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LUIZ AUGUSTO SAIAO RUFINO ANÁLISE DOS CRITÉRIOS COMPETITIVOS: UM ESTUDO DE CASO DO SETOR TÊXTIL BRASILEIRO São Paulo 2008

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LUIZ AUGUSTO SAIAO RUFINO

ANÁLISE DOS CRITÉRIOS COMPETITIVOS: UM ESTUDO

DE CASO DO SETOR TÊXTIL BRASILEIRO

São Paulo 2008

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LUIZ AUGUSTO SAIAO RUFINO

ANÁLISE DOS CRITÉRIOS COMPETITIVOS: UM ESTUDO

DE CASO DO SETOR TÊXTIL BRASILEIRO

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenharia de Produção.

São Paulo 2008

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LUIZ AUGUSTO SAIAO RUFINO

ANÁLISE DOS CRITÉRIOS COMPETITIVOS: UM ESTUDO

DE CASO DO SETOR TÊXTIL BRASILEIRO

Trabalho de Formatura apresentado à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do Diploma de Engenharia de Produção. Orientador: Profa Dra. Marly Monteiro de Carvalho

São Paulo 2008

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À minha família e à

Mariana Donatelli

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FICHA CATALOGRÁFICA

Rufino, Luiz Augusto Saiao

Análise dos critérios competitivos: um estudo de caso do setor têxtil brasileiro / L.A.S. Rufino. -- São Paulo, 2008.

p.

Trabalho de Formatura - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Produção.

1.Indústria têxtil (Competitividade) 2.Planejamento estraté-

gico I.Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departa-mento de Engenharia de Produção II.t.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora Profa Marly Monteiro de Carvalho, pelo direcionamento do trabalho,

pelo aprendizado, pelo interesse no assunto e por ter acredito neste trabalho.

Aos meus pais, Dilza Saião e José Luiz Rufino, pelo carinho, pela dedicação, pela educação,

pelo encorajamento e por todo investimento que fizeram em mim.

À minha querida namorada, Mariana Donatelli, pelo carinho, pela paciência, pelo

companheirismo e especialmente por ter acreditado e ter sido apoio fundamental na

elaboração deste trabalho.

Às minhas irmãs pelo apoio, pelo investimento e por terem sempre sido meus exemplos.

À Escola Politécnica e Ecole Nationale des Ponts et Chaussées pelo aprendizado

Às pessoas com quem trabalhei na Credigy, Promon, Saint-Gobain, BNP Paribas.

Ao pessoal da Turma 3 e agreados, amigos que fiz na Poli, por todos os momentos vividos

juntos nestes ótimos anos de nossas vidas.

À Felipe Mao, pela amizade e pelo exemplo de vida

À equipe da Bain, pelas longas horas de trabalho juntos, pelo conhecimento, paciência,

dedicação ao projeto.

Às pessoas da empresa Cotton1, pela ajuda neste projeto e por acreditar nos resultados.

Aos Profs. Lindemberg e Laerte pelo apoio no Duplo Diploma.

Ao pessoal do Xerox da Produção, pela simpatia e trabalho que me ajudou em muitas

vésperas de provas.

À Deus, por tudo.

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Um homem não está acabado quando

ele é derrotado, mas quando desiste.

(Richard Nixon)

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RESUMO

Este trabalho apresenta uma análise do ambiente competitivo do setor têxtil, com ênfase no

segmento de tecidos planos 100% algodão. Através da aplicação de ferramentas de análise

estrutural desenvolve-se uma abordagem do panorama do segmento no Brasil, visando

identificar as características do mercado, bem como as forças que nele atuam. Uma

abordagem mais detalhada do ambiente competitivo é desenvolvida com base no estudo de

caso da empresa líder no setor, a Cotton1. Utilizando ferramentas de análise dos critérios

competitivos, mostra-se o posicionamento da empresa dentro do mercado, em relação aos

concorrentes. O entendimento da dinâmica e dos desafios do mercado de tecidos planos 100%

algodão proporciona uma visão interessante do contexto em que a Cotton1 está inserida,

buscando aferir possíveis recomendações relevantes em relação à estratégia da empresa. Por

fim, este trabalho visa mostrar a importância e a utilidade das ferramentas utilizadas na

compreensão do mercado e nas análises estratégicas de uma empresa.

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ABSTRACT

This paper presents an analysis of the competitive environment in the textile sector, more

specifically on the flat fabrics’ (100% cotton) segment. Through the application of structural

analysis tools, a global approach of this segment in Brazil is developed, in order to identify

the characteristics of the market, as well as the forces that impact it. A more detailed approach

of the competitive environment is developed based on the case study of the segment’s leader,

the company Cotton1. Using tools to analyse the competitive criteria, the position of the

company inside the market is detailed, taking into account the main competitors. The

comprehension of the dynamics and the challenges of the flat fabrics’ (100% cotton) market

enable us to have an interesting view of the global context in which Cotton1 is presented,

searching relevant recommendations concerning the company’s strategy. Finally, this paper

shows the utility and the importance of those tools on the comprehension of the market and on

the strategic analysis of a company.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 : Etapas da pesquisa de campo ........................................................................... 16

Figura 1.2: O algodão, matéria básica dos produtos de Cotton1........................................... 18

Figura 1.3: Máquina utilizada na fabricação do fio.............................................................. 18

Figura 1.4: Atelier de fabricação de tecido .......................................................................... 19

Figura 1.5 : O acabamento com o exemplo de estamagem................................................... 19

Figura 1.6 : Exemplos de produtos confeccionados com fio estampado............................... 21

Figura 1.7 : Exemplo de camisas confeccionado com tecido liso......................................... 21

Figura 1.8: Exemplo de camisa confeccionada com fio tinto ............................................... 22

Figura 1.9 : Relação entre tipo de tecido e preços de venda no varejo de São Paulo............. 23

Figura 2.1 : Forças que governam a competição num setor ................................................. 29

Figura 2.2 : Mapa de grupos estratégicos da indústria de serra norte-americana .................. 35

Figura 2.3 : Matriz SWOT .................................................................................................. 37

Figura 2.4 : Aspectos internos e externos dos principais fatores de desempenho ................. 38

Figura 2.5 : Matriz de importância-desempenho ................................................................. 40

Figura 2.6 : Grupos de clientes e o calculo do NPS ............................................................. 46

Figura 2.7 : É importante analisar as oportunidades de crescimento em relação ao core

business da empresa............................................................................................................. 48

Figura 2.8 : Tipos e subtipos de adjacências........................................................................ 50

Figura 2.9 : O sucesso diminui com a distância do core....................................................... 51

Figura 3.1 : Investimentos em máquinas têxteis no Brasil ................................................... 57

Figura 3.2 : Gráfico de evolução da balança comercial da indústria têxtil............................ 59

Figura 4.1: Importação de vestuário no Brasil ..................................................................... 64

Figura 4.2 : Importação de tecidos planos de gramatura entre 100-200g/m2 no Brasil ......... 65

Figura 4.3: As Cinco Forças de Porter................................................................................. 66

Figura 4.4: Posição dos grupos estratégicos ........................................................................ 74

Figura 5.1: Preços dos produtos importados em relação aos produzidos pela Cotton1 ......... 84

Figura 5.2 : Rentabilidade por tipo de produto .................................................................... 86

Figura 5.3: Rentabilidade potencial por tipo de tecido......................................................... 88

Figura 5.4: NPS por empresa .............................................................................................. 90

Figura 5.5: Boxplot da amostra de NPS por empresa........................................................... 91

Figura 5.6 : NPS por empresa por tipo de serviço................................................................ 92

Figura 5.7: Boxplot das importâncias de cada quesito para os fios básicos .......................... 93

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Figura 5.8: Resultado da análise ANOVA........................................................................... 94

Figura 5.9: Resultado do modelo de lacunas para Cotton1 – mercado geral......................... 96

Figura 5.10: Importância de cada serviço por tipo de tecido adquirido ................................ 97

Figura 5.11: Boxplot das importâncias dos serviços por tipo de fio ..................................... 98

Figura 5.12 : NPS por cliente e por serviço – Mercado de fios finos.................................... 99

Figura 5.13: Boxplot de importância de quesitos para fios finos........................................ 100

Figura 5.14: Modelo das lacunas....................................................................................... 102

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LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 : Dados de produção, consumo e produtividade ................................................. 57

Tabela 3.2 : Número de unidades fabris por segmento......................................................... 58

Tabela 4.1 : Grupos estratégicos e preço médio por metro por empresa ............................... 72

Tabela 5.1 : Tabela Importância/Desempenho..................................................................... 95

Tabela 5.2: Resultados dos testes de hipóteses por tipo de serviço e tecido.......................... 98

Tabela 5.3 : Tabela Importância/Desempenho (Fios finos) ................................................ 101

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................ 15

1.1 Metodologia Utilizada .......................................................................................... 15

1.2 A Empresa............................................................................................................ 17

1.2.1 Informações Gerais........................................................................................... 17

1.2.2 Os Processos..................................................................................................... 17

1.3 Tipo de Tecidos e Produtos................................................................................... 19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...................................................................................... 25

2.1 Vantagem Competitiva ......................................................................................... 25

2.1.1 Estratégia versus Eficiência Operacional........................................................... 26

2.1.2 Os Princípios da Estratégia Competitiva ........................................................... 27

2.2 Análise Estrutural da Indústria.............................................................................. 28

2.3 Grupos Estratégicos.............................................................................................. 34

2.4 SWOT.................................................................................................................. 36

2.5 Modelo das Lacunas (GAPs) ................................................................................ 37

2.6 NPS (Net Promoter Score).................................................................................... 43

2.7 Estratégias de Adjacências.................................................................................... 47

3 PANORAMA DA INDÚSTRIA TÊXTIL..................................................................... 53

3.1 Panorama Internacional ........................................................................................ 53

3.2 Panorama do Setor Têxtil Brasileiro ..................................................................... 54

3.2.1 Breve Histórico – Abertura Comercial (Década de 90)...................................... 54

3.2.2 Mercado Interno ............................................................................................... 56

3.2.3 Mercado Externo .............................................................................................. 58

3.2.4 As Grandes Questões da Atualidade ................................................................. 60

4 ANÁLISE AMBIENTAL ............................................................................................. 63

4.1 Segmento de Tecelagem de Tecidos Planos 100% Algodão .................................. 63

4.2 Análise Estrutural da Indústria.............................................................................. 66

4.3 Grupos Estratégicos.............................................................................................. 72

4.4 Análise SWOT dos Grupos Estratégicos............................................................... 75

4.4.1 Strenghts – Forças ............................................................................................ 76

4.4.2 Weakness – Fraquezas ...................................................................................... 77

4.4.3 Opportunities– Oportunidades .......................................................................... 78

4.4.4 Threats– Ameaças............................................................................................. 80

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5 ANÁLISE DE OPORTUNIDADES PARA COTTON1................................................ 83

5.1 Análise de importações......................................................................................... 83

5.2 Possibilidades de integração vertical ..................................................................... 84

5.3 Aumentar participação no mercado de fios finos................................................... 85

5.3.1 Análise de rentabilidade dos tecidos de fio 50 ou superior................................. 85

5.3.2 Tamanho de mercado........................................................................................ 87

5.4 Análise de Net Promoter Score e Modelo de Lacunas (GAPs) .............................. 88

5.4.1 Análise Inicial: Todos os Tipos de Fio .............................................................. 90

5.4.2 Análise Detalhada: Fios Finos........................................................................... 96

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENTDAÇÕES ............................................. 103

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................ 107

APÊNDICE A: ANOVA para notas NPS absolutas............................................................ 109

APÊNDICE B: Teste de diferenças entre médias para o mercado de fio comum e fio fino.. 110

APÊNDICE C: ANOVA para importância de quesitos para mercado de fios finos ............. 112

APÊNDICE D: Importância de quesitos em fio comum ..................................................... 116

APÊNDICE E: Dados de NPS por empresa........................................................................ 119

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1 INTRODUÇÃO

A indústria têxtil é um setor tradicional que passou por diversas modificações em função dos

avanços tecnológicos e do aumento da concorrência, particularmente nas últimas duas

décadas. Com a globalização, o aumento da concorrência é bastante caracterizado pelo

aumento das importações e pela entrada de diversos importadores nos mercados nacionais.

Além disso, este setor é extremamente importante para a economia nacional, sendo

responsável por 16,8% do PIB e por 17,3% dos empregos da Indústria de Transformação,

segundo dados divulgados pela IEMI (Instituto de Estudos e Marketing Industrial) e pela

ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil).

Neste contexto, o objetivo deste trabalho é entender melhor o mercado têxtil, através da

aplicação de ferramentas aprendidas especialmente na disciplina de gestão estratégica da

produção do curso de engenharia de produção. Para isso, este trabalho abrange uma análise do

ambiente competitivo no segmento de tecidos planos, através de um estudo de caso de uma

empresa de tecidos para camisaria, a Cotton1.

O estudo de caso baseia-se no estágio, realizado pelo aluno, em uma empresa de consultoria

durante o período de desenvolvimento de um projeto na empresa Cotton1. Preocupados com o

aumento das importações, a falência de diversas tecelagens no mundo e as dificuldades

financeiras dos concorrentes, os dirigentes da Cotton1 buscavam novas opções para o

crescimento no mercado.

O presente trabalho visa proporcionar um melhor entendimento da dinâmica e dos desafios do

mercado de tecidos planos e aferir possíveis recomendações relevantes a partir das análises

realizadas com o auxílio das diversas ferramentas de análise estratégica. Devido a contrato de

confidencialidade entre a empresa e a consultoria, os nomes das empresas não são os nomes

reais e alguns valores foram modificados, porém sem perder a relevância das análises.

1.1 Metodologia Utilizada

A metodologia utilizada no desenvolvimento deste trabalho engloba quatro etapas principias

da pesquisa de campo, com forme ilustrado na Figura 1.1.

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− Parte I: a primeira parte deste trabalho apresenta as características principais da

empresa Cotton1, mostrando os principais produtos e a estrutura industrial da empresa.

Esta introdução é apresentada ainda no capítulo 1.

− Parte II: esta parte é composta pelos capítulos 2 e 3 nos quais são apresentadas as

teorias que fundamentaram as análises apresentadas neste trabalho, bem como o

panorama geral da indústria têxtil. Esta etapa da pesquisa de campo servirá como base

para o desenvolvimento das análises e recomendações das partes III e IV.

− Parte III: a análise da empresa e do mercado será apresentada com base na análise

ambiental e nos critérios competitivos que envolvem a empresa Cotton1. O

desenvolvimento desta etapa será descrito nos capítulos 4 e 5.

− Parte IV: Recomendações e considerações finais em relação à empresa.

Entendimento da Empresa

Análise da Empresa e do Mercado

Recomendações e Planos Estratégicos

Revisão Teórica e Entendimento do Mercado

1. Introdução:

� Dados Gerais

� Estrutura Industrial

� Produtos

3. Panorama da IndústriaTêxtil

� Cenário Internacional

� Cenário Nacional

4. Análise Ambiental

� Análise Estrutural daIndústria

� Análise de GruposEstratégicos

5. Critérios Competitivos

� Modelo de Lacunas (GAPs)

� NPS

6. Considerações Finais e Recomendações

2. Revisão Bibliográfica

� Estratégia Competitiva

� Análise Ambiental

� Critérios Competitivos

Parte I Parte II Parte III Parte IV

Entendimento da Empresa

Análise da Empresa e do Mercado

Recomendações e Planos Estratégicos

Revisão Teórica e Entendimento do Mercado

1. Introdução:

� Dados Gerais

� Estrutura Industrial

� Produtos

3. Panorama da IndústriaTêxtil

� Cenário Internacional

� Cenário Nacional

4. Análise Ambiental

� Análise Estrutural daIndústria

� Análise de GruposEstratégicos

5. Critérios Competitivos

� Modelo de Lacunas (GAPs)

� NPS

6. Considerações Finais e Recomendações

2. Revisão Bibliográfica

� Estratégia Competitiva

� Análise Ambiental

� Critérios Competitivos

Parte I Parte II Parte III Parte IV

Figura 1.1 : Etapas da pesquisa de campo

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1.2 A Empresa

1.2.1 Informações Gerais

A Cotton1 é uma empresa do setor têxtil fundada no princípio da última década. Ela fabrica

tecidos planos 100% algodão que são utilizados principalmente na confecção de camisas.

Atualmente, a empresa conta com mais de mil empregados.

A empresa possui uma preocupação contínua com a qualidade de seus produtos. Em janeiro

de 2006, começou a implementar um sistema de gestão de qualidade para colocar a empresa

de acordo com as diretrizes do ISO 9001.

A empresa é uma das líderes no segmento em que atua e é também a maior exportadora deste

tipo de tecido. A exportação representa atualmente cerca de 40% de sua produção anual. A

Cotton1 exporta para diversos países como: Argentina, Chile, Colômbia, EUA, Alemanha,

Itália, Espanha, Portugal entre outros. Pode-se dizer que as exportações num mercado tão

competitivo são um reconhecimento da qualidade e da seriedade da empresa.

A empresa também se preocupa com o desenvolvimento local. Ela oferece treinamento e

educação contínua aos trabalhadores e disponibiliza um centro moderno aos trabalhadores e

seus familiares incluindo: alimentação, saúde, educação e esporte.

Uma outra importante característica da Cotton1, que a diferencia de seus concorrentes, é a

profissionalização da sua administração. Mesmo que os atuais gestores sejam da família

fundadora, eles são extremamente qualificados e foram os responsáveis pela reestruturação da

empresa, marcada pela retirada dos familiares do conselho e pela contratação de profissionais

renomados do setor têxtil e de outros setores como o bancário e o de energia. Isto faz com que

a empresa seja reconhecida no mercado pela sua credibilidade e pela qualidade de seus

funcionários e gestores.

1.2.2 Os Processos

O processo de fabricação é composto pelas seguintes etapas: a fabricação do fio, a fabricação

do tecido e o acabamento.

