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Sociedade & Natureza, Uberlândia, 20 (1): 5-24, jun. 2008 5 Análise histórica das transformações da floresta Amazônica em áreas agrícolas na bacia do rio Suia-miçu Eduardo Eiji Maeda, Antônio Roberto Formaggio, Yosio Edemir Shimabukuro ANÁLISE HISTÓRICA DAS TRANSFORMAÇÕES DA FLORESTA AMAZÔNICA EM ÁREAS AGRÍCOLAS NA BACIA DO RIO SUIA-MIÇU Historical Changes of the Amazonian Forest into Agricultural Lands in the Suia-Miçu River Basin Eduardo Eiji Maeda Mestrando em Sensoriamento Remoto, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. [email protected] Antonio Roberto Formaggio Pesquisador Titular – INPE. [email protected] Yosio Edemir Shimabukuro Pesquisador Titular – INPE. [email protected] Artigo recebido para publicação em 10/12/2007 e aceito para publicação em 11/02/2008 RESUMO: Mudanças no uso e cobertura da terra, como as ocorridas nas áreas de expansão agrícola na Amazônia Legal, geram uma série de impactos sociais, econômicos e ambientais. O entendimento destes processos pode permitir um melhor planejamento de políticas públicas a fim de monitorar e mapear áreas mais suscetíveis a problemas ambientais. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo analisar a dinâmica de ocupação da Bacia do Rio Suiá-Miçu, um dos afluentes do Rio Xingu localizado ao norte do estado do Mato Grosso. Os mapas de uso e cobertura da terra para cada um dos períodos analisados (1973, 1984 e 2005) foram confeccionados com o auxílio de imagens dos sensores MSS/Landsat-1, TM/Landsat- 5 e do sensor MODIS/Terra. Os resultados mostraram que até 1984, 13% da vegetação natural da bacia havia sido desflorestada, enquanto que em 2005 as atividades agrícolas já ocupavam 40% da área de estudo. Desta forma, tendo em vista as mudanças na paisagem observadas ao longo das últimas décadas, torna-se notória a necessidade urgente de estudos mais aprofundados visando a avaliação dos impactos ambientais, bem como a preservação dos recursos naturais na região. Palavras-chave: Desflorestamento. Expansão agrícola. Sensoriamento remoto. Amazônia. ABSTRACT: Land use and land cover changes, as seen in the agricultural expansion areas in the Brazilian Legal Amazon, have as consequence several social, economic and environmental impacts. The understanding of these processes allows a better planning of public policies in order to monitor and map areas more susceptible to environmental problems. Hence, this work had as objective to analyze the land use/land cover changes dynamics in the Suiá-Miçu River Basin, located in the north part of Mato Grosso state, Brazil. The land use/land cover maps for each of the analyzed periods (1973, 1984 and 2005) were made using images from the MSS/Landsat-1, TM/Landsat-5 and the MODIS/Terra sensors. The results showed that until 1984, 13% of the natural vegetation of the watershed was deforested, while in 2005 the agricultural areas increased to around 40% of the study area. In that manner, the landscape changes observed along the last decades show the urgent need for studies in order to preserve the natural resources of the region.

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Sociedade & Natureza, Uberlândia, 20 (1): 5-24, jun. 2008

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Análise histórica das transformações da floresta Amazônica em áreas agrícolas na bacia do rio Suia-miçuEduardo Eiji Maeda, Antônio Roberto Formaggio, Yosio Edemir Shimabukuro

ANÁLISE HISTÓRICA DAS TRANSFORMAÇÕES DA FLORESTA AMAZÔNICA EMÁREAS AGRÍCOLAS NA BACIA DO RIO SUIA-MIÇU

Historical Changes of the Amazonian Forest into Agricultural Lands inthe Suia-Miçu River Basin

Eduardo Eiji MaedaMestrando em Sensoriamento Remoto, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. [email protected]

Antonio Roberto FormaggioPesquisador Titular – INPE. [email protected]

Yosio Edemir ShimabukuroPesquisador Titular – INPE. [email protected]

Artigo recebido para publicação em 10/12/2007 e aceito para publicação em 11/02/2008

RESUMO: Mudanças no uso e cobertura da terra, como as ocorridas nas áreas de expansão agrícola na Amazônia

