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    Anarquismo: Uma Cronologia Histricae a Luta PeloSocialismo Libertrio

    Este artigo no pretende nem de longe, esmiuar todas as experincias anarquistas, isto por

    si s seria um trabalho hercleo, que demandaria muito mais do que um mero esforoindividual.

    O que se pretende aqui apontar alguns acontecimentos relevantes ao anarquismo e elucidarbrevemente alguns conceitos chaves, de forma a que se pretenda dar a disposio do leitor,desdobramentos possveis de estudo sobre o anarquismo e das experincias libertrias aquilistadas.

    Alguns artigos de vrios autores foram relacionados neste sentido, e adaptados para quecoubessem na proposta deste artigo ser um resumo, um passo inicial; a bibliografia contidano fim do artigo pode completar e indicar um caminho dentre muitos, possvel ao estudo doanarquismo. H tambm dicas de livros introdutrios ao tema, o que tratam de temasdiversos para manter-se atualizado sobre as discusses internas do movimento anarquista

    Os textos sem autoria, so de responsabilidade do autor da compilao, e por ele foramescritos.

    Rafael Viana

    Origens e Etimologia / Principais Pensadores

    O anarquismo pode ser compreendido sintticamente, como um teoria polticaanticapitalista que acredita na organizao da sociedade sem a presena do Estado. Aautogesto, o federalismo, a democracia direta e a luta contra quaisquer tipo deautoridades ou vanguardasso partes constituintes desta teoria.

    O termo anarquismo, deriva-se da palavra anarquia, do grego (anarkhia), cujasrazes so: (), an(a), e (), arkh(os), significando literalmente "sem governador ousem autoridade". Aceita-se, que o termo anarquia quanto anarquista, originalmente foramutilizados polticamente durante aRevoluco Francesa, com o sentido de crtica negativa eat de insulto a membros de determinados partidos para difamar seus oponentes.

    Os anarquistas tambm se identificam comumente com os termos Socialistas Libertrios,Comunistas Libertrios ou cratas (sinnimos para anarquista, este ltimo menosutilizado), o Socialismo Libertrio ou Comunismo Libertrioso termos que indicam umateoria poltica socialista que combina a igualdade social com a liberdade poltica, em oposioao socialismo autoritrioe suas vertentes (marxismo-leninismo, bolchevismo, stalinismo,etc.).

    "A liberdade sem o socialismo a injustia, o privilgio;o socialismo sem a liberdade a escravido, o embrutecimento."

    (Mikhail.Bakunin)

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    Habitualmente o termo anarquia utilizado de maneira pejorativa, indicando desordem, caosou baderna e os prprios dicionrios reproduzem esta deturpao distorcendo o sentido

    poltico e histrico dado palavra pelos anarquistas.

    O anarquismo como teoria poltica, distancia-se totalmente da anomia(ausncia de regras),

    pois muito alm de negar o capitalismo, o Estado e quaisquer formas de dominao, estbaseado em princpios, mtodos e formas de organizao propositivos. A definio doanarquista Rudolf Rocker nos particularmente interessante acerca do contedo mais geral doanarquismo.

    O anarquismo uma corrente intelectual definida de pensamento social, cujos adeptosadvogam a abolio na sociedade dos monoplios econmicos e de todas as instituies

    polticas e sociais coercivas. No lugar da ordem econmica capitalista, os anarquistas teriamuma livre associao de todas as foras produtivas baseadas no trabalho cooperativo, queteria por nico propsito a satisfao das exigncias necessrias de cada membro da

    sociedade. No lugar dos atuais Estados nacionais, com sua maquinaria sem vida de

    instituies burocrticas, os anarquistas desejam uma federao de comunidades livres quedevem estar vinculadas por seus interesses econmicos e sociais comuns e que devemresolver suas questes por meio do acordo mtuo e do livre contrato. (Rocker, 2005, pp 07.)

    Alm de uma teoria de crtica e proposio a uma sociedade socialista, o anarquismo tambm em suma, uma metodologia revolucionria para se alcanar a sociedade sem classes.

    Longe das discusses etimolgicas ou filosficas, na questo histrica que encontramos onascimento do anarquismo, muitos autores anarquistas motivaram-se a traar uma genealogia,ou seja, um onde tudo comeou do anarquismo, como os anarquistas Piotr Kropotkin,Max Netlaue Rudolf Rocker, o que os levou a incluir os nomes de Lao Tse, tienne de La

    Notie, Fenlon e outras experincias, como alguns movimentos religiosos Anabatistas eoutras correntes do cristianismo primitivo como antecessores histricos do movimentoanarquista. Realmente estas experincias e pensadores, continham em si, prticas muitosemelhantes aos princpios do anarquismo, contudo, o anarquismo como movimento relevantee tendncia organizada facilmente identificvel, s aparece realmente na era moderna dasrevolues sociais e polticas.

    Antes de prosseguir, importante lembrar, que o anarquismo como teoria, surge daobservao e da experincia concreta do movimento de trabalhadores e trabalhadorasenvolvidos na luta contra o capitalismo e o estado; o anarquismo no surge de uma filosofia

    fabricada por filsofos em gabinetes ou bibliotecas, mas sim da relao complementar eretroalimentada de experincias prticas e teoria.

    O anarquismo surgiu entre o povoe s conseguir preservar sua vitalidade

    e sua fora criativa enquantocontinuar sendo um movimento popular.

