analise real

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1 NÚMEROS TRANSFINITOS?! Miguel Chaquiam * Pedro Franco de Sá ** RESUMO: Nosso objetivo neste trabalho é dar seqüência e aprofundamento ao artigo apresentado no IV Encontro Paraense de Educação Matemática – V EPAEM, intitulado “Qual dos conjuntos possui mais elementos: N, Z ou Q?”, além de dirimir algumas dúvidas apresentadas por alunos da graduação e alguns professores da educação básica sobre conjuntos infinitos, enumeráveis e não-enumeráveis e equipotência entre conjuntos. Discorremos sobre os conjuntos dos números naturais, inteiros e racionais, enfocando também, os intervalos. Apresentamos algumas definições e a demonstração de algumas proposições relativas a equipotência e enumerabilidade. Fazemos um breve histórico envolvendo o tema, apresentando ainda, questões relativas ao infinito potencial e infinito atual. Daremos continuidade ao tema, discutindo questões tipo 0 0 = 1, num próximo artigo que será apresentando no V EPAEM. A Matemática Grega teve seu desenvolvimento em diversos centros que se sucediam um aos outros, e cada obra era baseada na obra de seus antecessores. Em cada um desses centros, um grupo informal de matemáticos realizavam atividades sob o comando do considerado o mais sábio. Esses centros eram denominados de escolas que recebiam o nome de seu líder ou o nome do lugar onde funcionavam. A primeira dessas escolas foi a Jônica, seguida da escola Pitagórica, escola Eleática, escola Sofista, escola Platônica, escola de Eudoxo e a escola Aristotélica. A escola Jônica foi fundada por Tales de Mileto, considerado um dos setes sábios da antiguidade. Atribui-se a escola jônica, com ressalvas, a transformação da Matemática numa atividade abstrata e a apresentação de suas primeiras demonstrações. * Licenciado Pleno em Matemática pelo CESEP; Especialista em Matemática pela UNESPA; Mestre em Matemática Aplicada pela UFPA; Professor da UNAMA e UEPA e Coordenador do Curso de Licenciatura em Matemática da UNAMA. E-mail: [email protected] ** Licenciado Pleno em Matemática pela UFPA; Especialista em Matemática e Ensino de Ciência e Matemática pela UFPA; Mestre em Matemática pela UFPA; Doutor em Educação Matemática pela UFRN; Professor da UEPA e UNAMA e Coordenador do Curso de Licenciatura em Matemática da UEPA. E-mail: [email protected] 1

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Page 1: Analise Real

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NÚMEROS TRANSFINITOS?!

Miguel Chaquiam *

Pedro Franco de Sá **

RESUMO: Nosso objetivo neste trabalho é dar seqüência e aprofundamento ao artigo apresentado no

IV Encontro Paraense de Educação Matemática – V EPAEM, intitulado “Qual dos conjuntos possui

mais elementos: N, Z ou Q?”, além de dirimir algumas dúvidas apresentadas por alunos da graduação e

alguns professores da educação básica sobre conjuntos infinitos, enumeráveis e não-enumeráveis e

equipotência entre conjuntos. Discorremos sobre os conjuntos dos números naturais, inteiros e

racionais, enfocando também, os intervalos. Apresentamos algumas definições e a demonstração de

algumas proposições relativas a equipotência e enumerabilidade. Fazemos um breve histórico

envolvendo o tema, apresentando ainda, questões relativas ao infinito potencial e infinito atual.

Daremos continuidade ao tema, discutindo questões tipo 00 = 1, num próximo artigo que será

apresentando no V EPAEM.

A Matemática Grega teve seu desenvolvimento em diversos centros que se sucediam um aos

outros, e cada obra era baseada na obra de seus antecessores. Em cada um desses centros, um grupo

informal de matemáticos realizavam atividades sob o comando do considerado o mais sábio. Esses

centros eram denominados de escolas que recebiam o nome de seu líder ou o nome do lugar onde

funcionavam. A primeira dessas escolas foi a Jônica, seguida da escola Pitagórica, escola Eleática,

escola Sofista, escola Platônica, escola de Eudoxo e a escola Aristotélica.

A escola Jônica foi fundada por Tales de Mileto, considerado um dos setes sábios da

antiguidade. Atribui-se a escola jônica, com ressalvas, a transformação da Matemática numa atividade

abstrata e a apresentação de suas primeiras demonstrações.

* Licenciado Pleno em Matemática pelo CESEP; Especialista em Matemática pela UNESPA; Mestre em Matemática

Aplicada pela UFPA; Professor da UNAMA e UEPA e Coordenador do Curso de Licenciatura em Matemática da

UNAMA. E-mail: [email protected]

** Licenciado Pleno em Matemática pela UFPA; Especialista em Matemática e Ensino de Ciência e Matemática pela

UFPA;

Mestre em Matemática pela UFPA; Doutor em Educação Matemática pela UFRN; Professor da UEPA e UNAMA e

Coordenador do Curso de Licenciatura em Matemática da UEPA. E-mail: [email protected]

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Page 2: Analise Real

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A escola Pitagórica que funcionou na cidade de Crotona, liderada por Pitágoras, atribui-se o

reconhecimento de que a matemática trabalha com abstrações, assim como, a demonstração do

teorema conhecido como teorema de Pitágoras e a descoberta da existência dos números irracionais,

provocando a crise que determinou o fim da escola. A escola Pitagórica admitia que o espaço e o

tempo podiam ser pensados como sendo constituídos de pontos e instantes.

