anderson rodrigues

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA ANDERSON LIMA RODRIGUES ANÁLISE DO PROJETO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - CAMPUS II - ALAGOINHAS Alagoinhas 2010

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Page 1: Anderson Rodrigues

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

ANDERSON LIMA RODRIGUES

ANÁLISE DO PROJETO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - CAMPUS II -

ALAGOINHAS

Alagoinhas

2010

Page 2: Anderson Rodrigues

1

ANDERSON LIMA RODRIGUES

ANÁLISE DO PROJETO DO CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DA UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - CAMPUS II

ALAGOINHAS

Monografia apresentada como requisito para obtenção de graduação no curso de Licenciado em Educação Física pelo Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia – Campus II.

Orientadora: Profª. Ms. Martha Benevides da Costa

Alagoinhas

2010

Page 3: Anderson Rodrigues

2

Dedico a Agina, mulher guerreira e sábia mãe que muito me ensinou na escola da vida.

Page 4: Anderson Rodrigues

3

AGRADECIMENTOS

A meu Deus, sempre. Razão de minha eterna gratidão.

A minha vó Emilía, meu pai Rodrigues, minha mãe Agina, e aos meus irmãos

Adelson, e Adson, são mais que irmãos. Sou grato.

Aos amigos da trajetória antes de tudo isso aqui, os quais se despediram sem

querer, e que me deixaram lembranças de muitos momentos e que por vezes a

saudade me apertava o peito na falta de vocês de cada um de vocês.

Aos amigos dessa aventura de pés no chão, que juntos vivemos tudo e tudo

intensamente. Não os esqueço.

As minhas amizades na cidade de Alagoinhas, em especial a Gilberto, Raimunda,

Naara e aos demais desta casa que mesmo sem me conhecerem me deram uma

cama, uma mesa de estudos e um quarto. Acolheram-me como a um filho.

A Rebeca, pois, dela não mereço tamanha amizade e carinho. A “rainha”, a “Seu

Edy”, e aos amigos irmãos.

A minha professora Martha, nossa! Quanto puxão de orelha. Mas, que enxergou

além de mim mesmo o quanto eu poderia ir mais longe. Beijo minha pró.

Aos professores, agradeço, sim a todos, quantos exemplos de personalidade, e de

vida!

A turma da república: “PRISON”.

Aos “companheiros” do(s) “movimento(s)”, a Marcelo(Rato), sempre perto, nunca

distante; ao Sandro, que ao final do “segundo tempo”, se mostrou amigo, cúmplice, e

aguerrido companheiro de luta; a Isa “xodó”; a “Line’, com ela também muito

aprendi, melhor não seria, não poderia ser diferente.

A Camila, que é companheira, amiga de turma, de risos e tristezas, e sem você

querida não seria metade de tudo que aconteceu.

Aos inseparáveis: Vini, Ramom, e Nilton(cajá). Eu não consegui nada fazer sem que

estes não consentissem, não opinassem, e com risos e birras, por vezes inquietos

com minha “displicência”, me “apertavam” dizendo que sim que poderia ser/fazer

mais. Eu só agradeço, não tenho mais como por conta das lágrimas.

Agradeço aos sujeitos do meu cotidiano. Juntos permitiram sem ao menos saber me

tornar o que sou. Agradeço a todos os sujeitos que são comprometidos com outro

mundo. Com uma nova realidade.

Sou grato a vida!!!

Page 5: Anderson Rodrigues

4

Enquanto não soubermos claramente quem é o homem não saberemos nada sobre qualquer outra coisa.

Elton Trueblood

Page 6: Anderson Rodrigues

5

RESUMO

O presente estudo tem como objetivo analisar o processo de formação de

professores em Educação Física na Universidade do Estado da Bahia - Campus II

Alagoinhas. Investiga ainda sobre em quais pressupostos se baseia o projeto político

pedagógico do curso, os aspectos epistemológicos, e, sobretudo qual o projeto de

formação humana que o mesmo propõe aos seus egressos. Os objetivos específicos

nos remetem a um entendimento mais real tendo como referência um quadro

panorâmico que apresenta o atual processo de formação de professores nessa

instituição. Surge a problemática a partir do questionamento sobre as implicações da

atual conjuntura na formação docente, atentando para o projeto de educação

proposto pela nova ordem mundial, as concepções em Educação Física, e possíveis

avanços na perspectiva de mudança social e/ou superação do homem que se insere

no presente contexto histórico mais geral. Os caminhos metodológicos deram conta

de levantar dados por meio da entrevista, adotando como modelo a análise de

conteúdo; em seguida o questionário, e por fim a análise da proposta curricular, já

esta, por meio do esquema paradigmático, que se ocupa em analisar a parte

documental. Reúno esses instrumentos com o intuito de exprimir ao máximo a

realidade desse estudo de caso. Em primeira mão concluo que o projeto do curso é

definido a partir de atuais concepções em Educação Física, por vezes contraditórias,

e que inclui uma proposta de formação humana contemporânea. Nesse processo,

identifica-se que a proposta do curso de Educação Física da UNEB de Alagoinhas

pauta-se nas referencias críticas de educação e busca uma formação ampliada para

o futuro professor de Educação Física.

Palavras-chave: Formação Docente. Educação Física. Formação Humana.

Page 7: Anderson Rodrigues

6

LISTAS DE SIGLAS

ANFOPE Associação Nacional pela Formação dos Profissionais de

Educação

CFE Conselho Federal de Educação

CNE Conselho Nacional de Educação

CONFEF Conselho Federal de Educação Física

CREF Conselho Regional de Educação Física

EF Educação Física

ENEFD Escola Nacional de Educação Física e Desporto

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IES Instituições de Ensino Superior

JUCEB Junta Comercial do Estado da Bahia

MEC Ministério da Educação e Cultura

UCSAL Universidade Católica do Salvador

UNEB Universidade do Estado da Bahia

Page 8: Anderson Rodrigues

7

LISTAS DE QUADROS

QUADRO I -

FREQUÊNCIA TEMÁTICA NAS ENTREVISTAS

40

QUADRO II -

FREQUÊNCIA TEMÁTICA DOS QUESTIONÁRIOS

43

Page 9: Anderson Rodrigues

8

SUMÁRIO

1 .INTRODUÇÃO ............................................................................................... 9

2. A FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA UM BREVE RELATO ................ 11

3. CONCEPÇÕES EM EDUCAÇÃO FISICA ................................................... 17

4. IMPLICAÇÕES DAS REFORMAS EDUCACIONAIS A PARTIR DE 1990 AOS

DIAS ATUAIS .................................................................................................. 22

5. METODOLOGIA .......................................................................................... 30

6 .ANÁLISE DE DADOS .................................................................................. 34

6.1 Análise do Projeto ............................................................................................. 34

6.2 Análise da Entrevista ......................................................................................... 40

6.3 Análise dos Questionários ................................................................................. 44

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 48

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 50

APÊNDICES ............................................................................................................. 52

APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ........................... 53

APÊNDICE B – Entrevista ....................................................................................... 54

APÊNDICE C – Questionário .................................................................................. 55

ANEXO A Anexo do Projeto Político Pedagógico do Curso (Recorte) ...............56

Page 10: Anderson Rodrigues

9

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo, no âmbito da formação docente em Educação Física,

busca analisar o projeto de formação humana no processo de formação inicial de

professores no curso de Educação Física da UNEB-campus II, Alagoinhas, Bahia.

O processo de redemocratização da sociedade brasileira, na década de 1980,

motivou debates teóricos nos mais variados campos e com a Educação Física não

foi diferente. A formação de novos docentes de EF passou a propor uma quebra

com o modelo hegemônico o qual limitava a Educação Física à mera reprodução de

movimentos, o preparo físico, ao adestramento e à disciplina do corpo.

Todavia, as perspectivas educacionais de caráter crítico enfrentam,

contemporaneamente, entraves advindos das perspectivas que articulam Educação

e mercado. O mundo e sua nova ordem, com projetos de formação humana para o

trabalho, impuseram suas estratificações, segmentos e alienações com o objetivo de

fortalecer e expandir o modelo dominante. O corpo, através dessa lente, é um retrato

desse projeto de mundo, em que o consumir, o ter e o individualismo são expoentes

nessa relação, ofuscando o sujeito enquanto ser humano e o exercício pleno de

suas faculdades.

O estudo, por meio de análise documental e também entrevista, se ocupa de

refletir a partir de uma análise do projeto do curso de Educação Física na

Universidade do Estado da Bahia - Campus II Alagoinhas, sobre o desenrolar do

projeto de formação de novos docentes, bem como a concepção de formação

humana e político-pedagógica do curso. Entendo que esse estudo trará à tona

respostas sobre as bases epistemológicas e ontológicas e a sua proposta em formar

professores de Educação Física.

É de extrema importância a análise da formação de novos professores em

Educação Física, face à realidade, que se encontram os cursos da Bahia e do Brasil.

Historicamente, percebe-se que, ao tentar assumir uma nova postura para a

formação em Educação Física, após crise na década de 1980, e ao propor uma

prática pedagógica que rompesse com o modelo vigente, a Educação Física marcou

uma trajetória aliada aos desejos de mudanças da sociedade brasileira. Isto trouxe

Page 11: Anderson Rodrigues

10

implicações para a formação e criou dilemas que até hoje se estendem no campo da

discussão teórica e na concretização da formação.

Quando se pensa em formação acadêmica deve existir um projeto político

pedagógico que traz, implícita ou explicitamente um projeto histórico que o embasa.

Esse trabalho é relevante para os docentes e os novos discentes que desejarem

entender o processo de formação de professores de Educação Física, pois permite,

sobretudo, refletir sobre paradigmas presentes na formação em Educação Física.

Além disso, a minha trajetória no movimento estudantil possibilitou contatos e

diálogos diversos sobre a formação em Educação Física. O mesmo debate

acontecia em muitos espaços, como o CONBRACE/2009, corredores da

universidade, e na sala de aula. Essa realidade me inquietou no que se refere a

essa temática e à compreensão da realidade que vivo cotidianamente.

Nesses debates, um dos temas que mais emerge é a fragmentação do curso

de Educação Física em licenciatura e bacharelado, sendo que as proposições

críticas suscitam a luta pela retomada de uma formação ampliada. No entanto, o

mundo do trabalho e suas demandas pela subserviência ao capital dirigem os rumos

dos cursos e de suas atribuições no que diz respeito aos conteúdos e as propostas

da formação.

O conflito existente me impulsiona à reflexão sobre as questões do campo da

formação, como também à compreensão das necessárias “crises”, fazendo

referência a Medina (1983), com o fim de por elas alcançar respostas sobre formas

de contemplar uma Educação Física que prime pela formação para a emancipação.

O objetivo geral deste estudo é analisar o projeto do curso de Educação

Física da Universidade do Estado da Bahia - Campus II Alagoinhas no sentido de

compreender a concepção de formação humana presente no projeto do referido

curso.

Portanto, são objetivos específicos: identificar a proposta político-pedagógica

e suas bases epistemológicas e ontológicas; e, apresentar um quadro panorâmico

do processo de formação em Educação Física na UNEB- Campus –II /Alagoinhas.

Page 12: Anderson Rodrigues

11

2 A FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO FÍSICA: UM BREVE RELATO

A reflexão sobre o processo de formação de professores de Educação Física

se inicia na contextualização histórica e nas aspirações por mudanças na sociedade

brasileira resignada ante aos modelos de dominação.

A análise do processo de formação superpõe às angústias, e anseios das

demandas acadêmicas. Têm relações diretamente proporcionais as aspirações da

sociedade que cerca os muros da universidade e para além destes. Os espaços

outorgados e de inserção do professor de Educação Física, os entraves e as

possibilidades, reúnem um conjunto de propostas e ações que implicam diretamente

na formação desse profissional.

As características dos cursos de graduação em EF são balizadas pelo

contexto histórico que os cercam. As concepções e reformulações dentro da

construção de novos currículos ainda se aproximam do proposto pela Escola

Nacional de Educação Física e Desportos (ENEFD). Isso consta na dissertação de

mestrado de Azevedo (1999), que é citada por Malina (2004).

A formação em Educação Física no Brasil origina-se no meio militar. Nos anos

de 1930, começaram a funcionar cursos de Educação Física em vários estados do

Brasil. Todos esses cursos ministrados pelos oficiais da Marinha e do Exército até

ser criada em 1939 a (ENEFD), no Rio de Janeiro.

Ao fazer um apanhado histórico a partir de onde já começamos nos deparamos

com a década de 1960. Esse período é recheado de fatos históricos marcantes no

cenário nacional e internacional e os rumos das demandas políticas, sociais,

econômicas e educacionais são repensados e contextualizados pautados num ideal

nacionalista.

Na Educação e na Educação Física, as interferências decorrentes das leis,

estabeleceu uma regularidade no que diz respeito à responsabilidade do Estado

para com o projeto educacional. Na Educação Física, por exemplo, exigiu-se a

obrigatoriedade da disciplina nas séries iniciais e no ensino básico.

