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A Economia Brasileira pós-Ascensão Chinesa: Análise Setorial do Padrão de Comércio, dos Impactos sobre o Emprego e das Novas Estratégias Empresariais Relatório de Pesquisa II (IOS/DGB) SÃO PAULO MARÇO/2008 SEDE NACIONAL Rua São Bento, 365, 18º Andar Centro – São Paulo – SP Fone: (11) 3105-0884 / Fax: (11) 3107-0538 [email protected]

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A Economia Brasileira pós-Ascensão Chinesa: Análise Setorial do Padrão de Comércio, dos Impactos sobre o Emprego e das Novas Estratégias Empresariais

Relatório de Pesquisa II (IOS/DGB)

SÃO PAULO MARÇO/2008

SEDE NACIONAL Rua São Bento, 365, 18º Andar Centro – São Paulo – SP Fone: (11) 3105-0884 / Fax: (11) 3107-0538 [email protected]

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INSTITUTO OBSERVATÓRIO SOCIAL

CONSELHO DIRETOR Presidente – Artur Henrique da Silva Santos Diretor Administrativo - Financeiro – Valeir Ertle CUT – Denise Motta Dau CUT – Jacy Afonso de Melo CUT – João Antônio Felício CUT – Quintino Marques Severo CUT – Rosane da Silva CUT – Valéria Conceição da Silva Dieese – João Vicente Silva Cayres Dieese – Mara Luzia Feltes Unitrabalho – Francisco Mazzeu Unitrabalho – Silvia Araújo Cedec – Maria Inês Barreto Cedec – Tullo Vigevani

DIRETORIA EXECUTIVA Presidente – Artur Henrique da Silva Santos Diretor Administrativo - Financeiro – Valeir Ertle Unitrabalho – Carlos Roberto Horta Dieese – João Vicente Silva Cayres CUT – Jacy Afonso de Melo CUT – João Antônio Felício Cedec – Maria Inês Barreto

SUPERVISÃO TÉCNICA Amarildo Dudu Bolito - Supervisor Institucional Ronaldo Baltar - Supervisor do Sistema de Informação

ELABORAÇÃO DO RELATÓRIO DE PESQUISA Alexandre de Freitas Barbosa – Consultor Técnico Douglas Toledo Pesquisa – Assistente de Pesquisa

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A Economia Brasileira pós-Ascensão Chinesa: Análise Setorial do Padrão de Comércio, dos Impactos sobre o

Emprego e das Novas Estratégias Empresariais1 Índice Apresentação.......................................................................................Pag. 5 1.Introdução Metodológica.................................................................Pag.6 2.As Economias Brasileira e Chinesa depois dos Anos 90................Pag.7 3.Evolução das Relações Comerciais entre Brasil e China: uma Análise Setorial................................................................................................Pag.12 4.Evolução da Produção e do Emprego nos Setores Mais Afetados pelo Comércio Brasil-China......................................................................Pag.28 5.O Brasil, a China e as Políticas de Defesa Comercial..................Pag.35 6.As Estratégias Empresariais..........................................................Pag.46 7.Síntese Setorial................................................................................Pag.53 8.É possível Enfrentar o Dragão?.....................................................Pag.55 Bibliografia.........................................................................................Pag.58

1 Texto elaborado pelo Instituto Observatório Social (IOS)

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Apresentação Este é o segundo relatório de pesquisa oriundo do projeto “Ascensão Chinesa e seu Impacto sobre a América Latina e o Brasil: Impactos Setoriais e sobre o Mercado de Trabalho”, desenvolvido pelo Instituto Observatório Social, com apoio da DGB, central sindical alemã. O objetivo desta pesquisa é fornecer um conjunto de informações sobre comércio, produção e emprego para os setores industriais mais afetados pela concorrência chinesa, de modo a permitir uma compreensão mais aprofundada sobre esta nova realidade por parte do movimento sindical brasileiro. Trata-se de um passo importante para que os trabalhadores possam desenvolver ações no plano nacional, regional e internacional que contribuam para atenuar os impactos negativos da ascensão chinesa sobre a produção, o emprego e as condições de trabalho no país. Enquanto no primeiro relatório procurou-se apontar as novas relações econômicas entre a China e América Latina, destacando os diversos padrões de comércio e investimento para alguns países da região, bem como o que isto significa em termos de oportunidades e constrangimentos para a política externa e para as ações do movimento sindical, o presente texto foca na relação entre China e Brasil. Com vistas a explicar como procedemos para a obtenção dos dados, iniciamos o texto com uma introdução metodológica, apresentando com detalhe as bases oficiais do governo brasileiro e das organizações multilaterais utilizadas. Em seguida, apontamos as trajetórias distintas das duas economias durante os anos 90, para, na segunda parte, desenvolvermos uma análise de corte setorial, apresentando uma série de indicadores sobre os impactos da China nos setores onde o Brasil é superavitária – cadeia da soja e minérios – e especialmente naqueles onde o país apresenta déficits comerciais crescentes, quais sejam: têxtil, vestuário, brinquedos, calçados, produtos químicos, eletroeletrônicos e máquinas. No caso dos setores deficitários, apresentam-se também as diferenças recentes em termos de comportamento dos setores de baixo e alto valor agregado. Na terceira parte do texto, apontamos para o desempenho recente dos indicadores de produção e emprego nestes setores, procurando avaliar em que medida pode-se falar de um impacto chinês negativo. Como veremos, a variável independente “China” não é facilmente dissociada do desempenho geral da indústria brasileira, dos efeitos da valorização cambial e de outras variáveis macroeconômicas e das ações implementadas ou postergadas no terreno da política industrial. Na quarta parte do texto, são discutidas as medidas de proteção comercial utilizadas pelo Brasil com relação à China, destacando que estas devem fazer parte de uma estratégia mais ampla de reinserção dinâmica e competitiva da economia brasileira no contexto internacional. Na quinta parte do texto, procuramos construir um esquema de modo a salientar as principais estratégias empresariais mobilizadas pelas empresas nacionais e multinacionais com atuação no Brasil para enfrentar o desafio competitivo chinês.

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Em seguida, uma síntese setorial procura agrupar a evolução das principais variáveis para o período 2000-2005 – em termos de comércio, produção e emprego – para os setores selecionados. Finalmente, procuramos resumir as principais conclusões do estudo, com o intuito de esboçar um quadro mais matizado do desafio que a ascensão chinesa impõe à sociedade brasileira, fugindo das análises extremas que tendem a encarar a China, ora como salvação para o país, ora como responsável por uma futura destruição do parque industrial brasileiro. 1. Introdução Metodológica A intenção desta análise foi apresentar os dados comerciais que possibilitassem um diagnóstico dos setores mais impactados pelas importações brasileiras da China ou nos quais as exportações para aquele país se revelassem importantes. Em linhas gerais, os setores cujos capítulos do sistema harmônico (SH1996 e SH2002) somados correspondessem a mais de 4% do valor total importado pelo Brasil no ano de 2005 foram incluídos na análise. Deste modo, do lado das exportações, os setores analisados e seus respectivos capítulos são: soja, 12; óleos vegetais, 15; minérios, 26; e, por fim, ferro e aço, 72. Do lado das importações, temos os setores e capítulos seguintes: químico, 28 e 29; têxtil, 53 a 60; vestuário, 61 e 62; calçados, 64; eletro-eletrônico, 84; máquinas, 85; e, finalmente, brinquedos, 95. Quando necessário outros capítulos passaram a integrar a pesquisa para efeitos de comparação. Isto ocorreu, sobretudo, para contrastar as evoluções comerciais de matérias-primas e produtos de baixo valor agregado e produtos acabados ou de maior valor agregado, como nos binômios couro-calçado (comparação entre os capítulos 42 e 64) e ferro-aço (comparação entre os itens do capitulo 72 relacionados a ferro e os relacionados a aço). Os dados de comércio internacional foram obtidos da base de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Aliceweb. Essa base de dados apenas informa o comércio bilateral em que uma das partes é o Brasil, e foi utilizada notadamente para os parceiros comerciais China e Mundo. Quando necessário buscar dados do comércio chinês com outro parceiro que não o Brasil, a fonte utilizada foi a base de dados das Nações Unidas, o Comtrade. Na existência de discrepância entre dados de uma e outra fonte, foram utilizados aqueles oriundos da primeira fonte, pois está é a oficial brasileira. A partir de todos os valores coletados, e segundo a metodologia desenvolvida pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp, 2006), toda a pauta comercial bilateral foi desmembrada em códigos NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul), e reagrupada em categorias: pesca, minérios, combustíveis, agrícolas não-processados, agrícolas processados e industriais. Para tentar avaliar a real participação dos importados chineses nos setores em que o superávit deste país com o Brasil é expressivo, foram coletados os valores, disponibilizados pela Fundação de Comércio Exterior (FUNCEX), de penetração das

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importações por setor de atividade. Utilizando a mesma metodologia que a Fundação emprega, foram estimados os valores de um “coeficiente de penetração das importações provenientes da China”. O calculo é feito pela divisão do valor de importação de produtos chineses pelo consumo aparente doméstico. Assim, ambos os valores são calculados por: M’/(V-X+M ) Em que: M’ corresponde ao valor de importação no setor proveniente da China. V é o valor de produção no setor, calculado em preços constantes, a dólares de 2004. X é o valor de exportação brasileira do setor. M corresponde ao valor de importação total do setor. V-X+M corresponde ao consumo aparente. Em seguida foram avaliados, para os setores chave, os níveis de emprego e remuneração média. A fonte utilizada foi oram as bases de dados de Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho e Emprego. Para os dados de produção e emprego também se fez uso dos indicadores de produção e pessoal ocupado assalariado da Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (PIM/IBGE), que se limita às empresas de porte grande e médio (mais de 30 trabalhadores por estabelecimento). Para a descrição de barreiras de comércio foram coletados dados disponíveis do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Departamento de Comércio – DECOM), do Ministério de Relações Exteriores e da Organização Mundial do Comércio. São os níveis tarifários praticados pelo Brasil segundo a Tarifa Externa Comum (TEC) e a lista de exceções a ela. No que diz respeito às políticas de defesa comercial, partiu-se das informações da CAMEX. Para percepção dos padrões de ações empresariais pós-ascensão chinesa, foram realizadas entrevistas exclusivas com José Carlos Guedes, Presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores do Vestuário (CNTV-CUT); com Domingos Mosca, Coordenador da Área Internacional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (ABIT); Humberto Barbato, Presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (ABINEE); Mário Mugnani, Diretor-Executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) e Valter Sanches, Coordenados Internacional da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT). Além de suas falas, as revistas publicadas por suas instituições também foram levadas em conta. O material disponibilizado nos respectivos endereços eletrônicos de outras associações de indústria foi levado em consideração – sobretudo da Associação Brasileira da Indústria de Brinquedos (ABRINQ) e da Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados). Reportagens dos principais jornais do país também foram analisadas e incluídas com a referida referência. 2. As Economias Brasileira e Chinesa depois dos Anos 90

Durante os anos noventa, as trajetórias macroeconômicas de Brasil e China apresentaram comportamentos bastante divergentes. Se, por um lado, ambas as

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economias aumentaram o seu grau de vinculação à economia internacional, pode-se dizer que as políticas de inserção na globalização foram acionadas a partir de um conjunto de premissas e políticas diversas e, às vezes, até opostas. O quadro 1 sintetiza o desempenho das principais variáveis macroeconômicas, de modo a qualificar os caminhos escolhidos e os resultados alcançados por estes dois países no período recente. Quadro 1 – Comparativo do Desempenho Macroeconômico Recente – Brasil X China

Variáveis Macroeconômicas Brasil China Crescimento do PIB per capita (média anual 1990-2003, em %).

1,2% 8,5%

Taxa de investimento média entre 1990-2000 (em % do PIB)

20% 33%

Taxa de crescimento das importações 1990-2003 (média anual, em %).

6,4% 17%

Taxa de crescimento das exportações 1990-2003 (média anual, em %).

6,7% 16,2%

Participação da Corrente de Comércio no PIB em US$ (2001-2003)

28,7% 57,1%

Participação das Exportações de Manufaturados no Total Exportado

52% 91%

Participação das Exportações de Alta Tecnologia no Total Exportado

12% 27%

Participação no total de IEDs mundiais (1997 a 2002)

2,9% 5,3%

Relação Dívida Externa/Exportações (2000-2002)

3,16 vezes 0,52 vez

Renda Per Capita em US$ PPP 7.790 (posição 64) 5.003 (posição 93) Fonte: Pnud, OMC, Banco Mundial e Unctad. Elaboração: IOS.

O que sobressai, em primeiro lugar, ao se contrapor as duas economias é o ritmo de expansão. No período 1990-2003, o PIB per capita chinês expandiu-se quatro vezes mais rapidamente do que o brasileiro (8,5% contra 1,2% ao ano). Enquanto a economia brasileira, ao longo da década de noventa, experimentou um processo de estabilização combinado a uma típica situação de stop and go, jamais tendo crescido a taxas superiores a 4% por dois anos consecutivos; a China tem se destacado por um dinamismo surpreendente do PIB, ancorado em altas taxas de investimento, as quais se explicam por sua vez pela expansão das exportações, pela presença ativa do Estado e pela expansão do mercado interno. Isto tudo num contexto de extrema cautela quanto à liberalização das importações e do mercado de capitais, iniciada no Brasil antes mesmo do Plano Real, enquanto na China esta se deu de forma progressiva após o

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ingresso na OMC, em 2001, e quando o país asiático já se destacava pelo dinamismo exportador. Ou seja, enquanto o Brasil acionou as políticas comerciais, industriais e tecnológicas consideradas “boas” pela economia convencional (Chang, 2004) - e que na maior parte das vezes levam à desindustrialização, dependendo do nível de desenvolvimento produtivo e tecnológico de um país - a China optou pelo seqüenciamento das políticas, adotadas de acordo com as especificidades nacionais, segundo a recomendação de Stiglitz (2002). Ou seja, este país recusou-se a aplicar o pacote do chamado Consenso de Washington (Rodrik, 2006). Em parte devido à opção pela valorização da moeda entre 1994-1998, como mecanismo de estabilização da economia, o crescimento das exportações brasileiras não superou as taxas de expansão das vendas externas apuradas para a economia mundial para o período 1990-2003. Já as exportações chinesas cresceram 2,5 vezes acima da média global, situando-se este país como o 3º maior exportador global em 2004 e perfazendo 6,5% das exportações mundiais. No ano de 2007, a economia chinesa já superou a norte-americana em termos de vendas externas de bens, ocupando a 2ª. posição e representando mais de 8% do comércio mundial, atrás apenas da Alemanha, segundo os dados preliminares da OMC. A título de ilustração, o seu superávit comercial mostra-se 30% superior ao total das exportações brasileiras. Além disso, a China tem realizado um upgrading das suas exportações, das quais 91% são compostas de bens manufaturados e mais de ¼ de bens intensivos em tecnologia, contra percentuais de 52% e 12% para o Brasil, respectivamente (quadro 1). Isso significa que as vendas externas chinesas têm sido acompanhadas de uma melhoria da oferta, enquanto o boom exportador brasileiro de 2004 foi, em grande medida, favorecido pela valorização das commodities. Neste ano, o Brasil apenas voltou ao mesmo patamar de 1,1% do total das vendas externas globais, alcançado em 1989, portanto antes da abertura comercial empreendida por este país. Finalmente, os investimentos externos diretos (IEDs) na China, além de serem mais expressivos, não diminuíram com a queda mundial presenciada pós-2000, ao contrário do Brasil. Em 2003, os fluxos de IEDs para a China representaram 8,5% do total mundial, contra 1,6% para o caso brasileiro, devendo este arrefecimento ao fim do programa de privatizações e ao baixo crescimento econômico verificado no país. A partir do gráfico abaixo, depreende-se que os investimentos das multinacionais no Brasil, de fato, se aproximaram dos aplicados na China em 2000, ano de pico da economia mundial, distanciando-se durante a crise 2001-2003 e também durante a nova recuperação de 2004 a 2006. Somente no ano de 2007, os investimentos para o Brasil responderam à dinâmica global. Ou seja, o ciclo de IEDs depende do movimento endógeno da economia chinesa, enquanto no Brasil se os fatores endógenos contam, eles têm menor primazia do que os exógenos.

