anatomia topográfica do casco equino
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Uma abordagem sobre cascos equinos.TRANSCRIPT
1. Introdução
Durante milhares de anos as espécies que deram origem ao cavalo moderno (Equus
cabalus) sofreram inúmeras mudanças, dentre elas a adaptação para corrida em velocidade a
partir da simplificação da porção distal dos membros a um só dígito. Além disso, estruturas
tendíneas fortes, inúmeros ligamentos e potentes músculos (flexores e extensores) tornaram o
cavalo um exímio velocista.
Dentre todas as adaptações, o surgimento do único dígito a partir da falange distal,
juntamente com o casco que a reveste foram das mais relevantes. O casco, grosso modo é uma
estrutura queratinizada que recobre a falange distal como uma capa e tem formato de cunha.
Esse estojo córneo também chamado “parede do pé”, possui todo um complexo aparato
anatômico que confere função protetora e meio de defesa ao animal.
O completo diagnóstico e exame dos cascos é bastante relevante, o veterinário deve ter
um leque de conhecimentos anatômicos e fisiológicos, tendo em vista que as causas mais
comuns de claudicação decorrem de problemas no casco.
Anatomia e Morfologia do Casco
2. O Casco: Tegumento e Função
A falange distal do membro eqüino é recoberta pelo casco, que é uma espécie de
queratinização especial sobre o epitélio normal em forma de cunha. Sendo assim, o tegumento
comum do casco é formado de três partes:
Epiderme, derme e hipoderme.
A epiderme subdivide-se em: estrato germinativo, que é a zona de crescimento
formada por células especiais, os queratinócitos, e o estrato córneo que é uma região
insensível e forma a parede da muralha.
A partir de suas adaptações, entre elas o único dígito recoberto por um casco, o cavalo
desenvolveu mecanismos evolutivos que o garantiu alcançar grandes velocidades para fugir
de seus predadores naturais. Além disso, a função amortecedora e de concussão junto com a
falange distal e ossos sesamóides, bem como sua defesa a partir do coice complementam a
funcionalidade dessa estrutura.
Imagem : Ciência Animal Brasileira , v. 7, n. 4, p. 389-398, out./dez. 2006
FIGURA 1. Casco do eqüino e sua relação anatômica com as estruturas ósseas da região distal do membro. I: primeira falange; II: segundafalange; III: terceira falange; N: osso navicular (sesamóide distal).
3. Divisão do Casco.
De modo geral, o casco pode ser divido em: Parede, perioplo, sola e ranilha.
3.1 Parede também chamada de muralha, a parede é a região visível do casco no animal
parado, medindo de 0.2 a 0.5cm, essa parte do casco cresce de cima para abaixo
aproximadamente um cm por mês. A parede é mais espessa na ponta e mais delgada nas
barras, além disso, a muralha é mais alta na porção dorsal e decresce dos lados até formar os
talões na região posterior. Na camada interna o casco é formado de inúmeras lâminas que se
interdigitam, as lâminas primárias e secundárias.
Os talões são as continuações traseiras das barras do casco. As barras aplicam força
nos talões e permitem que o casco resista ao impacto do peso do eqüino quando o casco
apóia-se no solo, além de possibilitar a expansão do casco. A cada momento que a ranilha
suporta peso, o ângulo das barras do casco aumenta expandindo o casco e prevenindo a
contração dos talões (ANDRADE, 1986).
3.2 Perioplo é a região de crescimento do casco eqüino que cresce a partir do tecido epitelial
na subdivisão da derme. Essa estrutura é uma camada brilhante de tecido córneo próximo à
coroa e que se expande até a face palmar/plantar onde reveste os talões.
3.3 Sola é a região inferior do casco. Possui formato côncavo e preenche a região entre a
parede e a ranilha. Sua função não está relacionada à sustentação do peso, sendo uma
estrutura menos resistente e densa, tendo em vista que é constituída de 33% a mais de água do
que a muralha. A sola córnea, embora mais macia que a da parede, também consiste em uma
mistura de córneo tubular e intertubular; tende a tornar-se esponjosa e a descamar em animais
solicitados a pisotear terrenos para plantação (DYCE, K.M.; SACK, W.O.; WENSING,
C.J.G. Tratado de Anatomia Veterinária. 3 ed. São Paulo: Elsevier, 2004. P. 574).
A fusão da sola e da parede é conhecida como linha branca, na qual (que também é
chamada de Alba) são posicionados os cravos da ferradura.
