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ISSN 1809-5860 Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 43, p. 33-54, 2008 ANÁLISE NUMÉRICA BIDIMENSIONAL DE INTERAÇÃO FLUIDO-ESTRUTURA Rodolfo André Kuche Sanches 1 & Humberto Breves Coda 2 Resumo O presente trabalho apresenta o desenvolvimento de um código computacional baseado no Método dos Elementos Finitos (MEF), para análise da interação bidimensional fluido-estrutura. Desenvolve-se um código bidimensional para dinâmica de fluidos compressíveis, viscosos ou não, em formulação Lagrangeana – Euleriana Arbitrária, com base no algoritmo CBS – Characteristic Based Split. O código desenvolvido é acoplado a um código para análise dinâmica de estruturas de formulação Lagrangeana posicional e não linear geométrica, baseado no Método dos Elementos Finitos, conforme desenvolvido por MACIEL e CODA (2005). Exemplos são resolvidos para mostrar a validade e aplicabilidade da técnica. Palavras-chave: interação fluido estrutura; método dos elementos finitos; dinâmica dos fluidos computacional; não linearidade geométrica. 1 INTRODUÇÃO Os problemas de interação fluido-estrutura estão presentes nas mais diversas áreas de engenharia, desde obras de engenharia civil, mecânica, aeronáutica, naval, e até de problemas de biomecânica, como exemplo, a circulação sanguínea. Um problema muito comum de interação entre fluido e estrutura consiste na ação do vento sobre estruturas expostas à atmosfera. Para as obras civis mais comuns, costuma-se considerar o efeito do vento sobre a estrutura como um carregamento estático, porém as estruturas estão sujeitas a vibrações devido ao escoamento do fluido, que podem levar a estrutura à ruína, ANTUNES et. al (2005). Outra aproximação assumida no tratamento dos problemas envolvendo fluido e estrutura é o fato de que comumente se considera a estrutura rígida TEIXEIRA (2001). Um dos exemplos mais clássicos de ruína estrutural devido à interação fluido estrutura é o caso da ponte de Tacoma Narrows, uma estrutura suspensa construída no Estados Unidos, em Puget Sound, Washington, na década de 1940, que entrou em ressonância em 1948, devido à não consideração, durante o projeto, do efeito dinâmico provocado pelo escoamento, ver GLÜCK et. al (2001) por exemplo. 1 Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, [email protected] 2 Professor Associado do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, [email protected]

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ISSN 1809-5860

Cadernos de Engenharia de Estruturas, São Carlos, v. 10, n. 43, p. 33-54, 2008

ANÁLISE NUMÉRICA BIDIMENSIONAL DE INTERAÇÃO FLUIDO-ESTRUTURA Rodolfo André Kuche Sanches1 & Humberto Breves Coda2

R e s u m o

O presente trabalho apresenta o desenvolvimento de um código computacional baseado no Método dos Elementos Finitos (MEF), para análise da interação bidimensional fluido-estrutura. Desenvolve-se um código bidimensional para dinâmica de fluidos compressíveis, viscosos ou não, em formulação Lagrangeana – Euleriana Arbitrária, com base no algoritmo CBS – Characteristic Based Split. O código desenvolvido é acoplado a um código para análise dinâmica de estruturas de formulação Lagrangeana posicional e não linear geométrica, baseado no Método dos Elementos Finitos, conforme desenvolvido por MACIEL e CODA (2005). Exemplos são resolvidos para mostrar a validade e aplicabilidade da técnica. Palavras-chave: interação fluido estrutura; método dos elementos finitos; dinâmica dos fluidos computacional; não linearidade geométrica.

1 INTRODUÇÃO

Os problemas de interação fluido-estrutura estão presentes nas mais diversas áreas de engenharia, desde obras de engenharia civil, mecânica, aeronáutica, naval, e até de problemas de biomecânica, como exemplo, a circulação sanguínea.

Um problema muito comum de interação entre fluido e estrutura consiste na ação do vento sobre estruturas expostas à atmosfera. Para as obras civis mais comuns, costuma-se considerar o efeito do vento sobre a estrutura como um carregamento estático, porém as estruturas estão sujeitas a vibrações devido ao escoamento do fluido, que podem levar a estrutura à ruína, ANTUNES et. al (2005). Outra aproximação assumida no tratamento dos problemas envolvendo fluido e estrutura é o fato de que comumente se considera a estrutura rígida TEIXEIRA (2001).

Um dos exemplos mais clássicos de ruína estrutural devido à interação fluido estrutura é o caso da ponte de Tacoma Narrows, uma estrutura suspensa construída no Estados Unidos, em Puget Sound, Washington, na década de 1940, que entrou em ressonância em 1948, devido à não consideração, durante o projeto, do efeito dinâmico provocado pelo escoamento, ver GLÜCK et. al (2001) por exemplo.

1Mestre em Engenharia de Estruturas - EESC-USP, [email protected] 2Professor Associado do Departamento de Engenharia de Estruturas da EESC-USP, [email protected]

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Desde então, tanto os estudos de aerodinâmica, aeroelasticidade e dinâmica dos sólidos obtiveram grandes avanços. Devido à complexidade e número elevado de operações de cálculo envolvidos em problemas destas áreas, o emprego de técnicas computacionais para a resolução dos mesmos tem sido bastante requisitado, de forma que, atualmente, as publicações nestas áreas concentram-se no desenvolvimento de ferramentas computacionais baseadas em métodos numéricos para análise da interação fluido-estrutura.