    (Piotr Kropotkin)

    da experincia, dos retrocessos e do avano da classe trabalhadora durante o sculo XIX,

    que o anarquismo como teoria poltica, ganha corpo. Sintetizando, podemos dizer que oanarquismo classista, pois nasce, da relao criada na contradio ensejada pela luta de

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    classes, ou seja, o capitalismo, forma de organizao da vida social, como sistema quenecessita dominar e explorar para funcionar, cria uma relao de classes dentro da sociedade,onde uns detm os meios de produo e outros esto despossudos destes; claro que estarelao mais ntida durante o sculo XIX, se complexifica com o passar do tempo, masessencialmente jamais deixa de existir.

    O francs Pierre-Joseph Proudhon, foi o primeiro pensador a autodeclarar-se anarquistacom um sentido objetivamente social e poltico e lanou as principais bases tericas que

    posteriormente seriam desenvolvidas por outros pensadores e apropriadas por todo um amplomovimento de trabalhadores. Proudhon, far duras crticas propriedade privada, ao Estado ea democracia representativa; tambm condenar quaisquer formas de dogmas e autoridadesem suas polmicas com outros pensadores socialistas, como Marx por exemplo e lanar as

    bases do federalismo libertrio, que se ir se opor profundamente quaisquer formas decentralismo.

    Mas somente com o russo Mikhail Bakunin que o anarquismo ganha uma identidade

    poltica mais clara, de Bakunin toda uma noo de organizao do movimento anarquistacomo fora poltica relevante, sua atuao dentro da Associao Internacional dosTrabalhadores caracterizar de certa forma a identidade do movimento anarquista como tal.

    O anarquista Errico Malatesta, elucidou e desenvolveu alguns conceitos, dele e do russoPiotr Kropotkin a noo de anarco-comunismo que se diferenciar do coletivismoeconmico de Bakunin. A teoria de Malatesta tambm foi importante para questes relativas aorganizao do grupo anarquista, suas crticas ao Estado e ao capitalismo so no entantoextremamente pertinentes. Kropotkin, centrar o apoio mtuo como base da organizao dasociedade e da natureza, e no a competio como pregam os liberais, desenvolver umacrtica economia capitalista e economia marxista, ambas reprodutoras das hierarquias edivises entre planejadores e executores.

    O anarquista Nestor Makhno, em seu texto, a Plataforma, produzida conjuntamente com ogrupo de exilados Dielo Trouda aps os acontecimentos na Revoluo Russa de 1917

    promover um amplo debate interno acerca da organizao dos anarquistas e sobre a atuaodestes na revoluo russa.

    Temos outros pensadores, como a norte-americana Emma Goldman, o gegrafo EliseReclus, alguns tambm incluiram o alemo Max Stirner, e seu anarquismo individualista, etambm o escritor Tolstoicom seu pensamento cristo profundamente libertrio.

    Alguns pensadores contemporneos, no menos importantes, tambm contriburam como umtodo ao movimento, o norte-americano Murray Bookchin e a tese de seu municipalismolibertrio, o terico Paul Goodman, o anarquista brasileiro Jos Oiticica, Rudolf Rocker,Noam Chomsky, entre outros, etc.

    Alguns princpios anarquistas

    Os anarquistas rejeitam duplamente o capitalismo e o Estado. O capitalismo, estando baseadona competio, na explorao do trabalho humano e no lucro, jamais conseguir segundo osanarquistas promover o bem-estar social e material ao conjunto da sociedade humana. E alm

    disto, o capitalismo exaure os recursos naturais e incompatvel com a construo de umasociedade ecolgica. O capitalismo tambm est baseado em constantes formas de

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    dominao, que promovem e alimentam ainda que no necessariamente tenham as criado: omachismo, a homofobia, o patriarcado, o racismo, a dominao e represso s minorias.

    Em relao ao Estado, o anarquismo no trabalha sobre a concepo de apropriar-se do poderestatal, isto por que entende que o Estado no neutro, sob sua prpria lgica de

    funcionamento, esconde-se um mecanismo ideolgico inerente a sua construo histrica.

    Para o anarquismo, o Estado a obra da prpria sociedade que se aliena. Sua insistncia na devoluo, sociedade, do poder que esta atribuiu ao Estado. Tratar-se-ia, portanto, deuma desalienao da sociedade, de uma reapropriao de seu poder alienado. (Motta,1981, pp. 113)

    H tambm a constituio de fortes aparatos de controle, como o sistema prisional emanicomial e os exrcitos e as polcias locais, mtodos institucionais de ampliao do poderdas minorias que se beneficiam do sistema capitalista(polticos, empresrios, autoridades, etc)e de dominao, legitimada sob o aparato estatal.

