitando o que deve ser considerado em relação às saídas e resultados do processo

de P&D nos moldes de Brown e Svenson (1988). Além disso, os autores reconhecem a

importância de se considerar diferentes naturezas de indicadores de desempenho

(financeiros, não financeiros) e o timming relacionado à avaliação (se no nível de

planejamento ou controle), corroborando a classificação feita anos atrás por Rubenstein

(1957).

Como regra de projeto associada a esta proposta, pode-se considerar:

P.C. 13 Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar a relação entre natureza do evento a ser medido - efetividade, eficácia e eficiência, relacionando resultados, saídas e entradas; níveis de responsabilidade - nível organizacional ou de uma unidade de negócio dentro de uma corporação, unidade de P&D, unidade de marketing/ manufatura, e de acordo com o timming envolvido na avaliação – se na fase de planejamento ou na fase de controle. (CORDERO, 1990)

Alguns dos elementos considerados nesta proposta (por exemplo, Unidade de

Responsabilidade e Timming) serão considerados nas propostas posteriores, como os

fatores de contingência, ou seja, aquilo que determinará a natureza dos indicadores de

desempenho a serem utilizados na P&D.

Outras propostas posteriores a esta, contudo, consideraram o desdobramento da P&D

em diferentes níveis de gestão, desde as operações da P&D ao nível mais estratégico da

organização, sob a lógica de criação de valor estratégico.

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Diferentes Níveis de Criação de Valor

Tipping e Zeffren (1995) apresentaram uma metodologia de avaliação do valor

estratégico da P&D para a organização a partir de um quadro conceitual denominado

Technology Value Pyramid (TVP). A Figura 27 ilustra a estrutura do TVP:

Criação de

Valor

Criação de Portfólio

Integração comNegócio

Valor de Ativos Tecnológicos

Processos de P&D paraApoiar Inovação

Figura 27: Pirâmide de Valor Tecnológico.

Fonte: Tipping et al. (1995, p. 23)

O papel da P&D para a geração de valor para organização pode ser visto por uma

estrutura em pirâmide hierarquizada. Em sua base estão contidos os elementos

estruturais para a geração de valor estratégico, como práticas e processos desenvolvidos

na P&D e o valor de ativos tecnológicos.

Os próximos níveis da pirâmide consistem na definição da estratégia tecnológica e de

negócio. Indicadores de desempenho apropriados permitem avaliar a efetividade das

atividades relacionadas ao desenvolvimento do produto e da gestão do portfólio,

mostrando como estão sendo gerados valores para o negócio.

Finalmente, no topo da pirâmide estão contidos os valores para o negócio que devem ser

alcançados pela P&D.

O reconhecimento dos fatores contidos na pirâmide, juntamente com um conjunto

articulado de indicadores, permitem que este modelo seja usado para gerenciar a

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inovação em diferentes níveis, desde os níveis estruturais até os de resultados

estratégicos.

Trinta e três indicadores de desempenho foram sugeridos e distribuídos pelos diferentes

níveis da pirâmide, conforme ilustrado na Tabela 11. Os autores recomendam que a

escolha dos indicadores deve ser orientada caso a caso, e que uma quantidade grande de

indicadores de desempenho pode prejudicar a avaliação dos resultados da P&D.

Tabela 11: Menu de Indicadores de Desempenho para P&D.

Fonte: adaptação de Tipping e Zeffren (1995)

Indicadores de

Desempenho

Complemento

Cria

ção

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D

1. Retorno Financeiro

a) Vendas de novos produtos/ total de vendas b) Economia de custos de bens vendidos a partir de desenvolvimento de produtos/ lucro médio obtido c) Ganho com P&D = lucro das vendas de novos produtos e melhoria dos produtos existentes e do menor custo de bens produzidos de novos processos (ou formulações) ou processos (ou formulações) melhorados d) Retorno com P&D = benefícios da P&D/ investimento em P&D (ou Ganhos com P&D/ Esforço com P&D)

X

2. Valor Projetado do "pipeline" da

P&D

a) Valor de vendas projetadas por projetos do "pipeline" da P&D (incorporando probabilidades de alcance dos resultados dos projetos) b) Valor de receitas projetadas por projetos do "pipeline" da P&D (incorporando probabilidades de alcance dos resultados dos projetos)

X X

3. Custos Comparativos de Produção

Custos comparativos frente aos competidores - considerar semelhança das atividades do processo produtivo

X X

4. Qualidade e Confiabilidade

do Produto

a) Avaliação do produto feito pelo cliente frente aos produtos concorrentes b) Avaliação taxa de confiabilidade ou taxa de defeito

X X

5. Margem de lucro

Margem de lucro como % de vendas X X

6. Market share

a) Market share direto - por categorias (vendas, receitas, etc., de acordo com a categoria praticada pela indústria) b) Market share em mercados específicos - para indicação de ameaças e oportunidades

X X

7. Alinhamento estratégico

a) Fração do portfolio de P&D consistente com metas corporativas b) Fração das metas corporativas que requerem desenvolvimento tecnológico endereçadas/ atendidas pelo portfolio de P&D

X X X

8. Distribuição de investimento

tecnológico

Por dimensão risco-recompensa, por linha de produto, por unidade de negócio, por manutenção do negócio ou novo negócio, por redução de custo ou por diferenciação, por nível de importância determinada do CEO, etc.

X X

9. Número de formas pelas

quais a tecnologia é

explorada

Por exemplo, nº de produtos que utilizarão determinada tecnologia X X

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113

10. Nº de projetos

aprovados

Por exemplo, como fração do total de projetos do portfolio de P&D com aprovação corporativa ou da unidade de negócio.

X

11. Uso de esquema de

milestones em projetos

Fração de projetos do portfolio de projetos de P&D que utilizam entregas parciais definidas por milestones

X X

12. % de investimento

feito pela unidade de

negócio

Fração do orçamento da P&D oriunda de unidades de negócio X

13. Transferência de tecnologia

para a manufatura

Avaliação qualitativa que mede a efetividade da transferência de tecnologia sob a perspectiva da manufatura

X X

14. Uso de times interfuncionais

de projetos

Fração de projetos do portfolio de P&D com alocação de times interfuncionais de projetos

X X

15. Benefícios da tecnologia do

produto

a) Ranking do produto para o cliente - razão do ranking da importância do produto para o cliente pelo ranking dos produtos concorrentes para o cliente b) Avaliação econômica = (preço diferencial obtido em virtude de ganhos com qualidade obtida pelo esforço técnico menos o custo desta qualidade) * nº de unidades vendidas c) Avaliação market share = share diferencial obtido com preço constante com adoção de qualidade obtida pelo esforço tecnológico

X X

16. Tempo de resposta ao

movimento dos competidores

Por exemplo, a razão entre tempo da empresa responder a uma ameaça do competidor pelo tempo do competidor responder a uma ameaça da empresa

X X

17. Investimento em tecnologia

Gastos anuais com P&D (pessoal e equipamentos), comparados aos competidores, à media da indústria

X

18. Qualidade dos funcionários

a) Avaliação dos clientes internos b) Avaliação dos clientes externos c) Reconhecimento externo d) Trabalhos publicados

X X

19. Tempo do ciclo de

operação

a) Tempo do ciclo de mercado - identificação de uma necessidade até vendas b) Tempo do ciclo de projeto - determinação do projeto até vendas

X X

20. Avaliação das

capacitações tecnológicas feitas pelos

clientes

Média da avaliação dos clientes (internos e externos) das capacitações tecnológicas da empresa, em termos de efetividade da inovação de produtos e serviços

X

21. Quantidade e qualidade de

patentes

a) % de utilidade das patentes b) Valor estratégico da patentes c) % de retenção d) Custo da invenção

X X

22. Vendas protegidas por

proteção industrial

a) % de vendas protegidas por patentes b) % de vendas proprietárias - % vendas protegidas por patentes, segredos industriais, know how

X X

23. Avaliação de pares

a) Externos - grupo de especialistas externos avaliam o mérito da gestão tecnológica da empresa b) Internos - grupo de especialistas externos avaliam o mérito da gestão tecnológica da empresa

X X

24. Satisfação do cliente

a) Externo - em relação a várias dimensões, considerando tecnologia de produto e processo (por exemplo, a partir do benefício percebido por serviços de assistência ao cliente) b) Interno - em relação em relação a várias dimensões, considerando tecnologia de produto e processo (por exemplo, percebidos pelas equipes de manufatura, marketing e engenharia)

X X

25. Projetos com etapas críticas

cumpridas

a) % de projetos com milestones alcançados b) Nível de desempenho de cada milestone

X

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114

26. Tempo de contato com

cliente

Média de horas em que o pesquisador fica em contato direto com clientes externos ou internos

X

27. Preservação dos resultados

técnicos % de resultados dos projetos de P&D capturados em reports técnicos X

28. Eficiência dos processos

técnicos

a) Avaliação dos projetos - razão entre custos totais dos projetos bem sucedidos pelo número de projetos b) Avaliação do porfolio - razão entre o orçamento total da P&D pelo número de projetos com resultados comerciais

X X

29. Moral do funcionário

Avaliação quantitativa de aspectos relacionados a satisfação e moral do funcionário X

30. Clareza das metas

Avaliação quantitativa de aspectos relacionados a clareza e entendimento dos objetivos dos projetos pelos funcionários

X

31. Empowerment

Avaliação qualitativa de aspectos relacionados ao apoio e liberdade dos funcionários para a condução dos projetos

X

32. Suporte gerencial

Avaliação qualitativa de aspectos relacionados ao apoio gerencial X

33. Project Championship

% de champion projects identificados na carteira de projetos X

Análise e Síntese das Propostas

A proposta sugerida pelos autores, segundo a classificação contida em um avisão

bastante típica da Qualidade, buscam efetivamente trazer uma visão multidimensional

da P&D, desde os níveis mais operacionais, caracterizados pelos processos da P&D e

alguns aspectos relacionados a Criação de Valor de Ativos Tecnológicos, até os níveis

estratégicos, caracterizados pela zona de Criação de Portfolio e Criação de Valor para o

Negócio.

Importante observar a proposta tem como objetivo central a estruturação dos elementos

presentes na P&D que alinhem operações e estratégia. Por essa razão, a proposta de

Tipping e Zeffren (1995) encontra-se estreitamente relacionada às propostas de

alinhamento estratégico, conforme visto na seção 5.3.1, embora seja não seja explícita a

forma pela qual as relações causais orientam este alinhamento.

A seguinte regra de projeto pode ser identificada a partir dessa proposta:

P.C. 14 Diferentes Níveis de Criação de Valor

O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar elementos em diferentes níveis para avaliar a geração de valor da P&D para organização - processos de P&D, valor de ativos tecnológicos, integração com o negócio e criação de portfólio (TIPPING e ZEFFREN, 1995)

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Apesar da visão multidimensional presente na proposta, ela desconsidera elementos

importantes presentes até mesmo em propostas anteriores, como a necessidade de

diferenciação das atividades de pesquisa e desenvolvimento. Isto é particularmente

crítico para os elementos mais intangíveis presentes nessas propostas, como o que trata

dos benefícios da tecnologia do produto, moral dos funcionários, e liderança. Embora

Tipping e Zeffren (1995) propusessem indicadores de desempenho para esses

elementos, o tratamento das informações que levem a avaliação desses elementos é

bastante complicado, quando não há visão de causalidade presente entre os indicadores

tangíveis e intangíveis. A causalidade entre os indicadores de desempenho também não

foi percebida nas propostas apresentadas.

A relação causal presente nos diferentes indicadores de desempenho é uma

característica preponderante no quadro conceitual desenvolvido por Kaplan e Norton

(1992, 1993) a partir da necessidade de se considerar perspectivas multidimensionais de

desempenho de uma empresa, que não fosse apenas as financeiras. Propostas de BSC

para P&D foram então desenvolvidas, conforme pode ser observado na seção seguinte.

Propostas que Consideram Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob

Diferentes Perspectivas de Avaliação

Kerssens-van Drongelen e Cook (1997) sugeriram que a estrutura do sistema de

medição de desempenho para P&D poderia seguir os conceitos do Balanced Scorecard,

considerando os elementos centrais do BSC como alinhamento estratégico,

balanceamento dos indicadores e a relação causal dos objetivos estratégicos, como

forma de promover o entendimento e o aprendizado da organização. Esta proposta pode

ser visualizada na Figura 28.

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116

Figura 28: Proposta de BSC para P&D.

Fonte: Kerssens-van Drongelen e Cook (1997, p.355)

Bremser e Barsky (2004) apresentaram uma estrutura de BSC para P&D, orientado

fortemente para a necessidade de alocação de recursos em projetos de P&D, mantendo o

alinhamento estratégico, o que justificou a utilização do BSC em conjunto com a

técnica Stage-Gate para avaliação de projetos. Esta abordagem permite o

balanceamento dos objetivos de curto e longo prazo, de avaliação financeira e não

financeira e de resultados com meios de se atingir os resultados, além de facilitar o

cascateamento dos objetivos corporativos para o P&D e para as equipes constituintes

desta área. A Figura 29 ilustra a aplicação do BSC em um departamento de P&D.

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117

Objetivos Estratégicos Indicadores de Desempenho da Empresa Indicadores de Desempenho do P&D

Perspectiva Financeira

A. Retorno Capital Empregado Criação de Valor do P&D por Estágios de

Inovação (1-4) - (A, B, C)

Criação de Valor do P&D por Estágios de

Comercialização (5-6) - (A, B, C)

% de Vendas de Novos Produtos - (D,E)

Ciclo de Vida do Produto - (D, E, F)

Satisfação do Cliente com Novos Produtos - (D, E)

Nº de Novos Produtos Aprovados por Estágio de

Desenvolvimento - (H)

Média do Tempo de Desenvolvimento - (H)

Média do Custo de Desenvolvimento - (G, H)

% de Ideias Aprovadas para o Desenvolvimento

do Produto - (H)

Acuráciado planejamento de preços - (G)

Taxa de Aceitação do Novo Produto - (G)

Nº Incidentes - (H)

Nº de Patentes Concedidas - (M)

Razão entre Habilidades Requerida e Disponível

por Categoria de Competência - (K, M)

Nível de Competência do P&D vsNível de

Competência dos Competidores - (M)

Satisfação do Funcionário - (N, O)

Horas de Treinamento do Funcionário - (K, L)

B. Lucratividade por Cliente

C. Taxa de Crescimento da Receita

Perspectiva de Clientes

D. Taxa de Clientes Retidos na Carteira

E. Market Share

F. Aquisições do Cliente

Perspectiva de Processos Internos

G. Lucratividade de Novos Produtos

H. Eficiência do P&D (tempo de desenvolvimento até a comercialização)I. Percentual de Recursos Alocados para Sustentar Produtos ExistentesJ. Outros Indicadores não relacionados a P&D

Perspectiva de Aprendizado e Crescimento

K. Retenção de Funcionários

L. Desenvolvimento do Funcionário

M. Razão entre Habilidades Requerida e Disponível por Categoria de CompetênciaN. Satisfação do Funcionário

O. Cultura da Inovação (survey)

Figura 29: Modelo de Indicadores de Desempenho à Luz do BSC.

Fonte: Bremer e Barsky (2004, p.235)

Osama (2006), embora não tenha sugerido indicadores de desempenho para P&D,

projetou uma estrutura de BSC genérica o suficiente para ser adaptada para o P&D,

conforme ilustrado na Figura 30.

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Perspectiva FinanceiraPerspectiva de Clientes

Criatividade e Moral do FuncionárioGestão do Conhecimento – Perspectiva de Aprendizado e Crescimento

Gestão da Inovação – Perspectiva de Processos Internos

Missão do P&D

Missão Declarada (cliente direto/

primário)

Missão não Declarada (cliente indireto/

secundário)

Necessidades de curto prazo (inovações

incrementais)

Necessidades de longo prazo (inovações

radicais)

Novos Clientes/ Mercados

Gastos com “Coisas Certas”

(Efetividade)

Pesquisar mais para Fazer mais

(Crescimento)

Fazer mais com Orçamento Disponível

(Eficiência)

Compreensão Qualidade Relevância Velocidade/ Planejamento

Imagem e Prestígio Custos

Retorno Financeiro/ Receita de Novos

Produtos

Portfolio de P&D

Balanceado

Colaboração Efetiva

Integração da Cadeia do P&D

Excelência Tecnológica

Geração de Novos

Conhecimentos

Criação de Vantagens

Proprietárias

Qualidade da Relação do P&D

com ClienteAumento da

Propensão de Compra do

Cliente

Conhecer o Cliente e o Contexto

Efetividade de Processos e de

Pessoal

Qualidade da Gestão

Qualidade de Equipamentos

Alavancagem das Relações

Externas

Gerência do Conhecimento

Interno

Geração de Novas Ideias

Aprendizado por Experiência

Contratações Efetivas

Motivação e Recompensa

Educação e Treinamento

Equipamentos e Ambiente

Transição Eficiente Robustez Tecnológica Orientação ao Cliente Trabalho Inteligente

Figura 30: Mapa Estratégico Genérico para P&D.

Fonte Osama (2006, p. 101)

O mapa estratégico sugerido por Osama (2006) segue a mesma estrutura padrão do

quadro conceitual de Kaplan e Norton (1992, 1993). As perspectivas financeira e de

clientes seguem como as orientadoras das demais perspectivas. A perspectiva financeira

contempla elementos relacionados a eficiência, efetividade e crescimento. A perspectiva

de clientes contempla elementos relacionados a necessidades de curto e longo prazo,

associados a inovações incrementais e radicais, respectivamente. Na perspectiva de

processos estão relacionados elementos que dizem respeito a portfólio de projetos da

P&D, à estrutura de conhecimento para trazer robustez tecnológica, a relação da P&D

com clientes e na efetividade dos processos da P&D. Finalmente, o mapa é completado

com as perspectivas de Aprendizado e Crescimento, e Criatividade e Moral do

Funcionário, com objetivos relacionados a gestão do conhecimento, geração de ideias e

capacitação dos funcionários.

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Análise e Síntese das Propostas

A grande vantagem dessas propostas consiste na adoção de conceitos importantes do

BSC que permitem a concepção de indicadores de desempenho para efetiva gestão da

P&D, como o equilíbrio entre as diferentes perspectivas, a causalidade dos indicadores

de desempenho e, conforme já mencionado, a multidimensionalidade dos indicadores.

Além desses elementos, uma importante vantagem em relação a estas propostas é a

familiaridade dos gestores em relação aos conceitos do BSC e a possibilidade de

alinhamento do BSC da P&D com o BSC corporativo, que se encontre, por ventura, já

implantado na organização.

Destas propostas, pode-se identificar a seguinte regra de projeto:

P.C. 15 Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas de Avaliação

O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar elementos contidos nos conceitos do BSC: alinhamento estratégico, balanceamento dos indicadores e a relação causal dos objetivos estratégicos nas perspectivas financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento, como forma de promover o entendimento e o aprendizado da organização (KERSSENS-VAN DRONGELEN e COOK, 1997; BREMSER e BARSKY, 2004; e OSAMA 2006)

A estrutura do Balanced Scorecard possui algumas limitações. Apesar da visão

multidimensional presente nas propostas, elas desconsideram elementos importantes

presentes até mesmo em propostas anteriores, como a necessidade de diferenciação das

atividades de pesquisa e desenvolvimento, e a própria lógica contida na visão processual

da P&D, como as que relacionam resultados, saídas e entradas de um processo.

Por exemplo, o BSC de Bremser e Barsky (2004) foi bem projetado para avaliar os

resultados da área de P&D, basicamente o sucesso comercial de novos produtos, mas

deixou de considerar algumas questões relevantes para o sucesso da organização

inovadora como a sua capacidade de adquirir conhecimento e tecnologia, e até mesmo,

para apontar que conhecimentos e tecnologias seriam necessários para desenvolver. Sob

este aspecto, elementos intangíveis são considerados na perspectiva de Aprendizado e

Crescimento, mas não há uma sistematização na identificação dos elementos mais

importantes a serem considerados.

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As propostas que consideram uma estrutura multidimensional para P&D e para

inovação parecem ser mais completas do que as verificadas até então. Tais propostas

serão apresentadas a seguir, começando com as estruturas multidimensionais específicas

para desenvolvimento de produtos.

Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos

Griffin e Page (1993), a partir de extensa revisão bibliográfica (mais de 75 publicações

foram consultadas), buscaram identificar todos os indicadores de desempenho usados

naquele momento pelas organizações para avaliar o processo de desenvolvimento de

produto, categorizando essas medidas de acordo com suas similaridades, conforme

exposto na Tabela 12.

Tabela 12: Lista de Indicadores de Desempenho Identificados na Literatura de Processo de

Desenvolvimento de Novos Produtos

Fonte: Griffin e Page (1993, p. 307)

Aceitação do cliente Nível de satisfação de cliente Taxa de retenção de cliente % de vendas exportadas Intenção de compra antes do lançamento no mercado Conta da cliente, número de clientes Ciclo de vida de produto Preço / valor como medido pelo cliente Nível de vendas Taxa de recorrência de compra Importância do produto para o varejista Taxa de retorno do cliente Metas de receitas alcançadas Crescimento de receita Aceitação de força de vendas Nível de receita alcançada nos últimos 5 anos Discrepância de vendas de acordo com o planejamento de vendas Posição de mercado; Taxa de sucesso de indústria Metas de market share alcançadas Market share no 1º ano Taxa de compras de produtos em pré-lançamento Taxa de venda de produtos em teste no mercado

Indicadores de Satisfação do Cliente

Metas de venda alcançadas Tempo de break-even depois do lançamento Tempo de break-even (do início ao fim do projeto) Metas de margem de lucro alcançadas Metas de lucratividade alcançadas Lucros relativos Fator de retorno

Indicadores Financeiros

Taxa interna de retorno ou retorno sobre em investimento Facilidade de automação do processo de produção Indicadores de Produto Reação competitiva

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Produtos que proporcionam vantagem competitiva sustentável Metas de custo alcançadas Custo de desenvolvimento do produto Eficiência de desenvolvimento Medida de falha - primeira decepção durante o desenvolvimento Facilidade de manufatura Nível de inovação Produtos lançados no tempo previsto Desempenho técnico de produto Desempenho relativo do produto Probabilidade de sucesso Progresso do desenvolvimento do projeto frente aos marcos previstos Diretrizes de qualidade alcançadas Velocidade para comercialização A avaliação subjetiva de sucesso Habilidade para captação de apoio político dentro da empresa Satisfação da equipe de trabalho Produtos que receberam prêmio de excelência técnica Sucesso técnico do produto Impacto nas vendas de outros produtos; % canibalização Taxa de ganho do produto pelo processo industrial Probabilidade de continuação da linha de produtos Ajuste estratégico com negócio Probabilidade de janelas de oportunidade Número de produtos novos % de produtos com altos lucros % de lucros sob proteção de patente % de lucros de produtos lançados há menos de 5 anos % de vendas de produtos lançados há menos de 5 anos % de vendas sob proteção de patente Valor de Propaganda

Indicadores do Nível da Empresa

Taxa de sucesso / Fracasso de produtos novos Programas que alcançaram seus objetivos nos últimos 5 anos Programas que excederam expectativas diante dos objetivos traçados Impacto do programa no desempenho corporativo Retorno sobre investimento de processos de desenvolvimento de novos produtos Sucesso global do programa de desenvolvimento de produto Rentabilidade de programa de novos produtos Vendas de produtos oriundos de programas de desenvolvimento de novos produtos

Indicadores do Nível do Programa

Importância subjetiva de programa de desenvolvimento de novos produtos

Como conclusão do seu trabalho, Griffin e Page (1993) verificaram que gerentes de

empresas geralmente usam aproximadamente cinco indicadores de desempenho (metas

alcançadas em termos de receita e market share, metas alcançadas em termos de

margem e lucro, e produtos lançados no tempo previsto) em categorias diferentes

(satisfação de clientes, financeiros e de produto) para avaliar sucesso de

desenvolvimento de produto.

Acadêmicos tendem a abordar diferentes medidas de desempenho para avaliar sucessos

e falhas no desenvolvimento de produto. Acadêmicos tendem também a avaliar

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desempenho do desenvolvimento de produto no nível da empresa, enquanto gerentes

preferem adotar indicadores que permitam avaliar o desempenho individual de produtos

(GRIFFIN e PAGE, 1996).

Griffin e Page (1996), reconhecendo a não existência de um único indicador de

desempenho para avaliar todas as etapas do processo de desenvolvimento do produto,

afirmaram que o conjunto mais apropriado de indicadores de desempenho para avaliar

desenvolvimento de produto depende da estratégia que orienta tais projetos.

Para testar essa afirmação, foram apresentados aos profissionais de desenvolvimento de

produto seis cenários de estratégia de projeto e quatro cenários de estratégia

empresariais. Para cada cenário de estratégia de projeto, foi pedido aos participantes que

selecionassem os quatro indicadores de desempenho mais úteis. Para cada cenário de

estratégia de negócio, foi pedido aos participantes que escolhessem os quatro

indicadores de desempenho que fossem mais úteis para proporcionar avaliação global

de sucesso do desenvolvimento de produtos. Os resultados podem ser visualizados na

Figura 31.

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Novidade para a

Empresa

Novidade para oMercado

Novo para Empresa

Indicadores de Clientes:- Market share- Receita - Satisfação do Cliente

Indicadores Financeiros:- Metas de lucratividade alcançadas

Performance do Produto:- Vantagem competitiva

Novo parao Mundo

Indicadores de Clientes:-Aceitação do Cliente-Satisfação do Cliente

Indicadores Financeiros:-Metas de lucratividade alcançadas- IRR/ ROI

Performance do Produto:-Vantagem competitiva

Melhoria de Produtos

Indicadores de Clientes:- Satisfação do Cliente-Market share- Crescimento da receita

Indicadores Financeiros:- Metas de lucratividade alcançadas

Performance do Produto:- Vantagem competitiva

Adições à Linha Existente

Indicadores de Clientes:-Market share- Receita ou crescimento da receita- Satisfaçãoou aceitação do cliente

Indicadores Financeiros:- Metas de lucratividade alcançadas

Performance do Produto:- Vantagem competitiva

Redução de Custos

Indicadores de Clientes:- Satisfação do cliente- Market share- Crescimento da receita

Indicadores Financeiros:- Metas de lucratividade alcançadas

Performance do Produto:- Performance ou Qualidade

Reposicionamento de Produtos

Indicadores de Clientes:- Aceitação do cliente- Market share

Indicadores Financeiros:- Metas de lucratividade alcançadas

Performance do Produto:- Performance ou Qualidade

Baixa

AltaAltaBaixa

Figura 31: Indicadores de Desempenho Frequentemente Utilizados para Avaliar Estratégia de

Projetos

Fonte: Griffin e Page (1996, p. 489)

Os cenários de estratégia de projeto consistem em desenvolvimentos que podem ser:

• Novos para empresa

• Novos para o mundo

• Melhoria de produtos existentes

• Adições de produtos às linhas existentes

• Redução de custos

• Reposicionamento de produtos

Esses cenários foram colocados de acordo com o seu nível de novidade para empresa e

para o mercado. De acordo com as repostas dos entrevistados, pôde-se perceber que a

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importância percebida de um indicador para o outro depende de quais desses perfis

identificados nos cenários os entrevistados mais se identificavam. Por exemplo, os

objetivos (e assim, os critérios que estabelecem o sucesso) para um novo produto novo

que cria um mercado completamente novo diferirá dos objetivos de um projeto que

adiciona e estenda uma linha de produtos existentes, que implica que diferentes

indicadores deverão ser utilizados.

Griffin e Page (1996) identificaram então quatro padrões de adoção de indicadores de

desempenho para avaliação do processo de desenvolvimento de produto, a partir de

quatro possíveis estratégias de negócio, conforme a Tabela 13.

Tabela 13: Padrão de Adoção de Indicadores de Desempenho para Avaliação do Processo de

Desenvolvimento de Produto

Griffin e Page (1996, p. 489)

Prospectores Analisadores Defensores Reagentes

- % Lucro de Produtos lançados nos últimos "n" anos

- Grau com o que os produtos atuais levam a oportunidades futuras

- % Vendas de Produtos lançados nos últimos "n" anos

-Grau com o que os produtos se ajustam ao negócio

- ROI do programa de desenvolvimento

- % Lucro de Produtos lançados nos últimos "n" anos

- Taxa de sucesso/ falha

-ROI do programa de desenvolvimento

- Grau com o que os produtos se ajustam ao negócio

-ROI do programa de desenvolvimento

- Taxa de sucesso/ falha

-Grau com o que os produtos se ajustam ao negócio

- Avaliação subjetiva de sucesso do programa de desenvolvimento

As quatro possíveis estratégias de negócio identificadas são:

• Prospectores (Prospectors): estratégia onde o valor conquistado pela empresa se

dá em ser o líder em lançamento de novos produtos e tecnologias, mesmo que

esses esforços não levem a maior lucratividade. Respondem rapidamente aos

primeiros sinais de oportunidades;

• Analisadores (Analyzers): raramente empresas dentro deste perfil são as

primeiras comercializar com novos produtos. Porém, monitorando

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cuidadosamente as ações de competidores principais, elas podem ser rápidas

seguidoras, levando custo-efetivamente um produto novo ao mercado;

• Defensores (Defenders): estratégia adotada por empresas que tentam localizar e

se manterem em nichos específicos de mercado, a partir da oferta de produtos

relativamente estáveis. Elas protegem o seu domínio de atuação oferecendo

produtos de alta qualidade ou preços inferiores, e ignoram mudanças na

indústria desde que não afetem suas operações atuais;

• Reagentes (Reactors): estratégia caracterizada pela não agressividade de

empresas no mercado competitivo. Mas empresas podem ser forçadas a reagir,

mediante pressão do ambiente competitivo.

Análise e Síntese das Propostas

As propostas acima parecem sintetizar bem a discussão em torno das propostas de

sistemas de medição de desempenho para avaliação do processo de desenvolvimento de

produtos. Especial atenção deve ser dada à proposta de Griffin e Page (1996), que

identificaram diferentes indicadores de desempenho adotados em diferentes estratégias

de desenvolvimento de produtos.

Outras publicações relacionadas a identificação de indicadores de desempenho

específicos para desenvolvimento de produtos foram realizadas, principalmente a partir

da década de 1990. Uma revisão bastante interessante sobre essas propostas podem ser

observadas em Ernst (2002), que observou como diferentes autores perceberam a

relação das características dos processos de desenvolvimento de produtos, aspectos

organizacionais, culturais e de liderança com os resultados do desenvolvimento.

Os seguintes princípios de construção podem ser tirados a partir das propostas vistas:

P.C. 16 Visão Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação dos clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa

Em relação ao caso específico do desenvolvimento de produtos, o sistema de medição de desempenho deve considerar múltiplas dimensões como satisfação dos clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa (GRIFFIN e PAGE, 1993)

P.C. 17 Visão Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com Estratégia de Inovação

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O sistema de medição de desempenho para o desenvolvimento de produtos deve considerar a diferenciação de projetos no que tange à estratégia de inovação adotada pela empresa. Neste caso, diferentes características estratégias adotadas em relação ao desenvolvimento de produtos (prospectores, analisadores, defensores, reagentes) sugerirão diferentes indicadores de desempenho (GRIFFIN e PAGE, 1996)

Essas propostas encontram-se focadas apenas no processo de desenvolvimento de

produtos, embora os autores estejam considerandos diferentes perspectivas para

avaliação do processo de desenvolvimento de produtos. Neste sentido, outros elementos

da P&D e da inovação considerados importantes (por exemplo, elementos relacionados

a pesquisa básica e elementos considerados base para o projeto de processos de

transferência de tecnologia e gestão de competências, tipicamente fora da P&D) não são

utilizados. Outras propostas de elementos multidimensionais, contudo, precisam ser

observadas.

Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

O comitê organizador do NRC (National Research Council, 1996) apresentou outro

quadro conceitual para o programa de pesquisa e desenvolvimento das forças armadas

americano, a partir de características de uma área de P&D classe mundial. Foram

definidos cinco pilares (foco no cliente, recursos e capacitações, visão estratégica,

criação de valor, e foco na qualidade) que balizam o sistema de medição de desempenho

para P&D, avaliados qualitativamente em uma escala que varia entre “Poor”,

“Adequate”, “Good” e “Excellent” das 25 características de desempenho classe mundial.

A Tabela 14 apresenta os indicadores de desempenho a serem avaliados para cada pilar

da inovação.

Tabela 14: Avaliação de Desempenho dos Pilares de Inovação.

Fonte: NRC (1996, p.42)

Pilares da Qualidade

Indicadores de Desempenho a Serem

Avaliados Comentários/ Critérios de Pontuação

Satisfação do Cliente

Pesquisa envolvendo satisfação do cliente em relação a estratégia utilizada para desenvolver produtos e serviços, capacitações tecnológicas envolvias no desenvolvimento do produto, ciclo de desenvolvimento, etc.

Foco no Cliente

Envolvimento com o Cliente

Em relação ao envolvimento do cliente nas características de desenvolvimento do produto e na própria performance do produto

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Diversificação do Mercado

Diversificação relativa a setores de atuação e segmentos dentro desses setores

Qualidade dos Funcionários

Em relação à capacidade de desenvolvimento de novos conhecimento, novas contratações, e se há incentivo à geração de ideias e melhoria dos produtos e processos

Orçamento Avaliação do orçamento enquanto instrumento de gestão para desenvolvimento tecnológico ou restritivo para o desenvolvimento de novos programas

Capacitações, Habilidades e Talentos

Se capacitações, habilidades e talentos são adequados para o desenvolvimento de novos produtos e serviços

Uso de Recursos Externos

Se a contratação de serviços externos contribui, efetivamente, para o desenvolvimento tecnológico

Tecnologias mais Importantes

Se há programas de pesquisa que, sistematicamente, introduz, desenvolve e avalia tecnologias

Clima Organizacional verificação do clima organizacional em relação à clareza da missão e visão, incentivos à geração de ideias e se há políticas de recompensas

Tecnologia da Informação

Se a tecnologia de informação disponível apoia efetivamente os processos e a gestão do P&D

Recursos e Capacitações

Infraestrutura Avaliação da qualidade do espaço físico e de recursos utilizados nas atividades de P&D

Alinhamento da Missão e Visão

Se a missão e visão são bem conhecidas pelas pessoas e se efetivamente traduzem-se em ganhos para a empresa

Planejamento Estratégico

Se há planejamento bem estruturado em relação ao desenvolvimento dos recursos humanos, aquisição de máquinas e equipamentos

Papel do Stakeholder Avaliação do papel do stakeholder em relação a elaboração da estratégia do P&D e se os stakeholders conhecem a missão e visão da empresa

Visão Estratégica

Liderança Se as lideranças da organização têm incentivado e estimulado os funcionários, se as lideranças tem influenciado positivamente o clima organizacional

Portfolio de Produtos Se o desempenho dos produtos são avaliados sob a perspectiva de carteira de produtos e se esta carteira atende a demanda dos clientes

Desempenho dos Produtos

Avaliação do desempenho dos produtos em relação à sua capacidade de atender e/ou superar a expectativa dos clientes

Ciclo Operacional Ciclos de tempo dos programas precisam ser curtos o suficiente para atender as expectativas de clientes e stakeholder

Criação de Valor

Progresso do Valor do Trabalho

Avaliação da capacidade da equipe de planejamento gerenciar dados históricos de desenvolvimento e explicar os gastos de desenvolvimento e a geração de valor do produto desenvolvido

Capacidade de Conduzir Melhorias Disruptivas

Avaliação da capacidade dos programas conduzirem projetos inovadores, balanceando inovações incrementais dos produtos existentes e inovações disruptivas

Foco na Qualidade

Melhoria Contínua Avaliação da capacidade dos programas promoverem melhoria contínua e seus impactos nas características técnicas dos produtos e na percepção de qualidade dos clientes

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Comprometimento com Qualidade

Se há comprometimento da equipe de P&D com programas formais de qualidade (ISO, critérios de avaliação, etc.)

Estrutura dos Processos Se boas práticas de gestão de projetos são adotadas, e se essas práticas são implantadas efetivamente de forma a melhorar alocação de recursos e distribuição de tempo do projeto

Ambiente de Aprendizagem

Avaliação da capacidade de aprendizagem do P&D - se há aprendizado adaptativo e antecipatório com impactos visíveis nas políticas de P&D

Qualidade da Pesquisa Se há alinhamento das pesquisas conduzidas com a estratégia corporativa, se a pesquisa conduzida aponta para possibilidade de desenvolvimentos tecnológicos futuros

Chiesa et al. (1996) propuseram um modelo baseado em auditoria, indo além de um

sistema de medição de desempenho, por apontar problemas e fornecer informações que

podem ser usadas no desenvolvimento de planos de ação (explicitamente projetados

para gerir inovação tecnológica).

O modelo incorpora 4 processos: geração de conceitos, desenvolvimento de produtos,

processos de inovação e aquisição de tecnologia. Esses processos são apoiados por três

processos habilitadores: o de desenvolvimento de recursos financeiros e humanos; o uso

efetivo de sistemas e ferramentas de gestão; e liderança e direção. Os resultados desses

habilitadores é o desempenho em termos de inovação, que leva a competitividade no

ambiente competitivo.

Este modelo fornece as bases de construção de uma estrutura de auditoria para avaliação

de práticas de P&D. A Figura 32 ilustra as bases dessa estrutura de auditoria.

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Processo de Inovação

Geração de Conceitos Desenvolvimento de Produtos

Processos de Inovação Aquisição de Tecnologia

Recursos Financeiros e Humanos

Sistemas e Ferramentas de Gestão

Aumento da Competitividade

Lide

ranç

a

Figura 32: Estrutura de Auditoria para Avaliação de Práticas de P&D.

Fonte: Chiesa et al. (1996, p. 108)

Essa estrutura de auditoria possui duas dimensões: a dimensão de processo de avaliação

contempla um conjunto de questões que são avaliadas em termos de nível de

maturidade, em relação a sua capacidade de contribuição para inovação. Por exemplo,

um dos processos contidos em Geração de Conceitos, o Planejamento de Inovação do

Produto, pode ser ou inexistente, ou concebido para a próxima geração de produtos, ou

concebido para duas próximas gerações de produto, ou, no seu maior nível de

maturidade, concebido dentro de uma lógica de planejamento de longo prazo (entre 5-

15 anos) onde três ou quatro gerações de produtos são planejadas, orientadas para

demandas futuras do mercado.

Na segunda dimensão, a avaliação de desempenho dos itens da auditoria foca nos

resultados desses itens e como cada um deles contribui para a competitividade da

organização. Observa-se que o audit de desempenho ajuda a identificar as necessidades

e problemas, porém não explica o porquê da existência dos gaps entre o desempenho

atual e o desempenho requerido, além de não fornecer um plano de ação para cobrir

esses gap. A Tabela 15 ilustra possíveis indicadores de desempenho que poderiam ser

utilizados para avaliar os processos de inovação e seus habilitadores.

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Tabela 15: Indicadores de Desempenho a Serem Considerados segundo Estrutura de Auditoria

para Avaliação de Práticas de Inovação

Fonte: Chiesa et al. (1996, p. 115)

Geração de Conceitos:

Nº de novas ideias geradas no último ano - novos produtos e/ou melhorias produtos existentes

Nº novos negócios iniciados nos últimos 5 anos

Satisfação do cliente (necessidades atendidas em termos de design, variedade de produtos)

Horizonte de planejamento do produto (anos ou por geração de produtos)

Ciclo de vida médio do produto

Desenvolvimento do Produto:Tempo:

Tempo médio do conceito até o lançamentoTempo para cada fase do projeto (conceito, design, produção inicial,

lançamento)Média de atraso do projetoTempo médio de projeto de melhoria do produtoTempo médio de reprojeto

Desempenho do Produto:Custo (custo unitário, custos de produção, custos de desenvolvimento)

Desempenho técnico Qualidade

Desempenho do Design:Custos de manufaturaManufacturabilityTestabilidadeNº de produtos reprojetados

Inovação em Processos:

Efetividade: Nº de novos procesosse melhorias por ano

Velocidade: lead times

Custo de desenvolvimento

Melhoria contínua

Nº de sugestões de melhoria por empregado

Percentual implementado

Média anual de melhorias nos processos -qualidade, custos, lead time, etc)

Aquisição de Tecnologia:

Custo de aquisição ou desenvolvimento de tecnologia por ano

Nº de projetos de P&D que levam a melhoria do produto ou desenvolvimento de novo produto, inovação de processo, patentes, licenças(% do nº de projetos, % custos de P&D)

Nº de licenças para fora (ou para dentro) nos últimos 3 anos

Nº de patentes depositadas nos últimos 3 anos

Custo/ benefício de projetos completos de P&D

Liderança:

Nº/ percentual de membros técnicos no board da divisão ou unidade de negócio

Percentual de empregados conscientizados sobre a necessidade de inovaçãoe compartilhamento de políticas e valores

Nº de páginas de report anual dedicadas a inovação e tecnologia

Recursos:

Funcionários técnicos oriundos de outras funções

% de projetos atrasados (ou cancelados) devido à falta de financiamento

% de projetos atrasados (ou cancelados) devido à falta de recursos humanos

Sistemas e Ferramentas de Gestão:

% de projetistas (ou engenheiros) com acesso às tecnologias CAD

% de produtos na base de dados CAD

% de projetos aos quais ferramentas de gestão (FMEA, QFD, Rápida Prototipagem) são adotadas

% de projetistas (ou engenheiros) treinados em projetos de manufatura

% de líderes de projetos treinados em técnicas de criatividade

Processos certificados

Outra estrutura de audit foi proposta por Verhaeghe e Kfir (2002), que buscou

complementar a estrutura de Chiesa (1996) com elementos relacionados à inovação em

serviços, já que o quadro conceitual de Chiesa (1996) considerava apenas a inovação

que levava ao sucesso comercial de produtos. A Tabela 16 sintetiza os elementos

considerados neste instrumento de audit.

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Tabela 16: Lista de Elementos de Inovação a Serem Avaliados

Fonte: Verhaeghe e Kfir (2002, p. 412)

Tópicos Centrais Sub-Tópicos

Liderança

Metas de Inovação

Processos para Inovação

Clima para Inovação

RecursosRecursos Humanos

Investimentos

Sistemas e Ferramentas

Sistemas

Técnicas para Inovação

Garantia da Qualidade

Resultados da Inovação

Conceitos para Geração de Novos Resultados

Planejamento para Inovação

Criatividade e Capacidade de Invenção

Resultados do Desenvolvimento

Processos para Desenvolvimento

Equipes e Organização

Excelência Científica e Orientação ao Cliente

Transferência de Tecnologia

Transferência para Manufatura

Design Industrial

Entrega de Novos Serviços

Aquisição de TecnologiaEstratégia Tecnológica

Seleção, Geração, Fontes de Tecnologia

Foco Mercadológico

Análise e Monitoração de Mercado

Formas de Garantir Foco no Cliente

Planejamento da Demanda

Desempenho da Inovação

Objetivos da Inovação

Sucesso da Inovação

Satisfação do Cliente

Indicadores de Desempenho

Networking Redes científicas e comerciais

Neste quadro conceitual, alguns elementos são comuns ao quadro conceitual de Chiesa

et al. (1996), como a liderança, recursos, sistemas e ferramentas, e os processos de

desenvolvimento e aquisição de tecnologia. Por outro lado, outros elementos como o

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que se vê em networking e transferência de tecnologia são inseridos neste modelo, de

forma a complementar o modelo de Chiesa et al. (1996).

Goffin e Mitchell (2005) propuseram um instrumento de auditoria baseado no

Pentathlon Framework, que consiste em um conjunto de elementos quantitativos e

qualitativos sobre a inovação da organização. Este framework consiste de cinco áreas –

Estratégia de Inovação, Geração de Ideias, Priorização e Seleção, Implementação, e

Pessoas e Organização, que devem ser avaliadas sob o ponto de vista de uma auditoria.

Normalmente, após coletar as visões de um número significante de funcionários, é

possível identificar como a empresa aborda a inovação. Rapidamente fica claro, por

exemplo, se uma quantidade abrangente de serviços contribui com a geração de ideias

para/de novos produtos. Similarmente, as visões dos colaboradores sobre quão bem é

implementada a inovação na empresa fornecerá insights sobre o quanto efetivo é o

desenvolvimento de um novo produto e seus processos relativos. A Figura 33 ilustra

esse framework.

PosicionamentoMaturidade tecnológicaExpectativas dos clientesTimingConsistência estratégicaProspecção tecnológicaEstratégia de inovação

Priorização e seleção Implementação

Pessoas e organização

Geração de idéias

• Criatividade• Gestão do conhecimento• Identificação de

necessidades dos clientes

• Proteção de idéias (PI)

• Gestão de portfólio• Avaliação de

projetos• Balanceamento de

portfólios

• Gestão de projeto• Gestão de riscos• Avaliação de andamento

• Cultura organizacional• Organização de Times

• Análise de desempenho• Aprendizado e feedback

Figura 33: Estrutura de Gestão da Inovação.

Fonte: Goffin e Mitchell (2005, p. 32)

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Em “Estratégia de Inovação”, devem ser avaliados elementos que nortearão a P&D da

organização, como o posicionamento competitivo, o timming referente à maturidade

tecnológica que a organização se encontra, o mercado concorrencial, etc.

Os três elementos seguintes (“Geração de Ideias”, “Priorização e Seleção” e

“Implementação”) seguem a ordem de um processo típico de P&D, e consideram

elementos contidos nestes processos, como a questão da criatividade e proteção de

ideias, método de balanceamento do portfólio de projetos e critérios de avaliação de

projetos, e elementos contidos em gestão de projetos, gestão de riscos e avaliação dos

resultados dos projetos de P&D. Finalmente, o elemento “Pessoas e Organização”

considera a base relacionada a cultura e estrutura organizacional que apoiará a

sustentação da estratégia de inovação.

Essa proposta não inclui os indicadores de desempenho que devem ser utilizados para

avaliar a inovação de uma organização, mas, a fim de auxiliar na proposta de mudança

e/ou melhoria na inovação da empresa, poderia ser criada uma ferramenta que, através

de critérios relativos às questões do audit e níveis de adoção das práticas estipuladas

pelo audit, ilustraria a situação quanto à estrutura da P&D da organização.

Embora não utilize o quadro conceitual para fins de auditoria para inovação, Adams et

al. (2006), a partir de uma revisão sistemática da literatura, propõem sete categorias que

devem ser consideradas em um projeto de sistema de medição de desempenho para

inovação, a saber: Entradas, Gestão do Conhecimento, Estratégia de Inovação, Cultura e

Organização, Gestão de Portfólio, Gestão de Projetos, e Comercialização. A Tabela 17

sintetiza a revisão bibliográfica realizada pelos autores.

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Tabela 17: Área Consideradas em Projetos de Sistemas de Medição de Desempenho para Inovação

Fonte: Adams et al. (2006)

Categoria Área de Avaliação Exemplos de Indicadores Identificados na Literatura

Entradas

Geral

Intensidade do P&D = Razão entre gastos com P&D ou Nº funcionários do P&D e alguma expressão de saídaGastos com P&D, Gastos por Item (por Departamento, por patente depositada, por cientista, etc.)

Razão entre Gastos com P&D e Vendas (ou Receitas) de Novos Produtos

Pessoas

Nº de pessoas comprometidas com inovação (nº absolutos, por habilidades, por formação, por % do total de funcionários)

Propensão do indivíduo para inovar

Recursos físicos e financeiros Custos com equipamentos e demais recursos envolvidos no processo de inovação

Ferramentas Disponibilidade e uso de ferramentas e sistemas

Gestão de Conhecimento

Geração de Ideias Nº de ideias geradas

Repositório de Conhecimento

Conhecimentos absorvidos ou repositório de conhecimento

Nº de patentes ou valor da patente

Conhecimento tácito

Fluxo de Informação

Nº de interfaces entre grupos de trabalho com atores externos

Nº de informações utilizadas e geradas pelos processos

Nº de contatos com clientes

Estratégia de InovaçãoOrientação estratégica Escala de postura estratégica - por exemplo, empreendedor, prospector, ou seguidor

Liderança Estratégica Avaliação do nível de importância dos gerentes seniores

Organização e Cultura

Estrutura

Níveis de controle

Complexidade do organograma - níveis organizacionais, nº de interfaces entre as áreas, coordenações laterais

Flexibilidade para alocação de recursos

Cultura

Pesquisa de clima organizacional

Moral e motivação

Propensão a assumir riscos

Gestão de PortfolioBalanço Risco vs Retorno e

Uso de Ferramenta de Otimização

Modelos econômicos para avaliação de custo/ benefício or riscos financeiros do projeto

Taxa interna de retorno

Valor presente líquido

Retorno sobre investimento

Balanceamento longo prazo e curto prazo, aderência com os objetivos estratégicos -avaliações qualitativas

Gestão de Projeto

Eficiência de Projeto

Comparação entre orçado e realizado (em termos de custo, tempo e previsão de receitas)Velocidade de atualização do produto ou de atendimento às especificações dos clientes para melhoria de um produto

Ferramentas Existência de ferramentas para seleção e gestão de projetos - Stage Gates, Total Design, etc)

Comunicação Frequência de comunicação entre as equipes de projeto

ColaboraçãoNº de engenheiros/ especialistas convidados para o projeto

Nº de projetos com a participação de terceiros

ComercializaçãoPesquisa de Mercado, Teste de Mercado e Marketing/

Vendas

Força de vendas, suporte promocional e distribucional

Lançamentos bem sucedidos de produtos

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Os autores apontaram elementos que devem ser considerados em sistemas de medição

de desempenho para P&D. Por exemplo, em relação às entradas, a intensidade da P&D,

um indicador de desempenho bastante citado na literatura, não é muito considerado em

indústrias intensivas em serviços ou em Pequenas e Médias Empresas, onde o esforço

da P&D em termos de desenvolvimento de produtos não é significativo. Constata-se que

o setor onde a empresa se situa é um importante direcionador para projetos de sistemas

de medição de desempenho para P&D.

Adams et al. (2006) consideraram também em seu trabalho a possibilidade de se avaliar

trade-offs críticos no processo de P&D, como o que ocorre entre folga de recursos (de

forma a aumentar a capacidade de inovação, quando necessário) e os gastos com

ineficiência do uso dos recursos. A solução do problema gerado por este trade-off seria,

na opinião dos autores, encaminhada a partir da avaliação dos indicadores de entrada do

processo frente às saídas geradas pela P&D.

Os autores concluem o trabalho com uma questão importante, relacionada ao nível de

controle gerencial a ser projetado. Controles gerenciais devem permitir gestão, mas não

inibir a capacidade inovadora da organização.

Análise e Síntese das Propostas

As propostas baseadas na consideração de elementos não só da P&D, mas também

baseadas em elementos que suportam a capacidade inovadora das organizações

representam um importante vetor para apoiar o projeto de sistemas de medição de

desempenho mais completos. Tais elementos contemplam não só a possibilidade de se

estruturar um sistema de medição de desempenho, mas também um sistema de gestão

de forma mais ampla, de acordo com a estratégia da organização.

Como foi observado, há propostas nesta linha que apoiam o estabelecimento de uma

estrutura de audit, por exemplo contida em NRC (1996), Chiesa et al. (1996) e Goffin e

Mitchel (2005).

A estrutura de audit proposta por Chiesa et al. (1996) para avaliação da P&D das

organizações (segunda dimensão da proposta) representou um marco importante na

literatura sobre o tema. A estrutura do audit tem como principal vantagem a

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possibilidade de combinar diferentes elementos presentes na P&D, que vão além de

uma visão processual, como os observados em Chiesa et al. (1996) quando propostos os

elementos habilitadores do processo de P&D. Alguns desses elementos possuem

características mais intangíveis, considerados também nas propostas do BSC, como

liderança e, no caso específico da proposta de Verhaeghe e Kfir (2002), networking, ou

seja, a capacidade da empresa estabelecer redes científicas e sociais como forma de

promover inovação.

Verhaeghe e Kfir (2002) complementam alguns elementos contidos no audit original de

Chiesa (1996), de forma a tornar a ferramenta mais adequada para casos de inovação

envolvendo a parte soft de produtos, ou serviços.

Outro elemento que complementa bem a estrutura de audit de Chiesa (1996) é o

Pentathlon Framework de Goffin e Mitchell (2005), que busca mapear não só os

elementos presentes na função de P&D, mas também os elementos contidos na estrutura

geral das organizações.

Finalmente, Adams et al. (2006) complementam a proposta de audit original de Chiesa

(1996) com uma revisão bibliográfica mais atual, considerando elementos presentes não

só na P&D e desenvolvimento de produtos, mas também em aspectos de inovação de

uma forma geral. Embora não utilize o quadro conceitual para fins de auditoria para

inovação, a estrutura de inovação de Adams et al. (2006) é bastante completa e

abrangente. Por exemplo, a categoria de “Gestão do Conhecimento” e “Organização e

Cultura” são elementos que não eram considerados no audit de Chiesa (1996), mas

aparecem na estrutura de audit de Goffin e Mitchell (2005) e Adams et al. (2006).

Das propostas apresentadas, pode-se identificar a seguinte regra de projeto.

P.C. 18 Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

O sistema de medição de desempenho para avaliação da P&D e da inovação deve ser configurado a partir de um modelo composto pelos seguintes elementos:

I. Processos Principais: Geração de Conceitos, Desenvolvimento de Produtos, Processos de Inovação e Aquisição de Tecnologia; Transferência de Tecnologia; Networking (CHIESA, 1996; VERHAEGHE e KFIR, 2002); Comercialização (ADAMS et al., 2005); Implementação (GOFFIN e MITCHELL, 2005)

II. Processos de Gestão: Gestão de Portfólio (balanceamento, riscos); e Gestão de Projetos (eficiência, comunicação, etc.) (ADAMS et al., 2005);

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III. Habilitadores: Desenvolvimento de Recursos Financeiros e Humanos; o Uso Efetivo de Sistemas e Ferramentas de Gestão; e Liderança e Direção (CHIESA, 1996); Gestão do Conhecimento (geração de ideias, repositório de conhecimento); Estratégia de Inovação (orientação estratégica, liderança estratégica); Cultura e Organização (ADAMS et al., 2005); Estrutura e Pessoas (GOFFIN e MITCHELL, 2005)

Importante considerar que esses elementos não consideram relação de causalidade,

como os contemplados nas propostas baseadas no BSC para P&D. Entretanto, a lista de

elementos considerados parece ser mais completa do que a considerada no BSC, o que

torna o sistema de medição de desempenho para P&D mais robusto.

Adams et al. (2005) sugerem que, embora estejam propondo um quadro conceitual

relativamente completo para avaliação de desempenho para inovação, os projetistas

deste instrumento de gestão estejam conscientes da aplicação específica e, por

conseguinte, da necessidade de ajustes nos indicadores e até mesmo nos elementos a

serem considerados no projeto de sistemas de medição de desempenho para inovação –

necessidades de uso do sistema de medição de desempenho, tipo de P&D sendo

utilizada, disponibilidade de dados e esforço que a organização está disposta a se

comprometer para implantação do sistema.

Algumas propostas seguem a linha de identificar quais os elementos que tornam a P&D

de uma empresa diferente de outra. São propostas que buscam identificar os fatores que

contingenciam o projeto de sistemas de medição de desempenho para P&D.

5.3.4. Fatores de Contingência

Kerssens-van Drongelen e Cook (1997) fizeram uma importante revisão dos conceitos

presentes em sistemas de medição de desempenho (como formas de medidas, estrutura,

padrões, formatos e frequência de medição) e destacaram os principais problemas na

medição de desempenho para P&D: a dificuldade de se isolar a contribuição da P&D

para o desempenho corporativo, o tempo entre o esforço com pesquisa e as recompensas

financeiras, e a imprevisibilidade dos resultados da pesquisa.

As soluções para resolução desses problemas discutidas pelos autores passaram por:

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• Definir os objetivos do sistema de medição de desempenho (para motivar

pessoas, para diagnosticar problemas);

• Identificar os fatores que contingenciam o sistema de medição de desempenho

tais como:

o A natureza do ambiente competitivo (conforme Loch et al., 1996);

o A estratégia da organização (conforme Griffin e Page, 1996);

o A natureza dos processos de P&D, por exemplo, de acordo com a OCDE

em pesquisa básica, aplicada e desenvolvimento (conforme pode ser

visto em Pappas e Remer, 1985);

o Por nível de agregação do objeto tratado, por exemplo, considerando o

desempenho da organização, da P&D, do grupo de pesquisadores ou do

próprio pesquisador individual (conforme Kerssens-van Drongelen e

Bilderbeek, 1999).

Por fim, os autores, a partir da base conceitual de sistemas de medição de desempenho,

apresentaram características básicas e parâmetros de projeto para sistemas de medição

de desempenho. Como características básicas, os autores destacaram a capacidade de

prover informações corretas, em tempo adequado, de forma confiável e econômica; de

serem compreendidos e fáceis de interpretar, de forma a apoiar a tomada de decisão.

Como parâmetros para o projeto, os autores destacaram os indicadores de desempenho a

serem utilizados (que devem estar alinhados com o propósito da medição e com os

fatores de contingência), a estrutura do sistema de medição, padrões contra os quais os

indicadores serão comparados, técnicas de mensuração, formato dos relatórios e

frequência de medição.

Kerssen van-Drongelen e Bilderbeek (1999) realizaram pesquisas empíricas em

empresas holandesas para verificar as características dos sistemas de medição de

desempenho de acordo com os fatores de contingência, levantados no artigo anterior.

Destaca-se neste artigo uma lista com os principais indicadores de desempenho

utilizados de acordo com o nível do objeto a ser tratado (pesquisador, equipe,

departamento, empresa). A Tabela 18 ilustra esse resultado.

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Tabela 18: Indicadores de Desempenho Identificados por Nível de Objeto Tratado

Fonte: Kerssen van-Drongelen e Bilderbeek (1999)

Indicadores de Desempenho Nível de Objeto TratadoPerspectiva do Cliente Equipe Pesquisador Departamento EmpresaSatisfação do cliente 21% - 25% 33%% de produtos lançados no mercado 5% - - 11%Estima profissional 5% - - 11%Perspectiva de Processos InternosMilestones/ objetivos alcançados 74% 65% 25% -Nº de projetos/ produtos concluídos - 10% 63% 50%Velocidade 32% 50% 13% 28%Cumprimento do orçamento 26% 10% 25% 11%Qualidade da saída/ trabalho P&D 42% 40% 25% 11%Comportamento - 70% 13% 6%Acurácia do planejamento - - - 11%Perspectiva de Aprendizado e CrescimentoNº patentes - 5% 13% 11%Nº ideias/ descobertas - 10% - 6%Nível de criatividade/ inovação 5% 23% 13% -Participação de redes de pesquisa - 5% - 6%Perspectiva FinanceiraIRR/ ROI esperado vsrealizado 11% - 13% 11%% de vendas de novos produtos - - - 28%Lucro devido ao P&D - - - 22%Market sharedevido ao P&D - - 13% 6%

Kerssen van-Drongelen et al. (2000) avançaram em relação ao estudo anterior e

levantaram vários elementos que precisam ser considerados para o projeto de sistemas

de medição de desempenho, a saber:

1) Natureza dos indicadores de desempenho e da medição: em relação à natureza

dos indicadores, os autores consideram a taxonomia de Pappas e Remer (1985),

tratando os indicadores como qualitativos, semi-quatintativos e quantitativos.

Em relação à natureza da medição, os autores consideram medições objetivas ou

subjetivas, em outras palavras, se a medição ocorreu dentro de critérios baseados

no julgamento de pessoas ou sem julgamento. Por exemplo, um indicador pode

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140

ser quantitativo e baseado em julgamento de pessoas, como o valor presente

líquido esperado de um determinado projeto;

2) Classificação dos indicadores em relação a “tempo considerado”, “adequação

dos resultados às metas organizacionais”, e “aspectos de desempenho”. A Figura

34 ilustra as três dimensões de desempenho e as possíveis combinações entre

eles.

Geral

Qualidade

Inovatividade

Tempo

Custo

Quantidade

Futuro Distante

Futuro Próximo

Passado Recente

Passado Distante

Resultados

Saídas

Atividades

Entradas

Tempo considerado

Específico vs geral : aspectos de desempenho

Adequação dos resultados às metas organizacionais

Figura 34: Taxonomia de Indicadores de Desempenho, segundo a Associação Tempo, Aspectos

de Desempenho e Alcance das Metas.

Fonte: Kerssen van-Drongelen et al. (2000, p.128)

a. Em “tempo considerado” é importante avaliar se o evento ocorreu em

passado distante, passado recente, ou se ocorrerá em futuro próximo ou

futuro distante. As ideias de Tipping et al. (1995) sobre indicadores de

desempenho prospectivos e retrospectivos foi utilizada, considerando a

importância de se medir passado e futuro de curto prazo e longo prazo.

Por exemplo, o indicador “horas gastas em retrabalho no último mês”

refere-se ao evento (retrabalho) ocorrido no último mês, enquanto a

“média de horas gastas em retrabalho” no ano refere-se ao mesmo

evento, mas que ocorreu em um universo maior de tempo. Assim, uma

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141

das dimensões (tempo considerado) pode conter indicadores que retratem

um passado distante, um passado recente, um futuro distante ou um

futuro próximo;

b. Em “adequação dos resultados às metas organizacionais”, o principal

conceito identificado pelos autores é a relação causal entre objetivos.

Kaplan e Norton (1992; 1993) diferenciam os indicadores leading e

lagging, o primeiro relacionado ao comprometimento com resultados

futuros, e o segundo, relacionado aos meios pelos quais os resultados são

alcançados. Outro conceito complementar a ideia dos indicadores

leading e lagging foram apresentados por Brown e Svenson (1988) sobre

efetividade, eficácia e eficiência, relacionada aos indicadores de

resultado, de saída dos processos, de processos, e de entrada, a partir da

lógica de processos;

c. Em “aspectos de desempenho”, os autores se basearam na classificação

de Brown e Gobeli (1992) para definir questões relacionadas à qualidade,

quantidade, tempo e custo. Além desses elementos, a inovatividade deve

estar contida na avaliação dessa dimensão.

3) Classificação dos indicadores em relação ao assunto tratado pelo sistema de

medição de desempenho. Kerssen van-Drongelen et al. (2000) propõem a

seguinte taxonomia para considerar diferentes níveis de agregação relacionados

à P&D:

Organização

Pesquisador

Portfolio projetos

Equipes de projeto

Sub-equipes de projeto

Departamento de P&D

Sites de P&D

Sub-departamentos de P&D

Visão Processual Visão Departamental

Figura 35: Taxonomia de Sistemas de Medição dse Desempenho segundo Diferentes Níveis do

Objeto Tratado.

Fonte: Kerssen van-Drongelen et al. (2000, p.134).

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142

O nível de agregação a ser avaliado pelo sistema de medição de desempenho

contempla desde um nível macro, que se refere a toda a organização, até um

nível micro, no nível do pesquisador individual. Esse cascateamento de assuntos

pode ser visto também a partir dos conceitos de Kaplan e Norton (1992; 1993).

Nesses dois níveis, os indicadores de desempenho podem ser concebidos sob a

visão processual (desde os processos da equipe de projetos até a visão do

portfólio como um todo) ou sob a visão departamental, onde o desempenho é

visto dentro de uma perspectiva funcional, desde equipes de projetos até o

departamento inteiro da P&D;

4) Objetivos da medição que, segundo Kerssen van-Drongelen et al. (2000) pode

ser: (a) prover informações para ações corretivas, de forma a ajustar o

desempenho às metas pré-estabelecidas; (b) proporcionar aprendizado

organizacional, elemento fundamental para melhores planejamentos e controles

futuros; (c) facilitar alinhamento e comunicação dos objetivos; (d) apoiar

sistema de recompensas; (e) prover informações para justificar eventos

ocorridos, e; (f) apoiar a motivação das pessoas através de feedback.

Essas quatro diferentes taxonomias para projeto de sistemas de medição de desempenho

foram observadas por Kerssen van-Drongelen et al. (2000) em empresas com P&D

estruturado como 3M, Borg-Warner, General Eletric, GM Hughes Electronics, Hewlett

Packard, Olin Corporation e Unilever. A Tabela 19 ilustra o resultado dessas

observações em relação à natureza dos indicadores de desempenho utilizados.

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143

Tabela 19: Taxonomia dos indicadores de desempenho para P&D, segundo a natureza dos

indicadores e da medição.