No presente trabalho explora-se duas áreas da mecânica: a mecânica dos sólidos e a mecânica dos fluidos. Ambas estão baseadas nos mesmos princípios (Leis de Newton), e os materiais aos quais seus estudos são dirigidos, possuem muitas coisas em comum: tanto no meio fluido como no meio sólido ocorrem tensões e deslocamentos. Porém também existem particularidades que separam estas duas áreas sendo a principal delas, o fato de que o fluido (Newtoniano) não resiste a nenhum valor de tensões desviadoras, de forma que as principais variáveis do fluido são velocidades e tensões, tornando ideal o emprego de uma formulação Euleriana, enquanto as principais variáveis do sólido são tensões e deslocamentos, fazendo da formulação Lagrangena a ideal.

Em casos onde é possível descrever o fluido na forma Lagrangeana (compressão e descompressão de gases por exemplo), pode-se facilmente acoplar fluido e estrutura de forma monolítica, onde ambos são integrados simultaneamente no tempo. Já para os demais casos, o esquema de acoplamento particionado, onde fluido e estrutura são integrados independentemente, torna-se mais adequado.

Deve ser levado em conta no momento de se propor um acoplamento particionado, o fato de os dois meios estarem descritos de forma diferente, o que é feito aqui através da aplicação de uma descrição Lagrangeana – Euleriana Arbitrária (ALE).

2 MODELO NUMÉRICO

2.1 Dinâmica dos fluidos

O algoritmo utilizado foi o CBS – Characterístic based split, o qual foi primeiramente apresentado por ZIENKIEWICZ E CODINA (1994), e desde então vários autores já aplicaram o mesmo pra resolver problemas de dinâmica dos fluidos.

Sejam as Equações Governantes da Mecânica dos Fluidos (Navier-Stokes), na formulação Euleriana, descritas em notação indicial, onde os índices i, j e k correspondem ao eixo x, y ou z, conforme as equações (1) a (3): Conservação da massa:

( )i

i

ut x

ρρ ∂∂= −

∂ ∂ (1)

Conservação da Quantidade de Movimento:

( )( ) j i ijii

j j j

u uu p gt x x x

ρ τρ ρ∂ ∂∂ ∂

= − + − +∂ ∂ ∂ ∂ (2)

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Conservação da Energia:

( )( ) ( ) ( )j j ij jj i i j

E Tu E k u p ut x x x xj xρ ρ τ

⎛ ⎞∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂= − + − +⎜ ⎟∂ ∂ ∂ ∂ ∂ ∂⎝ ⎠ (3)

onde ρ é a massa específica, iu é a velocidade na direção do eixo ix , t é o tempo,

ijτ é a tensão desviadora, p é a pressão, ig é a constante das forças de campo na

direção i, E é a energia específica total, k é a condutividade térmica e T é a temperatura do fluido.

Se uma partícula se propaga com uma determinada característica, com determinada velocidade constante u, que é idêntica à velocidade de convecção para problemas escalares conforme a Figura 1, aplicando-se à mesma o método característico de Galerkin (NITHIARASU et al. (2000)), chega-se à equação (4).

Figura 1 - Linhas características.

2 2 2 331

2 3

( ) ( ) ( ( )) ( ( )) ( ( )) ( )2 6

n nn n n

y y t t uu y u y u y O tt x x x

φ φ φ φ φ+ − ∂ Δ ∂ Δ ∂= − + − + Δ

Δ ∂ ∂ ∂ (4)

Deve notar-se que para uma convecção linear a velocidade média u é constante e não é necessário mais aproximações, porém para convecção não linear, mais aproximações são necessárias. A eq. (4) é uma forma não conservativa da convecção, sendo diretamente aplicável a problemas incompressíveis ou sem aproximações de divergência, com velocidade constante (Nithiarasu et. al, (2000)).

Para se obter a forma conservativa da equação de convecção com propagação

não linear (eq. (6)), NITHIARASU ET AL., (2000) usa a aproximação para ( )u xφ apresentada na eq. (5).

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2 2

2

3 3

3

( )( ) ( ) ( ) ( ( )) ( ( ) )2

( ) ( ( ))6

n n n n

n

y xu x u y y x u y u yx x

y x u yx

φ φ φ φ

φ

∂ − ∂= − − +

∂ ∂− ∂

−∂ (5)

)(

))((6

))((2

))(()()(

3

2

22

21

tO

yuxx

utyuxx

utyuxt

yy

nnn

nn

Δ+

⎥⎦⎤

⎢⎣⎡∂∂

∂∂Δ

−⎥⎦⎤

⎢⎣⎡∂∂

∂∂Δ

+∂∂

−=Δ−+ φφφφφ

(6)

O algoritmo CBS é obtido primeiramente retirando-se os termos referentes à pressão da equação (1), substituindo iuρ por *iU e expandindo com base em (6), através do método das características de Galerkin, chegando-se a equação(7):