A escola Eleática funcionou na cidade de Eléia e foi liderada por Xenófanes, Zenão e

Parmênides. Nessa época havia a contagem dos elementos discretos, separados e indivisíveis e a

medida das quantidades contínuas, infinitamente divisíveis. O descobrimento das razões

incomensuráveis pelos pitagóricos trouxe à cena uma dificuldade de como estabelecer uma relação

entre o discreto e o contínuo. O problema da relação entre o discreto e o contínuo foi colocado em

evidência por Zenão, através de seus famosos paradoxos. Um desses paradoxos é o de Aquiles e a

tartaruga: A tartaruga está num ponto B e Aquiles está no ponto A antes de B. Aquiles nunca alcançará

a tartaruga, pois no momento em que Aquiles chegar no ponto B, a tartaruga estará num ponto C

adiante de B, e quando Aquiles chegar em C, a tartaruga estará num ponto D adiante de C, e assim por

diante ad infinitum. Portanto, a tartaruga estará sempre a frente de Aquiles.

Zenão mostrou por meio do paradoxo de Aquiles e a tartaruga que ao se admitir que o espaço e

o tempo são infinitamente divisíveis então somos levados a concluir que o movimento não existe.

Como o movimento é possível, pois Aquiles consegue alcançar a tartaruga e até ultrapassá-la, então o

espaço e o tempo não são infinitamente divisíveis.

Com outro paradoxo, o do estádio (BOYER, 1974), Zenão mostrou que não é possível se

escolher uma unidade de tempo mínima que seja a mais adequada, pois sempre é possível apresentar-

se outra. Os paradoxos de Zenão tanto a posição que admite a possibilidade de uma grandeza ser

subdividida indefinidamente quanto a que admite uma grandeza como sendo formada por um número

muito grande de partes indivisíveis, foram colocadas em dúvida, o que provocou grandes

preocupações e mudanças na matemática da época antiga.

Aristóteles abordou os paradoxos de Zenão com base no senso comum e fez uma distinção

entre Infinito Potencial e Infinito Atual, da seguinte maneira:

• Infinito Potencial: aquele que existe potencialmente sem ser nunca concretizado como

um objeto, como o caso dos números naturais, que são infinitos, pois sempre podemos adicionar mais

1, está relacionado ou corresponde aos processos que podem ser continuados eternamente.

• Infinito Atual: aquele que pode ser visto como um objeto acabado.

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Page 3: Analise Real

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Aristóteles defendia que só existia o infinito potencial e, além disso, afirmava que “na

realidade os matemáticos não precisam e nem usam o infinito. Eles apenas postulam que a linha

reta pode ser estendida como quiserem”.

O interesse pelo infinito iniciou na Grécia antiga, entretanto, foi com Galileu Galilei (1564,

1642) que tivemos a evidência de uma das propriedades mais intrigantes dos conjuntos infinitos: O

todo nem sempre é maior que as partes, contradizendo o enunciado de Euclides que, por volta de 300

a.C., nos seus Elementos afirmou: O todo é sempre maior que as partes. Na obra O Diálogo Referente

às Novas Ciências, publicada em 1636, Galileu mostrou que o conjunto dos números quadrados

perfeitos tinha a mesma quantidade que o conjunto dos números naturais, apesar do primeiro está

contido no segundo e que a linha mais longa não contém mais pontos que a linha mais curta. Cauchy

usou o resultado de Galileu para justificar a desconfiança que os matemáticos deveriam ter pelo

infinito.

Quase 200 anos depois do trabalho de Galileu, surgiu o um tratado do alemão Bernhard

Bolzano (1781 – 1848) intitulado Os Paradoxos do Infinito, que ficaram esquecidos, no entanto,

consta neste tratado o conceito de potência de um conjunto, definido a seguir:

Definição 1:

Dois conjuntos A e B tem a mesma potência se existir uma bijeção entre eles.

Será empregado a notação A ~ B para indicar que o conjunto A é equipotente ao conjunto B.

Com base na definição de potência de conjuntos é fácil mostrar que a relação de equipotência tem as

seguintes propriedades: i) Qualquer que seja o conjunto A, A ~ A (reflexividade); ii) Se A ~ B, então

B ~ A (simetria) e iii) Se A ~ B e B ~ C, então A ~ C (transitividade), isto é, a relação de

equipotência é uma relação de equivalência.

Além do conceito de potência, Bolzano mostrou que todos os intervalos fechados não reduzidos

a um ponto são equipotentes ao conjunto dos números reais, fato que abordaremos mais adiante. Numa

obra póstuma de 1851, afirma-se que uma propriedade característica de um conjunto infinito é que ele

poder ser equipotente a uma de suas partes próprias. Essa propriedade chegou a ser usada por outros

matemáticos como definição de conjunto infinito.

Em 1878, 58 anos após Os Paradoxos de Bolzano, George Cantor (1845 – 1918), matemático

alemão, que havia feito estudos sobres as séries trigonométricas e os números reais, também abordou

sistematicamente o conceito de potência de um conjunto, chegando a resultados surpreendentes.

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Page 4: Analise Real

4

Um grande obstáculo às idéias de Cantor foi a posição defendida por Carl Friedrich Gauss

(1777 – 1855), cujo infinito era apenas um símbolo para expressar que há limites de certas razões que

são tão próximas quanto outras e que outras podem crescer além de qualquer limite. Neste sentido, foi

necessário construir uma definição de conjunto infinito. Cantor fez a descoberta fundamental de que

há diversos tipos de infinito. Neste artigo iremos abordas três tipos de conjuntos: os finitos, os

enumeráveis e os não-enumeráveis. Apresentamos a seguir a definição de conjunto finito.