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Gráfico 1 – Investimentos Externos Diretos nos Países em Desenvolvimento, Brasil e China, 1991 a 2006

0

50

100

150

200

250

300

350

400

1991‐1996

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

país es  em  des envolvimento china bras il

Fonte: Unctad. Elaboração: IOS. Adicionalmente, e ao menos até 1999, o Brasil conviveu com elevados déficits em transações correntes e níveis de endividamento externo, ao passo que a China se destacou pelo incremento das suas reservas internacionais. Depois de 2004, ainda que o Brasil passasse também a acumular reservas, tendo inclusive revertido o sinal das transações correntes, isto não impediu uma nova valorização do real. A diferença essencial entre os dois países parece residir no nexo entre exportações e investimento, que permitiu ampliar a capacidade produtiva na China, enquanto no Brasil a volatilidade cambial trouxe alterações bruscas nas taxas de crescimento e investimento, recorrendo este país a políticas monetárias rígidas nos anos noventa. Segundo as categorias traçadas pela UNCTAD (2003), a China poderia ser classificada como um país de industrialização rápida, que presencia uma transformação estrutural da sua base produtiva; enquanto no Brasil, se a abertura trouxe no máximo uma desindustrialização relativa (IEDI, 2005), impediu que o país diversificasse a sua base industrial e promovesse um salto de competitividade nos segmentos mais dinâmicos do comércio internacional (Lall, 2005). Portanto, mais que diferenças “naturais” nas estruturas de exportação dos dois países, o que existe é uma profunda assimetria na trajetória das estruturas produtivas, em virtude das opções de política macroeconômica, industriais, educacionais e de investimento tecnológico (Yin, 2006). Não faz sentido, desta forma, culpar o “atraso” brasileiro em relação à China no período recente a dois fatores estanques, como o faz Moreira (2006): de um lado, uma indústria que precisava supostamente ser enxugada para fazer face à concorrência internacional e que enfrentava dotações de fatores produtivos desfavoráveis (favorecendo as atividades intensivas em recursos naturais); e, de outro, um cenário macroeconômico inóspito, no qual se contava com um menor papel do Estado. Isto porque a trajetória de inserção

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externa é não apenas resultado, mas também causa das opções de política macroeconômica. No período recente, a divergência de crescimento entre as duas economias se atenuou. Ainda assim, o crescimento chinês mostra-se superior ao dobro do nacional. Mais importante ainda, as opções de inserção externa divergentes foram inclusive aguçadas (Almeida, 2007). Enquanto o Brasil cresce aproveitando-se do mercado interno, especialmente a partir de 2005, a China aproveita as fronteiras internas e externas de crescimento. Apesar do elevado superávit comercial brasileiro, este tende a apresentar tendência decrescente de 2007 em diante, em virtude da valorização do real. Na prática, o setor externo passa a contribuir de forma negativa para o crescimento do PIB. Paralelamente, o Brasil já a partir de 2007 passa a experimentar novamente déficits em transação corrente. Apesar da forte entrada de capitais, que compensa este resultado negativo, o que importa para a dinâmica macroeconômica é que o setor externo – excetuando algumas empresas e setores bem posicionados internacionalmente ou nos quais se verifica um boom de commodities – cumpre um papel mais passivo do que ativo no processo de formação de capital.

Gráfico 2 – Crescimento econômico Brasil e China, 2004 a 2008

0

2

4

6

8

10

12

2004 2005 2006 2007* 2008*

bras il china

Fonte: ONU. Elaboração: IOS.

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Gráfico 3 – Saldo de Conta Corrente em % do PIB, 2004 a 2008

‐2

0

2

4

6

8

10

12

14

2004 2005 2006 2007* 2008*

bras il china

Fonte: ONU. Elaboração: IOS. * estimativas

3. Evolução das Relações Comerciais entre Brasil e China: uma Análise Setorial

Neste tópico, realiza-se uma análise da evolução da balança comercial brasileira com a China, e depois para alguns setores onde o Brasil aparece como francamente superavitário ou deficitário. Ao se analisar os dados do comércio entre os dois países entre 1998 e 2007, observam-se dois momentos distintos. Um primeiro vai de 1998 a 2003, e um segundo de 2004 até hoje. O primeiro momento é caracterizado pelo dinamismo das exportações brasileiras, que se expandem 400% em termos acumulados, contra uma elevação das importações provenientes da China de 108%. Em 2003, o Brasil possui um superávit de US$ 2,4 bilhões com a China, o qual representa 10% do saldo comercial total do país. É o momento da euforia com relação à China. No momento seguinte, há uma inegável mudança do padrão de comércio. As exportações brasileiras crescem de forma acumulada entre 2003 e 2007 a uma taxa de 122%, enquanto as exportações daquele país para a nossa economia mais do que quintuplicam, indicando uma elevação de 435%. Ao final de 2007, o Brasil já possuía um déficit comercial com a China de cerca de US$ 1,9 bilhão. Ao longo deste segundo momento, passou-se da euforia para o outro extremo: a China é agora encarada como ameaça. Na tabela abaixo, observa-se que os percentuais de crescimento das exportações dos dois países entre si seguem ritmos diferenciados. O Brasil, que vê as suas vendas se elevarem no período 1998 a 2003 a mais de 60% em alguns anos, regride a um patamar de expansão de em torno de 20% ao ano. No período seguinte, de 2003 a 2007, são as

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exportações chinesas que crescem ao menos 40% ao ano, contra uma expansão bem mais frágil antes de 2003. No ano de 2007, o ritmo de elevação das exportações da China para o Brasil foi duas vezes superior do que o movimento inverso, 57,9% e 27,9%, respectivamente. Gráfico 4 – Exportação, Importação e Saldo do Comércio Brasil-China entre 1995 e 2007

‐2000,0

0,0

2000,0

4000,0

6000,0

8000,0

10000,0

12000,0

14000,0

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

E XPOTAÇ ÕE S IMPOR TAÇ ÕE S S AL DO

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS.

Tabela 1 – Variação Real das Contas Externas do Brasil com a China (% com relação ao ano anterior)

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007EXPOTAÇÕES -25,3 60,5 75,3 32,5 79,8 20,0 25,6 23,0 27,9IMPORTAÇÕES -16,3 41,3 8,7 17,0 38,2 72,7 44,3 49,2 57,9SALDO 46,6 -27,6 -519,0 68,5 146,8 -27,5 -14,5 -72,1 -552,8 Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS. Seria uma análise bastante simplista dizer que o Brasil se beneficiava da relação com a China quando tinha superávit e que agora é prejudicado por que apresenta um déficit comercial. Na verdade, o que se precisa compreender são as forças por trás desta mudança nos dados do comércio bilateral. Algumas destas forças já foram enunciadas no tópico anterior. Em primeiro lugar, há a transformação da economia chinesa com a exportação de produtos de cada vez maior valor agregado e sofisticação tecnológica. Em segundo lugar, a economia brasileira voltou a crescer de 2004 em diante, o que revelou a sua dependência com relação ao fornecimento de várias máquinas, equipamentos e matérias-primas industriais, em virtude da especialização regressiva de sua economia ao longo dos anos noventa. Por outro lado, a demanda de bens importados da China pelo Brasil, em grande parte concentrada nos produtos primários, não sofreu mudanças expressivas. O Brasil logra um crescimento vegetativo das suas exportações para a China, para o que contribui também o efeito-preço. O jogo entre estas forças fica mais evidente quando acompanhamos a evolução do comércio entre os dois países por setores de atividade.

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Gráfico 5 – Saldo Comercial do Brasil com a China por Setores de Atividade (em US$ milhões)

‐10.000

‐8.000

‐6.000

‐4.000

‐2.000

0

2.000

4.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

prod. agrícolas prod. agrícolas processados combustíveis industriais minérios

Fonte: Secex/Aliceweb e FIESP. Elaboração: IOS. O gráfico 5 revela um crescimento fantástico do saldo comercial brasileiro com a China de produtos agrícolas e minerais entre 2000 e 2004, de respectivamente 403% e 332%. Neste período, os preços destas commodities dispararam no mercado internacional, enquanto a fome chinesa por alimentos e matérias-primas exigiu a diversificação dos seus mercados de importação. A partir de 2005, os saldos comerciais brasileiros nestes setores continuaram crescendo de forma expressiva, mas a taxas menores. No ano de 2007, o saldo comercial brasileiro com a China em produtos agrícolas (inclusive processados) e minérios chegou a US$ 7,3 bilhões, mais de 10 vezes superior ao verificado em 2000. Por outro lado, a recuperação da economia brasileira, num cenário de defasagem competitiva especialmente nos setores e segmentos de maior valor agregado e de crescente valorização cambial, fez com que as importações industriais da China avançassem de forma espetacular. Entre 2004 e 2007, o déficit comercial brasileiro com a China, em produtos industriais, multiplicou-se por 6, chegando a US$ 9,7 bilhões no ano passado. Uma análise desagregada por tipos de produtos revela que os líderes da pauta de exportações do Brasil para a China – soja e minério de ferro – apresentaram uma elevação em termos de valor comercializado de 997 e 1245% entre 1998 e 2006, respectivamente (gráfico 6). Se tomarmos os 4 principais setores em termos de exportações para a China, a sua participação no total vendido àquele país salta de 48% para 72% no mesmo período (gráfico 7). Junto com esta tendência de crescente concentração da pauta brasileira em alguns produtos exportados para a China, observa-se uma primarização da venda em cada setor, como veremos mais adiante.

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Gráfico 6 – Evolução das Exportações dos Principais Produtos Exportados pelo Brasil para a China (em US$ milhões)

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

em U

S$ m

ilhõe

s

soja minério de ferro combustíveis e minérios ferro fundido e aço

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS. Gráfico 7 – Participação dos 4 Principais Setores nas Exportações do Brasil para a China

(em %)

30,0

35,0

40,0

45,0

50,0

55,0

60,0

65,0

70,0

75,0

80,0

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS. Pode-se também avaliar o quanto a China responde pelas exportações de alguns produtos brasileiros. No caso da soja, a participação da China nas nossas vendas externas, que era de 15,2% em 2000, salta para 31,7% em 2005. No caso do minério de ferro, esta mudança mostra-se ainda mais abrupta: a participação chinesa sobe de 8,4% para 23,6%. Nos dois casos (soja e minério de ferro), neste período de cinco anos, a China respondeu por 43% e 34%, respectivamente, da elevação das exportações

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brasileiras, sem contabilizar o efeito-preço oriundo da elevação da cotação destes produtos em virtude da potente demanda asiática. Tabela 2 – Exportações do Brasil para a China (em US$ milhões) por Produtos e evolução

da Participação Chinesa (em %)

Setores CHINA MUNDO % CHINA MUNDO % CHINA MUNDO %

SOJA 337 2.213 15,2 1.313 4.339 30,3 1.717 5.425 31,7

MINÉRIOS 274 3.255 8,4 774 3.644 21,2 1.892 8.025 23,6

ÓLEOS VEGETAIS 36 908 4,0 24 3.796 0,6 558 7.100 7,9

FERRO E AÇO 39 3.435 1,1 755 4.702 16,0 528 8.549 6,2

TOTAL 1.085 55.119 2,0 4.533 73.203 6,2 6.835 118.529 5,8

2000 2003 2005

Fonte: Comtrade/ONU. Elaboração: IOS. Podemos agora olhar para o outro lado da moeda. Quando avaliamos a expansão das importações brasileiras da China, o que merece destaque não são as importações de produtos intensivos em trabalho (têxtil, vestuário, calçados e brinquedos), ainda que estas importações se elevem em quase 300% entre 1998 e 2006, totalizando cerca de US$ 800 milhões em 2006. Salta aos olhos a expansão das importações brasileiras provenientes da China dos setores mais intensivos em tecnologia (químicos, máquinas e eletroeletrônicos): estas sobem mais de 1.000% no período analisado, para chegar em 2006 a US$ 5,1 bilhões, representando 64,2% das importações totais, contra 9,8% da participação conjunta dos quatro setores selecionados para os intensivos em trabalho.

Tabela 3 – Importações Brasileiras da China (em US$ milhões) por Produtos e Evolução da Participação Chinesa (em %)

Setores CHINA MUNDO % CHINA MUNDO % CHINA MUNDO %

QUIMICO 104 3.844 2,71 210 3.804 5,51 392 5.358 7,32

TEXTIL 24 1.045 2,29 139 782 17,73 318 1.138 27,92

VESTUARIO 87 141 61,82 78 100 78,28 201 227 88,58

CALCADOS 13 49 26,76 23 54 43,28 63 122 51,22

MAQUINAS 209 9.023 2,31 235 7.788 3,02 673 11.620 5,79

ELETROS 275 9.131 3,01 628 6.771 9,27 1.564 10.469 14,94

BRINQUEDOS 42 104 40,85 27 53 51,43 53 129 41,43

TOTAL 1.224 55.839 2,19 2.143 48.282 4,44 4.827 73.600 6,56

2000 2003 2005

Fonte: Comtrade/ONU. Elaboração: IOS. Ainda que a participação chinesa no total das importações brasileiras nos setores intensivos em trabalho tenda a ser mais elevada – 28% no setor têxtil, 41,4% em brinquedos, 51,2% em calçados, 89% no vestuário –, a maior expansão em termos de participação das compras nacionais, e também em termos absolutos, se dá justamente nos setores intensivos em tecnologia. Entre 2000 e 2005, esta passa de 2,7% para 7,3% no setor químico, de 2,3% para 5,8% em máquinas e de 3,0% para 14,5% no setor eletroeletrônico. É também nestes setores que existe mais espaço para aumento da participação, já que os percentuais são menores. Percebe-se também que o maior crescimento da economia brasileira tende a elevar a relevância das importações chinesas de alto valor agregado. Quando se analisa a sua participação no total importado daquele país (ver gráfico 8 abaixo), de fato, percebe-se

Page 16: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

que os momentos de pico se misturam com as fases de expansão da economia (ano 2000 e 2004-2006), alavancadas pela expansão industrial, que exige a importação de bens intensivos em tecnologia do exterior.

Gráfico 8 – Importações Brasileira da China dos Principais Produtos Intensivos em Trabalho e Intensivos em Tecnologia (US$ milhões) e Participação dos Intensivos em

Tecnologia nas Importações deste País (em %)

0

1.000

2.000

3.000

4.000

5.000

6.000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

em U

S$ m

ilhõe

s

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

em %

inte

nsiv

os e

m te

cnol

ogia

intensivos em trabalho intensivos em tecnologia % intensivos em tecnologia

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS.

Vale lembrar ainda que existem diferenças expressivas quando se analisam os fluxos de comércio dos vários segmentos que compõem os setores analisados. Por exemplo, no setor têxtil, 74% das importações brasileiras provenientes da China, em 2006, concentram-se nos segmentos de fibras e filamentos sintéticos. Nestes dois segmentos somados, o aumento das exportações chinesas para o Brasil mostrou-se superior a 37 vezes entre 1998 e 2006. Da mesma forma, 70% das importações de vestuário provêm do capítulo 62 - vestuário e seus acessórios exceto de malha. Por outro lado, ainda que com menor volume de importações, os segmentos de tecidos especiais, tecidos de malha e vestuário e acessórios de malha – capítulos 58, 60 e 61, respectivamente - contam com participação das importações chinesas no total acima da média setorial. Adicionalmente, se as exportações realizadas pela China ocupam fatias cada vez maiores do mercado brasileiro, a participação do que o Brasil importa deste país é irrisória para os produtores chineses. A participação agregada do Brasil nas exportações chinesas saltou de 0,49% para 0,63% entre 2000 e 2005. Em alguns setores, como químico e têxtil ela supera a casa dos 1,5%. Em segmentos como filamentos sintéticos, esta participação atingiu 3,6% no ano de 2005. Ou seja, em termos comerciais, o mercado brasileiro para a economia chinesa é apenas mais um dentre outros.

Page 17: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Gráfico 9 – Participação das Importações Brasileiras no Total Exportado pela China por Setor (em %)

0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

2000 2003 2005

QUIMICO

TEXTIL

VESTUARIO

CALCADOS

MAQUINAS

ELETROELETRONICO

BRINQUEDOS

TOTAL

Fonte: Comtrade/ONU. Elaboração: IOS. Vejamos agora a evolução do saldo comercial do Brasil com a China e do Brasil com o resto do mundo em cada um dos sete setores analisados, têxtil, vestuário, brinquedos e calçados no caso dos intensivos em trabalho; e químicos, máquinas e eletroeletrônicos no que concerne aos intensivos em tecnologia. Ao final, apresentamos um quadro sintético das relações comerciais entre os dois países nestes setores para alguns anos selecionados. Ainda que o Brasil possua um déficit comercial crescente com a China nos setores têxtil, vestuário e de calçados, a importância deste déficit oscila bastante para cada um deles. Por exemplo, no setor têxtil, o déficit comercial com a China salta de forma expressiva entre 1998 e 2006, de US$ -13 milhões para US$ -332 milhões. Entretanto, como este setor ocupa o início da cadeia produtiva, e o país possui deficiências competitivas especialmente no segmento de fibras sintéticas, a participação da China no déficit comercial total do Brasil sobe ao longo do período, mas para se situar na casa de apenas 12%. Em outras palavras, o país apresenta um déficit ainda muito maior com resto do mundo (excluída a China), de US$ -2,4 bilhões no ano de 2006. No setor de vestuário, a situação revela-se bastante distinta. O déficit elevado em 1998 se reduz até 2003, ano a partir do qual volta a se elevar, chegando a um saldo comercial de US$ -184 milhões em 2006. Paralelamente, neste setor, quando se exclui a China, o Brasil destaca-se por apresentar saldos comerciais positivos, ainda que estes decresçam de forma expressiva a partir de 2004, ano em que o superávit quase chegara à casa dos US$ 200 milhões. A queda do superávit comercial do Brasil com o mundo menos China possui duas explicações plausíveis. De um lado, a valorização do real e, de outro, o provável deslocamento do Brasil pela China em outros mercados, especialmente quando

Page 18: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

se sabe que após o ano de 2005, com o fim do Acordo de Têxtil e Vestuário (ATV) da OMC, este setor deixou de ser regulado por quotas.