* ( ) ( )2

iji j i i k j i i

j j k j

tU t u u g u u u gx x x x

τρ ρ ρ ρ

⎡ ⎤⎛ ⎞∂∂ Δ ∂ ∂Δ = Δ − + + + −⎢ ⎥⎜ ⎟⎜ ⎟∂ ∂ ∂ ∂⎢ ⎥⎝ ⎠⎣ ⎦

. (7)

Na equação (7), todos os termos do lado direito são conhecidos no tempo n , de

forma que *iU pode ser expresso da seguinte forma:

( )* * ( )i i iU U u t nρΔ = − = (8)

Como no cálculo de *iUΔ não se considerou os efeitos da pressão, para se calcular a variação da quantidade de movimento no passo de tempo tΔ , deve-se fazer uma correção, restituindo-se tal influência. Assim, das equações (2) e (8), pode-se

corrigir *iUΔ de modo a obter-se a variação da quantidade de movimento no intervalo tΔ (equação (9)).

2

*2i i k

i k i

p t pu U t ux x x

ρ⎛ ⎞∂ Δ ∂ ∂

Δ = Δ −Δ + ⎜ ⎟∂ ∂ ∂⎝ ⎠ (9)

Fazendo-se uma aproximação das derivadas da pressão em relação às direções

ix , de tal forma que sejam tratadas como uma quantidade conhecida avaliada no

tempo 2nt t tθ= + Δ obtém-se a eq. (10), com a eq. (11) sendo válida, observando-se

que o parâmetros 2θ .pode variar de 0 a 1, tornado o algoritmo explícito no tempo

quando 2θ for nulo, ou semi-implícito, ou semi-implícito caso contrário.

2 2

*2

n

i i ki k i

p t pu U t ux x x

θ

ρ+ ⎛ ⎞∂ Δ ∂ ∂

Δ = Δ −Δ + ⎜ ⎟∂ ∂ ∂⎝ ⎠ (10)

2 2

2 2(1 )n n n

i i i

p p px x x

θ θ

θ θ+ +∂ ∂ ∂

= + −∂ ∂ ∂

(11)

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Ou ainda, em função da variação da pressão pΔ , avaliada no intervalo tΔ , entre

nt e 1nt + tem-se a eq. (12).

2

2

n n

i i i

p p px x x

θ

θ+∂ ∂ ∂Δ

= +∂ ∂ ∂

(12)

Utilizando-se a equação da conservação da massa (1), pode-se escrever a aproximação:

( ) ( ) ( )( )1 1( )i n i ii

t u t t t t u uxi xi x

ρ ρ θ ρ θ ρ⎡ ⎤∂ ∂ ∂

Δ = −Δ = + Δ = −Δ + Δ⎢ ⎥∂ ∂ ∂⎣ ⎦ (13)

onde 1θ tem o mesmo significado descrito para 2θ .

Aproximando-se 1( )i nu t t tρ θ= + Δ pela soma de *iUΔ , dado pela equação (7)

com iuρ e negligenciando os termos de ordem superior da série de Taylor em *iU , chega-se à equação (14):

( ) ( )2 2

1 1 22 2*i ii i i

p pt u U txi x x x

ρ ρ θ θ θ⎡ ⎤⎛ ⎞∂ ∂ ∂ ∂ Δ

Δ = −Δ + Δ −Δ +⎢ ⎥⎜ ⎟∂ ∂ ∂ ∂⎝ ⎠⎣ ⎦ (14)

Assim, de (7) obtém-se *iUΔ , da equação (14) obtém-se ρΔ , e através das

equações (10) e (12) encontra-se ( )iuρΔ , faltando resolver a equação da conservação da energia (eq.(3)), que pelo mesmo processo pode ser discretizada no tempo conforme a eq.(15).

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−

∂∂

−∂∂

+∂∂

∂∂

−∂∂

∂∂Δ

+

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−

∂∂

+∂∂

−∂∂

∂∂

+∂∂

−Δ=Δ

iijiji

iiii

iik

k

iijiji

iiii

ii

ugux

puxx

Tkx

Euxx

ut

ugux

puxx

Tkx

Eux

tE

ρτρ

ρτρρ

)()()()(2

)()()()()(

2 (15)

2.1.1 Obtenção das formas variacionais e solução via MEF

As variáveis são aproximadas pelas funções de forma φ , conforme as eq. (16)-(20):

( )iiu uρ φ ρ= (16)

iiu uφ= (17)

**iiU UφΔ = (18)

ρ φρΔ = (19)

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p pφΔ = (20)

onde:

{ }1 2 ... nφ φ φ φ= (21)

Usando o método de resíduos ponderados segundo o processo de Galerkin na equação (7), tem-se a equação (22):

* ( ) ( )2

iji j i i k j i i

j j k j

tU d t u u g u u u g dx x x x

τφ φ ρ ρ ρ ρ

⎡ ⎤⎛ ⎞∂∂ Δ ∂ ∂Δ Ω = Δ − + + + − Ω⎢ ⎥⎜ ⎟⎜ ⎟∂ ∂ ∂ ∂⎢ ⎥⎝ ⎠⎣ ⎦

∫ ∫ .(22)

Integrando-se o segundo e o quarto termo do lado direito da igualdade por partes e aplicando o teorema do divergente, aparecem termos a serem integrados no contorno, porém, a parcela do quarto termo é desconsiderada devido ao produto entre os vetores normais e as velocidades serem nulos, conforme a equação (23):