    Alm disso, o sistema capitalista necessita atualizar as formas de controle, por meio demecanismos de informao(dominados pelos capitalistas), estruturas pedaggicas de (escolase universidades geridas pelo Estado ou pela iniciativa privada) para alimentar aideologia(sistema de normas e crenas) dominante, que justifica a explorao e adominao.

    na gnese histrica do Estado nacional moderno1, que se afirma o processo de dominaoda classe burguesa sobre os assalariados. O anarquismo trabalha sob princpios simples, masem suma coerentes com o que entende por uma teoria revolucionria. Nicolas Walter, tericoanarquista, definiu o movimento anarquista como assentado sobre quatro elementos:

    Econmico: contra o monoplio da propriedade; o Poltico: contra o monoplio daautoridade; o Social: pela construo de uma sociedade tendo por base a liberdade, aigualdade e a fraternidade autnticas e o Individual: pela supresso da autoridade nasrelaes cotidianas.(Walter, 2002, pp. 05)

    O anarquismo tambm rejeita terminantemente a separao entre a tica e a poltica, talseparao comumente utilizada por outras correntes socialistas amparadas pela teoriamarxista do materialismo histrico, o esprito da histria daria salvo-conduto para asorganizaes cometerem determinados atos, pois no final das contas, a histria sendo

    teleolgica(tendo uma finalidade) absolveria os atos cometidos por estes grupos.Para os anarquistas, os fins no justificam os meios, como bem indicou o anarquista italiano

    Errico Malatesta, nos fins esto os meios, isto por que os anarquistas querem atingir aanarquiapelaanarquiaecomo anarquistas.

    1 Processo que se inicia com o desmantelamento das estruturas feudais e a crescente centralizao do poder pormeio de um aparato burocrtico e jurdico que conforma uma nova estrutura de dominao.

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    Apontamentos sobre algumas experincias histricas: oanarquismo no mundo

    Como anteriormente mencionado, buscar uma raiz para o anarquismo uma tarefa em suma

    complexa, mas podemos identificar mais claramente, determinados acontecimentos e atuaode determinados grupos nos quais o anarquismo teve uma participao expressiva, a partirdisto podemos pontu-los e extrair destes episdios algumas reflexes relevantes.

    A omisso de determinados eventos e a limitao da descrio dos aqui contidos, se devemem razo de se tratar de um breve resumo com perspectiva mais limitada.

    Os Enrags e o manifesto dos iguais (1793-1795)

    Durante o perodo da Conveno,ou seja, no desenrolar dos acontecimentos referentes Revoluo Francesa, que abriu caminho para a consolidao do Estado Burgus, certosgrupos revolucionrios adotaram princpios muito semelhantes aos princpios anarquistas.

    O Manifesto dos iguais conclamava a igualdade como primeira exigncia da natureza edenunciava duramente o despotismo senatorial. Os Enrags(enraivecidos), com JacquesRoux e Jean-Franois Varlet atacam duramente conveno, a propriedade privada e exigiam arequisio dos gneros de primeira necessidade. Chegaram at mesmo a convocar jornadas

    populares contra os que monopolizavam os gneros alimentcios. No desejavam tomar opoder, defendiam a democracia direta e eram contrrios a representao democrtica.

    Eis um excerto importante acerca da viso dos Enrags sobre o tema:

    Vs acrescentareis este artigo importante declarao de direitos do homem: a soberaniado povo o direito natural que tm os cidados, nas assemblias, de eleger semintermedirios a todas as funes pblicas, de discutir eles mesmos seus interesses, deredigir mandatos aos deputados que eles comissionam para fazer as leis, de se reservar a

    faculdade de revogar e punir dentre seus mandatrios aqueles que ultrapassarem seuspoderes ou trarem interesses; enfim, de examinar os decretos, que todos, excetuando aquelesque obedecem a circunstncias particulares, no podem ter fora de lei, caso eles no sejam

    submetidos sano do soberano nas assemblias primrias.

    H sem dvida algo de muito libertrio no esprito dos Enrags que os aproxima do

    movimento anarquista e do anarquismo.

    Comuna de Paris(1871) Por Milton Lopes

    * resumo adaptado do artigo original.

    Causada pela poltica externa incopetente e reacionria da monarquia de Napoleo III, aguerra da Frana com a Prssia conduziu em 1871, o povo de Paris em armas, instauraoda chamada Comuna de Paris, experincia federalista e mesmo autogestionria em algunsaspectos, o que a aproxima dos postulados do socialismo libertrio. A Prssia vinha seafirmando como estado imperialista na Europa ao obter vitrias militares contra a ustria em1864 e 1866. Em 1870 a indicao de um prncipe alemo para o trono da Espanha precipitoua declarao de guerra entre os dois estados a 19 de julho de 1870.

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    No incio de setembro, a Frana j estava derrotada e o exrcito prussiano s portas de Paris,sendo Napoleo III aprisionado pelos prussianos.

    Durante a dcada anterior, o proletariado de Paris havia sido objeto de intensa propaganda da

    Associao Internacional dos trabalhadores, fundada em Londres em 1864. A guardanacional, composta por elementos do proletariado urbano, junta-se a chamada Guarda Mvel,constituda por camponeses vindos do interior para defender a cidade. Enquanto o exrcito desmobilizado, estas corporaes conservam seus armamentos.

    Consciente de sua fora e perante a atitude equvoca dos elementos encarregados da defesa dacidade j a 31 de outubro h uma tentativa do povo, liderado pelo socialista Blanqui dedesttituir os republicanos do poder. Destroados os ltimos exrcitos da Frana, o armistciocom a Prssia negociado em janeiro de 1871.

    A Guarda Nacional de Paris, por sua vez, elege um comit para sua coordenao e resiste s

    tentativas de Thiers de se apoderar de sua artilharia, proclamando a 18 de maro a Comuna deParis. O governo de Thiers deixa Paris refugiando-se na vizinha cidade de Versalhes, com oapoio do que restou do exrcito francs(40 mil homens). Perante o desaparecimento doexrcito, da polcia e dos burocratas, o povo em armas representado pela Guarda Nacionalocupa as reparties vazias e as instalaes militares de defesa da cidade.

