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IEFP - ISG

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

Ficha Técnica

Colecção MANUAIS PARA APOIO À FORMAÇÃO EM CIÊNCIAS EMPRESARIAIS

Título Análise Financeira e Gestão Orçamental Suporte Didáctico Guia do Formando

Coordenação e Revisão Pedagógica IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional - Departamento de Formação Profissional

Coordenação e Revisão Técnica ISG – Instituto Superior de Gestão Autor Carlos Saraiva Alves/ISG Capa IEFP

Maquetagem ISG Montagem ISG

Impressão e Acabamento JERAMA – Artes Gráficas, Lda. Propriedade Instituto do Emprego e Formação Profissional, Av. José

Malhoa, 11 1099-018 Lisboa Edição Portugal, Lisboa, Dezembro de 2004

Tiragem 1000 exemplares Depósito Legal 218235/04

ISBN 972-732-911-X

Copyright, 2004 Todos os direitos reservados ao IEFP

Nenhuma parte deste título pode ser reproduzido ou transmitido, por qualquer forma ou processo sem o conhecimento prévio, por escrito, do IEFP

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Page 5: Analise Financeira e Gestao Orçamental

ÍNDICE GERAL IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

Indice Geral

I. A ANÁLISE FINANCEIRA................................................................................................ 1

1. Conteúdo......................................................................................................................... 4

2. Objectivos ....................................................................................................................... 5

• Resumo....................................................................................................................... 9

• Questões e Exercícios .............................................................................................. 10

• Resoluções ............................................................................................................... 11

II. OS MÉTODOS................................................................................................................ 15

1. Fluxos Económicos da Empresa................................................................................... 18 2. Bases Metodológicas .................................................................................................... 20 3. Métodos ........................................................................................................................ 22

• Resumo..................................................................................................................... 26

• Questões e Exercícios .............................................................................................. 27

• Resoluções ............................................................................................................... 28

III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE ................................................... 33

1. Preparação das contas ................................................................................................. 36 2. Balanço e Demonstração de Resultados ...................................................................... 40 3. Origens e aplicações de fundos .................................................................................... 50

• Resumo..................................................................................................................... 53

• Questões e exercícios............................................................................................... 55

• Resoluções ............................................................................................................... 56

IV. OS RÁCIOS ................................................................................................................... 61

1. Indicadores e Rácios..................................................................................................... 64 2. Utilidade e limitações dos Rácios.................................................................................. 65

• Resumo..................................................................................................................... 82

• Questões e exercícios............................................................................................... 85

• Resoluções ............................................................................................................... 88

Page 6: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IEFP Índice Geral

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental

V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO.........................................................................................93

1. Bases do equilíbrio financeiro........................................................................................96 2. Fundo de maneio líquido .............................................................................................102

• Resumo ...................................................................................................................110

• Questões e exercícios .............................................................................................112

• Resoluções..............................................................................................................114

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA .......................................................................................121

GLOSSÁRIO......................................................................................................................123

Page 7: Analise Financeira e Gestao Orçamental

ANÁLISE FINANCEIRAE

GESTÃO ORÇAMENTAL

I. A ANÁLISE FINANCEIRA

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I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

I 3

Objectivos

No final desta unidade temática, o formando deverá estar apto a:

• Definir a análise financeira e o seu campo de aplicação.

• Identificar os objectivos a atingir com a análise. Temas:

1. Conteúdo – definição e aplicação;

2. Objectivos – gestão das disponibilidades, rendibilidade e equilíbrio, estruturação financeira, processo estratégico, controlo económico-financeiro;

• Resumo;

• Questões e exercícios;

• Resoluções.

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IEFP I. A Análise Financeira

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental

I 4

1. CONTEÚDO

‘A teoria financeira consiste num conjunto de conceitos e de modelos de análise quantitativa – os conceitos ajudam a organizar o pensamento sobre a melhor forma de utilizar recursos disponíveis ao longo do tempo, e os modelos ajudam a avaliar alternativas, a tomar decisões e a pô-las em prática.’

Zvi Bodie & Robert C. Merton

‘Finance’, Prentice Hall, New Jersey, 1998

Definição

Análise financeira é a actividade que prepara e dá suporte à gestão financeira da empresa. Consiste na aplicação de metodologias para interpretar, caracterizar e dominar acontecimentos e previsões relativos aos meios financeiros à disposição da empresa para o desenvolvimento das suas actividades e às utilizações que destes são feitas.

Trata-se, em suma, de extrair informações e elaborar conclusões de natureza económico-financeira e fundamentais para a gestão, a partir de dados relativos às contas de uma organização, criteriosamente seleccionados e especificamente preparados para o efeito.

Os ‘meios financeiros à disposição’ designam-se genericamente por origens de fundos ou financiamento e, usando a nomenclatura do POC, compreendem os ‘capitais próprios’ e o ‘passivo’ (que agrupa as diversas naturezas de capitais alheios). As ‘utilizações’ são genericamente designadas por aplicações de fundos ou investimento e, segundo o POC, compreendem todas as rubricas do ‘activo’ (por grandes grupos de naturezas: imobilizado, existências, crédito concedido a terceiros e disponibilidades).

Por ‘conclusões de natureza económico-financeira’, entende-se: relato sobre os efeitos registados num património, por actividades desenvolvidas com base neste e tendo em conta o factor tempo.

Aplicação

A análise financeira aplica-se aos acontecimentos com relevância no plano económico (ou da criação de excedentes) e no plano financeiro (ou respeitantes ao efeito do tempo sobre o valor patrimonial). Quer já tenham sido verificados (como sejam, resultados obtidos em negócios, contas de exercícios terminados, comportamentos de custos ou dos proveitos num dado período, formação de stocks, crédito concedido a terceiros e outros), quer a estudos e previsões de acontecimentos a verificar hipoteticamente no futuro (como sejam, desenvolvimento de actividades, abertura de mercados, financiamentos, aplicações de capital, admissão de novos sócios, aumentos de capital, concessão de crédito a clientes, oportunidades de novos negócios e outros).

Para fazer a análise financeira é necessário dispor (e, por vezes, observar em detalhe) de correcta informação contabilística, pelo que se torna necessário que esta actividade esteja devidamente organizada e com os seus arquivos e registos absolutamente em dia.

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I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

I 5

2. OBJECTIVOS

A análise financeira tem como principal objectivo a gestão financeira da empresa.

Os métodos e tarefas que no seu âmbito se desenvolvem, integram-se no ciclo da gestão da empresa (isto é, planear, organizar e controlar) e estão, portanto, fundamentalmente orientados para a pesquisa da criação de valor.

O carácter geralmente interveniente da função financeira – presente em todas as decisões da empresa – realiza-se, no fundamental, através da análise, na qual se apoia o exercício interactivo de um conjunto de funções complexas, essenciais à estrutura orgânica da empresa.

Passamos a referir essas funções de forma sintética, organizando-as em cinco grupos:

1.Gestão das disponibilidades;

2. Rendibilidade e equilíbrio;

3. Estruturação financeira;

4. Processo estratégico;

5. Controlo económico-financeiro.

Gestão das disponibilidades

Gerir as disponibilidades é garantir os meios monetários necessários à exploração, ao menor custo e sem aumentar o endividamento perante terceiros.

A análise financeira entra na gestão financeira de curto prazo, através da elaboração dos orçamentos (mensais, trimestrais, anuais) de tesouraria, que se destinam a prever excessos ou insuficiências de meios monetários e a encontrar, com antecedência, as soluções mais adequadas – quer pelo recurso a fontes de financiamento, quer pelo reajustamento de políticas da empresa, se necessário.

O financiamento da tesouraria faz-se, em geral, pela negociação com clientes e fornecedores, para antecipar prazos de recebimento ou dilatar prazos de pagamento (em geral mediante bonificação financeira). Quando necessário e possível, recorre-se ao desconto de valores em carteira (letras ou facturas). É próprio da análise financeira o cálculo dos ‘custos efectivos’ de financiamento da tesouraria e a comparação das diferentes oportunidades.

A gestão das disponibilidades influencia e é influenciada pelas políticas de crédito concedido a clientes e outros, de compras e de existências, as quais estão, por sua vez, interligadas com diversas áreas de responsabilidade da empresa (como sejam, comercial, produção, aprovisionamentos, logística).

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IEFP I. A Análise Financeira

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental

I 6

É necessário estabelecer regras acerca de prazos de pagamento das compras, prazos de recebimento das vendas, volume de stocks, despesas de funcionamento, publicidade, etc.

Quando se alteram políticas, a principal preocupação consiste em assegurar que a empresa não seja ultrapassada, face à concorrência.

Em análise financeira faz-se também, por norma, a comparação sectorial de indicadores (prazos de recebimento e pagamento, margens e outros) para que a gestão da empresa tenha percepção da sua influência relativa nos mercados e possa posicionar-se correctamente em matéria de competitividade.

Rendibilidade e equilíbrio

Rendibilidade é a capacidade de gerar lucros com o desenvolvimento da actividade da empresa.

Os lucros formam-se quando, feitas as contas com regularidade (mensal, trimestral, anual) se verifica que os proveitos (a facturação aos clientes) é superior aos custos suportados (matérias-primas e subsidiárias, salários com todos os encargos, bens e serviços que foi necessário adquirir, juros bancários, impostos e outros).

Equilíbrio é a aptidão para fazer corresponder permanentemente os meios monetários disponíveis à satisfação dos compromissos de pagamento assumidos com terceiros.

A empresa que, no desenvolvimento dos seus negócios, obtém taxas de rendibilidade idênticas às do seu sector de actividade e que, ao mesmo tempo, assegura o correcto cumprimento dos compromissos financeiros e o equilíbrio normal da tesouraria, reúne condições positivas para se posicionar com vantagem nos mercados – pelos seguintes motivos:

1 Porque dá aos seus clientes uma indicação de continuidade e crescimento que é favorável à qualidade, à redução dos custos e dos preços e ao aperfeiçoamento das relações de mercado;

2 Porque dá aos seus fornecedores a segurança de colocação de produtos e serviços, com pagamento nas condições contratadas, dá aos bancos sinais de boa gestão, de potencial alargamento dos negócios e de viabilidade;

3 Porque dá aos seus empregados segurança e motivação para trabalharem com qualidade e de forma produtiva;

4 Porque dá à região em que está localizada sinais de empregabilidade e contributo social;

5 Porque garante ao estado o cumprimento correcto e atempado das suas obrigações sociais e contributivas de modo geral.

A gestão financeira (apoiada na análise) orienta, portanto, num quadro multivariado, a utilização dos fluxos provenientes das actividades (facturação, essencialmente) segundo pressupostos de equilíbrio e de obtenção de rendibilidade.

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I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP

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I 7

Estruturação financeira

A estrutura financeira da empresa encontra-se expressa nos dois ramos do balanço. Desdobra-se em: ‘estrutura de investimento’ (também designada por ‘aplicações’ ou ‘activos’) e ‘estrutura de financiamento’ (que se designa também por ‘origens’ ou ‘capitais’).

A estrutura de investimento agrupa as aplicações financeiras - o conjunto de bens e direitos que a empresa utiliza no desenvolvimento da sua actividade (equipamentos, stocks, crédito a clientes, dinheiro). A estrutura de capitais consiste nas origens financeiras –os capitais dos sócios e os que são provenientes do crédito concedido por outros (bancos, fornecedores, estado).

À estrutura de investimento está associada a característica de liquidez – capacidade de, num certo espaço de tempo, cada um dos seus componentes se transformar em meios monetários. A liquidez é traduzida em dias (por exemplo, o recebimento far-se-á a x dias, a rotação dos stocks de matérias-primas é de y dias).

Há excepções a isto, que devemos apontar. Assim, o imobilizado (os bens de equipamento e outros) não tem directamente associada a condição de liquidez, porque não se destina a ser vendido, mas sim utilizado para produzir. Os meios monetários em caixa e bancos, já constituem liquidez por si mesmos.

À estrutura de financiamento está associada a característica de exigibilidade – capacidade de, num certo espaço de tempo, cada um dos seus componentes ser devolvido às entidades que os emprestaram. A exigibilidade é traduzida em dias (por exemplo, o pagamento será exigível a x dias).

Também aqui há excepções a assinalar - os capitais colocados pelos sócios na empresa não se destinam a ser devolvidos, como se de empréstimos se tratasse. Ficam na empresa para apoiar a sua actividade e são até reforçados, com lucros não distribuídos. Estes, são considerados como capitais sem exigibilidade.

A definição e verificação das proporções adequadas dos capitais, das formas correctas da sua utilização, do cálculo das remunerações (dividendos e juros) que lhes serão devidas e a optimização destes fluxos, constituem o objecto da análise no que respeita à estruturação financeira – uma questão que tem ligações profundas com a estratégia da empresa.

Processo estratégico

A função financeira integra-se na estratégia global da empresa, participando na elaboração do diagnóstico, na formulação estratégica, na definição das opções a considerar, na implementação dos planos e no seu controlo.

A análise financeira é essencial ao processo estratégico, desde o diagnóstico – definição dos pontos fortes e fracos e das ameaças e oportunidades de que dispõe em mercado, para a

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IEFP I. A Análise Financeira

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental

I 8

formulação da estratégia – às fases seguintes do processo (consideração das opções e implementação estratégica) e às revisões necessárias.

Compete ao gestor financeiro fazer a tradução dos planos estratégicos em documentos financeiros provisionais (balanços, demonstrações de resultados e de tesouraria) por forma a que as decisões e os objectivos estratégicos sejam assumidos pelos quadros e por toda a organização, com domínio adequado dos respectivos efeitos – em termos económicos, financeiros e monetários.

Controlo Económico-Financeiro

Controlar a gestão significa dominar a informação económico-financeira relevante e intervir, com a necessária antecipação, para que os objectivos sejam alcançados.

A informação económica é a que incide sobre o desempenho operacional das diversas funções da empresa e permite avaliar da sua eficiência na utilização dos recursos e da respectiva contribuição para a formação dos resultados.

A informação financeira é a que se reporta ao controlo e utilização eficiente dos fluxos de capitais (créditos obtidos, cobranças, fundos próprios, etc.) que apoiam as actividades da empresa.

O controlo exerce-se do topo à base e os meios que mobiliza (humanos, técnicos, informáticos e outros) devem estar de acordo com as necessidades relativas da gestão e a importância das actividades controladas. O controlo foca, fundamentalmente, o processo de criação de valor da empresa.

A este nível, a análise financeira presta contributo importante para a motivação e desenvolvimento das estruturas, proporcionando um melhor conhecimento dos negócios e da gestão, através do sistema de informação e do controlo estratégico e orçamental.

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I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

I 9

Resumo

1. Análise financeira é a aplicação de metodologias para dominar, interpretar e caracterizar acontecimentos e previsões relativos ao conjunto dos financiamentos (próprios e alheios) à disposição da empresa e aos investimentos (utilizações expressas em activos) que destes são feitas

2. A análise financeira aplica-se aos acontecimentos com relevância económica (relativos à formação de excedentes, margens e resultados) e financeira (respeitantes ao efeito do tempo sobre o valor do património), quer tenham sido verificados no passado, quer respeitem a estudos e previsões a verificar hipoteticamente no futuro.

3. Para fazer a análise financeira é necessário dispor da informação contabilística devidamente organizada e com arquivos e registos em dia.

4. carácter geralmente interveniente da função financeira – presente em todas as decisões da empresa – realiza-se, no fundamental, através da análise, na qual se apoia o exercício interactivo de um conjunto de funções complexas, essenciais à estrutura.

5. A análise financeira é essencial para assegurar a gestão das disponibilidades, isto é, garantir que a empresa disponha dos meios monetários necessários à sua exploração, ao menor custo e sem aumentar o endividamento perante terceiros.

6. A análise financeira utiliza-se para a análise e controlo da rendibilidade e do equilíbrio, condições fundamentais de credibilidade, aceitação e integração da empresa no meio em que exerce actividade.

7. A optimização dos fluxos de capitais e dos efeitos (de remuneração e outros) que lhes são associados, no sentido da maximização do valor da empresa, constituem o objecto da análise para a estruturação financeira – uma questão com profundas conexões com o processo estratégico.

8. A função financeira integra-se na estratégia global da empresa, participando na elaboração do diagnóstico, na formulação estratégica, na definição das opções, na implementação dos planos e no seu controlo.

9. A informação económica de controlo é a que incide sobre o desempenho operacional das diversas funções da empresa e permite avaliar da sua eficiência na utilização dos recursos e da respectiva contribuição para a formação dos resultados.

10. A informação financeira de controlo é a que se reporta à utilização eficiente dos fluxos de capitais (créditos obtidos, cobranças, fundos próprios, etc.) que apoiam as actividades da empresa.

11. controlo exerce-se na empresa do topo à base e os meios que mobiliza devem estar de acordo com as necessidades e a importância estratégica e operacional das actividades.

12. A análise financeira presta igualmente contributo importante na motivação e desenvolvimento das estruturas, proporcionando aos quadros da empresa um melhor conhecimento dos negócios e da gestão operacional, através da informação e do controlo orçamental.

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IEFP I. A Análise Financeira

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental

I 10

Questões e Exercícios

1. O que é a análise financeira?

2. Como se designam os meios financeiros à disposição da empresa?

3. Que agregados de contas do POC formam as origens de fundos?

4. Que grupos de contas do POC respeitam às aplicações de fundos?

5. O que é a estrutura financeira e como se organiza?

6. O que é a estrutura de capitais e quais as suas principais rubricas?

7. O que é a estrutura de investimento e que agregados de contas a constituem?

8. A que tipo de acontecimentos se aplica a análise financeira?

9. De que elementos é necessário dispor para efectuar a análise financeira da empresa?

10. Qual é o objectivo principal da análise financeira?

11. Quais as funções próprias da área financeira, que se apoiam na análise?

12. O que é a gestão das disponibilidades?

13. O que se entende por rendibilidade?

14. O que se entende por equilíbrio financeiro?

15. Porque é que a rendibilidade e o equilíbrio financeiro são importantes?

16. O que é a estruturação financeira e que relação tem com a análise?

17. Qual a intervenção da análise financeira no processo estratégico?

18. O que significa controlo económico e financeiro?

19. A que nível da empresa se faz o controlo de gestão?

20. Porque é que a análise pode contribuir para motivar e desenvolver?

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I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

I 11

Resoluções

1. Análise financeira é a actividade que prepara e dá suporte à gestão financeira da empresa. Consiste na aplicação de metodologias para interpretar, caracterizar e dominar acontecimentos e previsões relativos aos meios financeiros à disposição da empresa para o desenvolvimento das suas actividades e às utilizações que destes são feitas.

Trata-se, em suma, de extrair informações e elaborar conclusões de natureza económico-financeira e fundamentais para a gestão, a partir de dados relativos às contas de uma organização, criteriosamente seleccionados e especificamente preparados para o efeito.

2. Os “meios financeiros à disposição” designam-se genericamente por origens de fundos ou financiamento.

3. Compreendem os ‘capitais próprios’ e o ‘passivo’ (que agrupa as diversas naturezas de capitais alheios).

4. Compreendem todas as rubricas do ‘activo’ (por grandes grupos de naturezas: imobilizado, existências, crédito concedido a terceiros e disponibilidades).

5. A estruturação financeira representa o ajustamento sistemático e permanente dos fluxos de liquidez e exigibilidade. A estrutura financeira da empresa encontra-se expressa nos dois ramos do balanço. Desdobra-se em: ‘estrutura de investimento’ (também designada por ‘aplicações’ ou ‘activos’) e ‘estrutura de financiamento’ (que se designa também por ‘origens’ ou ‘capitais’).

6. À estrutura de financiamento está associada a característica de exigibilidade – capacidade de, num certo espaço de tempo, cada um dos seus componentes ser devolvido às entidades que os emprestaram. A exigibilidade é traduzida em dias (por exemplo, o pagamento será exigível a x dias). Também aqui há excepções a assinalar - os capitais colocados pelos sócios na empresa não se destinam a ser devolvidos, como se de empréstimos se tratasse. Ficam na empresa para apoiar a sua actividade e são até reforçados, com lucros não distribuídos. Estes, são considerados como capitais sem exigibilidade.

7. A estrutura de investimento agrupa as aplicações financeiras - o conjunto de bens e direitos que a empresa utiliza no desenvolvimento da sua actividade (equipamentos, stocks, crédito a clientes, dinheiro). A estrutura de capitais consiste nas origens financeiras –os capitais dos sócios e os que são provenientes do crédito concedido por outros (bancos, fornecedores, estado).

À estrutura de investimento está associada a característica de liquidez – capacidade de, num certo espaço de tempo, cada um dos seus componentes se transformar em meios monetários. A liquidez é traduzida em dias (por exemplo, o recebimento far-se-á a x dias, a rotação dos stocks de matérias-primas é de y dias).

Há excepções a isto, que devemos apontar. Assim, o imobilizado (os bens de equipamento e outros) não tem directamente associada a condição de liquidez, porque não se destina a ser vendido, mas sim utilizado para produzir. Os meios monetários em caixa e bancos, já constituem liquidez por si mesmos.

Page 18: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IEFP I. A Análise Financeira

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental

I 12

8. A análise financeira aplica-se aos acontecimentos com relevância no plano económico (ou da criação de excedentes) e no plano financeiro (ou respeitantes ao efeito do tempo sobre o valor patrimonial). Quer já tenham sido verificados (como sejam, resultados obtidos em negócios, contas de exercícios terminados, comportamentos de custos ou dos proveitos num dado período, formação de stocks, crédito concedido a terceiros e outros), quer a estudos e previsões de acontecimentos a verificar hipoteticamente no futuro (como sejam, desenvolvimento de actividades, abertura de mercados, financiamentos, aplicações de capital, admissão de novos sócios, aumentos de capital, concessão de crédito a clientes, oportunidades de novos negócios e outros).

9. Para fazer a análise financeira é necessário dispor (e, por vezes, observar em detalhe) de correcta informação contabilística, pelo que se torna necessário que esta actividade esteja devidamente organizada e com os seus arquivos e registos absolutamente em dia.

10. A análise financeira tem como principal objectivo a gestão financeira da empresa.

11.

• Gestão das disponibilidades;

• Rendibilidade e equilíbrio;

• Estruturação financeira;

• Processo estratégico;

• Controlo económico-financeiro.

12. Gerir as disponibilidades é garantir os meios monetários necessários à exploração, ao menor custo e sem aumentar o endividamento perante terceiros.

13. É a capacidade de gerar lucros com o desenvolvimento da actividade da empresa.

14. É a aptidão para fazer corresponder permanentemente os meios monetários disponíveis à satisfação dos compromissos de pagamento assumidos com terceiros.

15.

1. Porque dá aos seus clientes uma indicação de continuidade e crescimento que é favorável à qualidade, à redução dos custos e dos preços e ao aperfeiçoamento das relações de mercado;

2. Porque dá aos seus fornecedores a segurança de colocação de produtos e serviços, com pagamento nas condições contratadas, dá aos bancos sinais de boa gestão, de potencial alargamento dos negócios e de viabilidade;

3. Porque dá aos seus empregados segurança e motivação para trabalharem com qualidade e de forma produtiva;

4. Porque dá à região em que está localizada sinais de empregabilidade e contributo social; 5. Porque garante ao estado o cumprimento correcto e atempado das suas obrigações sociais

e contributivas de modo geral.

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I. A ANÁLISE FINANCEIRA IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

I 13

16. A estruturação financeira representa o ajustamento sistemático e permanente dos fluxos de liquidez e exigibilidade. A definição e verificação das proporções adequadas dos capitais, das formas correctas da sua utilização, do cálculo das remunerações (dividendos e juros) que lhes serão devidas e a optimização destes fluxos, constituem o objecto da análise no que respeita à estruturação financeira – uma questão que tem ligações profundas com a estratégia da empresa.

17. A função financeira integra-se na estratégia global da empresa, participando na elaboração do diagnóstico, na formulação estratégica, na definição das opções a considerar, na implementação dos planos e no seu controlo.

A análise financeira é essencial ao processo estratégico, desde o diagnóstico – definição dos pontos fortes e fracos e das ameaças e oportunidades de que dispõe em mercado, para a formulação da estratégia – às fases seguintes do processo (consideração das opções e implementação estratégica) e às revisões necessárias.

Compete ao gestor financeiro fazer a tradução dos planos estratégicos em documentos financeiros provisionais (balanços, demonstrações de resultados e de tesouraria) por forma a que as decisões e os objectivos estratégicos sejam assumidos pelos quadros e por toda a organização, com domínio adequado dos respectivos efeitos – em termos económicos, financeiros e monetários.

18. Controlar a gestão significa dominar a informação económico-financeira relevante e intervir, com a necessária antecipação, para que os objectivos sejam alcançados.

A informação económica é a que incide sobre o desempenho operacional das diversas funções da empresa e permite avaliar da sua eficiência na utilização dos recursos e da respectiva contribuição para a formação dos resultados.

A informação financeira é a que se reporta ao controlo e utilização eficiente dos fluxos de capitais (créditos obtidos, cobranças, fundos próprios, etc.) que apoiam as actividades da empresa.

19. O controlo exerce-se do topo à base e os meios que mobiliza (humanos, técnicos, informáticos e outros) devem estar de acordo com as necessidades relativas da gestão e a importância das actividades controladas. O controlo foca, fundamentalmente, o processo de criação de valor da empresa.

20. Proporciona um melhor conhecimento dos negócios e da gestão, através do sistema de informação e do controlo estratégico e orçamental.

Page 20: Analise Financeira e Gestao Orçamental
Page 21: Analise Financeira e Gestao Orçamental

II. OS MÉTODOS

ANÁLISE FINANCEIRAE

GESTÃO ORÇAMENTAL

Page 22: Analise Financeira e Gestao Orçamental
Page 23: Analise Financeira e Gestao Orçamental

II. OS MÉTODOS IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

II 17

Objectivos

No final desta unidade temática, o formando deverá estar apto a:

• Enunciar os métodos da análise financeira.

• Caracterizar o método da análise estática.

• Caracterizar o método da análise dinâmica.

Temas:

1 Fluxos económicos da empresa – reais e monetários: despesas e receitas, pagamentos e recebimentos, custos e proveitos;

2 Bases metodológicas – recolha da informação, análise e tratamento da informação, formulação de hipóteses, validação das hipóteses, conclusões e recomendações;

3 Métodos – análise estática e análise dinâmica;

• Resumo;

• Questões e exercícios;

• Resoluções.

Page 24: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IEFP II. OS MÉTODOS S

Guia do Formador Análise Financeira e Gestão Orçamental

II 18

1. FLUXOS ECONÓMICOS DA EMPRESA

A diferenciação das condições de desenvolvimento económico, tecnológico, financeiro e social de sectores e empresas numa economia, bem como as finalidades distintas a atingir pelos analistas financeiros, explicam, no essencial, as diferenças de métodos (o modo como o trabalho se faz) de caso para caso.

Os métodos da análise financeira aplicam-se ao estudo dos fluxos económicos da empresa e à sua intervenção no processo de criação de valor.

Fluxos económicos - Reais e Monetários

Chamam-se fluxos económicos os movimentos de bens, serviços e meios monetários, da empresa para o exterior e vice-versa.