Legal, geram uma série de impactos sociais, econômicos e ambientais. O entendimento destes processos

pode permitir um melhor planejamento de políticas públicas a fim de monitorar e mapear áreas mais

suscetíveis a problemas ambientais. Sendo assim, este trabalho teve como objetivo analisar a dinâmica

de ocupação da Bacia do Rio Suiá-Miçu, um dos afluentes do Rio Xingu localizado ao norte do estado

do Mato Grosso. Os mapas de uso e cobertura da terra para cada um dos períodos analisados (1973,

1984 e 2005) foram confeccionados com o auxílio de imagens dos sensores MSS/Landsat-1, TM/Landsat-

5 e do sensor MODIS/Terra. Os resultados mostraram que até 1984, 13% da vegetação natural da

bacia havia sido desflorestada, enquanto que em 2005 as atividades agrícolas já ocupavam 40% da

área de estudo. Desta forma, tendo em vista as mudanças na paisagem observadas ao longo das últimas

décadas, torna-se notória a necessidade urgente de estudos mais aprofundados visando a avaliação

dos impactos ambientais, bem como a preservação dos recursos naturais na região.

Palavras-chave: Desflorestamento. Expansão agrícola. Sensoriamento remoto. Amazônia.

ABSTRACT: Land use and land cover changes, as seen in the agricultural expansion areas in the Brazilian Legal

Amazon, have as consequence several social, economic and environmental impacts. The understanding

of these processes allows a better planning of public policies in order to monitor and map areas more

susceptible to environmental problems. Hence, this work had as objective to analyze the land use/land

cover changes dynamics in the Suiá-Miçu River Basin, located in the north part of Mato Grosso state,

Brazil. The land use/land cover maps for each of the analyzed periods (1973, 1984 and 2005) were

made using images from the MSS/Landsat-1, TM/Landsat-5 and the MODIS/Terra sensors. The results

showed that until 1984, 13% of the natural vegetation of the watershed was deforested, while in 2005

the agricultural areas increased to around 40% of the study area. In that manner, the landscape changes

observed along the last decades show the urgent need for studies in order to preserve the natural

resources of the region.

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Keywords: Deforestation. Agricultural expansion. Remote sensing. Amazon.

1. INTRODUÇÃO

A ocupação da Floresta Amazônica porempresas madeireiras e pela expansão das atividadesagropecuárias é atualmente um dos maioresproblemas encontrados nesse bioma florestalbrasileiro. Esse processo teve início a partir da décadade 1970, quando o Governo Federal iniciou uma sériede medidas a fim de ocupar e promover odesenvolvimento da região norte do país. Dentre estasmedidas pode-se citar a construção de redesrodoviárias, como as rodovias Cuiabá-Santarém e aTransamazônica, incentivos fiscais a fim de estimularos fluxos migratórios e a desapropriação de terrasdevolutas para projetos agropecuários (ALVES, 2002).

Esses fatores, seguidos pelo domínio de novastécnicas agrícolas que permitiram o cultivo de grãona região, acarretaram o início da chamada expansãoda fronteira agrícola. Apesar dos impactos positivosdeste processo na economia do país, que transformouo Brasil em uma potência exportadora de produtosagrícolas, esta expansão foi responsável pelodesflorestamento de grandes áreas da FlorestaAmazônica. Trabalhos de monitoramento dos recursosnaturais, como o Projeto de Monitoramento daFloresta Amazônica brasileira por Satélite (PRODES),mostram que a área desflorestada passou de cerca de10 milhões de hectares na década de 1970 (TARDINet al., 1980), para 66,6 milhões de hectares em 2005(INPE, 2006).

Estudos de modelagem das mudanças do usoe cobertura da terra indicam que, no ano de 2050,seguindo-se as tendências atuais, cerca de 40% daAmazônia legal estará desflorestada dando lugar àsatividades agropecuárias (SOARES-FILHO, 2006).

Mudanças na cobertura florestal, como asobservadas ao longo da Amazônia Brasileira, podemacarretar uma série de conseqüências nabiodiversidade, na emissão de gases causadores do

efeito estufa e no clima. Um dos processos naturaisseveramente afetados por estas mudanças é o ciclohidrológico. A substituição da vegetação originalmodifica as taxas naturais de evapotranspiração, oque também afeta os padrões locais de precipitação etemperatura. Na região da Floresta Amazônica, porexemplo, aproximadamente metade da águaprecipitada é proveniente da evapotranspiração dafloresta (NOBRE et al., 1991). Estes desequilíbriostrazem também diversas implicações na conservaçãodos solos e recursos hídricos, uma vez que a retiradada cobertura vegetal original permite um maiorcarregamento de sedimentos e nutrientes para oscórregos e rios, causando uma série de problemasambientais, como erosão, assoreamento e eutrofização.