    Na Paris gerida pelo povo, nas fbricas abandonadas por seus proprietrios, em uma situaoque vir a se repetir na Revoluo Espanhola mais de 60 anos depois, os trabalhadores passama escolher seus gerentes, chefes de oficina e equipe, reservando-se o direito de demit-los.Fixam seus salrios e condies de trabalho e um comit de fbrica se rene todas as tardes

    para decidir do trabalho do dia segunte. Entregando a educao pblica organizao eadministrao distritais, preocupa-se a Comuna em que esta seja isenta de rano e

    preconceitos religiosos. No entanto, um dos primeiros erros dos revolucionrios ser a adooda, j naquele momento gasta, frmula do sufrgio universal. Internacionalistas, blanquistas,

    proudhonianos, republicanos e patriotas exaltados dipostos a continuar a luta contra osprussianos so seus componentes.

    O fato de no haver marchado contra Versalhes quando os reacionrios se encontravam emdesvantagem em maro permitir a estes que se reorganizem e faam cerco a Paris. AComuna resistir at maio, sendo afogada em um terrvel banho de sangue, entre torturas,linchamentos e fuzilamentos sumrios.

    Bandeiras Negras Sobre Fundo Vermelho - A presena anarquista na

    Revoluo Russa(1917-1921) Joo Henrique Castro

    * resumo adaptado do artigo original

    Voc est exagerando ao sugerir que ns usaremos a fora bruta contra os anarquistas!.

    Foi assim que Leon Trotsky, um dos personagens da Revoluo Russa, dirigiu-se aoanarquista Volin, em abril de 1917, meses antes da tomada do poder pelos bolcheviques.Volin parecia prever que as divergncias ideolgicas entre os dois grupos poderiam levar a

    um enfrentamento de graves conseqncias. Seu temor, afi nal, no foi infundado. Apenas umano depois, o comandante do Exrcito Vermelho avaliaria a ao contra os anarquistas de

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    Moscou nestes termos: Enfim o poder sovitico varre o anarquismo da Rssia com umavassoura de ferro.

    Varrida tambm das pginas da histria da Revoluo Russa, a participao anarquista numdos episdios mais importantes do sculo XX apresenta cenas fortes demais para serem

    condenadas ao esquecimento. Elas atestam que a revoluo foi um processo complexo,envolvendo diversos sujeitos sociais e variadas propostas no interior das prprias esquerdas.

    A partir da segunda metade do sculo XIX, comea a se constituir um movimento anarquistana Rssia. Inspirados nas obras de anarquistas russos como Bakunin, Kropotkin, TolstoieEmma Goldman, muitos libertrios exilados na Europa Ocidental iro publicar jornaislibertrios em solo russo.

    Porm, eram muitas as correntes socialistas a tentar hegemonizar os processos que levaram ecloso da Revoluo de 1905, considerada o ensaio geral antes de 1917. O prprioKropotkin reconheceria que a atuao espontnea das massas foi uma fora muito mais

    decisiva do que as idias dos intelectuais de esquerda. No foram os social-democratas, nemos socialistas revolucionrios, nem os anarquistas que lideraram esta revoluo. Foi a classeoperria, o trabalhador, disse ele.

    A volta dos expatriados aps a Revoluo de Fevereiro de 1917 fez com que os gruposdispersos buscassem uma rearticulao. O poeta Volinreconheceu que, ao chegar Rssiaem julho de 1917, eram poucos os sinais da presena de grupos anarquistas. No entanto, haviaesforos para organizar um movimento que, assim como outras correntes do socialismo,sofrera com a represso do governo imperial.

    Quando eclode a Revoluo de Outubro, muitos anarquistas participam das agitaes,vislumbrando no estabelecimento dos sovietes uma possibilidade de ascenso de umasociedade descentralizada, organizada de baixo para cima, num regime socialista fundado naautogesto social dos meios de produo e das instituies civis. Porm, a idia bolcheviquede uma ditadura comandada pelo partido recebia muitas crticas.

    Os bolcheviques, por sua vez, acusavam os anarquistas de contra-revolucionrios ou debandidos. Sob tal orientao, iniciava-se uma ofensiva vermelha contra indivduos eorganizaes anarquistas na Rssia. Em seguida, a vassoura de ferro eliminaria gruposlibertrios em Petrogrado, Moscou, Kharkov e Odessa. Centenas foram presos e muitos foramexecutados nos pores da Cheka.

    Makhnovtchina: a guerrilha de Makhno

    Foi na Ucrnia, ao sul, que o anarquismo russo conheceu seu momento mais significativo. Ooperrio Nestor Makhno, eleito presidente do soviete local, formou um Exrcito Insurgente deinspirao anarquista que desempenhou importante papel contra a ofensiva do ExrcitoBranco, ajudando os bolcheviques nessa tarefa.

