analise espacial comunidades de quilombos - ibge - relatorio parcial

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Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatórioTécnico Preliminar 1 ESTUDOS SOCIODEMOGRÁFICOS E ANÁLISES ESPACIAIS REFERENTES AOS MUNICÍPIOS COM A EXISTÊNCIA DE COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBOS RELATÓRIO TÉCNICO PRELIMINAR Rio de Janeiro Agosto de 2007

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Analise Espacial Comunidades de Quilombos - IBGE - RELATORIO PARCIAL

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  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 1

    ESTUDOS SOCIODEMOGRFICOS E ANLISES ESPACIAIS REFERENTES AOS MUNICPIOS COM A EXISTNCIA DE

    COMUNIDADES REMANESCENTES DE QUILOMBOS

    RELATRIO TCNICO PRELIMINAR

    Rio de Janeiro Agosto de 2007

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    NDICE

    1 - APRESENTAO ............................................................................................................................... 1 2 - DESCRIO DAS ATIVIDADES. .................................................................................................... 1 3 - ASPECTOS DE AMOSTRAGEM NO CENSO DEMOGRFICO DE 2000 ............................... 5

    3.1 Planejamento e Seleo da Amostra ........................................................................................... 5 3.2 Ponderao das Unidades da Amostra ........................................................................................ 6 3.3 Avaliao da Preciso das Estimativas ....................................................................................... 6 3.4 Outras Consideraes .................................................................................................................. 7

    4 - ASPECTOS GEOGRFICOS. .......................................................................................................... 7

    5- DISTRIBUIO ESPACIAL DA POPULAO AUTODECLARADA PRETA E PARDA ..... 10 5.1 Regio Norte ............................................................................................................................... 13 5.2 Regio Nordeste ......................................................................................................................... 17 5.3 Regio Sudeste ........................................................................................................................... 21 5.4 Regio Sul .................................................................................................................................. 26 5.5 Regio Centro-Oeste .................................................................................................................. 30 5.6 Distribuio da Populao Autodeclarada Preta ePparda para um Nvel Maior de Desagregao Espacial .................................................................................................................... 33

    6- CONCLUSO. .................................................................................................................................... 38

    5- REFERNCIAS. .................................................................................................................................. 40

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    Estudos Sociodemogrficos e Anlises Espaciais referentes aos Municpios com a Existncia de Comunidades Remanescentes de Quilombos.

    Produto 1: Mapa da Distribuio Espacial da Populao, segundo a Cor ou Raa Pretos e Pardos

    1. Apresentao

    Este documento tem por objetivo apresentar os aspectos tcnicos e metodolgicos utilizados na elaborao do primeiro resultado do Acordo 914BRA3031 IBGE/SEPPIR, Mapa da Distribuio Espacial da Populao, segundo a Cor ou Raa Pretos e Pardos, que consiste em um mapa em escala nacional com informao da populao que se declarou preta e parda no Censo Demogrfico 2000.

    A anlise foi realizada utilizando o quesito da cor ou raa do Censo Demogrfico 2000 que foi a base para o desenvolvimento das diversas classificaes do projeto. O conhecimento dos autodeclarados pretos e pardos residentes nas reas urbanas e rurais servir de alicerce para a aplicabilidade de futuras polticas pblicas.

    2. Descrio dos Mecanismos Utilizados

    Com base nos dados da pesquisa do Censo Demogrfico 2000 (resultados da amostra) as informaes foram tabuladas utilizando-se o

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    software REDATAM1 (Recuperacin de Datos para reas pequeas por Microcomputador), que permite trabalhar um grande conjunto de dados, correspondendo ao microdados, com informao que descreve cada um dos milhes de registros de pessoas e domiclios, municpios e outras unidades administrativas ou geogrficas de vrios censos, pesquisas e outras fontes de informao para um pas como um todo.

    As informaes foram geradas para todos os municpios das Unidades da Federao e posteriormente, desagregadas pelo conjunto de setores censitrios2 (agrupados em reas de ponderao) visando representao espacial. A definio e rea de ponderao est apresentada no item Aspectos de Amostragem no Censo Demogrfico de 2000, mais adiante..

    Essa primeira etapa foi realizada na Coordenao de Populao e Indicadores Sociais - COPIS/DPE/IBGE que gerou a base de dados necessria Coordenao de Geografia CGEO/DGC/IBGE para a elaborao do mapa temtico relativo s pessoas que se declararam pretas ou pardas no Censo Demogrfico 2000.

    Posteriormente, as informaes das cinco regies brasileiras foram reunidas para a elaborao do mapa Brasil para o conjunto dos setores censitrios (segundo reas de ponderao) que est sendo apresentado em papel e pdf. Para esse processo foi utilizado o software Arc View, que consiste num desktop Gis (sistema de mapeamento adequado para o uso em microcomputador) que carrega dados espaciais e tabulares transformados em mapas. No Arcview visualizam-se informaes de modo a revelar novas relaes, modelos e tendncias a partir dos arquivos da base de dados.

    Para o trabalho, foram utilizadas ferramentas especficas dos softwares REDATAM, Excel e Arcview, no que foi possvel tratar, tabular, analisar e disseminar as informaes geradas.

    1 Programa desenvolvido pelo Centro Latinoamericano de Demografia CELADE.

    2Setor Censitrio: a unidade territorial de coleta, formada por rea contnua, situada em um nico Quadro Urbano ou Rural, com dimenses e nmero de domiclios ou de estabelecimentos que permitam o levantamento das informaes por um nico agente credenciado. Seus limites devem respeitar os limites territoriais legalmente definidos e os estabelecidos pelo IBGE para fins estatsticos.

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    3. Aspectos de Amostragem no Censo Demogrfico de 2000

    3.1 Planejamento e Seleo da Amostra

    Tal como nos censos anteriores, desde 1960, no Censo Demogrfico de 2000 tambm foi utilizada a tcnica de amostragem na coleta de dados para a investigao de algumas caractersticas selecionadas. O desenho amostral adotado compreende a seleo sistemtica e com eqiprobabilidade, dentro de cada setor censitrio, de uma amostra dos domiclios particulares e das famlias ou componentes de grupos conviventes recenseados em domiclios coletivos, com frao amostral constante para setores de um mesmo municpio. Para a realizao do Censo Demogrfico de 2000, da mesma forma que no Censo de 1991, foram definidas duas fraes amostrais distintas: 10% para os municpios com populao estimada3 superior a 15.000 habitantes e 20% para os demais municpios.

    Na coleta das informaes do Censo 2000, foram usados dois modelos de questionrio:

    um questionrio bsico aplicado nas unidades no selecionadas para a amostra e contendo perguntas referentes s caractersticas que foram investigadas para 100% da populao;

    um segundo questionrio aplicado somente nos domiclios selecionados para a amostra contendo, alm das perguntas que tambm constam do questionrio bsico, outras perguntas mais detalhadas sobre caractersticas do domiclio e de seus moradores, referentes aos temas religio, cor ou raa, deficincias, migrao, escolaridade, fecundidade, nupcialidade, mo-de-obra e rendimento.

    Em todo o territrio nacional foram selecionados 5 304 711 domiclios para responder ao questionrio da amostra, o que significou uma frao amostral da ordem de 11,7%. Nesses domiclios foram levantadas as informaes para todos os seus moradores, totalizando 20 274 412 pessoas.

    3 Estimativas de populao para o ano de 2000, baseadas nas projees realizadas pelo prprio IBGE.

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    3.2 Ponderao das Unidades da Amostra

    Para expanso dos dados coletados pelos questionrios da amostra do Censo Demogrfico de 2000, foram calculados pesos para cada um dos domiclios pesquisados, que foram atribudos ao prprio domiclio e a cada um de seus moradores. O mtodo utilizado para obteno dos pesos foi um processo de calibrao em relao a um conjunto de variveis auxiliares para as quais se conhecem os totais populacionais, j que tais variveis auxiliares foram levantadas pelo questionrio bsico, aplicado separadamente para cada rea de ponderao.

    Define-se rea de Ponderao como sendo uma unidade geogrfica formada por um agrupamento mutuamente exclusivo de setores censitrios, criada especialmente para a aplicao dos procedimentos de expanso da amostra.

    As reas de ponderao foram definidas considerando critrios que envolvem o tamanho mnimo, em nmero de domiclios na amostra, e as divises administrativas internas do municpio, sempre que possvel. Com esses critrios, 484 municpios tiveram mais de uma rea de ponderao. Os demais 5 023 municpios tiveram apenas uma rea de ponderao. E com isso, foram definidas 9 336 reas de ponderao para o Brasil.