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A matéria-prima básica utilizada no processo de fabricação do fio é o algodão. Esse último é

classificado conforme os padrões pré-determinados em relação ao tipo de produto. O algodão

é adquirido em embalagens de 200 kg e, depois da classificação feita, é consumido através da

mistura dos diferentes tipos de algodão.

Figura 1.2: O algodão, matéria básica dos produtos de Cotton1

O algodão é classificado conforme sua cor, comprimento de suas fibras e outras

características. Nessa etapa, um pessoal especializado utiliza equipamentos de ponta para o

controle de qualidade.

Figura 1.3: Máquina utilizada na fabricação do fio

Para a fabricação do fio, diferentes máquinas são utilizadas para obtenção do fio desejado.

Quando fabricados, os fios são armazenados em paletes, conforme seu tipo.

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Para a tecelagem, umas das primeiras etapas é a coloração. Várias etapas intermediárias são

também realizadas para a obtenção do tecido e um sistema de controle de qualidade é presente

no final do processo.

Figura 1.4: Atelier de fabricação de tecido

A última etapa é o acabamento, onde o tecido adquire características físicas específicas. Isso

inclui a cor, a estampa e outras propriedades do tecido.

Figura 1.5 : O acabamento com o exemplo de estamagem

1.3 Tipo de Tecidos e Produtos

A empresa Cotton1 atua exclusivamente no mercado de tecidos planos 100% algodão. Com

este tipo de tecidos as confecções produzem principalmente camisas, mas também pode servir

de matéria-prima para roupas infantis, produtos de decoração, uniformes, pijamas e roupas

íntimas.

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Uma característica importante dos tecidos é a titularidade do fio utilizado na tecelagem. A

titularidade é o número que representa a relação entre o comprimento do fio e seu peso. No

Brasil as titularidades mais comuns são fios 30, 40, 50, 70, 80 e superiores. Quanto mais

elevado for este número, mais fino, raro e nobre é o tecido. Para facilitar a compreensão, uma

classificação mais geral será utilizada neste trabalho:

• Tecidos de fios comuns / tecidos básicos: tecidos produzidos com fios 30/40 ou

inferior.

• Tecidos de fios finos / tecidos nobre: tecidos fabricados com fios 50 ou superior.

Outra característica importante do tecido é a coloração do fio. Os fios utilizados na fabricação

do tecido podem ser crus e depois que o tecido for fabricado coloca-se as cores ou as

estampas. Neste caso o tecido é classificado como estampado. Se o fio já é colorido e o

tecido é feito com apenas uma cor, este tecido é classificado como liso. Por último se o tecido

usa mais de uma cor de fios coloridos, este é classificado como tinto. Estas três classificações

estão em ordem de nobreza, sendo o estampado o menos nobre e mais barato e o tinto o mais

nobre e mais caro.

Conseqüentemente, tecidos estampados utilizam tecidos de titularidade mais baixa (os tecidos

básicos), e os lisos/tintos utilizam em geral todos os tipos de tecido, inclusive os tecidos

nobres. A seguir, alguns exemplos de produtos para ilustrar estas classificações:

− Produtos que utilizam tecidos estampados: a grande maioria dos produtos infantis

utiliza tecidos estampados, porque a estampas podem ser bem coloridas e com

desenhos, o que é muito valorizado no mercado infanto/juvenil. Este tipo de tecdido

também pode ser utilizado na confecção de camisas mais alegres, muitas vezes de

moda casual, e até mesmo na fabricação de roupas íntimas.

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Figura 1.6 : Exemplos de produtos confeccionados com fio estampado

− Produtos que utilizam tecidos lisos: normalmente são usados para confecção das

camisas mais clássicas.

Figura 1.7 : Exemplo de camisas confeccionado com tecido liso

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− Produtos que utilizam tecidos tintos: os tecidos tintos, por serem mais nobres, são

associados a uma titularidade mais elevada o que resulta em camisas de valor mais

elevado.

Figura 1.8: Exemplo de camisa confeccionada com fio tinto

A fim de obter uma relação consistente entre a classificação de nobreza do tecido e o seu

preço, foram realizadas visitas em mais de 60 lojas de varejo em São Paulo. Foi possível

verificar a relação clara entre a nobreza do fio/tecido e os preços das camisas. O resultado

desta análise é apresentado na Figura 1.9.

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Figura 1.9 : Relação entre tipo de tecido e preços de venda no varejo de São Paulo

A Figura 1.9 apresenta os diferentes tipos de camisa encontrados no mercado analisado,

mostrando os preços relacionados a cada grupo. Para ilustrar as características de grupo,

alguns atributos do produto “Low end” e “High end” também são apresentados.

A definição dos canais de distribuição, apresentada do lado esquerdo da figura, mostra a

identificação de cada grupo de produtos com um ou mais tipos de varejo. De acordo com esta

análise, a relação entre a nobreza dos tecidos e o preço do produto final é claramente

percebida.

Este aspecto será importante na compreensão das análises estratégicas que serão apresentadas

nos capítulos seguintes. Compreender as características do produto e o seu posicionamento no

mercado será fundamental para o desenvolvimento deste trabalho.

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2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O estudo e a definição da estratégia de uma empresa é bastante complexo e engloba uma

visão mais geral da situação e dos diversos fatores que atuam em um determinado mercado e

setor. Neste trabalho, o quadro teórico pautou-se no modelo das cinco forças competitivas, na

análise de grupos estratégicos e na análise SWOT, para a análise do setor industrial, e em dois

modelos de análise dos critérios competitivos para análise no contexto da empresa - Modelo

das Lacunas (Gaps) e Índice Net Promoter (NPS). Nas seções seguintes é apresentada a

síntese deste quadro teórico.

2.1 Vantagem Competitiva

A estratégia competitiva é o fator que diferencia as empresas que competem dentro de uma

mesma indústria. Porter (1996) afirma que o posicionamento estratégico visa alcançar uma

vantagem competitiva sustentável, através da preservação do que é distinto em uma dada

empresa em relação aos concorrentes. Esta diferenciação pode significar tanto a oferta de

produtos e serviços diferentes dos rivais, quanto a oferta dos mesmos produtos e serviços,

porém de maneira distinta. Considerando esta diferenciação um fator importante no

desenvolvimento da vantagem competitiva, o benchmarking passa a ser contestado.

O benchmarking é caracterizado pela busca das melhores práticas num determinado setor, a

fim de atingir desempenho superior. Assim, as empresas comparam e buscam em outras

empresas algumas funções ou atividades semelhantes, cujo desempenho superior possa ser

atingido.

Muitos autores defendem o benchmarking como forma de melhorar a qualidade das atividades

de uma empresa, permitindo um posicionamento estratégico mais vantajoso. Porter (1996),

porém, mostra que quanto mais benchmaring uma empresa realiza, mais convergente se torna

a competição, ficando mais difícil distinguir uma empresa da outra. Assim, o benchmarking

excessivo acaba não permitindo à empresa de se diferenciar em relação aos rivais e de

desenvolver uma vantagem competitiva.

Assim, o autor afirma que o posicionamento estratégico de uma empresa deve estar baseado

em três princípios fundamentais:

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• Estratégia é baseada na criação de uma posição única e valiosa, envolvendo um grupo

de atividades diferentes;

• Estratégia requer que trade-offs sejam feitos para garantir um posicionamento coerente.

Assim, deve-se escolher também “o que não fazer”, no caso de atividades não

compatíveis;

• Estratégia envolve desenvolver e assegurar uma harmonia e uma integração entre as

atividades da empresa, onde uma reforça a outra.

2.1.1 Estratégia versus Eficiência Operacional

Slack (1993) afirma que a manufatura exerce uma influência importante nas decisões

estratégicas, mostrando que muitas empresas viram suas ambições estratégicas freadas por

limitações na manufatura na tradução destas direções em ações. Assim, ele afirma que a

estratégia só tem real significado se puder ser traduzida em ação operacional.

Porter (1996) faz uma análise extensa sobre a necessidade de diferenciar eficiência

operacional de estratégia. Questões como produtividade, qualidade e velocidade estão sendo

cada vez mais discutidas e analisadas através de ferramentas de gestão. Apesar das empresas

obterem melhorias significativas em seus processos, elas são, na maioria das vezes, incapazes

de traduzir estes ganhos em crescimento sustentável. Assim, o autor mostra que em muitas

ocasiões as ferramentas de gestão operacional acabam tomando o lugar da estratégia,

causando uma confusão entre os dois conceitos.

A eficiência operacional é fundamental para se atingir um desempenho superior aos

concorrentes, assim como a estratégia. Porém, os dois conceitos são bastante diferentes e não

devem ser confundidos. A eficiência operacional significa realizar atividades similares aos

dos concorrentes com uma performance superior. Em contrapartida, posicionamento

estratégico significa realizar atividades diferentes dos concorrentes ou realizar atividades

similares de maneira diferente.

As ferramentas para melhorias operacionais, como Lean Production e Total Quality Control,

permitiram que as empresa mudassem a maneira como realizavam as suas atividades, visando

eliminar desperdícios e ineficiências, melhorar a satisfação dos clientes e atingir as melhores

práticas. Estas melhorias são necessárias para atingir melhor performance e lucratividade,

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porém em geral não são suficientes. A principal razão para isso é que as melhores práticas

podem ser facilmente difundidas e copiadas pelos concorrentes.

Isto significa que, mesmo se estas ferramentas de melhorias operacionais permiteam melhoras

absolutas significativas, elas não geram melhoras relativas para nenhuma das partes, já que

estas práticas podem ser facilmente imitadas e implementadas. Assim, retoma-se a idéia

citada anteriormente de que, quanto mais as empresas realizam benchmarking, mais parecidas

elas se tornam.

O autor ressalta ainda que os grandes ganhos em eficiência operacional nas últimas décadas

fizeram com que os gestores esquecessem a estratégia e se focassem nas melhorias

operacionais. A competição baseada apenas na eficiência operacional é mutuamente

destrutiva, levando as empresas à imitação e à homogeneização. A conseqüência é um

mercado caracterizado por preços estáveis ou decrescentes, onde a pressão pela redução de

custos é extremamente elevada a ponto de comprometer a habilidade das empresas em investir

no negócio em longo prazo.

2.1.2 Os Princípios da Estratégia Competitiva

A essência da estratégia é realizar atividades diferentes dos concorrentes. Porter (1996) afirma

que a estratégia competitiva é ser diferente, é gerar valor através de atividades diferenciadas

em relação aos concorrentes.

O posicionamento estratégico de uma empresa pode estar baseado em três aspectos diferentes:

− Variedade de produtos e serviços: este posicionamento é baseado em uma escolha de

produtos e serviços e não de um segmento de mercado. Assim, a empresa atende a uma

gama grande e diversificada de clientes, porém supre apenas uma parte das suas

necessidades, não oferecendo todos os produtos de um segmento;

− Necessidade dos clientes: este posicionamento tem como objetivo oferecer todos ou

quase todos os produtos e/ou serviços que um grupo de clientes necessita. Em outras

palavras, representa o posicionamento voltado para um determinado segmento de

mercado;

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− Acessibilidade dos clientes: este posicionamento é menos comum e visa segmentar os

consumidores que são acessíveis de maneiras diferentes. Esta acessibilidade pode ser

uma função da geografia ou da escala do mercado.

A partir destas definições de posicionamento, é possível definir a estratégia como sendo a

criação de atividades diferenciadas com posicionamento valioso, envolvendo uma gama

definida de atividades.

2.2 Análise Estrutural da Indústria

Segundo Porter (1999), a competição dentro de um mercado não é fruto apenas da presença

de diversos concorrentes. Existem outros participantes deste mercado que influenciam a

competitividade do setor; os clientes, os fornecedores, os entrantes potenciais e os produtos

substitutos. Todos eles concorrem em lucratividade na indústria, formando o que Porter

(1999) chama de as cinco forças básicas.

As cinco forças são apresentadas na Figura 2.1 e a potência coletiva deste conjunto será

necessária por definir as perspectivas de lucro do setor.

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Figura 2.1 : Forças que governam a competição num setor

(Porter, 1999)

Carvalho e Laurindo (2003) ressaltam que este modelo proporciona uma análise do ambiente

competitivo, através do mapeamento das cinco forças que nele atuam. Baseado neste

mapeamento a empresa pode formular sua estratégia competitiva, já que é possível verificar

quais são as principais forças atuantes num determinado setor.

Analisando a Figura 2.1, as forças exercidas na horizontal influenciam a batalha pela

lucratividade na cadeia produtiva, relativas ao poder de barganha dos clientes e dos

fornecedores. Na vertical, as forças estão relacionadas aos concorrentes, tanto os que já

existem quanto possíveis novos entrantes e produtos substitutos.

O modelo das “Cinco Forças” é uma ferramenta de análise estratégica que pode fornecer

insumos para o posicionamento da empresa em determinado setor. A posição ideal é aquela

que permite à empresa de se defender das cinco forças e de influenciá-las a seu favor.

Carvalho e Laurindo (2003) ressaltam que através de estratégias focadas nas forças mais

atuantes, é possível que a empresa influencie o ambiente competitivo, facilitando seu

posicionamento de maneira a neutralizar as forças atuantes. Assim, os autores mostram que o

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mapa do ambiente competitivo é dinâmico, podendo sofrer modificações dependendo das

movimentações dos competidores em relação às forças.

Porter (1999) completa mostrando que é importante que as empresas estejam atentas às

mudanças do setor, para analisar o seu posicionamento estratégico. Além disso, as

características mencionadas nesta seção proporcionam um referencial para a estimativa da

rentabilidade final do setor. Isso ocorre, pois o potencial do setor depende das configurações

competitivas representadas pelas cinco forças.

Em suma, adquirir uma posição que seja menos vulnerável às forças competitivas que

influenciam o mercado é a chave para o crescimento.

Para determinar as forças que influenciam um determinado setor, é importante conhecer as

suas particularidades. Deste modo, a análise a seguir mostra os principais fatores que devem

ser estudados dentro de cada uma das forças.

1- Ameaça de novos entrantes

A ameaça de entrada de novos concorrentes depende das barreiras de entrada do setor e da

reação dos concorrentes. Porter (1999) define seis fatores principais que podem representar

barreiras à entrada:

− Economias de escala: um setor caracterizado pelas economias de escala força os novos

entrantes a ingressar no mercado com uma estrutura de larga escala ou de assumirem

custos mais altas que a concorrência. Assim, esse aspecto é considerado uma das

principais barreiras à entrada de novos participantes;

− Diferenciação do produto: dentro deste aspecto, alguns fatores representam

importantes barreiras de entrada, exigindo dos novos entrantes altos investimento para

superá-las. Dentre estes fatores estão: a imagem da marca, a propaganda, as

particularidades e diversificação dos produtos e serviços, o pioneirismo no setor, o

serviço e atendimento ao cliente, entre outros;

− Exigências de capital: alguns setores exigem investimentos iniciais extremamente

elevados, constituindo uma barreira importante à entrada de novos concorrentes. Estes

investimentos englobam não apenas instalações físicas e maquinários, mas também

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algumas despesas irrecuperáveis como propaganda de lançamento e investimentos em

pesquisa e desenvolvimento;

− Desvantagens de custo: este aspecto independe do tamanho da empresa e não se refere

a economias de escala. As desvantagens de custo neste caso estão relacionadas a

melhorias provenientes da curva de experiência, de tecnologias exclusivas, do acesso a

matérias-primas melhores e/ou mais baratas, de incentivos governamentais anteriores,

de fiscalizações favoráveis, entre outros. Uma outra vantagem de custo importante está

relacionada às patentes;

− Acesso a canais de distribuição: a limitação de acesso a canais de distribuição e a

forte presença dos concorrentes nestes canais constituem uma importante barreira.

Assim, pode ocorrer do novo entrante ser obrigado a desenvolver seus próprios canais

de venda, por não conseguir utilizar os canais já existentes;

− Política governamental: o governo pode ter um papel importante na constituição de

barreiras à entrada de novos participantes a um determinado setor, através da exigência

de licenças, de restrições em relação a matérias-primas ou até mesmo de

regulamentações quanto a políticas de poluição de água ou de segurança do trabalho,

por exemplo.

Além das diversas barreiras que podem existir em um setor, a reação dos concorrentes atuais

pode também gerar dificuldades em relação à entrada de novos participantes. Os concorrentes

atuais podem, por exemplo, entrar em uma “guerra de preços” para não perder mercado. Eles

podem ainda utilizar excesso de caixa e créditos financeiros para fazer novos investimentos,

aumentando a produção, distribuição, marketing, entre outros. Além disso, é importante

identificar o tamanho e o potencial de crescimento do mercado, para que as reais ameaças

sejam analisadas.

2- Poder de negociação dos fornecedores

Em determinados setores, os fornecedores podem exercer importante pressão, através de

fortes negociações em relação ao aumento de preços ou redução da qualidade. Alguns fatores

são importantes para analisar se o poder de barganha dos fornecedores em determinado setor é

elevado:

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− Se o grupo de fornecedores for formado por poucas empresas e for mais concentrado

do que o grupo de compradores;

− Se o produto fornecido for exclusivo ou diferenciado;

− Se o grupo de fornecedores apresenta uma ameaça importante de integração para

frente;

− Se o setor não representar um comprador importante, fazendo com que os fornecedores

não dependam deste setor e assim tenham mais poder nas negociações.

3- Poder de negociação dos clientes

Assim como os fornecedores, os clientes também podem desenvolver grande poder de

barganha em determinados setores. Eles podem exigir redução de preços, aumento da

qualidade e melhor prestação de serviços, colocando os concorrentes em uma guerra dentro

do setor, em detrimento da lucratividade.

Alguns dos fatores, que caracterizam este poder, são citados a seguir:

− Concentração dos compradores;

− Compras em grandes volumes;

− Produtos oferecidos padronizados ou sem grande diferenciação;

− Lucros baixos, incentivando a redução de custos com compras;

− Ameaça importante de integração para trás.

Alguns setores podem apresentar um alto poder de barganha dos fornecedores e em outros,

este poder pode vir dos compradores. Em determinadas indústrias, porém, pode ocorrer dos

dois grupos terem poderes ou de nenhum deles representar uma real ameaça de poder de

barganha.