    Em dezembro de 1919, contudo, o Exrcito Vermelho chegou ao sul e ordenou que osmakhnovistas partissem para o front polons. Makhno se recusou, pois no queria deixar aUcrnia livre para o controle bolchevique. Dessa forma, virou persona non grata para os

    leninistas. A partir da se iniciou a luta entre a makhnovtchina e o Exrcito Vermelho, com

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    intervalos de trguas e acordos. O avano dos Brancos ao norte obrigou os bolcheviques afirmarem um novo acordo com a guerrilha, prometendo a libertao dos presos anarquistas e aliberdade de expresso. Makhno cumpriu sua parte impedindo a ofensiva contra-revolucionria. J o Exrcito Vermelho fez justamente o contrrio: em 26 de novembro de1920 prendeu os anarquistas mais conhecidos da Ucrnia; em seguida, convidou os

    comandantes de Makhno para uma conferncia na Crimia, durante a qual foram capturadose, depois, fuzilados. A resistncia da guerrilha anarquista no poderia durar infinitamente,dada a vantagem numrica e material dos Vermelhos. Assim, Makhno fugiria para a Romniano fim de 1920, passando por algumas prises at alcanar a liberdade e o exlio em Paris,onde viveu at 1935.

    Reflexos no Brasil: o Soviete do Rio

    No Rio de Janeiro, ento capital da Repblica, eclodiu em 1918 uma insurreio anarquistainspirada na exploso revolucionria da Rssia. O levante pretendia instaurar o soviete doRio e estava articulado com uma greve em vrias fbricas no dia 18 de novembro. Os

    anarquistas tambm pretendiam atacar a Intendncia de Guerra, no bairro de So CristvoAlm de conseguir armas para a ao, o ataque trazia a expectativa de apoio dos soldados,como acontecera na Rssia.

    Mas a adeso dos escales inferiores das Foras Armadas no ocorreu. Na verdade, aaproximao de um militar ao grupo conspirador foi responsvel, em parte, pela derrota dainsurreio. Um tenente do Exrcito atuou como agente infiltrado e entregou aos seussuperiores todos os detalhes do plano. Antes das aes armadas, vrios lderes j tinham sidoencarcerados. Ainda assim teve incio uma srie de combates nas ruas, com exploses, trocade tiros e algumas mortes de ambos os lados. Duas torres de energia eltrica foram explodidase os operrios tomaram o 10 Distrito Policial. No entanto, as tropas fiis ao governoreprimiram uma rebelio que j esperavam. Alm disso, a ausncia de um contextorevolucionrio com ampla base social como ocorrera na Rssia tambm frustrou o sucessoda ao.

    Nos relatrios policiais e nas manchetes dos jornais do dia seguinte, a ideologia dominanteprocurava jogar a opinio pblica contra os anarquistas Em geral, diziam se tratar deagitadores que pregavam a desordem e a subverso do regime legal. Inclusive a desonrade virgens estaria, segundo a polcia, nos planos dos insurgentes. E, como em tantos outrosepisdios da histria do Brasil, a vitria coube mais uma vez s elites.

    Espanha Libertria: A Revoluo Social contra o Fascismo(1936-1939)

    * resumo adaptado do artigo original

    A chamada Guerra Civil Espanhola, nome habitual dado pela historiografia sobre o conflitomilitar que se desenrolou entre setores da direita(fascistas, monarquistas, igreja catlica elatifundirios) e da esquerda(republicanos, anarquistas, trotskystas, etc) ainda um tema emsuma mal compreendido e deturpado pela historiografia tradicional. Primeiro, o termoGuerra Civil Espanhola simplrio, pois enxerga apenas do ponto de vista militar, umacontecimento que muito mais complexo e enriquecedor.

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    Fruto no s do resultado de uma militncia anarquista de no mnimo 40 anos anterior, oestopim da revoluo se d aps a tentativa de golpe de estado dado pelo General Franco em18 de julho de 1936, com apoio da igreja catlica e de grandes industriais.

    A CNT(Confederao Nacional do Trabalho), organizao anarco-sindicalista e a poca com

    2.000.0000 de aderentes se lana a greve geral2

    . Paralelamente, as coletivizaes comeam aocorrer e o povo arma-se para enfrentar o fascismo nas chamadas milcias populares.

    Em 21 de julho, os ferrovirios catalos coletivizam as ferrovias, no dia 25 a vez dostransportes urbanos, bondes, metrs e nibus. Depois em 26, a eletricidade e em 27 a vez dasagncias martimas. (Mintz e Goldbronn, 2002, pp. 16)

    Em alguns dias, 70% das empresas industriais e comerciais foram tomadas pelostrabalhadores nessa Catalunha que concentrava sozinha dois teros da indstria do pas.(Mintz e Goldbronn, 2002, pp. 16)

    Alm disso o campo tambm sofrera um intenso processo de coletivizao, vastas extensesde terra outrora pertencentes aos grandes latifundirios, tornaram-se de propriedade coletiva ede uso comum. O movimento de coletivizaes teria atingido entre um milho e dois milhese meio de trabalhadores, muitas destas formadas revelia de qualquer organizao. Vejamoso que dizem os historiadoresFrank MintzeFrderic Goldbronsobre este processo:

    Reunidos na praa do vilarejo os ttulos de propriedade eram queimados. Os camponesestraziam tudo o que possuam coletividade: terra, instrumentos de trabalho, animais para oarado ou outros. Em certos vilarejos o dinheiro foi abolido e substitudo por bnus. Essesbnus no constituam moeda: eles permitiam a aquisio, no de meios de produo, masapenas de bens de consumo, e ainda em quantidade limitada. (Mintz e Goldbronn, 2002,

    pp. 16)

    Contrriamente ao modelo estatista sovitico, a entrada na coletividade percebida como ummeio de vencer o inimigo, era voluntria. Aqueles que preferiam a frmula da explorao

    familial continuavam a trabalhar sua terra, mas no podiam explorar o trabalho alheio, nembeneficiar-se dos servios coletivos. (Mintz e Goldbronn, 2002, pp. 16)

    importante lembrar, que a prpria existncia das coletivizaes, muito deveu em grandemedida a educao que haviam tido muitos operrios em escolas constridas pelos libertrios,e este processo continuou, com a formao do C.E.N.U(Conselho da Escola Nova Unificada).