Fonte: adaptado de Kerssen van-Drongelen et al. (2000, p.125)

Qualitativa Semi-quantitativa Quantitativa

Medições Subjetiva

Avaliação(Assessment)Unilever: -Avaliação qualitativa do coordenador do projeto de causas de atrasos de projetosOlinCorporation:-Avaliação qualitativa de superiores do grau de alcance das metas departamentais, crescimento pessoal e de clientes

Classificação (Rating)Unilever: -Classificação semi-quantitativado coordenador do projeto do nível de confiança do sucesso técnico (= alcance das metas predeterminadas)

Estimativa FinanceiraHP:-Estimativa da equipe do projeto do nº de meses depois do início da produção até o breakevendo projetoUnilever: -Estimativa do coordenador do projeto do custo do projeto até sua conclusão ou até o próximo estágio

Estimativa Numérica:HP e Unilever:-Estimativa do líder ou da equipe de projeto do nº de meses restantes até a conclusão dos estágios seguintes

Medições semi-objetiva baseada realizada pelos clientes

Avaliação(Assessment)OlinCorporation:-Avaliação qualitativa dos clientes de atendimento às expectativas dos clientes

Classificação (Rating)Borg-Warner-Classificação semi-quantitativafeita pelos clientes sobre se os resultados alcançados pelos projetos estão aderentes com seus objetivos

Estimativa FinanceiraBorg-Warner:-Estimativa quantitativa dos clientes do valor presente líquido de projetos de pesquisa finalizados, assumindo 100% de market shareHItachie General Eletric:-Estimativa dos clientes sobre o fluxo de caixa do P&Dpor produto lançado nos últimos x anos

Estimativa Numérica:GM Hughes Eletronic: -Estimativa quantitativa feita pelos clientes internos sobre % de objetivos da pesquisa alcançados

Medições semi-objetiva baseada realizada por pessoas não envolvidas no processo

Avaliação(Assessment)3M:-Avaliação qualitativa dos pares não envolvidos de fatores técnicos, de negócios, ou organizacionais ocoridosnos programas/ projetosGM Hughes Eletronics:Avaliação qualitativa em forma de painel feita por expertssobre as realizações feitas pelo P&D

Classificação (Rating)3M: -Classificação semi-quantitativados pares não envolvidos de fatores técnicos, de negócios, ou organizacionais ocorridos nos programas/ projetosGM Hughes Eletronics:Avaliação semi-qualitativade funcionários não envolvidos sobre o grau de alcance orçamentário e de outros objetivos

-

Medições Objetivas - -

Registro FinanceiroGeneral Eletric:-Registro de vendas e lucros gerados pelas Unidades de Negócios que utilizaram invenções conduzidas pelo P&D-Registro de licenças e patentes (por milhões de dólares investidos) por anoHP:-Registro dos lucros acumulados/ investimentos

Registro Numérico:HP: -Registro do nº de meses passados por estágio do projetoGeneral Eletric:-Registro do nº de patentes / milhões de dólares investidos em P&D

De acordo com o resultado da observação dos autores, a Unilever baseia sua avaliação

de desempenho em medições subjetivas (baseadas na opinião de pessoas), embora haja

balanceamento entre medições qualitativas e quantitativas. Por outro lado, as medidas

de desempenho utilizadas pela General Eletric são fundamentalmente quantitativas, sem

a utilização de medidas subjetivas. A HP também baseia a avaliação de desempenho do

seu P&D a partir de medidas de desempenho quantitativas, balanceando, contudo,

medidas subjetivas com objetivas.

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144

Em relação aos aspectos de tempo, desempenho e alcance das metas, a Tabela 20

sumariza os resultados das observações dos autores.

Tabela 20: Taxonomia dos indicadores de desempenho para P&D, segundo Associação Tempo,

Aspectos de Desempenho e Alcance das Metas.

Fonte: Kerssen van-Drongelen et al. (2000, p.130).

Empresa Indicadores de Desempenho Tempo Considerado

Adequação dos

Resultados às Metas

Aspecto de Desempenho

3M

Força da tecnologia Passado recente Entradas Quantidade

Nº de pessoas Futuro próximo Saídas Inovatividade

Habilidades dos funcionários Passado recente Entradas Qualidade

Conhecimentos competitivos Passado recente Entradas Qualidade

Desempenho dos produtos Passado distante Saídas Qualidade

Investimento restante com P&D Futuro próximo Atividades Custo

Implementação da produção Futuro próximo Saídas Qualidade

Probabilidade de sucesso técnico Futuro próximo Atividades Qualidade

Potencial financeiro do programa Futuro distante Resultados Geral

Posição competitiva Futuro próximo Entradas Geral

Probabilidade de sucesso comercial Futuro próximo Saídas Qualidade

Foco estratégico, clareza das metas Passado recente Entradas Qualidade

Balanço entre manutenção do produto, relacionado/ não relacionado ao esforço empreendido com novo produto Passado recente Saídas Inovatividade

Quantidade de interações com outros departamentos Passado recente Atividades Quantidade

Borg-WarnerClassificação por projeto da aderência dos resultados alcançados pelos projetos e as metas pré-estabelecidas Passado recente Atividades Geral

Valor presente líquido dos projetos, assumindo 100% de market share Futuro distante Resultados Geral

General Eletric

Vendas e lucros gerados por Unidade de negócio que utilizaram serviços do P&D Passado distante Resultados Geral

Licenças por ano Passado distante Resultados Geral

Nº de patentes por milhões de dólares investidos em P&D Passado distante Saídas Quantidade

% do P&D do fluxo de caixa realizado Passado distante Resultados Geral

Valor presente líquido de fluxos de caixa futuros de produtos e processos introduzidos na última década Futuro distante Resultados Geral

Grau de impacto do P&D no negócio Passado distante Saídas Geral

GM Hughes Eletronics

Avaliação do estado da arte das tecnologia desenvolvidas no P&D Passado distante Saídas Inovatividade

% alcance dos objetivos do P&D Passado recente Atividades Quantidade

Grau de concordância entre orçamento previsto e realizado Passado recente Atividades Custo

Desempenho global do P&D Passado recente Atividades Geral

Hitachi Lucro oriundo de produtos/ serviços lançados nos últimos 5 anos devido ap P&D/ custos do P&D Passado distante Resultados Geral

Hewlett Packard

Nº de meses passados por estágio do projeto Passado recente Atividades Tempo

Nº de meses do projeto até o início da produção Futuro próximo Atividades Tempo

Nº de meses depois do início da produção até o break even do projeto Futuro próximo Resultados Tempo

Lucros acumulados/ investimentos Passado distante Resultados Geral

Olin Corporation

Nível de alcance das metas departamentais, crescimento pessoal e de clientes Passado recente Saídas Geral

Nível de atendimento às expectativas dos clientes Passado recente Saídas Qualidade

Unilever

Estimativa de tempo do projeto até sua conclusão ou até o próximo estágio Futuro distante Atividades Tempo

Estimativa de custo do projeto até sua conclusão ou até o próximo estágio Futuro distante Atividades Custo

Nível de confiança do sucesso técnico = alcance das metas predeterminadas Futuro distante Atividades Qualidade

Avaliação qualitativa de causas de atrasos de projetos Futuro distante Entradas Tempo

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145

De acordo com os resultados da pesquisa dos autores, a 3M é a empresa que possui o

maior número de indicadores de desempenho para P&D, e o sistema de medição mais

equilibrado, no que tange a tempo considerado nas medições, alcance das metas e

aspectos de desempenho. Os indicadores de desempenho da 3M são, contudo,

operacionalizados a partir de avaliações semiobjetivas, feitas por pessoas não ligadas

diretamente ao processo, o que traz robustez na avaliação.

A General Eletric também possui razoável grau de equilíbrio, embora seus indicadores

sejam, na sua maioria, referentes ao passado recente.

Empresas como a Unilever optaram por adotar indicadores de desempenho

relacionados, em sua totalidade, ao futuro distante, sendo estes, portanto, mais difíceis

de serem mensurados. Sob este aspecto, isto justifica que a maior parte das medições da

Unilever seja subjetiva, já que medições objetivas não trariam as informações de futuro

distante pretendidas.

Em relação aos níveis de objetos tratados, a Tabela 21 sumariza os resultados das

observações dos autores.

Tabela 21: Taxonomia dos indicadores de desempenho para P&D, Segundo Diferentes Níveis de

Objetos Tratados

Fonte: Kerssen van-Drongelen et al. (2000, p.134)

Organização Nível de Objeto

3M Gestão de portfolioLaboratório de P&D

Borg-Warner Departamento de P&DSub-departamentos do P&D

General Eletric Departamento de P&D

GM Hughes Eletronics Laboratório de P&D

Hitachi Departamento de P&DSub-departamentos do P&D

Hewlett Packard Equipes de projeto

Olin Corporation Pesquisador

Unilever Equipes de projeto

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146

Importante observar a heterogeneidade presente nas caracetrísticas dos indicadores de

desempenho dessas organizações. Enquanto a 3M adota indicadores de desempenho

mais macros, e mais balanceados, a HP, a Olin e Unilever adotam indicadores de

desempenho mais micro, onde as duas últimas também adotam indicadores de

desempenho cujas medições são mais quantitativas (seria difícil medir desempenho

quantitativo/ financeiro no nível do pesquisador/ equipe de trabalho).

Por outro lado, a General Eletric adotou indicadores de desempenho para o nível

departamental, sob o ponto de vista quantitativo. Tais indicadores não seriam possíveis

se a General Eletric desejasse avaliar o desempenho em níveis mais micros, como no

nível de equipes e pesquisadores.

Finalmente, a Tabela 22 sumariza os resultados das observações dos autores em relação

aos objetivos dos sistemas de medição de desempenho.

Tabela 22: Taxonomia dos indicadores de desempenho para P&D, Segundo Diferentes Objetivos

dos Sistemas de Medição de Desempenho.

Fonte: Kerssen van-Drongelen et al. (2000, p.137)

Organização Objetivos do Sistema de Medição de Desempenho

3M- Avaliação do status dos programas- Aprendizado via análise de fatores chave que ajudam a melhorar seleção, priorização e execução de programas

Borg-Warner- Comparação do desempenho entre grupos de pesquisa- Identificação de oportunidades de melhoria- Fator de determinação de bônus dos gestores dos laboratórios

General Eletric - Justificativa para existência do laboratório de P&Dcorporativo- Identificação de oportunidades de melhoria

GM Hughes Eletronics - Determinação de compensação baseada em resultados de laboratório

Hitachi- Determinação da necessidade de ações corretivas- Apoio ao planejamento estratégico- Aprendizado

Hewlett Packard

- Monitoramento do valor presente líquido dos projetos- Prontidão para aprendizado e melhoria- Avaliação do impacto das decisões nos diferentes estágios dos projetos- Estimular colaboração entre diferentes funções

Olin Corporation- Melhoria integração entre objetivos individuais e departamentais- Desenvolvimento profissional- Bases para determinação de compensação

Unilever - Determinação da necessidade de ações corretivas- Aprendizado

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147

Pode-se perceber que os objetivos vistos na tabela acima são totalmente aderentes aos

indicadores de desempenho praticados nas organizações. A General Eletric busca nos

indicadores quantitativos a justificativa da existência de P&D corporativo, enquanto a

Olin busca desenvolvimento pessoal com seus indicadores qualitativos. A Unilever

adota, por outro lado, indicadores de desempenho relacionado a atividades para

determinar ações corretivas de sua equipe de trabalho.

Ojanen (2003) apresentou uma classificação semelhante a de Kerssen van-Drongelen et

al. (2000) de indicadores de desempenho para P&D, conforme ilustrado na Tabela 23.

Tabela 23: Dimensões de Desempenho de P&D.

Fonte: Ojanen (2003, p. 14)

Propósito Nível de Avaliação Tipo de P&D Fase do Processo de P&D

Perspectivas de Avaliação

Controle estratégico

Justificar a existência do

P&D

Benchmarking

Alocação de recursos

Desenvolvimento de

atividades

Motivação, recompensa

Indústria

Rede de pesquisa

Empresa

Unidade de Negócio/

Departamento

Processo

Projeto

Equipe

Indivíduo

Pesquisa básica

Pesquisa exploratória

Pesquisa aplicada

Desenvolvimento do

produto

Melhoria do produto

Entrada

Processo

Saída

Resultado

Cliente

Interna

Financeira/ Stakeholders

Aprendizado

Outros Stakeholders/

Regulatório

Segundo o autor, os indicadores devem ser escolhidos de acordo com múltiplos

critérios, a saber:

• Propósito de medida, por exemplo, controle estratégico, justificativa de

existência, benchmarking, alocação de recursos, desenvolvimento de atividades,

motivação/ recompensa, etc., conforme definido por Loch et al., 1996; Meyer et

al., 1997; Kerssen van-Drongelen e Bilderbeek, 1999; Baglieri et al., 2000).

• Nível da avaliação de desempenho, por exemplo, indústria, rede, organização,

unidade de negócio, processo, projeto, grupo de trabalho ou indivíduo, conforme

trabalhos de Schumann et al., 1995; Hauser, 1996; Nixon, 1998; e Bremser and

Barsky, 2004);

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• Tipo de P&D - pesquisa básica, pesquisa exploratória, pesquisa aplicada,

desenvolvimento de produtos, melhoria de produtos, conforme Pappas e Remer

(1985), Werner e Souder, 1997; e Ojanen e Vuola, 2006);

• Fase do processo, como entrada, processo, saída e resultado, conforme Brown e

Svenson, 1988; Kerssen van-Drongelen e Cooke, 1997; Werner e Souder, 1997;

e Baglieri et al., 2000) e;

• Perspectivas de mensuração (cliente, interna, financeira/ stakeholders, outros

stakeholders, aprendizado, conforme Kerssens-van Drongelen and Cooke, 1997;

Pearson et al., 2000; e Loch e Tapper, 2002).

Ojanen (2003) não chegou a propor os indicadores de desempenho para cada uma das

perspectivas, mas propôs um quadro conceitual de apoio para selecionar e desenvolver

indicadores de desempenho para avaliação da P&D, baseado nas perspectivas

apresentadas.

Frattini et al. (2006) propuseram um quadro conceitual considerando contingências

revisitadas de trabalhos anteriores a partir de extensa revisão bibliográfica. Para os

autores, quatro elementos devem ser considerados em projetos de sistemas de medição

de desempenho para P&D:

• Os indicadores de desempenho em si;

• A estrutura do sistema de medição de desempenho, ou seja, elementos que

definem objetos organizacionais (projetos, departamentos, etc.) que serão

avaliados e associados a cada conjunto específico de indicadores;

• As normas que irão nortear o padrão de avaliação, que devem ser subjetivos ou

objetivos, avaliado contra o tempo ou comparado com outras empresas ou outros

setores;

• A frequência de medição que estabelecerá em que tempos os indicadores de

desempenho serão monitorados.

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149

Além disso, o projeto de sistemas de medição de desempenho deve ser norteado por

quatro contingências, conforme pormenorizado na Figura 36.

Sistema de Medição de DesempenhoIndicadores de Desempenho Estrutura

Normas Frequência

Estratégia da Organização

Estrutura Organizacional

do P&D

Propósito dos Indicadores de Desempenho

Tipo de Atividade de P&D

Figura 36: Proposta de Sistema de Medição de Desempenho

Fonte: Frattini et al. (2006, p. 433)

As quatro contingências consistem em:

• A estratégia competitiva da organização, que os autores associam fortemente aos

fatores críticos de sucesso a serem considerados na unidade de negócio. Essa

contingência tem peso fundamental na escolha dos indicadores de desempenho;

• Tipo de atividade de P&D, que pode ser pesquisa básica ou aplicada. Além da

escolha dos indicadores de desempenho, essa contingência impacta fortemente a

frequência de medição e as normas;

• A estrutura organizacional da P&D, que pode ser orientada às entradas (por

exemplo, por centros de custo de projetos), orientada às saídas (por exemplo, por

produto gerado ou por plataforma tecnológica desenvolvida), ou matricial.

Obviamente, essa contingência afeta fortemente a estrutura do sistema de

medição de desempenho;

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• O propósito dos indicadores de desempenho - por exemplo, os indicadores de

desempenho podem ser projetados visando a motivação das pessoas ou

diagnosticar falhas nas atividades. Essa contingência basicamente influencia a

frequência da medição de desempenho, os padrões e a estrutura do sistema de

medição de desempenho.

Chiesa e Frattini (2007) corroboraram a ideia de projeto de sistemas de medição de

desempenho considerando a heterogeneidade da função P&D – frente ao setor da firma,

características da firma, tipo de atividade desempenhada, etc.

Para eles, mecanismos de alocação de recursos e estilos de controle devem ser

diferenciados entre ambiente de pesquisa e ambiente de desenvolvimento porque essas

atividades são diferentes em termos de complexidade, incerteza e grau de variabilidade.

A Figura 37 sintetiza a lógica contida em um projeto de sistemas de medição de

desempenho para P&D.

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151

ELEMENTOS DO PROJETO DE INDICADORES

INDICADORES

ESTRUTURADIMENSÕES DE DESEMPENHO

PROPÓSITO

PESQUISA

• Suporte à tomada de decisão• Melhoria do desempenho• Motivação de funcionários• Suporte à incentivos• Redução de riscos

DESENVOLVIMENTO

• Suporte à tomada de decisão• Melhoria do desempenho• Estímulo ao aprendizado organizacional• Melhoria da comunicação e

coordenação

PESQUISA

• Efetividade• Contribuição para o

valor adicionado

DESENVOLVIMENTO

• Eficiência• Tempo

PESQUISA

• Pesquisador• Laboratório/ Departamento• Projeto

DESENVOLVIMENTO

• Equipe• Projeto

PESQUISA

• Qualitativos• Subjetivos

PESQUISA

• Envolvimento mais cedo

DESENVOLVIMENTO

• Envolvimento mais tarde

PESQUISA

• Menor

DESENVOLVIMENTO

• Maior

PESQUISA

• Objetivos futuros

DESENVOLVIMENTO

• Auto-avaliação• Benchmarking

• Quantitativos• Subjetivos

DESENVOLVIMENTO

• Quantitativos• Objetivos

ENVOLVIMENTO DOS FUNCIONÁRIOS FREQUÊNCIA PADRÕES DE REFERÊNCIA

Figura 37: Elementos para Definição de uma Estrutura de Gestão Considerando a Heterogeneidade

da Função P&D.

Fonte: Chiesa e Frattini (2007, p. 297 )

Para os autores, um projeto de sistema de medição de desempenho depende

primeiramente do objetivo deste sistema como suportar tomada de decisão, motivar

pessoas, reduzir riscos, etc.

Os indicadores de desempenho que irão fazer parte deste sistema deverão ser escolhidos

em função das dimensões de desempenho (que pode ser efetividade, eficiência, etc.).

Além das dimensões de desempenho, a natureza das atividades de P&D (quantitativo,

qualitativo, etc.); o objeto a ser gerenciado (um departamento, um projeto, uma equipe);

e pelos elementos constituintes do próprio projeto de sistema de medição de

desempenho (como o grau de envolvimento das pessoas, frequência de medição, e

padrões de referência, conforme definido em Driva et al.2000; e Chiesa et al., 2007) são

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dimensões importantes para uma boa definição de sistemas de medição de desempenho

para P&D.

Chiesa et al. (2007) conduziram quatro estudos de casos para demonstrar que nem tanto

as diferentes características das atividades de P&D, mas sim seus diferentes objetivos,

influenciam o projeto de sistemas de medição de desempenho para P&D.

Mesmo quando empresas possuem diferentes tamanhos ou atuam em diferentes setores,

objetivos de P&D similares levam a sistemas de medição de desempenho similares.

Para Chiesa et al. (2007), os seguintes objetivos podem ser considerados:

• Apoio à alocação de recursos, conforme pode ser observado em Kerssen-van

Drongelen e Bilderbeck (1999); Pearson et al. (2000), Loch et al. (1996),

Bremser e Barsky (2004);

• Motivação dos pesquisadores, conforme pode ser observado em Kerssen-van

Drongelen e Cook (1997);

• Garantia da comunicação e coordenação, conforme pode ser observado em Driva

et al. (2000), Loch et al. (1996), Skakonyi (1995), Bremser e Barsky (2004),

Loch e Tapper (2002);

• Estímulo do aprendizado, conforme pode ser observado em Driva et al. (2000) e

Loch e Tapper (2002);

• Redução de incertezas dos projetos, conforme pode ser observado em Davila

(2004), Chiesa e Masella (1996) e Kerssen-van Drongelen e Cook (1997), e;

• Melhoria de desempenho da P&D, conforme pode ser observado em Cordero

(1990) e Szakonyi (1994).

Tais objetivos serão, na verdade, os habilitadores para a definição dos outros elementos

que devem ser considerados em sistemas de medição de desempenho. Chiesa et al.

(2007) identificaram dois grupos de indicadores de desempenho: os que derivam de

objetivos “hard” e os que derivam de objetivos “soft”. A Tabela 24 ilustra esses grupos.

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153

Tabela 24: Objetivos dos Sistemas de Medição de Desempenho para P&D e suas Características

Fonte: Chiesa et al. (2007, p. 1999)

Objetivos Dimensões de Desempenho

Indicadores de Desempenho Processos Estrutura

Hard:

• Apoio à alocação de

recursos

• Redução de incertezas

dos projetos

• Melhoria de

desempenho do P&D

Conjunto limitado de

dimensões de

desempenho,

selecionados de forma

coerente com a estratégia

Levam em consideração

fatores críticos de sucesso

Uso de poucos indicadores

para medir cada dimensão

de desempenho

Predominância de

indicadores quantitativos

e objetivos

Frequência alta de medida

Padrão imposto por

instâncias superiores

Padrões estabelecidos

com base em

desempenhos passados ou

benchmarks industriais

Aplicação de indicadores

de desempenho para o

nível do departamento de

P&D e nível de projeto

Soft:

• Motivação dos

pesquisadores

• Garantia da

comunicação e

coordenação

• Estímulo do aprendizado

Conjunto mais amplo de

dimensões de

desempenho

Uso de diversos

indicadores de

desempenho para cada

dimensão de desempenho

Predominância de

indicadores qualitativos e

subjetivos

Baixa frequência de

medida

Padrões estabelecidos de

forma coletiva

Aplicação de indicadores

de desempenho para o

nível do departamento de

P&De nível do

funcionário/ pesquisador

Para sistemas de medição de desempenho cujos objetivos se refiram a classe “hard”, as

organizações estudadas adotaram um conjunto mais limitado de indicadores de

desempenho para cada dimensão de desempenho, predominando indicadores

quantitativos e com medições objetivas, no nível de departamento ou projeto, com

frequência de medição relativamente alta.

Para sistemas de medição de desempenho cujos objetivos se refiram a classe “soft”, as

organizações estudadas adotaram um conjunto mais amplo de indicadores de

desempenho para cada dimensão de desempenho, predominando indicadores

quanlitativos e com medições subjetivas, no nível de departamento ou do funcionário/

pesquisador, com frequência de medição relativamente baixa.

O estudo de Chiesa et al. (2007) apontou para um padrão de adoção de indicadors de

desempenho para P&D de acordo com os objetivos a serem alcançados pelo sistema de

medição de desempenho. Trata-se de uma das primeiras tentativas de se estabelecer

regras de projeto para sistemas de medição de desempenho.

Chiesa et al. (2009) deram continuidade na busca desses padrões e conduziram um

trabalho envolvendo 15 empresas italianas intensivas em tecnologia com objetivo de

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154

avaliar a interação entre objetivos do sistema de medição de desempenho, as dimensões

de desempenho e fatores contextuais no projeto de um sistema de medição de

desempenho para atividades de P&D. Trata-se, pois, da continuação do artigo publicado

por Chiesa et al. (2007).

Conforme Chiesa et al. (2007), os objetivos dos sistemas de medição de desempenho

perseguidos pelas empresas são considerados os elementos mais importantes em projeto

dos sistemas de medição de desempenho. Os autores classificaram, então, os objetivos

organizacionais da seguinte forma:

1) Objetivos Relacionados a Diagnósticos

• Monitorar o progresso de atividades em relação ao consumo de recursos e ao

alcance de resultados nos marcos temporais;

• Avaliar rentabilidade de projetos de P&D e suas contribuições para o valor

econômico da empresa;

• Apoiar seleção de projetos, a serem iniciados, continuados ou descontinuados,

2) Objetivos Relacionados a Interações:

• Facilitar coordenação e comunicação entre diferentes pessoas e unidades

organizacionais que participam do P&D;

• Reduzir nível de incerteza das atividades de P&D; e

• Estimular e apoiar aprendizagem individual e organizacional.

3) Objetivos Motivacionais23:

• Motivar pesquisadores e engenheiros à melhoria de desempenho das atividades

de P&D.

23 Classificação inspirada em Simons (1995) – respectivamente, Sistemas de Controle e

Diagnóstico, Controle Interativo, e Comportamentos e Recompensas, conforme explicitado pelos próprios

autores.

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155

Na análise dos casos, os autores identificaram alguns clusters sugerindo a influência

maior que alguns fatores contextuais (como tipo de P&D, indústria a qual a empresa

pertence e tamanho da empresa) tinham em algumas dessas classes de objetivos.

Além disso, a escolha dos indicadores de desempenho de uma perspectiva em particular

(financeira, clientes, processos ou inovação e crescimento) é influenciada pelas classes

de objetivos identificadas. A Figura 38 sintetiza os clusters identificados.

-Desenvolvimento de Novos Produtos

- Grandes empresas / grandes unidades de P&D

- Indústrias high tech

1) Objetivos Relacionados a Diagnósticos

-Perspectiva Financeira- Perspectiva de Clientes

- Perspectiva de Processos

- Pesquisa Básica e Aplicada- Pequenas empresas /

pequenas unidades de P&D- Indústria baseada em

ciência

3) Objetivos Motivacionais

-Perspectiva de Inovação e Aprendizado

- Perspectiva de Processos

- Grandes empresas / grandes unidades de P&D

2) Objetivos Relacionados à

Interação

-Perspectiva de Processos

Figura 38: Arquétipos Emergentes dos Estudos de Caso sobre Sistemas de Medição de Desempenho

para P&D.

Fonte: Chiesa (2009 et al., p. 499)

Essa linha de estudo subsidiou a elaboração de um quadro conceitual que buscou

sintetizar os elementos que definem o padrão de concepção de indicadores de

desempenho. Sob este aspecto, Chiesa et al. (2008) propuseram um quadro conceitual

para projetar sistemas de medição de desempenho para P&D a partir de diferentes

dimensões identificadas na literatura como estado da arte, conforme ilustrado na Figura

39.

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156

Estratégia Corporativa

Estratégia de Negócio

Contexto Competitivo

Ambiente em Geral

Estratégia do P&D(Objetivos)

Organização e Gestão do P&D

Atividades do P&D

Objetivos do PMS

Recursos do PMS

Dimensões de Desempenho

Estrutura

Indicadores

Aspectos Processuais

Ambiente de P&D

Fatores Contextuais Elementos do PMS

Figura 39: Quadro Conceitual de Referência para Projetos de PMS para P&D.

Fonte: Chiesa et al. (2008, p. 216)

O quadro conceitual é composto basicamente por três partes:

• A primeira se refere a elementos macros da organização, que transcende a P&D,

como a estratégia corporativa/ de negócio e o ambiente competitivo em que a

organização se situa, e que irão definir o padrão de inovação e o papel da P&D

neste contexto;

• Os fatores contextuais, definidos pelos autores como sendo:

o A estratégia de P&D que orienta a escolha das atividades de P&D que

serão executadas e sua organização dentro da estrutura organizacional da

empresa;

o Os recursos disponíveis para o PMS, que podem influenciar os objetivos

do PMS porque eles podem representar uma restrição crítica à

capacidade informativa do sistema;

o Os objetivos do PMS que são orientados pelas atividades executadas no

P&D e por aspectos de gestão do P&D – por exemplo, estilos de

liderança que enfatizam mais ou menos os aspectos motivadores do

sistema;

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157

• Os elementos do PMS, refletidos a partir de todos os fatores que constituem o

ambiente de P&D (i.e. estratégia de P&D, organização e gestão do P&D,

atividades de P&D).

Se por um lado, os trabalhos de Chiesa e sua equipe até o ano de 2008 considerava

apenas alguns elementos de contingência para projetos de sistemas de medição de

desempenho, neste artigo de 2008 os autores buscam incorporar elementos não

considerados até então, como a que se refere a recursos disponíves para o projeto do

sistema de medição de desempenho. Entretanto, os autores recomendam a aplicação

prática dos frameworks desenvolvidos de forma a testar sua consistência diante do

mundo real, validando ou não as premissas que nortearam a sua concepção.

Análise e Síntese das Propostas

As propostas de sistemas de medição de desempenho para P&D ganharam robustez a

partir do trabalho de Kerssens-van Drongelen e Cook (1997), os primeiros autores a

apresentar os fatores que contingenciam os sistemas de medição de desempenho. Até

então, as propostas apresentadas, seja por estrutura processual ou nos moldes de um

sistema de auditoria, embora elaboradas com bastante consistência, não apresentavam

os elementos que fundamentavam a escolha dos indicadores de desempenho.

O trabalho publicado por Kerssen van-Drongelen et al. (2000) a partir de observações

de sistemas de medição de desempenho em empresas com P&D estruturado foi um

importante passo em direção à consolidação da lista de fatores de contingência mais

importantes a serem considerados em projetos de sistemas de medição de desempenho

para P&D. Neste artigo foi possível, a partir de observação e classificação dos

indicadores de desempenho praticados pelas empresas estudadas, identificar as

primeiras regras, mesmo que implícitas, que determinavam as relações entre os fatores

de contingência.

A lista de elementos contingenciais e as regras que determinam as relações entre eles

ainda não podem ser consideradas conclusivas, segundo Chiesa et al. (2008).

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158

Determinar essas regras em detalhes maiores aos apresentados por Chiesa et al. (2009)

ainda é um trabalho a ser conduzido por pesquisadores da área.

Entretanto, há regras que são mais evidentes e foram identificadas principalmente nos

trabalhos de Chiesa et al. (2008) e Chiesa et al. (2009). Por exemplo, em relação ao

nível de avaliação de desempenho e a natureza da avaliação, níveis mais altos de

avaliação (corporação ou unidade de negócio) permitem avaliações qualitativas e

quantitativas, enquanto níveis mais baixos (equipes da P&D, pesquisadores) requerem,

fundamentalmente, avaliações qualitativas.

As seguintes regras puderam ser identificadas a partir das propostas descritas.

P.C. 19 Elementos contidos nos fatores de contingência

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar algumas estruturas para sua concepção:

a. Elementos Macro da Organização:

i. A estratégia da organização, fortemente associados aos fatores críticos de sucesso a serem considerados no nível corporativo e de unidade de negócio (LOCH et al., 1996; GRIFFIN e PAGE, 1996)

b. Fatores Contextuais – esses fatores podem ser divididos em:

i. Elementos presentes na P&D:

1. A estrutura organizacional da P&D, que pode ser orientada às entradas - por exemplo, por centros de custo de projetos, orientada às saídas - por exemplo, por produto gerado ou por plataforma tecnológica desenvolvida, ou matricial (FRATTINI et al., 2006);

2. As diferentes fases da P&D - pesquisa básica, aplicada e desenvolvimento (PAPPAS e REMER, 1985; WERNER e SOUDER, 1997; e OJANEN e VUOLA, 2003);

3. As etapas do processo da P&D - entrada, processamento, saída, resultado (BROWN e SVENSON, 1988; KERSSEN VAN-DRONGELEN e COOKE, 1997; WERNER e SOUDER, 1997; e BAGLIERI et al., 2000);

4. Os níveis de responsabilidade na P&D - o desempenho da organização, da P&D, do grupo de pesquisadores ou do próprio pesquisador individual (SCHUMANN et al., 1995; HAUSER, 1998; NIXON, 1998; e BREMSER e BARSKY, 2004);

ii. Características do sistema de gestão da organização

1. Os objetivos do sistema de medição de desempenho - para motivar pessoas, para

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159

diagnosticar problemas, facilitar alinhamento e comunicação dos objetivos, etc. (LOCH et

al., 1996; MEYER et al., 1997; KERSSEN VAN-DRONGELEN e BILDERBEEK, 1999; KERSSEN VAN-DRONGELEN et al., 2000; e BAGLIERI et al., 2000);

2. O grau de envolvimento das pessoas em relação ao sistema de medição - se atrelado a remuneração variável, se atrelado a política de identificação e desenvolvimento de lideranças, etc. (FRATTINI et al., 2006; CHIESA e FRATTINI, 2007; CHIESA et al., 2008);

3. Os recursos disponíveis para o PMS, que podem influenciar os objetivos do PMS porque eles podem representar uma restrição crítica à capacidade informativa do sistema (FRATTINI et al., 2006; CHIESA e FRATTINI, 2007; CHIESA et al., 2008)

c. Elementos do Sistema de Medição de Desempenho

1. As diferentes perspectivas da avaliação - financeira, clientes, processos, etc. (KERSSENS-VAN DRONGELEN e COOKE, 1997; PEARSON et al., 2000; LOCH e TAPPER, 2002; BREMSER e BARSKY, 2004; e OSAMA 2006);

2. Aos atributos de desempenho - por exemplo, quantidade, tempo e custo (TIPPING et al. 1995);

3. A adequação dos resultados às metas organizacionais – indicadores leading e lagging (KAPLAN e NORTON, 1992, 1996);

4. As diferentes técnicas de mensuração de desempenho - qualitativo, semi-quantitativo e quantitativo (PAPPAS e REMER, 1985; BROWN e GOBELI, 1992; e WERNER E SOUDER, 1997);

5. A natureza da medição - baseado em critérios objetivos ou subjetivos (PAPPAS e REMER, 1985; BROWN e GOBELI, 1992; e WERNER e SOUDER, 1997);

6. Ao tempo considerado na medição - eventos relacionados ao passado, presente, futuro (TIPPING et al. 1995);

7. As normas que irão nortear o padrão de avaliação, que devem ser subjetivos ou objetivos, avaliado contra o tempo ou comparado com outras empresas ou outros setores (FRATTINI et al., 2006; CHIESA e FRATTINI, 2007; CHIESA et al., 2008);

8. A frequência de medição que estabelecerá em que tempos os indicadores de desempenho serão monitorados (FRATTINI et al., 2006; CHIESA e FRATTINI, 2007; CHIESA et al., 2008)

P.C. 20 Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar algumas regras que definem a relação dos

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160

indicadores de desempenho com os fatores de contingência (CHIESA et al., 2009):

a) Organizações cujo objetivo do PMS esteja relacionado a diagnósticos são as que geralmente desenvolvem inovação high tech, possuindo grandes unidades de P&D. Geralmente adotam indicadores de desempenho das perspectivas financeiras, de clientes e de processos;

b) Organizações cujo objetivo do PMS esteja relacionado a interação entre pessoas são as que geralmente possuem grandes unidades de P&D, que necessitam coordenação entre diferentes atividades. Geralmente essas empresas adotam indicadores de desempenho das perspectivas de processos;

c) Organizações cujo objetivo do PMS esteja relacionado a objetivos motivacionais são as que geralmente possuem pequenas unidades de P&D, orientadas mais a pesquisa básica e aplicada. Geralmente essas emrpesas adotam indicadores de desempenho das perspectivas de processos e de aprendizado e crescimento.

Pode-se afirmar que os artigos produzidos por Chiesa e sua equipe são considerados o

estado da arte sobre o assunto, embora nem todas as regras que relacionam os fatores de

contingência estejam devidamente explicitadas e comprovadas. Os últimos trabalhos de

Chiesa apresentam regras importantes em relação aos fatores contingenciais, conforme

observado. É um trabalho da academia não só evoluir na identificação dessas regras,

mas também tornar essas regras generalizáveis, ou seja, que sejam capazes de cobrirem

quaisquer situações.

Neste sentido, há um equilíbrio que deve ser considerado: as regras precisam ser mais

abrangentes quanto possível, capazes de cobrir a maior quantidade de situações, mas

não pode “engessar” um projeto de sistema de medição de desempenho para P&D.

Como tendência geral, provavelmente haverá um conjunto de regras que definirão a

maior parte dos indicadores de desempenho da P&D, mas parte desses indicadores será

escolhida com base nas características específicas da P&D sendo projetada, ou mesmo

com base no feeling dos gestores.

5.4. Problemas na Área de Pesquisa

Embora seja significativo o número de publicações sobre o tema, com propostas cada

vez mais estruturadas e robustas, conforme visto na própria revisão da literatura, ainda

há uma séria de inconsistências e deficiências neste campo de pesquisa.

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161

Primeiramente, destaque deve ser dado à própria dificuldade de se medir o desempenho

da P&D, conforme destacado por Loch e Tapper (2002) a partir de entrevistas

conduzidas com gerentes de instituições de P&D que relataram ser impossível avaliar

atividades de P&D adequadamente.

Kerssels-van Drongelen e Cook (1997), Kerssels-van Drongelen et al. (2000), Bremser

e Barsky (2004) elencaram algumas razões dessa impossibilidade:

• Dificuldade de se isolar das demais atividades a contribuição da P&D ao

desempenho da organização;

• Tempo decorrido entre esforços iniciais com P&D e o possível retorno sobre

estes esforços, o que pode tornar difícil o uso desta informação para fins de

tomada de decisão;

• Combinação dos recursos específicos de P&D e resultados intermediários

(descobertas científicas, novas tecnologias, novos materiais, novos processos,

etc.) com as aplicações finais dessas descobertas (inclusão de novos processos a

linha de produção, lançamento de novos produtos, etc.) – nem sempre é possível

prever em quais produtos ou processos os resultados provenientes da pesquisa

básica ou aplicada serão aplicados;

• Dificuldade em se padronizar indicadores de desempenho para comparações

futuras, devido ao caráter único presente nas atividades de P&D – por exemplo,

no limite, indicadores de desempenho deveriam ser pensados por projeto, ou até

mesmo por atividade, e não no nível da empresa;

• Aceitação do sistema de medição de desempenho, já que muitos cientistas e

engenheiros acham que a avaliação de desempenho da P&D é vista como

desencorajadora de criatividade e, assim, reduz a motivação por este tipo de

trabalho – ainda mais quando se trata de uma atividade que, por natureza, é

muito mais ineficiente do que atividades repetitivas, típicas de sistemas de

produção.

Kerssels-van Drongelen et al. (2000) apontaram que o fato da literatura sobre o assunto

ser dominada por cientistas e engenheiros explica a tendência de propostas de

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162

indicadores de desempenho serem baseados em dimensões técnicas, em detrimento das

dimensões comportamentais, mais subjetivas.

Resumidamente, o que Kerssels-van Drongelen et al. (2000) concluiram é que a

discussão de projetos de sistemas de medição de desempenho para P&D não estão

acompanhando a discussão de gestão da P&D à mesma velocidade. Por exemplo, os

autores destacam que a relação entre P&D e estratégia corporativa é uma questão que se

encontra consensuada na literatura, mas pressupõe integração de vários outros

componentes organizacionais - como estrutura, sistemas (como o de recompensa),

estilos gerenciais, habilidades e valores compartilhados - pouco explorados pela

literatura até o momento da publicação do artigo dos autores, e que representam

importantes entraves na implementação de indicadores na prática (Kerssels-van

Drongelen et al., 2000, p. 138). Os autores destacaram que os sistemas de medição de

desempenho foram tratados na literatura partindo como pressuposto que o modelo de

inovação segue uma lógica linear, segmentada, e não integrada, multidisciplinarizada.

Adams et al. (2006) criticam a literatura existente pela falta de clareza presente na

proposta de indicadores de desempenho, onde fica pouco claro nas propostas se os

indicadores utilizados são recomendações feitas pelos pesquisadores (e por quê), ou se

são evidencias coletadas de estudos de caso, onde tais indicadores aparecem

implantados na prática.

Em relação às publicações existentes sobre a área de pesquisa, Adams et al. (2006)

destacaram que a discussão sobre sistemas de medição de desempenho para avaliar

P&D são muito mais discutidas na prática do que na teoria (mesmo com o grande

número de publicações existentes). Alguns razões remetem à própria incapacidade da

academia em sintetizar, empacotar e comunicar adequadamente a teoria de forma

efetiva para aplicação na prática.

Eles sugerem que qualquer framework proposto deve ser adaptado aos casos específicos

na prática, mas que os quadros conceituais são fundamentais como balizadores de um

sistema de medição de desempenho completo. A escolha de indicadores de desempenho

mais adequados para avaliação dos elementos presentes na inovação depende de uma

série de fatores que podem variar caso a caso. Na seção anterior, observou-se que os

quadros conceituais fundamentados na visão multidimensional da P&D e nos fatores de

contingência são considerados os mais bem desenvolvidos na literatura.

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163

Osama (2006) destacou algumas limitações das propostas de sistemas de medição e

desempenho para P&D e inovação:

• Ausência de continuidade e de aprimoramento de importantes trabalhos

publicados sobre o assunto, citando o exemplo da publicação de Quinn em 1960,

praticamente esquecida da literatura e das publicações posteriores até a

publicação de Brown e Svenson em 1988, quase 30 anos depois. A partir dos

anos de 1990, ainda segundo Osama (2006), percebe-se a mesma desconexão

entre os diferentes quadros conceituais desenvolvidos, e muitos desses quadros

possuem aplicações bastante limitadas e particulares, conforme pôde ser

observado nessa revisão bibliográfica;

• De maneira geral, grande parte dos trabalhos buscam hiper-simplificar a

discussão de abrangência dos sistemas de medição de desempenho, por

exemplo, limitando o seu alcance no nível de departamento de P&D, sem

reconhecer que o processo de inovação transcende a área de P&D, ou até

mesmo, repetindo feitos das primeiras publicações, como a avaliação da P&D a

partir de indicadores específicos, como número de patentes depositadas;

• Aparente perda de sofisticação metodológica, onde os quadros conceituais são

propostos sem uma revisão da literatura sobre os conceitos de controle gerencial

e sistemas de medição de desempenho em geral, onde questões como multi-

dimensionalidade, equilíbrio, correlações, causalidade, confiabilidade, validade,

variabilidade, são deixadas de lado - segundo o autor, Quinn (1960) e Packer

(1983) seriam exceções. Por exemplo, o trabalho de Brown e Svenson (1988) se

encontra no mesmo patamar de conhecimento, onde há inúmeras publicações

limitadas apenas em adaptá-lo para solução de problemas específicos.

Mesmo após anos de publicações, ainda há um número razoável de dissidentes críticos

do estado da arte do assunto como Jamsen et al. (2001). A partir de pesquisa empírica,

os autores expressaram o gap presente entre a necessidade e o atual sistema de medição

de desempenho nas organizações. Embora muitos trabalhos caminhem nessa direção,

não há dados estatísticos suficientes que comprovem a efetividade de sistemas de

medição de desempenho (uma exceção pode ser vista em Loch e Tapper, 2003, que

apresentaram os efeitos da implementação de um sistema de medição de desempenho

em P&D de uma organização). Outro exemplo de insuficiência de dados estatísticos é

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164

destacada explicitamente em Chiesa et al. (2008), que recomendou a observação em

mais estudos de caso para verificar a relação presente entre os fatores que

contingenciam a concepção de indicadores de desempenho para P&D.

Autores como Bremser e Barsky (2004) propuseram uma estrutura de BSC para apoiar a

avaliação da área de P&D. Entretanto, os autores não consideraram, por exemplo, que

diferentes fases do processo de inovação requerem diferentes estratégias e,

consequentemente, diferentes formas de avaliação. Como pode ser observado a partir da

revisão teórica, a estrutura do BSC contempla alguns elementos presentes em estruturas

mais completas, como a que se refere os fatores de contingência (por exemplo,

diferentes perspectivas, alinhamento estratégico, etc.), mas não todos. Conclui-se que o

BSC, embora amplamente utilizado para gestão estratégica das organizações, atende

apenas parcialmente os elementos necessários para a concepção de sistemas de medição

de desempenho para P&D.

5.5. Síntese do Quadro Conceitual e dos Princípios de

Construção de Sistemas de Medição de Desempenho para P&D

Conforme visto na seção anterior, a capacidade inovadora de uma organização não é um

fenômeno facilmente identificado ou controlado, como é a capacidade produtiva, por

exemplo. Isto porque, embora a inovação possa ser vista como um processo, vários

elementos como a presença de elementos intangíveis como conhecimento, criatividade e

motivação; a incerteza dos tempos envolvidos entre início e fim do processo; e a

imprevisibilidade dos resultados dificulta a sua gestão e controle (Kerssels-van

Drongelen et al., 2000).

Desde o final da década de 1950 há intenções em desenvolver sistemas de medição de

desempenho, inicialmente para questões mais específicas de P&D e, na sequência, para

questões mais sistêmicas, inclusive envolvendo elementos não controlados pela P&D,

presentes não só no departamento da P&D, mas também na função P&D da

organização, como é o caso de algumas contingências verificadas nos quadros

conceituais de Kerssen van-Drongelen et al. (2000), Chiesa et al. (2008) e Chiesa et al.

(2009). A Figura 40 sintetiza a evolução das publicações encontradas na literatura sobre

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165

os sistemas de medição de desempenho para P&D, desde o final dos anos de 1950 até os

dias de hoje. N

º Var

iáve

is En

volv

idas

/ Ab

rang

ência

do

Sist

ema

de M

ediç

ão

Adaptações das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

Diferentes Níveis de Criação de Valor

Diferentes Naturezas Presentes na P&D

1970 1980 1990 20001960 2010

Sistemas Alinhados à Lógica de Controle e Avaliação

Visão Processual da P&D

Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timmingdo Projeto

Propostas de Indicadores de

Desempenho para P&D

Propostas de Sistemas de

Medição de Desem

penho para P&D

Visão Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos

Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas

de Avaliação

Estrutura Multidimensional para

P&De Inovação

Fatores de Contingência

Figura 40: Evolução das Publicações Encontradas na Literatura Frente à Abrangência dos

Sistemas de Medição de Desempenho.

Fonte: o Autor

Conforme pôde ser observado na revisão teórica, os primeiros trabalhos publicados

tinham como principal foco em lidar com questões específicas da P&D, como avaliação

dos resultados mais facilmente mensuráveis (como patentes, publicações, etc.), dos

recursos consumidos, do nível de formação dos pesquisadores, etc.

Até a década de 1970, maior parte das propostas estava direcionada à criação de

indicadores específicos para P&D. Única exceção pôde ser observada nas propostas que

visavam não só a concepção de indicadores de desempenho, mas um sistema de

medição de desempenho que permitisse o alinhamento entre o planejamento estratégico

e as atividades da P&D, conforme publicações de Quinn (1960). Sob este aspecto, essas

propostas tratam a P&D não apenas como um departamento gerador de custos, mas

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166

como uma área com papel estratégico fundamental para o sucesso competitivo das

organizações, conforme notado por alguns estudos realizados sobre estrutura de P&D

nas organizações, por exemplo, Roussel et al. (1991), Jain e Triandis (1997), Afuah

(1998) e Chiesa (2001).

A partir dos anos de 1980 surgiram as primeiras publicações com propostas de quadros

conceituais mais completos, que apoiassem o projeto de sistemas de medição de

desempenho para P&D. Pearson et al. (2000) discutem um importante movimento

ocorrido nos anos de 1990 em relação à gestão de centros de P&D, considerando tais

centros como centros geradores de lucro, não apenas como centros de custo, o que traz

implicações importantes para o sistema de medição de desempenho, como a necessidade

de conter indicadores de desempenho balanceados entre curto e longo prazo, entre

colaborações internas e resultados na estratégia competitividade, entre medidas

financeiras e não financeiras.

A conclusão que esses autores chegam, a exemplo de Andreassi (1999), é que não existe

nenhum framework completo o suficiente para gerenciar todos os elementos envolvidos

na P&D e na inovação, como se encontra em uma unidade de negócio geradora de

lucro. Contudo, uma evolução considerável pôde ser observada nas propostas

conceituais, desde a que considera simples diferenciação das atividades da P&D, até

modelos mais completos, que consideram diferentes elementos presentes na P&D, como

as classificações presentes na estrutura multidimensionais da P&D e da inovação e os

fatores contingenciais, que podem ser consideradas o estado da arte do assunto.

Diante do estado em que este assunto se encontra na academia, não parece adequado,

portanto, investir mais esforços para adaptar ou criar outros quadros conceituais que

sejam capazes de suportar um bom sistema de medição de desempenho para avaliar a

P&D das organizações. Parece mais adequado, contudo, verificar como esses quadros

conceituais podem ser utilizados na prática e se existe um padrão (ou uma regra) que

determine como projetar sistemas de medição de desempenho para P&D.

Essa constatação determinou uma importante orientação para este trabalho de tese: a de

se identificar Princípios de Construção, que orientem projetos de sistemas de medição

de desempenho, que sejam genéricos o suficiente para serem aplicados a diferentes

casos, ao mesmo tempo em que sejam específicos para que nenhum elemento

importante deixe de ser considerado no projeto. O conjunto de Princípios de Construção

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foi identificado na literatura e apresentados ao longo da seção anterior. Os seguintes

princípios de construção puderam ser identificados da literatura:

P.C. 1 Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais;

P.C. 2 Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas,

Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D.

Em relação aos sistemas alinhados à lógica de controle e avaliação:

P.C. 3 Controle e Avaliação;

P.C. 4 Relações Causais.

Em relação à visão processual da P&D:

P.C. 5 Diferentes Naturezas Presentes na P&D;

P.C. 6 Visão da P&D como um Processo de Negócio;

P.C. 7 Stage Gates para Desenvolvimento de Produto;

P.C. 8 Nível de Maturidade dos Processos;

P.C. 9 Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização;

P.C. 10 Processos em Diferentes Camadas;

P.C. 11 Relação com Objetivos Envolvidos em cada Processo;

P.C. 12 Relação Processos e Fases Típicas de Projeto.

Em relação aos elementos multidimensionais da P&D:

P.C. 13 Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do

Projeto;

P.C. 14 Diferentes Níveis de Criação de Valor;

P.C. 15 Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas

de Avaliação;

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168

P.C. 16 Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação

dos clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa;

P.C. 17 Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo

com Estratégia de Inovação;

P.C. 18 Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação.

Finalmente, em relação aos fatores de contingência:

P.C. 19 Elementos contidos nos fatores de contingência;

P.C. 20 Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto.

A descrição pormenorizada de cada um desses princípios pode ser observada no Anexo

2 deste documento. Tais princípios serão a base de avaliação dos sistemas de medição

de desempenho da P&D dos casos estudados.

Importante considerar que esses Princípios de Construção identificados na literatura

possuem algum nível de relacionamento, embora essas relações não sejam devidamente

explicitadas na literatura. Essas relações mostram uma cumulatividade de elementos

propostos na literatura ao longo dos anos. Por exemplo, os primeiros modelos foram

propostos para avaliar desempenho da P&D sob alguma perspectiva específica

(conforme observado nos Princípios de Construção 1 e 2). Esses modelos, por sua vez,

foram incorporados nas propostas seguintes, por exemplo, nas propostas que

consideram sistemas alinhados ao planejamento estratégico. Esses modelos foram

incorporados em propostas mais atuais até modelos considerados o estado da arte da

literatura: os que buscam uma combinação multidimensional de elementos da P&D e da

inovação e nos fatores contingenciais. A Figura 41 apresenta a lógica de incorporação

dos princípios de construção identificados da literatura ao longo do tempo.

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Figura 41: Lógica de Composição dos Princípios de Construção dos Sistemas de Medição de Desempenho para P&D.

Fonte: o autor

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170

Importante destacar que o princípio 20, referente à aplicação de algumas regras de

projeto para sistemas de medição de desempenho, estabelecidas a partir de padrão de

comportamento percebido em algumas empresas, pode ser considerado o mais refinado

em termos metodológicos, já que se trata de um primeiro passo ao estabelecimento de

regras de projeto para projeto de sistemas de medição de desempenho para P&D.

Entretanto, tais princípios consideram apenas algumas contingências identificadas no

princípio 19 (objetivos do sistema de medição de desempenho, perspectivas de

desempenho e estratégia de P&D), levando ao entendimento que este princípio não é tão

completo e abrangente quanto os princípios 16 e 17.

Em relação ao princípio 19 (referente aos fatores de contingência), foram observadas

incorporações dos seguintes princípios:

• P.C. 2, que considera diferentes níveis de responsabilidade (área de P&D,

eqiope, pesquisador) como uma das contingências relacionadas ao elementos

presentes na P&D;

• P.C. 2 e P.C. 5, que consideram a necessidade de equilíbrio entre indicadores

qualitativos x quantitativos; indicadores que representam diferentes atributos; e

medidas objetivas e subjetivas como uma das contingências relacionadas ao

sistema de medição de desempenho;

• P.C. 6, que considera a visão processual da P&D como uma das contingências

relacionadas a elementos presentes na P&D

• P.C. 11, que consideram diferentes objetivos do sistema de medição de

desempenho como uma das contingências presentes nas características do

sistema de gestão da organização;

• P.C. 12, que considera diferentes fases de um projeto de P&D como uma das

contingências presentes nas características da P&D;

• P.C. 14, que considera uma visão multidimensional dos elementos presentes na

criação de valor tecnológico da empresa, relacionados à contingência referente à

estratégia da organização e seu desdobramento para a função da P&D;

• P.C. 15, que considera a estrutura do BSC relacionada a algumas contingências,

como as referentes à estratégia da organização e seu desdobramento para a

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função da P&D, perspectivas de avaliação, e a adequação dos resultados às

metas organizacionais;

• P.C. 16, que considera a visão multidimensional do desenvolvimento de

produtos relacionada à contingência referente às perspectivas de avaliação;

Em relação ao princípio 18 (referente aos elementos multidimensionais da P&D), foram

observadas incorporações dos seguintes princípios:

• P.C. 2, que considera a necessidade de equilíbrio entre indicadores qualitativos x

quantitativos; indicadores de efetividade x eficiência; diferentes perspectivas; e

indicadores qualitativos x quantitativos nas diferentes dimensões da P&D e

inovação;

• P.C. 3, que considera timming do projeto (relacionado ao tempo de controle e

avaliação) como um dos elementos a serem considerados nas diferentes

dimensões da P&D e inovação;

• P.C. 4, que considera relações causais para alinhamento entre tecnologia e

estratégia como um dos elementos a serem considerados nas diferentes

dimensões da P&D e inovação;

• P.C. 6, que considera os processos de P&D como um dos níveis de criação de

valor, como uma das perspectivas do BSC, como um dos elementos do

desenvolvimento do produto, e como um dos elementos contidos no processo de

P&D e da inovação (já que Processos de gestão, Processos Principais e

Habilitadores podem ser abordados sob a perspectiva processual/ sistêmica);

• P.C. 8, que relaciona a visão processual com níveis de maturidade de cada

processo, com correspondência direta à lógica do modelo de audit presente nas

propostas que consideram a visão multidimensional de P&D e inovação;

• P.C. 12, que considera como um dos elementos de geração de valor tecnológico

as diferentes fases do processo da P&D;

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Em relação aos princípios 5 a 12 (relacionados a visão processual da P&D), foram

observadas incorporações dos seguintes princípios:

• P.C. 2, no que tange à necessidade de equlíbrio entre indicadores qualitativos e

quantitativos, de acordo com as diferentes naturezas presentes na P&D; no que

tange ao equilíbrio entre indicadores de entrada, processamento e saída nos

processos da P&D; e no que tange à avaliação da efetividade dos processos por

nível de maturidade;

Finalmente, em relação aos princípios 3 e 4 (sistemas alinhados à lógica de controle e

avaliação), foram observadas incorporações dos seguintes princípios:

• P.C. 1, que trata da presença de indicadores de desempenho financeiros para

avaliação de projetos de P&D;

• P.C. 2, que trata da necessidade de concepção de indicadores de desempenho

não financeiros, relacionados a eficiência, produtividade e efetividade da P&D e

controle de projetos.

No capítulo que se segue, será apresentado o método de trabalho em que foi baseado

esta tese, destacando a forma pela qual optou-se por verificar os princípios de

construção nos casos estudados, como os casos foram estudados e quais os critérios

usados na amostragem das empresas a serem estudadas.

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6. Método de Trabalho Adotado na Tese O objetivo deste capítulo é apresentar o método de trabalho em que foi baseado esta

tese, destacando a forma pela qual optou-se por verificar os princípios de construção nos

casos estudados, como os casos foram estudados e o quadro conceitual de apoio que

norteou a condução das entrevistas, e quais os critérios definiram a escolha da amostra

das empresas a serem estudadas.

6.1. Verificação dos Princípios de Construção em Casos

No âmbito desta tese, conforme visto no capítulo 5, os princípios de construção foram

identificados a partir de diversas propostas contidas na literatura (teoria organizacional).

Como tais propostas encontravam-se dispersas em inúmeros trabalhos, sem consenso

determinado, tal como discutido na seção 5.5 deste documento, foi necessário pesquisar

toda a literatura específica publicada sobre o assunto, de forma a se buscar

exaustivamente os elementos que devem ser considerados em projetos de sistemas de

medição de desempenho para P&D.

O quadro conceitual baseado na Design Research, em particular o trabalho de Romme e

Enderburg (2006), atendeu bem a expectativa de se consolidar os elementos a serem

considerados em sistemas de medição de desempenho para P&D. Conforme observado

a partir da revisão da literatura, não foi possível estabelecer regras detalhadas o

suficiente para servirem como prescrições para o projeto de sistemas de medição de

desempenho para P&D. A única obra que estabelece regras de projeto explícitas para

projetos de sistemas de medição de desempenho para P&D é a de Chiesa et al. (2008) -

pela identificação de padrões de observação, ou clusters, a partir de casos visitados. Isto

leva a crer que o detalhamento dos princípios de construção em regras de projeto de

sistemas de medição de desempenho ainda necessita de inúmeras replicações em casos

práticos.

Contudo, o presente trabalho não pretende ir adiante, de acordo com os ciclos de

pesquisa apresentados por Romme e Enderburg (2006), partindo para o detalhamento

dos princípios de construção para as regras de projeto, e destas, para o projeto

organizacional e implantação, experimentação e avaliação.

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174

Esta tese ficará limitada à etapa anterior do quadro conceitual de Romme e Endenburg

(2006), onde os princípios de construção foram identificados e sua utilização deverá ser

verificada na realidade de empresas brasileiras. Para verificar essa utilização, serão

conduzidos estudos de caso de forma a ser possível identificar não só os sistemas de

medição de desempenho adotados nessas organizações, mas também, como tais

sistemas foram concebidos e relacionados como um instrumento de gestão da P&D.

Dessa forma, pretende-se observar como empresas brasileiras que necessitam da

inovação como fonte de vantagem competitiva e com P&D estruturado projetaram seus

sistemas de medição de desempenho específicos para a P&D.

Antes da elaboração do protocolo de pesquisa e das visitas, houve necessidade de se

estabelecer um quadro conceitual de apoio para a condução dos estudos de caso, que se

relacionasse bem com as questões apresentadas nos princípios de construção. Observar

simplesmente a presença de um ou outro indicador de desempenho nas empresas

estudadas poderia deixar importantes contextos sem explicação. Por exemplo, em Bio-

Manguinhos, observou-se a existência de um Mapa Estratégico e indicadores de

desempenho associados que não eram utilizados efetivamente para a tomada de decisão

em torno das questões tecnológicas. Apenas olhando o contexto em que ocorre a P&D

em Bio-Manguinhos, e como a ineficácia do Mapa Estratégico foi suprida, foi possível

identificar de forma mais precisa a adequação do princípio de construção afeto ao uso

dos conceitos do BSC em Bio-Manguinhos.

6.2. Quadro Conceitual de Apoio às Buscas das Evidências

Conforme observado, a verificação dos princípios de construção utilizados nos casos

exige o entendimento não só dos indicadores de desempenho adotados nas empresas,

mas como tais sistemas de medição de desempenho existentes “se conectam” aos

demais elementos de gestão. Por exemplo, no caso da empresa Ouro Fino, percebeu-se

que os indicadores de desempenho utilizados para P&D foram estabelecidos a partir de

uma lógica funcional – indicadores no nível de Diretoria, Departamento e Seção – pois

tal lógica encontrava-se fortemente presente na estrutura organizacional.

O quadro conceitual de Goffin e Mitchell (2005), apresentado na seção 5.3.4, foi

escolhido como balizador para busca de evidências importantes dos estudos de caso, por

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contemplar, justamente, a proposta de um audit para avaliar um conjunto de elementos

da gestão da inovação presentes em um aorganização. Tal conjunto de elementos pode

subsidiar, de forma bastante satisfatória, a avaliação da inserção dos sistemas de

medição de desempenho para P&D no modelo de gestão de inovação das empresas

estudadas.

Entre os tais elementos, pode-se destacar a estratégia da organização e seu

desdobramento e alinhamento com a estratégia tecnológica, o mapeamento das

atividades típicas envolvidas na P&D, a estrutura de gestão relacionada a pessoas,

estruturas organizacionais e avaliação de desempenho.

Outros quadros conceituais poderiam ser utilizados com essa função, como a Cadeia de

Valor da Inovação e a própria estrutura de audit de Chiesa. Entretanto, o quadro

conceitual de Goffin e Mitchell (2005) foi o que pareceu ser mais simples de ser

compreendido e o mais completo, em termos de elementos de gestão presentes.

Conforme visto na seção 3.1, uma das questões centrais que o pesquisador deve se

deparar no inicio da pesquisa é a identificação das atividades que deverão ser

desenvolvidas e como elas serão desenvolvidas. Um projeto de pesquisa deve ser

desenvolvido com este intuito, de forma a facilitar o foco do pesquisador na pesquisa

em questão, permitindo a ele aceitar eventuais desvios inerentes às próprias

características da pesquisa, sem que haja perda de foco no objeto central da pesquisa.

Assim, o projeto desta pesquisa contemplando a escolha das empresas, bem como o

processo de condução dos estudos de caso serão assuntos abordados na próxima seção.

6.3. Protocolo de Estudos de Caso da Pesquisa

Conforme estabelecido na seção 2.1, o objetivo central da pesquisa que levou a adoção

do método de estudo de caso é verificar como empresas brasileiras que utilizam a

inovação como fonte de vantagem competitiva projetaram seus sistemas de medição de

desempenho para avaliar a inovação oriunda do seu esforço com P&D, frente às

prescrições presentes na literatura e se tais prescrições mostram-se adequadas à

realidade brasileira.

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A metodologia de estudo de caso pareceu ser a mais adequada para a condução desta

pesquisa, pois este método exige a inserção do pesquisador em campo e apoiam a

organização da coleta e confirmação de informações, trazendo fidedignidade à pesquisa.

O método baseado em surveys também poderia ser pensado no âmbito desta pesquisa,

inclusive com vantagens em relação à relevância estatística dos dados coletados, em

comparação com os estudos de caso. Contudo, a survey permite apenas coletar

informações a partir da percepção dos entrevistados, o que poderia trazer viés à

fidedignade das informações. O estudo de caso permitiu, a partir de estrutura conceitual

de apoio, a coleta de informações não só a partir da percepção dos entrevistados, mas

também a partir do cruzamento dessas informações com outras fontes de informação,

por exemplo, documentos gerenciais, informações de home page, etc.

As proposições desta pesquisa, isto é, os elementos que precisam ser considerados para

análise dentro do escopo do estudo, referem-se fundamentalmente à importância da

capacidade das organizações em gerir inovação como elemento de sustentação de

vantagem competitiva. Entretanto, gerir a inovação e, em particular, a função da P&D

dentro de uma organização é um elemento crítico, tendo em vista as questões apontadas

no Capítulo 5 como as incertezas inerentes aos resultados da P&D e as típicas grandezas

envolvidas em investimentos em P&D. Sob este aspecto, elementos relacionados à

gestão da P&D por indicadores de desempenho, podem ser considerados o ponto central

das proposições consideradas nesta pesquisa.

A unidade de análise considerada, isto é, a questão fundamental que será abordada nos

casos, consiste na função de P&D de empresas que possuam tal função estruturada. Esse

é um importante delineamento que precisa ser considerado. A partir do estabelecido

como atribuições típicas de atividades inovadoras, conforme verificado na seção 4.1.2, a

área de P&D pode ou não estar presente em empresas consideradas inovadoras. Por

exemplo, inovações típicas em processos ou em estruturas organizacionais geralmente

são conduzidas por áreas diferentes da P&D, como área Administrativa ou de

Marketing. Nessa tese, a avaliação dos princípios de construção só será observada em

empresas que possuam formalmente uma área de P&D e que realizem inovações

tipicamente de produtos, já que foi em torno desse objeto que foi identificada a maior

parte da literatura.

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Por outro lado, conforme pôde ser observado no capítulo 5, os sistemas de medição de

desempenho para P&D não só podem mas também devem abranger eventos ocorridos

fora da área de P&D, como por exemplo, na área Industrial e no Marketing. Esses

sistemas abrangem, pois, a função de P&D, e não só o departamento.

Sob este aspecto, os seguintes contextos deverão ser considerados dentro da função da

P&D:

• Estratégia corporativa e tecnológica da empresa – na verdade, este é o contexto

central pelo qual toda a estrutura da P&D é desenvolvida;

• Projeto organizacional da empresa e da função P&D – a partir do delineamento

da estratégia tecnológica da organização, todo o projeto organizacional e da

função P&D é baseado;

• Modelo de gestão da inovação, em termos de geração de ideias, priorização de

projetos, implantação e gestão de projetos, que também influenciam a forma

pela qual a P&D da organização irá funcionar;

• Finalmente, os propósitos por trás do sistema de medição de desempenho para a

P&D e como este sistema de mensuração apoia a gestão da inovação da

empresa.

O projeto holístico foi a forma de projeto utilizado no âmbito desta pesquisa. A unidade

de análise considerada é, portanto, ela mesma o estudo de caso, não havendo

necessidade de se dividir essa unidade em subunidades de análise. Os conceitos

verificados na revisão bibliográfica apontam para uma tendência a ser adotada em

projeto de sistemas de medição de desempenho: a estrutura multidimensional da P&D e

da inovação e os fatores de contingência. Não há evidências empíricas de que essas duas

estruturas devam ser efetivamente consideradas em sistemas de medição de desempenho

– pela revisão realizada, elas se mostraram as mais completas e representam atualmente

o estado da arte, mas não estado da técnica ou da prática. Assim, optou-se por

considerar a unidade de análise o próprio sistema de medição de desempenho como um

todo, e não seus componentes – por exemplo, os elementos de alinhamento estratégico,

as diferenciações entre atividades de pesquisa e de desenvolvimento, tal como

identificado nos princípios de construção no capítulo 5.