2

* ( )

( ) ( )2

i j i ij ij j

kj i i ij j

k j

U d t u u d d g dx x

ut u u g d t n dx x

φφ φ ρ τ φρ

φ ρ ρ φτ

Ω Ω Ω Ω

Ω Γ

⎡ ⎤∂ ∂Δ Ω = Δ − Ω− Ω+ Ω⎢ ⎥

∂ ∂⎢ ⎥⎣ ⎦⎛ ⎞∂Δ ∂

+ − + Ω+ Δ Γ⎜ ⎟⎜ ⎟∂ ∂⎝ ⎠

∫ ∫ ∫ ∫

∫ ∫ (23)

Com base nas equações (16)-(21), e, admitindo-se que a lei da viscosidade de Newton acrescida da hipótese de Stokes (25) seja válida, pode-se escrever matricialmente a equação (23):

1 21 2* ( ) ( ( ) )i i u i u i i i siM U t C u K u K u f t K u fτ τρ ρ⎡ ⎤Δ = Δ − − − + + Δ +⎣ ⎦ (24)

23

ji kij ij

j i k

uu ux x x

τ μ δ⎛ ⎞∂∂ ∂

= + −⎜ ⎟⎜ ⎟∂ ∂ ∂⎝ ⎠ (25)

onde as matrizes de massa M, a matriz de convecção C, e as demais matrizes e vetores são descritos nas equações (26)-(34), e as barras superiores indicam valores nodais.

TM dφ φΩ

= Ω∫ (26)

( )Tj

j

C u dx

φ φΩ

∂= Ω

∂∫ (27)

1 11 1 2 2

43

T T

u xK dx x x xτφ φ φ φμ μ

Ω

⎛ ⎞⎛ ⎞ ⎛ ⎞∂ ∂ ∂ ∂= + Ω⎜ ⎟⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎜ ⎟∂ ∂ ∂ ∂⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎝ ⎠∫ (28)

2 11 2 2 1

23

T T

u xK dx x x xτφ φ φ φμ μ

Ω

⎛ ⎞⎛ ⎞ ⎛ ⎞∂ ∂ ∂ ∂= − + Ω⎜ ⎟⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎜ ⎟∂ ∂ ∂ ∂⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎝ ⎠∫ (29)

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1 22 1 1 2

23

T T

u xK dx x x xτφ φ φ φμ μ

Ω

⎛ ⎞⎛ ⎞ ⎛ ⎞∂ ∂ ∂ ∂= − + Ω⎜ ⎟⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎜ ⎟∂ ∂ ∂ ∂⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎝ ⎠∫ (30)

2 22 2 1 1

43

T T

u xK dx x x xτφ φ φ φμ μ

Ω

⎛ ⎞⎛ ⎞ ⎛ ⎞∂ ∂ ∂ ∂= + Ω⎜ ⎟⎜ ⎟ ⎜ ⎟⎜ ⎟∂ ∂ ∂ ∂⎝ ⎠ ⎝ ⎠⎝ ⎠∫ (31)

T Ti i ij jf g d n dφ ρ φ τ

Ω Γ

= Ω + Γ∫ ∫ (32)

1 ( ) ( )2

Tk j

k j

K u u dx x

φ φΩ

∂ ∂= − Ω

∂ ∂∫ (33)

1 ( )2

Tsi k i

k

f u g dx

φ ρΩ

∂= Ω

∂∫ (34)

Aplicando-se o mesmo método para a equação (14), tem-se:

∫∫∫

Ω

ΩΩΩ

Ω⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

∂Δ∂

+∂∂

Δ+

ΩΔ∂∂

Δ−Ω∂∂

Δ−=ΩΔ

dx

px

pt

dUx

tdux

td

ii

ii

ii

2

2

22

2

12

1 )*()(

θφθ

φθρφρφ

(35)

Integrando-se os termos à direita da igualdade de (35) por partes e aplicando-se o teorema do divergente, chega-se à equação (36):

∫∫

Γ

ΩΩ

Γ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂Δ∂

+∂∂

Δ−Δ+Δ−

Ω⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂Δ∂

+∂∂

Δ−Δ+∂∂

Δ−=ΩΔ

dnxp

xptUut

dxp

xptUu

xtd

iii

ii

iiii

i

211

211

*

*

θθθρφ

θθθρφρφ

, (36)

que é escrita matricialmente conforme a equação (37), com as novas matrizes e vetores descritos nas equações (38)-(40).