Num setor onde os fornecedores e compradores possuem alto poder de barganha, existe uma

interdependência, exigindo extensas negociações para que possam atingir um acordo comum.

Por outro lado, se os dois apresentarem baixo poder, existe uma independência de um em

relação ao outro.

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4- Ameaça de produtos substitutos

Outra ameaça importante provém dos produtos ou serviços com funcionalidades semelhantes

aos do setor, sendo considerados substitutos. Estes produtos exercem uma força importante,

pois limitam os preços dos produtos do setor, diminuindo a lucratividade da indústria como

um todo.

Produtos substitutos cuja relação preço-desempenho for melhor do que os produtos do setor

devem ser analisados com mais detalhes, pois representam uma ameaça importante. Além

disso, substitutos produzidos em setores de alta rentabilidade também representam uma força

significativa no ambiente competitivo.

Assim, as empresas do setor devem estar atentas às novas tendências e mudanças que podem

influenciar o mercado. É necessário investir constantemente em avanços tecnológicos, e tentar

antecipar as ações de concorrentes do setor e de outros setores que possam se tornar uma

ameaça de desenvolvimento de produtos substitutos.

5- Manobra pelo posicionamento dos atuais concorrentes

Uma alta rivalidade dentro de um setor pode desencadear políticas severas e um grande

impacto na produtividade do setor. Um exemplo é a guerra de preços, em setores com grande

competitividade, alta ameaça de novos entrantes e/ou de produtos substitutos.

Um setor que apresenta um grande número de concorrentes com certa igualdade de tamanho e

de poder, normalmente apresenta uma rivalidade elevada. Além disso, se o setor apresenta

importantes barreiras de saída, os concorrentes em má situação acabam permanecendo no

setor, mantendo a capacidade alta e diminuindo a rentabilidade das empresas em boas

condições.

Outro fator que deve ser levado em consideração, segundo Carvalho e Laurindo (2003), é a

necessidade de ganhar market share dos concorrentes em mercados onde o crescimento é

lento ou inexistente. Nestes casos, a única maneira de uma empresa crescer é atrair os clientes

da concorrência, aumentando a rivalidade no setor. A falta de diversificação, a existência de

custos fixos elevados, a existência de rivais que apresentam estratégias divergentes e a

ocorrência de aumentos de capacidade em grandes saltos são outros fatores que também

tornam o mercado mais propenso a uma alta rivalidade.

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2.3 Grupos Estratégicos

A estratégia competitiva de uma empresa é o que permite a ela diferenciar-se das outras

empresas dentro de uma mesma indústria, sendo direcionada pelas suas forças e fraquezas.

Deste modo, Feka; Xouris e Tsiotras (1997) mostram que empresas com estratégias similares

normalmente possuem forças e fraquezas também similares, fazendo com que seja possível

agrupar as empresas em grupos estratégicos.

Pressupõe-se que as empresas dentro de um grupo estratégico sejam similares e que reagem

de um mesmo modo aos movimentos externos. A análise de grupos estratégicos facilita a

análise de uma indústria, já que se considera o grupo como um todo, e não as diversas

empresas.

Porter (1991) define um grupo estratégico como “o grupo de empresas em uma indústria que

estão seguindo uma estratégia idêntica ou semelhante ao longo das dimensões estratégicas”.

Afirma ainda que o grupo estratégico representa uma ferramenta analítica que orienta a

análise estrutural de uma indústria. Esta ferramenta permite analisar a estrutura do grupo, sua

atratividade e a competitividade tanto dentro do grupo quanto entre os grupos.

As dimensões estratégicas permitem agrupar as empresas em grupos estratégicos. Segundo,

Porter (1987) apud Carvalho e Laurindo (2003) estas dimensões podem ser:

− Especialização;

− Identificação da marca;

− Seleção de canal;

− Política de canal;

− Qualidade do produto;

− Liderança tecnológica;

− Integração vertical;

− Posição de custo;

− Atendimento;

− Política de preços;

− Alavancagem;

− Relacionamento com a matriz;

− Relacionamento com os governos do país de origem e anfitriões.

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O mapeamento dos grupos estratégicos é uma ferramenta importante na análise estrutural da

indústria, e é apresentado em forma de gráfico. Os eixos do gráfico representam dimensões da

estratégia competitiva. As duas dimensões selecionadas devem representar as dimensões

críticas dentro da indústria, as principais barreiras de mobilidade.

Este mapa apresenta graficamente a concorrência em determinada indústria. Porter (1987)

apud Carvalho e Laurindo (2003) exemplificam através do mapa de grupos estratégicos

referente à indústria de serra norte-americana, conforme apresentado na Figura 2.2.

Figura 2.2 : Mapa de grupos estratégicos da indústria de serra norte-americana (Porter (1987) apud Carvalho e Laurindo (2003))

Conforme dito anteriormente, a análise de grupos estratégicos permite analisar a rivalidade e

concorrência entre os grupos e também interna a um grupo. É importante ressaltar que as

cinco forças que atuam em uma indústria causam impactos diferentes nos diferentes grupos

estratégicos, de acordo com as forças e fraquezas de cada um deles. Deste modo, as

abordagens que devem ser feitas através do modelo de grupos estratégicos incluem: a posição

da empresa dentro de um grupo estratégico, as características que podem ser aplicadas a toda

a indústria e as características especificas do grupo estratégico.

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2.4 SWOT

A análise SWOT representa a avaliação global das forças, fraquezas, oportunidades e

ameaças. A sigla SWOT provém dos respectivos termos em inglês: strengths, weakness,

opportunities, threats.

Esta análise de cenário se divide em duas abordagens: ambiente interno, através das forças e

fraquezas, e o ambiente externo, através das oportunidades e ameaças.

Kotler (2000) afirma que as empresas devem monitorar as forças macroambientais

(econômico-demográficas, tecnológicas, político-legais e socioculturais) e os agentes

microambientais (clientes, concorrentes, distribuidores, fornecedores) que envolvem e

impactam sua capacidade de obter lucros. Esta análise permite identificar as oportunidades e

ameaças dentro da indústria.

Dentro deste contexto, uma oportunidade existe quando, através dela, uma empresa pode

lucrar ao atender às necessidades dos consumidores de um determinado segmento. Estas

oportunidades podem ser avaliadas e classificadas de acordo com a sua atratividade e a

probabilidade de sucesso.

Por outro lado, uma ameaça ambiental é representada por um desafio imposto por uma

tendência do mercado ou desenvolvimento desfavorável que possa deteriorar as vendas ou os

lucros de uma empresa, caso ações não sejam desenvolvidas para combatê-la. As ameaças,

por sua vez, podem ser avaliadas e classificadas de acordo com a gravidade e a probabilidade

de ocorrência.

Uma vez que as oportunidades e ameaças foram mapeadas, é possível caracterizar a

atratividade geral do negócio, representado pela seguinte caracterização:

− Negócio Ideal: apresenta muitas grandes oportunidades e poucas ameaças importantes;

− Negócio Especulativo: apresenta grandes oportunidades e ameaças importantes;

− Negócio Maduro: tem poucas oportunidades e poucas ameaças;

− Negócio com Problemas: apresenta poucas oportunidades e muitas ameaças.

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Kotler (2000) realça que é importante diferenciar a existência e o mapeamento de

oportunidades da competência para ser bem-sucedido nessas oportunidades. Isto faz com que

seja necessária uma análise do ambiente interno da empresa. Assim, é fundamental que a

empresa avalie suas forças e fraquezas internas.

Com isso, a empresa deve avaliar suas forças e fraquezas para poder determinar quais

oportunidades podem e devem ser seguidas e para melhor se preparar para enfrentar as

possíveis ameaças. As decisões devem ser tomadas de forma a realçar as forças e deve-se

tentar minimizar ao máximo as fraquezas.

A Figura 2.3 apresenta a matriz SWOT, utilizada na análise do cenário de uma determinada

indústria.

Figura 2.3 : Matriz SWOT (Fonte : Bain & Company)

2.5 Modelo das Lacunas (GAPs)

Slack (1993) faz uma análise interessante sobre o papel desempenhado pela manufatura. O

autor afirma que o sucesso competitivo de uma empresa depende do desempenho das funções

de manufatura em relação aos concorrentes. Alguns fatores principais são citados para

comparar os diferentes concorrentes:

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− Especificação dos produtos em relação ao desejado pelo cliente;

− Qualidade do produto e do processo (“livres de erros”);

− Baixo lead time de entrega;

− Cumprimento de prazos.

O autor ressalta a importância de distinguir os aspectos internos e externos. Os aspectos

internos dos objetivos de desempenho influenciam o desempenho externo da operação como

um todo. A Figura 2.4 mostra essas relações.

Figura 2.4 : Aspectos internos e externos dos principais fatores de desempenho

(Slack, 1993)

Os objetivos de desempenho internos são influenciados pelos demais. Assim, é necessário

identificar não somente quais fatores internos são importantes para atingir um objetivo

externo, mas principalmente porque estes aspectos são importantes e como podem ser

aperfeiçoados.

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A partir destes fatores, a empresa pode garantir uma vantagem competitiva, caso seja melhor

que seus concorrentes nestes quesitos. Assim, Slack (1993) mostra a importância de avaliar o

desempenho da manufatura em relação a dois conjuntos de pessoas: os consumidores e os

concorrentes.

Os consumidores são aqueles que definem o que é valor e quais variáveis são mais

importantes. Por exemplo: preço, qualidade, diversidade, atendimento, confiabilidade, entre

outros. Esta percepção será necessária para o estabelecimento dos objetivos e metas da

manufatura. Assim, o autor classifica estes fatores como “ganhadores de pedidos” ou

“qualificadores”.

− Objetivos “ganhadores de pedido”: estes fatores são determinados pelos

consumidores como sendo fundamentais no momento da sua escolha. Isto significa que

estão diretamente relacionados com o ganho de negócios. Deste modo, se a empresa

investir nestes fatores e conseguir aumentar seu desempenho em relação à

concorrência, isto aumenta significativamente as suas chances de ganhar negócios;

− Objetivos qualificadores: são aqueles que não garantem necessariamente o ganho de

negócios, mas que se não atingirem um nível mínimo exigido pelos clientes fazem com

que a empresa perca qualquer chance de concorrer no mercado. Este nível mínimo é

também chamado de “nível de qualificação” e abaixo deste nível provavelmente os

ganhos de negócios são mínimos ou inexistentes. Isto significa que é necessário que a

empresa garanta este nível, porém uma vez atingido, quaisquer investimentos para

aumentar o desempenho provavelmente não trarão nenhum ganho extra.

O consumidor é, desta maneira, o responsável por identificar quais quesitos são “ganhadores

de pedidos” e quais são “qualificadores”. Isto deve orientar as decisões e preocupações da

Manufatura.

É importante ressaltar que esta classificação não é estática, podendo variar conforme variam

as necessidades dos clientes. Até mesmo uma inovação de um dos concorrentes pode gerar

uma mudança nos hábitos e nas exigências dos consumidores, que modificam a sua

classificação quanto aos critérios mais importantes e os qualificadores.

Esta primeira análise definiu os fatores que os consumidores definem como essenciais ou

qualificadores. Uma segunda análise desenvolvida por Slack (1993) foi em relação aos

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concorrentes, mostrando que o desempenho de uma empresa deve ser avaliado em relação aos

seus concorrentes.

Superar o desempenho dos concorrentes é um fator significativo para uma vantagem

competitiva. Se este desempenho se refere a objetivos “ganhadores de pedidos”, essa

vantagem é ainda mais importante podendo representa uma arrancada para a competitividade.

Além disso, se o desempenho em um fator “qualificador” cair abaixo do nível de qualificação,

isto pode significar uma transição para uma zona chamada de “perdedores de pedido”.

Assim, o autor mostra a importância de conhecer os concorrentes, as suas ações e inovações.

É importante conhecer o mercado em que atua e aprender com os sucessos e fracassos das

diferentes empresas que o compõem. As empresas normalmente focam esforços em monitorar

as suas próprias operações, sem dar o devido valor às ações dos concorrentes. Equipes

deveriam ser desenvolvidas para analisar tanto a empresa internamente como seus

concorrentes mais importantes.

A matriz da Figura 2.5 compara o que os consumidores consideram importante com o

desempenho em relação aos concorrentes:

Figura 2.5 : Matriz de importância-desempenho

(Slack, 1993)

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Os números nos eixos x e y facilitam o posicionamento dos fatores analisados e serão

importantes nas análises apresentadas posteriormente neste trabalho. Slack (1993) apresenta a

seguinte classificação:

− Importância para os consumidores:

GANHADORES DE PEDIDOS:

1. Proporciona uma vantagem crucial junto aos cientes – é o principal impulso da

competitividade.

2. Proporciona uma importante vantagem junto aos clientes – é sempre considerado.

3. Proporciona uma vantagem útil junto à maioria dos clientes – é normalmente considerado.

QUALIFICADORES:

4. Precisa estar pelo menos no nível do bom padrão do setor industrial.

5. Precisa estar em torno da média do padrão do setor industrial.

6. Precisa estar a pouca distância do restante do setor industrial.

OBJETIVOS MENOS IMPORTANTES:

7. Normalmente não é considerado pelos clientes, mas poderia tornar-se mais importante no

futuro.

8. Muito raramente é considerado pelos clientes.

9. Nunca é considerado pelos clientes e provavelmente nunca será.

− Desempenho em relação ao mercado:

1. Consistente e consideravelmente melhor do que o do concorrente mais próximo.

2. Consistente e claramente melhor do que o do concorrente mais próximo.

3. Consistente e marginalmente melhor do que a maioria dos concorrentes.

4. Com freqüência marginalmente melhor do que a maioria dos concorrentes.

5. Aproximadamente o mesmo da maioria dos concorrentes.

6. Com freqüência a uma distância curta atrás dos principais concorrentes.

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7. Usual e marginalmente pior do que os principais concorrentes.

8. Usualmente pior do que a maioria dos concorrentes.

9. Consideravelmente pior do que a maioria dos concorrentes.

Com relação a esta classificação, a matriz da Figura 2.5 distingue quatro zonas principais:

− Zona “adequada”: os objetivos posicionados nesta zona são considerados

satisfatórios, no curto e médio prazos. No longo prazo, a idéia é que os objetivos

“ganhadores de pedido” possam ser cada vez mais posicionados no topo da matriz,

sinalizando um melhor desempenho em relação aos concorrentes em todos estes

fatores;

− Zona de “melhoramento”: todos os objetivos classificados nesta zona devem ser

melhorados, atingindo a zona “adequada”. Os objetivos “menos importantes”

classificados nesta zona podem ser melhorados mas não representam uma prioridade

em um primeiro momento. Os esforços devem ser concentrados nos pedidos

ganhadores de pedidos e nos qualificadores, para que seu desempenho possa se tornar

visivelmente superior ao dos concorrentes;

− Zona de “ação urgente”: esta é a zona mais critica da matriz, pois os objetivos que

nela se encontram são importantes para os clientes porém o desempenho da empresa

está muito aquém do de seus concorrentes. Isto significa que a empresa está

provavelmente perdendo negócios e clientes, por estar muito abaixo do padrão

esperados, em relação a fatores de extrema importância ao cliente e/ou qualificadores.

Assim, medidas imediatas devem ser tomadas para que qualquer objetivo nesta zona

seja elevado até a zona “de melhoramento”, a curto prazo, e à zona “adequada” a médio

prazo;

− Zona de “excesso”: os fatores posicionados nesta área apresentam um desempenho

acima do esperado ou do necessário. É importante verificar se recursos estão sendo

direcionados a estes fatores, e em caso positivo, deve-se desviá-los a outros aspectos

mais importantes, como por exemplo, os que se encontram na zona de “ação urgente”.

A empresa deve prestar atenção a estes fatores, pois ela pode estar disponibilizando

recursos excessivos para um objetivo cujo bom desempenho não agrega valor sob o

ponto de vista do cliente, não trazendo novos negócios.

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43

O modelo das Lacunas mostra à empresa para onde seus recursos devem ser direcionados,

conforme o posicionamento de certos fatores em relação à percepção dos clientes. Os

resultados apresentados pela matriz importância-desempenho ressaltam o desempenho da

empresa nos objetivos mais e menos importantes para o cliente, mostrando uma vantagem ou

desvantagem em relação aos concorrentes.

Esta pode ser considerada a primeira etapa na análise de vantagem competitiva. Carvalho e

Laurindo (2003) mostram que a partir destes resultados, planos de ação devem ser

desenvolvidos e implementados, visando sanar os gaps e direcionar os recursos da melhor

maneira possível. A finalidade é garantir um desempenho acima da média do mercado nos

fatores críticos para os clientes, a fim de desenvolver uma vantagem competitiva.

Enfim, uma agenda de implementação deve ser definida, contendo onde e quando o plano de

ação será implementado, bem como a velocidade de implementação.

Vale ressaltar que, apesar desta análise feita por Slack (1993) ter sido desenvolvida com foco

na manufatura, fica claro que esta ferramenta também pode ser utilizada eficazmente por

empresas de serviço, por exemplo.

2.6 NPS (Net Promoter Score)1

Reichheld (2006) apresenta uma ferramenta para impulsionar o crescimento sustentável das

empresas através dos próprios clientes. Segundo o autor, existe uma pergunta que permite às

empresas diferenciar os lucros bons dos ruins: “Qual é a probabilidade de você recomendar

esta empresa a um amigo ou colega?” As respostas dadas pelos clientes para esta pergunta

compõem o Índice Net Promoter (NPS).

O autor argumenta que com o crescimento das empresas, seus donos ou gestores não possuem

mais um conhecimento direto da satisfação de seus clientes. Segundo ele, no tempo em que

todos os negócios eram pequenos, os donos tinham um contato direto com seus clientes,

obtendo um feedback direto e instantâneo quanto às suas percepções dos serviços e dos

produtos. Com o passar do tempo e o crescimento da empresas e dos mercados, este contato

direto foi sendo perdido e passou a ser mais difícil identificar e obter este feedback.