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Em relação aos procedimentos de coleta e análise, foram conduzidas entrevistas

semiestruturadas, de forma a possibilitar a condução das entrevistas orientada ao

assunto central, sem tirar a liberdade do entrevistado em discutir algum assunto

relacionado ao tema central que ele julgue importante. As questões podem não seguir

exatamente a ordem prevista originalmente e poderão, inclusivamente, ser colocadas

questões que não se encontram na lista original.

Um roteiro de questões a serem abordadas nas entrevistas foi elaborado, tendo como

base o quadro conceitual de Goffin e Mitchell (2005), considerando os objetivos da

pesquisa, as proposições centrais e a unidade a ser analisada, sendo possível a coleta das

informações de maneira mais homogênea possível, de forma a não haver disparidades

na análise dos casos, proporcionando a comparação fidedigna dos elementos

identificados nos casos. Este roteiro encontra-se no Anexo 3 deste documento.

As entrevistas ocorreram entre os meses de outubro e dezembro de 2009, e as revisões e

validações de algumas informações foram feitas entre os meses de novembro de 2009 e

janeiro de 2010. Um total de 18 entrevistas foram elaboradas. A Tabela 25 ilustra as

entrevistas elaboradas em cada empresa.

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Tabela 25: Lista de Entrevistas Realizadas nas Empresas

Empresas # Áreas Visitadas/ Entrevistadas Data das Visitas

Revisões do Material Coletado

Ouro Fino

1 Diretoria PD&I 20/10/2009

Entre nove dez/ 2009

2 Diretoria de PD&I/Departamento Técnico de Registro 20/10/2009 e22/10/2009

3 Diretoria de PD&I/Departamento de PD&I 22/10/2009

4 Diretoria de PD&I/Departamento de PD&I/ Tecnologia Farmacêutica 21/10/2009

5 Diretoria Industrial 23/10/2009

6 Diretoria Comercial 20/10/2009

7 Diretoria Administrativa/ Departamento de RH 21/10/2009

8 Diretoria Financeiro/ Departamento de Controladoria 23/10/2009

Instituto Bio-Manguinhos

9 Diretoria 14/10/2009

Entre dez/ 2009 e jan/ 2010

10 Vice-Diretoria de Gestão e Mercado/ Departamento de Relações com o Mercado 27/10/2009

11 Gerência de Projetos 28/10/2009

12 Assessoria de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia 28/10/2009

13 Vice-Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico 6/11/2009

14 Assessoria de Planejamento e Organização 6/11/2009

15 Vice-Diretoria de Gestão e Mercado/ Departamento de Administração 7/12/2009

CENPES

16 Gerência de Estratégia Tecnológica 21/12/2009

Entre jan e fev/2010

17 Gerência de Estratégia Tecnológica/ Estratégia Tecnológica 28/12/2009

18 Gerência de Estratégia Tecnológica/ Organização, Desempenho e Gestão 11/01/2010 e13/10/2010

Uma média de duas horas foi consumida para a condução de cada entrevista. Evitou-se

agendar mais de uma entrevista por dia, de forma que as informações pudessem ser

processadas imediatamente após o término da entrevista. Entretanto, em alguns casos,

isso não foi possível já que a empresa estava distante do Rio de Janeiro (caso da Ouro

Fino) e por problemas de agenda dos entrevistados.

Estima-se que, para cada uma hora de entrevista, foram gastas mais três horas para

compilação, organização e revisão das informações levantadas, o que levou a um total

estimado de aproximadamente 144 horas de trabalho com a elaboração dos estudos de

caso. Não foram computados aqui ajustes visando a adequação dos capítulos dos casos

ao restante do documento da tese, tampouco o trânsito físico entre os locais das

instalações das empresas.

Num estudo de caso, o investigador não é um observador passivo. Ele pode assumir

vários papéis e até mesmo participar dos eventos sendo estudados. Isto possibilita a

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oportunidade única de perceber a realidade do ponto de vista de “alguém de dentro” da

organização. Várias fontes de evidências - além das entrevistas conduzidas, as

observações diretas, documentos e reuniões também foram utilizadas de forma a

permitir convergência das informações sendo levantadas.

Finalmente, em relação à análise de dados, as informações coletadas nas entrevistas

serão apresentadas de forma a, primeiramente, tornar explícita as informações gerais das

empresas, a tornar explícito as características de inovação, e evidenciar a estrutura base

do sistema de medição de desempenho utilizado para gestão da P&D, bem como o

conjunto de indicadores de desempenho que fazem parte deste sistema.

6.4. Escolha das Empresas que Fizeram Parte dos Estudos de

Caso

Em relação à escolha das empresas que fariam parte dos estudos de caso, algumas

considerações devem ser feitas. As empresas a serem estudas originalmente na tese

seriam a Ouro Fino, empresa que atua no setor de produtos veterinários (embora

atualmente venha diversificando seus negócios em diferentes segmentos associados ao

Agronegócio) e o Instituto Bio-Manguinhos, unidade técnico-científica da Fundação

Oswaldo Cruz (Fiocruz) que produz e desenvolve imunobiológicos para atender às

demandas da saúde pública brasileira. Outras empresas, entretanto, deveriam também

fazer parte da pesquisa, tendo em vista a busca por replicações teóricas e literais sobre a

aplicabilidade dos princípios de construção em casos práticos. Sob este aspecto, alguns

critérios nortearam a escolha dos estudos no âmbito desta tese.

Primeiramente foram selecionadas as duas organizações recomendadas por professores

que integram a rede de Universidades que fazem parte do programa intitulado “Gestão

de Operações em Organizações Inovadoras”24, por serem organizações inovadoras e

ambas possuírem bons sistemas de medição de desempenho para P&D.

24 Trata-se de um projeto financiado pela CAPES no âmbito do Programa de Apoio ao Ensino e à

Pesquisa Científica e Tecnológica em Engenharias. O objetivo do projeto é estabelecer e consolidar uma

rede de Programas de Pós-Graduação cujos membros desenvolvem historicamente pesquisas e projetos

nas áreas da gestão de operações e da gestão da inovação, de tal forma que os trabalhos em curso e os

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A Ouro Fino foi indicada por professores do Instituto Nacional da Propriedade

Industrial (INPI) por possuir um dos melhores conjuntos de indicadores de desempenho

para P&D no nível nacional, e o Instituto Bio-Manguinhos foi indicado por professores

da UFRJ por possuir uma razoável estrutura de P&D e, por ser uma instituição pública,

serviria de contraponto ao caso de uma empresa privada. Outras empresas foram

indicadas para fazer parte da pesquisa, todas elas a partir de históricas relações com

professores que fazem parte do MGOOI.

Todas as tentativas e opções consideradas referem-se, pois, a adoção do critério de

máximas variações, onde importantes elementos poderiam ser avaliados, padrões de

comportamento identificados, e desvios identificados e justificados, segundo

classificação proposta por Patton (2002).

Além do critério de máximas variações, foi também adotado o critério de conveniência

para escolha de casos, contrariando as recomendações de Patton (2002), que sugere a

adoção do critério de conveniência como última opção. Entretanto, seria pouco provável

que empresas fora deste universo, com pouca história de vínculos estabelecidos com

Universidades e, em particular, com professores que fazem parte do MGOOI, se

disponibilizassem a discutir aspectos particulares da sua gestão. Por essa razão, o

critério de conveniência foi o primeiro a ser considerado para escolha das empresas que

fariam parte dos estudos de caso.

Juntamente com o critério de tamanho de amostra proposto por Eisenhardt (1989), o

critério de máximas variações por si só seria suficiente para trazer robustez às

avaliações em direção à tentativa de replicações literais e teóricas. Entretanto, este

critério não foi possível de ser aplicado na prática. A Random e Brasken se recusaram

em abrir informações sobre seus sistemas de medição de desempenho e de sua estrutura

resultados a serem gerados possam ser coordenados e difundidas entre estes, com o sentido de

desenvolver e, posteriormente, divulgar um corpo de conhecimento centrado não na questão de “porque

inovar”, mas sim na de “como inovar”. Trata-se, portanto, de um projeto para o desenvolvimento de um

“Modelo de Gestão de Operações em Organizações Inovadoras”, onde o objeto é a forma pela qual uma

organização deve ser gerida, de forma que a geração de inovações esteja incorporada às suas práticas

cotidianas, em termos de produtos como de processos e soluções de gestão. A rede envolve tanto

Programas de Pós-Graduação consagrados, como os da Coppe/UFRJ, da Poli/USP, da UFPE, da

UNISINOS, e do INPI.

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de P&D. A ArteCola também foi considerada como opção, mas verificou-se que essa

empresa, embora com P&D estruturado, não adotava indicadores de desempenho para

sua gestão.

Restaram apenas duas empresas que poderiam fazer parte desta amostragem à luz deste

critério – a Ouro Fino e o Instituto Bio-Manguinhos. Ambas as empresas atuam em

mercados completamente diferentes e isso traz implicações importantes para a P&D

dessas empresas e, por conseguinte, para o seu sistema de medição de desempenho.

Um terceiro critério de escolha dos casos foi adotado. Na verdade não se trata de um

critério, mas uma condição de contorno da pesquisa. Trata-se do critério baseado na

homogeneidade da amostra, conforme classificação proposta por Patton (2002). Tal

homogeneidade pode ser observada nos setores da economia que essas empresas fazem

parte – embora não exatamente iguais, os setores de medicina veterinária e farmacêutico

possui semelhanças, principalmente no que tange aos processos de negócio. Essa

homogeneidade permite uma comparação entre ambos os projetos de sistemas de

medição de desempenho para avaliar P&D e reduz variações não importantes para

apoiar a condução dos estudos.

Um problema presente na condução dos dois estudos de caso levou a adoção de um

quarto critério de amostragem para os estudos de caso. O nível de maturidade ainda

inicial da implantação de sistemas de medição de desempenho de um dos casos – da

Ouro Fino, não permitiu que uma avaliação da adoção dos indicadores de desempenho

fosse efetivamente feita, o que exigiu a incorporação de um terceiro estudo de caso – o

CENPES, escolhido de forma a representar um caso considerado o mais completo e

com mais chances de explicar os princípios de construção adotados em sistemas de

medição de desempenho para P&D, assim como de fato o fez. Dentro da classificação

de Patton (2002), o CENPES poderia seguir o critério baseado na amostragem

emergente, pelas razões aqui descritas e, principalmente, o critério baseado na

confirmação, que busca o aprofundamento de algumas questões não explicadas a partir

da amostragem inicial.

Conforme pode-se observar, nenhum critério de amostragem poderia ser adotado de

forma isolada e independente. O critério baseado na conveniência, embora limitador de

um universo maior de empresas, precisou ser considerado logo de imediato de forma a

viabilizar a pesquisa, mas outros critérios precisavam ser adotados, de forma a não

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tornar a amostra demasiadamente aleatória e parcial. Novamente, por questões fora do

controle do pesquisador, o universo da pesquisa, pensado originalmente para buscar as

replicações literais e teóricas não pôde ser levado adiante, o que exigiu a adoção do

terceiro critério, o da homogeneidade. Este por sua vez se mostrou insuficiente, quando

os estudos de caso foram realizados, tendo em vista a imaturidade do sistema de

medição de desempenho da Ouro Fino e, consequentemente, a indisponibilidade de

evidência que pudessem explicar a adequação dos quadros conceituais nas empresas

inovadoras. Neste sentido, o CENPES foi utilizado como caso confirmatório, ou seja, os

elementos que não puderam ser observados a partir da comparação entre Ouro Fino e

Bio-Manguinhos, puderam ser verificados no CENPES.

Tendo visto a síntese do quadro conceitual e a identificação dos princípios de

construção e o protocolo que foi utilizado para a condução dos estudos de caso, bem

como o critério que levou a escolha das empresas, os próximos capítulo trazem a

descrição e análise dos três casos: Ouro Fino, Instituto Bio-Manguinhos e CENPES.

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7. Estudo de Caso da Ouro Fino O presente capítulo trata dos aspectos mais importantes relacionados à P&D praticada

na Ouro Fino, especialmente, as questões afetas aos indicadores de desempenho

utilizados na função P&D.

Na primeira seção são apresentados aspectos gerais da organização e do setor em que

atua. Em seguida são apresentadas a estrutura organizacional da Ouro Fino e as

atribuições de cada Diretoria. Em seguida é apresentada a estrutura de inovação da Ouro

Fino, segundo a lógica contida no framework de Goffin e Mitchell (2005). Finalmente, a

última seção apresenta o sistema de medição de desempenho utilizado na Ouro Fino.

7.1. Dados Gerais da Organização e do Setor em que Atua

A Ouro Fino é uma empresa que vem atuando historicamente no setor de produtos

veterinários e que vem diversificando seus negócios em diferentes segmentos

associados ao Agronegócio. Atualmente, o Grupo Ouro Fino Agronegócio25 possui

Unidades de Negócio que atuam em diferentes setores:

• Saúde Animal – produzindo medicamentos e vacinas para animais de grande

porte (bovinos, equinos, ovinos e caprinos), de produção (aves e suínos) e

pequeno porte, ou seja, animais domésticos ou de compania (linha pet para cães

e gatos);

• Agrosciences – produzindo e beneficiando sementes de pastagem;

• Genética - melhoramento genético de bovinos de elite;

• Domissanitários – produtos para controle de pragas domésticas (ratos, formigas,

baratas);

25 No restante do documento, o Grupo Ouro Fino Agronegócios será mencionado simplesmente

como Ouro Fino. Caso haja referência explícita para uma ou outra de suas Unidades de Negócio, o nome

da Unidade de Negócio será citado.

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• Química – produzindo defensivos agrícolas para controle de pragas em

cultivares (esta unidade está em fase de construção civil e seus produtos estão

em fase de registro).

A Ouro Fino possui 800 funcionários, onde aproximadamente 200 funcionários são da

força de vendas terceirizada que atuam em contato direto com o campo e um portfólio

de aproximadamente 180 produtos26. A estreita relação da Área Comercial e o P&D foi

projetada para agilizar o desenvolvimento de novos produtos e melhoria dos produtos

existentes, onde cerca de 5% do seu faturamento é destinado aos projetos do P&D.

O setor veterinário comporta algumas grandes empresas multinacionais como Bayer,

Pfizer, Fort Dodge, Elanco (divisão de saúde animal da Eli Lilly), Merial, Intervet

(recém-adquirida pela Schering-Plough) e Schering-Plough e grandes empresas

nacionais como Ouro Fino, Vallée e Biovet. A Ouro Fino ocupa, atualmente, a 7ª

colocação no setor veterinário, setor que cresce a uma taxa média de 11% ao ano27. São

mais de 12.000 clientes, entre os quais, algumas grandes empresas como Sadia,

Perdigão, Seara e Itambé. Esta ampla carteira de clientes da Ouro Fino garante a não

dependência de apenas um produto ou mercado – o maior cliente responde apenas por

1,5% do faturamento.

A forte concorrência existente neste setor, o poder de barganha dos grandes clientes e o

movimento de fusões e aquisições levaram a Ouro Fino a definir uma estratégia de

crescimento e diversificação, principalmente no final dos anos de 1990. A indústria de

agronegócios possui estreita relação com o setor de produtos veterinários e vem sendo

vista como um importante vetor de crescimento para empresas28. Com a diversificação

em outros segmentos de mercado associados ao Agronegócio, a Ouro Fino vem

crescendo a uma taxa média de 25% ao ano em termos de faturamento nos últimos

cinco anos – em 2008 faturou R$ 206 milhões. Nestes novos mercados, a participação

26 Este número cresce se são consideradas pequenas variações, como produtos com diferentes

apresentações.

27 http://www.fundace.org.br/leite/arquivos/tomografia/insumos_agropecuarios.pdf

28 O Setor Agronegócio responde por quase 40% do PIB Brasileiro (IPEADATA, 2003)

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da Ouro Fino também vem crescendo significativamente, ameaçando a posição das

grandes empresas, em especial, no mercado de saúde animal.

Há barreiras críticas de entrada de novas empresas concorrentes no mercado de produtos

veterinários. Primeiramente, a questão da marca é muito importante, não só para

medicina veterinária, mas para maior parte dos produtos do Agronegócio. Além da

qualidade percebida pelo cliente, há a questão das exigências impostas pelo órgão

regulador, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, o que exige

uma estrutura relativamente complexa de registro e também de pesquisa e

desenvolvimento para aquisição e manutenção das licenças de produtos. O

relacionamento com Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) privados e

governamentais também representam um importante diferencial do Grupo Ouro Fino

frente a seus concorrentes. Existem também aspectos importantes a serem considerados,

no que tange a área comercial, logística e de produção, pois trata-se de um mercado que

“exige” prontidão imediata dos produtos, já que a ausência de determinados

medicamentos pode ser críticas para os produtores atuantes no Agronegócio.

As atividades de inovação da Ouro Fino foram fundamentais para possibilitar a entrada

da organização em diferentes mercados. Portanto, uma das características mais nítidas

observadas no processo de inovação da Ouro Fino é a forte orientação pelo mercado.

Conforme coletado em uma das entrevistas: “mercados negligenciados ou pouco

explorados pelas empresas multinacionais de grande porte são excelentes oportunidades

para empresas como a Ouro Fino. Por outro lado, esses espaços precisam ser ocupados

com velocidade, pois empresas concorrentes e do mesmo porte da Ouro Fino podem

conquistá-lo mais rapidamente”.

O modelo de negócio que sustentou este crescimento foi centrado em três pilares:

1) Estreito relacionamento comercial com os clientes (explicado mesmo pela

experiência pregressa dos sócios fundadores), permitindo assim melhor

segmentação do mercado e melhor percepção das necessidades individuais de

cada segmento;

2) Estrutura do P&D interno, responsável por pesquisar e desenvolver novos

produtos e tecnologias, além de adquirir e consolidar capacitações necessárias

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para desenvolvimento e melhorias contínuas dos produtos das Unidades

existentes;

3) Estrutura do P&D Externo, consolidado a partir de parcerias com Universidades

e ICTs, das quais alguns novos insumos ou processos são pesquisados e/ou

desenvolvidos em conjunto, de forma a se obter melhor avaliação da viabilidade

técnica do projeto, proporcionando agilidade e diversificação nas diferentes

Unidades de Negócio.

O Anexo 4 traz uma descrição cronológica das iniciativas que explicam a origem da

estratégia de crescimento e diversificação da Ouro Fino.

Este modelo viabilizou a entrada da Ouro Fino em outros segmentos de mercados

diferentes da medicina veterinária e permitiu a condução de projetos em diferentes

frentes de negócio. Caso os projetos fossem bem sucedidos, uma nova Unidade de

Negócio era aberta para atender diferentes mercado. Atualmente, a Unidade de

Biológicos busca o registro para comercialização de vacina contra Febre Aftosa – um

produto com grande potencial de alavancagem financeira e mercadológica para a Ouro

Fino – estima-se que 20% do faturamento do grupo venha deste produto.

A área de P&D da Ouro Fino atualmente conta com 25 pesquisadores para atender as

necessidades de pesquisa e desenvolvimento, fundamentalmente, da sua unidade

principal, a de Saúde Animal. Necessidades advindas de outras Unidades são passadas

para esses pesquisadores. Entretanto, algumas dessas Unidades (como a Ouro Fino

Química) vêm estruturando a sua P&D própria. Na nova Unidade construída em

Uberaba, dez pesquisadores estão sendo contratados para fazerem parte da equipe de

P&D desta Unidade.

A Ouro Fino concilia duas vertentes de Pesquisa e Desenvolvimento. A primeira

baseada em atividade intramural, principalmente para inovações incrementais

relacionadas a melhorias e adequações de produtos existentes no mercado, que exige a

organização de uma equipe técnica altamente capacitada – cerca de 70 projetos estão

atualmente em andamento no seu P&D e cerca de 20% desses projetos referem-se ao

desenvolvimento de novas moléculas, visando novos produtos. A segunda se baseia nas

relações com diferentes centros de pesquisa públicos e privados, principalmente para as

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Unidades de Negócio Saúde Animal, Biológicos e Agrícola. Há atualmente cerca de 50

projetos de parcerias com ICTs. O processo de transferência de tecnologia desses

centros de pesquisa para a Ouro Fino traz agilidade no processo de desenvolvimento e

produção, diminuindo o ciclo de inovações nestes mercados.

7.2. Atribuições das Principais Diretorias da Ouro Fino

A Ouro Fino nasceu com um modelo de negócio baseado na forte relação entre área

Comercial e P&D, o que possibilitou a expansão em diferentes Unidades de Negócio.

A sua estrutura consiste em uma Presidência e Vice-Presidência, ocupadas pelos sócios

fundadores e quinze Diretorias, a saber:

• Diretorias Comerciais (Diretoria Grandes Animais – que atende bovinos, ovinos

e caprinos/território dividido em 2 diretores, Bovinos Contas Ouro, Aves e

Suínos, Equinos, e Pet);

• Diretoria de Marketing;

• Diretoria Técnica;

• Diretoria de Supply Chain;

• Diretoria de Biológicos;

• Diretoria de Comércio Exterior;

• Diretoria Industrial;

• Diretoria de PD&I;

• Diretoria Financeira;

• Diretoria Administrativa.

O organograma da Ouro Fino pode ser visualizado a seguir, onde o papel das Diretorias

serão descritas na sequência.

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Presidência Vice-Presidência

Diretoria de Bovinos Norte

Diretoria de Bovinos Sul

Diretoria de Animais Pet

Diretoria de Equinos

Diretoria de Bovinos Contas Ouro

Diretoria de Aves e Suínos

Diretoria Técnica

Diretoria Industrial Diretoria de PD&I Diretoria Administrativa

Diretoria de Marketing

Diretoria de SupplyChain

Diretoria de Biológicos

Diretoria de Comércio Exterior

Diretoria de Financeira

Diretorias Comerciais Diretorias Específicas das Unidades de Negócio

Biológicos e Animal Health

Diretorias de Apoio

Figura 42: Organograma da Ouro Fino

Fonte: o autor

• As Diretorias Comerciais são recortadas nos seguintes segmentos:

o Por produto alvo: Bovinos (de corte e de leite, ovinos e caprinos), Pet,

Aves e Suínos, e Equinos;

o Por tamanho de mercado: Diretoria de Contas Ouro, responsável pela

comercialização de vários produtos voltados para os grandes

agropecuaristas;

Este recorte que combina tamanho do mercado, linha de produtos e região permite

que a força de vendas esteja bastante próxima ao segmento consumidor específico,

agilizando a percepção das necessidades específicas e potencializando o sucesso na

oferta de novos produtos;

• A Diretoria Industrial é constituída pelos Departamentos de Produção Industrial,

Controle de Qualidade, Garantia da Qualidade e Terceirização. O Departamento

de Produção Industrial é responsável pela produção em escala da linha de

produtos, além do suporte ao planejamento e execução da produção piloto. O

Departamento de Controle da Qualidade é responsável pela avaliação da

qualidade dos insumos e dos produtos intermediários e finais gerados na linha de

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produção, nas etapas de produção em escala e de produção piloto. O

Departamento da Garantia da Qualidade é responsável pela adequação dos

procedimentos de trabalho às normas regulamentadoras como BPL (Boas

Práticas de Laboratório) ou GMP (Good Manufacturing Practices). O

Departamento de Terceirização é responsável pelo planejamento, execução e

controle da produção contratada por empresas. A linha de produção é pouco

automatizada, tendo em vista a necessidade de produção de uma grande

variedade de produtos para os diversos segmentos de mercado. O controle da

linha de produção, por outro lado, é bastante automatizado, já que alguns

produtos exigem um ambiente limpo e controlado no ambiente de produção, de

forma que não haja contaminação;

• A Diretoria de PD&I comporta os Departamentos de Pesquisa, Desenvolvimento

e Inovação, o Departamento Técnico de Registro e o Departamento de Estudos

Clínicos. O Departamento de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação tem como

atribuição central desenvolver novas formulações de medicamentos para

animais, executar melhoria contínua em produtos e processos, e buscar

inovações tecnológicas para desenvolver produtos com diferencial competitivo e

alto valor agregado através do Laboratório de Tecnologia Farmacêutica,

Laboratório de Desenvolvimento Analítico e do Laboratório de Biotecnologia.

Além disso, o departamento ainda apoia o processo de fabricação dos lotes

piloto exigida por regulamentação e ainda é responsável pela transferência de

tecnologia quando há desenvolvimento de novo produto em parceria, fazendo a

interface com os centros de pesquisa ou com empresas. O Departamento Técnico

de Registro é responsável pelas atividades regulatórias junto ao MAPA e outros

órgãos regulatórios (Ex.: ANVISA, para os produtos da linha de domissanitários

e, futuramente, para a FDA e EUDRA29, quando produtos forem exportados

para EUA e Europa, respectivamente). Além disso, o departamento também tem

29 O FDA (Food and Drug Administration) é o órgão governamental dos Estados Unidos da

América que faz o controle dos alimentos (tanto humano como animal), suplementos alimentares,

medicamentos (humano e animal), cosméticos, equipamentos médicos, materiais biológicos e produtos

derivados do sangue humano. A agência equivalente ao FDA nos países da comunidade europeia é o

EUDRA (European Union Drug Regulatory Authorities)

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como atribuição as atividades relacionadas à Propriedade Intelectual (pesquisa

de patente sobre tecnologias a serem desenvolvidas, busca de patentes e marcas,

bem como depósitos para proteção de tecnologias desenvolvidas internamente).

O Departamento de Estudos Clínicos é responsável por conduzir os testes pré-

clínicos e clínicos na espécie alvo, geralmente feito em parceria com as

Universidades;

• A Diretoria Técnica é responsável pelos processos que acontecem após a

aprovação do registro do produto junto aos órgãos reguladores (em especial ao

MAPA), acompanhando eventos de lançamento do produto e acompanhamento

técnico e comercial que ocorre após o lançamento oficial do produto. Há um

técnico dedicado para cada Diretoria Comercial, auxiliando na confecção de

material para divulgação, palestras, treinamento da equipe de vendas, entre

outras atividades;

• A Diretoria de Supply Chain é responsável pela estrutura dos processos

logísticos das Unidades de Negócio da Ouro Fino, além de executar e coordenar

os processos de compras nacionais e internacionais;

• A Diretoria de Biológicos é responsável pelo desenvolvimento e produção de

vacinas, sendo uma Diretoria específica da Unidade de Biológicos;

• A Diretoria de Marketing é responsável por coordenar o lançamento e as

campanhas de venda dos produtos produzidos pela Ouro Fino nos diversos

segmentos de mercado, apoiando a Diretoria Técnica e Diretorias Comerciais,

respectivamente;

• A Diretoria de Comércio Exterior é responsável por coordenar as estratégias de

registro, apoio técnico e vendas de produtos em outros países;

• Finalmente, a Diretoria Administrativa e a Diretoria Financeira possuem

departamentos como RH, TI, Manutenção e Obras, Controladoria, Jurídico,

Fiscal, que apoiam as demais diretorias e possuem responsabilidades sobre os

processos de apoio da empresa.

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Há diferentes recortes organizacionais presentes na estrutura da Ouro Fino (por

segmento de mercado, por região, por função, etc.). Entende-se que as Diretorias

Comerciais são as diretorias que demandam a maior parte dos “serviços” ofertados pelas

demais Diretorias da Ouro Fino30, por exemplo, serviços relacionados à pesquisa

(Diretoria de PD&I), de campanha de vendas (Diretoria de Marketing), de produção de

produtos para comercialização (Diretoria Industrial) e de distribuição de produtos

(Diretoria de Supply Chain), além dos serviços de apoio (Diretoria Administrativa e

Diretoria Financeira).

Outras Diretorias também demandam serviços uma das outras, segundo uma lógica de

organização de processos de negócio. Esta lógica de prestação de serviços entre

Diretorias não foi mapeada no âmbito desta pesquisa, pois o que interessa é como se dá

a relação da Diretoria de PD&I com as outras Diretorias e Gerências e sua participação

no processo de inovação da Ouro Fino.

Na seção seguinte, não só a relação entre a Diretoria de PD&I, mas também todas as

características de inovação da Ouro Fino serão descritas a partir do quadro conceitual

baseado em Goffin e Mitchell (2005).

7.3. A Estrutura de Inovação da Ouro Fino

Nesta seção serão descritos os aspectos definidores da estratégia de inovação da Ouro

Fino e como estes aspectos norteiam os elementos contidos no framework de Goffin e

Mitchell (2005): Geração de Ideias, Priorização e Seleção de Ideias, Implementação e

Estrutura de Inovação.

7.3.1. Estratégia de Inovação

Conforme descrito nas seções anteriores, é notório o foco comercial do negócio da Ouro

Fino, e isso explica a estrutura montada para atender este foco, em termos da

30 Serviços aqui entendidos não como ofertados para o cliente final, mas como oferta de uma área

da empresa para outra. Por exemplo, o RH presta serviços para todas as Diretorias da Ouro Fino

oferecendo serviços como capacitação de pessoas, ambientação, funções de departamento de pessoal, etc.

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importância do papel das Diretorias Comerciais para a inovação da Ouro Fino. As

definições de missão, visão e posicionamento da Tabela 1 explicam fielmente a

orientação mercadológica dada ao P&D da Ouro Fino:

Tabela 26: Declaração de Visão, Missão e Posicionamento da Ouro Fino

Visão Ser a mais completa empresa brasileira de insumos para o agronegócio,

contribuindo para a qualidade de vida da humanidade.

Missão Descobrir continuamente na fonte e através da inovação, e oferecer ao

mercado as melhores soluções em qualidade e valor.

Posicionamento Ser a marca preferida na mente dos clientes finais, dos profissionais e da

rede de distribuição, baseados na confiança e relacionamento.

Trata-se, pois, de uma estrutura de inovação puxada pelo mercado - seria uma estrutura

de P&D de segunda geração. Essa característica explica várias questões percebidas na

Ouro Fino, em termos de sua estratégia tecnológica.

Em relação ao padrão de inovação realizado pela Ouro Fino, cerca de 80% dos projetos

existentes hoje são orientados para melhoria de produtos existentes, onde tais melhorias

foram percepções extraídas pela força de vendas do mercado. São, basicamente,

melhorias de formulação de produto ou melhorias na apresentação de embalagens.

Diante deste padrão de inovação, as iniciativas estratégicas são, na sua maioria,

orientadas para o curto/médio prazo, que visam atender as expectativas atuais do seu

mercado. Neste sentido, toda a estrutura de processos de inovação foi definida com este

propósito: com as Diretorias Comerciais projetadas e segmentadas de forma a atender as

necessidades do mercado, a P&D estruturada de forma a viabilizar tecnicamente

produtos novos e melhoria dos existentes, e uma Diretoria Técnica para servir de

interface entre as Diretorias de PD&I e Comerciais.

Embora haja estratégias mercadológicas muito bem definidas, não foi observada na

Ouro Fino a mesma preocupação em se definir estratégias tecnológicas, que orientem,

por exemplo, o desenvolvimento de plataformas tecnológicas que servirão de base para

o desenvolvimento de futuros novos produtos. Há, na Ouro Fino, uma definição tácita

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sobre tendências mercadológicas/regulatórias, que norteiam o desenvolvimento

tecnológico. As principais tendências mencionadas pelos entrevistados referem-se à:

• Controle de resíduos – questão central envolvida na Unidade de Negócio

Agrícola e de Saúde Animal por questão regulatória. Os resíduos de

produtos/medicamentos nas culturas que servirão de alimento humano, bem

como nos produtos gerados pelo animal (carne, ovos, leite), são estreitamente

controlados e acompanhados pelas agências reguladoras;

• Vacinas – forte movimento de entrada neste mercado considerado promissor, a

partir de parcerias e prospecção tecnológica junto a empresas fabricantes de

vacinas. Tendência: trabalhar com prevenção e não com tratamento. Vantagem:

vacinas não geram resíduos;

• Estrutura para atender “com folga” a regulamentação, de forma a não prejudicar

o andamento do pedido de registro;

• Reprodução assistida – também um mercado considerado promissor. O controle

reprodutivo no rebanho impacta em eficiência econômica (por ex., mais bezerros

nascidos por ano) e em eficiência sanitária (melhor controle de doenças e

rebanho mais saudável);

• Linhas de pesquisa em assuntos considerados “chave” para prazos mais longos:

Biotecnologia e Nanotecnologia.

Esses elementos de estratégia orientada para inovação puxada pelo mercado trazem

implicações para a estrutura de inovação da Ouro Fino. Em termos de processo de

geração e proteção de novas ideias, as parcerias para desenvolvimento tecnológico e a

proteção industrial são importantes para o sucesso comercial dos produtos.

Outra implicação importante refere-se à questão de priorização de projetos (que será

explicado com mais detalhes na seção seguinte): em fase de expansão de novos

negócios, selecionar e priorizar projetos são questões secundárias às demais iniciativas

em curso, embora isso venha trazendo problemas na gestão dos projetos, já que,

conforme destacado por alguns entrevistados, é bastante difícil “matar” um projeto,

mesmo que este tenha se mostrado pouco atraente para a empresa.

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Outra evidência observada foi a busca por agilidade no desenvolvimento de ativos

físicos e intangíveis - novas oportunidades que se mostram promissoras são rapidamente

transferidas internamente para a P&D e, se necessário, novas instalações e aquisições

são realizadas, o que explica a velocidade da Ouro Fino na abertura de Novas Unidades

de Negócios e explica a importância dos financiamentos adquiridos nesta expansão.

7.3.2. Geração de Ideias

Embora a maior parte da demanda por desenvolvimento seja feita pelas Diretorias

Comerciais, algumas delas surgem também a partir do P&D da Ouro Fino, onde

pesquisadores são identificados e contratados a partir de trabalhos desenvolvidos e

publicados, ou por meio de encontros técnicos da área de pesquisa (seminários,

congressos, etc.). Boa parte dos contatos é realizada pelos próprios fornecedores de

matéria-prima e pelos representantes de ICTs, em especial Universidades, que procuram

a Ouro Fino em busca de desenvolvimento de parcerias.

Ideias geradas externamente carecem bastante da visão comercial de produto e mercado,

exigindo esforço das equipes comercial e técnica para formatação e adequação aos

interesses da Ouro Fino. Ou seja, em quaisquer formas de entrada de novas ideias, as

Diretorias Comerciais precisam ser contatadas e terão peso decisivo na transformação

da nova ideia em projeto.

Há hoje contratos de parceria com mais ou menos 10 Universidades nacionais (entre

elas, USP, UNESP, UNICAMP, UNB, UCB, UNAERP). As agências de inovação das

Universidades são fontes importantes envolvidas no processo de geração de ideias e

transferência de tecnologia da Ouro Fino, principalmente para produtos novos e não

conhecidos pelo P&D, típicos das novas Unidades de Negócio. Nestes casos, a parceria

com Universidades e ICTs é buscada de forma que o processo de pesquisa seja

conduzido de forma mais eficiente, já que a transferência de tecnologia se mostra

bastante relevante, principalmente, pela velocidade proporcionada ao desenvolvimento

e, consequentemente, ao custo do desenvolvimento.

Importante observar que algumas tecnologias são negociadas com outras empresas

privadas, já que este tipo de projeto possui mais facilidades de negociação, tendo em

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vista que as ICTs e Universidades ainda não estão bem ajustadas a este tipo de processo,

segundo relatado pelos entrevistados.

Entretanto, as parcerias visando a transferência de tecnologia só ocorrem na Ouro Fino

quando vislumbradas possibilidades futuras de domínio total (ou quase total) da

tecnologia na sua P&D, tendo em vista não só a questão do domínio tecnológico, mas

também as exigência regulatórias do MAPA31.

Uma das etapas mais críticas do processo de transferência de tecnologia, a negociação,

não se encontra formalizada atualmente. Isto quer dizer que não há, por exemplo,

políticas norteadoras a serem seguidas nas rodadas de negociação, ficando a cargo da

experiência do pesquisador da Ouro fino a definição do “tom” da negociação:

informações a serem ou não passadas e timming de suas discussões. Grande parte das

negociações ocorre com pesquisadores de Universidades, que também não possuem

políticas definidoras explícitas de transferência de tecnologia, o que torna esta questão

não muito crítica no processo de negociação.

A terceirização de serviços é feita com precaução para que não haja riscos inerentes a

transferências indevidas de conhecimento. Uma terceirização bastante comum existente

na Ouro Fino são os testes clínicos, como forma de manter a idoneidade dos resultados

dos testes e pela necessidade de estruturas físicas específicas (por exemplo, para

alocação de animais, equipamentos analíticos e pessoal com qualificação específica para

determinados testes). Uma restrição importante em relação à terceirização de serviços é

a etapa de testes piloto que deve ser feita necessariamente nas instalações onde serão

produzidas em escala, provando viabilidade técnica de produção para fins de registro no

MAPA.

A proteção industrial é uma questão fundamental para o modelo de negócio da Ouro

Fino, a partir da exclusividade legal no uso da fórmula do produto e/ou sua

apresentação. Maior parte da formulação base dos produtos veterinários ou não foram

patenteados ou as patentes já expiraram. O patenteamento hoje se dá muito mais na

31 Por exemplo, a tecnologia de implante hormonal para vacas foi adquirida de uma empresa no

Uruguai. Mesmo já estando completamente desenvolvida e disponível para comercialização, a etapa de

realização de testes piloto precisou ser conduzida na Ouro Fino de forma a cumprir os requisitos para

registro no MAPA.

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melhoria da formulação do produto, melhorando assim, por exemplo, eficácia da

medicação, forma de aplicação, efeitos colaterais nos animais, etc. Atualmente há cerca

de 20 pedidos de patentes em avaliação pelo INPI. No caso da mudança de

apresentação, há possibilidade de se proteger o design do frasco (desenvolvimento para

melhor utilização pelo aplicador do medicamento, garantia de não reutilização dos

frascos para outros propósitos, etc.) e a marca inserida na rotulagem do produto.

No mercado nacional, a patente protege os produtos da Ouro Fino contra imitação,

promovendo exclusividade de uso por até 20 anos. Não há, na maior parte dos casos,

interesse em licenciar produtos para outras empresas concorrentes, já que as margens de

lucro presentes no processo de produção e comercialização são maiores do que seria

com o licenciamento.

No mercado internacional, onde as incertezas relacionadas ao próprio mercado e a

logística de distribuição e vendas, o licenciamento de novas tecnologias geradoras de

produtos representa uma possibilidade, embora não muito praticada na Ouro Fino –

como a estratégia da empresa é a diversificação no mercado nacional, o licenciamento é

visto apenas como possibilidade real apenas para exploração de mercados

internacionais.

7.3.3. Seleção e Priorização

Após o levantamento de informações preliminares da nova oportunidade, a Diretoria de

PD&I realiza um estudo de viabilidade técnica, incluindo neste estudo questões

envolvidas na formulação do novo produto, questões relacionadas às demandas do

regulatório (exigências, por exemplo, que serão feitas pelo MAPA), e questões

relacionadas a patentes (se há alguma patente depositada sobre o produto a ser

desenvolvido, se necessário negociar licença de uso do produto, se a técnica a ser

desenvolvida é passível de ser patenteada pela Ouro Fino, etc.).

Neste momento ocorre o primeiro gate de decisão: se a oportunidade parecer

tecnologicamente viável, um termo de abertura de projeto é aberto, novas informações

são colocadas e reuniões são convocadas de acordo com a necessidade de investigação.

O gerente de PD&I convoca as pessoas para detalhar informações relacionadas a

aspectos técnicos, comerciais, industriais, regulatórios e patentários. Alguns processos

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podem ocorrer em paralelo - por exemplo, pode surgir a necessidade de se realizar

pesquisa de mercado enquanto o PD&I realiza alguns testes para verificar viabilidade

técnica.

Após o primeiro gate de decisão, a área de P&D cadastra os itens do produto no sistema

de gestão, definindo formulação e processo produtivo, criando método de controle de

qualidade e testando estabilidade.

Após esta fase, os testes pré-clínicos são conduzidos para verificar eficácia do produto e

reações adversas, ocorrendo logo em seguida o segundo gate de decisão. Os projetos

que passam pelo segundo gate de decisão seguem para as etapas preparatórias de

produção do lote piloto – determinação dos insumos, equipamentos de fabricação,

instrumentação para testes e métodos analíticos, caracterizando a implantação do

projeto.

Um dos entraves mais comuns que inviabiliza projetos é de natureza econômica – altos

custos de desenvolvimento, dependência de matéria-prima cara, processos produtivos

complexos, acesso a canais de distribuição, etc.

Outra questão que precisa ser considerada para avaliar viabilidade do projeto é a

complexidade dos estudos clínicos. Há cerca de quatro anos atrás, resultados de estudos

clínicos descritos na literatura especializada podiam ser utilizados para fins de registro,

sem a necessidade de nova realização dos estudos clínicos conduzidos pela própria

empresa, tal como ocorre atualmente.

Outra questão crítica é a existência de patente sobre determinada fórmula de

medicamento, onde os custos de licenciamento podem ser altos o suficiente para

inviabilizar o projeto.

Assim, como as reuniões para detalhamento de projetos, as reuniões de avaliação dos

projetos ocorrem sem periodicidade definida - é comum haver uma reunião semestral

para avaliar projetos, mas pode acontecer com periodicidade menor. De acordo com o

montante de investimento exigido pelo projeto, até a Presidência pode ser convocada

para decidir pelo seu prosseguimento.

No geral, políticas de decisão baseadas em gates não são seguidas. É comum ideias

seguirem direto para a presidência, antes da avaliação técnica e comercial. Os critérios

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de decisão ainda são muito movidos por afeição dos avaliadores e da Presidência, e não

há visão de carteira de projetos, que são sempre avaliados individualmente.

Não há identificação e medição, de fato, dos riscos envolvidos no projeto, o que

contribui para a probabilidade de se continuar projetos não viáveis comercialmente. A

decisão é baseada no feeling dos diretores e, por vezes, projetos demoram muito para

serem descontinuados. Com abertura de capital e da efetiva participação dos acionistas,

tendência é que haja mais formalização no processo decisório relacionado aos projetos -

a decisão final pela continuidade ou não dos projetos está centralizada na presidência.

Atualmente a Ouro Fino está organizando a criação de um comitê para avaliar e dar

estrutura aos projetos. Este comitê contará com representantes das principais diretorias

envolvidas no processo de avaliação de projetos, além de atores externos, de forma a

permitir uma avaliação racional.

7.3.4. Implementação de Novos Produtos/ Serviços

Concluída a produção do lote piloto, é elaborado um dossiê contendo informações da

marca comercial, resultados do estudo de estabilidade, método analítico para o controle

de qualidade, resultados dos estudos clínicos e o relatório técnico do produto.

A documentação é enviada para o MAPA que tem prazo de 180 dias para definir se

concede ou não a licença para comercialização do produto. Neste período, o MAPA

pode requerer esclarecimentos ou indeferir de vez o pedido. O Departamento de

Registro tem 45 dias para responder as exigências.

Uma vez aprovado o registro, o processo de preparação da produção é iniciado, com

elaboração da ordem de compra dos insumos, planejamento da produção e emissão de

ordens de produção. Concomitante a este processo, o número do registro é inserido nos

modelos de rotulagem e o Departamento de Registro os envia para aprovação do

MAPA.

O lançamento do produto é de responsabilidade das Diretorias Comerciais com o apoio

da Diretoria Técnica, além de verificar importações necessárias (se houver matéria

prima importada), e verificar junto à área comercial o planejamento da demanda do

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produto. Após o lançamento, as Diretorias Comercial e Industrial assumem o

planejamento da demanda e a produção dos produtos que atenderão ao mercado.

Todas as atividades são acompanhadas individualmente por projeto, onde um painel de

acompanhamento é utilizado para facilitar a leitura rápida por parte da Diretoria e do

Gerente de PD&I. Além do controle do andamento do projeto, este painel subsidia a

alocação e realocação das equipes de trabalho do P&D.

Atualmente, quem acompanha e tem a visão integrada dos projetos hoje é a Presidência

e as Diretorias Comerciais e PD&I, mas não utilizam critérios para balanceamento nem

parâmetros financeiros para avaliar a carteira de projetos. As informações atualizadas

sobre o andamento dos projetos é passada pelas Diretorias Comerciais e de PD&I.

Em relação ao acompanhamento dos gastos com P&D, existem dois modelos hoje

praticados na Ouro Fino, monitorados pela Controladoria. Quando se trata de projetos

financiados por órgãos externos (por ex.: FINEP), a Controladoria possui uma visão

mais individual do projeto, embora um projeto não seja considerado no sistema de

informação como um centro de custo. As despesas referentes aos projetos são lançadas

em rubricas específicas a cada centro de custo e, por relação entre centro de custo e

projeto, chega-se às despesas totais do projeto. Caso haja discrepâncias entre o previsto

e o realizado, as áreas envolvidas devem comunicar à Controladoria que, mensalmente,

elabora um relatório de controle para os órgãos financiadores.

O outro modelo trata dos projetos financiados internamente, com capital próprio: os

custos são diretamente lançados nos centros de custos e consolidados por Unidade de

Negócio, sem que haja um controle individual dos projetos.

Em ambos os casos, a Controladoria não participa de decisões sobre os projetos – sua

participação é muito mais ativa na etapa da aquisição dos recursos para financiamento

dos projetos e no controle dos resultados das Unidades de Negócio, vistos com base no

resultado da Diretoria Comercial de cada Unidade de Negócio.

7.3.5. Pessoas e Organização

A Diretoria de PD&I da Ouro Fino existe, oficialmente, desde 2007. Até então, o

desenvolvimento era feita na antiga Gerência de P&D, criada em 1997, que respondia

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ao Diretor Industrial e era responsável por trabalhos de pesquisa conduzidos

externamente, praticamente todos feitos na USP.

Esse modelo de P&D era adequado para um ambiente de desenvolvimento de produtos

mais simples e com regulamentação mais branda. Na medida em que novos produtos

ganharam complexidade tecnológica e a regulamentação passou a exigir procedimentos

mais rigorosos, tal estratégia de desenvolvimento de produtos precisou ser revista,

apontando em primeira instância para a necessidade de estruturação de uma área de

P&D interna à organização.

Além disso, uma estrutura que protegesse as informações e resultados da P&D

precisava também ser estruturada, já que a apropriação de conhecimentos e técnicas de

produção de produtos pelos concorrentes é bastante comum no setor de medicamentos

veterinários.

Neste contexto, foi criada a diretoria de PD&I na Ouro Fino para conduzir atividades de

pesquisa e desenvolvimento na linha de produtos de medicamentos veterinários, tratar

do processo de registro junto aos órgãos reguladores (para medicamentos veterinários,

junto ao MAPA), e fortalecer a proteção de segredos industriais existentes na

composição e na produção de medicamentos veterinários.

Um dos aspectos bastante nítidos na Ouro Fino é sua peculiaridade em relação ao

envolvimento dos funcionários com a empresa. A história empreendedora dos dois

sócios fundadores e o crescimento acelerado da empresa a partir de então, mediante

trabalho árduo e contínuo, são elementos que propulsionam o dia-dia de trabalho das

pessoas. É comum notar pessoas no ambiente de trabalho mesmo após o fim do

expediente – além de competência e perseverança, funcionários prezam pela

simplicidade, justamente os valores comumente explicitados pelos sócio-fundadores.

Por outro lado a estrutura organizacional montada explicita a centralização das decisões

nos sócios fundadores: abaixo deles, foi montada uma estrutura com 15 Diretorias, onde

seis delas são Comerciais. Cada uma das Diretorias Comerciais pertence a uma Unidade

de Negócio que “usam” os serviços das demais unidades organizacionais presentes em

outras Diretorias, entre elas, a de PD&I.

O esforço central da equipe de P&D, que atualmente conta com 25 pesquisadores, está

voltado para os medicamentos veterinários para animais de grande porte e pet (Unidades

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Saúde Animal e Bem-Estar Animal). O mesmo espaço físico é ainda dividido com 5

pesquisadores da Unidade de Negócio Agrícola - no entanto esta situação é provisória,

já que, com a construção da Unidade em Uberaba, esses pesquisadores serão alocados a

essas novas instalações. A Unidade de Biológicos conta com 10 pesquisadores

trabalhando na etapa de desenvolvimento de projetos - o desenvolvimento de vacina

contra febre aftosa é o carro chefe desses projetos. As Unidades de Genética Animal e

Agrosciences não contam com equipe de P&D específica. As necessidades são

atendidas através de P&D com parceiros (ICTs), com gestão direta da Gerente da Área

de PD&I.

A alocação de equipes de projetos depende da área de conhecimento das pessoas

envolvidas e das suas disponibilidades. Há pesquisadores superalocados, por vezes em

até cinco projetos. Segundo a classificação de Clark e Fujimoto (1991), as equipes que

trabalham no PD&I estão alocadas tanto na lógica dos “times peso-leve”, para projetos

mais relacionados à melhoria contínua de produtos, quanto na lógica de “times

autônomos”, quando se trata de projetos novos em potenciais novos negócios, onde

parte da equipe é deslocada para estes projetos sob pouca (ou nenhuma) interferência da

sua gerência funcional. Esta estrutura reflete exatamente os tipos de projetos executados

pela Ouro Fino: 80% dos projetos relacionados à melhoria contínua e 20% de projetos

mais radicais, com pouca relação com a expertise desenvolvida.

7.3.6. Síntese da Estrutura de Inovação da Ouro Fino

Seguindo o framework de Goffin e Mitchell (2005), a estrutura de inovação da Ouro

Fino pode ser resumida de acordo com a Figura 43:

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Seleção e Priorização de Projetos:- Ausência de formalização nos

processos de priorização de projetos- Critérios de decisão baseados no feeling da Diretoria e Presidência- Processo de seleção existe, mas

não apoiado por indicadores

Implementação de Novos Produtos e Serviços:

- Atores centrais: Diretoria Técnica e Departamento de Registros

- Acompanhamento de projetos feito pelo responsável pelo projeto, sem visão integrada de portfólio

- Gastos controlados pela Controladoria, mas não há decisões tomadas em cima de custos versus orçado

(exceto para projetos f inanciados por entidades externas)

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Pessoas e Organização- Forte liderança por parte dos sócio-fundadores, que influencia no estilo de trabalho

dos funcionários- Centralização das decisões nos sócio-fundadores

- Estrutura de P&D: misto de times “peso-leve” e times autônomos- Indicadores de desempenho: um orientado para avaliação do funcionários e outro

para gestão funcional

Estratégia de Inovação:- Inovação puxada pelo mercado

- Maior parte das inovações são incrementais - cerca de 80% dos projetos desenvolvidos para melhoria de produtos

- Expansão para outros negócios-Estratégias tecnológicas definidas por “tendências” tecnológicas e mercadológicas a serem seguidas

- Desenvolvimento pautado a partir da relação com ICTs + Desenvolvimento interno

Figura 43: Estrutura de Inovação da Ouro Fino, Segundo Quadro Conceitual de Goffin e Mitchell

(2005)

Conforme visto neste estudo de caso, pode-se perceber que a inovação na Ouro Fino é

determinada pela estrutura contida nas Diretorias Comercial e de PD&I, como vetor

fundamental para geração de ideias e pela estrutura do PD&I como vetor fundamental

de desenvolvimento e implantação de novos produtos. Neste contexto, a partir dos anos

2000, novas Unidades de Negócio foram nascendo dentro de uma lógica de segmentos

de mercado, apoiando assim a oferta de produtos nesses diferentes segmentos.

Outro vetor importante de inovação da empresa constitui no relacionamento presente

entre seus pesquisadores e os centros de pesquisa. O acompanhamento das linhas de

pesquisa permite ao pesquisador da Ouro Fino, em conjunto com a força de vendas,

definir qual a melhor estratégia de transferência de conhecimento e tecnologia a ser

adotada, de forma a viabilizar comercialmente um produto.

Finalmente, outro vetor importância de crescimento vem sendo sua capacidade de

obtenção de financiamento para elaboração de pesquisas e construção de novas

instalações, trazendo agilidade do grupo para a ocupação de novos mercados.

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Entretanto, a estrutura de inovação da Ouro Fino encontra-se hoje pouco formalizada,

com atribuições funcionais definidas, mas sem processos e ferramentas para gerir

inovação, já que a gestão da inovação é algo que se encontra em fase de

desenvolvimento. A decisão é fortemente centralizada nos sócio-fundadores, como pode

ser observada a partir da própria estrutura organizacional. São características muito

comuns em empresas empreendedoras, que estão adotando a inovação como fonte de

vantagem competitiva.

Como o crescimento das Unidades de Negócio e a venda de 20% da empresa para o

BNDESPar, a Ouro Fino vem buscando estruturas formais de gestão, de forma a lidar

com stakeholders envolvidos no processo, que não sejam apenas clientes/mercado. Sob

este aspecto, estão em desenvolvimento várias iniciativas de estruturação da função de

inovação na empresa, por exemplo, com a criação de uma área responsável pela gestão

da inovação, sob a Diretoria de PD&I; de um comitê avaliador de projetos, de forma

que a avaliação dos projetos seja feita com base em critérios técnicos; a estrutura de

uma visão de mais longo prazo para pesquisa e desenvolvimento, considerando a

necessidade de desenvolvimento de uma estrutura de prospecção tecnológica e

patentária, associadas a já existentes prospecções de mercado.

Dentro da PD&I, destaca-se o papel do Departamento de Registro como elemento

central de condução do processo de registro de produtos e questões relacionadas a

patentes que, conforme visto, é fundamental para a vantagem competitiva da Ouro Fino.

Curiosamente, não foi identificada uma área específica para negociação e elaboração de

contratos, ficando a cargo da Diretoria de PD&I (contratos mais relevantes em termos

financeiros e/ou alinhamento estratégico) e dos Departamentos de PD&I (contratos

menores, tipicamente de prestação de serviços) a atribuição de negociação dos contratos

de natureza tecnológica.

A seção seguinte busca apresentar a inserção do sistema de medição de desempenho da

função P&D da Ouro Fino na estrutura de gestão apresentada.

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7.4. Sistema de Medição de Desempenho da Ouro Fino

Em relação ao sistema de medição de desempenho da Ouro Fino, há dois sistemas em

funcionamento: o sistema de avaliação pessoal, visando remuneração variável, e o

sistema de medição gerencial.

O primeiro trata da avaliação dos funcionários feita de cima pra baixo (top-down), com

periodicidade semestral, a partir da aplicação de um questionário com perguntas

voltadas para a qualidade do trabalho e da relação pessoal do funcionário dentro da

empresa. O questionário é preenchido pelos superiores hierárquicos, que respondem às

questões referentes à avaliação dos seus subordinados e que tais respostas orientam o

cálculo de parcela variável do salário dos funcionários.

O segundo trata de um sistema de medição de desempenho gerencial em fase de

implantação, mas que vem surtindo efeito no acompanhamento do desempenho e no

comprometimento dos funcionários da Ouro Fino. Há duas classes de indicadores de

desempenho: indicadores gerais e indicadores setoriais. Os indicadores gerais consistem

de dois indicadores financeiros e um de mercado que determinam os resultados da

empresa, monitorando, portanto, a sua estratégia - basicamente, são os indicadores de

Faturamento, Lucratividade e Market Share (geral e por linha de produto).

Os indicadores setoriais são escolhidos por cada gerente de departamento e são

negociados com os diretores. Cada área escolhe dois ou três indicadores para sua

avaliação, mediante acordo com sua gerência. Cada gerência escolhe dois ou três

indicadores para sua avaliação, novamente, mediante acordo com sua diretoria. Esta,

por sua vez, consolida estes indicadores e também escolhe dois ou três para avaliação

por parte da Presidência.

Duas questões foram fundamentais para viabilidade do projeto de implantação deste

sistema de indicadores: comunicação, de forma a garantir alinhamento, e estímulo, com

a adoção da Participação nos Lucros e Resultados (PLR) de forma a recompensar o

alcance dos objetivos.

Esse sistema foi adotado com base no conceito de desdobramento estratégico adotado

no Balanced Scorecard, mas os gerentes da Ouro Fino optaram por não formalizar o

Balanced Scorecard como ferramenta de gestão, já que a cultura por avaliação por

indicadores de desempenho é muito nova na organização, não havendo, portanto,

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situação favorável a implantação desses conceitos. Os indicadores de alguns setores são

determinantes para o acompanhamento estratégico: por exemplo, os indicadores das

Diretorias Comerciais são fundamentais para entender os resultados financeiros da

empresa, juntamente com os indicadores da Diretoria Industrial e de PD&I. Os

indicadores de setores de apoio, contudo, também são monitorados: por exemplo, o

prazo de fechamento contábil é controlado e está sob responsabilidade da Controladoria.

Decisões são tomadas no nível tático e operacional nestas reuniões.

Esses indicadores de desempenho são apresentados mensalmente em reuniões, onde são

avaliados os resultados, suas causas e consequências. Diante desta avaliação, são

traçados planos de ação para ajustar algum indicador fora da meta estabelecida.

Ainda não há uma avaliação sobre os impactos do sistema medição de desempenho na

Ouro Fino, já que este procedimento vem sendo implementado há apenas um ano. Foi

comentado nas entrevistas que esta prática vem gerando receio e ressentimentos nas

pessoas, pois é uma prática nova e a sua utilização ainda não foi devidamente

disseminada na organização. Conflitos decorrentes de indicadores que explicitam

responsabilidades compartilhadas, ou níveis de serviço interdepartamentais são

resolvidos com determinação de metas definidas pela presidência e benchmarkings

comerciais. As metas, e consequentemente, os indicadores de desempenho, definidos

para as Diretorias Comerciais são os orientadores das metas para outros setores (em

especial, Industrial, Técnica e P&D).

A Tabela 27 sumariza a lista de indicadores de desempenho identificados na Ouro

Fino32.

32 Apenas os indicadores de desempenho relacionados à P&D foram disponibilizados na íntegra

(ou seja, indicadores do nível da Diretoria e do nível dos Departamentos). A Ouro Fino não

disponibilizou os indicadores de desempenho sob responsabilidade das Diretorias de Marketing, de

Supply Chain, Administrativa, Financeira, Biológicos, e Comércio Exterior, por julgar que esses

indicadores não se encontravam adequadamente implantados e disseminados na organização.

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Tabela 27: Indicadores de Desempenho Praticados na Ouro Fino

Indicadores de Resultados da EmpresaFaturamentoLucratividade Market Share

Indicadores Setoriais

Diretorias Comerciais

Crescimento % de faturamento por Diretoria Comercial (Animais Pet, Bovinos, etc.)

% de redução de estoque de produtos acabados

% desenvolvimento equipe comercial por localidade - treinamentos específicos em vendas, marketing e atendimento)

Diretoria de PD&INº de produtos lançadosno anoTempo médio do desenvolvimento ao lançamento

Departamento de PD&I

Nº de pilotos executadospor ano%cumprimento dos projetosem andamentoNº de projetosabertos xNº de projetos encerrados

%de revisãodasdocumentações de PD&I

Departamento de Registros

Nº de pedidos de registrosno ano/ por empresa

Nº de licençasdefinitivasconcedidasno ano / por empresa/ por local

Prazomédiode registrospor empresa

Nº de indeferimentosde pedidos de registrode produtos por empresa

% Ações do CPV/MAPA

Diretoria Técnica

% cumprimento de prazos de projetos de lançamento e acompanhamento técnico e comercial

% cumprimento de orçamentos de projetos de lançamento e acompanhamento técnico e comercial

% índice de auditorias de projetos de lançamento e acompanhamento técnico e comercial

Diretoria Industrial

Cumprimento da programação semanal (produção planejada pelo PCP).

Horas efetivas trabalhadas (quantidade de horas efetivamente trabalhadas sobre o total de horas disponíveis no mês).

Índice ligado a eficácia (em nº de produtos finalizados) de cada setor da produção (comprimidos, injetáveis, etc.)

Diretoria Financeira

ControladoriaOrçamento planejado versus realizado por projeto financiado pela FINEP

Os indicadores de resultado da Ouro Fino retratam sua estratégia de crescimento e

diversificação, quando se considera Faturamento, Lucratividade e Market Share por

linha de produto. Esses indicadores deveriam nortear a estratégia de desenvolvimento de

novos produtos e novos mercados, apoiando em que momento uma tecnologia e/ou

produto devesse ser desenvolvido ou mesmo ter seu desenvolvimento interrompido.

Atualmente, a lógica do alinhamento dos indicadores de desempenho funcionais aos

indicadores de desempenho estratégico vem sendo enfatizada a cada reunião de

acompanhamento gerencial.

Os indicadores praticados pelas Diretorias Comerciais demonstram dois aspectos: o

primeiro (“Crescimento em % de Faturamento”) relaciona-se com os resultados

financeiros em que cada Diretoria deve almejar, justamente para se alcançar os

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resultados estratégicos definidos pelos indicadores globais. O segundo (“% de Redução

de Estoques de Produtos Acabados”) relaciona-se às questões de eficiência da Ouro

Fino: os resultados devem ser obtidos, mas de forma racional, de forma a garantir a

lucratividade do negócio, conforme estabelecido pelo indicador global. Neste sentido, a

avaliação de produtos finais em estoque parece coerente com essa questão. O que

pareceu surpreendente foi a aparição de um indicador de desenvolvimento de equipe

comercial, no mesmo nível de discussão dos indicadores de resultado das Diretorias

Comerciais – outros indicadores de resultados para as áreas Comerciais, não tão

complexos a ponto de não poderem ser implantados em uma organização que está

iniciando um processo de gestão por indicadores, como faturamento oriundo de

produtos lançados nos últimos 3 anos, tempo de resposta às demandas do cliente e

pesquisa de satisfação de clientes, parecerim mais adequados.

Os indicadores praticados pela Diretoria de PD&I também são bastante singulares em

termos de abrangência, já que medem apenas o quantitativo de produtos lançados (não

se teve informação se há uma espécie de qualificação do lançamento – se trata de

produtos novos, melhorados e que nível de melhoria foi implementado) e do tempo de

desenvolvimento (este poderia remeter ao tempo de resposta ao cliente, comentado no

parágrafo anterior, mas como se encontra sob responsabilidade da Diretoria de PD&I, o

tempo de resposta às demandas contempla apenas quando o desenvolvimento é

envolvido).

Alguns indicadores de saída das atividades técnicas, como patentes, facilidade de

implantação na área industrial e a própria qualificação do desenvolvimento de novos

produtos (se trata de uma nova formulação, ou simplesmente uma nova embalagem) não

foram observados no sistema de medição de desempenho da Ouro Fino. Indicadores,

associados às entradas do processo de desenvolvimento, como orçamento disponível por

projeto, consumo de recursos por projeto (exceto nos casos de projetos rigorosamente

controlados, quando financiados por órgãos como a FINEP), também não foram

observados na Ouro Fino.

Ainda em relação à Diretoria de PD&I, não se observou nenhum indicador relacionado

à carteira de projetos, tampouco relacionados à lógica dos stage-gates, o que traz

dificuldades em se encerrar um projeto que esteja desalinhado à estratégia

organizacional. Contudo, uma lista de indicadores de desempenho departamentais,

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relacionados ao Departamento de PD&I e ao Departamento de Registro parecem ser os

mais abrangentes no universo da Ouro Fino, já que considera não só as questões

relacionadas ao desenvolvimento de produtos (acompanhamento do cronograma e

índice de fechamento de projetos), mas também questões específicas ao processo de

pedido de registros junto aos órgãos regulamentares, visto que se trata de um processo

crítico para a Ouro Fino e, portanto, passível de avaliação e acompanhamento.

Foi observado no Departamento de PD&I um desequilíbrio nos níveis de agregação dos

indicadores de desempenho: indicadores muito específicos da PD&I como o “% de

revisão das documentações de PD&I” aparecem no mesmo nível de agregação dos

indicadores de resultado do PD&I, como “% cumprimento dos projetos em andamento”.

O mesmo pode ser observado no Departamento de Registro, quando se observa que o

“% Ações do CPV/MAPA” aparece como resultado do departamento juntamente com

“Nº de licenças definitivas concedidas no ano / por empresa/ por local” e “Prazo médio

de registros por empresa”. Os diferentes níveis de agregação de indicadores presentes

em um departamento pode gerar confusão, quando tais indicadores não forem

devidamente compreendidos e suas relações causais não forem conhecidas. Os

indicadores mais detalhados tornam-se subutilizados, principalmente quando não

compreendidos pelas demais áreas da organização.

Em relação aos indicadores do Departamento de Estudos Clínicos, poucas

considerações podem ser tecidas, já que esta área se encontrava dentro da Diretoria

Técnica, com indicadores de desempenho praticados no âmbito dos resultados a serem

avaliados nesta diretoria, a saber: % cumprimento de prazos, % cumprimento de

orçamentos, % índice de auditorias. Em 2010, esses indicadores provavelmente sofrerão

ajustes, de forma a se adequarem a nova realidade da área de Estudos Clínicos, dentro

da Diretoria de PD&I. Os indicadores de desempenho ainda não se encontram

implantados, contudo.

Os indicadores de desempenho da Diretoria Industrial são muito focados no

desempenho do setor produtivo da empresa, não havendo avaliação, por exemplo, da

flexibilidade da linha de montagem em relação a produção de novos produtos,

facilidade de automação de processos, e custos da fase piloto. Ou seja, os indicadores de

desempenho da Diretoria Industrial avaliam apenas efetividade e eficiência da linha de

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210

montagem, no que tange à produção em escala, etapa que acontece após o

desenvolvimento e lançamento do produto.