Gráfico 10 – Saldo Comercial do Brasil com a China, os Demais Parceiros e o Mundo no

Setor Têxtil – 1998 a 2006

-3000

-2500

-2000

-1500

-1000

-500

0

em m

ilhoe

s

SETOR TÊXTIL

BRASIL-CHINA BRASIL-MUNDO BRASIL-DEMAIS PARCEIROS

Fonte: Secex/Aliceweb; Elaboração: IOS.

Gráfico 11 – Saldo Comercial do Brasil com a China, os Demais Parceiros e o Mundo no Setor Vestuário – 1998 a 2006

-200

-150

-100

-50

0

50

100

150

200

250

300

em m

ilhoe

s

SETOR VESTUÁRIO

BRASIL-CHINA BRASIL-MUNDO BRASIL-DEMAIS PARCEIROS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS. No setor de calçados, o déficit comercial brasileiro com a China duplicou entre 1998 e 2006, chegando a US$ -89 milhões ao final do período. Ressalta-se, contudo, que neste setor o Brasil conta com nichos de elevada competitividade, a tal ponto que o superávit com o resto do mundo menos China supera os US$ 1,9 bilhões em 2005. Tudo indica que aqui também o Brasil esteja sendo deslocado pela China especialmente em

Page 19: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

mercados como o norte-americano. De qualquer forma, o déficit brasileiro com a China representa tão-somente cerca de 5% do superávit total brasileiro.

Gráfico 12 – Saldo Comercial do Brasil com a China, os Demais Parceiros e o Mundo no Setor Calçados – 1998 a 2006

-200

300

800

1300

1800

em m

ilhoe

s

SETOR CALÇADOS

BRASIL-CHINA BRASIL-MUNDO BRASIL-DEMAIS PARCEIROS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS. Para o setor de brinquedos, as relações comerciais entre Brasil e China apontam para impactos mais severos. Os déficits, tal como no setor de vestuário, caem entre 1998 e 2003, e se elevam a partir de 2004, favorecidos provavelmente pela valorização cambial do real e pela melhoria do poder aquisitivo nacional. No ano de 2006, o saldo comercial brasileiro com a potência asiática chega a US$ -151 milhões. A particularidade deste caso é que o Brasil apresenta déficit com a China e com o resto do mundo, sendo que a participação do déficit chinês no total do país supera os 90% em 2006. O setor de brinquedos apresenta uma especificidade: a penetração chinesa é global. O país asiático é responsável por mais de 70% da produção mundial (Valor Econômico, 11 de janeiro de 2008). A produção se destina especialmente para os Estados Unidos, seguidos pela União Européia. Estes mercados absorveram, entre janeiro e outubro de 2007, 67,6% daquilo que foi exportado pela China. Por outro lado, no mesmo período, a região que apresentou o maior crescimento nas compras dos brinquedos chineses foi a América Latina: uma elevação de 42,2%, cerca de US$ 390 milhões.

Page 20: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Gráfico 13 – Saldo Comercial do Brasil com a China, os Demais Parceiros e o Mundo no Setor Brinquedos – 1998 a 2006

-200

-150

-100

-50

0

50

em m

ilhoe

s SETOR BRINQUEDOS

BRASIL-CHINA BRASIL-MUNDO BRASIL-DEMAIS PARCEIROS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS. Passando para uma análise dos setores de maior valor agregado, observa-se uma realidade semelhante entre eles. Tanto para a indústria química, eletroeletrônica e de máquinas, o déficit comercial brasileiro com a China se eleva em termos absolutos e percentuais, ou seja, com relação ao déficit total do país. Ressalte-se ainda que estes setores concentram boa parte do déficit comercial brasileiro. Isto não indica necessariamente que a China esteja deslocando de forma generalizada produtores nacionais – o que de fato acontece em alguns segmentos – mas que este país está substituindo fornecedores de outros países. Em muitos casos, inclusive, trata-se de uma substituição entre filiais de um mesmo grupo multinacional. Cumpre também enfatizar que, em vários destes setores, o Brasil não possui capacidade de oferta, e quando o tem, esta não se encontra no mesmo patamar de seus competidores diretos em termos de qualidade e custos. Ainda assim, a crescente participação chinesa, em termos absolutos e relativos, pode dificultar no médio prazo um enobrecimento da estrutura produtiva do país, tornando-a cada vez mais especializada nas atividades de montagem, com baixa agregação de valor. Vejamos agora, com mais detalhe, as especificidades setoriais. No caso do setor químico, contabilizado a partir dos capítulos 28 e 29 do Sistema Harmônico, observa-se um incremento crescente do saldo comercial negativo do Brasil com a China entre 1998 e 2006, situando-se na casa de US$ -500 milhões ao final do período. O déficit brasileiro com a China eleva-se em 364%, contra 31% na relação com o resto do mundo. Enquanto em 1998 a China respondia por 4,3% do déficit comercial brasileiro no setor químico, este percentual chegava a 23,2% em 2006.

Page 21: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Gráfico 14 – Saldo Comercial do Brasil com a China, os Demais Parceiros e o Mundo no Setor Químico – 1998 a 2006

 

-3000

-2500

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-1500

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0

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sSETOR QUIMICO

BRASIL-CHINA BRASIL-MUNDO BRASIL-DEMAIS PARCEIROS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS. Nos setores de máquinas e eletroeletrônicos, este processo se faz sentir de forma ainda mais pronunciada. Cumpre notar que em cada um destes setores incluem-se segmentos e cadeias bastante diferenciadas, sobre as quais o efeito das importações chinesas também se revela bastante variado.

Gráfico 15 – Saldo Comercial do Brasil com a China, os Demais Parceiros e o Mundo no Setor Máquinas – 1998 a 2006

-7000

-6000

-5000

-4000

-3000

-2000

-1000

0

em m

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s

SETOR MAQUINAS

BRASIL-CHINA BRASIL-MUNDO BRASIL-DEMAIS PARCEIROS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS.

Page 22: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Gráfico 16 – Saldo Comercial do Brasil com a China, os Demais Parceiros e o Mundo no Setor Eletroeletrônico – 1998 a 2006

-7000

-6000

-5000

-4000

-3000

-2000

-1000

0

em m

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s SETOR ELETRO-ELETRÔNICO

BRASIL-CHINA BRASIL-MUNDO BRASIL-DEMAIS PARCEIROS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS. A partir da análise dos gráficos acima, percebe-se que, no caso das máquinas, computadas a partir do capítulo 84, o déficit comercial brasileiro com a China eleva-se mais de 100% entre 1998 e 2006, atingindo a casa de US$ 1,1 bilhão no último ano do período. Nos produtos eletroeletrônicos, computados a partir do capítulo 85, o déficit multiplica-se por 12 para o mesmo período, chegando a mais de US$ 3 bilhões em 2006. A participação da China no déficit comercial total do Brasil eleva-se ano após o ano para os produtos eletroeletrônicos, representando 46,8% em 2006. Já no caso de máquinas, esta elevação se mostra mais abrupta. Depois de uma queda desta participação entre 2000 e 2003 – período de desaceleração da economia brasileira -, a participação da China no saldo comercial negativo total do país pula de 0,4% para 39,6%, entre 2003 e 2006. Trata-se de um movimento preocupante, que pode elevar excessivamente a dependência do Brasil com relação à China, além de exportar para aquele país os efeitos multiplicadores do investimento. Seguem abaixo duas tabelas que apresentam a síntese dos processos discutidos neste tópico. Elas apresentam, respectivamente, a evolução do saldo comercial setorial do Brasil com a China e a participação percentual do saldo comercial com a China no que se refere ao saldo total do país.

Page 23: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Tabela 4 – Síntese da Evolução do Saldo Comercial dos Setores Superavitários de Brasil e China (em US$)

Setores 2000 2002 2004 2006TEXTIL -14.256.688 -34.233.465 -157.387.811 -332.214.139

VESTUARIO -35.242.254 -41.154.856 -68.850.188 -183.913.823CALCADOS -19.566.024 -25.457.109 -46.198.777 -89.001.150

BRINQUEDOS -56.989.661 -35.265.386 -66.998.784 -151.235.775MAQUINAS -139.424.154 -54.965.316 -217.965.479 -1.103.315.880

ELETRONICOS -347.775.232 -386.968.509 -1.328.249.553 -3.056.205.196QUIMICOS -153.572.361 -183.129.870 -289.484.999 -496.553.719

SOJA 336.909.570 823.873.242 1.620.226.482 2.429.537.912MINERIOS 231.098.760 381.643.539 1.017.701.010 3.373.783.437

ChinaBR

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS.

Tabela 5 – Participação do Saldo Comercial do Brasil com a China no Saldo Comercial

Total do Brasil (em %) 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

brinquedos 40,5 53,6 77,8 89,6 89,0 122,2 120,7 107,6 93,1têxtil 0,8 0,6 0,8 1,3 1,9 5,3 8,2 9,8 12,1vestuário 60,7 -561,1 -26,5 -48,5 -39,2 -22,3 -35,8 -89,5 343,7calçados -3,2 -1,3 -1,2 -1,1 -1,7 -2,0 -2,5 -4,2 -4,9máquinas 1,5 1,9 2,9 1,7 1,4 0,4 14,0 27,2 39,6eletroeletrônicos 3,6 4,0 5,6 5,1 9,8 17,9 24,7 41,3 46,8químicos 4,3 4,6 7,4 6,2 9,2 12,6 12,0 17,4 23,2 Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS. Importa indicar, finalmente, o processo de primarização das exportações mesmo nos setores em que o Brasil apresenta-se como superavitário com relação à China. Quando se considera a cadeia da soja, por exemplo, observa-se que o Brasil mantém elevados saldos positivos com a China no início da cadeia – ou seja, em grãos – os quais inclusive crescem de 2004 em diante em termos absolutos e relativos: 42% da soja em grãos exportada pela Brasil dirigia-se para a China em 2006. O contrário acontece no segmento de óleos vegetais, onde se agrega mais valor. De 2004 em diante, o superávit brasileiro com a China cai de US$ 496 para US$ 115 milhões. Simultaneamente, a participação da China no saldo comercial total do país nesta etapa da cadeia produtiva cai de 36% para 10% no mesmo período.

Page 24: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Gráfico 17 – Saldo Comercial do Brasil com a China, os Demais Parceiros e o Mundo para Soja em Grãos – 1998 a 2006

SETOR SOJA (EM GRÃOS)

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

1998

1999

2000

2001

2002

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2006

em m

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s

BRASIL-CHINA BRASIL-MUNDO BRASIL-DEMAIS PARCEIROS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS.

Gráfico 18 – Saldo Comercial do Brasil com a China, os Demais Parceiros e o Mundo para

Óleo de Soja – 1998 a 2006

SETOR SOJA (ÓLEOS)

0200400600800

100012001400

1998

1999

2000

2001

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2004

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s

BRASIL-CHINA BRASIL-MUNDO BRASIL-DEMAIS PARCEIROS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS.

Ou seja, nos setores onde se concentram as exportações brasileiras para a China, o Brasil tende a se especializar nos produtos menos processados. O mesmo verifica-se na cadeia do aço. Enquanto os superávits nas exportações de minérios – especialmente de ferro – crescem de maneira exponencial de 2000 em diante, os superávits tanto na exportação de ferro como de aço se reduzem a partir de 2003, em virtude não apenas da queda das exportações brasileiras, como também da elevação das importações brasileiras daquele país. Entre 2003 e 2006, as exportações brasileiras de aço para a China caem 75%, enquanto as importações brasileiras de aço daquele país saltam de praticamente zero para cerca de US$ 35 milhões, um montante ainda reduzido – 5% das compras externas brasileiras deste produto - mas com perspectivas de elevação.

Page 25: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Gráfico 19 – Saldo Comercial do Brasil com a China em Minérios, Ferro e Aço – 1998 a 2006

0

500

1000

1500

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1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

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s

COMPARACÃO MINÉRIOS, FERRO E AÇO

FERRO AÇO MINÉRIOS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS.

No caso da cadeia de calçados, este contraste se mostra ainda mais evidente. Enquanto o Brasil apresenta um déficit crescente com a China no setor de calçados, como já vimos acima, quando consideramos uma das suas matérias-primas, o couro, observa-se um crescimento exponencial do superávit brasileiro, que resvala na casa de US$ 400 milhões em 2006. Como resultado, entre 1998 e 2006, a participação chinesas nas exportações brasileiras de couro, calculada a partir do capitulo 42, multiplicou-se por 10, saltando de 2% para 22%. Gráfico 20 – Saldo Comercial do Brasil com a China em Couro e Calçados – 1998 a 2006

-100

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1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

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s

COMPARAÇÃO COURO E CALÇADO

COUROS CALÇADOS

Fonte: Secex/Aliceweb. Elaboração: IOS.

Page 26: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Um último passo analítico agora se faz necessário. Até então, acompanhamos a participação das importações chinesas no total importado pelo país e o quanto do déficit comercial brasileiro, para estes mesmos setores, pode ser explicado pelo fator China. Falta agora avaliarmos o quanto as compras brasileiras provenientes deste país têm pressionado o mercado interno. Para tanto, calculamos o coeficiente de penetração das importações totais e chinesas por setor. Desta forma, podemos apurar o quanto da oferta interna (ou consumo aparente) do país tem sido abastecido pelos chineses. Quatro questões merecem ser levantadas antes da apresentação dos dados. Em primeiro lugar, como já enfatizamos em outras partes deste texto, o dado setorial oculta uma grande diferença entre os segmentos, havendo aqueles que são mais ou menos afetados. Segundo, os dados podem estar subestimados, já que vários produtos chineses ingressam no país por meio de triangulação com outros países, especialmente no caso dos produtos falsificados. Terceiro, utiliza-se aqui a base de dados da Funcex, cuja delimitação setorial não coincide exatamente com aquela que utilizamos até o presente momento. E, finalmente, os coeficientes de importação tanto gerais quanto da China – ainda que estes mais do que os primeiros – devem ter crescido de forma relevante depois de 2005. Verifica-se que em todos os setores a participação chinesa na oferta industrial brasileira eleva-se forma significativa no período recente. Para a média da indústria de transformação, a participação chinesa na oferta interna sobe de 0,23% para 0,84% entre 2000 e 2005. Em todos os setores destacados – com a exceção de máquinas, onde a diversidade intra-setorial é marcante -, o aumento da participação chinesa é maior do que o verificado para a média da indústria de transformação, já que estes foram escolhidos justamente pela sua presença de destaque nas importações industriais brasileiras. Observa-se que, apesar dos patamares baixos do coeficiente de penetração das importações chinesas no total ofertado pela indústria de transformação, a sua elevação recente contrasta com uma estabilização do coeficiente total de penetração das importações na indústria a um nível pouco superior a 9%. Caso a valorização da moeda pós-2005 tenha contribuído para a elevação deste coeficiente de penetração, tanto total como chinês – hipótese apontada acima -, é plausível se supor que a concorrência chinesa já esteja se fazendo sentir de forma deletéria sobre alguns segmentos específicos.

Tabela 6 – Coeficientes de Penetração das Importações Totais e Chinesas - Indústria de Transformação e Setores Selecionados*, Brasil - 1999 a 2005

(em%)

total china total china total china total china total china total china total china1999 - - 6,90 1,02 5,95 0,19 1,96 0,38 18,91 0,55 23,41 0,21 43,83 1,522000 9,07 0,23 8,17 1,10 6,15 0,20 1,00 0,22 18,39 0,83 18,27 0,18 49,60 2,152001 9,74 0,26 9,21 1,25 5,30 0,37 1,34 0,44 20,07 0,88 20,44 0,29 54,36 2,082002 8,69 0,30 7,86 1,80 5,05 0,52 1,23 0,37 19,43 1,07 17,83 0,21 48,14 3,952003 8,74 0,42 12,52 3,20 5,74 1,01 1,61 0,50 18,42 1,32 15,91 0,25 50,35 6,112004 9,19 0,63 17,38 5,35 5,85 1,25 2,06 0,76 21,50 1,70 14,16 0,41 47,23 7,992005 9,35 0,84 23,70 10,35 5,99 1,59 2,88 1,13 19,45 1,87 14,90 0,61 49,19 11,01

elem. químicos máqu. e tratores equip. eletrônic.ind. transform. calçados têxtil vestuário

Fonte: Secex/IBGE/FUNCEX. Elaboração: IOS. *os valores de produção foram considerados em dólares constantes de 2004.