1 A propriedade da marca registrada é compartilhada entre a Satmetrix Systems Inc, a Bain & Company e Fred Reichheld.

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44

As empresas passaram então a contratar empresas especializadas em pesquisas de mercado

para desenvolver e aplicar pesquisas de satisfação dos clientes. Outro indicador que passou a

ser seguido foi o índice de retenção dos clientes. Estas ferramentas e indicadores, porém, não

são considerados confiáveis, já que o resultado obtido através de pesquisas sobre a satisfação

dos clientes não reflete o real comportamento dos mesmos.

O índice de satisfação dos clientes e o desempenho podem muitas vezes representar uma

relação inversa, sendo uma das razões pela qual os investidores em geral não consideram este

índice como um indicador importante.

Reichheld (2006) apresenta uma análise interessante sobre a diferenciação dos lucros bons e

dos ruins, como fator fundamental para o sucesso sustentável de uma empresa. O autor se

refere a lucros ruins como sendo os lucros provenientes de medidas não sustentáveis e não

relacionadas à lealdade dos clientes. Alguns exemplos de situações mostram algumas medidas

que podem gerar um lucro momentâneo, porém não sustentável devido ao seu impacto na

satisfação e conseqüentemente na lealdade dos clientes2:

− Hotel: a conta de telefone é superior ao valor da diária do quarto;

− Banco: taxa de retorno de cheque de $35,00;

− Celular: melhores preços e planos para novos usuários;

− Companhias aéreas: taxa de mudanças de $100,00.

Estas medidas muitas vezes podem garantir lucros, mas que são considerados pelo autor como

lucros ruins, pois não garantem a sustentabilidade do crescimento e até podem causar efeito

contrário, já que são medidas que afetam a satisfação e a lealdade dos clientes.

Muitas empresas medem seu desempenho e sucesso através de indicadores financeiros sem se

preocupar com a questão de lealdade e relacionamento com os clientes. Para estas empresas, o

aumento dos lucros é à medida que interessa, sem que a percepção dos clientes seja avaliada.

Sendo assim, os gestores e outros funcionários, que são avaliados em relação a esses

indicadores, tomam medidas como as citadas anteriormente, visando apenas o crescimento

pontual e deixando de lado a preocupação com o cliente.

2 Os casos referem-se aos Estados Unidos, mas pode ser adaptada à casos similares nos demais países.

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45

Neste contexto, quando uma empresa apresenta, por exemplo, um lucro incremental, não se

questiona se esse lucro é proveniente do aumento da receita de clientes satisfeitos, ou se é

resultado do amento de taxas camufladas. Se os custos são significativamente diminuídos, não

se sabe ou não se investiga se isso foi causado por melhorias significativas ou simplesmente

por cortes nos níveis de serviço e de qualidade.

Deste modo, o relacionamento com os clientes acaba sendo esquecido, fazendo com que as

empresas se foquem apenas no que podem medir financeiramente, no caso, nos lucros.

O autor busca com todos estes exemplos mostrar que o lucro em si é dividido entre lucros

bons e lucros ruins, e que é importante levar em consideração esta classificação, visando

eliminar os lucros ruins e aumentar os lucros bons, buscando o crescimento sustentável do

negócio.

Reichheld (2006) ressalta assim a necessidade de uma métrica que possibilite aos gestores do

negócio de diferenciarem os lucros bons dos ruins e de desenvolverem e implementarem

planos de ação para recuperar e consolidar a lealdade de seus clientes. Surge assim a

necessidade de criar um indicador simples e prático, mas que realmente seja representativo da

percepção e comportamento dos consumidores em relação à empresa.

O NPS é o indicador desenvolvido para atender a essa necessidade e considera que existem

três tipos distintos de clientes:

− Os Promotores: este grupo representa os clientes entusiasmados e leais que compram

repetidamente da empresa. Além disso, estes compradores não apenas indicam a

empresa a seus amigos como também insistem para que experimentem seus produtos

e/ou serviços;

− Os Neutros: este grupo é representado pelos consumidores satisfeitos, porém não

entusiasmados. Assim, estes clientes podem ser facilmente seduzidos pela

concorrência;

− Os Detratores: representam os consumidores infelizes com os produtos e/ou serviços

da empresa e que se encontram presos a uma relação ruim.

A classificação é feita a partir das respostas dadas pelos clientes em relação à pergunta: “Você

recomendaria esta empresa a um amigo ou colega?” A Figura 2.6 mostra como o NPS é

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calculado. A pergunta feita deve ser respondida através de uma “nota” de 0 a 10. Os clientes

que responderem 9 e 10 são classificados como Promotores. Os que responderem 7 ou 8 são

alocados no grupo Neutros e os demais representam os Detratores.

O NPS é calculado através da diferenças entre o percentual de clientes Promotores e ou

percentual de clientes Detratores de uma dada empresa.

Figura 2.6 : Grupos de clientes e o calculo do NPS (Fonte : Bain & Company)

O autor ilustra mostrando que as empresas com motores de crescimento eficientes apresentam

um NPS de 50% a 80%. A Harley-Davidson, por exemplo, apresenta um NPS de 81%, a

Amazon.com 73%, o eBay 71% e a Apple 66%. Assim, até mesmo estas empresas podem

melhorar o seu índice.

As empresas consideradas médias ficam estagnadas em um NPS variando de 5% a 10%, ou

seja, o número de promotores é levemente superior ao número de detratores. Para muitas

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47

empresas, porém este índice é negativo, mostrando que a cada dia elas criam mais detratores

do que promotores. Este desempenho abaixo do esperado mostra porque algumas empresas

são incapazes de crescer e lucrar de maneira sustentável, apesar de investimentos muitas

vezes altos.

O NPS não corresponde às métricas convencionais de satisfação dos clientes. É um índice

simples e fácil de ser aplicado e interpretado, possibilitando a implementação de ações

posteriores de acordo com o resultado.

O grande diferencial do NPS é a relação direta com a lógica do crescimento. Segundo as

pesquisas apresentadas por Reichheld (2006), existe uma forte correlação entre o NPS e a taxa

de crescimento médio da empresa ao longo dos anos. Mais do que isso, os resultados

mostraram que um aumento em 12 pontos percentuais no NPS fazia com que a taxa de

crescimento da empresa dobrasse. O autor ressalta que as médias podem variar e que as ações

da concorrência podem mudar esta situação, mas o intuito é mostrar a grande melhoria que o

NPS pode trazer.

Além disso, empresas podem apresentar um crescimento mesmo se o NPS for fraco. Isto

ocorre especialmente em empresas que formam um monopólio ou que dominam os pontos de

venda, fazendo com que cresçam independente da lealdade dos clientes.

Assim, o NPS é uma ferramenta que permite à empresa conhecer a percepção do seu cliente

de maneira simples e eficaz. Com uma correlação importante entre NPS e crescimento, esta

ferramenta passa a ser um indicador importante da evolução da empresa rumo ao crescimento

sustentável.

2.7 Estratégias de Adjacências

Existem inúmeras possibilidades para uma empresa crescer. Zook 2003 destaca algumas

principais: diversificação, investimento em capital de risco, aumento da inovação através de

maiores investimentos em Pesquisa e Desenvolvimento, utilização meios de crescimento

ocultos relacionados ao core business, entrada em novos mercados promissores, entre outros.

Sua análise, porém, concentra-se nas “estratégias de adjacência” como uma possibilidade de

crescimento lucrativo das empresas.

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48

Os movimentos adjacentes envolvem riscos e podem ser realizados de diferentes maneiras.

Algumas empresas optam por movimentos adjacentes bem próximos do core da empresa,

alterando apenas uma dimensão. Um exemplo seria a venda de um mesmo produto em outro

segmento de mercado. Porém, algumas empresas optam por movimentos que se distanciam

completamente do core. Essa distância entre o movimento adjacente e o core é, segundo o

autor, um indicador importante que deve ser considerado na análise dos riscos de uma decisão

deste tipo. A Figura 2.7 mostra visualmente esta relação.

Core

Adjacências próximas

Adjacências de média distância

Adjacências distantes

Diversificação

Core

Adjacências próximas

Adjacências de média distância

Adjacências distantes

Diversificação

Figura 2.7 : É importante analisar as oportunidades de crescimento em relação ao core business da empresa (Zook, 2003)

Estes movimentos trazem riscos e alto potencial para as empresas que optam por uma destas

oportunidades. Segundo Zook (2003), pelo menos 50% do valor de muitas ações é baseado na

expectativa dos investidores de crescimento futuro da empresa através de expansões

adjacentes. Isso mostra a importância desta da análise de oportunidades em relação às

estratégias de adjacência.

O autor apresenta seis formas primárias através das quais as empresas podem ampliar as suas

fronteiras e atingir um crescimento lucrativo:

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1. Adjacências de produto: consiste na venda de novos produtos ou serviços aos

“clientes core”. Este movimento é um dos mais utilizados e epresenta uma das

estratégias de crescimento com maior potencial.

2. Adjacências geográficas: consiste na expansão para uma nova área geográfica. Esta

estratégia de crescimento é bastante complexa, porém esta complexidade é em geral

subestimada pelas empresas, sendo este um dos motivos que explica o baixo índice de

sucesso deste movimento.

3. Adjacências na cadeia de valor: a integração vertical é uma das formas de estratégias

adjacentes. Segundo o autor, subir ou descer na cadeia de valor para desenvolver um

conjunto de atividades totalmente novo é um dos movimentos adjacentes mais difíceis.

4. Adjacências em canais: a entrada em um novo canal de vendas pode ser uma grande

fonte de valor, se for bem sucedida.

5. Adjacências de clientes: outro tipo importante de expansão é a modificação de um

produto ou tecnologia para entrar em um novo segmento de mercado.

6. Adjacências de novos negócios: o autor considera este movimento o mais difícil de

implementar e também o mais raro. Consiste na criação de um novo negocio em torno

de um núcleo forte.

A Figura 2.8 mostra os principais subtipos dentro de cada adjacência apresentada, mostrando

as diversas possibilidades de expansão e crescimento a partir do core da empresa.

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Novas etapas da cadeia de valor

Novos negócios

Novos produtos

Novas áreas geográficas

Novos canais

Novos segmentos de clientes

Integração a montante

Integração a jusante

Vendas para fora

Necessidades recém surgidas

Novos substitutos

Novos modelos

Próxima geração

Serviços de assistência

Complementos

Recém-criadosNovos

segmentos

Segmentos não explorados

Microssegmentaçãode segmentos atuais

Internet

Distribuição

Indireta

Expansão Global

Local

Novas etapas da cadeia de valor

Novos negócios

Novos produtos

Novas áreas geográficas

Novos canais

Novos segmentos de clientes

Integração a montante

Integração a jusante

Vendas para fora

Necessidades recém surgidas

Novos substitutos

Novos modelos

Próxima geração

Serviços de assistência

Complementos

Recém-criadosNovos

segmentos

Segmentos não explorados

Microssegmentaçãode segmentos atuais

Internet

Distribuição

Indireta

Expansão Global

Local

Figura 2.8 : Tipos e subtipos de adjacências (Zook, 2003)

Estes movimentos podem ser combinados numa série de movimentos entrelaçados. Muitas

vezes as empresas optam por fazer uma série de movimentos adjacentes semelhantes. Outra

opção é a criação de uma seqüência de adjacências de diferentes tipos, que acabam

redefinindo o core business.

Zook (2003) apresenta ainda três pilares para obter sucesso com uma expansão adjacente, que

devem ser considerados na avaliação das oportunidades de crescimento. O primeiro fator de

sucesso indica que “as melhores adjacências partem de cores fortes e os reforçam”. O autor

afirma que um core forte é o principal motor de criação de valor fundamental para a expansão

da empresa. Assim, completa mostrando que quanto mais perto do Core Business estas

adjacências estiverem maior a probabilidade de sucesso. Ele mostra estas probabilidades na

Figura 2.9.

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Figura 2.9 : O sucesso diminui com a distância do core

(Zook, 2003)

É importante ressaltar que isto não indica que as empresas devem evitar os investimentos e

negócios afastados de seu core. As empresas devem sim testar os limites e explorar novas

oportunidades. Porém, deve haver maior cautela e decisões mais conscientes quando os

investimentos em negócios muito distantes do core representam mais de 10 a 15% dos

recursos.

O segundo fator apresentado é o de direcionar os movimentos adjacentes às fontes de lucro

mais opulentas. Para analisar as “fontes de lucro” é necessário levar em conta o tamanho do

ramo de atividade, seus lucros atuais e potenciais, e como estes lucros podem cobrir os custos

de capital. Assim, esta é uma maneira de ver a atração fundamental do mercado, considerando

não apenas o seu tamanho e taxa de crescimento, mas também a estrutura econômica

existente.

Finalmente, o terceiro fator de sucesso é a insistência no potencial de liderança econômica. O

autor considera que é fundamental que exista um potencial para obter pelo menos o

equivalente econômico do líder do mercado. Se isto não ocorrer, é possível que a

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concorrência supere sempre os investimentos da empresa, fazendo com que esta tenha que

investir mais para lucrar menos. Zook (2003) apresenta os resultados de estudos realizados

pela consultoria estratégica Bain & Company, que mostram que o verdadeiro poder de

liderança econômica está, na maioria das vezes, na capacidade da empresa de reduzir custos

unitários, aumentando a sua margem. Segundo estes estudos, as diferenças nos custos

unitários são responsáveis por aproximadamente 80% das diferenças nos lucros de uma

empresa líder e seu seguidor mais distante.

Com isso, conclui-se que as adjacências podem ser ferramentas importantes no crescimento

de uma empresa. Porém, muitos riscos estão envolvidos, e são mais representativos à medida

que as adjacências se distanciam do core business da empresa. Assim, as empresas devem

analisar cautelosamente e explorar as melhores oportunidades de crescimento através das

estratégias de adjacências.

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53

3 PANORAMA DA INDÚSTRIA TÊXTIL

Este capítulo ainda faz parte da segunda etapa da pesquisa de campo e visa proporcionar um

maior entendimento do setor têxtil. Dados gerais do mercado nacional e internacional serão

apresentados, realçando as tendências e desafios que envolvem estes mercados. No cenário

nacional, diversos dados econômicos serão abordados, proporcionando ao leitor um

entendimento mais aprofundado da situação atual e das tendências a curto e médio prazos. O

entendimento do mercado será fundamental para a utilização de ferramentas estratégicas e o

desenvolvimento das análises na terceira etapa da pesquisa de campo, que engloba os

capítulos 4 e 5.

3.1 Panorama Internacional

A cadeia têxtil passou por muitas modificações nas últimas décadas, principalmente devido às

novas tecnologias e aos novos mercados produtores e consumidores.

Os avanços tecnológicos no setor, especialmente durante a década de 90, foram responsáveis

pelo incremento da produtividade de maneira significativa. A formação de novos mercados e

a crescente abertura econômica também tiveram grande impacto no cenário mundial da

indústria têxtil.

GORINI (2000) apresenta como fato marcante o crescimento expressivo do poder de países

asiáticos principalmente, como Taiwan, China, Indonésia, Tailândia, Índia e Paquistão. A

crescente concorrência proveniente destes países fez com que os tradicionais produtores

têxteis, como os Estados Unidos e a Europa, mudassem algumas características do negócio.

Cita-se principalmente a preocupação com a qualidade, a flexibilidade e a diferenciação dos

produtos, como forma de enfrentar a concorrência. Anteriormente, o principal motor eram os

preços.

Apesar dos avanços tecnológicos, o setor têxtil ainda é um setor caracterizado pelo uso

intensivo de mão-de-obra, principalmente na área de confecções. Assim, os novos

concorrentes asiáticos apresentam uma grande vantagem em termos de preço em relação aos

Estados Unidos e à Europa.

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54

Por esta razão, estes países decidem focar a sua estratégia na diferenciação e qualidade,

investindo pesadamente em novas tecnologias e novos produtos. Assim, o nicho de mercado

visado é considerado bem diferente e mais lucrativo.

Dentre os avanços tecnológicos citados, encontram-se não somente novos produtos, como as

fibras químicas, mas principalmente avanços em termos de processos produtivos. Um

exemplo importante é a utilização da produção puxada como forma de aumentar a

flexibilidade da produção, reduzindo custos e facilitando a adaptação às tendências da moda,

em constante mudança.

RECH (2006) completa mostrando que o setor é marcado por importantes transformações na

gestão e na estratégia das organizações, direcionadas a uma nova organização integrada do

trabalho, dos processos produtivos e da logística, além da disseminação da tecnologia e da

informação. Questões ambientais e mudanças nos hábitos dos consumidores também fazem

parte das preocupações adicionadas nas análises da indústria têxtil.

Outra característica importante observada e intensificada a partir de meados da década de 90 é

a integração vertical e horizontal no setor têxtil, especialmente na América do Norte. Assim,

ocorrem integrações para frente e para trás, ligando varejistas e produtores, e intensificando a

concorrência.

Deste modo, uma característica marcante do cenário mundial, tanto nos países tradicionais

como nos países do leste asiático, é a presença de empresas que fornecem diversos serviços,

desde a confecção do produto, até o design, matérias-primas, controle de qualidade e logística

de aprovisionamento e distribuição.

3.2 Panorama do Setor Têxtil Brasileiro

3.2.1 Breve Histórico – Abertura Comercial (Década de 90)

Lins apud Rech (2006) detalha alguns impactos no setor têxtil no Brasil devido à abertura

comercial da década de 90. O autor afirma que houve algumas transformações estruturais

importantes, e necessárias para compreender a situação atual. Dentre elas, cita-se:

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55

− Concentração da produção no segmento têxtil e pulverização do segmento de

confecções;

− Aumento da relação capital/trabalho devido aos altos investimentos no segmento têxtil,

porém não no segmento de confecção, ainda marcado pela mão-de-obra intensiva;

− Declínio da produção em alguns segmentos, como, por exemplo, os tecidos planos,

tendo duas conseqüências principais: primeiramente a falência de diversas empresas

principalmente de tecidos artificiais e sintéticos, devido à concorrência da importação

chinesa. Em seguida, a substituição de tecidos planos artificiais por malhas de algodão,

que exigem investimentos mais baixos e são em geral mais baratos;

− Deslocamento para regiões com maiores incentivos fiscais e menores custos de mão-

de-obra;

− Mudança do mix de produtos, caracterizado por três posicionamentos diferentes:

- Redução do mix para se beneficiar de economias de escala, investindo em

equipamentos de última geração;

- Intensificação da terceirização da produção visando a diferenciação dos produtos

e focando na comercialização (canais de venda, percepção da marca, logística,

etc);

- Empresas integradas que oferecem um “pacote completo”, semelhante à

tendência mundial de integração descrita na seção 0.