Quando esses fluxos são constituídos por ‘bens e serviços’, são ‘fluxos reais’ e ocasionam ‘despesa’ (se a empresa os adquire) ou ‘receita’ (se a empresa os vende). Quando esses fluxos são constituídos por ‘meios monetários’ (dinheiro, cheques ou meios equivalentes) são designados por ‘fluxos monetários’ e geram ‘pagamentos’ (ou desembolsos) ou ‘recebimentos’ (embolsos).

FLUXOS ECONÓMICOS

REAIS (Bens e Serviços) MONETÁRIOS

FORNECEDORES COMPRAS FORNECEDORES

PagamentosDespesas Custos STOCKS mp/pi

PRODUÇÃO

Receitas Proveitos STOCKS pa

CLIENTES VENDAS RecebimentosCLIENTES

INVESTIMENTO

CAIXA & Dep.Ord.

Fig. II.1 - Fluxos económicos da empresa

Page 25: Analise Financeira e Gestao Orçamental

II. OS MÉTODOS IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

II 19

Despesas e receitas

As ‘despesas’ das empresas são compromissos, em geral assumidos para com fornecedores e destinam-se a:

1 Adquirir equipamentos (imobilizado);

2 Adquirir bens para aprovisionar (existências);

3 Pagar serviços;

4 Adquirir bens para consumo (imediato ou quase imediato).

As despesas das empresas são facturadas pelos fornecedores/credores.

As ‘receitas’ das empresas são direitos, em geral constituídos perante clientes e provém de: (i) facturação de bens ou serviços prestados; (ii) alienação de património. As receitas das empresas dão lugar à emissão de facturas, a enviar aos seus clientes/devedores.

Pagamentos e Recebimentos

Os ‘pagamentos’ representam a regularização monetária (no imediato ou no futuro) das despesas efectuadas. São saídas em dinheiro ou por cheques emitidos.

Os ‘recebimentos’ representam a regularização monetária (no imediato ou no futuro) das receitas geradas. São entradas em dinheiro ou por cheques recebidos.

Custos e Proveitos

Os ‘custos’ são gerados pela utilização e consumo (dos bens ou dos serviços) numa actividade produtiva. Os valores que se registam como ‘custos’, ou são de bens e serviços directamente adquiridos para a produção, ou (no caso das matérias-primas e dos bens intermédios) respeitam a saídas de ‘stocks’ anteriormente aprovisionados, para uma finalidade específica (fabricar um produto, reparar um equipamento, realizar uma tarefa administrativa, etc.).

A distribuição analítica dos ‘custos’ pelas actividades em que são incorporados é uma ‘imputação ou distribuição de custos’ (uma forma de débito interno).

Os “proveitos” são gerados pela entrega de bens ou pela prestação de serviços a terceiros (aqueles com quem temos transacções). Os valores que se registam como ‘proveitos’ têm associada a emissão de uma factura (ou documento equivalente, como é o caso da nota de débito para certos casos especiais).

A distribuição analítica dos ‘proveitos’ pelas actividades geradoras, chama-se ‘imputação ou distribuição de proveitos’ (uma forma de crédito interno).

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II 20

2. BASES METODOLÓGICAS

As bases metodológicas da análise financeira assentam nos princípios gerais do método científico, desenvolvendo-se em cinco fases:

1. Recolha da informação;

2. Análise e tratamento da informação;

3. Formulação de hipóteses;

4. Validação das hipóteses;

5. Conclusões e recomendações.

Por razões de objectividade, rigor e economia, os métodos (isto é, o modo como se faz a análise) são objecto de compatibilização e síntese, tendo em conta o ambiente económico e as finalidades da análise.

A banca tem grande influência normativa, através dos processos de concessão de crédito e no que se reporta ao conteúdo e aos modelos de análise das empresas.

Outras instituições com influência neste campo, são o IAPMEI (Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e ao Investimento) e o ICEP (Instituto do Comércio Externo Português) pela sua intervenção na aprovação dos projectos com apoio estatal.

Recolha da Informação

A informação base da análise é proveniente da contabilidade: balanços, demonstrações de resultados e outra informação relevante (como sejam, os balancetes, os contratos de financiamento, relatórios e anexos às contas).

Em geral recolhe-se informação de dois ou três períodos (anos, trimestres, semestres) anteriores, dependendo do período a abranger e do trabalho final a apresentar.

Existe outra informação (não contabilística) também importante, como os orçamentos e planos, os organigramas, o quadro de pessoal, o absentismo, os volumes de produção e consumos associados (matérias-primas, embalagem, etc.), os produtos e serviços da empresa, as quotas de mercado, o controlo de qualidade e outras.

Finalmente, obtém-se informação sectorial (que a empresa, de um modo geral, tem, ou que se pode obter através das associações do sector ou das centrais de balanços dos grandes bancos), ou seja, dados sobre a concorrência, estatística actualizada, estrutura de custos e proveitos do sector, níveis de investimento e crédito.

Análise e Tratamento da Informação

A informação recolhida é ordenada, classificada e seleccionada, de forma criteriosa e para servir, de modo expedito e eficiente, as finalidades do trabalho que se deseja executar.

As demonstrações financeiras obtidas da contabilidade são verificadas, para garantir que têm correspondência com movimentos reais efectivamente feitos. Em seguida, procede-se à introdução

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II. OS MÉTODOS IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

II 21

de correcções (por processos extra-contabilísticos) a fim de dar relevo a determinados aspectos considerados importantes na óptica da análise a efectuar (ver: 2.3. Métodos).

A partir das demonstrações (de períodos sucessivos) rectificadas e dos mapas demonstrativos auxiliares que sobre as mesmas se preparam, trabalha-se um conjunto de indicadores, para o estudo da situação económica e financeira.

Formulação de Hipóteses

Formulam-se hipóteses por dois processos:

• Recorrendo a comparações com o passado;

• Criando cenários para o futuro, para servirem igualmente de elementos comparativos.

O passado da empresa (e do sector) está geralmente publicado (contas, anexos e relatórios de gestão). O futuro, está nos planos a médio ou longo prazo, nas análises das associações sectoriais, na própria visão dos gestores sobre a empresa.

Os problemas financeiros que possam ser encontrados, em geral não existem de ‘per si’. Decorrem de dificuldades na área comercial, problemas de domínio tecnológico, questões entre pessoas, formulação estratégica inadequada, posicionamento desajustado face à concorrência e outros.

Para dar conteúdo analítico-financeiro às hipóteses, deve-se trabalhar por tentativas e com grande cuidado, para que não sejam emitidas opiniões destituídas de sentido e afastadas da realidade.

Validação das Hipóteses

Validar é verificar compatibilidades e testar afirmações. Se necessário, devem ser revistos aspectos parcelares. Os pontos de vista do analista devem ser submetidos à apreciação da gestão da empresa analisada, para conhecer outras opiniões e confrontar a aderência das teses avançadas.

Conclusões e Recomendações

A apresentação das conclusões é o topo do trabalho. Sem conclusões, não se pode dizer que está feita a análise financeira.

As conclusões apresentam-se por escrito e a sua validação deve ser feita, com os responsáveis da empresa que foi objecto do trabalho, por forma a que exista o mais amplo esclarecimento entre as partes (gestão da empresa e analista) acerca do trabalho efectuado.

É normal que o relatório de Conclusões contenha igualmente um conjunto de Recomendações, em geral respeitantes à rectificação de procedimentos ou à introdução de medidas de controlo.

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3. MÉTODOS

Os métodos da análise financeira destinam-se a assegurar a máxima compreensão por parte de não-especialistas (como são, afinal, a maioria dos gestores de empresa) no que se refere aos procedimentos, recomendações e conclusões da análise.

A par do rigor e credibilidade técnica (no plano nacional e internacional) que deve assegurar, a análisefinanceira deve também proporcionar apoio para as decisões empresariais na vertente económico-financeira, considerando condições concretas de complexidade de estruturas e de negócios, de desenvolvimento dos mercados e de globalização das economias.

Os elementos-base da análise são, como se sabe, as contas preparadas na óptica fiscal. O analista tem, portanto, que saber compatibilizar e validar tais dados (cuja natureza é estática) por forma a obter indicadores adequados às condições (essencialmente dinâmicas) da gestão.

Entretanto, por razões de simplificação, assume-se que existem dois métodos, sendo um designado por ‘estático’ (ou clássico) e o outro por ‘dinâmico’ (ou de mudança), com características distintas (na forma e no conteúdo) conforme abaixo se explica.

O trabalho do analista não consiste, no entanto, na opção por um dos métodos, consoante o objecto e as finalidades da análise, para em seguida desenvolver uma formulação determinada e escrever as conclusões.

A análisefinanceira moderna é exigente e complexa. Remete para a síntese dos métodos, com percepção ampla da empresa e do seu meio envolvente, compatibilização de processos e observação rigorosa de procedimentos (onde necessário).

A análisefinanceira deve proporcionar total aderência de conclusões e recomendações ao ambiente económico e empresarial a que se aplica.

Método de Análise Estática

A análisefinanceira estática (ou clássica) é orientada para a visão da ‘empresa estável’, que assegura sem grandes alterações a sua continuidade. Parte das demonstrações contabilísticas fundamentais (balançoe demonstração de resultados) corrigidas (ver: 3. Preparação das contas para análise) para evidenciar ‘reservas ocultas (activos subavaliados e custos sobreavaliados)’ e ‘prudência fiscal’ (nível das provisõese amortizações), na óptica da análise bancária para concessão de crédito.

Os indicadores são em geral rácios simples (ver: 4. Rácios) referentes a períodos longos (anuais ou semestrais) com validação quantitativa (comparação numérica).

A análise estática é bastante utilizada em relatórios de contas das grandes empresas participadas pelo estado.

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II. OS MÉTODOS IEFP

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A comparação sectorial dos indicadores (da estrutura financeira, da rendibilidadee do equilíbrioassume importância primordial nas conclusões.

Método de Análise Dinâmica

A análise financeira dinâmica (ou de mudança) é orientada para a gestão estratégica (a visão criativa do futuro) e para o planeamento a curto prazo – e, portanto, para a visão da empresa como um sistema com características próprias e movimentos próprios, diferenciados, de que a componente financeira é parte integrante.

As contas para análise são relativas a períodos curtos (trimestre ou mês) e é dada bastante atenção à análise das variações dos fluxos económico- financeiros em períodos consecutivos. A rectificação dos balanços (ver: 3. Preparação dos elementos para análise) tem como objectivo evidenciar ‘o valor da empresa’ que se exprime, aliás, na dinâmica das origens e aplicações de fundos.

A comparação sectorial (baseada nos indicadores clássicos) assume, neste contexto, relativo interesse. Preferência por informação estatística (interna e externa), análises dos mercados e do ambiente concorrencial.

Síntese dos Métodos

A análise financeira moderna acompanha o desenvolvimento e a evolução da economia. Portanto, os analistas aplicam-se criativamente na síntese dos métodos (estático e dinâmico) para garantir que, em matéria de procedimentos, recomendações e conclusões, existe perfeita correspondência com a complexidade das decisões necessárias à gestão.

A orientação da análise financeira para a síntese e compatibilização dos métodos acima descritos, significa o reconhecimento do seguinte:

• A análisefinanceira clássica ocupa um espaço próprio, aplicável à generalidade das empresas com contas organizadas e orienta-se, nos conteúdos, conclusões e recomendações, pela óptica da concessão de crédito bancário. É essencialmente compreensível por não-especialistas.

• A passagem à análise financeira dinâmica surge como um imperativo necessário para corresponder ao desenvolvimento sectorial das actividades, à expansão dos negócios e à globalização das economias. Implica estruturas bastante organizadas, amplo domínio das actividades e negócios e gestão empresarial avançada.

A síntese dos métodos torna igualmente necessário que, como tarefa preparatória da análisese estude o sector, se percebam os canais de negócio e o ambiente concorrencial, se faça uma avaliação rápida da estrutura e dos sistemas de funcionamento, se percebam as estratégias e as orientações da organização (ou seja, as suas políticas) para gerar resultados.

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II 24

Na perspectiva em que actualmente se desenvolvem as actividades empresariais, a apreensão correcta e integral dos acontecimentos é um processo de envolvimento pessoal continuado.

Este mesmo conceito é bastante apropriado para definir a actividade do analista financeiro, quer na síntese metodológica, quer na aprendizagem dos seus resultados. O domínio global da analyse é um saber que nunca se pode assumir como adquirido na sua totalidade, que evolui ao ritmo normal da mudança dos sistemas de informação.

Orientação da Análise

De posse das contas (encerradas) do período a analisar, o analista precisa de definir previamente as questões importantes a atender e o modo como vai realizar a análise

A orientação da análise (pontos a privilegiar, questões especiais, natureza e fiabilidade dos elementos disponíveis, etc.) é definida após a elaboração de um ‘diagnóstico rápido’ da empresa, abrangendo:

Identificação:

1. Produtos/serviços (ramo de actividade).

2. Mercados (distribuição em %):

Interno

Comunidade Europeia (euro)

Comunidade Europeia (outros)

Estados Unidos

Outros (quais?)

Recursos (de gestão, técnicos e humanos):

3. Gestão (exercício efectivo):

Sócios/accionistas

Gestores não sócios

Familiar

Outra (qual/como?)

4. Factores-chave/questões especiais a considerar.

5. Periodicidade das contas:

Mensal

Trimestral

Semestral

Anual

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II. OS MÉTODOS IEFP

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II 25

Pontos a Focar:

1. Finalidades da análise

2. Destinatários da análise

Este diagnóstico permite organizar a súmula de ORIENTAÇÃO da ANÁLISE, nos seguintes pontos:

1. Âmbito da rectificação (com referência ao Balanço).

2. Indicadores e mapas auxiliares.

3. Questões especiais a considerar.

Este documento de trabalho é arquivado, para consulta frequente, tendo nomeadamente em vista a elaboração do relatório.

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II 26

Resumo

1. Os métodos da análise financeira aplicam-se ao estudo dos fluxos económicos da empresa e à sua intervenção no processo de criação de valor .

2. Chamam-se fluxos económicos os movimentos de bens, serviços e meios monetários, da empresa para o exterior e vice-versa.

3. Fluxos reais, são os fluxos económicos de bens e serviços e fluxos monetários são os fluxos económicos de dinheiro, cheques ou meios equivalentes.

4. Despesas são compromissos assumidos com fornecedores e outros credores, para adquirir equipamentos, bens para aprovisionar, bens para consumir e obter serviços, incluindo os financeiros. Dão lugar a facturação (ou movimento equivalente) por parte de terceiros.

5. Receitas são direitos constituídos perante clientes e outros devedores, provenientes de: bens vendidos, serviços prestados, aplicações financeiras ou património alienado. Geram proveitos de diversa natureza.

6. Pagamentos são regularizações monetárias de despesas efectuadas. Recebimentos são regularizações monetárias de receitas geradas.

7. Custos são utilizações e consumos de bens e serviços numa actividade produtiva. Proveitos são entregas de bens ou prestações de serviços a terceiros, com emissão de factura ou documento equivalente, sobre terceiros.

8. A metodologia da análise baseia-se no método científico e desenvolve-se em cinco fases: Recolha da informação; análise e tratamento; formulação de hipóteses; validação; conclusões.

9. A diferenciação existente entre os sectores e unidades empresariais, as diferentes condições de desenvolvimento económico, tecnológico, financeiro e social, bem como as finalidades distintas dos trabalhos a efectuar, são factores explicativos da utilização de métodos diferenciados para a análise.

10. Razões de simplificação teórica, permitem afirmar que existem dois métodos, sendo um deles designado por ‘estático (ou clássico) e o outro por ‘dinâmico’ (ou de mudança), com características distintas (na forma e no conteúdo).

11. Por razões de objectividade, rigor e economia, os métodos compatibilizam-se e ajustam-se às finalidades do trabalho, por forma a proporcionar a máxima aderência, relativamente ao ambiente a que se aplica a análise

12. Na analyse estática (clássica): contas de períodos longos (anuais ou semestrais). Balanços corrigidos para evidenciar reservas ocultas e introduzir prudência (provisões, amortizações Indicadores simples (estrutura, rendibilidade, equilíbrio). Óptica bancária. Comparação sectorial de indicadores.

13. Na análise dinâmica (de mudança): contas de períodos curtos (trimestrais ou mensais) para análise das variações dos fluxos. Balanços corrigidos para evidenciar o valor da empresa. Indicadores compostos (articulação complexa de rácios). Análise marginal. Óptica da gestão estratégica (visão criativa do futuro).

14. A análise financeira moderna remete para a síntese dos métodos, com percepção ampla da empresa e do seu meio envolvente, compatibilização inteligente de processos e observação rigorosa de procedimentos (onde necessário).

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II. OS MÉTODOS IEFP

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Questões e Exercícios

1. O que são fluxos económicos da empresa?

2. Que tipos de fluxos económicos distingue?

3. Explique a diferença entre despesa, receita, pagamento e recebimento.

4. O que são custos e proveitos?

5. Enuncie as cinco fases de desenvolvimento do método da análise financeira.

6. Qual a aplicação dos métodos de análise financeira?

7. Porque é que os métodos de análise devem ajustar-se às finalidades?

8. Em que consiste a recolha da informação para análise?

9. Como se procede na fase da análise e tratamento da informação?

10. Como e porque é que se formulam hipóteses sobre as contas em análise?

11. O que é a validação das hipóteses formuladas?

12. O que são as conclusões e recomendações da análise?

13. Como devem apresentar-se as conclusões e recomendações?

14. O que são métodos de análise financeira?

15. O que significa corrigir o balanço das ‘reservas ocultas’?

16. Qual é a orientação dominante do método clássico?

17. O que é que caracteriza o método de análise dinâmica ?

18. Porque é que se corrigem as contas ?

19. Que factores tornam recomendável a síntese dos métodos de análise?

20. Porque razão se afirma que a análise financeira está ligada à economia?

21. O que entende por ‘análise da concorrência’?

Exercício Prático

Preparar um ‘diagnóstico rápido’ aplicável à empresa ‘PNTB,sa’, cujas contas, dos anos (n-2), (n-1) e (n), vão ser analisadas (vide pontos 3.5., 4.5. e 5.4. designados como 'Avaliação – Exercício Prático')

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II 28

Resoluções

1. Chamam-se fluxos económicos os movimentos de bens, serviços e meios monetários, da empresa para o exterior e vice-versa.

2. Quando esses fluxos são constituídos por ‘bens e serviços’, são ‘fluxos reais’ e ocasionam ‘despesa’ (se a empresa os adquire) ou ‘receita’ (se a empresa os vende). Quando esses fluxos são constituídos por ‘meios monetários’ (dinheiro, cheques ou meios equivalentes) são designados por ‘fluxos monetários’ e geram ‘pagamentos’ (ou desembolsos) ou ‘recebimentos’ (embolsos).

3.

Despesas e receitas As ‘despesas’ das empresas são compromissos, em geral assumidos para com fornecedores e destinam-se a:

Adquirir equipamentos (imobilizado);

Adquirir bens para aprovisionar (existências);

Pagar serviços;

Adquirir bens para consumo (imediato ou quase imediato).

As despesas das empresas são facturadas pelos fornecedores/credores.

As ‘receitas’ das empresas são direitos, em geral constituídos perante clientes e provém de: (i) facturação de bens ou serviços prestados; (ii) alienação de património. As receitas das empresas dão lugar à emissão de facturas, a enviar aos seus clientes/devedores.

Pagamentos e recebimentos

Os ‘pagamentos’ representam a regularização monetária (no imediato ou no futuro) das despesas efectuadas. São saídas em dinheiro, por cheques emitidos ou transferências bancárias.

Os ‘recebimentos’ representam a regularização monetária (no imediato ou no futuro) das receitas geradas. São entradas em dinheiro ou por cheques recebidos.

4.

Custos e proveitos Os ‘custos’ são gerados pela utilização e consumo (dos bens ou dos serviços) numa actividade produtiva. Os valores que se registam como ‘custos’, ou são de bens e serviços directamente adquiridos para a produção, ou (no caso das matérias-primas e dos bens intermédios) respeitam a saídas de ‘stocks’ anteriormente aprovisionados, para uma finalidade específica (fabricar um produto, reparar um equipamento, realizar uma tarefa administrativa, etc.).

A distribuição analítica dos ‘custos’ pelas actividades em que são incorporados é uma ‘imputação ou distribuição de custos’ (uma forma de débito interno).

Os “proveitos” são gerados pela entrega de bens ou pela prestação de serviços a terceiros (aqueles com quem temos transacções). Os valores que se registam como ‘proveitos’ têm associada a

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II. OS MÉTODOS IEFP

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II 29

emissão de uma factura (ou documento equivalente, como é o caso da nota de débito para certos casos especiais).

A distribuição analítica dos ‘proveitos’ pelas actividades geradoras, chama-se ‘imputação ou distribuição de proveitos’ (uma forma de crédito interno).

5. As bases metodológicas da análise financeira assentam nos princípios gerais do método científico, desenvolvendo-se em cinco fases:

1 Recolha da informação.

2 Análise e tratamento da informação.

3 Formulação de hipóteses.

4 Validação das hipóteses.

5 Conclusões e recomendações.

6. Os métodos da análise financeira destinam-se a assegurar a máxima compreensão por parte de não-especialistas (como são, afinal, a maioria dos gestores de empresa) no que se refere aos procedimentos, recomendações e conclusões da análise.

7. A par do rigor e credibilidade técnica (no plano nacional e internacional) que deve assegurar, a análise financeira deve também proporcionar apoio para as decisões empresariais na vertente económico-financeira, considerando condições concretas de complexidade de estruturas e de negócios, de desenvolvimento dos mercados e de globalização das economias.

8. A informação base da análise é proveniente da contabilidade: balanços, demonstrações de resultados e outra informação relevante (como sejam, os balancetes, os contratos de financiamento, relatórios e anexos às contas).

9. Em geral recolhe-se informação de dois ou três períodos (anos, trimestres, semestres) anteriores, dependendo do período a abranger e do trabalho final a apresentar.

Existe outra informação (não contabilística) também importante, como os orçamentos e planos, os organigramas, o quadro de pessoal, o absentismo, os volumes de produção e consumos associados (matérias-primas, embalagem, etc.), os produtos e serviços da empresa, as quotas de mercado, o controlo de qualidade e outras.

Finalmente, obtém-se informação sectorial (que a empresa, de um modo geral, tem, ou que se pode obter através das associações do sector ou das centrais de balanços dos grandes bancos), ou seja, dados sobre a concorrência, estatística actualizada, estrutura de custos e proveitos do sector, níveis de investimento e crédito.

A informação recolhida é ordenada, classificada e seleccionada, de forma criteriosa e para servir, de modo expedito e eficiente, as finalidades do trabalho que se deseja executar.

As demonstrações financeiras obtidas da contabilidade são verificadas, para garantir que têm correspondência com movimentos reais efectivamente feitos. Em seguida, procede-se à introdução de correcções (por processos extra-contabilísticos) a fim de dar relêvo a determinados aspectos considerados importantes na óptica da anállise a efectuar (ver: 2.3. Métodos).

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A partir das demonstrações (de períodos sucessivos) rectificadas e dos mapas demonstrativos auxiliares que sobre as mesmas se preparam, trabalha-se um conjunto de indicadores, para o estudo da situação económica e financeira.

10. Formulam-se hipóteses por dois processos:

Recorrendo a comparações com o passado;

Criando cenários para o futuro, para servirem igualmente de elementos comparativos.

O passado da empresa (e do sector) está geralmente publicado (contas, anexos e relatórios de gestão). O futuro, está nos planos a médio ou longo prazo, nas análises das associações sectoriais, na própria visão dos gestores sobre a empresa.

Os problemas financeiros que possam ser encontrados, em geral não existem de ‘per si’. Decorrem de dificuldades na área comercial, problemas de domínio tecnológico, questões entre pessoas, formulação estratégica inadequada, posicionamento desajustado face à concorrência e outros.

Para dar conteúdo analítico-financeiro às hipóteses, deve-se trabalhar por tentativas e com grande cuidado, para que não sejam emitidas opiniões destituídas de sentido e afastadas da realidade.

11. Validar é verificar compatibilidades e testar afirmações.

12. A apresentação das conclusões é o topo do trabalho. Sem conclusões, não se pode dizer que está feita a análise financeira.

13. As conclusões apresentam-se por escrito e a sua validação deve ser feita, com os responsáveis da empresa que foi objecto do trabalho, por forma a que exista o mais amplo esclarecimento entre as partes (gestão da empresa e analista) acerca do trabalho efectuado.

É normal que o relatório de Conclusões contenha igualmente um conjunto de Recomendações, em geral respeitantes à rectificação de procedimentos ou à introdução de medidas de controlo.

14. Os métodos da análise financeira destinam-se a assegurar a máxima compreensão por parte de não-especialistas (como são, afinal, a maioria dos gestores de empresa) no que se refere aos procedimentos, recomendações e conclusões da análise.

15. Parte das demonstrações contabilísticas fundamentais (balanço e demonstração de resultados) corrigidas para evidenciar ‘reservas ocultas (activos subavaliados e custos sobreavaliados).

16. A análise financeira estática (ou clássica) é orientada para a visão da ‘empresa estável’, que assegura sem grandes alterações a sua continuidade.

17. A análise financeira dinâmica (ou de mudança) é orientada para a gestão estratégica (a visão criativa do futuro) e para o planeamento a curto prazo – e, portanto, para a visão da empresa como um sistema com características próprias e movimentos próprios, diferenciados, de que a componente financeira é parte integrante.

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II. OS MÉTODOS IEFP

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II 31

18. 'A análise financeira é feita sobre documentos de natureza contabilística – o balanço e a demonstração de resultados líquidos. No entanto, estes documentos não respondem por inteiro às exigências da análise (...) Além disso, a concepção da normalização contabilística adere mais a princípios jurídico-patrimoniais do que a princípios financeiros, pelo que será conveniente que os analistas não se iludam com as aparências. Só um autêntico domínio da técnica contabilística, nos campos teórico e prático, permite ao analista financeiro ter uma consciência das dificuldades e implicações que os métodos contabilísticos podem ter sobre certas rubricas, alterando-lhes o sentido financeiro.'

João Carvalho das Neves

Análise Financeira – métodos e técnicas.

Texto Editora, Lisboa, 1991.

A preparação das contas para a análise, é um procedimento necessário, através do qual se faz a transformação das demonstrações contabilísticas em demonstrações financeiras, tendo em vista a obtenção do valor fiel e verdadeiro da empresa em análise.

19. Implica estruturas bastante organizadas, amplo domínio das actividades e negócios e gestão empresarial avançada.

20. A análise financeira moderna acompanha o desenvolvimento e a evolução da economia. Portanto, os analistas aplicam-se criativamente na síntese dos métodos (estático e dinâmico) para garantir que, em matéria de procedimentos, recomendações e conclusões, existe perfeita correspondência com a complexidade das decisões necessárias à gestão.

A síntese dos métodos torna igualmente necessário que, como tarefa preparatória da análisese estude o sector, se percebam os canais de negócio e o ambiente concorrencial, se faça uma avaliação rápida da estrutura e dos sistemas de funcionamento, se percebam as estratégias e as orientações da organização (ou seja, as suas políticas) para gerar resultados.

Na perspectiva em que actualmente se desenvolvem as actividades empresariais, a apreensão correcta e integral dos acontecimentos é um processo de envolvimento pessoal continuado.