    3.3 Avaliao da Preciso das Estimativas

    As concluses de uma pesquisa por amostragem devem ser apoiadas nas estimativas produzidas, que por sua vez so calculadas considerando os pesos amostrais, associados s unidades da amostra, de acordo com o plano amostral definido e com os estimadores usados. Essas estimativas tm uma variabilidade que inerente ao processo de amostragem. Assim, a avaliao dos chamados erros amostrais um ponto fundamental, pois dela decorre o grau de confiana nas concluses analticas que subsidiam a tomada de deciso. Para cada estimativa derivada da pesquisa possvel obter uma medida de preciso que auxilia na anlise e interpretao dos dados.

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    Os erros amostrais podem ser avaliados atravs das estimativas dos coeficientes de variao ou dos erros padro calculados a partir das estimativas das varincias, que so calculadas levando em considerao o esquema de amostragem utilizado. O erro padro pode ento ser utilizado para construir intervalos de confiana que contero o valor do total populacional, com uma certa probabilidade decorrente do nvel de confiana desejado na tomada de deciso.

    Para facilitar uma avaliao da qualidade das estimativas divulgadas nas publicaes dos resultados da amostra do Censo Demogrfico 2000, foram calculados e apresentados naquelas publicaes os valores de erros padro associados a tamanhos de estimativas pr-definidos.

    3.4 Outras Consideraes

    Para o conhecimento detalhado de todos os processos que envolveram a realizao do Censo Demogrfico 2000, desde as etapas de planejamento e organizao da operao, passando pelas novas tecnologias e sistemas desenvolvidos especificamente para a pesquisa, chegando at s diversas formas de disseminao e divulgao dos resultados, foi divulgada o publicao Metodologia do Censo Demogrfico 2000, volume 25 da Srie Relatrios Metodolgicos.

    Nesse volume, so descritos tambm os mtodos utilizados para o clculo dos fatores de expanso dos dados coletados pelos questionrios da amostra do Censo Demogrfico 2000, detalhando a ponderao das unidades da amostra, a definio das reas de ponderao, anlise da qualidade da calibrao, avaliao da preciso das estimativas, dentre outras.

    4. Aspectos Geogrficos

    No estudo desenvolvido ao longo da pesquisa, adotou-se como referncia territorial a diviso regional do Brasil definida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica IBGE, que divide o pas em 5 grandes regies: Norte, Nordeste, Sudeste, Sul e Centro-Oeste, totalizando uma rea de

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    8.514.876 km e populao residente total de 169.799.170 habitantes, em 2000.

    As grandes regies so definidas pelo IBGE, que tem como parte de sua misso institucional a atribuio de elaborar divises regionais do territrio brasileiro com a finalidade bsica de viabilizar a agregao e a divulgao de dados estatsticos. A atual diviso macrorregional do Brasil foi estabelecida em 1970 e vigora at os dias de hoje.

    Alm das grandes regies, outros recortes territoriais existentes so as Unidades da Federao (unidades de maior hierarquia dentro da estrutura poltico-administrativa do pas), Municpios (unidades de menor hierarquia dentro da organizao poltico-administrativa do pas) e Setores Censitrios (unidades de coleta de informaes do IBGE). Os dados disponibilizados por cor ou raa tiveram como unidade geogrfica mais detalhada o conjunto dos setores censitrios que compem as reas de ponderao.

    O presente relatrio apresenta os resultados dos estudos realizados para a populao residente que se declarou preta ou parda nas Grandes Regies do Brasil.

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    Distribuio espacial da populao segundo cor ou raa Pretos e Pardos -

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    -

    30

    0

    -5

    -10

    -15

    -20

    -25

    -30-25

    -30-35-50-55-60-65-70-75

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    30

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    25

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    20

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    15

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    5

    -

    10

    0

    5 -75 -70 -65 -60-55

    -

    50-

    45 -40-

    35

    -45 -40

    Macap

    Boa Vista

    BelmSo Lus

    Teresina

    Manaus

    Porto Velho

    Rio Branco

    Fortaleza

    Natal

    Joo Pessoa

    Recife

    Macei

    Aracaju

    Salvador

    Palmas

    Cuiab

    Goinia

    Campo Grande

    Belo Horizonte

    Vitria

    Rio de Janeiro

    So Paulo

    Curitiba

    Florianpolis

    Porto Alegre

    #YBRASLIA

    A M A Z O N A S

    M A T O G R O S S O

    MATO GROSSODO SUL

    M I N A S G E R A I S

    RIO GRANDEDO SUL

    SANTA CATARINA

    SO PAULO

    RIO DE JANEIRO

    SERGIPE

    ALAGOAS

    PERNAMBUCO

    PARABA

    RIO GRANDEDO NORTEC E A R

    P I A U

    MARANHOP A R

    G O I S

    B A H I A

    A C R E

    RONDNIA TOCANTINS

    ESPRITOSANTO

    PARAN

    RORAIMA AMAP

    U R U G U A Y

    A R G E N T I N A

    P A R A G U A Y

    C H

    I

    L E

    B O L I V I A

    P E R U

    C O L O M B I A

    V E N E Z U E L A

    G U Y A N A

    S U R I N A M EG U Y A N E

    D.F .

    ECUA

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    I C

    O

    D.F.

    Porcentagem da populaode pretos e pardos napopulao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 100

    Distribuio espacialda populao segundo

    cor e raa- Pretos e Pardos -

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico, 2000. PROJEO POLICNICA

    250 0 250 km

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    5. A distribuio Espacial da Populao Autodeclarada Preta e Parda no Brasil

    Ao se abordar a questo da distribuio espacial da populao preta e parda no Brasil, conforme revelado no Mapa acima, deve-se levar em considerao, alm da quantificao e da caracterizao dessa populao nos censos demogrficos, as informaes bsicas relacionadas sua dinmica demogrfica e situao scio-econmica, fundamentais para o conhecimento de suas diversidades e para a compreenso das relaes intertnicas na populao brasileira (IBGE, 2000). Nessa perspectiva, Castro (2004) observa que a relevncia da utilizao de categorias da anlise qualitativa das cincias sociais, como forma de evitar a simplificao da percepo dessas diversidades, fundamenta-se na idia de que a compreenso apoiada somente nos dados quantitativos corre o risco de obscurecer processos fundamentais ao entendimento da dinmica populacional, como a formao social e econmica, a origem, a composio e as identidades dos grupos, que constituem motivaes fortes nas estratgias de reproduo e nos processos de deslocamento espacial, colocando o desafio metodolgico de pensar o presente na relao com as particularidades de sua formao histrica. Dessa forma, estudos relacionados s diversas formaes histrico-sociais da populao brasileira, vm sendo desenvolvidos pela demografia histrica, que tem como objeto de estudo, alm do campo estrito dos fenmenos tidos como puramente demogrficos, os demais campos das Cincias Sociais, atravs do uso sistemtico de corpos documentais, quantitativos e qualitativos, homogneos, seriais e momentneos, aliados aplicao de conceitos, mtodos e tcnicas rigorosas, emprestados da Demografia, da Antropologia, da Sociologia, do Direito e da Economia (MARCLIO,1997).

    Numa perspectiva histrica, cabe observarque o processo de introduo da populao de cor preta no territrio nacional acompanhou, de maneira geral, os diferentes ciclos que marcaram a economia da Colnia e do Imprio,

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    estando os principais mercados de importao do negro situados em So Luis, Recife, Salvador e Rio de Janeiro, que se constituram em importantes centros de disperso do povoamento localizados entre alguns dos recortes mais importantes do litoral, como o Golfo Amaznico, o Golfo Maranhense, a Baa de Todos os Santos, a Baa da Guanabara e o Esturio de Santos.

    Dessa forma, a cultura canavieira foi responsvel pela introduo do negro na Zona da Mata Nordestina e no Recncavo Baiano, enquanto as companhias de comrcio e a lavoura do algodo tiveram esse papel no Maranho, no Piau e no Cear e o ciclo da minerao para Minas Gerais e no Planalto Central, e o ciclo do caf foi o responsvel pela presena do negro na Zona da Mata e sul de Minas, no Vale do Paraba e na regio de Campinas.

