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ANÁLISE MATEMÁTICA I(com Laboratórios)
Curso: EB
Lógica - Resumo
Ana Matos
DMAT
Noções básicas de Lógica
Consideremos uma linguagem, com certos símbolos.
Chamamos expressão a qualquer sequência de símbolos.
Uma expressão pode ser
uma expressão com significado
↗
↘
expressão sem significado
designar um objecto
Uma expressão com significado pode ↗
↘
traduzir uma afirmação
Termo ou designação é uma expressão com significado quedesigna um objecto.
Exemplo:
1. Em português, “Ana” e “gato” são termos ou designações;“Setúbal é uma cidade” é uma afirmação.
2. Na linguagem dos reais, “0” e “3 × 2 − 5” são termos oudesignações; “3 ≥ 5 + 2” é uma afirmação.
Nota: As aspas permitem distinguir a designação do ente
designado; quando não há risco de confusão, dispensamos o seu
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uso.
Na Lógica consideramos apenas afirmações sobre as quais sepossa decidir se são verdadeiras ou falsas - a que chamamosproposições.
O valor lógico de uma proposição é
↙↘
verdade falso
se a proposição for verdadeira se a proposição for falsa
↓ ↓
denota-se por V ou 1 denota-se por F ou 0
Toda a proposição tem um, e um só, dos valores V ou F.
Duas proposições dizem-se equivalentes quando têm o mesmovalor lógico.
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Cálculo Proposicional
Muitas afirmações que fazemos são obtidas a partir de outrasafirmações por meio de certas operações, como é o caso de:
1. 3 não é um número par;
2. 10 é múltiplo de 3 e π é um número irracional;
3. lne = 1 ou 2! = 2;
4. se eu sou um ser humano, então sou mortal;
5. vou à praia se e só se estiver bom tempo.
De igual modo, as operações lógicas permitem obter novasproposições a partir de outras, de modo que, se soubermos o
valor lógico das proposições de que foi obtida, sabemos o valor
lógico da nova proposição (independentemente do seu
significado).
Estas operações lógicas são:
negação, conjunção, disjunção, implicação e equivalência,
associadas aos símbolos ∼, ∧, ∨, ⇒, ⇔
chamados conectivos lógicos.
No Cálculo Proposicional faz-se o estudo destas operações erespectivas propriedades.
A tabela de verdade de uma operação lógica (ou de umaproposição) dá-nos o valor de verdade da nova proposição emfunção do valor de verdade das proposições de que foi obtida.
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Sejam p e q proposições:
• a negação de p representa-se por ∼ p e lê-se “não p”.
∼ p é verdadeira se e só se p é falsa
A sua tabela de verdade é p ∼ p
V F
F V
• a conjunção de p e q representa-se por p ∧ q e lê-se “p e q”.
p ∧ q é verdadeira caso p e q sejam ambas verdadeiras
e é falsa se pelo menos uma delas for falsa.
A sua tabela de verdade é p q p ∧ q
V V V
V F F
F V F
F F F
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• a disjunção de p e q representa-se por p ∨ q e lê-se “p ou q”.
p ∨ q é verdadeira se pelo menos uma das proposições
iniciais for verdadeira e é falsa se ambas forem falsas.
A sua tabela de verdade é p q p ∨ q
V V V
V F V
F V V
F F F
• a implicação de p por q representa-se por p ⇒ q e lê-se
“p implica q” ou “se p então q”.
- p é o antecedente e q é o consequente
- p é uma condição suficiente para q
- q é uma condição necessária para p.
O único caso em que a implicação é falsa é quando
o antecedente é verdadeiro e o consequente é falso.
A sua tabela de verdade é p q p ⇒ q
V V V
V F F
F V V
F F V
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Nota: O sentido aqui dado ao termo “implicação” não traduznecessariamente uma relação de causa-efeito entre as afirmações.Estabelece apenas uma relação entre os valores lógicos das duasproposições originais e o valor lógico da nova proposição.
Por exemplo, a proposição “2 é par”⇒“a Terra é um planeta” éuma proposição verdadeira, visto que ambas as afirmações sãoverdadeiras. No entanto, não há qualquer relação de causa-efeitoentre as duas afirmações.
Saliente-se ainda que, se o antecedente da implicação for falso,
a implicação é verdadeira, qualquer que seja o consequente.