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Nos setores de calçados e eletrônicos, a participação de produtos chineses no total consumido pelo país já superava os 10% no ano de 2005. Observe-se, entretanto, que o setor de calçados o coeficiente de penetração chinesa é de 10,4% em 2005, contra uma taxa de 23,7% para o coeficiente de penetração total; enquanto nos equipamentos eletrônicos, estas taxas chegam a 11,0% e 49,2%, respectivamente. Ou seja, no segundo caso, a participação relativa da China no total importado é algo menor. Os setores têxtil e de vestuário, apesar de apresentarem coeficientes de penetração total e chinês baixos, em virtude da magnitude do mercado interno, ainda assim merece destaque – especialmente no caso têxtil – a forte elevação do coeficiente chinês. No que concerne ao coeficiente total de importações, este se manteve basicamente inalterado no período, com a exceção do setor vestuário onde este também se elevou, mas a um ritmo menor do que o chinês. Nos setores de maior valor agregado, como elementos químicos e de máquinas e tratores, onde o Brasil apresenta déficits comerciais elevados com a China, o coeficiente de penetração chinês elevou-se mais rapidamente no caso de químicos, mas ainda assim a um ritmo inferior ao verificado pelos produtos eletrônicos. O importante deste exercício analítico é menos o de centrar o foco nos números em si, os quais estão sujeitos a adaptação, de acordo com o corte setorial utilizado. Procura-se, antes, revelar como nas duas pontas da estrutura produtiva industrial do país – setores intensivos em trabalho e em capital – as importações chinesas vem ganhando espaço na oferta interna. A magnitude dos dados apresentados não dá vazão aos comentários apressados de que a ascensão chinesa destruirá a indústria brasileira. Por outro lado, caso este processo ganhe mais fôlego e envergadura, o país corre o risco de conviver com crescente “buracos” na sua indústria produtiva, ou inclusive, no limite, de se converter em distribuidor de produtos semi-acabados em vários segmentos produtivos. Obviamente que a ascensão chinesa, que se faz sentir no Brasil seja pela via do aumento das importações brasileiras, seja por meio do deslocamento das nossas exportações em outros mercados, não ocorre num vácuo. As políticas de juros e câmbio, industriais, de inovação tecnológica e regionais, assim como os acordos comerciais, e a própria política de defesa comercial, acabam influenciando o quanto e de que forma a ascensão chinesa afetará o desempenho produtivo da economia brasileira. 4. Evolução da Produção e do Emprego nos Setores Mais Afetados pelo Comércio Brasil-China Procuramos agora, de maneira sintética, apontar como as tendências acima apontadas, em termos de evolução dos fluxos de comércio com a China, se relacionam com o comportamento da produção e do emprego. Se começarmos pelos setores brasileiros mais positivamente afetados pela emergência chinesa no cenário global, podemos diagnosticar uma forte elevação do nível de emprego em termos relativos. Na cadeia da soja e no setor de minérios, a elevação do emprego entre 2000 e 2005, foi de 153% e 58% em termos acumulados. Ao todo, foram gerados 45 mil e 16 mil empregos nos dois setores.

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Quando analisamos apenas a produção de soja em grão e de minério de ferro, a expansão do emprego entre 2000 e 2005 foi de 314% e 64%, respectivamente. Nestes dois segmentos – onde o impacto chinês se faz mais direto - o total de novos empregos gerados chegou a 36 mil e 10 mil, respectivamente. Apesar de estes dados estarem em alguma medida subestimados, pois se referem apenas ao emprego formal, vale ressaltar que no período de maior volume de vendas comerciais para a China, o país tenha gerado pouco menos de 50 mil empregos diretos para os dois segmentos. Isto se deve ao fato de serem setores bastante intensivos em capital.

Gráfico 21 – Empregos Formais no Brasil na Cadeia de Soja e no Setor de Minérios – Brasil, 2000 a 2005 (Números Absolutos)

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005

SOJA  MINERIOS

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração: IOS.

Não se quer subestimar a importância destes setores em termos econômicos e da contribuição para o saldo positivo das contas externas. Apenas se quer ressaltar o seu limitado alcance em termos de encadeamentos para frente e para trás e o seu baixo potencial de geração de empregos diretos. Em conseqüência, do ponto de vista da estratégia de inserção externa de mais longo prazo, a concentração das exportações – tanto para a China como para o mundo - nestes setores sequer tangencia os problemas estruturais do mercado de trabalho brasileiro.

O contraste com os setores industriais analisados no presente estudo é evidente. Apesar da maior penetração dos produtos chineses, que vimos ser mais vigorosa nos setores de calçados e eletroeletrônicos, todos estes setores se destacaram, até o presente momento, por uma elevação do emprego formal. Quando se somam os setores de baixo valor agregado (setores I) com de elevado valor agregado (setores II), o incremento no nível de emprego em termos acumulados, entre 2001 e 2005, situa-se na casa de 21%. No primeiro caso, foram quase 200 mil novos empregos gerados, enquanto no segundo, pouco mais de 100 mil.

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Pode-se lançar aqui a hipótese de que a combinação de valorização da moeda pós-2004 e entrada crescente de produtos chineses, reduziu o potencial de expansão da produção e do emprego industriais, e afetou, em alguma medida, a capacidade de agregação de valor interno. Como o final deste período – 2004-2005 – coincide com um reaquecimento da demanda industrial interna, este fator compensou os efeitos deletérios da expansão chinesa, que, como veremos adiante, se concentraram em alguns poucos segmentos.

Tabela 7 – Empregos Formais por Segmentos da Indústria de Transformação – Brasil, 2000 a 2005 (Números Absolutos)

2000 2001 2002 2003 2004 2005Têxtil 222.686 216.466 217.894 215.238 234.939 240.860Vestuário 406.128 415.493 438.134 433.769 487.701 514.468Calçados 271.583 281.436 298.313 310.471 356.312 341.398Setores I 900.397 913.395 954.341 959.478 1.078.952 1.096.726Químicos 60.508 61.690 61.868 67.491 74.326 77.323Máquinas 215.703 229.250 242.320 240.110 265.247 272.587Eletroeletrônicos 228.151 221.442 215.146 218.175 247.216 261.571Setores II 504.362 512.382 519.334 525.776 586.789 611.481

26,414,621,2

Variação 2000-2005 (em %)8,226,725,721,827,8

Fonte: RAIS/TEM. Elaboração: IOS. Gráfico 22 – Evolução dos Empregos Formais nos Setores de Baixo e Alto Valor Agregado

– Brasil, 2000 a 2005 (Números Absolutos)

400.000

500.000

600.000

700.000

800.000

900.000

1.000.000

1.100.000

1.200.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005

Setores I Setores II

Fonte: RAIS/MTE. Elaboração: IOS.

Algumas conclusões parciais emergem a partir da leitura destes dados. De fato, ao menos até 2005, dinâmica produtiva destes setores não parece ter sido drasticamente afetada pela expansão das importações chinesas, permitindo uma continuidade na elevação dos empregos. Em segundo lugar, os setores que se expandiram menos – têxtil e eletroeletrônicos – são aqueles onde o Brasil tende a se afirmar como importador da China de matérias-primas industriais e componentes. Isto tende a gerar uma especialização da indústria brasileira em alguns nichos e segmentos.

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Em terceiro lugar, estes dados não captam os efeitos negativos da virada do câmbio, que pode – somado ao fator China – gerar fortes deslocamentos produtivos de empresas atuando tanto no mercado interno como no externo. Agrega-se a este fato, a possibilidade de que os dados de emprego formal da RAIS estejam superestimando os postos de trabalho criados, na medida em que alguns casos houve apenas ampliação da coleta ou mudança de vínculo de trabalhadores do setor informal para o setor formal. De qualquer maneira, de acordo com dados da RAIS, alguns segmentos já apresentaram quedas superiores a mil postos de trabalho formais no período de 2000 a 2005. São eles: tecelagem de fios e filamentos artificiais ou sintéticos, fabricação de tênis de qualquer material, fabricação de produtos farmoquímicos, fabricação de geradores, de equipamentos transmissores de rádio e televisão e de aparelhos telefônicos e sistemas de comunicação. Os efeitos da especialização produtiva – gerando efeitos negativos e localizados no emprego – não são necessariamente negativos. O problema está quando este processo não se encontra resguardado por ações de política industrial, as quais se mostram inclusive questionadas pela forte valorização cambial processada de 2004 em diante. Em síntese, a combinação entre o fator China, valorização cambial acelerada e ausência de política industrial ampla, coerente e de conhecimento dos atores sociais podem comprometer de forma dramática não tantos os empregos existentes, mas a capacidade de geração de empregos no futuro, especialmente nos setores de maior e menor valor agregado afetados pelas importações chinesas. Vale lembra que estes setores industriais agregavam 1,7 milhões de empregos diretos, contra um total de apenas 75 mil empregos no cultivo de soja e na fabricação de minérios de ferro. Ou seja, o potencial destrutivo de empregos nestes setores mostra-se bastante mais elevado do que as perspectivas de incremento de postos de trabalho nos setores onde o Brasil se mostra francamente superavitário. Em termos salariais, observa-se que o setor de minério de ferro se destaca pelos maiores níveis salariais, seguido pelos setores industriais de maior valor agregado, do cultivo de soja e dos setores industriais de menor valor agregado. Paralelamente, o único setor a presenciar ganhos expressivos em termos de salários foi o cultivo de soja, no qual presenciou um aumento do poder de compra dos trabalhadores de 33% entre 2000 e 2005, bastante abaixo dos ganhos em termos de rentabilidade. Ainda assim, o salário médio deste setor, caracterizado por altos níveis de produtividade, situava-se na casa de 2,3 salários mínimos, com altos níveis de dispersão. O setor de calçados e couro presencia também uma elevação de salários, mas a qual se concentra em grande medida no segmento de couro – favorecido pela relação comercial com a China - e que responde por apenas 12,5% dos empregos formais da cadeia. Enquanto os setores de químicos, máquinas, têxtil e vestuário mantêm uma certa estabilidade salarial, o heterogêneo setor de eletroeletrônicos presencia uma queda de

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cerca de 10% dos salários reais, apenas superada pelo minério de ferro, que logra exponenciar suas margens de rentabilidade. Vale ressaltar que nos setores de têxtil, vestuário e calçados, assim como no de soja e minério de ferro, a não-inclusão dos empregos informais, provavelmente superestima tanto o salário médio real quanto a sua elevação. Quando se comparam os setores industriais de menor e maior valor agregado, observa-se que a combinação entre o fator China e a valorização da moeda tende, no longo prazo, a afetar negativamente o nível de emprego e renda dos primeiros, já que são mais intensivos em trabalho; enquanto no caso dos segundos, esta associação é menos direta, podendo ser a maior concorrência em alguma medida driblada pelo aumento do componente importado, o que implica também menor nível de emprego ao longo das cadeias. Em ambos os tipos de setores, uma estratégia defensiva de corte de custos e redução do número de produtos, levando a uma especialização regressiva, tende a ter impactos negativos tanto em termos de emprego como de dispersão dos níveis de salários entre as empresas com diversos níveis de produtividade em cada setor. Tabela 8 – Renda Real Média por Segmentos Produtivos – Brasil, 2000 a 2005 (em reais de

2005*) 2000 2001 2002 2003 2004 2005

soja (grãos) 520 570 556 598 674 691minério de ferro 2373 2339 1929 1915 2108 2073têxtil 801 799 741 753 788 799vestuário 513 507 474 484 496 511calçados e couro 553 567 539 556 581 578químico 2408 2505 2325 2456 2410 2457máquinas 1564 1543 1420 1476 1513 1567eletroeletrônico 1546 1577 1407 1392 1396 1402 Fonte: RAIS/MTE. Elaboração: IOS. * dados deflacionados pelo INPC/IBGE.

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Gráfico 23 – Variação da Renda Média Real por Segmentos Produtivos – Brasil, acumulado de 2000 a 2005 (em %)

-20,0

-10,0

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

soja

calça

dos e

couro

quím

ico

máquin

as têxtil

vestu

ário

eletro

eletrô

nico

minério

de fe

rro

Fonte: RAIS/TEM. Elaboração: IOS. Procedemos agora a um acompanhamento dos dados de produção e emprego destes setores a partir dos dados da Pesquisa Industrial Mensal/IBGE. O dado relevante é que estes dados se confrontam com aqueles apresentados pela RAIS acima. Caso os dados do IBGE estejam mais próximos da realidade, os impactos sofridos pela ascensão chinesa sobre o Brasil tendem a ser maiores, e inclusive dramáticos para alguns setores. Ressalve-se, entretanto, que este não parece ser o caso, já que os dados do IBGE computam apenas o pessoal ocupado em empresas com mais de 30 empregados. Por um lado – ao se tomar como horizonte de análise o período de 2001 a 2007 – os dados de produção física não chancelam o comportamento do emprego tal como apresentado pela RAIS. Em vários setores – à exceção de máquinas e eletroeletrônicos - o nível de emprego RAIS cresce bem mais rapidamente do que a produção segundo o IBGE. Ainda que as delimitações setoriais não sejam exatamente as mesmas, as diferenças se mostram substanciais. Por exemplo, verifica-se um crescimento da produção da indústria de transformação de 24% entre 2001 e 2007. O único setor que se destaca por uma expansão acima da média é o de máquinas e equipamentos. Depois aparecem, com crescimento positivo, mas inferior à média, os segmentos de material eletrônico e equipamentos de comunicação e a indústria química. Os segmentos têxtil, vestuário e de calçados apresentam queda da produção para o acumulado do período, ainda que esta se recupere a partir de 2005 para a indústria têxtil e de 2006 para a do vestuário. Ou seja, aqui a demanda interna compensa a “invasão” chinesa. Já a indústria de calçados presencia uma queda contínua da produção de 2004 em diante, chegando em 2007 a um nível 16% inferior ao apurado em 2001. De outro lado, os dados de emprego do pessoal ocupado assalariado, segundo a base do IBGE, apresentam uma elevação apenas para o segmento de máquinas e equipamentos.

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A indústria de transformação em geral eleva o seu nível de emprego em 3,3% entre 2001 e 2007. O dado relevante é a queda expressiva do emprego, especialmente nos segmentos do vestuário e calçados, chegando esta a 25% e 30%, respectivamente. Se estiverem corretos estes dados – o que parece difícil ao menos na magnitude observada – a pressão competitiva chinesa, somada ao câmbio, já estaria acarretando impactos deletérios no emprego dos setores de menor produtividade do trabalho.

Gráfico 24 – Números-Índices da Produção Física na Indústria de Transformação em

Alguns Segmentos com Ajuste Sazonal (2001=100)

124,1

97,9

88,8

84,1

108,8

151,6

115,6

80,0

90,0

100,0

110,0

120,0

130,0

140,0

150,0

2002 2003 2004 2005 2006 2007

ind Transf.

Têxtil

Vestuário e acessórios

Calçados e couro

Químicos

Máquinas e equipamentos

Material eletrônico/comunicação

Fonte: IBGE. Elaboração: IOS.

Gráfico 25 – Números-Índices do Pessoal Ocupado Assalariado na Indústria de

Transformação e alguns Segmentos com Ajuste Sazonal (2001=100)

103,3

96,4

75,3

69,3

122,2

100,7

65,0

75,0

85,0

95,0

105,0

115,0

125,0

2002 2003 2004 2005 2006 2007

ind Transf.

Têxtil

Vestuário e acess.

Calçados e couro

Químicos

Máquinas e equip.

Mat. eletrônico/comunicação

Fonte: IBGE. Elaboração: IOS.

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Apesar dos resultados contrastantes, pode-se afirmar com algum grau de embasamento empírico, que o nível de emprego nos setores têxtil, de calçados e vestuário tende a sofrer uma pressão baixista, assim como o nível de salários, a se manter a valorização da moeda e o presente foco da política industrial, mantendo-se umas poucas empresas competitivas, justamente aquelas com menor número de empregos com relação ao valor de produção. Os efeitos nocivos, a se concentrarem nas menores empresas, dependentes essencialmente do mercado interno, podem, entretanto, para alguns segmentos, ser contrabalançados pela pujança da produção interna. No caso dos setores químicos, máquinas e eletroeletrônicos, talvez os efeitos nocivos em termos de emprego e renda possam, para alguns segmentos, ser empurrados para o início da cadeia produtiva, especialmente no caso das grandes empresas nacionais e multinacionais. Porém, também aqui tende-se a processar, no longo prazo, um encolhimento da matriz industrial. Os setores de calçados e eletroeletrônicos, os quais já contam com coeficientes elevados de penetração das importações chinesas são aqueles que provavelmente mais serão afetados tanto em termos de destruição de emprego como de capacidade futura de geração de mais postos de trabalho.