Page 13: Anderson Rodrigues

12

As implicações na graduação do profissional em EF decorrem da instalação do

currículo mínimo para todas as licenciaturas. Em 1962, segundo Malina (2004,

p.133), foi aprovado pelo Conselho Federal de Educação (CFE), o parecer 292/62,

estabelecendo as matérias pedagógicas que deveriam compor os currículos

relativos aos cursos de licenciatura.

O estudo de Santos Junior (2005) verifica as continuidades e descontinuidades

nas modificações curriculares ocorridas em 1969 e 1987 no curso de graduação em

Educação Física, partindo da criação da ENEFD. Foram utilizadas as pesquisas

bibliográficas e documentais e do depoimento oral como procedimentos

metodológicos. Os dados obtidos demonstraram como o processo indutivo de

herança cultural se fez tão presente, permanecendo sem grandes alterações a

prescrição curricular em Educação Física, a não ser em termos de inclusão,

exclusão e/ou fusão de disciplinas, com ênfase no enfoque técnico-biológico e

esportivo.

Sobre isso, ressalta Bracht (1998, p.12)

[...] nas décadas de 60 e 70, o discurso humanista da EF foi

substituído por outro tipo cientificista, com base nas Ciências

do Esporte (CE), sob influência dos EUA. [...] o esporte se

tornou o fenômeno dominante nessa área. [...] Além disso,

também a Pedagogia Esportiva, como outra sub-disciplinas da

Ciência Esportiva, vai ser funcionalizada a partir dos interesses

da instituição esportiva [...].

Alguns detalhes da modificação curricular do curso de Educação Física em

1987, e por aqui paramos para fazer algumas reflexões, tendo em vista que

discutiremos em um posterior capitulo sobre as implicações das reformas

educacionais a partir de 1990. Aqui se marca o fim de um período de domínio militar

no Brasil, as frentes populares, as organizações das entidades de classe, como

operários, professores, discutiam sobre a educação no país e os possíveis caminhos

para reoganizar o processo educacional brasileiro.

Page 14: Anderson Rodrigues

13

Comissões de fomento às discussões e debates no âmbito da formação se

organizaram em diferentes espaços e lugares inclusive no exterior, neste caso, na

Alemanha, em que um grupo segundo Alfredo Faria Junior, citado por Malina (2004,

p. 137), cuidam em observar e propor contribuindo para o processo de reforma

curricular. Ainda Malina (2004, p. 137), afirma que: “Nesses países, é concedida a

cada instituição a competência de elaborar o currículo que atenda os objetivos

educacionais, e o perfil do profissional que se deseja formar”.

Diante disso surgem novas características no processo de formação docente.

Os conteúdos são pensados a partir de fundamentos filosóficos, sociológicos e de

cunho humanístico. O formato de cada currículo criado encontra-se diretamente

relacionado ao contexto histórico atual e tendo origem nas propostas passadas,

pois, determinados elementos persistem nas concepções dos projetos de formação

da área, valorizando aspectos mais técnicos que pedagógicos

Mesmo entre os intelectuais há muito persistem os elementos que configuram

a prática desportiva, a saúde e o esporte de rendimento. Criou-se uma idéia de

corpo a partir dos aspectos biológicos, ou seja, educar para a saúde, construindo-o

também para a disciplina e para a educação moral. Continua Bracht (1998, p. 14).

[...] As características da formação de instrutores de ginástica,

inicialmente, e de professores de EF, mais recentemente,

fortemente marcada pela idéia de treinamento, através da

execução de movimentos, fizeram retardar o aparecimento do

intelectual da EF [...].

Diante disso, a formação passou a ter como principal característica a

reprodução das técnicas existentes nas modalidades esportivas, onde o professor

teria de dar conta de executar os movimentos e treiná-los passando adiante as

mesmas técnicas. Vale ressaltar que dentro da Educação Física esse caráter

exclusivamente esportivo fortalecia a proposta educacional durante aquele período,

que por sua vez se harmonizava com as políticas educacionais de nacionalismo, de

nação forte, e o esporte surge como possibilidade de promover esse fenômeno.

Page 15: Anderson Rodrigues

14

Sobre o que se produzia de conhecimento em Educação Física, do que se trata

essa ciência e se é mesmo uma ciência, ou uma disciplina, era e é debatido no meio

científico como princípio para fundamentar a área e alocá-la, agregá-la aos modelos

científicos.

O mesmo acontece quando se discorre sobre o que vem a ser essa área do

conhecimento: O que é Educação Física? Em resposta, o senso comum aponta

conceitos que se restringem apenas ao esporte e ao adestramento dos corpos. ”O

que prevalece na Educação Física é a consciência ingênua, corroborando a

materialização de uma Educação Física convencional, apoiada na visão do senso

comum, corriqueira e simplista”(SANTOS JUNIOR, 2005, p 47).

A não pouco falada, e necessária “crise” (MEDINA, 1992, apud SANTOS

JUNIOR, 2005), da Educação Física no Brasil, na década de 1980, resultou em

variadas discussões, debates, trabalhos científicos, artigos, que preconizaram novas

ações pautadas em discussões aprofundadas sobre as propostas curriculares e a

perspectiva de uma práxis educacional no âmbito da Educação Física

[...] Na década de 80, vivendo o processo de redemocratização

da sociedade brasileira percebeu-se a abertura de discussões

teóricas para todos os campos e assim também para a

Educação Física. Nesse período, duas questões fizeram

modificar paradigmas, reestruturar práticas: para que Educação

Física e para quem Educação Física (MEDINA, 1983;

OLIVEIRA, 1983). Assim a década de 80 trouxe

questionamentos de fundo para essa área no terreno das

modificações por que passava a sociedade brasileira daquela

época [...] (CAPARROZ, 1997, p. 138).

Epistemologicamente, a Educação Física ampliou suas discussões em torno do

seu objeto de estudo, os muitos questionamentos sobre os parâmetros científicos

corroboraram para as denominações e terminologias tais como: Ciência da

Motricidade Humana, Ciência do Movimento Humano, ciência do Esporte. A

nomenclatura ainda persiste como Cultura Corporal, ou Cultura Corporal de

Page 16: Anderson Rodrigues

15

Movimento apresentada no livro Educação Física e Ciência: cenas de um

casamento (in)feliz (1999), especificadamente Bracht ( 1989, p. 13):

[...] No seu sentido “amplo” tem sido designado para ser

utilizado para designar inadequadamente a meu ver, todas as

manifestações culturais ligadas a ludomotricidade humana, que

no conjunto parecem-me serem melhor abarcadas com termos

como cultura corporal ou cultura corporal de movimento[...].

O rumo que a educação e a Educação Física percorreram nas duas últimas

décadas, as densas criticas que surgem envolvendo os aspectos teóricos, e também

metodológicos da Educação Física, resultou numa maior compreensão,

sistematização, e propostas de ensino mais amarradas aos projetos da educação

básica, da mesma forma que superou alguns estigmas, consolidou espaços e

desenvolvimento de temáticas que refletissem uma formação e atuação a altura do

seu tempo.

Sob forte influência da Escola Nacional de Educação Física e Desporto-

ENEFD - a primeira escola civil do país, ligada a Universidade do Brasil, e com

bagagem predominantemente militar, surgiu o primeiro curso da área na Bahia,

pertencente à Universidade Católica do Salvador.

A organização e o desenvolvimento da Educação Física baiana se devem em

suma a essa escola considerada na época “Escola Padrão de Educação Física o

Brasil.” O contexto histórico deu base para que a EF agisse em conformidade com a

época. Dessa “escola”, surgiram os cursos de formação ao redor do país e a

hegemonia espotivizadora calcada também pelas premissas do Estado permanecia

como alicerce dentro do projeto de formação.

O que se tem aqui na Bahia é um retrato fiel ao modelo pensado nos quatro

cantos do país, no que tange à formatação do currículo, à proposta de ensino, o

aprimoramento das técnicas para o desporto; aos aspectos biologicistas com origem

nas ciências médicas e ao distanciamento entre a teoria e a prática. A concepção ao

Page 17: Anderson Rodrigues

16

menos do curso da UCSAL, era de uma Educação Física centrada na aptidão física,

privilegiando os esportes. Assim defende Pires (2001, p.78).

Pouco se discute sobre a Educação Física na Bahia. Em 1991, foi publicada

uma obra que tratou desse assunto, de autoria do professor Alcyr Naidiro Fraga

Ferraro, A Educação Física na Bahia: memórias de um professor. Que por sinal é

um dos pioneiros na implantação do curso superior em Educação Física no estado.

Efetivamente o primeiro curso público superior da área surge na Universidade

Federal da Bahia (UFBA), vinculado a Faculdade de Educação, e pela primeira vez

em convívio com outras áreas de conhecimento e com suas instalações fixas. Antes,

os cursos se desenvolviam em espaços isolados e em Escola ou Instituto de Saúde.

Foi criado em 1987, sob os pressupostos da Resolução Federal nº 69/69, e que,

mais tarde, implicou numa revisão do currículo, para se adaptar a proposta da

Resolução n°03/87 do Conselho Federal, pois esta não vigorava no momento de

fundação do Curso.

Em linhas gerais, percebemos que a história dos cursos de Educação Física foi

norteada pelas Resoluções e Reformulações nas leis 69/69 e 03/87. E que alinhadas

ao seu momento histórico impuseram e propuseram normas das quais são base as

novas sanções.

A inclusão de disciplinas e exclusão ou ajustamento dão conta de adaptarem-

se as perspectivas atuais em Educação e Educação Física. Esse fenômeno é

constante, pois toda conjuntura política, econômica, social e educacional se

encontram em permanente transformação.

Page 18: Anderson Rodrigues

17

3 CONCEPÇÕES EM EDUCAÇÃO FÍSICA

As concepções em Educação Física acompanham o tempo em que está

localizada. Sendo assim, as tendências nos projetos dos cursos afirmam e conflitua

com posturas condizentes com as características e princípios do momento político,

econômico e social.

A atual conjuntura permite identificar, possibilita apontar o eixo norteador das

concepções contemporâneas no campo da Educação Física, e as articulações com

o projeto maior, mais global, que cadencia o processo de formação em sintonia com

as proposições capitalistas. Mas traz, também, as contradições e embates de um

movimento contra hegemônico que se articula no interior da Educação Física.

A Educação Física que se quer, precisa traçar um paralelo entre a

socialização e humanização pelo corpo e para o corpo.

[...] Partimos da hipotése de que o discurso oficial de

valorização do magistério, e da Educação Física, encobre o

processo de radicalização da desqualificação e desvalorização

do professor e, com isso, limitam-se as possibilidades de

acesso aos bens culturais-incluso aqueles do âmbito da cultura

corporal como esporte, ginástica, dança, etc. - á maioria da

população brasileira e que as alternativas construídas no

sentido de corrigir a proposições sintonizadas com a pedagogia

do capital [...] e/ou aquelas situadas no campo utópico são

inviáveis para garantir à qualificação necessária a formação

humana que permita constatar, interpretar, compreender,

explicar e intervir na realidade [...]. (SANTOS JÚNIOR, 2005, p.

20)

A fragmentação da profissão dá margem ao cooperativismo e cria privilégios

suprimindo cada vez mais as possibilidades de emprego.

[...] Por isso, a importância do estabelecimento de uma base

comum nacional para os cursos de formação de professores

que incorpore os princípios de uma formação unificada dos

Page 19: Anderson Rodrigues

18

profissionais de educação, dando suporte para múltiplas

experiências, sem as limitações de um currículo mínimo [...].

(SCHEIBE, 2001, p.1)

Prevalece ainda a articulação com os interesses da globalização, e, portanto,

a ideologia presente nos cursos através de seus conteúdos e disciplinas afins é

aquela que sustenta essa alternativa. Entra em cena o neoliberalismo. Segundo

Anderson (1995), citado por Santos Junior (2005), o neoliberalismo constitui-se

numa estratégia de reanimar o capitalismo em escala planetária.

A globalização, é importante conceituar aqui, trata-se de um projeto de ordem

mundial, onde a política, a economia, a educação abrange significados muitos mais

amplos, consiste na ampliação do mundo do capital, e domínio do poder

hegemônico sem fronteiras. Tudo é global.

O capitalismo é o modelo econômico atual que mesmo em crise subsiste. O

modelo do capital se caracteriza pela dominação e pela exploração, muitos com

pouco e poucos com muito, a extrema riqueza e a profunda pobreza. Em meio à

crise criam-se os atalhos, os desvios no sentido de reorganizar o modelo opressor

do capital, de maneira a minimizar o impacto nas esferas sociais, econômicas,

políticas, educacionais e sociais, e são essas características do novo modelo político

econômico mundial, processo pelo qual se pensa o progresso antes pautado numa

perspectiva de liberalismo nacional, e que agora tem sua hegemonia no

imperialismo dos Estados Unidos da América. O neoliberalismo.

A discussão persiste buscando o entendimento do processo de formação, as

implicações dessa nova ordem nessa relação, e a possibilidade de rompimento com

a imposição do capital sobre o processo de formação do ser humano.

As concepções desenvolvidas em Educação Física podem ser constatadas

em dois ramos: a primeira diz respeito ao conceito de movimento, abrange

fundamentalmente o estudo mecânico e biológico do corpo. A segunda concepção

assume um perfil caracterizado pela reflexão pautada na cultura corporal a partir de

aspectos que se explicam historicamente e no cotidiano da sociedade.

