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VITOR MIZUKAWA ANÁLISE SETORIAL PARA A AGROINDÚSTRIA DA SOJA NO BRASIL Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção de Diploma de Engenheiro de Produção. São Paulo 2008

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  • VITOR MIZUKAWA

    ANLISE SETORIAL PARA A

    AGROINDSTRIA DA SOJA NO BRASIL

    Trabalho de Formatura apresentado Escola

    Politcnica da Universidade de

    So Paulo para obteno de Diploma

    de Engenheiro de Produo.

    So Paulo

    2008

  • VITOR MIZUKAWA

    ANLISE SETORIAL PARA A

    AGROINDSTRIA DA SOJA NO BRASIL

    Trabalho de Formatura apresentado Escola

    Politcnica da Universidade de

    So Paulo para obteno de Diploma

    de Engenheiro de Produo.

    Orientador: Reinaldo Pacheco da Costa

    So Paulo

    2008

  • minha famlia

  • AGRADECIMENTOS

    A toda minha famlia. Em especial aos meus pais, Julio e Marina, que sempre me

    apoiaram em todas as etapas de minha vida e que foram peas fundamentais em minha

    formao.

    Aos meus amigos, por todos os momentos de descontrao proporcionados.

    A Mariana, pelo carinho, companheirismo e apoio nas horas mais difceis.

    Ao meu orientador Reinaldo Pacheco da Costa, pelas inmeras lies e contribuies

    para a realizao deste estudo.

    A Karine Carvalho, pela invejvel dedicao e pelos construtivos aportes feitos ao

    trabalho.

    A todos os colegas de trabalho, em especial a minha equipe: Fernando Martins, Rachel

    Larocca e Ramiro Severo, que me acompanharam durante grande parte do desenvolvimento

    deste projeto.

    A todos os professores e funcionrios da Escola Politcnica, principalmente para

    aqueles do Departamento de Engenharia de Produo, com os quais tive maior contato, em

    especial a todos os funcionrios do Centro Acadmico de Engenharia de Produo.

  • Anyone who has never made a mistake

    has never tried anything new.

    Albert Einstein

  • RESUMO

    O presente trabalho tem como principal objetivo definir possveis estratgias para a

    originao de soja na regio centro-sul do Brasil, com o intuito final de exportar o gro para

    suprir a crescente demanda do mercado internacional pela commodity.

    Foi utilizada a abordagem de estratgia definida por Porter (1991 e 1993) para mapear

    o setor. O diamante nacional de Porter (1991) foi utilizado para analisar o Brasil como um

    todo, enquanto as cinco foras competitivas foram aplicadas para os potenciais estados

    fornecedores do gro: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paran e Rio Grande do Sul.

    Alm disso, foram realizadas projees da rea plantada e produtividade agrcola da

    soja com o intuito de quantificar o potencial de expanso e crescimento da oleaginosa no pas.

    O mtodo estatstico utilizado para tal finalidade foi o mtodo Box-Jenkins (1970), tambm

    conhecido como ARIMA. Para complementar a anlise da produtividade da soja, o autor

    tambm utilizou o conceito de Curva de Experincia (Dyson, 1942).

    O estudo mostra que o Brasil se consolidar como primeiro produtor e exportador do

    gro nos prximos anos, obtendo ainda maior presena no comrcio mundial da commodity.

    Este destaque se deve, principalmente, ao potencial de expanso agrcola em rea, atributo

    no encontrado em outros pases devido a escassez e saturao de reas agricultveis. Alm

    disso, com a melhoria da infra-estrutura logstica, a soja brasileira se tornar ainda mais

    competitiva neste setor.

    Palavras-chave: Anlise setorial. Agronegcio. Soja. Originao.

  • ABSTRACT

    The main purpose of this study is to define possible strategies for the origination of

    soybeans in the south-central region of Brazil, with the final aim of exporting the grain to

    meet the growing demand of the international market.

    The author used the strategic tools defined by Porter (1991 and 1993) to map the

    sector. The national diamond was used to analyze Brazil as a whole, while the five

    competitive forces have been applied to analyze specific states with potential to supply the

    grain: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paran and Rio Grande do Sul.

    In addition, forecasts of the planted area and agricultural productivity for soybeans

    were constructed, in an effort of quantifying the potential for expansion and growth of this

    oilseed in the country. The statistical method used for this purpose was the Box-Jenkins

    method (1970) also known as ARIMA. To complement the projections of the productivity of

    soybeans, the author also used the concept of Experience Curve (Dyson, 1942).

    The study shows that Brazil can consolidate as the first producer and exporter of the

    grain in the coming years, achieving even greater presence in world trade of soybeans. This

    prominence is due, mainly, because of the potential for expansion in agricultural area,

    attributes not found in other countries. Moreover, with the improvement of the logistic-

    infrastructure, the Brazilian soybean will become even more competitive in this sector.

    Keywords: Sector Analysis. Agribusiness. Soybeans. Origination.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Distribuio dos Escritrios da Bain & Company no Mundo (Fonte: Bain & Co.) 18Figura 2 - As Cinco Foras Competitivas de Porter (Adaptado de Porter, 1991)....................23

    Figura 3 - O Diamante Nacional de Porter (Adaptado de Porter, 1993) .................................28Figura 4 - Exemplo de Curva de Experincia (Fonte: Sallenave, 1985).................................34

    Figura 5 - Delimitao do Sistema Agroindustrial (SAG) da Soja no Brasil (Fonte: Lazzarini e Nunes, 1998)........................................................................................................................44

    Figura 6 - As Cinco Foras de Porter aplicada aos Estados Produtores (elaborada pelo autor).............................................................................................................................................84

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 - Desempenho dos Clientes versus Mercado..........................................................19Grfico 2 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas (elaborado pelo autor).............................................................................................................................................32Grfico 3 - Curva de Experincia da Soja nos EUA (elaborado pelo autor)...........................35

    Grfico 4 - Correlograma de Auto-Correlao (AC) (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .................................................................................................................40

    Grfico 5 - Correlograma de Auto-Correlao Parcial (PAC) (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab).................................................................................................40

    Grfico 6 - Cinco Maiores Pases Produtores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA) .................................................................................................................................42

    Grfico 7 - Cinco Maiores Pases Exportadores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA) .......................................................................................................................43

    Grfico 8 - Trs Maiores Pases Importadores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA) .................................................................................................................................43

    Grfico 9 - Evoluo do Esmagamento e Exportao da Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI).................................................................................................................................47

    Grfico 10 - Evoluo do Consumo e Exportao do Farelo de Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)......................................................................................................................48

    Grfico 11 - Evoluo do Consumo e Exportao do leo de Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)......................................................................................................................49

    Grfico 12 - Evoluo das Exportaes de Soja em Pases Selecionados (elaborado pelo autor, dados: USDA) ......................................................................................................................51

    Grfico 13 - Evoluo das Exportaes de Farelo de Soja em Pases Selecionados (elaborado pelo autor, dados: USDA).....................................................................................................52

    Grfico 14 - Evoluo das Exportaes de leo de Soja em Pases Selecionados (elaborado pelo autor, dados: USDA).....................................................................................................52

    Grfico 15 - Evoluo Histrica da rea Plantada de Soja no Brasil (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab).................................................................................................56

    Grfico 16 - Grfico de Auto-correlao da rea de Soja (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .................................................................................................................57

    Grfico 17 - Auto-correlao (AC) da rea aps uma Diferenciao (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .........................................................................................58

    Grfico 18 - Auto-correlao Parcial (PAC) da rea aps uma Diferenciao (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) ................................................................................58

    Grfico 19 - rea Plantada da Soja Histrica x Modelo ARIMA (2,1,0) (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .........................................................................................59

    Grfico 20 - Projeo da rea Plantada de Soja no Brasil at 2018 (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab).................................................................................................60

  • Grfico 21 - Evoluo Histrica da Produtividade Mdia da Soja no Brasil (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) ................................................................................61Grfico 22 - Clculo das Diferenas de Produtividade da Soja no Brasil (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .........................................................................................61Grfico 23 - Auto-correlao (AC) da Produtividade aps uma Diferenciao (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) ................................................................................62Grfico 24 - Auto-correlao Parcial (PAC) da Produtividade aps uma Diferenciao (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .......................................................62Grfico 25 - Projeo da Produtividade da Soja no Brasil at 2018 (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab).................................................................................................63Grfico 26 - Produtividade x Produo Acumulada de Soja no Brasil (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab) .........................................................................................64Grfico 27 - Projees para a Produo de Soja no Brasil (elaborado pelo autor)..................66

    Grfico 28 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas no MT (elaborado pelo autor, dados: IBGE) ......................................................................................................69

    Grfico 29 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas no MS (elaborado pelo autor, dados: IBGE) ......................................................................................................70

    Grfico 30 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas no PR (elaborado pelo autor, dados: IBGE) ......................................................................................................71

    Grfico 31 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas no RS (elaborado pelo autor, dados: IBGE) ......................................................................................................71

    Grfico 32 - Capacidade de Estocagem no MT e MS (elaborado pelo autor, fonte: CONAB)74Grfico 33 - Capacidade de Estocagem no Paran (elaborado pelo autor, fonte: CONAB) ....74

    Grfico 34 - Capacidade de Estocagem no Rio Grande do Sul (elaborado pelo autor, fonte: CONAB) ..............................................................................................................................75

    Grfico 35 - Capacidade de Estocagem no MT, MS, PR e RS (elaborado pelo autor, fonte: CONAB) ..............................................................................................................................76

    Grfico 36 - Custos de Produo da Soja em 2007 (elaborado pelo autor, fonte: Instituto FNP).............................................................................................................................................77

    Grfico 37 - Evoluo do Preo da Soja (elaborado pelo autor, fonte: CONAB) ...................79

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Exemplo de Clculo de Diferenciao (Fonte: Hoff, 1983) ..................................37Tabela 2 - Indicadores de Competitividade da Soja em Gro (adapatado de Lazzarini e Nunes, 1998)....................................................................................................................................54Tabela 3 - Projees de rea, Produtividade e Produo para o Brasil (elaborada pelo autor).............................................................................................................................................65Tabela 4 - Produo de Soja no Brasil (elaborado pelo autor, dados: CONAB).....................67