    Da mesma maneira, deve-se registrar a importncia das intensas migraes secundrias das populaes escravas ocorridas no Nordeste aucareiro em benefcio das reas de minerao, assim como a migrao dessas populaes verificada aps o declnio da atividade mineradora em direo s fazendas de caf do Vale do Paraba, verdadeiros xodos populacionais que ajudaram a interiorizar o negro no Pas. De forma coerente, as reas de maior ocorrncia da populao de cor parda correspondem, justamente, s reas em que a ocupao do solo foi feita pelo trabalho escravo, vale dizer, o Maranho, a Zona da Mata nordestina, o Recncavo baiano e larga poro do Sudeste (RODRIGUES, 1970).

    Feitas essas consideraes iniciais referentes distribuio espacial do negro em escala nacional, passa-se agora anlise, em escala macro-regional, da populao de cor preta e parda, observando-se que, conforme as informaes do Censo de 2000, o Brasil possua uma populao de cerca de 170 milhes de habitantes naquele ano, dos quais 91 milhes se classificaram como brancos (53,7%), 65 milhes como pardos (38,5%), 10,5 milhes como pretos (6,2%), 762 mil como amarelos (0,4%) e 734 mil como indgenas (0,4%).

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    Fonte: Censos Demogrficos de 1991 e 2000

    No nvel macro-regional, a populao de cor preta distribui-se pelo territrio nacional, na proporo de 6,1% na Regio Norte, 34,9% no Nordeste, 45% no Sudeste, 8,9% no Sul e 5,1% na Regio Centro-Oeste, enquanto em relao populao identificada como parda, 12,6% encontram-se na Regio Norte, 42,4% no Nordeste, 32,7% no Sudeste, 4,4% no Sul e 7,8% no Centro-Oeste.

    Em linhas gerais, as populaes das regies Sul e Sudeste, que representavam 57% do total do pas em 2000, mantm praticamente as mesmas caractersticas de composio por cor ou raa verificadas no Censo de 1991, enquanto nas regies Norte e Nordeste ocorreram mudanas significativas entre os dois censos e na Regio Centro-Oeste verificaram-se algumas alteraes.

    Com efeito, segundo os dados censitrios de 2000, houve um decrscimo de 10% na participao da populao parda na Regio Norte e de 8% na Regio Nordeste, em relao a 1991, simultaneamente a um acrscimo entre 6% e 7% na participao da populao que se identifica como branca nessas regies. Por outro lado, a participao da populao de cor preta na populao total teve um acrscimo em torno de 2% em ambas regies, resultando, entretanto, dada sua pequena participao na populao total, ser mais significativa a referncia variao relativa de seus percentuais de participao, sendo de 50% na Regio Norte e de 34% na Regio Nordeste.

    Distribuio relativa da populao residente por cor ou raaBrasil - 1991/2000

    51,6

    5,00,4

    42,4

    0,2

    53,7

    6,20,4

    38,5

    0,4

    Branca Preta Amarela Parda Indgena

    1991 2000

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    Regio Norte

    A Regio Norte abrange uma rea de 3.853.327 km, que corresponde a 45,3% da rea total do pas. Nos aspectos demogrficos, segundo o Censo 2000, a Regio Norte tinha uma populao de 12.900.704, que correspondia a 7,6% do total nacional. No universo populacional da Regio Norte, 69,9% da populao era urbana, enquanto 30,1% estavam na categoria de populao rural.

    A Regio Norte um espao geogrfico cuja histria est ligada aos primeiros momentos dos esforos de ocupao do continente sul-americano por Portugal e Espanha. Espao de conflito, cujas fronteiras regionais so fortemente marcadas pelas caractersticas naturais, uma vez que a ocupao do territrio efetiva-se a partir do eixo formado pela bacia do rio Solimes-Amazonas. Articulada a esse complexo hidrogrfico, a floresta tropical mida constitui, tambm, um dos elementos estruturantes da Regio amaznica.

    Desse modo, ao lado da diversidade de processos sociais que caracterizam a sua histria social e econmica, a Regio Norte marcada por complexos ecossistemas naturais que a posicionam entre as regies portadoras dos mais complexos sistemas de biodiversidade existentes no planeta.

    Nos aspectos da urbanizao, a regio apresenta dois grandes centros populacionais Belm e Manaus. O municpio de Belm e reas adjacentes apresentam, de forma inequvoca, elementos de uma aglomerao urbana em processo de metropolizao, enquanto Manaus, apesar de constituir um ncleo com extraordinrio ritmo de crescimento demogrfico, possui limitaes em sua capacidade estruturante do espao regional, em virtude de seu relativo isolamento.

    Em 2000, a Regio Norte possua uma populao de 12,9 milhes de habitantes, dos quais 3,6 milhes se classificaram como brancos (28,0%), 641 mil como pretos (5,0%), 29 mil como amarelos (0,2%), 8,3 milhes como pardos (64,0%) e 213 mil indgenas (1,7%).

    Ao se focar a composio por cor ou raa da populao da Regio Norte (7,6% do total da populao brasileira), observa-se, de imediato, a forte

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    predominncia da populao identificada como de cor parda (64%), enquanto a populao de cor preta responde por cerca de 5% do total, observando-se, entretanto, que a dinmica populacional na Regio Norte sofreu alteraes importantes nas ltimas dcadas devido a intensos fluxos migratrios, principalmente das regies Nordeste e Sul, bem como fluxos de natureza intra-regional, determinando a importncia da compreenso dos impactos desses fluxos quanto composio da populao no seu perfil por cor, origem cultural e tnica, entre outras variveis relevantes (CASTRO, 2004).

    Outro aspecto a ser considerado o de que, na composio populacional da Regio Norte, a populao de cor preta tem uma participao inferior mdia nacional (5% contra 6,2%), assim como a populao identificada como branca detm a menor participao entre as grandes regies (28% contra 53,7% de mdia nacional), enquanto, por outro lado, a populao de cor parda atinge sua maior participao na composio populacional entre as grandes regies: 64% contra 38,4% de mdia nacional.

    Internamente regio, verificam-se diferenas significativas quanto composio por cor ou raa da populao, com percentuais variando entre 3,1%, de autodeclarados pretos, no Estado do Amazonas, e 7,1% no Estado do Tocantins (contra uma mdia nacional de 6,2% e regional de 4,9%), assim como a populao de cor branca varia entre 24,2% no Amazonas, o menor percentual da Regio Norte (e do Brasil), e 30,5% no Tocantins (contra uma mdia nacional de 53,7% e regional de 28%), enquanto a populao de cor parda apresenta uma variao entre 60,6%, no Tocantins e 66,9% no Amazonas (mdia nacional de 38,4% e regional de 64%).

    Por outro lado, o Estado de Rondnia assume uma posio singular, no contexto regional, alcanando expressivos 42,6% de autodeclarados brancos, da mesma forma que detm o menor percentual da populao de cor parda da regio (50,6%) e um percentual de pretos (4,6%), abaixo da mdia nacional, situao relacionada, em grande parte, s correntes migratrias com origem nos estados sulistas que acompanharam o deslocamento da fronteira agropecuria na Amaznia.

    Castro (2004) chama a ateno para o fato de que, embora com importncia relativizada, contingentes significativos de escravos aportaram nos

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    estados do Maranho, Par e Amap, especialmente no perodo pombalino, em navios negreiros ou atravs de rotas clandestinas de comrcio entre provncias, tendo participao decisiva nas atividades agrcolas das fazendas de gado, cacau, algodo, cana-de-acar e nas demais lavouras, no transporte e na navegao, assim como nos engenhos, nos moinhos e nas atividades extrativas, sobretudo na extrao de madeira, ainda que esses empreendimentos arregimentassem, preferencialmente, a mo-de-obra indgena.

    Com a ocupao de terras incentivada pela poltica colonial, como estratgia econmica do capital mercantil, os grandes proprietrios fundirios intensificaram a demanda por mo-de-obra escrava, sobretudo em funo da importncia adquirida pelo cacau na pauta de exportaes e do incremento da produo de cana-de-acar, resultando num aumento da populao escrava nos vales, onde tambm se cultivava o arroz, tabaco, milho e outros gneros.

    Com o aparecimento da borracha, no incio do sculo XIX, consolidam-se as bases de um sistema agroextrativo que se manteria no prximo sculo e que, associado ao movimento poltico da Cabanagem, asseguraram a consolidao da presena negra no leste da Amaznia brasileira, onde povoados e cidades pequenas da atualidade reproduzem a cultura e a identidade dos grupos que se fixaram nas reas rurais, dedicando-se a uma economia agrcola baseada na explorao da mandioca, milho e arroz, assim como a presena da populao negra tornou-se expressiva nas grandes e mdias cidades como Belm, Macap, Porto Velho, So Luiz, Imperatriz, Santarm, bidos, Bragana, Ourm, Turiau, Soure, Igarap-Miri, etc. (CASTRO, 2004).