Page 20: Anderson Rodrigues

19

Durante muito tempo a ênfase desenvolvida nas graduações, elencava as

disciplinas nos seus currículos que conceituava em primeira mão os aspectos

biológicos. Os programas propunham conteúdos a partir das ciências naturais, é

importante apontar que, nesse contexto, as ciências médicas, pois muito do que se

produz em Educação Física, advém das experiências, e pesquisas médicas, e no

passado muito dos cursos eram alocadas em instituições de estudos médicos.

Então, a proposta curricular era montada para atender em aspectos gerais

conhecimentos que dominassem a técnica, ampliação das habilidades, e educar o

corpo do homem e da mulher por meio da aptidão física para se adquirir uma

pretensa qualidade de vida.

As disciplinas eram dispostas em sua maioria com grande ênfase no eixo

biológico: anatomia humana, biologia aplicada à educação física, bioquímica,

fisiologia humana, fisiologia do exercício, cinesiologia, psicologia do esporte, e

práticas esportivas de caráter coletivo e individual, e desenvolvimento motor em

geral. Cursos como da UCSAL, por exemplo, das suas 36 disciplinas, que

compunham o currículo inicial, “cinco disciplinas organizam seus conteúdos á luz

das Ciências Humanas, seis disciplinas tratam do conhecimento pedagógico, oito

disciplinas organizam seu conteúdos á luz das ciências Biológicas, e 17 que tratam

do desporto”. Em linhas gerais a primeira concepção é pautada numa perspectiva

“dual” de ser humano, pois implicitamente o currículo baseia-se nos conhecimentos

técnicos sobre saúde corporal, desenvolvimento das habilidades motoras e a

preocupação com o alto rendimento.

Na outra concepção, o perfil do egresso deve ser pautado dentro projeto de

formação humana, em que o indivíduo seja sujeito crítico-reflexivo, leitor do

processo histórico e do comportamento social, proponente de uma mudança da

realidade, mediante as intervenções práticas e estudos da e sobre a sociedade.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996 delineia sobre

esse projeto de homem conhecedor, contemporâneo, e interventor e promotor do

desenvolvimento social brasileiro. Os diálogos entre a legislação e as propostas

curriculares devem convergir, com o fim de alinhar a educação no país. Entende-se

que esse comportamento fluirá em um processo educacional que culminará na

Page 21: Anderson Rodrigues

20

emancipação da educação e, portanto, da realidade das atuais e futuras gerações

no Brasil.

Esse perfil apresentado em consonância com as Regulamentações,

destacando-se as Resoluções CNE/CP 01/2002, que institui: “Diretrizes Curriculares

Nacionais para Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior,

curso de Licenciatura, de Graduação Plena, disposto na Lei 4.024 de 20 de

dezembro de 1961 com redação dada pela Lei 9.131 de 25 de novembro de 1965”;

02/2002, que “institui a duração e a carga horária dos cursos de Licenciatura,

graduação Plena, de formação de Professores de Educação Básica em Nível

superior”; como também os movimentos sociais reconhecidos pela sociedade em

geral, e as estratégias para se transformar a realidade social de desigualdade, é

afirmativa nas concepções atuais em diversos cursos de Educação Física.

A proposta político-pedagógica amarra entre seus conceitos disciplinas que

sustentem a proposta geral de formação docente determinada pela legislação. Sobre

essa discussão Bracht, (1998), apresenta um artigo especial nos 20 anos do CBCE,

que fomenta essa discussão dentro do CBCE, principal entidade científica de

Educação Física no país, onde propõe a reorientação curricular que atue nas

esferas das “ciências sociais e humanas, e problemáticas da EF enquanto prática

pedagógica”.

Em Educação Física no Brasil: a história que não se conta, por Lino Castellani

Filho (1988), consta concepções que pelo estudo histórico e emancipação da

educação é possível uma nova concepção dentro da Educação Física, “afinada” á

Concepção Histórico-Crítica.

O resgate crítico na Educação Física tem sido perseguido pelas entidades

cientificas que a representam, criticidade essa por vezes esquecida no tocante as

formação docente e a prática docente. Do professor se espera uma atuação

profissional transformadora, com claras convicções do seu papel enquanto educador

no seio da sociedade, e de seu entendimento enquanto transmissor de idéias.

As aspirações por uma educação superadora e uma Educação Física

vinculada às mesmas relações-ações, definem entre outros aspectos, uma ruptura

com uma prática educacional que a muito persistiu nessa área. Seja a ênfase na

Page 22: Anderson Rodrigues

21

técnica, no corpo biológico dissociado do homem enquanto ser social; do

higienismo, da preparação para um corpo “sarado”, a mesma Educação Física à

serviço dos modelos hegemônicos com ideais positivistas, desconssoantes com

áquela que se quer: “livresca”, “humanista”.

Page 23: Anderson Rodrigues

22

4 IMPLICAÇÕES DAS REFORMAS EDUCACIONAIS: DE 1990 AOS DIAS

ATUAIS

Na década de 1990, muitas foram as mudanças e as tentativas em escala

mundial para dar conta de ajustes na educação. Os conceitos mais técnicos são

questionados e redirecionados, com vistas numa formação mais prolongada, e o

desenvolvimento de um processo educacional mais abrangente.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) de 1996 busca atuar

nessa perspectiva. O ensino médio, a formação técnica e a organização curricular

são demandas da União, do poder público e, portanto, estabelece-se o parâmetro

para educação que reflita a economia da nova ordem mundial. Essa prévia

contextualização permite compreender a gestão política da educação na

contemporaneidade.

Ao aprofundar este capítulo, vale pontuar que os parâmetros curriculares têm

relações diretas com o desenvolvimento de competências na formação profissional

e:

[...] Este processo complexo e contraditório influenciou e

continua influenciando o fato de passada a crise da Educação

Física se é que ela passou nossos cursos de formação de

professores continuarem, ainda, a desqualificar o futuro

professor já no seu processo de qualificação [...] (TAFFAREL

apud SANTOS JUNIOR, 1993, p.18).

As resoluções e os parâmetros estabelecidos prosseguem em dicotomizar, e

divide, não une as áreas de conhecimento. O acúmulo das discussões sobre as

reformulações não se acaba, avolumam-se.

São realizadas pesquisas, realizam-se fóruns, seminários, estreitam-se os

debates entre a comunidade científica e entidades de classe, e pensa-se, por

exemplo, propostas para o ensino da Educação Básica e possíveis articulações com

os cursos de licenciatura.

Page 24: Anderson Rodrigues

23

Na sua tese, Santos Junior (2005), aborda que as relações gerais atingem as

mais específicas. Aparece assim: “Afinal, as relações e mediações, entre o mais

geral - modo de produção capitalista - influenciam o processo de formação dos

professores enquanto trabalhadores – específico.”

Acontece que há um projeto de Mundialização da Educação (MELO 2004).

Nesse sentido, ressalta Santos Junior (2005):

[...] Atualmente delineado pelas relações internacionais

estabelecidas em acordos comerciais que põem na ordem do

dia a exigência da formação da formação de um novo tipo de

trabalhador que corresponda às necessidades da

mundialização do capital, bem como, em função dos avanços

das propostas teóricas que buscam associar a análise

histórico-social dos determinantes da Educação a uma teoria

pedagógica capaz de orientar o trabalho dos professores de

modo a se construir possibilidades de intervenção política

consistente para a construção coletiva de um projeto histórico e

político-pedagógico e alternativo, nas condições objetivas

colocadas[...] (SANTOS JUNIOR, 2005).

No bojo das discussões, não ficam de fora os movimentos sociais, que

organizados, elaboram propostas políticas e científicas que defendem a qualidade

da formação de novos professores. Isso se mostra nas contribuições da Associação

Nacional Pela Formação dos Profissionais da Educação (ANFOPE), Instituições de

Ensino Superior (IES), e Fóruns da Sociedade Brasileira, que se refletem nas

proposições principalmente nas décadas de 80 e 90, sobre a reformulação dos

cursos de licenciatura.

As reformas educacionais têm relação direta com a formação docente. Foi

assim com a Resolução nº 69/69 (BRASIL, 1969), com a 03/87, a LDB em 96, e a

01/2002 Resolução do CNE/CP 2, de fevereiro de 2002 que reiterou a duração e a

carga horária dos cursos de licenciatura, e de graduação plena, de professores de

Educação Básica em nível superior e constituiu carga horária mínima a ser

efetivada, no mínimo, em 3 (três)anos letivos, de acordo o que é determinado pela

LDB. Desse modo, os projetos pedagógicos dos cursos podem ficar circunscritos ao

Page 25: Anderson Rodrigues

24

limite de tempo proposto ou ultrapassá-lo, tendo em vista a tônica escolhida para o

curso de licenciatura plena ministrado. [...] Esta resolução por sua vez tem

rebatimento na resolução de graduados em Educação Física, assinada por Edson

de Oliveira Nunes - Presidente da Câmara de Educação Superior em exercício, a

Resolução nº 07, de 31 de março de 2004, que instituiu as Diretrizes Curriculares

Nacionais para os cursos de graduação em Educação Física.

A década de 1990 suscitou essa avalanche de reformas na educação às

quais moveram um novo cenário nos vários níveis e modalidades de ensino. A

organização do trabalho capitalista é a mola impulsionadora desse processo de

reestruturação e domínio hegemônico.

Ao contextualizar a o surgimento da principal reforma educacional nos anos

1990, no Brasil, devemos atentar para o que acontecia em escala mundial. O mundo

se globalizava, o neoliberalismo surge ante a queda dos regimes socialistas, e dá-se

fracasso do estado de bem estar social.

As reformas institucionais contemplam a política que se forma nesse novo

cenário. O Estado se encarrega de diminuir barreiras existentes no mercado e se

projeta dentro de uma lógica que se alinha com o processo de mundo global. Na

educação não foi diferente. O Estado minimiza as ações no âmbito educacional,

permitindo maior investimento e controle do capital privado.

As ideologias convergiram para esse novo formato no campo da educação,

ampliaram-se os interesses de organismos internacionais em dirigir esse processo

de mercadorização da educação, com vistas prioritariamente no Ensino

Fundamental, pois os investimentos dariam conta de complementar à qualificação

profissional, de curta duração e de baixo custo (GENTILI, 2001), isso sob influente

recomendação do Banco Mundial.

Aqui no Brasil, afirma Bracht (1998) e Fogaça (2001, p. 55) como cita

Galvanin (2005), a corrida começa atrasada em relação aos países industrializados,

e organizados, com alta tecnologia, e ciência avançada, perceberam o mercado

globalizado e concluíram que:

Page 26: Anderson Rodrigues

25

[...] deveria priorizar dali para frente, reformas nos sistemas

educacionais, dos países industrializados ou em processo de

industrialização, de forma a preparar melhor seus recursos

humanos para essa nova etapa da produção capitalista na qual

a escola cumpriria seu papel na qualificação profissional básica

de todos os segmentos da hierarquia ocupacional. (FOGAÇA,

2001, p.55 apud GALVANIN, 2005, p.2).

Então, percebe-se a inter-relação entre política e educação e aspectos

econômicos e que necessariamente implicam no processo de formação na

educação. E mediante os estudos se nota o quanto o desenvolvimento econômico

está palmo a palmo com o planejamento educacional do país, pois objetiva formar o

profissional que atenda ao mercado desde o seu processo de formação acadêmica.

Explica-se, por exemplo, o motivo pelo qual cercam como objeto de estudo da

área, o Movimento Humano, e daí se desenvolvam as técnicas, o fazer,

principalmente ter habilidades motoras, “não existe o que ensinar; apenas o que

treinar” (SANTOS JUNIOR, 2005 p.57).

Acima, se descreve uma das questões, a que se trata do objeto de estudo,

mas, ainda temos a tratar sobre a concepção de ciência; a relevância nas

“Competências”, isto é, o foco centra-se no individualismo, a competição acima de

tudo, a projeção do individuo para se ter habilidades profissionais exigidas pelo

mercado dentro da formação; e, a fragmentação da formação afirmada pela

dicotomia licenciatura x bacharelado.

As “Competências’ montam um cenário de disputa dos mais qualificados e

que ocuparão o mercado, fortalecendo o neoliberalismo com suas projeções de

organização da educação no mundo, e tornando o sujeito cada vez mais

individualizado, passivo, desligado criticamente do entendimento das relações

sociais locais e globais”.

A fragmentação e aligeiramento dos cursos culminam num processo de

quebra da formação já na formação. A ruptura não atende a proposta da ANFOPE

que, estabelece uma relação de integralidade e igualdade no processo de formação

de professores. Trata-se de dois eixos de base comum nacional:

Page 27: Anderson Rodrigues

26

[...] A) Formação teórica de qualidade: Diz respeito à formação

sólida calcada nos elementos que permite, já na formação, a

análise da educação (Educação Física) enquanto disciplina,

seus campos de estudo, estatuto epistemológico, buscando

empreender a compreensão da totalidade do trabalho docente

[...]; B) Docência como base da identidade profissional. Que

implica o reconhecimento de seis pontos fundamentais: 1) base

teórica sólida e interdisciplinar sobre o fenômeno educacional

[...] 2) unidade teoria/prática; gestão democrática; compromisso

social do professor [...]; trabalho coletivo e interdisciplinar;

indissociabilidade entre formação inicial e formação continuada

[...] (SANTOS JUNIOR, 2005, p. 59).