Definição 2:

Denominamos de In ao conjunto de números naturais desde 1 até n, isto é, In = {1, 2, 3, ... , n}.

Definição 3:

Diz-se que um conjunto A é finito quando ele for vazio ou equipotente a um In, para algum n ∈ N. No

primeiro caso, diremos que A possui zero elementos e, no segundo caso, A possui n elementos.

Definição 4:

Um conjunto A é infinito quando não for finito.

Um dos primeiros resultados obtidos por Cantor foi a eqüipotência entre o conjunto dos

números naturais e o conjunto dos números inteiros.

Definição 5:

Diz-se que um conjunto A é enumerável quando for finito ou quando for equipotente ao conjunto dos

números naturais.

Vejamos alguns exemplos de conjuntos enumeráveis.

Exemplo 1:

O conjunto dos números naturais pares é um conjunto enumerável.

De fato, a função f: N → {n ∈ N | n é par}, definida por f(n)= 2n é bijetora.

Exemplo 2:

O conjunto Z dos números relativos é um conjunto enumerável.

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Page 5: Analise Real

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De fato, a função f: N → Z, definida por ⎪⎩

⎪⎨

⎧ +−

=parénse,

2n

ímparénse,2

1n

)n(f é bijetora. Assim, podemos

afirmar que os conjuntos N e Z são equipotentes.

Vejamos agora alguns resultados sobre os conjuntos enumeráveis.

Proposição 1:

Todo subconjunto de um conjunto enumerável é enumerável.

Demonstração:

Se o subconjunto for finito, não o que demonstrar.

Seja B um subconjunto infinito de um conjunto enumerável A = {a1, a2, a3, ..., an, ...} e seja:

• n1 o menor índice tal que an1 ∈ B ;

• n2 o menor índice tal que an2 ∈ B - {an1}, com n2 > n1;

• n3 o menor índice tal que an3 ∈ B - {an1, an2}, com n3 > n2;

• ......................................................................

• nk o menor índice tal que ank ∈ B – {an1, an2, an3, ..., an(k-1)}, com nk > an(k-1) e k ∈ N.

Notemos que o elemento ak sempre vai existir, pois, o conjunto B é infinito e a diferença

B - {an1, an2, an3, ..., an(k-1)} ≠ ∅ , ∀ k ∈ N.

Assim, podemos afirmar que a função f: N → B, definida por f(k) = ank é bijetora.

Portanto, o conjunto B é enumerável.

Proposição 2:

Todo conjunto infinito possui um subconjunto enumerável.

Demonstração:

Se o subconjunto for finito, não o que demonstrar.

Seja A um conjunto infinito. Tomando a1 ∈ A, é válido afirmar que A - {a1} ≠ ∅, pois, A é infinito.

Escolhamos a2 ∈A - {a1}, por razões análogas as anteriores, A - {a1, a2} ≠ ∅ e a2 ≠ a1.

De um modo geral, encontramos os elementos a1, a2, a3, ... , an pertencentes ao conjunto A, todos

distintos, com A - { a1 ,a2,a3, ... ,an } ≠ ∅. Desta forma, podemos escolher um elemento a n + 1 em A

- { a1 ,a2,a3, ... , an }, distinto dos demais elementos escolhidos anteriormente.

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Page 6: Analise Real

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Desse modo, para cada n ∈ N fixamos an ∈ A, como esses elementos são todos distintos por

construção, o conjunto formado por a1, a2, a3,.... , an, ... é um subconjunto infinito enumerável de A.

Proposição 3:

A união de dois conjuntos enumeráveis é um conjunto enumerável.

Demonstração:

Sejam os conjuntos enumeráveis A = {a1, a2, a3, ..., an, ...} e B = {b1, b2, b3, ..., bn, ...}.

Como a função f: N → A ∪ B, dada por ⎪⎩

⎪⎨⎧

=+

parénse,b

ímparénse,a)n(f

2n

21n

é bijetora.

Portanto, o conjunto A ∪ B é enumerável.

Proposição 4:

A união de um conjunto finito com um conjunto enumerável é enumerável.

Demonstração:

Sejam A = {a1, a2, ... , ak} um conjunto finito e B = {b1, b2, ... , bk, ...} um conjunto enumerável.

Como a função f: N →A ∪ B, dada por é bijetora. ⎩⎨⎧

+≥≤≤

=− 1knse,b

kn1se,a)n(f

kn

n

Portanto, o conjunto A ∪ B é enumerável.

Proposição 5:

O conjunto N x N é enumerável.

Demonstração:

Seja a função f: N x N → N, definida por f(m, n) =2m. 3n, ∀ (m, n) ∈ N x N.

Se f(m, n) = f(p, q), então 2m. 3n = 2p. 3q, o que implica m = p e n = q pela unicidade da decomposição

em fatores primos. Logo, f é injetora. Como o domínio de toda função injetora é equipotente a sua

imagem, temos que N x N equipotente a f(N x N) ⊂ N. Sendo f(N x N) um subconjunto infinito do

conjunto enumerável N, pela Proposição 1 temos que f(N x N ) é enumerável, portanto, N x N é

enumerável.

Proposição 6:

Produto cartesiano de dois conjuntos enumeráveis é enumerável.

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Page 7: Analise Real

7

Demonstração:

Sejam A e B conjuntos enumeráveis. Logo existem as funções bijetoras f: N → A e g: N → B.