Ao longo da história é possível encontrarexemplos em que estes problemas alcançaramproporções catastróficas. No período do impériobabilônico, as intensas atividades agrícolas ao longodos rios Tigre e Eufrates causaram a degradação dossolos e a exaustão dos recursos hídricos em algumasregiões da Mesopotâmia. Desta forma, terras antesprodutivas transformaram-se em desertos, como podeser visto ao norte de Bagdá (BERTONI e LOMBARDINETO, 2005).

O entendimento da dinâmica envolvida nasmudanças do uso e cobertura da terra pode permitirum melhor planejamento de políticas públicas a fimde mapear e monitorar áreas mais suscetíveis aproblemas ambientais dando, portanto, suporte paraexecução de medidas preventivas e remediadoras.

Dentro deste contexto, o presente trabalhoteve como objetivo analisar o processo de ocupaçãoda bacia do Rio Suiá-Miçu, localizada na AmazôniaLegal em uma região de grande importância culturale econômica, uma vez que se encontra em uma áreade expansão agrícola, e ao mesmo tempo vizinha adiversos Parques Indígenas, como o Parque Indígenado Xingu.

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2. ÁREA DE ESTUDO

O rio Suiá-Miçu está inserido na baciaAmazônica, sendo um dos afluentes do rio Xingu.Sua bacia está localizada no estado do Mato Grosso,aproximadamente entre as coordenadas 11°15’ e13°30’ de latitude sul e 51°30’ e 53°15’ de longitudeoeste, e sua área de drenagem é de aproximadamentedois milhões de hectares (Figura 1).

A área de estudo abrange parte de seismunicípios do estado do Mato Grosso, sendo eles:São Félix do Araguaia, Querência, Alto da Boa Vista,Ribeirão Cascalheira, Canarana e Bom Jesus doAraguaia (Figura 2). A Figura 3 mostra a distribuiçãopercentual dos municípios que compõem a área deestudo, sendo Querência o município com maior áreadentro da bacia, compondo aproximadamente 50%da mesma.

Figura 1. Localização geográfica da área de estudo, a noroeste do estado do Mato Grosso.

Figura 2. Municípios que compõem a área de estudo.

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A economia destes municípios tem baseprincipalmente nas atividades agropecuárias, como acriação extensiva de gado de corte e plantio de culturastemporárias. Em 2005 a área plantada com culturastemporárias nestes municípios somava cerca de 380 milha, sendo a maior parte delas encontradas nos municípiosde Querência e Canarana (IBGE, 2006).

A vegetação predominante na região compõe-se de Florestas Estacionais Submontanas, podendo-seencontrar, ao sul da bacia, áreas de Savanas EstacionaisArbóreas. Uma estreita faixa de tensão ecológica entreSavanas e Florestas Estacionais divide estas duasregiões fitoecológicas. As planícies de alagamento dosrios são formadas em grande parte por Florestas

Estacionais Aluviais e Áreas de Formações Pioneirasde Influência Fluvial (SEPLAN, 2001) (Figura 4a).

De uma forma geral o relevo da área de estudoé plano e pouco acidentado, sendo as maioresdeclividades encontradas na parte sul da bacia, ondehá também uma maior densidade de drenagem. Ostipos de solos predominantes são o LatossoloVermelho-Escuro e o Latossolo Vermelho-Amarelo,no entanto ao sul da bacia também são encontradasáreas compostas por Cambissolos, SolosConcrecionários Latossólicos e SolosConcrecionários Podzólicos. As planícies dealagamento dos rios são formadas por Plintossolos eGleis Pouco Húmicos (SEPLAN, 2001) (Figura 4b).

Figura 3. Distribuição percentual dos municípios que compõem a área de estudo.

Distribuição dos Municípios que compõem a Área de Estudo

12%7%

50%

16%

12%

3%

São Felix do Araguaia CanaranaQuerencia Ribeirao cascalheiraBom Jesus do Araguaia Alto da Boa Vista

Figura 4. (A) Mapa da vegetação original potencial da área de estudo; (B) Mapa pedológico da área de estudo.

Fonte: SEPLAN (2001); projeto RADAMBRASIL (1981).