    Tabela 5 - Margem Lquida do Produtor (elaborada pelo autor, conte: CONAB e Instituto FNP......................................................................................................................................80

    Tabela 6 - Margem Econmica do Produtor (elaborada pelo autor, fonte: CONAB e Instituto FNP) ....................................................................................................................................80

    Tabela 7 - Margem Logstica / Porturia (elaborada pelo autor: CONAB, estrevistas e AliceWeb)............................................................................................................................82

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AC Auto-CorrelaoAGE Assessoria de Gesto Estratgica (MAPA)

    AR Auto-RegressivoARIMA Autoregressive Integrated Moving Average

    BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e SocialCONAB Companhia Nacional de Abastecimento

    CPR Cdula de Produto RuralEMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    ESALQ Escola Superior de Agricultura Luiz de QueirozFAO Food and Agricultural Organization of the United Nations

    FAPRI Food and Agricultural Policy Research InstituteFOB Free on Board

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e EstatsticaICMS Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios

    IEA Instituto de Economia Agrcola

    IICA Instituto Interamericano de Cooperao para a Agricultura

    Kt Mil ToneladasMA Mdia Mvel

    MAPA Ministrio da Agricultura, Pecuria e AbastecimentoMAPITO Maranho, Piau e Tocantins

    MDIC Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio ExteriorMt Milhes de Toneladas

    PAC Auto-Correlao ParcialSAG Sistema Agroindustrial

    sc.60 kg Saca de Soja de 60 quilogramasSECEX Secretaria do Comrcio Exterior

    SIFRECA Sistema de Informaes de Fretes (ESALQ)UE Unio Europia

    USDA United States Department of Agriculture

  • SUMRIO

    1. INTRODUO ....................................................................................................... 171.1 O Estgio .................................................................................................................. 17

    1.2 A Empresa ................................................................................................................ 181.3 O Estgio e o Trabalho de Formatura ........................................................................ 19

    1.4 Objetivos do Trabalho ............................................................................................... 201.5 O Trabalho de Formatura e a Engenharia de Produo............................................... 20

    1.6 A Importncia da Anlise Setorial para o Engenheiro de Produo............................ 201.7 Organizao do Trabalho........................................................................................... 212. REFERENCIAL TERICO................................................................................... 232.1 Foras Estruturais de Porter....................................................................................... 23

    2.1.1 Ameaa de Entrada de Novos Competidores ................................... 24

    2.1.2 Rivalidade entre os Concorrentes .................................................... 252.1.3 Ameaa de Produtos Substitutos...................................................... 26

    2.1.4 Poder de Negociao dos Compradores........................................... 262.1.5 Poder de Negociao dos Fornecedores........................................... 27

    2.2 Diamante Nacional.................................................................................................... 272.2.1 Condies de Fatores....................................................................... 28

    2.2.2 Condies de Demanda ................................................................... 292.2.3 Indstrias Correlatas e de Apoio...................................................... 29

    2.2.4 Estratgia, Estrutura e Rivalidade das Empresas.............................. 302.2.5 O Papel do Acaso............................................................................ 30

    2.2.6 O Papel do Governo ........................................................................ 302.3 Matriz de Crescimento de Mercado x Parcela de Mercado......................................... 31

    2.3.1 Adaptao do Modelo ..................................................................... 312.4 Curva de Experincia ................................................................................................ 33

    2.4.1 Aplicabilidade................................................................................. 342.5 ARIMA..................................................................................................................... 35

    2.5.1 Srie Estacionria............................................................................ 362.5.2 Modelos Auto-Regressivos (AR)..................................................... 37

    2.5.3 Modelos de Mdia Mvel (MA) ...................................................... 382.5.4 Modelos Mistos (ARMA)................................................................ 38

    2.5.5 Auto-Correlao (AC)..................................................................... 39

  • 2.5.6 Auto-Correlao Parcial (PAC) ....................................................... 39

    2.5.7 Relevncia da AC e da PAC nos Modelos ARIMA.......................... 393. ANLISE SETORIAL DA SOJA........................................................................... 413.1 Soja no Mundo .......................................................................................................... 413.2 Soja no Brasil ............................................................................................................ 44

    3.2.1 Condies de Fatores....................................................................... 45

    3.2.2 Condies de Demanda ................................................................... 46

    3.2.3 Indstrias Correlatas e de Apoio...................................................... 493.2.4 Estratgia, Estrutura e Rivalidade das Empresas.............................. 50

    3.2.5 O Papel do Acaso ............................................................................ 503.2.6 O Papel do Governo ........................................................................ 51

    3.2.7 Quadro Resumo............................................................................... 534. PROJEES........................................................................................................... 554.1 rea Plantada ............................................................................................................ 564.2 Produtividade Agrcola.............................................................................................. 60

    4.2.1 Utilizando ARIMA.......................................................................... 604.2.2 Utilizando a Curva de Experincia................................................... 64

    4.3 Produo ................................................................................................................... 655. EVOLUO HISTRICA REGIONAL............................................................... 675.1 Anlise Regional ....................................................................................................... 68

    5.1.1 Culturas Concorrentes ..................................................................... 68

    5.1.2 Estrutura dos Mercados ................................................................... 725.1.3 Anlise de Rentabilidade dos Produtores ......................................... 76

    5.1.4 Esmagamento x Exportao............................................................. 815.1.5 Investimentos Necessrios............................................................... 83

    5.1.6 Resumo Comparativo ...................................................................... 84

    6. CONCLUSES ....................................................................................................... 88APNDICE CAPACIDADE DE ARMAZENAGEM.................................................. 91ANEXO CUSTOS DE PRODUO ............................................................................ 94

  • 17

    1. INTRODUO

    O mundo povoado por 6,7 bilhes de pessoas, e at o ano de 2018 alcanar a

    quantia de 7,5 bilhes de indivduos. Isso nos traz um crescimento mdio anual de 1,1%, que

    a princpio parece modesto, mas que representa, em nmeros absolutos, em torno de 80

    milhes de pessoas a mais por ano, ou seja, mais de sete cidades de So Paulo todos os anos.

    Para mover toda essa enorme e crescente massa humana, preciso fornecer energia

    para a mesma, que transmitida atravs da gama de alimentos disponvel no planeta. Esta

    gama de produtos pode tambm ser traduzida em algumas poucas matrias-primas que a

    compe. Assim, resumidamente, toda essa imensa quantidade de pessoas ser abastecida

    basicamente com os suprimentos do agronegcio mundial como: carne, frango, leite, acar,

    arroz, milho, trigo, soja, etc.. E nesse contexto de demanda que o Brasil ganha destaque, j

    que responde por grande parte do fornecimento de alimentos para o mundo.

    No pas, em 2007, dos 58,4 bilhes de dlares vendidos ao mercado externo, o

    complexo da soja respondeu pela maior fatia, ou quase 20% do total. Trata-se do principal

    produto agrcola do Brasil em rea plantada e cultivada em 20 estados, tendo o Mato Grosso

    como maior produtor, responsvel por quase metade da colheita do gro.

    Diante da importncia desta commodity no mercado mundial, o estudo desenvolvido a

    seguir busca mapear o setor em questo, o complexo da soja, visando trazer ao conhecimento

    dos leitores as suas caractersticas e peculiaridades e, ao final, traar estratgias de originao

    do gro na regio centro-sul do pas para a exportao. Alm disso, procura incentivar o

    investimento na rea, para que a mesma possa se desenvolver adequadamente e para que o

    Brasil possa cumprir com as expectativas de produo para os anos futuros, contribuindo com

    o suprimento de alimento internacional.

    1.1 O Estgio

    De Janeiro a Agosto de 2007 o autor concluiu a primeira etapa do programa de trainee

    da empresa de consultoria estratgica Bain & Company. Quando atravs do convnio entre a

    Escola Politcnica da Universidade de So Paulo e a Escuela Tcnica Superior de Ingenieros

    Industriales da Universidad Politcnica de Madrid, realizou-se intercmbio de estudos, com

    um ano de durao, pela Rede Magalhes de ensino para aproveitamento de crditos. No seu

    regresso ao pas, em Agosto de 2008, o autor retomou o estgio na mesma empresa.

  • 18

    1.2 A Empresa

    A Bain & Company lder mundial em consultoria estratgica. Desde sua criao em

    1973, a empresa trabalhou com mais de 3.900 clientes ao redor do mundo, em praticamente

    todos os setores de atividades.

    Desde 2003, reconhecida como a melhor empresa de consultoria para se trabalhar

    segundo pesquisa anual de renomada mdia especializada, a Consulting Magazine.

    Possui mais de quatro mil consultores, que esto divididos entre os 39 escritrios

    presentes em 26 pases (vide Figura 1).

    Toronto

    BostonChicagoSan Francisco

    Palo Alto

    Los Angeles

    Mexico City

    Atlanta

    New York

    So Paulo

    Johannesburg

    Singapore

    Dubai

    New Delhi

    Beijing

    Moscow

    Helsinki

    StockholmAmsterdam

    Brussels

    London

    Paris

    MadridZurich

    MilanRome

    Munich

    KyivDsseldorf

    Seoul

    TokyoShanghai

    Hong Kong

    Melbourne

    Sydney

    Dallas

    Frankfurt

    Copenhagen

    Buenos Aires

    Toronto

    BostonChicagoSan Francisco

    Palo Alto

    Los Angeles

    Mexico City

    Atlanta

    New York

    So Paulo

    Johannesburg

    Singapore

    Dubai

    New Delhi

    Beijing

    Moscow

    Helsinki

    StockholmAmsterdam

    Brussels

    London

    Paris

    MadridZurich

    MilanRome

    Munich

    KyivDsseldorf

    Seoul

    TokyoShanghai

    Hong Kong

    Melbourne

    Sydney

    Dallas

    Frankfurt

    Copenhagen

    Buenos Aires

    Figura 1 - Distribuio dos Escritrios da Bain & Company no Mundo (Fonte: Bain & Co.)

    O comprometimento da empresa com a criao de valor para seus clientes. Trabalha

    com a alta direo para superar competidores e gerar impactos financeiros substanciais e

    duradouros. O desempenho da empresa medido pelo sucesso de seus clientes, que

    historicamente tm superado o mercado em quatro vezes (vide Grfico 1).