O impacto da abertura comercial foi sentido de maneiras diferentes de empresa para empresa,

dependendo principalmente do desenvolvimento tecnológico em que se encontravam neste

momento. Em geral, empresas exportadoras que já haviam passado por reestruturações

internas visando o aumento da produtividade e a redução dos custos, sofreram menos com a

abertura comercial.

É importante ressaltar, que assim como no resto do mundo, a utilização de ferramentas de

redução de custos, eliminação de desperdícios e flexibilização da produção também fizeram

parte das mudanças ocorridas no setor nas últimas duas décadas.

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Santos apud Rech (2006) mostra ainda que o acirramento da concorrência nacional e

internacional neste período, obrigou as empresas a mudar a sua idéia de posicionamento; a

vantagem competitiva não estava mais apenas focada na redução dos custos e nos preços

baixos, mas também na rápida e constante inovação, na flexibilidade e na diferenciação, no

gerenciamento da tecnologia e principalmente no suprimento e na comercialização de

produtos com elevada relação qualidade/preço.

3.2.2 Mercado Interno

O setor têxtil é um setor de forte impacto econômico e grande importância social. Segundo o

estudo divulgado pela IEMI e a ABIT, a indústria têxtil representa 3,1% do PIB nacional e

16,8% do PIB da Indústria de Transformação, com faturamento de US$ 33,0 bilhões em 2006.

No âmbito social, este setor da economia é responsável por empregar 1,6% da PEA

(População Economicamente Ativa), equivalente a 17,3% dos empregos da Indústria de

Transformação.

Apesar desta importante participação, houve uma redução de 20% no número de empregos

diretos gerados pelo segmento de 1995 a 2006. O processo de modernização do parque

industrial na última década é considerado um dos principais fatores que influenciaram esta

queda. Esta modernização veio em resposta às buscas por ganhos em eficiência e

produtividade, visando o melhor posicionamento face à crescente concorrência interna e

externa.

A indústria têxtil brasileira está na sexta posição no ranking mundial de produtores têxteis e

confeccionados. Os investimentos em máquinas, equipamentos, tecnologia, design e pesquisa

giram em torno de US$ 1 bilhão ao ano. De 1990 a 2006 os investimentos na modernização

do parque de máquinas estão estimados em US$ 11 bilhões, sendo que as máquinas nacionais

representaram 37% deste valor e as estrangeiras os outros 63%. A Figura 3.1 mostra esta

evolução nas últimas duas décadas:

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57

Indústria Têxtil

Investimentos modernização do parque de máquinas

0

200

400

600

800

1000

1200

1990 1995 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006

Estrangeiras

Nacionais

US

$/m

ilhões

Figura 3.1 : Investimentos em máquinas têxteis no Brasil

(Fonte: IEMI)

A produção nacional teve um aumento de 30,7% entre 1995 e 2006, principalmente como

resultado deste processo de modernização. Por outro lado, a Tabela 3.1 mostra que mesmo

com os investimentos na modernização do parque fabril e com os ganhos provenientes da

economia em escala, a produção brasileira não acompanhou o crescimento do mercado.

Assim, parte desta demanda continua sendo suprida pelas importações. Em contrapartida, a

utilização de tecnologias mais modernas teve forte impacto na produtividade média do

segmento, com um aumento de 64,4% de 1995 a 2006 no índice “produção por funcionário

por ano”.

Tabela 3.1 : Dados de produção, consumo e produtividade

Ano

Produção

anual por

habitante

Consumo

anual por

habitante

Produção

anual por

funcionário1995 8,3 8,7 691,42005 9,2 9,8 1091,32006 9,3 10,7 1136,8

Crescimento (2006/1995)

12,0% 23,0% 64,4%

Fonte: IEMI

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Uma pesquisa divulgada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra

que a produção física obteve bons resultados em 2007 em relação aos anos anteriores, mas

ainda aquém do potencial de crescimento da indústria. Os resultados divulgados mostram um

crescimento de 3,49% na produção têxtil em 2007 em relação a 2006, contra um crescimento

de 1,54% em 2006.

Outra evolução interessante está relacionada ao número de unidades fabris em toda a cadeia

têxtil. Considerando o mesmo período, houve uma queda de aproximadamente 40% no

número de unidades fabris nos segmentos de fiação e tecelagem, em decorrência de fusões e

aquisições, de ganhos de escala e do fechamento de unidades pouco eficientes. Por outro lado,

o segmento de confecção foi caracterizado pela terceirização de partes do processo produtivo

e a conseqüente entrada de novos pequenos produtores. A Tabela 3.2 ilustra esta evolução.

Tabela 3.2 : Número de unidades fabris por segmento

Segmento 1995 2005 2006Evolução

(1990/2006)Fiação 661 376 383 -42,06%

Tecelagem 984 493 593 -39,74%

Malharia 3 019 2 582 2 421 -19,81%

Confecção 17 066 20 853 21 898 28,31%

Fonte: IEMI

3.2.3 Mercado Externo

Para a indústria têxtil brasileira, o ano de 2007 foi marcado por um importante aumento nas

importações e um déficit importante na balança comercial. Segundo dados da ABIT. Apesar

de um crescimento de 11,9% nas exportações em relação a 2006, atingindo US$ 2,4 bilhões,

as importações tiveram um aumento de 40,4% em relação ao mesmo período, fechando em

US$ 3,0 bilhões. Assim, o déficit da balança comercial foi de US$ 648 milhões em 2007.

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Indústria Têxtil

Evolução da Balança Comercial

-648-34684-384-850

0

500

1 000

1 500

2 000

2 500

3 000

3 500

1995 2000 2005 2006 2007

-1 500 000

-1 000 000

-500 000

0

500 000

1 000 000

1 500 000

Importação

Exportação

Balança

Comercial

US

$/m

ilhões

Figura 3.2 : Gráfico de evolução da balança comercial da indústria têxtil.

(Fonte: IEMI)

A Figura 3.2 mostra a evolução das importações e exportações do setor têxtil brasileiro.

Percebe-se um forte aumento das importações a partir de 2005, ano em que a balança

comercial registrou um superávit de US$ 700 milhões.

O estudo ressalta que as exportações sofreram com o elevado fortalecimento da moeda

brasileira logo após a implementação do plano real, mas que voltaram a se recuperar atingindo

seu recorde histórico em 2005. As importações, em queda de 1995 a 2005, voltaram a subir

atingindo um novo pico em 2007, superando em 27,5% as exportações no mesmo ano.

Dados mais recentes, divulgados no boletim da ABIT do mês de Julho de 2008, mostram um

déficit na balança comercial de US$ 809 milhões. A importação já atinge US$ 3,0 bilhões,

34,0% superior ao mesmo período de 2007. As exportações apresentam um modesto aumento

de 7,2%, ficando abaixo dos US$ 1,1 bilhões.

Este cenário é bastante desfavorável e, em relação aos principais concorrentes mundiais, as

variáveis macroeconômicas do setor no Brasil permanecem negativas. Apesar da sexta

posição entre os maiores produtores têxteis no mundo, o Brasil garante apenas a 47ª posição

entre os maiores exportadores, segundo dados da ABIT de 2006.

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3.2.4 As Grandes Questões da Atualidade

O importante aumento das importações está vinculado a diversos fatores que serão detalhados

nesta seção. Além da produção nacional ser inferior ao consumo, conforme mostrado

anteriormente, fatores tributários e importações ilegais também contribuem para o aumento

significativo das importações.

A ABIT, em associação com a Receita Federal, está desenvolvendo e implementando ações

visando combater alguns destes fatores. Em 2007, foi desenvolvido um Plano Estratégico do

setor para os próximos 15 anos. As ações estão principalmente ligadas a três aspectos:

− A desoneração tributária: diferentes projetos estão sendo colocados em prática como

incentivo à indústria têxtil. Um exemplo é o Programa Revitaliza, que propunha

inicialmente compensações tributarias aos setores da economia fortemente atingidos

pela situação cambial do país. Após uma série de mudanças o programa foi aprovado e

apresenta hoje uma linha de crédito especial, visando financiamentos e empréstimos

mais competitivos. Outro exemplo é a recuperação imediata do PIS e Confins, que

incidem sobre as aquisições de máquinas e equipamentos para o setor têxtil. Estas

ações visam aumentar a competitividade dos produtos nacionais;

− O combate à importação ilegal e desleal: a receita federal está intensificando a

fiscalização dos produtos importados, para combater a entrada ilegal e a concorrência

desleal de alguns desses produtos. Além dos produtos que entram ilegalmente no país,

existem mercadorias que entram no Brasil por meios legais com preços muitas vezes

inferiores ao preço da própria matéria-prima. Em janeiro de 2006, o valor médio do

quilo de vestuário importado no Brasil era de US$ 8,79, valor consideravelmente

inferior ao dos Estados Unidos e Argentina, que estavam em torno de US$ 17,00. Com

o avanço das fiscalizações e o aumento dos impostos, este valor subiu para US$ 15,84

em meados de 2007, atingindo patamares mais próximos aos internacionais;

− A busca por acordos internacionais bilaterais: estes acordos permitiriam maior

acesso aos principais mercados compradores, a fim de impulsionar as exportações no

setor. Em abril de 2008 um encontro entre empresários brasileiros e americanos nos

Estados Unidos foi realizado e alguns acordos foram assinados por ambas as partes.

Ainda este ano, um encontro entre a Euratex, entidade que representa o setor têxtil e de

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confecções na União Européia, e os empresários brasileiros no setor também está

previsto.

A ABIT ressalta também que a evolução da inflação no setor têxtil após a implementação do

Plano Real em nada se assemelha à evolução da inflação geral. Segundo a associação, a

inflação medida pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) para o setor foi

pouco superior a 15%, enquanto a inflação geral atingiu 170%.

Com isso, a associação mostra que o setor investiu em modernização e transferiu os

benefícios deste investimento ao consumidor brasileiro, com produtos de melhor qualidade

com preços acessíveis a todas as camadas sociais. O presidente da Sindimalhas completa esta

idéia mostrando que um dos pontos negativos dos últimos anos está relacionado ao

achatamento dos preços e das margens para a indústria têxtil.

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4 ANÁLISE AMBIENTAL

Este estudo visa entender melhor o segmento de mercado de tecidos planos 100% algodão no

Brasil, com foco na empresa Cotton1, uma das líderes deste mercado. Com base no contexto

apresentado no capítulo 1, a diretoria desta empresa está muito preocupada com alguns

problemas observados nos últimos anos. Dentre eles:

− O faturamento que se mantém estável desde 2005;

− O aumento de produtos importados no segmento;

− Falências de tecelagens em outros países;

− Disponibilidade de caixa versus opções de investimentos;

− A dificuldade financeira dos concorrentes do setor;

− Procura de novas opções estratégicas.

Neste capítulo, algumas ferramentas de análise estratégica serão utilizadas, a fim de mapear o

contexto competitivo no qual a Cotton1 está inserida. Primeiramente, um panorama geral do

cenário competitivo no segmento de tecidos planos será apresentado. Em seguida, diferentes

análises permitirão identificar as oportunidades e desafios da empresa no setor, que servirá

como base para a análise dos critérios competitivos e as recomendações apresentadas nos

próximos capítulos.

4.1 Segmento de Tecelagem de Tecidos Planos 100% Algodão

O mercado de tecidos planos 100% algodão passa por um momento favorável, caracterizado

por uma demanda crescente nos últimos anos. Em decorrência disto, muitas empresas do setor

não conseguem entregar todos os pedidos no prazo determinado.

Por um lado, este cenário pode ser considerado um “bom” problema para as empresas, já que

estão trabalhando a 100% de capacidade. Porém, mesmo neste contexto positivo, a maioria

dos concorrentes da Cotton1 está acumulando prejuízos, ao contrário da Cotton1 que está

lucrando e investindo bastante nos últimos anos.

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A Cotton1 é líder no setor em que atua. As principais empresas deste setor são:

− Cotton1: empresa líder no mercado de tecidos de 100% algodão, com 15% de seu

volume em fios finos.

− Peugeau: ocupa o segundo lugar em volume de venda de tecidos 100% algodão, com

50% em fios finos.

− Fabricant: ocupa o terceiro lugar no setor, com 40% de sua produção em fios finos.

− Stecidos: é a única empresa especializada em fios finos, com 100% de sua produção

referente a fios finos.

Ainda que este segmento esteja em um bom momento, as empresas também estão

preocupadas com o aumento da participação dos produtos importados. Conforme indicado no

capítulo 3, as importações estão aumentando de maneira acentuada desde 2005, tendo

aumentado em 34% (em valor) em 2007 em relação a 2006. As importações ultrapassaram as

exportações em 2007, em 27%.

O aumento das importações ocorre tanto no mercado de produtos acabados (camisas, moda

infantil, uniformes) quanto no de tecidos, como mostram os gráficos da Figura 4.1 e da

Figura 4.2.

Figura 4.1: Importação de vestuário no Brasil

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No gráfico da Figura 4.1 podemos perceber um grande salto de 2004 para 2005 e um

crescimento constante e acentuado desde então.

Figura 4.2 : Importação de tecidos planos de gramatura entre 100-200g/m2 no Brasil

A Figura 4.1 mostra um crescimento significativo nas importações dos produtos acabados de

vestuário a partir de 2005. Em 2007, o crescimento foi de 23% em relação a 2006, porém se

comparado a 2004 este crescimento é muito mais expressivo: 430%.

A Figura 4.2 mostra uma evolução semelhante na importação de tecidos, marcada por um

crescimento extremamente acelerado desde 2003, e um “salto” expressivo em 2006. Em 2007,

o volume importado é mais de dez vezes superior ao de 2003.

Os importadores estão aproveitando o bom momento do setor no Brasil, caracterizado

principalmente pela situação de valorização do real e pelos baixos preços dos produtos

oriundos da Ásia. 3

Além disso, outros fatores colaboram com a intensificação das importações, como a

“ineficiência nacional”, que não apresenta capacidade de produção suficiente para atender a

demanda interna. A falta de variedade de produtos, as entregas atrasadas e a falta de

atendimento são outros fatores que influenciam no aumento das importações.

3 Estas análises foram feitas antes da ocorrência da crise financeira que atingiu o mundo a partir de Setembro de 2008.

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Deste modo, estes fatores caracterizam o mercado atual e representam uma preocupação

crescente da empresa Cotton1. Com base neste contexto, análises do cenário interno e externo

da empresa serão realizadas, a fim de proporcionar resultados importantes no

desenvolvimento das recomendações propostas neste trabalho. Estas ferramentas são

fundamentais no desenvolvimento de uma estratégia empresarial eficiente.

4.2 Análise Estrutural da Indústria

A fim de melhor entender este segmento, é interessante fazer uma análise estrutural da

indústria. Para isso, será utilizado o modelo das cinco forças competitivas de Porter.

Figura 4.3: As Cinco Forças de Porter

(Porter, 1999)

Com esta análise, visa-se mapear as forças competitivas que atuam no segmento,

determinando a sua intensidade em cada uma das cinco frentes apresentadas na Figura 4.3.

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1. Rivalidade entre empresas existentes: Média.

Existem muitas tecelagens no Brasil, porém focadas em diferentes segmentos dentro da

indústria têxtil. Considerando apenas o segmento no qual a Cotton1 atua e de porte

compatível, existem cerca de 10 empresas. A baixa concentração de concorrentes diminui a

incidência de rivalidade neste mercado. Outra característica que colabora para esta

diminuição é o fato do mercado estar crescendo mais rapidamente que a capacidade das

tecelagens. Um exemplo interessante desta situação, é que muitas vezes quando o diretor

comercial da Cotton1 percebe que não vai conseguir produzir o suficiente para atender todos

os pedidos, ele fornece aos seus clientes as coordenadas dos concorrentes.

Existem, porém elementos neste mercado que, segundo Porter (1999), aumentariam a

rivalidade entre concorrentes. A padronização dos produtos é um destes elementos. Como

será explicado melhor no item 4, o tecido para camisas, principalmente masculinas, não sofre

muita influência das tendências de moda, o que faz com e que os produtos sejam muito

parecidos. A padronização também ocorre porque é muito fácil para as tecelagens copiarem

mutuamente os desenhos de tecidos. Outra característica que aumentaria a rivalidade é o fato

do custo fixo ser elevado. A porcentagem do custo fixo no custo total é considerável,

atingindo cerca de 30%. Com base neste contexto a Rivalidade é considerada Média.

Como Porter realça, a situação do mercado é dinâmica, podendo mudar a qualquer instante.

Assim, mesmo que atualmente o mercado esteja favorável as tecelagens, qualquer alteração

na demanda/oferta, mudaria a situação de rivalidade entre os concorrentes.

2. Ameaça de novos entrantes: Fraca.

A indústria de tecidos é muito antiga, sendo formada, em sua maioria, por empresas

conhecidas e estabelecidas. Além disso, é caracterizada pelo elevado custo de maquinário, As

melhores máquinas são em geral, fabricadas na Suíça e na Alemanha. (conforme mencionado

anteriormente, 63% dos investimentos em máquinas no Brasil refere-se a máquinas

importadas). Estima-se que para a construção de uma usina de tamanho médio, por exemplo,

deve-se investir por volta de três milhões de dólares só em máquinas diretamente ligadas à

produção do tecido, sem considerar o custo de construção, do terreno, de tratamento de

efluentes e da caldeira. O alto valor de investimento em capital necessário representa uma

importante barreira à entrada de novos concorrentes.