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 16

    Tabela 1

    Nas anlises estaduais a proporo mais elevada de autodeclarados pardos foi observada no Estado do Amazonas (66,9%), seguido do Estado do Par (66,4%). J o Estado de Rondnia (50,6%) apresentou a menor proporo de pardos dentre os estados do Norte do pas.

    Quanto aos autodeclarados pretos, o Estado do Tocantins (7,1%) se destacou com proporo acima da mdia nacional (6,2%).

    Ao se agregar os autodeclarados pretos e pardos, trs das Unidades da Federao atingiram propores prximas a 70%, nesta ordem, Par (71,9%), Amap (71,1%) e Amazonas (70,0%).

    Total Branca Preta Amarela Parda Indgena Sem declarao

    BRASIL 100,0 53,7 6,2 0,4 38,5 0,4 0,7NORTE 100,0 28,0 5,0 0,2 64,0 1,7 1,2Rondnia 100,0 42,6 4,6 0,2 50,6 0,8 1,2Acre 100,0 30,2 5,0 0,3 62,2 1,4 0,9Amazonas 100,0 24,2 3,1 0,3 66,9 4,0 1,4Roraima 100,0 24,8 4,2 0,1 61,5 8,7 0,6Par 100,0 26,1 5,5 0,2 66,4 0,6 1,2Amap 100,0 26,6 5,4 0,2 65,7 1,0 1,1Tocantins 100,0 30,6 7,1 0,2 60,6 0,9 0,7

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.

    Brasil, Regio Norte e Unidades da Federao

    Proporo da populao residente por cor ou raa (%)

    Proporo da populao residente por cor ou raa, segundo as Unidades da Federao - Brasil - Regio Norte - 2000

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 17

    -70 -60-50

    -10

    0

    P E R U

    V E N E Z U E L A

    C O L O M B I A

    GUYANA

    GUYANESURINAME

    AMAPRORAIMA

    RONDNIA

    MARANHOA M A Z O N A S

    TOCANTINS

    A C R EMATO

    GROSSO

    P A R

    Pretos ou pardos na populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 100,00

    Proporo de autodeclarados pretos ou pardos Regio Norte - 2000

    200 0 200 KmFonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.

    Regio Nordeste

    A Regio Nordeste abrange uma rea de 1.554.257 km, que corresponde a 18,3% da rea total do pas. Nos aspectos demogrficos, segundo o Censo 2000 a Regio Nordeste tinha uma populao de 47.741.711, que correspondia a 28,1% do total nacional. No universo populacional da Regio Nordeste, 69,1% da populao era urbana, enquanto que 30,9% estavam na categoria de populao rural.

    A Regio Nordeste a rea de povoamento mais antigo e atualmente a segunda do pas em populao tendo uma densidade superior a 30 hab/km nas principais cidades, sendo que a maior parte do seu territrio formada por extenso planalto antigo e aplainado pela eroso. Em funo das diferentes caractersticas fsicas que apresenta, a regio encontra-se dividida nas sub-regies: zona da mata, agreste e serto, alm do meio norte, que apresenta caractersticas de transio para a Amaznia.

    As aglomeraes urbanas metropolitanas do Nordeste Salvador, Recife e Fortaleza - concentravam aproximadamente metade das atividades

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 18

    econmicas secundrias e tercirias, constituindo, assim, os principais plos centralizadores de bens e servios e de populao no contexto regional.

    Em 2000, a Regio Nordeste possua uma populao de 47,8 milhes de habitantes, dos quais 15,7 milhes se classificaram como brancos (33,0%), 3,7 milhes como pretos (8,0%), 67 mil como amarelos (0,1%), 27,7 milhes como pardos (58,0%) e 170 mil indgenas (0,4%).

    De forma semelhante Regio Norte, a Regio Nordeste tambm apresentou uma expressiva variao negativa (-8%) na participao de autodeclarados pardos na populao regional total, em comparao aos dados censitrios de 1991 (67,3%, em 1991 e 59,3% em 2000), simultaneamente a um aumento de 2% na participao da populao de autodeclarados pretos (5,6% em 1991 e 7,5% em 2000) e de 5% na de autodeclarados brancos (26,6% em 1991 e 31,9% em 2000).

    Com efeito, essas duas grandes regies guardam semelhanas significativas na sua composio populacional por cor ou raa, no que se refere ao contingente de brancos, que apresenta percentuais muito abaixo da mdia nacional (32,9% no Nordeste e 28% no Norte, vis--vis uma mdia nacional de 53,7%) e de pardos, que apresenta percentuais muito acima da mdia nacional (58% no Nordeste e 63,9% no Norte, vis--vis uma mdia nacional de 38,4%). Por outro lado, o contingente populacional de autodeclarados pretos no Nordeste o mais alto entre as grandes regies, atingindo 7,7% da populao dessa regio e 5% na Regio Norte em comparao mdia nacional de 6,2%.

    Petrone (1970) observa que a fachada litornea do Nordeste, graas ao desenvolvimento econmico escudado na lavoura canavieira, j havia conhecido um grande incremento demogrfico desde o sculo XVI. Posteriormente, a atividade complementar da criao de gado, desenvolvida em carter extensivo no serto, permitiu que as correntes de povoamento, formada por criadores de gado, cobrissem o territrio nordestino, norteadas pelos pontos de gua nos vales fluviais, dentre os quais destaca-se o eixo do povoamento interiorano, o Vale do Rio So Francisco, que, no sculo XVIII, j se articulava com as Minas Gerais, no papel preponderante de fornecedor de carne.

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 19

    Internamente Regio Nordeste, cuja populao equivale a 28,1% da populao brasileira, o percentual de participao da populao autodeclarada preta, varia entre 3,9%, na Paraba e 13% na Bahia, a maior participao percentual entre as Unidades Federadas, da mesma forma que a populao autodeclarada branca tem uma participao que varia entre 43%, na Paraba, e 25,2%, na Bahia, a menor participao entre essas unidades poltico-administrativa, enquanto a populao de autodeclarados pardos tem uma participao que varia entre 52,3%, na Paraba e no Rio Grande do Norte e 64,6%, no Piau.

    Com efeito, a presena da populao autodeclarada preta na Regio Nordeste, a despeito da grande diversidade interna regio, a mais forte entre as grandes regies (7,7% contra uma mdia nacional de 6,2%), registrando-se percentuais bem acima dessa mdia nos estados do Piau (7,7%), Maranho (9,6%) e Bahia (13%) que, simultaneamente, so os Estados que possuem os menores percentuais de participao da populao autodeclarada branca no Nordeste: 26,4% no Piau, 26,7% no Maranho e 25,2% na Bahia.

    Por outro lado, a participao da populao autodeclarada preta cai fortemente nos demais Estados da regio, situando-se entre 3,9%, na Paraba e 6,2% em Sergipe, da mesma forma que a populao autodeclarada branca atinge seus maiores percentuais de participao nesses Estados, especialmente na Paraba (42,6%) e no Rio Grande do Norte (42,2%), vindo a seguir os estados de Pernambuco (40,8%) e Cear (37,3%).

    De maneira coerente, os percentuais de participao da populao autodeclarada parda no Nordeste equivalem a mais da metade da populao em todos os Estados, atingindo 60,1% na Bahia, 60,8% em Sergipe, 62,3% no Maranho e 64,6% no Piau.

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 20

    Tabela 2

    O C E A N O A T L N T I C O

    B A H I A

    ESPRITO SANTO

    MINAS GERAIS

    PERNAMBUCO

    OCANTINS

    SERGIPE

    ALAGOAS

    PARABA

    CEAR

    DF

    MARANHO

    PIAU

    -20

    -10

    0

    RIO GRANDEDO NORTE

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.

    Pretos ou pardos na populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 100,00

    Proporo de autodeclarados pretos ou pardos Regio Nordeste - 2000

    Total Branca Preta Amarela Parda Indgena Sem declarao

    BRASIL 100,0 53,7 6,2 0,4 38,5 0,4 0,7Nordeste 100,0 32,9 7,7 0,1 58,0 0,4 0,8Maranho 100,0 26,7 9,6 0,1 62,3 0,5 0,8Piau 100,0 26,5 7,8 0,2 64,6 0,1 0,9Cear 100,0 37,3 4,1 0,1 57,5 0,2 0,8Rio Grande do Norte 100,0 42,2 4,6 0,1 52,4 0,1 0,7Paraba 100,0 42,6 4,0 0,1 52,3 0,3 0,8Pernambuco 100,0 40,8 4,9 0,1 52,9 0,4 0,8Alagoas 100,0 34,1 5,0 0,1 59,5 0,3 0,9Sergipe 100,0 31,5 6,2 0,2 60,8 0,4 0,9Bahia 100,0 25,2 13,0 0,2 60,1 0,5 1,0

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.