Finalmente, o único indicador de desempenho utilizado na Diretoria Financeira é o

acompanhamento dos projetos em termos físico e financeiros, para fins de prestação de

contas para instituições financiadoras, como a FINEP. O acompanhamento financeiro

também ocorre para projetos financiados por capital próprio (dentro da média de 5% do

faturamento investido), mas de forma agregada, no total de projetos. Este é um dos

elementos que contribuem para a dificuldade de se avaliar a continuidade ou interrupção

de projetos, já que tanto os resultados intermediários quanto os gastos individuais são

pouco acompanhados.

A estrutura de gestão da organização e, particularmente da P&D, é relativamente nova

na Ouro Fino, o que explica problemas relatados nas entrevistas como não adequação

dos indicadores à realidade e a dificuldade de tomada de decisão a partir do uso de

indicadores de desempenho. Em um primeiro momento da implantação da lógica de uso

dos indicadores de desempenho na Ouro Fino, não houve uma orientação baseada em

quadros conceituais consagrados, como o Balanced Scorecard, mas sim, a adoção de

uma estrutura mais simples, seguindo a lógica funcional, onde esta lógica segue as

definições estratégicas definidas pelas metas e indicadores de desempenho globais.

Embora haja riscos diante de uma avaliação departamental – desempenho local poderia

sobrepujar o desempenho global, os indicadores da Diretoria Comercial seguem como

orientadores dos resultados das demais Diretorias.

Entretanto, a lógica de departamentalização dos indicadores de desempenho na Ouro

Fino pareceu confusa, havendo indicadores agregados sendo avaliados em um mesmo

nível de indicadores detalhados (conforme pôde ser observado nas Diretorias

Comerciais e de PD&I). Além disso, a departamentalização não estimula abrangência

dos indicadores: como se pôde perceber, vários aspectos de desempenho importantes

para a Ouro Fino (como os relacionados a geração de ideias e oportunidades, portfólio

de produtos, aquisição de tecnologias) não são considerados. Este problema é

potencializado com a finalidade da utilização desses indicadores de desempenho para

fins de remuneração variável: quando se trata de uma avaliação que influenciará a

remuneração dos funcionários, comportamentos adversos podem ocorrer por conta do

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211

comportamento gerado aos funcionários sujeitos a avaliação. Indicadores inadequados

podem gerar comportamentos inadequados à estratégia da Ouro Fino.

O capítulo seguinte traz a descrição do caso de Bio-Manguinhos que, conforme será

apresentado, vem trabalhando a mais tempo que a Ouro Fino na estrutura de gestão e,

como resultado, possui sistema de indicadores de desempenho mais estruturados do que

a Ouro Fino, embora tais indicadores ainda não estejam funcionando adequadamente,

próximos ao ideal.

Ao final da apresentação dos casos, no Capítulo 10, a estrutura de indicadores de

desempenho da Ouro Fino será avaliada em relação à adequação da adoção dos

Princípios de Construção de sistemas de medição de desempenho para P&D,

identificados a partir da revisão da literatura e sintetizados no Anexo 2 deste

documento. Essa avaliação será comparativa, onde se buscará verificar como os

Princípios de Construção se aplicam aos casos estudados.

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8. Estudo de Caso do Instituto Bio-Manguinhos O presente capítulo trata dos aspectos mais importantes relacionados à P&D praticada

no Instituto Bio-Manguinhos, especialmente, as questões afetas aos indicadores de

desempenho utilizados na função P&D.

Na primeira seção são apresentados aspectos gerais da organização e do setor em que

atua. Em seguida são apresentadas a estrutura organizacional de Bio-Manguinhos e as

atribuições de cada Vice-Presidência. Em seguida é apresentada a estrutura de inovação

de Bio-Manguinhos, segundo a lógica contida no framework de Goffin e Mitchell

(2005). Finalmente, a última seção apresenta o sistema de medição de desempenho

utilizado em Bio-Manguinhos.

8.1. Dados Gerais da Organização e do Setor em que Atua

O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (doravante Bio-Manguinhos) fundado

em 1976 é a unidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) que

produz e desenvolve imunobiológicos para atender às demandas da saúde pública

brasileira. Sua linha de produtos é composta por vacinas, kits de reativos para

diagnóstico laboratorial e biofármacos33. A descrição cronológica dos eventos mais

importantes ocorridos na história da instituição é apresentada no Anexo 5.

Bio-Manguinhos é, atualmente, o maior fornecedor de imunobiológicos dos Programas

de Insumos Estratégicos do Ministério da Saúde do Brasil, suprindo quase 60% da

demanda de vacinas do Programa Nacional de Imunizações (PNI)34. Em 200835, foram

33 Os biofármacos são obtidos pelo emprego industrial de microorganismos ou células modificadas

geneticamente para a produção de determinadas proteínas de aplicação terapêutica. Esta tecnologia

permite reproduzir proteínas idênticas às naturais e também elaborar outras totalmente novas, com maior

atividade biológica, maior vida média ou menos efeitos colaterais, por exemplo. A inserção de genes em

microorganismos ou células leva às alterações esperadas e as moléculas geradas podem ser mais

vantajosas do que as naturais para uma determinada função. Fonte: http://www.fiocruz.br/bio/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=190

34 O Programa Nacional de Imunizações (PNI) visa contribuir para o controle ou erradicação das

doenças infectocontagiosas e imunopreviníveis, tais como a poliomielite (paralisia infantil), sarampo,

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fornecidas ao PNI e às agências internacionais como o UNICEF (United Nations

International Children's Emergency Fund)36 e OMS/OPAS (Organização Pan-

Americana da Saúde)37 115,78 milhões de doses de vacinas virais e bacterianas.

Das 11 vacinas utilizadas pelo PNI no calendário básico de vacinação, seis são

fornecidas atualmente por Bio-Manguinhos:

1. Tríplice viral contra sarampo, caxumba e rubéola (10 doses);

2. Poliomielite (25 doses);

3. Febre amarela (5, 10 e 50 doses);

4. Meningogócica AC (10 doses);

5. DTP (difteria-tétano-pertussis);

6. Hib haemophilus influenzae tipo b (1 e 5 doses).

Além dessas, Bio-Manguinhos também produz vacinas contra rotavírus (1 dose) e a

tetravalente DTP+Hib (5 doses).

difteria, tétano, coqueluche, tuberculose e outras, mediante a imunização sistemática da população. O PNI

é parte integrante do Programa da Organização Mundial de Saúde, com o apoio técnico, operacional e

financeiro da UNICEF e contribuições do Rotary Internacional e do Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD). Fonte: http://www.datasus.gov.br/catalogo/pni.htm

35 A maior parte dos dados mencionados na descrição deste estudo de caso refere-se ao ano de

2008. Quando as informações forem oriundas de outras datas, este fato será explicitado.

36 O Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF está presente no Brasil desde 1950,

liderando e apoiando algumas das mais importantes transformações na área da infância e da adolescência

no País, como as grandes campanhas de imunização e aleitamento, a aprovação do artigo 227 da

Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente, o movimento pelo acesso universal à

educação, os programas de combate ao trabalho infantil, as ações por uma vida melhor para crianças e

adolescentes no Semiárido brasileiro. Fonte: http://www.unicef.org/brazil/pt/overview.html

37 A Organização Pan-Americana da Saúde é um organismo internacional de saúde pública

dedicado a melhorar as condições de saúde dos países das Américas. Atua como Escritório Regional da

Organização Mundial da Saúde para as Américas e faz parte dos sistemas da Organização dos Estados

Americanos (OEA) e da Organização das Nações Unidas (ONU). Fonte: http://www.opas.org.br/opas.cfm

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Em relação aos testes para diagnóstico, 5,7 milhões de testes foram fornecidos aos

programas públicos da Coordenação Geral de Laboratórios (CGLAB)38, ao Programa

Nacional de Doenças Sexualmente Transmissíveis e AIDS (PN-DST/AIDS) e aos

programas de vigilância epidemiológica, através do controle de endemias e agravos da

Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS).

A linha de reativos para diagnóstico é composta por 11 produtos:

1. Conjugado anti-humano;

2. Kit Elisa para diagnóstico de doença de Chagas;

3. Kit IFI para diagnóstico de doença de Chagas;

4. Kit Kato-Katz para diagnóstico de esquistossomose;

5. Kit IFI para diagnóstico de HIV (10 e 50 lâminas);

6. Kit Elisa para diagnóstico de leishmaniose canina;

7. Kit IFI para diagnóstico de leishmaniose canina;

8. Kit IFI para diagnóstico de leishmaniose humana;

9. Kit Elisa para diagnóstico de leptospirose (192 e 96 reações);

10. Teste rápido HIV 1/2

11. Painéis sorológicos para estudo de proficiência.

Em relação à linha de biofármacos, 7,5 milhões de frascos de biofármacos foram

produzidos em 2008, utilizados no tratamento de doenças graves como hepatites

38 A Coordenação Geral dos Laboratórios de Saúde Pública (CGLAB) é um órgão que pertence ao

Departamento de Vigilância Epidemiológica (DEVEP), este por sua vez ligado à Secretaria de Vigilância

em Saúde (SVS), uma das secretarias subordinadas ao Ministro da Saúde. A Coordenação do Programa

Nacional de Imunização encontra-se subordinada ao DEVEP e a Diretoria Técnica do PN-DST/AIDS

encontra-se subordinada ao SVS. Outras informações relacionadas à estrutura do SVS e do Ministério da

Saúde acessar:

http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/ap_curso_capacitacao_sentinelas_e_lacen/apresentacao_

cglab_lucia_ferraz.ppt

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crônicas causadas pelos vírus B e C, anemia por insuficiência renal crônica, anemia em

pacientes portadores do vírus HIV e de pacientes em tratamento quimioterápico.

A linha de biofármacos é composta por dois produtos em diferentes apresentações:

1. Alfainterferona 2b humana recombinante (3MUI, 5MUI, 10MUI);

2. Alfaepoetina humana recombinante (2000UI, 4000UI).

O mercado de vacinas, reativos para diagnósticos e biofármacos é dominado pelas

grandes empresas multinacionais, como a Pfizer, Glaxo-SmithKline, Novartis, Sanofi-

Aventis e Astrazeneca39.

Até meados dos anos 80 a grande indústria farmacêutica não considerava como um foco

relevante o desenvolvimento de novas e melhores vacinas para doenças tradicionais - o

desinteresse era explicado pela baixa rentabilidade e das poucas oportunidades

tecnológicas até então vislumbradas.

Segundo Lima (2005), este cenário modificou-se com o desenvolvimento do paradigma

científico na biotecnologia, o qual se transformou em um boom de novas empresas e

produtos no mercado, resultando em um crescimento médio de 10% ao ano (em termos

reais) na década de 1990.

Neste novo cenário, os gastos com P&D necessários para obter um novo medicamento

cresceram de uma média de US$ 137 milhões de dólares no final da década de 1970

para cerca de US$ 800 milhões no início dos anos 2000 (CBO Study, 2006). Este

crescimento acelerado dos custos exigiu modificações nas estratégias empresariais das

líderes mundiais, a principal delas sendo a busca de maior poder de mercado por meio

da aquisição ou fusão com rivais (LIMA, 2005).

O mercado de vacinas então passa a ter dois segmentos principais: o segmento das

vacinas tradicionais de uso difundido e de baixo valor agregado, cujas tecnologias são

39 Lista decrescente das cinco maiores corporações da indústria farmacêutica em 2008, segundo

dados da IMS (Intercontinental Medical Statistics). Fonte:

http://www.imshealth.com/deployedfiles/imshealth/Global/Content/StaticFile/Top_Line_Data/Global-

Top_15_Companies.pdf

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dominadas por empresas públicas e privadas de países desenvolvidos, e também por

laboratórios públicos de países subdesenvolvidos; e o segmento das vacinas modernas,

de consumo mais restrito devido aos maiores preços, com produção concentrada em

poucas empresas multinacionais (LIMA, 1995).

Essa segmentação orienta a classificação dos produtores em três tipos: as multinacionais

privadas, com altos índices de inovação e grande participação no mercado internacional;

empresas tradicionais públicas e privadas localizadas em países industrializados, com

um foco de competência na produção das vacinas tradicionais; e os produtores públicos

dos países em desenvolvimento, que tem seu foco na produção das vacinas tradicionais

e têm acesso os produtos modernos através da realização de contratos de transferência

de tecnologia com as multinacionais. (OLIVEIRA, 2007).

Não se pode afirmar que haja “concorrência”40 direta com essas empresas, já que a

missão de Bio-Manguinhos é atender a demanda dos programas governamentais, e não

a lucratividade. Entretanto, há casos em que esses órgãos governamentais, mediante o

não atendimento dessas demandas, importam produtos das empresas privadas, o que

torna essas empresas, nesta situação específica, “concorrentes” diretos.

Alguns laboratórios nacionais, contudo, concorrem diretamente com a demanda

estipulada pelo Ministério Público tais como o Instituto Butantan, o Instituto de

Tecnologia do Paraná (TecPAR) e a Fundação Ataupho de Paiva (FAP). A escolha por

uma ou outra instituição se dá em termos da capacidade de atendimento do volume de

produtos estipulado por esses órgãos, no prazo que atenda um cronograma definido nas

políticas de imunização e dentro de uma faixa de preço aceitável, conforme definição do

orçamento público determinado para estes fins.

O faturamento atual de Bio-Manguinhos é de cera de 580 milhões de reais anuais,

representando um crescimento médio de 20% ao ano, desde 2003, um crescimento

maior do que a média observada na indústria farmacêutica (cerca de 10% ao ano). Cerca

de 42 milhões do total é oriundo do tesouro nacional. Os recursos do tesouro são

40 O termo concorrência é mal empregado neste caso, pois a missão de instituições públicas como

Bio-Manguinhos é atender demandas de órgãos governamentais em relação à saúde pública. Não há,

contudo, autonomia dessas instituições para tomada de decisão em termos de escolha de segmentos de

mercado, política de preços, alocação de recursos, etc., tal como haveria em um mercado concorrencial.

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alocados ao pagamento de salário do quadro de servidores, às dotações através da Lei

Orçamentária Anual (LOA) para custeio e investimentos, e aos programas corporativos

da FIOCRUZ. As receitas próprias incluem recursos provenientes de portarias e

convênios com o Ministério da Saúde e fornecimento residual de produtos para outras

entidades.

Bio-Manguinhos vem se estruturando para atender as demandas dos órgãos

governamentais, que possui como vetor prioritário de ação a independência das

empresas estrangeiras no que tange ao atendimento das questões de saúde pública.

Em 2007 inaugurou um dos maiores e mais modernos parques industriais de vacinas da

América Latina, o Complexo Tecnológico de Vacinas (CTV), onde está localizado o

Centro de Processamento Final (CPFI), com capacidade de produção anual de 300

milhões de doses de vacinas e a maior capacidade de liofilização da América Latina.

Além disso, em 2006 foram concluídas as obras do Centro Konosuke Fukai (CKF), que

reuniu as novas instalações do Centro de Produção de Antígenos Virais (CPAV) e o

Centro de Qualidade (CQUAL). Neste mesmo ano, foram iniciadas as obras do Centro

Integrado de Protótipos, Biofármacos e Reativos para Diagnóstico (CIPBR), com

previsão de término em 2010.

Bio-Manguinhos possui cerca de 1.100 funcionários. A Vice-Diretoria de

Desenvolvimento Tecnológico (VDTEC), que centraliza as atividades de P&D de Bio-

Manguinhos, conta com 136 pesquisadores e colaboradores (sendo que 25 são doutores)

e encontra-se organizada por Programas, que são estruturas responsáveis pelo

desenvolvimento de projetos tecnológicos.

Os investimentos em P&D aumentaram cerca de onze vezes em sete anos. Em 2009 os

investimentos somaram 33 milhões de reais e a carteira de projetos conta com 23

projetos de desenvolvimento tecnológico, a saber: quatro de vacinas bacterianas, sete de

vacinas virais, sete de reativos para diagnóstico e cinco de biofármacos. Além dos

projetos de desenvolvimento, há também cinco projetos de transferência de tecnologia

em andamento. Do total de projetos em andamento, apenas um consiste de melhoria de

um produto existente: vacina contra febre amarela.

Entre 2001 e 2008, Bio-Manguinhos firmou diversos acordos de parcerias tecnológicas,

tanto com unidades da Fiocruz quanto com organizações externas – são seis parcerias

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com unidades da Fiocruz, 2 parcerias com Universidades e institutos de pesquisa e 4

acordos de transferência de tecnologia assinados. Como exemplos podem ser citados os

acordos com o Centro de Pesquisa Gonçalo Muniz (Fiocruz/ Bahia) e com o Instituto de

Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos). As empresas com as quais Bio-Manguinhos

possui parceria de transferência de tecnologia são GlaxoSmithKline (GSK), Chembio,

Centro de Imunologia Molecular (CIM - Cuba) e Centro de Engenharia Genética e

Biotecnologia (CIGB – Cuba).

Em relação aos financiamentos, Bio-Manguinhos conta com o apoio do Ministério da

Saúde, por meio da Secretaria de Ciência e Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE)

e do Fundo Nacional de Saúde (FNS) em diversos projetos de desenvolvimento

tecnológico e estudos clínicos. Nos últimos anos, é crescente o apoio concedido pela

Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional de Desenvolvimento

Econômico e Social (BNDES) no que tange ao financiamento desses projetos.

(Relatório de Atividades, 2008, p. 17).

A seção seguinte traz as atribuições das principais Unidades Organizacionais de Bio-

Manguinhos.

8.2. Atribuições das Vice-Diretorias de Bio-Manguinhos

A estrutura organizacional de Bio-Manguinhos consiste em uma Diretoria, cinco

Assessorias, quatro Vice-Diretorias, e outras Unidades de Apoio e Governança,

conforme organograma a seguir:

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Figura 44: Organograma de Bio-Manguinhos (2008)

Fonte: http://www.fiocruz.br/bio/media/organograma_bio_peq.gif

• A Secretaria Executiva presta suporte e assessora a Diretoria do Instituto no

desempenho das suas atividades de gestão e de representação institucional;

• A Assessoria de Acompanhamento Processual (NUCAP) tem como objetivo

assessorar a Diretoria de Bio-Manguinhos no acompanhamento dos processos

administrativos, tendo em vista as orientações da Auditoria Interna da Fiocruz,

além de orientar e as Unidades nos cuidados com a gestão de contratos, tendo

em vista os bons princípios econômicos e financeiros;

• A Assessoria de Planejamento e Organização (ASSPO) tem como objetivo

assessorar a Diretoria na elaboração do Plano Estratégico, acompanhamento e

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análise do atingimento dos objetivos e metas da Unidade e análise dos

indicadores estratégicos; na consolidação do Planejamento Orçamentário; na

implantação dos planos de melhoria de gestão; em questões relacionadas à

estrutura organizacional da Unidade;

• A Assessoria Clínica (ASCLIN) tem como objetivo assessorar a Diretoria de

Bio-Manguinhos no que se refere às atividades pré-clínicas e clínicas realizadas

pela instituição, além de prover esclarecimentos, através do SAC (Serviço de

Atendimento ao Cliente), sobre eventos adversos associados às vacinações ou

aos biofármacos;

• A Assessoria de Comunicação (ASCOM) tem como objetivo assessorar a

Diretoria de Bio-Manguinhos na elaboração, implementação e execução das

atividades de Comunicação do Instituto;

• A Assessoria de Propriedade Intelectual e Transferência de Tecnologia (NIT-

Bio) tem como objetivo assessorar a Diretoria de Bio-Manguinhos no que se

refere à propriedade intelectual, assessorando e analisando potenciais pedidos de

patente de técnicos de Bio-Manguinhos, apurando a situação perante os

requisitos legais de patenteabilidade e, em principal e se for o caso, procedendo

ao levantamento do estado da técnica, inclusive definindo o seu marco de

referência (busca patentária). No que se refere à transferência de tecnologia,

concebendo contratos (alianças estratégicas, transferência de informação técnica;

e licenciamento e/ou cessão de patentes) sendo Bio-Manguinhos parte ofertante

ou demandante;

• A Vice-Diretoria de Qualidade (VQUAL) tem como atribuição central coordenar

as ações dos Departamentos de Garantia da Qualidade e Controle de Qualidade e

dos Laboratórios de Experimentação Animal e Neurovirulência com o objetivo

de garantir a qualidade dos produtos e serviços produzidos em Bio-Manguinhos;

• A Vice-Diretoria de Gestão e Mercado (VGEST) tem como atribuição central

estabelecer e executar, em conformidade com conceitos atualizados de gestão, os

procedimentos de planejamento, coordenação, supervisão, controle e

acompanhamento das atividades de administração, de recursos humanos, de

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finanças, de suprimento, de tecnologia da informação, de forma da fornecer

informações e meios para o adequado funcionamento do Instituto;

• A Vice-Diretoria de Produção (VPROD) tem como atribuição central coordenar

a produção de vacinas e diluentes, garantindo sua qualidade dentro das Boas

Práticas de Fabricação (BPF) e o atendimento aos cronogramas de entrega

acertados, contribuindo para o atingimento dos objetivos e metas de Bio-

Manguinhos;

• A Vice-Diretoria de Desenvolvimento Tecnológico (VDTEC) tem como

atribuição central promover o desenvolvimento de vacinas, reativos para

diagnóstico e biofármacos através de seus programas específicos, observando os

princípios das Boas Práticas de Laboratório (BPL) e Biossegurança,

acompanhando e auxiliando a execução técnica e o gerenciamento das atividades

relacionadas aos projetos em andamento, e solução de problemas (do projeto e

com as interfaces envolvidas, internas e externas à Bio-Manguinhos).

A estrutura organizacional de Bio-Manguinhos segue um recorte funcional clássico,

conforme pode ser observado na estrutura que compõe suas Vice-Diretorias.

A demanda por produtos da carteira de Bio-Manguinhos surge a partir da divulgação

dos programas governamentais vinculados ao Ministério da Saúde ou de outros órgãos

internacionais, que geralmente são comunicados e tratados no Departamento de

Relações com o Mercado (DEREM), pertencentes à VGEST. O DEREM tem como

atribuição central planejar, executar e administrar as atividades de mercado da Unidade

por meio de coordenação das atividades de comercialização dos produtos/serviços junto

ao mercado nacional e internacional.

Caso a demanda exija desenvolvimento de novo produto, seja por desenvolvimento

interno ou por transferência de tecnologia, a Divisão de Marketing e Novos Negócios

(DINNE), pertencente ao DEREM, conduzirá o processo de avaliação da oportunidade e

viabilidade deste desenvolvimento (denominado internamente pela organização como

um novo negócio), que será capitaneado adiante pelos programas da VDTEC.

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A GEPRO é a responsável por gerenciar esses projetos executados pela VDTEC, e sua

participação é iniciada ainda nas primeiras etapas deste processo quando, junto com a

DINNE, participa da avaliação de oportunidades e viabilidade dos projetos.

Caso a demanda dos programas governamentais seja por um produto já pertencente à

carteira de Bio-Manguinhos, a Divisão Comercial (DICOM), pertencente ao DEREM,

dará início ao processo de planejamento visando à produção e a entrega desses produtos,

processo capitaneado pelos departamentos da VPROD, constituindo desta forma um

processo típico de planejamento, execução e controle da produção.

Este trabalho focará no primeiro processo, pois o que interessa é como se dá a relação

da VDTEC com outros Departamentos das Vice-Diretorias, o cerne do processo de

inovação de Bio-Manguinhos.

8.3. A Estrutura de Inovação de Bio-Manguinhos

Nesta seção serão descritos os aspectos definidores da estratégia de inovação de Bio-

Manguinhos e como estes aspectos norteiam os elementos contidos no framework de

Goffin e Mitchell (2005): Geração de Ideias, Priorização e Seleção de Ideias,

Implementação e Estrutura de Inovação.

8.3.1. Estratégia de Inovação

Conforme visto nas seções anteriores, Bio-Manguinhos mantém uma estrutura de

pesquisa, desenvolvimento, produção e distribuição de vacinas, reativos para

diagnóstico e biofármacos para atender programas governamentais, em especial, os do

Ministério da Saúde. As definições de missão, visão e valores da Tabela 28 explicam

essa orientação:

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Tabela 28: Declaração de Visão, Missão e Valores de Bio-Manguinhos41

Fonte: http://www.fiocruz.br/bio/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=156#

Visão

Constituir-se na base tecnológica do Estado brasileiro para as políticas do

setor, sendo reconhecido por: protagonizar a oferta de novos produtos de

interesse epidemiológico, biomédico e sanitário; possuir certificações

nacionais e internacionais de todos os produtos e instalações; ter uma

gestão tecnológica que propicie parcerias e o desenvolvimento autóctone

de produtos importantes para a saúde pública; ter infraestrutura científica

e tecnológica capaz de responder rapidamente às demandas emergenciais

de novos produtos para a área de saúde e ter um corpo de pessoal

permanentemente qualificado, comprometido e motivado.

Missão

Bio-Manguinhos tem como missão contribuir para a melhoria dos

padrões da saúde pública brasileira, através da pesquisa tecnológica para

desenvolvimento de produtos e produção de imunobiológicos, visando

atender às demandas geradas pelo quadro epidemiológico mundial e do

País.

Valores

- Satisfação das necessidades dos clientes.

- Busca pela melhoria contínua.

- Ética e responsabilidade social.

- Valorização do colaborador.

- Efetividade das operações.

Em relação ao padrão de inovação realizado por Bio-Manguinhos, conforme visto na

seção anterior, quase 100% dos projetos existentes hoje são orientados para

desenvolvimento de novos produtos. A maior parte dos casos de melhoria de produtos

existentes (inovações incrementais) é demandada pela identificação de questões

levantadas a partir de avaliação pós-marketing. Por exemplo, no caso das vacinas,

oportunidades de melhorias da termoestabilidade, da segurança, da imunogenicidade e a

41 Encontra-se em curso um trabalho de revisão do Planejamento Estratégico em Bio-Manguinhos,

o que poderá acarretar, em breve, mudanças na concepção de visão, missão e valores.

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necessidade de novas apresentações e/ou novas combinações podem gerar projetos de

melhorias.

As constantes pesquisas realizadas e a crescente capacitação de Bio-Manguinhos no

processo de negociação e condução de processos de transferência de tecnologia,

parceria e desenvolvimento tecnológico em conjunto com instituições dos setores

público e privado permitiram uma importante estrutura de inovação em produto e

processo (conforme pode ser também observado em Barbosa, 2009).

A inovação de produto pode ser entendida como a utilização de uma nova tecnologia

para viabilizar o produto ou para melhorar a eficácia de um produto existente (por ex.,

desenvolvimento de cepas42 para dar origem ao principio ativo de vacinas). A inovação

de processo pode ser entendida como a utilização de tecnologias embarcadas no sistema

produtivo para viabilizar a produção em escala, ou melhorar a eficiência da produção

em escala de determinado produto. Ambas as inovações são resultados da pesquisa e

desenvolvimento adotados por Bio-Manguinhos a partir dos programas da VDTEC.

O desenvolvimento por transferência de tecnologia se mostrou a estratégia mais

utilizada em Bio-Manguinhos para agilizar a inovação dos produtos em Bio-

Manguinhos. Conforme descrito pelos entrevistados, o desenvolvimento interno, além

de mais caro, leva muito mais tempo para ser concluído – e tempo é uma variável

bastante crítica na área da saúde pública. Segundo Furtado et al. (2007), as empresas

multinacionais não possuíam interesse em transferir tecnologias de última geração para

instituições públicas, a não ser pela formação de joint ventures, não permitidas pela

legislação brasileira.

Esta questão reforçou a necessidade de, em paralelo às tentativas de estabelecer

parcerias com a indústria privada, investir no fortalecimento das atividades de

desenvolvimento tecnológico em Bio-Manguinhos de forma a criar capacitações para

desenvolvimentos internos, tornando Bio-Manguinhos menos dependente do

desenvolvimento das multinacionais.

42 Cepa é um grupo ou linhagem de um agente infeccioso, de ascendência conhecida,

compreendida dentro de uma espécie e que se caracteriza por alguma propriedade biológica e/ou

fisiológica. É utilizada como “matéria prima” para fabricação de vacinas

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Isto explica a conciliação das estratégias de desenvolvimento interno de tecnologias e de

transferência de tecnologia – segundo o Vice-Diretor de Tecnologia, “não pode haver

transferência de tecnologia sem que haja ganho de experiência e aprendizado a longo

prazo”. Atualmente, o processo de transferência de tecnologia vem sendo

predominantemente utilizado, pois permite à Bio-Manguinhos oferecer à população

brasileira vacinas de melhor qualidade, em um prazo menor do que se fossem

desenvolvidas internamente, já que mostra-se muito mais rápido do que o processo de

desenvolvimento interno de P&D.

Assim, nos casos onde haja tecnologia disponível no mercado para atender as demandas

públicas para desenvolvimento de vacinas, reativos para diagnósticos e biofármacos, a

sua apropriação por transferência ou por aquisições é a forma mais rápida e menos

dispendiosa para atender essas demandas. Casos onde não haja tecnologias disponíveis,

ou que a transferência destas tecnologias não seja de interesse dos detentores desta

tecnologia, Bio-Manguinhos precisa desenvolver tais capacidades, o que evidentemente

acarreta maior tempo de desenvolvimento.

Em relação às ferramentas de gestão estratégicas, Bio-Manguinhos implantou em 2004

o conceito do Balanced Scorecard para traduzir e comunicar sua estratégia. O mapa

estratégico de Bio-Manguinhos busca retratar o enfoque de instituição orientada por

demandas dos programas do Ministério da Saúde a partir da “prevenção, controle e

erradicação de doenças”, “ações de diagnóstico laboratorial” e “terapêutica de doenças

de produtos de alta complexidade”, justamente os objetivos estratégicos relacionados

aos três programas da VDTEC, conforme pode ser observado na Figura 45.

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Figura 45: Mapa Estratégico de Bio-Manguinhos (versão 2005) e Identificação dos Objetivos

Associados Diretamente à VDTEC

Indicadores de desempenho estratégicos foram escolhidos para servir de base para o

acompanhamento dos objetivos do mapa estratégico (tais indicadores serão

apresentados de forma pormenorizada na seção específica mais adiante). Entretanto, os

objetivos do mapa estratégico não foram desdobrados para as demais unidades

organizacionais Bio-Manguinhos e os indicadores de desempenho associados aos

objetivos foram implantados apenas no nível estratégico, não produzindo assim o efeito

de alinhamento das diferentes esferas de implantação e acompanhamento da estratégia.

O desdobramento da estratégia corporativa de Bio-Manguinhos na estratégia

tecnológica não segue a lógica estabelecida pelo mapa estratégico. Na verdade, além da

trajetória de atendimento aos programas do Ministério da Saúde como orientador das

iniciativas de P&D de Bio-Manguinhos, o conceito de plataforma tecnológica é de

grande importância e norteia o processo decisório em relação a que produtos

desenvolver (em relação aos princípios ativos, cepas, tecnologias embarcadas nas

Objetivos do Mapa Estratégico relacionados aos Programas da

VDTEC

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vacinas, reativos e biofármacos) e como desenvolver (se por desenvolvimento interno,

por desenvolvimento em conjunto, ou por transferência de tecnologia). As plataformas

tecnológicas são importantes elementos que estão inseridos nos critérios de seleção e

priorização de projetos, conforme será visto na seção seguinte.

Outro orientador importante da estratégia de Bio-Manguinhos relaciona-se os

programas corporativos da FIOCRUZ. O Programa de Desenvolvimento Tecnológico

em Insumos para Saúde (PDTIS) é um programa que “promove e articula a

multidisciplinaridade através de Redes Cooperativas para a geração de produtos e

insumos com impacto na saúde pública e no desenvolvimento econômico e social do

Brasil. O modelo adotado visa tanto motivar pesquisadores a trabalharem de forma

cooperativa em torno de objetivos comuns e de tecnologias similares quanto otimizar

recursos humanos e financeiros” (Couto, 2008). O programa pretende estimular a

criação e adoção gradativa de instrumentos de gestão e metodologias de gestão mais

modernos e atualizados como suporte às ações de planejamento estratégico, da gestão

de qualidade e tecnológica do projeto. Outro programa estratégico para a Fiocruz é

Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde Pública (PDTSP) que tem como

objetivo central “o fomento de atividades de pesquisa e desenvolvimento para a

inovação tecnológica no campo da saúde pública. Com a perspectiva de contribuir para

a resolução dos problemas de saúde da população nas dimensões coletiva e individual, o

PDTSP conta com dois componentes (Dengue e SUS) e sete sub-redes, tendo executado

36 projetos em 2007” (Couto, 2008).

8.3.2. Geração de Ideias

Há diversas possibilidades de geração de novas ideias em Bio-Manguinhos. A primeira

consiste no próprio trabalho feito pelos pesquisadores. A relação desses pesquisadores

com Institutos de Ciência e Tecnologia, de Universidades ou de empresas privadas, e

com outros órgãos do sistema Fiocruz é importante para o processo de geração de novas

ideias.

A segunda possibilidade, onde se dá a maior parte dos casos, é a procura de

fornecedores de soluções tecnológicas ou de possíveis parceiros que propõem novas

oportunidades de negócio a Bio-Manguinhos. São comuns os contatos desses atores

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oferecendo novos equipamentos envolvidos nos processos de desenvolvimento, ou de

empresas que dominam a tecnologia de determinada etapa do processo produtivo das

vacinas, reativos ou biofármacos.

A terceira possibilidade são os contatos com os Programas do Ministério da Saúde – os

pesquisadores, Gerentes de Programa da VDTEC e a própria Diretoria conhecem

bastante esses programas e propõem novos negócios ao Ministério, mediante

acompanhamento da Divisão de Novos Negócios (DINNE), que acompanha a oferta de

Bio-Manguinhos deste o início da proposta. Nestes três casos, essas ideias são

cadastradas pela DINNE, que irá conduzir o processo de coleta de informações para a

tomada de decisão.

Uma quarta possibilidade de surgimento de novas ideias é a partir de sugestões oriundas

dos clientes, pelo Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) de Bio-Manguinhos. As

ideias são registradas em uma ferramenta chamada Relatório para Melhorias e Não-

Conformidade – RMNC, e o Departamento de Garantia de Qualidade – DEGAQ

coordena a análise da oportunidade, para verificação de sua viabilidade, e, caso

pertinente, a melhoria é admitida no processo.

Nos projetos de transferência de tecnologia para dentro de Bio-Manguinhos, equipes de

trabalho são envolvidas em treinamentos ministrados pelo licenciador da tecnologia,

visando à absorção e internalização do conhecimento - documentos são compartilhados

e Bio-Manguinhos os incorpora ao Sistema da Qualidade. Tais documentos são

constantemente revisados a fim de mantê-los atualizados, conforme a evolução dos

processos.

Não há, contudo, definição de políticas de transferência de tecnologia para fora. Está em

andamento a construção do Centro Integrado de Protótipos, Biofármacos e Reativos

para Diagnóstico (CIPBR), um laboratório dotado da infraestrutura necessária para a

formulação de lotes experimentais de imunobiológicos, que facilitará a transição da

etapa de desenvolvimento tecnológico para a de produção final, assim como, para a

produção de biofármacos e ampliação da capacidade de produção dos conjuntos e

reagentes para diagnóstico. Sabe-se que haverá possibilidade de prestação de serviço

para outras instituições, mas ainda não foram definidos quais serviços estarão

disponíveis e como será o contrato com essas instituições.

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A estrutura de NITs (Núcleos de Inovação Tecnológica) foi recentemente criada na

Fiocruz, centralizando as iniciativas relacionadas ao desenvolvimento tecnológico e

patentário na GESTEC, descentralizando os NITs para cada unidade da Fiocruz. Em

Bio-Manguinhos, o NIT-Bio foi concebido dentro desta filosofia. Esta estrutura foi

criada e estruturada para atender demandas relacionadas a contratos de natureza

tecnológica43 (como os contratos de transferência de tecnologia, parceria e

desenvolvimento em conjunto) e gestão patentária. Com um número maior de projetos

de transferência de tecnologia, a relação contratual com atores externos e as buscas

patentárias visando à negociação de contratos tornou-se uma importante questão a ser

considerada em Bio-Manguinhos, ficando a cargo do NIT-Bio essas atribuições.

Finalmente, no que tange à geração de novas ideias por intermédio de redes de

inovação, Bio-Manguinhos não participa formalmente de nenhuma rede. Existem

iniciativas pontuais nesta direção, de pesquisadores que trabalham em temas discutidos

em redes específicas.

8.3.3. Seleção e Priorização

Entende-se por iniciação dos novos negócios as atividades que contemplam tratamento

das ideias geradas (caracterizadas em Bio-Manguinhos como identificação de

oportunidades de novos negócios), o detalhamento das informações necessárias para

que se tomem decisões sobre a viabilidade deste novo negócio enquanto projeto até a

formalização do novo negócio em um projeto.

Os novos negócios são entendidos em Bio-Manguinhos como transferências de

tecnologia (de fora para dentro ou de dentro para fora), desenvolvimentos tecnológicos

internos (com ou sem a participação de uma empresa parceira), mudanças na

apresentação do produto, reativação de produtos ou prestação de serviços para atores

externos.

43 As demandas por contratos podem ser a elaboração de contrato de sigilo (pré-requisito para o

início das negociações com empresas envolvidas no futuro contrato), a elaboração de minuta de contrato

ou a condução de negociação de contrato onde, neste caso, a negociação conduzida pelo NIT-Bio ocorre

desde os estágios iniciais do processo.

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A lógica central por trás da estrutura de processos e do sistema de informação que lida

com oportunidades de novos negócios se baseou no conceito dos Stage Gates (Cooper,

1990), onde sucessivas avaliações ocorrem de acordo com o nível de maturidade

presente nas oportunidades – na medida em que mais informações são coletadas, a

oportunidade sofre avaliações cada vez mais rigorosas, sendo submetidas a decisões (os

gates de decisão) pela continuidade ou não de futuros esforços visando a avaliação final,

quando efetivamente é transformada em um projeto.

A DINNE tem papel de coordenação central neste processo, ou seja, ela demanda a

execução de atividades pelas áreas especialistas competentes de acordo com as questões

que precisam ser levantadas para avaliação da oportunidade44, consolida, distribui e

integra as demais atividades multifuncionais necessárias, até a aprovação e formalização

das oportunidades em um projeto, passando, neste momento, a responsabilidade de

condução do projeto ao gerente do projeto escolhido, que deverá responder pelo

andamento do projeto com o apoio da Gerência de Projeto (GEPRO). Desta forma, fica

concentrada em uma única área a visão geral de todas as oportunidades em curso, o

status de cada uma delas e uma base centralizada de todas as informações.

O desenho desta estrutura buscou assegurar um ambiente propício para geração de

ideias (no limite, todas as novas ideias poderiam ser consideradas, mas isso exigiria um

esforço muito grande, até mesmo não possível, para viabilizá-las economicamente), sem

deixar de considerar o rigor necessário aos critérios de avaliação, culminando na

efetivação de um projeto de novo negócio.

As decisões sobre a realização ou não de projeto associado a uma oportunidade de novo

negócio são de responsabilidade única e exclusiva da Diretoria. Esta estrutura de

processos e sistema foi projetada para apoiar a Diretoria na tomada de decisão, e não

substituir ou descentralizar a decisão da Diretoria.

Esta estrutura encontra-se em fase de implantação. Nem todas as oportunidades são

tratadas a partir desta lógica. Por exemplo, oportunidades consideradas fundamentais

44 Por exemplo, quando há questões sobre patentes a serem esclarecidas, o NIT é convocado para

se pronunciar sobre aquela oportunidade; questões relacionadas à capacidade produtiva exigem a

convocação do PCP e/ou da VPROD; a GEPRO conduz os processos de avaliação de viabilidade técnico-

econômica (EVTE).

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pela Diretoria já começam validadas/ aprovadas como um projeto – na mesma lógica tal

como observada na Ouro Fino para projetos considerados de grande oportunidade.

O mesmo ocorre com projetos que são negociados pela Diretoria no Ministério da

Saúde. Nesses casos, há pouca margem para avaliação e negociação a posteriori, já que

as premissas já foram concebidas e definidas pela Diretoria junto ao Ministério.

Algumas ações, portanto, que deveriam ser consideradas antes para análise de

viabilidade ocorrem de fato ex-post a esta negociação. Atualmente, há forte tendência

que esse tipo de prática tenderá a desaparecer, vigorando a estrutura de centralização do

processo na DINNE.

Outra iniciativa que tenderá a ser implantada são as reuniões para avaliação e decisão

sobre a continuidade ou não do tratamento dado às oportunidades. Atualmente, essas

reuniões vêm ocorrendo sem periodicidade definida – apenas entram na pauta da

reunião mensal da Diretoria quando há alguma questão muito crítica a ser definida.

A visão da carteira de projetos encontra-se sob responsabilidade da ASSPO, Assessoria

da Diretoria que realiza o balanceamento dos projetos e reporta o placar de avaliação

dos projetos para a Diretoria. O balanceamento dos projetos, que deveria ocorrer na

etapa de seleção e avaliação de projetos, ocorre na etapa de implantação, quando os

projetos já se encontram selecionados e já iniciados.

Isso significa que o balanceamento não considera na carteira as oportunidades de novos

negócios, com a intenção de confrontá-las com projetos existentes. Assim, embora

alguns critérios presentes na avaliação da carteira de projetos sejam considerados na

avaliação técnica-financeira-mercadológica das oportunidades, estas por sua vez não são

confrontadas com projetos em andamento.

8.3.4. Implementação de Novos Produtos/ Serviços

Uma vez que a proposta de novo negócio tenha sido aprovada, um termo de abertura de

projeto é aberto, contendo as informações adquiridas nas etapas de avaliação do novo

negócio – por exemplo, atividades previstas no desenvolvimento do novo produto,

atividades previstas em contrato (caso se trate de envolvimento com atores externos),

aquisição de recursos físicos e financeiros, etc. Neste momento, um centro de custo é

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aberto para o projeto e os recursos a serem utilizados são alocados a estes centros de

custo.

Uma vez implementados, esses projetos são constantemente acompanhados e avaliados.

A visão individual dos projetos encontra-se sob responsabilidade do gerente de projeto

(geralmente um pesquisador de um dos programas da VDTEC) e da GEPRO, enquanto

área de apoio a gestão dos projetos. Há dois tipos de avaliação de projetos:

1. Avaliação individual dos projetos, que conta com critérios baseados em quesitos

técnicos, relacionados ao desempenho do produto;

2. Avaliação operacional do projeto, relacionada ao desempenho do andamento

físico e financeiro do projeto.

A avaliação operacional deixou de ser considerada para avaliar o projeto, quando foi

montada a estrutura de gerência de projeto na GEPRO. O acompanhamento físico e

financeiro do projeto é utilizado hoje para fins de gestão, não mais para avaliação

operacional. Todos os projetos são gerenciados individualmente pelo gerente de projeto,

que atualiza o cronograma do projeto no sistema de gerenciamento de projetos e registra

informações a respeito do andamento do projeto, como as justificativas para

replanejamento de atividades e os planos para a correção dos problemas.

Periodicamente, o gerente de programa e a GEPRO recebem informações sobre as

alterações existentes no projeto, mediante atualização das informações do projeto no

sistema de gerenciamento de projetos, podendo acessar o acompanhamento das

atividades e definir ações a serem tomadas.

Em relação ao acompanhamento financeiro, as informações de execução financeira do

projeto são lançadas no sistema pelo gerente do projeto, que posteriormente serão

avaliadas pela GEPRO. Esta avaliação visa acompanhar a execução do orçamento e

definir se serão necessárias fontes de capital, não previstas originalmente. Além disso,

essas informações de acompanhamento financeiro são passadas para a ASSPO no que

tange ao acompanhamento do orçamento anual. No fechamento do projeto, os contratos

e cartas compromisso são encerrados com a participação da GEPRO e do setor

Financeiro. Em seguida, o termo de encerramento do projeto é elaborado e assinado

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eletronicamente pelo gerente de programa ou pelo chefe de departamento, fazendo com

que o projeto esteja oficialmente fechado.

A avaliação técnica é realizada pelos gerentes de programa da VDTEC, que convocam,

por vezes, especialistas externos para fazerem parte do comitê de avaliação técnica dos

projetos. A GEPRO então consolida as avaliações e identifica os pareceres para cada

projeto, inserindo no sistema de gerenciamento de projetos todas as informações

disponíveis. A partir desse resultado, o projeto pode continuar sem alterações, com

alterações ou mesmo ser interrompido. As informações técnicas do projeto são

periodicamente passadas para a ASSPO, que utiliza essas informações para o

balanceamento da carteira de projetos, conforme lógica discutida na seção anterior.

Em relação ao método de balanceamento dos projetos, oito categorias de priorização são

utilizadas para pontuação:

1. Impacto na saúde pública;

2. Alinhamento à estratégia de mercado de Bio-Manguinhos;

3. Probabilidade de sucesso técnico;

4. Nível de desenvolvimento;

5. Potencial impacto de mercado;

6. Impacto tecnológico;

7. Alinhamento à estratégia tecnológica de Bio-Manguinhos;

8. Capacidade de apropriabilidade.

Após a pontuação, o projeto é classificado de acordo com o nível de prioridade a ser

dado – quanto maior a pontuação, mais estratégico é considerado o projeto. A maior

parte das informações para pontuação são fornecidas pela GEPRO, que conduz o

processo de avaliação técnica, conforme mencionado. As informações mercadológicas

são passadas pela DINNE. Segundo Couto (2009), essas categorias de priorização são

avaliadas a partir de duas matrizes:

1. Matriz socioeconômica, onde são avaliados os aspectos relativos aos impactos

em saúde pública, alinhamento à estratégia de mercado e potencial impacto de

mercado;

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2. Matriz tecnoeconômica, onde são avaliados os aspectos relativos aos

determinantes tecnológicos quanto à probabilidade de sucesso técnico, estágio

de desenvolvimento, impacto tecnológico alinhamento à estratégia tecnológica e

capacidade de apropriabilidade.

De posse desta classificação, os gerentes de projeto identificam as necessidades dos

investimentos necessários e submetem à ASSPO, que consolida as propostas de

alocação orçamentária e submete à avaliação da Diretoria.

Além das decisões orçamentárias, decisões de encaminhamento de projetos podem ser

tomadas pela Diretoria - por exemplo, decisão por terceirizar parte das ações previstas

para serem executadas internamente, visando diminuição de prazos de projetos

considerados estratégicos.

No ano de 2008, cinco projetos de desenvolvimento foram concluídos e outros cinco

temporariamente interrompidos com a finalidade de concentrar recursos e esforços em

projetos de maior importância para a saúde pública do país.

Atualmente, apenas projetos de Desenvolvimento Tecnológico se encontram na carteira

para balanceamento - outros projetos tecnológicos, por exemplo, de transferência de

tecnologia, deverão ser incorporados adiante. Atualmente, todos os projetos de

transferência de tecnologia são considerados prioritários e, por isso, não entram no

balanceamento da carteira de projetos.

8.3.5. Pessoas e Organização

A inovação vem sendo introduzida como uma parte fundamental da filosofia e dos

valores não só em Bio-Manguinhos como também de outras Unidades da Fiocruz.

A Fiocruz realiza uma estratégia específica para o incremento dos recursos humanos

relacionados à pesquisa. Apesar de ter um quadro expressivo de pesquisadores com

títulos de mestrado e doutorado, a Fundação abre novas frentes de trabalho e identifica

novos talentos a partir de um Programa de Pesquisadores Visitantes – executado com

recursos próprios e realizado em parceria com agências de fomento à pesquisa, como o

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Conselho Nacional de Pesquisas (CNPq), a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado

de Rio de Janeiro (Faperj) e outros órgãos estaduais.

O quadro de funcionários de Bio-Manguinhos conta com cerca de 50 doutores, 111

mestres, 170 especializados e 226 com nível superior. Cerca de 1,2 milhões de reais

foram investidos em 2008 em treinamento e capacitação dos funcionários.

Mudanças significativas na estrutura organizacional ocorreram nos últimos dois anos,

visando à busca da eficiência na gestão e na operação dos processos. A Coordenação de

Gestão Tecnológica (GESTEC), por meio da Vice-Presidência de Produção e Inovação

em Saúde (VPPIS), assessora a presidência da Fiocruz nos assuntos concernentes à

proteção do patrimônio científico e tecnológico da instituição, bem como à

comercialização de resultados obtidos pelo desenvolvimento de suas atividades. Além

disso, através da coordenação do Sistema GESTEC-NIT, oferece suporte às unidades da

Fiocruz, entre elas, Bio-Manguinhos, nas áreas de propriedade intelectual e contratos de

transferência de tecnologia.

No que se refere à estrutura organizacional de Bio-Manguinhos, o desenvolvimento

tecnológico foi reestruturado em uma lógica de programas e ganhou status de Vice-

Diretoria em 2005. Até então, as atividades de desenvolvimento tecnológico estavam

estruturadas dentro de uma lógica funcional, dentro do Departamento de

Desenvolvimento Tecnológico do qual pertenciam os principais laboratórios envolvidos

com P&D.

Para Furtado et al. (2007), esta estrutura anterior de P&D foi desenhada em um

ambiente de desenvolvimento tecnológico estável, com poucas inovações ocorrendo na

formulação de vacinas, reativos e biofármacos, onde a demanda do Ministério da Saúde

não variava em termos de pedidos de novos produtos. Esse padrão de estrutura

tecnológica se caracterizada pela forte separação entre as atividades de pesquisa das

atividades de produção industrial, correspondendo às orientações do Ministério da

Saúde para a Fiocruz, no que tange à formação de estoques de imunobiológicos e não

tanto à inovação.

A estrutura funcional organizada por laboratórios se mostrou frágil diante da iniciativa

de Bio-Manguinhos em promover um processo inovativo voltado para o

desenvolvimento de novos produtos. Isto porque, na estrutura funcional, as pesquisas

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eram desenvolvidas de forma isolada, sem colaboração entre laboratórios de Bio-

Manguinhos e de laboratórios de outras unidades da Fiocruz.

As parcerias firmadas, principalmente os maiores contratos firmados com empresas

multinacionais, seriam bastante difíceis de serem negociadas e geridas, caso

prevalecesse a visão funcional por laboratórios. Além disso, as pesquisas eram

desenvolvidas sem um objetivo em comum – as pesquisas eram selecionadas e

desenvolvidas de acordo com a orientação dada pelos chefes de laboratório45, e não por

uma orientação corporativa de Bio-Manguinhos junto ao Ministério, não havendo assim

uma visão única e sistêmica dos projetos em carteira.

Quando a VDTEC foi criada em 2005, ela foi organizada em uma lógica de programas,

divididos a partir das quatro principais plataformas tecnológicas presentes no

Departamento de Desenvolvimento Tecnológico: Vacinas Bacterianas, Vacinas Virais,

Reativos e Biofármacos. Esses programas deveriam estar organizados sob uma ótica de

projetos, visando agilizar o processo de desenvolvimento tecnológico.

A já existente GEPRO foi reorientada para gerir os projetos das carteiras desses

programas, visando o direcionamento dos projetos aos produtos finais, a captação de

recursos para projetos prioritários, acompanhamento e avaliação periódica dos projetos

a partir de ferramentas gerenciais, apoio às atividades de planejamento e organização de

projetos para implantação e fornecimento de informações tendo em vista o

balanceamento dos projetos (processo conduzido pela ASSPO).

Além disso, uma estrutura que protegesse as informações e resultados da P&D

precisava também ser estruturada. A constituição de uma área que protegesse as

informações daria credibilidade à instituição para negociar contratos de transferência.

Neste contexto, foi criado o NIT-Bio, dentro da lógica contida na estrutura dos NITs

para cada unidade da Fiocruz, que tem como atribuições centrais assessorar a Diretoria

45 Não havia uma orientação formal do processo de seleção de projetos de desenvolvimento – essa

orientação dependia do nível de conhecimento que os chefes de laboratório possuíam dos programas do

Ministério da Saúde. Em geral, os chefes de laboratório conheciam bastante esses programas, e esse

conhecimento se mostrou fundamental quando a estrutura funcional deu lugar à estrutura de programas na

VDTEC.

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de Bio-Manguinhos no que se refere à propriedade intelectual e à negociação e

elaboração de contratos de natureza tecnológica.

Finalmente, conforme já mencionado na seção anterior, a entrada do desenvolvimento

tecnológico dos programas da VDTEC passam a considerar as demandas por novas

oportunidades registradas na DINNE, permitindo, assim, uma orientação mais objetiva

ao atendimento dos objetivos estratégicos de Bio-Manguinhos. A estrutura montada

para lidar com o processo de inovação de Bio-Manguinhos se assemelha a uma matriz,

conforme representado a seguir:

Diretoria

Vice-Diretoria de Desenvolvimento

Tecnológico

Programa de Vacinas Virais

Programa de Reativos para Diagnóstico

Programa de Vacinas Bacterianas

Programa de Biofármacos

Vice-Diretoriade Gestão e Mercado

Vice-Diretoriade Qualidade

Vice-Diretoriade Produção

NIT-BioGEPRO

Departamento de Relações com o

Mercado

2 3 51 4

Figura 46: Organograma de Bio-Manguinhos, destacando as principais interfaces da VDTEC

Fonte: o autor

Assim temos como principais interfaces matriciais:

1) Gestão dos projetos tecnológicos pela GEPRO, onde o gerente do projeto

pertence a um dos programas de desenvolvimento;

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2) Nas fases de testes pré-clínicos, clínicos e na realização de testes piloto, a Vice-

Diretoria de Qualidade acompanha os processos sob o ponto de vista de

atendimento de normas técnicas e laboratoriais, etc.

3) Uma vez desenvolvido, o novo produto precisa entrar em escala de produção. Na

própria etapa de desenvolvimento, o envolvimento da VPROD no que tange aos

aspectos da operação da produção é importante;

4) Busca de patentes no estágio inicial da pesquisa e negociação do processo de

desenvolvimento, quando envolve outros atores, caracterizam a interface entre o

NIT-Bio e os programas da VDTEC;

5) Novas ideias surgidas nos programas precisam ser cadastradas e tratadas como

oportunidades na DINNE. Além disso, as demandas do Ministério da Saúde

podem surgir a partir de negociações ao atendimento de demandas existentes,

onde este processo de negociação é iniciado na DINNE.

Outra estrutura matricial importante são as que ocorrem dentro da própria VDTEC.

Importante ressaltar que a estrutura original organizada por laboratórios, anterior a

2005, não foi abandonada por completo. A lógica de criação dos programas se deu a

partir da necessidade de utilizar uma estrutura mais orientada e mais ágil ao

desenvolvimento de novos produtos, sem abandonar as especializações baseadas nas

plataformas tecnológicas desenvolvidas em Bio-Manguinhos. A Figura 47 ilustra esta

lógica interna da VDTEC.

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Vice-Diretoria de Desenvolvimento

Tecnológico

Programa de Vacinas Virais

Programa de Reativos para Diagnóstico

Programa de Vacinas

Bacterianas

Programa de Biofármacos

Laboratório A

Laboratório B

Laboratório C

Laboratório D

Laboratório E

Laboratório F

Laboratório G

Laboratório H

Figura 47: Estrutura matricial interna da VDTEC

Fonte: o autor

Segundo a classificação de Clark e Fujimoto (1991), a alocação de equipes de projetos

contempla um misto entre “times peso-leve”, onde pesquisadores dos laboratórios

atendem como força de trabalho de apoio dos projetos, e a lógica dos “times peso-

pesado”, onde pesquisadores atuam única e exclusivamente ao projeto, enquanto ele

durar.

Atualmente não há um critério bem estabelecido para alocar os pesquisadores aos

projetos, a não ser pela necessidade de conhecimento que projetos considerados

estratégicos demandam. Por exemplo, no projeto de transferência de tecnologia com a

Glaxo SmithKline, há equipes dedicadas somente a este projeto.

Nos demais projetos, foi comentado nas entrevistas que há um número grande deles

para poucos pesquisadores e que grande parte desses projetos não são prioritários, o que

pode acarretar em conflito na utilização de recursos humanos nos projetos – por

exemplo, todos os pesquisadores do programa de Vacinas Bacterianas estão envolvidos

em todos os projetos deste programa, sem seguir a lógica de divisão/ alocação de

equipes de trabalho.

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Foi comentado também que esta questão não é a principal fonte de restrição de recursos

em projetos – pessoas podem ser contratadas e realocadas aos projetos, de acordo com a

necessidade. O principal problema é a utilização dos espaços físicos nos laboratórios e

dos espaços físicos comuns aos demais funcionários de Bio-Manguinhos. A solução

encontrada hoje para lidar com estes gargalos é restringir o número de projetos em

andamento, de forma a não haver necessidade de aquisição de mais capacidade em

P&D.

A convocação de pesquisadores para os projetos é feita a partir da negociação do

gerente do projeto com os chefes dos laboratórios, com a mediação feita pelo gerente de

programa. Atualmente, o RH não interfere neste processo, ou seja, o Programa de

Oportunidades Internas (POI) não contempla uma possível mediação de eventuais

conflitos a partir do fornecimento de informações relacionadas ao desenvolvimento

pessoal dos funcionários. É bastante difícil a realocação de funcionários nas funções de

Bio-Manguinhos, pois provavelmente a área de origem deste funcionário precisará ser

reposta por outro funcionário.

8.3.6. Comentários sobre a Estrutura de Inovação de Bio-Manguinhos

Segundo o framework de Goffin e Mitchell (2005), a estrutura de inovação de Bio-

Manguinhos pode ser resumida de acordo com a Figura 48:

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Estratégia de Inovação:-Inovação orientada de acordo com os produtos demandados pelo Ministério da Saúde

- Maior parte das inovações estão relacionadas a novas formulações ou novas tecnologias. Apenas um projeto atualmente, refere-se a melhoria de produto

- Estratégias tecnológicas seguem o desenvolvimento das plataformas tecnológicas- Conceito de Mapa Estratégico implantado mas não efetivamente utilizado, usando o PROQUAL,

no entanto, como instrumento para garantir desdobramento e alinhamento das ações

Seleção e Priorização de Projetos:- Atores centrais: DINNE e ASSPO

-Implantação de estrutura de seleção de oportunidades em gates periódicos de

decisão- Balanceamento da carteira de projetos sob

responsabilidade da ASSPO, apoiando a decisão da Diretoria no que tange a

alocação de recursos nos projetos, mas sem apoio a decisão “go/no go”

Implementação de Novos Produtos e Serviços:

- Ator central: Gerências de Programas da VDTEC (com GEPRO gerenciando implementação)

- Acompanhamento da GEPRO em dois níveis: avaliação do andamento físico e f inanceiro do projeto; e avaliação técnica do projeto, visando

viabilidade técnica do produto final a ser desenvolvido

Avaliação técnica é insumo para a avaliação da carteira de projetos

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Pessoas e Organização- Aumento considerável de mestres e doutores no seu quadro de funcionários

- Mudanças na estrutura de Bio-Manguinhos e na relação com Fiocruz- Estrutura matricial de P&D: misto de times “peso-leve” e “peso-pesado”

- Indicadores de desempenho: apenas no nível estratégico. No nível tático e operacional as atividades envolvidas no alcance das metas são acompanhadas

Figura 48: Estrutura de Inovação de Bio-Manguinhos, Segundo Framework de Goffin e Mitchell

(2005)

Conforme visto neste estudo de caso, pode-se perceber que o processo de inovação em

Bio-Manguinhos é determinado fundamentalmente pela necessidade de lançamento de

novos produtos, de acordo com a demanda por vacinas, reativos e biofármacos do

Ministério da Saúde.

Neste sentido, conhecer esta demanda e os programas do Ministério é fundamental para

implementar novos projetos de pesquisa e desenvolvimento – conforme visto, muitos

pesquisadores conhecem os programas do Ministério da Saúde, mas conhecer tais

programas é uma atribuição central da área Comercial, que além disso, tem como

atribuição negociar a produção e distribuição dos produtos produzidos em Bio-

Manguinhos. Logo, a proximidade de Bio-Manguinhos com o Ministério da Saúde, no

que tange ao entendimento dos seus programas e atendimento da sua demanda é um

vetor importante para o alcance dos seus objetivos estratégicos, enquanto Instituto

público criado para atender as necessidades de saúde pública.

Outro vetor importante de inovação de Bio-Manguinhos constitui nas interfaces

estabelecidas entre as áreas de Novos Negócios, Gerentes de Programa, Gerência de

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Projeto e Assessoria de Planejamento. Embora ainda em implantação, o processo de

seleção, escolha e priorização de oportunidades e propostas é o cerne da sua estrutura de

inovação.

Curiosamente, a estrutura projetada não contempla, ainda, o processo de balanceamento

e priorização no processo de seleção de novas oportunidades. Conforme visto, o

balanceamento só ocorre para projetos de Desenvolvimento Tecnológico já em fase de

implantação. Futuramente, o balanceamento deve ocorrer para todos os tipos de projetos

de novos negócios e deverá ser considerado também como critério de seleção no

momento da avaliação das oportunidades de novos projetos, verificando o impacto de

um possível novo projeto à carteira.

Finalmente, outro vetor importante no processo de inovação de Bio-Manguinhos tem

sido o estabelecimento de contratos de transferência de tecnologia, que vem agilizando

o desenvolvimento tecnológico base para novos produtos e melhoria dos produtos

existentes, e vem se mostrando como uma das principais formas de absorção de

conhecimento por parte das equipes envolvidas no projeto.

Importante considerar, pois, que esta modalidade de desenvolvimento não leva,

necessariamente, à criação e desenvolvimento de novas competências em Bio-

Manguinhos. A transferência de tecnologia, se não “bem aproveitada” pela equipe, pode

tornar o desenvolvimento de competências limitado a técnicas específicas ao produto

que está sendo desenvolvido, não possibilitando o desenvolvimento de um escopo de

competências mais amplo, que poderia ser utilizado no desenvolvimento de novas

tecnologias e produtos.

Um elemento importante, e que hoje mostra-se restritivo na estrutura de inovação de

Bio-Manguinhos é o financiamento para elaboração de pesquisas e construção de novas

instalações. Embora haja algumas iniciativas em curso relacionadas ao financiamento

por parte de órgãos externos, principalmente para construção de novos espaços físicos,

estes ainda não são suficientes para permitir um crescimento ainda maior da área de

pesquisa e desenvolvimento em Bio-Manguinhos. Mesmo assim, em seis anos, Bio-

Manguinhos conseguiu mais do que dobrar sua área construída – de 21.000 m² em 2002

para 51.000 m² em 2008.

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Ainda não houve tempo suficiente para avaliação da efetividade da estrutura de

inovação de Bio-Manguinhos – a estrutura de Vice-Diretoria organizada por Programas

é relativamente nova, e os instrumentos utilizados no desenvolvimento e avaliação de

projetos ainda se encontram em fase de ajustes para melhor implantação. Sob este

aspecto, estão em desenvolvimento várias iniciativas de estruturação da inovação na

empresa, por exemplo, a formalização e implantação de sistema de informação no

processo de avaliação de oportunidades de novos negócios; a revisão do Mapa

Estratégico e o desdobramento em critérios de avaliação de projetos relacionados ao

desenvolvimento tecnológico; e a definição e formalização do papel do NIT-Bio, bem

como sua interface com a GESTEC da Fiocruz, no que tange às questões de prospecção

patentária e gestão de projetos relacionados ao desenvolvimento tecnológico.

A seção seguinte busca apresentar a inserção do sistema de medição de desempenho da

função P&D de Bio-Manguinhos na estrutura de gestão apresentada.