Este mesmo conceito é bastante apropriado para definir a actividade do analista financeiro, quer na síntese metodológica, quer na aprendizagem dos seus resultados. O domínio global da análise é um saber que nunca se pode assumir como adquirido na sua totalidade, que evolui ao ritmo normal da mudança dos sistemas de informação.

Nota: Para um correcto posicionamento da empresa no mercado, esta deve acompanhar a evolução da economia, o que na vertente financeira se traduz, nomeadamente, no acompanhamento da evolução das taxas de juro, das cotações das acções, etc.

21. Dados sobre a concorrência, estatística actualizada, estrutura de custos e proveitos do sector, níveis de investimento e crédito

Nota: Existe um particular interesse da função financeira na análise da concorrência, isto é, empresas que oferecem o mesmo produto, ao mesmo público-alvo e a preços semelhantes, para que possa haver comparação da sua ‘performance’ com os resultados do sector em que opera.

Exercício Prático:

Preparar um ‘diagnóstico rápido’ aplicável à empresa ‘PNTB, SA’, cujas contas vão ser adiante analisadas (vide 3.5., 4.5. e 5.4.).

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE

ANÁLISE FINANCEIRAE

GESTÃO ORÇAMENTAL

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 35

Objectivos:

No final desta unidade temática, o formando deverá estar apto a:

• Fundamentar a necessidade de preparação dos elementos para análise.

• Explicar o modo de preparação e de apresentação das contas para análise.

• Fazer a preparação das contas de balanço e de resultados.

• Elaborar a demonstração das origens e aplicações de fundos.

Temas:

1 Preparação das contas – rectificação do valor patrimonial e processo de simulação.

2 Contas de balanço e de resultados.

3 Origens e aplicações de fundos.

• Resumo

• Questões e exercícios

• Resoluções

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IEFP III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE S

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III 36

1. PREPARAÇÃO DAS CONTAS

'A análise financeira é feita sobre documentos de natureza contabilística – o balanço e a demonstração de resultados líquidos. No entanto, estes documentos não respondem por inteiro às exigências da análise (...) Além disso, a concepção da normalização contabilística adere mais a princípios jurídico-patrimoniais do que a princípios financeiros, pelo que será conveniente que os analistas não se iludam com as aparências. Só um autêntico domínio da técnica contabilística, nos campos teórico e prático, permite ao analista financeiro ter uma consciência das dificuldades e implicações que os métodos contabilísticos podem ter sobre certas rubricas, alterando-lhes o sentido financeiro.'

João Carvalho das Neves

Análise Financeira – métodos e técnicas.

Texto Editora, Lisboa, 1991.

A preparação das contas para a análise, é um procedimento necessário, através do qual se faz a transformação das demonstrações contabilísticas em demonstrações financeiras, tendo em vista a obtenção do valor fiel e verdadeiro da empresa em análise.

O processo decorre em duas fases:

• Rectificação e verificação, para corrigir resultados, rever a valorização de activos e reforçar o efeito da prudência (amortizações e provisões).

• Elaboração de demonstrações auxiliares, para a análise funcional do equilíbrio financeiro, da rendibilidade e do funcionamento.

Rectificação do valor patrimonial

A preparação das contas no processo de obtenção das demonstrações financeiras, representa uma opção pela avaliação do património por critérios efectivos ‘de mercado’. Desta forma, o balanço assume a configuração de uma estrutura de origens e aplicações de fundos, cuja dinâmica (das aplicações e das origens) acompanha os desempenhos da empresa nos mercados em que exerce actividade.

A necessidade de ultrapassar os conceitos fiscais para efeitos de análise, resulta do facto destes traduzirem de forma insuficiente e por vezes distorcida, o valor patrimonial. De facto, a contabilidade POC não integra actualizações (por exemplo, do valor de terrenos e de trespasses), regista de forma condicionada as provisões e amortizações e não tem a possibilidade prática de registar o valor de intangíveis (como a quota de mercado, o posicionamento concorrencial, a experiência do pessoal, a fidelização dos clientes e dos fornecedores, etc.) que podem, todavia, marcar a diferença.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 37

Nem todos estes problemas são resolvidos com a preparação das contas para a análise, uma vez que alguns destes processos podem atingir grande complexidade e gerar mesmo controvérsias difíceis de ultrapassar, mas podem ser facilmente corrigidos alguns dos mais notáveis.

Processo de simulação

O processo de rectificação de contas é extra-contabilístico (isto é, a contabilidade não intervém) e consiste na simulação de lançamentos (débitos/créditos) que adicionam ou subtraem valor às rubricas do Balanço sintético e da Demonstração de Resultados. As demonstrações levam o subtítulo de ‘rectificado para análise’.

A seguir apresentam-se modelos dos mapas rectificativos dos balanços e demonstrações de resultados para análise.

Balanço

Saldos Rectificações Saldo Rectificado

Dev. Cred. A Deb. A Cred. Dev. Cred. Verif

. Aplicações Imobilizado & Outros Activos Fixos Imobilizado Corpóreo 0 Imobilizado Incorpóreo 0 Imobilizado Financeiro 0 Amortizações Imobilizado (-) 0 Provisão para investimentos financeiros(-) 0

Outro Activo Fixo 0 Total do Activo Fixo 0 0 0 0 0 Activo Circulante Existências 0 Provisão para Depreciação de existências(-) 0

Clientes 0 Provisão para Cobranças Duvidosas(-) 0

Outros Devedores 0 EOEP 0 Outros 0 Títulos negociáveis 0 Depósitos à ordem 0 Caixa 0 Total Activo Circulante 0 0 0 0 0

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III 38

Acréscimos e Diferimentos Acréscimo de Proveitos 0 0

Custos Diferidos 0 0 Total dos Acréscimos & Diferimentos 0 0 0 0 0

Total de Aplicações 0 0 0 0 0 Origens

Capital Próprio Capital Social e Reservas 0 Resultados Transitados 0 Resultados do Exercício 0 Total do Capital Próprio 0 0 0 0 0

Exigivel a Mlp Empréstimos Bancários 0

Outros passivos mlp 0 Provisão para ORE 0

Exigível Mlp 0 0 0 0 Exigivel Curto Prazo

Empréstimos bancários 0 Outros financiamentos 0

Fornecedores 0 EOEP 0

Outros Credores 0 Outros passivos 0

Provisões para ORE 0 Exigível Cp 0 0 0 0

Acréscimos e Diferimentos Acréscimos de Custos 0

Proveitos Diferidos 0 Total dos Acréscimos & Diferimentos 0 0 0 0

Total de Capital Alheio 0 0 Total de Origens 0 0 0 0 0

Verif. 0 0

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 39

Demonstração de Resultados Saldos Rectificações Saldo

Rectificado

Dev. Cred. A Deb. A Cred. Dev. Cred. Verif.

Proveitos Vendas 0 Prestação de serviços 0 Outros proveitos Operacionais 0 Total Proveitos Operacionais 0 0 0 0 Custos CMVMC 0 FSE 0 Pessoal 0 Outros 0 Amortizações do exercício 0 Provisões do exercício 0 Total Custos Operacionais 0 0 0 0 0 Resultado Operacional 0 0 Proveitos financeiros(-) 0 Custos financeiros 0 Resultado corrente 0 0 Proveitos extraordinários 0 Custos extraordinários 0 Resultado antes de impostos 0 0 IRC 0 Resultado líquido 0 0 0 0 Rectificação do resultado 0 0 0 Verificação 0 0 0

Na correcção de contas verificam-se por vezes situações de lucro contabilístico em empresas financeiramente débeis e vice-versa.

Existe, portanto, toda a vantagem para os gestores no acompanhamento do trabalho dos analistas, a fim de se sensibilizarem para os efeitos financeiros das decisões tomadas no desenvolvimento das actividades.

O analista, por seu lado, tem nesta área tarefas bastante complexas, para cuja realização lhe é exigido o domínio seguro das técnicas de contabilidade, o conhecimento da empresa e o conhecimento adequado do sector e dos negócios, a fim de saber delimitar as questões sensíveis e definir as correcções a efectuar.

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III 40

2. BALANÇO E DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS

No processo de preparação do balanço faz-se a revisão de todas as rubricas do Activo, do Passivo e dos Capitais Próprios e a inserção (não contabilística) de todas as rectificações que, de acordo com a visão do analista, possam contribuir para que as contas da empresa traduzam o seu valor financeiro, fiel e verdadeiro.

A demonstração de resultados é afectada pelos movimentos correctivos do Balanço (como Amortizações e Provisões, por exemplo) bem como pelo que se refere especificamente aos Custos e Proveitos, aos Resultados Financeiros e Extraordinários e ao Imposto sobre os Resultados.

Como consequência da rectificação do balanço e da demonstração de resultados, produzem-se também alterações nos fluxos das origens e aplicações de fundos (a explicar em III.3.) que poderão, em determinadas condições, afectar de forma significativa a estrutura financeira da empresa (ver: I.2.3).

As rectificações inseridas no balanço e na demonstração de resultados são descritas em notas explicativas, sequencialmente numeradas, para figurarem como anexos às contas rectificadas.

Passamos a referir os movimentos mais significativos em matéria de rectificação de contas, no percurso do balanço e da demonstração de resultados.

Balanço – contas do activo

• Imobilizado incorpóreo:

Verificar os gastos com a constituição e instalação. Observar os gastos plurienais, para verificar se os valores contabilizados correspondem de facto a despesas amortizáveis, devido aos seus efeitos temporais prolongados (grandes manutenções, campanhas publicitárias, etc.) por forma a que a conta não esteja a ser utilizada para encobrir custos de funcionamento excessivos.

• Imobilizado corpóreo:

Testar se os movimentos de 'entrada-saída-abate' estão a ser contabilizados consistentemente e com regularidade, particularmente no que se refere aos equipamentos com maior expressão de valor bruto imobilizado.

As reavaliações devem ser objecto de controlo, relativamente a activos obsoletos e fora de uso (equipamentos substituídos, microcomputadores e impressoras, veículos para sucata, etc.) que, em rigor, deveriam ser abatidos ao imobilizado e que são reavaliados. O valor adicionado é nulo.

• Imobilizado financeiro

Verificar se a carteira de títulos existente tem o seu valor devidamente actualizado (cotações da Bolsa), para criar a necessária Provisão ou considerar a valorização financeira adequada, conforme se justificar.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 41

• Amortizações do imobilizado:

As amortizações não originam desembolsos (são custos escriturais) e as rectificações neste âmbito dependem das políticas definidas, da incidência tecnológica das actividades e do grau de prudência a introduzir nas contas.

Determinar a política da empresa neste âmbito e assegurar a sua introdução nas contas rectificadas. Questionar a política de amortizações se esta provocar afastamento significativo entre o valor líquido contabilístico do imobilizado e o valor actual dos mesmos bens (terrenos, edifícios e equipamentos) no mercado.

Se houver condições, introduzir no balanço a valorização dos activos numa base técnica (de acordo com a evolução tecnológico e com as exigências do mercado); se tal não for possível, garantir a regularidade (mensal) e actualização dos lançamentos de amortização e a escrituração de alienações e abates.

Os movimentos rectificativos das amortizações afectam por simulação, na parte correspondente ao exercício em curso, os custos com amortizações e, na parte respeitante a anos anteriores, os resultados extraordinários.

• Existências:

Ajuizar se a valorização dos stocks de matérias-primas e subsidiárias, de produtos acabados e de produtos em vias de fabrico, têm 'aderência' com os volumes de Compras efectuados e com os consumos que afectam a Demonstração de Resultados.

Criar as provisões necessárias para cobrir 'quebras', 'monos' e 'invendáveis' (isto é, modificações quantitativas e perdas de valor de mercado) movimentando por simulação a conta de custos respectiva, que deverá afectar resultados.

• Estado e outros entes públicos (IVA a receber e IRC, pagamentos):

Situações a analisar com detalhe. No IVA podem existir erros nos procedimentos declarativos, que motivem os débitos por regularizar. No IRC devem verificar-se os pagamentos por conta (valores e fundamentação fiscal).

Os saldos devedores de IVA podem obrigar à prestação de caução bancária para se obterem os pagamentos do Estado. Assim, deverá constituir-se. Provisão para Riscos e Encargos, para cobrir perdas financeira pela mobilização prolongada de fundos, movimentando por simulação a conta de custos respectiva, que deverá afectar resultados.

• Clientes c/c:

Verificar se há atrasos na emissão da facturação. Se houver, estimar esse 'atraso normal', calcular o seu valor médio e fazer a respectiva inserção nas contas dos Clientes, por contrapartida de Proveitos.

Se existirem letras ou cheques pré-datados a titular os saldos de Clientes, estes devem ser escriturados em Clientes conta Títulos a Receber.

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III 42

Analisar a antiguidade (dias de atraso de regularização) dos saldos de clientes (balancetes de Clientes, por antiguidade de saldos) transferindo para a conta de Clientes de Cobrança Duvidosa os valores que se prevêem como tal.

Calcular Provisões para Cobrança Duvidosa sobre os valores evidenciados pela análise da carteira, movimentando por simulação a conta de custos respectiva, que deverá afectar resultados.

• Outros devedores:

Estas contas respeitam a débitos a diversos (incluindo conta de funcionários por regularizar). Em princípio devem ser de regularização mensal.

• Sócios ou accionistas:

Os débitos nas contas dos sócios ou indicam abonos em conta corrente (adiantamentos para despesas por conta da empresa, a regularizar) ou lucros distribuídos em antecipação. A regularização dos abonos deve ser feita mensalmente. Os adiantamentos por conta de resultados deverão ser criteriosamente analisados face aos resultados que, após a rectificação financeira das contas, forem apurados.

• Disponibilidades (caixa e bancos):

Garantir que os valores contabilizados nas contas de Caixa são regularmente conferidos e, se existem valores significativos em moeda estrangeira, se as Diferenças Cambiais estão provisionadas. Quanto às Contas de Bancos, garantir se estão feitas regularmente as 'reconciliações bancárias'.

Há tendência para que a Caixa tenha vales aguardando regularização, como se se tratasse de meios monetários. Não é legalmente aceitável a existência de vales em Caixa. Os abonos para despesas a regularizar devem estar contabilizados como tal, na rubrica Outros Devedores.

Na Caixa só devem existir os meios monetários correspondentes ao saldo entre recebimentos e pagamentos.

As contas de Bancos devem ter, no mínimo, reconciliação mensal seguida de lançamento, por forma a que os registos da empresa correspondam efectivamente aos saldos bancários.

• Acréscimos e diferimentos:

Vão para débito de Clientes os 'acréscimos ou antecipações de proveitos' (como se fossem vendas facturadas) e para débito de Outros Devedores e Credores (como se fossem adiantamentos a terceiros) os ‘custos diferidos’. O IVA correspondente é rectificado a crédito de EOEP.

Balanço – contas do passivo

• Empréstimos bancários (médio/longo prazo e curto prazo):

Garantir a conferência de valores com a Banca e estimar os cálculo dos juros a imputar ao exercício, por forma a controlar os Encargos Financeiros na Demonstração de Resultados.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 43

Verificar a consistência dos movimentos (de periodificação de amortizações de capital e juros) que deram lugar à escrituração em acréscimos e diferimentos .

• Fornecedores (conta corrente e de imobilizado):

Verificar a posição da carteira, através do balancete de Fornecedores 'por antiguidade de saldos'; eventualmente, observar se existem situações litigiosas, que se devem provisionar no Passivo, como Riscos e Encargos.

As situações de letras aceites ou de cheques pré-datados passados a fornecedores devem levar à escrituração da dívida em Fornecedores conta Títulos a Pagar.

• Estado e outros entes públicos (IVA a pagar , IRC a pagar e outros):

Situações a analisar com cuidado, quando se trata de valores em débito ao Estado para evitar que a empresa incorra em mora (atraso de pagamento de cliente, sem acordo do fornecedor). Se for o caso, devem ser constituídas Provisões para Riscos e Encargos (por situações litigiosas).

O IRC apurado em fecho de contas é um ‘valor estimado’, até à elaboração da declaração fiscal (em Maio do ano seguinte). Esta estimativa deve ser conferida, para apurar o imposto.

• Sócios ou accionistas: Os créditos nas contas dos sócios indicam geralmente empréstimos à empresa (suprimentos), lucros distribuídos, a regularizar pela tesouraria, em tempo oportuno. Deve saber-se quais as condições (prazo e remuneração) em que os sócios estão a emprestar à empresa.

Se o empréstimo dos sócios for de médio ou longo prazo, é natural que venha a traduzir-se em aumento de capital, pelo que nas contas rectificadas deve figurar nos Capitais Próprios (Prestações Suplementares). Se houver lugar ao pagamento de juros aos sócios, calcular encargos financeiros e imposto de selo de 7% sobre os juros. Nos pagamentos relativos à distribuição de resultados, há lugar à retenção na fonte de 20% de IRS (a entregar ao Estado).

• Acréscimos e diferimentos: No Passivo, são 'acréscimos ou antecipações de custos' e 'diferimentos de proveitos'. Vão para crédito de Outros Devedores e Credores (quer os 'acréscimos de custos', quer os 'diferimentos de proveitos') de curto ou médio e longo prazo (como se fossem adiantamentos de terceiros, débitos e regularizar com o pessoal, etc.).

O IVA correspondente a estes movimentos é rectificado a débito de EOEP.

Balanço – contas de capital próprio, reservas e resultados

• Capital social:

Verificar se o capital subscrito pelos sócios se encontra realizado por inteiro, em meios monetários. Se tal não suceder, a conta Sócios há-de estar debitada pelo valor de realização em falta. Para rectificação da estrutura de capitais, deve debitar-se a conta capital social e creditar-se a conta sócios pelo valor não realizado.

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III 44

• Reservas:

As reservas legais são de 5% sobre os resultados do exercício anterior. As reservas livres são feitas por retirada dos lucros, por decisão dos sócios.

Verificar as reservas legais e corrigir as reservas livres de acordo com a política da empresa. Se não houver política estabelecida, considerar o montante integral dos resultados transitados, como reservas livres, se o valor líquido destes for positivo.

• Resultados transitados:

São os resultados dos exercícios anteriores, acumulados, sobre os quais os sócios poderão, quando o desejarem, pronunciar-se.

Se forem negativos podem, ao longo dos cinco anos seguintes, ser reportados para efeitos de redução no imposto sobre os resultados (Código do IRC). Se forem negativos e iguais ou superiores a 50% do capital Social e reservas legais, os sócios são obrigados a fazer a reposição através de prestações suplementares (Código das Sociedades Comerciais) ou, em alternativa, a empresa declara falência. Se forem positivos, podem ser distribuídos ou incorporados em reservas livres, por decisão dos sócios.

A rectificação do balanço deve ter em conta as diferentes situações e integrar a política da empresa nesta matéria.

• Resultados do exercício

Os movimentos nesta rubrica são provenientes da demonstração de resultados de cujas anotações devem constar .

Demonstração de resultados

• Proveitos do exercício:

A rectificação desta rubrica é principalmente devida à introdução dos factores correctivos de atrasos de facturação e à revisão dos acréscimos e diferimentos, como atrás se referiu.

Os proveitos financeiros e extraordinários são tratados separadamente, sob a designação genérica de Resultados (Financeiros e Extraordinários).

• Custos do exercício:

A primeira análise dos custos destina-se a verificar se, em total, estes são aproximadamente proporcionais aos proveitos, ao longo do tempo e se têm alguma correspondência com o que se conhece acerca do sector de actividade em que a empresa desenvolve actividade.

Na análise dos custos operacionais (contas 61. A 65.) merecem particular atenção os ‘desembolsáveis’ (aqueles que originam pagamentos pela tesouraria) e que são todos, menos amortizações e provisões.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 45

Nos custos do exercício importa distinguir em especial:

1. Custo das Existências Vendidas e das Matérias Consumidas

2. Fornecimentos e Serviços Externos

3. Custos com o Pessoal

4. Outros Custos e Perdas Operacionais

Custo das existências vendidas e das matérias consumidas

Quando se refere a possibilidade de sobreavaliação de custos (e, por consequência, de subavaliação de resultados) esta é a área em que essa hipótese tem maiores probabilidades de se verificar.

O movimento da conta 61. está contabilisticamente ligado com o critério de escrituração adoptado para valorizar e movimentar as existências da empresa (ver: POC – Critérios de valorimetria, 5.3. Existências) e da sua correcta escrituração depende, em grande parte, a qualidade geral das contas de qualquer empresa.

O analista deve determinar qual o critério utilizado para escriturar as existências da empresa e verificar se o mesmo está a ser seguido com a devida consistência. Se assim suceder, deve verificar-se no balanço a seguinte condição:

Custo das Existências Vendidas e das Matérias Consumidas

=

(Valor inicial de existências – Valor final de existências + Valor das compras)

A rubrica oferece dificuldade de verificação nas empresas cuja contabilidade não é regularmente auditada. A rectificação leva a questionar políticas sensíveis e provoca geralmente alterações nos resultados.

• Fornecimentos e serviços externos:

Esta rubrica está bastante relacionada com a dimensão, localização e condições gerais de funcionamento da empresa (horários de trabalho, pessoal deslocado no exterior, distância em relação a transportes, viaturas individuais ao serviço, etc.) e com o tipo de despesas que, por política interna, sejam suportadas (energia, água, combustíveis, limpezas, deslocações e estadas, comissões, honorários, vigilância e segurança, etc.).

O analista financeiro deve verificar se o nível destas despesas está conforme as políticas definidas e se processa com regularidade.

• Custos com o pessoal:

Os custos com pessoal devem ser processados (isto é, calculados e lançados na contabilidade) na última semana de cada mês. Neste processamento fazem-se as retenções dos descontos nos salários, para Segurança Social, IRS e Imposto de Selo e adiciona-se a contribuição patronal para a Segurança Social.

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III 46

O lançamento na contabilidade significa que a empresa assume formalmente os compromissos, quer no que se refere ao pagamento dos salários líquidos, quer no que respeita ao pagamento das retenções e contribuições ao Estado.

Em relação a todo o pessoal ao serviço (efectivo ou temporário) deve ser mantida provisão que permita à empresa regularizar em qualquer momento (no caso de saída do trabalhador) e sem sobrecarga dos custos, a parte proporcional do 13º mês do exercício em curso, o subsídio de férias por inteiro e um período de férias inteiro, a gozar no ano seguinte (a que o trabalhador tem direito legal desde o primeiro dia de trabalho do ano em curso).

Na prática, assume-se que cada trabalhador tem 14 salários por ano e, sobre o valor bruto da massa salarial em cada mês, calculam-se 3/12 (25%) o que deverá ser lançado a débito de custos com o pessoal e a crédito de uma conta 27.3.2 –Remunerações a liquidar. Em termos anuais, esta conta é dotada com o equivalente aproximado a 3 salários por empregado e funciona como conta- corrente dos pagamentos do 13º mês, do subsídio de férias e do período das férias.

O analista deve verificar os processamentos, a movimentação das contas que respeitam aos pagamentos mensais a efectuar (aos empregados e ao estado) e a dotação da conta 27.3.2. e, se necessário, introduzir rectificações nos custos do exercício e nos resultados de exercícios anteriores.

• Outros Custos e Perdas Operacionais: Esta rubrica, além de ser usada como repositório dos custos por natureza que não entram nas anteriormente citadas, tem importância por englobar os custos confidenciais e as despesas não documentadas. Mais uma vez (e admitindo que as importâncias não são significativas em relação ao volume total dos custos) o analista deve conhecer as políticas da gestão neste âmbito e pronunciar-se sobre a razoabilidade das despesas, tendo em conta os seus efeitos fiscais.

Como é sabido, as despesas confidenciais e não documentadas agravam o valor de IRC a pagar, porque além de não serem aceites como custos, levam ainda à inclusão de um agravamento de 25% do seu valor na matéria colectável (base fiscal para cálculo do imposto).

• Amortizações do exercício: As amortizações não originam desembolsos (são custos escriturais) e as rectificações neste âmbito dependem das políticas definidas, da incidência tecnológica das actividades e do grau de prudência a introduzir nas contas.

Os movimentos rectificativos das amortizações no balanço, afectam por simulação, na parte correspondente ao exercício em curso, os custos com amortizações e, na parte respeitante a anos anteriores, os resultados extraordinários.

• Provisões do exercício: Criar provisão (para a perda potencial) ou adicionar (para o ganho potencial) o valor de títulos em carteira, na medida em que esses movimentos sejam estáveis, para corrigir o valor de Imobilizado Financeiro em balanço.

Criar provisões para 'quebras', 'monos' e 'invendáveis', para rectificar o valor das Existências inscrito no balanço

Calcular provisões para cobrança duvidosa sobre os valores evidenciados como de difícil cobrança pela análise da carteira, para rectificar o valor de Clientes inscrito no balanço.

A Provisão para Outros Riscos e Encargos deve ser adicionada ao Passivo, se se verificarem situações em que a empresa possa ser solicitada a assumir responsabilidades com reflexos financeiros notáveis.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 47

• Resultados financeiros:

A rectificação dos resultados financeiros depende da verificação dos contratos financeiros (montantes, taxas, prazos, formas de pagamento dos juros e de amortização do capital) a que a empresa está vinculada e do modo como é feita a escrituração do serviço da dívida (amortizações de capital e juros), nomeadamente na articulação com as contas de acréscimos e diferimentos.

Esta área é bastante complexa e a sua rectificação exige bom domínio de cálculo financeiro.

• Resultados extraordinários:

Os resultados extraordinários são a rubrica residual (de custos e proveitos), para a qual são encaminhados os fluxos não relacionados com o exercício ou com a actividade normal. Isto pode envolver mais ou menos-valias da alienação de imobilizados, ganhos ou perdas na bolsa, indemnizações de seguros, pagamentos de dívidas de terceiros para os quais a provisão já tinha sido utilizada, movimentos diversos que deveriam ter sido efectuados (e não o foram) em exercícios anteriores e, de um modo geral, acontecimentos extra actividade corrente da empresa.

A sua rectificação deve ser vista em articulação com a Provisão para Outros Riscos e Encargos.

• Imposto sobre os resultados:

Todas as alterações em Custos e Proveitos influenciam o imposto estimado nas contas rectificadas. No cálculo segue-se o critério da ‘taxa máxima mais derrama’ (isto é: 32% x 1,1 = 35,2% sobre o resultado antes de Impostos) considerando eventuais valores de reporte de prejuízos e agravamentos fiscais.

Demonstrações auxiliares

Após a verificação e rectificação dos balanços sintéticos e das demonstrações de resultados, elaboram-se demonstrações auxiliares, através das quais se faz a integração das estratégias e das políticas operacionais da empresa, para a análise funcional do equilíbrio financeiro, da rendibilidade e do funcionamento:

• Balanço Funcional;

• Demonstração de Resultados por funções.

Estas demonstrações servem para analisar a estrutura financeira e as operações de forma interactiva, estabelecendo a ligação entre as origens e aplicações de fundos e as políticas que levaram à formação dos resultados.

Balanço funcional

Prepara-se com base no balanço sintético (corrigido) e nas políticas definidas para a gestão de operações correntes (Existências, Clientes e Outros Devedores, Fornecedores e Outros Credores, EOEP e Banca, financiamento normal a curto prazo).