( )piii fpHtUuGtpHtM −Δ−Δ+Δ=ΔΔ+Δ 11212 )*( θθρθθρ (37)

T

ii

G dxφ φ

Ω

∂= Ω

∂∫ (38)

T

i i

H dx xφ φ φ

Ω

∂ ∂= Ω

∂ ∂∫ (39)

( ) 1 1*p i i ii

pf t u U t n dx

φ ρ θ θΓ

⎛ ⎞⎛ ⎞∂= Δ + Δ −Δ Γ⎜ ⎟⎜ ⎟⎜ ⎟∂⎝ ⎠⎝ ⎠

∫ (40)

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40

Repetindo-se a aplicação do processo de Galerkin, agora para a equação (10), tem-se como resultado:

2 2

*2

n

i i ki k i

p t pu d U d t d u dx x x

θ

φ ρ φ φ φ+

Ω Ω Ω Ω

⎛ ⎞∂ Δ ∂ ∂Δ Ω = Δ Ω−Δ Ω+ Ω⎜ ⎟∂ ∂ ∂⎝ ⎠

∫ ∫ ∫ ∫ (41)

Integrando-se o último termo por partes, aplicando o teorema do divergente, lembrando-se que e desprezando-se a integral sobre o contorno, e expandindo a

aproximação numérica 2n

i

px

θ+∂∂

, chega-se à equação (42),

2

2* ( )2i i k

i i k i

p p t pu d U d t d u dx x x x

φ ρ φ φ θ φΩ Ω Ω Ω

⎛ ⎞ ⎛ ⎞∂ ∂Δ Δ ∂ ∂Δ Ω = Δ Ω−Δ + Ω− Ω⎜ ⎟ ⎜ ⎟∂ ∂ ∂ ∂⎝ ⎠ ⎝ ⎠

∫ ∫ ∫ ∫ , (42)

cuja forma matricial é dada pelas equações (43) e (44).

2

2* ( )2

Ti i i i

tM u M U t G p p P pρ θ ΔΔ = Δ −Δ + Δ − (43)

onde:

( )Ti k

k i

P u dx x

φφΩ

⎛ ⎞∂ ∂= Ω⎜ ⎟∂ ∂⎝ ⎠∫ . (44)

Finalmente, seguindo o mesmo processo para a equação (15), chega-se à equação (45), cuja forma matricial é apresentada nas equações (46)-(49).

( )

( )

∫∫

Γ

Ω

ΩΩ

Γ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+Δ+

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡Ω⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛+−

∂∂

∂∂Δ

+

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡Ω⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+∂∂

−Ω+∂∂

Δ=Δ

dnxTkut

dpEux

ux

t

dxTku

xdpEu

xtE

ii

jij

ii

ii

ijij

ii

i

τφ

ρφ

τφρφρ

))((2

)()(

2

(45)

[ ]))(()( pEKtfuKTKpECtEM ueiEiT +Δ−++++Δ=Δ ρρρ τ (46)

Com as matrizes dadas por:

∫Ω

Ω⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

∂∂

= dx

kx

Kii

T

Tφφ

(47)

( )∫Ω

Ω∂∂

= dx

K jii

T

Ei φτφτ (48)

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41

∫Γ

Γ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

+= dnxTkuf i

ijij

Te τφ (49)

2.1.2 Formulação lagrangeana euleriana arbitrária

Sendo o fluido modelado por uma formulação Euleriana e o sólido por uma formulação Lagrangeana (método particionado), surgem dificuldades para se analisar ambos simultaneamente. A solução para o acoplamento particionado entre o fluido e a estrutura é descrever o fluido através da formulação lagrangeana-euleriana arbitrária (ALE) (DONEA (1982), GLÜCK et al. (2001) e TEIXEIRA e AWRUCH (2005) ).

A formulação ALE é obtida introduzindo-se um domínio de referência com movimento arbitrário e independente dos pontos materiais, conforme a Figura 2 onde R, C(to) e C(t) são respectivamente os domínios de referencia e contínuo no tempo inicial to e final t. O domínio R será tomado como o domínio computacional, contendo a malha de pontos da formulação do MEF.

Figura 2 - Cinemática adotada na descrição ALE.

Uma partícula na formulação ALE, tal como na formulação lagrangeana, é definida nas suas coordenadas materiais na configuração inicial do contínuo, mas o processo de definição é indireto e feito sobre o vetor posição ξ que está ligado à variável a e à variável t, de acordo com a lei que rege o movimento do domínio de referência (DONEA et al. (1982)).

Seguindo este procedimento se escreve as equações ALE para conservação da massa, quantidade de movimento e energia, como segue:

ii

i

i

xw

xu

t ∂∂

=∂∂

+∂∂ ρρρ

(50)

j

iji

jj

ij

j

iji

xuwg

xp

xxuu

tu

∂∂

=−∂∂

+∂

∂−

∂+

∂∂ )()()( ρρ

τρρ (51)

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ij

j

jij

j

j

iij

j

xEw

xu

xpu

xTk

xxEu

tE

∂∂

=∂

∂−

∂+⎟⎟

⎞⎜⎜⎝

⎛∂∂

∂∂

−∂

∂+

∂∂ )()()()()( ρτρρ

(52)

Observa-se que quando a velocidade da malha w for nula, a formulação é a Euleriana, e quando a velocidade w for igual à velocidade u a formulação é a Lagrangeana (DONEA et al. (1982)).

Para finalmente obter-se a formulação ALE do algoritmo apresentado, basta aplicar o método das linhas características de Galerkin aos termos do lado direito das equações (50), (51) e (52), e em seguida escreve-los matricialmente, agrupando-os corretamente às eq. (24), (34), e (45). Neste trabalho é utilizada somente a forma explícita das equações com 1θ igual a 1 e 2θ igual a zero, conforme as equações (53), (54) e (55) onde as barras superiores indicam valores nodais, com a matriz L descrita na equação (56).