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Outro fator que ressalta a importância destaárea de estudo é a presença do Parque Indígena doXingu à jusante do rio Suiá-Miçu (Figura 5). Comopode ser observado na figura, a maior parte da áreade drenagem da bacia se encontra fora da área dareserva indígena. Este fato permitiu uma extensaocupação dos territórios vizinhos à área de

Figura 5. Localização geográfica das áreas indígenas próximas à área de estudo.

preservação, principalmente devido à implantação deatividades agropecuárias. Sendo assim, além dadegradação das áreas de nascente do rio Xingu, asatividades agropecuárias podem também trazerproblemas para dentro do parque Indígena,decorrentes do carregamento de sedimentos,nutrientes e agrotóxicos.

3. METODOLOGIA

Com a finalidade de estudar a dinâmica deocupação e das mudanças do uso e cobertura da terrana bacia em foco, três datas foram escolhidas:

I. Ano de 1973, período anterior à fase deocupação da Amazônia legal;

II. Ano de 1984, período no qual diversos

focos de desflorestamento já eram evidentes devidoao início da expansão agrícola;

III. Ano de 2005, período de plena expansãoagrícola.

Esse estudo foi feito com base em análises deimagens de sensores ópticos orbitais, cujascaracterísticas para cada um dos períodos analisadossão mostradas na Tabela 1.

Tabela 1Dados relativos às imagens orbitais utilizadas neste trabalho.

Ano Sensor N° de imagens para órbita ponto Datascobrir a área de estudo

1973 MSS/Landsat-1 4 240 a 241 68 a 69 04 e 23/08

1984 TM/Landsat-5 4 224 a 225 68 a 69 22 e 31/05

2005 TM/Landsat-5 4 224 a 225 68 a 69 13 e 20/08

2005 MODIS/Terra 1 V10 H12 13 a 28/08

2006 MODIS/Terra 1 V10 H12 17/01 a 01/02

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A classificação das áreas desflorestadas aolongo da bacia foi feita utilizando-se a mesmametodologia proposta pelo Projeto de Moni-toramento da Floresta Amazônica Brasileira porSatélites (PRODES) (INPE, 2006). Isto é, atravésdo modelo linear de mistura espectral (MLME)estima-se a proporção de vegetação, sombra e solo,a partir da coleta de pixels puros que correspondama estas classes; é então gerada a classificação não-supervisionada por segmentos – ISOSEG dasimagens fração, sendo esse classificador baseado nadistância de Mahalanobis como medida desimilaridade entre as classes (BINS et al., 1993).Posteriormente são direcionadas as classes geradaspor este classificador para as classes temáticas domapeamento.

Os erros inerentes à classificação automáticaforam corrigidos em edições vetoriais manuais einterpretação visual. É importante ressaltar que aclassificação de cada ano foi feita de formaindependente, ou seja, áreas desflorestadas em 1984

e que se regeneraram até 2005, foram consideradasáreas de floresta em 2005.

Em seguida, as áreas desflorestadasclassificadas foram sobrepostas ao mapa de vegetaçãonatural potencial da bacia. Este mapa foi adquiridodo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e RecursosRenováveis (IBAMA), pela Internet. Os dadosoriginais do mapa de vegetação são oriundos dadigitalização dos dados do projeto RADAMBRASIL(1981). A fim de adequar a escala do mapa devegetação potencial à escala das imagens classificadasforam realizadas edições vetoriais no mapa tomando-se por base as imagens do sensor TM/Landsat-5.

Nos anos de 1973 e 1984 todas as áreasdesflorestadas detectadas foram classificadas comopastagem, uma vez que nestes períodos as áreasplantadas com lavouras temporárias na região não eramsignificativas. Este fato pode ser comprovado pelosdados apresentados nas Figuras 6 e 7 obtidos do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2006).

Figura 6. Evolução da área plantada com soja no estado do Mato Grosso.Fonte: IBGE, 2006

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No ano de 2005, as áreas desflorestadas foramclassificadas como pastagens ou culturas temporárias.A diferenciação entre estas duas classes foi feitautilizando-se a metodologia proposta por Rizzi et al.(2007), que permite a identificação de culturastemporárias desde que o calendário agrícola dasmesmas seja conhecido. Esta metodologia é baseadanos valores mínimos e máximos de EVI (EnhancedVegetation Index) (HUETE et al., 2002) observadosno período de plantio e de máximo vigor das culturas,respectivamente. Estes valores de EVI são entãoutilizados para o cálculo de outro índice, denominadoCrop Enhancement Index (CEI), que é obtido pelaequação 1.

(1)

Onde:MaxEVI = imagem EVI referente ao período demáximo vigor das culturas;MinEVI = imagem EVI referente ao período deplantio.