8.4. Sistema de Medição de Desempenho de Bio-Manguinhos

Em relação ao sistema de medição de desempenho de Bio-Manguinhos, o Mapa

Estratégico foi o primeiro sistema a ser desenvolvido, tendo como objetivo principal a

gestão integrada e articulada de Bio-Manguinhos. Os seguintes indicadores de

desempenho foram projetados a partir do Mapa Estratégico:

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Tabela 29: Objetivos e Indicadores de Desempenho do Mapa Estratégico de Bio-Manguinhos

Objetivo do Mapa Estratégico Indicador de Desempenho do Mapa Estratégico:

1 Participar e contribuir no fortalecimento do SUS Atendimento à demanda pública

2 Contribuir para prevenção, controle e erradicação de doenças (Vacinas) Participação no mercado público nacional de vacinas

3 Contribuir para as ações do setor público de Diagnóstico laboratorial (Reativos) Participação no mercado público nacional de reativo CGLAB e PNDST/AIDS

4 Contribuir para a terapêutica de doenças com produtos de alta complexidade (Biofármacos)

Participação no mercado público nacional de biofármacos (nas plataformas tecnológicas disponíveis)

5 Preencher lacunas não atendidas pelo mercado privado e diminuir dependência externa Atendimento as lacunas do mercado público

6 Fortalecer imagem FIOCRUZ / Bio-Manguinhos Exposição Fiocruz/BM Implementação do plano de comunicação externa

7 Garantir recursos orçamentários Recursos orçamentários para investimentos

8 Aumentar geração de receita e margensReceita com exportação e mercado privado Receita com mercado público Margem de contribuição

9 Captar recursos de outras fontes Recursos captados de outras fontes

10 Otimizar gestão de recursos financeiros e patrimoniaisCusteio total com base no custo padrão/despesa totalTaxa de utilização da capacidade de produçãoDesperdícioCapacidade de execução de gastos

11 Lançar continuamente novos produtos / aperfeiçoamentos Nº de novos produtos/apresentações lançadosInvestimentos em P&D

12 Incrementar DT&I. Avanço físico dos projetos estratégicos de DT&I (interno)

13 Fomentar e fortalecer alianças tecnológicas Avanço físico das parcerias tecnológicas

14 Identificar, selecionar e gerir as transferências de tecnologia Avanço físico das transferências de tecnologiaNúmero de novas transferências de tecnologia (entrada e saída)

15 Maximizar a produtividadeAproveitamento médio da produção de vacinasAproveitamento médio da produção de biofármacosAproveitamento médio da produção de reativos

16 Superar padrões de qualidade Não-conformidades

17 Otimizar cadeia de suprimentosPrazo processamento de comprasSatisfação dos clientes internosQualificação de fornecedoresEstoque de insumos

18 Fomentar parcerias Nº de parcerias

19 Buscar excelência na gestão da demandaEntregas no prazoAcuracidade do planejamentoEntregas s/ devolução ou recolhimento

20 Aperfeiçoar o atendimento ao cliente (SAC) Atendimento ao clienteSatisfação dos clientes

21 Assegurar e implementar as melhores práticas (BPL, BPF, BPG, BPC)

Implementação de BPLCapacitação em BPFImplementação de práticas de gestão

22 Garantir biossegurança e gestão e controle ambientalNão-conformidades em biossegurançaLaboratórios certificados em biosseguranca Hiato de licenças ambientais

23 Garantir saúde e segurança da força de trabalho Taxa de freqüência de acidentesÍndice de gravidade

24 Consolidar as plataformas tecnológicas Nº Projetos por plataformas tecnológicas Nº Produtos/plataforms disponibilizados para testes variados

25 Garantir infraestrutura para desenvolvimento, produção e gestão % execução das obrasHoras de máquinas paradas

26 Desenvolver competências estratégicas Desenvolvimento de competênciasQualificação da força de trabalho

27 Melhorar motivação e comprometimento Satisfação do funcionário

28 Atrair e reter talentos Turn over

29 Melhorar comunicação interna Implementação do plano de comunicaçãoPesquisa de efetividade da comunicação interna

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Os indicadores de desempenho projetados para a avaliação dos objetivos estratégicos,

entretanto, não estão sendo efetivamente utilizados como direcionadores para tomada de

decisão. A partir de avaliação dos indicadores de desempenho presentes no Mapa

Estratégico de Bio-Manguinhos, algumas questões puderam ser identificadas:

1. Não entendimento de alguns objetivos e, consequentemente, a relação deste

objetivo estratégico com os objetivos departamentais: por exemplo, “Maximizar

Produtividade” é um objetivo típico da área industrial, mas também pode ser

afetado por outras áreas, por exemplo, pelos próprios programas da VDTEC no

que tange à utilização de laboratórios e pelos laboratórios de controle de

qualidade;

2. Vice-Diretoria de Qualidade ficou “inexpressiva” no Mapa Estratégico, o que

não representa a realidade: nos objetivos de processos, é clara a distribuição de

objetivos entre as Vices de Desenvolvimento Tecnológico e de Produção, e a

Vice de Gestão, em especial, o Departamento de Relações com o Mercado. Não

está explicita a participação da VQUAL no Mapa, a não ser pelas questões afetas

às melhores práticas laboratoriais, na perspectiva de Aprendizado e

Crescimento;

3. Nome dos objetivos, por vezes, vagos e sem orientação estratégica, como

“Fomentar Parcerias”, “Buscar Excelência na Gestão da Demanda”;

4. Não incorporação às práticas de gestão da organização pelas Vice-Diretorias,

consequentemente, tornou-se uma ferramenta “encastelada” na Diretoria e na

ASSPO;

5. Número muito grande de indicadores desconectados, onde a relação causal não

se apresenta de forma precisa;

6. Ausência de identidade dos indicadores, como por exemplo, responsabilidades,

periodicidade das medições, objetivos da medição, ações corretivas e avaliação

do impacto de tais ações, etc.

7. Finalmente, desta lista de indicadores, algumas formas de medição são pouco

claras, por exemplo, o que significa “avanço físico” (de transferência de

tecnologia, de parcerias, etc.)?

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Três iniciativas, no sentido de suprir a ausência de um sistema de gestão por indicadores

de desempenho, vêm sendo adotadas. A primeira se encontra no nível das gerências

pertencentes às Vice-Diretorias. Algumas áreas, em especial a GEPRO e a ASSPO, vêm

utilizando indicadores de desempenho para decisões específicas relacionadas a gestão

de projetos e balanceamento da carteira de projetos, respectivamente. Por exemplo, para

apoiar a decisão GO/ NO GO dos projetos, a GEPRO lidera o processo de elaboração

do EVTE (Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica), onde fazem parte desse estudo:

1. Indicadores oriundos de pesquisa de mercado, como demanda esperada por

determinado produto (nacional e internacional), avaliação subjetiva da

concorrência, market share, dados epidemiológicos da doença a ser tratada ou

controlada;

2. Indicadores oriundos de avaliações técnicas, como avaliações subjetivas da

tecnologia e da plataforma (como adequação do produto à plataforma

tecnológica existente, conhecimentos necessários a serem adquiridos, grau de

inovação, dependência de negociação com detentores de patentes);

3. Indicadores oriundos de avaliações econômicas, como cálculo de investimentos

em infraestrutura de equipamentos, pessoas e locais de trabalho, custos com

matéria-prima, treinamentos e de pagamentos de royalties, e retornos futuros.

Além dos indicadores de avaliação técnico-comercial dos projetos, a GEPRO também

acompanha o andamento dos projetos a partir de indicadores de desempenho clássicos

de gestão de projetos, como % de andamento das atividades do projeto e % de

cumprimento do orçamento.

A ASSPO utiliza os indicadores de desempenho a partir da avaliação das oito categorias

de priorização, tal como descrito na seção “Implementação de Novos Produtos/

Serviços”. A VDTEC não possui indicadores de desempenho formalizados. As

avaliações técnicas dos projetos são bastante subjetivas e desprovidas de padrão de

medição, ou seja, cada projeto possui seus critérios próprios de avaliação.

A segunda iniciativa consiste na publicação anual dos principais indicadores de

desempenho de Bio-Manguinhos no Relatório de Atividades. Alguns desses indicadores

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são os mesmos (embora alguns com nomes diferentes) dos indicadores de desempenho

do Mapa Estratégico, conforme pode ser visualizado na Tabela 30:

Tabela 30: Indicadores de Desempenho Apresentados no Relatório Anual de Atividades

Indicadores de Desempenho

1 Demonstrativode ReceitaseDespesas

2 Total deprodutos fornecidos aoPNI/MS– em unidades

3 Total deprodutos fornecidos aoPNI/MS- %comparativopor fornecedores

4 Exportaçãodo excedente de produção de vacinas– em doses

5 Nº de ocorrênciasviaSACpor linhade produto

6 Nº de novos produtos enovas apresentações

7 Nº de projetosvoltados aproduto em andamento, por fase

8 Investimento em P&D

9 Nº de parceriastecnológicasformalizadaspor ano

10 Índicede aprovaçãodos lotes de produção de vacinase diluentes, reativosebiofármacos

11 Quadrode pessoal

12 Evoluçãodo graudequalificaçãodo quadro de pessoal

13 Índicede rotatividade

14 Investimento em treinamento ecapacitação

15 Campanhasdevacinação

16 Segurançado trabalhador – taxade frequênciade acidentese taxadegravidade

Finalmente, a terceira iniciativa, e a de maior amplitude e escopo atualmente em

funcionamento, é o Programa de Produtividade e Qualidade (PROQUAL), lançado

quase concomitante ao Mapa Estratégico na tentativa de promover o incentivo à

excelência no desempenho, trabalho em equipe e superação de metas.

O PROQUAL consiste no desdobramento dos objetivos estratégicos definidos no Mapa

Estratégico em metas que devem envolver todos os funcionários, quadro efetivo,

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terceirizados e bolsistas em efetivo exercício, e submetidos ao regime administrativo de

Bio-Manguinhos. O PROQUAL está dividido em dois módulos:

• Metas Globais - são metas organizacionais/corporativas compostas por etapas

que dependem de todas as áreas de Bio-Manguinhos. Existirão casos de metas

globais que, embora dependam de apenas algumas áreas, possuem uma grande

relevância estratégica para a Unidade, e representarão, na essência, a filosofia do

Programa que enfatiza a importância de cada um para o sucesso do grupo. As

metas globais têm peso de 85% da premiação dos funcionários;

• Metas das Áreas – são metas específicas de cada área, embora possam depender

de outras áreas para alcance do resultado. São cinco áreas que foram definidas

tendo por base a divisão em UO´s (Unidades Organizacionais) - Produção,

Desenvolvimento e Inovação Tecnológica, Qualidade, Gestão e Assessorias da

Diretoria. As metas das áreas têm peso de 15% da premiação.

As metas globais são estabelecidas de acordo com os principais objetivos estratégicos

do Mapa Estratégico de Bio-Manguinhos. Até 2007, o Mapa Estratégico e o PROQUAL

eram ferramentas de gestão diferentes, não relacionadas entre si.

Tendo em vista a não utilização do desdobramento do Mapa Estratégico nas áreas de

Bio-Manguinhos e o consequente encastelamento da ferramenta no nível da Diretoria,

optou-se por utilizar o PROQUAL para servir de desdobramento dos objetivos

estratégicos de Bio-Manguinhos, buscando assim o alinhamento das ações locais às

estratégias de Bio-Manguinhos. Por exemplo, o objetivo estratégico “Incrementar DT&

I” tem como metas globais:

1) “Caracterizar o Interferon Alfa 2b Peguilado produzido em escala de bancada”,

meta sob responsabilidade do Programa de Biofármacos;

2) “Executar e finalizar o estudo piloto NAT HIV-HCV, iniciando o estudo” meta

sob responsabilidade do Programa de Reativos para Diagnóstico;

3) “Iniciar a execução dos estudos clínicos fase II da Vacina contra Meningite B”

meta sob responsabilidade do Programa de Vacinas Bacterianas;

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4) “Iniciar a demonstração de consistência e reprodutibilidade dos lotes pilotos da

Vacina Dupla Viral” meta sob responsabilidade do Programa de Vacinas Virais.

Cada uma dessas metas globais é desdobrada em metas locais. Por exemplo, na primeira

meta do exemplo acima, a Diretoria e suas Assessorias tem como meta estabelecer uma

parceria para o projeto, além das metas específicas atribuídas ao Programa de

Biofármacos. Cada uma dessas metas específicas das áreas é desdobrada em etapas de

execução, que são acompanhadas pela GEPRO, na lógica da gestão dos projetos descrita

na seção anterior.

Além de ser uma forma de avaliação e gratificação dos funcionários por desempenho

(de acordo com o percentual da meta atingida, é pago um determinado percentual do

prêmio cheio), o PROQUAL também se mostrou uma importante ferramenta de

alinhamento estratégico pela definição das metas globais e desdobramentos destas metas

globais em locais.

Alguns comentários podem ser tecidos a partir da observação da estrutura de sistemas

de medição de desempenho de Bi-Manguinhos. Os indicadores de desempenho mais

estruturados, identificados a partir da observação do estudo de caso são os que estão

contemplados no Mapa Estratégico. Entretanto, além das considerações que limitaram o

uso do Balanced Scorecard como ferramenta de gestão estratégica apresentadas

anteriormente, cabem aqui considerações específicas aos indicadores de desempenho.

De maneira geral, os indicadores de desempenho do Mapa Estratégico atendem alguns

critérios adequados a bons sistemas de medição de desempenho, como a orientação pela

estratégia da empresa; articulação em uma lógica causal; equilíbrio em diferentes

elementos dimensionais; e abrangência, onde os eventos mais relevantes estão sendo

considerados. Por exemplo, elementos relacionados ao mercado (de vacinas, reativos e

biofármacos), às questões financeiras (receitas discriminadas por fonte e custos), ao

processo de desenvolvimento (quando se vê indicadores de acompanhamento físico e

financeiro de projetos de desenvolvimento e de transferência), ao processo produtivo, e

às questões de desenvolvimento de capacitações, parecem abordar de forma satisfatória

todo o processo de pesquisa e desenvolvimento de Bio-Manguinhos.

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Entretanto, quando se avalia o sistema de medição de desempenho, percebe-se que

existem problemas que podem ter justificado o insucesso na sua implantação.

Primeiramente, existe um número muito grande de indicadores de desempenho sobre

um mesmo nível estratégico (um total de 54 indicadores de desempenho compõe o

sistema de medição de desempenho no nível estratégico).

Outra questão remete à duplicidade presente neste sistema - por exemplo, há dois

indicadores diferentes que buscam retratar eventos bastante semelhantes: “Atendimento

à demanda pública” e “Atendimento as lacunas do mercado público”. Ambos buscam

verificar a capacidade de Bio-Manguinhos em atender a demanda pública, logo a

participação do mercado público nacional de vacinas, reativos e biofármacos já provê

essa informação.

Um terceiro item problemático desses indicadores refere-se à falta de clareza de alguns

indicadores de desempenho – por exemplo, “Desperdício” e “Capacidade de execução

de gastos” são indicadores que podem gerar dúvidas: quais os tipos de desperdícios

devem ser levantados? No desenvolvimento, na linha de produção? A “capacidade de

execução de gastos” não seria melhor avaliada pelo indicador relacionado a

planejamento orçamentário, comparando orçamento previsto e realizado?

Finalmente, como verificado com bastante frequência na Ouro Fino, refere-se aos

desníveis existentes nos indicadores, com informações agregadas sendo tratadas no

mesmo nível das informações detalhadas, como pode ser observado comparando os

indicadores financeiros de “Margem de Contribuição” e “Receita” com a questão

específica de políticas de comunicação, em “Implementação do plano de comunicação

externa”, e indicador específico de Compras “Prazo processamento de compras”.

Isso pode explicar a não utilização desses indicadores de desempenho para gestão

estratégica de Bio-Manguinhos e a adoção de indicadores de desempenho específicos

para cada função da organização - ou seja, o sistema produtivo adota seus indicadores

de desempenho, o desenvolvimento adota outro conjunto, mas esses conjuntos não se

encontram articulados entre si.

No caso de desenvolvimento tecnológico, o que ocorre hoje é o acompanhamento dos

indicadores específicos (tal como visto no nas áreas da GEPRO e ASSPO), sem a visão

integrada do Mapa Estratégico, tampouco com o desdobramento para as áreas

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envolvidas no processo de inovação, conforme originalmente previsto – exceto com as

iniciativas projetadas no PROQUAL.

O PROQUAL, por outro lado, vem se mostrando uma ferramenta importante para o

planejamento e acompanhamento das ações estratégicas, atribuindo responsabilidades às

áreas responsáveis e envolvendo as áreas de apoio em torno de objetivos em comum,

além de servir de parâmetro para o cálculo da remuneração variável dos funcionários.

Embora com atuações específicas nas diferentes Vice-Diretorias, o processo de

acompanhamento das iniciativas estratégicas de Bio-Manguinhos vem sendo adotado.

Atualmente, o Mapa Estratégico está em processo de revisão, visando ajustar seu

conteúdo de forma a superar os problemas descritos, e deverá servir de base para os

novos indicadores de desempenho estratégicos a serem implantados.

Além da revisão do Mapa Estratégico, um importante passo em direção à adoção de

indicadores de desempenho foi dado ao se implantar uma estrutura de avaliações

progressivas de novas oportunidades de negócio, na lógica dos stage-gates. Em cada

gate de decisão, novos e mais criteriosos indicadores de desempenho estão sendo

implantados (como aqueles contidos no plano de negócio) de forma que os processos se

assemelhem às avaliações contidas em diferentes etapas de desenvolvimento de

produto.

Entretanto, apenas com a visão integrada e abrangente dos indicadores de desempenho,

que articule diferentes dimensões da pesquisa e desenvolvimento, será possível criar um

efetivo sistema de gestão de desempenho em Bio-Manguinhos.

O capítulo seguinte traz a descrição do caso do CENPES que, conforme será

apresentado, possui uma estrutura de gestão da inovação implantada há mais tempo e

com sistema de medição de desempenho mais estruturado do que os casos estudados até

agora.

Ao final da apresentação dos casos, no Capítulo 10, a estrutura de indicadores de

desempenho de Bio-Manguinhos será avaliada em relação à adequação da adoção dos

Princípios de Construção de sistemas de medição de desempenho para P&D,

identificados a partir da revisão da literatura e sintetizados no Anexo 2 deste

documento. Essa avaliação será comparativa, onde se buscará verificar como os

Princípios de Construção se aplicam aos casos estudados.

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9. Estudo de Caso do CENPES O presente capítulo trata dos aspectos mais importantes relacionados à P&D praticada

no CENPES, especialmente, as questões afetas aos indicadores de desempenho

utilizados na função P&D.

Na primeira seção são apresentados aspectos gerais da organização e do setor em que

atua. Em seguida são apresentadas a estrutura organizacional do CENPES e as

atribuições de cada Gerência. Em seguida é apresentada a estrutura de inovação do

CENPES, segundo a lógica contida no framework de Goffin e Mitchell (2005).

Finalmente, a última seção apresenta o sistema de medição de desempenho utilizado no

CENPES.

9.1. Dados Gerais da Organização e do Setor em que Atua

O Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello

(doravante apenas CENPES) tem como objetivo atender às demandas tecnológicas do

sistema Petrobras, já que a tecnologia é a base para a consolidação e a expansão da

empresa no cenário nacional e internacional de energia.

O CENPES é responsável por atividades que englobam pesquisa e desenvolvimento

tecnológico, engenharia básica e assistência técnica e científica, onde tais atividades se

encontram relacionadas às atividades-fim da Petrobras, desde a exploração e produção

até a área de gás e energia.

Com quase 2.000 empregados distribuídos em uma área de 122 mil metros quadrados, o

CENPES conta com 30 unidades-piloto e 137 laboratórios que atendem aos órgãos da

Petrobras. Um dos parâmetros de excelência do corpo técnico do CENPES pode ser

comprovado pelo número de pós-graduados – o CENPES encerrou o ano de 2008 com

178 doutores e 478 mestres em seu quadro efetivo.

As tecnologias desenvolvidas no CENPES fazem da Petrobras a empresa que mais gera

patentes no Brasil e no Exterior. O número de patentes depositadas no Brasil no ano de

2007 – 59 patentes solicitadas e 22 patentes concedidas - demonstra que o CENPES é

um dos maiores centros de pesquisa aplicada do mundo. Fora do país, foram

depositados 129 pedidos e obtidas 29 patentes.

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253

Com a abertura do mercado brasileiro às empresas petrolíferas estrangeiras em agosto

de 1997, a partir da lei 9.47846, o CENPES ganhou importância fundamental na

consolidação da Petrobras como empresa internacional de energia - com regiões de

produção e exploração ou refinarias em Angola, na Nigéria, nos Estados Unidos, no

México, Bolívia, Colômbia, Argentina, Peru, Equador, Venezuela, Irã e Tanzânia, entre

outros países. A descrição cronológica dos eventos mais importantes ocorridos na

história da instituição é apresentada no Anexo 6.

Os principais produtos e serviços do CENPES prestados para a Petrobras são:

• Projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), que compreendem a pesquisa e

o desenvolvimento de novas tecnologias, incluindo inovações contínuas e

radicais;

• Projetos de Engenharia Básica (EB), que compreendem a execução de projetos

básicos dos empreendimentos da companhia. Nesses projetos básicos são

incorporadas as inovações decorrentes dos projetos de P&D relacionados às

instalações e processos industriais da companhia;

• Assistência Técnica e Científica (ATC), que compreende a execução de serviços

de conteúdo técnico-científico visando suportar tecnicamente as atividades,

operações e projetos em andamento.

Atualmente, o CENPES atua nos seguintes segmentos47:

• Tecnologias de produtos e serviços para combustíveis;

• Recuperação avançada de petróleo em campos maduros;

• Soluções tecnológicas para a preservação ambiental;

• Produção em águas profundas;

46 Dispõe sobre a política energética nacional, as atividades relativas ao monopólio do petróleo,

institui o Conselho Nacional de Política Energética e a Agência Nacional do Petróleo e dá outras

providências. Fonte: http://www6.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=124849

47 Informações tiradas do site da empresa: http://www2.petrobras.com.br/portal/tecnologia.htm

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• Transporte de petróleo e derivados;

• Fronteiras Exploratórias;

• Gás Natural;

• Energias Renováveis;

• Óleos Pesados;

• Otimização e Confiabilidade;

• Tecnologias Estratégicas de Refino;

• Modelagem de Bacias;

• Engenharia Básica;

• Mudanças Climáticas;

• Pré-sal.

A descrição pormenorizada de cada um desses segmentos encontra-se no Anexo7.

Atualmente, a estratégia de desenvolvimento tecnológico da Petrobras aponta para

quatro prioridades do CENPES: aumento da capacitação tecnológica para a produção

em águas profundas e ultraprofundas; o aumento da recuperação de petróleo das jazidas;

novas tecnologias de refino para adequar a produção de derivados tanto aos petróleos

disponíveis no país quanto às características de seu consumo; e tecnologias alternativas

para transporte de gás natural e desenvolvimento de energias renováveis.

O CENPES é o um centro com atuação restrita ao próprio sistema Petrobras, por

definição estratégica da Alta Administração da companhia. Sendo assim, o mercado de

atuação do CENPES é composto pelas diversas Áreas de Negócio da empresa, pelas

Unidades da Área de Serviço e pelas empresas subsidiárias, coligadas ou controladas do

Sistema Petrobras, sendo seus clientes as unidades organizacionais da empresa

(unidades de negócio ou serviço) e as empresas do sistema.

Não existe concorrência direta ou indireta por meio de outras organizações e sim

parcerias com universidades e institutos de pesquisas que permitem a obtenção de

soluções de pesquisa, desenvolvimento e engenharia fora do CENPES. Nas eventuais

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situações onde a Petrobras precisa adquirir tecnologias diretamente de

fornecedores/licenciadores externos, o processo é conduzido pelas Áreas de Negócio em

articulação com o CENPES. O CENPES interage com cerca de 120 fundações,

universidades e instituições de pesquisa nacionais e internacionais, vislumbrando

oportunidades de parcerias para o desenvolvimento tecnológico e incentivando a

capacitação da comunidade de C&T nas competências complementares de interesse da

Petrobras.

O planejamento estratégico do CENPES encontra-se integrado ao planejamento

estratégico da Petrobras e aos planos de negócio das áreas de negócio. Os recursos

orçamentários são providos pela Petrobras e são resultados de receita de vendas de

produtos. Dessa forma, o CENPES não administra os parâmetros clássicos da gestão

financeira, como lucro, liquidez, retorno sobre investimento, fluxo de caixa, dentre

outros.

9.2. Atribuições das Principais Diretorias do CENPES

A estrutura organizacional do CENPES consiste em uma Gerência Executiva, quatro

unidades organizacionais de apoio (staff) e sete unidades funcionais, conforme

organograma a seguir:

Gerente Executivo

Gestão Tecnológica Engenharia Básica –E&P

Engenharia Básica –AB, G&E

P&Dde Gás, Energia e Desenvolvimento

Sustentável

P&Dde Abastecimento P&Dde Produção P&Dde Exploração

Comunicação Segurança, Meio Ambiente e Saúde

Recursos Humanos Suporte Operacional

Figura 49: Organograma do CENPES.

Fonte: Documentos Internos da Empresa

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O CENPES faz parte de uma das Gerências Executivas presentes na Unidade de

Negócio da Petrobras denominada ‘Serviços’. Para melhor atender as necessidades da

Petrobrás, o CENPES é organizado por gerências de P&D que concentram os recursos

humanos e físicos específicos para desenvolver tecnologias que suportem os objetivos

de negócios dos segmentos da companhia (Energia e Desenvolvimento Sustentável,

Abastecimento, Produção e Exploração). Esta mesma divisão pode ser observada no

organograma da Petrobras, onde cada uma dessas áreas corresponde a uma unidade de

negócio. São quatro as gerências relacionadas ao P&D do CENPES:

• Gás, Energia e Desenvolvimento Sustentável - tem como objetivo apoiar a

Unidade de Negócio de Gás e Energia, no que tange ao desenvolvimento e

consolidação do negócio de gás natural de forma rentável, buscando a integração

na América do Sul e assegurando a estruturação de um sistema confiável,

flexível e competitivo de abastecimento no país; além de apoiar na atuação de

forma rentável nas atividades da indústria de óleo, gás e energia, tanto no

mercado nacional quanto no internacional;

• Abastecimento – tem como objetivo apoiar a Unidade de Negócio de

Abastecimento no que tange, basicamente, à busca por aumento da sua

capacidade de produção, de modo a atender a crescente demanda por derivados;

e pela adaptação das suas refinarias de modo a aumentar a taxa de conversão de

diferentes tipos de óleo, dentro da já existente estrutura de processamento,

eliminando, assim, a dependência da importação;

• Exploração e Produção - tem como objetivo apoiar a Unidade de Negócio de

Exploração e Produção da Petrobras, no que tange à pesquisa, localização,

identificação, desenvolvimento, produção e incorporação de reservas de óleo e

gás natural dentro do território nacional.

Há duas gerências de Engenharia Básica: uma com função específica de prover projetos

de engenharia básica para a unidade de negócio E&P e outra com função específica de

prover projetos de engenharia básica para a unidade de negócio Abastecimento e

Energia e Desenvolvimento Sustentável.

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A Gerência de Gestão Tecnológica é responsável por prover suporte e aprimorar os

processos de gestão tecnológica e gestão interna do CENPES.

A organização do trabalho do CENPES é matricial para a atividade fim e hierárquica

para os processos de apoio. A interação matricial viabiliza a gestão compartilhada dos

recursos pelos programas, áreas tecnológicas e unidades organizacionais, permitindo

maior flexibilidade e agilidade na resposta aos desafios apresentados pelos clientes.

Esses programas e áreas tecnológicas foram criados para atender as demandas dos

Comitês Tecnológicos Estratégicos (CTEs) e Comitês Tecnológicos Operacionais

(CTOs) da Petrobras, cuja lógica será apresentada na seção seguinte.

9.3. A Estrutura de Inovação do CENPES

Nesta seção serão descritos os aspectos definidores da estratégia de inovação do

CENPES e como estes aspectos norteiam os elementos contidos no framework de

Goffin e Mitchell (2005): Geração de Ideias, Priorização e Seleção de Ideias,

Implementação e Estrutura de Inovação.

9.3.1. Estratégia de Inovação

Conforme visto nas seções anteriores, o CENPES mantém uma estrutura de pesquisa e

desenvolvimento em diferentes áreas de atuação, visando o atendimento da demanda

das Áreas de Negócios da Petrobras. As definições de missão, visão e valores explica

esta orientação:

Tabela 31: Declaração de Visão, Missão e Valores do CENPES

Fonte: Documentos Internos do CENPES

Visão Ser o símbolo de excelência em tecnologia na indústria do petróleo e na

geração de energia.

Missão Prover e antecipar soluções tecnológicas com visão de inovação e

sustentabilidade que suportem o Sistema Petrobras

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Valores

- Valorização dos principais públicos de interesse: acionistas, clientes, empregados, sociedade, governo, parceiros, fornecedores e comunidades em que a Companhia atua;

- Excelência e liderança em questões de saúde e segurança e preservação do meio ambiente;

- Espírito competitivo inovador com foco na diferenciação em serviços e competência tecnológica;

- Foco na obtenção de resultados de excelência;

- Espírito empreendedor e de superar desafios.

Alinhado ao Planejamento Estratégico do Sistema Petrobras e aos Planos de Negócio

das Áreas de Negócio, e tendo como referencial as tendências e cenários tecnológicos, o

processo de formulação das estratégias visa alimentar o Direcionamento Estratégico do

CENPES e inclui, na sua vertente tecnológica, o processo de formulação das diretrizes

de gestão do Sistema Tecnológico Petrobras.

A formulação das estratégias inicia-se com estudos sobre os ambientes internos e

externos e suas tendências, que são discutidos em diversos ambientes, definidos por

meio de uma estrutura composta por comitês em dois níveis: estratégico e operacional.

O primeiro nível corresponde aos Comitês Tecnológicos Estratégicos (os CTEs),

coordenados pelo Gerente Executivo do CENPES e compostos por Gerentes Executivos

das principais Áreas de Negócio da Petrobras, e têm por finalidade desdobrar o

Planejamento Estratégico da Petrobras e os Planos de Negócio dos clientes em diretrizes

tecnológicas e de gestão tecnológica. Por intermédio do CTE os clientes autorizam ao

CENPES um quantitativo de orçamento para dispêndio em projetos de P&D.

Os resultados dos CTEs são desdobrados para os Comitês Tecnológicos Operacionais

(os CTOs), em uma carteira de projetos priorizados. Os CTOs são coordenados pelo

CENPES e formados por gerentes e técnicos do CENPES e das Áreas de Negócio, e

têm a finalidade de propor e avaliar os projetos necessários para atender às diretrizes

tecnológicas definidas nos CTEs.

Esse processo foi, por decisão da Diretoria Executiva da Petrobras, aprimorado com a

criação do Comitê de Tecnologia Petrobras (CTP), também coordenado pelo Gerente

Executivo do CENPES, e que conta com a participação de Gerentes Executivos das

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áreas de Negócio, Serviço e Corporativas, com a finalidade de definir as diretrizes

tecnológicas e de gestão da tecnologia. Além desse processo, a busca de oportunidades

também se dá através de reuniões periódicas e de visitas feitas pelo CENPES aos seus

clientes.

A Figura 50 sintetiza a lógica contida nesses comitês:

Benefícios econômicos, sociais e ambientais pelo uso da tecnologia

Plano Estratégico da Petrobras

Planos de Negócio

Políticas GovernamentaisNormas e Regulamentações

• Diretrizes Tecnológicas• Diretrizes de Gestão

• Critérios econômicos, sociais e ambientais

Prospecção da Tecnologia• Cenários• Tendências• Sinais de Mudança• Redes de Inteligência de Tecnologia e

Mercado

Tendências do Ambiente de Negócios

Carteiras balanceadas• P&D radical• P&D incremental

Tecnologias sustentáveis

GERENCIAMENTO DAS CARTEIRAS DE PROJETOS DE P&D

CTO

INCORPORAÇÃO DAS TECNOLOGIAS AOS PROCESSOS PRODUTIVOS

Ciclos de Aprendizagem

E&P Abaste-cimento

Gás &Energia

CTE

CTP

Figura 50: Sistema Tecnológico da Petrobras.

Fonte: Documentos Internos do CENPES

O CENPES ainda possui um Comitê Interno de Gestão (o COMIN), que é formado pelo

Gerente Executivo e todos os Gerentes das Unidades Organizacionais do CENPES. As

deliberações do COMIN são desdobradas através das reuniões semanais das Gerências.

No COMIN é identificada a pertinência dos sinais de mudanças, avaliada sua coerência

com os objetivos estratégicos atuais e as estratégias de negócio, e revisados ou

formulados novos Objetivos Estratégicos, com base nos conceitos do Mapa Estratégico.

Por meio das reuniões semanais das Gerências com seus subordinados, o COMIN

mostra o caminho a ser seguido para a consecução de seus objetivos e a busca da

excelência e, em função da complexidade, promove workshops de forma que o quadro

gerencial analise e contribua na formulação das estratégias para o período escolhido.

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No COMIN também são considerados:

• Plano Plurianual de Atividades (PPA) do Governo Federal, no que tange às

ações de P&D no setor de petróleo e gás natural;

• Diretrizes tecnológicas e de gestão da tecnologia, oriundas do CTP e CTE,

traduzindo os Planos de Negócio das Áreas de Negócio e Unidades de Negócio;

• Plano de Negócios da Área de Serviços;

• Diretrizes corporativas, contendo, dentre outras, orientações de RH, SMS,

orçamento e normas de engenharia.

Adicionalmente são estabelecidos subcomitês e grupos de trabalho para auxiliar na

gestão de temas específicos. Os subcomitês são normalmente formados por gerentes e

têm autonomia para analisar e propor soluções sobre assuntos estabelecidos pelo

COMIN. Os grupos de trabalho são normalmente formados por técnicos e especialistas

das áreas do CENPES, envolvidos com temas específicos - por exemplo, Comitês

Tecnológicos Estratégicos de E&P (COMEP), Comitês Tecnológicos de Abastecimento

(COMAB), Comitês Tecnológicos de Gás e Energia (COMEG) e Comitê de Gestão de

SMS.

A síntese do direcionamento estratégico do CENPES é traduzida em objetivos

estratégicos a partir da metodologia do Balanced Scorecard. Por meio do Mapa

Estratégico, a estratégia do CENPES contempla um conjunto de objetivos relacionados

em uma lógica causal, conforme pode ser visualizado na Figura 51.

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Figura 51: Mapa Estratégico do CENPES.

Fonte: Documentos Internos do CENPES

Em reunião do COMIN, são negociadas as contribuições de cada Gerência que, “em

cascata”, negocia com seus gerentes para que cada área conheça e identifique sua

contribuição no Mapa Estratégico.

As iniciativas estratégicas (representadas no Mapa Estratégico por triângulos) têm como

responsável um Gerente da Unidade do CENPES ou o Gerente Executivo, e visam

cobrir lacunas entre a situação atual e o alcance da estratégia desejada. Para cada

iniciativa estratégica é formado um grupo de trabalho composto por gerentes e técnicos

representantes das áreas envolvidas. Este grupo é responsável por desdobrá-las em um

conjunto de etapas que contém a descrição detalhada das tarefas, responsáveis, prazos e

recursos necessários ao seu cumprimento. As atribuições constam do Sistema de

Gerenciamento de Desempenho (GD) dos responsáveis por executá-las. O COMIN

acompanha a implementação de cada uma das iniciativas nas reuniões de Análise

Crítica do Desempenho Global.

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O Mapa Estratégico do CENPES é desdobrado em um Mapa Estratégico específico para

representar a estratégia da sua função tecnológica, conforme pode ser visualizado na

Figura 52.

Figura 52: Mapa Estratégico da Função Tecnológica do CENPES.

Fonte: Documentos Internos do CENPES

Trata-se de um mapa igual ao mapa estratégico do CENPES, contendo apenas os

objetivos que estão sob responsabilidade direta da função tecnológica, com indicadores

de desempenho específicos relacionados ao desenvolvimento tecnológico. Esses

indicadores serão discutidos adiante na seção “Sistemas de Medição de Desempenho”.

A estrutura geral de inovação do CENPES é inteiramente orientada pelas demandas das

Unidades de Negócio da Petrobras, conforme já destacado, o que não significa que

algumas pesquisas são autorizadas sem estarem diretamente associadas a uma demanda

específica – o que faz o sistema de inovação “oscilar” entre a demanda definida e a

oferta pesquisa básica conduzida. Seria uma estrutura de P&D semelhante à terceira

geração, de acordo com a classificação encontrada em Rothwell (1994).

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Em relação ao padrão de inovação realizado pelo CENPES, dos 830 projetos atualmente

em andamento, cerca de 40% dos projetos existentes hoje são orientados para melhoria

de produtos existentes, onde tais melhorias foram demandadas pelas Unidades de

Negócio da Petrobras. Diante deste padrão de inovação, as iniciativas estratégicas são

orientadas de forma mais equilibrada entre curto, médio e longo prazo

9.3.2. Geração de Ideias

O CENPES gerencia atualmente cerca de 500 projetos de pesquisa com a participação

direta de, aproximadamente, 80 instituições de pesquisa e Universidades. Neste sentido,

várias redes de compartilhamento de conhecimento são suportadas formalmente,

algumas envolvendo técnicos de universidades e instituições brasileiras, como pode ser

observada a formação dos Centros de Excelência e das Redes de Inteligência

Tecnológica (RITs). Essas redes são compostas por especialistas do CENPES e da

Petrobras, e atuam sob demanda dos CTEs.

O Ambiente colaborativo para as RITs disponibiliza ambientes seguros de colaboração

on-line como suporte ao trabalho das redes. Para tal, foi desenvolvida a aplicação RIT

On-line que se configura numa ferramenta que favorece a monitoração de novos

desenvolvimentos tecnológicos e atividades da concorrência, o suporte aos processos de

decisão e planejamento estratégico, além de promover a integração e a disseminação do

conhecimento tecnológico entre as distintas áreas da cadeia produtiva. Atualmente são

15 redes suportadas pelo ambiente RIT On-line.

O CENPES atua buscando o estabelecimento de parcerias com instituições de ensino e

pesquisa, fornecedores de bens e serviço de elevado conteúdo tecnológico e com

empresas de Engenharia, no Brasil e no exterior, de modo a garantir a adequada

complementaridade às suas capacidades internas.

No que concerne à proteção legal dos ativos de domínio tecnológico, a Gerência de

Informação Técnica e Propriedade Intelectual (ITPI) promove regularmente palestras

para conscientização sobre a importância da preservação dos ativos da Petrobras, bem

como da necessidade de registro das invenções.

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Essa conscientização ganhou força a partir da criação do Prêmio Inventor, concedido

àqueles que tenham tido sua invenção depositada no INPI (Instituto Nacional de

Propriedade Intelectual). Foi instituído um comitê, denominado Grupo de Trabalho de

Licenciamento de Tecnologias, que se reúne entre 3 a 4 vezes por ano para avaliar a

importância das inovações. Avalia-se primeiro se a inovação é passível de ser

licenciada. Aquelas que representam uma inegável vantagem competitiva para a

empresa e, portanto, não devem ser disponibilizadas aos concorrentes são classificadas

como “A”. No outro extremo situam-se aquelas que poderiam ser repassadas para

terceiros, para desenvolvimento de fornecedores ou eventualmente comercialização por

intermédio de royalties ou pelo interesse de que o produto usado na invenção seja

vendido pela Petrobras. Na outra dimensão avalia-se o valor do Prêmio Inventor a ser

concedido à equipe autora da inovação. A análise do valor do Prêmio é feita

considerando-se o impacto daquela invenção nos negócios da empresa – são

considerados fatores tais como grau de inovação, abrangência da aplicação (se em

apenas uma unidade da empresa ou em diversas), impactos no meio ambiente e

visibilidade dada à empresa pelo fato de a mesma deter aquela tecnologia específica.

Após a análise, as patentes são elaboradas por uma equipe interna de redatores de

patentes e também por um escritório de patentes contratado para esse fim.

9.3.3. Seleção e Priorização

As ideias surgidas a partir da interação do CENPES com as redes descritas na seção

anterior e a partir da própria sugestão dos pesquisadores são cadastradas para serem

avaliadas nas reuniões do CTO.

Os principais fatores considerados no processo de seleção, planejamento e elaboração

dos projetos P&D são:

• Desafios tecnológicos da Petrobras – definidos nas reuniões dos CTE;

• Requisitos técnicos do cliente – definidos nas reuniões dos CTO, que conta com

a participação dos clientes, complementados pelas informações coletadas nas

interações entre os técnicos do CENPES e os clientes ao longo do

desenvolvimento dos projetos;

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• Relação custo/benefício e risco/recompensa – definido no plano de ação;

• Requisitos de prazo - definidos no plano de ação;

• Requisitos legais e regulamentares – definidos pela legislação aplicável,

regulamentos técnicos, práticas recomendadas, normas técnicas, padronizações,

etc.

Os projetos considerados de alto risco e alto prêmio são denominados “Blue Sky”, que

são acompanhados mais detalhadamente pelos gerentes do CENPES e pelos clientes

solicitantes em reuniões do COMIN, uma vez ao mês.

As necessidades dos clientes de P&D são identificadas e compreendidas por meio dos

CTEs e CTOs. No CTE, os clientes apresentam e discutem suas necessidades,

estabelecendo diretrizes que orientam a priorização das propostas de projeto que ocorre

nos CTOs. Os CTOs também recebem propostas de projetos vinda dos pesquisadores.

A demanda dos clientes e as propostas colocadas pelos pesquisadores são avaliadas,

selecionadas e priorizadas, de acordo com critérios, que vão desde as diretrizes

estabelecidas pelos CTE até a disponibilidade de recursos e prazos necessários à

execução dos planos de ação dos projetos.

O critério mais importante de avaliação de projetos é o de inovação. Nesse critério, os

projetos são classificados de acordo com o grau de inovação, conforme segue:

tradicional, incremental e radical. Esta classificação contribui para a priorização da

carteira de projetos dos programas e áreas tecnológicas. Projetos de desenvolvimento,

feedback operacional e integração com as áreas de pesquisa geram inovações que são

negociadas e incorporadas nos projetos de engenharia básica executadas pelo CENPES.

Os requisitos dos projetos de P&D são traduzidos a partir dos objetivos estratégicos

definidos no Planejamento Estratégico da Petrobras, dos Planos de Negócios das Áreas

de Negócios e de tendências e sinais de mudança nos cenários tecnológicos detectados

pelas Redes de Inteligência Tecnológica (as RITs).

Vale ressaltar que o CENPES não tem a incumbência de selecionar as melhores opções

de projetos de investimento para as Unidades de Negócio. Os projetos de P&D são

previamente aprovados pelos Comitês Tecnológicos Estratégicos e Operacionais (CTE e

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CTO), que são corporativos, e os projetos de investimento relativos à implantação de

empreendimentos são aprovados dependendo de seu porte (pequeno, médio ou grande)

pelo gerente executivo da UN, diretor de contato ou diretoria executiva.

Os recursos financeiros são definidos em função da carteira de projetos de pesquisa

priorizados, onde tal carteira encontra-se estabelecida pelo CTE e CTO a partir de

correlação entre estratégia e atratividade. A previsão orçamentária é feita pela

negociação entre o CENPES e as áreas de negócios que participam dos CTE e CTO.

Para os projetos de implantação de empreendimentos que requeiram investimentos, a

gestão dos recursos não é do CENPES e sim da área de negócio.

Na priorização da carteira de projetos é definido um Coordenador de Projeto

responsável pela elaboração do plano de ação detalhado. Neste plano, constam a

definição do escopo, o cronograma de execução e a previsão de recursos necessários,

que é aprovado pelo Gerente, pelo Coordenador de Programa e pelo Cliente.

Atualmente o CENPES conta com 38 grupos de projeto, que constituem sua carteira de

projetos.

9.3.4. Implementação de Novos Produtos/ Serviços

O coordenador do projeto ou do serviço técnico prestado é o interlocutor do CENPES

junto ao cliente, sendo responsável pela coordenação externa e interna. Cabe ao

coordenador, em articulação com o representante do cliente, acompanhar a execução

das tarefas planejadas, verificar se os requisitos estão sendo atendidos e agir

preventivamente para ajustar eventuais desvios de atendimento. A ferramenta de

gerenciamento dos projetos e dos serviços de assistência técnica é o SAP R/3

complementada pelo MSProject quando aplicável. Nesse sistema, os movimentos

significativos referentes ao andamento do trabalho são registrados pelo coordenador do

projeto. Da mesma forma, todos os custos relativos aos projetos e serviços são lançados

e gerenciados por meio dos sistemas de acompanhamento internos do CENPES. Assim,

os projetos são gerenciados por meio dos seguintes mecanismos:

• Planejamento / Plano de Ação – preparado por meio do sistema SAP R/3 e outro

aplicativo quando necessário; define o escopo, prazos, equipes, HH e custos

previstos;

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• Procedimentos de execução – correspondem aos procedimentos para a

elaboração das tarefas especializadas que compõem os projetos;

• Procedimentos de controle – correspondem aos mecanismos de controle tais

como: reuniões de acompanhamento, gestão das interfaces técnicas e

organizacionais, verificação do projeto, levantamento de indicadores, reuniões

de análise crítica e verificação de consistência.

O monitoramento e a análise dos projetos de P&D são feitos pelos clientes por meio de

avaliações quadrimestrais. Nesta etapa do processo, o cliente tem a possibilidade de

criticar e renegociar recursos, prazos e resultados de acordo com suas necessidades.

A previsão orçamentária de investimentos no CENPES é feita com base na negociação

entre o CENPES e as áreas de negócio, após as reuniões do CTE e CTO onde são

definidos os projetos prioritários. Esta negociação tem como objetivo o controle dos

gastos disponibilizados pelas Áreas de Negócios ao CENPES para pesquisa e

desenvolvimento, dando origem aos limites de investimentos no Plano de Dispêndios

Globais (PDG).

O detalhamento da previsão orçamentária de investimentos é feita no Plano Anual de

Negócio (PAN). Após negociações e ajustes, é divulgado para toda a Unidade, por meio

do SIG-CENPES (Sistema Informações Gerenciais), a composição orçamentária de

cada gerência e programa ou área tecnológica. O controle é feito pelos gerentes gerais

mensalmente com análises críticas bimestrais pelo COMIN.

9.3.5. Pessoas e Organização

Em relação à gestão de competências, a Petrobras define as competências-chave

fundamentais para o alcance das metas estabelecidas pelo plano estratégico. A partir

dessas competências-chave, são definidas as competências individuais que os gerentes

da Petrobras devem possuir para assegurar o alcance dos objetivos estratégicos. As

competências individuais são comportamentos, habilidades e atitudes que determinam o

potencial de um gerente para alcançar um nível de desempenho esperado e têm as

seguintes características:

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• Manifestam-se em condutas e comportamentos observáveis;

• Têm foco nas habilidades e atitudes gerenciais;

• Não se limitam apenas aos conhecimentos técnicos e tecnológicos.

Essas competências estão estabelecidas no Sistema de Gerenciamento do Líder (GDL),

no caso dos gerentes, e no Sistema de Gerenciamento de Desempenho (GD), no caso

dos coordenadores e supervisores, que serão descritos na seção seguinte.

A liderança no CENPES é exercida pela linha hierárquica, tomando-se por base os

Princípios Estratégicos (a Visão, a Missão, os Valores e Políticas) e os Objetivos

Estratégicos, visando atendimento às necessidades das partes interessadas.

Mensalmente, é realizada a reunião de Coordenação com todo o Corpo Gerencial

(RCG), onde são divulgadas as informações corporativas, compartilhados temas de

interesse comum, reforçados os valores e os comportamentos da organização.

Anualmente, é promovido um encontro com todos os gerentes de primeira linha, o

ENGEPRIL, que visa abordar os aspectos estratégicos relevantes para a gestão do

CENPES.

O Corpo Gerencial é o principal canal de comunicação com a força de trabalho,

cumprindo o duplo papel de desdobrar ações e divulgar informações para todos os

níveis da organização e coletar contribuições e demandas que retornam, pela linha

hierárquica, até o Gerente Executivo. Este canal busca a melhoria da gestão, criando

valor, disseminando e operacionalizando as diretrizes organizacionais para toda a força

de trabalho, assim como no atendimento das necessidades de todas as partes

interessadas.

A estrutura organizacional do CENPES, conforme visto na seção 9.2, foi projetada nos

mesmos moldes da estrutura presente no Sistema Petrobras. Das características mais

marcantes, pode-se destacar:

• Gerências Funcionais - de acordo com a tecnologia a ser desenvolvida e

comercializada, tal como estabelecido nas Unidades de Negócio dispostas no

organograma da Petrobras;

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269

• Atuação Matricial - por permitir que os projetos possam estar sendo realizados

por especialistas de diferentes unidades por meio da vinculação a uma área de

conhecimento tecnológico definida no processo de CTE. A organização do

trabalho do CENPES é, portanto, matricial para a atividade fim e, assim,

viabiliza a gestão compartilhada dos recursos pelos programas, áreas

tecnológicas e unidades organizacionais, permitindo maior flexibilidade e

agilidade na resposta aos desafios apresentados pelos clientes;

• Integração Estratégica com o Sistema Petrobras – onde a tecnologia é pensada,

planejada e desenvolvida a partir do alinhamento com o negócio da Companhia,

além de, ao ser criado o Comitê de Tecnologia Petrobras, dar insumo para

elaboração do Planejamento Estratégico da Petrobras. Ou seja, a definição

tecnológica define e é definida pelas diretrizes de negócio da Empresa;

• Integração com os Clientes - onde no nível estratégico os clientes do CENPES

(áreas de negócio) participam das decisões sobre as estratégias e ações a serem

desenvolvidas. No nível tático/operacional, os clientes (áreas de negócio)

participam da priorização das carteiras de projeto e avaliam o resultado das

mesmas junto com os técnicos/ gerentes do CENPES (CTO).

• Integração PD&E - por garantir a Engenharia Básica presente dentro do

CENPES, no mesmo espaço da P&D e assim criando base para que a pesquisa

possa ter o feedback da Engenharia no próprio processo de fazer a pesquisa,

além de colaborar na priorização da locação de mão de obra nos diferentes

projetos.

Os Coordenadores de Programa recorrem aos recursos da estrutura para o

desenvolvimento de programas tecnológicos, assim caracterizando a atuação horizontal

da matriz organizacional. Os Gerentes e Coordenadores de Linha são responsáveis por

projetos estratégicos nas suas respectivas áreas. Os Supervisores não são distribuídos

por todas as gerências e a sua existência atende às necessidades específicas de algumas

Unidades Organizacionais.

O dimensionamento da força de trabalho para os processos de P&D é realizado

conforme as necessidades de competências identificadas nos processos de CTE, onde as

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270

tecnologias de forte impacto no negócio da Petrobras são identificadas e aquelas onde

falta competência interna são consideradas críticas, tendo tratamento diferenciado. Para

o processo de EB o dimensionamento da força de trabalho é realizado conforme as

necessidades de competências identificadas no Comitê de Empreendimentos Petrobras.

Também ocorrem em função da primeirização, do atendimento a requisitos legais e

também analisando os indicadores de gestão da força de trabalho, tais como

absenteísmo, horas extras realizadas e necessidades de treinamento.

9.3.6. Comentários sobre a Estrutura de Inovação do CENPES

Seguindo o framework de Goffin e Mitchell (2005) a estrutura de inovação do CENPES

pode ser resumida de acordo com a Figura 53.

Estratégia de Inovação:- Inovação orientada de acordo com demanda das Unidades de Negócio da Petrobras

- Estratégias são desdobradas nos comitês (CTE e CTO) para serem avaliadas e operacionalizadas

- Estratégia tecnológica é traduzida em objetivos estratégicos que representam as principais estratégias do CENPES que, por meio da metodologia do Balanced Scorecard, desdobra-se para

a Estratégia da Função de Tecnologia.

Seleção e Priorização de Projetos:

- CTO possui papel fundamental na seleção e priorização de projetos

- CENPES não aprova projetos de investimento: os orçamentos são

aprovados pelo gerente executivo da Unidade de Negócio, diretor de contato ou

diretoria executiva

Implementação de Novos Produtos e Serviços:

-O coordenador do projeto ou do serviço é o interlocutor do CENPES junto ao cliente,

sendo responsável pela coordenação externa e interna

- Reuniões quadrimestrais são feitas entre a equipe do CENPES e os “clientes” das áreas

de negócios

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Pessoas e Organização:- Petrobras define as competências-chave fundamentais para o alcance das metas estabelecidas pelo

plano estratégico. Competências individuais são então derivadas dessas competências-chave- A organização do trabalho do CENPES é, portanto, matricial para a atividade fim e, assim, viabiliza a gestão compartilhada dos recursos pelos programas, áreas tecnológicas e unidades organizacionais,

permitindo maior flexibilidade e agilidade na resposta aos desafios apresentados pelos clientes- Indicadores de desempenho oriundos do Mapa Estratégico da Função de Tecnologia do CENPES e

acompanhados mensalmente nas reuniões do COMIN

Figura 53: Estrutura de Inovação do CENPES, segundo o Framework de Goffin e Mitchell (2005)

Fonte: o Autor

A definição da estratégia tecnológica do CENPES inicia-se com a definição da própria

estratégia tecnológica de mais longo prazo da Petrobras, a partir de determinações

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271

realizadas pelo Comitê de Tecnologia Petrobras (CTP). A partir de diretrizes gerais

traçadas no nível do sistema Petrobras, a formulação da estratégia tecnológica do

CENPES é desdobrada em dois níveis:

• Estratégico, definido nos Comitês Tecnológicos Estratégicos (CTEs) que

acontecem a cada dois anos e têm como objetivo desdobrar o Planejamento

Estratégico da Petrobras e os Planos de Negócio dos clientes em diretrizes

tecnológicas e de gestão tecnológica – é a partir dos CTEs que os clientes

autorizam ao CENPES um quantitativo de orçamento para dispêndio em

projetos de P&D;

• Operacional, definido nos Comitês Tecnológicos Operacionais (CTOs) que

acontecem uma vez ao ano, e têm como objetivo propor e avaliar os projetos

necessários para atender às diretrizes tecnológicas definidas nos CTEs. No CTO

ocorrem avaliações técnicas e operacionais do projeto, onde são definidos planos

de ações corretivas, ajustes de orçamento e avaliação do projeto frente à carteira

que ele pertence.

A síntese do direcionamento estratégico do CENPES é traduzida em objetivos

estratégicos avaliados por indicadores de desempenho acompanhados nas reuniões do

Comitê Interno de Gestão (o COMIN). O Mapa Estratégico desdobrado da estratégia

corporativa da Petrobras serve de orientação estratégica para o CENPES, através da

lógica de relação causal entre os objetivos estratégicos e indicadores de desempenho.

Este, por sua vez, é desdobrado para o Mapa Estratégico da Função de Tecnologia.

Em relação à estrutura para geração de ideias, destaque pode ser dado ao ambiente

colaborativo para a Rede de Inteligência Tecnológica (RIT), que favorece a monitoração

de novos desenvolvimentos tecnológicos e atividades da concorrência, o suporte aos

processos de decisão e planejamento estratégico, além de promover a integração e a

disseminação do conhecimento tecnológico entre as distintas áreas da cadeia produtiva.

Em relação ao acompanhamento dos projetos, o coordenador do projeto ou do serviço é

o interlocutor do CENPES junto ao cliente, sendo responsável pela coordenação externa

e interna. Cabe ao coordenador, em articulação com o representante do cliente,

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272

acompanhar a execução das tarefas planejadas, verificar se os requisitos estão sendo

atendidos e agir preventivamente para ajustar eventuais desvios de atendimento.

Em relação à gestão de competências, a Petrobras define as competências-chave

fundamentais para o alcance das metas estabelecidas pelo plano estratégico. A partir

dessas competências-chave, são definidas as competências individuais que os gerentes

da Petrobras devem possuir para assegurar o alcance dos objetivos estratégicos.

As características centrais da estrutura organizacional do CENPES é a sua matriciação,

com Gerências Funcionais estabelecidas de acordo com a tecnologia a ser desenvolvida

e comercializada, e atuação matricial através dos gerentes de programa e de projetos,

permitindo que os projetos possam estar sendo realizados por especialistas de diferentes

unidades por meio da vinculação a uma área de conhecimento tecnológico definida no

processo de CTE. A organização do trabalho do CENPES é, portanto, matricial para a

atividade fim e, assim, viabiliza a gestão compartilhada dos recursos pelos programas,

áreas tecnológicas e unidades organizacionais, permitindo maior flexibilidade e

agilidade na resposta aos desafios apresentados pelos clientes.

A seção seguinte busca apresentar a inserção do sistema de medição de desempenho da

função P&D do CENPES na estrutura de gestão apresentada.

9.4. Sistemas de Medição de Desempenho do CENPES

No CENPES há dois sistemas de medição de desempenho implantados:

• O acompanhamento do desempenho de pessoas, que contempla avaliação de

líderes e gerentes, visando, sobretudo o desenvolvimento de recursos humanos e

norteando a remuneração variável;

• O sistema de medição de desempenho que permite avaliação e tomada de

decisão sobre as iniciativas estratégicas em curso no CENPES, baseado no

desdobramento do Mapa Estratégico do CENPES para a sua função tecnológica.

A avaliação dos líderes com relação às competências é realizada dentro do processo

corporativo de Sistema de Gerenciamento dos Líderes (GDL), por meio de metodologia

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273

de avaliação 360º, no qual as competências individuais são avaliadas pelo gerente

imediato, pelos pares, pelos clientes internos e por seus gerenciados. A partir das

lacunas de competências identificadas nessa avaliação é estabelecido o Plano de

Desenvolvimento do Líder (PDL), por meio de um processo de negociação e

acompanhamento, constituindo-se num acordo de desenvolvimento de competências a

ser estabelecido pelo gerente com seu superior imediato para um período de 12 meses.

No caso dos coordenadores e supervisores, essa avaliação é feita através do processo

corporativo de Sistema de Gerenciamento de Desempenho (GD) em três etapas:

• Planejamento: momento em que as metas das Unidades são desdobradas para

empregados e equipes, considerando-se os desafios profissionais e a cultura pela

busca da excelência. Os empregados negociam com seus gerentes imediatos as

tarefas e recursos necessários para o alcance de suas metas atreladas ao

Planejamento Estratégico da área, e estabelecem os níveis de habilidades nas

competências individuais e técnicas que servirão de base para a definição das

necessidades de treinamento;

• Acompanhamento: fase em que são realizados ajustes no processo, na qual

metas podem ser aumentadas, reduzidas, eliminadas ou acrescentadas depois de

negociadas. É ainda, a fase de desenvolvimento de competências, se for o caso;

• Avaliação Final: etapa na qual o gerente imediato avalia formalmente os

resultados de indivíduos e equipes, atribuindo notas a cada meta, para apuração

da pontuação alcançada pelo empregado, que toma conhecimento do resultado e

dá sua opinião sobre o processo.

Os resultados do GD são considerados para a concessão de todas as formas de

reconhecimento e recompensa no CENPES, sendo, pois, um balizador para o

desenvolvimento da carreira dos empregados próprios. O Comitê de Gestão de

Desempenho é estruturado e funciona conforme as orientações do RH corporativo,

cumprindo a missão de monitorar os resultados globais das unidades.

A parcela da força de trabalho composta por empregados de empresas prestadoras de

serviços é avaliada pelos gerentes das empresas contratadas. Os serviços são avaliados

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pelo fiscal do contrato, por meio do Boletim de Avaliação de Desempenho (BAD), que

balizará o processo de pagamento dos contratos.

O sistema de medição de desempenho que permite avaliação e tomada de decisão sobre

as iniciativas estratégicas em curso no CENPES baseia-se no desdobramento do Mapa

Estratégico do CENPES para a sua função tecnológica.

Os indicadores de desempenho utilizados para gerenciamento do CENPES seguem na

Tabela 32. Os indicadores que estão em negrito são indicadores específicos da função

tecnológica do CENPES.

Tabela 32: Indicadores de Desempenho do Mapa Estratégico do CENPES

# Perspectiva Objetivos do Mapa Estratégico Indicadores do Mapa Estratégico Descrição dos Indicadores

1 Índice de Satisfação do Cliente Estratégico – ISCE

Índice de clientes estratégicos satisfeitos e muito satisfeitos em relação aos serviços do CENPES, mensurado através de pesquisa de satisfação.

2 Índice de Satisfação do Cliente Tático - ISCT

Índice de clientes táticos satisfeitos e muito satisfeitos em relação aos serviços do CENPES, mensurado através de pesquisa de satisfação.

3

Clientes e Mercado

Prover e antecipar soluções tecnológicas em produtos e processos para os negócios da Petrobras.

Índice de Incorporação de Tecnologias – ITEC

Relação percentual entre o número de projetos de P&D implantados em relação ao número de projetos concluídos nos últimos cinco anos.

4 Financeira

Assegurar que o desenvolvimento tecnológico adicione valor aos resultados da companhia.

Índice do Valor Percebido – IVP Percentual de projetos implantados com alto ou muito alto grau de agregação de valor, aferido através de pesquisa de opinião.

5 Investimento em P&D na comunidade nacional de C&T – CNCT

Investimentos realizados na comunidade de C&T em cumprimento às obrigações contratuais com a ANP.

6 Investimento Externo sobre o Total - IDEXT

Relação Percentual entre o investimento realizado através de instituições externas e o total investido em P&D pela Petrobras

7

Atuar de forma sinérgica com parceiros externos no Brasil e no Exterior

Índice de Alavancagem Externa - IALEXT

Relação Percentual entre o investimento aportado por parceiros da Petrobras e o investimento realizado pela Petrobras nos projetos em parceria

8 Dominar Tecnologias Críticas para o Negócio da Compahia

Investimentos em Tecnologias Críticas - ITC

Relação percentual entre HH planejado em projetos críticos e o total de HH planejado.

9

Garantir o adequado balanceamento da carteira de P&D, assegurando os recursos necessários para pesquisas de alto risco e alta recompensa

Investimentos em Projetos de Alto Risco e Alta Recompensa - IPAR

Relação percentual entre o investimento em projetos de P&D de alto risco e alta recompensa e o total de investimentos em P&D.

10

Processos Internos

Promover o desenvolvimento de tecnologias que criem e suportem novas oportunidades e mitiguem riscos para os negócios

Índice de investimentos em tecnologias para novas oportunidades - INO

Relação percentual entre o investimento em projetos de P&D dedicados a novas oportunidades de negócios e o total de investimentos em P&D.

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11 Índice de Resposta prazo (P&D) – IRESPP-P&D

Relação percentual de marcos críticos atingidos no prazo.

12 Índice de Resposta prazo (Engenharia Básica) – IRESPP-EB

Relação percentual de marcos críticos atingidos no prazo.

13

Adequar a capacidade de resposta do Sistema Tecnológico.

Índice de Avaliação da Qualidade da Gestão – IAQG

Índice obtido através da avaliação da gestão do CENPES segundo os critérios de excelência do PNQ.

14 Realização Orçamentária (Investimento) - IRO-Inv

Relação entre o orçamento de investimento realizado e o planejado na visão fornecedor do CENPES.

15 Realização Orçamentária (Operação) - IRO-Op

Relação entre o orçamento de operações realizado e o planejado na visão fornecedor do CENPES.

16

Garantir a otimização dos recursos financeiros no CENPES e na Petrobras

Função Tecnologia -FTEC Relação entre o orçamento de investimento realizado e o planejado da função tecnologia na Petrobras.

17 Percentual de tempo perdido - PTP Percentual de horas perdidas por doença ou acidente sobre o total de horas potenciais

18 Plano de Auditoria de Gestão em SMS - PAG-SMS

Relação percentual entre o progresso da implementação das 15 diretrizes corporativas de SMS e um referencial de excelência.

19 Atestados de Saúde Ocupacional Válidos - ASO

Percentual de trabalhadores que completaram os exames médicos periódicos, com emissão do Atestado de Saúde Ocupacional, dentro do prazo estabelecido pela Norma Petrobras.

20 Taxa de Freqüência de Acidentes com Afastamento - TFCA

Acompanha a taxa de frequência de acidentados, com afastamento da força de trabalho.

21

Atingir a Excelência em Responsabilidade Social e em SMS

Atestado de Saúde Ocupacional - ASO

Atestados de Saúde Ocupacional emitidos para seus empregados

22 Desenvolvimento e Fortalecimento de Competências Estratégicas - IDCE-M (Mestres)

Relação percentual entre a quantidade de Mestres em relação ao total de empregados de nível superior do CENPES.

23 Desenvolvimento e Fortalecimento de Competências Estratégicas - IDCE-D (Doutores)

Relação percentual entre a quantidade de Doutores em relação ao total de empregados de nível superior do CENPES.

24

Atrair, desenvolver e reter competências para sustentação do desenvolvimento tecnológico

Índice de Capacitação das Competências Técnicas – ICCT

Relação entre o número de horas treinadas em competências técnicas sobre a quantidade de empregados do CENPES

25 Índice de Satisfação do Empregado - ISE

Afere o grau de satisfação dos empregados do CENPES em trabalhar na PETROBRAS.

26

Aumentar o comprometimento e a satisfação de todos os empregados do CENPES com a Companhia

Nível de Comprometimento do Empregado – NCE

Afere o grau de comprometimento dos empregados do CENPES com a Companhia.

27 Promover a ambiência voltada para inovação

Índice de Satisfação do Empregado (Inovação) – ISE-In

Afere a percepção dos empregados em relação ao processo de incentivo e gestão da inovação no CENPES

28 Índice de Responsabilidade Social - IRS

Afere o desenvolvimento da Responsabilidade Social e Ambiental no CENPES, nota obtida na pesquisa de Responsabilidade Social elaborada a partir dos índices definidos pelo Instituto Ethos

29

Aprendizado e

Crescimento

Comprometer a força de trabalho com a Segurança da Informação e a Responsabilidade Social e Ambiental Auditoria Comportamental - IAUDI Acompanha o percentual de realização das

auditorias comportamentais

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276

A cada três meses, no mínimo, ocorre uma reunião do COMIN programada

especialmente para a realização da análise crítica do desempenho global da organização.

A alta direção monitora os objetivos em função da análise crítica baseada no resultado

dos indicadores que compõem o mapa estratégico do CENPES e da Função Tecnologia.

As informações qualitativas, variáveis do ambiente externo e informações comparativas,

quando aplicáveis, são analisadas pelos membros do COMIN em reuniões de análise

crítica, analisando seus efeitos no desempenho dos indicadores, identificando as

relações de causa e efeito sobre os resultados dos indicadores estratégicos do CENPES.

A partir dessa análise são definidas ações corretivas e iniciativas estratégicas para

adequação da gestão às mudanças no ambiente.