  • 19

    0

    2,000

    4,000

    6,000

    8,000

    Mudana percentual acumulada nos preos das aes

    S&P 500

    Clientes da Bain

    80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 070

    2,000

    4,000

    6,000

    8,000

    Mudana percentual acumulada nos preos das aes

    S&P 500

    Clientes da Bain

    80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 00 02 04 06 07

    Grfico 1 - Desempenho dos Clientes versus Mercado

    O escritrio da Bain & Company em So Paulo foi criado em 1997 e, desde ento,

    vivenciou forte crescimento, ganhando mercado sobre outras consultorias estratgicas que j

    haviam se estabelecido na regio, como o caso do Boston Consulting Group e da Mckinsey &

    Company, principais concorrentes da empresa atualmente.

    1.3 O Estgio e o Trabalho de Formatura

    No seu regresso ao estgio, o autor foi designado a um projeto na rea de

    agronegcios, mais especificamente trabalhando com a soja, fator determinante para a escolha

    do tema e desenvolvimento do estudo.

    No projeto, o cliente buscava conceber as possveis estratgias de originao da soja

    na regio centro-sul do pas. O escopo da anlise foi limitado a estes estados devido parceria

    existente entre o cliente e outra empresa atuante no ramo, que possui como mercado de

    atuao basicamente o Norte e Nordeste do Brasil. A concepo da estratgia tinha por

    finalidade suprir a demanda de soja para um grupo chins, que estava interessado em investir

    no pas.

    A estrutura da equipe era enxuta, composta por dois analistas e uma consultora. As

    anlises foram dividas em duas partes, uma relacionada com o mercado de soja no pas, cujo

    analista responsvel foi o prprio autor. E a outra parte, a anlise porturia para o escoamento

    do produto, em mos do segundo analista. Cabe ressaltar que todas as anlises apresentadas

    neste estudo foram realizadas pelo prprio autor.

  • 20

    1.4 Objetivos do Trabalho

    O estudo, assim como o projeto realizado no escritrio de consultoria, tem como

    principal objetivo analisar e encontrar as melhores alternativas para captar e escoar a soja na

    regio centro-sul do Brasil (principal plo produtor do gro no pas), atravs do mapeamento

    de toda a cadeia produtiva do complexo da soja. O intuito final deste projeto o de suprir as

    futuras demandas pela matria prima, alm de servir como possvel catalisador de novos

    investimentos na rea.

    1.5 O Trabalho de Formatura e a Engenharia de Produo

    A Engenharia de Produo da Escola Politcnica a nfase que possui o melhor

    balano entre as reas tcnicas de engenharia e as reas mais qualitativas e de gesto. Dado

    seu amplo escopo de matrias, o Engenheiro de Produo moldado para poder atuar em

    praticamente todas as reas. Trata-se de um perfil dinmico, flexvel e ao mesmo tempo muito

    bem embasado em ferramentas analticas que o diferencia dos demais e cujas caractersticas

    so to apreciadas no mercado de trabalho.

    Todo este processo de formao que o Engenheiro de Produo passa durante estes

    cinco anos avaliado atravs do Trabalho de Formatura. Trata-se do marco que coroa e

    distingue o engenheiro formado pelo Departamento de Engenharia de Produo das demais

    engenharias. Nele, o aluno deve utilizar todos os conhecimentos e habilidades desenvolvidas

    ao decorrer do curso para concluir um estudo individual e profundo sobre determinado

    assunto e, por isso, deve ser tratado com o respeito e a seriedade dignos do ttulo.

    1.6 A Importncia da Anlise Setorial para o Engenheiro de Produo

    O Trabalho de Formatura do Departamento de Engenharia de Produo, que marca a

    transio da fase acadmica para a profissional, em sua raiz pode ser enunciado como sendo a

    resoluo de um problema prtico, em geral vinculado ao estgio obrigatrio, com a utilizao

    de ferramentas acadmicas, estudadas ao longo do curso.

    No caso desta pesquisa, o problema a ser resolvido era o de estruturar o procedimento

    para captar soja no Brasil. Para isto, fez-se necessrio um estudo detalhado de quais seriam as

    regies mais promissoras, atravs da utilizao do arcabouo estratgico estudado no decorrer

    do curso. Alm disso, entender quais seriam as tendncias para os prximos anos do

    comportamento dessa commodity no pas, o que demandou projees para a produo do gro

    utilizando mtodos estatsticos.

  • 21

    Esta uma das vrias abordagens que se pode realizar em uma anlise setorial. um

    campo vasto de atuao, que nos permite utilizar todas as teorias estudadas ao longo do curso

    de Engenharia de Produo. Desde reas como Economia, Contabilidade e Administrao, at

    reas mais tcnicas como Logstica e PPCP.

    Alm disso, para se realizar uma anlise como esta e traar concluses a respeito do

    assunto, primeiramente, preciso possuir uma viso sistmica de todos os processos que o

    compe para entender sobre seu correto funcionamento. Segundo, preciso tambm possuir

    um raciocnio analtico bastante desenvolvido para transformar todas as anlises realizadas em

    concluses. Tais caractersticas so as que fazem o Engenheiro de Produo ser to

    demandado no mercado de trabalho atual, j que o curso nos proporciona um ensino

    balanceado entre ambas vertentes de estudo, tanto as mais tcnicas e de engenharia, como as

    mais gerenciais.

    1.7 Organizao do Trabalho

    Este trabalho organizado como descrito a seguir.

    O primeiro captulo se dedica a introduzir o problema a ser tratado, descrevendo a

    respeito do estgio onde se iniciou o estudo, quais os objetivos do mesmo, qual a importncia

    do trabalho e qual a sua relao com a formao do Engenheiro de Produo formado pela

    Escola Politcnica.

    O segundo captulo versa sobre a reviso bibliogrfica, ou seja, detalha todas as

    teorias e conceitos que foram utilizados para a concepo deste estudo. Partindo das

    ferramentas estratgicas, como o diamante nacional e as cinco foras competitivas de Porter, e

    a matriz de crescimento e participao no mercado. Passando pelo conceito de curvas de

    experincia, e terminando com a descrio do mtodo Box-Jenkins utilizado para a realizao

    de algumas projees.

    A terceira parte concentra a anlise setorial da soja, partindo do mapeamento do gro

    no mundo e enfocando no Brasil, com detalhamento sobre alguns aspectos do nosso setor

    atravs da utilizao do Diamante Nacional de Porter (1993).

    Em seguida, no captulo quatro, so apresentadas as projees de rea plantada,

    utilizando o modelo ARIMA, e produtividade agrcola da soja, utilizando tanto ARIMA como

    o conceito de curvas de experincia, para ao final chegarmos a um valor de produo anual

    para o pas.

  • 22

    A quinta parte dedica-se a analisar mais em detalhe os quatro estados presentes no

    escopo do projeto: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paran e Rio Grande do Sul, atravs da

    utilizao das cinco foras de Porter (1991) para nortear o raciocnio e a matriz de

    crescimento e participao para analisar o impacto das culturas concorrentes da soja para cada

    estado produtor.

    Encerramos o projeto com as concluses e sugestes obtidas com o estudo,

    recomendando quais possveis anlises poderiam ser feitas para dar continuidade ao

    entendimento do assunto e melhoria na elaborao dos modelos de projeo.

    Ao final do documento constam os Apndices e Anexos, que tambm so partes

    constituintes do trabalho, mas que servem em grande parte como suporte para o melhor

    entendimento do mesmo.

  • 23

    2. REFERENCIAL TERICO

    Assim como explicitado anteriormente, este tpico se dedica a apresentar todas as

    teorias utilizadas como base para o desenvolvimento deste projeto, tendo como objetivo

    estimular uma melhor compreenso das anlises realizadas.

    Partindo desta viso, ser feita uma reviso das teorias sobre estratgia, cujo enfoque

    ser centrado em trs diferentes e complementares perspectivas: as Foras Estruturais de

    Porter, o seu Diamante Nacional, e a Matriz de Crescimento e Participao no Mercado.

    Alm disso, neste trabalho tambm sero feitas revises conceituais sobre o mtodo

    ARIMA (ou Box-Jenkins) e as Curvas de Experincia, que serviram como ferramentas de

    suporte para a projeo da evoluo da rea e produtividade agrcola da soja no pas.

    2.1 Foras Estruturais de Porter

    Comeando com as Foras Estruturais, para Porter (1991), a intensidade da

    concorrncia em um setor depende de cinco foras competitivas bsicas, representadas pelos

    cinco retngulos na Figura 2. O conjunto destas foras determina a atratividade final do setor.

    Dessa forma, medida que a intensidade deste conjunto de foras varia, varia tambm o

    potencial de lucro que determinado setor pode gerar.

    Poder de Negociao dos Fornecedores

    Rivalidade entre Concorrentes

    Poder de Negociao dos

    Clientes

    Ameaa de Produtos

    Substitutos

    Ameaa de Novos Entrantes

    Poder de Negociao dos Fornecedores

    Rivalidade entre Concorrentes

    Poder de Negociao dos

    Clientes

    Ameaa de Produtos

    Substitutos

    Ameaa de Novos Entrantes

    Figura 2 - As Cinco Foras Competitivas de Porter (Adaptado de Porter, 1991)

    Desta forma, uma srie de caractersticas tcnicas e econmicas imprescindvel para

    a determinao da intensidade de cada uma das foras competitivas dentro de um setor. A

    seguir, de maneira resumida, cada uma destas foras ser identificada e detalhada.

  • 24

    2.1.1 Ameaa de Entrada de Novos Competidores

    Novos competidores, que englobam desde empresas multinacionais entrando no

    mercado brasileiro de originao de soja, cooperativas regionais sendo organizadas, empresas

    de armazenagem e distribuio sendo criadas e, at mesmo, produtores privados investindo no

    setor, trazem consigo sempre mais capacidade, mais recursos, alm do desejo de ganhar

    mercado. Como conseqncia desse movimento, os preos podem cair graas ao excesso de

    oferta, os custos podem aumentar por causa do aumento da demanda por insumos, fazendo

    com que haja uma queda na rentabilidade. Em alguns casos, companhias provenientes de

    outros setores adquirem empresas j existentes na indstria e conquistam uma nova posio

    no mercado. Quando isso ocorre, elas devem tambm ser encaradas como uma nova entrada,

    muito embora no tenha sido criada uma nova entidade.