    O C.E.N.U

    3

    em sua breve empreitada, conseguiu acabar com os orfanatos, chamados pelostrabalhadores de antros de punio, aumentou o nmero de professores, fundou escolas nosmais diversos locais, integrou a arte ao programa pedaggico, aumentaram o nmero dealunos, etc, tudo isto inspirado no modelo anarquista de educao integral(formaointelectual e manual laica e ensino pblico a todos).

    2 Sua congnere, a FAI(Federao Anarquista Ibrica) reuniu de 5.000 a 30.000 membros, segundoestatsticas. A FAI era a instncia ideolgica do movimento operrio, assentada sob o anarco-sindicalismo.

    3 O CENU era composto pela Generalitat, pela CNT e pela UGT(Unio Geral dos trabalhadores, centralsindical dominada pelos socialistas.) e a participao da CNT deu um carter mais libertrio a proposta

    pedaggica.

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    Podemos imaginar um pouco do clima revolucionrio que contaminava a Espanha naspalavras do escritor George Orwell, que inclusive participou pessoalmente do conflito,lutando nas brigadas internacionais4:

    O aspecto arrebatador de Barcelona superava toda expectativa. Era a primeira vez em

    minha vida que eu me encontrava numa cidade onde a classe operria tinha vencido.Aproximadamente todos os imveis de alguma importncia tinham sido tomados pelosoperrios e sobre todos flutuavam bandeiras vermelhas ou as bandeiras rubro-negras dosanarquistas (...). Toda loja, todo caf portava uma inscrio informando que tinha sidocoletivizado; at as caixas dos engraxates foram coletivizadas e pintadas de vermelho e

    preto! (...) Tudo isso era estranho e emocionante. Um boa parte disso permanecia para mimincompreensvel e, inclusive, num certo sentido, no me agradava: mas havia ali um estadode coisas que me pareceu de imediato como valendo a pena que se lutasse por ele. (GeorgeOrwell, Hommage la Catalogne, ed. Champ Libre, 1982)

    Apesar de todo o esforo dos trabalhadores e camponeses espanhis, o ento aspirante a

    ditador Franco, com a ajuda direta de Hitler e Mussolini, golpeou duramente a frente anti-fascista(composta por amplos setores de esquerda), como exemplo mais concreto, a cidade deGuernica, duramente bombardeada pela aviao alem, paralelamente a isto, soma-se ossilncios premeditados das democracias ocidentais e a atuao da tchecarussa, a serviode Stalin, que assassinou diversos operrio das organizaes e trabalhou no mbito deassassinar a revoluo. Lutando contra o resto do mundo, os trabalhadores e trabalhadoras naEspanha foram derrotados pelo fascismo, mas seu exemplo perdura e o perodo da Espanhalibertria provou que o socialismo libertrio possvel.

    A Revoluo Mexicana(1910) Felipe Corra

    * resumo adaptado do artigo original

    Em 1876 tem incio a ditadura de Porfrio Dias, um governo caracterizado pela exploraodas classes trabalhadoras e camponeses, concentrao de riqueza, do poder poltico e doacesso educao, basicamente em famlias de latifundirios e empresas estrangeiras, vindas

    principalmente da Frana, Inglaterra e Estados Unidos. A concentrao de terras no Mxicoera absurda, e os fazendeiros proprietrios eram donos absolutos de homens e coisas, comum poder e recursos quase incomensurveis. Apesar de o povo viver na misria extrema, aditadura de Diaz assegurava grandes lucros aos investimentos capitalistas do exterior. Novemilhes de mexicanos eram analfabetos.

    Com o objetivo de combater essas injustias, constituiu-se j na segunda metade do sculoXIX, uma resistncia libertria riqussima em sua diversidade. Podemos citar a prpriaconstituio do Partido Comunista Mexicano, que tinha tendncia bakuninista. O governoinicia uma onde de represso fechando os crculos anarquistas e acabando violentamente comduas revoltas organizadas pelos trabalhadores.

    Alguns anos depois, j no incio do sculo XX, Ricardo Flores Mgon seria um dos grandesrepresentantes dos ideais livertrios na luta contra a ditadura de Diaz. Magn tambm integraem 1901 o Partido Liberal Mexicano(PLM) que havia sido fundado um ano antes.

    4 As brigadas internacionais eram um corpo de voluntrios formado por militantes de todo o mundo, quejuntavam-se frente anti-fascista para engrossar coro nas chamadas milcias populares, que combateramferozmente o franquismo.

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    Alis, por razo da influncia libertria presente no partido, a partir da segunda metade dadcada de 1900, o PLM se radicaliza, tornando seu discurso mais combativo e criando umatenso interna no partido, que afasta os elementos menos radicais. Vale ressaltar que o partidono concorria s eleies e servia somente como um espao de articulao horizontal dos

    revolucionrios libertrios da poca, sem o objetivo de tomar o Estado e estabelecer umaditadura, mas para colocar um fim ao governo de Diaz, estabelecendo o comunismo libertrioem seguida. O PLM tornou-se clandestino e organizou em todo o Mxico mais de 40 gruposde resistncia armada e tambm contou com membros indgenas, conhecidos por sua luta

    pelos direitos das comunidades e contra a propriedade capitalista.