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Outro empecilho refere-se às economias de escala. Como os custos relativos ao maquinário

são bastante elevados, isto aumenta a importância dos custos fixos na estrutura de custo de um

produto. Com isso, percebe-se claramente a importância da produção em escala para redução

desses custos. Além disso, os set-ups de máquinas são lentos, portanto quanto maior o

tamanho do lote médio trabalhado, menor os custos. Estes fatores mostram as vantagens

obtidas através de economias de escala, tornando-se uma importante barreira à entrada.

Outra barreira refere-se ao acesso aos canais de distribuição. Como vimos antes, o mercado de

confecções no Brasil é bem pulverizado requerendo assim uma rede de representantes densa.

Além disso, o peso e o reconhecimento da marca ajudam consideravelmente na prospecção e

na manutenção dos clientes.

Ainda, a curva de experiência ajuda muito a tratar assuntos diversos como problemas de

qualidade de produtos e priorização de pedidos, podendo também constituir uma significativa

barreira à entrada.

Por fim, grande parte dos competidores deste setor específico de tecido passa por dificuldades

financeiras, o que poderia ser considerado outra barreira de entrada. Sabe-se, porém, que esta

situação ocorre sobretudo por falta de uma administração profissional, o que no final pode ser

considerada como uma importante “brecha” para novos entrantes.

Com base neste cenário, pode-se considerar que a ameaça de novos entrantes também é

FRACA, já que as barreiras de entrada são inúmeras e importantes.

3. Poder de barganha dos fornecedores: Fraco.

Os dados apresentados no capítulo 3, divulgados pelo IEMI e a pela ABIT, mostram que

existem menos empresas de fiação que tecelagens no Brasil, o que seria indício de uma maior

concentração dos fornecedores. Porém, para o setor específico que estamos analisando isso

não verdade. O que de fato ocorreu nos últimos anos foi a falência de diversas empresas de

fiação brasileiras. Atualmente, o preço do fio importado da China, já considerando o custo de

transporte e alfandegário, é menor que o custo de fabricação dos fios no Brasil.

No caso específico da Cotton1, porém, a empresa ainda possui uma fiação própria, já que

conta com uma tecnologia de ponta, conseguindo fabricar fios ao mesmo preço dos fios

importados da China. A Cotton1 mantém esta fiação, porém já não realiza mais investimentos

neste maquinário. Isso indica que o processo de fiação vai continuar funcionando apenas

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enquanto as máquinas atuais funcionarem; após este período, a empresa começará a importar,

devido ao elevado custo de capital.

Poderíamos considerar os fornecedores de matérias primas utilizadas no processo. Para a

fabricação de tecidos, além do algodão necessita-se de drogas e Anelina, que são fornecidos

por grandes indústrias químicas. Esses produtos, porém, representam menos de 7% do custo

do tecido, fazendo com que o poder dos fornecedores não possa ser considerado elevado.

Em meio a este contexto, o poder de barganha dos fornecedores é considerado FRACO neste

segmento.

4. Ameaça de produtos substitutos: Fraca.

A análise dos produtos substitutos está dividida em duas partes. A primeira refere-se à ameaça

de produtos substitutos em relação ao produto final, as camisas. Em seguida, apresenta-se a

análise destas ameaças em relação ao produto semi-acabado, no caso os tecidos 100%

algodão.

Considerando as camisas, vários produtos que já existem no mercado podem ser considerados

produtos substitutos. Alguns exemplos incluem as camisetas ou as blusas. Porém,

considerando o vestuário masculino, apenas, não existe no mercado nenhum produto similar à

camisa social, que tenha a mesma elegância e que seja aceito em locais formais, como o

ambiente de trabalho e festas. Portanto, para essa parte do mercado o produto não sofre muito

com a ameaça de produtos substitutos. Na moda masculina causal, as camisas sofrem um

pouco mais com a concorrência de outros produtos e estão mais a mercê das tendências da

moda. Mesmo neste caso, as camisas se diferenciam pela qualidade e formalidade. Portanto

pode-se considerar fraca a ameaça de substitutos para estes produtos.

Em relação ao tecido utilizado na produção destas camisas, é normalmente composto por

poliéster, algodão ou uma mistura dos dois. As camisas de poliéster são sensivelmente mais

baratas, mais fáceis de passar e amassam menos durante a utilização. Porém não desfrutam da

mesma qualidade e beleza das de algodão. Uma das razões para isso é o fato de que as cores

no poliéster “brilham” mais que no algodão, o que não se enquadra nos padrões de

formalidade e elegância propostos pelo produto (camisas). Ainda, o poliéster é menos

absorvente que o algodão o que torna o produto menos agradável de usar especialmente em

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ambientes quentes. Ainda assim, cerca de 70% das camisas vendidas no Brasil são feitas com

poliéster, principalmente devido ao preço reduzido em relação às camisas de algodão.

Já no mercado feminino as tendências da moda são muito mais relevantes, existem ainda mais

produtos substitutos e tecidos possíveis para a fabricação de camisas, como a seda.

Conversando com a responsável de produtos de uma grande marca de vestuário de São Paulo,

ela afirmou que hoje as camisas, incluindo as de algodão, estão em alta, mas que ela não

esperava que isso durasse mais de dois anos. Ela afirmou também que quando a moda das

lojas de grifes chega às lojas do Brás, ou seja, ao grande público, esta moda deixa de ser

comercializada pelas lojas de grife. Nesse mercado a ameaça de produtos substitutos é média.

Finalmente, pode-se considerar que a ameaça de produtos substitutos no mercado de camisas

em geral é considerada FRACA, pois o mercado de moda masculina é muito mais relevante

que o de moda feminina.

5. Poder de negociação dos compradores: Médio.

A maioria dos tecidos para camisas de moda masculina segue certo padrão, sem sofrer

modificações importantes de coleção a coleção. Outra característica que pesa a favor dos

clientes é que o tecido é componente significativo do preço da camisa confeccionada, cerca de

35% do preço de saída das confecções. Porém, na moda masculina como existe grande

padronização do produto final, a qualidade do tecido utilizado é o fator mais importante na

composição de seu valor.

Em relação à posição dos compradores, existem muitas confecções no Brasil, cerca de 40 mil

cadastradas na RAIS, das quais se estima que 420 utilizem tecidos para camisaria e tenham

um tamanho mínimo para trabalhar com uma empresa do porte da Cotton1. Isso indica que o

mercado é bastante pulverizado, reduzindo assim o poder de barganha dos compradores.

Existe uma grande confecção de camisas no Brasil, a Dudalina, que domina o mercado de

camisaria, mas que mesmo assim esse cliente é responsável por apenas 5 % das vendas da

Cotton1 no Brasil.

Ainda nesta análise, é importante entender quem é o responsável pela escolha do tecido.

Muitas vezes, não são clientes diretos das tecelagens, no caso as confecções, que “escolhem”

o tipo de tecido. Em diversos casos, são as empresas de varejo que o fazem. Quanto maior e

mais organizada for a empresa de varejo, mais ela “facciona” seus produtos, isso quer dizer,

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ela escolhe tanto a tecelagem (e os tecidos) quanto as confecções. Neste caso, o poder de

negociação destes clientes é maior, pois compram grandes volumes e são formadores de

opinião de moda. Outro fator que aumenta o poder de barganha, algumas empresas

conseguem, graças à boa organização, coordenar também a importação de produtos acabados

que normalmente são mais baratos que os fabricados aqui.

Finalmente, considerando as informações acima, poderíamos considerar que o poder de

negociação dos compradores é médio/forte. Porém, o fato das confecções serem muito

pulverizadas e nos últimos anos as tecelagens não estão conseguindo atender totalmente a

demanda interna. Isto reduzindo consideravelmente o poder dos compradores, que acabam

tendo que se adequar às exigências das tecelagens para serem atendidos. Por isso, o poder de

negociação dos clientes é considerado MÉDIO/FRACO, atualmente.

Mais uma vez, vale a pena lembrar que esta é uma análise da situação atual, que pode mudar

com a evolução das variáveis chaves desta relação de poder.

6. Papel do Estado: Forte.

Outra força que não está no modelo original, mas que é importante para essa discussão é o

papel do Estado.

O papel do Estado pode ser considerado importante, pois para este setor, o Brasil é um dos

países com as maiores tarifas alfandegárias do mundo, 26%, o que certamente protege o

parque nacional dos produtos chineses e da Ásia, que em geral são muito mais baratos. O

Chile, por exemplo, tem taxas que variam entre zero e 6% e o México entre zero e 10%

dependendo do país de origem.

No mercado interno o Estado também tem papel forte. Alguns governos estaduais oferecem

descontos de ICMS. O Estado de Minas Gerais, por exemplo, oferece 42% de desconto.

Como explicado no capítulo 3, a ABIT considera que mesmo assim o papel do Estado poderia

ser ainda maior. Eles consideram que os produtos brasileiros não podem competir com

produtos da Ásia entre outros fatores devido ao excesso de tributos no país e à entrada de

produtos contrabandeados. Deste modo, a associação busca medidas mais severas contra o

contrabando e a entrada de produtos com preços muito baixo.

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4.3 Grupos Estratégicos

Como foi visto no início deste capítulo, o mercado têxtil de tecido plano para camisaria tem

muitas peculiaridades que acabam por direcionar as empresas a seguirem estratégias

semelhantes e apresentarem um comportamento similar em relações aos desafios e tendências

do mercado.

Foram escolhidas duas dimensões críticas de estratégia competitiva para analisar em mais

detalhes este mercado. As dimensões escolhidas foram: o atendimento e o preço. Essas duas

dimensões delimitam as maiores barreiras de mobilidade desse mercado.

O preço foi uma das dimensões escolhidas porque está ligado ao tipo de produto que é

vendido. Quanto mais alto o preço mais a empresa está presente no mercado de fios mais

finos. A Tabela 4.1 mostra o preço médio do metro de tecido de diversas empresas em cada

um dos grupos estratégicos que serão descritos a seguir. Percebe-se claramente que os tecidos

de fios comuns são consideravelmente mais baratos que os de fios mais finos, e que os

importadores apresentam um preço ainda inferior aos nacionais.

Tabela 4.1 : Grupos estratégicos e preço médio por metro por empresa

Grupo Empresa Preço médio em reais

(Jul/08) Stecidos R$ 14,94

Bonafa R$ 12,25

Peugeau R$ 11,40

Tecelagens de Fios "Finos"

Fabricant R$ 10,41

Reges R$ 7,95

Cliotra R$ 7,04

Cotton1 R$ 7,00

Paradaise R$ 6,70

TerraSul R$ 6,57

Mixe R$ 6,31

Chizen R$ 6,27

Lagro R$ 6,23

Kirata R$ 5,55

Tecelagens de Fios "Comuns"

Sky R$ 5,51 Middas R$ 5,28

Eller R$ 5,26

Surcouff R$ 5,12

R$ 4,84 Knora Metalina R$ 4,27

Importadores

Dolaria R$ 3,85

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A outra dimensão também está de certa forma ligada a esta primeira, já que quanto mais caro

e de melhor qualidade for o produto, mais exigentes são os clientes e portanto, mais os canais

de distribuição e o atendimento devem ser adaptados e diferenciados.

A seguir, os principais grupos estratégicos são caracterizados e posteriormente posicionados

em relação às duas dimensões citadas.

− Importadores: São empresas que não produzem tecidos no Brasil. Na verdade elas não

são realmente tecelagens, apenas revendem tecidos importados. Estas empresas

aproveitam preços baixos dos mercados asiáticos e o bom momento da taxa de câmbio,

para aumentarem as suas vendas de produtos importados no mercado interno. Este

grupo compra principalmente três tipos de tecido para camisaria: tecidos em poliéster,

tecidos mistos de poliéster com algodão e tecidos 100% algodão, normalmente de fios

comuns. Devido ao tamanho dessas empresas e ao tipo de tecido vendido, suas vendas

são feitas, em sua grande maioria, via empresas atacadistas.

− Tecelagens de fios “comuns”: São empresas que fabricam tecido plano 100% algodão

com maior ênfase nos tecidos mais comuns (fios 30 e 40). Dentro dessa categoria está a

Cotton1, ela também fabrica fios superiores a estes, porém não de forma relevante já

que esse volume representa menos de 20% do total fabricado. Essas empresas utilizam

normalmente a venda por representantes.

− Tecelagens de fios “finos”: São empresas que fabricam tecido plano 100% algodão,

focadas mais nos tecidos de fio fino (fios 50 ou superior). Essas empresas também

produzem fios “comuns”, mas têm ao menos 40% da sua produção em fios 50 ou

superior. Estas empresas utilizam normalmente a venda por representantes, mas para os

clientes de fios finos muitas vezes os representantes precisam ajudar na elaboração de

coleções, ajudando o cliente com informações sobre tendências da moda e/ou com

informações técnicas para desenvolver tipos de tecidos. Portanto, nesses casos o

representante deve ser mais especializado.

A Figura 4.4 mostra o posicionamento destes três grupos em relação às duas dimensões

escolhidas. Este gráfico também fornece uma idéia do volume vendido por cada um no

mercado nacional.

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Figura 4.4: Posição dos grupos estratégicos

Os importadores brasileiros estão muito focados na comercialização de tecidos de poliéster e

de algodão de fios menos nobres. Uma das razões é o fato de que esse mercado é

substancialmente maior e a oferta deste produto por países asiáticos é enorme. Como muitos

dos seus clientes são pequenas lojas de varejo, estes importadores utilizam os atacadistas para

alcançá-los. Os importadores também atendem confecções maiores e para isso utilizam

representantes que podem ser terceiros comissionados e/ou funcionários próprios. Porém, a

maioria das empresas importadoras é relativamente pequena, não possuindo uma rede

desenvolvida de representantes.

Em relação ao atendimento, as empresas importadoras não costumam apresentar nenhum tipo

de priorização ou exclusividade. Apesar dos importadores possuírem preços mais baixos, seus

produtos não são necessariamente piores; se considerarmos apenas o mercado de algodão, os

produtos são equivalentes em qualidade, mas o tempo de entrega é mais longo e o preço está

sujeito a variações de câmbio. O gráfico da Figura 4.4 mostra um baixo grau de customização

do atendimento nas importadores, ilustrando o contexto descrito.

As tecelagens de fios comuns, onde se encontra a empresa estudada Cotton1, têm preços mais

baixos e também não possuem redes de representantes especializadas em tecidos. A empresa

Cotton1, devido ao seu grande porte, possui uma rede de representantes bem desenvolvida,

porém o representante tem um papel simples de organizar e enviar à empresa os pedidos dos

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clientes e de aplicar a política de desconto de acordo com o cliente. Não existe assim,

representantes tecnicamente especializados ou especialistas em moda.

As tecelagens que produzem fios mais finos em muitos casos atendem diretamente as marcas

de varejo onde, principalmente para o mercado de camisas masculinas, o tecido é fundamental

para a qualidade do produto final. Nesse caso o representante não pode ser um mero

vendedor, ele tem que entender de moda para discutir tendências com o comprador, para

ajudá-lo a elaborar produtos novos. Mais ainda, para atender melhor este público específico, a

empresa deve oferecer ao cliente a possibilidade de desenvolver e fabricar tecidos exclusivos

para evitar cópias de concorrentes. Deve também oferecer amostras e pilotos para que o

cliente possa testar a resposta do mercado ao produto desenvolvido antes de fazer pedidos

maiores. Assim, o atendimento oferecido por este grupo deve ser bastante especializado e

personalizado.

O gráfico da Figura 4.4 apresenta um resumo desta análise, mostrando o posicionamento de

cada grupo em relação ao preço dos produtos e à customização do atendimento. Percebe-se

que as tecelagens de fios comuns, por exemplo, estão posicionadas em patamares

intermediários de preço e de atendimento, e que representam a maior parte das vendas do

mercado, em volume. O grupo de tecelagens de fios mais finos, por sua vez, posiciona-se em

um mercado cujo preço é mais elevado e cujos clientes exigem um nível de atendimento

superior e mais customizado.

4.4 Análise SWOT dos Grupos Estratégicos

A análise SWOT é uma excelente ferramenta para analisar os grupos estratégicos e as

estratégias escolhidas por cada um. Com ela poderemos analisar as forças e fraquezas destes

grupos num dado momento, bem como as oportunidades e ameaças que estes podem vir a

enfrentar no futuro.

Para cada um dos grupos, as forças e fraquezas serão caracterizadas, apresentando em seguida

as oportunidades e ameaças que os envolvem. Esta análise geral dos diferentes grupos será

importante no entendimento mais específico do mercado, realçando principalmente as

oportunidades e ameaças que a Cotton1 enfrenta atualmente ou enfrentará nos próximos anos.

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4.4.1 Strenghts – Forças

Importadores – apenas mercado de 100% algodão:

− Preços baixos - Os preços dos importadores são em média 20% mais baratos que os

produzidos no Brasil.

− Capacidade de produção (fornecedores) – Diferentemente dos produtores brasileiros

que têm sua capacidade de produção como limitante de vendas, os importadores têm a

possibilidade de ter vários fornecedores. Com isso, o que os limita é apenas a

capacidade de seus fornecedores ou a sua própria capacidade de encontrar novos

clientes/fornecedores.

− Baixos custos fixos – Os importadores não têm necessidade de ter nenhuma máquina de

produção, trabalhando apenas com depósitos cujo custo fixo normalmente é

extremamente baixo comparado com o das tecelagens. Mesmo o número de pessoas

necessárias na área administrativa é menor já que a complexidade é muito inferior.

− Flexibilidade de adaptação à demanda – Uma vez que o custo fixo é baixo os

importadores têm a possibilidade de adaptar seu nível de importação à demanda

esperada, sem ter que entrar numa guerra de preços para evitar prejuízos.

Tecelagens de fio comuns:

− Economias de escala – A maior parte do mercado de 100 % algodão é composta por

fios menores de 50. Com isso, estas empresas têm a possibilidade de trabalhar com

lotes maiores, reduzindo assim o custo fixo por unidade de produto.