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IEFP III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE S

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III 48

Os grupos de contas do balanço funcional estão organizados em três ‘áreas funcionais’:

Operações de investimento;

Operações correntes cíclicas;

Operações de tesouraria.

O critério fundamental de construção desta demonstração auxiliar, assenta nos prazos (de exigibilidade e liquidez) cujo ajustamento tem implicações dinâmicas muito variadas, que constituem, de facto, a chave do equilíbrio financeiro.

O Balanço Funcional é explicado em 5. Equilíbrio Financeiro, unidade temática em que objectivamente se integra.

Demonstração de resultados por funções

Esta demonstração põe em evidência os proveitos e custos do exercício, de acordo com a sua proveniência funcional (ou seja, consoante a área ou função – produção, comercial, administrativa, financeira – que os gerou), reportando-os às actividades operacionais correntes, às operações financeiras, aos acontecimentos extraordinárias, e à fiscalidade.

A demonstração de resultados por funções tem um formato (sugerido) assim:

Valor (u.m.) %

VL - Vendas Líquidas (saldos contas 71 a 76) 100,0%

CV - Custos Variáveis (saldos contas 61)

Margem bruta: MB = VL-CV

CF - Custos de Funcionamento (saldos contas 62 a 65)

Am - Amortizações do exercício (saldos contas 66)

Pr - Provisões do Exercício (saldos contas 67)

Resultado operacional: RO = MB-CF-Am-Pr

RF - Resultados Financeiros (saldos contas 78 e 68)

Resultado Corrente: RC = RO-RF

RE - Resultados Extraordinários (saldos contas 79 e 69)

Resultado antes de impostos: RAI = RC-RE

IRC - Imposto estimado sobre o resultado (saldo conta 86)

Resultado líquido: RL = RAI-IRC Quadro III.1 – Demonstração de resultados por funções

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 49

A demonstração de resultados por funções prepara-se por leitura directa dos saldos (corrigidos) das contas de Proveitos e Custos e confere nas principais rubricas e indicadores, com a demonstração de resultados por natureza (o formato clássico do POC).

O formato desta demonstração auxiliar pode variar bastante, consoante o desenvolvimento técnico da empresa em matéria de análise e controlo financeiro, mas também por razões de integração em grupo de empresas, ou conforme o sector de actividade.

A sua principal utilidade reside na obtenção expedita de um conjunto de indicadores (ver: 4. Rácios) que permitem caracterizar a empresa, quanto à sua rendibilidade e funcionamento.

Como elementos complementares da demonstração de resultados por funções, costumam obter-se as informações seguintes:

Distribuição de resultados;

Meios libertos bruto;

Meios libertos líquidos.

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IEFP III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE S

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III 50

3. ORIGENS E APLICAÇÕES DE FUNDOS

A Demonstração das Origens e Aplicações de Fundos (DOAF) é um instrumento de análise estratégica no qual se explicam, rubrica a rubrica e de forma agrupada, as variações dos fluxos financeiros, entre balanços consecutivos.

Não é uma demonstração obrigatória na prestação normal de contas, mas a sua importância e utilidade para o conhecimento da estrutura financeira e das suas variações, faz com que seja um documento exigível pela banca em situações de análise de crédito e, portanto, de elaboração essencial para as empresas que desejam recorrer ao financiamento bancário.

Em anexo à DOAF deve apresentar-se nota explicativa dos principais movimentos de variação verificados.

Organização e método de leitura

A DOAF assenta nas definições seguintes:

ORIGENS DE FUNDOS, são:

Aumentos de Passivos e de Capitais Próprios e diminuições de Activos.

APLICAÇÕES DE FUNDOS, são:

Aumentos de Activos e diminuições de Passivos e de Capitais Próprios.

O documento tem a forma tradicional das demonstrações contabilísticas (em T) com as Origens de Fundos do lado esquerdo e as Aplicações de Fundos do lado direito, e articula-se em duas áreas:

1. Demonstração das aplicações em activo fixo e das origens de fundos próprios e alheios de médio e longo prazo.

2. Demonstração das variações dos fundos circulantes (existências, terceiros e disponibilidades).

A preparação da DOAF é trabalhosa e complexa, exigindo bom domínio da leitura, articulação e interpretação de balanços e demonstrações de resultados e da empresa analisada em geral.

Veja-se em seguida e por ordem, o Quadro de Inserção de Balanços e Mutação de Valores e a Demonstração de Origens e Aplicações de Fundos.

Formulação da Demonstração de Fundos Circulantes

Diminuição de Fundos circulantes = Diminuição de Existências + Diminuição de Dívidas de Terceiros + Aumentos de Dívidas a Terceiros + Diminuição de Disponibilidades.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 51

Aumento de Fundos Circulantes = Aumentos Existências + Aumentos Dívidas de Terceiros + Diminuição de Dívidas a Terceiros + Aumentos Disponibilidades.

Elaboração prática da DOAF

O procedimento prático desenvolve-se nos passos seguintes:

1. Obter balanços e demonstrações de resultados (corrigidos) de períodos consecutivos.

2. Elaborar Mapa de Variação e Mutação de Valores (modelo em anexo), em que se faz:

a) A inserção de valores de dois balanços consecutivos.

b) A coluna das diferenças entre os valores: (n+1) – (n).

c) O ‘quadro de mutação de valores’, que consiste em organizar as diferenças pela ’regra do sinal (+)’, isto é:

- VARIAÇÕES (+) DAS ORIGENS são: aumentos dos Passivos e Capitais Próprios e diminuições dos Activos.

- VARIAÇÕES (+) DAS APLICAÇÕES, são: diminuições dos Passivos e dos Capitais Próprios e aumentos dos Activos.

3. Preparar ‘quadro explicativo’ dos Meios Libertos Líquidos, fazendo:

MEIOS LIBERTOS LÍQUIDOS = Resultado Líquido (retido) de (n+1) + Variação (de balanço) das Amortizações + Variação (de balanço) das Provisões.

Nota: excluir das amortizações a parcela de variação decorrente de eventual processo de reavaliação de activos.

4. Preparar ‘quadro explicativo’ da distribuição de Resultados, fazendo:

DISTRIBUIÇÃO DE RESULTADOS = Resultados Líquidos (n+1) – Variação (de balanço) de Reservas e Resultados transitados

5. A demonstração dos Fundos Circulantes faz-se de acordo com a regra seguinte:

DIMINUIÇÃO DE FUNDOS CIRCULANTES = Aumentos de Existências + Aumentos de Dívidas de Terceiros de curto prazo + Diminuições de Dívidas a Terceiros a curto prazo + Aumentos de Disponibilidades.

AUMENTO DE FUNDOS CIRCULANTES = Diminuições das Existências + Diminuições de Dívidas de Terceiros de curto prazo + Aumentos de Dívidas a Terceiros a curto prazo + Diminuições de Disponibilidades.

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III 52

6. A DOAF elabora-se a partir do Quadro de Mutação de Valores e dos quadros auxiliares dos Meios Libertos Líquidos e da distribuição de Resultados, relativamente aos quais deve apresentar total consistência.

Notas explicativas

Sugerem-se as seguintes notas explicativas, respeitantes às estratégias e orientações políticas da empresa, a figurar em anexo à DOAF:

1. Meios Libertos Líquidos: explicar as variações, excluindo explicitamente a parcela de amortizações eventualmente resultante de reavaliação de activos;

2. Amortizações do imobilizado: explicar os abates (não incluindo na variação desta rubrica as amortizações provenientes de eventual reavaliação de activos);

3. Provisões (para Cobranças Duvidosas, Depreciação de Existências e Outros Riscos e Encargos): explicitar política de ‘prudência’;

4. Fiscalidade e distribuição de resultados: explicitar políticas.

Funcionamento: referir políticas com influência em resultados.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 53

Resumo

1. A preparação das contas para a análise, é um procedimento através do qual se faz a transformação das demonstrações contabilísticas em demonstrações financeiras, tendo em vista a obtenção do valor fiel e verdadeiro da empresa em análise.

2. processo decorre em duas fases: rectificação e verificação, para corrigir resultados, rever a valorização de activos e reforçar o efeito da prudência (amortizações e provisões); elaboração de demonstrações auxiliares, para a análise funcional do equilíbrio financeiro, da rendibilidade e do funcionamento.

3. A preparação das contas no processo de obtenção das demonstrações financeiras, representa uma opção pela avaliação do património por critérios efectivos ‘de mercado’, pela qual o balanço assume a configuração de uma estrutura de origens e aplicações de fundos.

4. processo de rectificação de contas consiste na simulação de lançamentos (débitos/créditos) que adicionam ou subtraem valor às rubricas do Balanço sintético e da Demonstração de Resultados. As demonstrações levam o subtítulo de ‘rectificado para análise’.

5. Na preparação do balanço faz-se a revisão de todas as rubricas do Activo, do Passivo e dos Capitais Próprios e a inserção (não contabilística) de todas as rectificações que possam contribuir para que as contas da empresa traduzam o seu valor financeiro, fiel e verdadeiro.

6. A demonstração de resultados é afectada pelos movimentos correctivos do Balanço (como Amortizações e Provisões, por exemplo) bem como pelo que se refere especificamente aos Custos e Proveitos, aos Resultados Financeiros e Extraordinários e ao Imposto sobre os Resultados.

7. Como consequência da rectificação do balanço e da demonstração de resultados, produzem-se também alterações nos fluxos das origens e aplicações de fundos, os quais poderão afectar a estrutura financeira da empresa.

8. Após a verificação e rectificação de balanços e demonstrações de resultados, elaboram-se demonstrações auxiliares (balanço funcional e demonstração de resultados por funções) para a análise do equilíbrio financeiro, da rendibilidade e do funcionamento, estabelecendo a ligação da estrutura com as políticas.

9. Os grupos de contas do balanço funcional, estão organizados segundo o critério de prazos de liquidez e exigibilidade das rubricas, em três áreas: operações de investimento, operações correntes cíclicas e operações de tesouraria.

10. A demonstração de resultados por funções põe em evidência os proveitos e custos do exercício, consoante a sua proveniência funcional, reportando-os às actividades operacionais correntes, às operações financeiras, aos acontecimentos extraordinárias, ou à fiscalidade.

11. A demonstração de resultados por funções prepara-se por leitura directa dos saldos (corrigidos) das contas de Proveitos e Custos e confere nas principais rubricas e indicadores, com a demonstração de resultados por natureza. Importante para analisar a rendibilidade e o funcionamento.

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III 54

12. A Demonstração das Origens e Aplicações de Fundos (DOAF) é um instrumento de análise estratégica no qual se explicam as variações dos fluxos financeiros, entre balanços consecutivos. Definições importantes: Origens de Fundos, são aumentos de Passivos e de Capitais Próprios e diminuições de Activos; Aplicações de Fundos são aumentos de Activos e diminuições de Passivos e de Capitais Próprios.

13. A DOAF tem a forma tradicional (em T) das demonstrações contabilísticas, mas (ao contrário do Balanço) as Origens de Fundos estão colocadas do lado esquerdo e as Aplicações de Fundos do lado direito. Articula-se, ainda, em duas áreas: (a) Demonstração das variações das Aplicações em activo fixo e das Origens de fundos próprios e alheios de médio e longo prazo, na parte superior; (b) Demonstração das Variações dos Fundos Circulantes (existências, terceiros e disponibilidades) na parte inferior.

14. A DOAF elabora-se a partir do Quadro de Mutação de Valores e dos quadros auxiliares dos Meios Libertos Líquidos e da distribuição de Resultados.

15. Em anexo à DOAF devem apresentar-se notas explicativas das principais variações de balanço, fundamentadas nas estratégias e orientações políticas da empresa.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 55

Questões e exercícios

1. O que é fazer a preparação das contas para análise?

2. Em que consiste o processo de preparação e rectificação das contas para análise?

3. Qual a opção subjacente à rectificação das contas?

4. Qual a intervenção da contabilidade no processo?

5. Quais os fluxos que podem ser afectados pela rectificação?

6. Quais são as demonstrações financeiras a rectificar?

7. Que efeitos decorrem da rectificação do balanço e da demonstração de resultados?

8. O que são fluxos de origens e aplicações de fundos?

9. Qual a finalidade da elaboração das demonstrações financeiras auxiliares?

10. O que é uma demonstração de resultados por funções?

11. Que diferenças apresenta relativamente á demonstração de resultados por natureza?

12. O que é um balanço funcional e com que finalidade se utiliza na análise?

13. O que é a Demonstração de Origens e Aplicações de Fundos (DOAF) e como está organizada?

14. As políticas da empresa influenciam as variações da DOAF? Como?

15. Para que serve a demonstração dos fundos circulantes na DOAF?

16. Como são constituídas as variações das origens de fundos na DOAF?

17. Como são constituídas as variações das aplicações de fundos na DOAF?

18. O que é o quadro de mutação de valores?

19. O que são Meios Libertos Líquidos?

20. Crescimento dos meios libertos à custa das amortizações, é uma variação positiva das origens ou das aplicações de fundos?

21. A distribuição de resultados é uma variação positiva das origens ou das aplicações de fundos?

22. Porque é que devem apresentar-se notas explicativas em anexo à DOAF ?

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III 56

Resoluções

1. A preparação das contas para a análise, é um procedimento necessário, através do qual se faz a transformação das demonstrações contabilísticas em demonstrações financeiras, tendo em vista a obtenção do valor fiel e verdadeiro da empresa em análise.

2. O processo decorre em duas fases:

Rectificação e verificação, para corrigir resultados, rever a valorização de activos e reforçar o efeito da prudência (amortizações e provisões).

Elaboração de demonstrações auxiliares, para a análise funcional do equilíbrio financeiro, da rendibilidade e do funcionamento.

3. A preparação das contas no processo de obtenção das demonstrações financeiras, representa uma opção pela avaliação do património por critérios efectivos ‘de mercado’.

4. Qual a intervenção da contabilidade no processo?

A contabilidade fornece os mapas financeiros, sobre os quais vão incidir a rectificação.

5. Fluxos das origens e aplicações de fundos.

6. Balanço e a Demonstração de Resultados.

7. Na preparação do balanço faz-se a revisão de todas as rubricas do Activo, do Passivo e dos Capitais Próprios e a inserção (não contabilística) de todas as rectificações que possam contribuir para que as contas da empresa traduzam o seu valor financeiro, fiel e verdadeiro.

Na preparação do balanço faz-se a revisão de todas as rubricas do Activo, do Passivo e dos Capitais Próprios e a inserção (não contabilística) de todas as rectificações que possam contribuir para que as contas da empresa traduzam o seu valor financeiro, fiel e verdadeiro.

Como consequência da rectificação do balanço e da demonstração de resultados, produzem-se também alterações nos fluxos das origens e aplicações de fundos, os quais poderão afectar a estrutura financeira da empresa.

8. Origens de fundos, são:

Aumentos de Passivos e de Capitais Próprios e diminuições de Activos.

Aplicações de fundos, são:

Aumentos de Activos e diminuições de Passivos e de Capitais Próprios.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 57

9. Após a verificação e rectificação dos balanços sintéticos e das demonstrações de resultados, elaboram-se demonstrações auxiliares, através das quais se faz a integração das estratégias e das políticas operacionais da empresa, para a análise funcional do equilíbrio financeiro, da rendibilidade e do funcionamento. Estas demonstrações servem para analisar a estrutura financeira e as operações de forma interactiva, estabelecendo a ligação entre as origens e aplicações de fundos e as políticas que levaram à formação dos resultados.

10. A demonstração de resultados por funções é um documento financeiro que põe em evidência os proveitos e custos do exercício, consoante a sua proveniência funcional, reportando-os às actividades operacionais correntes, às operações financeiras, aos acontecimentos extraordinárias, ou à fiscalidade.

11. Que diferenças apresenta relativamente á demonstração de resultados por natureza?

A princiapl diferença é que esta última põe em evidência os proveitos e custos do exercício, independentemente da sua proveniência funcional. Outra diferença reside no conceito de custos extraordinários.

12. Prepara-se com base no balanço sintético (corrigido) e nas políticas definidas para a gestão de operações correntes (Existências, Clientes e Outros Devedores, Fornecedores e Outros Credores, EOEP e Banca, financiamento normal a curto prazo).

Os grupos de contas do balanço funcional estão organizados em três ‘áreas funcionais’:

1 Operações de investimento;

2 Operações correntes cíclicas;

3 Operações de tesouraria.

O critério fundamental de construção desta demonstração auxiliar, assenta nos prazos (de exigibilidade e liquidez) cujo ajustamento tem implicações dinâmicas muito variadas, que constituem, de facto, a chave do equilíbrio financeiro.

13. A Demonstração das Origens e Aplicações de Fundos (DOAF) é um instrumento de análise estratégica no qual se explicam, rubrica a rubrica e de forma agrupada, as variações dos fluxos financeiros, entre balanços consecutivos.

Não é uma demonstração obrigatória na prestação normal de contas, mas a sua importância e utilidade para o conhecimento da estrutura financeira e das suas variações, faz com que seja um documento exigível pela banca em situações de análise de crédito e, portanto, de elaboração essencial para as empresas que desejam recorrer ao financiamento bancário.

O documento tem a forma tradicional das demonstrações contabilísticas (em T) com as Origens de Fundos do lado esquerdo e as Aplicações de Fundos do lado direito, e articula-se em duas áreas:

i. Demonstração das aplicações em activo fixo e das origens de fundos próprios e alheios de médio e longo prazo.

ii. Demonstração das variações dos fundos circulantes (existências, terceiros e disponibilidades).

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III 58

14.

1 Sim. Meios Libertos Líquidos: explicar as variações, excluindo explicitamente a parcela de amortizações eventualmente resultante de reavaliação de activos; Amortizações do imobilizado: explicar os abates (não incluindo na variação desta rubrica as amortizações provenientes de eventual reavaliação de activos); Provisões (para Cobranças Duvidosas, Depreciação de Existências e Outros Riscos e Encargos): explicitar política de ‘prudência’; Fiscalidade e distribuição de resultados: explicitar políticas, Prazos Médios de Recebimento, Prazos Médios de Pagamentos, Duração Média das Existências, entre outras.

Nota: As alterações nas políticas organizacionais podem implicar variações nas demonstrações financeiras (p. ex., impor o prazo médio de recebimentos igual a 30 dias para todos os clientes).

15. Indica qual a variação ocorrida nos valores dos activos e passivos que não têm carácter de permanência da empresa.

16. Variações (+) das Origens são: aumentos dos Passivos e Capitais Próprios e diminuições dos Activos.

17. Variações (+) das Aplicações, são: diminuições dos Passivos e dos Capitais Próprios e aumentos dos Activos

18. O ‘quadro de mutação de valores’, que consiste em organizar as diferenças pela ’regra do sinal (+)’, isto é:

- Variações (+) das Origens são: aumentos dos Passivos e Capitais Próprios e diminuições dos Activos.

- Variações (+) das Aplicações, são: diminuições dos Passivos e dos Capitais Próprios e aumentos dos Activos.

19. Meios Libertos Líquidos = Resultado Líquido (retido) de (n+1) + Variação (de balanço) das Amortizações + Variação (de balanço) das Provisões.

20. É uma variação positiva das origens de fundos.

21. É uma variação positiva das aplicações de fundos.

22. Para permitir uma melhor compreensão das principais variações de balanço, fundamentadas nas estratégias e orientações políticas da empresa.

Nota: Uma das funções do Anexo é a de auxiliar a compreensão das variações ocorridas nas demonstrações financeiras num determinado período de tempo.

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III. PREPARAÇÃO DOS ELEMENTOS PARA ANÁLISE IEFP

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III 59

Exercício Prático:

Temas: Correcção de contas. Balanço e Demonstração de Resultados rectificados para análise. Demonstração das Origens e Aplicações de Fundos.

Relativamente a Balanços e Demonstrações de Resultados em anexo, da empresa ‘PNTB, sa’, anos (n), (n+1) e (n+2) de que dispomos para a elaboração da análise, obtivemos, na verificação prévia efectuada na Contabilidade, as seguintes informações, que afectam o exercício (n+2):

1 No saldo de Caixa estão registados 102 u.m. de ‘vendas a dinheiro’, não cobrados e que representam, de facto, valores de mercadoria entrega em confiança a agentes comissionistas de venda directa.

2 A provisão para cobranças duvidosas foi estabelecida com base no CIRC, para moras superiores a 2 anos (como é o caso). O total em débito, de Cobranças Duvidosas é de 3.500 u.m..

3 A provisão para depreciação de existências estabelecida no ano transacto (n+1) está correcta. Em (n+2), todavia, não há a registar situações de obsolescência ou deterioração.

4 Existe um empréstimo de FFR 600.000, amortizável em 4 prestações anuais e iguais (a primeira das quais vencer em 31/8/n+3) convertido para PTE ao câmbio de 29,5PTE/FFR. Câmbio à data de fecho de contas: 30,1 PTE/FFR.

5 Não foi contabilizada a estimativa para férias e subsídio de férias (e respectivos encargos) a processar en n+1. Como referência, as remunerações do mês de Dez/n (incluindo 13º mês) foram de 1.800 u.m., antes de encargos patronais.

6 Em 01/Set/n+2 foi contraído um financiamento de curto prazo de 15.000 u.m., à taxa de 12%, vencível a 01/Mar/n+1 e do qual não estão contabilizados os juros.

7 Em 31/Dez/n+2 foi recebido um cheque de 5.000 u.m., da companhia de seguros GPG, da indemnização por acidente ocorrido na fábrica. O cheque foi retido na Administração, para depósito em 02/1/n+3, sem inclusão em contas.

8 Em 31/12/n+2 foi feita uma devolução de um cliente, por avaria de produto. Valor de factura, incluindo IVA, 1755 c.. Margem Bruta média do produto: 70% do valor de venda. Valor nulo para Existências. O seguro cobre 15% do valor facturado (antes de IVA).

9 No fecho de exercício verificou-se que a BVL suspendeu (por irregularidade processual nas contas publicadas) a cotação das acções da ‘Branquinha, sa’. A empresa possui 500, adquiridas a 1.050u.m. cada.

10 A dívida de médio/longo prazo tem amortização de 25% em (n+3).

Trabalho a realizar

1. Simulação das correcções extra-contabilísticas das contas (incluindo as transferências de Acréscimos e Diferimentos e a revisão do IRC estimado).

2. Elaboração do Balanço e Demonstração de Resultados rectificados.

3. Elaboração da Demonstração de Origens e Aplicações de Fundos

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IV. OS RÁCIOS

ANÁLISE FINANCEIRAE

GESTÃO ORÇAMENTAL

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IV. OS RÁCIOS IEFP

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IV 63

Objectivos

No final desta unidade temática, o formando deverá estar apto a:

• Apresentar o método dos rácios;

• Explicar as vantagens e os limites da aplicação de rácios;

• Caracterizar os principais tipos de rácios.

Temas:

1. Indicadores e rácios;

2. Utilidade e limitações dos rácios,

3. Tipos de rácios;

• Resumo,

• Questões e exercícios,

• Resoluções.

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IEFP IV. OS RÁCIOS

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IV 64

1. INDICADORES E RÁCIOS

Indicadores são valores numéricos extraídos das contas, pela aplicação de conceitos e formulações previamente elaborados.

O significado dos indicadores de análise financeira não é universal, varia consoante as condições e o meio (empresa, sector de actividade, ciclo do produto, ambiente económico, etc.).

A análise financeira usa correntemente os rácios para conhecer tendências dos fluxos económicos e dos seus agregados, para traçar objectivos, para efectuar comparações entre unidades empresariais.

Embora a gestão financeira não se faça pelos rácios, estes constituem auxiliares poderosos e de compreensão alargada a não-especialistas, pela superação do efeito dos valores absolutos e pela simplicidade de cálculo.

A designação genérica de rácios aplica-se aos indicadores financeiros de um modo geral.

Os indicadores financeiros podem apresentar-se em valor absoluto (por exemplo, o volume de vendas é de 500 mil contos, o valor do activo é de 3 milhões, o resultado líquido é de 325 mil contos, etc.) e em valor relativo (por exemplo, a autonomia é de 0,55, a margem bruta das vendas é de 65%, o custo médio do endividamento é de 9%, etc.).

Os indicadores em valor relativo são os verdadeiros rácios (do latim ‘ratio’) porque são quocientes de valores absolutos.

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IV. OS RÁCIOS IEFP

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IV 65

2. UTILIDADE E LIMITAÇÕES DOS RÁCIOS

Os indicadores da análise financeira devem ser simples e permitir compreensão rápida por não-especialistas, para terem efectiva utilidade para gestão.

Para o cálculo de rácios, as contas (balanços e demonstrações de resultados) devem estar em milhares de escudos (contos) ou, se a dimensão o justificar, em milhões de escudos (milhares de contos).

O eventual argumento de que trabalhar em escudos permite maior exactidão, não é verdade neste caso e representa – isso sim – considerável perda de tempo na transcrição e conferência de indicadores e nas referências conclusivas da análise.

Os rácios devem ser normalizados pelo analista. Nos décimais, usam-se em geral duas casas depois da vírgula (aproximação às centésimas) e percentagens apenas para as taxas de rendibilidade (das vendas, do activo, dos capitais próprios, etc.).

O significado dos indicadores de análise financeira não é universal, varia consoante as condições e o meio (empresa, sector de actividade, ciclo do produto, ambiente económico, etc.).

Margens consideradas baixas, por exemplo, na indústria, são boas nos serviços financeiros, rotações normais para um supermercado, são inatingíveis na metalomecânica, e assim sucessivamente. É, portanto, incorrecto afirmar-se em abstracto que um rácio acima de 'x' é bom e que uma margem de 'y', não é apropriada.

Os indicadores sectoriais das centrais de balanços dos grandes bancos, constituem referências comparativas úteis para a análise de empresas enquadradas em ramos de actividade de que exista um número significativo de unidades empresariais.

A experiência da banca na análise e concessão de crédito faz com que o sector financeiro disponha de um profundo conhecimento sobre a economia e sobre os principais sectores de actividade.

Esta circunstância leva a definir com bastante precisão, rapidez e clareza, quais são os rácios aceitáveis, por exemplo, para se iniciar um negócio, ou para se conseguir ter sucesso no desenvolvimento de uma actividade já existente.

Por esse mesmo motivo de experiência e devido ao conservadorismo característico do sector financeiro, são recusados (quase por princípio) os apoios financeiros a negócios e actividades inovadoras, a tecnologias de ponta, a iniciativas empresariais baseadas no saber tecnológico e científico - desde que não exista entre nós experiência de gestão dos mesmos, independentemente dos méritos que, em termos económicos possam representar.

Utilidade dos rácios

• A comparação relativa entre empresas e sectores torna-se imediata, pela superação do efeito dos valores absolutos;

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IEFP IV. OS RÁCIOS

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IV 66

• Os cálculos consistem em quocientes simples de factores, cujos resultados se apresentam na forma centesimal (isto é, com duas casas depois da vírgula) ou (quando se trata de taxas de rendibilidade) em percentagem;

• A análise factorial de indicadores (por exemplo, rendibilidade do activo, do capital próprio, efeito de alavanca e outras) faz-se pela articulação algébrica de rácios simples.

Limitações dos rácios

• São especialmente interessantes para a análise de contas de períodos sucessivos;

• São essencialmente válidos na análise de ‘tendências’ e têm reduzido interesse para explicar ‘valores exactos’;

• Não são de aplicação generalizada e não têm significado universal.

