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ANÁLISE HEMATOLÓGICA E BIOQUÍMICA SÉRICA DE CÃES ERRANTES DA REGIÃO DE GUARAPUAVA - PR Gabriela Basílio (acadêmica - UNICENTRO), Camila Franco de Carvalho, Margarete K. Falbo, Fernanda S. de Oliveira, Liane Ziliotto (orientadora) e-mail: [email protected] Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências Agrárias e Ambientais/Departamento de Medicina Veterinária/Guarapuava-PR. Área: Ciências Agrárias Subárea: Medicina Veterinária, Clínica Cirúrgica Animal Palavras-chave: cão, patologia clínica, cirurgia veterinária. Resumo Os exames pré-operatório, hematológico e bioquímico, buscam auxiliar na identificação ou diagnóstico de doenças que possam comprometer os cuidados operatórios. No presente trabalho foram avaliados 33 cães errantes da região de Guarapuava–PR. Eles foram encaminhados à Clínica Escola Veterinária, da Unicentro, e submetidos a exames pré- operatórios e à castração dentro do projeto de extensão “Campanha de Castração”. Nos animais estudados foi encontrada grande diversidade de valores no eritrograma, onde 21,2% apresentaram resultados abaixo do normal. No leucograma, 21,2% apresentaram leucocitose, 27,3% com trombocitopenia, 3% mostraram ALT aumentado e nenhum apresentou alterações de creatinina. As principais alterações encontradas foram secundárias a doenças relacionadas a má nutrição, falta de cuidados básicos e de prevenção de doenças. Assim, mesmo sem apresentarem sinais evidentes de qualquer enfermidade, é de fundamental importância a realização exames pré-operatórios adequados em animais errantes para o fim de se prevenir complicações trans e pós-operatórias. Introdução A realização de exames hematológicos e bioquímicos séricos pré- operatórios busca diagnosticar doenças e disfunções que possam comprometer os cuidados dos períodos pré, trans e pós-operatório; avaliar o comprometimento funcional causado por doenças já diagnosticadas e em tratamento e, ainda, auxiliar na formulação de planos específicos ou alternativos para o cuidado anestésico (MATHIAS ET AL, 2006). O hemograma é uma ferramenta importante na clínica veterinária, onde preciosas informações podem ser obtidas sobre as três séries sanguíneas: eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Embora sozinho constitua recurso de diagnóstico limitado na maioria dos casos, ele estabelece um Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.

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ANÁLISE HEMATOLÓGICA E BIOQUÍMICA SÉRICA DE CÃES ERRANTES DA REGIÃO DE GUARAPUAVA - PR

Gabriela Basílio (acadêmica - UNICENTRO), Camila Franco de Carvalho, Margarete K. Falbo, Fernanda S. de Oliveira, Liane Ziliotto (orientadora)

e-mail: [email protected]

Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências Agrárias e Ambientais/Departamento de Medicina Veterinária/Guarapuava-PR.

Área: Ciências Agrárias Subárea: Medicina Veterinária, Clínica Cirúrgica Animal

Palavras-chave: cão, patologia clínica, cirurgia veterinária.

Resumo

Os exames pré-operatório, hematológico e bioquímico, buscam auxiliar na identificação ou diagnóstico de doenças que possam comprometer os cuidados operatórios. No presente trabalho foram avaliados 33 cães errantes da região de Guarapuava–PR. Eles foram encaminhados à Clínica Escola Veterinária, da Unicentro, e submetidos a exames pré-operatórios e à castração dentro do projeto de extensão “Campanha de Castração”. Nos animais estudados foi encontrada grande diversidade de valores no eritrograma, onde 21,2% apresentaram resultados abaixo do normal. No leucograma, 21,2% apresentaram leucocitose, 27,3% com trombocitopenia, 3% mostraram ALT aumentado e nenhum apresentou alterações de creatinina. As principais alterações encontradas foram secundárias a doenças relacionadas a má nutrição, falta de cuidados básicos e de prevenção de doenças. Assim, mesmo sem apresentarem sinais evidentes de qualquer enfermidade, é de fundamental importância a realização exames pré-operatórios adequados em animais errantes para o fim de se prevenir complicações trans e pós-operatórias.