Definindo a função h:N x N → A x B, por h(m,n) = (f(m),g(n)), ∀ (m, n) ∈ N x N, é bijetora. Então,

A x B é equipotente a N x N. Pela Proposição 5, temos que N x N é enumerável.

Portanto, A x B é enumerável.

Proposição 7:

O conjunto dos números racionais é enumerável.

Demonstração:

Sabemos que o conjunto dos números inteiros Z e o conjunto dos números inteiros não nulos Z* são

enumeráveis, e pela Proposição 6, o conjunto Z x Z* é enumerável. Por outro lado, é fácil ver que a

função f: Q → Z x Z*, definida por f(nm ) = (m, n) é bijetora, fato que garante a equipotência entre os

conjuntos Q e Z x Z*. Portanto, Q é enumerável.

Além de mostrar que o conjunto dos números racionais Q é equipotente a N, Cantor mostrou

em 1874 que existem conjuntos infinitos que não são equipotentes ao conjunto dos números naturais,

como é o caso do conjunto dos números reais.

Retomando a questão da equipotência, demonstraremos a seguir que todos os intervalos

fechados não reduzidos a um ponto são equipotentes ao conjunto dos números reais.

Proposição 8:

O intervalo [0,1] é equipotente a qualquer intervalo [a,b] com a < b.

Demonstração:

Para mostrarmos que [0,1] é equipotente ao intervalo [a, b] é necessário exibirmos uma função bijetora

entre esses dois intervalos.

Consideremos a função f: [0,1] → [a,b], definida por f(x) = a + (b – a)x, para todo a, b ∈ R. Como a

função f é bijetora, então podemos afirmar que o intervalo [0,1] é equipotência entre qualquer intervalo

[a,b] com a < b.

Proposição 9:

O intervalo [0,1[ é equipotente a qualquer intervalo [a,b[ com a < b.

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Page 8: Analise Real

8

Demonstração:

Para mostrarmos que [0,1[é equipotente ao intervalo [a,b[ é necessário exibirmos uma função bijetora

entre esses dois intervalos.

Consideremos a função f:[0,1[ → [a,b[,dada por f(x) = a + (b – a)x, para todo a,b ∈ R. Sendo f uma

função bijetora, podemos afirmar que [0,1[ é equipotente a qualquer intervalo [a,b[ com a < b.

Proposição 10:

O intervalo ]0,1] é equipotente a qualquer intervalo ]a,b] com a < b.

Proposição 11:

O intervalo ]0,1[ é equipotente a qualquer intervalo ]a,b[ com a < b.

As demonstrações das proposições 10 e 11, abaixo, são análogas as demonstrações de

apresentadas em 8 e 9.

Proposição 12:

Os intervalos [0,1] e ]0,1[ são equipotentes.

Demonstração:

Seja o conjunto A = [0,1] – {0, 1, 21 ,

31 , ...}. Logo, [0,1] = {0, 1,

21 ,

31 , ...} ∪ A.

Como o conjunto A também pode ser expresso por A = ]0,1[ – {21 ,

31 ,

41 , ...}, então podemos

concluir que ]0,1[ = {21 ,

31 ,

41 , ...} ∪ A.

Agora consideremos a seguinte função f: [0,1] →]0,1[ definida pelo diagrama abaixo.

{ 0 , 1 , 21

, 31

, ... } ∪ A

↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ IA

{ 21

, 31

, 41

, 51

, ... } ∪ A

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Page 9: Analise Real

9

A função f:[0,1] → ]0,1[ pode ser definida por:

⎪⎪⎪

⎪⎪⎪

∈=+

=

=

Axse,x

Nn,1xse,1n

1

0xse,21

)x(f .

Como f é uma função bijetora de [0,1] em ]0,1[ , podemos concluir que os intervalos [0,1] e ]0,1[ são

equipotentes. Proposição 13:

Os intervalos [0,1] e [0,1[ são equipotentes.

Demonstração:

Considerando o conjunto A = [0,1] – {0, 1, 21 ,

31 , ...}, podemos representar o intervalo [0,1] do

seguinte modo: [0,1] = {0, 1, 21 ,

31 , ...} ∪ A. Por outro lado, o conjunto A pode ser definido como A

= [0,1[ – {0, 21 ,

31 ,

41 , ...}, de onde concluímos que: [0,1[ = {0,

21 ,

31 ,

41 , ...} ∪ A.

Consideremos a seguinte função f: [0,1] → [0,1[ definida pelo diagrama abaixo.

{ 0 , 1 , 21

, 31

, ... } ∪ A

↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ IA

{ 0 , 21

, 31

, 41

, ... } ∪ A

Analisando o diagrama acima podemos expressar a função f do seguinte modo:

f:[0,1] → ]0,1[, definida por:Nncom

n1xse

Nncomn1xse

,x

,1n

1)x(f

∈≠

∈=

⎪⎩

⎪⎨⎧

+=

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Page 10: Analise Real

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Como f é uma função bijetora de [0,1] em [0,1[,concluímos que os intervalos [0,1] e [0,1[ são

equipotentes. Proposição 14:

Os intervalos [0,1] e ]0,1] são equipotentes.

Demonstração:

Sendo A = [0,1] – {0, 1, 21 ,

31 , ...}, podemos concluir que [0,1] = {0, 1,

21 ,

31 , ...} ∪ A. Por outro

lado, o conjunto A pode ser definido como A = ]0,1] – {1, 21 ,

31 ,

41 , ...}, de onde concluímos que

]0,1] = {1, 21 ,

31 ,

41 , ...} ∪ A.

