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Departamento de Geografia 1 ANÁLISE MICROCLIMÁTICA DO GRADIENTE FLORESTA-CIDADE NA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ, RIO DE JANEIRO/RJ Aluna: Camila Thomé de Albuquerque Orientadora: Rita de Cássia Martins Montezuma Introdução O processo de urbanização, que substitui superfícies naturais e ecossistemas nativos por outros alterados ou construídos, traz uma série de consequências para as cidades e para as suas populações. Uma das alterações mais significativas é o impacto que a intensificação do uso do solo, com o aumento de áreas edificadas, causa no comportamento microclimático dos sítios urbanos. As mudanças nas formas de uso e ocupação das cidades alteram a dinâmica microclimática a partir da mudança no ritmo de suas variáveis – temperatura, umidade e radiação luminosa. O clima caracteriza-se como “o ambiente atmosférico constituído pela série de estados da atmosfera sobre um lugar em sua sucessão habitual”. O microclima é definido como os fenômenos climáticos de pequenos espaços, como os que ocorrem junto ao solo e sobre as plantas [2]. Clima e microclima, em geral, são influenciados diretamente pela irregularidade da superfície terrestre, pela distribuição das massas de água e de vegetação e por muitos outros fatores. Não obedece só ao conjunto de fatores físicos, ou causas puramente naturais, mas também a intervenção de fatores biológicos e causas derivadas de ações humanas [2]. Partindo de uma perspectiva sistêmica, o clima urbano é o resultado de alterações nos fluxos de energia e matéria (tais como calor, ar e água), oriundos da atmosfera sobre a cidade. Sendo assim, essas alterações produzem efeitos que podem trazer prejuízos de

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Departamento de Geografia

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ANÁLISE MICROCLIMÁTICA DO GRADIENTE FLORESTA-CIDADE

NA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ, RIO DE JANEIRO/RJ

Aluna: Camila Thomé de Albuquerque

Orientadora: Rita de Cássia Martins Montezuma

Introdução

O processo de urbanização, que substitui superfícies naturais e ecossistemas nativos

por outros alterados ou construídos, traz uma série de consequências para as cidades e para as

suas populações. Uma das alterações mais significativas é o impacto que a intensificação do

uso do solo, com o aumento de áreas edificadas, causa no comportamento microclimático dos

sítios urbanos. As mudanças nas formas de uso e ocupação das cidades alteram a dinâmica

microclimática a partir da mudança no ritmo de suas variáveis – temperatura, umidade e

radiação luminosa. O clima caracteriza-se como “o ambiente atmosférico constituído pela

série de estados da atmosfera sobre um lugar em sua sucessão habitual”. O microclima é

definido como os fenômenos climáticos de pequenos espaços, como os que ocorrem junto ao

solo e sobre as plantas [2]. Clima e microclima, em geral, são influenciados diretamente pela

irregularidade da superfície terrestre, pela distribuição das massas de água e de vegetação e

por muitos outros fatores. Não obedece só ao conjunto de fatores físicos, ou causas puramente

naturais, mas também a intervenção de fatores biológicos e causas derivadas de ações

humanas [2]. Partindo de uma perspectiva sistêmica, o clima urbano é o resultado de

alterações nos fluxos de energia e matéria (tais como calor, ar e água), oriundos da atmosfera

sobre a cidade. Sendo assim, essas alterações produzem efeitos que podem trazer prejuízos de

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ordem econômica, social e ambiental para os espaços urbanos e para os citadinos, tais como:

impactos pluviais, poluição do ar, surgimento de ilhas de calor, desconforto térmico e

problemas de saúde, dentre outros fenômenos [5].