• a equivalência entre p e q representa-se por p ⇔ q e lê-se“p equivale a q” ou “p se e só se q”.
p ⇔ q é verdadeira quando p e q têm o mesmo valor lógico
e é falsa caso contrário.
A sua tabela de verdade é p q p ⇔ q
V V V
V F F
F V F
F F V
Nota: Tal como no caso da implicação, a equivalência entre duasproposições não traduz necessariamente uma relação entre oconteúdo dessas proposições, mas apenas uma relação entre osseus valores lógicos.
Usam-se parêntesis para indicar a ordem pela qual se realizam as
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operações lógicas, sobrepondo-se à seguinte convenção deprioridade das operações:
• primeiro a negação;
• depois a conjunção e disjunção;
• por último a implicação e a equivalência.
Por exemplo, a proposição ∼ p ∧ q ⇔ ∼ p ∨ ∼ q podeescrever-se simplesmente ∼ p ∧ q ⇔∼ p ∨∼ q.
No entanto, certos parêntesis, embora dispensáveis, devem sermantidos pois tornam a leitura mais clara.
Nota: Podem ser definidas outras operações lógicas.
Por exemplo, a disjunção exclusiva, cuja tabela de verdade é
p q p ∨̇ q
V V F
V F V
F V V
F F F
O símbolo ∨̇ lê-se “ou exclusivo”
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Algumas propriedades das operações lógicas
Certas proposições, pelo modo como foram obtidas a partir deoutras proposições por meio das operações lógicas, são
verdadeiras, qualquer que seja o valor lógico das proposições
que a originam.
Uma proposição nestas condições diz-se uma tautologia.
As propriedades das operações lógicas podem ser expressas pormeio de tautologias.
Por exemplo, pode-se provar que
∼ ∼ p é equivalente a p
verificando que as proposições p e ∼ ∼ p têm sempre o mesmovalor de verdade, o que é o mesmo que verificar que
∼ ∼ p ⇔ p
é uma tautologia (ou seja, que o seu valor lógico é sempre V).
Vejamos a tabela de verdade:
p ∼ p ∼ ∼ p ∼ ∼ p ⇔ p
V F V V
F V F V
Propriedades da conjunção e da disjunção
A conjunção e a disjunção
• são comutativas;
• são associativas;
• têm elemento neutro;
• têm elemento absorvente.
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⋆ A conjunção é distributiva relativamente à disjunção, isto é
p ∧ q ∨ r é equivalente a p ∧ q ∨ p ∧ r.
⋆ A disjunção é distributiva relativamente à conjunção, isto é
p ∨ q ∧ r é equivalente a p ∨ q ∧ p ∨ r.
Tal como no caso anterior, a demonstração destas propriedades éfeita recorrendo às tabelas de verdade.
Por exemplo,
p ∧ q ∧ r ⇔ p ∧ q ∧ r
exprime a propriedade associativa da conjunção.
Vejamos que é verdadeira.
Na tabela de verdade
p q r p ∧ q p ∧ q ∧ r q ∧ r p ∧ q ∧ r
V V V V V V V
V V F V F F F
V F V F F F F
V F F F F F F
F V V F F V F
F V F F F F F
F F V F F F F
F F F F F F F
as colunas correspondentes a p ∧ q ∧ r e a p ∧ q ∧ r sãoiguais, o que garante que a proposição p ∧ q ∧ r ⇔ p ∧ q ∧ ré sempre verdadeira (ou seja, é uma tautologia).
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Em vez desta justificação final, podemos simplesmenteacrescentar à tabela anterior a coluna correspondente ap ∧ q ∧ r ⇔ p ∧ q ∧ r e comprovar que o seu valor lógico ésempre V.
Primeiras Leis de De Morgan
São tautologias:
• ∼ p ∧ q ⇔ ∼ p ∨∼ q;
• ∼ p ∨ q ⇔ ∼ p ∧∼ q.
Propriedades da implicação
São tautologias:
• p ⇒ q ⇔∼ p ∨ q;
• ∼ p ⇒ q ⇔ p ∧∼ q;
• p ⇒ q ⇔ ∼ q ⇒∼ p
(uma implicação e sua contra-recíproca são equivalentes).
Todas estas propriedades podem ser demonstradas por meio detabelas de verdade.