− Simplicidade nas relações com os clientes – Como explicado anteriormente, os

representantes têm uma relação simples com os clientes. Esta simplicidade gera a

possibilidade da empresa ter um custo mais baixo por representante e uma maior

flexibilidade.

− Padronização de produtos – Os tecidos mais comuns recebem menos influência da

moda, o que reduz o custo e a necessidade de desenvolvimento de novos produtos.

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− Clientes menos exigentes – Os clientes buscam produtos mais padronizados e por isso

exigem menos personalização não somente no atendimento, mas também nos produtos.

Tecelagens de fios finos:

− Produtos menos padronizados – Uma vez que os produtos não podem ser facilmente

produzidos por outros concorrentes, isto aumenta o poder de negociação em relação aos

clientes.

− Menor concorrência dos importados – Os produtos importados são mais básicos, sendo

representados em sua grande maioria pelos tecidos de fios comuns, o que diminui a

pressão sobre os preços no mercado de fios finos.

− Maior dependência dos clientes – As tecelagens ajudam a criar a coleção dos seus

clientes o que aumenta a dependência deles e fortalece os laços entre as empresas, em

caso de sucesso.

4.4.2 Weakness – Fraquezas

Importadores – apenas mercado de 100% algodão:

− Grande dependência dos fornecedores – Devido à demanda globalizada pelos produtos

vindos da Ásia, ocorre um constante aumento do poder de barganha dos fornecedores

destes países.

− Dependência da taxa de câmbio – A dependência da taxa de câmbio trás um risco que

pode ser elevado para os importadores. Por exemplo, na época quando foi feita a

análise de preços, os importadores tinham produtos em média 20% mais baratos que os

nacionais. Porém, desde então o dólar se valorizou mais do que isso.

− Tempo de entrega elevado – Além do tempo de produção dos produtos o cliente deve

esperar o tempo de transporte da Ásia para o Brasil.

− Dificuldade de penetração no mercado de fios finos – Como o cliente que compra fios

finos não poderia participar do processo de desenvolvimento dos produtos, no caso dos

produtos importados, o interesse por estes produtos é menor e relação aos tecidos de

fios finos nacionais, mesmo com preços mais baixos.

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Tecelagens de fios comuns:

− Mercado em concorrência direta com os importados – O custo da mão-de-obra em

alguns países asiáticos é bem inferior ao do Brasil e o custo de financiamento também é

menor, o que, dependendo da taxa de câmbio, faz com que os preços dos importados

sejam sensivelmente mais baixos.

− Baixa variedade e diferenciação dos produtos – Quando o produto é padronizado

existem ganhos de custos, em contrapartida ocorre redução do poder de negociação da

empresa com os clientes.

− Baixa parceria com os clientes – Não existe uma parceria no desenvolvimento dos

produtos com os clientes, já que as coleções são decididas pelas próprias tecelagens.

Tecelagens de fios finos:

− Mercado menor: O mercado de fios acima de 50 é estimado entre 10% a 20% do

mercado total de tecido plano 100% algodão.

− Complexidade industrial – Como os clientes exigem amostras, pilotos e compram em

quantidade bem menores, a complexidade para administrar a produção e seus custos é

mais elevada.

− Complexidade comercial – Para satisfazer os clientes, as empresas deste grupo

estratégico precisam ter mais representantes por cliente e estes devem ser mais

treinados o que aumenta o custo por representante.

4.4.3 Opportunities– Oportunidades

Importadores – apenas mercado de 100% algodão:

− Preços baixos – O mercado asiático tem ótimos preços comparados aos do Brasil.

− Desenvolver relações sólidas com empresas estrangeiras – Muitas confecções optam

por não comprar produtos de importadores por acreditarem que não existe uma relação

sólida entre os importadores e seus fornecedores de outros países. Uma das

preocupações das confecções brasileiras é a imprevisibilidade destes fornecedores e

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conseqüentemente dos importadores e a possível dependência de fornecedores que não

conhecem.

− Melhorar a imagem dos produtos asiáticos – muitos clientes, tanto confecções quanto

clientes finais, desconfiam da qualidade dos produtos asiáticos, comumente associados

a produtos falsos e de baixa qualidade. Os clientes finais também não gostam de pagar

caro por camisas “made in china”. Entretanto a qualidade dos produtos asiáticos pode

ser igual ou mesmo superior aos produtos produzidos no Brasil.

− Utilizar hedge cambial: Através desta ferramenta a empresa pode se proteger de

oscilações do dólar no curto prazo como está acontecendo atualmente no mercado

brasileiro.

− Agilizar as compras e entregas – Um dos problemas dos produtos importados é o tempo

de entrega dos produtos que é significativamente mais elevado do que dos produtos

nacionais. Com um processo mais desenvolvido para aumentar a rapidez da compra e

da entrega, os importadores poderiam reduzir o tempo total de entrega.

− Encontrar fornecedores dispostos a aceitar exigências dos clientes de fios finos – Para

poder entrar no mercado de fios finos, os importadores deveriam concentrar esforços

em encontrar fornecedores dispostos a produzir em menor escala e a fornecer pilotos e

amostras.

Tecelagens de fios comuns:

− Aumento da demanda por tecidos 100% algodão – Estar bem posicionado nesse

mercado será importante para absorver novos clientes. À medida que a economia cresce

e o padrão de vida sobe, as pessoas tendem a migrar do poliéster para o algodão, pois o

produto é superior em qualidade.

− Entrar no mercado dos outros grupos estratégicos – Conforme identificado através da

análise SWOT, existem muitos pontos fortes nas três estratégias. Principalmente para

as empresas de fios comuns, nada os impede de crescer nos outros dois grupos.

Conhecendo bem os clientes e os produtos, estas empresas poderiam alavancar esse

conhecimento para importar corretamente (tecidos de qualidade) quando o mercado

estiver favorável em preço. Além disso, estas empresas podem desfrutar da

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credibilidade de uma tecelagem que pode suprir qualquer problema de importação com

produtos internos. Poderia assim, importar produtos de alta demanda e padronização

podendo até fazer um “buy to stock” para poder atender os clientes com mais rapidez.

− Aumentar as vendas de fios mais finos – Tanto os fios mais finos quanto os fios

comuns são fabricados nas mesmas máquinas e investir mais nos fios mais nobres seria

uma oportunidade. Isso permitiria ter produtos mais diferenciados, aumentando assim o

poder de negociação com os clientes e as barreiras contra os importadores.

− Possibilidade de integração vertical para frente – Conforme explicado na análise das

cinco forças de Porter, as confecções são muito numerosas no Brasil trabalhando com

baixos volumes, sendo muitas vezes pouco eficientes e pouco rentáveis. As empresas

de tecelagens poderiam adquirir confecções na tentativa de concentrar um pouco mais

esse mercado, trazendo mais poder de negociação com os clientes, ganhos de escala e

melhores técnicas de gestão.

Tecelagens de fios finos:

− Consolidar as parcerias com as grandes marcas – melhorar ainda mais as parcerias e

aprofundá-las ao máximo para aumentar as barreiras aos concorrentes.

− Importar tecidos finos – encontrar bons fornecedores e alavancar a marca e

credibilidade que possuem como tecelagens para introduzir os produtos importados nos

seus clientes. Como trabalham diretamente com as marcas, este grupo estratégico pode

também importar produtos acabados de qualidade, baseando-se sempre no

conhecimento dos produtos e nos mercados que já possuem.

− Possibilidade de integração vertical para frente – idem ao grupo de fios comuns.

4.4.4 Threats– Ameaças

Importadores – apenas mercado de 100% algodão:

− Concorrência dos outros grupos estratégicos – As tecelagens podem se sobressair

devido ao fato de possuírem alta credibilidade com seus clientes e conhecerem seus

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gostos e tendências de moda, podendo entrar no mercado de importação com um

serviço diferenciado ao das atuais empresas.

− Desvalorização do real - Os importadores estão sujeitos a oscilações da moeda. Se o

real alcançar uma desvalorização acentuada e duradoura, estas empresas podem

desaparecer.

− Problemas alfandegários – Greves são freqüentes em portos brasileiros, o que pode

aumentar consideravelmente o tempo de entrega dos produtos importados, reduzindo a

confiança dos clientes.

− Políticas de proteção nacionalistas – Como explicado no capítulo 3 existem pressões de

associações ligadas a indústria têxtil, como a ABIT, que fazem lob com o governo para

que ele tome medidas protecionista, como aumento de taxas alfandegárias.

Tecelagens de fios comuns:

− Tecidos importados – Em muitos países, como os Estados-Unidos e o Chile,

praticamente não existem mais tecelagens, devido à forte concorrência dos produtos

asiáticos. No Brasil a taxa alfandegária para tecidos ainda é extremamente alta 26%.

− Produtos substitutos – Como as tecelagens produzem unicamente tecidos 100%

algodão, caso seja descoberto uma nova matéria-prima diferente do algodão, porém

com as mesmas propriedades deste último, as empresas não teriam alternativas.

Entretanto, como explicado nas cinco forças de Porter essa possibilidade parece remota.

Tecelagens de fios finos:

− Tecidos importados – Ainda que a pressão dos importadores seja menor nesse grupo

estratégico a ameaça sempre existe.

− Produtos substitutos – Assim como o grupo estratégico anterior, as empresas neste

grupo também produzem unicamente tecidos de algodão e podem sofrer caso seja

descoberto uma nova matéria-prima.

− Concorrência do grupo de fios comuns – Existem confecções/marcas que compram

ambos os fios (comuns e finos) e as tecelagens do grupo de comuns podem usar o

conhecimento e contato com estes clientes para entrar no mercado de fio fino.

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5 ANÁLISE DE OPORTUNIDADES PARA COTTON1

A análise SWOT evidenciou muitas oportunidades para os três grupos: importadores,

tecelagens especializadas em fio comum e tecelagens especializadas em fios finos. Este

capítulo explorará em mais detalhes as oportunidades do grupo de fios comuns onde se

encontra a empresa Cotton1, através de análises dos critérios competitivos.

5.1 Análise de importações

É interessante ressaltar que, além das oportunidades estratégicas de importar tecidos, existe

também a necessidade da empresa em liberar capacidade da fábrica. Assim, para a análise de

viabilidade da importação de tecidos, além da análise financeira seria interessante definir

dentre todos os tipos de tecidos produzidos pela Cotton1, quais seriam mais interessantes

importar. Para isso, foram usados dois critérios:

− Padronização do produto: quanto mais padronizado o produto, mais fácil de ser

encontrado e, portanto maior a oferta. Além disso, o produto mais padronizado é mais

fácil de controlar a qualidade.

− Volume de venda: quanto maior o volume vendido, mais capacidade de produção seria

liberada fazendo com que seja possível atender melhor e com mais rapidez os pedidos.

Com base nestes critérios, os tecidos a serem importados seriam, em sua maioria, tecidos de

fios comuns. Conforme será apresentado na análise NPS/GAPS, que veremos posteriormente

neste documento, os clientes que compram tecidos de fios comuns, prezam pelo atendimento,

sendo este um fator ganhador de pedido. Assim, a melhoria no atendimento em função da

liberação da capacidade traria benefícios importantes também na satisfação dos clientes. Além

disso, analisando os produtos da Cotton1, verifica-se que mais de 50% do volume produzido

atende aos requisitos acima, mostrando que a empresa possui e volume suficient para

importação.

Para verificar a viabilidade financeira de importar alguns tipos de tecidos, foram cotados

preços de importação com dois importadores e pôde-se perceber que os preços são muito

atraentes. O gráfico da Figura 5.1 mostra estes valores em comparação ao custos operados

pela Cotton1 para tecidos equivalentes.

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Figura 5.1: Preços dos produtos importados em relação aos produzidos pela Cotton1

As barras em azul representam o custo de fabricação da Cotton1. As linhas em verde são

referentes ao custo final de importar o tecido cru e acabar o tecido internamente. As linhas em

vermelho, também são produtos semi-acabados, porém uma etapa acima do cru. E finalmente,

as linhas em azul são referentes ao custo do produto acabado.

Nota-se que alguns produtos importados são ainda mais baratos que os produzidos

internamente. É importante lembrar que os produtos importados não necessariamente

precisam ser mais baratos que os produzidos internamente. Os importados vão liberar

capacidade de produção, ou seja, será possível atender pedidos que seriam perdidos. Além

disso, estes produtos não têm custo de capital, já que a tecelagem não precisa comprar

máquinas para importar. Basta que o resultado comercial final seja positivo que a importação

já é lucrativa, ao contrário dos produtos produzidos na fábrica. Portanto os preços acima são

um bom indício de que a importação é viável e lucrativa.

5.2 Possibilidades de integração vertical

Na análise SWOT, a possibilidade de integração vertical para frente, ou seja, o fato das

tecelagens entrarem no mercado de confecções, foi considerada como uma oportunidade. As

confecções são numerosas e pouco rentáveis. As tecelagens poderiam, portanto, entrar neste

mercado para trazer maior profissionalismo e consolidação. Poderia também oferecer um

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serviço de maior valor agregado, já que a fabricação do tecido e a confecção estariam

concentradas em uma só empresa, o que nos Estados Unidos é conhecido por full package.

A integração vertical é uma das estratégias de adjacências que podem colocar a empresa em

uma posição favorável. É uma importante oportunidade de crescimento, cujos riscos devem

ser analisados com cautela. No caso desta integração vertical, o novo negócio de confecções

se distância de certa forma do core business da empresa, aumentado os riscos potenciais.

A confecção de tecidos não possui quase nada em comum com a confecção de roupas: não

existem sinergias de custos significativas e uma tecelagem não possui nenhum conhecimento

dos métodos de confecção. Além disso, como visto no capítulo 2, o primeiro fator de sucesso

indica que “as melhores adjacências partem de cores fortes e os reforçam”. O autor também

explica que a integração vertical é uma das possibilidades de adjacências mais difíceis de ser

implementada. A Cotton1 ainda tem muito potencial a extrair do seu negócio principal.

Portanto, é preferível não avançar nesta adjacência para não “desviar” a empresa do seu

negócio principal, além de as chances de sucesso neste momento serem baixas.

5.3 Aumentar participação no mercado de fios finos

Como foi explicado na análise SWOT, existem muitas vantagens estratégias de estar presente

no mercado de fios mais finos. Pode-se citar o aumento do poder de negociação das empresas

em relação aos clientes, já que os produtos são mais diferenciados. Além disso, os tecidos

finos são produtos que têm menor concorrência de produtos importados e as relações com os

clientes podem ser mais profundas criando barreiras aos competidores. Portanto,

estrategicamente é muito interessante.

Um primeiro ponto a ser analisado neste mercado, é o interesse financeiro que justifique ou

não a viabilidade de intensificar a participação neste mercado. Por isso, o primeiro passo será

analisar a rentabilidade desse setor.

5.3.1 Análise de rentabilidade dos tecidos de fio 50 ou superior

Mesmo com apenas 15% do seu volume, a própria Cotton1 já está presente neste mercado, o

que nos permite calcular a rentabilidade desses produtos, analisando apenas os dados internos.

Assim, a dificuldade será alocar corretamente os custos fixos, que devem ser mais relevantes

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nestes produtos, uma vez que em média são fabricados em lotos menores. As despesas

comerciais também deveriam ser mais importantes nesse mercado se a empresa atende

diretamente as marcas, porém a Cotton1 ainda não possui uma estrutura comercial

diferenciada.

Considerando estas premissas, a rentabilidade por tipo de produto foi calculada e apresentada

através do gráfico da Figura 5.2.

Figura 5.2 : Rentabilidade por tipo de produto

Como pode ser observado na Figura 5.2, os tecidos fabricados com fios 50 ou maiores têm

margens comercias que vão de 32,5% a 46,6% enquanto os fios comuns têm margens

comercias que vão de apenas 20,4% a 33%. A largura das barras do gráfico representa o

faturamento de cada tecido. Os tecidos finos são mais rentáveis que os comuns, mesmo

considerando custos fixos mais elevados por metro. Existe, portanto, além de muitas

vantagens estratégicas um aumento potencial de rentabilidade dos produtos da empresa.

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5.3.2 Tamanho de mercado

O mercado de fios finos é rentável, porém é importante saber se o tamanho desse mercado

justificaria uma intensificação da produção destes produtos pela Cotton1. Não existem dados

oficiais específicos sobre o tamanho do mercado de tecidos para camisaria 100 % algodão.

Por isso, foi feita uma estimativa que cruzou dados de clientes da Cotton1 (confecções), dados

que foram apresentados no capítulo Erro! A origem da referência não foi encontrada. de

importação e exportação e informações oficiais da ABIT e RAIS.

É importante conhecer a posição atual da empresa Cotton1 neste mercado, para poder

diagnosticar. Para isso, foram utilizados dois indicadores: a Penetração e o Share of Wallet

(SoW). A Penetração é dada pela porcentagem de clientes da Cotton1 em relação ao total de

clientes no mercado, ou seja, a quantidade de clientes da Cotton1 dividido pela quantidade

total de clientes no mercado. O SoW é a porcentagem dos tecidos da Cotton1 no volume total

de tecidos comprados pelos seus clientes, ou seja, o volume comprado da Cotton1 dividido

pelo volume total comprado por estes clientes..

Portanto, quanto menor estes números forem, maior é o potencial de crescimento. Com

destaque para o SoW, que representa um potencial que para ser explorado não requer muito

investimento da Cotton1, já que a empresa já é cliente. Assim, muito provavelmente, se o

cliente pudesse concentrar suas compras num bom e confiável fornecedor, facilitaria a gestão

e reduziria o custo de compras da sua empresa.

A Figura 5.3 mostra estes indicadores para os diferentes tipos de fios comercializados pela

Cotton1. Podemos observar também que o potencial de crescimento neste mercado não é

desprezível e que tanto a Penetração quanto o Share of Wallet são baixos e podem ser

trabalhados para um crescimento significativo.