Tipos de rácios

A escolha de indicadores de análise obedece, por regra, a pressupostos lógicos que decorrem da empresa objecto de análise, dos objectivos a atingir e da natureza das informações a prestar. Os indicadores que entendemos como essenciais estão organizados da forma seguinte:

• Indicadores de estrutura financeira;

• Indicadores de equilíbrio financeiro;

• Indicadores de rendibilidade;

• Indicadores de funcionamento;

• Indicadores de viabilidade;

• Indicadores de risco na exploração.

Para explicitar o respectivo significado, temos:

• Indicadores de estrutura financeira

São os que se reportam à capacidade financeira para assegurar a autonomia da empresa, a solvência de compromissos (a curto e médio/longo prazo) e mobilizar novos fluxos de capitais.

São obtidos exclusivamente a partir dos fluxos de balanço.

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IV. OS RÁCIOS IEFP

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IV 67

• Indicadores de equilíbrio financeiro

São os que se reportam à relação entre a exigibilidade das origens e a liquidez das aplicações de fundos, na dupla perspectiva do cumprimento da estratégia e da optimização do funcionamento.

São obtidos pela articulação dos fluxos de balanço com as políticas de gestão corrente (ver: Balanço Funcional).

• Indicadores de rendibilidade

São os que se reportam à eficiência dos desempenhos na exploração e funcionamento e ao nível dos resultados em relação ao volume dos activos e aos capitais próprios.

São obtidos pela síntese de fluxos da demonstração de resultados (por funções) e do balanço sintético.

• Indicadores de funcionamento

São em geral auxiliares dos indicadores de análise da rendibilidade e do equilíbrio financeiro e reportam-se à eficiência da utilização de recursos (por exemplo, rotação de activos) e ao controlo de terceiros (por exemplo, prazos médios de recebimento de clientes e de pagamento a fornecedores).

São obtidos pela síntese de fluxos da demonstração de resultados (por funções) e do balanço sintético.

• Indicadores de viabilidade São indicativos dos limiares e condições de continuidade das actividades da empresa, em termos económicos e em termos financeiros. Delimitam as políticas de exploração e de tesouraria.

São obtidos pela síntese de fluxos da demonstração de resultados (por funções) e do balanço sintético.

• Indicadores de risco na exploração

São indicativos das condições de sustentabilidade dos fluxos de exploração, relativamente às políticas traçadas nesse âmbito.

Delimitam as políticas de exploração e são obtidos da demonstração de resultados (por funções).

Conceitos e modos de cálculo

Em matéria de rácios de análise financeira existem conceitos e modos de apresentação variados, dependendo das influências culturais e económicas (actividades financeiras em geral, multinacionais de consultoria e auditoria, IAPMEI, ICEP, universidades e organismos internacionais diversos).

Nestas condições, assinalamos um conjunto de indicadores de aplicação geral, sem prejuízo de encorajar os analistas a desenvolverem outros, eventualmente mais ajustados a determinadas situações e negócios.

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IEFP IV. OS RÁCIOS

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IV 68

Indicadores da estrutura financeira

Fonte: balanço sintético.

Modo: rácios com dois décimais; quocientes de valores absolutos.

Conteúdo: solvabilidade, autonomia, endividamento e liquidez.

• Solvabilidade: Capacidade da empresa para satisfazer e assumir compromissos no médio/longo prazo.

Indicador de tendência estável, obtido pela fórmula:

Capitais Próprios

Passivo Total

• Autonomia: Grau de cobertura assegurado pelos capitais próprios para o investimento global realizado pela empresa, expresso no volume líquido do seu activo total.

Indicador de tendência estável, obtido pela fórmula:

Capitais Próprios

Activo Total Líquido

• Endividamento: O conceito é inverso ao da solvabilidade e, portanto, exprime o grau das responsabilidades assumidas para com terceiros, relativamente ao montante dos capitais próprios.

Indicador de tendência estável, que se usa correntemente sob duas formas:

Em sentido restrito

Passivo Total

Capitais Próprios

Em sentido lato

Passivo Total

Activo Total Líquido

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IV. OS RÁCIOS IEFP

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IV 69

• Estrutura do endividamento: Parcela do passivo exigível a curto prazo (1 ano de data) relativamente ao endividamento total.

Rácio calcula-se pela seguinte fórmula:

Passivo exigível a curto prazo

Passivo Total

• Liquidez: Capacidade da empresa para satisfazer e assumir compromissos no curto prazo. Indicadores com tendência para apresentar variabilidade.

A liquidez avalia-se a três níveis – geral, reduzida e imediata – e sempre em relação ao passivo exigível a curto prazo:

• Liquidez geral

Grau de cobertura do ‘exigível a curto prazo’ pelo ‘activo circulante’

Fórmula de cálculo:

Existências + Créd.conc. a curto prazo + Disponibilidades

Passivo exigível a curto prazo

• Liquidez reduzida

Grau de cobertura do ‘exigível a curto prazo’ pelo ‘activo circulante, deduzindo a este o valor das existências’.

Fórmula de cálculo:

Crédito concedido a curto prazo + Disponibilidade

Passivo exigível a curto prazo

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IEFP IV. OS RÁCIOS

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IV 70

• Liquidez imediata

Grau de cobertura do ‘exigível a curto prazo’ pelas ‘Disponibilidades’.

Fórmula de cálculo:

Disponibilidades

Passivo exigível a curto prazo

Indicadores do equilíbrio financeiro

Fonte: balanço sintético.

Modo: valores absolutos, calculados por diferença.

Conteúdo: Fundo de Maneio, Necessidades de Fundo de Maneio, Tesouraria e indicadores associados (de funcionamento e estrutura financeira).

Indicadores de funcionamento: Prazo médio de Recebimentos, prazo médio de pagamentos e duração média das existências.

Indicadores de estrutura financeira: Autonomia, Solvabilidade, Endividamento.

• Fundo de maneio: este indicador é o elemento estruturante principal da tesouraria. Deve ser positivo e adequado a financiar as necessidades de financiamento do activo circulante, na parte não coberta por crédito de fornecedores.

O fundo de maneio exprime a convergência estratégica entre as participações de capital (próprio e alheio de médio e longo prazo) e a opções traduzidas nos investimentos em activo fixo (dimensão, localização, tecnologias, etc.).

Este indicador tem tendência de crescimento lento (quando a empresa está estabilizada) pelo efeito das Amortizações sobre o valor do Activo Fixo e a sua análise deve ser confirmada pelos rácios da estrutura financeira.

Há duas hipóteses de formulação (para obter o mesmo valor) do Fundo de Maneio:

Na perspectiva estratégica:

Fundo de Maneio = Capitais Permanentes - Activo Fixo

com

Capitais Permanentes =

Capitais Próprios + Capitais Alheios médio/longo prazo e Activo Fixo = Imobilizado Líquido + Outros c/ grau de liquidez > 1 ano.

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IV. OS RÁCIOS IEFP

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IV 71

Na perspectiva operacional (ver 5.2. Fundo de Maneio Líquido):

Fundo de Maneio = Activo Circulante - Exigível a curto prazo

com

Activo Circulante = Existências + Cred.conc.c/prazo + Disponibilidades

Exigível a curto prazo = Dívidas a Terceiros a curto prazo

• Necessidades de fundo de maneio: este indicador é o segundo elemento estruturante da tesouraria, que reflecte a convergência (ajustamento entre a liquidez dos activos circulantes e a exigibilidade dos passivos a curto prazo) nas operações correntes da empresa.

Indicador com tendência acentuada de variabilidade, fortemente influenciado pelas políticas e desempenhos da estrutura.

Formulação normal:

Necessidades de Fundo de Maneio = Necessidades de Financiamento do Ciclo de Exploração - Recursos Financeiros do Ciclo de Exploração

Com Necessidades de Financiamento do Ciclo de Exploração constituídas pelos elementos do Activo relacionados com as operações correntes (cíclicas) de exploração da empresa (existências e crédito concedido a terceiros, não incluindo Disponibilidades; e Recursos Financeiros do Ciclo de Exploração constituídos pelos elementos do Passivo relacionados com as operações correntes (cíclicas) de exploração da empresa (Fornecedores, Estado e Outros Entes Públicos, Crédito bancário normal de curto prazo (não incluindo os financiamentos à tesouraria).

A definição de ‘operações correntes cíclicas de exploração’, activas ou passivas, depende das condições de cada empresa e do modo como se desenvolve a respectiva actividade nos mercados, podendo variar bastante de caso para caso. Trata-se, como é evidente, de um pressuposto simplificador que introduzimos por razões de análise.

• Tesouraria: O indicador é uma consequência do ajustamento entre o nível (estável) do Fundo de Maneio e o nível das Necessidades de Fundo de Maneio (normalmente de elevada variabilidade). Logo, a fórmula:

Tesouraria = Fundo de Maneio – Necessidades de Fundo de Maneio

O nível da Tesouraria Global Líquida determina-se por adição algébrica (isto é, tendo em conta o sinal, positivo ou negativo, que influencia cada um dos componentes).

Existe um outro modo de cálculo (para chegar exactamente ao mesmo valor) do indicador da Tesouraria Global Líquida, que é expresso pela diferença entre as operações de Tesouraria Activa (ou seja, as que representam valores monetários ou a receber nos próximos 30 dias) e as operações de Tesouraria Passiva (ou seja, o que está para pagar nos próximos 30 dias). Logo, a fórmula:

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IV 72

Tesouraria = Tesouraria Activa – Tesouraria Passiva

Indicadores de funcionamento, com aplicação na análise da Tesouraria:

• Prazo Médio de Recebimentos (de Clientes):

Saldo de Clientes / ( Vendas/360 )

• Prazo Médio de Pagamentos (a Fornecedores):

Saldo de Fornecedores / ( Compras / 360 )

• Duração Média das Existências:

Saldo de Existências / ( CEVMC / 360 )

O ano assume-se, para este efeito, com 360 dias e os indicadores são dados em ‘nº de dias’.

O valor do IVA que afecta os saldos de Clientes e Fornecedores ‘corrige-se‘ dividindo os respectivos valores por 1,17 (no pressuposto de que a taxa aplicável é a normal).

Os indicadores de ‘média’ são, como se sabe, bastante influenciados pelos valores extremos e podem resultar pouco rigorosos. Assim, também os acima citados devem ser tomados como indicativos de tendências e não como rácios normativos (por exemplo, se o prazo médio de recebimentos for de 45 dias, há que ter em conta que um certo número de clientes paga a 30 dias, outros a 60 dias, etc.).

Indicadores de rendibilidade

Fonte: demonstração de resultados por funções e balanço sintético.

Modo: valores absolutos, rácios com 2 décimais e percentagens.

Conteúdo: rácios simples e compostos e indicadores associados (de funcionamento, viabilidade e risco).

Indicadores de funcionamento: Rotação (do activo, das existências, de clientes), Prazo Médio de Recebimentos, Prazo Médio de Pagamentos e Duração Média das Existências.

Indicadores de viabilidade: Meios Libertos Brutos e Meios Libertos Líquidos.

Indicadores de risco na exploração: Ponto Morto Económico, Margem de Segurança das vendas, Grau Económico de Alavanca e Grau Financeiro de Alavanca.

• Rendibilidade: É a aptidão (de uma empresa, negócio ou actividade) para gerar lucros.

Os indicadores de rendibilidade em valor absoluto, são ‘excedentes’ (isto é, obtidos por diferença).

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IV 73

Resultados

Resultados, são indicadores de rendibilidade para cuja formação se verifica a intervenção de ‘políticas’.

O pressuposto é de que os resultados se formam a partir de estruturas, em que a aplicação de conhecimentos tem uma participação significativa. De resto, as políticas são orientações (mais ou menos formalizadas, dependendo das circunstâncias e da organização) cuja finalidade é gerar resultados.

Como se observa a seguir, existem diferentes tipos de Resultados, os quais, ou são directamente legíveis na demonstração de resultados, ou se obtém por associação de outros factores.

• Indicadores de rendibilidade em valor absoluto

Origem dos dados: Demonstração de Resultados.

• Margem Bruta (MB)

Diferença entre o valor líquido das Vendas (proveitos) e os custos variáveis ou directos homólogos (isto é, correspondentes e necessários) assumindo-se estes como o Custo das Existências Vendidas e das Matérias Consumidas.

Resultado Operacional ou Económico (RO ou RE)

Excedente da dedução à Margem Bruta dos custos normais de funcionamento (Pessoal, FSE, Impostos indirectos e Outros Custos Operacionais) e, ainda, das Amortizações e das Provisões imputáveis ao período.

• Resultados Financeiros (RF)

Saldo apurado entre os Proveitos e Custos Financeiros imputáveis ao período.

• Resultado Corrente (RC)

Excedente da adição (algébrica) dos Resultados Financeiros ao Operacional.

• Resultados Extraordinários (RE)

Saldo apurado entre os Proveitos e Custos Extraordinários imputáveis ao período.

• Resultado Antes de Impostos (RAI)

Excedente da adição (algébrica) dos Resultados Extraordinários ao Resultado Corrente.

• Resultado Líquido (RL)

Excedente que se obtém pela dedução do valor dos impostos estimados ao Resultado antes de Impostos.

• Resultado Líquido retido (RLr)

Resultado líquido remanescente, após distribuição de lucros.

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IV 74

Indicadores de rendibilidade com rácios simples

Origem dos dados: Demonstração de Resultados e Balanço.

Margem Bruta das Vendas:

Margem Bruta / Vendas Líquidas

Significado: É a percentagem do valor líquido das vendas não absorvido pelos custos directos ou variáveis (representados pela conta 61- CEVMC).

Rendibilidade Operacional das Vendas:

Resultado Operacional / Vendas Líquidas

Significado: É a percentagem do valor líquido das vendas, não absorvido pelos custos de funcionamento totais, incluindo amortizações e provisões (contas 61 a 67).

Rendibilidade Líquida das Vendas:

Resultado Líquido / Vendas Líquidas

Significado: É a percentagem do valor líquido das vendas, não absorvido pelos custos de funcionamento totais (incluindo amortizações e provisões), resultados financeiros, extraordinários, e impostos (contas 61 a 69).

Rotação do Activo:

Vendas Líquidas / Activo Total Líquido

Significado: É um indicador da relação entre o valor líquido das vendas e o ao valor do investimento em activos (imobilizado, existências, crédito concedido, disponibilidades). É um ‘acelerador’ da rendibilidade operacional do activo (ROI). Geralmente incluído nos ‘rácios de funcionamento’, é bastante influenciado pela eficiência da gestão das existências e de clientes (selectividade do crédito e cobrança).

Rendibilidade Económica ou Operacional do Activo (ROI):

Resultado Operacional / Activo Total Líquido

Significado: É a percentagem de remuneração do investimento (activo total líquido), antes dos efeitos dos resultados financeiros, extraordinários e impostos.

A designação de ROI corresponde a ‘return on investment’ (correntemente em uso) assumindo-se o activo líquido como ‘investimento total’.

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IV 75

Rendibilidade do Activo Líquido:

Resultado Líquido / Capitais Próprios

Significado: É a taxa que representa a rendibilidade colocada à disposição dos sócios ou accionistas, depois dos efeitos das políticas e de suportados todos os encargos e impostos.

A designação de ROE corresponde a ‘return on equity’. Os capitais próprios (equity) podem representar um ‘valor de mercado’, se a empresa estiver cotada na bolsa.

A fórmula da rendibilidade dos capitais próprios é susceptível e ser desagregada em diversos factores, para se poder observar e analisar o respectivo efeito/contribuição (positivo, negativo ou neutro) para a formação da rendibilidade final (depois de impostos) colocada à disposição dos sócios da empresa.

Este tema, que se reveste do maior interesse para a análise financeira, é tratado a seguir, nos ‘indicadores de rendibilidade com rácios compostos’.

• Indicadores de rendibilidade com rácios compostos

Origem dos dados: Demonstração de Resultados e Balanço.

Rendibilidade Operacional das Vendas:

(Result. Operacional / Margem Bruta) x (Margem Bruta / Vendas )

Significado da composição:

Produto do indicador (RO/MB) que representa o efeito dos custos de funcionamento, amortizações e provisões nos resultados, com a taxa de margem bruta das vendas (MB/V).

Rendibilidade Líquida das Vendas:

( Resultado Líquido / Resultado Operacional ) x ( Resultado Operacional / Margem Bruta ) x ( Margem Bruta / Vendas )

Significado da composição:

Produto do indicador (RL/RO) que representa o efeito conjunto da fiscalidade, dos resultados extraordinários e dos financeiros, com a rendibilidade operacional das vendas (RO/MB x MB/V).

Page 82: Analise Financeira e Gestao Orçamental

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IV 76

Rendibilidade Económica ou Operacional do Activo (ROI):

( Resultado Operacional / Vendas ) x (Vendas / Activo Total Líquido )

Significado da composição:

Produto do indicador de rendibilidade operacional das vendas (RO/V) com a rotação do activo (V/ATL), no qual se destaca o efeito multiplicador do rácio de rotação (relação entre o volume líquido das vendas e o activo total) sobre a rendibilidade das vendas.

Rendibilidade LÍQUIDA do ACTIVO:

( Resultado Operacional / Activo Total Líquido ) x ( Resultado Líquido / Resultado Operacional )

Significado da composição:

Produto do indicador de rendibilidade operacional do activo (RO/ATL) com o efeito conjunto da fiscalidade, dos resultados extraordinários e do financiamento (RL/RO).

Rendibilidade dos Capitais Próprios (ROE):

(pelo processo multiplicativo)

( Resultado Operacional / Activo Total Líquido ) x ( Activo Total Líquido / Capitais Próprios ) x ( Resultado Líquido / Resultado Operacional )

Significado da composição:

Produto do indicador de rendibilidade operacional do activo (RO/ATL) com a relação entre o volume total do activo e a parcela financiada por capitais próprios (rácio multiplicador igual ou superior a 1) e com o efeito conjunto da fiscalidade, dos resultados extraordinários e do financiamento (RL/RO).

A designação de ‘processo multiplicativo’ deve-se ao facto de o indicador ser obtido por produto sucessivo de rácios simples.

Designa-se correntemente por ‘efeito global de alavanca financeira’ o produto dos factores:

(Activo Total Líquido/Capitais Próprios) x (Resultado Líquido/Resultado Operacional)

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IV 77

Rendibilidade dos Capitais Próprios (ROE):

(pelo processo aditivo)

( Resultado Operacional / Activo Total Líquido + Passivo / Capitais Próprios x (ROI - Custos Financeiros/Passivo ) ) x ( Resultado Líquido / Resultado Corrente )

Significado da composição:

Adição do indicador de rendibilidade operacional do activo (ROI=RO/ATL) com: o produto entre a relação do endividamento total (P) com os capitais próprios (efeito da estrutura de financiamento) e o diferencial (ROI-i) entre a rendibilidade operacional do activo (ROI) e o custo médio do Passivo (com i=Custos Financeiros/Passivo).

A expressão obtida é, em seguida, ‘filtrada’ pelo efeito conjunto da fiscalidade e dos resultados extraordinários (RL/RC = RL/RAI x RAI/RC).

A designação de ‘processo aditivo’ deve-se ao facto de o indicador ser obtido da adição do ROI com um ‘factor de alavanca financeira’ que lhe é algebricamente adicionado.

O diferencial (ROI-i) é da maior importância, uma vez que, se o seu efeito for negativo (isto é, se ROI < i) se pode deduzir que a rendibilidade dos capitais próprios está a ser afectada pelas políticas financeiras (já que o custo médio do passivo se apresenta mais elevado que a rendibilidade operacional do activo). Neste caso, a empresa estará, provavelmente, a ser incorrectamente financiada -- seja por ter demasiado crédito bancário e crédito de fornecedores reduzido, seja por insuficiência de capital próprio, seja por desregulação da gestão, por descontrolo nos custos, ou pelo efeito conjunto de vários destes factores, ou (ainda) porque paga juros demasiado elevados pelo seu endividamento bancário.

Indicadores associados à análise da rendibilidade e do equilíbrio (funcionamento)

Origem dos dados: Demonstração de Resultados e Balanço.

Rácios de Rotação

Rotação do Activo:

Vendas Líquidas / Activo Total Líquido

Significado: É um indicador da relação entre o valor líquido das vendas e o ao valor do investimento em activos (imobilizado, existências, crédito concedido, disponibilidades). Quando maior do que 1, é um ‘acelerador’ da rendibilidade operacional do activo (ROI), bastante influenciado pela eficiência da gestão das Existências e de Clientes (selectividade do crédito e cobrança).

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IV 78

Rotação das Existências:

CEVMC / Saldo de Existências (liquido de Provisões)

Significado: É um indicador da relação entre o valor dos consumos directos de produção (CEVMC ou Custos Variáveis) o saldo das Existências (líquido de Provisão para Depreciação de Existências). Quando maior do que 1, é um ‘acelerador’ da rendibilidade operacional do activo (ROI), que exprime a eficiência da gestão das Existências.

Rotação de Clientes:

VENDAS / Saldo de Clientes (liquido de Provisões)

Significado: É um indicador da relação entre o valor da facturação e o saldo da conta Clientes (líquido de Provisões para Cobranças Duvidosas). Quando maior do que 1, é um ‘acelerador’ da rendibilidade operacional do activo (ROI), que exprime a eficiência da gestão do crédito concedido a Clientes.

Rácios de Prazos Médios

Prazo Médio de Recebimento (de clientes):

(Saldo de Clientes /1,19) / ( Vendas líquidas anuais / 360 )

Significado: O indicador refere o número de dias de vendas (base: ano com 360 dias) a que corresponde o valor do crédito concedido aos clientes. Rectificação do IVA no saldo de clientes, assumindo que se pratica a taxa normal de 19%.

Prazo Médio de Pagamento (a fornecedores):

(Saldo de Fornecedores/1,17) / ( Compras anuais / 360 )

Significado: O indicador refere o número de dias de compras (base: ano com 360 dias) a que corresponde o valor do crédito obtido dos Fornecedores. Rectificação do IVA no saldo Fornecedores, assumindo que é aplicada a taxa normal de 17%.

Compras = Existências Finais - Existências + Consumos (incl. CEVMC+FSE)

Duração Média das Existências:

Saldo de Existências / ( CEVMC / 360 )

Significado: O indicador refere o número de dias de compras (base: ano com 360 dias) a que corresponde o valor dos consumos directos de produção (conta 61). Em algumas empresas é apropriado considerar nos consumos os saldos das contas: (61.CEVMC + 62.FSE + 65.OCO).

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IV 79

Rácios de Viabilidade

Meios Libertos Brutos:

Vendas Líquidas – Custos (operacionais) desembolsáveis ou Resultado Operacional + Amortizações do exercício + Provisões do exercício

Significado: É o valor económico disponível para as políticas de amortizações, provisões, financiamento, fiscalidade e de resultados. Limiar mínimo de viabilidade económica.

Notas:

1. Deve ser excluída das amortizações a parcela respeitante a eventual reavaliação de activos que se tenha verificado.

2. Deve ser excluída das Provisões a parcela eventualmente utilizada para regularização do valor de activos.

Meios Libertos Líquidos:

Resultado Líquido retido + Amortizações + Provisões

Significado: Capacidade potencial de autofinanciamento (retenção de valor financeiro para aplicar na actividade), depois das políticas de exploração e de suportados todos os encargos e impostos.

Notas:

1. Deve ser excluída das amortizações a parcela respeitante a eventual reavaliação de activos que se tenha verificado.

2. Deve ser excluída das Provisões a parcela eventualmente utilizada para regularização do valor de activos.

Page 86: Analise Financeira e Gestao Orçamental

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IV 80

Rácios de risco na exploração

Ponto Morto Económico:

( Custos de funcionamento + Amortizações + Provisões )

( Margem Bruta / Vendas )

Significado: ‘Ponto morto’ ou ‘breakeven point’ é o volume de actividade a partir do qual um negócio passa do prejuízo ao lucro. Em valores absolutos, o ‘ponto morto’ observa a condição: Vendas = Custos totais.

Em linguagem gráfica, é assim:

O ‘ponto morto’ é uma análise de risco que põe em presença os preços, os volumes de venda e os custos (directos e indirectos) necessários para o funcionamento do negócio.

A determinação do ‘ponto morto económico em quantidade’ é imediata a partir do cálculo do ‘ponto morto económico em valor’, se for possível conhecer-se o preço unitário do produto a que as vendas estejam referenciadas, através do quociente:

Ponto morto em valor / Preço por unidade do produto

Em conjunto com a análise do ‘ponto morto económico’ faz-se a determinação da ‘Margem de Segurança das Vendas (em valor)’, através de um cálculo simples:

Valor (€) Vendas

Custos totais (Fixos+Variáveis)

BEP

Custos fixos

BEP Volume de actividade (Q) 0

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IV. OS RÁCIOS IEFP

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IV 81

Margem de segurança das vendas = ( Vendas líquidas – Ponto morto ) / Vendas líquidas

Grau Económico de alavanca (na exploração):

Margem Bruta Resultado Operacional

Significado: É o indicador que, variando entre 1 e qualquer valor infinitamente grande (à medida que o denominador se aproxima de zero, o rácio cresce), indica o risco de a margem bruta ser absorvida pelos custos de funcionamento (também chamados de ‘custos fixos’) e pelas políticas de amortizações e provisões.

Como método simplificador de análise, neste âmbito, quando o denominador é negativo, considera-se igual a zero.

Um ‘grau económico de alavanca’ elevado, significa que os custos fixos são excessivos e podem pôr em risco a rendibilidade global da exploração.

Grau Financeiro de Alavanca (na exploração):

Resultado Operacional

Resultado Líquido

Significado: É o indicador que, variando entre 1 e qualquer valor infinitamente grande (à medida que o denominador se aproxima de zero, o rácio cresce), indica o risco de o resultado operacional ser absorvido pelos custos financeiros, pelos resultados extraordinários e pelo IRC.

Identicamente, e como método simplificador de análise, neste âmbito, quando o denominador é negativo, considera-se igual a zero.

Um ‘graufinanceiro de alavanca’ elevado, significa que o efeito das políticas de financiamento, dos acontecimentos extraordinários (ou fortuitos) e a política fiscal, podem absorver os resultados conseguidos pelas actividades comerciais e de produção, pondo em risco a rendibilidade global da exploração.

O rácio pode também ser desagregado nos três efeitos (financeiro, de extraordinários e fiscal) acima mencionados, assim:

Resultado Operacional / Resultado Corrente X

Resultado Corrente / Resultado Antes de Impostos X

Resultado Antes de Impostos / Resultado Líquido

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IV 82

Resumo

1. Indicadores são valores numéricos extraídos das contas, pela aplicação de conceitos e formulações, previamente elaborados.

2. Os indicadores podem apresentar-se em valor absoluto e em valor relativo. Os indicadores em valor relativo são os rácios (do latim ‘ratio’) porque são quocientes de valores absolutos. A designação genérica de rácios aplica-se, no entanto, aos indicadores financeiros de um modo geral.

3. Para o cálculo de rácios, as contas (balanços e demonstrações de resultados) devem estar em milhares de escudos (contos) ou, se a dimensão o justificar, em milhões de escudos (milhares de contos).