Para o cálculo do índice CEI foi utilizado oproduto MOD13, que fornece as imagens índice devegetação NDVI e EVI oriundas do sensor MODIS/Terra (JUSTICE et al., 2002). Foram escolhidasimagens de agosto de 2005 (período de plantio) ejaneiro de 2006 (período de alto vigor das culturas).A classificação resultante deste processo foi entãocruzada com a classificação de áreas desflorestadasrealizada sobre as imagens TM/Landsat, as quaisforam então divididas entre pastagens e culturastemporárias.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Figura 8 são apresentadas as imagens MSSe TM/Landsat que foram utilizadas neste trabalho.Nota-se que a escolha de imagens referentes aperíodos de baixa precipitação permitiu a aquisiçãode imagens totalmente livres de nuvens, e tambémcom um maior contraste entre as áreas de vegetaçãoe as áreas desflorestadas.

Figura 7. Evolução da área plantada com culturas temporárias nos municípios que compõem a área de estudo.Fonte: IBGE, 2006

MaxEVI – MinEVIMaxEVI + MinEVI

CEI =

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Apesar da menor resolução espacial dasimagens adquiridas pelo sensor MSS/Landsat-1, essaspermitiram uma análise adequada do uso e cobertura

da terra para o ano de 1973, sendo a imagemclassificada apresentada na Figura 9.

Figura 8. Imagem do sensor MSS/Landsat-1 de agosto de 1973 (esquerda); Imagem do sensor TM/Landsat-5 de junho

de 1984 (centro); Imagem do sensor TM/Landsat-5 de agosto de 2005 (esquerda).

Figura 9. Imagem classificada da área de estudo no período de 1973.

Nota-se que, de forma geral, apenas as áreasde Floresta Estacional Submontana haviam sidodesflorestadas até o ano de 1973, sendo as regiões decerrado e de transição ainda inexploradas. As regiões

da bacia pertencentes aos municípios de Bom Jesusdo Araguaia e Querência foram as maisdesflorestadas, com 176,57 e 151,70 km2

respectivamente. Neste período ainda não eram

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apresentados sinais evidentes de desflorestamento naregião da bacia pertencente ao município de Canarana(Figura10a).

No entanto, quando estes valores são

normalizados pela área que os municípios ocupamna bacia, percebe-se que percentualmente osmunicípios mais desflorestados foram Alto da BoaVista e São Félix do Araguaia, com 8,12 e 7,22%respectivamente (Figura 10b).

Figura 10. (a) Desflorestamento na Bacia do rio Suiá-Miçu em 1973 distribuído por município;

(b) Porcentagem do Município desflorestado dentro da bacia em 1973.

As áreas de floresta ocupadas neste períodotinham como finalidade a exploração madeireira,seguida pela instalação de áreas de pastagens, sendopoucas ou inexistentes as áreas destinadas ao plantiode culturas temporárias.

No ano de 1984, o desflorestamento dasFlorestas Estacionais Submontanas se expandiu e

diversos focos de desflorestamento já eram evidentesnas áreas de cerrado e de tensão ecológica ao sul dabacia (Figura 11). De acordo com os dados do IBGE(2006) mostrados nas Figuras 6 e 7, as áreas plantadascom culturas temporárias não eram significativasneste período, sendo a criação de pastos o destinofinal da totalidade das áreas desflorestadas nesteperíodo.

Figura 11. Imagem classificada da área de estudo no período de 1984.

D esflorestam ento na área de estudo em 1973, d istribuída por município (km2)

39.16

151.70

176.57

59.65

54.91

São Felix do Araguaia CanaranaQuerencia Ribeirao cascalheiraBom Jesus do Araguaia Alto da Boa Vista

1 .5 4 0 .0 01 .4 4 1 .6 3

7 .22 8 .1 2

0 .0 0

1 0 .0 0

2 0 .0 0

3 0 .0 0

4 0 .0 0

5 0 .0 0

P o rc e n ta g e m d o M u n ic íp io d e s flo re s ta d o d en tro d a á re a d e es tu d o (% )

S ã o F e lix d o A ra g u a ia C a n a ra n aQ u e re n c ia R ib e ira o c a sca lh e iraB o m Je su s d o A ra g u a ia A lto d a Bo a V is ta

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Uma análise quantitativa mostra que todos osmunicípios pertencentes à bacia apresentaramaumento nas áreas desflorestadas em 1984 (Figuras 12ae 12b). Querência passou a ser o município com maiorárea desflorestada dentro da bacia, com 632 km2, noentanto a Figura 12b mostra que esta área representava

apenas 6% da região de Querência dentro da bacia.