O processo de negociação e estabelecimento de metas para os indicadores de

desempenho ocorre anualmente na sequencia da revisão dos objetivos estratégicos, sob

a coordenação da área de Gestão Tecnológica (GTEC). A GTEC elabora uma proposta

de metas com base no histórico dos resultados existentes, nos desafios estratégicos do

CENPES, nas demandas da Petrobras, seguindo orientações do COMIN. A seguir,

negocia as metas com cada gerente geral, seguindo diretrizes do gerente executivo.

Concluída a fase de negociação, e após sucessivas reuniões, as metas são submetidas à

aprovação final do COMIN e integradas ao Termo de Compromisso do CENPES com o

Diretor de Serviços.

Em relação aos indicadores de desempenho em si, algumas considerações podem ser

tecidas. Os indicadores desempenho do CENPES foram trabalhados desde 1998 e a sua

utilização enquanto instrumento de gestão pode ser considerada satisfatória em relação à

sua capacidade de apoiar a tomada de decisão, conforme colocado pelos entrevistados.

O principal indicador de desempenho do Mapa da Função de Tecnologia do CENPES é

o “Índice de Satisfação do Cliente Estratégico”, que mede a efetividade do CENPES

para o sistema Petrobras. Este índice não é quantitativo, ele é obtido a partir de uma

pesquisa de satisfação de todos os clientes que utilizam os serviços do CENPES. Outro

índice equivalente à efetividade do CENPES, mas mensurado de forma quantitativa é o

“Índice de Incorporação de Tecnologias” que mede a relação percentual entre o número

de projetos de P&D implantados em relação ao número de projetos concluídos no

intervalo de tempo de 5 anos.

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Em relação aos indicadore de desempenho financeiros, o CENPES não contempla os

indicadores mais comuns vistos na literatura (como Lucratividade, receita com projetos,

etc.), tendo em vista que o CENPES não recebe remuneração quando desenvolve

pesquisas para as unidades de negócios da Petrobras. O foco de sua gestão econômica-

financeira é:

• A elaboração de um planejamento de custos adequado;

• O gerenciamento dos projetos de investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento,

Engenharia Básica e de projetos de operações em Assistência Técnica e

Científica de forma a obter os melhores resultados na realização dos gastos;

• O acompanhamento sistemático do planejado x realizado, visando obter maior

controle dos gastos.

Sob este aspecto, os únicos indicadores de desempenho financeiros implantados no

CENPES são o “percentual de projetos implantados com alto ou muito alto grau de

agregação de valor” e “relação entre o orçamento de investimento realizado e o

planejado”.

Embora não estejam classificados como indicadores financeiros (estão classificados

como de processos internos), há vários indicadores de desempenho que medem os

diferentes investimentos em P&D:

• O investimento em P&D na comunidade nacional de C&T visa avaliar se os

investimentos previstos e regulados pela ANP estão ocorrendo;

• O investimento externo sobre o total e o índice de alavancagem externa visam

avaliar o investimento realizado através de instituições externas e o investimento

aportado por parceiros da Petrobras, respectivamente;

• O investimento em tecnologias críticas visa medir o quanto está se investindo

em tecnologias consideradas críticas para o negócio;

• Os investimentos em projetos de alto risco e alta recompensa visa medir o

quanto está se investindo em tecnolgias consideradas novas para o negócio, que

possuem elevada incerteza em relação ao sucesso de aplicações, mas que podem

trazer recompensas grandes, caso sejam bem sucedidas;

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278

• Os investimentos em tecnologias para novas oportunidades, de forma a avaliar o

nível de esforço que o CENPES vem trabalhando em relação às novas

oportunidades para o negócio.

Trata-se, pois, de indicadores de entrada do processo de P&D, a partir dos

investimentos feitos pelo CENPES em diferentes projetos. Este tipo de classificação

deixa clara a importância dada aos tipos de projeto em andamento no CENPES. Outros

indicadores considerados importantes no Mapa da Função de Tecnologia é o indicador

típico de acompanhamento de projeto, o “Índice de Resposta prazo” que mede a

Relação percentual de marcos críticos atingidos no prazo.

Finalmente, os indicadores da perspectiva de Aprendizado e Crescimento constituem-se

de “Desenvolvimento e Fortalecimento de Competências Estratégicas”, que avalia a

relação percentual entre a quantidade de mestres e doutores em relação ao total de

empregados de nível superior do CENPES. Este tipo de indicador de desempenho

permite observar a preocupação com a formação das pessoas que irão desenvolver

projetos tecnológicos – quanto maior o número de mestres e doutores no CENPES,

maior a capacidade e formação de recursos humanos.

Conforme observado, o sistema de medição de desempenho do CENPES parece ser o

mais estruturado, não só pelo alinhamento estratégico que ele proporciona, mas também

pela capacidade de orientar decisões relacionadas ao desenvolvimento tecnológico.

Importante considerar, conforme descrito na apresentação do caso, que a estrutura de

gestão da inovação do CENPES é a mais antiga dos casos estudados e, conclui-se que, a

experiência acumulada na utilização dos instrumentos de gestão parece ser fundamental

neste processo.

O capítulo seguinte traz a estrutura de indicadores de desempenho do CENPES,

avaliada em relação à adequação da adoção dos Princípios de Construção de sistemas de

medição de desempenho para P&D, identificados a partir da revisão da literatura e

sintetizados no Anexo 2 deste documento. Essa avaliação será comparativa, onde se

buscará verificar como os Princípios de Construção se aplicam aos casos estudados.

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279

10. Avaliação Comparativa dos Princípios de Construção de Sistemas de Medição de Desempenho para P&D nos Casos Estudados

Este capítulo visa apresentar os resultados da verificação da aderência dos princípios de

construção de sistemas de medição de desempenho para P&D identificados na literatura

frente aos casos estudados. Inicialmente serão apresentados como os princípios de

construção foram observados em cada um dos estudos de caso e, finalizando o capítulo,

uma avaliação comparativa da adequação dos princípios de construção será realizada.

10.1. Verificação dos Princípios de Construção na Ouro Fino

Em relação aos princípios de construção relacionados às propostas de indicadores de

desempenho para P&D, as seguintes considerações podem ser tecidas48:

P.C. 1 Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

Os únicos indicadores de desempenho financeiros identificados na Ourofino são os

indicadores de resultado geral (Faturamento e Lucratividade) no nível de cada Unidade

de Negócio, e os indicadores de custos relacionados aos projetos, quando estes projetos

são financiados por agências de fomento à pesquisa. Não foi identificado na Ouro Fino,

contudo, nenhum indicador de resultado financeiro (ROI, índice de efetividade, etc.)

que subsidie tomada de decisão no nível de projeto ou programa.

P.C. 2 Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência,

Produtividade e Efetividade da P&D

Da lista de indicadores de desempenho identificados na Ouro Fino, pode-se perceber

que alguns elementos da P&D são mais representativos do que outros. Por exemplo,

48 A numeração do texto de análise corresponde a numeração existente no Anexo 2, que sintetiza

cada um dos Princípios de Construção de Sistemas de Medição de Desempenho para P&D

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280

poucos indicadores da Diretoria Técnica foram percebidos. Por outro lado, há diversos

indicadores de desempenho da Diretoria de PD&I, principalmente no que tange às

questões relacionadas a registros e entradas em processos junto ao MAPA. Por

constituir um processo crítico, a fase de registro de produtos é avaliada em um nível

detalhe muito grande. Não foi percebida nenhuma relação dos indicadores da Ouro Fino

com as particularidades do setor em que atua, embora alguns indicadores de

desempenho sejam típicos de empresa que busca estratégia de crescimento (por

exemplo, "Crescimento % de faturamento por Diretoria Comercial" e "Nº de Produtos

Lançados ao Ano" ).

Em relação aos princípios de construção relacionados aos sistemas alinhados à lógica de

controle e avaliação da P&D, as seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 3 Controle e Avaliação

No Departamento de PD&I, os indicadores de acompanhamento de projeto são bastante

utilizados para garantir controle do cronograma físico dos diversos projetos. Esses

indicadores de desempenho são apresentados mensalmente em reuniões, onde são

avaliados os resultados, suas causas e consequências. Diante desta avaliação, são

traçados planos de ação para ajustar algum indicador fora da meta estabelecida. Como

acompanhamento de resultado no nível do departamento de PD&I, os indicadores "Nº

de Produtos Lançados ao Ano" e "Nº de Pedidos de Registro" encontram-se com

razoável grau de aderência à estratégia de crescimento e diversificação da Ouro Fino,

podendo ser considerados, assim, como indicadores de resultado da P&D, embora não

haja um planejamento estratégico formal que projete esses resultados periodicamente.

P.C. 4 Relações Causais

Os indicadores de desempenho são escolhidos ano a ano, a partir de negociação com

instâncias superiores, aderentes à estratégia da organização. Neste caso, pode-se

perceber relações causais, por exemplo, entre os indicadores de resultado do

Deparamento de PD&I (Nº de Produtos Lançados ao Ano e Nº de Pedidos de Registro)

e indicadores de resultado geral (Fatuamento, Lucratividade e Market Share). Essas

relações, entretanto, não são detalhadas e explicitadas, mas são discutidas nas reuniões

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281

de acompanhamento dos indicadores. É a lógica da causalidade que baliza as discussões

nas reuniões de acompanhamento, em que os indicadores da Diretoria Comercial

orientam os indicadores das demais Diretorias.

Em relação aos princípios de construção relacionados à visão processual da P&D, as

seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 5 Diferentes Naturezas Presentes na P&D

Como na Ouro Fino há poucas atividades relacionadas a pesquisa básica e exploratória,

pelo menos na P&D intramural, não foram identificados indicadores de desempenho

desta natureza. Tais atividades ocorrem em parcerias com Centros de Pesquisa privados

e de Universidades, não havendo indicadores de desempenho, entretanto, que busque

avaliar a qualidade e a efetividade dessas parcerias.

P.C. 6 Visão da P&D como um Processo de Negócio

O sistema de medição de desempenho concebido na Ouro Fino segue uma lógica de

departamentos, e não de processos. Neste sentido, não há indicadores que retratem

entradas, processamento, saídas e resultados, sob uma lógica processual, embora haja

indicadores tipicamente de entradas (“Estoques” e “Desenvolvimento Equipe

Comercial”) e saídas (“Produtos Lançados” e “Pilotos Executados”).

P.C. 7 Stage Gates para Desenvolvimento de Produto

Embora haja uma estrutura de processo decisório baseada na lógica dos stage gates, não

há indicadores de desempenho que orientem a avaliação de oportunidades e de

desempenho dos projetos em carteira. Esta ausência de indicadores dificulta a avaliação

de projetos e posterga a decisão de eliminar projetos pouco atrativos para o negócio.

P.C. 8 Nível de Maturidade dos Processos

Os princípios de construção referentes ao nível de maturidade dos processos de P&D e a

avaliação nos moldes de um audit não foi identificada na Ouro Fino. Entretanto, a

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282

maturidade das áreas de negócio mostrou-se um elemento primordial que explica o nível

de maturidade em relação à gestão por indicadores de desempenho, conforme pode ser

observada na Área de PD&I e na Área Técnica: a primeira área possui nível de

maturidade mais elevado em termos de gestão, possui um papel estratégico muito bem

definido desde a criação da Ouro Fino e, por isso, seu sistema de gestão por indicadores

de desempenho encontra-se mais estruturado do que o da Área Técnica.

P.C. 9 Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização

Não foi observado na Ouro Fino associação entre indicadores de processos e

indicadores relacionados a elementos externos/ internos à organização.

P.C. 10 Processos em Diferentes Camadas

Das três camadas presentes no quadro conceitual de Hauser (1996), a única que pôde ser

percebida a partir dos indicadores de desempenho observados é a terceira, relacionada

às avaliações de necessidades mais diretas e imediatas dos clientes. Embora não haja

nenhum indicador que meça satisfação do cliente ou efetividade do produto às

necessidades dos clientes, a Ouro Fino adota políticas claras de aproximação com os

diferentes segmentos de mercado e o indicador relacionado a desenvolvimento da

equipe comercial por localidade é um indicativo desta prioridade. Entretanto, não há

qualquer relação desses indicadores de desempenho com os indicadores das outras duas

camadas.

P.C. 11 Relação com Objetivos Envolvidos em Cada Processo

Não há indicadores que retratem a relação das etapas de processo com objetivos

presentes em cada etapa.

P.C. 12 Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

Não há indicadores que retratem a relação das etapas de processo com fases típicas de

um projeto de P&D.

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283

Em relação aos princípios de construção relacionados à visão multidimensional da

P&D, as seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 13 Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

Há indicadores presentes em cada um dos elementos considerados no quadro conceitual

de Cordeiro (1990). Pode-se perceber a utilização dos indicadores de controle de

projetos frente ao planejado (timming), indicadores que retratam diferentes níveis de

responsabilidade (quando se observa os indicadores gerais e setoriais), e diferenciação

dos indicadores de resultado e indicadores de eficiência (estes, basicamente

representados por indicadores de custos dos projetos, especialmente, quando se trata de

projetos financiados por agências externas).

P.C. 14 Diferentes Níveis de Criação de Valor

Não há indicadores de desempenho na Ourofino concebidos em uma lógica de

agregação de valor tecnológico em diferentes níveis, tais como os estabelecidos por

Tipping e Zeffren (1995).

P.C. 15 Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas de

Avaliação

Embora originalmente concebido na lógica do Balanced Scorecard, não houve

continuidade desta filosofia para apoiar a concepção dos indicadores de desempenho na

Ouro Fino. O único elemento do quadro conceitual do BSC que é utilizado na Ouro

Fino é a lógica do alinhamento, conforme destacado no princípio 4, buscado a partir das

discussões entre as áreas, que apresentam seus indicadores de desempenho

periodicamente. A causalidade é discutida nessas reuniões, e o alinhamento do

desempenho entre as áreas é orientado pelas metas estabelecidas na Diretoria

Comercial.

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284

P.C. 16 Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação dos

clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa

Não há indicadores de desempenho na Ouro Fino concebidos em uma lógica

multidimensional, orientada ao desenvolvimento de produto. Conforme descrito nos

princípios 1 e 2, os indicadores de desempenho financeiros e não financeiros estão

implantados em um nível gerencial acima do nível responsável pelo desenvolvimento de

produtos.

P.C. 17 Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com

Estratégia de Inovação

Não há indicadores de desempenho na Ouro Fino concebidos em uma lógica contida

neste princípio de construção, ou seja, de acordo com a estratégia de inovação.

P.C. 18 Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

Não há indicadores de desempenho na Ourofino concebidos em uma lógica que segue

modelos multidimensionais da P&D e inovação. O que pode ser identificado foi um

conjunto de indicadores de desempenho departamentais que, ocasionalmente, poderiam

estar aderidos a um ou outro elemento da estrutura multidimensional, como pode ser

observado nos indicadores de desempenho de Comercialização e Implementação de

projetos, mas não há pontuação ou medida de nível de implantação dos elementos

multidimensionais.

Em relação aos princípios de construção relacionados aos fatores de contingência da

P&D, as seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 19 Elementos Contidos nos Fatores de Contingência

Em relação aos fatores de contingência presentes no sistema de medição de desempenho

da Ouro Fino, poucas contingências foram observadas. Avaliando cada estrutura, tem-

se:

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1) Em relação aos elementos macro da organização (estratégia, fatores críticos, por

exemplo), há uma estratégia definida não formalmente, mas sim nas ações de curto e

médio prazo empreendida pelos sócios-proprietários da Ouro Fino, no que tange às

políticas de expansão em diferentes Unidades de Negócio. Todavia, não é claro o

desdobramento desta estratégia para o sistema de medição de desempenho, a não ser

a partir de indicadores de desempenho pontuais como ""% de Crescimento do

Faturamento"" e ""Nº de Produtos Lançados"";

2) Em relação aos fatores contextuais oriundos do sistema de gestão da organização,

algumas considerações podem ser tecidas:

a) A Ouro Fino tem bastante claro o objetivo a ser perseguido a partir da utilização

do sistema de medição de desempenho para P&D, que é promover uma política

de remuneração variável e garantir alinhamento e comprometimento das áreas

com os resultados da empresa;

b) Em relação ao envolvimento das pessoas, os indicadores de desempenho são

concebidos em uma lógica departamental pelos gerentes e apresentados

periodicamente em reuniões de análise crítica. Além disso, há outros indicadores

envolvidos no cálculo da remuneração variável dos funcionários;

c) A questão dos recursos disponíveis para o projeto de sistemas de medição de

desempenho para P&D não pareceu ser uma contingência importante na Ouro

Fino.

3) No que tange aos fatores contextuais presentes na P&D, algumas considerações

podem ser tecidas:

a) Os indicadores de desempenho foram pensados sob uma ótica funcional, de

acordo com a estrutura organizacional da empresa. Conforme já destacado, este

tipo de estrutura deve ser considerado com ressalvas, já que a avaliação

funcional pode comprometer uma avaliação sistêmica, caso as relações causais

entre indicadores departamentais e indicadores estratégicos sejam pouco

conhecidas;

b) Pode-se perceber a utilização dos indicadores que retratam diferentes níveis de

responsabilidade quando se observa os indicadores gerais e setoriais presentes

na organização;

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c) A contingência relacionada a etapas do processo da P&D não foi verificada na

P&D da Ouro Fino;

4) Em relação aos elementos do sistema de medição de desempenho para P&D,

algumas considerações podem ser tecidas:

a) A contingência relacionada aos atributos de desempenho, principalmente, a

quantidade e tempo puderam ser observadas, mesmo de forma não articulada

com outras contingências;

b) A natureza da medição foi uma propriedade bastante observada no quadro de

indicadores da Ouro Fino. Por exemplo, na Diretoria Comercial e de PD&I

foram identificados indicadores de desempenho avaliados a partir de critérios

bastante objetivos (faturamento, nº de produtos lançados, tempo médio de

desenvolvimento). No Departamento de PD&I, foram identificados indicadores

que, mesmo sendo quantitativos, são avaliados dentro de critérios mais

subjetivos, como % de revisão dos documentos de PD&I (leva a necessidade de

se definir o que é um documento de PD&I e o que é uma revisão) e % de ações

do CPV/ MAPA (vale a mesma necessidade em se definir o que é uma ação;

c) Outra contingência que pôde ser observada refere-se a adequação dos resultados

às metas da empresa, dentro de uma lógica de causalidade entre os indicadores

de desempenho setoriais e gerais. Essas relações não são detalhadas e

explicitadas, mas são discutidas nas reuniões de acompanhamento dos

indicadores;

d) A frequência de medição empregada para avaliação dos indicadores de

desempenho ocorre em dois momentos: a partir de reuniões de acompanhamento

mensais e uma reunião de balanço anual. Não foram observados, contudo,

elementos como perspectivas de avaliação, tempo considerado na medição e

normas para o padrão de avaliação;

e) Finalmente, a contingência relacionada a normas foi observada no caso

específico do Setor de Registro do Departamento de PD&I, já que os indicadores

relacionados a quantidade de licenças concedidas e o prazo médio para registros

nas empresas tem como objetivo a elaboração de benchmarkings com outras

empresas;

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f) As demais contingências (perspectivas de avaliação e tempo considerado na

medição) não foram verificadas no sistema de medição de desempenho da P&D

da Ouro Fino.

P.C. 20 Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto

Não foi percebido na Ouro Fino qualquer caracterização de algumas das regras

identificadas na literatura aos fatores de contingência observados.

A Tabela 33 sintetiza os resultados da avaliação. O círculo cheio representa que o

princípio foi verificado na prática; o círculo parcialmente preenchido indica que o

princípio foi verificado parcialmente; e o círculo vazio indica que o princípio não foi

verificado.

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Tabela 33: Verificação dos Princípios de Construção no Sistema de Medição de Desempenho da

P&D da Ouro Fino.

Ouro Fino

1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

3. Controle e Avaliação

4. Relações Causais

5. Diferentes Naturezas Presentes na P&D

6. Visão da P&D como um Processo de Negócio

7. Stage Gates para Desenv. Produto

8. Nível de Maturidade dos Processos

9. Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização

10. Processos em Diferentes Camadas

11. Relação com Objetivos Envolvidos em cada Processo

12. Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

13. Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

14. Diferentes Níveis de Criação de Valor

15. Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas de Avaliação

16. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação dos clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa

17. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com Estratégia de Inovação

18. Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

19. Elementos Contidos nos Fatores de Contingência

20. Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto

Princípios de Construção para Sistemas de Medição de P&D Identificados na Literatura

Fatores de Contingência

Elementos Multidimensionais

da P&D

Sistemas Alinhados à Lógica

de Controle e Avaliação

Propostas de Indicadores de Desempenho para P&D

Propostas de Sistemas de Medição de

Desempenho para P&D

Visão Processual da P&D

Conforme pode ser observado, o sistema de medição de desempenho da Ouro Fino

encontra-se em um estágio ainda pouco avançado em relação aos dois casos seguintes,

onde apenas os princípios de construção relacionados a concepção de indicadores de

desempenho (não de sistemas de medição de desempenho) e dos sistemas de medição

de desempenho sob a lógica de controle e avaliação puderam ser completamente

verificados, conforme observado nos princípios 1 a 4.

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Os princípios de construção relacionados à Visão da P&D como um Processo de

Negócio, Stage Gates para Desenvolvimento de Produtos, Processos em Diferentes

Camadas, Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto, e

Elementos contidos nos fatores de contingência foram observados apenas em alguns

aspectos pontuais no sistema de medição de desempenho da P&D da Ouro Fino, não

caracterizando, portanto, uma aderência total do caso estudado a esses princípios de

construção. Por exemplo, conforme observado, não há estrutura de indicadores por

processos, embora haja indicadores típicos de entrada e saída de processos, o que

caracteriza uma aderência parcial do princípio 6.

Os demais princípios não foram observados na Ouro Fino.

Era de se esperar que uma empresa privada, onde a função da P&D representa

importante fonte de vantagem competitiva tivesse nível de estruturação maior dos seus

indicadores de desempenho para P&D. Por outro lado, por se encontrar ainda em

estágio inicial de estruturação de seu sistema de medição de desempenho, era de se

esperar que todos os seus esforços em relação à avaliação de desempenho da P&D se

concentrasse em medidas de desempenho de resultado (tanto financeiro quanto não

financeiro), de forma a avaliar o desempenho das iniciativas estratégicas de suas

Unidades de Negócio. Em relação a esta evidência, pode-se concluir que o estágio de

maturidade da empresa em relação à implantação de ferramentas de gestão ainda é

inicial, o que explica a presença dos princípios mais fundamentais, apenas.

Entretanto, alguns princípios puderam ser observados com bastante evidência, mesmo

considerando o estágio inicial de maturidade de instrumentos de gestão da Ouro Fino.

Os princípios relacionados a processos de registro (processamento e saídas do processo)

são bastante evidentes na Ouro Fino, já que se trata de um dos principais processos

envolvidos na etapa de desenvolvimento de produtos. Outros princípios bastante

evidentes no caso da Ouro Fino foram os relacionados ao processo de desenvolvimento

de produto, já que, a exemplo do processo de registro, o processo de desenvolvimento é

também um dos mais importantes para o negócio da Ouro Fino.

O que se conclui dessas evidências é que o nível de maturidade do modelo de gestão da

organização e a criticidade dos processos de negócio (e menos outros elementos

destacados na literatura como setor, tamanho de empresa, etc.) fundamentaram a

presença desses indicadores de desempenho, o que leva a crer que tais elementos

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poderiam ser adicionados às contingências a serem consideradas em projetos de

sistemas de medição de desempenho para P&D.

Conforme pode ser observado, a Ouro Fino tem buscado articulação e balanceamento

dos seus indicadores de desempenho para a P&D a partir do equilíbrio entre indicadores

financeiros e não financeiros. Há ações em curso que buscam a melhoria do sistema de

medição de desempenho, como observado nas iniciativas do Departamento de PD&I,

que buscam indicadores de desempenho qualitativos e quantitativos para avaliar o

desempenho da P&D. Há também ações em curso que buscam estruturar práticas

voltadas para gestão por indicadores de desempenho, conforme observado nas reuniões

de acompanhamento mensal dos indicadores de desempenho departamentais, que

enfatizam a questão da atribuição das responsabilidades aos gerentes e diretores,

buscando articulação e alinhamento entre operações e estratégia a partir de relações

causa-efeito. Tais ações ainda se encontram em fases bastante iniciais, o que prejudica

uma tentativa de generalização das evidências a partir deste estudo de caso.

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291

10.2. Verificação dos Princípios de Construção em Bio-

Manguinhos

Esta seção visa observar os princípios de construção identificados na literatura frente ao

caso Bio-Manguinhos, apontando onde há aderência e onde não há aderência com a

proposta de sistema de medição de desempenho da empresa estudada.

Em relação aos princípios de construção relacionados às propostas de indicadores de

desempenho para P&D, as seguintes considerações podem ser tecidas49:

P.C. 1 Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

Os indicadores de desempenho financeiros identificados em Bio-Manguinhos são os

indicadores de disponibilidade orçamentária e de receitas oriundas do mercado privado

e mercado público. Atualmente, Bio-Manguinhos vem utilizando alguns indicadores de

desempenho financeiros (como cálculo de investimentos em infraestrutura de

equipamentos, pessoas e locais de trabalho, custos com matéria-prima, treinamentos e

de pagamentos de royalties, e retornos futuros.) como forma de cálculo do EVTE para

fins de avaliação de projetos. Não há indicadores, contudo, relacionados à plataforma

tecnológica.

P.C. 2 Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência,

Produtividade e Efetividade da P&D

Vários indicadores de desempenho identificados em Bio-Manguinhos atendem este

princípio. Por exemplo, no relatório de atividades anual, podem ser verificados

indicadores de desempenho relacionados a resultados do processo de P&D e da etapa de

desenvolvimento (respectivamente no que tange a produtos fornecidos para o PNI e

produtos e projetos em desenvolvimento) e parcerias tecnológicas desenvolvidas (de

forma a avaliar sob uma perspectiva não financeira as entradas da P&D).

49 A numeração do texto de análise corresponde a numeração existente no Anexo 2, que sintetiza

cada um dos Princípios de Construção de Sistemas de Medição de Desempenho para P&D

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Em relação aos princípios de construção relacionados aos sistemas alinhados à lógica de

controle e avaliação da P&D, as seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 3 Controle e Avaliação

A GEPRO é a área responsável por acompanhar o andamento dos projetos a partir de

indicadores de desempenho clássicos de gestão de projetos, como % de andamento das

atividades do projeto e % de cumprimento do orçamento. Em relação à avaliação dos

resultados alcançados pela P&D, a VDTEC possui indicadores de desempenho macro,

como os que podem ser observados no Relatório de Atividades Anual (por exemplo, em

“Nº de Novos Produtos/ Novas Apresentações”). As avaliações técnicas realizadas no

nível dos projetos são bastante subjetivas e desprovidas de padrão de medição, ou seja,

cada projeto possui seus critérios próprios de avaliação.

P.C. 4 Relações Causais

Os objetivos estratégicos do Mapa Estratégico são desdobrados em metas das áreas, que

por sua vez são desdobradas em sub-metas específicas para outras áreas através do

PROQUAL, onde são determinadas metas estratégicas que devem envolver todos os

funcionários, quadro efetivo, terceirizados e bolsistas em efetivo exercício, e

submetidos ao regime administrativo de Bio-Manguinhos.

Em relação aos princípios de construção relacionados à visão processual da P&D, as

seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 5 Diferentes Naturezas Presentes na P&D

Um grande esforço vem sendo empreendido por Bio-Manguinhos para separar e avaliar

as atividades consideradas pesquisas básicas das consideradas pesquisa aplicada e de

desenvolvimento. Um conjunto consideravelmente organizado de indicadores de

desempenho vem sendo tratado para avaliar o esforço com desenvolvimento, como os

observados na lógica da avaliação de projetos (principalmente a avaliação operacional

relacionada à gestão de projetos). A avaliação técnica de projetos, conforme

mencionado anteriormente, segue as mesmas proposições sugeridas por Papas e Remer

(1985), no que tange a uma avaliação mais subjetiva, baseada em indicadores

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293

qualitativos, mas não possui padrão de medição, ou seja, cada projeto possui seus

critérios próprios de avaliação. Não existem indicadores de desempenho (nem

informalmente) que busquem avaliar os resultados da pesquisa básica, um dos itens

mencionados neste princípio de construção.

P.C. 6 Visão da P&D como um Processo de Negócio

O sistema de medição de desempenho em Bio-Manguinhos foi concebido dentro da

lógica estabelecida no Balanced Scorecard, com objetivos e indicadores definidos para

a perspectiva de Processos Internos. Embora haja definição de indicadores de

desempenho na perspectiva de processos internos para toda a organização, eles não se

encontram implantados e utilizados para gestão da organização. Em relação ao caso

específico da P&D, há alguns indicadores de desempenho que avaliam entradas (por

exemplo, “investimento em P&D”), processamento (como “nº de projetos voltados a

produto em andamento, por fase”) e saídas/ resultados (“total de produtos fornecidos ao

PNI”) do seu processo, embora tais indicadores não tenham sido concebidos sob a

lógica de um processo de P&D.

P.C. 7 Stage Gates para Desenvolvimento de Produto

Para apoiar a decisão go/ no go dos projetos, a GEPRO lidera o processo de elaboração

do EVTE (Estudo de Viabilidade Técnico-Econômica), onde fazem parte desse estudo

os indicadores oriundos de pesquisa de mercado, como demanda esperada por

determinado produto (nacional e internacional), avaliação subjetiva da concorrência,

market share, dados epidemiológicos da doença a ser tratada ou controlada; os

indicadores oriundos de avaliações técnicas, como avaliações subjetivas da tecnologia e

da plataforma (como adequação do produto à plataforma tecnológica existente,

conhecimentos necessários a serem adquiridos, grau de inovação, dependência de

negociação com detentores de patentes); e indicadores oriundos de avaliações

econômicas, como cálculo de investimentos em infraestrutura de equipamentos, pessoas

e locais de trabalho, custos com matéria-prima, treinamentos e de pagamentos de

royalties, e retornos futuros. Estas avaliações são relativamente recentes e vem sendo

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implantada para avaliação de oportunidades e propostas de novos negócios em Bio-

Manguinhos.

P.C. 8 Visão Processual da P&D – Nível de Maturidade

Os princípios de construção referentes ao nível de maturidade dos processos de P&D e a

avaliação nos moldes de um audit não foram identificados em Bio-Manguinhos.

P.C. 9 Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização

Não foi observado em Bio-Manguinhos associação entre indicadores de processos e

indicadores relacionados a elementos externos/ internos à organização.

P.C. 10 Processos em Diferentes Camadas

Das três camadas presentes no quadro conceitual de Hauser (1996), a única que pôde ser

percebida a partir dos indicadores de desempenho observados em Bio-Manguinhos é a

terceira, relacionada às avaliações de necessidades mais diretas e imediatas dos clientes.

Um conjunto de indicadores que se encontra relativamente estruturado está sob

responsbailidade da Gerência Comercial, que possui uma estrutura de Serviço de

Atendimento ao Cliente (SAC) que monitora os problemas relatados pelos usuários dos

seus produtos - um importante indicador de desempenho utilizado é o Nº de ocorrências

via SAC por linha de produto. Entretanto, não há qualquer relação desses indicadores

de desempenho com os indicadores das outras duas camadas.

P.C. 11 Relação com Objetivos Envolvidos em Cada Processo

O sistema de medição de desempenho de Bio-Manguinhos não segue uma lógica

processual, que retratam um encadeamento lógico entre entradas, processamento, saídas

e resultados. O que existe em Bio-Manguinhos é a definição dos objetivos relacionados

às etapas de projetos definidos no PROQUAL, que não seguem, contudo, a lógica

processual.

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P.C. 12 Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

O sistema de medição de desempenho de Bio-Manguinhos não segue uma lógica

processual, que retratam entradas, processamento, saídas e resultados. Entretanto, os

objetivos relacionados às etapas de projetos definidos no PROQUAL seguem de forma

aproximada as fases típicas de um projeto e, portanto, há indicadores de desempenho

definidos para cada uma dessas fases. Ou seja, os indicadores de desempenho estão

relacionados a fases típicas de um projeto, embora não haja relação com os processos da

P&D.

Em relação aos princípios de construção relacionados à visão multidimensional da

P&D, as seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 13 Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

Há indicadores presentes em cada um dos elementos considerados no quadro conceitual

de Cordeiro (1990). Pode-se perceber a utilização dos indicadores de controle de

projetos frente ao planejado sob responsabilidade da GEPRO. Há indicadores que

retratam diferentes níveis de responsabilidade (quando se observa os indicadores

presentes nas metas estabelecidas no PROQUAL) e, indicadores que retratam resultado

da P&D (por exemplo, total de produtos fornecidos ao PNI/MS), e indicadores de

eficiência (estes, basicamente representados por indicadores de investimentos em

projetos de P&D e quantitativo de pesquisadores).

P.C. 14 Diferentes Níveis de Criação de Valor

Não há indicadores de desempenho em Bio-Manguinhos concebidos em uma lógica de

agregação de valor tecnológico em diferentes níveis, tais como os estabelecidos por

Tipping e Zeffren (1995).

P.C. 15 Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas de

Avaliação

O Mapa Estratégico foi o primeiro sistema a ser desenvolvido, tendo como objetivo

principal a gestão integrada e articulada de Bio-Manguinhos. Há alinhamento das metas

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296

estabelecidas a partir do desdobramento de alguns objetivos estratégicos do Mapa

Estratégico para a P&D, tal como estabelecido no PROQUAL. Entretanto, os

indicadores de desempenho projetados para a avaliação dos objetivos estratégicos não

estão sendo efetivamente utilizados como direcionador para tomada de decisão,

conforme visto da descrição do sistema de medição de desempenho de Bio-

Manguinhos.

P.C. 16 Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação dos

clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa

Não há indicadores de desempenho em Bio-Manguinhos concebidos em uma lógica

multidimensional, orientada ao desenvolvimento de produto. Conforme visto, a

avaliação de projetos e programas é feita de forma bastante subjetiva e desprovidas de

padrão de medição, ou seja, cada projeto possui seus critérios próprios de avaliação.

P.C. 17 Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com

Estratégia de Inovação

Não há indicadores de desempenho em Bio-Manguinhos concebidos em uma lógica

contida neste princípio de construção, ou seja, de acordo com a estratégia de inovação.

P.C. 18 Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

Não há indicadores de desempenho em Bio-Manguinhos concebidos em uma lógica que

segue exatamente os modelos baseados em estruturas multidimensionais. Todavia,

pôde-se perceber a presença de indicadores de desempenho de processos de gestão, no

que tange a indicadores de gestão de projetos (sob responsabilidade da GEPRO) e de

gestão de portfólio de projetos (sob responsabilidade da ASSPO). Mas os indicadores de

processos principais de P&D e de habilitadores de P&D não foram observados em Bio-

Manguinhos.

Em relação aos princípios de construção relacionados aos fatores de contingência da

P&D, as seguintes considerações podem ser feitas:

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297

P.C. 19 Elementos Contidos nos Fatores de Contingência

Em relação aos fatores de contingência presentes no sistema de medição de desempenho

de Bio-Manguinhos, algumas contingências foram observadas. Avaliando cada

estrutura, tem-se:

1) Em relação aos elementos macro da organização (estratégia, fatores críticos, por

exemplo), há uma estratégia definida formalmente e externalizada no modelo do

Mapa Estratégico. Este modelo encontra-se em fase de revisão, já que deixou de

representar importantes questões estratégicas que emergiram na organização, desde

a sua concepção até os dias atuais. Entretanto, as iniciativas e os fatores críticos de

sucesso são facilmente identificados no PROQUAL, o que indica a importância

desta contingência para o sistema de medição de desempenho para P&D;

2) Em relação aos fatores contextuais oriundos do sistema de gestão da organização,

algumas considerações podem ser tecidas:

a) Uma das contingências claramente observadas foi o objetivo do sistema de

medição de desempenho. Em Bio-Manguinhos, os objetivos do sistema de

medição de desempenho são a busca do alinhamento estratégico e a avaliação e

gratificação dos funcionários por desempenho (de acordo com o percentual da

meta atingida);

b) O grau de envolvimento das pessoas se dá, fundamentalmente, a partir do

acompanhamento das metas estabelecidas no PROQUAL, que se mostrou uma

ferramenta de avaliação e gratificação dos funcionários por desempenho;

c) A questão dos recursos disponíveis para o projeto de sistemas de medição de

desempenho para P&D não pareceu ser uma contingência importante em Bio-

Manguinhos.

3) No que tange aos fatores contextuais presentes na P&D, algumas considerações

podem ser tecidas:

a) Os indicadores de desempenho implantados seguem uma lógica diferente à

estrutura organizacional presente na P&D: enquanto a estrutura organizacional

segue uma lógica matricial, os indicadores de desempenho seguem uma lógica

semelhante a alocação de valores a centros de custo - a uma adaptação no

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298

sistema de informação, de forma a conciliar dados dos programas da P&D e

centros de custo funcionais;

b) Vem sendo implementado esforço considerável para avaliação da etapa de

desenvolvimento, no que tange às questões relacionadas à gestão de projetos.

Este esforço, contudo, não foi observado em direção à etapa de pesquisa, fase

que não contempla uma estrutura de medição de desempenho;

c) Há indicadores que retratam diferentes níveis de responsabilidade dentro da

organização (quando se observa as metas estabelecidas no PROQUAL, sob

responsabilidade de diferentes áreas e diferentes níveis hierárquicos);

d) As etapas do processo da P&D não influenciaram a escolha dos indicadores de

desempenho para P&D;

4) Em relação aos elementos do sistema de medição de desempenho para P&D,

algumas considerações podem ser tecidas:

a) As perspectivas de avaliação seguem a lógica contida no Mapa Estratégico de

Bio-Manguinhos. Embora não efetivamente utilizada hoje, o Mapa Estratégico e

seus indicadores de desempenho nas diferentes perspectivas encontram-se em

fase de revisão;

b) Atributos de desempenho relacionados, principalmente, quantidade, tempo,

qualidade e confiabilidade foram observados no sistema de medição de

desempenho de Bio-Manguinhos;

c) Outra contingência que pôde ser observada refere-se à adequação dos resultados

às metas da empresa, dentro de uma lógica de causalidade entre os indicadores

de desempenho do PROQUAL. Embora não haja indicadores de desempenho

explícitos, a relação causal entre as atividades previstas no PROQUAL sob a

responsabilidade de cada área e as metas a serem alcançadas aparecem de forma

bastante clara em Bio-Manguinhos;

d) Diferentes técnicas de mensuração de desempenho (e diferentes critérios) podem

ser observados, que vão desde avaliações objetivas, principalmente as

relacionadas aos resultados da P&D até as avaliações mais subjetivas de marcos

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299

intermediários dos projetos, que subsidiam a decisão de continuidade ou não dos

projetos;

e) As demais contingências (tempo considerado na medição, normas que norteiam

o padrão de medição, e frequência de medição) foram pouco observadas nas

características do sistema de medição de desempenho da P&D de Bio-

Manguinhos.

P.C. 20 Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto

Não foi percebido em Bio-Manguinhos qualquer caracterização de algumas das regras

identificadas na literatura aos fatores de contingência observados.

A Tabela 34 sintetiza os resultados da avaliação comparativa com a Ouro Fino. O

círculo cheio representa que o princípio foi verificado na prática; o círculo parcialmente

preenchido indica que o princípio foi verificado parcialmente; e o círculo vazio indica

que o princípio não foi verificado.

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300

Tabela 34: Verificação dos Princípios de Construção no Sistema de Medição de Desempenho da

P&D da Ouro Fino e de Bio-Manguinhos

Ouro Fino Bio-Manguinhos

1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

3. Controle e Avaliação

4. Relações Causais

5. Diferentes Naturezas Presentes na P&D

6. Visão da P&D como um Processo de Negócio

7. Stage Gates para Desenv. Produto

8. Nível de Maturidade dos Processos

9. Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização

10. Processos em Diferentes Camadas

11. Relação com Objetivos Envolvidos em cada Processo

12. Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

13. Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

14. Diferentes Níveis de Criação de Valor

15. Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas de Avaliação

16. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação dos clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa

17. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com Estratégia de Inovação

18. Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

19. Elementos Contidos nos Fatores de Contingência

20. Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto

Princípios de Construção para Sistemas de Medição de P&D Identificados na Literatura

Fatores de Contingência

Elementos Multidimensionais

da P&D

Sistemas Alinhados à Lógica

de Controle e Avaliação

Propostas de Indicadores de Desempenho para P&D

Propostas de Sistemas de Medição de

Desempenho para P&D

Visão Processual da P&D

Conforme pode ser observado, o sistema de medição de desempenho de Bio-

Manguinhos encontra-se em um estágio mais avançado do que se encontra o sistema de

medição de desempenho da Ouro Fino. Percebe-se a adequação não só dos princípios de

construção relacionados à concepção de indicadores de desempenho, mas também de

princípios que regem a concepção de sistemas de medição de desempenho para P&D,

como os baseados nas diferentes naturezas presentes nas atividades da P&D e,

principalmente, pela estrutura de avaliação de projetos a partir da lógica dos Stage

Gates e da avaliação da carteira de projetos, e das questões multidimensionais, no que

tange a Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto.

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301

Indicadores de desempenho financeiros, a exemplo da Ouro Fino, encontra-se em um

nível bastante agregado de gestão, já que é evidente a necessidade de controle financeiro

sobre os projetos executados em Bio-Manguinhos, principalmente por se tratar de uma

organização pública, sujeita a controles de ordem pública. Diferente da Ouro Fino, vem

sendo implantado em Bio-Manguinhos uma avaliação financeira mais micro, no nível

de projetos, de forma a melhorar a gestão individual dos projetos bem como facilitar a

visão integrada dos projetos em carteira.

Em Bio-Manguinhos, as diferentes avaliações de projetos (qualitativas e quantitativas)

são bastante evidentes, principalmente a partir da criação de uma estrutura de gestão de

projetos capitaneada pela GEPRO. Logo, a criação de áreas (ou até mesmo equipes)

responsáveis pela gestão e controle de alguns indicadores de desempenho para P&D

parece ser um condicionante fundamental para o sucesso da implantação de indicadores

de desempenho. Na Ouro Fino, este processo encontra-se capitaneado pelo RH, o que

leva a crer que há um viés bastante forte em relação a usabilidade dos indicadores de

desempenho, que tendem a ser aplicados muito mais para fins de remuneração variável

do que para efetiva gestão da P&D.

Relações causais foram bastante evidentes no desdobramento das iniciativas estratégicas

contidas no PROQUAL e no BSC, embora este último instrumento de gestão não esteja

sendo efetivamente utilizado para gestão por indicadores de desempenho. Outra questão

evidente a partir da observação deste caso: embora haja presença de um instrumento de

gestão, o mesmo se mostrou pouco aplicável na prática, o que leva a crer que deve haver

uma aderência (um fit) entre os instrumentos de gestão e a necessidade de gestão da

empresa. Outros instrumentos (como o PROQUAL) pareceram suprir bem a

necessidade de gestão das operações de Bio-Manguinhos, embora o alinhamento entre

as áreas de negócio não fiquem muito claras sem um mapa estratégico regendo tal

alinhamento.

Três princípios de construção foram bastante evidentes em Bio-Manguinhos: o que se

refere à lógica de controle e avaliação, às relações causais, aos stage gates para

desenvolvimento de produtos e ao princípio que combina “Efetividade/ Eficiência,

Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto”. O primeiro foi percebido no

trabalho conduzido pela GEPRO e VDTEC em controlar e avaliar, respectivamente, os

projetos. O segundo pode ser observado na lógica contida no PROQUAL. O terceiro

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302

princípio pode ser observado no processo conduzido pela DINNE e pela GEPRO, na

realização de atividades que apoiam a decisão go/ no go das oportunidades e propostas

de novos negócios. Sob este aspecto, várias ferramentas de avaliação, como EVTE e

Plano de Mercado são desenvolvidas para apoiar às decisões. Finalmente, o quarto pode

ser percebido em diferentes iniciativas: indicadores de controle de projetos na GEPRO,

as diferentes responsabilidades percebidas nas iniciativas contidas no PROQUAL e

indicadores de resultado e efeiciência na utilização dos recursos nos projetos de P&D.

Finalmente, a exemplo da Ouro Fino, algumas contingências puderam ser identificadas

no sistema de medição de desempenho da P&D de Bio-Manguinhos como o objetivo do

sistema de medição de desempenho, o grau de envolvimento das pessoas, os diferentes

níveis de responsabilidade, e as diferentes técnicas de mensuração dos indicadores de

desempenho, conforme já apresentado anteriormente.

O principal fator que pesa contra a efetividade do sistema de medição de desempenho

de Bio-Manguinhos não é a ausência de alguns princípios de construção, mas,

principalmente, a não adoção efetiva dos princípios para a construção identificados: o

que se percebe são sistemas de medição de desempenho isolados, cada um com seus

objetivos, e que apoiam diferentes critérios de avaliação. Exemplo mais evidente deste

problema é a não adoção efetiva da lógica do BSC e a utilização do PROQUAL, de

forma isolada, dos indicadores do BSC. Conforme visto na descrição do sistema de

medição de desempenho de Bio-Manguinhos, o BSC e o PROQUAL foram projetados

para trabalharem em conjunto. Mas, com a não utilização do BSC, o PROQUAL é

estruturado direto a partir das diretrizes estabelecidas no planejamento estratégico e das

suas revisões.

Entretanto, faz parte da agenda de trabalho de Bio-Manguinhos a recuperação dos

instrumentos de gestão do seu P&D e a composição articulada desses instrumentos,

como o BSC, PROQUAL, o sistema de avaliação de oportunidades e propostas, a

gestão do portfólio de projetos, vinculados à política de remuneração variável, e, ao

mesmo tempo, atendendo os elementos de contingência relacionados às questões da

P&D e às questões de gestão mais amplas no nível de Bio-Manguinhos.

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303

10.3. Verificação dos Princípios de Construção no CENPES

Esta seção visa observar os princípios de construção identificados na literatura frente ao

caso CENPES, apontando onde há aderência e onde não há aderência com a proposta de

sistema de medição de desempenho da empresa estudada.

Em relação aos princípios de construção relacionados às propostas de indicadores de

desempenho para P&D, as seguintes considerações podem ser tecidas50:

P.C. 1 Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

Embora o CENPES não administre os parâmetros clássicos da gestão financeira, alguns

indicadores financeiros foram identificados, como os que relatam percentuais de

investimentos realizados em diferentes naturezas de projeto (como os investimentos em

comunidade de C&T e instituições externas, em projetos de P&D de alto risco e alta

recompensa, em projetos de P&D dedicados a novas oportunidades de negócios). Esses

indicadores são utilizados mais para avaliação da carteira de investimentos do que para

controle de gastos com P&D ou retorno financeiro com esses gastos.

P.C. 2 Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência,

Produtividade e Efetividade da P&D

Vários indicadores de desempenho identificados no CENPES atendem este princípio.

Por exemplo, no Mapa Estratégico, podem ser verificados indicadores de desempenho

relacionados a resultados das atividades de P&D (por exemplo, Índice de Incorporação

de Tecnologias e Índice do Valor Percebido) e às entradas do processo de

desenvolvimento (por exemplo, em Investimentos em P&D nas diferentes modalidades

– na comunidade de C&T, alavancagem externa, etc.). Não foram identificados

indicadores de efetividade ou produtividade no CENPES.

50 A numeração do texto de análise corresponde a numeração existente no Anexo 2, que sintetiza

cada um dos Princípios de Construção de Sistemas de Medição de Desempenho para P&D

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304

Em relação aos princípios de construção relacionados aos sistemas alinhados à lógica de

controle e avaliação da P&D, as seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 3 Controle e Avaliação

Os projetos são acompanhados quadrimestralmente, junto aos clientes solicitantes ou

futuros usuários dos produtos destes projetos. O cliente tem a possibilidade de criticar e

renegociar recursos, prazos e resultados de acordo com suas necessidades. Há um

indicador implantado e formalizado que informa a avaliação de um projeto em relação

ao cumprimento do que foi planejado: a relação percentual de marcos críticos atingidos

no prazo. Outro indicador de destaque, aderente a esta regra, é o Percentual de projetos

implantados com alto ou muito alto grau de agregação de valor, aferido através de

pesquisa de opinião.

P.C. 4 Relações Causais

O Mapa Estratégico do CENPES (construído a partir do desdobramento do Mapa

Estratégico da Petrobras) é desdobrado em um Mapa Estratégico específico para

representar a estratégia da sua função tecnológica. Esses objetivos são prontamente

avaliados por indicadores de desempenho específicos, que retratam a participação da

Função Tecnológica na estratégia do CENPES. A cada três meses, no mínimo, ocorre

uma reunião do COMIN programada especialmente para a realização da análise crítica

do desempenho global da organização, que subsidia tanto a análise de desempenho de

mais longo prazo quanto a de curto prazo.

Em relação aos princípios de construção relacionados à visão processual da P&D, as

seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 5 Diferentes Naturezas Presentes na P&D

Os indicadores de desempenho identificados no CENPES retratam balanceamento entre

as atividades consideradas pesquisas básicas das consideradas pesquisa aplicada e de

desenvolvimento. Um conjunto consideravelmente organizado de indicadores de

desempenho vem sendo tratado para avaliar os resultados e o esforço com projetos de

desenvolvimento, conforme observado nos indicadores da função tecnológica do

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305

CENPES. A avaliação de projetos considerados básicos ou exploratórios segue o

mesmo critério adotado para avaliação de projetos de desenvolvimento. Não foram

identificados, contudo, indicadores de desempenho que retratem uma avaliação

qualitativa, baseada em critérios mais subjetivos, mas foi verificado que essas

avaliações são conduzidas nas reuniões de acompanhamento de projetos. Para projetos

de desenvolvimento, o balanceamento entre indicadores quantitativos e qualitativos é

evidente, quando se observa indicadores que retratam os diferentes tipos de

investimento, e indicadores qualitativos, como Índice do Valor Percebido.

P.C. 6 Visão da P&D como um Processo de Negócio

O sistema de medição de desempenho do CENPES foi concebido dentro da lógica

estabelecida no Balanced Scorecard, com objetivos e indicadores definidos para a

perspectiva de Processos Internos. Embora não concebido a partir da lógica processual,

há indicadores de desempenho que avaliam entradas (por exemplo, os diferentes tipos

de investimento em P&D), processamento (como se observa na efetividade no

acompanhamento dos projetos) e saídas/ resultados (conforme observado no índice de

valor percebido e satisfação do cliente).

P.C. 7 Stage Gates para Desenvolvimento de Produto

As avaliações dos projetos ocorridas nas reuniões de acompanhamento podem ser

consideradas um processo baseado na lógica dos stage gates. Resultados, prazos e

custos são avaliados junto ao cliente do projeto, e a decisão GO/ NO GO é tomada com

base nessas avaliações.

P.C. 8 Visão Processual da P&D – Nível de Maturidade

Os princípios de construção referentes ao nível de maturidade dos processos de P&D e a

avaliação nos moldes de um audit não foram identificados no CENPES

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306

P.C. 9 Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização

Não foi observado no CENPES associação entre indicadores de processos e indicadores

relacionados a elementos externos/ internos à organização.

P.C. 10 Processos em Diferentes Camadas

Das três camadas presentes no quadro conceitual de Hauser (1996), duas podem ser

percebidas a partir dos indicadores de desempenho observados no CENPES. A camada

relacionada às competências centrais pode ser, ainda que parcialmente, representada por

indicadores de desempenho que retratam a preocupação do CENPES em relação a

formação dos seus funcionários, conforme indicadores de desempenho da perspectiva

de Aprendizado e Crescimento. Trata-se, pois, de monitorar o número de mestres e

doutores e o número de horas de treinamento em competências técnicas mais

importantes para o CENPES. A camada relacionada à proximidade com clientes é a que

contempla indicadores de desempenho mais estruturados, quando se observa a avaliação

de desempenho dos produtos desenvolvidos para os clientes, conforme indicadores de

desempenho da perspectiva de Clientes e Mercado. Não se observou indicadores de

desempenho que retratassem as questões relacionadas à pesquisa básica, elemento

predominante à primeira camada do quadro conceitual de Hauser (1996).

P.C. 11 Relação com Objetivos Envolvidos em Cada Processo

Não foi observada uma lógica que relacione etapas do processo de desenvolvimento

com objetivos de cada etapa, em separado. Pode-se constatar que o sistema de medição

de desempenho do CENPES não segue uma lógica processual, que retratem entradas,

processamento, saídas e resultados, embora possam ser observados indicadores de

desempenho característicos dessas etapas.

P.C. 12 Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

Não foi observada uma lógica que relacione indicadores de desempenho específicos

para cada fase típica do desenvolvimento (desde a geração de ideias até a entrega dos

produtos gerados pelos projetos). Pode-se constatar que o sistema de medição de

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307

desempenho do CENPES não segue uma lógica processual, que retratem entradas,

processamento, saídas e resultados, embora possam ser observados indicadores de

desempenho característicos dessas etapas.

Em relação aos princípios de construção relacionados à visão multidimensional da

P&D, as seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 13 Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

Há indicadores presentes em cada um dos elementos considerados no quadro conceitual

de Cordero (1990). Pode-se perceber a utilização dos indicadores de controle de

projetos frente ao planejado nas reuniões de acompanhamento de projeto e no próprio

Mapa Estratégico do CENPES e da Função Tecnológica. Há indicadores que retratam

resultados da P&D (por exemplo, Índice de Incorporação de Tecnologias e Índice do

Valor Percebido), e indicadores de eficiência (estes, basicamente representados por

indicadores de investimentos em projetos de P&D). Entretanto, no Mapa Estratégico,

não puderam ser identificados, de forma explícita, diferentes níveis de responsabilidade

pelos indicadores de desempenho, já que esses indicadores se encontram em um mesmo

nível gerencial do CENPES (nível das Gerências Gerais). Existe, entretanto, um

desdobramento das decisões tomadas no COMIN em relação às ações que devem ser

realizadas para ajustar as metas estabelecidas no BSC. Essas ações são comunicadas

pelos Gerentes Gerais aos Gerentes Setoriais e, estes, por sua vez, comunicam as

decisões para sua equipe de trabalho, sem haver acompanhamento de indicadores de

desempenho detalhados a este nível.

P.C. 14 Diferentes Níveis de Criação de Valor

Embora não concebidos sob esta lógica, alguns indicadores de desempenho puderam ser

observados em cada um dos níveis sugeridos por Tipping et al. (1995). No Mapa

Estratégico da Função Tecnológica podem ser observados indicadores de desempenho

que avaliam desde as questões mais próximas a base da pirâmide, como treinamento e

nível de formação dos funcionários do P&D até a efetividade dos projetos, como pode

ser observado na avaliação da Incorporação de Tecnologias e na satisfação dos clientes.

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308

P.C. 15 Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas de

Avaliação

Conforme observado no caso CENPES, os conceitos do Balanced Scorecard ficam

evidentes quando observada a gestão de desempenho tecnológico a partir do Mapa da

Função Tecnológica do CENPES: o Mapa Estratégico do CENPES orienta e conforma a

estratégia da função de tecnologia, garantindo alinhamento entre os objetivos

estratégicos. As diferentes perspectivas presentes no Mapa Estratégico permitem

balancear diferentes visões de avaliação, que não sejam só as financeiras. E, finalmente,

o acompanhamento periódico dos indicadores de desempenho torna claro o circuito de

controle e aprendizado da organização, conforme preconizados nos conceitos do BSC.

P.C. 16 Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação dos

clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa

A regra específica à lógica multidimensional relacionada ao desenvolvimento de

produtos pode ser observada parcialmente no CENPES, já que a avaliação dos projetos

se encontra na mesma lógica adotada pelo Mapa Estratégico - ou seja, há, para cada

projeto, avaliações financeiras (acompanhamento de investimentos, satisfação dos

clientes, desempenho do produto, etc.), inclusive considerando diferentes níveis de

avaliação entre projetos - por exemplo, o controle dos dispêndios de projetos

considerados de alto risco e alta recompensa são mais "relaxados" dos que o controle de

projetos mais tradicionais, geralmente relacionados a melhoria de produtos. Entretanto,

não foram observadas avaliações que diferenciam desempenho do projeto do

desempenho programa.

P.C. 17 Visão Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com

Estratégia de Inovação

Não há indicadores de desempenho no CENPES concebidos em uma lógica contida

neste princípio de construção, ou seja, de acordo com a estratégia de inovação.

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309

P.C. 18 Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

A estrutura de indicadores do CENPES foi projetada sob a lógica do Balanced

Scorecard da Função de Tecnologia, desdobrada do Mapa Estratégico do CENPES.

Alguns indicadores presentes no BSC da Função Tecnológica são aderentes aos

princípios de construção baseados na multidimensionalidade dos indicadores de

desempenho (como a presença de indicadores de desempenho de processos internos, e

os indicadores de desempenho de aprendizado e crescimento, relacionados aos

processos habilitadores). Entretanto, nem todos os processos presentes na estrutura

multidimensional estão presentes no sistema de medição de desempenho da P&D do

CENPES.

Em relação aos princípios de construção relacionados aos fatores de contingência da

P&D, as seguintes considerações podem ser feitas:

P.C. 19 Elementos Contidos nos Fatores de Contingência

Em relação aos fatores de contingência presentes no sistema de medição de desempenho

do CENPES, algumas contingências foram observadas. Avaliando cada estrutura, tem-

se:

1) Em relação aos elementos macro da organização (estratégia, fatores críticos, por

exemplo), há uma estratégia definida formalmente e externalizada no modelo do

Mapa Estratégico do CENPES e da Função Tecnológica. Esse modelo encontra-se

implantado e revisões periódicas são realizadas em reuniões do COMIN para avaliar

a validade do mapa estratégico, seus objetivos e indicadores de desempenho;

2) Em relação aos fatores contextuais oriundos do sistema de gestão da organização,

algumas considerações podem ser tecidas:

a) Uma das contingências claramente observadas no CENPES foram os objetivos

do sistema de medição de desempenho: facilitar a gestão das atividades de P&D,

garantindo o alinhamento dessas atividades aos objetivos finalísticos do

CENPES; e avaliação e gratificação dos funcionários por desempenho

(conforme observado na avaliação GD);

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310

b) O grau de envolvimento das pessoas se dá, fundamentalmente, a partir do

acompanhamento dos indicadores de desempenho em reuniões do COMIN, onde

as metas são avaliadas e as áreas são comprometidas com o desempenho.

Entretanto, não foram identificados, a partir de indicadores de desempenho,

diferentes níveis hierárquicos de responsabilidade. Os gerentes gerais

apresentam as decisões do COMIN para suas equipes e programa um plano de

ação para que as metas sejam alcançadas, sem a utilização de indicadores de

desempenho neste nível de detalhamento;

c) A questão dos recursos disponíveis para o projeto de sistemas de medição de

desempenho para P&D não pareceu ser uma contingência importante no

CENPES;

3) No que tange aos fatores contextuais presentes na P&D, algumas considerações

podem ser tecidas:

a) Os indicadores de desempenho do CENPES seguem uma lógica não relacionada

à sua estrutura organizacional matricial. Os indicadores de desempenho seguem

uma lógica semelhante a alocação de valores a centros de custo (exemplo pode

ser visto no indicador “Função Tecnologia”, que relaciona orçamento realizado e

planejado no CENPES);

b) Não foram observados indicadores de desempenho diferenciados em relação às

fases típicas de um projeto de P&D;

c) Em relação às diferentes etapas da P&D, conforme comentado anteriormente,

diferentes técnicas de mensuração de desempenho (e diferentes critérios) podem

ser observados, que vão desde avaliações objetivas, principalmente as

relacionadas aos diferentes investimentos em P&D até as avaliações mais

subjetivas relacionadas á pesquisa de opinião dos clientes e incorporação de

tecnologia;

d) Não foram identificados de forma explícita diferentes níveis de atribuição de

responsabilidade aos indicadores, já que esses se encontram em um mesmo nível

gerencial do CENPES. É sabido, contudo, que os indicadores de desempenho do

Mapa da Função de Tecnologia refere-se, por si, a um nível de responsabilidade

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311

específico das áreas envolvidas com P&D, sem contemplar, contudo, a divisão

de responsabilidades setoriais ou de equipes de trabalho.

4) Em relação aos elementos do sistema de medição de desempenho para P&D,

algumas considerações podem ser tecidas:

a) As perspectivas de avaliação, conforme visto anteriormente, seguem a lógica

contida no Mapa Estratégico da Função Tecnológica;

b) A contingência relacionada a atributos de desempenho relacionados,

principalmente, a qualidade, custos, confiabilidade e tempo também foram

observadas nos indicadores de desempenho presentes no Mapa Estratégico da

Função Tecnológica;

c) Outra contingência que pôde ser observada refere-se à adequação dos resultados

às metas da empresa, dentro de uma lógica de causalidade entre os indicadores

de desempenho do Mapa Estratégico do CENPES;

d) Diferentes técnicas de mensuração de desempenho (e diferentes critérios) podem

ser observadas. Por exemplo, há diferenças explícitas entre os indicadores

“Índice de Valor Percebido” e “Índice de Alavancagem Externa”, no que tange a

objetividade/ subjetividade da medição;

e) Finalmente, a frequência de medição empregada para avaliação dos indicadores

de desempenho ocorre mensalmente, com apresentações quadrimestrais no

COMIN;

f) As demais contingências (tempo considerado na medição e normas que norteiam

o padrão de medição) não foram observadas nas características do sistema de

medição de desempenho da P&D do CENPES.

P.C. 20 Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto

Não foi percebido no CENPES qualquer orientação de avaliação da inovação

tecnológica sob diferentes dimensões, tais como apontadas nas regras de projeto

identificadas na literatura.

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312

A Tabela 35 sintetiza os resultados da avaliação comparativa entre as empresas

estudadas. O círculo cheio representa que o princípio foi verificado na prática; o círculo

parcialmente preenchido indica que o princípio foi verificado parcialmente; e o círculo

vazio indica que o princípio não foi verificado.

Tabela 35: Verificação dos Princípios de Construção no Sistema de Medição de Desempenho da

P&D da Ouro Fino, Bio-Manguinhos e CENPES

Ouro Fino Bio-Manguinhos CENPES

1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

3. Controle e Avaliação

4. Relações Causais

5. Diferentes Naturezas Presentes na P&D

6. Visão da P&D como um Processo de Negócio

7. Stage Gates para Desenv. Produto

8. Nível de Maturidade dos Processos

9. Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização

10. Processos em Diferentes Camadas

11. Relação com Objetivos Envolvidos em cada Processo

12. Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

13. Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

14. Diferentes Níveis de Criação de Valor

15. Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas de Avaliação

16. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação dos clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa

17. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com Estratégia de Inovação

18. Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

19. Elementos Contidos nos Fatores de Contingência

20. Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto

Princípios de Construção para Sistemas de Medição de P&D Identificados na Literatura

Fatores de Contingência

Elementos Multidimensionais

da P&D

Sistemas Alinhados à Lógica

de Controle e Avaliação

Propostas de Indicadores de Desempenho para P&D

Propostas de Sistemas de Medição de

Desempenho para P&D

Visão Processual da P&D

Conforme pode ser observado, o sistema de medição de desempenho do CENPES pode

ser considerado o mais bem estruturado das empresas estudadas. Provavelmente isto se

deve ao fato que o CENPES é a empresa que vem, historicamente, investindo maior

esforço no desenvolvimento de uma estrutura de gestão da inovação, o que,

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313

consequentemente, traz implicações para o desenvolvimento do sistema de medição de

desempenho para P&D.

Conforme explicitado na Tabela 35, boa barte dos princípios de construção foram

observados no sistema de medição de desempenho do CENPES, o que leva a crer que

tal sistema encontra-se com razoável nível de aderência às práticas conceituais

identificadas na literatura. Todos os princípios de construção relacionados à concepção

de indicadores de desempenho financeiros e não financeiros foram observados no

CENPES, assim como os princípios de construção relacionados aos sistemas alinhados

à lógica de controle e avaliação, à diferenciação entre as atividades de pesquisa e

desenvolvimento, e à visão da P&D como um processo de negócio.

Em relação à visão processual, diferente dos demais casos observados, os indicadores de

desempenho da Função Tecnológica do CENPES, embora não concebidos sob a lógica

de processos, possuem uma relação entre si que poderia facilmente ser pensada por

processos, com determinação de efetividade, eficácia e eficiência do processo. Além

disso, a lógica processual também é percebida nas atividades relacionadas à avaliação

de projetos em diferentes estágios de decisão (os stage gates) que ocorrem nas reuniões

do CTO.

Os princípios de construção relacionados à visão multidimensional foram parcialmente

percebidos no caso CENPES, exceto no princípio relacionado à Efetividade/ Eficiência,

Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto, e ao Balanced Scorecard, ferramenta

amplamente utilizada na gestão estratégica da organização. Além do BSC, o sistema de

medição de desempenho contempla, mesmo que parcialmente, princípios relacionados

às demais questões multidimensionais, exceto o que relaciona tal visão com a estratégia

de inovação (em relação à novidade do desenvolvimento). Pode se perceber que um dos

fatores que contingenciaram a adoção do BSC no CENPES foi a presença deste

instrumento de gestão no nível corporativo, o que leva a crer que a adequação dos

instrumentos de gestão da P&D (em particular, o sistema de medição de desempenho)

devem ser adequados aos instrumentos de gestão corporativos.