4. Os rácios devem ser normalizados pelo analista. Nos décimais, usam-se em geral duas casas depois da vírgula (aproximação às centésimas) e percentagens apenas para as taxas de rendibilidade (das vendas, do activo, dos capitais próprios, etc.).

5. O significado dos indicadores de análise financeira não é universal, varia consoante as condições e o meio (empresa, sector de actividade, ciclo do produto, ambiente económico, etc.).

6. Os indicadores sectoriais das centrais de balanços dos grandes bancos, constituem referências comparativas úteis para a análise de empresas enquadradas em ramos de actividade de que exista um número significativo de unidades empresariais.

7. Os rácios são bastante úteis principalmente por três motivos: (a) facilitam a comparação relativa entre empresas e sectores; (b) são em geral quocientes simples de factores; (c) a articulação de rácios simples possibilita a análise interactiva de factores de rendibilidade e outros.

8. Os rácios têm limitações a considerar: (a) são mais interessantes para a análise de contas de períodos sucessivos; (b) são essencialmente válidos na análise de ‘tendências’ e têm reduzido interesse para explicar ‘valores exactos’; (c) não são de aplicação generalizada e não têm significado universal.

9. A escolha de indicadores de análise obedece, regra geral, a pressupostos lógicos. Os indicadores fundamentais serão: (a) os da estrutura financeira; (b) os do equilíbrio financeiro; (c) os da rendibilidade; (c) os do funcionamento; (d) os da viabilidade; (e) os do risco (na exploração).

10. Indicadores de estrutura financeira, são os que se reportam à capacidade financeira para assegurar a autonomia da empresa, a solvência de compromissos (a curto e médio/longo prazo) e mobilizar novos fluxos de capitais. São obtidos exclusivamente dos fluxos de balanço.

11. Indicadores de equilíbrio financeiro, são os que se reportam à relação entre a exigibilidade das origens e a liquidez das aplicações de fundos, na dupla perspectiva do cumprimento da estratégia e da optimização do funcionamento. São obtidos pela articulação dos fluxos de balanço com as políticas de gestão corrente.

12. Indicadores de rendibilidade, são os que se reportam à eficiência dos desempenhos na exploração e funcionamento e ao nível dos resultados em relação ao volume dos activos e aos capitais próprios. São obtidos pela síntese dos fluxos da demonstração de resultados e do balanço.

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IV. OS RÁCIOS IEFP

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IV 83

13. Indicadores da estrutura financeira: solvabilidade, autonomia, endividamento e liquidez.

14. Solvabilidade é a capacidade da empresa para satisfazer e assumir compromissos no médio/longo prazo.

15. Autonomia é o grau de cobertura assegurado pelos capitais próprios para o investimento global realizado pela empresa, expresso no volume líquido do seu activo total.

16. Endividamento é o grau das responsabilidades assumidas para com terceiros, relativamente ao montante dos capitais próprios.

17. Liquidez é a capacidade da empresa para satisfazer e assumir compromissos no curto prazo. A liquidez avalia-se a três níveis – geral, reduzida e imediata – e sempre em relação ao passivo exigível a curto prazo.

18. Indicadores do equilíbrio financeiro: Fundo de Maneio, Necessidades de Fundo de Maneio, Tesouraria.

19. Indicadores de funcionamento associados à análise do equilíbrio financeiro: prazo médio de recebimentos, prazo médio de pagamentos, duração média das existências.

20. O Fundo de Maneio é o elemento estruturante principal da tesouraria. Exprime a convergência estratégica entre as participações de capital (próprio e alheio de médio e longo prazo) e a opções traduzidas nos investimentos em activo fixo.

21. A análise do indicador Fundo de Maneio é confirmada pela análise dos indicadores da estrutura financeira (Autonomia, Solvabilidade e Endividamento).

22. O indicador Necessidades de Fundo de Maneio é o segundo elemento estruturante da tesouraria, que reflecte o ajustamento entre a liquidez dos activos circulantes e a exigibilidade dos passivos a curto prazo, nas operações correntes da empresa.

23. O indicador Tesouraria é uma consequência do ajustamento entre o nível (estável) do Fundo de Maneio e o nível das Necessidades de Fundo de Maneio, normalmente de elevada variabilidade.

24. Rendibilidade é a aptidão (de uma empresa, negócio ou actividade) para gerar lucros. Os indicadores de rendibilidade em valor absoluto, são ‘excedentes’ (isto é, obtidos por diferença).

25. Resultados, são indicadores de rendibilidade para cuja formação se verifica a intervenção de ‘políticas’.

26. Indicadores de rendibilidade mais comuns em valor absoluto: margem bruta, resultado operacional, resultados financeiros, resultado corrente, resultados extraordinários, resultados antes de impostos, resultado líquido.

27. Rácios de rendibilidade simples mais utilizados: margem bruta das vendas, rendibilidade operacional das vendas, rendibilidade líquida das vendas, rendibilidade operacional do activo, rendibilidade líquida do activo, rendibilidade dos capitais próprios.

28. A rendibilidade dos capitais próprios é o mais importante dos rácios de análise financeira, uma vez que exprime a remuneração que é disponibilizada para os detentores do capital, no final de cada exercício.

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IEFP IV. OS RÁCIOS

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IV 84

29. A análise da rendibilidade dos capitais próprios é geralmente feita por rácios compostos, para que se possam estudar as contribuições factoriais (positivas, negativas ou neutras) para a sua formação.

30. A rendibilidade operacional do activo (ROI) é um rácio-chave para a análise da rendibilidade dos capitais próprios, seja pelo processo multiplicativo, seja pelo aditivo.

31. No processo multiplicativo de análise da rendibilidade dos capitais próprios procura-se, no essencial, determinar o ‘efeito global de alavanca financeira’ (sobre o ROI), ou seja, a contribuição das políticas de financiamento e fiscal para a rendibilidade global.

32. No processo aditivo, procura-se quantificar a percentagem de rendibilidade adicional (ao ROI) gerada pelas política de financiamento e fiscalidade da empresa.

33. Indicadores de funcionamento associados à rendibilidade: prazo médio de recebimentos, prazo médio de pagamentos, duração média das existências.

34. Indicadores de viabilidade associados à exploração: meios libertos brutos e meios libertos líquidos (tesouraria ou ‘cash-flow’ potencial).

35. Indicadores de risco na exploração: ponto morto económico, margem de segurança das vendas e graus económico e financeiro de alavanca.

36. Ponto morto económico, ou ‘breakeven point’ é o volume de actividade a partir do qual um negócio passa do prejuízo ao lucro. Em valores absolutos, o ‘ponto morto’ observa a condição: Vendas = Custos totais.

37. A margem de segurança das vendas é um indicador percentual do afastamento (positivo ou negativo) da facturação, em relação ao seu ponto crítico.

38. Grau económico de alavanca é uma relação indicativa de risco de a margem bruta ser absorvida pelos custos de funcionamento e pelas políticas de amortizações e provisões.

39. Grau financeiro de alavanca é uma relação indicativa de risco de o resultado operacional ser absorvido pelos custos da política de financiamento, pelos acontecimentos extraordinários que afectem a exploração e pela política fiscal.

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IV. OS RÁCIOS IEFP

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IV 85

Questões e exercícios

1. Que são indicadores de análise financeira?

2. Que formas podem assumir os indicadores?

3. Que são rácios de análise financeira? Dê exemplos.

4. QUE são rácios compostos? Dê exemplos.

5. Que apresentação deve ser dada às contas para a obtenção de indicadores?

6. Como devem apresentar-se os rácios de análise?

7. Como é que se determina o significado de um indicador?

8. Qual é o critério usado para escolher indicadores?

9. Qual a utilidade dos rácios? Refira limitações do uso de rácios.

10. Que são indicadores de estrutura financeira?

11. Explique os principais indicadores de estrutura financeira, incluindo a proveniência dos dados.

12. que são indicadores do equilíbrio financeiro? Explique-os, tendo em atenção a proveniência dos dados.

13. Que são indicadores de rendibilidade? Quais os mais importantes indicadores de rendibilidade?

14. Qual o interesse da análise da rendibilidade dos capitais próprios com rácios compostos?

15. Qual a lógica de se referirem indicadores de funcionamento associados à rendibilidade?

16. Que relação pode haver entre a viabilidade da exploração e a análise da rendibilidade?

17. Indique os principais indicadores de rendibilidade, explicitando a forma de obtenção dos dados.

18. Que são resultados?

19. Que são políticas de exploração da empresa? Dê exemplos.

20. Que é o ponto morto económico? Porque é que o ponto morto económico é um indicador de risco na exploração?

21. Qual o interesse do indicador margem de segurança das vendas?

22. Que riscos caracterizam, respectivamente, o indicador grau económico da alavanca e o indicador grau financeiro de alavanca na exploração?

Exercício prático

Relativamente aos Balanços e Demonstrações de Resultados em anexo, da empresa PNTB, sa’, que estão devidamente rectificados e respeitam aos anos (n), (n+1) e (n+2), é necessário determinar indicadores para analisar a estrutura financeira, o equilíbrio, a rendibilidade, a viabilidade e o risco na exploração.

Page 92: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IEFP IV. OS RÁCIOS

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental

IV 86

BALANÇO Contos Activo n-3 n-2 n-1 Imobilizado Imobilizações incorpóreas 14 0% 39 1% 66 1% (Amortizações acumuladas do Imobilizado Incorpóreo)

0 0% 0 0% 0 0%

Imobilizações corpóreas 6.881 103% 7.081 99% 7.487 108%(Amortizações acumuladas do Imobilizado Corpóreo)

(3.388)

-51% (3.623)

-51% (3.867)

-56%

Imobilizações financeiras 350 5% 350 5% 350 5% (Provisão para Imobilizado Financeiro) 0 0% 0 0% 0 0% Imobilizações em Curso 25 0% 15 0% 37 1% Imobilizado Líquido (IL) 3.882 58% 3.862 54% 4.073 59% Existências Matérias primas e Subsidiárias 488 7% 428 6% 407 6% Produtos e Trabalhos em Curso 75 1% 85 1% 90 1% Produtos Acabados 225 3% 207 3% 222 3% Mercadorias 210 3% 173 2% 164 2% (Provisões para Depreciação de Existências) (107) -2% (107) -2% (122) -2% Existências (E) 891 13% 786 11% 761 11% REALIZÁVEL Clientes c/c e conta Titulos a Receber 1.118 17% 1.350 19% 1.025 15% (Provisões para Cobranças Duvidosas) 0 0% 0 0% 0 0% Adiantamentos a Fornecedores 506 8% 504 7% 506 7% Estado e Outros Entes Públicos 200 3% 250 4% 201 3% Outros devedores 10 0% 33 0% 33 0% Realizável (R) 1.834 28% 2.137 30% 1.765 26% DISPONIBILIDADES Títulos Negociáveis 0 0% 0 0% 0 0% Depósitos a Ordem 20 0% 25 0% 23 0% Caixa 2 0% 2 0% 2 0% Disponível (D) 22 0% 27 0% 25 0% Acréscimos e Diferimentos 26 0% 319 4% 291 4% Activo Total Liquido (ATL) 6.655 100% 7.131 100% 6.915 100%CAPITAL PRÓPRIO e PASSIVO n-3 n-2 n-1 CAPITAL PRÓPRIO Capital social 2.000 30% 2.000 28% 2.000 29% Reservas 996 15% 996 14% 996 14% Resultados Transitados 150 2% 519 7% 956 14% Resultados líquidos 369 6% 436 6% 568 8% Total do Capital Próprio (C'P) 3.515 53% 3.952 55% 4.519 65% Passivo Exigivel a Medio e Longo Prazo Empréstimos Bancários 350 5% 300 4% 250 4% Accionistas 681 10% 500 7% 282 4% Passivo Mlp 1.031 15% 800 11% 532 8% Provisões para Outros Riscos e Encargos 20 0% 20 0% 50 1% Exigivel a Curto Prazo Empréstimos bancários 660 10% 841 12% 674 10% Adiantamentos para c de Vendas 7 0% 5 0% 5 0%

Page 93: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IV. OS RÁCIOS IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

IV 87

Fornecedores 715 11% 692 10% 593 9% Estado e Outros Entes Públicos 379 6% 532 7% 411 6% Outros Credores 90 1% 111 2% 45 1% Passivo Cp 1.851 28% 2.181 31% 1.728 25% Acréscimos e Diferimentos 238 4% 178 2% 86 1% Passivo Total (P) 3.140 47% 3.179 45% 2.396 35% Capital Próprio + Passivo 6.655 100% 7.131 100% 6.915 100%

Actividades a desenvolver

1. Elaborar o quadro de indicadores.

2. Apresentar os comentários apropriados, tendo em conta as políticas de exploração da empresa.

Page 94: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IEFP IV. OS RÁCIOS

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IV 88

Resoluções

1. Indicadores são valores numéricos extraídos das contas, pela aplicação de conceitos e formulações previamente elaborados.

2. Os indicadores financeiros podem apresentar-se em valor absoluto (por exemplo, o volume de vendas é de 500 mil euros, o valor do activo é de 3 milhões, o resultado líquido é de 325 mil euros, etc.) e em valor relativo (por exemplo, a autonomia é de 0,55, a margem bruta das vendas é de 65%, o custo médio do endividamento é de 9%, etc.).

3. Trata-se de extrair informações e elaborar conclusões de natureza económico-financeira e fundamentais para a gestão, a partir de dados relativos às contas de uma organização, criteriosamente seleccionados e especificamente preparados para o efeito. São exemplos a Autonomia Financier, a Solvabilidade, Rendibilidade dos Capitais Próprios, entre outros.

4. São valores numéricos extraídos das contas, pela aplicação de conceitos e formulações previamente elaborados, mas cujo valor final é função de outros rácios. São exemplos a Rendibilidade Operacional do Activo, a Rendibilidade dos Capitais Próprios, entre outros.

5. Para o cálculo de rácios, as contas (balanços e demonstrações de resultados) devem estar em milhares de escudos (contos) ou, se a dimensão o justificar, em milhões de escudos (milhares de contos).

6. Os rácios devem ser normalizados pelo analista. Nos décimais, usam-se em geral duas casas depois da vírgula (aproximação às centésimas) e percentagens apenas para as taxas de rendibilidade (das vendas, do activo, dos capitais próprios, etc.).

7. O significado dos indicadores de análise financeira não é universal, varia consoante as condições e o meio (empresa, sector de actividade, ciclo do produto, ambiente económico, etc.).

8. As condições e o meio (empresa, sector de actividade, ciclo do produto, ambiente económico, etc.).

9. A comparação relativa entre empresas e sectores torna-se imediata, pela superação do efeito dos valores absolutos;

Os cálculos consistem em quocientes simples de factores, cujos resultados se apresentam na forma centesimal (isto é, com duas casas depois da vírgula) ou (quando se trata de taxas de rendibilidade) em percentagem;

A análise factorial de indicadores (por exemplo, rendibilidade do activo, do capital próprio, efeito de alavanca e outras) faz-se pela articulação algébrica de rácios simples.

Limitações dos rácios:

São especialmente interessantes para a análise de contas de períodos sucessivos;

São essencialmente válidos na análise de ‘tendências’ e têm reduzido interesse para explicar ‘valores exactos’;

Não são de aplicação generalizada e não têm significado universal.

Page 95: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IV. OS RÁCIOS IEFP

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IV 89

10. São os que se reportam à capacidade financeira para assegurar a autonomia da empresa, a solvência de compromissos (a curto e médio/longo prazo) e mobilizar novos fluxos de capitais.

11. Solvabilidade: Capacidade da empresa para satisfazer e assumir compromissos no médio/longo prazo. Autonomia: Grau de cobertura assegurado pelos capitais próprios para o investimento global realizado pela empresa, expresso no volume líquido do seu activo total.

Endividamento: O conceito é inverso ao da solvabilidade e, portanto, exprime o grau das responsabilidades assumidas para com terceiros, relativamente ao montante dos capitais próprios

Estrutura do endividamento: Parcela do passivo exigível a curto prazo (1 ano de data) relativamente ao endividamento total.

Liquidez:Capacidade da empresa para satisfazer e assumir compromissos no curto prazo. Indicadores com tendência para apresentar variabilidade.

A liquidez avalia-se a três níveis – geral, reduzida e imediata – e sempre em relação ao passivo exigível a curto prazo:

Liquidez geral:

Liquidez reduzida:

Liquidez imediata:

São obtidos exclusivamente a partir dos fluxos de balanço.

12. São os que se reportam à relação entre a exigibilidade das origens e a liquidez das aplicações de fundos, na dupla perspectiva do cumprimento da estratégia e da optimização do funcionamento. São obtidos pela articulação dos fluxos de balanço com as políticas de gestão corrente (ver: Balanço Funcional).

Fundo de maneio: exprime a convergência estratégica entre as participações de capital (próprio e alheio de médio e longo prazo) e a opções traduzidas nos investimentos em activo fixo (dimensão, localização, tecnologias, etc.).

Necessidades de fundo de maneio: reflecte a convergência (ajustamento entre a liquidez dos activos circulantes e a exigibilidade dos passivos a curto prazo) nas operações correntes da empresa.

Tesouraria: O indicador é uma consequência do ajustamento entre o nível (estável) do Fundo de Maneio e o nível das Necessidades de Fundo de Maneio (normalmente de elevada variabilidade).

13. São os que se reportam à eficiência dos desempenhos na exploração e funcionamento e ao nível dos resultados em relação ao volume dos activos e aos capitais próprios.

São obtidos pela síntese de fluxos da demonstração de resultados (por funções) e do balanço sintético

Rendibilidade Económica ou Operacional do Activo (ROI)

Page 96: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IEFP IV. OS RÁCIOS

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IV 90

Rendibilidade do Activo Líquido (ROE)

14. Para se poder observar e analisar o respectivo efeito/contribuição (positivo, negativo ou neutro) para a formação da rendibilidade final (depois de impostos) colocada à disposição dos sócios da empresa.

15. São em geral auxiliares dos indicadores de análise da rendibilidade e reportam-se à eficiência da utilização de recursos (por exemplo, rotação de activos) e ao controlo de terceiros (por exemplo, prazos médios de recebimento de clientes e de pagamento a fornecedores).

16. São indicativos dos limiares e condições de continuidade das actividades da empresa, em termos económicos e em termos financeiros, logo está-se a estudar a capacidade da empresa em gerar lucros.

17. São obtidos pela síntese de fluxos da demonstração de resultados (por funções) e do balanço sintético.

• Margem bruta das Vendas;

• Rendibilidade Operacional das Vendas;

• Rendibilidade Líquida das Vendas;

• Rotação do Activo;

• Rendibilidade Económica ou Operacional do Activo (ROI);

• Rendibilidade do Activo Líquido;

• Margem Bruta (MB);

• Resultado Operacional ou Económico (RO ou RE);

• Resultados Financeiros (RF);

• Resultado Corrente (RC);

• Resultados Extraordinários (RE);

• Resultado Antes de Impostos (RAI);

• Resultado Líquido (RL).

18. Resultados, são indicadores de rendibilidade para cuja formação se verifica a intervenção de ‘políticas’.

O pressuposto é de que os resultados se formam a partir de estruturas, em que a aplicação de conhecimentos tem uma participação significativa. De resto, as políticas são orientações (mais ou menos formalizadas, dependendo das circunstâncias e da organização) cuja finalidade é gerar resultados.

Page 97: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IV. OS RÁCIOS IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

IV 91

19. O modo como a empresa se desenvolve a respectiva actividade nos mercados. Exemplos: Prazo Médio de Recebimentos, Prazo Médio de Pagamentos, Duração Média das Existências, entre outros.

20. ‘Ponto morto’ ou ‘breakeven point’ é o volume de actividade a partir do qual um negócio passa do prejuízo ao lucro. Em valores absolutos, o ‘ponto morto’ observa a condição: Vendas = Custos totais.

O ‘ponto morto’ é uma análise de risco que põe em presença os preços, os volumes de venda e os custos (directos e indirectos) necessários para o funcionamento do negócio.

21. A margem de segurança das vendas é um indicador percentual do afastamento (positivo ou negativo) da facturação, em relação ao seu ponto crítico.

22. Grau económico de alavanca é uma relação indicativa de risco de a margem bruta ser absorvida pelos custos de funcionamento e pelas políticas de amortizações e provisões.

Grau financeiro de alavanca é uma relação indicativa de risco de o resultado operacional ser absorvido pelos custos da política de financiamento, pelos acontecimentos extraordinários que afectem a exploração e pela política fiscal.

Exercício Prático:

Relativamente às contas em anexo, da empresa PNTB,sa’, que deverão estar devidamente rectificadas e respeitam aos anos (n), (n+1) e (n+2), é necessário determinar indicadores para analisar a estrutura financeira, o equilíbrio, a rendibilidade, a viabilidade e o risco na exploração.

Trabalho a realizar:

1. Elaborar o quadro de indicadores.

2. Apresentar os comentários apropriados, tendo em conta as políticas de exploração da empresa.

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V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO

ANÁLISE FINANCEIRAE

GESTÃO ORÇAMENTAL

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V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

V 95

Objectivos:

No final desta unidade temática, o formando deverá estar apto a:

• Definir o equilíbrio financeiro e os seus elementos fundamentais.

• Explicar o que se entende por fundo de maneio líquido.

• Elaborar o cálculo do fundo de maneio líquido.

• Saber controlar o fundo de maneio líquido.

Temas:

1. Bases do equilíbrio financeiro.

2. O fundo de maneio líquido.

• Resumo;

• Questões e exercícios;

• Resoluções.

Page 102: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IEFP V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO

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V 96

1. BASES DO EQUILÍBRIO FINANCEIRO

O equilíbrio financeiro é uma questão fundamental para o desenvolvimento normal das operações de exploração e para a continuidade da empresa e a sua manutenção sistemática constitui uma das preocupações mais importantes dos gestores de qualquer organização.

O equilíbrio financeiro traduz a interacção e as condições de compatibilidade existentes entre a estrutura financeira e a gestão corrente das diversas funções da empresa, cuja resultante final é a posição de tesouraria.

Equilíbrio financeiro é o ajustamento sistemático e permanente dos fluxos de liquidez e exigibilidade.

Constituem bases do equilíbrio financeiro:

• As opções respeitantes a produtos, mercados, dimensão do negócio, localização, tecnologia e infraestruturas;

• A estrutura de financiamento da empresa (relação entre capitais próprios e alheios, parcela de curto prazo nos capitais alheios e natureza desses capitais);

• A evolução do negócio e seus reflexos quanto ao volume e natureza dos activos a financiar e aos recursos financeiros mobilizáveis.

No equilíbrio financeiro verifica-se a coexistência de factores de natureza estrutural (ou estratégica) e de natureza conjuntural (ou táctica), cuja resultante final é a posição de tesouraria.

• São de natureza estrutural (ou estratégica) os factores expressos pelo indicador Fundo de Maneio.

O Fundo de Maneio é um indicador essencialmente estável (de mudança lenta) que exprime o diferencial entre as participações de capital (próprio e alheio de médio/longo prazo) e o valor líquido das aplicações em activo fixo (ver: 4.Rácios).

• São de natureza conjuntural (ou táctica) os factores expressos pelo indicador Necessidades de Fundo de Maneio.

Necessidades de Fundo de Maneio é um indicador essencialmente instável (sujeito às mudanças impostas pela variabilidade dos mercados) dado pela diferença entre o volume dos activos circulantes necessários à actividade (basicamente, existências, crédito a clientes e outros devedores) e o crédito obtido (basicamente, de fornecedores, credores diversos e banca) para os financiar.

A tesouraria é a área em que se desenvolve toda a dinâmica de equilíbrio dos fluxos estratégicos (zero liquidez, versus baixa ou nenhuma exigibilidade) e tácticos (liquidez possível, versus exigibilidade contratada).

Page 103: Analise Financeira e Gestao Orçamental

V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO IEFP

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V 97

Dinâmica do equilíbrio financeiro

O equilíbrio financeiro no curto prazo apoia-se no fundo de maneio e depende, fundamentalmente, da evolução das necessidades de fundo de maneio.

Para a devida compreensão deste facto, importa conhecer a natureza da actividade da empresa, traduzida na duração do ciclo de produção, isto é, quanto tempo decorre entre:

1. A encomenda das matérias-primas e a entrada na empresa;

2. A entrada das matérias-primas e a passagem à produção;

3. A entrada na produção e a obtenção do produto final;

4. A transferência para armazém e a entrega aos clientes;

5. A entrega aos clientes e o pagamento por parte destes.

Problemas a ter em conta:

• Alongamento do ciclo de produção determina maior esforço de financiamento das operações correntes de exploração e sujeita a empresa a condições mais complexas de negociação e controlo.

• Quanto mais dilatados forem os prazos de pagamento concedidos aos clientes, maiores serão as necessidades em fundo de maneio. Situação esta que não depende da empresa mas das condições do mercado.

• Quanto menores forem os prazos de pagamento obtidos dos fornecedores, maiores serão as necessidades de fundo de maneio.

• Quanto maior for o tempo de imobilização dos stocks (de matérias-primas, de produtos em vias de fabrico, de produtos acabados) maiores serão as necessidades de fundo de maneio.

Duas notas importantes:

Análise do equilíbrio financeiro

O equilíbrio financeiro analisa-se através do balanço funcional, uma demonstração financeira auxiliar a que já fizemos referência (ver: 3. Preparação das contas para análise).

O Balanço Funcional prepara-se com base no balanço sintético (corrigido) e nas políticas definidas para a gestão de operações correntes (Existências, Clientes e Outros Devedores, Fornecedores e Outros Credores, EOEP e Banca, financiamento normal a curto prazo).

Page 104: Analise Financeira e Gestao Orçamental

IEFP V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO

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V 98

Balanço Funcional Operações de Investimento Imobilizado Líquido Capital Próprio Capital Alheio de m/l prazo Fundo de Maneio Operações Correntes Cíclicas Necessidades Financeira

Cíclicas Recursos Financeiros Cíclicos

Existências Fornecedores Clientes Empréstimos Bancários Cp EOEP – IVA Outros Credores Outros Devedores EOEP – IRC, Segurança Social,

etc.

Necessidades de Fundo de Maneio Operações de Tesouraria Tesouraria Activa: Tesouraria Passiva: Caixa e Depósitos à Ordem Contas a pagar Contas a receber Empréstimos Tesouraria Global Líquida

Fig.V.1. Esquema do Balanço Funcional

O somatório das rubricas activas do balanço funcional deve corresponder ao valor do activo total líquido do balanço sintético. E o somatório das rubricas passivas do balanço funcional deve ser igual à soma dos valores do passivo e dos capitais próprios do mesmo balanço sintético.

Os grupos de contas do balanço, organizam-se em três ‘áreas funcionais’:

Operações de investimento, Operações correntes cíclicas e Operações de tesouraria, conforme o esquema seguinte:

Operações de investimento

São as operações que mobilizam origens e aplicações de duração superior a 1 ano.

As origens são constituídas pelos capitais permanentes, (somatório dos capitais próprios com os alheios de médio e longo prazo), cuja exigibilidade é nula ou de prazo alongado.

As aplicações são formadas pelo valor líquido do activo fixo (imobilizado), cuja liquidez é nula, porque se trata de bens de uso, não destinados a venda.

O saldo funcional das operações de investimento é o indicador Fundo de Maneio.