O município de Canarana, que em 1973 nãoapresentava áreas desflorestadas dentro da bacia teve,em 1984, aproximadamente 345 km2 de áreas defloresta convertidas para pastagem (Figura 12a).

O resultado da classificação das áreasdesflorestadas no ano de 2005 é apresentado naFigura13. Neste resultado destaca-se o aumento da

Figura 12. (a) Desflorestamento na Bacia do rio Suiá-Miçu em 1984 distribuído por município;

(b) Porcentagem do município desflorestado dentro da bacia em 1984.

exploração da parte central da área de estudo,principalmente nas redondezas da cidade deQuerência.

Figura 13. Imagem classificada da área de estudo no período de 2005.

Desflorestamento na áre a de estudo em 1984, distribuída por município (km2)

460.68

631.92445.19

601.47

342.01

345.53

São Felix do Araguaia CanaranaQuerencia Ribeirao cascalheiraBom Jesus do Araguaia Alto da Boa Vista

1 8 .0 92 3 .8 7

6 .0 1

1 3 .2 4

2 4 .5 8

4 6 .5 7

0 .0 0

1 0 .0 0

2 0 .0 0

3 0 .0 0

4 0 .0 0

5 0 .0 0

P o rc e n ta g e m d o M u n ic íp io d e s flo re s ta d o d e n tro d a á re a d e e s tu d o (% )

S ã o F e lix d o A ra g u a ia C a n a ra n aQ u e re n c ia R ib e ira o c a sca lh e iraB o m Je su s d o A ra g u a ia A lto d a Bo a V is ta

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A intensificação da exploração das áreas aoredor da cidade de Querência fica evidente na Figura14a, que mostra que a área desflorestada na área deestudo pertencente a este município foi de 4293 km2

em 2005. Isto representa um aumento deaproximadamente 580% em relação ano de 1984,quando 632 km2 estavam desflorestados nesta mesmaárea. Um grande aumento das áreas desflorestadastambém pode ser observado na região da área de

estudo pertencente ao município de Canarana, quepassou a ter em 2005 cerca de 46% de sua vegetaçãooriginal substituída (Figura14b).

O desflorestamento na região pertencente aomunicípio de Alto da Boa Vista permaneceu constanteem relação a 1984, no entanto, como mostra a Figura14b, esta área desflorestada abrangia mais de 46% daárea do município na bacia.

Figura 14. (a) Desflorestamento na Bacia do rio Suiá-Miçu em 2005 distribuído por município;(b) Porcentagem do Município desflorestado dentro da bacia em 2005.

Desconsiderando os limites políticos daregião e analisando a área de estudo como um todo,os resultados reafirmam o grande avanço nodesflorestamento. A área desflorestada passou decerca de 480 km2 em 1973 para 2850 km2 em 1984.

Em 2005 cerca de 40% da área de estudo seencontrava desflorestada, ou seja, 8555 km2, o querepresenta um aumento de aproximadamente 200%com relação a 1984 e de 1680% com relação a 1973(Figuras 15a e 15b).

Figura 15. (a) Área total desflorestada na área de estudo, em km2, para todos os períodos analisados;

(b) Porcentagem da área de estudo desflorestada em cada um dos períodos analisados.

2,3

13,6

40,7

0

10

20

30

40

50

60

70

1973 1984 2005

Ano

Porcentagem Desflorestada da Bacia

Áre

a d

eflo

rest

ada

(Km

2 )

0

2000

4000

6000

8000

10000

1973 1984 2005

Ano

Área Desflorestada da Bacia

Áre

a D

esfl

ore

stad

a (K

m2 )

Desflorestamento na área de estudo em 2005, distribuída por município (km2)

813.35

4292.99

1334.16

1096.41

342.90

672.97

São Felix do Araguaia CanaranaQuerencia Ribeirao cascalheiraBom Jesus do Araguaia Alto da Boa Vista

31.93

46.4940.85 39.67

44.81 46.69

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

P orcentagem do Mun icíp io d esflorestad o dentro da área de estudo (% )

São Felix do Aragua ia CanaranaQ uerencia Ribe irao casca lhe iraBom Jesus do Araguaia Alto da Boa Vis ta

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As áreas de tensão ecológica, caracterizadaspela transição entre cerrado e Florestas EstacionaisSubmontana, foram as mais afetadas, restando apenas42% da vegetação original em 2005. As regiões deFlorestas Estacionais Submontanas, que ocupam amaior área na bacia, tinham em 2005 apenas 54% davegetação original preservada (Figura 16).