[ ]i

siiiiuiuii

utL

fuKtfuKuKuCtUM

ρ

ρρ ττ

Δ+

+Δ++−−−Δ=Δ ))(()(* 21 21

(53)

[ ] ρρρ tLfptHUuGtM piii Δ+−Δ−Δ+Δ=Δ )*( (54)

[ ] EtLpEKtfuKTKpECtEM ueiEiT ρρρρ τ Δ++Δ−++++Δ=Δ ))(()( (55)

∫Ω

Ω∂∂

= dx

wLi

T

i φφ

(56)

Finalmente, às equações (53), (54), (43) e (55), nas quais toma-se a velocidade do escoamento e a massa específica como variáveis principais do problema, torna-se necessário a adição de relações das quais possam ser extraídas as demais variáveis. Essas relações são, as equações (55)-(57) que são obtidas do calcula da energia total, da equação de estado dos gases e da equação de Poison (ver por exemplo ZIENKIEWICZ e TAYLOR(2000)):

iip uuTcE21

+= (57)

vpv

pp ccRe

cc

comTcc −==−= γγ )1(2 (58)

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛ −−= iiuuEp ρργ

21)1( (59)

Onde pc é o calor específico à pressão constante e vc é o calor específico a

volume constante.

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2.2 Equacionamento da estrutura

Utilizou-se o código desenvolvido por MACIEL e CODA (2005), o qual se baseia em uma formulação não linear geométrica desenvolvida por CODA (2003).

Para obter-se tal formulação, inicialmente, considera-se o princípio da mínima energia potencial para elasticidade conservativa, escrito em termos das posições (equação (60)):

QKU e ++Ρ−=Π (60)

onde Π é a energia potencial total, eU é a energia de deformação e P é a energia potencial das forças aplicadas, K , é referente à energia cinética e o outro termo Q , referente à dissipação por amortecimento.

Torna-se então necessário mapear a geometria do corpo em estudo e ter o conhecimento da relação entre esse mapeamento e as “deformações de engenharia” adotadas. MACIEL e CODA (2005) fazem o mapeamento empregando a cinemática de Reissner, da qual escreve-se as coordenadas de um ponto ( ),i i i

m m mp x y= conforme

as eq. (61) e (62):

i i im

hx ( , ) x ( ) sin ( )2

ξ η ξ η θ ξ= − (61)

i i im

hy ( , ) y ( ) cos ( )2

ξ η ξ η θ ξ= + . (62)

Os Gradientes do espaço adimensional para a configuração inicial quando i=I, ou deste espaço para a configuração deformada, quando i=II, conforme mostrados na figura 3, são obtidos derivando-se as equações (61) e (62), conforme (63):

i i

i ii 11 12

i i i i21 22

dx dxd dA A

AA A dy dy

d d

ξ η

ξ η

⎡ ⎤⎢ ⎥⎡ ⎤ ⎢ ⎥= =⎢ ⎥ ⎢ ⎥⎣ ⎦ ⎢ ⎥⎣ ⎦

, (63)

Os estiramentos tλ e nλ podem ser calculados, seguindo as direções

adimensionais ξ e η com o uso dos vetores unitários TtM ]0,1[=

re T

nM ]1,0[=r

(ver Figura 3) como segue nas equações (64) e (65):

( ) ( )2212

1101

)( iiit

it AAAM +=⎥

⎤⎢⎣

⎡==

rλλ (64)

110

)( =⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡== i

nin AM

rλλ (65)

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Figura 3 - Versores e vetores nas 3 configurações.

nota-se que nas direções 2 e 3 não ocorre deformação nesta formulação, ou seja, 12 =λ e 13 =λ .

Os estiramentos λt e λn em relação à configuração inicial B0 conforme eq. (66) e (67), e as deformações não lineares “de engenharia” tε e nε , conforme GRECO e

CODA (2006), nas direções Tr

e Nr

, são descritas nas equações (68) e (69).

( ) ( )( ) ( )221

211

221

211

II

IIII

It

IIt

t

AA

AA

+

+==

λλ

λ (66)

1== In

IIn

n λλ

λ (67)

1−= tt λε (68)

01 =−= nn λε (69)

Finalmente, a energia específica de deformação para uma lei constitutiva linear simples, é escrita na equação (70), onde E é o modulo de elasticidade do material.

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=

221 2

2 tnte Eu

γε (70)

Integrando-se no volume de referência, obtém-se a energia de deformação:

∫ ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+=

0

0

22

221

V

tnte dVEU

γε , (71)

A Energia cinética é calculada conforme a equação (72):

∫=0V 0ii0 dvxx

21K &&ρ (72)

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onde ix& são as velocidades e 0ρ a densidade. O termo dissipativo Q , tem sua forma diferencial de acordo com a equação (73) (ver GRECO e CODA (2006)):

∫∫ =∂∂

=∂∂

0000),(),(

v imvii

dvxdvtxqp

xtQp

&λ (73)

onde q é o funcional dissipativo, mλ é uma constante de proporcionalidade e ip , que agora varia no tempo, é a posição.

Substituindo-se as equações (71), (72) e (73) na equação (60) e derivando-se a mesma em relação a uma posição nodal genérica sX , sendo iX a posição i, e aplicando o princípio do mínimo potencial de energia, desenvolve-se a técnica de solução (ver MACIEL e CODA (2005)).