5. O Brasil, a China e as Políticas de Defesa Comercial Em termos de proteção tarifária, observa-se que de 1990 em diante processou-se uma transformação radical da política comercial brasileira, reduzindo-se significativamente as barreiras não-tarifárias, assim como o nível e a dispersão das barreiras tarifárias. A tarifa média de importação reduziu-se de 44% para 12,8% entre 1989 e 1994, o que em alguma medida acompanhou o calendário de desgravação do Mercosul, o qual passou a estabelecer uma Tarifa Externa Comum (TEC) para os quatro países do bloco. No ano seguinte, deu-se início a uma “dança tarifária” com o objetivo de compensar a valorização do real, à qual se adicionou o crescente uso de cláusulas de salvaguarda. Entre 1995 e 1999, pode-se falar de um sutil processo de reversão da liberalização comercial (Valls Pereira, 2005). Entretanto, após desvalorização de 1999, as tarifas voltaram novamente a cair, estacionando no nível de 10,4% em 2004 (OMC, 2004). Nos setores industriais, entre 1988 e 1998 as tarifas de importação se reduziram em cerca de 60% em média, concentrando-se as maiores quedas nos setores de produtos de borracha, petroquímica, farmacêuticos e cosméticos, transformados plásticos e vestuário. As menores quedas deram-se na indústria química, automóveis, tratores e ônibus e celulose e papel. Segundo a OMC (2004), a tarifa média praticada pelo Brasil para os bens não-agrícolas era de 10,5%. Acima deste patamar, encontravam-se alguns setores como maquinaria não-elétrica (11,8%), maquinaria elétrica (12,3%), couro, borracha e calçados (13%), têxtil e vestuário (17,2%) e equipamento de transporte (18,5%). Observa-se que boa parte destes setores que contam com proteção acima da média são aqueles mais afetados pela concorrência chinesa. Entretanto, para vários segmentos,

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estas tarifas elevadas – em relação à baixa média tarifária nacional - têm se mostrado insuficientes para conter a substituição do produto nacional pelo importado. Especificamente no caso chinês, a combinação de vários fatores - juros baixos, câmbio relativamente desvalorizado, mercado interno crescente e com elevada escala, intervenção do Estado, políticas industriais e tecnológicas claramente delimitadas, além da mão-de-obra barata - torna este país um poderoso competidor no mercado interno brasileiro, precisamente se levarmos em conta as nossas deficiências em muitos dos aspectos levantados acima. Todos os representantes sindicais e patronais entrevistados para esta pesquisa afirmam que especialmente o câmbio e a ausência de parâmetros de longo prazo para a política industrial enfraquecem a capacidade de concorrência do país frente à ascensão chinesa. Junto com ações sobre as variáveis macroeconômicos e setoriais, torna-se assim imprescindível a adoção de uma política de defesa comercial consistente. Apresentamos abaixo para os setores mais afetados, os produtos que respondem pela maior parte das importações chinesas e as suas respectivas tarifas. No caso do setor químico, estas tarifas tendem a ser mais baixas – inferiores a 10% -, até porque vários dos produtos se referem a componentes utilizados nas suas respectivas cadeias produtivas. Já em máquinas e no setor eletroeletrônico, as tarifas brasileiras impostas à China situam-se geralmente acima de 10%. Tabela 9 – Principais Produtos Importados pelo Brasil da China Por Setor de Atividade e NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul) e a Correspondente Tarifa Externa Comum

(TEC) Produtos Químicos

NCM DESCRICAO US$ % do ncm no setor TEC

29339959 OUTS. COMPOST. HETEROCICL. CONT. CICLO IMIDAZOL. 14.814.239 3,28 2%

28331110 SULFATO DISSODICO ANIDRO. 14.548.116 3,22 10%

29209090 OUTS. ESTERES DOS ACIDOS INORGAN, SAIS, DERIV. 13.201.215 2,92 2%

29336919 OUTS. COMPOST. HETEROC. CICLO TRIAZINA, C/ CLORO 9.294.182 2,06 2%

29034911 CLORODIFLUORMETANO 8.863.977 1,96 10%

Máquinas

NCM DESCRICAO US$ % do ncm no setor TEC

84733041 PLACAS-MAE P/MAQU. PROCESS. DADOS (CIRCUITO IMPRESSO) 44.980.088 5,91 12%

84733011 GABINETE COM FONT. ALIMENT. PARA MAQ. PROCES. DE DADOS 33.024.392 4,34 12%

84733029 OUTRAS PARTES DE IMPRESSORAS/TRACADORES GRAFICOS. 26.849.231 3,53 16%

84733099 OUTRAS PARTES PARA MAQUINAS PROCESSADORES DE DADOS 26.211.840 3,45 8%

84717029 OUTRAS UNIDADES DE DISCOS OPTICOS. 26.030.929 3,42 0%**

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Eletrônicos

NCM DESCRICAO US$ % do ncm no setor TEC

85299019 OUTS. PARTES P/ APARS. TRANSMIS./RECEPTORES. 396.505.665 18,54 8%

85219090 OUT. APARELHOS VIDEOFONICOS DE GRAVACAO/REPRODUCAO. 121.186.164 5,67 20%

85252022 TERMINAIS PORTATEIS DE TELEFONIA CELULAR. 101.972.689 4,77 16%

85299020 OUTS. PARTS. P/ APAR. RECEPT. RADIODIF. E TELEVISAO 90.834.445 4,25 12%

85340000 CIRCUITO IMPRESSO. 69.594.984 3,25 10%

Têxtil

NCM DESCRICAO US$ % do ncm no setor TEC

54075210 TECIDO DE FILAM. POLIES. TEXT >=85%, TINTOS S/ BORRACHA 74.345.394 33,71 26%

54076100 TECIDO DE FILAMENTO DE POLIEST. N/ TEXTURIZ. >=85%. 35.812.339 16,24 26%

54023300 FIO TEXTURIZADO DE POLIESTERES. 18.951.095 8,59 16%

54077200 TECIDO DE FILAMENTOS SINTETICOS>=85%, TINTOS. 10.323.640 4,68 26%

60063200 OUTS. TECIDOS DE MALHA, FIBRAS SINTETET. TINGIDOS 5.264.044 2,39 26%

Vestuário

NCM DESCRICAO US$ % do ncm no setor TEC

62034300 CALÇAS, JARDINEIRAS, ETC. DE FIBRA SINTET. USO MASCUL. 20.405.159 18,19 35%

61103000 SUETERES, PULOVERES, ETC. DE MALHA DE FIBRAS SINTETICA 11.675.010 10,41 35%

62029300 OUTS. MANTOS, ETC. DE FIBRAS SINTET. USO FEMININO 8.295.566 7,40 35%

62019300 OUTS. SOBRETUDOS, ETC. DE FIBRAS SINTET. USO MASC. 7.547.511 6,73 35%

62034200 CALCAS, JARDINEIRAS, ETC. DE ALGODAO, USO MASCULINO. 4.673.237 4,17 35%

Calçados

NCM DESCRICAO US$ % do ncm no setor TEC

64041100 CALCADOS PARA ESPORTES, ETC. SOLA DE BORRACHA/PLASTICO. 27.320.178 33,51 35%

64029900 OUTROS CALCADOS DE BORRACHA OU PLASTICO. 19.635.055 24,08 35%

64021900 CALCADOS PARA OUTROS ESPORTES, DE BORRACHA OU PLASTICO. 9.807.801 12,03 35%

64041900 OUTROS CALCADOS SOLA DE BORRACHA/PLASTICO 6.563.163 8,05 35%

64039900 OUTROS CALCADOS DE COURO NATURAL. 4.719.436 5,79 35%

Page 37: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Brinquedos

NCM DESCRICAO US$ % do ncm no setor TEC

95039000 OUTROS BRINQUEDOS, ETC. PARA DIVERTIMENTO 21.258.283 22,09 20%

95021090 OUTROS BONECOS DE FIGURA HUMANA, MESMO VESTIDOS. 13.580.707 14,11 20%

95034100 BRINQ. COM ENCHIMENTO, DE FIGURA ANIMAL OU NAO-HUMANA. 13.037.781 13,55 20%

95051000 ARTIGOS PARA FESTAS DE NATAL. 6.386.920 6,64 20%

95034900 OUTROS BRINQUEDOS DE FIGURA ANIMAL OU NAO HUMANA. 6.351.452 6,60 20%

Fonte: Aliceweb/MIDC. Elaboração: IOS. * a TEC para o NCM 30063029 é 12%. O Brasil incluiu este item na lista de excecoes, mantendo um tarifa de 0%. ** Este código, pertencente à Lista de Exceções de Bens de Informática e de Telecomunicações, é isento de tarifacao Nos demais setores, justamente aqueles mais intensivos em trabalho, as tarifas tendem a ser maiores, enquanto no setor de brinquedos os principais itens importados pelo Brasil da China apresentam tarifas na casa de 20%. Em 2007, O Conselho de Ministros da Câmara de Comércio Exterior (CAMEX) decidiu elevar a tarifa de importação em grande parte dos itens têxteis, de vestuário e de calçados. Através da Resolução n◦ 40 de setembro daquele ano, a tarifa alfandegária para a maioria dos produtos têxteis passou de 16% para 26%. Vale ressaltar que quatro dos cinco itens que o Brasil mais importa da China no setor estavam entre os que sofreram aumento da barreira aduaneira, mas não os fios de poliésteres, que continuaram com a taxa antiga. Já os outros dois setores – calçados e vestuário - tiveram seus produtos elevados ao limite da tarifa consolidada, no valor de 35%. Embora tenha atingido o teto máximo de tarifação, a decisão não encontrou dificuldade em obter o respaldo necessário do Conselho de Comércio do Mercosul, que autorizou o reajuste através da Decisão 37 de 2007. Somente a partir de então, a CAMEX pôde baixar tal resolução. Na verdade, a Argentina já vinha praticando há um ano e meio a tarifa consolidada nestes dois setores, que também é de 35% para o país vizinho. Segundo reportagem do jornal Valor Econômico, a proteção aos fabricantes nacionais foi justificada pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, a partir da necessidade de proteger a indústria nacional da concorrência desleal. “Notamos a entrada volumosa de produtos estrangeiros, alguns subfaturados. Temos de criar alguma barreira de modo que o produto brasileiro possa sobreviver. Esses setores empregam muita gente e são competitivos. O Brasil não manipula câmbio e não dá subsídios aos exportadores, como fazem alguns países”, explicou o ministro, quem se recusou a citar a China como um dos países responsáveis por importações desleais (Valor Econômico, 25 de abril de 2007). A escolha de uma menor tarifa ao setor têxtil é explicada pelo fato de que este se situa no início da cadeia produtiva e poderia acarretar custos maiores para as empresas de bens finais; exatamente por isto a alteração da tarifa neste ramo foi mais seletiva, pois o Brasil carece de certos fios sintéticos cuja produção nacional é pequena ou menos competitiva.

Page 38: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

A mesma resolução também impôs uma tarifa de 16% para oito itens do setor de máquinas e um item do setor de eletro-eletrônicos, até então não tarifados. Destes, apenas quatro estão na pauta de importações brasileiras da China. Observa-se ainda que dos setores acima analisados as maiores tarifas concentram-se nos setores onde as importações se referem geralmente a bens de consumo finais, como vestuário, calçados e brinquedos. Nos produtos associados a componentes, peças e matérias-primas industriais – localizados nos setores químicos, de máquinas, eletroeletrônicos e têxteis – as tarifas tendem a ser menores. Os setores de máquinas e eletroeletrônicos caracterizam-se, aliás, pela combinação entre produtos finais e componentes. No caso dos componentes e peças, uma avaliação inicial poderia sugerir que a China produz um efeito positivo ao fornecer alguns destes componentes a baixo preço. Isto é apenas parcialmente correto, já que – a depender das prioridades de política industrial – o Brasil poderia estar perdendo a possibilidade de recompor e adensar parte das suas cadeias produtivas. Em virtude dos limites da proteção tarifária para solucionar os gargalos competitivos da economia brasileira, especialmente na concorrência com a China, o país vem fazendo uso crescente de mecanismos não-tarifários de defesa comercial. O exemplo típico são as ações de antidumping. Observa-se que, entre 2002 e 2007, o Brasil elevou o número de medidas antidumping voltadas para a China, as quais se concentram no último ano do período. Existe, portanto, alguma correlação entre a adoção destas medidas e a elevação das importações provenientes daquele país. Ao longo deste período, a China destacou-se como o principal alvo destas medidas, respondendo por 30% do total.

Gráfico 26 – Medidas Anti-Dumping Adotadas pelo Brasil em relação à China

entre 2002 e 2007

0

2

4

6

8

10

12

2002 2003 2004 2005 2006 2007

Fonte: Camex. Elaboração: IOS.

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Gráfico 27 – Principais Países-Alvo de Medidas Anti Dumping Adotadas pelo Brasil entre 2002 e 2007 (em % do total acumulado no período)

29,6

8,5

7,05,64,2

45,1

China Eua Índia Rússia UE outros

Fonte: Camex. Elaboração: IOS.

Gráfico 28 –Evolução das Medidas Anti Dumping Adotadas (Total e China) pelo Brasil

entre 2002 e 2007

2002 2003 2004 2005 2006 2007 TOTALCHINA 4 4 1 2 10 21MUNDO 1 6 9 8 5 18 47

05

101520253035404550

Fonte: Camex. Elaboração: IOS.

Os dados dos gráficos acima não são incongruentes. Quando o último apresenta que a China foi alvo de 21 das 47 medidas - cerca de 45% -, não há inconsistência com o gráfico anterior, que indicava apenas 30% para a freqüência com que o país foi o destino de ação anti-dumping. Isto acontece porque comumente as medidas se referem a mais de um país e, portanto, o número total de medidas é menor que o número de alvos. É interessante ressaltar que se a China tem sido o principal destino de medidas antidumping aplicadas pelo Brasil, ela foi, na maior parte das vezes, alvo de ações individuais – movidas contra apenas um exportador – ao contrário dos países que a seguem. Para o país de Hu Jintao, foram apenas 2 ações coletivas contra 19 ações

Page 40: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

individuais. Já no caso dos Estados Unidos, foram 5 medidas coletivas e apenas 1 individual. Quando se comparam o total das medidas antidumping e aquelas voltadas para a China, observa-se que nos anos de 2003, 2004 e 2007, cerca de 50% das medidas antidumping tiveram a China como alvo. Por outro lado, percebe-se, que do total de medidas antidumping adotadas, apenas 30% se situaram nos setores afetados de forma mais crítica pelas importações chinesas (2 para o setor químico, 2 para o eletroeletrônico e 2 para o setor de máquinas). Os quadros 2 e 3 abaixo apresentam um detalhamento das medidas antidumping adotadas e daquelas em processo de investigação. No caso destas últimas, depreende-se que a China aparece em apenas em 3 da 13 das medidas estudadas.

Quadro 2 – Medidas Anti-Dumping Tomadas pelo Brasil em Relação à China

PRODUTO PAÍS MEDIDA DIREITO APLICADO

VIGENCIA DO DIREITO

1 LAPIS DE MINA DE GRAFITE E DE COR CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

6 - D.O.U. de 12.02.03 201,4% 202,3% 12.02.2008

2 GLIFOSATO CHINA Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

5 - D.O.U. de 12.02.03 35,80% 12.02.2008

3

PNEUMÁTICOS NOVOS, DE

BORRACHA, PARA BICICLETA

INDIA TAILANDIA

CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

37 - D.O.U. de 19.02.03

US$0,08/kg US$0,31/kg

19.12.2008 (Em 19.01.2004, o direito

foi suspenso para Índia)

4 COGUMELOS CHINA Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

36 - D.O.U. de 19.12.03 US$1,05/kg 19.12.2008

5

IMAS PERMANENTES DE

FERRITE EM FORMA DE ANEL (

R )

CHINA Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

15 - D.O.U. de 03.06.04 43,00% 03.06.09

6 CARBONATO DE BARIO ( R ) CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

19 - D.O.U. de 01.07.04 US$ 105,17/t 01.07.2009

7 MAGNESIO METALICO CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

27 - D.O.U. de 11.10.04 US$ 1,18/kg 11.10.2009

8 MAGNESIO EM PO CHINA Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

28 - D.O.U. de 11.10.04 US$ 0,99/kg

9 GARRAFA TERMICA ( R ) CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

22 - D.O.U. de 19.07.05 47,00% 19.07.2010

10 CADEADOS ( R ) CHINA

Aplic. de dir. antidumping def. - Resol. CAMEX n° 38 - D.O.U. de 04.12.01. Em

30/11/06 foi aberta revisão, ficando mantido em vigor o direito enquanto perdurar a

revisão.

60,03% Direito vigorará

enquanto perdurar a revisão

Page 41: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

11 ALHOS ( R ) CHINA

Aplic. de dir. antidumping def. - Resol. CAMEX n° 41 - D.O.U. de 21.12.01. Em

14/12/06 foi aberta revisão, ficando mantido em vigor o direito enquanto perdurar a

revisão.

US$ 0,48/kg Direito vigorará

enquanto perdurar a revisão

12 VENTILADORES DE MESA ( R ) CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

23 - D.O.U. de 28.06.07 45,24% 28.06.2012

13 FERROS DE PASSAR CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

24 - D.O.U. de 28.06.07 US$ 4,82/unid. 28.06.2012

14 TALHAS MANUAIS CHINA Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

31 - D.O.U. de 24.08.07

US$ 114,14/unidade 24.08.2012

15 CHAPAS PRÉ-

SENSIBILIZADAS DE ALUMINIO

EUA CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

43 - D.O.U. de 08.10.07

EUA/Fuji Photo Film Co.Ltd = US$ 5,52/kg Demais = US$ 9,24/kg us$

10,76/kg

08.10.2012

16 ARMACOES DE OCULOS CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

44 - D.O.U. de 08.10.07

US$ 270,56/kg, limitado até as armações com

preço CIF = ou < a US$10,00 por

peça

08.10.2012

17 PEDIVELAS CHINA Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

47 - D.O.U. de 11.10.07 US$ 1,56/kg 11.10.2012

20

PNEUMÁTICOS NOVOS, DE

BORRACHA, PARA BICICLETA ( R )

CHINA

Encerramen. da revisão de meio período com a aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n° 48 - D.O.U.

de 11.10.07

US$1,45/kg 19.12.2008

21 BROCAS DE ENCAIXE CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

55 - D.O.U. de 20.11.07 US$ 33,34/Kg 20/11/2012

22 ESCOVAS PARA CABELO CHINA

Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX no

69 - D.O.U. de 11.12.07 US$ 15,67/Kg 11/12/2012

23 AUTO-FALANTES CHINA Aplic. de direito antidumping definitivo - Resol. CAMEX n°

66 - D.O.U. de 13.12.07 US$ 2,35/Kg 13/12/2012

Fonte: Camex. Elaboração: IOS.