Consideremos a seguinte função f:[0,1] → ]0,1] definida pelo diagrama abaixo.

{ 0 , 1 , 21

, 31

, ... } ∪ A

↓ ↓ ↓ ↓ ↓ ↓ IA

{ 1 , 21

, 31

, 41

, ... } ∪ A

Analisando o diagrama acima podemos definir a função f da seguinte maneira:

f:[0,1] → ]0,1[, definida por:⎪⎩

⎪⎨

∈=+

=

=

Axse,x

Nncomn1xse,

1n1

0xse,1

)x(f

Como f é uma função bijetora de [0,1] em ]0,1], podemos concluir que os intervalos [0,1] e ]0,1] são

equipotentes.

Proposição 15:

Todos os intervalos são equipotentes.

Demonstração:

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Page 11: Analise Real

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Pela Proposição 8, concluímos que [0,1] ~ [a,b]; pela Proposição 9, [0,1[ ~ [a,b[; pela Proposição 10,

]0,1[ ~ ]a,b[; pela Proposição 11, ]0,1] ~ ]a,b[ e pelas Proposições 12, 13 e 14 e a transitividade da

relação equipotência obtemos [0,1] ~ [0,1[ ~ ]0,1[ ~ ]0,1].

Pela transitividade da equipotência concluímos que [a,b] ~ [a,b[ ~ ]a,b[ ~ ]a,b[ para todo a < b .

Portanto, todos os intervalos são equipotentes.

Proposição 16:

Todo intervalo é equipotente ao conjunto dos números reais.

Demonstração:

Para demonstrarmos que todo que todo intervalo é equipotente ao conjunto dos números reais R, será

necessário exibirmos uma bijeção entre R e um intervalo qualquer.

Consideremos a função f: R → ]2π

− , 2π [ definida por f(x) = arctg(x), cujo gráfico está esboçado

abaixo:

Y

0

π/2

X

π– /2

Analisando o gráfico acima concluímos que a função f é uma bijeção de R em ]2π

− , 2π [, logo, R é

equipotente ao intervalo ]2π

− , 2π [.

Sabemos que todos os intervalos são equipotentes pela Proposição 15, portanto, todo intervalo é

equipotente ao conjunto dos números reais.

Mostraremos a não-enumerabilidade de R por meio da demonstração do teorema abaixo, que é

conhecido como Teorema de Cantor.

Teorema 1 ( Teorema de Cantor):

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Page 12: Analise Real

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O conjunto dos números reais é não-enumerável.

Demonstração:

Como R ~ [0,1] , mostraremos que o intervalo [0,1] não é enumerável.

Suponhamos que [0,1] seja enumerável. Então, [0,1] pode ser escrito da seguinte forma:

[0,1] = { x1, x2, x3, ... , xn ...}.

Escrevendo x1, x2, ... , xn, ... sob a forma decimal, com um número ilimitado de algarismos, obtemos a

seguinte tabela:

• x1 = 0,a11 a12 a13...a1n... • x2 = 0, a21a22 a23...a2n... • x3 = 0 ,a31 a32 a33...a3n.... • ... • xn = 0,an1an2an3... ann , onde aij ∈{0 , 1, 2, ... , 9}.

Agora seja y ∈[0, 1] dado por y = 0 ,b1 b2 b3...bn ..., onde bn = ⎩⎨⎧

=≠

1ase,21ase,1

nn

nn

É fácil notar que y não consta da tabela acima. Logo [0,1] é não enumerável.

Vimos que o intervalo [0, 1] é equipotente a R, portanto, R é não enumerável.

A demonstração de Cantor prova que R não é enumerável e deixou claro que a quantidade de

números reais é maior que a de números naturais, embora, ambos sejam infinitos, ou melhor, que o

infinito dos reais é maior que o infinito dos naturais. As potências de N e R são exemplos de números

Transfinitos ou Cardinais, definidos abaixo.

Definição 6:

A quantidade de elementos de um conjunto A é denominada de número cardinal do conjunto A,

denotada por #A, card(A) ou n(A).

Exemplo 3:

Para indicar a cardinalidade de um conjunto A são usadas as seguintes notações:

Para A = {1, 2, 3}, temos #A = 3.

Para N, temos #N = d (de discreto),

Para R, temos #R = c (de contínuo).

Um resultado imediato é:

12

Page 13: Analise Real

13

i) #A = #B ⇔ A ~ B;

ii) #A = 0 ⇔ A = Ø.

O número cardinal de um conjunto finito é chamado de cardinal finito, enquanto que, o

número cardinal de um conjunto infinito é chamado de cardinal infinito ou transfinito.

Até os dias de hoje não se conseguiu apresentar um cardinal entre d e c. A suposição de que

não existe um número transfinito entre d e c é conhecida como hipótese do continuo. Em 1962, o

aluno de Kurt Gödel (1906 – 1978), Paul Cohen demonstrou que a hipótese do contínuo é indecidível,

o que quer dizer que se pode usar indiferentemente como axioma tanto a hipótese do contínuo como

sua negação.

Vejamos alguns resultados sobre os números cardinais, por meio das proposições a seguir.

Introduzindo a seguinte relação entre os cardinais:

x ≤ y ⇔ Existem conjuntos A e B, tais que #A = x e #B = y,

obtemos os seguintes resultados:

Proposição 17:

Para quaisquer que sejam os números cardinais x, y e z tem-se:

i) x ≤ x.

ii) Se x ≤ y e y ≤ z, então x ≤ z.