Em ambientes urbanos a qualidade climatológica sofre diferenças significavas

comparativamente com qualidade de ambientes rurais, fato que demonstra que o clima nas

cidades sofre influência das formas de ocupação e da geometria urbana [7]. Tendo como

parâmetro para essa avaliação o comportamento microclimático, o presente estudo está focado

na investigação da interação sociedade-natureza através da análise das mudanças de classes de

uso e cobertura da superfície associadas às características socioeconômicas de locais da Zona

Oeste do Rio de Janeiro. Essa área é palco da expansão urbana da capital metropolitana e vem

sendo foco das ações promovidas pela lei 104/09 – Projeto de Estruturação Urbana das

Vargens, que alterou os seus parâmetros urbanísticos e caracteriza-se como principal

promotor das transformações locais [8]. Essas mudanças ignoram as peculiaridades

geoecossistêmicas da região, reduzindo índices de permeabilidade e aumentando o potencial

construtivo em toda a sua extensão, fato que arremete ao aumento da especulação imobiliária

e que, consequentemente, produz alterações nos ecossistemas remanescentes locais. Essas

alterações imprimem modificações no arranjo espacial dos elementos que formam essa

paisagem [3][4], e em consequência ocorrem respostas ambientais. “A importância da

funcionalidade dos ecossistemas na manutenção do equilíbrio e sustentabilidade ecológica,

em outras palavras, as funções ecológicas que espécies e ecossistemas prestam à população,

devem ser avaliados tanto na escala do ecossistema específico, como na escala da paisagem,

posto que cada ecossistema interage resultando em uma regulação em ampla escala.” [6].

Objetivos

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Diante desse –problema apresentado, o presente estudo tem por objetivo geral analisar

a transformação da paisagem e, especificamente, pretende avaliar a influência da morfologia

urbana e dos diferentes usos do solo no comportamento microclimático em áreas com

diferentes formas de edificação. Aborda a questão da análise microclimática sobre uma área

da zona oeste do Rio de Janeiro – RJ, que está passando por um acelerado processo de

expansão da urbanização, promovendo alterações nos padrões urbanísticos locais. Busca-se

discutir o comportamento dos elementos gerados por essas mudanças e que influenciam nas

condições climáticas e geográficas da área de estudo. A presente pesquisa compartilha da

ideia de sistema clima urbano (SCU) acerca do subsistema termodinâmico da cidade [5].

Procedimentos Metodológicos

A expansão da urbanização gera mudanças nas características do meio natural, alteram

as funções ecológicas, dentre elas o comportamento térmico. Estudos sobre clima urbano

comprovam que o aumento da malha urbana gera significativas alterações climáticas em

diversas escalas espaciais e temporais. O presente trabalho utiliza a escala local como escala

de investigação dos processos microclimáticos, pois, segundo OKE (2004) é a escala em que

os fatores que compõem o clima urbano sofrem influência das características da paisagem,

como por exemplo, da topografia. Nas áreas urbanas, isto se traduz em dizer que na escala

local o clima da área monitorada pode ter o mesmo comportamento do clima de áreas vizinhas

com tipos similares de morfologia e ocupação urbanas (cobertura da superfície, tamanho e

espaçamento dos edifícios, e a atividades). As estações meteorológicas são projetadas para

monitorar na escala local [9].

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Figura 1 - Esquema de escalas climáticas e camadas verticais encontradas em áreas urbanas. Em destaque a

escala empregada neste trabalho. Fonte: OKE (2006), adaptado.

Além disso, adota como unidade espacial de análise preferencial - a bacia hidrográfica.

Tal escolha é justificada, entre outros motivos, devido ao fato dos processos geobiofísicos e

sociais se relacionarem nessa escala espacial, o que permite analisar em uma única área

fenômenos integrados, e pelo fato dos limites da bacia ser relativamente identificáveis.

Tem-se como recorte espacial a sub-bacia da Zona dos Canais que é uma parte da

bacia definida pelo Instituto Pereira Passos (IPP) como bacia da Zona dos Canais, vertente sul

do Maciço da Pedra Branca, zona Oeste do Rio de Janeiro - RJ, que foi selecionada como

unidade de paisagem. Essa sub-bacia comporta os bairros de Vargem Grande, Vargem

Pequena e ao sul o Recreio dos Bandeirantes, tendo como principal eixo de drenagem o Canal

do Rio Morto.