    Porter (1991) afirma que a ameaa de entrada numa indstria varia de acordo com

    suas barreiras de entrada. Nesse caso, se as barreiras so altas, o entrante ir encontrar muitas

    dificuldades de se estabelecer e, portanto, nesse caso, a ameaa de entrada pequena. Caso

    contrrio, se as barreiras so baixas, o inverso ocorre e a ameaa se torna grande.

    Entre as principais barreiras definidas por Porter (1991), podemos citar:

    Economias de escala: referem-se aos declnios nos custos unitrios obtidos com o

    aumento da produo absoluta. Indstrias com grandes economias de escala foram os

    novos competidores a comearem com produo elevada ou com desvantagens de

    custos;

    Diferenciao por produto: as empresas estabelecidas tm sua marca identificada e

    desenvolvem junto a seus clientes um forte sentimento de lealdade;

    Necessidades de capital: a necessidade de investir vastas quantias de capital para se

    estabelecer numa indstria cria uma barreira de entrada, principalmente se o risco

    desse investimento for elevado;

    Custos de mudana: so os custos incorridos pelos clientes quando mudam de um

    fornecedor para outro. Se este custo for elevado, dificilmente um cliente ir mudar de

    fornecedor, o que faz com que as barreiras de entrada aumentem;

    Acesso aos canais de distribuio: diz respeito necessidade criada por uma nova

    entrante em assegurar um canal de distribuio ao seu produto. Considerando que

  • 25

    esses canais j esto tomados, o entrante precisa persuadir os canais a aceitarem seu

    produto;

    Desvantagens de custo independentes de escala: vantagens como know-how do

    produto, acesso favorvel a matrias primas, localizaes favorveis, etc., podem ser

    vantagens inerentes a produtores j estabelecidos, o que torna a entrada de potenciais

    concorrentes mais difcil;

    Poltica governamental: certos tipos de leis ou licenciamentos podem impossibilitar,

    ou dificultar imensamente a entrada de novos produtores em certos setores.

    2.1.2 Rivalidade entre os Concorrentes

    De acordo com Porter (1991), a rivalidade ocorre quando uma ou mais empresas se

    sentem pressionadas ou percebem uma oportunidade para ganhar mais espao no mercado. As

    tticas variam, mas costumam se basear em artifcios como a concorrncia de preos, batalhas

    de publicidade, introduo de produtos e aumento dos servios ou garantias ao cliente.

    A rivalidade uma conseqncia de diversos fatores estruturais, a saber:

    Concorrentes numerosos ou bem equilibrados: quando existem muitas empresas em

    um setor, elas tendem a acreditar que seus movimentos passam de forma despercebida,

    o que gera ainda mais concorrncia. E mesmo se existirem poucos concorrentes,

    porm equilibrados, isto pode fazer com que as empresas lutem entre si, gerando

    retaliaes vigorosas;

    Crescimento lento da indstria: faz com que aumente a disputa por fatias de mercado,

    sendo assim muito mais instvel;

    Custos fixos altos: criam fortes presses para combater a capacidade ociosa, o que por

    sua vez gera uma queda generalizada de preos devido ao excesso de oferta;

    Ausncia de diferenciao: quando os produtos no apresentam diferenciao

    significativa, seus produtores so levados a baixar os preos, o que torna a

    concorrncia um tanto quanto estvel;

    Capacidade aumentada em grandes incrementos: quando as economias de escala

    determinam que os aumentos de capacidade devem ser feitos em grandes movimentos,

    a balana de oferta e demanda pode sair de equilbrio, o que gera momentos de preos

  • 26

    reduzidos e excesso de capacidade e outros de falta de capacidade, mas preos

    excessivamente altos;

    Barreiras de sada elevadas: so fatores econmicos que levam as empresas a

    continuarem operando mesmo que estejam obtendo retornos abaixo do considerado

    desejvel. Eles podem vir na forma de: ativos altamente especializados que tem baixo

    valor de venda; custos fixos de sada como acordos trabalhistas; inter-relaes

    estratgicas como o acesso a mercados financeiros; barreiras emocionais como a

    ligao dos donos com o negcio; e restries de ordem governamental.

    Outras fontes para a rivalidade entre concorrentes so: concorrentes divergentes e

    grandes interesses estratgicos.

    2.1.3 Ameaa de Produtos Substitutos

    De uma maneira ou de outra, todas as empresas de uma indstria esto competindo

    com indstrias que fabricam produtos substitutos. Os produtos substitutos trabalham

    reduzindo o retorno potencial de uma indstria, colocando assim um teto nos preos a serem

    fixados. Assim, quanto maior for a atratividade do produto alternativo em termos de preo-

    desempenho, maiores sero as presses sobre os lucros do setor.

    2.1.4 Poder de Negociao dos Compradores

    Os compradores exercem presso sobre a indstria, forando os preos para baixo e

    negociam por melhor qualidade e maior quantidade de servios. Segundo Porter (1991), os

    compradores so poderosos quando:

    Eles esto concentrados ou adquirem grandes volumes;

    Os produtos que eles adquirem da indstria representam uma frao significativa de

    seus prprios custos ou compras;

    Os produtos que eles compram da indstria so padronizados ou no diferenciados;

    Eles enfrentam poucos custos de mudana;

    Eles conseguem lucros baixos;

    Os compradores representam uma ameaa concreta de integrao para trs;

    O produto da indstria no importante para a qualidade dos produtos ou servios dos

    compradores;

  • 27

    Eles tm total informao.

    2.1.5 Poder de Negociao dos Fornecedores

    No movimento inverso dos compradores, os fornecedores exercem seu poder quando

    aumentam os preos ou reduzem a qualidade dos bens e servios fornecidos. Dessa forma,

    fornecedores poderosos podem reduzir muito a rentabilidade de uma indstria incapaz de

    repassar os aumentos aos preos de seus insumos.

    De acordo com Porter (1991) e analogamente ao poder dos compradores, os

    fornecedores so poderosos quando:

    O grupo fornecedor mais concentrado do que a indstria para qual vende;

    No obrigado a lutar contra produtos substitutos;

    A indstria consumidora no relevante para o grupo fornecedor;

    O produto dos fornecedores um insumo importante para os consumidores;

    Os produtos dos fornecedores so diferenciados ou foram criados altos custos de

    mudana;

    O grupo de fornecedores apresenta uma ameaa concreta de integrao para frente.

    2.2 Diamante Nacional

    Seguindo para a segunda ferramenta estratgica de Porter (1993), o xito internacional

    de um pas em determinada indstria pode ser explicado atravs de quatro amplos atributos

    que promovem a criao da vantagem competitiva. Estes atributos, alm de analisados

    separadamente, devem tambm ser vistos como inter-relacionados e constituintes de um

    sistema, o chamado diamante do pas.

    Alm destes quatro determinantes, representados atravs de retngulos na figura

    abaixo, outras duas variveis podem ser acrescidas anlise para complementar o raciocnio,

    so elas: o acaso e o governo. Chegamos assim ao total de seis determinantes, que so

    representados de acordo com a Figura 3 e que sero detalhados nos itens subseqentes do

    estudo.

  • 28

    Condies de Fatores

    Condies de Demanda

    Indstrias Correlatas e

    de Apoio

    Estratgia, Estrutura e

    Rivalidade das Empresas

    Acaso

    Governo

    Condies de Fatores

    Condies de Demanda

    Indstrias Correlatas e

    de Apoio

    Estratgia, Estrutura e

    Rivalidade das Empresas

    Acaso

    Governo

    Figura 3 - O Diamante Nacional de Porter (Adaptado de Porter, 1993)

    2.2.1 Condies de Fatores

    Os fatores so basicamente os insumos necessrios para competir em qualquer setor,

    como por exemplo, trabalho, terra cultivvel, recursos naturais, capital e infra-estrutura.

    Podem ser agrupados em cinco amplas categorias:

    Recursos humanos: diz respeito ao capital humano empregado na atividade, a

    quantidade, qualidade, custos, capacidade, etc.;

    Recursos fsicos: caractersticas, disponibilidade, acessibilidade da terra, dos insumos

    e matrias primas, gua, energia, etc.;

    Recursos de conhecimentos: quanto de informao e know-how o pas tem em

    determinada rea, inclui conhecimentos tcnicos, cientficos, de mercado etc.;

    Recursos de capital: disponibilidade de crdito e o custo deste capital para

    financiamento, podem ser dvidas com ou sem garantia, emprstimos, patrimnio

    lquido, capital de risco, etc.;

    Infra-estrutura: suas caractersticas, qualidade e custo de utilizao, inclui os diversos

    modais de transporte, sistema de comunicaes, correios, pagamentos ou

    transferncias de fundos, assistncia mdica, etc..

  • 29

    2.2.2 Condies de Demanda

    O segundo determinante do diamante caracteriza a demanda interna do produto ou

    servio dessa indstria e, segundo Porter (1993), so trs os determinantes gerais mais

    significativos dessa varivel:

    Composio: o que a compe e a maneira como ela est estruturada influencia

    diretamente no desenvolvimento do mercado interno desta indstria, segmentos que

    representam parcela importante da demanda local, normalmente tm grande poder

    para competir internacionalmente devido ao seu grau de desenvolvimento;

    Tamanho e padro de crescimento: um mercado interno de expressivo tamanho pode

    levar determinada indstria a vantagens competitivas como as economias de escala,

    por exemplo, se for o caso de possuir um grande nmero de compradores, isso induz

    entrada de novos investimentos para esta indstria. Alm disso, o crescimento pode

    contribuir para a gerao de vantagens competitivas uma vez que proporcional a

    taxa de investimento no setor;

    Internacionalizao da demanda interna: so os mecanismos atravs dos quais a

    demanda interna se internacionaliza e impulsiona os produtos e servios dessa nao

    para o exterior, pode ser o caso de compradores multinacionais (no qual os

    compradores internos tambm so os externos) ou a influncia sobre as necessidades

    estrangeiras (desejos locais so transmitidos a compradores estrangeiros).