Page 42: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Quadro 3 – Medidas Anti-Dumping em Investigação no Brasil

PRODUTO PAÍS PETICIONÁRIO CIRCULAR DE ABERTURA SITUAÇÃO ATUAL

1 Resinas de Policarbonato

EUA EU Policarbonatos do Brasil

Circular SECEX Nº 02 de

22/01/2007 - DOU de 24/01/2007

Aguardando manifestações após

audiência final.

2 Índigo Blue ALEMANHA Bann Química Ltda.

Circular SECEX Nº 08 de

28/02/2007 - DOU de 02/03/2007

Verificação in loco realizada de 19 a 23

de novembro.

3 Filmes de PET - DUMPING

INDIA TAILANDIA Terphane Ltda.

Circular SECEX Nº 12 de

06/03/2007 - DOU de 08/03/2007

Verificação in loco nos exportadores

marcada para janeiro/2008

4 Filmes de PET - SUBSÍDIOS INDIA Terphane Ltda.

Circular SECEX Nº 13 de

06/03/2007 - DOU de 08/03/2007

Verificação in loco nos exportadores

marcada para janeiro/2008

5 Óculos de Sol CHINA SINIOP

Circular SECEX Nº 65 de

14/09/2006 - DOU de 15/09/2006

Investigação prorrogada por 6

meses pela Circular SECEX Nº 46 de

05/09/2007 - DOU DE 06/09/2007

6 Pêssego em Conserva (R) GRECIA SINDOCOPEL

Circular SECEX Nº 21 de

24/04/2007 - DOU de 26/04/2007

Elaboração de Parecer para

Determinação Final

7 Cobertores de Fibra Sintética CHINA Jolitex

Circular SECEX Nº 36 de

11/07/2007 - DOU de 13/07/2007

Aguardando informações

Complementares

8 PVC-S CHINA

COREIA DO SUL

Brasken

Circular SECEX Nº 53 de

20/09/2007 - DOU de 21/09/2007

Aguardando resposta dos questionários

9 Fenol EUA EU Rhodia Ltda

Circular SECEX Nº 57 de

01/10/2007 - DOU de 03/10/2007

Aguardando resposta dos questionários

10 Fios de Juta INDIA BANGLADESH IFIBRAM

Circular SECEX Nº 62 de

01/11/2007 - DOU de 05/11/2007

Aguardando resposta dos questionários

11 Papel Supercalandrado

EUA FINLANDIA MD Papéis

Circular SECEX Nº 65 de

14/11/2007 - DOU de 19/11/2007

Aguardando resposta dos questionários

12 Nitrato de Amônio (R)

RUSSIA UCRANIA Ultrafértil

Circular SECEX Nº 66 de

20/11/2007 - DOU de 21/11/2007

Aguardando resposta dos questionários

13 Acrilato de Butila EUA Basf

Circular SECEX Nº 71 de

21/12/2007 - DOU de 24/12/2007

Aguardando resposta dos questionários

Fonte: Camex. Elaboração: IOS.

Page 43: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

Cabe avaliar porque os setores mais afetados não têm pressionado pela adoção de medidas antidumping voltadas para a China e por que este país não aparece com destaque nas medidas em fase de investigação, sendo inclusive superado pelos Estados Unidos, primeiro parceiro comercial brasileiro. Tal argumento é, por exemplo, levantado por Renato Amorim (2005), para quem, no ano de 2004, apenas 1,1% do valor total importado pelo Brasil da China esteve sujeito a algum tipo de defesa comercial. Em entrevista recente ao jornal Folha de São Paulo, a diretora de Defesa Comercial do MDIC, Miriam Barroca, defende que “a China não será alvo de acompanhamento ou atenção especial” (Folha de São Paulo, 27 de fevereiro de 2008). Algumas hipóteses podem ser cogitadas para esta pequena participação da ações de defesa comercial contra a China em tramitação. Alguns setores apenas recentemente começaram a cogitar a adoção de medidas antidumping. É o caso das máquinas injetoras de plástico, por exemplo (Mário Mugnaini Jr, entrevista ao IOS, 2008). Em outros casos, como no setor têxtil, vestuário e de calçados, já se logrou elevar as tarifas aplicadas ou foi assinado um acordo de restrição voluntária de exportações. Além disso, um esforço tem sido feito para coibir a prática de sub-faturamento existente na importação destes produtos, a partir de ações de valoração aduaneira. Em entrevista ao Observatório Social, Domingos Mosca, Coordenador da Área Internacional da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção (ABIT), revelou que o ramo vem desenvolvendo uma estratégia eficaz de proteção setorial. A primeira ação refere-se ao acordo bilateral de restrição voluntária das exportações, pois desde o fim do Acordo de Têxteis e Vestuário, dezembro de 2004, o impacto da exportação chinesa deslocou a produção de vários países. A entrada de produtos chineses no Brasil a partir de 2005 foi exponencial. O acordo de restrições abrange oito categorias de têxteis – veludos, tecidos sintéticos, tecidos de seda, suéteres, jaquetas, fios de poliéster texturizado, camisas de malha e bordados - que correspondiam, segundo Mosca, a 65% do comércio têxtil, e vigora entre 2006 e 2008. Mais recentemente, a ABIT vem defendendo a prorrogação deste prazo por 5 anos, até 2013 (Valor Econômico, 19 de março de 2008). De qualquer forma, esta medida pode ser insuficiente, em virtude da migração das fábricas chinesas deste setor para outros países asiáticos. O Brasil, como membro da Organização Mundial do Comércio, efetivou seu direito de tornar eficazes e acionáveis os mecanismos de salvaguardas especiais (um específico para produtos têxteis e outro para os demais produtos) negociados por ocasião da acessão da China à OMC. Não se trata, portanto, de ato meramente protecionista ou agressivo, mas simplesmente o exercício de um direito. A salvaguarda difere de outros instrumentos de defesa comercial porque não exige a comprovação de uma prática desleal, mas a constatação de um prejuízo à indústria doméstica, do qual deriva uma limitação temporária de importações (DECOM, 2005). Além disso, a ABIT selou um convênio com a Receita Federal, o primeiro que a instituição governamental faz com uma entidade de classe. Fruto dessa cooperação, a Operação Panos Quentes II – a anterior ainda não contava com o a participação da

Page 44: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

associação – descobriu fraudes na classificação tarifária. Os técnicos da ABIT passaram a analisar as mostras de tecidos sob suspeita enviados pela Receita. Eles não sabem quem são os importadores ou os produtores, tampouco o que estes haviam declarado para a Receita, e, apenas indicam qual o tipo do tecido e o código NCM sob o qual deveria estar rotulada a entrada na aduana. O órgão então confere se houve ou não o sub-faturamento. A Receita Federal liberou em março, atendendo a pedidos de empresários que vêm sendo prejudicados pelo comércio desleal, o acesso aos dados das importações dos setores mais sensíveis. Os importadores ficam preservados, mas é possível saber o país de origem e outras informações que indiquem pirataria, subfaturamento, dumping e sonegação fiscal (Valor Econômico, 25 de abril de 2007). Desde 2005, a Receita registra um número maior de irregularidades. Naquele ano, 80% das importações de têxteis foram controladas por meio do Canal Vermelho, que indica conferência física das mercadorias. Entre 2004 e 2007, o percentual de irregularidades foi de 2% para 7%. A média de preço aumentou 76%, isto é, de US$ 8,5 e passou para US$ 14,5, valor mais próximo do americano e do argentino, respectivamente USS 15,4 e US$ 17 (Valor Econômico, 14 de fevereiro de 2008). Por fim, a entidade está preparando ainda medidas antidumping para fibra de viscose, fios do mesmo material, tecidos de malha contendo sintéticos, tecidos sintéticos e denim. O representante da ABIT ressalta a eficácia dessas medidas se comparadas às salvaguardas: enquanto estas medidas duram cinco anos e podem ser renovadas por igual período, a salvaguarda no setor têxtil pode ser movida contra a China até 2008, e depois disso uma medida desta tem que ser aplicada a todos os parceiros comerciais. E mesmo que o Brasil possa entrar com salvaguardas gerais, inclusive para o setor têxtil e vestuário, até 2013, este expediente tende a sofrer retaliações do governo chinês (Amorim, 2005). Por outro lado, todo e qualquer membro da OMC pode adotar medidas anti-dumping, tratando a China como economia não predominantemente de mercado até 2016. É importante lembrar que o reconhecimento da China como economia de mercado, conferido pelo Brasil em novembro de 2004, por enquanto vale apenas como sinalização política. Para que tal decisão seja formalizada, faz-se necessária uma regulamentação por parte da CAMEX, o que não aconteceu até o presente momento. Ou seja, na prática, o Brasil vem adotando medidas antidumping sob o modelo antigo (sem o referido reconhecimento). Os chineses, caso discordem desta interpretação, devem apresentar nos setores visados pelas medidas antidumping que os mesmos atuam de acordo com as regras de mercado (Aguiar, 2007). Por outro lado, o país vem se eximindo de adotar salvaguardas contra a potência asiática. Este acordo implícito parece ser mais efetivo do que os tratados assinados. Em síntese, a China aceitou os acordos de restrição voluntária de exportações ao mercado brasileiro para evitar que o Brasil usasse o mecanismo de "salvaguardas", previsto no contrato de adesão dos chineses à OMC. Tudo indica, portanto, que antes de acionar o mecanismo de salvaguardas, o Brasil deve esgotar as dimensões jurídica e policial disponíveis internamente e abrir consultas governamentais para produtos considerados sensíveis (Amorim, 2005).

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No caso dos brinquedos, em que também há um acordo no âmbito do setor privado para limitar as vendas chinesas a 40% do mercado brasileiro, há divergências entre os dois países sobre a melhor forma de contabilizar a origem das mercadorias que ingressam no mercado brasileiro (Valor Econômico, 30 de agosto de 2007). Muitos produtos chineses entram no Brasil como se fossem de outra procedência. No caso das medidas antidumping para escovas de cabelo, alto-falantes e peças de pedal bicicleta, estas foram movidas após terem fracassado as negociações dos acordos de restrição voluntária entre os governos brasileiro e chinês. Os chineses, em contrapartida, pretendem cobrar do governo brasileiro a regulamentação da decisão de reconhecer a China como uma economia de mercado. Se realizado formalmente esse reconhecimento, o Brasil terá de adotar procedimentos mais rígidos para baixar barreiras antidumping contra bens chineses. Por outro lado, o governo brasileiro alega que no acordo com os chineses eles se comprometiam a adotar medidas favoráveis - o que não ocorreu - como a eliminação de restrições sanitárias à compra de carne brasileira e a realização de fortes investimentos em infra-estrutura em território brasileiro. No âmbito do memorando de entendimento, assinado pelos dois governos em 2004, o Brasil acreditou que a concessão de vantagens econômicas à China permitira ter acesso a vantagens políticas que não se configuraram. Paralelamente, o sentido dos fluxos comerciais passou a se voltar contra o Brasil. Apesar de ter colocado a relação entre os dois países num novo patamar, o governo Lula parece ter subestimado as desvantagens da relação com a China e superestimado as vantagens, que existem, mas dependem de um elevado esforço diplomático e de integração entre os setores produtivos (Barbosa e Mendes, 2006). 6. As Estratégias Empresariais Se o fenômeno China revela-se de difícil compreensão, um dos motivos que contribui para tanto é o fato de que os impactos da ascensão do país asiático sobre o Brasil se apresentam de modo diferente para cada setor. No caso dos setores afetados de forma positiva pela balança comercial, as empresas brasileiras têm montado escritórios comerciais na China, de modo a melhorar as relações com os distribuidores dos seus produtos. Quanto aos setores para os quais a balança bilateral é desfavorável ao Brasil, o quadro se mostra bastante mais complexo, envolvendo um conjunto de estratégias empresariais diferenciadas. O quadro abaixo apresenta uma tipologia de seis estratégias empresariais distintas. Muitas empresas procuram reduzir os gastos com a folha de pagamento, evitando benefícios assegurados por lei, optando pela precarização ou então migrando para pólos internos onde os custos salariais são inferiores. Há também aquelas que deixam de investir em novas plantas em território brasileiro e partem para a China perseguindo os fatores que julgam ser a chave do sucesso asiático. Entre os extremos, existem ainda as empresas que buscam beneficiar-se dos preços baixos de bens intermediários e importá-

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los, utilizando poucos insumos nacionais e aproximando-se cada vez mais do perfil de uma empresa maquiladora. Verificamos, assim, ao menos quatro tipos de estratégias empresariais, quais sejam: migração interna, plataforma de exportação, quase-maquiladoras, migração externa e ajuste defensivo com precarização. Em entrevista ao Observatório Social, José Carlos Guedes, Presidente da Confederação Nacional do Trabalhadores do Vestuário (CNTV), revelou que a principal ação em resposta à pressão chinesa é diminuir o custo final de produção e assim apresentar produtos mais competitivos ao mercado. Dos três ramos que a CNTV abrange - têxtil, vestuário e calçados - esse fenômeno é mais acentuado no último. Empresas calçadistas representam a maioria dos casos de migração interna. A Alpargatas São Paulo S.A., dona da marca Havaianas, fechou a fábrica em São Paulo, transferiu investimentos para a Paraíba no segundo semestre de 2005 e aumentou a planta de Campina Grande. Em seguida, a empresa - que fabrica também as marcas Topper, Rainha e tem as licenças de Mizuno e Timberland - investiu nas plantas de Santa Rita, João Pessoa, Mogeiro e Ingá todas na Paraíba. Ao todo, a produção no Estado duplicou e a Alpargatas tinha prometido cerca de 6.000 novas contratações até o fim de 2007 ao governo do Estado da Paraíba, quando das negociações, em troca de benefícios fiscais. Esses números são informados pela Governo da Paraíba2, quem também anunciou que o investimento esperado é de mais de 100 milhões (A UNIÃO, 2006). A empresa anunciou investimento de R$ 39 milhões em ampliação das plantas, dos quais R$ 25 milhões iriam para a fábrica de Campina Grande e o restante para as unidades de Santa Rita, na potiguar Natal e na gaúcha Veranópolis (Valor Econômico, 14 de dezembro de 2004). Além da Alpargatas, outras empresas transferiram ou aumentaram suas plantas na Paraíba, como Moinho Tambaú, Coteminas, Lupo e Dakota. Destas, as três últimas vêm reforçando a tendência no setor ressaltada pelo presidente da CNTV. De acordo com a matéria do Valor Econômico, o governo estadual afirma que os investimentos somados atingiram R$ 637 milhões e asseguraram a geração de pelo menos oito mil empregos diretos e indiretos. O exemplo abaixo revela que não se trata de uma tendência isolada. Desde que a Vulcabrás assumiu o posto de controladora da marca, a Azaléia vêm dando sinalizações de ações no mesmo sentido. A marca contará com mais sete pavilhões industriais no interior da Bahia. Serão cerca de R$ 30 milhões em investimento no complexo de Itapetinga. Para Milton Cardoso, Presidente da Vulcabrás e também da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), somente a centralização das folhas de pagamento deve gerar uma economia de R$14 milhões até o fim de 2008 (Valor Econômico, 17 de janeiro de 2008). O Ceará também recebeu unidade da Dakota, em Quixadá.

2 A informação consta no endereço eletrônico do Diário estadual, www.auniao.pb.gov.br, em artigo intitulado “Alpargatas contrata mais 868 funcionários”, de 11 de maio de 2006. Última consulta em 28 de fevereiro de 2008.