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O bairro de Vargem Grande guarda no seu espaço marcas da transição entre as práticas

rurais e as urbanas, o que resulta em uma grande variedade de tipologias construtivas que

refletem diferentes estágios de urbanização assim como diversas formas de uso e cobertura da

superfície. A pesquisa está focada nessa área por ser escopo da expansão urbana, ou seja,

onde o crescimento dos núcleos de ocupação ainda está em processo principalmente pelas

ações recentes promovidas pelo PEU das Vargens, que atualmente é o principal vetor das

transformações locais. Vale ressaltar que dos onze setores estabelecidos pelo PEU das

Vargens para o zoneamento do solo na zona Oeste, seis estão presentes total ou parcialmente

no recorte espacial adotado na pesquisa, a saber, setores A, B, C, D, E, G e H (Figura 2).

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Figura 2 - Mapa da sub-bacia da Zona dos Canais, Rio de Janeiro/RJ e dos setores do PEU das Vargens. Fonte:

NIPP/PGE/PUC-RJ/SEL-RJ/PROARQ/UFRJ, adaptado do IPP. Apoio FAPERJ/FAPESP, 2012. Produzido por:

Victor Gonçalves Victório.

Por causa da grande heterogeneidade da área, a sub-bacia da Zona dos Canais foi

dividida em quatro sub-unidades de paisagem sequências (Figura 2) e os critérios adotados

para essa delimitação foram a variação da densidade construtiva associada às condições

geomorfológicas. As sub-unidades de paisagem adotadas são: o domínio florestal de encostas

(UP1), domínio de interface floresta/zona edificada (UP2), domínio das edificações de baixa

densidade construtiva (UP3) e domínio de alta densidade construtiva (UP4), no sentido norte-

sul (floresta-orla).

A sub-bacia da Zona dos Canais apresenta uma grande área florestada ao norte e ao

sudoeste da encosta, e em algumas áreas essa floresta se encontra mais fragmentada formando

mosaicos de floresta alterada, bananais e vegetação rasteira. Essa microbacia é composta de

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áreas úmidas, matas de encosta ao norte, áreas de mangue e restingas ao sul de inúmeras áreas

alagadas ocupadas por brejos e florestas alagadas (matas paludosas) ou por campos agrícolas.

A partir da variação topológica de cada subunidade foram definidos com base na

classificação de uma imagem GeoEye 2011, com 0,5 m de resolução obtida em julho de 2011,

sendo utilizado o software Arc Gis versão 10.1 As definições atribuídas a cada classe ou

categoria de qualificação dos padrões observados e usos predominantes em cada sub-unidade

da bacia hidrográfica foram escolhidas a partir de levantamentos bibliográficos para

fundamentação da nomenclatura e dos conceitos adotados.

Após a classificação foram selecionados locais úteis ao monitoramento microclimático

(Figura 3). Posteriormente a essa análise foram realizadas algumas visitas de campo para a

validação dos pontos selecionados e levantamento de endereços com características

favoráveis a instalação dos medidores e a definição dos sítios amostrais. Para cada unidade de

paisagem foram selecionados sítios amostrais representativos das principais formas de

ocupação existente. Nesse procedimento foram consideradas as variações do desenho urbano

[1], pois “a formação dos ambientes térmicos urbanos está diretamente associada aos aspectos

da morfologia do seu entorno, bem como pelo conjunto complexo da estrutura urbana”, [10] e

a segurança dos equipamentos utilizados na medição.

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Figura 3 - Mapa dos Pontos amostrais, Bacia da Zona dos Canais, Rio de Janeiro/RJ. (NIPP/PGE/PUC-RJ/SEL-

RJ/PROARQ/UFRJ. Apoio FAPERJ/FAPESP, 2012. Produzido por: Natasha Muniz e Victor Victório.

Para análise microclimática, em cada sítio amostral estão sendo mensurados dois dos

principais parâmetros do microclima: temperatura e umidade relativa do ar. O monitoramento

está sendo realizado em duas estações verão e inverno de 2013. No verão os dados foram

UP1

UP2

UP3

UP4

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coletados durante os meses de fevereiro e março, período de pico da estação, e as medidas

estão sendo realizadas simultaneamente em duas unidades de paisagem, no período de sete

dias seguidos, com frequência amostral de 15 minutos. Os dados primários estão sendo

obtidos em pontos fixos a partir de data loggers de temperatura e umidade, marca TESTO

174H e de quatro estações meteorológicas da marca e modelo Davis e Vantage Pro2 Plus -

Sem Fio.