    2.2.3 Indstrias Correlatas e de Apoio

    O grau de desenvolvimento das indstrias de abastecimento ou correlatas indstria

    base tambm ditam a competitividade internacional do setor. Isto ocorre pelo fato destas

    indstrias fornecedoras produzirem insumos amplamente utilizados no mercado mundial e

    serem importantes para a inovao do segmento.

    A presena de indstrias fornecedoras ou correlatas internacionalmente competitivas

    cria vantagens de diversas maneiras:

    Fcil e eficiente acesso aos insumos, que alm de possurem elevada qualidade so

    reconhecidos e utilizados em todo o mundo;

    Constante coordenao entre indstrias e fornecedores, o que no vivel para uma

    empresa estrangeira. As semelhanas culturais tendem a facilitar o fluxo aberto de

    informaes;

  • 30

    Processo de inovao, onde os fornecedores de classe mundial ajudam as empresas a

    descobrir novas tecnologias. As empresas tm acesso fcil informao e

    conhecimentos e servem tambm como local de testes para o trabalho de

    desenvolvimento das indstrias de abastecimento.

    2.2.4 Estratgia, Estrutura e Rivalidade das Empresas

    O cenrio nacional influencia a maneira pela qual as empresas se estruturam, so

    dirigidas e competem entre si. No existe uma regra explcita e nem uma absoluta

    uniformidade entre as empresas, mas o contexto cria padres e tendncias que podem ser

    percebidas por um observador externo.

    Nas metas, bem como nas motivaes dos empregados, tambm se pode perceber este

    fenmeno. Os pases tero xito nas indstrias nas quais essas metas e motivaes esto

    alinhadas com as fontes de vantagem competitiva.

    A rivalidade interna tambm ajuda a fomentar a criao e a manuteno da vantagem

    competitiva. Pases que possuem liderana mundial tm, em muitos casos, vrios rivais locais

    fortes, at mesmo em pases pequenos. Fato vlido no somente para indstrias fragmentadas,

    mas tambm para setores com substanciais economias de escala.

    2.2.5 O Papel do Acaso

    Englobam as ocorrncias fortuitas, que tm pouco a ver com as circunstncias em que

    o pas est inserido e fora do raio de alcance das empresas, mas que tambm possuem

    influncia na determinao da vantagem nacional do setor.

    Alguns exemplos so: guerras, decises polticas de outros pases, surtos de demanda,

    variaes das taxas de cmbio, descontinuidades nos custos de insumos e tecnologia, crises

    financeiras, etc. So acontecimentos que propiciam mudanas nas posies competitivas da

    indstria, podendo tanto neutralizar determinadas vantagens, como criar novas.

    2.2.6 O Papel do Governo

    Porter (1993) no enaltece a influncia do governo sobre a competitividade

    internacional, ele simplesmente classifica tal controle no como um quino determinante no

    diamante, mas sim como um influenciador dos quatro anteriores.

  • 31

    Estas intervenes podem ocorrer atravs de subsdios, polticas relativas aos

    mercados, regulamentos, o governo pode atuar como comprador direto dos produtos ou

    servios, controlar a mdia, etc.

    As polticas bem sucedidas funcionam nas indstrias nas quais os determinantes

    subjacentes da vantagem nacional esto presentes e o governo os refora. A poltica

    governamental falhar se continuar sendo a nica fonte de vantagem nacional.

    2.3 Matriz de Crescimento de Mercado x Parcela de Mercado

    A Matriz de Crescimento x Participao de Mercado (Growth-Share Matrix), em sua

    essncia, utilizada para analisar unidades de negcios e portflios de produtos de empresas

    (Dyson, 1942).

    Trata-se de uma matriz com quatro quadrantes. O eixo horizontal corresponde

    participao de mercado relativa ao principal concorrente, sendo uma maneira de caracterizar

    a fora da empresa naquele negcio. Se for o caso do negcio ou produto ser o lder de

    mercado, o valor calculado pela diviso de sua participao pela do segundo colocado,

    resultando em uma quantia maior do que 1. Para o caso em que o negcio no lder, dividi-

    se a participao do negcio analisado pela participao do lder de mercado, resultando

    assim sempre em valores menores do que 1. O eixo vertical indica o crescimento percentual

    no ano mais recente ou a atratividade do mercado para o negcio e os crculos representam

    cada negcio ou produto, com a rea das circunferncias proporcionais s vendas totais de

    cada unidade.

    2.3.1 Adaptao do Modelo

    Para o estudo desenvolvido neste trabalho, o modelo descrito no item anterior sofrer

    algumas adaptaes, com o intuito de melhor analisar a interao existente entre as diversas

    culturas agrcolas concorrentes da soja em cada estado.

    A nova estrutura do modelo ser definida como a seguinte (Grfico 2).

  • 32

    -10.0

    0.0

    10.0

    20.0%

    0.00.20.40.60.81.01.2

    ? Mt

    Participao Relativa da rea (Ano Trmino)

    Crescimento Mdio Anual da rea(%, Ano Incio-Ano Trmino)

    ? Mt

    Cultura 3

    CulturaLder

    Cultura 2

    Cultura 4

    Cultura 5

    ProduoAno Trmino

    Grfico 2 - Matriz de Crescimento e Participao de Culturas Agrcolas (elaborado pelo autor)

    A anlise ser realizada em um grfico linear, onde as variveis plotadas so as

    diversas culturas que concorrem com a soja por rea agricultvel em cada estado, ilustradas

    no Grfico 2 como Cultura Lder, Cultura 2, Cultura 3, etc.

    O eixo vertical o crescimento mdio anual da rea plantada da cultura em questo,

    cujo perodo determinado segundo escopo de anlise relevante, e no qual os valores de

    crescimento variam normalmente entre -10% a +20% anual.

    O eixo horizontal a participao relativa em rea plantada da cultura analisada, com

    a pequena diferena de que o clculo da participao da cultura lder (a que possui maior rea

    plantada dentre as culturas concorrentes no estado) no mais ser referenciado segunda

    cultura com maior participao, mas seguir a mesma metodologia de clculo das demais

    culturas (rea plantada da cultura, dividida pela rea da cultura lder), resultando

    conseqentemente em um indicador com valor 1 sempre.

    O tamanho de cada bolha proporcional produo da cultura no ano de trmino da

    anlise. Com a referncia de tamanho estipulada no canto inferior direito do grfico, em

    milhes de toneladas (Mt).

    A linha horizontal contnua faz referncia cultura lder e sua taxa de crescimento,

    variando para cada estado. A linha tracejada horizontal marca a referncia zero no

    crescimento de rea, sendo fixa na coordenada y = 0 para todas as anlises. As linhas verticais

    so tambm fixadas, nas referncias x = 1,0 (Cultura Lder) e x = 0,5.

  • 33

    Estas linhas determinam quatro tipos de reas especficas de anlise:

    Cinza escura: regio em que se encontram culturas que oferecem maior ameaa para a

    cultura lder em termos de expanso de rea agrcola, uma vez que crescem mais do

    que a lder e j possuem escalas bem prximas a mesma, significando real ameaa;

    Cinza clara: presente em duas reas, engloba culturas que oferecem alguma ameaa

    para a cultura lder ou porque possuem escala semelhante mas crescem a taxas

    inferiores, ou porque apesar de no possurem reas muito relevantes crescem a nveis

    superiores ao experimentado pela cultura lder;

    Branca: culturas que no representam ameaa por crescerem menos que a lder e por

    terem pouca quantidade de rea plantada no estado;

    Vermelha hachurada: culturas que vivenciam redues em suas reas, principalmente

    devido substituio por outras culturas.

    2.4 Curva de Experincia

    A curva de experincia uma ferramenta que relaciona a variao dos custos de

    produo de determinado bem, ou sua reduo ao longo do tempo, com a evoluo da

    produo do mesmo. Originalmente, as variveis utilizadas para anlise so o custo de

    produo unitrio no eixo vertical e sua produo acumulada no eixo horizontal (Figura 4).

    Utilizando um grfico bi-log pode-se visivelmente notar a correlao existente entre ambas

    variveis e tal relao possibilita projetar tendncias futuras para determinada tecnologia.

    Segundo Dyson (1942), os custos projetados pela curva podem ser obtidos atravs de

    uma simples relao exponencial negativa como:

    onde Co e Ct so os custos unitrios, corrigidos pela inflao, nos perodos 0 e t

    respectivamente. P0 e Pt so os volumes acumulados de produo nos mesmos perodos 0 e t.

    E a uma constante que reflete a elasticidade do custo unitrio do volume acumulado.

    A teoria da curva de experincia mostra que o custo decresce numa porcentagem fixa

    cada vez que a produo acumulada dobra em unidades. Por exemplo, uma curva de

    experincia de 85% significa que o custo unitrio do produto cai 15% cada vez que a

    produo acumulada do mesmo dobra.

    a

    t PPCC

    =

    0

    10

  • 34

    Produo Acumulada

    Cust

    o U

    nitr

    io

    Produo Acumulada (Log)Cust

    o U

    nitrio (

    Log)

    Produo Acumulada

    Cust

    o U

    nitr

    io

    Produo Acumulada

    Cust

    o U

    nitr

    io

    Produo Acumulada (Log)Cust

    o U

    nitrio (

    Log)

    Produo Acumulada (Log)Cust

    o U

    nitrio (

    Log)

    Figura 4 - Exemplo de Curva de Experincia (Fonte: Sallenave, 1985)

    2.4.1 Aplicabilidade

    uma tcnica bastante utilizada e de validade comprovada. Schaeffer (2004), que

    comparou projees feitas com a curva de experincia, projees realizadas por engenheiros

    da rea e valores reais obtidos para o preo de um mdulo foto-voltaico de energia solar,

    mostrou que, para uma amostragem considervel de dados histricos, as projees com a

    curva de experincia chegaram melhores resultados do que as realizadas por especialistas da

    rea.

    Essa variao no valor dos custos de produo pode ser explicada em grande parte, ou

    85% segundo Hollander (1965), pela combinao de aprendizado ao fazer e avanos

    tecnolgicos, sendo os outros 15% relativos aos ganhos de escala.

    Outro fator fundamental na utilizao das curvas de experincia, como ferramenta de

    projeo, o de que se trate de um produto padronizado e igual para todos os produtores,

    alm dos mesmos terem acesso e utilizarem a mesma tecnologia (Sallenave, 1985).