    Brasil, Regio Norte e Unidades da Federao

    Proporo da populao residente por cor ou raa (%)

    Proporo da populao residente por cor ou raa, segundo as Unidades da Federao - Brasil - Regio Nordeste - 2000

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 21

    A composio populacional por cor ou raa do Estado do Maranho, apresenta uma participao dos autodeclarados brancos de apenas 26,7%, a de autodeclarados pretos de 9,6% e a dos autodeclarados pardos de 62,3%, contrastando com a composio da capital So Luis, onde a participao de autodeclarados brancos (31,3%) prxima mdia regional, assim como a participao dos autodeclarados pardos (57,3%), embora a participao dos autodeclarados pretos (10,2%) seja superior mdia estadual e regional.

    Nas anlises estaduais a proporo mais elevada de autodeclarados pardos foi observada no Estado do Piau (64,6%), seguido do Estado do Maranho (62,3%). J o Estado da Paraba (52,3%) apresentou a menor proporo de pardos dentre os Estados do Nordeste do pas.

    Quanto aos autodeclarados pretos, o Estado da Bahia (13%) se destacou com proporo bem acima da mdia nacional (6,2%).

    Ao se agregar os autodeclarados pretos e pardos, trs das Unidades da Federao atingiram propores prximas a 70%, nesta ordem, Bahia (73,2%), Piau (72,3%) e Maranho (71,9%).

    Regio Sudeste

    A Regio Sudeste formada pelos Estados do Esprito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e So Paulo e ocupa 10,85% do territrio brasileiro, com uma rea de 927.286,2 km. Ela a de maior populao, somando 72.412.411 habitantes, em 2000, o que representava 15% da populao do Pas. Apresentando um grau de urbanizao de 80,9% com uma densidade demogrfica de 78 hab/km, essa regio abriga as trs mais importantes metrpoles nacionais, So Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.

    A economia dessa regio a mais desenvolvida e industrializada do pas. Com efeito, com o processo de integrao do mercado nacional comandado a partir de So Paulo, o Sudeste concentra mais da metade da economia nacional, apresentado uma rede urbana articulada por uma densa rede de transportes, atravs da qual exercida sua hegemonia sobre o espao econmico nacional. Nesse contexto, alm do setor industrial, sua agricultura

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 22

    possui elevado padro tcnico e produtividade. O relevo planltico fornece grande potencial hidreltrico regio.

    Em 2000, a Regio Sudeste possua uma populao de 72,1 milhes de habitantes, dos quais 45,2 milhes se classificaram como brancos (62,6%), 4,7 milhes como pretos (6,6%), 514 mil como amarelos (0,7%), 21,4 milhes como pardos (29,6%) e 161 mil indgenas (0,2%).

    Historicamente, a Regio Sudeste, favorecida pela situao geogrfica excepcional de seus dois ncleos maiores, Rio de Janeiro e, principalmente, So Paulo, constituiu-se em centro dispersor do povoamento durante a segunda metade do sc. XVII. As condies precrias da Ilha de So Vicente e da Baixada Santista, onde primeiro aportaram os colonizadores, limitada pela ngreme escarpa da Serra do Mar e ocupada, em grande parte, por zonas de brejo e manguezais, no ofereciam condies para uma atividade agrcola ou extrativa, forando os primeiros colonizadores a se decidirem pelo interior (PETRONE, 1970).

    Nesse sentido, So Paulo, o primeiro ncleo estvel do Planalto Meridional, habitado por europeus e criado fora da orla litornea, embora no muito distanciado, tornou-se o principal centro de disperso do povoamento nacional, sendo responsvel pela ocupao de extensas reas do sul do Pas,atravs da criao de gado, assim como teve contribuio decisiva para o povoamento do mdio Vale do So Francisco e de reas do serto nordestino, transformando-as em centros de convergncia de populao.

    Da mesma forma, o ncleo de So Paulo tornou-se ponto de partida de expedies que utilizando-se do Vale do Paraba e Emba para atingir Minas Gerais, do Caminho do Anhanguera, para Gois ou do rio Tiet, para Mato Grosso, detonaram o processo de devassamento ligado preao de amerndios e conseqente descoberta de jazidas aurferas e de diamantes, contribuindo para a consolidao dos ncleos de minerao e promovendo um povoamento essencialmente urbano, em contraste com o do serto nordestino, rarefeito e de carter econmico complementar zona litornea (PETRONE, 1970).

    De forma inversa, nordestinos oriundos da Zona da Mata, j em decadncia, subiram o So Francisco e dirigiram-se para So Paulo ou Rio de

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 23

    Janeiro onde, atravs do caminho de Garcia Paes, atingiram as mais ricas zonas aurferas, trazendo os negros, em elevado nmero, que a condicionaram a formao de uma etnia com predomnio do mulato. De qualquer forma, pode-se dizer que o povoamento nas reas de minerao, ao contrrio do povoamento nordestino, tiveram no litoral apenas um ponto de partida ou uma porta de entrada ou de sada (PETRONE, 1970).

    Detentora da maior parcela da populao do pas (42,6%), a Regio Sudeste apresenta uma composio populacional onde predomina o autodeclarado branco (62,3%), bem superior mdia nacional (53,7%), da mesma forma que detm o segundo maior percentual da populao autodeclarada preta (6,5%), superior mdia nacional (6,2%) e inferior somente mdia regional do Nordeste (7,7%), enquanto o percentual da populao autodeclarada parda (29,5%), situa-se muito abaixo da mdia nacional (38,5%).

    Internamente Regio Sudeste, pode ser observada uma profunda diferena na composio populacional por cor ou raa existente entre os percentuais dos estados de Minas Gerais, Esprito Santo e Rio de Janeiro, e os do Estado de So Paulo, diferena que se reflete na formao dos percentuais regionais e que podem ser explicados pela composio populacional do Estado de So Paulo que, por razes histricas, apresenta ndices de participao por cor ou raa bastante diversos dos demais estados que formam essa macrorregio.

    Com efeito, embora a participao relativa da populao de cor branca seja de 62,3% para a Regio Sudeste, essa participao nos trs estados mencionados guarda maior proximidade com o ndice nacional (53,7%), alcanando 48,8% no Esprito Santo, 53,6% em Minas e 54,7% no Rio de Janeiro. Da mesma forma, a participao percentual da populao autodeclarada preta de 6,5% no nvel regional (e de 6,2% no nvel nacional), embora com percentuais de 6,5% no Esprito Santo, 7,8% em Minas Gerais e 10,6% no Rio de Janeiro, enquanto a participao da populao autodeclarada parda de 43,7% no Esprito Santo, 37,6% em Minas Gerais e 33,5% no Rio de Janeiro, vis--vis uma mdia regional de 29,5% e nacional de 38,4%.

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 24

    Tendo em vista esses ndices, torna-se evidente que o peso da populao autodeclarada branca do Estado de So Paulo (70,7%), contribuiu sobremaneira na elevao da mdia regional (62,3%), conforme os resultados do Censo 2000, enquanto, da mesma forma, as baixas participaes da populao autodeclarada preta (4,4%) e a da populao autodeclarada parda (22,8%) foraram uma diminuio da mdia regional de participao desses segmentos na composio populacional por cor ou raa da Regio Sudeste.

    Dessa forma, reafirmando a condio de primeiro ncleo estvel de colonizao europia do planalto Meridional, embora os registros estatsticos no permitam determinar com preciso as datas e volumes de entrada do branco no Pas, sabe-se que em relao aos portugueses, o principal grupo de imigrantes, o fluxo foi contnuo, sendo que o sc. XVIII, em virtude da atrao exercida pelo ciclo do ouro e das pedras, e como resultado de polticas colonizadoras, foi o que registrou o maior afluxo de colonos portugueses e aorianos.

    J os italianos, segundo maior grupo em importncia numrica, aportaram no Brasil ainda no perodo colonial, embora essa imigrao tenha sido incrementada somente a partir da segunda metade do sc. XIX, com a chegada de grandes contingentes de imigrantes a So Paulo para trabalhar nas lavouras de caf, em substituio ao trabalho escravo. Da mesma forma, porm em menor nmero, o imigrante italiano foi fundamental para o povoamento e o desenvolvimento econmico de extensas regies localizadas, principalmente no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paran e Esprito Santo.