    A fraude eleitoral de 1910 comandada por Diaz, daria incio exploso da RevoluoMexicana. Com a priso de Madero, seu adversrio nas eleies, conseguiu reeleger-senovamente. J em 1911 e em meio Revoluo e com apoio do sindicato norte americanoIWW, os anarquistas, que tinham frente Magn, ocupam a regio da Baixa Califrnia,tomando cidades de importncia como Mexicali.

    Um outro interessante fato que comprova a proximidade entre Zapata e Magn acontecequando Zapata convida Magn, em 1915, para levar o peridicoRegeneracinpara Morelos,colocando sua disposio meios que dariam ao jornal uma expanso nacional.

    Depois disso, o Mxico afundou-se em um perodo de guerra civil. Os fatos que se deram emsequncia, como a tentativa de tomada da Cidade do Mxico por Villa e Zapata, a convocaoda Assemblia Constituinte por Carranza, que depois seria eleito presidente e assassinado e osconflitos que se seguiram no pas acabaram constituindo o pano de fundo da decadncia do

    perodo revolucionrio.

    O Anarquismo no Brasil Em poca de ecos revolucionrios

    * resumo adaptado do artigo original

    Originalmente o anarquismo no Brasil, chega com a experincia de luta de trabalhadores dediversas partes do mundo no final do sculo XIX5, em maior nmero, oriundos de Portugal,Itlia e Espanha, quando em poca o fluxo imigratrio se dava no sentido contrrio do quenos acostumamos a ver hoje em dia, indo ou para as lavouras de caf ou transferindo-se paraas grandes cidades, como So Paulo e Rio de Janeiro( poca capital federal).

    Contudo a atuao do anarquismo no se restringir apenas atuao de anarquistasestrangeiros j que no desenvolvimento deste atuante e combativo movimento operrio os

    principais peridicos editados pelos trabalhadores, j sero em sua maioria deresponsabilidade de nativos. Estes peridicos sero as principais formas de divulgao,comunicao e denncia dos trabalhadores, denncias contundentes em um perodo onde parao governo federal a questo social era um verdadeiro caso de polcia. A rpida expansoindustrial nas primeiras dcadas do sculo XX, tambm promover o aumento daconcentrao da classe assalariada nesses grandes centros. A explorao sob os trabalhadores,andaria pari passu com crescente necessidade de se organizarem, o que fomentaria a

    5 No caso do Rio de Janeiro, segundo o pesquisador Milton Lopes, (Lopes, 2006, pp. 27) h apenas um nicoregistro de fato que comprove a simpatia pelo anarquismo, anterior ao ano de 1890. S h indcios maisclaros destas tendncias aps este perodo.

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    organizao destes nos sindicatos6, cuja bandeira ideolgica, o anarquismo, seria a principalbssola e motor.

    Os sindicatos, com forte influncia anarquista, fundaro ateneus, ligas de resistncia, escolas,bibliotecas, publicaro jornais, organizaro peas de teatro, passeatas e greves gerais. Pode-se

    citar alguns exemplos ilustrativos: as comemoraes de 13 de outubro de 1911, respectivas aosegundo aniversrio da morte do pedagogo fuzilado pelo Estado espanhol, Francisco Ferrer,que rene uma multido no mitolgico Largo de So Francisco, a grande greve geral de 1917e a luta contra a carestia, a insurreio anarquista no Rio de Janeiro em 1918, as jornadascontra o assassinato dos imigrantes Bartolomeu Sacco e Nicolas Vanzetti pelo governo norte-americano, etc.

    Temos tambm um evento que indica a maturidade e organizao do movimento sindical sobinfluncia libertria, a realizao em 1906 do Congresso Operrio Brasileiro, que rene 43delegados de vrias partes do Brasil, representando 28 associaes(estivadores, ferrovirios,trabalhadores em trapiches e caf, setores de servio, etc).

    Neste congresso se aprovou a filiao de suas teses ao sindicalismo revolucionrio francs. Aneutralidade sindical, o federalismo, a descentralizao, o antimilitarismo, o antinacionalismo,a ao direta, a greve geral passaram a fazer parte dos princpios dos signatrios das propostasdeste Primeiro Congresso Operrio Brasileiro.

    Contudo, o governo no se pe indiferente, frente a intensa organizao dos trabalhadores.Prova disto, a intensa represso que sofre o movimento operrio no Brasil, que constante:fechamento de sedes de sindicatos, priso e deportao de diversos sindicalistas7.

    A Lei Adolfo Gordo, de 1907 que regularizava a expulso de estrangeiros envolvidos emgreve, foi uma das primeiras iniciativas legais do governo neste sentido, mas o governo no

    pra por a. Em 1921, o governo brasileiro mais temeroso e com novas concepes desegurana nacional8 emite o decreto de n. 4.269, de 17 de janeiro, que regula a repressoao anarquismo

    Paralelamente a isto, temos os ecos da revoluo russa que no Brasil iro ocasionaracalorados debates e posteriormente dividiro o movimento operrio, j que a ditadura

    bolchevique ser duramente atacada pelos anarquistas e defendidas por figuras comoAstrojildo Pereira, um dos fundadores do PCB.