    Assim, para este Trabalho de Formatura, visto que os mesmos fatores citados acima

    tambm esto presentes no setor a ser estudado, a ferramenta foi utilizada para projetar os

    incrementos na produtividade agrcola da soja, expressa em toneladas por hectare, de acordo

    com a evoluo acumulada de sua produo.

    Esta ferramenta j foi utilizada para a projeo de produtividade de outras culturas

    agrcolas, mostrando-se aplicvel para o caso da soja no Brasil e, alm disso, no caso do gro

  • 35

    nos Estados Unidos, obtemos um fator de R bastante significativo de 92%, ilustrado no

    Grfico 3 abaixo.

    0.5

    1

    2

    3

    1 2 5 10 20 50 100 200 500 1,0002,000 5,000

    Produo Acumulada de Soja nos EUA(milhes de toneladas)

    Produtividade Agrcola(toneladas por hectare)

    20082004

    20031999

    1993

    1992

    19881984

    1981

    1979

    1976

    1974

    1972

    19681967

    1964

    1958

    1956

    1953

    19501949

    1947

    1946

    19451944

    1936

    1935

    19331932

    1931

    1930

    1928

    1925

    1924

    1994

    1941

    1940

    19391938

    1937

    Intercept = -0.12

    # of Objs. = 85R = 0,92

    Slope = 111%

    Grfico 3 - Curva de Experincia da Soja nos EUA (elaborado pelo autor)

    2.5 ARIMA

    A abordagem ARIMA, tambm conhecida como Box-Jenkins (1970), uma

    metodologia que ajusta modelos auto-regressivos integrados de mdia mvel a uma srie

    histrica de dados, com o intuito de, ao final, gerar projees para os prximos perodos de

    anlise.

    Esta metodologia pode ser analisada separando-a em trs partes:

    AR que significa auto-regressivo;

    I que significa integrado;

    MA que significa mdia mvel (em ingls, Moving Average).

    Trata-se de um modelo bastante potente e complexo e que, ao mesmo tempo, flexvel,

    j que pode ser moldado de acordo com o comportamento das diversas sries analisadas,

    atravs da definio dos trs parmetros de clculo para as trs partes do modelo. Neste caso,

    trata-se da configurao mais simples do modelo, onde as variveis relacionadas

    sazonalidade da curva no so utilizadas.

  • 36

    2.5.1 Srie Estacionria

    Para que se possa aplicar o modelo de Box-Jenkins a uma srie histrica, preciso que

    a mesma possua uma caracterstica peculiar ou, mais especificamente, preciso que a srie

    possua um comportamento estacionrio ao longo do tempo.

    O processo estacionrio aquele caracterizado pela no tendncia de crescimento ou

    decrscimo de uma srie de dados ao longo do tempo. uma srie que varia em torno de um

    mesmo valor para todos os perodos.

    Como o caso de grande parte das sries de dados se enquadrarem como possuindo uma

    tendncia de variao, desvalidando a hiptese de um comportamento estacionrio, preciso

    ajustar tais dados para que o modelo possa ser utilizado.

    Para isto, utiliza-se a segunda das trs partes da anlise, ou a letra I do modelo ARIMA.

    Para casos nos quais existem tendncias, diferenciamos uma vez a srie para que a mesma

    passe para um comportamento estacionrio.

    A diferenciao ocorre atravs do clculo das diferenas de valores consecutivos da

    srie histrica. Assim, ao final, teremos um valor a menos na quantidade de valores original

    da srie. Hoff (1983) exemplifica este clculo diferenciando uma simples srie crescente

    (Tabela 1).

  • 37

    Tabela 1 - Exemplo de Clculo de Diferenciao (Fonte: Hoff, 1983)

    1011310

    n = 9n = 10

    101039

    10938

    10837

    10736

    10635

    10534

    10433

    10332

    -231

    Srie Diferenciada

    Srie OriginalPerodo

    1011310

    n = 9n = 10

    101039

    10938

    10837

    10736

    10635

    10534

    10433

    10332

    -231

    Srie Diferenciada

    Srie OriginalPerodo

    2.5.2 Modelos Auto-Regressivos (AR)

    Para entender como os parmetros auto-regressivos funcionam, pode-se considerar um

    modelo que contenha apenas um parmetro AR. Este modelo escrito da seguinte maneira:

    no qual Xt uma srie estacionria e o termo A1Xt-1 representa o ajuste do valor da srie Xt,

    sendo A1 chamado de parmetro AR de ordem 1 e o termo Et representa um erro aleatrio

    assumido no perodo t. Assim, qualquer valor Xt proporcional ao seu valor anterior Xt-1

    acrescido de um erro Et.

    Existe tambm a possibilidade de aumentar o nmero de parmetros AR do modelo, se

    a srie estiver relacionada com mais de um valor passado. Por exemplo, um modelo auto-

    regressivo com dois parmetros AR escrito da seguinte maneira:

    no qual A2 o parmetro AR de ordem 2. Neste exemplo, o valor Xt relacionado

    combinao dos dois ltimos valores da srie mais um erro aleatrio.

    Se estendermos o mesmo raciocnio, chegamos a um modelo auto-regressivo geral com

    p parmetros AR:

    ttt EXAX += 11

    tttt EXAXAX ++= 2211

  • 38

    no qual A1, A2, ..., Ap so os parmetros AR. Os ndices subscritos nos As so chamados de

    ordens dos parmetros. A ordem p definida como sendo a ordem do modelo. Nessa forma de

    representao, qualquer valor da srie pode ser expresso como uma combinao de p valores

    passados mais um erro Et.

    2.5.3 Modelos de Mdia Mvel (MA)

    Os modelos de mdia mvel possuem uma estrutura semelhante aos modelos de auto-

    regresso, porm, diferem significativamente em um ponto. Ao invs de relacionarem o valor

    Xt aos seus valores precedentes, os modelos MA relacionam o valor Xt com os valores

    precedentes dos erros passados, assim, pode-se definir um modelo Box-Jenkins com um nico

    parmetro MA como:

    no qual o termo B1Et-1 representa o ajuste ao valor Xt da srie, sendo B1 chamado de

    parmetro MA de ordem 1 (o uso do sinal negativo simples conveno e no tem nenhum

    outro significado).

    Assim, os modelos de mdia mvel simplesmente dizem que qualquer valor Xt na srie

    proporcional somente ao erro aleatrio Et-1 do perodo anterior mais um erro aleatrio Et.

    Como os modelos AR, os modelos MA podem ser estendidos para incluir q

    parmetros como ilustrado abaixo:

    no qual B1, B2, ..., Bq so os parmetros MA de ordem 1, 2, ..., q, respectivamente. A maior

    ordem q definida como a ordem do modelo. Nesse formato generalizado de modelo de

    mdia mvel, qualquer valor Xt expresso como a combinao dos q erros passados mais um

    erro aleatrio Et.

    2.5.4 Modelos Mistos (ARMA)

    Pode-se tambm combinar ambos os modelos, utilizando tanto parmetros auto-

    regressivos (AR) como parmetros de mdia mvel (MA). Estes modelos combinados so

    tambm chamados de modelos ARMA e podem ser expressos da seguinte maneira:

    tptpttt EXAXAXAX ++++= ...2211

    tqtqttt EEBEBEBX += ...2211

    ttt EEBX += 11

    tqtqttptpttt EEBEBEBXAXAXAX +++++++= )...()...( 22112211

  • 39

    A ordem do modelo ARMA expressa em termos de ambos os parmetros p e q.

    2.5.5 Auto-Correlao (AC)

    A auto-correlao uma medida estatstica que indica como uma srie se relaciona

    consigo mesma no decorrer do tempo. Mais especificamente, a medida de como os valores

    desta srie, separados por um nmero especfico de perodos, esto correlacionados entre si. O

    nmero de perodos de distncia entre esses valores chamado de lag. Assim, a auto-

    correlao para um lag de 1 a medida de como valores sucessivos esto correlacionados

    entre si ao longo da srie.

    Por exemplo, se forem tomados os valores que excedem a mdia em uma srie e os

    mesmos estiverem espaados a cada n perodos, ento se obtm uma auto-correlao positiva

    de lag n para aquela srie. Por outro lado, se estes valores acima da mdia estiverem

    separados de valores mnimos a cada n perodos, ento se obtm uma auto-correlao

    negativa de lag n. Se h inconsistncia ou aleatoriedade com os valores da srie depois de n

    perodos, ento haver uma auto-correlao praticamente nula para o lag n.

    2.5.6 Auto-Correlao Parcial (PAC)

    A auto-correlao parcial tambm uma medida estatstica, cuja utilizao se d em

    conjunto com a auto-correlao para a determinao dos parmetros dos modelos ARIMA. A

    anlise do comportamento e disposio dos dados de ambas as curvas auxilia na busca pelos

    parmetros a serem utilizados em cada uma das trs partes da modelagem Box-Jenkins. As

    PACs so bastante teis quando os padres de comportamento nas ACs no esto muito

    claros, e assim como as auto-correlaes, os valores das auto-correlaes parciais tambm

    variam de -1 a 1.

    2.5.7 Relevncia da AC e da PAC nos Modelos ARIMA

    Para Hoff (1983), um bom modelo ARIMA caracterizado pela correta definio de

    seus parmetros. Para isto, analisam-se as curvas de auto-correlao (AC) e auto-correlao

    parcial (PAC) da srie de dados a ser modelada. O intuito final buscar por padres de

    comportamento nestas duas curvas, que possam ser traduzidos em parmetros para as trs

    partes do modelo: auto-regressivo, integrado e de mdia mvel. A seguir, so exibidas

    exemplificaes de ambas as curvas plotadas em um correlograma.