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 25

    Total Branca Preta Amarela Parda Indgena Sem declarao

    BRASIL 100,0 53,7 6,2 0,4 38,5 0,4 0,7SUDESTE 100,0 62,6 6,6 0,7 29,6 0,2 0,2 Minas Gerais 100,0 53,6 7,8 0,2 37,6 0,3 0,6 Esprito Santo 100,0 48,8 6,5 0,1 43,7 0,4 0,5 Rio de Janeiro 100,0 54,7 10,6 0,2 33,5 0,2 0,8 So Paulo 100,0 70,7 4,4 1,2 22,8 0,2 0,7

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.

    Proporo da populao residente por cor ou raa, segundo as Unidades da Federao - Brasil - Regio Sudeste - 2000

    Brasil, Regio Sudeste e Unidades da

    Federao

    Proporo da populao residente por cor ou raa (%)

    Tabela 3

    SO PAULO

    DF

    GOIS

    PARAN

    MATO GROSSO

    MINAS GERAIS

    ESPRITO SANTO

    MATO GROSSO DO SUL

    B A H I A

    O C E A N O A T L N T I C O

    RIO DEJANEIRO

    Proporo de autodeclarados pretos ou pardos Regio Sudeste - 2000

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.100 0 100 Km

    Pretos ou pardos na populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 100,00

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 26

    Regio Sul

    A Regio Sul com 577.214,0 km a regio que apresenta a menor rea, ocupando apenas 6,75% do territrio brasileiro. Formada pelos estados do Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. A populao da regio totalizava 25.107.616 habitantes, em 2000, o que representava 15% da populao do Pas. Apresentava uma densidade demogrfica de 43,5 hab/km. So encontrados traos marcantes da influncia da imigrao alem, italiana, aoreana e de eslavos na regio. tambm conhecida pelas baixas temperaturas.

    Inicialmente baseada na agropecuria, a economia da Regio Sul desenvolveu importante parque industrial nas ltimas dcadas, transformando-se, aps a Regio Sudeste, no segunda regio industrial do pas. A mecanizao da agricultura e tambm da agroindstria, favorecem a expulso de famlias do campo para a cidade. A agropecuria continua a desempenhar importante papel na economia da regio.

    Em 2000, a Regio Sul possua uma populao de 25,2 milhes de habitantes, dos quais 21,0 milhes se classificaram como brancos (83,4%), 941 mil como pretos (3,7%), 104 mil como amarelos (0,4%), 2,9 milhes como pardos (11,5%) e 85 mil indgenas (0,3%).

    A regio que hoje corresponde aos estados do Paran, Santa Catarina e Rio Grande do Sul ficou um longo tempo margem dos principais roteiros de povoamento, observando-se, contudo, que os aorianos pontilharam o litoral com atividades ligadas ao mar ou de carter urbano, enquanto os espanhis, vindos do sul, e os paulistas, oriundos do norte, ocuparam zonas de campos naturais, tanto nas terras onduladas do Rio Grande do Sul quanto do planalto Meridional.

    A parte meridional do Brasil, territrio situado ao sul do trpico de Capricrnio, com condies climticas que no favoreciam o desenvolvimento de lavouras tropicais de carter comercial, apresentava-se pouco povoada e parcialmente desconhecida no incio do sc. XIX, sendo palco de escaramuas entre espanhis e portugueses pelo controle da bacia do Prata, assim como era parcial e extensivamente ocupada por criadores de gado, de origem

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 27

    espanhola, embora fosse pontilhada por ncleos de origem paulista e aoriana, no litoral, e penetrada por criadores paulistas, atrados pelos campos limpos da faixa planaltina (PETRONE, 1970).

    Entretanto, as reas florestais do sul do pas, que ainda permaneciam intactas, tornaram-se, no decorrer do sc. XIX, objeto de numerosas tentativas de colonizao por parte de grupos europeus de origem no lusitana, contando para isso com a iniciativa oficial e privada na criao de ncleos coloniais nas extensas terras florestais do Sul, antes e depois da independncia, como atestam a vinda das primeiras levas de imigrantes alemes que se fixaram no Rio Grande do Sul e, mais tarde, em Santa Catarina e, em menor escala, no Paran e em So Paulo. Data da mesma poca a entrada de imigrantes de origem eslava, basicamente poloneses e ucranianos, que vieram a se fixar preferencialmente no Estado do Paran, dedicando-se agricultura, s atividades madeireiras e ervateiras.

    Alguns desses ncleos transformaram-se em cidades importantes como Blumenau e Joinville, com populao de ascendncia germnica, Nova Trento, Criscima e Tubaro, com populao de ascendncia italiana, ou a zona serrana do Rio Grande do Sul, com populao de origem germnica e italiana, nas cidades de Novo Hamburgo ou Caxias do Sul, onde sobressaem alguns dos poucos exemplos brasileiros de agricultores pequenos proprietrios (PETRONE, 1970).

    J a presena do negro na Regio Sul pode ser explicada pelas migraes internas, atradas pelo desenvolvimento econmico e pelo deslocamento das frentes pioneiras associadas ao plantio do caf, no Paran. Entretanto, Rodrigues (1970) observa que a posio singular do Rio Grande do Sul, com a presena de um contingente de negros relativamente elevada, poderia ser explicada pela incipiente atividade aucareira registrada no litoral, acrescentada circunstncia de haver sido pequena a miscigenao, resultando num forte crescimento vegetativo do contingente de negros que ali se fixou.

    Detentora de 14,8% da populao total do Brasil, a Regio Sul, no que diz respeito sua composio por cor ou raa, evidencia as caractersticas histricas peculiares na formao desse contingente populacional, com o

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 28

    predomnio absoluto da populao autodeclarada branca (83,6%) e os menores percentuais, entre todas as macrorregies brasileiras, de participao regional das populaes autodeclaradas preta (3,7%) e parda (11,5%).

    Internamente essa regio, verificam-se semelhanas entre os percentuais de populao autodeclarada branca nos estados de Santa Catarina (89,3%) e Rio Grande do Sul (86,5%), assim como nos percentuais referentes participao da populao autodeclarada parda nesses estados (7% em Santa Catarina e 7,5% no Rio Grande do Sul). Por outro lado, os percentuais de populao autodeclarada preta apresentam diferenas significativas entre esses dois estados sendo de 2,6% em Santa Catarina e de 5,2% no Rio Grande do Sul, o que eleva a mdia regional para 3,7%.

    O Estado do Paran tem uma participao da populao autodeclarada branca de 77,2%, bem abaixo dessa participao nos outros dois estados sulistas, enquanto a participao da populao autodeclarada parda (18,2%) situa-se bem acima dos percentuais de participao dessa populao no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, ao mesmo tempo que a participao da populao autodeclarada preta de 2,8%, prxima de Santa Catarina e bem abaixo da do Rio Grande do Sul.

    A baixa participao desses segmentos na poro meridional do pas como um todo constitui um dos traos marcantes de diferenciao dessa regio no contexto nacional, conforme revelado pelo mapa da proporo de autodeclarados pretos e pardos, deixando evidenciada a diferenciada composio tnica dessa regio no contexto nacional.

    Finalmente, na escala nacional, pode-se afirmar que o processo histrico de insero diferenciada das regies no processo de ocupao econmica do territrio brasileiro explicou, no passado e referencia, na atualidade, os contornos da distribuio espacial dos pretos e pardos no pas.

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 29

    Tabela 4

    MATO GROSSO DO SUL

    RIO GRANDE DO SUL

    PARAN

    SANTA CATARINA

    SO PAULO

    PARAGUAY

    URUGUAY

    Proporo de autodeclarados pretos ou pardos Regio Sul - 2000

    100 0 100 Km

    Pretos ou pardos na populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 100,00

    Regio Centro-Oeste

    Total Branca Preta Amarela Parda Indgena Sem declarao

    BRASIL 100,0 53,7 6,2 0,4 38,5 0,4 0,7SUL 100,0 83,4 3,7 0,4 11,5 0,3 0,6 Paran 100,0 77,2 2,8 0,9 18,3 0,3 0,4 Santa Catarina 100,0 89,3 2,7 0,1 7,0 0,3 0,6 Rio Grande do Sul 100,0 86,6 5,2 0,1 7,5 0,4 0,3

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.