Sobre a concepção de ciência, o texto das Diretrizes Curriculares Nacionais

de Educação Física (DCNEF), consta na Resolução do CNE Nº 07 de 31 de março

de 2004, da Educação Física é fundamentalmente empírico-analítica. Prossegue:

[...] Falamos em fundamental porque a flexibilidade alcançada

permite uma série de outras vertentes que não tenham uma

perspectiva teleológica- multiculturalismo, pós- estruturalismo,

neo-pragmatismo e outras tendências que podem ser

agrupadas, como subdivisões, na alcunha de pós- mordenismo

por terem em comum “... a atitude cética em relação à razão, a

ciência, ao marxismo, e à possibilidade de o capitalismo ser

superado por uma sociedade que lhe seja superior [...]

(DUARTE, 2004: 219, apud Santos Junior, 2005).

O Conselho Nacional de Educação determina com a resolução nº 04/99, que

são dois os níveis da educação no país: a Educação Básica e a Educação Superior.

A primeira, diz respeito, à Educação Infantil ao Ensino Fundamental com suas oito

séries, mais Ensino Médio. Atende a regência da LDB, e do Plano Nacional de

Educação.

Ainda, no capitulo IV, artigo 43º, item III, a LDB determina que a Educação

Superior tem por finalidade:

Page 28: Anderson Rodrigues

27

[...] Incentivar o trabalho de pesquisa, e investigação cientifica,

visando o desenvolvimento da ciência e da tecnologia e da

criação e da difusão da cultura, e, desse modo, desenvolver o

entendimento do homem e do meio em que vive [...] (LEI DE

DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL, cap. IV,

1996).

O Estado que, em tese, deveria agir na perspectiva de responsabilizar-se pela

Educação, legisla em prol do afastamento do poder público, e contrariamente,

diminui-se enquanto Estado dando suporte às instituições mercadoras da educação.

O que se segue é a instauração de um Estado mínimo, e o alicerçamento do ideal

liberal. As reformulações no campo da educação têm profundas relações com o

modelo hegemônico. Estas elaboram mecanismos sustentáveis no projeto de

educação delineada pela atual conjuntura mundial desde a autonomia na criação do

currículo, o aumento dos cursos técnicos, alinhados as Diretrizes Curriculares

Nacionais, como também as brechas já no processo de formação, reúne

instrumentos que favorecem a inércia do poder público sobre a educação no Brasil,

e outorga a iniciativa do poder capital, atribuições e deliberações sobre o processo

de formação educacional nacional.

Esse novo projeto de mundo, o globalizado, se encarregou de engendrar os

rumos das principais instituições. Com a educação ao seu dispor a possibilidade de

massificação do pensamento liberal, de reordenamento do capital, de invisibilidade

da (des)ordem, das disposições que agora vigora legalmente, isso é: tá na lei, os

pilares dos ideais democráticos neoliberais. Dentro dessa realidade que Nozaki

(2004) disserta:

[...] a educação física atua de forma mediata para compor o

novo quadro de formação humana que o capital demanda, ao

tornar-se um distintivo de classe, na escola, para os que

podem consumi-la, perdendo centralidade para as práticas

corporais do meio não-escolar as quais compõem a ideologia

Page 29: Anderson Rodrigues

28

da empregabilidade, por meio do trabalho precário.(NOZAKI,

2004).1

O conjunto de referenciais teóricos que abordam sobre essa temática, traz

elementos suficientes para embasar a discussão aqui apresentada. Hajime Nozaki

(2004) discute sobre: Educação Física e reordenamento no mundo do trabalho:

Mediações da regulamentação da profissão; inclusive elencando fatores como a

criação dos conselhos de área, neste caso o sistema CREF/CONFEF, reforma

curricular, que se traduzem em ações estratégicas que dêem sustentabilidade ao

mundo do capital e do projeto de mundo.

Observando o passado tão presente percebe-se que o modelo adotado pelas

políticas de Educação implicou diretamente no formato dos novos cursos de

Educação Física, e que arrojado aos ideais neoliberais encontram-se o projeto de

formação humana.

Sem se distanciar, as variadas pesquisas decorrentes de estudos sobre o

processo histórico das reformas educacionais no Brasil, as implicações dessas

reformas em educação, destaco um trabalho de conclusão de curso que

problematiza: Formação de professores: Caminhos e Descaminhos da Prática

Docente, por Silvia Souza de Melo, (2001).

A prática docente embrionada no projeto de formação de professores no

processo inicial se limita as barreiras do sistema distanciando o papel transformador

da educação na e para a sociedade. Sociedade esta que é tangível busca sempre

ser, e as mudanças permeiam o cotidiano desta que se projeta constantemente.

A problemática consiste em formar um profissional que na sua formação

inicial atue em conformidade com o mundo contemporâneo suas exigências e

adequações e resignados persistam em manter modelos já estabelecidos.

Não há uma congruência no que diz respeito à formação critíco-humanistíca

com a proposta mercadológica da educação. Pensar uma formação abrangente, e

contextualizada é um exercício que exige profundo esforço. As concepções de

homem são referencias para todo e qualquer novo projeto que orienta a formação

1 Texto presente no resumo da Tese de Doutorado de Hajime Nozaki (2004).

Page 30: Anderson Rodrigues

29

inicial e continuada, com o fim de formar um individuo critíco-reflexivo, consciente do

seu papel enquanto educador e interventor nas demandas sociais da atualidade.

Ainda em artigos, teses, existem extensos capítulos que versam sobre

reformas educacionais e Educação Física, em: Formação de professores de

Educação Física no quadro de mundialização da educação: A mediação das

diretrizes curriculares para uma formação mínima ou para o mínimo da formação,

por Santos Junior, (2005), se faz uma descrição das interferências ocasionadas pelo

mundial no que se refere à educação. O Estado descompromete-se com o seu papel

de garantir o ensino público e de qualidade e converte a responsabilidade ao capital

privado, e este dar conta de cumprir o seu papel, emoldurando o novo perfil

profissional e de ser humano ante a nova ordem mundial.

Outros, não poucos, buscam entender as nuances as feições e afeições

relacionadas ao processo de formação de professores de Educação Física. O

caminho é quase sempre o mesmo, no que diz respeito ao método o estudo inicial

trata de analisar a história, em seguida as reformas na educação e a

contextualização com a proposta atual de formação humana.

Page 31: Anderson Rodrigues

30

5 METODOLOGIA

A pesquisa apresenta características qualitativas, porque a análise de

concepção de formação humana de um curso de nível superior não tem como ser

quantificada. Além disso, pretende-se levantar dados a partir da análise documental

e entrevista cujos resultados não podem, da mesma forma, ser matematizados.

Os estudos qualitativos propõem um aprofundamento nos estudos que

interpretam as relações entre o ser humano e a sua visão de mundo, como a

construção do individuo, das coisas por ele criadas, suas representações,

sentimentos e aspirações. Empiricamente e sistematicamente promove o

conhecimento, possibilitando uma compreensão ampla e lógica do estudo. Também

podemos nos utilizar com o fim de levantar novas hipóteses, outros indicadores,

variáveis (MINAYO, 2006).

O estudo será realizado tendo por base a perspectiva materialista-histórica de

ciência e pesquisa. Esta possibilitou uma melhor compreensão do processo histórico

e entendimento daquilo que essa pesquisa objetiva. Fundamento essa relação a

partir dos princípios da dialética, que são a totalidade, que compreende a relação

entre um fenômeno particular e questões históricas, políticas, culturais; a negação

da negação, que entende a existência do dinamismo presente da realidade, ou seja,

ela se movimenta. A dupla negação propõe a transitoriedade, nada é absoluto,

definitivo e que o processo dialético se desenvolve, tem continuidade através de

negações; passagem da quantidade à qualidade ou mudança qualitativa, que traz a

idéia de que as coisas mudam em ritimos diferentes. O processo, às vezes, é lento e

de quando em quando existem “saltos” de qualidade; interpenetração dos contrários,

contradição ou luta dos contrários, que reafirma que nada pode ser compreendido

isoladamente, os lados são contrários no entanto se estabelece uma unidade.

O estudo em perspectiva dialética reconhece os fenômenos sociais como

resultados da concepção de mundo e da capacidade do homem de transformar a

sua realidade. Resumindo, a prática social e o trabalho como ferramentas para

mudar e se afirmar enquanto sujeito na construção da sociedade.

Trata-se de um estudo de caso, pois a realidade a ser pesquisada delimita-se

na compreensão do processo de formação de professores no curso de Educação

Física da UNEB de Alagoinhas. O Estudo de Caso se caracteriza pelo estudo de

Page 32: Anderson Rodrigues

31

uma ou poucas realidades, e, portanto, as considerações tecidas não poderão ser

generalizadas para todo o universo de escolas de formação em Educação Física.

A cidade de Alagoinhas é um dos municípios baianos em que a Universidade

do Estado da Bahia tem um dos seus 24 campus. É uma cidade territorial, composta

por pequenos distritos e pequenas cidades que se aninham formando uma região,

segundo dados oficiais da prefeitura, que se encontra em crescente

desenvolvimento como em outras realidades Brasil afora. Localiza-se na região leste

da Bahia, a 93 km da capital baiana. Conforme registros na Junta Comercial de

Estado da Bahia - JUCEB, existem 666 indústrias, ocupando o 13º lugar na posição

geral do Estado da Bahia, e 3.711 estabelecimentos comerciais, 14ª posição no

campo da economia dentre os municípios baianos. A cidade tem, conforme último

censo do IBGE, 137.810 habitantes. No que diz respeito ao campo educacional,

segundo Censo realizado em 2004, há no Ensino fundamental, 26.463 matrículas,

no Ensino médio, 8.739 Matrículas e 1.119 Docentes no Ensino Fundamental e 400

no Ensino Médio.

A cidade possui um campus da Universidade do Estado da Bahia, em que o

curso de Licenciatura em Educação Física começou a funcionar no segundo

semestre de 2005, com a realização do vestibular para a primeira turma, que se

formou em 2009.

A coleta de dados será realizada através de três técnicas: a primeira é a

análise documental do projeto do curso; a segunda, um questionário fechado para

os alunos egressos; e, a terceira, entrevista semi-estruturada com os professores

que participaram da comissão de elaboração do projeto do curso. A utilização

dessas técnicas tem o objetivo de possibilitar o conhecimento do curso desde seu

planejamento até sua execução, de modo que se obteve um panorama geral da

formação no curso em questão.

Segundo Gil (2007), a elaboração de um questionário consiste basicamente

em traduzir os objetivos específicos da pesquisa em itens redigidos. Naturalmente,

não existem normas rígidas a respeito da elaboração do questionário.

Para Minayo (1994), a entrevista é um procedimento bem utilizado no

trabalho de campo. Para essa pesquisa constitui um instrumento relevante, isso,

pensando em obter informações contidas nas falas dos protagonistas do curso em

análise.

Page 33: Anderson Rodrigues

32

A entrevista tem suas pretensões, e esta se focaliza em uma determinada

realidade. E com esse procedimento pode se extrair dados objetivos e subjetivos.

Optei pela entrevista semi-estruturada, pois articula as duas técnicas.

A mesma permite por meio das perguntas previamente elaboradas o

entendimento da temática abordada pelo investigador, bem como a liberdade para

depor no que diz respeito ao informante, pois, este pode durante a entrevista

apontar para questões que passaram despercebidas pelo pesquisador.

A análise de dados será realizada a partir de duas técnicas: a análise

proposta pelo esquema paradigmático e a análise de conteúdo. A primeira foi usada

para analisar o projeto do curso. A segunda, para analisar os questionários e as

entrevistas.

O esquema paradigmático propõe investigar por meio do questionamento, da

pergunta bem elaborada, concreta e que implicará na obtenção da resposta a serem

coletadas a partir dos registros e documentos e informações sobre o real, que

conforme dito foi o Projeto Pedagógico do Curso de Educação Física. Este foi

analisado como propõe Gamboa (2007), no nível teórico, que se referem aos

fenômenos educativos e sociais privilegiados, núcleos conceituais básicos,

pretensões críticas a outras teorias, tipos de mudança proposta, autores citados nos

pressupostos epistemológicos, que diz respeito aos critérios de cientificidade, como

concepção de ciência, concepção dos requisitos da prova ou validez concepção de

casualidade; e o pressuposto ontológico, que envolve concepções de homem, de

realidade e de história e que entende a produção cientifica a partir de uma visão de

mundo (cosmovisão). A partir da proposição de Gamboa (2007), trabalhamos a

análise do projeto com base nos pressupostos ontológicos e, apesar de não

sugerido pelo autor, foi considerado também a concepção de Educação presente no

Projeto do Curso já que se quer discutir a concepção de formação humana presente

no referido documento.