Demonstração:

Seja A um conjunto tal que #A = x Como A ⊂ A, então x ≤ x, fato que demonstra (i)

Se x ≤ y e y ≤ z, então existem conjuntos A, B e C tais que:

a) #A = x, #B = y e #C = z;

b) A ⊂ B e B ⊂ C.

Em função de (b) podemos concluir que A ⊂ C. Logo, x ≤ z, como queríamos demonstrar em (ii).

Esta proposição garante a reflexão e a transitividade da ≤ para números cardinais.

Proposição 18:

Se a e b são números cardinais tais que a ≤ b e b ≤ a, então a = b.

Demonstração:

Sejam os conjuntos A e B tais que #A = a e #B = b.

Da hipótese a ≤ b e b ≤ a resulta que A ⊂ B e B ⊂ A, e mais, A = B. Assim, A ~ B.

13

Page 14: Analise Real

14

Portanto, #A = #B, fato que implica a = b.

Com base nas proposições anteriores podemos afirmar que a relação a ≤ b é uma relação de

ordem nos números cardinais.

Vejamos agora um resultado que foi conjecturado por Cantor e Bernstein apesar da mesma ter

sido feita por Schröder e Bernstein em 1898.

Teorema 2 (Teorema de Cantor-Bernstein):

Se A e B são conjuntos tais que A é equipotente a um subconjunto de B e B é equipotente a um

subconjunto de A, então A e B são equipotentes.

Demonstração:

Sejam A1 e B1 subconjuntos de A e B, respectivamente, tais que A ~ B1 e B ~ A1.

Como B1 ⊂ B e A1 ⊂ A, temos: #A = #B1 ≤ #B = #A1 ≤ #A, de onde resulta #A ≤ #B e #B ≤ #A.

Pela proposição 18, podemos afirmar que #A = #B e, portanto, A ~ B.

Na realidade, este teorema tinha sido demonstrado por Richard Dedekind (1781 – 1848) em

1887, fato descoberto quando seus papéis foram estudados após seu falecimento.

Vejamos alguns resultados que relacionam os cardinais finitos e os cardinais d e c de N e R,

respectivamente.

Proposição 19:

Para qualquer que seja o numero cardinal finito n, temos que n < d.

Demonstração:

Seja A um conjunto finito tal que #A = n. Então existe n ∈ N tal que A ~ In.

Como In ⊂ N, então n ≤ #N = d.

Como A não é equipotente a N então n ≠ d.

Logo, n < d.

Proposição 20:

14

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15

Para d e c vale a relação d < c.

Demonstração:

Sendo #N = d, #R = c e como N ⊂ R, temos d ≤ c. Como N não é equipotente a R, então d ≠ c.

Portanto, d < c.

Proposição 21:

Para todo número cardinal infinito x temos d ≤ x.

Demonstração:

Seja A um conjunto infinito tal que #A = x. Então, podemos afirmar que A tem um subconjunto

enumerável B, ou seja, N ~ B ⊂ A. Logo. #N = #B ≤ A.

Portanto, d ≤ x.

O resultado a seguir, devido a Cantor, relaciona a cardinalidade de um conjunto com a

cardinalidade do conjunto de suas partes.

Teorema 3 :

Seja A um conjunto e ℘(A) o conjunto de suas partes. Então #A < #℘(A).

Demonstração:

Seja f:A → ℘(A) dada por f (m) = {m}.

Fazendo f (m) = f (n), temos que {m} = {n} e, conseqüentemente, m = n.

Deste modo, podemos afirmar que a função f é injetora, e mais, há equipotência entre o domínio de f e

sua imagem de f, isto é, temos A ~ f (A) ⊂ ℘(A).

Assim, podemos afirmar que #A ≤ #℘(A).

Para garantir que a desigualdade é estrita, mostraremos que não há sobrejeção de A em ℘(A), ou seja,

que toda função f de A em ℘(A), nunca será sobrejetora.

Sejam g: A →℘(A), tal que g(m) = Am, onde m ∈ A e Am é o subconjunto de A que é imagem de m

gerada pela aplicação g.

Consideremos agora o conjunto B = {x | x ∈ A e x ∉ Ax} que é subconjunto de A.

Como B é subconjunto de A, então B ∈℘(A).

Variando m em A, temos que B ≠ Am, pois:

Se m ∉ B, por definição m ∈ Am, logo, Am ≠ B.

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Page 16: Analise Real

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Se m ∈ B, por definição m ∉ Am, logo, Am ≠ B.

Sendo B ≠ Am, fica garantido que não há sobrejeção de A em ℘(A).

Portanto, não há bijeção entre A e ℘(A). Logo, #A < #℘(A).

Admitindo a hipótese do contínuo podemos ordenar os números cardinais assim.

1< 2 < 3 < ... < n ... < d < c < ...

Cantor e seus colaboradores construíram uma aritmética para os números cardinais baseada na

adição e multiplicação dos mesmos. Essa aritmética apresenta alguns resultados diferentes dos que

estamos acostumados a ver. A seguir apresentamos operações com números cardinais.

Definição 7:

Sejam A e B conjuntos disjuntos (A ∩ B = Ø) tais que # A= a e #B = b. Definimos a adição ou soma

de a com b ao cardinal a + b da reunião A ∪ B, ou seja, a + b = #(A ∪ B).

Para adição de cardinais valem as seguintes propriedades.

• Comutativa.