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O presidente da CNTV cita ainda o caso da Valisère. “Eles vêm reduzindo o número de empregos em algumas plantas daqui [da região Sudeste]. Alegam que estão freando a produção. Mas a produção no Nordeste aumentou... é que outras regiões aceitam salários de 1/3 e ausência de benefícios”. A primeira planta da empresa fora de São Paulo começou a produzir em setembro de 2006, mas foi concluída apenas um ano depois. O investimento total é de R$ 22,2 milhões. Uma das líderes no mercado de moda íntima, a empresa tinha até então quatro unidades no interior paulista que produziam 1 milhão de peças por mês, e contavam com 2 mil funcionários. Por outro lado, alguns empresários optaram por escalar o muro, de modo a aproveitar as mesmas vantagens competitivas de seus concorrentes. Esta nova postura tem se revelado uma tendência mundial (Valor Econômico, 10 de janeiro de 2008). Vejamos alguns exemplos destas estratégias que denominamos de plataforma de exportações. Segundo esta matéria de 10 de janeiro, “a Teka teria tentado durante anos lutar contra os chineses, mas diante da força dos asiáticos e do dólar em queda, a tradicional fabricante brasileira de cama mesa e banho decidiu se juntar a eles”. A previsão de Marcello Stewers, diretor de exportações e relações com investidores da empresa, é de atingir 8% do faturamento de 2008 com importados provenientes das filiais asiáticas. A China aparece para a Teka como um pólo produtor de toalhas de banho. A Índia e o Paquistão também são importantes centros visados por essa nova estratégia da empresa. O Brasil e a Alemanha são os principais compradores das exportações das unidades asiáticas da Teka. Já a Santista anunciou que vem estudando a possibilidade de produzir na Ásia, embora ainda não tenha citado possíveis países que a abrigariam. Paralelamente, algumas empresas calçadistas começam a trilhar pelo mesmo caminho. Mais alguns exemplos. A empresa têxtil São Carlos também conta com produção asiática, embora a participação chinesa no montante asiático seja bastante menor se comparada ao caso da Teka. A empresa paulista, entretanto, investe no oriente a mais tempo. Outra empresa nacional, a Karsten, produz na Ásia. O plano da empresa, segundo a mesma matéria, é ampliar seu mercado brasileiro e consolidar-se para, em seguida, contar com uma planta asiática que suporte as exportações. Para Milton Cardoso, Presidente da Abicalçados, “se o governo não defender os interesses do Brasil, as empresas vão resolver os problemas das empresas e não do Brasil”. O grupo que controla as marcas West Coast e Cravo e Canela – que há 20 anos fabrica em Ivoti (RS), e nunca havia produzido um par de sapatos sequer fora do país – terceirizará parte da produção em uma planta na Índia. Já a Strada Shoe, que tinha a totalidade de sua produção voltada para o mercado externo produzida no Brasil, passou a fabricar na China há dois anos. Atualmente, possui quatro unidades no Brasil e cinco na China. Outro caso digno de nota é a entrada da Coteminas na China. A indústria mineira se fundiu à americana Springs Mill, principal fornecedora da rede de hipermercados Wal-Mart. A transação deu origem à Springs Global, quem deve fornecer toda a linha de cama, mesa e banho com o logo da rede varejista. Seria insensato manter a produção baseada no Brasil ou Estados Unidos e exportar para o país asiático, onde o Wal-Mart recentemente começou a funcionar. Mas aqui já estamos falando de uma outra

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modalidade - a migração externa -, pois a empresa decide transferir parte da produção para a China em busca de seu mercado interno. Algumas empresas multinacionais brasileiras apresentam essa ação estratégica. O fenômeno China figura para elas como a oportunidade de se lançar rumo a um mercado interno que se destaca pelo crescimento exponencial. Empresas como a Embraco, Embraer, Marcopolo e Weg não quiseram perder a oportunidade de conquistar uma importante parcela do mercado asiático. Para isso, tiveram que montar plantas na China, submetendo-se às condições impostas pelos chineses. A Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A., a Embraer, anunciou no dia 19 de fevereiro na feira do ramo – a Singapore Airshow 2008 – que a região da Ásia-Pacífico deverá demandar 1,27 mil aeronaves regionais nos próximos 20 anos, uma movimentação de cerca de US$ 42 bilhões. As estimativas são baseadas “num ambiente econômico positivo e de maior acessibilidade ao mercado para novas empresas” (Valor Econômico, 20 de fevereiro). A empresa brasileira realiza suas produções asiáticas na unidade Harbin Embraer, e tem como sócia a China Aviation Industry Corporation II, a Avic II, sendo seguida por outras multinacionais, como a Cessna Aircraft Co., da Textron Inc, dos Estados Unidas, primeira fabricante americana de aviões a transferir a produção completa de uma aeronave a um parceiro chinês, a Shenyang Aircraft. Outra estratégia é a utilizada pelo que chamamos neste estudo de quase-maquiladoras, que ocorre com bastante freqüência nos segmentos eletroeletrônicos e de máquinas, e tanto por empresas nacionais como multinacionais. Muitas unidades procuram assim elevar a sua lucratividade, ao importar determinados bens intermediários chineses a preços comparativamente baratos, ao invés de comprar de fabricantes nacionais. Isto não é inédito, nem a China o único país de origem de tais produtos. O problema surge quando a importação de um item é de tal monta que causa um definhamento da produção nacional. A unidade da Phillips de Manaus, por exemplo, tem grande parte de seus componentes oriundos de suas filiais chinesas. A estratégia é importar os bens intermediários e montar a peça final, com vistas ao mercado interno e os vizinhos da América do Sul. Não somente ela tem se destinado a isso, mas também outras. Para Humberto Barbato, presidente da ABINEE, “transferir as unidades para a China no setor [de eletro-eletrônicos] não é desejável... Faz parte da estratégia global se manter aqui e em pontos relevantes. Por outro lado, não vemos novidades, apenas montagem. Há tempos que não se inaugura aqui uma indústria de eletro-eletrônicos” O principal exemplo desse fenômeno, confidenciou Barbato em entrevista ao Observatório Social, é a indústria nacional de semi-condutores, essencial a todo produto eletrônico, mas que consegue atender apenas cerca de 2% da demanda interna. Todo o resto é importado, grande parte da China. Mas esse é um nicho estratégico, do qual um país não pode prescindir. Portanto, mesmo que os dados de produção e emprego indiquem um crescimento, o decréscimo do valor agregado internamente é camuflado pela expansão econômica. Mario Mugnaini Jr., Diretor Executivo da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), segue na mesma toada: “corremos o risco de nos transformarmos em meras montadoras!”. Este processo possui muitas nuances. Por isso, a ABIMAQ montou escritório na China.

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A presença da Associação no país asiático se deve a vários propósitos, dos quais um dos mais importantes é uma pesquisa de preços, qualidade e origem, de alguns dos componentes com destino ao Brasil. O escritório é também conveniente para assessorar algumas empresas nacionais que se instalaram na China e para observar nichos nos quais a presença brasileira poderia aumentar. No setor de máquinas pesadas, a “informática embarcada” - componentes tecnológicos importados para a montagem no Brasil – compete com a indústria nacional e oferece custo final menor ao empresário, quem opta gradativamente mais por peças e equipamentos importados. Uma quinta estratégia empresarial pode ser observada. É o caso das multinacionais que têm plantas no território nacional, mas se viram diante da decisão de retirar parte dos investimentos e migrar para a China, arcando com todos os custos de transação e possível perda de mercado local e regional, ou de manter suas unidades, mas elevando os níveis de lucratividade. Na verdade, a China aparece muitas vezes, no discurso destas empresas, mais como ameaça fictícia do que como um elemento concreto. É o caso da ThyssenKrupp e da Gerdau em suas duas novas plantas, as quais contaram com concessões que o governo não estaria disponível a realizar em situações anteriores. Para Mugnaini Jr., “foi uma escolha triste, mas fácil: podíamos ter um índice de nacionalização baixo e ter que importar grande parte dos bens intermediários, ou então não ter nada em investimentos”. Esse perfil pode ser mais bem delineado a partir do caso da nova planta que a ThyssenKrupp construirá em Sepetiba (RJ), a ThyssenKrupp CSA Companhia Siderúrgica. A construção da ThyssenKrupp CSA Companhia Siderúrgica é anunciada pela empresa como o maior investimento privado da última década. A planta será a maior unidade industrial do setor no Brasil, e, a partir dela, o grupo alemão prevê aumento da exportação brasileira em aço em 40%. O projeto da Companhia Siderúrgica Atlântica figura para a ThyssenKrupp Steel como “elemento chave na estratégia de crescimento global”. No Brasil, a ThyssenKrupp AG, de quem a Steel é um dos cinco segmentos, é representada por 22 empresas e cerca de 13.000 funcionários e o país é o primeiro mercado da ThyssenKrupp na América do Sul3. O projeto da CSA pertence majoritariamente à ThyssenKrupp Steel, com 90% - o restante é de sua sócia, a Companhia Vale do Rio Doce, quem abastece as unidades da TK há mais de 50 anos. A área total da planta será de 9 milhões de m², no Distrito Industrial de Santa Cruz, na Baía de Sepetiba (RJ)4. A configuração do complexo siderúrgico conta com uma coqueria, uma termelétrica, terminais marítimos e uma usina de placas, em um investimento de € 3 bilhões a ser terminado em março de 2009. O fluxo de produção inicia-se com a compra de minério 3 As informações sobre a ThyssenKrupp AG e suas relações com Brasil foram retiradas do endereço eletrônico do grupo: www.thyssenkrupp.com; última consulta em 28 de fevereiro de 2008. 4 As informações sobre a ThyssenKrupp Companhia Atlântica CSA foram retiradas do endereço eletrônico: http://zeus.e-hunter.com.br/csa_site; última consulta em 28 de fevereiro de 2008.

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de ferro de Minas Gerais e importação de carvão mineral; após o primeiro passar pela sinterização e o último pela coqueria, o processo é conduzido do alto-forno para a aciaria, onde é feito o lingotamento. Por fim, as placas de aço de 900-2.000 mm de largura e 6-12 m de comprimento partem para o terminal portuário, das quais aproximadamente metade do volume irá para a Alemanha e a outra metade para o NAFTA. A capacidade de produção da planta será de próxima de 5 milhões de toneladas por ano. A empresa afirma que vem dando prioridade, na fase de implementação, para a geração de empregos locais. Uma média, segundo a empresa, de 10 mil empregos diretos, com um número de até quatro vezes mais empregos indiretos. A previsão é de R$ 4 bilhões em compras e serviços no Brasil. Já para a fase de operação, serão 3.500 empregos diretos e uma estimativa de R$ 250 milhões por ano em compras e serviços no Brasil. É por conta deste volume de investimento prometido, da expectativa de aquecimento de certos setores em função do abastecimento da planta, do fluxo de comércio e geração de divisas que o governo se esforçou em atrair a indústria. A TK Steel já começou a levar funcionários para treinamento tecnológico na Alemanha, e outros passaram por aperfeiçoamento na Gerdau Açominas, Usiminas e CVRD. A empresa também informa apoiar os programas de especialização do SENAI, de onde já admitiu aproximadamente 550 trabalhadores. Mas esta é apenas uma parte da estória. No Encontro da Rede Nacional dos Trabalhadores na ThyssenKrupp, realizado nos dias 06 e 07 de dezembro de 2007, ficou claro que a preocupação dos trabalhadores das outras plantas brasileiras – e também dos trabalhadores da rede alemã – com o novo projeto se relaciona com a China. Segundo Valter Sanches, Coordenador da Área de Relações Internacionais da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM-CUT), nem os trabalhadores da rede tampouco a CNM foram avisados pela empresa da intenção de trazer mão de obra chinesa para a planta. A novidade chegou aos ouvidos da CNM pela imprensa. Imediatamente, a Confederação entrou em contato com a empresa e com o governo. Sanches relatou que foi fundamental pressionar o governo no sentido de evitar a entrada de mão de obra chinesa em substituição da brasileira. Em nome da empresa, Valdir Monteiro, administrador de Recursos Humanos da ThyssenKrupp Companhia Siderúrgica, afirma que não vem contratando chineses, e que apenas mantém boas relações comerciais com a China – de onde importaram a coqueria, e daí decorre que seria imprescindível haver técnicos chineses na fábrica para controlar a instalação e utilização dos equipamentos. “Fala-se em 600 chineses, isso não é verdade. São várias pessoas que vêm e vão, e a primeira leva foi de 22 pessoas.” Segundo Sanches, todas as outras partes envolvidas na negociação – os trabalhadores, através da CNM, o e o governo, através do Ministério do Trabalho e do Emprego e do Ministério de Relações Exteriores – envidaram esforços para que a presença chinesa se limitasse exclusivamente à tecnologia, e mesmo quanto a isso se mostraram relutantes, uma vez que também não era desejado que o equipamento fosse adquirido de uma companhia chinesa. Paralelamente, o sindicato IG-Metal da DGB mostrou-se preocupado com a migração de investimentos e a criação de plantas na China em todos os quatro segmentos da ThyssenKrupp. Até agora, houve apenas 48 trabalhadores chineses com vistos concedidos pelo Brasil, enquanto outros 60 pedidos estão sendo avaliados para a próxima fase, os quais estão sendo supervisionados pela CNM.

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Para Mário Mugnaini, que era Presidente da Camex na época da negociação, a companhia estava disposta a migrar para a Ásia, caso não fosse possível flexibilizar os custos referentes aos encargos sociais, além de alegarem que a competitividade estaria comprometida pela taxa de câmbio e pelo elevado ônus tributário. Para manter a planta no Brasil, “foi necessário baixar o índice de nacionalização da empresa para 53%, mas isso foi um triunfo”, afirma Mugnaini, para quem os investimentos do grupo alemão já estavam quase a caminho do Extremo Oriente.

Quadro 4 – Tipologia de Estratégias Empresariais como Resposta à Ascensão Chinesa

com Informações sobre Empresas de Setores Específicos SETOR EXEMPLO CONSIDERAÇÕES RELEVANTES

MIGRAÇÃO INTERNA Calçados

Grendene, Azaléia, Alpargatas, Dakota

Enxugamento das plantas no Sudeste e abertura de novas plantas no Nordeste, onde

os salários, encargos sociais e outros benefícios representam custos menores ao

empresário. Vestuário Valisère, Lupo

PLATAFORMA EXPORTADORA

Têxtil Teka, São Carlos

Estratégia mais recente de abrir plantas na China com a intenção de aproveitar-se das

vantagens asiáticas, as quais, alegadamente, possibilitariam preços tão competitivos

quanto os chineses, e, assim, exportar para Brasil e os antigos mercados externos da

empresa.

Calçados West Coast, Strada Shoes A West Coast migrou para a Índia

QUASE-MAQUILADORAS

Eletro eletrônicos Phillips

Em geral, o produto acabado não enfrenta grande concorrência com produto chinês. A produção fica mais barata, no entanto, com altas participações de bens intermediários

importados da China, estes sim, com preços imbatíveis em relação ao mercado produtor

local.

MIGRAÇÃO EXTERNA Máquinas

Embraco, Embraer, Weg, Marcopolo

O objetivo é entrar no mercado chinês ou asiático. A grande maioria dos casos são de multinacionais brasileiras que são obrigadas a investir na China se desejarem abocanhar

parte deste nicho emergente.

Têxtil Coteminas

Atender a rede de supermercado Wal-Mart, cujo principal fornecedor era a SpringsMill,

fusionada à Coteminas.

MULTINACIONAIS -

TERCEIRIZAÇÃO VIA DEMANDA

CHINESA Máquinas

ThyssenKrupp, Demag,

Siemens, Açominas

São em sua maioria unidades de multinacionais instaladas no Brasil. A

estratégia é barganhar para manter a fábrica (atendendo logística, publicidade, know-how, etc.) com ganhos em peças e equipamentos chineses, importados de suas filiais ou não.

AJUSTE DEFENSIVO COM PRECARIZAÇÃO

Todos os setores

É a estratégia mais comum. Na verdade é a primeira reação das empresas ante a concorrência chinesa, sobretudo em relação àquelas que buscam majoritariamente o mercado

interno. Envolve precarização do trabalho, recurso crescente à informalidade e à terceirização e redução do número de linhas

produtivas. Fonte: IOS.

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Um último caso, com certeza o mais comum, é o das estratégias essencialmente defensivas. Ou seja, as empresas optam por reduzir o número de empregados, informalizar o vínculo empregatício ou se especializar em um número menor de atividades produtivas, entrincheirando-se frente à avalanche importadora da China, que como vimos, se concentra em alguns segmentos de setores específicos. Para citar apenas um caso, a companhia têxtil Buettner reduziu produção e quadro de funcionários pela terceira vez em menos de três anos (Valor Econômico, 20 de fevereiro de 2008). A empresa apenas não reduziu sua linha de estampados. Segundo o presidente da empresa João Henrique Marchewsky, “no segmento de toalha de praia estampada, por mais que haja concorrência com os chineses, temos um bom design, que nos diferencia”. Lembremos que o que está por trás destas ações defensivas não é apenas a presença chinesa, já que outros fatores como o câmbio, os níveis de juros, os diferenciais competitivos e a ausência de políticas industriais jogam um papel importante. Estes fatores são, em alguma medida, atenuados pelo maior dinamismo do mercado interno no período recente, o qual permite novas especializações produtivas. 7. Síntese Setorial Os quadros abaixo apresentam os principais dados coletados na presente pesquisa, focando os setores mais afetados pelas importações chinesas. Alguns esclarecimentos se fazem necessários. Os dados de importação e de saldo comercial estão em milhões de dólares. A variação percentual nestas duas linhas refere-se ao período de 2000 a 2006. Por participação, entenda-se o percentual do déficit comercial do Brasil com a China em relação ao saldo comercial total brasileiro no referido setor. CPI significa “coeficiente de penetração das importações” e indica o quanto as importações ora totais ora da China participam no total da oferta interna. Os números para os empregados-RAIS referem-se ao estoque anual de trabalhadores formais em milhares, segundo a Relação Anual de Informações Sociais do Ministério do Trabalho e Emprego. As últimas duas linhas de cada quadro apresentam apenas a variação acumulada em termos percentuais da produção e do emprego industrial para o período 2001-2007, segundo dados da Pesquisa Industrial Mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Os espaços em branco dos quadros referem-se a dados não-disponíveis.