    Proporo da populao residente por cor ou raa, segundo as Unidades da Federao - Brasil - Regio Sul - 2000

    Brasil, Regio Sul e Unidades da Federao

    Proporo da populao residente por cor ou raa (%)

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 30

    A Regio Centro-Oeste ocupa 18,9% do territrio brasileiro, numa rea de 1.612.077,2 km e formada pelos estados de Gois, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Distrito Federal. A populao da regio em 2000 totalizava 11.636.728 habitantes e representava 6,5% da populao total do pas e se concentrava, em sua maioria na zona urbana. Essa regio vive intenso processo de urbanizao relacionado ao xodo rural mais tambm devido ao aumento do fluxo migratrio de outros estados brasileiros para os centros urbanos do Centro-Oeste. Em 2000, essa regio apresentava uma densidade demogrfica de 7,2 hab/km.

    A agroindstria o setor mais importante da regio, cujo crescimento econmico ocorreu, em grande parte, movido pela expanso da fronteira agrcola sustentada tanto na lavoura modernizada de gros, como a de soja, como na expanso do rebanho bovino, dentro de um sistema produtivo no qual essas atividades esto usualmente associadas explorao madeireira. Cabe observar que a extrao da madeira tem forte impacto na retirada da vegetao florestal do bioma amaznico que caracteriza grande parte do norte matogrossense. Em 2000, a Regio Centro Oeste possua uma populao de 11,7 milhes de habitantes, dos quais 5,8 milhes se classificaram como brancos (49,4%), 537 mil como pretos (4,6%), 46 mil como amarelos (0,4%), 5,1 milhes como pardos (43,4%) e 104 mil indgenas (0,9%).

    O Centro-Oeste, regio que concentra a menor parcela da populao brasileira (6,8%), permaneceu por longo tempo com uma ocupao rarefeita, em funo de sua condio interiorana e de difcil acesso. Entretanto, no se tratava de um espao vazio, mas, de acordo com Guimares e Leme (2002), de um espao que dispunha de ncleos importantes, embora dispersos, oriundos de uma ocupao descontnua e sustentada por uma base econmica tradicional, subproduto caracterstico da atividade mineradora, forma de garantir a presena avanada da Coroa no oeste do pas e responsvel pelo surgimento dos primeiros povoados e vilas, e da pecuria extensiva, importante auxiliar na fixao dessa populao.

    Da mesma forma, Petrone (1970) observa que a ocupao de algumas pores dos Estados de Gois e Mato Grosso, assim como grande parte do

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 31

    Estado de Minas Gerais, iniciou-se no final do sc. XVII, como resultado da expanso do povoamento nordestino, orientada pelo vale do Rio So Francisco, vindo a estabilizar-se no sculo seguinte.

    A composio atual por cor ou raa da populao do Centro-Oeste, comeou a ganhar contornos mais definidos no perodo 1930 e 1945, com a implementao de uma poltica de Estado de ocupao de fronteiras e preenchimento dos vazios populacionais, conhecida como marcha para o oeste, que modificou progressivamente a regio. Com a interiorizao de vultosos investimentos federais em eletrificao, telecomunicaes e estradas de rodagem, que acompanharam a construo de Braslia, consolidou-se a expanso em direo s novas fronteiras de recursos naturais diversificados, acelerando dessa forma, o movimento migratrio para o Centro-Oeste, alterando a composio tnica de sua populao.

    Ao se considerar a composio da populao do Centro-Oeste por cor ou raa, verifica-se o predomnio da populao autodeclarada branca (49,7%) que, embora com percentual bem superior ao das Regies Norte e Nordeste, situa-se bem abaixo dos percentuais das Regies Sul e Sudeste, enquanto, por outro lado, o percentual da populao de autodeclarados pardos (43,7%) bem superior ao das Regies Sul e Sudeste, e o percentual de autodeclarados pretos (4,6%), situa-se abaixo da mdia nacional.

    Internamente Regio Centro-Oeste, diferenas significativas na sua composio populacional podem ser identificadas, a destacando-se tanto as relacionadas ocupao pretrita dessa regio, quanto as definidas pelos traados das rodovias, algumas fundamentais no processo de ocupao recente, como a BR-163, que integrou o Sudeste Regio Norte, ampliando a influncia scio-econmica de Belm sobre o norte do Centro-Oeste e a BR-364, principal via de integrao entre o Sudeste, o Centro-Oeste e os estados de Rondnia e Acre, no Norte do pas.

    Dessa forma, o Estado de Gois e o sudeste do Mato Grosso, de ocupao mais antiga, efetivada atravs da minerao, possuem uma composio populacional por cor ou raa semelhantes, embora o Estado do Mato Grosso, por ter ficado sob a influncia direta de Belm por um longo perodo, apresente os percentuais mais elevados de populao de cor preta

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    (5,6%) e parda (47,9%) da regio, bem como o menor percentual de populao autodeclarada branca (44,1%). Por outro lado, grandes contingentes de migrantes dos estados do Sul vm se fixando no norte do estado, a partir da modernizao da agricultura de gros em reas de cerrado, o que explicaria diferenas intra-estaduais na composio por cor ou raa de sua populao.

    Da mesma forma, o Estado de Mato Grosso do Sul, desmembrado do Mato Grosso na dcada de 1970 e mais prximo dos estados sulistas, possui uma composio populacional por cor ou raa que o difere do restante do Centro-Oeste, com um percentual de populao autodeclarada branca (54,7%) superior mdia regional e nacional, assim como os percentuais da populao autodeclarada preta (3,4%) e parda (37,9%) constituem as menores participaes da regio e inferiores mdia nacional.

    Tabela 5

    Total Branca Preta Amarela Parda Indgena Sem declarao

    BRASIL 100,0 53,7 6,2 0,4 38,5 0,4 0,7CENTRO-OESTE 100,0 49,4 4,6 0,4 43,4 0,9 1,3 Mato Grosso do Sul 100,0 54,7 3,4 0,8 38,0 2,6 0,6 Mato Grosso 100,0 44,1 5,6 0,4 47,9 1,2 0,8 Gois 100,0 50,7 4,5 0,2 43,5 0,3 0,7 Distrito Federal 100,0 49,2 4,8 0,4 44,8 0,3 0,5

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.

    Proporo da populao residente por cor ou raa, segundo as Unidades da Federao - Brasil - Regio Centro-Oeste - 2000

    Brasil, Regio Centro-Oeste e Unidades da

    Federao

    Proporo da populao residente por cor ou raa (%)

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    P A R A G U A Y

    B O L I V I A

    PIAU

    RONDNIA

    SO PAULO

    A M A Z O N A S

    DF

    GOIS

    PARAN

    TOCANTINSMATO GROSSO

    MINAS GERAISMATO GROSSO DO SUL

    P A R

    B A H I A

    RIO DE JANEIRO

    Proporo de autodeclarados pretos ou pardos Regio Centro-oeste - 2000

    Fonte: IBGE, Censo Demogrfico 2000.100 0 100 Km

    Pretos ou pardos na populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 100,00

    5.6 Distribuio da Populao Autodeclarada Parda e Preta para um Nvel Maior de Desagregao Espacial

    De modo a permitir uma abordagem mais detalhada da distribuio espacial de autodeclarados pretos e pardos, e com a finalidade de representar os diferentes nveis de participao desses segmentos na populao, representaram-se espacialmente para um nvel maior de desagregao geogrfica, seis municpios Rio de Janeiro, Salvador, So Lus, Belm, Goinia e Porto Alegre. Conforme referido anteriormente, a introduo das pessoas autodeclaradas pretas no Pas, realizada atravs do trfico de escravos, guarda uma estreita relao com os diferentes ciclos que pautaram a economia nacional, da Colnia Repblica, viabilizada, principalmente, pelos portos de So Lus (MA), Salvador (BA), Recife (PE) e Rio de Janeiro (RJ), assim como atravs de Belm (PA), a partir da intensificao das atividades comerciais ligadas a estratgias do capital mercantil, tornando esses municpios

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 34

    representativos das relaes intertnicas que a se estabeleceram e que perduram at os dias atuais. Por outro lado, dois municpios foram includos nesse conjunto de municpios selecionados, Goinia (GO) e Porto Alegre (RS), sintetizadores dos processos de introduo e absoro das pessoas autodeclaradas pretas ou pardas nas macrorregies Centro-Oeste e Sul, que por no reunirem as condies necessrias prtica de uma agricultura comercial nos moldes mercantis, permaneceram margem dos processos de disperso populacional ocorridos durante os sc. XVII e XVIII, responsveis pela interiorizao das populaes de cor preta/parda nas macrorregies Norte, Nordeste e Sudeste.