  • 40

    24222018161412108642

    1,0

    0,8

    0,6

    0,4

    0,2

    0,0

    -0,2

    -0,4

    -0,6

    -0,8

    -1,0

    Lag

    Aut

    ocor

    rela

    tion

    Grfico 4 - Correlograma de Auto-Correlao (AC)

    (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab)

    24222018161412108642

    1,0

    0,8

    0,6

    0,4

    0,2

    0,0

    -0,2

    -0,4

    -0,6

    -0,8

    -1,0

    Lag

    Part

    ialA

    utoc

    orre

    lati

    on

    Grfico 5 - Correlograma de Auto-Correlao Parcial (PAC)

    (elaborado pelo autor com auxlio do software Minitab)

  • 41

    3. ANLISE SETORIAL DA SOJA

    Para mapear o complexo da soja no Brasil, ser utilizada inicialmente uma abordagem

    de estudos mais ampla, comentando sobre a situao do setor mundial para, em seguida,

    aprofundarmos em nvel nacional, com a finalidade de chegar s anlises para cada estado

    produtor contido no escopo do estudo.

    3.1 Soja no Mundo

    No caso da soja, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos

    (USDA), as expectativas para o seu complexo, o que engloba o gro, o farelo e o leo de soja,

    so bastante favorveis para os prximos anos.

    O comrcio mundial do gro e de seus derivados cresceu rapidamente desde os

    primeiros anos da dcada de 1990 e ultrapassou no somente o trigo, o lder tradicional no

    comrcio agrcola, mas tambm o grupo de gros constitudo por: milho, cevada, aveia, sorgo,

    etc. e impulsionada pela demanda por leo vegetal e protena, principalmente pela China,

    esperado que a soja e seu complexo sustentem esta posio de liderana no comrcio mundial

    pela prxima dcada.

    No ano de 2008, foram produzidas 221 milhes de toneladas de soja no mundo. Deste

    total, 82% esto concentrados nas mos dos trs maiores produtores: EUA (73 milhes),

    Brasil (61 milhes) e Argentina (47 milhes).

    um setor bastante concentrado, no qual nosso pas possui lugar de destaque, porque

    apesar de figurar como segundo colocado na produo do gro, em alguns anos, ultrapassar

    os Estados Unidos, maior produtor mundial da soja.

  • 42

    0

    15

    30

    45

    60

    75

    90

    Milhes de toneladas

    ndia

    Argentina

    EUA

    Brasil

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    China

    7.3%

    0.1%

    10.3%

    -0.7%7.5%

    Cresc. Anual(00-08, %)

    Grfico 6 - Cinco Maiores Pases Produtores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA)

    Pelo crescimento mdio anual da produo para cada pas, exibido na parte direita do

    grfico, pode-se notar as tendncias de crescimento de Brasil e Argentina (7,3% e 10,3%

    respectivamente), enquanto que nos EUA j h uma estabilizao deste ritmo (0,1% de

    crescimento mdio anual entre o ano de 2000 a 2008).

    Estas taxas de crescimento no devem se alterar tanto, j que no Brasil e Argentina

    ainda existem muitas reas no exploradas para o cultivo da soja, o que impulsiona a sua

    produo. Enquanto que nos EUA no existem mais regies para expanso agrcola e onde

    tambm o milho tem ganhado participao em rea em detrimento da soja, visto a nova

    poltica de biocombustveis adotada pelo pas. Portanto, os EUA dependem quase que

    exclusivamente do desenvolvimento tecnolgico para incrementar sua produo.

    No caso das exportaes, assim como na produo, o cenrio se mantm inalterado,

    com os mesmo trs pases como lderes neste mercado, porm com uma diferena um pouco

    menor entre os valores comercializados pelos EUA e pelo Brasil (vide Grfico 7). Pode-se

    tambm notar o peso que a Amrica do Sul possui neste mercado, com Brasil, Argentina e

    Paraguai exportando 44 das 79 milhes de toneladas.

  • 43

    0

    10

    20

    30

    40

    Milhes de toneladas

    Canad

    Paraguai

    Argentina

    Brasil

    EUA

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    2.2%

    10.9%

    16.0%

    12.2%

    8.1%

    Cresc. Anual(00-08, %)

    Grfico 7 - Cinco Maiores Pases Exportadores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA)

    Como j esperado no caso das importaes, a outra ponta do comrcio mundial, a

    China tem destaque absoluto. Enquanto a Unio Europia (EU-27) e o Japo, respectivamente

    segundo e terceiro maiores importadores do gro, vm apresentando desde o ano 2000 uma

    diminuio nestes valores, a China cresce a significativos 17,4% a cada ano, atingindo no ano

    de 2008 um valor de 36,5 milhes de toneladas (vide Grfico 8).

    0

    10

    20

    30

    40

    Milhes de toneladas

    Japo

    UE-27

    China

    2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

    17.4%

    0.8%

    -2.4%

    Cresc. Anual(00-08, %)

    Grfico 8 - Trs Maiores Pases Importadores de Soja no Mundo (elaborado pelo autor, fonte: USDA)

  • 44

    3.2 Soja no Brasil

    De acordo com a Secretaria de Comrcio Exterior (SECEX), de Janeiro a Setembro de

    2008 o Brasil exportou US$ 150,9 bilhes, superando em 29% as exportaes do mesmo

    perodo para 2007.

    Dentre este total, o complexo da soja, que inclui o gro, o farelo e o leo de soja,

    respondeu por US$ 15,3 bilhes, ou 10,1% do total exportado pelo pas. A soja e seus

    derivados ficam atrs somente do petrleo e seus derivados (US$ 17,6 bilhes / 11,7%) e do

    setor de materiais de transporte e componentes (US$ 20,0 bilhes / 13,3%), que inclui

    automveis, autopeas, avies, etc.

    um dos setores mais importantes para a economia do pas, contribuindo para o saldo

    positivo da balana comercial brasileira e por isso merece destaque.

    Possui uma dinmica complexa e que envolve algumas etapas em seu processo.

    Assim, com o intuito de ilustrar o funcionamento deste setor, utilizaremos um diagrama de

    como as diversas partes do processo interagem entre si e contribuem para o funcionamento do

    Sistema Agroindustrial (SAG) da soja.

    De acordo com Lazzarini e Nunes (1998), o SAG da soja no Brasil pode ser

    esquematizado de acordo com a Figura 5 abaixo. Sendo as caixas os segmentos do SAG e as

    setas as transaes realizadas (T1, T2, etc.).

    Figura 5 - Delimitao do Sistema Agroindustrial (SAG) da Soja no Brasil (Fonte: Lazzarini e Nunes, 1998)

  • 45

    O processo inicia-se com a Indstria de Insumos, responsvel pelo fornecimento,

    dentre outros, de sementes, fertilizantes, defensivos e mquinas, sendo comercializada aos

    Originadores por meio da sua Produo, que representa o segmento agrcola propriamente

    dito.

    J os Originadores so as empresas que adquirem a matrias-prima, no caso a soja,

    com os produtores rurais, a armazena e a distribui, atravs de cooperativas, corretoras,

    armazenadores e tradings, sendo estes ltimos responsveis pela coordenao da transferncia

    fsica dos produtos no mercado internacional, apesar de tambm existirem cooperativas que

    possuem departamentos internos que fazem este processo. As corretoras e armazenadoras

    atuam fundamentalmente como prestadoras de servios para indstrias esmagadoras e

    tambm para tradings, na formao de lotes de matria-prima para venda.

    A Indstria Esmagadora e Refinadora gera o farelo e o leo de soja, integrando-se, na

    maior parte dos casos, com os processos descritos acima. As esmagadoras processam o gro,

    gerando, em mdia, para cada tonelada de soja, 780 kg de farelo e 190 kg de leo. O farelo

    dedicado para a exportao e, internamente, para a indstria de raes, carnes e,

    eventualmente, para a indstria processadora de soja. O leo segue o processo de

    esmagamento, degomagem e refino, sendo que o produto processado destinado Indstria

    de Derivados de leo, representada pelos mercados internos alimentcio, qumico,

    farmacutico e de produo de Biodiesel, dentre outros.

    Por fim, os Distribuidores representam os segmentos atacadistas e varejistas, comuns

    a muitos outros SAGs, e os Consumidores Finais, os prprios consumidores dos derivados, os

    compradores industriais nas vendas externas de tradings e indstrias processadoras.

    Depois de compreendida a estrutura bsica do SAG da soja, prossegue o mapeamento

    do complexo da soja no pas, no qual ser utilizada a metodologia desenvolvida por Porter

    (1993) em seu Diamante Nacional. Deste modo, sero utilizadas as 6 perspectivas definidas

    por seus parmetros: condies de fatores; condies de demanda; indstrias correlatas e de

    apoio; estratgia, estrutura e rivalidade das empresas; o papel do acaso; e o papel do governo.

    3.2.1 Condies de Fatores

    Em termos de recursos fsicos, o Brasil o pas que oferece o maior potencial

    geogrfico para a expanso agrcola. Segundo o rgo de Agricultura e Alimentao das

    Naes Unidas (FAO), o Brasil detm aproximadamente 550 milhes de hectares que podem

    ser aproveitados para a agricultura. Desse montante, apenas 4% utilizado, restando 495

  • 46

    milhes a serem explorados, o que representa 35% do estoque de terras disponveis no

    globo para a explorao da agricultura.

    Em termos de conhecimento, apesar de consideravelmente atrs dos Estados Unidos,

    o pas se encontra na vanguarda da tecnologia de produo dessa oleaginosa nas regies

    tropicais. A abundncia de mo-de-obra barata tambm vista como um dos fatores

    diferenciais da regio em relao s outras naes.

    Os mecanismos de financiamento da produo tem se desenvolvido, o que antes era

    negociado atravs dos chamados contratos de soja verde, nos quais uma trading fornecia

    recursos ou insumos antes do plantio, em troca do compromisso do produtor de entregar

    determinada quantidade de soja na poca da colheita, passou a ser negociado atravs das

    cdulas de produto rural (CPR) que ser mais bem detalhada na parte de estratgia das

    empresas.

    Em contrapartida, as ineficincias existentes na infra-estrutura logstica e de

    armazenamento so fatores que reduzem bruscamente o potencial competitivo na insero dos

    derivados da soja nos mercados externos, em especial para a produo oriunda de zonas mais

    afastadas dos portos para exportao do gro, como o caso da regio centro-oeste do pas.

    3.2.2 Condies de Demanda

    Em se tratando das condies de demanda interna, atualmente as exportaes do gro

    so mais atrativas do que o seu processamento, em virtude de alguns pontos, como: a

    desonerao do Imposto sobre Circulao de Mercadorias e Servios (ICMS) sobre a

    exportao de matrias primas, a ineficincia de processadoras nacionais e as polticas

    protecionistas de pases desenvolvidos, que privilegiam a importao de matrias primas em

    detrimento de produtos j processados.