Além disso, em relação aos questionários e entrevistas, utilizei como técnica a

análise de conteúdo. A mesma propõe a reunião de várias outras técnicas. Segundo

Minayo (1994), duas funções são evidenciadas. A primeira diz respeito “à verificação

de hipóteses e/ou questões”. A segunda se refere “à descoberta do que está por trás

dos conteúdos manifestos”.

O modelo adotado permite uma análise das mensagens contidas nas

respostas dos entrevistados. Mediante a classificação, isto é, por meio das

Page 34: Anderson Rodrigues

33

categorias, podemos destacar elementos que aparecem nas respostas aos

questionamentos e que, portanto vão encontrar relações diretas com a temática

abordada.

A análise de conteúdo possibilita ainda, uma leitura seja por “registro de

unidade”, que pode ser uma palavra, uma frase, oração; reunir elementos suficientes

para dar conta do objeto de estudo. Além das unidades de registro, precedem

também as unidades de contexto, que faz uma referência mais ampla. E situa em

outras palavras o contexto da mensagem.

Page 35: Anderson Rodrigues

34

6 ANÁLISE DE DADOS

Parto do princípio proposto no esquema paradigmático para entender com

esse estudo o Projeto Político Pedagógico do Curso de Licenciatura em Educação

Física, que iniciou em 2005 e se encontra em vias de reconhecimento.

6.1 Análise do Projeto

Determino aqui níveis, são em essência três princípios para a compreensão

desse trabalho no que diz respeito à formatação do projeto e suas concepções, de

acordo com os objetivos proposta na pesquisa dispomos:

NIVEL I- DA CONCEPÇÃO DE EF DO CURSO DE EDUCAÇÃO FISICA DA

UNEB-CAMPUS II

Pergunto qual a concepção de formação de professores defendida na

proposta desse curso? Obtive como resposta:

A formação defendida nesta proposta está marcada pelos reclames da população, pela responsabilidade da Universidade perante a sociedade, pelas mudanças necessárias reconhecidas pelos movimentos sociais e comunidades cientifica da Educação Física, Ciências do Esporte e Estudos do Lazer, representados pelas diversas entidades e pelo que preconizam as bases legais: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9394/96; Parecer 09/2001 e as resoluções CNE/CP 01/2002 e 02/2002) “que versam sobre as diretrizes curriculares para a formação de professores da Educação Básica”, bem como o Parecer 058/2004 e a resolução 07/2004, “que estabelece diretrizes curriculares para os cursos de formação profissional em Educação Física”. (PROJETO DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, 2005, p.18).

Aqui surge um elemento a ser observado; estamos diante da concepção de

formação de professores em Educação Física, e esta se encontra embasada nos

referenciais da LDB.Continua:

Page 36: Anderson Rodrigues

35

[...] Posto assim propõe-se uma formação do licenciado em Educação Física, que seja capaz de compreender o fenômeno educativo e apresentar soluções, o que exige um currículo que garanta uma formação sólida que oriente para a capacidade de fazer perguntas e buscar respostas, elegendo as práticas concretas como ponto de partida para a elaboração de conhecimentos que modifiquem as situações que se apresentem como problemáticas [...].PROJETO DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, 2005, ).

Sobre a proposta da formação de professores no referido curso de

Alagoinhas, os conceitos; as bases epistemológicas; a preocupação com a

localização da Educação Física, na atual conjuntura política, educacional e social.

Persiste a prerrogativa de pensar essa ciência focada na realidade do cotidiano,

respaldada nas premissas das regulamentações, nas fundamentações teóricas

construídas ao longo das atuais concepções em Educação Física, e mais: “É

essencial a contribuição das ciências e em particular da filosofia, sociologia,

antropologia, psicologia, anatomia, fisiologia, biologia dentre outras, como

referencias fundantes para compreensão da Educação Física”, essa perspectiva

dialoga com a proposta critico-superadora, defendida no último encontro cientifico da

área, realizado na cidade de Salvador-BA, o XVI COMBRACE, e que, firma a senda

elaborada e pensada pelo coletivo de autores para a formação, metodologia e

ensino da “cultura corporal de movimento”.

NIVEL II- DA ORGANIZAÇÃO DO CURRICULO E A DISPOSIÇÃO DAS

TEMÁTICAS/DISCIPLINAS

Sobre a proposta do currículo pergunto: Qual a estrutura curricular?

A organização do currículo do curso de Educação Física da UNEB apresenta

uma formatação em oito semestres, e delineados por quatro eixos temáticos que são

os princípios norteadores de todo o projeto de formação. Os “universos temáticos”,

como constam no documento, comungam com a proposição de “temas geradores”.

Metodologia essa que permite a “dialogicidade da educação”

Observemos o recorte do projeto do curso:

[...] Para efeito do presente projeto os Universos Temáticos

ficaram assim anunciados: UNIVERSO TEMÁTICO I –

Page 37: Anderson Rodrigues

36

FUNDAMENTOS; UNIVERSO TEMÁTICO II -

CONHECIMENTO E METODOLOGIA; UNIVERSO TEMÁTICO

III - SISTEMATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO e UNIVERSO

TEMÁTICO IV - PRÁXIS PEDAGÓGICA [...]. (PROJETO DO

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, 2005,

P.24).

A tabela abaixo expõe os eixos temáticos:

UNIVERSO

TEMÁTICO I

Fundamentos basilares do curso/Campos de estudos:

Anátomo - biológico

Sócio – Antropológico

Histórico – Filosófico

Dimensão Didática

UNIVERSO

TEMÁTICO II

Compreende os componentes curriculares que articulam o conhecimento das diversas especificidades do campo da Educação Física com suas respectivas metodologias.

UNIVERSO

TEMÁTICO III

O foco é a sistematização do conhecimento, mediante a oferta de disciplinas que favoreçam a reflexão sobre a produção do conhecimento, a elaboração de projetos de pesquisa e sua execução, bem como a socialização de produções parciais na forma de resumos, resenhas, artigos e seminários, culminando com o Trabalho de Conclusão do Curso (monografia).

UNIVERSO

TEMÁTICO IV

Contempla a práxis pedagógica e preocupa-se com a criação de situações de aprendizagem para mobilizar os conhecimentos relativos ao trabalho intelectual, articulado, mas não reduzido, ao mundo do trabalho.

Page 38: Anderson Rodrigues

37

As disciplinas ficam dispostas dentro desses campos, orientadas numa

relação de temas consensuais, e estes componentes curriculares, vãos além das

disciplinas especificas. Essa orientação é congruente com as tendências atuais no

campo da educação, e que pressupõe a retomada da reflexão, da crítica e da

emancipação do individuo que forma para formar.

A proposta do currículo dispõe de fundamentos que em aspectos gerais

propõe formação “ampla” que busque dar conta da demanda que se apresenta na

área. Isto implica numa formação docente que atentem para os ideais da instituição,

para as reflexões mais profundas concernentes as temáticas sociais, e formação

humana. Essa afirmação se apresenta nestes termos: “Dominar os conhecimentos

gerais e específicos da Educação Física e aqueles advindos das ciências afins,

orientados por valores acadêmico-científicos e éticos- críticos próprios de uma

sociedade plural e democrática”

O que se percebe no projeto curricular é uma relação de unificação no que diz

respeito à formação. Formação essa pautada na docência e que ratifica a atuação

do professor na dimensão da práxis pedagógica, ou seja, “nos distintos espaços nos

quais se materializam as aprendizagens da cultura corporal”. ( PROJETO POLITICO

PEDAGÓGICO DO CURSO, 2005, p.17). Independe dos espaços de atuação o

trabalho é pedagógico.

A idéia, observando o formato da proposta do currículo, é de não reproduzir,

mas de caminhar contraria a lógica das especificidades e “competências”. Pretende-

se ainda uma formação qualificada, não fragmentada, e contrária a reprodução de

técnicas.

O perfil do licenciado deverá contemplar com base na proposta do curso, uma

formação ampliada, em que o egresso desenvolva experiências teórico-práticas, e

com concepções crítico-humanísticas. Caminha-se, portanto, ao lado do que

defende a ANFOPE, e pesquisadores do campo da Educação e Educação Física.

Page 39: Anderson Rodrigues

38

NIVEL III- DOS PRINCIPIOS E DOS OBJETIVOS

O último questionamento é: Qual o objetivo do curso?

O referido curso tem por princípio formar licenciados em Educação Física,

conscientes da realidade que o cerca nas diferentes relações por meio das

manifestações da “cultura corporal”.

Objetiva formar professores que compreendam as dimensões da “docência

e pesquisa entendida como um princípio orientador das práticas; capaz de

diagnosticar, propor, executar e avaliar o trabalho”.

[...] O Curso de Licenciatura em Educação Física no Campus II

- Alagoinhas da UNEB tem como objetivo a formação de

professores para atuarem nos mais diferentes espaços na qual

se materializam as aprendizagens relativas as culturas

corporais, a partir de uma formação ampliada que possibilite ao

licenciando, a luz da realidade social, produzir conhecimentos

técnico-científicos, capazes de fundamentar, desenvolver e

avaliar sua prática político-pedagógica [...].PROJETO DO

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, 2005, ).

Em linhas gerais, prepara o egresso, assim se diz a priori, para desenvolver

uma concepção crítico-humanista, qualificando profissional e academicamente e

calcados na produção do conhecimento desenvolvido e acumulado na história e no

rigor da ciência.

As referências a essas concepções se percebem nas propostas teórico-

metodológicas em Educação Física, coletivo de autores (1992). São validados nas

Diretrizes, que determina: “Estimular o conhecimento dos problemas do mundo

presente, em particular os nacionais e regionais, prestar serviços especializados á

comunidade e estabelecer com essa uma relação de reciprocidade” (LDB, cap IV,

art.. 43º, VI).

É possível perceber que existe uma preocupação quanto á localização da

área da Educação Física quanto ao campo de atuação quando apresenta o

seguinte:

Educar, produzir e socializar conhecimentos no âmbito da Educação Física em uma sociedade concreta e ideologicamente situada é tarefa do curso, visto que essa área

Page 40: Anderson Rodrigues

39

tornou-se socialmente abrangente. A formação acadêmica, por força de lei, visa, sobretudo, à formação de professores de Educação Física para trabalharem na escola. No entanto, a proposta do presente curso traz aberturas para a atuação do profissional nos diversos campos na qual o fazer educativo referente à cultura corporal ocorra, desde que possa atender a interesses e necessidades da população. (PROJETO DO CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, 2005, p.15).

Sublinho aqui que a proposta que norteia os objetivos do curso, bem como

sua concepção, orienta toda a dinâmica das variadas relações no que tange ao

processo de formação acadêmica. Com efeito, o curso de Educação Física, “através

de sua proposta curricular, amplia o significado do processo educativo,

ultrapassando a escolaridade formal, principalmente, no que diz respeito à análise e

compreensão das práticas sociais vinculadas às práticas educativas”. A formação

propiciada no curso permite que, através da análise, interpretação e produção de

conhecimentos, o egresso seja capaz de atuar na escola e fora dela.

Seja a pesquisa, o ensino, justamente esse que pressupõe atuar numa perspectiva

ampla que desenvolva uma relação com a comunidade fora dos muros da

universidade.

6.2 Análise da Entrevista

A partir das entrevistas realizadas com os professores que participaram da

elaboração do curso de Educação Física, os questionamentos sobre como se dá o

processo de formação docente obtiveram suas respostas. A análise de conteúdo,

proposta por Mynaio (2004), vai ajudar no entendimento do trabalho, pois a partir da

classificação das categorias das respostas dadas se soube a pretensão do projeto

criado para este curso, bem como sua dinâmica no sentido de formar o professor

consciente do seu papel na sociedade.

Page 41: Anderson Rodrigues

40

QUADRO I - FREQUÊNCIA TEMÁTICA NAS ENTREVISTAS

CATEGORIA OCORRÊNCIAS FREQUÊNCIA

NUMERADA

CONCEPÇÕES

POLITCO- PEDAGÓGICA

CRITICO-SUPERADORA 2

EMANCIPATÓRIA 1

PERSPECTIVA

DUCACIONAL

CULTURA CORPORAL 1

FORMAÇÃO AMPLIADA 3

PRÁXIS PEDAGÓGICA 1

ATUAÇÃO

PROFISSIONAL

CAMPO ESCOLAR 3

CAMPO NÃO ESCOLAR 2

As entrevistas foram feitas aos professores da comissão que pensou o

Projeto do Curso. Os mesmos são aqui apresentados como sujeitos R, L, e G

prezando pelo direito de manter sigilo aos entrevistados. Desenvolvo a entrevista a

partir do modelo proposto por Minayo (2004), quando defende que esse instrumento

pode extrair elementos objetivos e subjetivos, pois, o foco é a realidade.

Quando interrogado sobre o motivo pelo qual se pensou na implementação

desse curso em Alagoinhas, o professor R, um dos participantes da comissão de

elaboração do projeto do curso, afirmou que surgiu de uma demanda local e das

regiões cirucuvizinhas e com o objetivo de formar com qualidade. O mesmo se deu

com o professor L, que afirma que a reunião de três aspectos importantes contribuiu

para o surgimento do curso. Ressalta: a demanda da comunidade local; os

professores que atuavam no campus da UNEB desenvolvendo seminários na área,

ministrando disciplinas nos cursos já existentes; e inclui o interesse dos gestores em

oferecer essa formação no âmbito da educação na região.