Sendo A e B disjuntos, temos que a + b = #(A ∪ B) = #(B ∪ A) = b + a.

• Associativa.

Sendo A, B e C disjuntos dois a dois e considerando #A = a, #B = b e #C = c, temos que:

#[A ∪ (B ∪ C) ] = #[(A ∪ B) ∪ C] = (a + b) + c

• Elemento Neutro.

Sejam A tal que #A = n ≠ 0 e ∅.

Como A e ∅ são disjuntos e #∅ = 0, então n + 0 = #( A ∪ ∅) = #A = n.

Além das propriedades acima, são válidas as seguintes:

• n + d = d, ∀ n cardinal finito.

De fato, seja A = In e B = N – In, então A ∩ B = ∅.

Como #A = n, #B = d e A ∩ B = ∅, temos que n + d = # (In ∪ (N – In) = #N = d.

• d + d = d

De fato, sejam P = {n ∈ N ⎪ n = 2q} e I = {n ∈ N ⎪ n = 2q + 1} com q ∈ N.

Como I ~ P ~ N, I ∪ P = N e I ∩ P = ∅ , então #I = # P = d. Assim, d + d = #(I ∪ P) = #N = d.

• c + c = c

De fato, sejam os intervalos A = ]0,1[ e B = ]1,5[.

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Como todos os intervalos são equipotentes a R, temos #A = #B = #R = c.

Considerando S = ]0,1[ ∪ ]1,5[ temos c + c = #(A ∪ B) = #S.

Como R ~ ]0,1[ ⊂ S, S ~ S ⊂ R. Pelo teorema de Cantor-Bernstein temos S ~ R.

Portanto, c + c = c.

• d + c = c

De fato, sejam N e A = ]0,1[.

Como #N = d, #A = c, N ∩ A = ∅ e considerando S = N ∪ ] 0,1[, temos que:

d + c = #(N ∪ ]0,1[) = #(S). Observando que S ~ S, S ⊂ R e aplicando o teorema de Cantor-

Berstein, temos que S ~ R. Portanto, d + c = c.

• Para todo cardinal finito n, vale a relação n + c = c.

De fato, sejam In e A = ]0,1[, onde # In = n e #A = c.

Considerando S = In ∪ A e que In ∩ ] A = ∅, temos que n + c = #( In ∪ A) = #S

Como R ~ A = ]0,1[ ⊂ S e S ~ S ⊂ R, aplicando o teorema de Cantor-Berstein temos S ~ R.

Portanto, n + c = c.

• Não vale a lei do cancelamento para os cardinais transfinitos.

Caso contrário teríamos d + 1 = d = (d + 1) +1, ou ainda, d + 1 = d + 2, 1 = 2 que é absurdo.

Definição 8:

Dados os conjuntos A e B com #A = a e #B = b. Chamamos de multiplicação de a por b ao número

cardinal a.b dado por a.b = #(A x B).

Para multiplicação de números cardinais valem as seguintes propriedades:

• Comutativa.

De fato, sejam A e B conjuntos com #A = a e #B = b, então a.b = #(A x B) = #(B x A) = b .a

• Associativa.

Sejam A, B e C conjuntos tais que #A = a, #B = b e #C = c, então:

a.(b.c) = #[A x (B x C)] = # [(A x B) x C] = (a.b).c

• Distributiva.

De fato, sejam A, B e C conjuntos tais que #A = a, #B = b, #C = c e que A ∩ B = ∅, A ∩ C = ∅,

B ∩ C = ∅ e A ∩ B ∩ C = ∅. Então a.(b + c) = #[Ax(B + C)] = #[(A x B) + (A x C)] = a.b + a.c

• 0.a = 0, ∀ a

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De fato, sejam A um conjunto tal que #A = a e ∅. Como #∅ = 0, então 0.a = #(∅ x A) = #∅ = 0.

• d x d = d

Seja N, como #N = d, então d x d = #(N x N)

Já que N x N ~ N, temos que d x d = # (N x N) = #N = d.

Também são válidas as seguintes propriedades:

• n . d = d, ∀n finito.

• n . c = c, ∀ n finito.

• c . c = c

• d . c = c

Não vale a lei do cancelamento para multiplicação de cardinais, pois:

(i) d + d = d e (ii) d + d = (1 + 1).d = 2d. Comparando (i) = (ii) temos d = 2d ⇒ 1 = 2.

Antes de apresentarmos a definição de potenciação de cardinais faremos uma breve abordagem

sobre o conjunto das funções definidas de um conjunto A em outro B.

Definição 9:

Dados os conjuntos A e B. Definimos o conjunto das funções de A em B, denotado por BA, como:

BA = {f ⎪ f : A → B, função}

Exemplo 4:

Para A = {a, b, c} e B = {1, 2}, as funções f de A em B são:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

111cba

f1 ; ; ; ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

211cba

f2 ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

121cba

f3 ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

221cba

f4

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

112cba

f5 ; ; ; ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

212cba

f6 ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

122cba

f7 ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

222cba

f8

Portanto, BA = {f1, f2, f3, f4, f5, f6, f7, f8}.

Para A = {a} e B = {1, 2, 3}, as funções f de A em B são:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

1a

f1 ; e ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

2a

f2 ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

3a

f3

Portanto, BA = {f1, f2, f3}.

18

Page 19: Analise Real

19

Para A = {a, b, c} e B = {1}, a função f de A em B é . ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛=

111cba

f1

Assim, BA = {f1}.

Para A = {1} e B = In, as funções de A em B são fi : {1} → In , onde fi (1) = i, 1≤ i ≤ n.