Introdução

A realização de exames hematológicos e bioquímicos séricos pré-operatórios busca diagnosticar doenças e disfunções que possam comprometer os cuidados dos períodos pré, trans e pós-operatório; avaliar o comprometimento funcional causado por doenças já diagnosticadas e em tratamento e, ainda, auxiliar na formulação de planos específicos ou alternativos para o cuidado anestésico (MATHIAS ET AL, 2006).

O hemograma é uma ferramenta importante na clínica veterinária, onde preciosas informações podem ser obtidas sobre as três séries sanguíneas: eritrócitos, leucócitos e plaquetas. Embora sozinho constitua recurso de diagnóstico limitado na maioria dos casos, ele estabelece um

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ponto de partida para o diagnóstico rápido e preciso, e é o exame de primeira linha no estudo da função hematológica (GONZÁLEZ, 2005; REBAR et al, 2003).

Por volta de seis anos em cães, o organismo começa a apresentar falhas na função hepática e renal que afetam diretamente o procedimento anestésico. Essas alterações nem sempre são precocemente diagnosticadas clinicamente e desta forma os exames bioquímicos de ALT (alanina aminotransferase) e creatinina para verificação da função hepática e renal respectivamente como pré-operatório são indicados para a melhor avaliação do paciente (FERREIRA et al, 2010).

Este trabalho teve por objetivo avaliar as séries vermelha e branca sanguínea e o perfil bioquímico de cães errantes, que participaram da campanha de castração na Clínica Escola Veterinária da Universidade Estadual do Centro-Oeste – Guarapuava – PR.

Materiais e métodos

Foram avaliados 33 cães errantes da região de Guarapuava – PR, recolhidos pelo Canil Municipal. Estes cães, tanto fêmeas quanto machos, foram encaminhados à Clínica Escola Veterinária, da Universidade Estadual do Centro-Oeste, e submetidos à ovário-histerectomia e orquiectomia respectivamente dentro do projeto de extensão “Campanha de Castração”. Os animais permaneceram alojados em canis individuais, pelo período médio de sete dias, onde receberam os cuidados pré, trans e pós operatórios e então foram encaminhados para adoção.

No momento da chegada, os cães foram submetidos a exame físico e à coleta de amostra de sangue para a realização de hemograma e exame bioquímicos séricos. Foi coletado aproximadamente 3mL de sangue periférico provenientes das veias cefálica ou safena. Destes, 1mL foi coletado em frasco contendo anticoagulante (EDTA) para processamento do hemograma e 2mL em frasco sem EDTA para realização de exames bioquímicos (creatinina e ALT). Após a coleta, as amostras foram encaminhadas ao Laboratório Didático da UNICENTRO.

Resultados e Discussão

Nos animais estudados foi encontrada grande diversidade de valores no eritrograma (Figura 1) com contagem de hemácias variando entre 8,4x106/µL (Ht 50 e Hg 16) e 3,8x106/µL (Ht 29 e Hg 9,6). As alterações morfológicas observadas foram policromasia discreta, hipocromia e micrositose. Na contagem de plaquetas houve variação de 150.000 a 412.000/µL, na de Leucócitos de 5000 a 33450/µL e a dosagem de proteínas totais mostrou variações dentro dos valores normais de referência (Figura 1) (REBAR et al., 2003).

Dos 33 animais testados, sete (21,2%) apresentaram resultados abaixo do normal no eritrograma. A redução nos valores da série vermelha sanguínea (anemia) é definida como a diminuição no hematócrito, na

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concentração de hemoglobina e na contagem de hemácias abaixo dos níveis de referência para a espécie (COUTO, 2006). Segundo Corrêa et al. (2008), essas alterações podem ocorrer nas anemias hemolíticas, decorrentes de hemoparasitas, e também em casos de anemia hipoplásica, por deficiências protéicas, minerais e/ou vitamínicas. Nos animais estudados não foram observados hemoparasitas ou alterações clínicas e hematológicas indicativas de hemoparasitose ou doença hemolítica e auto-imune, sugerindo-se que, pelos animais serem errantes e por não receberem dieta balanceada, as alterações foram decorrentes de deficiências nutricionais.

Figura1: Gráficos mostrando variações entre os animais em seus eritrogramas, contagem de plaquetas, dosagem de proteínas plasmáticas e em leucograma.