O professor, G outro participante da mesma comissão do projeto do curso

depôs que, a demanda do município de Alagoinhas, no que diz respeito à formação

superior em Educação Física era necessária e que, pontuou, não era uma

preocupação dos professores da área que se encontravam na instituição.

Page 42: Anderson Rodrigues

41

Em todos os momentos na entrevista se confirma a necessidade do curso na

região de Alagoinhas, com o fim de trazer a esse território uma formação superior

por conta das demandas locais em torno da profissão tanto no espaço escolar,

quanto o não escolar, dado estes, levantados por pesquisa.

A perspectiva do processo de formação nesse curso, já aparece aqui em uma

fala, que em linhas gerais dialoga com a LDB, a concepção critica em educação, e

em Educação Física, quando diz que: “o objetivo é formar com qualidade”.

Toda formação tem sua proposta político-pedagógica e que, portanto, define e

orienta o trabalho a ser desenvolvido no processo de formação profissional. Nesse

quesito, dois dos professores disseram que a formação é cidadã, ética, democrática,

política, sem preocupação de atender o mercado, e sim de formar cidadãos críticos

que ultrapassem os modelos vigentes. “Não formar por formar”, e uma formação de

caráter ampliado, isto é, o curso é de Licenciatura em Educação Física, mas,

abrangendo conteúdos com origem nas ciências naturais.

Essa preocupação com o projeto político-pedagógico, de fato é transcrito no

texto da proposta curricular do curso, e nas respostas, mais uma vez dois dos

entrevistados reforçam que o projeto se encontra aliado às demandas éticas, de

formação cidadã, e qualificada, em conformidade com as aspirações dos

movimentos institucionais e sociais, e amarradas às políticas determinadas pelas

Reformas Educacionais no Brasil. Já, sobre essa sintonia com a legislação, não há

um consenso.

O professor G contrapõe dizendo que a perspectiva é de uma formação

ampliada, mas, que isso mudou, e, portanto, o curso já não contempla a proposta

inicial por conta da legislação que atualmente vigora.

Na continuidade do diálogo, pergunto em que perspectiva educacional está

fundada as práticas do curso, o professor R antecipa dizendo que a abordagem que

orienta o “nosso projeto” é a da cultura corporal, e que propõe a transformação da

realidade. Sobre o mesmo questionamento, acrescenta L que: é uma formação da

práxis pedagógica, da qual reúne elementos conceituais em educação, saúde,

esporte e lazer, área esta, ainda a ser explorada no campo da Educação Física.

O discurso de G, é de que a pretensão do projeto é atender a formação a

partir de uma perspectiva ampliada, mas, reforça que a proposta é desatualizada e

que é uma “mentira”, a idéia de uma licenciatura ampliada.

Page 43: Anderson Rodrigues

42

Sobre o campo de atuação do profissional formado em Educação Física, os

mesmos disseram que a universidade tem autonomia para elaborar seus cursos, e

que, portanto, o curso em questão, prepara o profissional para diferentes campos, e

em espaços formais e não formais. A licenciatura não é só para atuar na escola e

sim em diferentes campos prosseguiu o professor R, isso com base na LDB, e

referendados nas Resoluções 001/002-2001, e nos pareceres referenciais de março

de 2010.

Na seqüência o professor L, salientou; “independe dos espaços de atuação o

trabalho é pedagógico”. E abarca temas transversais, saúde, meio ambiente, e a

práxis pedagógica, em síntese disse ele; teoria-prática.

Existe sim a autonomia universitária, mas, refuta G, que, os pressupostos que

norteiam o atual projeto do curso é um equivoco, pois, o MEC, delimita, orienta, e

estabelece o processo de formação e não de atuação do profissional. E que a

formação na prática vai ser uma “formação deturpada que vai complicar a atuação.”

A licenciatura não é “ampla”, na prática, o individuo licenciado atua na escola.

Esse panorama aponta para o quadro dos cursos de formação superior em

Educação Física. São múltiplas as concepções e propostas curriculares as quais

reforçam uma dualidade na formação desse profissional. Somado a esses aspectos

que envolvem o cotidiano do curso, resgato aqui a colocação de Santos Junior

(2005), quando diz: “A fragmentação... culmina num processo de quebra da

formação já na formação”.

No que se refere à perspectiva educacional que orienta as práticas desse

curso, as falas diferem completamente. A primeira ocorrência é uma abordagem da

que pensa o modelo de educação em Educação Física, a partir da “cultura corporal”.

No segundo momento, aparece a perspectiva pautada na práxis pedagógica. E por

fim, surge o depoimento no qual compreende de modo geral que a perspectiva é

viabilizar uma formação ampliada, mas, desintonizada com a legislação. Cada uma

dessas ocorrências, não são comuns umas as outras, propondo maior

discussão/reflexão sobre os aspectos epistemológicos, os pressupostos ontológicos

e de fato, qual a real pretensão em formar novos professores nessa área no curso

da UNEB, Alagoinhas. Retomo esse debate porque a construção/criação de cursos

de formação no ensino superior está ligada a uma discussão mais ampla sobre a

tomada da consciência dos indivíduos sobre as concepções atuais que implicam na

formação humana.

Page 44: Anderson Rodrigues

43

O último ponto que trago aqui, diz respeito à atuação profissional do egresso

ao curso, e quais pressupostos embasam essa relação. Os conteúdos das respostas

se apresentaram aos moldes da proposta político-pedagógica do curso. O primeiro

momento coincidiu com a segunda e a terceira ocorrência quando os entrevistados

reafirmam a autonomia universitária como base para formulação do projeto do curso.

Duas ocorrências apontam que o campo de atuação profissional independe

do espaço, a prática docente é a mesma, portanto, sejam os espaços formais ou não

formais a atuação pedagógica permite ao egresso se desenvolver na ambiência

escolar ou fora dela. Uma ocorrência, não torna as respostas congruentes. O

entrevistado salienta que, as bases que nortearam o projeto de criação do curso já

não correspondem mais aos pressupostos atuais.

Nesse quesito percebo que há uma relação, em alguns aspectos, do projeto

local com a lógica do projeto hegemônico. São as relações mais amplas, sejam elas

políticas, econômicas e sociais com interesses mais gerais e que implicam

diretamente nas relações mais especificas, por exemplo, o mundo global, mais geral,

influencia o processo de formação de professores enquanto trabalhadores, aspecto

mais especifico.

6.3 Análise dos Questionários

Com a intenção de ampliar a discussão, fiz utilização dos questionários que, por

sua vez, foram aplicados aos alunos egressos. Foram contactados, via endereço

eletrônico, nove dos estudantes formados dos quais quatro responderam ao

questionário. Analiso as respostas as questões, pautado no modelo sugerido por

Minayo (2004), que apresenta a técnica de análise de conteúdo como técnica que

possibilita a leitura das mensagens contidas nas respostas às perguntas.

QUADRO II - FREQÜÊNCIA TEMÁTICA NOS QUESTIONÁRIOS

CATEGORIAS OCORRÊNCIAS FREQUÊNCIA EM

NÚMEROS

A- PERSPECTIVA DO

CURSO (PROPOSTA

POLITICO -

FORMAÇÃO

AMPLIADA

2

Page 45: Anderson Rodrigues

44

PEDAGÓGICA)

CULTURA CORPORAL

DE MOVIMENTO 2

B- CONCEPÇÃO EM

EDUCAÇÃO FÍSICA CRITICO-SUPERADORA 4

C- ESPAÇO DE

ATUAÇÃO

PROFISSIONAL

(ATUAL CAMPO DE

INTERVENÇÃO )

EDUCAÇÃO BÁSICA 2

EDUCAÇÃO SUPERIOR 1

GINÁSTICA LABORAL 1

O questionário foi elaborado contendo cinco questões (Apêndice 2), dentre as

quais obtive respostas sobre a concepção do egresso no que diz respeito a sua

formação, o seu campo de atuação o qual pretende se inserir e o entendimento do

mesmo no que se refere a proposta político-pedagógica do curso.

No primeiro questionamento surgem respostas semelhantes. Pergunto: Qual

o seu entendimento sobre a proposta político-pedagógica do curso de Educação

Física na UNEB em Alagoinhas? E o termo formação “ampliada” aparece duas

vezes. Nas respostas, faz-se uma alusão à proposta descrita no projeto. Destaco

essa: “É um curso que se propõe a atender as demandas sociais existentes da

região e por isso apresenta uma perspectiva de formação “ampliada” e continuada.”

Na seqüência a resposta de outro questionário descreve o entendimento sobre o

projeto político pedagógico do curso: “O curso de Educação Física na UNEB em

Alagoinhas tem seu projeto político-pedagógico baseado no entendimento da

Educação Física enquanto manifestação da cultura, mas especificamente da cultura

corporal, busca a formação baseada em princípios humanísticos, objetivando uma

formação para além da Educação Física escolar, primando pelo profissional capaz

de ler criticamente o mundo a sua volta e de atuar dentro de tal realidade.”

Com que concepção de Educação Física você se formou? Esta foi a segunda

pergunta do questionário. São quatro as ocorrências, três usam o termo “cultura

corporal,” uma usa o coletivo de autores para referenciar essa resposta, “Me formei

tomando como concepção de educação física a cultura corporal, baseada no

Page 46: Anderson Rodrigues

45

coletivo de autores.”: e uma descreve como concepção crítica: [...] “entendo a

Educação Física enquanto meio de propiciar a releitura da realidade do sujeito

possibilitando-o uma transformação pessoal e social.”

A compreensão dessas concepções por parte dos egressos que responderam

ao questionário permite identificar o entendimento que os mesmos têm quanto a sua

formação. É isto que consta no projeto do curso que, por sua vez, encontra-se em

sintonia com as proposições do chamado Coletivo de Autores, e que busca atender

às atuais concepções no que diz respeito à formação como um todo numa

perspectiva crítica e ampliada. Tomando como referência:

O curso oportuniza ao egresso o desenvolvimento de

experiências teórico-práticas acerca do movimento humano e

suas relações com a sociedade através de métodos, técnicas e

instrumentos que permitam ao egresso planejar, orientar,

executar e avaliar as atividades em Educação Física.[...]

(Projeto do Curso de Licenciatura em Educação Física, 2005,

p.21).

Sobre isso, retomo Bracht (1998, p.16) que “propõe a reorientação curricular

que atue nas esferas das ciências sociais e humanas, e problemáticas da EF

enquanto prática pedagógica.”

A unanimidade das respostas do questionário em primeira análise possibilita

afirmar que no processo de formação, a proposta curricular está amarrada à

perspectiva dos professores e, portanto, permite afirmar que existe sintonia na atual

conjuntura idealizada para este curso.

Diríamos que segue as mesmas interpretações do projeto político-

pedagógico, que tem relações com algumas respostas das entrevistas feitas aos

professores pertencentes à comissão que elaborou o projeto, e sem se distanciar os

egressos entendem como formação o que sugere a qualificação inicial do curso, e

abordam na mesma proporção às concepções de Educação Física deste curso nos

seus respectivos espaços de atuação.

Page 47: Anderson Rodrigues

46

O campo de atuação é um quesito problematizado nos debates em torno da

formação. Como já dito anteriormente, a estrutura curricular aponta para a

possibilidade de atuação profissional na e fora da escola. A terceira pergunta do

questionário procurou saber sobre: Qual o seu atual espaço de atuação profissional?

Temos como ocorrências do campo de atuação dois egressos que atuam na

Educação Básica, uma ocorrência para Educação Superior e uma para atuação fora

da ambiência escolar, este último desenvolve a Ginástica Laboral.

Consoante a explicitação do currículo do curso sobre a prática profissional:

O campo de atuação do professor de Educação Física se dá de

modo coletivo e/ou personalizado na ambiência escolar,

podendo ainda ser pedagogicamente desenvolvido em clubes,

academias, hotéis, associações comunitária, centro sociais,

condomínios, empresas, parques dentre outros, através do

ensino, da pesquisa, da coordenação e direção (PROJETO DO

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA, 2005,

p.22).

Ainda: “Apesar de se tratar de um curso de licenciatura, “que por força de lei”,

busca a formação de professores de Educação Física, ainda possibilita a atuação

nos diversos campos profissionais que lidam com a ação educativa envolvendo a

cultura corporal.” Essa é uma resposta de uma egressa sobre as possibilidades de

atuação profissional na EF.

A possibilidade de atuação em diversos campos, que parece estar ocorrendo

entre os egressos (mesmo que com conflitos), coaduna com a perspectiva de que a

educação física é uma pratica de intervenção social e imediata.

Tudo isso nos deixa a par sobre as proposições do curso, o compromisso

com a formação docente no que se relaciona aos valores políticos, e a ética

profissional construída uniformemente às demandas sociais. As ligações mais gerais

com as idéias sobre formação docente e formação humana ficam explicitadas no

referido curso. O mesmo aborda a cultura corporal em suas variadas manifestações

como importante patrimônio histórico constituindo como objeto do curso para a

formação docente.