Desse modo BA terá n funções.

Para A = B = ∅, o conjunto das funções de A em B é composto pela função f: ∅ → ∅, com

f (∅) = ∅. Logo BA possuirá apenas um elemento.

Para A = ∅ e B = {a, b, c, d}, a função f de A em B é f: ∅ → B, com f(∅) = B.

Para A = {1, 2, 3} e B = ∅, o conjunto BA é vazio, pois, não é possível definirmos uma função f de

A = {1, 2, 3} em B = ∅.

Dos exemplos acima, concluímos que o número de elementos dos conjuntos A, B e BA são:

#A = 3 e #B = 2 temos #BA = 8 = 23.

#A = 1 e #B = 3 temos #BA = 1 = 31.

#A = 3 e #B = 1 temos #BA = 1 = 13

#A = 0 e #B = 4 temos #BA = 1 = 40

#A = 1 e #B = n temos #BA = n = n1

#A = 0 e #B = 0 temos #BA = 1

Desta observação, percebemos uma relação entre #A, #B e #BA que envolve a operação potenciação.

Essa relação motiva a definição apresentada a seguir:

Definição10:

Dados os conjuntos A e B tais que #A = a e #B = b. Denominamos potenciação de a ao cardinal ba, dado por ba = # BA.

A potenciação de cardinais tem as seguintes propriedades.

• 1n = 1. Pois, para A = In e B= {a} temos #BA = 1

• n1 = n. Pois, para A = {A} e B = In temos #BA = n

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• 0n = 0, se n ≠ 0. Pois, para A = In e B = ∅ temos #BA = 0

• n0 = 1. Pois , para A = ∅ e B= In temos #BA = 1

• 0 = 1. Pois, para A = ∅ e B= ∅ temos #BA = 1 0

Além dessas propriedades também são válidas as seguintes:

• xy . xz = xy + z .

• (x . y )z = xz . yz .

• (xy)z = xy.z

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados obtidos surpreenderam muitas vezes a comunidade de matemáticos da sua época

e, hoje em dia, ainda surpreende muitas pessoas que acreditam na validade irrestrita do axioma

euclidiano que afirma que o todo é sempre maior que as partes. Além, disso um outro resultado que

tem causado discordância é 00 = 1, que será apresentado com maior profundidade por nós em outra

oportunidade.

Esses resultados foram os que mais suscitaram surpresa e embaraço aos matemáticos

contemporâneos de Cantor. Pois, desde a Grécia antiga que havia a certeza das significativas

diferenças entre os objetos de dimensões 1, 2 ou 3. Os resultados de Cantor pareciam destruir essas

diferenças e colocar em jogo todos os resultados obtidos pela geometria.

Os resultados obtidos por Cantor na sua pesquisa sobre o infinito lhe geraram muitos inimigos,

entre eles Kronecker, foi o mais fervoroso deles, o que impediu Cantor de realizar seu sonho de

lecionar na Universidade de Berlim.

Com a obra de Cantor a questão iniciada por Galileu acerca do axioma grego que diz: o todo é

sempre maior que as partes, ficou solucionado da seguinte maneira: Para os conjuntos finitos o axioma

grego é válido e para os conjuntos infinitos o referido axioma perde sua validade.

Depois da obra de Cantor e de seus colaboradores a matemática sofreu enormes transformações

tendo a teoria dos conjuntos ocupado lugar privilegiado na matemática, a ponto de Hilbert ter feito a

seguinte afirmação: “Ninguém nos tira do paraíso criado por Cantor”, referindo-se a teoria dos

conjuntos.

REFERÊNCIAS

ÁVILA, G. Cantor e a teoria dos conjuntos. RPM 43, 6 - 14, 2000.

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Page 21: Analise Real

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BIRKHOOF, G. e MACLANE, S. Álgebra moderna básica. Tradução de Carlos Alberto Aragão de Carvalho. Rio de Janeiro: Guanabara Dois, 1985. 485p.

BOUVIER, A. A teoria dos conjuntos. Lisboa: Publicações Europa - América, 1976. 125p. BOYER, C. História da matemática. Tradução Elza F. Gomide. São Paulo: Edgard Blücher, 1974. 488p DANTIZIG, T. Número: a linguagem da ciência. Rio de Janeiro: Zahar, 1980.

DIEUDONNÉ, J. A formação da matemática contemporânea. Tradução de J. H. Von Hafe Perez. Lisboa: D. Quixote, 1990. 292p. EVES, H. Introdução a história da matemática. Tradução Higino H. Domingues. Campinas: Editora da Unicamp, 1995. 844p. GODEFROY, G. A aventura dos números. Lisboa: Instituto Piaget. Tradução de Antonio Viegas, 1997. 249p. KLINE, M. Mathematics Thought from Ancient to Modern Times. Nova York: Oxford University Press, 1985. 1200p. LIMA, E. L. Análise real. Rio de Janeiro: IMPA/CNPq, 1989. v.1, 200p.

MONTEIRO, I & MATOS, T. Álgebra: um primeiro curso. Lisboa: Escolar Editora, 1995.

REZENDE, W. M. Uma análise histórica - Epistêmica da operação limite. Rio de Janeiro, 1994. 159p. Dissertação (Mestrado em Educação Matemática) - Departamento de Pós-Graduação, Universidade Santa Úrsula. Rio de Janeiro, 1994.

SÁ, P. F. As surpresas do infinito. Revista Traços, v.1, n. 2, p. 41- 46, 1998.