2.3 Acoplamento entre fluido e estrutura

O esquema de acoplamento utilizado foi o esquema particionado, conforme já definido, e segue o procedimento descrito no fluxograma da Figura 4.

Figura 4 - Fluxograma do programa de interação fluido-estrutura.

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O critério principal para a deformação da malha é o de que a mesma tenha mínimas alterações na forma (ângulos) dos elementos na região da estrutura (onde em geral a discretização é bem mais detalhada), de forma que os pontos próximos à estrutura terão deslocamentos próximos aos da estrutura, e, a medida em que os pontos se afastam da estrutura, os deslocamentos diminuem. Para os pontos no contorno da estrutura o deslocamento será igual ao da estrutura, e para os pontos no contorno da discretização do problema, o deslocamento será nulo. Assim, o método utilizado é semelhante ao utilizado por TEIXEIRA (2001), e consiste na distribuição das velocidades k

iw dos pontos k da malha, na direção do eixo i=x ou y, variando de

acordo com a distância aos pontos no contorno da estrutura, onde kiw assume o valor

da velocidade do ponto comum à estrutura kiu , i a distância aos pontos do contorno

fixo, onde a velocidade kiw é nula, conforme a equação (74).

1

1 1

nej

kj ijk

i nfne

kj klj l

a uw

a b

=

= =

=+

∑ ∑ (74)

onde ne é o número de nós da estrutura, nf é o número de nós no contorno fixo, kja

são os coeficientes de influência dos nós da estrutura no ponto k dados na equação (75), e klb são os coeficientes de influência dos nós do contorno fixo no ponto k conforme eq. (76).

1

1kj e

kj

ad

= (75)

2

1kl e

kl

bd

= (76)

onde kjd é a distância entre o nó k e o nó j e e1 e e2 são expoentes referentes à

influencia dos contornos móvel e fixo, arbitrados pelo operador do programa. A atualização das cargas sobre a estrutura no tempo t é feita fazendo a

componente de carga normal igual à força de superfície normal do fluido no contorno que é fronteira com a estrutura e a componente de carga tangencial igual à força de superfície tangencial no mesmo ponto, conforme (77) e (78), onde o índice i

representa o nó do domínio fluido comum à estrutura e xn e yn são os as componentes em x e em y do vetor normal no ponto i, para fora do domínio do fluido.

2i yy y y xx x x xy x y iqn n n n n p n nτ τ τ⎡ ⎤= − − − −⎣ ⎦ (77)

( ) ( )i yx y y x x yy xx y x iqt n n n n n nτ τ τ⎡ ⎤= − + + −⎣ ⎦ (78)

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3 IMPLEMENTAÇÃO COMPUTACIONAL

Para o fluido utilizou-se elementos triangulares com 3 nós e funções aproximadoras lineares φi, onde i é o número do nó variando de 1 a 3, observando-se a partição da unidade.

Para que o presente algoritmo na forma explícita tenha estabilidade, o intervalo de tempo a ser utilizado para cada elemento, definido pelo problema de convecção difusão, é função do tamanho do elemento e da velocidade do escoamento e do som no fluido, conforme (79), (NITHIARASU et al., (2000), ZIENKIEWICZ e TAYLOR (2000)):

convht

V cΔ =

+, (79)

onde V é o módulo da velocidade no nó i, c é a velocidade do som, e h mede o tamanho relativo do elemento, sendo que para os problemas bidimensionais, é obtido da equação (80), onde Ladoi é o comprimento do lado oposto ao ponto i.:

min(2* / )elemento ih Área Lado= (80)

Conforme desenvolvido por MACIEL e CODA (2005), o código para mecânica das estruturas permite ao operador escolher o número de nós de cada elemento finito, sendo o grau das funções de forma Φ igual ao número de nós do elemento menos 1 (nnos-1). As funções de forma e suas derivadas são calculadas automaticamente pelas formulas gerais dos polinômios de Lagrange.

4 APLICAÇÕES

4.1 Escoamento sobre arco flexível Neste exemplo de aplicação, tomou-se um arco de 180º e raio de 20 m de

material com módulo de elasticidade longitudinal E=210 GPa e coeficiente de Poisson nulo. Testaram-se duas seções transversais diferentes, a primeira com espessura de 1 cm e largura de 1 m, e a segunda com espessura de 5 cm e largura de 1 m. O escoamento não perturbado apresenta:

Velocidade do som: c=345 m/s

Velocidade do escoamento não perturbado nas direções x e y:

28,0)10/(30 yu =∞ m/s,

0=∞v m/s

Massa Específica: =ρ 1,21 Kg/m³

Calor específico a pressão constante: =pc 1005,2 J/(kg.K)

Calor específico a volume constante: =vc 718 J/(kg.K)

Viscosidade dinâmica =μ 0.0000179 Pa.s

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Condutividade térmica nula.

No instante inicial consideram-se as propriedades acima para todo o domínio de fluido, então se impõe a condição de contorno na estrutura. Na entrada prescreveu-se as velocidades, na saída prescreveu-se a pressão e a velocidade vertical e internamente ao arco, impôs-se uma pressão constante igual a 100281 Pa (fluxo não perturbado).