Antes da instalação nos pontos amostrais os data loggers foram fixados dentro de

escudos de proteção da radiação solar, modelo HOBO RS1 Solar Radiation Shield, da marca

Onset HOBO (dimensão de 152 mm x 213 mm x 188 mm), que funcionam como protetores

da exposição direta ao calor da luz solar, da radiação refletida e da precipitação, variáveis que

podem influenciar no dado microclimático e danificar o equipamento. Os protetores são

compostos por oito placas empilhadas que se juntam para formar um escudo protetor,

permitindo a circulação do ar entre as placas. As três placas do meio são vazadas para garantir

o espaço de fixação dos data loggers (Figura 4). Após a fixação dos medidores os protetores

foram instalados em suportes verticais feitos de bambu a uma altura entre 2,0 m, altura

baseada nos limites de 1,25 m a 2 m, definidos de acordo com o método descrito em Initial

Guidance to Obtain Representative Meteorological Observations at Urban Sites - Canada,

WMO [9].

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Figura 4 - Mini data logger de temperatura e umidade, marca TESTO 174H e escudo de proteção da radiação

solar, modelo HOBO RS1 Solar Radiation Shield, da marca Onset HOBO. Fonte: Montezuma, 2012.

Tendo em vista, a presença de áreas com diferentes níveis de urbanização e edificação,

foi elaborada uma chave de classificação das formas de uso e ocupação do solo urbano. Para

tanto, foi utilizado como referência teórico-metodológica a classificação simplificada das

distintas formas urbanas em ordem decrescente de suscetibilidade ao impacto do clima local

[9]. Foi criada uma tabela adaptada de acordo com as características de condição urbana da

bacia em foco e, como experiência piloto, foram empregadas categorias qualitativas de

análise, as quais serão posteriormente quantificadas e detalhadas por sítio amostral. A chave

de classificação está em processo de validação a partir de referência de campo e das

discussões técnicas debatidas no âmbito dos Encontros Técnicos e Colóquios do projeto de

pesquisa “Mudanças climáticas e as formas de ocupação urbana” (EDITAL FAPERJ/FAPESP

MUDANÇAS CLIMÁTICAS-2010), vinculado às instituições acadêmicas: Departamento de

Geografia da UFF, Departamento de Geografia da PUC-Rio, PROARQ-FAU/UFRJ e

Mestrado em Urbanismo da PUC Campinas, com o qual este projeto está associado.

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Figura 5 - Data logger instalado em um dos postos amostrais da UP4. Fonte: NIPP, 2013.

Resultados Preliminares

Tem-se como resultado preliminar a análise parcial dos dados microclimáticos obtidos

nas unidades de paisagem 3 e 4, situadas próximas a orla marítima da Baixada de

Jacarepaguá, primeiras áreas mensuradas. Nestas unidades a medição microclimática foi

realizada no ápice do verão, no período de 02 a 07/02/2013. Como análise preliminar tem-se

as seguintes observações:

Observou-se que os dias mais quentes e estáveis registrados no período foram os dias

02 e 03 de fevereiro de 2013. A partir de uma análise dos dados percebeu-se que em média a

variação de temperatura dá-se a partir das 7h da manhã, momento em que normalmente se

inicia uma elevação de temperatura em todos os pontos observados e a partir das 17h nota-se

uma redução constante da temperatura.

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A partir análise parcial dos dados de temperatura observou-se que no período

mensurado a UP4 apresentou as médias mais elevadas de temperatura, no ponto amostral

identificado como P16, residência localizada em uma área de alta densidade construtiva na

orla marítima. Este ponto amostral registrou 67% das temperaturas médias diárias mais

elevadas nesta UP e esses valores variaram entre 23,2°C e 24,4°C, seguido pelo ponto P12

situado na UP3, correspondente a um condomínio horizontal localizado em uma área de baixa

densidade urbana e com domínio de edificações de baixa densidade construtiva, área onde a

expansão da urbanização é mais evidente.

Este ponto de coleta situa-se em uma rua paralela à orla marítima, caracterizada por

edificações de até 5 pavimentos, no bairro Recreio dos Bandeirantes. O segundo local mais

quente localiza-se na UP3 em um condomínio horizontal recém construído, na margem leste

do Rio Morto (P12). Neste foram obtidas os segundos maiores valores de temperatura média

diária com 83,3% dos registros de temperaturas médias diárias mais elevadas e esses valores

variaram entre 22,9°C e 28,8°C.