Finalmente, a exemplo da Ouro Fino e Bio-Manguinhos, algumas contingências

puderam ser identificadas no sistema de medição de desempenho da P&D do CENPES

tanto relacionado a fatores presentes na estrutura de gestão da sua P&D como o objetivo

do sistema de medição de desempenho, o grau de envolvimento das pessoas, quanto no

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314

nível de fatores particulares à sua P&D como os diferentes níveis de responsabilidade, e

as diferentes técnicas de mensuração dos indicadores de desempenho, conforme

apresentado anteriormente. Além disso, tempo de maturidade dos instrumentos de

gestão e disponibilidade de recursos para o desenvolvimento do sistema de medição de

desempenho parecem justificar o nível de maturidade do sistema de medição de

desempenho da P&D do CENPES em relação aos sistemas das demais empresas.

10.4. Observações Finais Diante dos Casos Estudados

Esta avaliação buscou avaliar a utilização dos princípios de construção identificados na

literatura nas organizações. A Tabela 35 sintetiza o nível de adequação de cada

princípio de construção verificado em cada uma das empresas estudadas. Algumas

considerações podem ser tecidas a partir da observação dos casos estudados. A Tabela

36 apresenta os grupos identificados a partir da avaliação da adequação dos princípios

de construção aos casos estudados.

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315

Ouro Fino Bio-Manguinhos CENPES

1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

3. Controle e Avaliação

4. Relações Causais

5. Diferentes Naturezas Presentes na P&D

6. Visão da P&D como um Processo de Negócio

7. Stage Gates para Desenv. Produto

8. Nível de Maturidade dos Processos

9. Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização

10. Processos em Diferentes Camadas

11. Relação com Objetivos Envolvidos em cada Processo

12. Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

13. Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

14. Diferentes Níveis de Criação de Valor

15. Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas de Avaliação

16. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação dos clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa

17. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com Estratégia de Inovação

18. Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

19. Elementos Contidos nos Fatores de Contingência

20. Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto

Princípios de Construção para Sistemas de Medição de P&D Identificados na Literatura

Fatores de Contingência

Elementos Multidimensionais

da P&D

Sistemas Alinhados à Lógica

de Controle e Avaliação

Propostas de Indicadores de Desempenho para P&D

Propostas de Sistemas de Medição de

Desempenho para P&D

Visão Processual da P&D

Primeiramente, pode-se observar que os princípios de construção relacionados à

concepção de indicadores financeiros e não financeiros foram observados em quase

todos os casos estudados (exceção pode ser vista na Ouro Fino, já que os indicadores

disponibilizados pela empresa traz poucas evidências que as decisões são tomadas a

partir da gestão desses indicadores, considerando o balanceamento entre indicadores

financeiros e não financeiros no nível de seus departamentos). Mesmo no CENPES, que

não administra os indicadores clássicos de gestão financeira, alguns indicadores de

desempenho financeiros puderam ser identificados. Esta evidência leva a crer que esses

princípios são inteiramente aplicáveis e, por serem considerados os mais básicos,

empresas com estrutura de P&D não pode deixar de considerá-los no projeto de

sistemas de medição de desempenho. O caso específico da Ouro Fino refere-se mais a

um problema de maturidade na gestão por indicadores do que a uma possível não

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316

efetividade destes princípios de construção de indicadores de desempenho para P&D -

como ainda não existe um sistema de indicadores de desempenho equilibrado e

articulado com a estratégia tecnológica, há elementos pouco explorados (como pôde ser

observado na ausência de indicadores balanceados na Diretoria Técnica) e outros muito

bem explorados (conforme observado nos departamentos da Diretoria de PD&I).

As mesmas considerações podem ser feitas para os princípios de construção de sistemas

de medição de desempenho para P&D no que tange à questão do alinhamento sob a

lógica de controle a avaliação. Em relação ao controle e avaliação da P&D, importante

frisar que esta análise precisa considerar não só a aderência ao planejamento estratégico

formal, mas também aos projetos que sustentam a estratégia tecnológica das empresas.

Nem sempre as organizações possuem planejamento estratégico formalizado, o que não

induz a uma possível não aplicação deste princípio. Sob o ponto de vista da aplicação

deste princípio, é importante que haja controle frente ao padrão (planejado) e avaliação

frente aos resultados almejados em diferentes níveis da organização – desde o nível

estratégico até o nível operacional dos projetos tecnológicos.

Conforme observado nas empresas estudadas, a prática de controle de projetos foi

observada inteiramente nos três casos, o que leva a crer que se trata de um princípio de

construção básico, que deve ser utilizado nas organizações que desenvolvem

tecnologias ou produtos. Em relação à avaliação e realimentação na gestão dos projetos,

este princípio foi observado em todos os casos estudados, embora em Bio-Manguinhos

tenha se observado o menor grau de formalização, em termos de utilização de

indicadores de desempenho. Mesmo com menor nível de maturidade em relação aos

demais casos, a estratégia de expansão da Ouro Fino a obrigou a empresa a se estruturar

em termos de controle e efetiva avaliação de projetos, muito embora tenha sido

comentado algumas dificuldades de se utilizar essa avaliação para tomada de decisões

de maior comprometimento, como a interrupção de um projeto.

O princípio de construção relacionado às relações causais visando alinhamento

estratégico ainda se encontram em fase inicial de adoção na Ouro Fino. Foi comentado

que as reuniões onde se discute o impacto do desempenho de uma área na outra são

bastante conturbadas, provavelmente porque essas relações se encontram pouco

explicitadas. Em Bio-Manguinhos, pela não efetividade da utilização do Mapa

Estratégico, o PROQUAL visa buscar o alinhamento estratégico das ações, ao contrário

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317

do CENPES, onde o Mapa Estratégico da Função Tecnológica vem operando de forma

a garantir o alinhamento das ações.

Em relação às regras identificadas a partir da visão processual da P&D, algumas

considerações devem ser tecidas. O princípio de construção relacionado à adoção de

indicadores de desempenho de acordo com as diferentes naturezas das atividades da

P&D só não foi observado na Ouro Fino, que não possui nenhuma avaliação de

desempenho da pesquisa básica, embora possua um razoável conjunto de indicadores de

desempenho para avaliar o desenvolvimento. Como a Ouro Fino não realiza pesquisa

básica em suas dependências, essa prática não pôde ser observada tal como foi

identificada na literatura. Este princípio deveria, pois, ser mais abrangente ao considerar

casos específicos, como o da Ouro Fino, que realiza pesquisa básica a partir das suas

redes de relacionamento com comunidades técnico-científicas, em especial, com

Universidades.

Em relação às regras que orientam a escolha de indicadores de desempenho processuais,

considerando entradas, processamento, saídas e resultados da P&D vinculados aos

objetivos estratégicos, apenas o CENPES contempla relação total com este princípio,

não por tê-lo adotado, mas por proximidade do seu modelo de BSC, em especial, à

perspectiva de Processos Internos. Embora haja indicadores de desempenho típicos de

entrada, saída e de processamento de atividades de P&D na Ouro Fino e em Bio-

Manguinhos, tais indicadores não se encontram articulados sob a perspectiva

processual.

Em relação à lógica processual contida nos stage gates para desenvolvimento de

produtos, na Ouro Fino não foram identificados indicadores de desempenho sob esta

lógica, embora haja a aplicação de stage gates para avaliação de projetos. Em Bio-

Manguinhos a lógica dos stage gates encontra-se recém implantada para avaliação de

novas oportunidades, mas não para avaliação de projetos já em andamento (para estes

casos, há práticas bem estabelecidas de balanceamento da carteira de projetos, mas que

não apoia efetivamente a decisão de go/ no go de projetos. O CENPES também adota a

prática de avaliação da carteira de projetos e, apesar da existência de indicadores de

desempenho para apoio à avaliação, existe a mesma dificuldade de interrupção de

projetos.

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318

Em relação ao princípio que relaciona os processos em diferentes camadas, aplicação de

uma ou outra camada foi identificada parcialmente em todos os casos. A camada

relacionada à avaliação do produto/ serviço frente aos clientes e mercado foi a única

identificada em todos os casos e a camada relacionada às estruturas mais basicas, como

pesquisa e tecnologia para desenvolvimento de produto foi a única não percebida em

todos os casos.

Os demais desdobramentos desses princípios (relação com nível de maturidade dos

processos, relação entre elementos internos e externos à organização, objetivos das

etapas do processo e fases típicas de projeto) não foram percebidos em nenhum dos

casos. Esta evidência pode ser explicada de duas formas: ou o princípio é específico e

detalhado demais para ser observado na pequena amostra de empresas, ou o princípio

não é mutuamente excludente com os demais princípios, ou seja, a existência de outros

princípios supre a necessidade do desdobramento da visão processual. No primeiro

caso, o tamanho da amostra deveria ser ampliado de forma a permitir melhor avaliação

da incidência deste princípio. O segundo caso é parcialmente verdadeiro, já que alguns

elementos desses princípios são observados também em princípios considerados mais

completos, como os baseados na Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação e

nos Fatores de Contingência. A partir da amostra disponível, pode-se afirmar que tais

princípios não se encontram não adequados à realidade das empresas brasileiras, mas

seria precipitado garantir essa afirmação com tamanho de amostra tão restrita.

Conclui-se que estes princípios não são independentes e excludentes, ou seja, um

princípio como o que estabelece a visão processual para se projetar sistemas de medição

de desempenho pode ser adotado sem a necessidade de se relacionar esses processos aos

objetivos a serem alcançados, ou avaliá-lo segundo seu grau de maturidade, desde que

haja outra regra que complete estes princípios. (por exemplo, o princípio que diz

respeito às relações causais suplanta o princípio da relação dos processos com

objetivos). Assim, o fato de não terem sido observadas regras relacionadas à visão

processual da P&D não significa que o sistema de medição de desempenho das

organizações sejam falhos ou incompletos. Neste sentido, é necessário se avaliar outras

regras que supram essas características, de forma a avaliar a efetividade dos sistemas de

medição de desempenho para P&D como um todo, e não a partir de princípios

individuais.

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319

Em relação aos elementos multidimensionais da P&D, este conjunto de princípios

pareceu ser o mais abrangente e efetivo para gestão da P&D, de acordo com a revisão

bibliográfica. Entretanto, apenas o CENPES pareceu se destacar em relação em relação

à adoção desses princípios, quando comparado como os outros dois casos. Na Ouro

Fino, a lógica de indicadores de desempenho setoriais vai contra às regras de

alinhamento estratégico e balanceamento em diferentes perspectivas, como definido na

regra de projeto da utilização do Balanced Scorecard. Em Bio-Manguinhos, tais regras

até foram verificadas, mas pouco utilizadas na prática, conforme pôde ser observado nas

características do Balanced Scorecard.

Os princípios de construção relacionados a uma estrutura mais sistêmica, nos moldes

dos elementos multidimensionais para P&D e inovação identificados na literatura,

foram identificados parcialmente em Bio-Manguinos e no CENPES, e não identificados

na Ouro Fino. Nos casos onde foram identificados parcialmente, apenas elementos

pontuais dos elementos multidimensionais foram identificados. Ou seja, em nenhum

caso, os princípios de construção foram identificados na íntegra, com articulação entre

os elementos presentes em processos principais, processos de gestão e habilitadores.

Duas hipóteses devem ser consideradas a partir desta constatação: ou as empresas,

mesmo com sistemas de gestão de inovação considerados mais estruturados como o

CENPES, realmente não se encontram maduras o suficiente para adotar esses

princípios, ou os princípios estabelecidos na literatura encontram-se pouco adequados

para implantação nas empresas brasileiras, carecendo assim mais esforços no sentido de

implantação, ajustes e adequações à realidade das organizações.

Finalmente, o conjunto de elementos denominados fatores de contingência para projetos

de sistemas de medição de desempenho para P&D foram identificados parcialmente em

todos os casos, levando a crer que este princípio possui potencial de aplicação em

quaisquer casos de empresas com P&D estruturado. Entretanto, a sua utilização efetiva

em empresas brasileiras precisam ser verificadas. Por exemplo, em nenhum dos casos,

foi observada a presença de indicadores que avaliassem de forma articulada eventos

presentes, passados e futuros. Estudos que verifiquem a aplicabilidade desses princípios

e avaliem o sistema de medição de desempenho em relação à capacidade de apoiar a

gestão da P&D devem ser conduzidos em empresas brasileiras neste sentido, não só

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320

para tornar esses sistemas de medição mais robustos, mas também para contribuir com a

teoria, em direção à construção de frameworks mais robustos e consistentes.

Além disso, frameworks que definam não só os princípios de construção, mas também

as regras de projeto para elaboração de sistemas de medição de desempeno devem ser

desenvolvidos. De forma não surpreendente, em nenhum dos casos foi identificada a

aplicabilidade do princípio que baliza esta questão, já que se trata de um caso ainda

particular de empresas envolvidas no estudo de Chiesa et al. (2009). Sob este aspecto,

os fatores de contingência são importantes elementos que podem apoiar futuros estudos

nesta direção.

Resumidamente, pode-se considerar que os princípios de construção relacionados às

propostas de indicadores de desempenho para P&D são inteiramente aplicáveis à

realidade das empresas brasileiras, assim como os princípios relacionados ao

alinhamento entre estratégia e operações.

Em relação aos princípios que adotam a visão processual, apenas aqueles que tratam da

diferenciação das atividades de pesquisa e desenvolvimento e que reconhecem a lógica

dos stage gates para desenvolvimento de produto são inteiramente aplicados à realidade

brasileira. Os demais princípios relacionados à visão processual carecem ser revistos e

sua validade testada em estudos que contemplem diferentes abordagens, por exemplo,

baseados em análises estatísticas.

O mesmo pode se afirmar em relação aos princípios que se referem a visão

multidimensional de elementos presentes na P&D. Exceto pela presença do BSC neste

princípio, que por ser amplamente difundida nas empresas brasileiras facilita a adoção

de princípios relacionados aos conceitos do BSC, os demais elementos presentes nestes

princípios precisam ser revistos e sua validade testada em outros estudos.

Em relação aos princípios que adotam os fatores de contingência, estes parecem ser uma

tendência natural de abordagem a ser utilizada em projetos de sistemas de medição de

desempenho para P&D por, justamente, considerar as características dos vários

elementos presentes no sistema de gestão da inovação das empresas. Embora não

observado na íntegra nas empresas brasileiras estudadas, parece ser uma questão de

tempo não só sua adoção, mas também o detalhamento dos princípios em regras de

projeto mais específicas, facilitando o trabalho de gestão das organizações.

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321

Cabde destacar que essas questões apontam para evidências que precisam ser estudadas

em níveis de detalhe maior, tanto pela ampliação do tamanho da amostra de empresas

(permitindo assim um “retorno” e revisão da validade dos princípios de construção

identificados na literatura), quanto pela execução de estudos de caso mais detalhados,

como os que foram conduzidos nesta pesquisa, onde se possa recolher informações que

mostrem evidências concretas da utilização dos indicadores de desempenho para gestão

da P&D das organizações. Conforme apresentado na seção 6.3, a utilização de métodos

que enfatizam um tamanho maior de amostra, tal como as surveys, tem como

desvantagem crítica a crença na opinião pessoal dos gestores, que muitas vezes se

apresenta de forma bastante diferente do contexto real da utilização dos instrumentos de

gestão.

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322

11. Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros

A gestão da inovação é uma fundamental fonte de vantagem competitiva das

organizações, tendo em vista que organizações consideradas inovadoras superam suas

concorrentes não inovadoras em termos de margem de lucro, retorno ao acionista,

receitas e valor de mercado.

Entretanto, os elementos que determinam a inovação nas organizações exigem um

aporte muito grande de recursos, produzem resultados incertos, não imediatos e com

tempos desconhecidos. Sob este aspecto, empresas que utilizam a inovação como fonte

de vantagem competitiva precisam saber gerenciar o seu processo de inovação e, em

especial, projetar, implementar e utilizar sistemas de medição de desempenho para a sua

função de P&D.

A adoção de frameworks teóricos de sistemas de medição de desempenho para P&D é

problemática na prática, já que existe um gap considerável entre teoria e prática neste

campo de pesquisa. Sob este aspecto, este trabalho buscou entender melhor essa

problemática e apontar caminhos possíveis a serem trilhados para que este gap seja

diminuído. Assim, como objetivo central, este trabalho buscou avaliar os sistemas de

medição de desempenho da P&D de empresas brasileiras, que utilizam a inovação como

fonte de vantagem competitiva, frente às prescrições presentes na literatura, e se tais

prescrições mostram-se adequadas à realidade.

Primeiramente foi realizada uma busca extensiva na literatura nacional e internacional

sobre o assunto. Como resultado, diversos frameworks foram identificados e analisados,

em relação a sua capacidade de avaliar elementos da função da P&D.

De forma a facilitar o trabalho analítico e avançar na direção da metodologia da

pesquisa em design, tornando os resultados mais próximos possível da aplicação prática,

foram identificados os princípios de construção dos principais quadros conceituais

verificados da literatura. Esses princípios seriam as proposições imperativas que

poderiam orientar projetos de sistemas de medição de desempenho para P&D.

Esses princípios apoiaram o trabalho de análise dos casos brasileiros estudados. A partir

da metodologia de estudos de caso, três empresas brasileiras com função de P&D

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323

estruturada foram estudadas, à luz dos princípios de construção identificados da

literatura. As empresas estudadas possuem, de alguma forma, relação com os docentes

que coordenam e integram a rede de Universidades que fazem parte do programa

intitulado “Modelo de Gestão de Operações em Organizações Inovadoras” (MGOOI) e

foram escolhidas por, principalmente, serem organizações inovadoras e ambas

possuírem bons sistemas de medição de desempenho para P&D

Essa avaliação foi feita não apenas para verificar se os princípios eram ou não

aplicados, mas também para entender o contexto da aplicação dos princípios. Sob este

aspecto, a metodologia de estudos de caso se mostrou adequada para atender esta

demanda, já que outras metodologias (por exemplo, a survey) se mostrariam

insuficientes para apoiar o entendimento de um quadro mais sistêmico da aplicação dos

princípios de construção nas empresas estudadas.

A Tabela 35 sintetiza a verificação dos princípios de construção nos sistemas de

medição de desempenho das empresas estudadas. Como resultado do exercício de

análise dos casos estudados, algumas considerações foram tecidas. Como resultado

primário deste estudo, ficou evidente a ausência de trabalhos teóricos consolidadores de

conceitos desenvolvidos, e que tal ausência de consolidação foi refletida na dificuldade

das empresas desenvolverem sistemas de gestão que contemplem sua capacidade de

inovação, em particular, nas questões afetas aos sistemas de medição de desempenho

para P&D.

Outra importante consideração a partir deste trabalho é que a simples evidência de

adoção de um ou outro princípio de construção não garante a sua efetiva utilização

como instrumento de gestão. Exemplo evidente desta constatação foi observado em

Bio-Manguinhos, onde o BSC existe, mas não vem sendo efetivamente utilizado para

garantir alinhamento estratégico e permitir a gestão por indicadores de desempenho da

organização exigindo, assim, outros elementos de apoio à gestão, como o PROQUAL.

Importante destacar que o caso CENPES deixou como evidência a não necessidade de

adoção concomitante de todos os princípios de construção para o projeto de um bom

sistema de medição de desempenho para P&D. Conforme percebido na revisão da

literatura, o BSC é apenas uma das ferramentas que consolida alguns elementos

presentes nos fatores de contingência que precisam ser considerados nos projetos de

sistemas de medição de desempenho para P&D.

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324

Entretanto, conforme observado, o BSC do CENPES mostrou-se uma ferramenta

adequada para apoiar o sistema de gestão da inovação no CENPES, já que ele

contempla não só os elementos típicos de um projeto de BSC (diferentes perspectivas,

alinhamento estratégico, responsabilidades por diferentes níveis hierárquicos, etc.), mas

também outros elementos que aparecem como fatores de contingência, em especial, às

particulares às características da P&D (por exemplo, a diferenciação das atividades de

pesquisa e desenvolvimento, as etapas típicas de projetos de P&D, à estrutura

organizacional da P&D, etc.).

Outra observação que pode ser feita é a influência da maturidade do sistema de gestão

da empresa na maturidade do sistema de medição de desempenho. Conforme observado

nos estudos de caso, a Ouro Fino, empresa da amostra que possui menos anos de vida e

com sistemas de gestão mais jovens é a que possui o sistema de medição de

desempenho menos estruturado, ao contrário do CENPES. Outros elementos poderiam

influenciar o nível de maturidade dos sistemas de medição de desempenho (como

tamanho da empresa, setor em que atua, recursos alocados ao projeto de sistemas de

medição de desempenho), mas essa avaliação demandaria um estudo com mais amostras

de empresas.

Outra evidência marcante observada a partir do caso Ouro Fino foi a relação dos

indicadores com o nível de importância (ou criticidade) dos processos. Quanto mais

crítico o processo, mais estruturados são os indicadores relacionados a ele, conforme

pôde ser obsevado nos indicadores de registro e de gestão de projetos na área de P&D.

Bio-Manguinhos contribui fortemente para a discussão de algumas importantes

questões. Primeiramente, parte do sucesso da implantação dos indicadores de gestão de

projetos (e também da estrutura de gestão associada) é bastante explicada pelo

comprometimento da Diretoria, concretizada com a criação de uma área responsável

pela implantação desses instrumentos de gestão (a GEPRO). Logo, a criação de áreas

(ou até mesmo equipes de trabalho) responsáveis pela gestão e controle de alguns

indicadores de desempenho para P&D, ancorado pelo apoio da alta gerência parece ser

um condicionante fundamental para o sucesso da implantação de indicadores de

desempenho. Essa questão não foi percebida na Ouro Fino, já que o projeto de

implantação de indicadores de desempenho para a organização (e para sua P&D) parece

não ter encontrado um apoio efetivo da alta gerência, além do projeto estar vinculado a

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325

uma área (RH) com viés bastante forte em relação a usabilidade dos indicadores de

desempenho, que tendem a ser aplicados muito mais para fins de remuneração variável

do que para efetiva gestão da P&D.

A segunda questão fundamental percebida em Bio-Manguinhos é a necessidade da

aderência (fit) dos instrumentos de gestão e a necessidade de gestão da empresa. O

contraexemplo desta aderência foi percebido a partir da não utilização do Mapa

Estratégico como instrumento efetivo para gestão dos indicadores de desempenho: se

por um lado, o Mapa Estratégico encontrava-se implantado sem um apoio efetivo da

Diretoria, por outro, este instrumento de gestão encontrava-se também pouco aderente

ao modelo de gestão de Bio-Manguinhos, explicando assim o seu desuso.

Importante destacar que, embora importantes, os projetos de implantação de indicadores

de desempenho tendem a ser rechaçados nas organizações. Essa evidência foi bastante

percebida na Ouro Fino e em Bio-Manguinhos, que possuem indicadores de

desempenho menos estruturados em relação ao CENPES. Sob este aspecto, é comum se

perceber empresas (mesmo fora do círculo das empresas estudadas neste trabalho)

resistirem ao projeto de implantação de sistemas de medição de desempenho, e este fato

se dá por algumas razões aparentes. Primeiramente, os indicadores de desempenho

controlam eventos, como a performance de uma área, de uma equipe de trabalho e, até

mesmo, de um funcionário, o que traz resistências à sua adoção. Na Ouro Fino, foi

mencionado explicitamente em uma das entrevistas que as reuniões de

acompanhamento dos indicadores de desempenho eram tensas, com trocas de acusações

mútuas entre os responsáveis pelos indicadores de desempenho.

Em segundo lugar, as pessoas tendem a ser bastante céticas em relação à adoção de um

ou outro indicador de desempenho, muitas vezes devido à resistência mencionada

acima. É comum os funcionários desdenharem os indicadores de desempenho, por

diferentes razões (e, em muitos casos, tautológicas): por exemplo, alguns funcionários

de Bio-Manguinhos resistiram em utilizar indicadores de desempenho financeiros para

avaliação do sucesso do desenvolvimento de produto, por julgarem que muitos

elementos que explicam tal sucesso não poderiam ser considerados como informações

financeiras. Por outro lado, a utilização de indicadores subjetivos/ qualitativos também

são mal vistos, justamente por não serem capazes de trazer uma informação completa

sobre o sucesso técnico do projeto.

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Em terceiro lugar, os indicadores de desempenho trazem mudanças no comportamento

dos funcionários em todos os níveis da organização, o que faz com que a alta gerência

fique resistente em relação a adoção de um ou outro indicador de desempenho, temendo

que tal indicador possa trazer um comportamento reativo de seus funcionários. Em uma

das empresas estudadas (por razões óbvias a empresa não será identificada), foi

destacado em uma das reuniões que um gerente passou a interpretar o indicador de

desempenho da sua área de forma bastante enviesada, muitas vezes burlando dados e

informações e forçando situações para que a sua área apresentasse sempre os melhores

resultados. Anos mais tarde, este comportamento foi revisto e tal problema hoje não

ocorre mais na organização.

Finalmente, um projeto de sistemas de medição de desempenho, mesmo sendo ditado

por diversas regras de projeto conceituais, apresenta um viés pessoa ainda bastante

forte. Obviamente, a alta gerência que liderará um projeto de implantação de sistema de

medição de desempenho influenciará o comportamento de sua organização e, frente a

isso, irá dar o seu “toque pessoal” na escolha dos indicadores de desempenho para que o

comportamento gerado esteja sob seu controle.

Entretanto, mesmo diante de tantos vieses, os princípios de construção parecem ser,

atualmente, os elementos mais adequados a serem considerados em projetos de sistemas

de medição de desempenho de qualquer natureza e merecem ser mais estudados na

literatura e na prática.

Mesmo diante de um determinado nível de simplificação (por exemplo, conforme pôde

ser observado na lista de princípios, há uma forte herança dos sistemas tradicionais de

medição de desempenho, como a contabilidade e gestão por processos), e mesmo diante

a ausência aparente de elementos conflitantes (todos os princípios pareceram se

complementar, nunca se conflitar, o que não pareceu ser verdade na prática, pois não

houve caso de implantação de todos os princípios ao mesmo tempo), o conjunto de

princípios de construção parece ser a forma mais adequada de lidar com todos os vieses

típicos de implantação de sistemas de medição de desempenho. Portanto, um trabalho

de acadêmicos e de gerentes precisa ser melhor desenvolvido, de maneira a dar robustez

aos princípios de construção, tornado-os aplicáveis a diferentes casos. Entretanto, esses

princípios jamais podem ser tratados como regras de tumba e levados às organizações

sem considerar particularidades e nuances como as identificadas acima (fit entre

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instrumentos de gestão, questões comportamentais, comprometimento, trajetória e

feeling da alta gerência).

Esta tese possui algumas limitações que devem ser conhecidas, de maneira a direcionar

trabalhos futuros no campo de pesquisa. O tamanho da amostra das empresas estudadas

limita generalizações teóricas, importantes para composição do campo de pesquisa.

Entretanto, no âmbito desta tese, optou-se por trabalhar estudos de caso mais

detalhados, de forma a entender as relações presentes entre os elementos de sistemas de

medição de desempenho e as características da gestão da inovação realizada nas

empresas.

Como trabalho futuro, recomenda-se que estudos semelhantes a este com tamanho

maior de amostra de empresas, de forma a verificar a existência de possíveis outras

contingências não consideradas na literatura (por exemplo, características do sistema de

inovação do país, características do setor, etc.).

Ainda, com um tamanho de amostra maior, os próprios princípios de construção

poderiam ser detalhados em nível de regras de projeto, que pudessem ser identificadas

de forma a facilitar o projeto de sistemas de medição de desempenho para P&D, assim

como foi feito por Chiesa et al. (2009). Sob este aspecto, os princípios de construção

são imperativos ainda bastante genéricos para apoiar a concepção de sistemas de

medição de desempenho. Um conjunto detalhado, abrangente e bem articulado de regras

de projeto (nos moldes do modelo: “para o setor X, com características tecnológicas Y,

e com acesso a competências Z, adote diferentes perspectivas para mensuração do

desempenho da P&D”) facilitaria bastante o trabalho de cunho prático nas organizações,

ao mesmo tempo em que novos conhecimentos teóricos seriam acumulados.

Finalmente, outros trabalhos adjacentes a este poderiam ser realizados como a

possibilidade de criação de quadros conceituais que apoiassem a avaliação (em termos

de valuation) de organizações, considerando a sua capacidade de inovação, na linha da

mensuração de desempenho de ativos intangíveis das empresas. Há indicadores de

desempenho clássicos para avaliar resultados da P&D, que podem facilmente ser

considerados em termos de valuation das empresas, como a quantidade de patentes

depositadas e publicações feitas. Entretanto, como considerar, por exemplo, a

capacidade de desenvimento de novos produtos e a capacidade de criatividade das

empresas são elementos menos evidentes a serem mensurados.

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Mesmo diante das limitações destacadas, esta tese tem como principal contribuição a

possibilidade de se criar um instrumento que facilite a tarefa de projetar sistemas de

medição de desempenho para P&D, tendo em vista a dificuldade envolvida no ato de

projetar e utilizar este instrumento como apoio a gestão da inovação das organizações

brasileiras. Entretanto, outros estudos precisam ser conduzidos no Brasil de forma a

consolidar o tema de pesquisa e que os problemas verificados nas empresas sejam

solucionados e encaminhados.

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345

Anexo 1: Método de Pesquisa Bibliográfica A busca bibliográfica foi uma tarefa dividida em dois momentos. Primeiramente, foi

realizada uma busca mais ampla dos trabalhos relacionados à Inovação e Pesquisa e

Desenvolvimento, de forma a se obter um quadro conceitual do objeto a ser estudado. O

mesmo foi feito para a busca mais ampla dos trabalhos relacionados a Sistemas de

Medição de Desempenho e Indicadores de Desempenho. Em seguida, foi realizada uma

busca mais detalhada a partir de palavras-chave mais específicas, relacionadas a

Sistemas de Medição de Desempenho para organizações inovadoras. Nas seções a

seguir serão apresentados os dois métodos de busca.

Busca a Partir dos Termos “Inovação, P&D” e Correlatos

O objetivo desta busca foi a seleção dos artigos referentes à Inovação e P&D, visando

mais a identificação dos artigos mais citados, de forma a obter um razoável mapeamento

dos assuntos principais relacionados à Inovação e P&D. Nesta pesquisa, foi utilizado o

mecanismo de busca da Web of Science51 com os termos principais relacionados ao

objeto da tese no campo Título. Os seguintes filtros foram utilizados, de forma a limitar

o universo da pesquisa: áreas = MANAGEMENT OR BUSINESS OR ECONOMICS;

idioma = ENGLISH OR SPANISH OR PORTUGUESE. Um total de 10.028 resultados

foram obtidos.

Primeiramente foram identificados os periódicos com o maior número de publicações

sobre o assunto. A Tabela 36 elenca a lista dos 30 principais periódicos, o que

corresponde aproximadamente a 60% do total dos resultados encontrados.

51 Uma vez que as bases citadas acessam os principais periódicos, é uma boa aproximação

considerar a varredura da maior base de dados da lista, ou seja, a Web of Science. Considerando ainda

que o objetivo aqui foi rastrear as discussões centrais ao redor do tema inovação, tal procedimento se

mostrou adequado para as buscas.

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346

Tabela 36: Principais Periódicos Identificados com Artigos sobre Inovação e P&D

Fonte: Web of Science < http://isiknowledge.com> acesso em 15/07/2008

# Periódico Resultados1 RESEARCH-TECHNOLOGY MANAGEMENT 6982 RESEARCH POLICY 6973 R & D MANAGEMENT 5764 TECHNOVATION 3935 INTERNATIONAL JOURNAL OF TECHNOLOGY MANAGEMENT 3456 JOURNAL OF PRODUCT INNOVATION MANAGEMENT 2767 RESEARCH MANAGEMENT 2768 IEEE TRANSACTIONS ON ENGINEERING MANAGEMENT 2609 TECHNOLOGICAL FORECASTING AND SOCIAL CHANGE 21910 HARVARD BUSINESS REVIEW 16911 TECHNOLOGY ANALYSIS & STRATEGIC MANAGEMENT 14412 LONG RANGE PLANNING 12113 MANAGEMENT SCIENCE 10914 AMERICAN ECONOMIC REVIEW 9715 JOURNAL OF ENGINEERING AND TECHNOLOGY MANAGEMENT 9116 ECONOMIC JOURNAL 8917 BUSINESS HISTORY 8918 INTERNATIONAL JOURNAL OF INDUSTRIAL ORGANIZATION 8319 ADMINISTRATIVE SCIENCE QUARTERLY 8120 JOURNAL OF ECONOMIC LITERATURE 7921 AMERICAN JOURNAL OF AGRICULTURAL ECONOMICS 7922 SMALL BUSINESS ECONOMICS 7823 JOURNAL OF EVOLUTIONARY ECONOMICS 7824 INDUSTRIAL MARKETING MANAGEMENT 7525 FUTURES 7526 JOURNAL OF ECONOMIC HISTORY 7427 BUSINESS HISTORY REVIEW 7328 ACADEMY OF MANAGEMENT JOURNAL 6929 STRATEGIC MANAGEMENT JOURNAL 6830 ECONOMICS LETTERS 64

Outro critério utilizado para seleção de materiais para leitura foi baseado na freqüência

de citação. A Web of Science possui um índice denominado h-index, que mostra os h

itens de resultado que possuem pelo menos h citações. O h-index nesta busca foi 92,

então os 92 itens que possuem mais do que 92 citações foram selecionados para uma

primeira leitura do tema.

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347

Busca a Partir do Termo “Indicadores de Desempenho” e Correlatos

O mesmo método de busca para leitura inicial sobre artigos sobre inovação e P&D foi

utilizado para identificar as leituras iniciais necessárias para o entendimento do uso dos

indicadores de desempenho para gestão organizacional.

Neste caso, foi necessária a adoção de termos mais específicos, pois o uso de termos

pouco específicos (como Perform* or Measur* or Indicat*, por exemplo) não permitiu o

filtro e a identificação dos artigos mais relevantes sobre o tema. Foi adotado então o

termo mais preciso possível neste caso: performance AND measur*, no campo Título,

considerando os filtros referentes à área de pesquisa (MANAGEMENT OR BUSINESS

OR ECONOMICS) e idioma (ENGLISH OR SPANISH OR PORTUGUESE). Foram

encontrados 871 resultados.

Primeiramente foram identificados os periódicos com o maior número de publicações

sobre o assunto. A Tabela 37 elenca a lista dos 34 principais periódicos, o que

corresponde aproximadamente a 60% do total dos resultados encontrados.

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348

Tabela 37: Principais Periódicos Identificados com Artigos sobre Performance Measurement

Fonte: Web of Science < http://isiknowledge.com> Acesso em 15/07/2008

# Periódico Resultados1 INTERNATIONAL JOURNAL OF OPERATIONS & PRODUCTION MANAGEMENT 592 EUROPEAN JOURNAL OF OPERATIONAL RESEARCH 383 JOURNAL OF THE OPERATIONAL RESEARCH SOCIETY 334 JOURNAL OF ACCOUNTING RESEARCH 255 JOURNAL OF FINANCE 236 JOURNAL OF PORTFOLIO MANAGEMENT 237 ACCOUNTING REVIEW 228 HARVARD BUSINESS REVIEW 219 QUALITY PROGRESS 1810 ACCOUNTING ORGANIZATIONS AND SOCIETY 1611 TOTAL QUALITY MANAGEMENT & BUSINESS EXCELLENCE 1612 JOURNAL OF FINANCIAL AND QUANTITATIVE ANALYSIS 1313 JOURNAL OF BUSINESS RESEARCH 1214 OMEGA-INTERNATIONAL JOURNAL OF MANAGEMENT SCIENCE 1215 INTERNATIONAL JOURNAL OF TECHNOLOGY MANAGEMENT 1116 JOURNAL OF FINANCIAL ECONOMICS 1117 HUMAN RESOURCE MANAGEMENT 1018 JOURNAL OF ACCOUNTING & ECONOMICS 1019 MANAGEMENT SCIENCE 1020 R & D MANAGEMENT 1021 CONTEMPORARY ACCOUNTING RESEARCH 922 INTERFACES 923 JOURNAL OF BUSINESS ETHICS 924 JOURNAL OF PRODUCTIVITY ANALYSIS 925 LONG RANGE PLANNING 926 TOTAL QUALITY MANAGEMENT 927 AMERICAN JOURNAL OF AGRICULTURAL ECONOMICS 828 IEEE TRANSACTIONS ON ENGINEERING MANAGEMENT 829 INFORMATION & MANAGEMENT 830 JOURNAL OF BANKING & FINANCE 831 OPERATIONS RESEARCH 832 RESEARCH-TECHNOLOGY MANAGEMENT 833 REVIEW OF ACCOUNTING STUDIES 834 STRATEGIC MANAGEMENT JOURNAL 8

O h-index nesta busca foi 53, então os 53 itens que possuem mais do que 53 citações

foram selecionados para uma primeira leitura do tema.

Busca a Partir dos Termos “Sistemas de Medição de Desempenho (ou Indicadores

de Desempenho) e Inovação” – Merge das Múltiplas Bases de Dados

O objetivo desta pesquisa foi um pouco diferente das duas pesquisas anteriores.

Enquanto nas duas primeiras pesquisas havia uma preocupação maior em mapear os

principais trabalhos sobre temas relacionados ao objeto central da tese (“inovação e

P&D”, e “Sistemas de Medição de Desempenho”), nesta busca, o objetivo central foi o

mapeamento exaustivo de trabalhos sobre o objeto central da tese. Desta forma, foram

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349

necessárias algumas mudanças de método de busca, já que a utilização do critério

“frequência das citações” não fazia muito sentido se houvesse a pretensão de se fazer

uma busca mais detalhada sobre o tema.

Primeiramente, as palavras-chaves foram delimitadas de forma a se buscar com maior

nível de precisão publicações em torno do tema. As seguintes palavras-chaves foram

utilizadas (seguindo método semelhante ao que foi vista na seção anterior): Innov* and

(Perform* or Measur*) OR R&D and (Perform* or Measur*) OR (Research and

Develop*) and (Perform* or Measur*).

No Web of Science, a partir de filtro de seleção de artigos relacionados a

MANAGEMENT OR BUSINESS OR ENGINEERING, INDUSTRIAL OR

ECONOMICS OR OPERATIONS RESEARCH & MANAGEMENT SCIENCE OR

PLANNING & DEVELOPMENT, independente do ano de publicação, foram

registrados 532 artigos. Além da Web of Science, outras fontes de consulta digital foram

selecionadas, de forma a aumentar as possibilidades de rastreamento de artigos em

periódicos. A Tabela 38 mostra a quantidade de artigos encontrados por mecanismo de

busca e os filtros utilizados.

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350

Tabela 38: Resultado das buscas sobre “Medidas de Desempenho para Inovação” em diferentes

bases de pesquisa. Acesso em 20/07/2008

Mecanismo de Busca Quantidade Artigos Encontrados Filtro

Web of Science 532

Title=(Innov* and (Perform* or Measur* )) OR Title=(R&D and (Perform* or Measur*)) OR Title=((Research and Develop*) and (Perform* or Measur*))Timespan=All Years. Databases=SCI-EXPANDED, SSCI, A&HCI.Refined by: Subject Areas=( MANAGEMENT OR BUSINESS OR ENGINEERING, INDUSTRIAL OR ECONOMICS OR OPERATIONS RESEARCH & MANAGEMENT SCIENCE OR PLANNING & DEVELOPMENT )

Scopus 479

TITLE(innov* AND (perform* OR measur* )) OR TITLE(r&d AND (perform* OR measur*)) OR TITLE(research AND develop* AND (perform* OR measur*)) AND (LIMIT-TO(SUBJAREA, "BUSI") OR LIMIT-TO(SUBJAREA, "ECON") OR LIMIT-TO(SUBJAREA, "SOCI") OR LIMIT-TO(SUBJAREA, "DECI") OR LIMIT-TO(SUBJAREA, "MULT"))

Engineering Village 302

((((Innov* and (Perform* or Measur* )) WN TI) OR ((R&D and (Perform* or Measur*)) WN TI)) OR (((Research and Develop*) and (Perform* or Measur*)) WN TI)) Remove Term (({performance} OR {industrial management} OR {product development} OR {innovation} OR {strategic planning} OR {project management} OR {marketing} OR {competition} OR {industrial economics} OR {engineering research} OR {technology} OR {industrial research} OR {product design} OR {investments} OR {technology transfer} OR {cost effectiveness} OR {productivity} OR {management} OR {patents and inventions} OR {quality control} OR {decision making} OR {information technology} OR {technological forecasting} OR {managers} OR {knowledge acquisition} OR {customer satisfaction} OR {measurement theory} OR {measurements} OR {quality assurance} OR {resource allocation} OR {process engineering} OR {manufacture} OR {production engineering}) WN CV)

Proquest Dissertations and Thesis 100

TITLE(Innov* and (Perform* or Measur* )) OR TITLE(R&D and (Perform* or Measur*)) OR TITLE((Research and Develop*) and (Perform* or Measur*)) AND SU(Accounting OR Business community OR Business costs OR Economic theory OR Economics OR Management OR Organization theory)

Wiley Interscience 64

"Innov* and (Perform* or Measur*) in Article Titles or R&D and (Perform* or Measur*) in Article Titles or Research and Develop* and (Perform* or Measur*) in Article Titles, in all subjects, in product type Journals"

Nota-se que as regras aplicadas aos filtros são diferentes, mas procuram seguir a mesma

lógica, já que cada base de pesquisa possui mecanismos diferentes de busca.

Importante ressaltar que vários artigos encontrados em uma base aparecem no resultado

das buscas em outras bases. Houve necessidade, portanto, de consolidar os resultados

sem que houvesse repetição de artigos. Esta consolidação exigiu, portanto, o uso de um

software de gerenciamento de referências bibliográficas, que apoiasse a tarefa de

consolidação e eliminação dos artigos iguais, resultados de buscas efetuadas em

diferentes bases. Essa questão direcionou fortemente a escolha das bases de pesquisa:

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351

apenas bases de dados com mecanismos de seleção e exportação de resultados “em

massa” para ferramentas de gerenciamento de referências bibliográficas52 foram

priorizados neste momento. As bases que possuem essa característica são, justamente,

as que se encontram na Tabela 38.

Todos as referências encontradas nas diferentes bases foram exportadas para a

ferramenta EndNotes versão 10, sendo necessário um minucioso trabalho de verificação

das referências e eliminação daquelas repetidas, ou que ainda não estavam relacionadas

ao tema central da tese. O resultado foi a organização de uma base com 797 artigos, dos

quais, os títulos e os abstracts foram lidos para a seleção dos principais artigos a serem

lidos. A Figura 54 ilustra uma amostra da base de dados no EndNotes com artigos

ordenados por ano de publicação.

Figura 54: Base de Dados Contendo Artigos Relacionados ao Tema Central da Tese

52 Considera-se que uma base de dados contém a característica de exportação em massa de

referências bibliográficas quando há a possibilidade de seleção e exportação de vários artigos ao mesmo

tempo – varia entre 30 e 100, aproximadamente.

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352

Após a leitura dos títulos e dos resumos dos 797 artigos, foram selecionados aqueles

que mais possuíam relação com o tema de pesquisa. A leitura na íntegra de alguns

desses artigos, em especial aqueles considerados boas revisões e mostrando o estado da

arte da discussão, apontou para a necessidade de leitura dos artigos contidos nas

referências bibliográficas53, que por ventura não foram identificados na pesquisa54.

Uma rápida verificação nos títulos das publicações contidas na tabela do Anexo 1 ilustra

uma informação importante: grande parte das publicações internacionais encontra-se

relacionada ao problema de projeto e uso de indicadores para o setor de P&D, e não

para inovação de forma geral.

Essa questão pode ser entendida a partir das características de inovação dos países

europeus e dos EUA, diferentes das características do Brasil. Por exemplo, comparando

a composição dos gastos com inovação de alguns países europeus em relação ao Brasil,

pode-se perceber que a maior parcela destes gastos está direcionada ao P&D interno,

diferente da situação no Brasil, onde a maior parcela de gastos com inovação está

direcionada em aquisições de máquinas e equipamentos. A Figura 55 ilustra essas

diferenças.

53 Esta técnica de busca bibliográfica é conhecida normalmente na literatura como snowball, ou

bola de neve na tradução literal do termo

54 A principal razão para a necessidade de se realizar o snowball foi a própria limitação das bases

de pesquisa, que por vezes, não permitiam acesso a alguns artigos.

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353

17%

37%

47%

49%

62%

52%

33%

28%

21%

1%

3%

6%

4%

12%

26%

5%

8%

5%

8%

1%

23%

17%

16%

9%

10%

Brasil

Reino Unido

Alemanha

Holanda

França

Atividades internas dePesquisa e Desenvolvimento

Aquisição demáquinas e equipamentos

Aquisição externa dePesquisa e Desenvolvimento

Aquisição de outrosconhecimentos externos

Treinamento, Introdução de Inovações no Mercado, Outros

Figura 55: Quadro comparativo entre países da União Europeia e Brasil em relação à composição de investimentos com inovação

Fonte: Eurostat (http://epp.eurostat.ec.europa.eu) e PINTEC (2005)

Justamente esta informação trouxe a necessidade de uma busca estruturada na literatura

brasileira sobre o tema. Foram efetuadas buscas em portais de bibliotecas e bases

digitais brasileiras, tais como:

• Portal de Teses Nacionais (a partir do serviço disponível pela Biblioteca Digital

de Dissertações e Teses/Instituto Brasileiro em Ciência e Tecnologia -

BDTD/IBCT) - http://bdtd.ibict.br

• Base Scielo - http://www.scielo.br/

• Revista de Administração da Universidade de São Paulo (RAUSP) -

www.rausp.usp.br

• Revista de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (RAE) -

www.rae.com.br

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354

A partir do uso de palavras-chave INOVAÇÃO, P&D, PESQUISA E

DESENVOLVIMENTO, INDICADORES E DESEMPENHO e suas combinações,

foram encontrados um total de 84 artigos e teses para leitura inicial.

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355

Anexo 2: Síntese dos Princípios de Construção para Sistemas de Medição de Desempenho para P&D Identificados na Literatura

1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

A avaliação de desempenho da P&D deve se dar a partir de medidas de desempenho financeiras, considerando que tais medidas servirão para apoiar decisões relacionadas ao resultado da P&D, conforme pode ser visto no método para o cálculo de retorno sobre investimentos de P&D (FOSTER et al., 1985a; e FOSTER et al., 1985b) e índice de efetividade (MCGRATH et al., 1994) a. Tal avaliação financeira pode ser feita também em cima de elementos mais específicos da P&D, como a partir de medidas de desempenho tradicionais em projetos de P&D (Retorno sobre Investimento, Avaliação Custo versus Benefício) e a utilização de indicadores de eficiência e efetividade da plataforma tecnológica (MEYER et al., 1997)

Propostas de Indicadores de Desempenho

para P&D 2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

A avaliação de desempenho da P&D não deve ser feita apenas com parâmetros financeiros. Indicadores de desempenho devem ser considerados para a solução de questões específicas da P&D, por exemplo, alocação de recursos (COOK, 1966), benchmarking (HODGE Jr., 1963). Para tal, os indicadores de desempenho devem ser propostos sob diferentes classificações, por exemplo, aquelas que apoiam a avaliação dos resultados das atividades de P&D (SBRAGIA, 1987; ANPEI, 2000) como Patentes, Bibliografias, Resultado da Inovação (ANDREASSI, 1999); e as entradas da P&D em termos de dispêndios (ANDREASSI, 1999; ANPEI, 2000; e OECD, 2001). a. Tais avaliações dependem de alguns elementos, por exemplo, os resultados das atividades de P&D dependem do estágio em que o P&D se encontra - estágios embrionário, de crescimento, de maturidade e de obsolescência (ALLIO e SHEEHAN, 1984). Os indicadores de saída e entrada dependem de caracterísicas que a empresa possui, tais como setor industrial, tamanho, origem do capital, etc. (ANPEI, 2000) b. Essas regras ajudam a explicar os resultados da P&D (SBRAGIA, 1987) e devem considerar facilidades e dificuldades para sua implementação (TIDD, 2001)

Propostas de Sistemas de Medição de

Desempenho para P&D

Sistemas Alinhados à Lógica de Controle e Avaliação

3. Controle e Avaliação

A avaliação de desempenho da P&D deve conter duas diferentes perspectivas: a de controle e avaliação. O propósito do controle é garantir que a atividade de P&D seja executada dentro do que foi planejado originalmente. O propósito da avaliação é garantir que os resultados alcançados pelo P&D estejam dentro do que foi planejado (RUBENSTEIN, 1957)

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356

4. Relações Causais O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar as relações causais entre resultados técnicos das operações da P&D e resultados econômicos, relacionados às três fases da pesquisa (entendidos aqui como a fase da pesquisa fundamental, aplicada e de desenvolvimento) dentro de um contexto de planejamento de curto, médio e longo prazo (QUINN, 1960; GEE 1975; e COLLIER, 1977)

Visão Processual da P&D

5. Diferentes Naturezas Presentes na P&D

O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar as diferentes naturezas do trabalho de P&D e, assim, diferentes tipos de técnicas para mensurar desempenho - qualitativo, semiquantitativo e quantitativo - devem ser adotadas em diferentes etapas - pesquisa básica, pesquisa exploratória, pesquisa aplicada, desenvolvimento e melhoria de produto. (PAPPAS e REMER, 1985)

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6. Visão da P&D como um Processo de Negócio

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar a P&D como um processo, onde o desempenho deste processo se dá em diferentes etapas: entradas, durante o próprio processamento, saídas e resultados (BROWN e SVENSON, 1988). Importante considerar que, desses indicadores, alguns estarão sob o domínio total da P&D (por exemplo, entradas de projeto e do portfólio de projetos) e outros estarão sob domínio parcial da P&D (por exemplo, aqueles relacionados ao impacto da saída da P&D na Manufatura ou no Marketing) (CHIESA e MASELLA, 1996)

7. Stage Gates para Desenv. Produto

Para o caso específico do processo de desenvolvimento de produto, o sistema de medição de desempenho deve considerar a ideia dos stage-gates, um roadmap conceitual para avaliação do processo de desenvolvimento em diferentes etapas, desde a concepção de ideias até o lançamento comercial (COOPER, 1990).

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8. Nível de Maturidade dos Processos

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar o nível de maturidade de alguns processos da P&D considerados relevantes, tendo em vista a servir como um instrumento de audit para avaliação do desempenho da P&D (SZAKONYI, 1994);

9. Processos Relacionados a Elementos Externos e Internos à Organização

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar não só a P&D como um processo, mas também a dimensão relacionada ao escopo do indicador, ou seja, se se trata de indicadores internos ou externos à organização. (SCHUMMAN et al., 1995)

10. Processos em Diferentes Camadas

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar os processos de P&D como apresentado nas três camadas de Hauser (1996), que relacionam atividades que conformam as atividades exploratórias (por exemplo, pesquisa básica); as atividades que selecionam e desenvolvem programas para a criação de competências centrais; e as atividades ou projetos focados em necessidades mais diretas e imediatas dos clientes (HAUSER, 1996).

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11. Relação com Objetivos Envolvidos em cada Processo

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar a relação entre as etapas do processo da P&D com objetivo que está por trás de cada etapa - esforço com P&D, aumento da capacidade com recursos humanos, envolvimento dos stakeholders, etc. (GARCÍA-VALDERRAMA e MULERO-MENDIGORRI, 2005.

12. Relação processos e fases típicas de projeto

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar a relação entre etapas do processo da P&D – entrada, processo, saída, e fases típicas de um projeto de P&D, geração, transição, e difusão (BAGLIERI et al., 2006)

Elementos Multidimensionais da P&D

13. Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar a relação entre natureza do evento a ser medido - efetividade, eficácia e eficiência, relacionando resultados, saídas e entradas; níveis de responsabilidade - nível organizacional ou de uma unidade de negócio dentro de uma corporação, unidade de P&D, unidade de marketing/ manufatura, e de acordo com o timming envolvido na avaliação – se na fase de planejamento ou na fase de controle. (CORDERO, 1990)

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14. Diferentes Níveis de Criação de Valor

O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar elementos em diferentes níveis para avaliar a geração de valor da P&D para organização - processos de P&D, valor de ativos tecnológicos, integração com o negócio e criação de portfólio (TIPPING e ZEFFREN, 1995)

15. Alinhamento Estratégico e Relações Causais sob Diferentes Perspectivas de Avaliação

O sistema de medição de desempenho da P&D deve considerar elementos contidos nos conceitos do BSC: alinhamento estratégico, balanceamento dos indicadores e a relação causal dos objetivos estratégicos nas perspectivas financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento, como forma de promover o entendimento e o aprendizado da organização (KERSSENS-VAN DRONGELEN e COOK, 1997; BREMSER e BARSKY, 2004; e OSAMA 2006)

16. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação dos clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa

Em relação ao caso específico do desenvolvimento de produtos, o sistema de medição de desempenho deve considerar múltiplas dimensões como satisfação dos clientes, financeiros, produto, nível da empresa, nível do programa (GRIFFIN e PAGE, 1993)

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17. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com Estratégia de Inovação

O sistema de medição de desempenho para o desenvolvimento de produtos deve considerar a diferenciação de projetos no que tange à estratégia de inovação adotada pela empresa. Neste caso, diferentes características estratégias adotadas em relação ao desenvolvimento de produtos (prospectores, analisadores, defensores, reagentes) sugerirão diferentes indicadores de desempenho (GRIFFIN e PAGE, 1996)

18. Estrutura Multidimensional para P&D e Inovação

O sistema de medição de desempenho para avaliação da P&D e da inovação deve ser configurado a partir de um modelo composto pelos seguintes elementos: a. Processos Principais: Geração de Conceitos, Desenvolvimento de Produtos, Processos de Inovação e Aquisição de Tecnologia; Transferência de Tecnologia; Networking (CHIESA, 1996; VERHAEGHE e KFIR, 2002); Comercialização (ADAMS et al., 2005); Implementação (GOFFIN e MITCHELL, 2005) b. Processos de Gestão: Gestão de Portfólio (balanceamento, riscos); e Gestão de Projetos (eficiência, comunicação, etc.) (ADAMS et al., 2005); c. Habilitadores: Desenvolvimento de Recursos Financeiros e Humanos; o Uso Efetivo de Sistemas e Ferramentas de Gestão; e Liderança e Direção (CHIESA, 1996); Gestão do Conhecimento (geração de ideias, repositório de conhecimento); Estratégia de Inovação (orientação estratégica, liderança estratégica); Cultura e Organização (ADAMS et al., 2005); Estrutura e Pessoas (GOFFIN e MITCHELL, 2005)

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Fatores de Contingência

19. Elementos contidos nos fatores de contingência

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar algumas estruturas para sua concepção: a. Elementos Macro da Organização: i. A estratégia da organização, fortemente associados aos fatores críticos de sucesso a serem considerados no nível corporativo e de unidade de negócio (LOCH et al., 1996; GRIFFIN e PAGE, 1996); b. Fatores Contextuais (ou Contingenciais) – esses fatores podem ser divididos em: i. Elementos presentes na P&D: 1. A estrutura organizacional da P&D, que pode ser orientada às entradas - por exemplo, por centros de custo de projetos, orientada às saídas - por exemplo, por produto gerado ou por plataforma tecnológica desenvolvida, ou matricial (FRATTINI et al., 2006); 2. As diferentes fases da P&D - pesquisa básica, aplicada e desenvolvimento (PAPPAS e REMER, 1985; WERNER e SOUDER, 1997; e OJANEN e VUOLA, 2003); 3. As etapas do processo da P&D - entrada, processamento, saída, resultado (BROWN e SVENSON, 1988; KERSSEN VAN-DRONGELEN e COOKE, 1997; WERNER e SOUDER, 1997; e BAGLIERI et al.., 2000); 4. Os níveis de responsabilidade na P&D - o desempenho da organização, da P&D, do grupo de pesquisadores ou do próprio pesquisador individual (SCHUMANN et al.., 1995; HAUSER, 1998; NIXON, 1998; e BREMSER e BARSKY, 2004); ii. Características do sistema de gestão da organização 1. Os objetivos do sistema de medição de desempenho - para motivar pessoas, para diagnosticar problemas, facilitar alinhamento e comunicação dos objetivos, etc. (LOCH et al., 1996; MEYER et al., 1997; KERSSEN VAN-DRONGELEN e BILDERBEEK, 1999; KERSSEN VAN-DRONGELEN et al., 2000; e BAGLIERI et al., 2000); 2. O grau de envolvimento das pessoas em relação ao sistema de medição - se atrelado a remuneração variável, se atrelado a política de identificação e desenvolvimento de lideranças, etc. (FRATTINI et al., 2006; CHIESA e FRATTINI, 2007; CHIESA et al., 2008); 3. Os recursos disponíveis para o PMS, que podem influenciar os objetivos do PMS porque eles podem representar uma restrição crítica à capacidade informativa do sistema (FRATTINI et al., 2006; CHIESA e FRATTINI, 2007; CHIESA et al., 2008). c. Elementos do Sistema de Medição de Desempenho 1. As diferentes perspectivas da avaliação - financeira, clientes, processos, etc. (KERSSENS-VAN DRONGELEN e COOKE, 1997; PEARSON et al., 2000; LOCH e TAPPER, 2002; BREMSER e BARSKY, 2004; e OSAMA 2006); 2. Aos atributos de desempenho - por exemplo, quantidade, tempo e custo (TIPPING et al. 1995); 3. A adequação dos resultados às metas organizacionais – indicadores leading e lagging (KAPLAN e NORTON, 1992, 1996); 4. As diferentes técnicas de mensuração de desempenho - qualitativo, semi-quantitativo e quantitativo (PAPPAS e REMER, 1985; BROWN e GOBELI, 1992; e WERNER E SOUDER, 1997); 5. A natureza da medição - baseado em critérios objetivos ou subjetivos (PAPPAS e REMER, 1985; BROWN e GOBELI, 1992; e WERNER e SOUDER, 1997); 6. Ao tempo considerado na medição - eventos relacionados ao passado, presente, futuro (TIPPING et al. 1995); 7. As normas que irão nortear o padrão de avaliação, que devem ser subjetivos ou objetivos, avaliado contra o tempo ou comparado com outras empresas ou outros setores (FRATTINI et al., 2006; CHIESA e FRATTINI, 2007; CHIESA et al., 2008);

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20. Fatores de Contingência sob Definição de Regras de Projeto

O sistema de medição de desempenho para P&D deve considerar algumas regras que definem a relação dos indicadores de desempenho com os fatores de contingência (CHIESA et al., 2009): a. Organizações cujo objetivo do PMS esteja relacionado a diagnósticos são as que geralmente desenvolvem inovação high tech, possuindo grandes unidades de P&D. Geralmente adotam indicadores de desempenho das perspectivas financeiras, de clientes e de processos; b. Organizações cujo objetivo do PMS esteja relacionado a interação entre pessoas são as que geralmente possuem grandes unidades de P&D, que necessitam coordenação entre diferentes atividades. Geralmente essas empresas adotam indicadores de desempenho das perspectivas de processos; c. Organizações cujo objetivo do PMS esteja relacionado a objetivos motivacionais são as que geralmente possuem pequenas unidades de P&D, orientadas mais a pesquisa básica e aplicada. Geralmente essas emrpesas adotam indicadores de desempenho das perspectivas de processos e de aprendizado e crescimento.

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Anexo 3: Roteiro de Questões a Serem Verificadas nos Estudo de Casos Os seguintes elementos constituem as evidências a serem buscadas nos estudos de caso:

1. Dados gerais da organização e do setor em que atua

Basicamente, este bloco se refere às descrições gerais da organização e do setor em que

atua, bem como às informações que confirmam suas características inovadoras

o Descrição do setor em que esta organização atua, principais questões de

inovação e tecnologia presentes neste setor, se (quais, como) estas

questões refletem no padrão de gestão de tecnologia e inovação da

empresa;

o Descrição geral da organização, seus processos centrais, sua estrutura

organizacional, formalização do modelo de gestão de tecnologia e da

inovação formalizado.

o Indicadores clássicos: investimento em P&D, nº de funcionários

trabalhando em P&D (por nível de formação – doutores, mestres, etc.),

produtos lançados em determinado intervalo de tempo, etc.

Vale lembrar que tais características nem sempre estarão

associadas a formalização/ documentação – podemos ter P&D

estruturado, mas sem um modelo de gestão, ou mesmo processos,

formais (esses serão “testados” no item a seguir)

2. Confirmação da estrutura formal de P&D e de gestão da P&D

Processos de inovação (cadeia de valor), processo decisório, estrutura organizacional,

métodos de gestão (alocação de recursos, portfólio de projetos, etc.), verificando, em

especial:

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o Levantamento de documentação específica da estrutura de P&D:

organogramas, processos documentados, projetos em andamento,

responsabilidades das equipes, metas associadas, etc.;

o Como o processo de conformação da estratégia de inovação da empresa

se conecta formalmente com o processo de conformação da estratégia da

empresa;

o Os principais indicadores de desempenho adotados para gestão da

inovação e se tais indicadores refletem a estratégia da empresa;

o Como a empresa monitora o ambiente a sua volta e responde a mudanças

tecnológicas (ou outras que reflitam em necessidade de desenvolvimento

tecnológico - regulatórias, de mercado);

o Se a empresa desenvolve alguma estrutura formal de captação,

disseminação e gestão do conhecimento, interno e/ou externo ao seu

P&D:

Em ambientes indutores de geração de ideias – se existem

estrutura e dinâmica encorajadoras para geração de novas ideias,

como brainstorm, workshops; tratamento dado às novas ideias,

incentivos, etc.;

Redes de inovação – para captação e/ou disseminação de novas

ideias, critérios para desenvolver, aprofundar ou reduzir a relação

com entes externos;

Transferência de tecnologia – verificar participação da

transferência e tecnologia (para dentro) na capacidade inovadora

da organização; participação da transferência para fora, no

sentido de estimular a disseminação do conhecimento em prol de

suas políticas de inovação;

Mecanismos de aprimoramento de pessoal – políticas de

treinamento e capacitação dos funcionários, refletindo, entre

outros, plano de cargos e salários, alocação em projetos, etc.;

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o Por outro lado, como a empresa trata as questões relacionadas a

propriedade intelectual:

Por que proteger as ideias, quais precisam ser protegidas e quais

não precisam – critérios de proteção;

o Se os objetivos individuais são claramente estabelecidos, os responsáveis

identificados, e tal estrutura de responsabilização é do conhecimento de

todos os colaboradores;

o Seleção e priorização de projetos, em relação a:

Critérios para seleção das melhores ideias - como as ideias

geradas são avaliadas, selecionadas e financiadas;

Como se dá o alinhamento entre as ideias geradas e a estratégia de

inovação da empresa;

Como é gerido o portfólio de projetos em curso na empresa, se

existe algum tipo de classificação quanto a risco, retorno, tema,

tipo de inovação etc.;

o Implantação e acompanhamento de projetos, em relação a:

Alocação das equipes aos projetos, revisão dos recursos alocados,

tratamento dos riscos identificados;

Como se dá a organização de projetos – por carteira, por

programas, e a sistemática de gestão desses projetos (destacando

aqui como a estrutura organizacional facilita ou dificulta essa

gestão;

• Na condução dos projetos existem coordenadores?

Gerentes? Como estes se estruturam e qual o poder e

autonomia de cada um desses? Como estes se relacionam

com a estrutura formal?

• Como estão estruturadas as equipes (light-wheight, heavy-

wheight etc.)? Em que ambiente ocorre o trabalho

multidisciplinar, por exemplo, entre projetistas industriais,

especialistas da tecnologia embarcada no produto, etc.?

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Principais interfaces: P&D/ Engenharia e Produção,

P&D/Engenharia Marketing/ Vendas – aqui valeria descrição

detalhada dos processos de desenvolvimento, destacando etapas

de entregas intermediárias e finais, controles realizados;

3. Sistema de Medição de Desempenho para o P&D

Aqui busca-se identificar os elementos percussores do projeto de implantação do

sistema de medição de desempenho, suas características (em relação aos quadros

conceituais vistos na literatura e os indicadores de desempenho utilizados) e como o

sistema de medição de desempenho é utilizado para gestão do P&D.

o Motivadores/ propósito do projeto

Definição dos elementos que motivaram a implantação do sistema

de medição de desempenho;

Qual o propósito do sistema de medição de desempenho

(alinhamento estratégico? Alocação orçamentária? Adoção de

políticas de remuneração variável?);

o Estrutura do sistema de medição de desempenho P&D

Como foi projetado – se por diferenciação das atividades (P <>

D), se por processos, se por estrutura de auditoria, se por visão

multidimensional (do BSC ou se por outras visões);

Como foi “recortado” - se por visão funcional (por departamento,

por laboratório de pesquisa, etc.), por projeto, por equipe de

pesquisadores, etc.

o Características do sistema de medição de desempenho, em relação a:

Capacidade de avaliação dos resultados, dos meios pelos quais os

resultados vêm sendo alcançados (se há lógica causal no sistema,

se há equilíbrio e articulação);

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Articulação e equilíbrio, contendo medidas financeiras e não

financeiras; de curto e longo prazo; de entradas, processamento e

resultados;

Exaustividade, ou seja, se todos os eventos considerados

relevantes estão sendo monitorados;

Utilidade, ou seja, deve ser efetivamente útil para a tomada de

decisão, seja no nível de gestores, seja no nível de executores.

o Como o sistema de medição de desempenho se insere na gestão do P&D:

Tipos de decisão que são tomadas (critério de utilidade) e

exemplos;

Práticas de gestão que inserem o SMD (avaliações sistemáticas,

reuniões de coordenação, priorização de projetos, etc.) - valeria

mapear o “processo de gestão” que se apropria dos indicadores de

desempenho para análise e tomada de decisão;

Responsabilidades no processo de avaliação de desempenho -

quem avalia, quem decide, etc.;

Aspectos gerais do impacto do Sistema de medição de

desempenho no staff/ cultura;

Abrangência dos indicadores: se há funções do departamento do

P&D não monitoradas e se há indicadores fora do P&D que

impactam ou são impactados. Neste caso, como são tratados?