    O atrelamento dos sindicatos ao estado, a represso, o autoritarismo crescente do EstadoBrasileiro a partir de 1930, as divises no movimento operrio, onde os setores mais legalistase corporativistas sero mais tolerados durante este perodo do que os anarquistas e aincorporao de uma estratgia paternalista do Estado para cooptar o movimento social,representado pelo vetor sindical, ajudaram a minar a presena anarquista no movimentosindical.

    6 Os sindicatos sucederiam as antigas Associaes de Socorro Mtuo, entidades que apoiavam materialmenteos trabalhadores em casos diversos(aposentadoria, invalidez, doena, etc) em uma poca que inexistia a

    previdncia trabalhista.7 Alguns trabalhadores eram enviados para o campo prisional de Clevelndia, onde a maioria jamais conseguia

    retornar, os anarquistas especficamente eram os mais atingidos.

    8 O inimigo a partir desta nova concepo no estava fora das fronteiras do Estado, mas sim dentro: eram osgrupos de esquerda, no Brasil, essencialmente os anarco-sindicalistas, a Revoluo Russa tambm assustouos governos locais.

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    A falta de uma instncia ideolgica especfica anarquista, que agrupassem os libertrios foradas discusses meramente reivindicativas e limitantes do sindicalismo, que fora percebida to

    brilhantemente pelo anarquista e professor Jos Oiticica, tambm contriburam para adesagregao do movimento anarquista. A subsequente ditadura do Estado Novo, causaria aomovimento operrio e anarquista uma perda incomensurvel, onde somente aps o fim do

    Estado Novo conseguiriam se reagrupar tmidamente.

    O Anarquismo contemporneo

    O anarquismo contemporneo se debrua sobre uma srie de perspectivas e discusses. Emrelao aos movimentos populares, podemos citar o movimento zapatista de Chiapas noMxico, a insurreio ocorrida em Oaxaca, o movimento anti-globalizao nos anos 90, os

    piqueteiros na Argentina e os movimentos sem-teto e de desempregados como pontos dediscusso que interessam o anarquismo e onde h sem dvida pontos de convergncia emtermos de proposta.

    Discusses sobre educao, especificamente a pedagogia libertria e a ecologia tambm sointeressantes neste sentido. H muito mais que poderia ser dito, mas espero que este materialsirva para abrir uma discusso que evidentemente, no se esgota nestas resumidas pginas.

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    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    CASTRO, Joo Henrique.Bandeiras Negras Sobre Fundo Vermelho - A presenaanarquista na Revoluo Russa. In Informativo Libera n 138. Rio de Janeiro, 2008.

    CORRA, Felipe.A Revoluo Mexicana. In Artigo FARJ: A REVOLUO MEXICANA.Rio de Janeiro, 2008.

    DUPONT, Cedric. Um Novo Sistema Educacional durante a Revoluo Espanhola InRevista Educao Libertria n 1 , pp.49-61 So Paulo: Editora Imaginrio, 2006

    FERREIRA, Maria Nazareth. A imprensa Operria no Brasil.Petrpolis: Editora Vozes,1978.

    LOPES, Milton. A Comuna de Paris. In Artigo FARJ: A COMUNA DE PARIS. Rio deJaneiro, 2008.

    LOPES, Milton. Crnica dos Primeiros Anarquistas no Rio, pp. 27. Rio de Janeiro: EditoraAchiam, 2006.

    MINTZ, Frank; GOLDBRONN, Frderic. Quando a Espanha Revolucionria vivia emAnarquia. In Revista Libertrios n 01 p.15-18. So Paulo-Rio de Janeiro: EditoraImaginrio, 2002.

    MOTTA, Fernando C. Prestes. Burocracia e Autogesto(a proposta de Proudhon), op.Cit.,p. 113. So Paulo: Editora Brasiliense, 1981.

    OLIVEIRA, Jos Machado de. O projeto poltico dos grupos radicais durante a RevoluoFrancesa: algumas diferenas e aproximaes Inhttp://www.cchn.ufes.br/anpuhes/ensaio18.htm. Acessado em 17/03/08

    ROCKER, Rudolf. A Ideologia do Anarquismo. pp.07 1 Ed. So Paulo: Editora Fasca,2005

    WALTER, Nicolas. O que Anarquismo?. In Revista Libertrios n 01 p.05-07. So Paulo-Rio de Janeiro: Editora Imaginrio, 2002

    WOODCOCK, George. Uma Histria das idias e movimentos libertrios: Vol. 1, A idia.pp.07-32 1 Ed. Porto Alegre: Editora L & PM, 1983

    INTRODUO AO ANARQUISMO / OUTRAS REFERNCIAS

    A ANARQUIA / PIOTR KROPOTKIN EDITORA IMAGINRIO

    ESCRITOS REVOLUCIONRIOS / ERRICO MALATESTA EDITORA IMAGINRIO

    ESTATISMO E ANARQUIA / MIKHAIL BAKUNIN EDITORA IMAGINRIO

    HISTRIA DO MOVIMENTO OPERRIO REVOLUCIONRIO / VRIOS - EDITORAIMAGINRIO

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    HISTRIA DO ANARQUISMO NO BRASIL / VRIOS - EDUFF

    O ANARQUISMO HOJE EDITORA IMAGINRIO

    O ANARQUISMO SOCIAL FRANK MINTZ

    REVISTA PROTESTA VRIOS GRUPOS