Entretanto, as máximas de temperatura foram registradas na UP3, no ponto

identificado como P10, Favela do Pombo da Asa Quebrada, área com domínio de edificações

de baixa densidade construtiva e predomínio de 2 a 3 pavimentos. Entre os seis dias

mensurados, mais da metade (66,6%) das temperaturas máximas diárias foram registradas

nesse ponto variando entre 26,8°C e 33,9°C. A segunda área que apresentou os maiores

valores de temperatura foi na UP4, no ponto identificado como P15, condomínio horizontal

com casas de alto luxo, na margem oeste do Rio Morto. Neste caso 66,6% das máximas

diárias variaram entre 26,6°C e 28,5°C. Este dado sugere que o espaçamento entre as

edificações possa ser um fator de retenção de calor.

As mínimas mais elevadas de temperatura também foram registradas na no ponto 16

da UP4, o que sugere que esta localidade, embora a mais próxima do mar, é o local mais

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quente das duas unidades de paisagem aqui contempladas. Os menores registros de

temperatura mínima também foram obtidos na UP4, entretanto em um ponto mais afastado

P14, em um sítio situado em uma área onde esta forma de uso é predominante (Estrada do

Pontal – próxima a orla e das encostas do maciço da Pedra Branca), porém desde 2010 vem

sendo substituída por condomínios fechados, na sua maioria horizontais e de alto luxo. Nesta

Unidade, em relação ao comportamento diário, o ponto P14 apresentou 83,3% das suas

temperaturas mínimas diárias, isto é, a maioria dos valores mínimos registrados nesse ponto

foram os mais baixos de todo o período no que diz respeito às temperaturas mínimas

encontradas nos outros pontos e esses valores variaram entre 19,4°C e 23,1°C. A segunda área

que apresentou os menores valores de temperatura foi na UP4, no ponto identificado como

P13, outra área de favela com domínio de edificações com densidade construtiva média e

baixa densidade urbana.

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A partir da análise parcial dos dados de umidade observou-se que as médias diárias

mais elevadas de umidade foram obtidas na UP4, também na área de favela (P13). Quanto às

médias diárias 50% dos valores médios diários nesse ponto variaram entre 69,5 % UR e

95,9% UR.

Em relação aos máximos de umidade, 83,3 % se localizaram em área de favela situada

na UP4, com valores superiores a 90%, indicando a ocorrência de chuvas localizadas no

período, vale dizer que esta favela está situada em área úmida e às margens do rio Morto. Na

UP3 foram registradas 50% das umidades máximas diárias, no ponto identificado como P17 -

Figura 6 - Variação da temperatura diária nas Unidades de Paisagem 3 e 4 (UP3 e UP4). Fonte: NIPP/PUC-Rio (2013).

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condomínio horizontal com casas de alto luxo, dominado por edificações de poucos

pavimentos e também situado em área alagada, ocupada por brejos e com pequenos

fragmentos de florestas alagadas (matas paludosas), com pequenas áreas de cultivo em alguns

pontos. Quanto ao registro dos valores mínimos, os menores valores de umidade do período

se distribuíram uniformemente, isto é, cada dia um dos pontos amostrais apresentou baixos

valores de umidade, entretanto a UP4 foi a área que registrou maior quantidade de valores

mínimos de umidade (66,6%), o que indica que esta unidade apresenta as maiores oscilações

no período, sobretudo nos pontos identificadas como P16, P15 e P14.

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Baseando-se na análise preliminar dos dados obtidos conclui-se que as médias mais

elevadas de temperatura e umidade foram registradas na área próxima ao mar,

especificamente a orla da bacia, UP4, notadamente nos pontos P16 e P14, caracterizados por

ser uma parte do terreno onde o processo de edificação está mais consolidado, com domínio

de alta densidade construtiva próximo à praia.