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Anexo 4: História da Empresa Ouro Fino A Ouro Fino foi fundada em 1987 em Ribeirão Preto, atuando na fabricação e

comercialização de medicamentos veterinários para animais de grande porte. Dois

amigos, com formação de Técnicos Agrícolas, se desligaram de uma empresa produtora

de ração e, com capital próprio, iniciaram o negócio de revenda de medicamentos

veterinários adquiridos de fabricantes locais. O sucesso do novo empreendimento levou

os dois sócios a criar sua própria unidade de produção. Em parceria com a Universidade

de São Paulo (USP), desenvolveram uma formulação antimicrobiana e iniciaram a

venda do primeiro produto de fabricação própria, o Trissulfin55. Logo, outros produtos

com processos de fabricação mais simples, onde a necessidade de investimentos na

linha de produção era pequena, passaram a ser desenvolvidos e fabricados, e os lucros

auferidos da venda destes produtos foram reinvestidos em aquisições e melhorias na

linha de produção, sendo possível, a partir dessas melhorias, a fabricação de

medicamentos mais sofisticados, onde as margens de lucro eram maiores. Tratava-se do

nascimento da primeira Unidade de Negócio da Ouro Fino, a Ouro Fino Saúde Animal.

As demais Unidades de Negócios foram inseridas no grupo, conforme descrito a seguir:

• Em 1997 a Ouro Fino iniciou a Unidade de Negócio voltada para exportações, a

Ouro Fino Animal Health. Trata-se de uma Unidade responsável pela produção e

comercialização de medicamentos veterinários para animais de grande porte

voltada para países mais próximos ao Brasil. Atualmente, a Ouro Fino exporta

seus produtos para cerca de 30 países da América do Sul, Central e África. O

grande desafio desta Unidade de Negócio é a adaptação do produto às

necessidades locais de cada país – são necessidades técnicas do produto, de

acordo com as características dos animais, do clima, etc., e demandas

regulatórias, já que cada país possui aspectos regulatórios que devem ser

considerados para fins de registro do medicamento. Atualmente, esta Unidade de

Negócio responde por 15% do faturamento total;

55 Medicamento antimicrobiano disponível em comprimidos e na forma de premix (pó para

inclusão na ração ou água).

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• Em 2000, a Ouro Fino entrou no mercado de animais de estimação e uma nova

Unidade de Negócio associada a esta linha de produtos foi iniciada, a Ouro Fino

Bem Estar Animal. Esta Unidade de Negócio se diferencia da Unidade de Saúde

Animal, basicamente pela relação Comercial diferenciada, voltada para o

mercado de varejo (o cliente principal são as clínicas e lojas especializadas, além

dos donos de animais de estimação). Atualmente, esta linha de negócio responde

por 11% do faturamento da empresa;

• Em 2003, a partir de parcerias estabelecidas com a Embrapa, a Ouro Fino inicia

a Unidade denominada Ouro Fino Agrosciences com atividades relacionadas ao

beneficiamento de sementes de forrageiras certificadas para pastagens para

atender mercado interno e externo. Atualmente, esta Unidade de Negócio

responde por cerca de 10% do faturamento total da empresa;

• Também em 2003, outra linha de negócio foi criada, a Ouro Fino Cuidados

Domésticos, iniciando a produção e comercialização de produtos voltados para

controle de pragas domésticas como ratos, baratas, formigas e moscas;

• Em 2005, a Unidade de Negócio de Genética Animal foi criada para se dedicar

ao melhoramento genético bovino da raça nelore56. Esta unidade comercializa

embriões de vacas de alto padrão genético, advindos de técnicas de reprodução

modernas (transferência de embrião, inseminação artificial), bem como animais

de alto desempenho zootécnico;

• Em 2007 a Ouro Fino entrou no setor de biológicos através da sua Unidade de

Biológicos. A partir de parceria estabelecida com o Instituto Butantan57, foi

montado um laboratório de pesquisa dentro do Instituto, para contribuir para

agilidade no desenvolvimento de vacinas contra raiva, brucelose, botulismo,

leptospirose, entre outras. Esses projetos estão em etapa de finalização do

56 Trata-se de uma raça de gado bovino (Zebu) originária da Índia. Os primeiros exemplares da

raça chegaram ao Brasil no final do século XVIII, e rapidamente se tornaram a raça de gado

predominante no rebanho brasileiro (85% do rebanho total). Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Nelore

57 O Instituto Butantan é um centro de pesquisa biomédica localizado no bairro do Butantã, em São

Paulo e é responsável pela produção de mais de 80% do total de soros e vacinas consumidos no Brasil.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Instituto_Butantan

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desenvolvimento e futuramente, com a transferência de tecnologia de produção,

a Ouro Fino irá produzir essas vacinas nas suas instalações. A empresa investiu

também cerca de R$50 milhões na construção da fábrica de vacina contra a

Febre Aftosa, cujo mercado estimado contribuirá por, aproximadamente, 20%

do faturamento total da Ouro Fino. Essa vacina está em fase de produção de

lotes piloto, em cumprimento aos requisitos para registro no MAPA;

• Finalmente em 2008, a Ouro Fino iniciou a Unidade de Negócio Agrícola (Ouro

Fino Química), responsável pela produção de defensivos agrícolas, um mercado

estimado como sendo duas vezes maior que o de produtos veterinários. A planta

produtiva está sendo construída em Uberaba/MG, tem sua finalização prevista

para final de 2010.

Há uma lógica implícita na abertura de novas Unidades de Negócio que merece ser

destacada. O mote central da Ouro Fino sempre foi saúde animal, iniciando suas

atividades a partir da oferta de medicamentos para animais de grande porte, seguindo

logo após para ofertar produtos para animais domésticos – um mercado semelhante, no

que tange à formulação de medicamentos, mas que levou a mudanças na relação

comercial com clientes, o que justificou a abertura de uma nova Unidade de Negócio

dedicada à linha pet. Em uma fazenda de criação de gado, existem problemas

relacionados à saúde sanitária do local, o que levou a Ouro Fino a lançar produtos na

linha de domissanitários58, justificando a abertura de uma Unidade de Negócio

específica. As epidemias, que causam sérios prejuízos ao pecuarista, levaram ao início

da Unidade de Biológicos, em um mercado promissor de vacinas para animais de

grande porte.

O financiamento desta expansão vem se dando a partir de capital próprio dos sócios, da

captação de recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

(BNDES) e de agências financiadoras como a Financiadora de Estudos e Projetos

58 Entende-se por saneante domissanitário as substâncias destinadas à higienização, desinfecção

domiciliar, em ambientes coletivos ou públicos, em lugares de uso comum e no tratamento de água.

Muitos exemplos podem ser listados tais como: os desinfetantes, os repelentes, os sabões e detergentes, os

raticidas e os agentes de limpeza em geral. Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Domissanitario

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(FINEP), além de fundações de Amparo a Pesquisa de diversos estados, tais como a

Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a Fundação de

Amparo à Pesquisa do Distrito Federal (FAPDF). O maior investimento realizado ficou

por conta do BNDESPAR59 que, em 2007, adquiriu 20% da participação societária da

Ouro Fino, no valor de R$ 105 milhões. Os financiamentos em programas de Pesquisa,

Desenvolvimento e Inovação feitos pela FINEP foram iniciados em 2003, totalizando

cerca de R$ 60 milhões entre financiamentos reembolsáveis e não reembolsáveis.

59 A BNDESPAR é uma empresa privada de propriedade do BNDES criada para investir recursos

do banco em sociedades constituídas no Brasil. Mais informações, consultar www.bndespar.gov.br

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Anexo 5: História de Bio-Manguinhos A história de Bio-Manguinhos está atrelada diretamente à história de estrutura da saúde

pública nacional, que se inicia em 1900 com a criação do Instituto Soroterápico Federal

com o objetivo de desenvolver soros, vacinas e apoiar as campanhas de saneamento

levadas por Oswaldo Cruz pelo Brasil. O antigo Instituto (posteriormente nomeado

Instituto Oswaldo Cruz) é hoje a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), da qual pertence

Bio-Manguinhos, criado em 1976 como o instituto que passou a ser uma unidade

técnico-científica independente voltada à promoção, ao desenvolvimento e à produção

de imunobiológicos de interesse para a saúde pública. O marco principal da criação de

Bio-Manguinhos foi a doação da fábrica de vacinas contra meningite feita pelo Instituto

Mérieux, época em que as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo estavam vivendo um

surto de epidemia desta doença e havia no mundo apenas um produtor desta vacina. A

partir da sua criação, vários contratos de transferência de tecnologia foram firmados,

possibilitando a Bio-Manguinhos se firmar como um dos principais institutos a fornecer

vacinas para os programas públicos. Os mais importantes eventos podem ser descritos

na Tabela 39 a seguir:

Tabela 39: Principais Eventos Ocorridos em Bio-Manguinhos.

Fonte: http://www.fiocruz.br/bio/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=157

1978 Assinatura do contrato de transferência de tecnologia para produção da vacina

contra sarampo entre a Fiocruz e o Instituto Mérieux

1980 Assinatura do protocolo das discussões sobre cooperação técnica para o projeto

Produção de Biológicos, desenvolvido em Bio-Manguinhos com o apoio

técnico de instituições de pesquisa japonesas, possibilitando a transferência de

tecnologia de produção da vacina contra o sarampo (Instituto Biken) e da vacina

contra a poliomielite (Instituto de Pesquisa de Poliomielite do Japão) para Bio-

Manguinhos. A produção dessas vacinas foi iniciada em 1982 e 1983,

respectivamente.

1985 Lançamento do Programa de Auto-suficiência Nacional em Imunobiológicos,

que visa o fim da dependência brasileira de importações de soros e vacinas

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através do investimento em laboratórios e plantas industriais nacionais para

atender a demanda necessária dos programas públicos de imunização.

1999 Início da produção da vacina conjugada contra Haemophilus influenzae tipo b

(Hib), através de acordo de transferência de tecnologia entre Bio-Manguinhos e

a SmithKline Biologicals.

2000 Assinatura do contrato para transferência de tecnologia da vacina contra a

rubéola entre Bio-Manguinhos e o Instituto Biken, do Japão.

2001 Início da produção da vacina combinada contra DTP e Hib (50 doses por

cartucho) em parceria com o Instituto Butantan.

Certificação nacional de Boas Práticas de Fabricação da vacina contra febre

amarela, emitida pela ANVISA significando um passo fundamental para a

qualificação internacional. Em outubro, a unidade alcança a qualificação da

Organização Mundial de Saúde para poder atuar como fornecedora

internacional da vacina contra febre amarela

2003 Assinatura do acordo de transferência de tecnologia da vacina combinada contra

rubéola, sarampo e caxumba (tríplice viral) com a GlaxoSmithKline

2004 Bio-Manguinhos fecha acordo com Cuba para a transferência de tecnologia para

produção dos biofármacos alfaepoetina (chamada de eritropoetina humana

recombinante na época) e alfainterferona 2b humana recombinante (chamada

de interferon alfa 2b humano recombinante na época).

2007 Atendendo à Organização Mundial de Saúde, o Instituto assina um acordo com

Cuba para fornecimento da vacina contra meningite A e C, com objetivo

de combater o risco de uma epidemia em países da África.

Início do contrato de transferência de tecnologia com a Glaxo SmithKline para

produção de vacina contra rotavírus.

2009 Início do contrato de transferência de tecnologia com a Glaxo SmithKline para

produção de vacina contra pneumococos.

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De sua criação até os dias de hoje, Bio-Manguinhos evoluiu de um conjunto de

pequenos laboratórios de febre tifóide, cólera, meningite e febre amarela, projetados

para pesquisa, para um complexo industrial e tecnológico de imunobiológicos dos mais

importantes da América do Sul.

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Anexo 6: História do CENPES60 Como órgão da Petrobras dedicado à formação e ao desenvolvimento de recursos

humanos, o Centro de Aperfeiçoamento e Pesquisas de Petróleo (CENAP) – embrião

do atual CENPES – foi criado em 1955, caracterizado não apenas por promover

numerosos cursos, mas também por implementar as pesquisas tecnológicas. A primeira

inserção da pesquisa aplicada à atividade industrial ocorreu na Refinaria Duque de

Caxias, no Rio de janeiro, cuja matéria-prima era o petróleo vindo do Oriente Médio.

Para possibilitar o uso do petróleo nacional, mais pesado, era preciso alterar as

condições de operação da Refinaria, o que foi feito por técnicos brasileiros. O sucesso

da operação deu ensejo a que as demais refinarias exigissem intervenções semelhantes.

Nesse período, as atividades de pesquisa eram realizadas na área industrial, em um

laboratório localizado no Rio de Janeiro, em consonância com as novas diretrizes da

política nacional de substituição das importações e instalação de refinarias brasileiras.

Em 1963, o Conselho de Administração da Petrobras decidiu criar um Centro de

Pesquisas voltado exclusivamente para as atividades de pesquisa e desenvolvimento, e

assim, gradativamente, os técnicos estrangeiros foram sendo substituídos por

profissionais brasileiros. Apesar de a produção já estar mais bem estruturada e mais

intensificada, a alta competitividade do mercado internacional tornava a importação

uma atividade atraente, não estimulando a produção nacional frente ao consumo em

ascensão.

Em 1973 o CENAP é rebatizado e, já como CENPES, passa a atuar na adaptação das

tecnologias importadas para as condições geológicas, ambientais, de mercado e de

matéria-prima nacionais. A expansão incentiva a transferência do Centro para uma área

maior, de 1.200 metros quadrados, cedida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro

(UFRJ) na Ilha do Fundão – onde está instalado até hoje, agora já com 122 mil metros

quadrados.

Em 1975, agora instalado em sua nova sede, o CENPES foi mais uma vez rebatizado

para Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello, em

homenagem ao grande incentivador das atividades de pesquisa na Companhia, falecido

60 Informações tiradas do site da empresa: http://www2.petrobras.com.br/portal/tecnologia.htm

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naquele ano. No ano seguinte, as atividades de Engenharia Básica, até então dispersas

na Companhia, foram integradas ao CENPES, complementando, assim, as áreas de

pesquisa e desenvolvimento. Desde então, o Centro vem contribuindo com a adaptação

das tecnologias à realidade brasileira e também respondendo às demandas tecnológicas,

sem prescindir da utilização de conhecimentos de outros países. Em 1992 – e depois

novamente em 2002 –, o CENPES consolidou sua condição de maior Centro de

Pesquisas da América Latina recebendo o Offshore Technology Conference, prêmio

mais importante do setor petrolífero mundial. No mesmo ano, 1992, a Petrobras passou

a destinar 1% de sua renda bruta ao CENPES, tornando-se uma das empresas que mais

contribuem com a pesquisa e o desenvolvimento no setor petrolífero no mundo.

Atualmente, o CENPES encontra-se em expansão de uma nova localidade, onde a área

ocupada mais do que duplicará, passando dos 122 mil metros quadrados atuais, para 305

mil metros quadrados. A ampliação do CENPES contará com um total de 23 prédios de

laboratórios de pesquisas nos diversos segmentos e áreas da indústria de petróleo e

energia.

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Anexo 7: Segmentos de Atuação do CENPES Atualmente, o CENPES atua nos seguintes segmentos61:

• Tecnologias de produtos e serviços para combustíveis - a abertura do segmento

de petróleo introduziu novas regras no mercado brasileiro de combustíveis as

quais, juntamente com restrições ambientais mais rígidas, exigirão produtos

mais competitivos. Os programas de melhoria da qualidade de gasolina e diesel

lançados na Europa e nos EUA preveem para esta década, dentre outras

medidas, o desenvolvimento de combustíveis isentos de enxofre, com

diferenciais de preços cada vez maiores, compatíveis com o nível superior da

qualidade desses produtos;

• Recuperação avançada de petróleo em campos maduros - a Petrobras domina

uma ampla gama de tecnologias destinadas a gerenciar adequadamente campos

produtores de petróleo, em fase de meia-vida ou já maduros. Para continuar

produzindo tais campos de forma economicamente viável, a Petrobras

desenvolve soluções tecnológicas que aumentem a rentabilidade, o fator de

recuperação e mitiguem o declínio de produção com alto grau de exploração em

terra e mar;

• Soluções tecnológicas para a preservação ambiental - a degradação do meio

ambiente é um tema que está sendo cada vez mais discutido no âmbito mundial.

Por sua vez, a legislação ambiental tem apresentado tendência a criar leis mais

rígidas, restringindo a atuação das empresas. Neste cenário, a preocupação com

o meio ambiente vem ganhando espaço na gestão estratégica das empresas. A

Petrobras, em seu plano estratégico, reforçou seu compromisso com a

responsabilidade socioambiental e rentabilidade, que passaram a ter o mesmo

peso no processo de tomada das decisões. Em função deste contexto, a Petrobras

investe em tecnologias que contribuirão para a excelência ambiental da

Petrobras, contribuindo para o seu crescimento sustentável;

61 Informações tiradas do site da empresa: http://www2.petrobras.com.br/portal/tecnologia.htm

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• Produção em águas profundas - nos últimos 23 anos, a Petrobras, pioneira no uso

do conceito de produção flutuante, enfatizou sempre a inovação e o

aperfeiçoamento, com base em sua experiência profissional. Foram consecutivos

os recordes de produção da Petrobras em águas profundas e hoje a meta é

disponibilizar tecnologias para produção de petróleo e gás natural a

profundidades superiores a 3.000m. A Petrobras tem trabalhado para prover e

antecipar soluções tecnológicas que aumentem a rentabilidade e desenvolvam a

produção em campos em águas profundas e ultraprofundas nacionais e

internacionais, especialmente no Golfo do México e África;

• Transporte de petróleo e derivados - considerando-se o fim da reserva de

mercado da indústria de petróleo, a ampliação, modernização e confiabilidade

operacional dos modais de transporte são pré-requisitos de extrema importância

para a competitividade dos produtos Petrobras. Adequar a abordagem

tecnológica na área de dutos, terminais e navios aos objetivos estratégicos da

Companhia, bem como elevar sua tecnologia ao nível de importância requerida

pelos novos desafios é fundamental para esta atividade. Portanto, a tecnologia é

uma das ferramentas para a maximização da confiabilidade operacional de

dutos, terminais e navios;

• Fronteiras Exploratórias - as empresas ligadas ao setor de Petróleo e Gás, no

qual a Petrobras está inserida, dedicam-se à exploração como um primeiro passo

para manter o ciclo de descobertas de novas jazidas. Trata-se de uma atividade

estratégica da cadeia produtiva do petróleo, composta por uma sequência

complexa de etapas e de processos decisórios, que envolvem grandes

investimentos e altos riscos, de médio e longo prazos. Neste contexto, os

desafios da área de Exploração abrangem a busca por novas fronteiras

exploratórias visando à aquisição e domínio de tecnologias inovadoras que

permitam otimizar todas as etapas do negócio, além de auxiliar nas descobertas

de novas reservas de óleo de boa qualidade e de gás natural. Para manter a

liderança no mercado brasileiro e continuar crescendo no mercado internacional,

a Petrobras adquire, desenvolve e integra conhecimentos e tecnologias

geocientíficas que, numa visão de médio e longo prazo, contribuam para a

descoberta de novas províncias petrolíferas ou para a re-exploração de

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províncias maduras. Além disso, a Petrobras também atua no desenvolvimento

tecnológico para a exploração de acumulações naturais de hidratos de gás;

• Gás Natural - as empresas de petróleo no mundo estão deixando de ser

companhias exclusivamente de petróleo para se tornarem empresas de energia.

A Petrobras também tem se adequado a este novo contexto e uma das ações para

isso é o investimento em pesquisas relacionadas ao gás natural. A Companhia

tem se empenhado no desenvolvimento de soluções tecnológicas para transporte

embarcado, armazenamento e utilização seletiva do gás natural, contribuindo

para viabilizar o atendimento ao mercado projetado para os próximos anos;

• Energias Renováveis - as energias renováveis são um elemento essencial para se

alcançar o desenvolvimento sustentável. Acompanhando a tendência mundial, a

Petrobras traçou como meta converter-se em uma empresa de energia com

atuação internacional e liderança no segmento na América Latina. E está

comprometida com o conceito de desenvolvimento associado à responsabilidade

socioambiental. Para isso, a Petrobras investe para prover tecnologias que

assegurem sua a liderança mundial na produção de biocombustíveis em 2020,

inclusive a partir de matérias-primas de baixo valor agregado (biomassa

residual). Em função deste cenário, a Petrobras tem focado no desenvolvimento

de novos combustíveis, biocombustíveis e óleos lubrificantes de forma a tornar

os produtos nacionais mais competitivos em relação aos de origem europeia e

americana;

• Óleos Pesados - o aproveitamento comercial de acumulações de óleos pesados e

viscosos no mar representa um desafio econômico e tecnológico para as grandes

companhias de petróleo. A Petrobras investe em pesquisa para garantir o

domínio de tecnologias críticas para a produção de óleos pesados e extrapesados,

que predominam nos campos offshore nacionais;

• Otimização e Confiabilidade - as empresas de petróleo têm enfocado, em suas

principais estratégias na área de abastecimento, grande preocupação com o

aumento de rentabilidade e redução de custos, em função da queda da margem

de refino e comercialização. A Petrobras estabeleceu, entre suas diretrizes, a

busca pela elevação da eficiência da organização, ajustando-se aos objetivos de

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aumentar a rentabilidade e a produtividade. Para isso, a Petrobras busca prover e

antecipar soluções tecnológicas para garantir a confiabilidade operacional e a

otimização de sistemas e processos da área de Abastecimento, de forma a

viabilizar as metas de processamento previstas pela Petrobras;

• Tecnologias Estratégicas de Refino - a Petrobras investe, substancialmente, no

aumento da produção nacional de petróleo. Esta expansão se concentra

principalmente na Bacia de Campos, região de produção de petróleo com

características de qualidade distintas. O óleo nacional é mais pesado do que os

importados, necessitando de alta capacidade das unidades de conversão para seu

processamento, as quais convertem frações pesadas em combustíveis nobres.

Este petróleo apresenta, ainda, algumas contaminações, que, em geral,

prejudicam os processos catalíticos do refino e provocam o aumento de sua

corrosividade, fazendo com que o esquema de refino tenha que ser adaptado e

otimizado. Para refinar de forma eficaz este petróleo, a Petrobras busca prover e

antecipar soluções tecnológicas para o processamento de petróleos pesados e

extrapesados buscando a conversão em combustíveis de qualidade;

• Modelagem de Bacias - a atividade de exploração em uma empresa de petróleo é

fundamental para manter ou aumentar ainda mais as suas reservas provadas e,

desta forma, garantir o crescimento da empresa no futuro. Para se aprimorar

ainda mais nesta atividade, a Petrobras desenvolve e testa métodos de simulação

física e numérica de processos geológicos em bacias sedimentares, sua

parametrização e gestão de dados específicos para cada bacia onde a Companhia

atua, visando disponibilizar tecnologias para otimizar o processo exploratório e

viabilizar a incorporação de reservas de petróleo;

• Engenharia Básica - a atividade de Engenharia Básica na Petrobras teve início

em 1976. Voltada, inicialmente, para a Área Industrial, foi ampliada em 1983

para o segmento de Exploração e Produção (E&P). Representando entre 0,5% e

1% do custo total dos empreendimentos, o Projeto Básico realizado no

CENPES, além de gerar grande economia de divisas para a Petrobras e para o

País, proporciona à empresa autonomia e independência na tomada de decisões

tecnológicas quanto a seus investimentos. O principal produto da fase de

definição de um empreendimento, o Projeto Básico, é o conjunto de documentos

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técnicos que define completamente uma unidade operacional, com vistas à

contratação das fases subsequentes do empreendimento. Como responsável pela

elaboração dos projetos básicos das unidades operacionais da Petrobras, a

Engenharia Básica deve assegurar que o produto final - uma planta de processo,

uma unidade de refinaria ou uma plataforma de produção - tenha alto

desempenho, confiabilidade operacional e atenda a todos os requisitos de

Qualidade, Saúde, Meio Ambiente e Segurança;

• Mudanças Climáticas - em virtude do processo de mudanças climáticas

ocorridas no planeta nos últimos anos, a Petrobras tem buscado prover soluções

tecnológicas para a redução da intensidade de emissões de gases de efeito estufa

em seus processos e produtos, visando garantir a sustentabilidade de seus

negócios e contribuir para a mitigação das mudanças climáticas globais;

• Pré-sal - com a descoberta de novas reservas, como o mega-campo de Tupi, na

Bacia de Santos, a Petrobras se coloca diante de um novo desafio para a

indústria petrolífera mundial: produzir petróleo e gás natural em áreas

localizadas abaixo da camada de sal. Para isso, a Petrobras tem concentrado

esforços para gerar e disseminar tecnologias para incorporar reservas e

desenvolver a futura produção das descobertas exploratórias da seção pré-sal,

nas bacias de Santos e Campos.

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Anexo 8: Avaliação dos Casos à Luz das Princípios de Construção de Sistemas de Medição de Desempenho para P&D Identificadas na Literatura

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Caso Ouro Fino:

Princípios de Construção para Definição de Sistemas de Medição de Desempenho Caso Ouro Fino

1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

Os únicos indicadores de desempenho financeiros identificados na Ourofino são os indicadores de resultado geral (Faturamento e Lucratividade) no nível de cada Unidade de Negócio, e os indicadores de custos relacionados aos projetos, quando estes projetos são financiados por agências de fomento à pesquisa. Não foi identificado na Ouro Fino, contudo, nenhum indicador de resultado financeiro (ROI, índice de efetividade, etc.) que subsidie tomada de decisão no nível de projeto ou programa.

Propostas de Indicadores de

Desempenho para P&D

2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

Da lista de indicadores de desempenho identificados na Ouro Fino, pode-se perceber que alguns elementos da P&D são mais representativos do que outros. Por exemplo, poucos indicadores da Diretoria Técnica foram percebidos. Por outro lado, há diversos indicadores de desempenho da Diretoria de PD&I, principalmente no que tange às questões relacionadas a registros e entradas em processos junto ao MAPA. Por constituir um processo crítico, a fase de registro de produtos é avaliada em um nível detalhe muito grande. Não foi percebida nenhuma relação dos indicadores da Ouro Fino com as particularidades do setor em que atua, embora alguns indicadores de desempenho sejam típicos de empresa que busca estratégia de crescimento (por exemplo, "Crescimento % de faturamento por Diretoria Comercial" e "Nº de Produtos Lançados ao Ano" )

3. Controle e Avaliação

No Departamento de PD&I, os indicadores de acompanhamento de projeto são bastante utilizados para garantir controle do cronograma físico dos diversos projetos. Esses indicadores de desempenho são apresentados mensalmente em reuniões, onde são avaliados os resultados, suas causas e consequências. Diante desta avaliação, são traçados planos de ação para ajustar algum indicador fora da meta estabelecida. Como acompanhamento de resultado no nível do departamento de PD&I, os indicadores "Nº de Produtos Lançados ao Ano" e "Nº de Pedidos de Registro" encontram-se com razoável grau de aderência à estratégia de crescimento e diversificação da Ouro Fino, podendo ser considerados, assim, como indicadores de resultado da P&D, embora não haja um planejamento estratégico formal que projete esses resultados periodicamente.

Propostas de Sistemas de Medição de

Desempenho para P&D Sistemas

Alinhados à Lógica de Controle e Avaliação

4. Relações Causais

Os indicadores de desempenho são escolhidos ano a ano, a partir de negociação com instâncias superiores, aderentes à estratégia da organização. Neste caso, pode-se perceber relações causais, por exemplo, entre os indicadores de resultado do Deparamento de PD&I (Nº de Produtos Lançados ao Ano e Nº de Pedidos de Registro) e indicadores de resultado geral (Fatuamento, Lucratividade e Market Share). Essas relações, entretanto, não são detalhadas e explicitadas, mas são discutidas nas reuniões de acompanhamento dos indicadores. É a lógica da causalidade que baliza as discussões nas reuniões de acompanhamento, em que os indicadores da Diretoria Comercial orientam os indicadores das demais Diretorias.

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5. Diferentes Naturezas Presentes

na P&D

Como na Ouro Fino há poucas atividades relacionadas a pesquisa básica e exploratória, pelo menos na P&D intramural, não foram identificados indicadores de desempenho desta natureza. Tais atividades ocorrem em parcerias com Centros de Pesquisa privados e de Universidades, não havendo indicadores de desempenho, entretanto, que busque avaliar a qualidade e a efetividade dessas parcerias.

6. Visão da P&D como um Processo

de Negócio

O sistema de medição de desempenho concebido na Ouro Fino segue uma lógica de departamentos, e não de processos. Neste sentido, não há indicadores que retratem entradas, processamento, saídas e resultados, sob uma lógica processual, embora haja indicadores tipicamente de entradas (“Estoques” e “Desenvolvimento Equipe Comercial”) e saídas (“Produtos Lançados” e “Pilotos Executados”).

7. Stage Gates para Desenv. Produto

Embora haja uma estrutura de processo decisório baseada na lógica dos stage gates, não há indicadores de desempenho que orientem a avaliação de oportunidades e de desempenho dos projetos em carteira. Esta ausência de indicadores dificulta a avaliação de projetos e posterga a decisão de eliminar projetos pouco atrativos para o negócio

8. Nível de Maturidade dos

Processos

Os princípios de construção referentes ao nível de maturidade dos processos de P&D e a avaliação nos moldes de um audit não foi identificada na Ouro Fino. Entretanto, a maturidade das áreas de negócio mostrou-se um elemento primordial que explica o nível de maturidade em relação à gestão por indicadores de desempenho, conforme pode ser observada na Área de PD&I e na Área Técnica: a primeira área possui nível de maturidade mais elevado em termos de gestão, possui um papel estratégico muito bem definido desde a criação da Ouro Fino e, por isso, seu sistema de gestão por indicadores de desempenho encontra-se mais estruturado do que o da Área Técnica.

9. Processos Relacionados a

Elementos Externos e Internos à

Organização

Não foi observado na Ouro Fino associação entre indicadores de processos e indicadores relacionados a elementos externos/ internos à organização

10. Processos em Diferentes Camadas

Das três camadas presentes no quadro conceitual de Hauser (1996), a única que pôde ser percebida a partir dos indicadores de desempenho observados é a terceira, relacionada às avaliações de necessidades mais diretas e imediatas dos clientes. Embora não haja nenhum indicador que meça satisfação do cliente ou efetividade do produto às necessidades dos clientes, a Ouro Fino adota políticas claras de aproximação com os diferentes segmentos de mercado e o indicador relacionado a desenvolvimento da equipe comercial por localidade é um indicativo desta prioridade. Entretanto, não há qualquer relação desses indicadores de desempenho com os indicadores das outras duas camadas.

11. Relação com Objetivos Envolvidos em cada Processo

Não há indicadores que retratem a relação das etapas de processo com objetivos presentes em cada etapa

Visão Processual da P&D

12. Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

Não há indicadores que retratem a relação das etapas de processo com fases típicas de um projeto de P&D.

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13. Efetividade/ Eficiência, Níveis de Responsabilidade e Timming do Projeto

Há indicadores presentes em cada um dos elementos considerados no quadro conceitual de Cordeiro (1990). Pode-se perceber a utilização dos indicadores de controle de projetos frente ao planejado, indicadores que retratam diferentes níveis de responsabilidade (quando se observa os indicadores gerais e setoriais) e, mesmo que parcialmente, pode-se perceber uma diferenciação dos indicadores de resultado e indicadores de eficiência (estes, basicamente representados por indicadores de custos dos projetos, especialmente, quando se trata de projetos financiados por agências externas).

14. Diferentes Níveis de Criação de Valor

Não há indicadores de desempenho na Ourofino concebidos em uma lógica de agregação de valor tecnológico em diferentes níveis, tais como os estabelecidos por Tipping e Zeffren (1995).

15. Alinhamento Estratégico e

Relações Causais sob Diferentes

Perspectivas de Avaliação

Embora originalmente concebido na lógica do Balanced Scorecard, não houve continuidade desta filosofia para apoiar a concepção dos indicadores de desempenho na Ouro Fino. O único elemento do quadro conceitual do BSC que é utilizado na Ouro FIno é a lógica do alinhamento, conforme destacado no princípio 4, buscado a partir das discussões entre as áreas, que apresentam seus indicadores de desempenho periodicamente. A causalidade é discutida nessas reuniões, e o alinhamento do desempenho entre as áreas é orientado pelas metas estabelecidas na Diretoria Comercial

16. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos - satisfação

dos clientes, financeiros, produto,

nível da empresa, nível do programa

Não há indicadores de desempenho na Ouro Fino concebidos em uma lógica multidimensional, orientada ao desenvolvimento de produto. Conforme descrito nos princípios 1 e 2, os indicadores de desempenho financeiros e não financeiros estão implantados em um nível gerencial acima do nível responsável pelo desenvolvimento de produtos.

17. Estrutura Multidimensional do Desenvolvimento de Produtos de Acordo com Estratégia de

Inovação

Não há indicadores de desempenho na Ouro Fino concebidos em uma lógica contida neste princípio de construção, ou seja, de acordo com a estratégia de inovação.

Elementos Multidimensionais

da P&D

18. Estrutura Multidimensional

para P&D e Inovação

Não há indicadores de desempenho na Ourofino concebidos em uma lógica que segue modelos multidimensionais da P&D e inovação. O que pode ser identificado foi um conjunto de indicadores de desempenho departamentais que, ocasionalmente, poderiam estar aderidos a um ou outro elemento da estrutura multidimensional, como pode ser observado nos indicadores de desempenho de Comercialização e Implementação de projetos, mas não há pontuação ou medida de nível de implantação dos elementos multidimensionais.

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Fatores de Contingência 19. Elementos

Contidos nos Fatores de Contingência

1) Em relação aos elementos macro da organização (estratégia, fatores críticos, por exemplo), há uma estratégia definida não formalmente, mas sim nas ações de curto e médio prazo empreendida pelos sócios-proprietários da Ouro Fino, no que tange às políticas de expansão em diferentes Unidades de Negócio. Todavia, não é claro o desdobramento desta estratégia para o sistema de medição de desempenho, a não ser a partir de indicadores de desempenho pontuais como ""% de Crescimento do Faturamento"" e ""Nº de Produtos Lançados""; 2) Em relação aos fatores contextuais oriundos do sistema de gestão da organização, algumas considerações podem ser tecidas: a) A Ouro Fino tem bastante claro o objetivo a ser perseguido a partir da utilização do sistema de medição de desempenho para P&D, que é promover uma política de remuneração variável e garantir alinhamento e comprometimento das áreas com os resultados da empresa; b) Em relação ao envolvimento das pessoas, os indicadores de desempenho são concebidos em uma lógica departamental pelos gerentes e apresentados periodicamente em reuniões de análise crítica. Além disso, há outros indicadores envolvidos no cálculo da remuneração variável dos funcionários; c) A questão dos recursos disponíveis para o projeto de sistemas de medição de desempenho para P&D não pareceu ser uma contingência importante na Ouro Fino. 3) No que tange aos fatores contextuais presentes na P&D, algumas considerações podem ser tecidas: a) Os indicadores de desempenho foram pensados sob uma ótica funcional, de acordo com a estrutura organizacional da empresa. Conforme já destacado, este tipo de estrutura deve ser considerado com ressalvas, já que a avaliação funcional pode comprometer uma avaliação sistêmica, caso as relações causais entre indicadores departamentais e indicadores estratégicos sejam pouco conhecidas; b) Pode-se perceber a utilização dos indicadores que retratam diferentes níveis de responsabilidade quando se observa os indicadores gerais e setoriais presentes na organização; c) A contingência relacionada a etapas do processo da P&D não foi verificada na P&D da

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mesma necessidade em se definir o que é uma ação; c) Outra contingência que pôde ser observada refere-se a adequação dos resultados às metas da empresa, dentro de uma lógica de causalidade entre os indicadores de desempenho setoriais e gerais. Essas relações não são detalhadas e explicitadas, mas são discutidas nas reuniões de acompanhamento dos indicadores; d) A frequência de medição empregada para avaliação dos indicadores de desempenho ocorre em dois momentos: a partir de reuniões de acompanhamento mensais e uma reunião de balanço anual. Não foram observados, contudo, elementos como perspectivas de avaliação, tempo considerado na medição e normas para o padrão de avaliação; e) Finalmente, a contingência relacionada a normas foi observada no caso específico do Setor de Registro do Departamento de PD&I, já que os indicadores relacionados a quantidade de licenças concedidas e o prazo médio para registros nas empresas tem como objetivo a elaboração de benchmarkings com outras empresas; f) As demais contingências (perspectivas de avaliação e tempo considerado na medição) não foram verificadas no sistema de medição de desempenho da P&D da Ouro Fino.

20. Fatores de Contingência sob

Definição de Regras de Projeto

Não foi percebido na Ouro Fino qualquer caracterização de algumas das regras identificadas na literatura aos fatores de contingência observados.

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Caso Bio-Manguinhos:

Princípios de Construção para Definição de Sistemas de Medição de Desempenho Caso Instituto Bio-Manguinhos

1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

Os indicadores de desempenho financeiros identificados em Bio-Manguinhos são os indicadores de disponibilidade orçamentária e de receitas oriundas do mercado privado e mercado público. Atualmente, Bio-Manguinhos vem utilizando alguns indicadores de desempenho financeiros (como cálculo de investimentos em infraestrutura de equipamentos, pessoas e locais de trabalho, custos com matéria-prima, treinamentos e de pagamentos de royalties, e retornos futuros.) como forma de cálculo do EVTE para fins de avaliação de projetos. Não há indicadores, contudo, relacionados à plataforma tecnológica.

Propostas de Indicadores

de Desempenho

para P&D 2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

Vários indicadores de desempenho identificados em Bio-Manguinhos atendem este princípio. Por exemplo, no relatório de atividades anual, podem ser verificados indicadores de desempenho relacionados a resultados do processo de P&D e da etapa de desenvolvimento (respectivamente no que tange a produtos fornecidos para o PNI e produtos e projetos em desenvolvimento) e parcerias tecnológicas desenvolvidas (de forma a avaliar sob uma perspectiva não financeira as entradas da P&D).

Propostas de Sistemas de Medição de Desempenho

para P&D

Sistemas Alinhados à Lógica de Controle e Avaliação

3. Controle e Avaliação

A GEPRO é a área responsável por acompanhar o andamento dos projetos a partir de indicadores de desempenho clássicos de gestão de projetos, como % de andamento das atividades do projeto e % de cumprimento do orçamento. Em relação a avaliação dos resultados alcançados pela P&D, a VDTEC não possui indicadores de desempenho formalizados. As avaliações técnicas dos projetos são bastante subjetivas e desprovidas de padrão de medição, ou seja, cada projeto possui seus critérios próprios de avaliação.

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4. Relações Causais

Os objetivos estratégicos do Mapa Estratégico são desdobrados em metas das áreas, que por sua vez são desdobradas em sub-metas específicas para outras áreas através do PROQUAL, onde são determinadas metas estratégicas que devem envolver todos os funcionários, quadro efetivo, terceirizados e bolsistas em efetivo exercício, e submetidos ao regime administrativo de Bio-Manguinhos.

5. Diferentes Naturezas

Presentes na P&D

Um grande esforço vem sendo empreendido por Bio-Manguinhos para separar e avaliar as atividades consideradas pesquisas básicas das consideradas pesquisa aplicada e de desenvolvimento. Um conjunto consideravelmente organizado de indicadores de desempenho vem sendo tratado para avaliar o esforço com desenvolvimento, como os observados na lógica da avaliação de projetos (principalmente a avaliação operacional relacionada a gestão de projetos). A avaliação técnica de projetos, conforme mencionado anteriormente, segue as mesmas prescrições sugeridas por Papas e Remer (1985) - no que tange a uma avaliação mais subjetiva, baseada em indicadores qualitativos, mas não possui padrão de medição, ou seja, cada projeto possui seus critérios próprios de avaliação. Além disso, não existem indicadores de desempenho (nem informalmente) que busquem avaliar os resultados da pesquisa básica, um dos itens mencionados nesta regra de projeto.

Visão Processual da P&D

6. Visão da P&D como um

Processo de Negócio

O sistema de medição de desempenho em Bio-Manguinhos foi concebido dentro da lógica estabelecida no Balanced Scorecard, com objetivos e indicadores definidos para a perspectiva de Processos Internos. Embora haja definição de indicadores de desempenho na perspectiva de processos internos para toda a organização, eles não se encontram implantados e utilizados para gestão da organização. Em relação ao caso específico da P&D, há alguns indicadores de desempenho que avaliam entradas (por exemplo, “investimento em P&D”), processamento (como “nº de projetos voltados a produto em andamento, por fase”) e saídas/ resultados (“total de produtos fornecidos ao PNI”) do seu processo, embora tais indicadores não tenham sido concebidos sob a lógica de um processo de P&D.

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7. Stage Gates para Desenv.

Produto

Para apoiar a decisão go/no go dos projetos, a GEPRO lidera o processo de elaboração do EVTE (Estudo de Viablidade Técnico-Econômica), onde fazem parte desse estudo os indicadores oriundos de pesquisa de mercado, como demanda esperada por determinado produto (nacional e internacional), avaliação subjetiva da concorrência, market share, dados epidemiológicos da doença a ser tratada ou controlada; os indicadores oriundos de avaliações técnicas, como avaliações subjetivas da tecnologia e da plataforma (como adequação do produto à plataforma tecnológica existente, conhecimentos necessários a serem adquiridos, grau de inovação, dependência de negociação com detentores de patentes); e indicadores oriundos de avaliações econômicas, como cálculo de investimentos em infraestrutura de equipamentos, pessoas e locais de trabalho, custos com matéria-prima, treinamentos e de pagamentos de royalties, e retornos futuros. Estas avaliações são relativamente recentes e vem sendo implantada para avaliação de oportunidades e projetos em Bio-Manguinhos.

8. Nível de Maturidade dos

Processos

Os princípios de construção referentes ao nível de maturidade dos processos de P&D e a avaliação nos moldes de um audit não foram identificados em Bio-Manguinhos.

9. Processos Relacionados a

Elementos Externos e Internos à

Organização

Não foi observado em Bio-Manguinhos associação entre indicadores de processos e indicadores relacionados a elementos externos/ internos à organização.

10. Processos em Diferentes Camadas

Das três camadas presentes no quadro conceitual de Hauser (1996), a única que pôde ser percebida a partir dos indicadores de desempenho observados em Bio-Manguinhos é a terceira, relacionada às avaliações de necessidades mais diretas e imediatas dos clientes. Um conjunto de indicadores que se encontra relativamente estruturado está sob responsbailidade da Gerência Comercial, que possui uma estrutura de Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC) que monitora os problemas relatados pelos usuários dos seus produtos - um importante indicador de desempenho utilizado é o Nº de ocorrências via SAC por linha de produto. Entretanto, não há qualquer relação desses indicadores de desempenho

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com os indicadores das outras duas camadas.

11. Relação com Objetivos

Envolvidos em cada Processo

O sistema de medição de desempenho de Bio-Manguinhos não segue uma lógica processual, que retratam um encadeamento lógico entre entradas, processamento, saídas e resultados. O que existe em Bio-Manguinhos é a definição dos objetivos relacionados às etapas de projetos definidos no PROQUAL, que não seguem, contudo, a lógica processual.

12. Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

O sistema de medição de desempenho de Bio-Manguinhos não segue uma lógica processual, que retratem entradas, processamento, saídas e resultados, tampouco sob diferentes atributos. Neste sentido, não há relação das etapas de processo com as fases típicas de cada etapa do processo. Entretanto, os objetivos relacionados às etapas de projetos definidos no PROQUAL seguem de forma aproximada as fases típicas de um projeto e, portanto, há indicadores de desempenho definidos para cada uma dessas fases. Ou seja, os indicadores de desempenho estão relacionados a fases típicas de um projeto, embora não haja relação com os processos da P&D.

Elementos Multidimensionais

da P&D

13. Efetividade/ Eficiência, Níveis

de Responsabilidade

e Timming do Projeto

Há indicadores presentes em cada um dos elementos considerados no quadro conceitual de Cordeiro (1990). Pode-se perceber a utilização dos indicadores de controle de projetos frente ao planejado sob responsabilidade da GEPRO. Há indicadores que retratam diferentes níveis de responsabilidade (quando se observa os indicadores presentes nas metas estabelecidas no PROQUAL) e, indicadores que retratam resultado da P&D (por exemplo, total de produtos fornecidos ao PNI/MS), e indicadores de eficiência (estes, basicamente representados por indicadores de investimentos em projetos de P&D e quantitativo de pesquisadores).

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14. Diferentes Níveis de Criação

de Valor

Não há indicadores de desempenho em Bio-Manguinhos concebidos em uma lógica de agregação de valor tecnológico em diferentes níveis, tais como os estabelecidos por Tipping e Zeffren (1995).

15. Alinhamento Estratégico e

Relações Causais sob Diferentes

Perspectivas de Avaliação

O Mapa Estratégico foi o primeiro sistema a ser desenvolvido, tendo como objetivo principal a gestão integrada e articulada de Bio-Manguinhos. Há alinhamento das metas estabelecidas a partir do desdobramento de alguns objetivos estratégicos do Mapa Estratégico para a P&D, tal como estabelecido no PROQUAL. Entretanto, os indicadores de desempenho projetados para a avaliação dos objetivos estratégicos não estão sendo efetivamente utilizados como direcionador para tomada de decisão, conforme visto da descrição do sistema de medição de desempenho de Bio-Manguinhos.

16. Estrutura Multidimensional

do Desenvolvimento

de Produtos

Não há indicadores de desempenho em Bio-Manguinhos concebidos em uma lógica multidimensional, orientada ao desenvolvimento de produto. Conforme visto, a avaliação de projetos e programas é feita de forma bastante subjetiva e desprovidas de padrão de medição, ou seja, cada projeto possui seus critérios próprios de avaliação.

17. Estrutura Multidimensional

do Desenvolvimento de Produtos de

Acordo com Estratégia de

Inovação

Não há indicadores de desempenho em Bio-Manguinhos concebidos em uma lógica contida neste princípio de construção, ou seja, de acordo com a estratégia de inovação.

18. Estrutura Multidimensional

para P&D e Inovação

Não há indicadores de desempenho em Bio-Manguinhos concebidos em uma lógica que segue exatamente os modelos baseados em estruturas multidimensionais. Todavia, pôde-se perceber a presença de indicadores de desempenho de processos de gestão, no que tange a indicadores de gestão de projetos (sob responsabilidade da GEPRO) e de gestão de portfólio de projetos (sob responsabilidade da ASSPO). Mas os indicadores de processos principais de P&D e de habilitadores de P&D não foram observados em Bio-Manguinhos.

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Fatores de Contingência 19. Elementos

Contidos nos Fatores de

Contingência

Em relação aos fatores de contingência presentes no sistema de medição de desempenho de Bio-Manguinhos, algumas contingências foram observadas. Avaliando cada estrutura, tem-se: 1) Em relação aos elementos macro da organização (estratégia, fatores críticos, por exemplo), há uma estratégia definida formalmente e externalizada no modelo do Mapa Estratégico. Este modelo encontra-se em fase de revisão, já que deixou de representar importantes questões estratégicas que emergiram na organização, desde a sua concepção até os dias atuais. Entretanto, as iniciativas e os fatores críticos de sucesso são facilmente identificados no PROQUAL, o que indica a importância desta contingência para o sistema de medição de desempenho para P&D; 2) Em relação aos fatores contextuais oriundos do sistema de gestão da organização, algumas considerações podem ser tecidas: a) Uma das contingências claramente observadas foi o objetivo do sistema de medição de desempenho. Em Bio-Manguinhos, os objetivos do sistema de medição de desempenho são a busca do alinhamento estratégico e a avaliação e gratificação dos funcionários por desempenho (de acordo com o percentual da meta atingida); b) O grau de envolvimento das pessoas se dá, fundamentalmente, a partir do acompanhamento das metas estabelecidas no PROQUAL, que se mostrou uma ferramenta de avaliação e gratificação dos funcionários por desempenho; c) A questão dos recursos disponíveis para o projeto de sistemas de medição de desempenho para P&D não pareceu ser uma contingência importante em Bio Manguinhos

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gestão de projetos. Este esforço, contudo, não foi observado em direção à etapa de pesquisa, fase que não contempla uma estrutura de medição de desempenho; c) Há indicadores que retratam diferentes níveis de responsabilidade dentro da organização (quando se observa as metas estabelecidas no PROQUAL, sob responsabilidade de diferentes áreas e diferentes níveis hierárquicos); d) As etapas do processo da P&D não influenciaram a escolha dos indicadores de desempenho para P&D; 4) Em relação aos elementos do sistema de medição de desempenho para P&D, algumas considerações podem ser tecidas: a) As perspectivas de avaliação seguem a lógica contida no Mapa Estratégico de Bio-Manguinhos. Embora não efetivamente utilizada hoje, o Mapa Estratégico e seus indicadores de desempenho nas diferentes perspectivas encontram-se em fase de revisão; b) Atributos de desempenho relacionados, principalmente, quantidade, tempo, qualidade e confiabilidade foram observados no sistema de medição de desempenho de Bio-Manguinhos; c) Outra contingência que pôde ser observada refere-se à adequação dos resultados às metas da empresa, dentro de uma lógica de causalidade entre os indicadores de desempenho do PROQUAL. Embora não haja indicadores de desempenho explícitos, a relação causal entre as atividades previstas no PROQUAL sob a responsabilidade de cada área e as metas a serem alcançadas aparecem de forma bastante clara em Bio-Manguinhos; d) Diferentes técnicas de mensuração de desempenho (e diferentes critérios) podem ser observados, que vão desde avaliações objetivas, principalmente as relacionadas aos resultados da P&D até as avaliações mais subjetivas de marcos intermediários dos projetos, que subsidiam a decisão de continuidade ou não dos projetos; e) As demais contingências (tempo considerado na medição, normas que norteiam o padrão de medição, e frequência de medição) foram pouco observadas nas características do sistema de medição de desempenho da P&D de Bio-Manguinhos.

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20. Fatores de Contingência

sob Definição de Regras de Projeto

Não foi percebido em Bio-Manguinhos qualquer caracterização de algumas das regras identificadas na literatura aos fatores de contingência observados.

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Caso CENPES:

Princípios de Construção para Definição de Sistemas de Medição de Desempenho Caso CENPES

1. Adaptação das Ferramentas de Análise Financeira Tradicionais

Embora o CENPES não administre os parâmetros clássicos da gestão financeira, alguns indicadores financeiros foram identificados, como os que relatam percentuais de investimentos realizados em diferentes naturezas de projeto (como os investimentos em comunidade de C&T e instituições externas, em projetos de P&D de alto risco e alta recompensa, em projetos de P&D dedicados a novas oportunidades de negócios). Esses indicadores são utilizados mais para avaliação da carteira de investimentos do que para controle de gastos com P&D ou retorno financeiro com esses gastos.

Propostas de Indicadores

de Desempenho

para P&D 2. Indicadores de Desempenho não Financeiros: Entradas, Saídas, Eficiência, Produtividade e Efetividade da P&D

Vários indicadores de desempenho identificados no CENPES atendem esta prescrição. Por exemplo, no Mapa Estratégico, podem ser verificados indicadores de desempenho relacionados a resultados das atividades de P&D (por exemplo, Índice de Incorporação de Tecnologias e Índice do Valor Percebido) das entradas do processo de desenvolvimento (de acordo com os vários indicadores que avaliam os investimentos em projetos, que por sua vez, avaliam a natureza do desenvolvimento - parcerias, desenvolvimentos internos, etc.).

Propostas de Sistemas de Medição de Desempenho

para P&D

Sistemas Alinhados à Lógica de Controle e Avaliação

3. Controle e Avaliação

Os projetos são acompanhados quadrimestralmente, junto aos clientes solicitantes ou futuros usuários dos produtos destes projetos. O cliente tem a possibilidade de criticar e renegociar recursos, prazos e resultados de acordo com suas necessidades. Há um indicador implantado e formalizado que informa a avaliação de um projeto em relação ao cumprimento do que foi planejado: a relação percentual de marcos críticos atingidos no prazo. Outro indicador de destaque, aderente a esta regra, é o Percentual de projetos implantados com alto ou muito alto grau de agregação de valor, aferido através de pesquisa de opinião.

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4. Relações Causais

O Mapa Estratégico do CENPES (construído a partir do desdobramento do Mapa Estratégico da Petrobras) é desdobrado em um Mapa Estratégico específico para representar a estratégia da sua função tecnológica. Esses objetivos são prontamente avaliados por indicadores de desempenho específicos, que retratam a participação da função de tecnologia na estratégia do CENPES. A cada três meses, no mínimo, ocorre uma reunião do COMIN programada especialmente para a realização da análise crítica do desempenho global da organização, que subsidia tanto a análise de desempenho de mais longo prazo quanto a de curto prazo.

5. Diferentes Naturezas

Presentes na P&D

Os indicadores de desempenho identificados no CENPES retratam balanceamento entre as atividades consideradas pesquisas básicas das consideradas pesquisa aplicada e de desenvolvimento. Um conjunto consideravelmente organizado de indicadores de desempenho vem sendo tratado para avaliar os resultados e o esforço com projetos de desenvolvimento, conforme observado nos indicadores da função tecnológica do CENPES. A avaliação de projetos considerados básicos ou exploratórios segue o mesmo critério adotado para avaliação de projetos de desenvolvimento. Não foram identificados, contudo, indicadores de desempenho que retratem uma avaliação qualitativa, baseada em critérios mais subjetivos, mas sabe-se que essas avaliações são conduzidas nas reuniões de acompanhamento de projetos. Para projetos de desenvolvimento, balanceamento entre indicadores quantitativos e qualitativos é evidente, quando se observa indicadores que retratam os diferentes tipos de investimento, e indicadores qualitativos, como Índice do Valor Percebido.

Visão Processual da P&D

6. Visão da P&D como um

Processo de Negócio

O sistema de medição de desempenho do CENPES foi concebido dentro da lógica estabelecida no Balanced Scorecard, com objetivos e indicadores definidos para a perspectiva de Processos Internos. Há indicadores de desempenho que avaliam entradas (por exemplo, os diferentes tipos de investimento em P&D), processamento (como se observa na efetividade de acompanhamento dos projetos) e saídas/ resultados (conforme observado no índice de valor percebido e satisfação do cliente).

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7. Stage Gates para Desenv.

Produto

As avaliações dos projetos ocorridas nas reuniões de acompanhamento podem ser consideradas um processo baseado na lógica dos stage gates. Resultados, prazos e custos são avaliados junto ao cliente do projeto, e a decisão go/ no go é tomada com base nessas avaliações.

8. Nível de Maturidade dos

Processos

Os princípios de construção referentes ao nível de maturidade dos processos de P&D e a avaliação nos moldes de um auditnão foram identificados no CENPES

9. Processos Relacionados a

Elementos Externos e Internos à

Organização

Não foi observado no CENPES associação entre indicadores de processos e indicadores relacionados a elementos externos/ internos à organização.

10. Processos em Diferentes Camadas

Das três camadas presentes no quadro conceitual de Hauser (1996), duas podem ser percebidas a partir dos indicadores de desempenho observados no CENPES. A camada relacionada às competências centrais pode ser, ainda que parcialmente, representada por indicadores de desempenho que retratam a preocupação do CENPES em relação a formação dos seus funcionários, conforme indicadores de desempenho da perspectiva de Aprendizado e Crescimento. Trata-se, pois, de monitorar o número de mestres e doutores e o número de horas de treinamento em competências técnicas mais importantes para o CENPES. A camada relacionada à proximidade com clientes é a que contempla indicadores de desempenho mais estruturados, quando se observa a avaliação de desempenho dos produtos desenvolvidos para os clientes, conforme indicadores de desempenho da perspectiva de Clientes e Mercado. Não se observou indicadores de desempenho que retratassem as questões relacionadas à pesquisa básica, elemento predominante à primeira camada do quadro conceitual de Hauser (1996).

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11. Relação com Objetivos

Envolvidos em cada Processo

Não foi observada uma lógica que relacione etapas do processo de desenvolvimento com objetivos de cada etapa, em separado. Pode-se constatar que o sistema de medição de desempenho do CENPES não segue uma lógica processual, que retratem entradas, processamento, saídas e resultados, embora possam ser observados indicadores de desempenho característicos dessas etapas.

12. Relação Processos e Fases Típicas de Projeto

Não foi observada uma lógica que relacione indicadores de desempenho específicos para cada fase típica do desenvolvimento (desde a geração de ideias até a entrega dos produtos gerados pelos projetos). Pode-se constatar que o sistema de medição de desempenho do CENPES não segue uma lógica processual, que retratem entradas, processamento, saídas e resultados, embora possam ser observados indicadores de desempenho característicos dessas etapas.

Elementos Multidimensionais

da P&D

13. Efetividade/ Eficiência, Níveis

de Responsabilidade

e Timming do Projeto

Há indicadores presentes em cada um dos elementos considerados no quadro conceitual de Cordeiro (1990). Pode-se perceber a utilização dos indicadores de controle de projetos frente ao planejado nas reuniões de acompanhamento de projeto e no próprio Mapa Estratégico do CENPES e da Função de Tecnologia. Há indicadores que retratam resultado da P&D (por exemplo, Índice de Incorporação de Tecnologias e Índice do Valor Percebido), e indicadores de eficiência (estes, basicamente representados por indicadores de investimentos em projetos de P&D). Entretanto, no Mapa Estratégico, não puderam ser identificados de forma explícita diferentes níveis de responsabilidade, quando observados os indicadores de desempenho, já que esses se encontram em um mesmo nível gerencial do CENPES. É sabido, contudo, os indicadores de desempenho do Mapa da Função de Tecnologia refere-se, por si, a um nível de responsabilidade específico das áreas envolvidas com P&D, sem contemplar, contudo, a divisão de responsabilidades setoriais ou de equipes de trabalho.

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14. Diferentes Níveis de Criação

de Valor

Embora não concebidos sob esta lógica, alguns indicadores de desempenho puderam ser observados em cada um dos níveis sugeridos por Tipping et al (1995). No Mapa Estratégico da Função de Tecnologia, podem ser observados indicadores de desempenho que avaliam desde as questões mais próximas a base da pirâmide, como treinamento e nível de formação dos funcionários do P&D até a efetividade dos projetos, como pode ser observado na avaliação da Incorporação de Tecnologias e na satisfação dos clientes.

15. Alinhamento Estratégico e

Relações Causais sob Diferentes

Perspectivas de Avaliação

Conforme observado no caso CENPES, os conceitos do Balanced Scorecard ficam evidentes quando observada a gestão de desempenho tecnológico a partir do Mapa da Função de Tecnologia do CENPES: o Mapa Estratégico do CENPES orienta e conforma a estratégia da função de tecnologia, garantindo alinhamento entre os objetivos estratégicos. As diferentes perspectivas presentes no Mapa Estratégico permite balancear diferentes visões de avaliação, que não sejam só as financeiras. E, finalmente, o acompanhamento periódico dos indicadores de desempenho torna claro o circuito de controle e aprendizado da organização.

16. Estrutura Multidimensional

do Desenvolvimento

de Produtos

A regra específica à lógica multidimensional relacionada ao desenvolvimento de produtos pode ser observada parcialmente no CENPES, já que a avaliação dos projetos se encontra na mesma lógica adotada pelo Mapa Estratégico - ou seja, há, para cada projeto, avaliações financeiras (acompanhamento de investimentos, satisfação dos clientes, desempenho do produto, etc.), inclusive considerando diferentes níveis de avaliação entre projetos - por exemplo, o controle dos dispêndios de projetos considerados de alto risco e alta recompensa são mais "relaxados" dos que o controle de projetos mais tradicionais, geralmente relacionados a melhoria de produtos. Entretanto, não foram observadas avaliações que diferenciam desempenho do projeto do desempenho programa.

17. Estrutura Multidimensional

do Desenvolvimento de Produtos de

Acordo com Estratégia de

Não há indicadores de desempenho no CENPES concebidos em uma lógica contida neste princípio de construção, ou seja, o grau de novidade contido no projeto.

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Inovação

18. Estrutura Multidimensional

para P&D e Inovação

A estrutura de indicadores do CENPES foi projetada sob a lógica do Balanced Scorecard da Função de Tecnologia, desdobrada do Mapa Estratégico do CENPES. Alguns indicadores presentes no BSC da Função Tecnológica são aderentes aos princípios de construção baseados na multidimensionalidade dos indicadores de desempenho (como a presença de indicadores de desempenho de processos internos, e os indicadores de desempenho de aprendizado e crescimento, relacionados aos processos habilitadores). Entretanto, nem todos os processos presentes na estrutura multidimensional estão presentes no sistema de medição de desempenho da P&D do CENPES.

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Fatores de Contingência 19. Elementos

Contidos nos Fatores de

Contingência

Em relação aos fatores de contingência presentes no sistema de medição de desempenho do CENPES, algumas contingências foram observadas. Avaliando cada estrutura, tem-se: 1) Em relação aos elementos macro da organização (estratégia, fatores críticos, por exemplo), há uma estratégia definida formalmente e externalizada no modelo do Mapa Estratégico do CENPES e da Função Tecnológica. Esse modelo encontra-se implantado e revisões periódicas são realizadas em reuniões do COMIN para avaliar a validade do mapa estratégico, seus objetivos e indicadores de desempenho; 2) Em relação aos fatores contextuais oriundos do sistema de gestão da organização, algumas considerações podem ser tecidas: a) Uma das contingências claramente observadas no CENPES foram os objetivos do sistema de medição de desempenho: facilitar a gestão das atividades de P&D, garantindo o alinhamento dessas atividades aos objetivos finalísticos do CENPES; e avaliação e gratificação dos funcionários por desempenho (conforme observado na avaliação GD); b) O grau de envolvimento das pessoas se dá, fundamentalmente, a partir do acompanhamento dos indicadores de desempenho em reuniões do COMIN, onde as metas são avaliadas e as áreas são comprometidas com o desempenho. Entretanto, não foram identificados, a partir de indicadores de desempenho, diferentes níveis hierárquicos de responsabilidade. Os gerentes gerais apresentam as decisões do COMIN para suas equipes e programa um plano de ação para que as metas sejam alcançadas, sem a utilização de indicadores de desempenho neste nível de detalhamento; c) A questão dos recursos disponíveis para o projeto de sistemas de medição

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relação às fases típicas de um projeto de P&D; c) Em relação às diferentes etapas da P&D, conforme comentado anteriormente, diferentes técnicas de mensuração de desempenho (e diferentes critérios) podem ser observados, que vão desde avaliações objetivas, principalmente as relacionadas aos diferentes investimentos em P&D até as avaliações mais subjetivas relacionadas á pesquisa de opinião dos clientes e incorporação de tecnologia; d) Não foram identificados de forma explícita diferentes níveis de atribuição de responsabilidade aos indicadores, já que esses se encontram em um mesmo nível gerencial do CENPES. É sabido, contudo, que os indicadores de desempenho do Mapa da Função de Tecnologia refere-se, por si, a um nível de responsabilidade específico das áreas envolvidas com P&D, sem contemplar, contudo, a divisão de responsabilidades setoriais ou de equipes de trabalho. 4) Em relação aos elementos do sistema de medição de desempenho para P&D, algumas considerações podem ser tecidas: a) As perspectivas de avaliação, conforme visto anteriormente, seguem a lógica contida no Mapa Estratégico da Função Tecnológica; b) A contingência relacionada a atributos de desempenho relacionados, principalmente, a qualidade, custos e tempo também foram observadas nos indicadores de desempenho presentes no Mapa Estratégico da Função Tecnológica; c) Outra contingência que pôde ser observada refere-se à adequação dos resultados às metas da empresa, dentro de uma lógica de causalidade entre os indicadores de desempenho do Mapa Estratégico do CENPES; d) Diferentes técnicas de mensuração de desempenho (e diferentes critérios) podem ser observadas. Por exemplo, há diferenças explícitas entre os indicadores “Índice de Valor Percebido” e “Índice de Alavancagem Externa”, no que tange a objetividade/ subjetividade da medição; e) Finalmente, a frequência de medição empregada para avaliação dos indicadores de desempenho ocorre mensalmente, com apresentações quadrimestrais no COMIN; f) As demais contingências (tempo considerado na medição e normas que norteiam o padrão de medição) não foram observadas nas características

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do sistema de medição de desempenho da P&D do CENPES.

20. Fatores de Contingência

sob Definição de Regras de Projeto

Não foi percebido no CENPES qualquer orientação de avaliação da inovação tecnológica sob diferentes dimensões, tais como apontadas nas regras de projeto identificadas na literatura.