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 VARIAÇÃO14 25 46 103 168 220 356 2443‐14 ‐24 ‐34 ‐83 ‐157 ‐203 ‐332 22710,8 1,3 1,9 5,3 8,2 9,8 12,1

CHINA 0,2 0,37 0,52 1,01 1,25 1,59 695MUNDO 6,15 5,3 5,05 5,75 5,84 5,99 ‐3

222 216 217 215 234 240 8‐2,1‐3,6

EMPREGADOS‐RAISPRODUÇÃO‐IBGE

EMPREGADOS‐IBGE

TÊXTIL

IMPORTAÇÃOSALDO COMERCIALPARTICIPAÇÃO 

CPI

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2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 VARIAÇÃO35 57 41 42 68 112 183 423‐35 ‐57 ‐41 ‐42 ‐68 ‐112 ‐183 423

‐26,5 ‐48,5 ‐39,2 ‐22,3 ‐35,5 ‐89,5 343,7CHINA 0,22 0,44 0,37 0,5 0,76 1,13 414MUNDO 1 1,34 1,23 1,61 2,06 2,88 188

406 415 438 433 487 514 27‐11,2‐24,7

VESTUÁRIO

EMPREGADOS‐RAISPRODUÇÃO‐IBGE

EMPREGADOS‐IBGE

IMPORTAÇÃOSALDO COMERCIALPARTICIPAÇÃO 

CPI

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 VARIAÇÃO19 18 26 31 47 81 91 379‐19 ‐17 ‐25 ‐31 ‐46 ‐78 ‐89 368‐1,2 ‐1,1 ‐1,7 ‐2 ‐2,5 ‐4,2 ‐4,9

CHINA 1,1 1,25 1,8 3,2 5,35 10,35 841MUNDO 8,17 9,21 7,86 12,52 17,38 23,7 190

271 281 298 310 356 341 26‐15,9‐30,7

CPI

CALÇADOS

IMPORTAÇÃOSALDO COMERCIALPARTICIPAÇÃO 

EMPREGADOS‐RAISPRODUÇÃO‐IBGE

EMPREGADOS‐IBGE

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 VARIAÇÃO56 46 35 31 66 96 151 170‐56 ‐46 ‐35 ‐31 ‐66 ‐96 ‐151 17077,8 89,6 89 122,2 120,7 107,6 93,1

CHINAMUNDO

EMPREGADOS‐RAISPRODUÇÃO‐IBGE

EMPREGADOS‐IBGE

BRINQUEDOS

IMPORTAÇÃOSALDO COMERCIALPARTICIPAÇÃO 

CPI

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 VARIAÇÃO168 179 199 265 82 484 587 249‐153 ‐159 ‐183 ‐223 ‐189 ‐398 ‐496 2247,4 6,2 9,2 12,6 12 17,4 23,2

CHINA 0,83 0,88 1,07 1,32 1,7 1,87 125MUNDO 18,39 20,07 19,43 18,42 21,5 19,45 6

60 61 61 67 74 77 288,80,7

EMPREGADOS‐RAISPRODUÇÃO‐IBGE

EMPREGADOS‐IBGE

QUÍMICOS

IMPORTAÇÃOSALDO COMERCIALPARTICIPAÇÃO 

CPI

Page 54: Análise Especifica - Relacoes China-Brasil.pdf

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 VARIAÇÃO170 181 163 214 410 760 1.379 711‐139 ‐93 ‐55 ‐9 ‐217 ‐501 ‐1.103 6942,9 1,7 1,4 0,4 14 27,2 39,6

CHINA 0,18 0,29 0,21 0,25 0,41 0,61 239MUNDO 18,27 20,44 17,83 15,91 14,16 14,9 ‐18

215 229 242 240 265 272 2751,622,2

EMPREGADOS‐RAISPRODUÇÃO‐IBGE

EMPREGADOS‐IBGE

MÁQUINAS

IMPORTAÇÃOSALDO COMERCIALPARTICIPAÇÃO 

CPI

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 VARIAÇÃO360 380 455 708 1.387 2.137 3.158 777‐347 ‐329 ‐386 ‐646 ‐1.328 ‐2.066 ‐3.056 7815,6 5,1 9,8 17,9 24,7 41,3 46,8

CHINA 2,15 2,08 3,95 6,11 7,99 11,01 412MUNDO 49,6 54,36 48,14 50,35 47,23 49,19 ‐1

228 221 215 218 247 261 1415,60,7

CPI

ELETRO‐ELETRÔNICOS

IMPORTAÇÃOSALDO COMERCIALPARTICIPAÇÃO 

EMPREGADOS‐RAISPRODUÇÃO‐IBGE

EMPREGADOS‐IBGE

8. É possível Enfrentar o Dragão? O início do atual governo coincidiu com a euforia nacional em relação à China. Quase como se o império do meio pudesse solucionar a nossa ausência de desenvolvimento. O presidente Lula foi em 2004 para a China com uma poderosa comitiva empresarial, ao que se seguiu a visita do presidente Hu Jintao, que trazia consigo polpudas promessas de investimentos. A mídia e vários segmentos da sociedade civil surfaram nesta onda. Foi criado o Conselho Empresarial Brasil-China e, na sua cola, várias missões empresariais de lado a lado, além de encontros entre atores sociais dos dois países, floresceram. A partir de 2006, esta euforia transformou-se no seu oposto. Em letras garrafais, a mídia passava a estampar matérias sobre a ameaça chinesa. Segmentos importantes do empresariado passaram a questionar a concessão pelo Brasil do status de economia de mercado à China, ainda não ratificado. Representantes sindicais passaram a levantar objeções sobre empregos a serem perdidos em virtude da concorrência chinesa. Seguiram-se então reuniões difíceis entre os dois governos. Lembremos apenas que estas análises maniqueístas não são privilégio do Brasil. A China é hoje debatida no mundo inteiro, quase como se renovasse as polarizações ideológicas que surgiram no início da década de noventa sobre os impactos, ora nefastos, ora alvissareiros, da globalização. O que há de verossímil e de exagero nestes julgamentos sobre a pátria de Mao e de Deng? Esta pesquisa procurou responder a esta pergunta.

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Em primeiro lugar, optamos por questionar alguns mitos. A competitividade chinesa não se encontra apenas alicerçada na mão-de-obra barata. Outros fatores – tais como escala de produção, mercado interno pujante e com potencial inigualável, isenções fiscais expressivas, incentivos à exportação e à atração de multinacionais e papel ativo do Estado nas políticas econômicas, de modo a promover uma transformação produtiva e uma atualização tecnológica do parque industrial chinês – cumprem um papel talvez ainda mais importante. Na outra ponta, durante os anos noventa, o Brasil optava ingenuamente pelo Consenso de Washington, enfraquecendo o papel coordenador do Estado, abrindo a economia de forma prematura e indiscriminada, praticando altas taxas de juros e apostando numa valorização cambial no mínimo pouco prudente. As relações econômicas entre Brasil e China foram condicionadas por estas estratégias distintas de desenvolvimento. Ao se encontrarem no mercado externo, o Brasil mostrou-se favorecido inicialmente pelas exportações do complexo soja e de minério de ferro, cujas vendas se expandiram tanto em quantum como em valor. As vendas totais destes dois produtos ampliaram-se em cerca de 10 vezes entre 1998 e 2006. Em 2003, o nosso superávit com a China atingia a casa de US$ 2,4 bilhões, 10% do total nacional. Entretanto, de forma sutil, este padrão de comércio se alteraria. Dois fatores tiveram importância estratégica. A modernização da pauta exportadora chinesa, de um lado, e o crescimento industrial brasileiro, dependente das importações nos setores de maior valor agregado. Em resumo, chegamos em 2007 com um déficit comercial de US$ 1,9 bilhão com a China. Quando olhamos apenas o intercâmbio de bens industriais, este déficit saltou para a casa de US$ 9,7 bilhões. Paralelamente, a pauta de exportações brasileiras sofreu um processo de reprimarização. As exportações brasileiras concentram-se cada vez mais na soja em grão, perdendo espaço os produtos mais elaborados deste complexo. O minério de ferro continuou avançando suas exportações no período analisado, enquanto o saldo positivo que o Brasil possuía com a China em ferro e aço virou pó. Os saldos positivos em couro são expressivos e crescentes, mas acompanham a deterioração do déficit comercial em calçados. O saldo comercial em si, positivo e negativo, não é sinal de desenvolvimento ou de atraso econômico. Mas a rapidez e a magnitude da virada fizeram com que se acendesse o sinal vermelho. Somos beneficiados pela melhoria dos termos de troca com a China – elevação do preço das commodities e baixa do preço de matérias primas industriais, bens de consumo e máquinas e equipamentos? Ou então, corremos o risco de perder a possibilidade de adensar nossas cadeias produtivas, transformando as nossas empresas em quase-maquiladoras com baixo potencial de geração de empregos? Uma resposta definitiva é impossível e depende de uma análise setorial e, de preferência, por segmentos de produção. Do conjunto de setores analisados – calçados, têxteis, vestuário, brinquedos, indústria química, eletroeletrônica e de máquinas - os quais respondem por grande parte das importações brasileiras da China, no ano de 2006, 2/3 das nossas compras situavam-se nos setores mais intensivos em capital, ao contrário do que geralmente se supõe.

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Vejamos alguns exemplos concretos. O déficit comercial brasileiro com a China atingiu a casa de US$ 1 bilhão em máquinas e de US$ 3 bilhões em produtos eletroeletrônicos no ano de 2006. Por outro lado, a participação chinesa no total das importações do Brasil nestes setores ainda mostrava-se menor do que em setores como calçados e vestuário, onde esta se situava em níveis superiores a 50%. Em alguns casos como brinquedos, por exemplo, o percentual chinês no déficit comercial do país superava a casa dos 90% em 2006. Mas o ritmo de crescimento deste percentual – participação do déficit comercial chinês no saldo negativo total - mostrava-se maior em máquinas e eletroeletrônicos. No primeiro caso, entre 2000 e 2005, a participação chinesa no nosso déficit saltara de 2,9% para 39,6%, enquanto no segundo, este salto fora de 5,6% para 46,8%. Duas hipóteses igualmente fortes podem ser levantadas. Primeiro, a China apenas desloca outros concorrentes no mercado brasileiro, ou então propicia um desvio de comércio entre filiais de empresas multinacionais, com prevalência daquelas localizadas na potência asiática. Ou de forma alternativa, a China desloca produtores nacionais. Provavelmente ambos os fenômenos aconteçam, com importância diferenciada para cada segmento produtivo. Outra conclusão importante: o coeficiente de penetração das importações chinesas cresce, ainda que a partir de níveis baixos, enquanto o coeficiente de penetração total mantém-se relativamente estagnado, ao menos entre 2000 e 2005. Em alguns setores, entretanto, como calçados e eletroeletrônicos, 10% da oferta interna já é saciada pelos fornecedores chineses. Em vestuário, este percentual mal supera a casa de 1%, mas o que não deixa de ser significativo, quando se sabe que o coeficiente de penetração total é de 3%. Quer dizer então que a China não significa uma ameaça ao país? Em termos. O que queremos afirmar é que a dimensão do mercado interno brasileiro tende a ser subestimada. Por outro lado, o discurso da ameaça chinesa muitas vezes serve de “desculpa” para se jogar a culpa sobre “as costas” do trabalhador, deixando de lado os fatores tecnológicos e macroeconômicos que respondem, em grande medida, pela deficiência competitiva nacional. Se é verdade que boa parte do comércio com a China não é captado pelas estatísticas oficiais, existe também um ilusão de que “tudo agora vem da China”, como se fosse um processo inexorável, e que a nação e seus trabalhadores não têm nada mais que fazer, a não ser esperar a tragédia de braços cruzados. O que podemos dizer sobre o emprego? Os dados revelam-se contrastantes, quase como se acenassem para a complexidade do fenômeno. De um lado, o emprego formal continua crescendo em todos os setores mais afetados pelas importações chinesas, ao menos de acordo com a RAIS/MTE, o que aponta para a pujança da demanda interna, especialmente no período pós-2004. Já os dados do IBGE apontam para níveis baixos de expansão da produção física, inclusive com redução do emprego, especialmente nos setores de vestuário e calçados. Estes dados não são de fácil interpretação. A queda do emprego, especialmente nestes dois setores, de acordo com o IBGE, aparece correlacionada com a valorização cambial.

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Neste sentido, caso a moeda brasileira prossiga se fortalecendo, os resultados ora contrastantes tendem a ser mostrar bem menos ambíguos, trazendo uma redução do nível de emprego. Ou seja, com o fator China, qualquer recurso a uma moeda sobrevalorizada torna-se no mínimo perigoso, quando se analisa a questão do ponto de vista do trabalhador industrial e do potencial de desenvolvimento da indústria brasileira. Já nos setores mais intensivos em capital, onde o aumento do componente importado pode elevar a competitividade do produto “nacional”, o impacto negativo – do fator China mais valorização cambial - se daria mais em termos de atenuação do crescimento do emprego no futuro. Lembremos ainda que a troca entre commodities por bens industriais, se o padrão de comércio do Brasil com a China se espalhar para o conjunto das nossas relações comerciais, poderia acarretar uma tendência de forte especialização regressiva da economia brasileira, além de reduzir a capacidade de expansão do país nos setores mais dinâmicos da economia internacional. Paralelamente, vale ressaltar que enquanto o complexos soja e de minério de ferro respondem por cerca de 100 mil empregos formais, este total alcança a casa dos 1,7 milhão de postos de trabalho com carteira assinada nos setores industriais mais afetados pela concorrência chinesa. Se os riscos são evidentes e já se fazem sentir de forma localizada em alguns setores produtivos, eles não podem tampouco ser superestimados. O Brasil conta com políticas de defesa comercial, as quais devem ser aprimoradas, e é capaz de acionar políticas de desenvolvimento produtivo para vários dos setores afetados pela concorrência chinesa, como recentemente se viu a partir do lançamento de propostas de políticas de competitividade que compreendem a diversidade da estrutura industrial do país. Portanto, as ameaças existem e são concretas, ao mesmo tempo em que o país dispõe de mecanismos para enfrentá-las, o que compreende as políticas industriais, tecnológicas e de defesa comercial. Adicionalmente, a atual política cambial tende a aguçar o efeito potencialmente deletério da concorrência chinesa. No campo das políticas de defesa comercial, o governo ainda dispõe – ao menos até que se concluam as atuais negociações da OMC – de margem de manobra para elevar tarifas alfandegárias, como fez recentemente nos setores têxtil, vestuário e de calçados. Acordos de restrições voluntárias às exportações chinesas também são possíveis. Ao mesmo tempo, o país pode recorrer a medidas anti-dumping. Ainda que a China figurasse como destino de 45% destas medidas aplicadas pelo Brasil entre 2002 e 2007, estas perfazem um percentual ainda diminuto das nossas importações provenientes daquele país. No que diz respeito às estratégias empresariais ativadas pelas empresas brasileiras face à ascensão chinesa, estas tendem, na maioria dos casos, a acentuar os efeitos negativos sobre o emprego. Esta pesquisa mapeou seis tipos de estratégias empresariais frente à ascensão chinesa, as quais podem se mostrar complementares. São elas: a migração regional interna das empresas, em busca de salários e condições de trabalho piores; a estratégia de montar plataformas de exportação a partir da China; a atuação das quase-maquiladoras, formadas tanto por empresas nacionais como multinacionais, que acarretam a redução do valor agregado no território brasileiro; além

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da terceirzação de atividades internas para empresas chinesas; e, especialmente, o caso mais comum de ajuste defensivo. O caso mais favorável talvez seja o de internacionalização produtiva de empresas brasileiras, em busca do mercado chinês, a chamada migração externa. Os seis tipos de estratégias apurados, entretanto, possuem especificidades marcantes tanto setoriais como por tipo de empresa. Em poucas palavras, é possível, sim, enfrentar o dragão, desde que o país seja capaz de avançar na estruturação de um projeto nacional, onde fiquem estabelecidas as nossas prioridades em termos econômicos e sociais e se possa alterar o atual padrão de inserção externa, modificando, no caso chinês, o padrão de especialização e de complementaridade restrita. É possível também estabelecer alianças com a potência chinesa no plano multilateral, desde que o governo brasileiro tenha consciência de que estas serão, na melhor das hipóteses, tópicas e pontuais. Ainda assim, o discurso e a prática de construção de uma ordem multipolar não pode se sobrepor às diferenças existentes nas relações bilaterais, as quais se originam, em grande medida, das distintas estruturas produtivas e opções de inserção externa.

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