No caso do ponto P16 o maior valor entre as médias de temperatura mais elevadas e o

maior entre as mínimas de temperaturas mais elevadas o caracteriza com o ponto mais quente

de toda a localidade estudada, enquanto o ponto P13 assim como o P14 apresentaram-se com

Figura 7 - Variação da umidade diária nas Unidades de Paisagem 3 e 4 (UP_3 e UP_4). Fonte: NIPP/PUC-Rio (2013).

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a maior condição de umidade do período. Talvez devido á localização a sotavento da bacia e

onde os ventos úmidos de SE incidem, adjacentes ao anfiteatro formado pelo Maciço da Pedra

Branca a oeste. Ali são concentradas as mais altas pluviosidades do município (EMA da Grota

Funda/GEORIO).

Por outro lado a UP3 também pode ser caracterizada como um ambiente de alta

umidade e, neste caso, a condições de solos saturados e a presença de remanescentes dos

antigos brejos que predominavam em todo segmento sul da Baixada de Jacarepaguá, parece

ainda ser uma fonte permanente de umidade, sobretudo porque parte deste terreno, ainda que

aterrado, não se encontra pavimentado na sua maior parte. Esta umidade elevada do local

pode contribuir para a retenção de calor, mantendo as temperaturas elevadas no verão

(24,9°C).

Considerando que a área de estudo se encontra num acelerado processo de expansão

da urbanização e as inúmeras possibilidades de intervenção por força do planejamento urbano

nesse processo, esta pesquisa mostra-se relevante no que se refere à contribuição, ainda que

modesta, aos estudos sobre conforto térmico urbano, sobre saúde e qualidade de vida. Os

dados de microclima urbano associados à caracterização das formas de ocupação podem

contribuir para análises sobre como as variáveis microclimáticas condicionam e/ou geram

vulnerabilidades, que podem trazer riscos sócio e fisicoambientais para a população. A

avaliação do comportamento do microclima nos espaços urbanos consolidados pode subsidiar

o planejamento urbano na elaboração de diretrizes urbanísticas, que visem melhores

condições climáticas nas cidades, contribuindo para a adaptação dos espaços urbanos e

periurbanos a mudanças climáticas em escala local, assegurar o conforto térmico e a

qualidade de vida da população, servir na implementação de processos de adaptação das

cidades ao contexto das paisagens em que estão inseridas e, mitigar impactos resultantes de

mudanças climáticas na escala local.

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Referências

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2 - CHEBATAROFF, J. Introdução ao estudo de microclimas. In: Boletim Geográfico, IBGE,

28(11), p. 17-39, 1969.

3 - COSGROVE, D. A geografia está em toda parte: Cultura e simbolismo nas paisagens

humanas. In: CORRÊA, R. L. & ROZENDAHL, Z. (orgs.). Paisagem, Tempo e Cultura. Rio

de Janeiro: Eduerj, 123p. p.92-12, 1998.

4 - FORMAN, R.T.T. & GODRON, R. Landscape Ecology. John Wiley & Sons, Inc. New

York. 1986.

5 - MENDONÇA, F. & MONTEIRO, C. A.. Clima urbano. São Paulo: Contexto, 2002.

6 - MONTEZUMA, R. C. M. & OLIVEIRA, R. R. “Os ecossistemas da Baixada de

Jacarepaguá”. Arquitextos, Ano 10, nº 116, 2010. {http://www.vitruvius.com.br/revistas/read/

arquitextos/10.116/3385.

7 - MONTEZUMA, R. C. M & PEZZUTO, C. C. Métodos e técnicas para monitoramento

microclimático em áreas de florestas e edificadas. II Encontro da Associação Nacional de

Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo. (ENAMPARQ) II, Brasília, DF,

Brasil. Anais, 2012.

8 - NAME, L. Análise da ocupação proposta pelo PEU das Vargens tendo como foco

densidades, infraestruturas e condições ambientais. Arquitextos, Ano 10, nº 116, 2010.

9 - OKE, T. R. Initial guidance to obtain representative meteorological observations at urban

sites Canada, WMO/TD - n° 1250, 2006.

10 - PEZZUTO, C. C.. Avaliação do ambiente térmico nos espaços urbanos abertos: Estudo

de caso em Campinas, SP. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) Faculdade de Engenharia

Civil, Arquitetura e Urbanismo, Universidade de Campinas, Campinas, 2007.

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