No leucograma, apenas um (3%) apresentou leucopenia e sete (21,2%) apresentaram leucocitose, cinco (15,2%) com neutrofilia, sete (21,2%) com aumento de bastonetes, 22 (66,6%) com eosinofilia, quatro (12,2%) com monocitose, três (9%) com monocitopenia, dois (6%) com linfocitose e três (9%) com linfopenia. Os Leucócitos são responsáveis pela resposta imune e incluem cinco tipos de células com morfologia e funções específicas (neutrófilos, monócitos, eosinófilos e basófilos). Na maioria dos casos, a leucocitose é causada por neutrofilia e suas principais causas são: infecção/inflamação, traumatismo e leucemia. No entanto, há algumas situações que são acompanhados pelo aumento específico de um tipo de leucócito como nas infecções bacterianas que são acompanhadas de neutrofilia, nas víricas de linfocitose e nas parasitárias e alérgicas de eosinofilia (COUTO, 2006). As principais alterações dos animais estudados foram leucocitose com neutrofilia e desvio a esquerda (aumento de bastonetes) indicando, portanto, infecção bacteriana que foi observada clinicamente por: contaminação de lesões cutâneas, piometra, otite e cistite. Grande parte dos cães apresentou eosinofilia. Nestes animais, por serem errantes, não havia sido feito qualquer esquema de prevenção ou tratamento

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anti-helmíntico sugerindo-se que esta alteração seja secundária a doenças parasitárias. Em contagem de plaquetas, nove (27,3%) animais apresentaram trombocitopenia. As trombocitopenias por consumo estão associadas a quadros inflamatórios, doenças infecciosas (erliquiose) e outras doenças transmitidas por carrapatos e são bastante comuns em cães errantes (REBAR et al 2003) como o observado nos deste trabalho.

Em análise bioquímica sérica, um (3%) mostrou ALT aumentado e nenhum apresentou alterações de creatinina. A alanina aminotransferase (ALT) é uma enzima de extravasamento que está livre no citoplasma dos hepatócitos, esta enzima é essencialmente hepato-específica para cães e gatos. O aumento da atividade sérica dessa enzima indica uma lesão celular liberando-a para a circulação (RIBEIRO et al, 2009).

De acordo com os resultados, os animais foram encaminhados para a cirurgia, se os exames encontravam-se dentro dos padrões de normalidade, ou foram tratados, caso apresentassem alguma enfermidade, sendo a cirurgia realizada após o tratamento.

Conclusões

Pode-se observar grande variação nos valores hematológicos e bioquímicos dos animais estudados e as principais alterações encontradas foram as secundárias a doenças relacionadas a má nutrição, falta de cuidados básicos e de prevenção de doenças. Assim, mesmo sem apresentarem sinais evidentes de qualquer enfermidade, é de fundamental importância a realização exames pré-operatórios adequados em animais errantes para o fim de se prevenir complicações trans e pós-operatórias.

Referências Couto, C.G. Hematologia e Imunologia. In: Manual de medicina interna de pequenos animais, Nelson R. W.; Couto C. G, Ed.: Mosby Elsevier 2a Ed. Rio de Janeiro, 2006; 883 – 947.Corrêa, A et al. Avaliação da série vermelha sanguínea, eosinófilos e endoparasitas de cães errante da região de Pelotas-RS. XVII Encontro de Iniciação Científica. Pelotas, 2008. Site: http://www.ufpel.edu.br/cic/2008/cd/pages/pdf/CS/CS_01763.pdfFerreira, J.F. et al. Importância da avaliação bioquímica pré-operatória de cães idosos. Vet. e Zootec. v.17, suplemento 1, p.77, 2010.González, F.H.D., Santos, A.P. Patologia Clínica Veterinária. Anais do II Simpósio de Patologia Clínica Veterinária da Região Sul do Brasil. Porto Alegre, 2005, 91p.Mathias, L.A; Guaratini, A.A.. Exames complementares pré-operatórios: uma análise crítica. Revista Brasileira de Anestesiologia. 2006. 56: 6: 658-668.Rebar, AH. Guia de Hematologia para cães e gatos. Editora Roca Ltda, São Paulo, 2003, 291p.Ribeiro, T.B. et al. Hepatopatia em cães: Relato de cinco casos clínicos. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária. Ano VII. N. 13, 2009.

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