Page 48: Anderson Rodrigues

47

7 BREVES CONCLUSÕES E NOVAS QUESTÕES

Não se trata simplesmente de terminar um texto, de acabar uma redação e

dar por fim uma pesquisa que buscou refletir acerca do processo de formação do

professor, e o projeto para a formação humana no Curso de Educação Física da

UNEB de Alagoinhas.

A organização das idéias surge a partir da história da Educação Física, e de

como o passado sustenta atuais conceitos e direcionam os rumos da formação

docente. Nesse contexto, o texto histórico pressupõe uma reflexão sobre as

possibilidades e os entraves na qualificação desse profissional que, de modo geral,

se insere em uma sociedade modelada pelas presunções capitalistas as quais

historicamente constroem ou destroem as instituições, com o fim de formar um

“homem” que se atrofie, e mantenha, ou mesmo reproduza as práticas que

perpetuem as perspectivas hegemônicas.

No outro momento, trago as concepções contínuas e descontínuas em

Educação Física. O militarismo, antecedido pelo biologicismo determinaram as

práticas, os conteúdos bem como a formatação dos currículos para a graduação na

área. Ao longo do tempo, tais conceitos se constituíram barreiras para a formação e

compreensão sobre o objeto de estudo dessa prática social.

Impulsionados pelo novo/velho projeto de mundo a Educação, (sucedem

política/ economia/ sociedade em geral), passa a atender as propostas neoliberais e

afirmar por meios legais a construção de diretrizes que norteassem os currículos dos

cursos. Oferecendo uma formação desvinculada do poder público e atrelado as

determinações da nova ordem mundial. As relações de mediação precedem dos

parâmetros estabelecidos por leis que dão conta de reformar o sistema educacional

com o fim de alinhar às demandas decorrentes do plano neoliberal.

No confronto, são elaboradas novas concepções em Educação Física que

implicam diretamente na formação de professores que agora tem como objeto de

estudo a “cultura corporal de movimento”, orientada pelas tendências crítico-

humanísticas e de superação do regime do capital.

Estas considerações montam o cenário para a compreensão do processo de

formação de novos professores e do projeto de formação humana do Curso de

Licenciatura em Educação Física da UNEB em Alagoinhas.

Page 49: Anderson Rodrigues

48

O que temos como projeto de formação humana? O referido curso propõe uma

formação pautada nos valores éticos que inspiram uma sociedade democrática, os

estéticos que formam sensibilidades para olhar e intervir no mundo e os políticos

que promovem a capacidade de dialogicidade. Assim, defende o Projeto do Curso

(2005), diante dos conflitos econômicos, étnicos e de gênero próprios das relações

humanas. A formação do ser humano é algo complexo que cerca o individuo como

um todo. Para além do corpo físico, isto é, biológico o homem é um ser psicológico,

social e político.

Ao analisar o Projeto Pedagógico do Curso, reflito sobre algumas questões.

Tais como:

O projeto do curso tem como pilar a práxis pedagógica, e não tem como

principal preocupação à prática da educação física a partir da reprodução de

movimentos em seus aspectos mecânicos, e inclusive, mescla os conhecimentos

afins com pretensão de formar dentro de uma perspectiva “ampliada” que contemple

as áreas biológicas, da saúde e a possibilidade de atuação no âmbito da

performance esportiva.

O curso possui quatro eixos temáticos os quais geram os conhecimentos a

serem trabalhados. Estes fundamentos temáticos cuidam de elencar conteúdos que

dentro das disciplinas curriculares abordam sobre ciências biológicas e da saúde, e

temas originários das ciências sociais, humanas e filosóficas.

Quanto ao egresso o curso pretende prepará-lo para atuar enquanto

professor na área da educação. Entendendo que, as manifestações da cultura

corporal na atual realidade tem se apresentado em variados espaços os quais

possibilitaria a intervenção do professor de Educação Física.

O debate sobre a formação de professores é amplo e ao menos a esta

pesquisa não cabe dar conta de como se dá todo o processo. Procuro saber sobre

qual professor de Educação Física estamos formando, e que professores queremos;

e de como o novo projeto de mundo influencia nessa formação, à formação do ser

humano. Foram recortes, este estudo sugere o aprofundamento de novas questões,

portanto, proponho novos capítulos para essa história, porque ela acabou de

começar.

Page 50: Anderson Rodrigues

49

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Page 51: Anderson Rodrigues

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PIRES, R. G. A influência da Escola Nacional de Educação Física e Desporto (Rio de Janeiro) no desenvolvimento da Educação Física da Bahia, décadas de 1940 – 1970. Dissertação de Mestrado em Educação. PUC-SP, 2001.

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Page 52: Anderson Rodrigues

51

APÊNDICE

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APÊNDICE A

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS II

CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezados senhores,

Eu, Anderson Lima Rodrigues, sou acadêmico regularmente matriculado no curso de

Licenciatura em Educação Física da UNEB-Campus II e estou realizando pesquisa sobre “A

concepção de formação humana no curso de Licenciatura em Educação Física da UNEB-Campus II”,

cujo relatório final constituir-se-á meu Trabalho de Conclusão de Curso/Monografia. Para realização

da mesma, preciso realizar entrevistas semi-estruturadas com os professores fundadores do referido

curso e aplicar questionários abertos aos alunos egressos do mesmo. Comprometo-me em manter

em sigilo o nome dos sujeitos pesquisados e utilizar as informações somente para fins da

investigação.

__________________________________

Profª. Ms. Martha Benevides da Costa

74497477-7

(Orientadora)

_______________________________

Anderson Lima Rodrigues

(Acadêmico do curso de Licenciatura em Educação Física da UNEB-Campus II)

Caso aceite participar como sujeito desta pesquisa, assine abaixo.

_______________________________________

Assinatura do Sujeito Pesquisado

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53

APÊNDICE B

ENTREVISTA

1- O que motivou pensar elaborar o curso de Educação Física da UNEB em Alagoinhas?

2- Qual a proposta político-pedagógica do curso?

3- Qual a perspectiva educacional que orienta as práticas desse curso de Educação Física?

4- A formação propõe atuação profissional em que campos da área e isso com base em que pressupostos?

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54

APÊNDICE C

QUESTIONÁRIO

1-Qual o seu entendimento sobre a proposta político-pedagógica do curso de

Educação Física na UNEB em Alagoinhas?

2- Com que concepção de Educação Física você se formou?

3- Qual o seu espaço de atuação profissional atualmente?

( ) Escola de Educação Básica

( ) Academia

( ) Clubes

( ) Hotel

( ) Atenção básica à saúde (PSF, NASF, CAPS)

( ) Educação Superior

( ) Gestão de esporte e lazer (setor administrativo de órgãos vinculados a

prefeituras ou estados)

( ) Outro. Especifique:____________________

4 – Você faz especialização?

( ) Sim

( ) Não

4.1 Em que área?_____________________________

5. Se você respondeu sim à questão anterior, responda: por que você fez a opção

pelo curso de especialização que citou acima?

Page 56: Anderson Rodrigues

55

ANEXO A

Projeto Político Pedagógico do Curso (Recorte)

3. Do projeto do curso

3.1 Justificativa da proposta curricular

O Projeto Pedagógico do Curso de Educação Física do Departamento de Educação do Campus II - Alagoinhas

é resultado de um conjunto de reflexões, no sentido de encontrar princípios para formação acadêmica, reorientar a organização

do trabalho pedagógico na área e atender os reclames justos da sociedade para a qual o projeto é pensado.

Educar, produzir e socializar conhecimentos no âmbito da Educação Física em uma sociedade concreta e

ideologicamente situada é tarefa do curso, visto que essa área tornou-se socialmente abrangente. A formação acadêmica, por

força de lei, visa, sobretudo, à formação de professores de Educação Física para trabalharem na escola. No entanto, a

proposta do presente curso traz aberturas para a atuação do profissional nos diversos campos na qual o fazer educativo

referente à cultura corporal ocorra, desde que possa atender a interesses e necessidades da população.

A possibilidade de contemporanizar o curso de Educação Física da UNEB, de maneira a traduzir os ideais da

instituição e dos seus sujeitos, em sintonia com as dinâmicas da sociedade mais ampla, constitui-se num desafio a ser

enfrentado pela exigência de explicitar as bases de sustentação da proposta, uma vez que esta só pode ser construída nas

tensões próprias de um processo negociado entre os pares constitutivos do corpo institucional e as demandas externas.

O primeiro desafio a ser enfrentado refere-se à pretensão de proporcionar ao licenciado uma experiência que

possibilite as múltiplas aprendizagens e a pluralidade de linguagens de expressões tipicamente humanas, tomando por base

as práticas concretas e a perspectiva de abertura reflexiva na direção de horizontes para além do dado.

Assim, a projeção de um perfil para expressar tal pretensão, partiu do pressuposto de que uma formação inicial

deve concentrar esforços para explicitar as bases da atuação desse profissional fundadas na compreensão do fenômeno

educativo, tendo a docência como fundamento da sua formação.

Posto assim, esta proposta compreende que a formação no âmbito da cultura corporal terá como horizonte a

articulação das diferentes práticas educativas, numa perspectiva interdisciplinar, sendo desenvolvida com ênfase nos

procedimentos de observação e reflexão, visando à atuação em situações contextualizadas, com registro de observações e a

resolução de situações-problema.

Acrescente-se ainda, outro pressuposto, qual seja, a articulação entre docência e pesquisa, na medida em que,

tal formação proporcione durante todo o curso, a capacidade dos estudantes de perguntar, de instigar o fenômeno da cultura

corporal e ao mesmo tempo buscar explicações e propor respostas.

Por fim, defende-se, também, que a formação inicial para os novos tempos tem a obrigação de favorecer a

perspectiva de educação continuada. Assim, rompe-se, nessa proposta, com qualquer tentativa de minimizar o currículo,

recortando apenas uma área de atuação pensando dentro da lógica das habilitações. O que se propõe aqui é uma caminhada

que favoreça o acesso ao conhecimento nos diferentes campos possíveis de atuação do professor de Educação Física, de

modo a possibilitar escolhas entre o seu desejo e as necessidades postas pela população do lugar donde esse profissional

venha a ser inserido e atuar profissionalmente. Nesse sentido, o entendimento da formação continuada estará perpassando a

própria formação inicial. Em síntese, a formação, aqui concebida, compreende-se na sua incompletude, diferenciando-se das

referências conservadoras concebidas como prontas e acabadas.

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Justifica-se essa opção pela vontade de promover uma formação em sintonia com as lutas do conjunto das

instituições/pesquisadores em Educação/Educação Física /Esporte & Lazer do Brasil, como por exemplo, a ANFOPE, ANPED,

CBCE2 dentre outras.

Acrescenta-se ainda, que esta proposição curricular pelas considerações de que o ingresso desses

profissionais no mundo do trabalho, no contexto em que vivemos, abre espaços de atuação que vão desde os espaços da

educação formal e não formal, ou seja, nos distintos espaços no qual se materializam as aprendizagens da cultura corporal.

Em tais espaços o que diferencia a atuação do professor de Educação Física dos demais profissionais é a sua

ação provocativa no que tange a construção do conhecimento a partir das múltiplas e complexas relações que se estabelecem

no processo ensino-aprendizagem no âmbito da cultura corporal. É também próprio da ação do professor de Educação Física

a problematização, reflexão, planejamento, monitoramento e a proposição de alternativas frente aos problemas emergentes da

prática educativa no campo da cultura corporal, independendo do espaço onde essas práticas estejam ocorrendo.

Assim, o alcance dos objetos específicos de atenção ao licenciado em Educação Física está estruturado em

sintonia com a Formação Geral Humanística, a Formação Geral Técnica e ao Aprofundamento de Conhecimentos, de modo

articulado com quatro universos temáticos: Fundamentos - Conhecimento e Metodologia - Sistematização do Conhecimento e

Práxis Pedagógica. Sendo que na perspectiva aqui defendida a Formação Geral Humanística constitui-se no alicerce, na base

da formação, na dimensão fundante. A formação Geral Técnica compreende o conhecimento, as metodologias e seus

procedimentos, na ambiência das culturas corporais. Por fim, o Aprofundamento de Conhecimentos refere-se aos Universos

Temáticos relativos à sistematização do conhecimento e à práxis pedagógica.

3.2 Concepção

Esta proposta, gestada no seio das demandas concretas por ampliação criteriosa de cursos na Universidade do

Estado da Bahia, está inserida no seu projeto institucional e é condizente com a dinâmica da sua proposta de multicampia, ao

considerar as demandas específicas dos seus campi.

A formação defendida nesta proposta está marcada pelos reclames da população, pela responsabilidade da

Universidade perante a sociedade, pelas mudanças necessárias reconhecidas pelos movimentos sociais e comunidades

cientifica da Educação Física, Ciências do Esporte e Estudos do Lazer, representados pelas diversas entidades e pelo que

preconizam as bases legais: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB 9394/96; Parecer 09/2001 e as resoluções

CNE/CP 01/2002 e 02/2002) “que versam sobre as diretrizes curriculares para a formação de professores da Educação

Básica”, bem como o Parecer 058/2004 e a resolução 07/2004, “que estabelece diretrizes curriculares para os cursos de

formação profissional em Educação Física”, além de documentos unebianos importantes na elaboração da proposta do curso.