Fundo de Maneio = Capitais Permanentes – Activo Fixo

Por razões de equilíbrio (mas também de prudência e de rendibilidade) é necessário que o Fundo de Maneio seja positivo e adequado para financiar parte das necessidades correntes cíclicas

Page 105: Analise Financeira e Gestao Orçamental

V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO IEFP

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V 99

(Existências ou Clientes). Assim, os capitais permanentes deverão ser suficientes para cobrir o valor dos activos fixos e gerar excedente financeiro significativo.

Operações correntes cíclicas

São as operações que, de acordo com as políticas de gestão corrente da empresa, agrupam ‘necessidades de financiamento’ e ‘recursos financeiros’ cíclicos e ligados às operações normais, com duração de curto prazo (inferior a 1 ano).

As ‘necessidades de financiamento cíclicas’, correspondem aos valores médios normais dos saldos de balanço de Existências, Clientes, EOEP (IVA) e Outros Devedores. Na prática, usam-se referenciais como: a duração média das existências e o prazo médio de recebimentos de Clientes. Para EOEP (IVA) e Outros Devedores faz-se a fixação de valores estimados.

Os ‘recursos financeiros cíclicos’ são dados pelos valores médios normais dos saldos de balanço de Fornecedores, EOEP (IRC estimado, Segurança Social e outros) e Outros Credores, bem como pelo financiamento bancário regular contratado, de curto prazo.

Usa-se o prazo médio de pagamento a Fornecedores para estimar o saldo normal da conta. Para EOEP e Outros Credores, faz-se estimativa. No caso dos financiamentos bancários a curto prazo, existe um montante contratado, periodicamente renovável, de que se conhece o valor a inscrever em balanço.

O saldo funcional das operações correntes cíclicas, é o indicador Fundo de Maneio Necessário.

F MN = Necessidade financiamento cíclicas – Recursos financeiros cíclicos

Por razões de rendibilidade é conveniente e necessário que os saldos normais de balanço das rubricas de ‘necessidades cíclicas’ e de ‘financiamento cíclico’, se compensem aproximadamente (por exemplo, o saldo normal de fornecedores aproxima-se do de existências, o saldo normal de clientes é coberto pelo fundo de maneio, etc.) dentro das políticas que, neste âmbito forem definidas. Operações de tesouraria

São todas as operações - activas e passivas – que representam liquidez (isto é, são ou poderão vir a ser, meios monetários) e exigibilidade (isto é, obrigatoriedade de pagamento) a muito curto prazo (entre 1 e 30 dias).

Nas operações activas de tesouraria incluir-se-ão, além dos valores em Caixa e Bancos, os saldos de valores a receber (Clientes, EOEP (IVA), Outros Devedores, etc.) ou (numa perspectiva previsional) os activos que excedam as políticas definidas. Nas operações passivas de tesouraria incluir-se-ão os valores a pagar, ou (numa perspectiva previsional) os saldos passivos (EOEP, Outros Credores, etc.) não comportados pelas políticas contratadas.

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V 100

O saldo funcional das operações de tesouraria é o indicador Tesouraria Líquida.

Tesouraria Líquida = Tesouraria activa – Tesouraria Passiva ou Tesouraria Líquida = Fundo de Maneio – Fundo de maneio Necessário

A Tesouraria não pode apresentar saldo negativo (isto é, valores activos inferiores aos passivos). Um déficit de Tesouraria significa também que o Fundo de Maneio não é suficiente para cobrir as Necessidades de Fundo de Maneio. Tal situação, quando não controlada, pode obrigar à paragem de qualquer actividade a muito curto prazo.

Necessidades de

Fundo Fundo De De

Maneio Maneio

NFC - RFC

=

Capital Próprio – Activo Fixo

Fig. V.2. Tesouraria em equilíbrio

Necessidades de

Fundo Fundo

De De

Maneio Maneio

NFC – RFC Capital Próprio – Activo Fixo

“Déficit da Tesouraria

Necessidades de

Fundo Fundo

De De

Maneio Maneio

NFC – RFC Capital Próprio – Activo Fixo

“Superavit da Tesouraria

Fig. V.3. Tesouraria com ‘déficit’ e ‘superavit’

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V 101

A gestão financeira de curto prazo não é autónoma, faz-se em sintonia com a gestão financeira de médio e longo prazo e vice-versa.

Seja no médio ou longo prazo, seja no curto prazo, para se gerir adequadamente a área financeira, é necessário simular a evolução dos fluxos a controlar, por forma a dominar os principais factores e os seus efeitos interactivos.

Os fundos envolvidos na gestão corrente, podem afectar a estrutura financeira da empresa, se os acontecimentos reais não decorrerem de forma aproximada ao que está planeado.

Por exemplo, quando se fazem investimentos em equipamento, é natural que exista um aumento do activo circulante (mais equipamento implica mais matérias-primas e mais produtos em vias de fabrico). O mesmo acontece com o crédito a clientes, quando se deseja aumentar a quota de mercado ou penetrar em áreas da concorrência.

A gestão da tesouraria é, de facto, a gestão de um stock muito especial da empresa – o dos meios monetários disponíveis.

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V 102

2. FUNDO DE MANEIO LÍQUIDO

Fundo de maneio líquido é o saldo entre os valores do activo circulante (existências, crédito concedido e disponibilidades) e do exigível a curto prazo (fornecedores, Crédito bancário, EOEP, outros credores).

Fundo de Maneio Líquido = Activo Circulante – Exigível a Curto Prazo

A análise do Fundo de Maneio Líquido coloca na gestão da Tesouraria o controlo das operações de curto prazo. No fundamental, trata-se de:

• Potenciar a rendibilidade da empresa pela adequação dos valores do crédito concedido, do crédito obtido e das existências.

• Assegurar a liquidez necessária, pelo planeamento e controlo dos recursos monetários mobilizáveis.

Fundo de Maneio Líquido e Fundo de Maneio são indicadores para os quais se obtém o mesmo valor, com métodos de cálculo diferentes. Logo,

Fundo de Maneio Líquido = Fundo de Maneio

Demonstração:

Admitindo que:

Activo Circulante – Passivo a Curto Prazo =

Capitais Permanentes – Activo Fixo

Teremos também:

Activo Circulante – Passivo a Curto Prazo =

Capital Próprio + Passivo de médio/longo prazo – Activo Fixo

Page 109: Analise Financeira e Gestao Orçamental

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V 103

Donde se verifica:

Activo Fixo + Activo Circulante =

Capital Próprio+Passivo a médio/longo prazo+Passivo a curto Prazo

O que respeita a igualdade fundamental do balanço:

Activo total líquido = Capital Próprio + Passivo total

Procedimentos normais de controlo financeiro de curto prazo: efectuar em tempo as cobranças de clientes, fazer os pagamentos a fornecedores, estado e banca, de acordo com obrigações legais e contratos firmados, cobrir os déficits ou aplicar os excedentes.

Gestão do crédito a clients:

Nas transacções económicas entre empresas, a prática corrente é de conceder crédito, o que significa entregar produtos e serviços em troca de compromissos de pagamento futuro. Deste modo, surge no balanço da empresa, no activo, um conjunto de direitos de recebimento que aqui englobamos sob a designação de Clientes.

Princípios básicos

1. Volume de crédito deve relacionar-se com o volume e com rendibilidade das vendas, relacionando-se, deste modo, com as características da actividade em que a empresa opera.

2. A concessão de crédito a clientes deve ser encarada como um investimento (uma aplicação de recursos) e, como tal, deve obedecer aos critérios de risco, liquidez e custo.

3. A concessão e cobrança de créditos devem estar adequadas ao fluxo de tesouraria global para não colocar em risco a continuidade da empresa.

A gestão desta matéria deve portanto obedecer a procedimentos, tendo como objectivo ajustar o volume de crédito às necessidades da empresa, tendo como finalidade a maximização da rendibilidade.

Podemos, assim, assinalar quatro etapas na gestão de clientes:

1ª etapa

Estabelecer as condições de crédito e de pagamento, o que significa definir clara e objectivamente as condições de venda.

2ª etapa

Seleccionar os clientes a quem se pode conceder crédito.

3ª etapa

Vigiar hábitos de pagamento e tomar medidas correctoras nos casos de incumprimento.

4ª etapa

Assegurar que o volume de crédito concedido é adequado aos objectivos globais da empresa.

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Um requisito importante a todas as etapas é a existência de um sistema de informação sobre o cumprimento em matéria de pagamentos, por parte daqueles a quem se concede crédito.

Política de crédito

A política de crédito deverá ser ajustada ao perfil do cliente. As grandes empresas têm processos de decisão hierarquizados e solidez financeira, enquanto os pequenos clientes têm, em geral, situação financeira precária. A maioria das PME está entre estes dois extremos, com potencialidades para concessão de crédito que, em circunstância alguma, poderá ser ilimitado.

Uma decisão de concessão de crédito tem implicações diversas sobre a rendibilidade. É necessário pois, analisá-las para se perceber claramente a necessidade da formulação da política de crédito.

Rendibilidade e comportamentos dos clientes

a.) Cliente paga pontualmente: a concessão de crédito permitirá aumentar as vendas e a rendibilidade; a recusa de crédito significaria o inverso.

b.) Cliente paga, mas para além do prazo concedido: a concessão do crédito vai implicar gasto de cobrança com consequências negativas na rendibilidade da empresa; se não se lhes conceder crédito haverá redução nas vendas e na rendibilidade.

Nestas situações, é necessário encontrar um ponto de equilíbrio que poderá passar pelo ajustamento das vendas.

a.) Cliente não paga: a concessão de crédito só origina perdas; perda dos créditos acrescida de gastos de cobrança. Nestas situações é mais económico não vender.

Controlo do volume de crédito

Assegurar que o volume de crédito concedido seja adequado aos objectivos globais da empresa é outra das etapas de gestão do crédito a clientes.

Isto significa que é necessário, com regularidade, proceder a uma avaliação da rendibilidade das vendas condições concretas versus condições definidas) tendo em conta o custo financeiro dos atrasos de pagamento e as provisões para cobranças duvidosas que é necessário criar.

Esta avaliação permitirá decidir se a empresa deve adoptar uma política de crédito mais ou menos restritiva.

Responsabilidades e condições de venda

As relações com clientes devem ser marcadas pela clareza, correcção e definição de responsabilidades, pois delas depende em boa parte a imagem da empresa.

O nível de competência dos responsáveis da empresa, para intervenção na negociação com clientes, deve estar clarificado, nomeadamente a articulação entre as áreas financeira e comercial.

Responsabilidades contratuais que envolvam cliente e fornecedor devem ficar escritas, nomeadamente quanto a:

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• Especificação clara do produto ou do serviço objecto da transacção.

• Prazos, condições e local de entrega.

• Garantias a prestar pelo fornecedor (qualidade, preço e prazo de entrega)

• Garantias a prestar pelo cliente (prazo e forma de pagamento).

Clientes a quem deve ser concedido crédito

A análise de um cliente para concessão de crédito, envolve um conjunto de apreciações em que pondera, antes do mais, o volume relativo da operação. São pontuados, em geral, quatro parâmetros: carácter, capacidade, capital, conjuntura.

Carácter

Refere-se às qualidades do cliente, honestidade e integridade que o levam a honrar os compromissos de crédito, na data do seu vencimento. Resta avaliação faz-se através das pessoas que contactam o cliente (quadros comerciais)) e por informações obtidas no mercado (outros fornecedores, por exemplo).

Capacidade

Denota a faculdade de fazer face ao pagamento, na data de vencimento. Este parâmetro avalia-se através de informação financeira acerca do potencial cliente, em particular através da avaliação dos meios libertos líquidos da sua exploração e pelos níveis de endividamento apresentados no balanço. As fontes de informação são os elementos contabilístico financeiros fornecidos pelo próprio cliente e pelas empresas especializadas neste tipo de informação.

Capital

Parâmetro relacionado com o equilíbrio financeiro do potencial cliente, sobretudo a capacidade de liquidez a longo prazo. Avalia-se pela dimensão dos seus activos e capitais próprios.

Conjuntura

Parâmetro não relacionado directamente com o potencial cliente mas com as práticas no mercado.

A decisão final traduz-se na atribuição de uma, entre quatro classificações: excelente, bom, regular, perigoso.

Gestão das cobranças

Uma vez concedido o crédito, é necessário organizar a sua cobrança em devido tempo.

A gestão das cobranças inicia-se com o envio da factura ao cliente. E prossegue com os diversos contactos para assegurar que as facturas estão em conformidade com as condições acordadas e, portanto, aceites para pagamento.

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Antes do vencimento, é prudente alertar o cliente e saber a forma de pagamento que este vai utilizar. Estas acções devem ser preparadas com cuidado, pois, se para alguns clientes a ausência de insistência para pagamento implica dilatação dos prazos, para outros, a insistência provoca mal estar, por serem rigorosos cumpridores.

Quando os prazos de pagamento são ultrapassados, o contacto com o cliente deve ser cuidadoso, mas persistente. A cobrança deve ser amistosa, até onde possível. Perante o eventual insucesso das diligências de cobrança, deve-se recorrer sem demora ao processo contencioso.

Gestão de existências

As existências representam um activo importante, sobretudo nas empresas industriais, mas também representam um custo que é preciso gerir e minimizar.

A adequação do seu volume deverá atender a dois aspectos fundamentais: a disponibilidade de meios para evitar paragens de produção e a imobilização do menor volume possível de meios financeiros, tendo em vista a rendibilidade e liquidez global da empresa.

As existências compreendem diversos tipos de bens: matérias primas e subsidiárias, produtos em curso de fabrico, mercadorias e produtos acabados, comprados ou fabricados para venda. Os diversos tipos de existências estão interrelacionados e envolvem diferentes funções dentro da empresa. A importância relativa de cada um, varia de empresa para empresa.

A gestão dos aprovisionamentos concentra as suas preocupações no abastecimento, em tempo útil, de matérias primas, atendendo à qualidade e ao preço dos produtos. É frequente verificar-se o aprovisionamento excessivo, por razões de segurança e comodidade dos responsáveis da área.

A gestão da produção concentra as suas preocupações no processo produtivo cuja optimização é indispensável para, dentro de limites técnicos específicos, maximizar o volume de produtos fabricados e em curso.

A gestão comercial preocupa-se fundamentalmente em dispor de produtos acabados, uma vez que deseja ter sempre stock para atender às solicitações dos clientes.

O gestor financeiro intervém neste quadro de responsabilidades repartidas, (e, por vezes, conflituais) para minimizar os valores imobilizados nos diferentes tipos de existências, tendo em consideração a rendibilidade e a liquidez.

Custos com as existências

À manutenção das existências estão associados vários tipos de custos:

a) Custo de aquisição, o custo de fabrico e o custo total de produção, respectivamente, para os produtos que entram em armazém, para os produtos em vias de fabrico e para os produtos acabados.

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b) Custo administrativo da aquisição que envolve desde a consulta aos mercados à organização do processo de compra, transporte, pagamento e armazenagem.

c) Custo de logística e armazenagem, que compreende o controlo e segurança dos bens adquiridos.

d) Custo do sistema de informação, por forma a controlar correctamente os movimentos, evitar o armazenamento excessivo e antecipar as probabilidades de ruptura.

O controlo e optimização destes custos é uma questão fundamental da gestão de empresas, que cabe ao gestor da Logística e interessa directamente ao gestor financeiro.

Gestão de fornecedores

A gestão do exigível abrange os débitos a fornecedores e a outros credores e os empréstimos a curto prazo.

Os fornecedores são uma importante fonte de financiamento das necessidades financeiras cíclicas, mais concretamente das existências. A responsabilidade da gestão das contas de fornecedores tem o seu início nas compras (aprovisionamentos) e termina no pagamento (tesouraria).

A selecção dos fornecedores obedece geralmente a critérios, em que devem ponderar a qualidade e as condições de venda.

O crédito dos fornecedores pode ser obtido de diversos modos:

• Fornecimentos em conta corrente, sem garantias, com compromisso de pagamento em determinada data.

• Fornecimentos em conta corrente, com garantia, geralmente contra o aceite de letras.

• Fornecimento contra crédito aberto (geralmente para compras ao estrangeiro). Tem um custo adicional, a considerar.

• Fornecimentos à consignação, em que o pagamento ocorre após a venda ou o consumo dos produtos fornecidos.

O crédito dos fornecedores não tem um custo explícito, mas também não é gratuito. Embora o crédito de fornecedores seja o mais barato, é frequente haver diferenças nos preços consoante se compre a pronto pagamento ou a crédito. Na verdade, isto depende das condições de mercado e deve ser devidamente considerado no relacionamento com os fornecedores.

O atraso nos pagamentos aos fornecedores não só pode originar rupturas nos abastecimentos como o corte nos créditos, implicando, qualquer das situações, custos financeiros e de imagem.

A gestão desta fonte de financiamento merece ser tratada com muita atenção pelas implicações que tem na vida da empresa.

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Financiamento dos déficits de tesouraria

Os saldos negativos são, geralmente, mais frequentes que os saldos positivos e, se atingirem um determinado volume, provocam problemas à gestão corrente.

Para financiamento dos déficits de tesouraria recorre-se a instrumentos de curto prazo, disponíveis nas instituições financeiras, sendo, contudo, necessário proceder a uma criteriosa escolha, tendo em conta as suas vantagens e o seu custo.

Vejamos, entretanto, algumas hipóteses correntemente utilizadas:

Mobilização de créditos

Mobilizar um crédito significa transformá-lo em disponibilidades antes do seu vencimento. É uma forma expedita de financiamento da tesouraria, mas está geralmente sujeita a limites máximos (plafonds).

Uma forma de mobilizar créditos consiste no vulgar desconto de letras. No vencimento dos créditos, a letra é devolvida pelo Banco à empresa (retirando-lhe automaticamente o dinheiro da conta) e o cliente paga directamente a esta o seu débito (se o cliente pagasse ao Banco, haveria lugar a pagamento de uma ‘taxa de cobrança’ a suportar pela empresa).

Outro modo de mobilizar créditos é o ‘'factoring'’, que consiste na entrega de um lote de facturas sobre as quais a empresa de ‘factoring’ procede como se se tratasse de uma operação de ‘desconto’. Estas entidades são extremamente selectivas na concessão de crédito, pelo que a facturação que lhes é entregue deve respeitar a clientes sem qualquer nota de incumprimento no sector financeiro (central de informações de crédito do Banco de Portugal).

Além do empréstimo normal por livrança (a que se chama empréstimo puro) a empresa pode ainda recorrer a outros tipos de empréstimo de curto prazo para financiar as suas necessidades de tesouraria.

A materialização dessas modalidades de financiamento, pode assumir várias formas:

Descoberto em conta corrente

O banco autoriza a empresa a sacar a descoberto, até determinado montante e durante determinado período de tempo. Esta operação pode ser feita com garantias ou simplesmente por acordo verbal, quando a relação entre o banco e a empresa o permite.

É um regime de crédito com relativo interesse para a empresa, pois embora só pague juros sobre os montantes efectivamente utilizados, a taxa de juro é, em geral elevada.

Conta corrente caucionada

Outra modalidade de financiamento que os bancos colocam à disposição da empresa, mediante uma garantia (caução de sócios, depósito-garantia). Tem, em geral, um carácter de maior permanência dado que, entre outras possíveis vantagens, permite sucessivas renovações.

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A selecção da modalidade a adoptar deve ser cuidadosamente negociada, atendendo ao seu custo, ao tempo de duração das necessidades a cobrir e dependendo da capacidade de endividamento de que se dispõe.

Aplicação dos excedentes de tesouraria

A posição de tesouraria excedentária é menos frequente que a posição de déficit. Contudo, ocorrem situações pontuais de excesso que é necessário aplicar.

Para reduzir os excedentes pontuais começa-se, desde logo, por reduzir a mobilização de créditos ou de descobertos bancários. Com efeito, a melhor aplicação de curto prazo é sempre a redução do endividamento bancário. Podem também antecipar-se pagamentos a fornecedores, se se puder beneficiar de descontos financeiros por esse facto.

No caso de os excedentes serem de maior dimensão ou frequência, pode encarar-se a aplicação em instrumentos financeiros de curto prazo (Bilhetes de Tesouro e Fundos de Tesouraria, entre outros) cuja rendibilidade, liquidez e risco devem ser previamente calculados, em conjunto com a entidade bancária que coloca esses produtos à disposição do mercado.

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Resumo

1. Equilíbrio financeiro é o ajustamento sistemático e permanente dos fluxos de liquidez e exigibilidade.

2. Constituem bases do equilíbrio financeiro: (a) as opções respeitantes a produtos, mercados, dimensão do negócio, localização, tecnologia e infra-estruturas; (b) a estrutura de financiamento da empresa; (c) a evolução do negócio e seus reflexos nos activos a financiar e nos recursos mobilizáveis.

3. No equilíbrio financeiro verifica-se a coexistência de factores de natureza estrutural (ou estratégica) e de natureza conjuntural (ou táctica), cuja resultante final é a posição de tesouraria.

4. São de natureza estrutural (ou estratégica) os factores expressos pelo indicador Fundo de Maneio. São de natureza conjuntural (ou táctica) os factores expressos pelo indicador Necessidades de Fundo de Maneio.

5. Equilíbrio financeiro no curto prazo apoia-se no fundo de maneio e depende, fundamentalmente, da evolução das necessidades de fundo de maneio. Para a compreensão deste facto, importa conhecer a actividade da empresa e a duração do seu ciclo de produção.

6. Alongamento do ciclo de produção determina maior esforço de financiamento das operações correntes de exploração e sujeita a empresa a condições mais complexas de negociação e controlo.

7. Quanto mais dilatados forem os prazos de pagamento concedidos aos clientes, maiores serão as necessidades em fundo de maneio. Situação esta que não depende da empresa mas das condições do mercado.

8. Quanto menores forem os prazos de pagamento obtidos dos fornecedores, maiores serão as necessidades de fundo de maneio.

9. Quanto maior for o tempo de imobilização dos stocks (de matérias-primas, de produtos em vias de fabrico, de produtos acabados) maiores serão as necessidades de fundo de maneio.

10. Equilíbrio financeiro analisa-se através do balanço funcional, uma demonstração financeira auxiliar que se prepara com base no balanço sintético (corrigido) e nas políticas de gestão de operações correntes.

11. Somatório das rubricas activas do balanço funcional deve corresponder ao valor do activo total líquido do balanço sintético. E o somatório das rubricas passivas do balanço funcional deve ser igual à soma dos valores do passivo e dos capitais próprios do mesmo balanço sintético.

12. No balanço funcional, temos: operações de investimento, operações correntes cíclicas e operações de tesouraria.

13. Operações de investimento são as que mobilizam origens e registam aplicações, cuja duração é superior a 1 ano.

14. Operações correntes cíclicas, são as que, de acordo com as políticas de gestão operacional da empresa, agrupam ‘necessidades de financiamento’ e ‘recursos financeiros’ cíclicos e ligados às operações normais, com duração de curto prazo (inferior a 1 ano).

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15. Operações de tesouraria, são todas as operações (activas e passivas) que representam liquidez (isto é, são ou poderão vir a ser, meios monetários) e exigibilidade (isto é, obrigatoriedade de pagamento) a muito curto prazo (entre 1 e 30 dias).

16. A gestão financeira de curto prazo não é autónoma, faz-se em sintonia com a gestão financeira de médio e longo prazo e vice-versa. A gestão da tesouraria é, de facto, a gestão de um stock muito especial da empresa – o dos meios monetários disponíveis.

17. Fundo de maneio líquido é o saldo entre os valores do activo circulante (existências, crédito concedido e disponibilidades) e do exigível a curto prazo (fornecedores, Crédito bancário, EOEP, outros credores).

18. A análise do Fundo de Maneio Líquido coloca na gestão da Tesouraria o controlo das operações de curto prazo.

19. Procedimentos normais de controlo do curto prazo: efectuar em tempo as cobranças de clientes, fazer os pagamentos a fornecedores, estado e banca, de acordo com obrigações legais e contratos firmados, cobrir os déficits ou aplicar os excedentes.

20. Volume de crédito deve relacionar-se com o volume e com rendibilidade das vendas, relacionando-se, deste modo, com as características da actividade em que a empresa opera.

21. A concessão de crédito a clientes deve ser encarada como um investimento (uma aplicação de recursos) e, como tal, deve obedecer aos critérios de risco, liquidez e custo.

22. A concessão e cobrança de créditos devem estar adequadas ao fluxo de tesouraria global para não colocar em risco a continuidade da empresa.

23. A análise de um cliente para concessão de crédito, envolve um conjunto de apreciações em que pondera, antes do mais, o volume relativo da operação. São pontuados, em geral, quatro parâmetros: carácter, capacidade, capital, conjuntura.

24. Uma vez concedido o crédito, é necessário organizar a sua cobrança em devido tempo.

25. As existências representam um activo importante, sobretudo nas empresas industriais, mas também representam um custo que é preciso gerir e minimizar.

26. A gestão do exigível abrange os débitos a fornecedores e a outros credores e os empréstimos a curto prazo.

27. Crédito dos fornecedores não tem um custo explícito, mas também não é gratuito. É frequente haver diferenças nos preços consoante se compre a pronto pagamento ou a crédito.

28. Os saldos negativos de tesouraria são, geralmente, mais frequentes que os saldos positivos e, se atingirem um determinado volume, provocam problemas à gestão corrente.

29. Para financiamento dos déficits de tesouraria recorre-se a instrumentos de curto prazo, disponíveis nas instituições financeiras, sendo, contudo, necessário proceder a uma criteriosa escolha, tendo em conta as suas vantagens e o seu custo.

30. A posição de tesouraria excedentária é menos frequente que a posição de déficit. Contudo, ocorrem situações pontuais de excesso que é necessário aplicar.

31. A melhor aplicação de curto prazo é a redução do endividamento bancário. Podem também antecipar-se pagamentos a fornecedores, se se puder beneficiar de descontos financeiros por esse facto.

32. No caso de os excedentes serem de maior dimensão ou frequência, pode encarar-se a aplicação em instrumentos financeiros de curto prazo, cuja rendibilidade, liquidez e risco devem ser previamente calculados.

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V 112

Questões e exercícios

1. Que é equilíbrio financeiro?

2. Quais são as bases do equilíbrio financeiro?

3. Quais são os indicadores do equilíbrio financeiro e como se obtém?

4. Explique o que entende por factores de natureza estrutural e conjuntural no equilíbrio financeiro.

5. Que são o fundo de maneio e as necessidades de fundo de maneio?

6. Que relação existe entre o indicador Tesouraria, o Fundo de Maneio e as Necessidades de Fundo de Maneio?

7. Que é o balanço funcional e como se obtém?

8. Que relação existe entre o balanço funcional e o balanço sintético?

9. Indicador Fundo de Maneio é estável? Porquê?

10. Indicador Tesouraria é estável? Porquê?

11. Que é o ciclo de exploração?

12. Que relação existe entre o equilíbrio financeiro e o ciclo de exploração?

13. Que são políticas de gestão de curto prazo?

14. Que são operações de tesouraria?

15. Que é gerir a tesouraria?

16. Que é o fundo de maneio líquido?

17. Que relação existe entre o fundo de maneio líquido e o fundo de maneio?

18. Demonstre a identidade de valor entre os indicadores fundo de maneio e fundo de maneio líquido.

19. Estabeleça a ligação entre a análise do fundo de maneio líquido e a gestão financeira de curto prazo.

20. Que políticas de gestão podem melhorar (tornar mais positivo) o indicador fundo de maneio líquido?

21. que é a gestão do crédito a clientes?