    Segundo a FAPRI, o esmagamento de soja no Brasil, durante o perodo de 2000 a

    2008, cresceu anualmente 4,4%, passando de um patamar de 21,1 milhes de toneladas em

    2000 para 29,7 Mt em 2008 (vide Grfico 9).

  • 47

    0.0

    20.0

    40.0

    60.0

    Milhes de Toneladas

    00

    Esm

    agam

    ento

    Expo

    rta

    o

    31.5

    01

    Esm

    aga

    men

    toEx

    port

    ao

    37.5

    02

    Esm

    agam

    ento

    Exp

    orta

    o

    38.1

    03Esm

    agam

    ento

    Exp

    orta

    o

    45.5

    04

    Esm

    agam

    ento

    Exp

    orta

    o

    49.4

    05

    Esm

    agam

    ento

    Exp

    ort

    ao

    48.9

    06

    Esm

    agam

    ento

    Exp

    ort

    ao

    54.1

    07

    Esm

    agam

    ento

    Exp

    ort

    ao

    54.1

    08

    Esm

    aga

    men

    toExp

    orta

    o

    59.3

    4.4%

    13.9%

    Grfico 9 - Evoluo do Esmagamento e Exportao da Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)

    No caso do farelo, existe um equilbrio maior entre os crescimentos mdios anuais do

    consumo interno e de suas exportaes. Durante o mesmo intervalo de tempo, o consumo

    interno partiu de 7,1 Mt para 11,2 Mt, resultando em um crescimento mdio de 5,9% (vide

    Grfico 10). Este equilbrio existente entre a quantidade exportada e a quantidade consumida

    de farelo se deve principalmente pelo fato do mesmo servir como rao para o setor de sunos

    e aves, o que o torna atrativo para consumo local. Portanto, o futuro do consumo de farelo da

    soja no pas est amplamente vinculado ao bom desempenho destes setores.

  • 48

    0.0

    10.0

    20.0

    30.0

    Milhes de Toneladas

    00

    Exp

    ort

    ao

    Con

    sum

    o

    16.9

    01

    Exp

    orta

    o

    Con

    sum

    o17.6

    02

    Exp

    ort

    ao

    Consu

    mo

    19.1

    03

    Exp

    orta

    o

    Con

    sum

    o

    21.4

    04Exp

    orta

    o

    Cons

    um

    o

    22.2

    05

    Exp

    ort

    ao

    Cons

    um

    o

    22.9

    06

    Exp

    orta

    o

    Con

    sum

    o

    22.3

    07

    Exp

    ort

    ao

    Con

    sum

    o

    23.4

    08

    Exp

    ort

    ao

    Con

    sum

    o

    23.0

    5.9%

    2.3%

    Grfico 10 - Evoluo do Consumo e Exportao do Farelo de Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)

    Para o leo obtido do gro, o consumo pode ser dividido em duas variveis, uma o

    consumo voltado para a indstria alimentcia, que se manteve constante ao longo dos anos,

    totalizando um valor de 2,9 Mt em 2008, e o outro o leo utilizado para a produo de

    biodiesel, que em 2006 era de 41 mil toneladas, chegando a 617 Kt em 2008 (vide Grfico

    11). Se ambas variveis fossem analisadas conjuntamente, chegaramos a um crescimento

    mdio anual de 2,4%. No caso das exportaes de leo, de 2000 a 2003 observa-se um forte

    crescimento de 33% anual, enquanto que de 2003 a 2008 os valores se mantm constantes,

    alcanando um valor de 2,3 Mt exportados em 2008.

  • 49

    0.0

    2.0

    4.0

    6.0

    Milhes de Toneladas

    00

    Cons

    um

    oExp

    ort

    ao

    3.9

    01

    Cons

    um

    oExp

    orta

    o

    4.4

    02

    Con

    sum

    oExp

    orta

    o

    4.6

    03Con

    sum

    oExp

    orta

    o

    5.2

    04

    Cons

    um

    oExp

    orta

    o

    5.6

    05

    Con

    sum

    oEx

    por

    ta

    o

    5.4

    06

    Con

    sum

    oExp

    orta

    o

    5.4

    07

    Con

    sum

    o

    Biodiesel

    Exp

    ort

    ao

    5.8

    08

    Con

    sum

    o

    Biodiesel

    Exp

    orta

    o

    5.8

    -0.1%

    289.0%

    10.9%

    Grfico 11 - Evoluo do Consumo e Exportao do leo de Soja (elaborado pelo autor, dados: FAPRI)

    Todos os 3 produtos, tanto a soja em gros, como o farelo e o leo, possuem nveis de

    internacionalizao elevados, ou seja, a porcentagem da produo voltada ao mercado externo

    bastante alta. Em 2008, atingiram respectivamente 49%, 51% e 40%, o que exige que a soja

    brasileira e seus derivados atendam aos requisitos mnimos estipulados pela demanda

    mundial.

    Visto o crescimento vivenciado pelas exportaes do gro nos ltimos anos em

    detrimento do consumo interno, a no ser que haja uma significativa mudana na tributao

    brasileira, a situao competitiva indica que o pas assumir uma posio de fornecedor de

    matria-prima para a indstria processadora de soja mundial, comprometendo at mesmo a

    expanso e desenvolvimento da infra-estrutura de processamento local.

    3.2.3 Indstrias Correlatas e de Apoio

    Seguindo para a anlise das indstrias correlatas, a de maior importncia dentro do

    cenrio da soja de fato a indstria de fertilizantes, que alm de servir como um insumo para

    o processo produtivo serve de financiamento para a produo. As empresas que fabricam os

    fertilizantes os fornecem aos produtores em troca de uma quantidade de soja no perodo de

    colheita. Este mecanismo um importante driver na capacidade de originao do gro que

    uma empresa possui j que resolve o problema de escassez de financiamento para os

    produtores. Segundo pesquisa realizada pela HSM Management (2005), todas as cinco

    empresas nacionais entrevistadas frisaram a importncia que o mecanismo de financiamento

  • 50

    com a utilizao de fertilizantes tem sobre o poder de originao de uma empresa. por este

    motivo e outros mais, que as grandes tradings de soja atuantes hoje no pas tambm

    comercializam o insumo agrcola.

    3.2.4 Estratgia, Estrutura e Rivalidade das Empresas

    A participao destas tradings multinacionais na coordenao das atividades um dos

    motivos que evidenciam a competitividade brasileira nas exportaes do complexo da soja.

    Um mecanismo integrado de financiamento, processamento e escoamento da produo,

    coordenado por estas empresas, garante o bom funcionamento da cadeia. Apesar da influncia

    que os mesmos exercem na dinmica nacional, no se observa uma ao conjunta entre eles

    para alavancar as vendas dos produtos brasileiros no exterior.

    Este financiamento da produo j passou por algumas etapas at os dias atuais. No

    incio da utilizao dos mesmos, os acordos eram firmados atravs dos contratos de soja

    verde, mas devido ao pouco comprometimento com a ferramenta por parte dos produtores,

    que rompiam os acordos quando os preos da soja disparavam, desenvolveram as chamadas

    cdulas de produto rural (CPR) em 1994. Neste novo procedimento so fixadas garantias

    CPR, realizadas atravs de uma instituio bancria ou seguradora. De posse da CPR

    aprovada, o emissor pode negoci-la no mercado. Todos os dados da CPR so registrados

    pelo Sistema de Custdia de Ttulos do Agronegcio, reconhecido pelo Banco Central do

    Brasil.

    3.2.5 O Papel do Acaso

    A escassez de crdito, que vivenciamos atualmente com a crise financeira mundial,

    ser transmitida tambm ao agronegcio. Alguns bancos internacionais j cancelaram crditos

    j aprovados para grandes produtores e exportadores. As tradings, empresas que financiam a

    atividade agrcola, tambm tiveram seu crdito reduzido em funo dos preos do gro no

    mercado futuro.

    No Brasil, o governo federal j tomou medidas para amenizar estes impactos,

    anunciando reforo de 5 bilhes de reais nas linhas de crdito para a agricultura (Portal

    Exame, 2008).

  • 51

    3.2.6 O Papel do Governo

    Prosseguindo para o papel do governo no setor, pode-se destacar sua influncia nas

    exportaes atravs da Lei Kandir. A mesma entrou em vigor em 13 de Setembro de 1996 e

    isenta o tributo do ICMS sobre produtos e servios destinados exportao. No caso da soja,

    ela se aplica somente aos gros da oleaginosa, deixando o farelo e o leo fora do escopo de

    atuao da lei por serem produtos processados. Assim, o que houve foi um incremento na

    exportao dos gros em detrimento dos outros derivados. Tomando os trs pases que mais

    exportam o gro no mercado mundial Estados Unidos, Brasil e Argentina e que

    representam 89% do volume total comercializado, se pode ver o claro aumento da

    participao brasileira a partir de 1996 (vide Grfico 12).

    0

    20

    40

    60

    80

    100%

    Milhes de Toneladas

    1995

    79%

    9%

    12%

    29.0

    1996

    81%

    7%

    12%

    28.7

    1997

    72%

    2%

    25%

    33.3

    1998

    67%

    8%

    25%

    35.3

    1999

    65%

    9%

    26%

    33.9

    2000

    64%

    10%

    27%

    41.8

    2001

    54%

    15%

    31%

    49.9

    2002

    59%

    12%

    29%

    49.4

    2003

    50%

    15%

    35%

    56.7

    2004

    47%

    13%

    40%

    51.3

    2005

    50%

    16%

    34%

    59.6

    2006

    44%

    12%

    44%

    58.7

    2007

    48%

    15%

    37%

    63.4

    BrasilArgentinaEUA

    Grfico 12 - Evoluo das Exportaes de Soja em Pases Selecionados (elaborado pelo autor, dados: USDA)

    Enquanto que as exportaes do farelo e do leo seguem a tendncia contrria ao do

    gro da soja (Grficos 13 e 14).

  • 52

    0

    20

    40

    60

    80

    100%

    Milhes de Toneladas

    1995

    27%

    28%

    45%

    23.3

    1996

    21%

    32%

    47%

    26.0