As Florestas Estacionais Aluviais e as Áreasde Formações Pioneiras não foram ocupadas de formasignificativa. Isto se deve principalmente ao fato dese tratarem de áreas alagadas, e desta forma nãopropícias ao desenvolvimento de atividadesagropecuárias.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1973 1984 2005

Porcentagem da Cobertura Vegetal Original (%)

Area form pion Flor Estac Aluvial Tensao savXflorSav_Est_arb Flor Estac Subm

Figura 16. Porcentagem da cobertura vegetal original preservada em cada um dos períodos analisados.

A Figura 17 apresenta um fluxograma queilustra os resultados obtidos na identificação de áreasplantadas com culturas temporárias no ano de 2005,seguindo a metodologia proposta por Rizzi et al.(2007). As áreas indicadas como sendo de culturastemporárias foram então cruzadas com os resultados

obtidos na classificação de áreas desflorestadas paraeste mesmo período (Figura 16). Desta forma, obteve-se o mapeamento final da área de estudo para o anode 2005, onde as áreas desflorestadas foram separadasentre pasto e culturas temporárias (Figura 18).

Figura 17. Fluxograma ilustrativo do processo utilizado na identificação

das áreas plantadas com culturas temporárias na área de estudo.

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Os resultados mostram que grande parte dodesflorestamento ao redor da cidade de Querênciaocorreu em função da expansão de áreas plantadascom culturas temporárias. Este resultado é confirmadopelo gráfico da Figura 7 que mostra um grande aumentodas áreas plantadas neste município a partir de 2000.

Além dos fatores econômicos ligados a essa

expansão agrícola, o aumento das áreas plantadasnessas regiões pode ser explicado por fatores físicos,como por exemplo, os tipos de solos. A Figura 19mostra que o plantio de culturas ocorreu quase queem sua totalidade em solos latossólicos. Desta forma,51,53% das áreas de cultivo ocorreram sobreLatossolos Vermelho-Escuro, e 46,87% sobreLatossolos Vermelho-Amarelo Podzólico.

Figura 18. Imagem classificada da área de estudo no período de 2005, onde as áreas

desflorestadas foram divididas entre pasto e culturas temporárias.

Distribuição das áreas plantadas com culturas temporárias por tipo de solo (%)

47%

51%

2%

Latossolo Verm-Amar Pod Latossolo Verm-Esc

Outros

Figura 19. Distribuição das áreas plantadas com culturas temporárias na área de estudo por tipo de solo.

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4.1 Trabalho de Campo

Uma visita a campo realizada no período de15 a 20 de outubro de 2007 permitiu uma melhor

visualização das mudanças ocorridas na região, assimcomo dos problemas ambientais causados em suadecorrência. A rota percorrida ao longo da área deestudo é apresentada na Figura 20.

Figura 20. Rota percorrida ao longo da área de estudo durante o trabalho de campo.

A maioria das pastagens localizadas ao sul dabacia não possuem nenhuma prática de conservação,sendo possível encontrar em algumas regiões sedesde fazendas abandonadas (Figura 21). Em algumas

propriedades mais tecnificadas foram observadosterraços para acumular a água das chuvas e impedir oavanço do escoamento superficial (Figura 22),entretanto essas são a grande minoria na região.

Figura 21. Áreas de pastagem sem conservação localizadas ao sul da área de estudo.

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Na região central da bacia, onde se encontramgrandes propriedades de produção de grãos, foiobservado que, na ocasião do pré-plantio das culturasde verão, os solos são em geral preparados com aradose grades, não sendo utilizada a técnica de plantiodireto e nem de cultivo mínimo (Figura 23). Destaforma, a exposição do solo às chuvas, e a totalausência de vegetação indicam um maior

Figura 22. Pastagem ao sul da área de estudo onde podem ser observadas

técnicas de contenção do escoamento superficial.

desprendimento de sedimento, uma vez que estasáreas eram anteriormente cobertas por florestasdensas. A preocupação dos agricultores da região coma construção de terraços e barricadas nas margens dasestradas, para contenção do escoamento superficial,indica a ocorrência de um grande carregamento desedimentos nas épocas de chuva (Figura 24).

Figura 23. Solos sendo preparados para o plantio de culturas de verão na região central da área de estudo.