3.4 Ranilha ou Cunha é uma estrutura elástica e cuneiforme que se projeta na sola. A ranilha é
separada das barras e da sola por sulcos profundos (paracuneais), que acentuam suas bordas
medial e lateral. Os sulcos são convenientes para aplicação de testadores de casco (grandes
“pinças” usadas para detectar pontos sensíveis em estruturas profundas). (DYCE, K.M.;
SACK, W.O.; WENSING, C.J.G. Tratado de Anatomia Veterinária. 3 ed. São Paulo:
Elsevier, 2004. P. 574).
O posicionamento da sola deriva do osso da terceira falange e do tendão flexor
profundo, situando-se dessa forma no meio da barra do casco. Além de atuar como elemento
de concussão, amortecendo forças mecânicas, a ranilha ajuda na irrigação do casco eqüino.
Imagem : Ciência Animal Brasileira , v. 7, n. 4, p. 389-398, out./dez. 2006
FIGURA 2. Divisão do casco Eqüino.A: Visão Lateral. 1. Faixa Coronária; 2. Pinça; 3. Quarto; 4. Talão. B:
Visão Plantar. I. Barra; II. Sulco Central da Ranilha. III. Sulco Lateral da Ranilha
4.1 Falange distal (ossos, tendões e ligamentos).
A porção distal do membro eqüino é formada pelas falanges e ossos sesamóides. As
três falanges (proximal, média e distal) articulam-se entre si através das articulações
interfalangeanas e com os ossos sesamóides distais e proximais.
A falange distal ou falange III também chamada “osso do casco”, articula-se com a
falange média formando a articulação interfalangeana distal. A FIII tem o mesmo formato do
casco, ou forma de cunha, ela é pontiaguda e possui inúmeros sulcos e forames para passagem
e entrada de ramos das artérias digitais e nervos.
Na parte dorsal da falange distal tem-se uma borda afunilada chamada de processo
extensor da falange distal, onde se insere o tendão extensor digital comum. Na superfície
flexora tem-se a borda flexora da falange distal, onde se insere o tendão flexor digital
profundo, essa borda é muitas vezes chamada de crista semilunar.
Osso Sesamóide Distal ou navicular é um osso em forma de navio e tem a função de
servir como alavanca, por onde corre o tendão flexor digital profundo que vai se inserir na
borda flexora da falange digital. O osso sesamóide aumenta a superfície articular distal da
falange eqüina. O ligamento anular mantém os tendões flexores no lugar. O ligamento anular
distal representa um gancho que se funde com a superfície palmar do tendão profundo
.
continuando até a inserção na FIII dentro do casco, e separa o tendão do coxim digital.
(DYCE, K.M.; SACK, W.O.; WENSING, C.J.G. Tratado de Anatomia Veterinária. 3 ed. São
Paulo: Elsevier, 2004. P. 569).
Imagem : Braz. J. vet. Res. anim. Sci., São Paulo, v. 45, n. 2, p. 101-108, 2008
FIGURA 3: Corte sagital da região distal
Do membro torácico de um assinino,evidenciando
O ponto de inserção do tendão flexor digital
Profundo(seta) e bolsa podotroclear(círculo).
4.2 Irrigação e Drenagem
A irrigação e drenagem sanguínea do casco são feitas pela artéria e veia digital
comum, respectivamente. A artéria digital comum é originária da artéria palmar medial.
A complexa rede de vasos sanguíneos é auxiliada por movimentos de extensão e
contração dos cascos, dessa forma, movimento dos talões auxiliam no retorno venoso que
durante a locomoção ajuda a circulação venosa.
Referências Bibliográficas
ANDRADE, L. S. O condicionamento do eqüino no Brasil. Recife: Equicenter, 1986. p.201.
Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science., São Paulo, v. 45, n. 2, p.
101-108, 2008.
Ciência Animal Brasileira , v. 7, n. 4, p. 389-398, out./dez. 2006
DYCE, K.M.; SACK, W.O.; WENSING, C.J.G. Tratado de Anatomia Veterinária. 3 ed.
São Paulo: Elsevier, 2004.
FRANDSON, R.D.; WILKE, W.L.; FAILS, A.D.; Anatomia e Fisiologia dos Animais da
Fazenda. 1ª ed. Barueri, SP, Editora: Guanabara Koogan. 2005
GETTY, R. Sisson/Grossman. Anatomia dos Animais Domésticos. 5.ed. Rio de Janeiro:
Interamericana. v.1. 1981.
POPESKO, P. Atlas de anatomia topográfica dos animais domésticos. São Paulo: Manole,
1985. 3 v.
SWENSON, M.J.; REECE, W.O.; Dukes Fisiologia dos Animais Domésticos. 11ª ed. Rio de
Janeiro, RJ, Editora: Guanabara Koogan, Cap.38, p.635-637, 1996