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Expressões com variáveis
Para estudar uma certa teoria:
• definimos uma linguagem adequada (que inclua, porexemplo, símbolos para as operações fundamentais);
• num certo conjunto - a que chamamos Universo -interpretamos devidamente os símbolos da linguagem.
Consideramos ainda variáveis, que são símbolos (ou grupos desímbolos) que podem ser substituídos por elementos do universo.
Por exemplo, no universo dos reais, temos a expressão x , emque x varia num certo subconjunto de ℝ (neste caso os reais nãonegativos).
Da substituição de x por qualquer real não negativo, resulta umadesignação (substituindo x por 2, obtemos 2 .
Considerando a expressão x ≥ 4 e substituíndo x por um valordo domínio de x obtemos uma proposição.
(Por exemplo, para o valor 5 obtemos 5 ≥ 4, que é umaproposição falsa; para o valor 16 obtemos 16 ≥ 4, que é umaproposição verdadeira.)
O domínio de uma expressão é constituído pelos valores, douniverso, pelos quais faz sentido substituir as suas variáveis.
Chama-se expressão proposicional, condição ou propriedadea qualquer expressão com variáveis que se transforma emproposição (verdadeira ou falsa) sempre que se atribuem valores(dos respectivos domínios) às variáveis que nela ocorrem.
O conjunto solução de uma condição é constituído pelosvalores que a transformam numa proposição verdadeira.
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Exemplo:
No Universo dos reais, consideremos a condição
1x2−1
= 4.
O seu domínio é x ∈ ℝ : x2 − 1 ≠ 0 = ℝ\−1,1;
o seu conjunto solução é −52
, 52
.
Cálculo com quantificadores
As operações lógicas associadas a ∼, ∧, ∨, ⇒ e ⇔ permitemobter novas condições a partir de condições mais simples.
Trabalhando agora com variáveis, podemos definir
três novas operações
quantificação universal
↗
→ quantificação existencial
↘
quantificação de existência
e unicidade
por meio das quais obtemos, a partir de uma condição, novascondições:
• a quantificação universal tem o significado de “para todo”ou “qualquer que seja”;
• a quantificação existencial tem o significado de “existe”;
• a quantificação de existência e unicidade tem o significadode “existe um e um só”.
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Num certo Universo, uma expressão proposicional diz-se:
• universal, se ao substituirmos as suas variáveis porquaisquer valores dos respectivos domínios obtemos sempreproposições verdadeiras;
• impossível, se obtemos sempre proposições falsas.
Seja px uma condição na variável x.
Quantificador universal → ∀
• ∀x, px é uma proposição, que se lê “qualquer que seja x,px”.
Num certo universo,
∀x,px é verdadeira sse a condição px é universal.
Quantificador existencial → ∃
• ∃x, px é uma proposição, que se lê “existe pelo menos um x
tal que px”.
Num certo universo,
∃x,px é verdadeira sse a condição px tem alguma solução.
Quantificador de existência e unicidade → ∃1
• ∃1x, px é uma proposição, que se lê “existe um e um só x
tal que px”.
Num certo universo,
∃1x,px é verdadeira sse
a condição px tem uma única solução.
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Notação: ∀x ∈ D, px, ∃x ∈ D, px e ∃1x ∈ D, pxindicam que a variável x varia em D (subconjunto do universo).
Convenção: O quantificador abrange a mais pequena expressãoproposicional que o segue.
Quantificação múltipla
• A troca de ordem de dois quantificadores consecutivosdo mesmo tipo origina uma condição (ou proposição)
equivalente.
• Pelo contrário, a troca de ordem de quantificadoresque não são do mesmo tipo, origina condições (ou
proposições) que, em geral, não são equivalentes às iniciais.
Exemplo: Em ℤ, universo dos inteiros, a proposição
∀b∃a , a + b = 0
é verdadeira (traduz a propriedade de qualquer inteiro tersimétrico em ℤ).
A proposição
∃a∀b , a + b = 0
é falsa (corresponde a afirmar que existe um inteiro que ésimétrico de todos os inteiros, o que não é verdade).
Segundas leis de De Morgan
Sendo p uma condição tem-se:
• ∼ ∀x,p ⇔ ∃x,∼ p;
• ∼ ∃x,p ⇔ ∀x,∼ p.
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