    O municpio de Belm apresenta uma composio populacional onde a presena da populao branca bem mais marcante, com 31,6% de participao, enquanto a populao de cor preta tem um peso de 4,7% e os pardos 62,3%, evidenciando diferenas na formao dos contingentes populacionais residentes na capital e no interior do Estado.

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    SantaBrbarado Par

    Ananindeua

    Marituba

    Benevides

    Santo Antniodo Tau

    Castanhal

    Acar

    Barcarena

    Bujaru

    Populao preta e pardaBelm (PA)

    Populao preta e pardana populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 100

    N

    5 0 5 km

    A composio populacional por cor ou raa do Estado do Maranho, apresenta uma participao dos autodeclarados brancos de apenas 26,7%, a de autodeclarados pretos de 9,6% e a dos autodeclarados pardos de 62,3%, contrastando com a composio da capital So Luis, onde a participao de

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    autodeclarados brancos (31,3%) prxima mdia regional, assim como a participao dos autodeclarados pardos (57,3%), embora a participao dos autodeclarados pretos (10,2%) seja superior mdia estadual e regional.

    B a

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    SoJos deRibamar

    Pao doLumiar

    Raposa

    Alcntara

    Bacurituba

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    Icatu

    MorrosAxix

    Rosrio

    Populao preta e pardaSo Lus (MA) N

    Populao preta e pardana populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 1005 0 5 km

    O Estado da Bahia apresenta uma composio por cor ou raa onde a participao dos autodeclarados pretos bastante forte, chegando a 13%, enquanto a participao da parcela de autodeclarados brancos de apenas 25,2% e a dos autodeclarados pardos chega a 60%. Entretanto, diferentemente dos estados do Par e do Maranho, na composio populacional da capital Salvador, a participao da populao autodeclarada preta (20,4%) significativamente maior do que as mdias estadual e regional, assim como a participao dos autodeclarados brancos (23%) menor do que essas mdias, enquanto os autodeclarados pardos (54,8%) tm uma participao inferior s mdias estadual e regional, indicando que, possivelmente, grande parte do contingente de escravos que a aportou tenha permanecido nas lavouras localizadas em reas prximas Salvador.

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 36

    B a

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    Lauro deFreitas

    Simes Filho

    Camaari

    Madrede Deus

    Candeias

    Itaparica

    Vera Cruz

    Populao preta e pardaSalvador (BA) N

    5 0 5 km

    Populao preta e pardana populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 100

    Tambm constituda por grande diversidade interna, a Regio Sudeste teve no municpio do Rio de Janeiro um dos principais portos de entrada do escravo, o que se reflete em sua composio populacional onde forte a presena da populao de cor preta, atingindo ndices de participao (9,4% no municpio e 10,6% no plano estadual) bem superiores s mdias nacionais e regionais, enquanto a participao dos autodeclarados pardos de 30,8% no municpio do Rio de Janeiro e de 33,5% no plano estadual, abaixo da mdia nacional e acima da mdia regional.

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    Itagua

    SeropdicaNova Igua

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    Queimados

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    M a g Populao preta e pardaRio de Janeiro (RJ) N

    Populao preta e pardana populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 1005 0 5 km

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 37

    A composio populacional do municpio de Porto Alegre revela a presena marcante dos autodeclarados pretos (8,7%), enquanto o segmento de cor parda mantm-se no mesmo patamar do estadual (7,8%) e o contingente de brancos recua para 82,4%, aproximando-se do ndice regional, reafirmando a hiptese de formao de um enclave de autodeclarados pretos, nessa capital.

    R i o

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    Canoas

    Alvorada

    Viamo

    Cachoeirinha

    Gravata

    Triunfo

    EldoradodoSul

    Guaba

    Barrado

    Ribeiro

    Populao preta e pardaPorto Alegre (RS) N

    Populao preta e pardana populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 1005 0 5 km

    Finalmente, a comparao entre os municpios selecionados revela a distribuio espacial desigual dos segmentos pardos e pretos no contexto urbano tanto em Salvador, So Lus e Belm, cidades com forte participao desses segmentos na composio tnica de sua populao, como no Rio de Janeiro, com participao variando nas classes intermedirias e finalmente, Goinia e Porto Alegre, que apresentam baixa participao desses segmentos em sua populao.

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 38

    Catura

    Leopoldode Bulhes

    Caldazinha

    Bela Vistade GoisGuap

    Goianira

    Santo Antniode Gois Nerpolis

    Terezpolisde Gois

    Goianpolis

    Bonfinpolis

    Senador Canedo

    Abadia de Gois

    Trindade

    Aparecida de Goinia

    Populao preta e pardaGoinia (GO) N

    Populao preta e pardana populao total (%)

    0,00 a 9,9910,00 a 24,9925,00 a 39,9940,00 a 49,9950,00 a 59,9960,00 a 74,9975,00 a 84,9985,00 a 1005 0 5 km

    6. Concluso

    A proposta metodolgica deste trabalho pioneira, no que se refere ao georeferenciamento da informao coletada quanto ao nvel de desagregao, sendo assim o exame minucioso da informao se faz necessrio, principalmente pelo grande volume de informaes geradas. Todas as regies brasileiras tiveram o mesmo tratamento, objetivando a elaborao do primeiro resultado do Acordo 914BRA3031 IBGE/SEPPIR correspondendo ao Mapa da Distribuio Espacial da Populao, segundo a Cor ou Raa Pretos e Pardos, que consiste num mapa em escala nacional com informao da populao que se declarou preta e parda no Censo Demogrfico 2000, em formato papel e pdf. O segundo resultado do acordo ser CD-ROM - Indicadores e mapas em formato digital para um conjunto de municpios com a existncia de comunidades remanescentes de quilombos, enviados ao IBGE pela SEPPIR.

  • Rio de Janeiro, Agosto de 2007 RelatrioTcnico Preliminar 39

    Equipe Tcnica

    IBGE Diretoria de Pesquisas

    Coordenao de Populao e Indicadores Sociais Luiz Antnio Pinto de Oliveira Nilza de Oliveira Martins Pereira Claudio Dutra Crespo Claudia Bahia de Arajo Mario Fernandes Filho Jorge da Silva Valria Bourguignon Beiriz Monnerat (Consultora do Projeto)

    Coordenao de Mtodos e Qualidade Sonia Albieri Ari do Nascimento Silva (Consultor)

    Diretoria de Geocincias Coordenao de Geografia Maria Luisa Gomes Castello Branco Adma Hamam de Figueiredo Jorge Kleber Teixeira Silva Jose Antonio Sena do Nascimento Cleber Fernandes Marco Antonio Brito

    Diretoria de Informtica/ DEATE Viviane Narducci Ferraz Jose Carlos Louzada Morelli

    SEPPIR

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    7. Referencias

    IBGE, Anurio Estatstico do Brasil - 2004. Rio de Janeiro: IBGE, 2005. _Censo Demogrfico 1991: Manual do Recenseador. CD 1.09. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. _Censo Demogrfico 2000. Metodologia do Censo Demogrfico 2000. Srie Relatrios Metodolgicos, Vol. 25. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. _ http://www.ibge.gov.br , disponvel em 01 de dezembro de 2005. _Tendncias Demogrficas, uma anlise dos resultados da amostra do Censo Demogrfico 2000 Estudos e Pesquisas - Informao Demogrfica Socioeconmica, nmero 10 ou 13 . _ Caractersticas Gerais da Populao, Censo Demogrfico 2000 Resultados da Amostra. _Manual de winR+. Redatam-Plus para Windows ver 1.1. Recuperacin de Datos para reas pequeas por Microcomputador. Programa desenvolvido pelo Centro Latinoamericano de Demografia CELADE. CEPAL, Santiago, Chile. CASTRO, E. Populaes quilombolas na Amaznia: um olhar sobre o Brasil Revista Palmares n5, Braslia, 2000. GUIMARES, E. N. & LEME, H. C. Caracterizao histrica e configurao espacial da estrutura produtiva do Centro-Oeste, Ed. UNICAMP, 2002. MARCLIO, M. L. A demografia histrica brasileira nesse final de milnio, in Revista Brasileira de Estudos de Populao, ABEP, vol. 14, n. , jan/dez., So Paulo,1997. PETRONE, P. Povoamento e colonizao In: AZEVEDO, A. Brasil a terra e o homem. Volume II. A vida humana. So Paulo, 1970. RODRIGUES, L. M. As etnias brasileiras . In: AZEVEDO, A. Brasil a terra e o homem. Volume II. A vida humana. So Paulo, 1970.