22. Que factores determinam e influenciam os prazos de pagamento concedidos a clientes?

23. que é que é importante na análise clientes?

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24. Qual o critério para decidir o volume de crédito a conceder?

25. A concessão de crédito a clientes é um investimento? Porquê?

26. Director financeiro deve controlar as existências? Explique.

27. Que significa fazer a gestão do exigível?

28. Que cuidados devem ser observados na relação de crédito com fornecedores?

29. Porque é que é necessário analisar e antecipar previsões sobre a formação dos saldos de tesouraria?

30. A gestão da tesouraria gera rendibilidade?

31. Que é que se faz quando existem saldos negativos de tesouraria?

32. E se houver excedentes (superavits) de tesouraria, como se procede?

Exercício prático

Relativamente aos Balanços e Demonstrações de Resultados em anexo, da empresa PNTB,sa’, rectificados e respeitantes aos anos (n), (n+1) e (n+2), é necessário efectuar a análise do Equilíbrio Financeiro, da Tesouraria e do Fundo de Maneio Líquido.

Trabalho a Realizar

1. Elaborar o Balanço Funcional e analisar os respectivos indicadores, bem como o mapa analítico da Tesouraria.

2. Fazer a análise do Fundo de Maneio Líquido.

Comentar as condições globais de equilíbrio financeiro da empresa, a partir das contas rectificadas de fecho dos exercícios (n), (n+1 e (n+2).

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V 114

Resoluções

1. O equilíbrio financeiro traduz a interacção e as condições de compatibilidade existentes entre a estrutura financeira e a gestão corrente das diversas funções da empresa, cuja resultante final é a posição de tesouraria.

Equilíbrio financeiro é o ajustamento sistemático e permanente dos fluxos de liquidez e exigibilidade.

2. Constituem bases do equilíbrio financeiro:

As opções respeitantes a produtos, mercados, dimensão do negócio, localização, tecnologia e infraestruturas.

A estrutura de financiamento da empresa (relação entre capitais próprios e alheios, parcela de curto prazo nos capitais alheios e natureza desses capitais).

A evolução do negócio e seus reflexos quanto ao volume e natureza dos activos a financiar e aos recursos financeiros mobilizáveis.

3. O Fundo de Maneio é um indicador essencialmente estável (de mudança lenta) que exprime o diferencial entre as participações de capital (próprio e alheio de médio/longo prazo) e o valor líquido das aplicações em activo fixo

Necessidades de Fundo de Maneio é um indicador essencialmente instável (sujeito às mudanças impostas pela variabilidade dos mercados) dado pela diferença entre o volume dos activos circulantes necessários à actividade (basicamente, existências, crédito a clientes e outros devedores) e o crédito obtido (basicamente, de fornecedores, credores diversos e banca) para os financiar. A tesouraria é a área em que se desenvolve toda a dinâmica de equilíbrio dos fluxos estratégicos (zero liquidez, versus baixa ou nenhuma exigibilidade) e tácticos (liquidez possível, versus exigibilidade contratada)

4. Factores de Natureza Estrutural são as operações que mobilizam origens e aplicações de duração superior a 1 ano.

Factores de Natureza Conjuntural são as operações que, de acordo com as políticas de gestão corrente da empresa, agrupam ‘necessidades de financiamento’ e ‘recursos financeiros’ cíclicos e ligados às operações normais, com duração de curto prazo (inferior a 1 ano).

5. O Fundo de Maneio é um indicador essencialmente estável (de mudança lenta) que exprime o diferencial entre as participações de capital (próprio e alheio de médio/longo prazo) e o valor líquido das aplicações em activo fixo

Necessidades de Fundo de Maneio é um indicador essencialmente instável (sujeito às mudanças impostas pela variabilidade dos mercados) dado pela diferença entre o volume dos activos circulantes necessários à actividade (basicamente, existências, crédito a clientes e outros devedores) e o crédito obtido (basicamente, de fornecedores, credores diversos e banca) para os financiar.

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V 115

6. A tesouraria é a área em que se desenvolve toda a dinâmica de equilíbrio dos fluxos estratégicos (zero liquidez, versus baixa ou nenhuma exigibilidade) e tácticos (liquidez possível, versus exigibilidade contratada).

Tesouraria Líquida = Fundo de Maneio – Fundo de maneio Necessário

7. O Balanço Funcional prepara-se com base no balanço sintético (corrigido) e nas políticas definidas para a gestão de operações correntes (Existências, Clientes e Outros Devedores, Fornecedores e Outros Credores, EOEP e Banca, financiamento normal a curto prazo).

8. O Balanço Funcional prepara-se com base no balanço sintético (corrigido) e nas políticas definidas para a gestão de operações correntes (Existências, Clientes e Outros Devedores, Fornecedores e Outros Credores, EOEP e Banca, financiamento normal a curto prazo).

9. Sim. Pois o mesmo é determinado com base em rubricas que são de mudança lenta.

As origens são constituídas pelos capitais permanentes, (somatório dos capitais próprios com os alheios de médio e longo prazo), cuja exigibilidade é nula ou de prazo alongado.

As aplicações são formadas pelo valor líquido do activo fixo (imobilizado), cuja liquidez é nula, porque se trata de bens de uso, não destinados a venda.

Nota: Quanto menor for a exigibilidade dos capitais alheio e a liquidez dos activos, maior é a tendência de estabilidade dos indicadores do equilíbrio financeiro.

10. Não. A tesouraria é a área em que se desenvolve toda a dinâmica de equilíbrio dos fluxos estratégicos (zero liquidez, versus baixa ou nenhuma exigibilidade) e tácticos (liquidez possível, versus exigibilidade contratada).

11. Quanto tempo decorre entre:

1. A encomenda das matérias-primas e a entrada na empresa;

2. A entrada das matérias-primas e a passagem à produção;

3. A entrada na produção e a obtenção do produto final;

4. A transferência para armazém e a entrega aos clientes;

5. A entrega aos clientes e o pagamento por parte destes.

12.

• O alongamento do ciclo de produção determina maior esforço de financiamento das operações correntes de exploração e sujeita a empresa a condições mais complexas de negociação e controlo.

• Quanto mais dilatados forem os prazos de pagamento concedidos aos clientes, maiores serão as necessidades em fundo de maneio. Situação esta que não depende da empresa mas das condições do mercado.

• Quanto menores forem os prazos de pagamento obtidos dos fornecedores, maiores serão as necessidades de fundo de maneio.

• Quanto maior for o tempo de imobilização dos stocks (de matérias-primas, de produtos em vias de fabrico, de produtos acabados) maiores serão as necessidades de fundo de maneio.

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V 116

13. Os ‘déficits’ de tesouraria têm que ser rectificados, por negociação com clientes e fornecedores, por entrada de dinheiro fresco de sócios, por financiamento bancário, ou através de solução mista das várias hipóteses. Os ‘superavits’ de tesouraria devem ser aplicados, por forma a não constituírem activos sem produtividade.

14. São todas as operações - activas e passivas – que representam liquidez (isto é, são ou poderão vir a ser, meios monetários) e exigibilidade (isto é, obrigatoriedade de pagamento) a muito curto prazo (entre 1 e 30 dias).

15. A gestão da tesouraria é, de facto, a gestão de um stock muito especial da empresa – o dos meios monetários disponíveis.

16. Fundo de maneio líquido é o saldo entre os valores do activo circulante (existências, crédito concedido e disponibilidades) e do exigível a curto prazo (fornecedores, Crédito bancário, EOEP, outros credores).

17. Fundo de Maneio Líquido e Fundo de Maneio são indicadores para os quais se obtém o mesmo valor, com métodos de cálculo diferentes.

18. Demonstração:

Admitindo que:

Activo Circulante – Passivo a Curto Prazo =

Capitais Permanentes – Activo Fixo

Teremos também:

Activo Circulante – Passivo a Curto Prazo =

Capital Próprio + Passivo de médio/longo prazo – Activo Fixo

Donde se verifica:

Activo Fixo + Activo Circulante =

Capital Próprio+Passivo a médio/longo prazo+Passivo a curto Prazo

O que respeita a igualdade fundamental do balanço:

Activo total líquido = Capital Próprio + Passivo total

19. Procedimentos normais de controlo financeiro de curto prazo: efectuar em tempo as cobranças de clientes, fazer os pagamentos a fornecedores, estado e banca, de acordo com obrigações legais e contratos firmados, cobrir os déficits ou aplicar os excedentes.

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20. Política de Concessão de Crédito, Obtenção de Crédito e Rotação das Existências em Armazém.

21. Nas transacções económicas entre empresas, a prática corrente é de conceder crédito, o que significa entregar produtos e serviços em troca de compromissos de pagamento futuro. Deste modo, surge no balanço da empresa, no activo, um conjunto de direitos de recebimento que aqui englobamos sob a designação de Clientes.

22. A política de crédito deverá ser ajustada ao perfil do cliente. As grandes empresas têm processos de decisão hierarquizados e solidez financeira, enquanto os pequenos clientes têm, em geral, situação financeira precária. A maioria das PME está entre estes dois extremos, com potencialidades para concessão de crédito que, em circunstância alguma, poderá ser ilimitado.

Uma decisão de concessão de crédito tem implicações diversas sobre a rendibilidade. É necessário pois, analisá-las para se perceber claramente a necessidade da formulação da política de crédito.

Rendibilidade e comportamentos dos clientes

a.) cliente paga pontualmente: a concessão de crédito permitirá aumentar as vendas e a rendibilidade; a recusa de crédito significaria o inverso.

b.) cliente paga, mas para além do prazo concedido: a concessão do crédito vai implicar gasto de cobrança com consequências negativas na rendibilidade da empresa; se não se lhes conceder crédito haverá redução nas vendas e na rendibilidade.

Nestas situações, é necessário encontrar um ponto de equilíbrio que poderá passar pelo ajustamento das vendas.

a.) O cliente não paga: a concessão de crédito só origina perdas; perda dos créditos acrescida de gastos de cobrança. Nestas situações é mais económico não vender.

23. A análise de um cliente para concessão de crédito, envolve um conjunto de apreciações em que pondera, antes do mais, o volume relativo da operação. São pontuados, em geral, quatro parâmetros: carácter, capacidade, capital, conjuntura.

24. É necessário, com regularidade, proceder a uma avaliação da rendibilidade das vendas condições concretas versus condições definidas) tendo em conta o custo financeiro dos atrasos de pagamento e as provisões para cobranças duvidosas que é necessário criar.

25. A concessão de crédito a clientes deve ser encarada como um investimento, pois representa uma aplicação de recursos.

26. O gestor financeiro intervém neste quadro de responsabilidades repartidas, (e, por vezes, conflituais) para minimizar os valores imobilizados nos diferentes tipos de existências, tendo em consideração a rendibilidade e a liquidez.

27. A gestão do exigível abrange os débitos a fornecedores e a outros credores e os empréstimos a curto prazo.

28. O crédito dos fornecedores não tem um custo explícito, mas também não é gratuito. Embora o crédito de fornecedores seja o mais barato, é frequente haver diferenças nos preços consoante

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IEFP V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental

V 118

se compre a pronto pagamento ou a crédito. Na verdade, isto depende das condições de mercado e deve ser devidamente considerado no relacionamento com os fornecedores.

O atraso nos pagamentos aos fornecedores não só pode originar rupturas nos abastecimentos como o corte nos créditos, implicando, qualquer das situações, custos financeiros e de imagem.

A gestão desta fonte de financiamento merece ser tratada com muita atenção pelas implicações que tem na vida da empresa.

29. Os saldos negativos de tesouraria são, geralmente, mais frequentes que os saldos positivos e, se atingirem um determinado volume, provocam problemas à gestão corrente.

Para financiamento dos déficits de tesouraria recorre-se a instrumentos de curto prazo, disponíveis nas instituições financeiras, sendo, contudo, necessário proceder a uma criteriosa escolha, tendo em conta as suas vantagens e o seu custo.

A posição de tesouraria excedentária é menos frequente que a posição de déficit. Contudo, ocorrem situações pontuais de excesso que é necessário aplicar.

Nota: Um dos objectivos do planeamento financeiro é fazer previsões sobre o saldo positivo ou negativo da tesouraria para que em tempo oportuno a empresa possa aplicar o excedente ou financiar o déficit.

30. Sim.Pois no caso de os excedentes serem de maior dimensão ou frequência, pode encarar-se a aplicação em instrumentos financeiros de curto prazo (Bilhetes de Tesouro e Fundos de Tesouraria, entre outros) cuja rendibilidade, liquidez e risco devem ser previamente calculados, em conjunto com a entidade bancária que coloca esses produtos à disposição do mercado.

31. Para financiamento dos déficits de tesouraria recorre-se a instrumentos de curto prazo, disponíveis nas instituições financeiras, sendo, contudo, necessário proceder a uma criteriosa escolha, tendo em conta as suas vantagens e o seu custo.

32. Para reduzir os excedentes pontuais começa-se, desde logo, por reduzir a mobilização de créditos ou de descobertos bancários. Com efeito, a melhor aplicação de curto prazo é sempre a redução do endividamento bancário. Podem também antecipar-se pagamentos a fornecedores, se se puder beneficiar de descontos financeiros por esse facto.

No caso de os excedentes serem de maior dimensão ou frequência, pode encarar-se a aplicação em instrumentos financeiros de curto prazo (Bilhetes de Tesouro e Fundos de Tesouraria, entre outros)

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V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

V 119

Exercício Prático: Relativamente aos Balanços e Demonstrações de Resultados da empresa PNTB,sa’, devidamente rectificados e respeitantes aos anos (n), (n+1) e (n+2), é necessário efectuar a análise do Equilíbrio Financeiro, da Tesouraria e do Fundo de Maneio Líquido.

Trabalho a Realizar:

1. Elaborar o Balanço Funcional e analisar os respectivos indicadores, bem como o mapa analítico da Tesouraria.

2. Fazer a análise do Fundo de Maneio Líquido.

3. Comentar as condições globais de equilíbrio financeiro da empresa, a partir das contas rectificadas de fecho do

4. exercícios (n), (n+1 e (n+2).

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V. O EQUILÍBRIO FINANCEIRO IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

V 121

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

121

Bibliografia Consultada

BODIE Zvi & Robert C. Merton, Finance (preliminary edition), Prentice Hall, 1998.

BORGES, António e Martins Ferrão, A Contabilidade e a Prestação de Contas, Ed. Rei dos Livros, 1994.

BREALEY Richard A. & Stewart C. Myers, Princípios de Finanças Empresariais, McGraw-Hill de Portugal, 3ªedição, 1998

CAIADO, António Campos Pires, Contabilidade Analítica – um instrumento para gestão, 1ª edição, Lisboa, Rei dos Livros, 1986.

JORDAN Hugues, João Carvalho das Neves, José Azevedo Rodrigues O Controlo de Gestão – ao serviço da estratégia e dos gestores.

LEROY, Michel, Iniciação ao controlo de Gestão, Cadernos da empresa, Ediprisma, 1991.

MENEZES H. Caldeira, Princípios de Gestão Financeira, Ed. Presença, 1999.

MOREIRA J.A. Cardoso, Análise Financeira de Empresas - da teoria à prática, Ed. BDP - Bolsa de Derivados do Porto (IMC), 1997.

NEVES, J. Carvalho das, Análise Financeira - métodos e técnicas, Ed. Texto, 2000.

PILLOT, Gilbert, O Controlo de Gestão, Lisboa, Ediprisma, 1992.

RODRIGUES, José Azevedo e Outros, O Controlo de Gestão – ao serviço da estratégia e os gestores, Lisboa, Cifag/Rei dos Livros, 1990.

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GLOSSÁRIO IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

123

Glossário

A

Actividade

Conjunto de secções homogéneas que produzem um conjunto de produtos/serviços que concorrem para a mesma finalidade.

Activo

Conjunto dos bens e direitos da empresa, expresso no lado esquerdo do balanço.

Amortização

Valor da depreciação de um activo (se relacionada com o imobilizado) ou pagamento por conta (se relacionada com dívida financeira).

Análise financeira

Aplicação de metodologias para dominar, interpretar e caracterizar acontecimentos e previsões relativos ao conjunto dos financiamentos (de origem própria e alheia) à disposição da empresa e aos investimentos (utilizações expressas em activos) que destes são feitas.

Aplicações de fundos

São os aumentos de activos e as diminuições de passivos e de capitais próprios. Designação genérica dos activos, na acepção financeira.

Autofinanciamento

Capacidade de prover necessidades financeiras por meios próprios.

Autonomia financeira

Grau de cobertura assegurado pelos capitais próprios para o investimento global realizado pela empresa, expresso no volume líquido do seu activo total.

B

Balanço funcional

Demonstração financeira através da qual se faz a análise do equilíbrio financeiro da empresa. Quando utilizado no planeamento financeiro com finalidades normativas chama-se ‘balanço esquemático’.

Balanço

Demonstração financeira dos valores patrimoniais da empresa (na terminologia jurídico-contabilística) ou do valor global dos seus investimentos e da forma como foram financados (na perspectiva financeira). C

Capitais alheios

Responsabilidades perante terceiros (emprestadores ou credores da empresa) também designados por Origens financeiras ou Passivo.

Capital circulante

Diferença entre os valores do activo circulante e do passivo a curto prazo.

Capital próprio

O conjunto do capital social, das reservas e dos resultados. Figura, juntamente com o passivo, no lado direito do balanço.

Centro de Custos

Secção homogénea que produz bens/serviços que se destinam indirectamente à obtenção de produtos/serviços destinados ao mercado.

Centro de Investimentos

Secção homogénea em que se produzem bens/serviços destinados ao estudo, desenvolvimento ou realização de projectos de desenvolvimento.

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IEFP GLOSSÁRIO

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental 124

Centro de Resultados

Secção homogénea que produz bens/serviços destinados ao mercado.

Controlo

Função fundamental da gestão, que deve ser exercida a todos níveis da organização com idêntica intensidade.

Controlo Orçamental

Exercício da função 'controlo' pelo 'método orçamental', a qualquer nível de actividade da organização.

Controlo de Gestão

É a extensão/aplicação do conceito de controlo orçamental à globalidade das actividades de gestão da organização, de modo integrado, do topo à base.

Custos

Fluxos financeiros de saída, que exprimem usos ou consumos (de materiais, equipamentos e serviços) directamente relacionados com a produção (de bens e serviços) no âmbito da actividade corrente. D

Demonstração das origens e aplicações de fundos (DOAF)

Instrumento de análise estratégica no qual se explicam as variações dos fluxos financeiros, entre balanços consecutivos.

Despesas

Compromissos de desembolso em que a empresa incorre na aquisição de bens ou serviços, para fins variados da sua actividade.

Desvio

É a diferença 'Real menos Orçamento' que se aplica rubrica a rubrica, no desenvolvimento do método orçamental.

Desvio de 'mix'

É a parcela de desvio em valor que é devida à diferença combinada dos factores 'quantidade-preço', em termos reais e orçamentados.

Desvio de Preço

Á a parcela de 'desvio' em valor, que é determinada pela diferença verificada entre o preço orçamentado e o preço real, ajustada às quantidades reais movimentadas.

Desvio de Quantidade

É a parcela de 'desvio' em valor, que é determinada pela diferença verificada entre a quantidade orçamentada e a quantidade real (seja de materiais consumidos, seja de produtos fabricados, seja de vendas efectuadas). E

Endividamento

Grau das responsabilidades assumidas para com terceiros, relativamente ao montante dos capitais próprios.

Equilíbrio financeiro

Indicador que exprime a relação entra exigibilidade dos capitais que financiam a empresa e a liquidez dos activos que estão a ser financiados.

Estratégia

Orientação seguida pela empresa e estrutura de objectivos que orientam as suas actividades no médio/longo prazo.

Estrutura financeira

Conjunto das origens e aplicações da empresa, traduzido no balanço.

Exigibilidade

Atributo dos passivos da empresa, que se traduz no prazo dentro do qual um valor em dívida tem que ser reembolsado.

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GLOSSÁRIO IEFP

Análise Financeira e Gestão Orçamental Guia do Formando

125

F

Financiamento

Fluxos de entrada de fundos, representativos de responsabilidade para o tomador. Designação financeira genérica atribuída ao conjunto formado pelos capitais próprios e pelo passivo.

Flexibilidade

Atributo que representa capacidade de ajustamento à mudança, sem perdas qualitativas.

Fluxos económicos

Movimentos de bens, serviços e meios monetários, da empresa para o exterior e vice-versa.

Fundo de maneio líquido

Saldo entre os valores do activo circulante (existências, crédito concedido e disponibilidades) e do exigível a curto prazo (fornecedores, Crédito bancário, EOEP, outros credores). Assume valor igual ao do fundo de maneio.

Fundo de maneio necessário

Diferença entre os fluxos financeiros de ‘necessidades’ e ‘recursos’ do ciclo de exploração da empresa.

Fundo de maneio

Diferença entre o valor das participações de capital (próprio e alheio de médio e longo prazo) e o dos investimentos em activo fixo, deduzidas as amortizações. Assume valor igual ao do fundo de maneio líquido. G

Gestão

É o exercício das funções de planeamento, organização, liderança (direcção ou coordenação e controlo, em ambiente sistémico a situação geralmente contingencial.

Grau económico de alavanca

Relação indicativa do risco de a margem bruta ser absorvida pelos custos de funcionamento e pelas políticas de amortizações e provisões.

Grau financeiro de alavanca

Relação indicativa do risco de o resultado operacional ser absorvido pelos custos da política de financiamento, pelos acontecimentos extraordinários que afectem a exploração e pela política fiscal. I

Indicadores

Valores numéricos extraídos das contas, pela aplicação de conceitos e formulações, previamente elaborados, que se podem apresentar em valor absoluto e em valor relativo.Os indicadores em valor relativo são os rácios (do latim ‘ratio’) porque são quocientes de valores absolutos. A designação genérica de rácios aplica-se, no entanto, aos indicadores financeiros de um modo geral.

Investimento

Designação financeira genérica do conjunto dos bens de imobilizado, existências e valores monetários, com os direitos traduzidos em crédito concedido a terceiros, também desi-gnado por activo total líquido. L

Liquidez

Atributo dos activos da empresa, que representa a respectiva aptidão ou capacidade (traduzida por um prazo) de conversão em meios monetários. M

Margem de segurança das vendas

Indicador percentual do afastamento (positivo ou negativo) da facturação, em relação ao ponto morto económico.

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IEFP GLOSSÁRIO

Guia do Formando Análise Financeira e Gestão Orçamental 126

Meio envolvente

Espaço relacional (físico, humano, político, científico, ideológico, social, cultural, tecnológico, de mercado, etc.) Próximo e afastado, em que a empresa desenvolve actividades.

Método Orçamental

Metodologia de gestão apoiada no sistema orçamental que toma como referência os orçamentos de todas as funções da empresa, do topo à base, para determinar e explicitar em unidades monetárias os níveis de desempenho verificados na organização. Facilita o conhecimento da empresa, do negócio e do sector de actividade por parte da estrutura da empresa e caracteriza-se pela intervenção por antecipação, com vistas ao cumprimento eficaz dos objectivos planeados.

Motivações

Disposição profunda e assumida (pelos indivíduos ou pelos grupos) para a tomada de determinadas decisões ou para a realização de tarefas necessárias. N

Necessidades de fundo de maneio

O mesmo que fundo de maneio necessário. O

Objectivos

Quantificação (em unidades de medida, que podem ser inclusive monetárias) escalonada no tempo e apresentada num determinado programa.

Orçamento

Previsão monetarizada dos objectivos a alcançar e dos recursos (humanos, materiais, tecnológicos, etc.) necessários, geralmente aplicada ao curto prazo (máximo 1 ano).

Origens de fundos

Tecnicamente são os aumentos de passivos e de capitais próprios e as diminuições de

activos. Financiamentos (por capitais próprios ou alheios) mobilizados pela empresa. P

Pagamentos

Regularizações monetárias de despesas efectuadas.

Passivo

Conjunto das responsabilidades patrimoniais da empresa perante terceiros (o mesmo que capitais alheios). Figura, juntamente com o capital próprio, no lado direito do balanço.

Planeamento

Função fundamental da gestão exercida com diferentes graus de intensidade aos diversos níveis da estrutura organizacional.

Plano

Formalização necessária dos elementos do planeamento. O Plano tem limite temporal alargado (3 anos geralmente) e contém as bases do orçamento.

Políticas

Orientações ou normativos que se destinam a assegurar a obtenção de determinados resultados, geralmente objecto de previsão orçamental. O orçamento é servido por um conjunto de políticas que se destinam a viabilizar o seu cumprimento.

Previsão orçamental

O melhor e mais actualizado conhecimento técnico de que se dispõe, relativamente ao cumprimento de um programa e ao conjunto de recursos necessários para o realizar.

Programa

Descrição temporalizada e quantificada de objectivos a alcançar num prazo determinado.

Políticas (da empresa)

Orientações normativas da empresa com vistas à obtenção de resultados.

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GLOSSÁRIO IEFP

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Ponto morto económico

Nível de facturação para o ponto morto económico (ou breakeven point): nível de facturação para o qual o resultado de exploração é zero e que exprime o ‘equilíbrio’ entre os proveitos gerados por uma actividade e os custos que lhe são associados, ou limite de actividade abaixo do qual a empresa tem resultados operacionais negativos.

Preparação das contas para análise

Procedimento através do qual se faz a trans-formação das demonstrações contabilísticas em demonstrações financeiras, tendo em vista a obtenção do valor fiel e verdadeiro da empresa em análise.

Proveitos

Fluxos financeiros de entrada, provenientes da venda de bens ou serviços prestados. R

Rácios

Indicadores em valor relativo (em geral quociente ou produto de dois ou mais indicadores em valor absoluto).

Recebimentos

Regularizações monetárias de receitas geradas.

Receitas

Presunção de recebimentos a prazo, traduzida em direitos sobre terceiros.

Recursos financeiros

Crédito obtido de terceiros (em geral, banca, fornecedores, estado ou outros credores).

Rendibilidade

Resultado de um negócio ou actividade, em valor absoluto ou em rácio.

Resultados

Diferença entre proveitos e custos de um negócio ou actividade.

Risco

Expressão quantitativa da verificação de uma determinada ocorrência.

Rotação (de activos)

Relação entre o volume financeiro das vendas num determinado período e um determinado volume de capital aplicado (p.ex., Na globalidade do activo líquido, em stocks, em activos fixos, etc.). S

Simulação

Criação de condições (limitadas) de aproximação a uma determinada realidade, para calcular valores.

Secção Homogénea

Área funcional da estrutura da empresa, na qual se processam actividades de natureza diferenciada. Um departamento ou uma direcção têm diversas secções homogéneas sob a sua alçada (centros de custo e centros de resultados), embora por vezes, um departamento ou direcção possam ter uma só secção homogénea (caso dos centros de investimento).

Solvabilidade

Capacidade da empresa para satisfazer e assumir compromissos no médio/longo prazo. V

Viabilidade

Continuidade assegurada para uma actividade ou negócio, na sua dupla vertente económica e financeira.