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Na região norte, nas proximidades do parqueindígena do Xingu, é freqüente a ocorrência de riosem processo de assoreamento (Figura 25). De formageral estes problemas são ocasionados pela falta de

Figura 24. Obras de contensão do escoamento superficial nas margens das estradas na região central da Bacia.

práticas de contenção do escoamento superficial nasestradas, os quais são visivelmente acarretados pelasações antrópicas na região.

Figura 25. Rios em processo de assoreamento ao norte da área de estudo.

A área de estudo possui duas regiõesdestinadas a assentamentos. Nestes assentamentos asáreas desflorestadas são predominantementedestinadas à pastagem. O padrão de desflorestamentonestas regiões difere do restante da bacia, sendocaracterizado por pequenas propriedades, com o limiteentre elas mais perceptível (Figura 26). Nenhuma

técnica de conservação do solo é utilizada, e arealização de queimadas para eliminação da vegetaçãooriginal é freqüente (Figura 27). Nestas áreas ainda épossível verificar o grande prejuízo causado ao solodevido à prática de queimadas, além da evidentemudança na proteção do solo.

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O processo erosivo em regiões onde avegetação original foi substituída fica evidente emáreas onde ocorrem processos mais avançados deerosão, como a erosão em sulcos (Figura 28). Afragilidade dos solos também é evidenciada nas

Figura 26. Localização das áreas de assentamentos (A e B).

Figura 27. Prática de queimadas nas regiões de assentamento da bacia.

margens das estradas, onde a formação de canaispreferenciais de escorrimento de água causa ocarregamento de sedimentos e a formação de sulcose voçorocas (Figura 29).

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As vegetações que compõem as áreas dealagamento dos rios foram de forma geral preservadas,uma vez que estas são impróprias para as atividadesagropecuárias. Contudo pode-se encontrar ao longoda área de estudo diversos focos de desflorestamento

de matas ciliares. Outro fato preocupante é aeliminação da vegetação nativa nas áreas de nascentedos rios, que também ocorrem com grande freqüênciaao longo de toda a área de estudo (Figura 30).

Figura 28. Áreas de ocorrência de erosão em sulco.

Figura 29. Áreas em estágios avançados de erosão às margens das estradas.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho procurou descrever adinâmica de ocupação na Bacia do Rio Suiá-Miçupor meio da análise do uso e cobertura da terra nosanos de 1973, 1984 e 2005. Verificou-se que aexpansão das atividades agropecuárias na baciaacarretou no desflorestamento de aproximadamente40% da vegetação original até 2005. A criaçãoextensiva de gado de corte e a extração madeireiraforam as principais responsáveis pelo início dasocupações na região, entretanto o plantio de grãospassou a ter um importante papel nas mudanças nouso da terra a partir do ano de 2000. No último períodoanalisado neste trabalho as plantações de culturastemporárias ocupavam 12% da bacia. As regiõesfitoecológicas mais afetadas foram as FlorestasEstacionais Submontanas e as Áreas de TensãoEcológica, que tinham em 2005 apenas 54 e 42% davegetação original respectivamente.

Sendo assim, tendo em vista a magnitude dasmudanças na paisagem causadas pelas atividadeshumanas, é notória a necessidade de estudos maisaprofundados visando à preservação dos recursosnaturais na região. A aplicação de técnicas demodelagem, por exemplo, permitiria a identificação

Figura 30. Áreas de nascentes de rios e matas ciliares desflorestadas.

de áreas onde os impactos decorrentes das atividadesagrícolas ocorrem de forma mais intensa e,conseqüentemente onde os cuidados visando manejosmais sustentáveis deverão ser priorizados. Essaabordagem seria uma das principais ferramentas noque diz respeito à conservação dos solos e recursoshídricos, e daria suporte para ações de mitigação deimpactos, como a construção de terraços para acontenção do escoamento superficial e a adoção detécnicas agrícolas menos agressivas, como o plantiodireto e o cultivo mínimo.

A recuperação de áreas degradadas é outroponto prioritário que deve ser abordado em trabalhosfuturos. A recuperação da vegetação original das áreasde mananciais e de matas ciliares contribuiriam paraa proteção dos recursos hídricos, evitando o despejode sedimentos e nutrientes nos cursos d’água, assimcomo na manutenção dos padrões naturais do ciclohidrológico da região.

As imagens orbitais e as técnicas desensoriamento remoto utilizadas mostraram-sepróprias e adequadas para os objetivos de analisar oprocesso de ocupação ocorrido na área de estudo dopresente trabalho.

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