Posto assim propõe-se uma formação do licenciado em Educação Física, que seja capaz de compreender o

fenômeno educativo e apresentar soluções, o que exige um currículo que garanta uma formação sólida que oriente para a

capacidade de fazer perguntas e buscar respostas, elegendo as práticas concretas como ponto de partida para a elaboração

de conhecimentos que modifiquem as situações que se apresentem como problemáticas.

É fato incontestável que cada vez mais a educação e a Educação Física em especial, vêm tendo papel

relevante no desenvolvimento das pessoas e da sociedade, pois ao refletir a sociedade em que se encontra inserida busca

responder ao movimentar-se humano historicamente situado. Em um contexto de paradoxos e desafios, o Curso de Educação

Física ora proposto está delineado de modo a oferecer aos egressos uma experiência que lhes forneça bases culturais

capazes de ampliar a possibilidade de problematizarem a sociedade em que vivem e propor estratégias de intervenção pela via

das ciências humanas e naturais, contribuindo propositivamente para o enfrentamento das enormes desigualdades que

marcam a contemporaneidade.

A questão que orientou a presente proposta tomou por base as mudanças que vêm sofrendo o mundo do

trabalho que coloca desafios que são garantir os conhecimentos básicos na formação inicial e ao mesmo tempo conceber a

necessidade de investir num aprendizado contínuo e permanente. Assim, um profissional no campo da Educação Física tem o

dever de estimular os estudantes a aprender a produzir e socializar o conhecimento de modo criativo e interativo.

2 ANFOPE é a Associação Nacional de Formação de Professores; a ANPED é a Associação Nacional de Pós

Graduação e Pesquisa em Educação e o CBCE é o Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte.

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Desta maneira, a formação do Licenciado em Educação Física concebida nesta proposta considera como

relevante entre outros os seguintes aspectos:

Inicialmente é preciso trazer para o interior do curso o desenvolvimento das dimensões pessoais, sociais e

culturais bem como o exercício da reflexão, da autonomia, da cooperação, da participação, das relações interpessoais, da

comunicação e problematização da realidade social e, ainda, a proposição de soluções que visem a superação dos obstáculos

e transformações da realidade, no exercício da sua profissão.

São fundamentais o investimento na formação científica, técnica, estética, ética e política, considerando a

importância do domínio desses conteúdos para exercer, adequadamente, a sua função profissional e cidadã.

É essencial a contribuição das ciências e em particular da filosofia, sociologia, antropologia, psicologia,

anatomia, fisiologia, biologia dentre outras, como referencias fundantes para compreensão da Educação Física como uma

práxis de movimento complexa e entrecruzada com múltiplas teorias e práticas humanas.

Vale destacar ainda, a capacidade de problematizar as situações concretas, acolhendo o conhecimento teórico-

prático, buscando identificar problemas, analisar criticamente e apontar soluções, o que será alcançado mediante o exercício

ao longo da sua vida acadêmica de uma atitude investigativa favorecida pelas disciplinas voltadas para a pesquisa elegendo

como foco das ações e reflexões a prática educativa, tanto na dimensão da docência, quanto na gestão de projetos.

Por fim, a prática concebida nesta proposta de curso está sendo entendida como a capacidade de observar,

refletir e compreender o fenômeno educativo para atuar de modo a registrar as observações realizadas, a solucionar os

problemas levantados e propor estratégias de melhoria das situações estudadas.

3.3 Finalidade

O Curso de Educação Física da Universidade do Estado da Bahia do Departamento de Educação do Campus II

estará comprometido com uma formação que tenha por base:

Os valores éticos que inspiram uma sociedade democrática, os estéticos que formam sensibilidades para olhar

e intervir no mundo e os políticos que promovem a capacidade de dialogicidade frente aos conflitos econômicos, étnicos e de

gênero intrínsecos das relações humanas.

A compreensão da Educação Física como parte da construção do ser humano e a inserção dos sujeitos sociais

na comunidade que ele pertence, tem como finalidade importante ampliar o processo de democratização do acesso aos bens

materiais e simbólicos pertencentes à humanidade.

O domínio do conhecimento a ser socializado, bem como dos significados que lhes são atribuídos em diferentes

tempos, espaços históricos e de sua articulação com o contexto mais imediato onde atuará como docente. Também a

compreensão da natureza do saber da cultura corporal como um saber interdisciplinar, que necessariamente, joga com as

tensões entre teoria e prática.

O conhecimento de processos de pesquisa que possibilitem o estranhamento do cotidiano ao perguntar sobre

as práticas, no sentido de entendê-las para que e para quem se destinam a fim de atender a população.

3.4 Objetivos

O curso em tela, objetiva formar professores que articule a dupla dimensão: docência e pesquisa entendida

como um princípio orientador das práticas; capaz de diagnosticar, propor, executar e avaliar o trabalho pedagógico nas

diversas instituições que acolhem o fazer pedagógico da Educação Física.

Com efeito, o curso de Educação Física, através de sua proposta curricular, amplia o significado do processo

educativo, ultrapassando a escolaridade formal, principalmente, no que diz respeito à análise e compreensão das práticas

sociais vinculadas às práticas educativas. A formação propiciada no curso permite que, através da análise, interpretação e

produção de conhecimentos, o egresso seja capaz de atuar na escola e fora dela.

3.5 Perfil profissiográfico

O Curso de Licenciatura em Educação Física no Campus II - Alagoinhas da UNEB tem como objetivo a

formação de professores para atuarem nos mais diferentes espaços na qual se materializam as aprendizagens relativas as

culturas corporais, a partir de uma formação ampliada que possibilite ao licenciando, a luz da realidade social, produzir

conhecimentos técnico-científicos, capazes de fundamentar, desenvolver e avaliar sua prática político-pedagógica.

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O curso oportuniza ao egresso o desenvolvimento de experiências teórico-práticas acerca do movimento

humano e suas relações com a sociedade através de métodos, técnicas e instrumentos que permitam ao egresso planejar,

orientar, executar e avaliar as atividades em Educação Física. Permite também aprofundar estudos e vivenciar a pesquisa e a

extensão sobre distintos temas e linguagens referentes ao campo da Educação Física: a ginástica, o esporte, o jogo, a luta, a

dança, de modo articulado com as demais áreas de conhecimento.

O campo de atuação do professor de Educação Física se dá de modo coletivo e/ou personalizado na ambiência

escolar, podendo ainda ser pedagogicamente desenvolvido em clubes, academias, hotéis, associações comunitária, centro

sociais, condomínios, empresas, parques dentre outros, através do ensino, da pesquisa, da coordenação e direção.

O egresso encontrará uma formação generalista, de concepção humanista e crítica, qualificadoras da

intervenção acadêmico-profissional, fundamentada no rigor científico e na história como matriz de estudo e pautada no

princípio da ética e da cidadania emancipatória.

3.6 Campo de atuação

O campo de atuação do professor de Educação Física se dá de modo coletivo e/ou personalizado na ambiência

escolar, podendo ainda ser pedagogicamente desenvolvido em clubes, academias, hotéis, associações comunitária, centro

sociais, condomínios, empresas, parques dentre outros, através do ensino, da pesquisa, da coordenação e da direção.

3.7 Fundamentação

A formação defendida nesta proposta está marcada pelos reclames da população, pela responsabilidade da

Universidade perante a sociedade, pelas mudanças necessárias reconhecidas pelos movimentos sociais e comunidades

cientifica da Educação Física, Ciências do Esporte e Estudos do Lazer.

Tais campos acadêmicos estão representados por diversas entidades e pelo que preconizam o ordenamento

legal da educação: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB 9394/96); Parecer 09/2001 e as resoluções CNE/CP

(01/2002 e 02/2002) “que versam sobre as diretrizes curriculares para a formação de professores da Educação Básica”, bem

como o Parecer 058/2004 e a resolução 07/2004, “que estabelece diretrizes curriculares para os cursos de formação

profissional em Educação Física”, além de documentos unebianos importantes na elaboração da proposta do curso.

3.8 Estrutura curricular

3.8.1 Formação como práxis

O Licenciando em Educação Física do Campus II da UNEB deverá possuir amplo conhecimento geral e da área

específica em particular, e competências e habilidades, aqui reconhecida na perspectiva de formação como práxis, nas

seguintes perspectivas pedagógicas:

- Dominar os conhecimentos gerais e específicos da Educação Física e aqueles advindos das ciências afins, orientados por valores

acadêmico-científicos e ético- críticos próprios de uma sociedade plural e democrática;

- Pesquisar, conhecer, compreender, analisar e avaliar a realidade social, e a escola em particular, tematizando as culturas corporais

nomeadamente a ginástica, o jogo, o esporte, a luta, a ginástica, a capoeira e a dança, visando a ampliação formativa, o enriquecimento

cultural e a melhoria societária da qualidade de vida;

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- Participar, estimular, assessorar e coordenar experiências de atividades físicas em diferentes espaços de aprendizagem da cultura corporal,

levando em consideração as relações de gênero e de etnicidade das pessoas (crianças, jovens, adultos, idosos, pessoas com deficiência e

grupos com necessidades especiais);

- Planejar, gestar, assessorar, supervisionar e avaliar projetos e programas de esporte & lazer de forma a ampliar e diversificar a cultura,

buscando formas de interagir com as fontes de produção e de socialização de conhecimentos específicos da Educação Física.

3.8.2 Universos temáticos

A organização do currículo do curso de Educação Física da UNEB apresenta uma formatação em 8 semestres, compostos

por 4 Universos Temáticos que norteiam todo projeto de formação. Para além da criação de disciplinas específicas, entendemos que a

experiência de estudo e organização do trabalho pedagógico por “universos temáticos”3 ou conjunto de “temas geradores” implica

necessariamente “numa metodologia que não pode contradizer a dialogicidade da educação [...] que proporcione, ao mesmo tempo, a

apreensão dos „temas geradores‟ e a tomada de consciência dos indivíduos em torno dos mesmos.” (FREIRE, 1978, p 102 e 103).

Para efeito do presente projeto os Universos Temáticos ficaram assim anunciados: UNIVERSO TEMÁTICO I –

FUNDAMENTOS; UNIVERSO TEMÁTICO II - CONHECIMENTO E METODOLOGIA; UNIVERSO TEMÁTICO III -

SISTEMATIZAÇÃO DO CONHECIMENTO e UNIVERSO TEMÁTICO IV - PRÁXIS PEDAGÓGICA.

Os componentes curriculares do UNIVERSO TEMÁTICO I estão compreendidos como os fundamentos

basilares do curso e contemplam campos de estudos: anátomo-biológico; os sócio-antropológicos; os histórico-filosóficos e os

da dimensão didática. Nessa perspectiva, inscreve-se ainda a compreensão histórica da Educação Física e Esporte; as

políticas de educação e gestão escolar; o ordenamento legal e as políticas públicas em Educação Física, Esporte e Lazer; os

estudos sobre a atividade física e saúde coletiva, a acessibilidade do corpo e do movimento de todos, inclusive dos deficientes;

aqueles concernentes à mídia na ambiência do esporte e lazer; e os que articulam lazer e meio ambiente.

O UNIVERSO TEMÁTICO II compreende os componentes curriculares que articulam o conhecimento das

diversas especificidades do campo da Educação Física com suas respectivas metodologias, de modo a possibilitar a

elaboração de projetos de intervenção, com um leque ampliado de práticas educativas.

O UNIVERSO TEMÁTICO III está focado na sistematização do conhecimento, mediante a oferta de disciplinas

que favoreçam a reflexão sobre a produção do conhecimento, a elaboração de projetos de pesquisa e sua execução, bem

como a socialização de produções parciais na forma de resumos, resenhas, artigos e seminários, culminando com o Trabalho

de Conclusão do Curso (monografia).

O UNIVERSO TEMÁTICO IV contempla a práxis pedagógica e preocupa-se com a criação de situações de

aprendizagem para mobilizar os conhecimentos relativos ao trabalho intelectual, articulado, mas não reduzido, ao mundo do

trabalho. A preocupação, então, constitui-se no elo entre a prática social e a instrumentalização e na identificação e busca da

superação dos principais problemas postos nos contextos de atuação profissional em educação, saúde e esporte & lazer.

Este modo de apresentar os Universos Temáticos do curso tem apenas o sentido de explicitar e comunicar de

forma mais precisa aquilo que foi concebido intersubjetivamente. No entanto, a operacionalização desses Universos Temáticos

não sofrerá nenhum tipo de cisão, nem serão expressos de forma estanque, uma vez que, são constitutivos da totalidade do

currículo, logo, da formação pretendida.

Como aqui concebidos, os Universos Temáticos orientarão o conjunto dos professores do curso no sentido de

garantir o diálogo e as articulações necessárias para que a coerência desta proposta não venha a ser mal compreendida.

Importa por fim, reconhecer a necessidade de uma avaliação perene e qualificada do projeto curricular do curso.