A malha para o domínio do fluido (ver Figura 5) possui 1272 nós e 2392 elementos. A estrutura foi discretizada com 31 nós e 10 elementos de aproximação cúbica. Para a estrutura foi de 0,01 s, com um ciclo de 100 passos de 0,0001 s para o fluido.

Figura 5 - Malha para o arco.

Nos gráficos da figuras 7 (a) e (b), apresenta-se respectivamente o deslocamento horizontal do nó destacado na figura 6 com o passar do tempo para o arco com espessura de 1 cm e para o com espessura 5 cm.

Figura 6 - Nó usado para gerar os gráficos.

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00.5

11.5

22.5

33.5

44.5

5

0 2 4 6 8 10

Tempo (s)

Desl

ocam

ento

hor

izon

tal (

m)

(a) e=1 cm

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0 2 4 6 8 10

Tempo (s)

Desl

ocam

ento

hor

izon

tal (

m)

(b)e=5 cm

Figura 7 - Deslocamento horizontal vs. tempo para o nó de referencia.

Na Figura 8 (a-c) é mostrado a distribuição de pressão sobre o arco de espessura 1 cm deformado nos instantes 0,5 s, 1 s e 2 s, enquanto na Figura 9 (a-c), é mostrado a distribuição de pressão sobre o arco de espessura 5 cm deformado nos instantes 0,35 s, 0,95 s e 1,87 s.

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50

(a) t=0,5 s

(b) t=1,0 s

(c) t=2,0 s

Figura 8 - Pressão (Pa) sobre o arco de espessura de 1 cm.

(a) t=0,35 s (b) t=0,95 s

(c) t=1,87 s

Figura 9 - Distribuição de pressão sobre o arco de 5 cm de espessura.

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Nas figuras 10 a e b, apresenta-se a distribuição de tensões normais xxσ , sendo x o eixo longitudinal da estrutura, nas faces externas do arco de 1 cm de espessura no instante t=0,5 s e do arco de 5 cm de espessura, no instante t=0,95 s.

(a) (b)

Figura 10 - Tensões (Pa) no arco (a) de 1 cm de espessura em t=0,5 s e (b) de 5 cm de espessura e t=0,95 s.

4.2 Escoamento sobre arco com estrutura interna

Tomando-se o arco de espessura e=1 cm do item 11.3, criou-se uma estrutura interna ao mesmo, toda composta por barras rotuladas nos nós e com as mesmas propriedades do arco, conforme a Figura 11.

Figura 11 - Arco treliçado.

Utilizando-se a mesma malha para o fluido, as mesmas propriedades e condições de contorno, e o mesmo nó de referência do item 11.3, foi possível gerar o gráfico da figura 12, onde nota-se o elevado aumento de rigidez em relação ao mesmo arco sem a estrutura interna. As distribuições de pressão mostradas na Figura 13 (a-c) foram obtidas para os instantes t=0,05 s, t=0,12 s e t=1,8 s.

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0

0.01

0.02

0.03

0.04

0.05

0.06

0.07

0 1 2 3 4 5 6 7 8

Tempo (s)

Des

loca

men

to h

oriz

onta

l (m

)

Figura 12 - Deslocamento horizontal vs. tempo para o arco treliçado.

(a)t=0,05 s

(b)t=0,12 s

(c)t=1,8 s

Figura 13 - Distribuição de pressão (Pa) sobre o arco treliçado.

Na figura 14 apresenta-se a distribuição dos esforços normais no arco, no instante t=1 s.

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Figura 14 - Esforços normais (N).

Nota-se que estruturando-se o arco internamente foi possível cria uma estrutura com menores deslocamentos e mais leve do que aumentando de 5 vezes a espessura da estrutura do primeiro exemplo.

5 CONCLUSÃO

Neste trabalho, utiliza-se com sucesso o algoritmo CBS (Characteristic Based Split) em sua versão explícita, em uma formulação Lagrangeana – Euleriana Arbitrária acoplado ao algoritmo para mecânica das estruturas desenvolvido por MACIEL e CODA (2005) de forma a produzir um algoritmo particionado para análise de interação fluido – estrutura, e exemplos de aplicações foram apresentados de forma a demonstrar o funcionamento do mesmo.

Muitas são as dificuldades para elaboração de algoritmos que simulem problemas de interação fluido estrutura. Dentre estas dificuldades destacam-se, por exemplo, a formulação e características diferentes para os dois materiais, a dificuldade em se encontrar as condições de contorno adequadas a cada problema e a qualidade do equipamento utilizado, uma vez que à medida que os problemas a serem simulados vão se tornando mais ricos em detalhes, faz-se necessário uma discretização bem mais refinada, elevando bastante o tempo de processamento.

Os seguintes 6 tópicos são levantados como importantes para futuros estudos que podem ser desenvolvidos sobre o presente trabalho: 1) Melhoria do desempenho do algoritmo e da sua interação com o usuário, incluindo processamento paralelo, 2) Estudo aprofundado sobre instabilidade e amortecimento numérico que possam ocorrer no algoritmo, 3) Implementação de modelos de turbulência, 4) Implementação de elementos finitos iso-paramétricos de maior ordem para o fluido, 5) Implementação de algum modelo de adaptação de malha para o domínio do fluido e 6) Expansão para uma análise tridimensional.

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