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Figura 5.3: Rentabilidade potencial por tipo de tecido

5.4 Análise de Net Promoter Score e Modelo de Lacunas (GAPs)

A análise NPS foi utilizada para compreender melhor qual é a visão dos clientes da empresa

Cotton1 em relação aos seus produtos e serviços. Essa análise é muito importante, pois foca

exclusivamente nos clientes. Nela será possível também descobrir quais serviços são

importantes para os clientes e a hierarquia entre eles. Com o complemento do Modelo de

Lacunas, será possível posicionar a atuação da empresa em relação aos fatores que são mais

relevantes para os seus clientes.

Realizar estudos com clientes parece algo básico, porém, para uma empresa antiga e industrial

que fica no interior do país como a Cotton1, isto não é usual. A tecelagem está há anos

trabalhando para ganhar eficiência, para reduzir seus custos e tempos de entrega. A empresa

faz isso sem nunca ter se perguntado se é realmente isto que os seus clientes valorizam, numa

perspectiva totalmente direcionada de dentro para fora.

Com isso, durante o estudo estratégico apresentado neste trabalho, percebeu-se a necessidade

de realizar uma pesquisa com os clientes, para entender a sua percepção da empresa e as suas

necessidades. A pesquisa foi norteada pela análise do Net Promoter Score, apresentada no

capítulo Erro! A origem da referência não foi encontrada..

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A pesquisa foi feita com 87 clientes para os quais foi feita a seguinte pergunta “Em uma

escala de zero a dez, qual é a probabilidade de você nos aconselhar a um amigo seu?”. Esta

pergunta foi feita tanto em relação a empresa como um todo, quanto em relação a alguns

fatores relevantes, mencionados a seguir:

− Variedade de produtos;

− Qualidade dos produtos;

− Atendimento em termos de rapidez de entrega e lead time;

− Exclusivos (tecidos exclusivos): oferecimento de tecidos exclusivos, amostras, pilotos,

com base em necessidades pontuais dos clientes;

− Preço dos produtos: considerando o custo/benefício dos produtos.

Para análises de NPS e de lacunas não foram utilizados os mesmos métodos para encontrar a

importância relativa de cada serviço (quesitos). Para a análise NPS foi utilizada a proporção

de cada quesito que foi mencionado pelo cliente como sendo o mais importante para cada um

de seus fornecedores. Já na análise de Lacunas, foram utilizadas as repostas à pergunta: “Em

uma escala de 1-7 qual importância você atribuiria aos serviços a seguir?” Ambos os métodos

tem suas vantagens e desvantagens. O primeiro, apesar de não ser uma pergunta direta, o

cliente não tem que pensar na relatividade dos vários quesitos, é perguntado apenas a

principal razão. Assim, diminui-se a possibilidade de respostas confusas e imprecisas. Porém

deve-se assumir que a proporção de ocorrência de cada resposta traduza a importância relativa

dos quesitos. Na segunda análise acontece o oposto, utilizam-se perguntas diretas e, portanto

sem necessidade de estimativas. Por isso, na segunda análise serão apresentados mais detalhes

estatísticos. Mesmo com métodos diferentes as respostas dos dois métodos são muito

parecidas o que aumenta a relevância do trabalho.

A análise dos dados será dividida em duas partes. Primeiramente serão consideradas as

respostas gerais, sem distinção por tipo de cliente. Posteriormente serão analisadas as

respostas apenas em relação aos tecidos de fio 50 ou superior (fios finos), analisando uma das

oportunidades indicadas através do SWOT. Conforme mencionado, a Cotton1 já utiliza fios

finos, porém estes produtos representam uma parte pequena de suas atividades. Conhecer o

seu posicionamento neste mercado vai possibilitar a identificação de falhas e de possíveis

campos de melhoria, buscando estudar a viabilidade de uma inserção mais forte neste

mercado.

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5.4.1 Análise Inicial: Todos os Tipos de Fio

Esta primeira análise visa mostrar o posicionamento da Cotton1 em relação aos seus

concorrentes e em relação aos parâmetros considerados relevantes pelos clientes. Os

resultados foram obtidos através da ferramenta NPS e do Modelo das Lacunas.

O gráfico da Figura 5.4 compila as respostas dadas pelos clientes para a pergunta: “você

recomendaria esta empresa para seu amigo, numa escala de 1 a 10?”. A pergunta foi feita para

os clientes de cada um dos principais concorrentes. O NPS foi calculado de acordo com a

fórmula mencionada na seção 2.6.

Figura 5.4: NPS por empresa

Além dos principais concorrentes deste mercado, a análise englobou também o grupo

“importadores”. Conforme mencionado anteriormente, este grupo é composto por diversas

empresas menores, e por isso o grupo como um todo é representado nesta análise como um

concorrente.

A Figura 5.4 mostra que o NPS da Cotton1 se iguala ao da Stecidos, empresa especializada

em fios finos. Assim, podemos verificar que a empresa Conton1 tem um NPS alto, de 59%

praticamente no mesmo nível da melhor empresa, segundo os clientes, a Stecidos, que obteve

60%. Os demais concorrentes, incluindo o grupo “importadores” possuem um NPS bastante

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91

inferior, mostrando uma grande concentração de clientes detratores em relação à quantidade

de clientes promotores. É interessante notar que o NPS muito ruim apresentado pelas

empresas Fabricant e Peugeau poderia explicar o mau desempenho financeiro das mesmas.

Uma análise importante é a verificação da distribuição das notas absolutas, verificando se elas

são realmente diferentes umas das outras. A Figura 5.5 auxilia a entender melhor essas

repostas:

StecidosPeugeauImportadoresFabricantCotton1

10

9

8

7

6

5

4

3

Empresa

Nota

Boxplot of NPS absoluto

Figura 5.5: Boxplot da amostra de NPS por empresa

Na Figura 5.5 pode-se verificar que, apesar das medianas não estarem tão distantes, a

Cotton1 e Stecidos são os únicos a possuírem quartis na zona de promotores (notas entre 9-

10). Percebe-se ainda que a empresa Peugeau possui algumas notas muito baixas o que

explica o seu valor de NPS ser o menor.

Outra análise importante realizada é a análise de variâncias (ANOVA – Analysis of Variance)

onde se confirma com valor de p = 0.002 (detalhes no apêndice), que as médias são diferentes

entre elas.

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92

O gráfico da Figura 5.6 apresenta mais detalhadamente o resultado da pesquisa, considerando

agora os fatores relevantes e o NPS de cada empresa em função destes critérios.

Figura 5.6 : NPS por empresa por tipo de serviço

Nesta figura pode-se verificar que, para os clientes das tecelagens, o mais importante é ter

um bom atendimento, seguido pela qualidade dos tecidos, preço, variedade de produtos e

por último a disponibilidade de tecidos exclusivos (incluindo serviços de amostras e

pilotos). Estes critérios são observados nas colunas do gráfico, mostrando a importância

relativa de cada um deles.

As linhas mostram o NPS de cada um destes critérios para cada um dos concorrentes. Por

exemplo, perguntou-se aos clientes da Cotton1 se eles recomendariam a empresa a um

amigo, considerando o seu atendimento. A pergunta foi repetida para cada critério e para

cada um dos concorrentes. Os números em azul mostram o posicionamento da Cotton1 em

relação aos concorrentes, indicando, por exemplo, que em termos de Qualidade a Cotton1

é a melhor posicionada, apresentando o maior NPS.

Neste sentido, percebe-se que a Cotton1 está bem posicionada no mercado geral de

algodão sendo segunda em Atendimento e primeira em Qualidade. O ideal seria Cotton1

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93

ser primeira em ambos os quesitos, uma vez que são claramente os serviços mais

relevantes.

Para aprofundarmos a análise de NPS, será utilizado o modelo de lacunas (Gaps). Neste

modelo poderemos classificar os serviços das tecelagens como: ganhadores de pedidos,

qualificadores ou pouco relevantes.

O modelo de lacunas foi realizado para a empresa Cotton1. Para isso, utilizou-se a

pesquisa anterior NPS, atribuindo notas de acordo com o modelo de lacunas. A única

diferença, como foi explicado no começo do capítulo, é em relação à importância relativa

de cada quesito. Para a análise de Lacunas será utilizada a importância de cada quesito do

resultado da pergunta “Em uma escala de 1-7 quanto você avalia os serviços a seguir?”.

Os resultados foram posteriormente transformados para a escala do modelo de Lacunas. O

resultado encontrado é apresentado na Figura 5.7.

VariedadeQualidadePreçoExclusivoAtendimento

7

6

5

4

3

2

1

Quesitos

Respostas

Boxplot of importância de quesitos - fios básicos

Figura 5.7: Boxplot das importâncias de cada quesito para os fios básicos

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94

O Atendimento e a Qualidade são os serviços mais valorizados pelos clientes. Para esses

resultados também foi feita análise ANOVA que confirma com p = 0,000 que as médias são

diferentes entre si. Os resultados estão apresentados na Figura 5.8.

Figura 5.8: Resultado da análise ANOVA

Transformando os resultados acima da escala de 1-7 da pergunta, para escala de Lacunas de

9-1, e utilizando a posição concorrencial da Cotton1 da análise NPS, obtêm-se os dados a

seguir, na Tabela 5.1.

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95

Tabela 5.1 : Tabela Importância/Desempenho

Com os dados da Tabela 5.1 podemos construir o gráfico do modelo de lacunas, apresentado

na Figura 5.9.

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96

Figura 5.9: Resultado do modelo de lacunas para Cotton1 – mercado geral

Assim como foi visto no NPS o modelo de lacunas também confirma o bom posicionamento

da Cotton1 no seu mercado de fios básicos. Mesmo os pontos em amarelo que estão na zona

“melhoramento” do gráfico estão perto da fronteira de aceitabilidade e são classificados como

“menos importantes”. E mais uma vez, destaque para os critérios ganhadores de pedidos,

atendimento e qualidade dos tecidos que estão na zona “adequado” (pontos em azul),

confirmando que a Cotton1 investe seus recursos nos critérios mais relevantes.

5.4.2 Análise Detalhada: Fios Finos

O estudo acima foi feito analisando os clientes do Cotton1 em geral, mostrando que a empresa

está bem adaptada para o mercado atual. Porém, para estudar a entrada da empresa no

mercado de fios finos, esta precisa entender melhor os clientes que trabalham especificamente

com este tipo de produto.

Primeiramente, é interessante notar a evolução da importância dada a cada serviço de acordo

com o tipo de tecido comprado. Nas seções anteriores, algumas diferenças já foram

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97

mencionadas, mostrando principalmente que os clientes de produtos utilizando fios finos são

mais exigentes com relação à exclusividade e customização dos produtos e à qualidade dos

mesmos.

O gráfico da Figura 5.10 apresenta a importância dos diferentes quesitos de acordo com

diferentes tipos de clientes e produtos comprados. O grupo classificado como “Geral”

corresponde ao grupo analisada anteriormente. Em seguida, adicionou-se a importância dada

pelos clientes que compram Fio 50 e de Fio 80 aos mesmos quesitos.

Figura 5.10: Importância de cada serviço por tipo de tecido adquirido

Percebe-se pelo gráfico da Figura 5.10 que quanto mais fino o fio do tecido mais os clientes

se preocupam com a qualidade, a variedade e os serviços para a criação de tecidos exclusivos.

No método de perguntas diretas foram encontradas respostas similares, nos quais os

compradores de fios finos também não valorizam da mesma forma os serviços das tecelagens

(em relação aos fios comuns). Mais detalhes sobre os resultados estão na Figura 5.11.

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Serviços

Tipo de Fio

VariedadeQualidadePreçoExclusivoAtendimento

GeralFinoGeralFinoGeralFinoGeralFinoGeralFino

7

6

5

4

3

2

1

Resultados

Boxplot de importância de quesitos por tipo de fio

Figura 5.11: Boxplot das importâncias dos serviços por tipo de fio

Podemos perceber no gráfico de Boxplot da Figura 5.11 que as distribuições dos serviços são

sensivelmente diferentes quando comparadas por tipo de fio. Porém, para podermos saber se

essas diferenças são estatisticamente relevantes, foram feitas testes de hipóteses. O resumo

dos resultados está apresentado na Tabela 5.2.

Tabela 5.2: Resultados dos testes de hipóteses por tipo de serviço e tecido

Média Desvio Padrão Quesito Testado

Geral Fio Fino Geral Fio Fino P-value

Atendimento 6,24 2,42 1,10 1,06 0,000

Qualidade 5,54 6,16 1,49 1,09 0,007

Preço 2,96 3,02 1,29 1,10 0,753

Variedade 2,09 4,02 0,94 1,71 0,000

Exclusivo 1,63 3,84 0,95 2,03 0,000

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99

Os resultados dos testes de t-student confirmam que a importância atribuída aos serviços varia

do mercado de fios básicos para o mercado de fios finos. O único quesito que não houve

diferença significativa estatisticamente foi o preço (mais detalhes no apêndice).

Com base nesta nova classificação e importância dos quesitos, a análise do posicionamento

dos concorrentes foi refeita. Destaca-se a comparação com a Stecidos, única tecelagem que

trabalha exclusivamente nesse mercado e que é referência de qualidade. O gráfico da Figura

5.12 apresenta os resultados desta análise.

Figura 5.12 : NPS por cliente e por serviço – Mercado de fios finos

O gráfico da Figura 5.12 mostra que a posição de Cotton1 não é tão favorável neste mercado

específico. Em qualidade, o serviço considerado pelos clientes como o mais importante, a

empresa tem um NPS perto do líder do mercado, porém ainda um pouco abaixo. Em preço, o

segundo serviço mais relevante segundo a percepção dos clientes, a Cotton1 está melhor

posicionada que os concorrentes, porém com um NPS bem inferior ao NPS da qualidade.

O principal problema, porém, é verificado nos quesitos Variedade e Exclusivos, que ocupam

o terceiro e o quarto lugar em termos de importância, respectivamente. Ao contrário da

análise geral apresentada anteriormente, onde os dois primeiros serviços destoavam do

restante, nesta análise, o segundo, o terceiro e o quarto quesitos têm praticamente a mesma

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100

importância. Portanto, neste cenário as empresas que querem “vencer” neste mercado

precisam ter constantes bons NPS, em todos os critérios. É exatamente isto o que falta à

Cotton1, já que seu NPS em Variedade e Exclusivos ainda é bastante inferior relativamente e

em absoluto.

Novamente, para aprofundarmos a análise de NPS será utilizado o modelo de lacunas (Gaps).

Do mesmo modo que realizado anteriormente, utiliza-se o NPS de desempenho para

determinação do Modelo das Lacunas. A importância de cada quesito é determinada de

acordo com a pesquisa feita com os clientes cujos resultados estão mais detalhados na Figura

5.13.

VariedadeQualidadePreçoExclusivoAtendimento

7

6

5

4

3

2

1

Quesitos

Resultados

Boxplot da importância de quesitos - fios finos

Figura 5.13: Boxplot de importância de quesitos para fios finos

Para o mercado de fios finos, a qualidade passa a ser o quesito mais valorizado seguido pela

variedade e disponibilidade de tecidos exclusivos. O que difere um pouco da análise anterior,

mas que também confirma que esse mercado requer serviços diferentes dos do fio comum.

Para esses resultados também foi feita análise ANOVA que confirma com p = 0,000 que as

médias são diferentes entre si (Detalhes no apêndice).

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A Tabela 5.3 mostra as notas referentes à importância dos critérios e as notas dadas ao

desempenho da Cotton1, considerando o mercado de fios finos. Esta tabela esta baseada nos

dados acima e o posicionamento concorrencial da pesquisa NPS.

Tabela 5.3 : Tabela Importância/Desempenho (Fios finos)

Como visto no resultado da pesquisa, os critérios Variedade e Exclusivos são

considerados igualmente importantes na visão do cliente, seguidos de perto pelo Preço.

Este passa a ser o quarto quesito A Qualidade é o quesito mais importante neste mercado

e o Atendimento o menos.

Com nestes dados podemos construir um novo gráfico do modelo de lacunas, apresentado

na Figura 5.14.

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Figura 5.14: Modelo das lacunas

O modelo de lacunas confirma mais uma vez a inadequação dos serviços da Cotton1 para este

mercado. Três dos cinco critérios ficaram abaixo da fronteira de aceitabilidade, com destaque

para os critérios de Variedade e Exclusivos, quesitos qualificadores de pedido, que estão na

zona de ação urgente do modelo de lacunas. Outro destaque é o Atendimento que, ao

contrário do modelo de NPS no qual parecia estar num nível adequado, está na zona de

melhoramento. Isto ocorre devido à grande diferença entre o serviço prestado pela Cotton1 e o

atendimento realizado pelos principais concorrentes neste mercado.

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103

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENTDAÇÕES

Como visto na análise de Cinco Forças de Porter, o posicionamento das tecelagens no

mercado de tecidos planos 100% algodão é muito favorável. Três forças foram consideradas

“Fracas”: ameaça de novos entrantes, ameaça de produtos substitutos, poder de barganha dos

fornecedores. Nenhuma força foi considerada “Forte” e apenas duas consideradas Médias:

poder de negociação de compradores e rivalidade entre fornecedores. Outra força que não está

no modelo, mas que atua de forma importante neste mercado é o “Papel do Estado”, esta é

considerada Forte, pois impede um crescimento maior dos importados com tarifas

alfandegárias altas e com subsídios em forma de descontos de impostos. Este contexto é muito

favorável para as tecelagens que devem explorá-lo para crescer e aumentar sua rentabilidade.

É importante lembrar, porém, que essa configuração é dinâmica e pode ser alterada no tempo.

A situação do mercado, caracterizada por uma demanda tão elevada que não pode ser

completamente atendida pelas tecelagens, é fator decisivo para manter a rivalidade entre os

concorrentes pouco elevada.

O mercado pode ser divido em três grupos estratégicos segundo dois critérios: preço médio

dos produtos e tipo de atendimento aos clientes. Estas duas variáveis também ajudam a

identificar em qual segmento do mercado os grupos atuam de forma contundente. Os grupos

são: importadores, tecelagens focadas nos fios comuns e tecelagens focadas nos fios finos.

Com auxílio da análise SWOT foi possível entender ainda melhor estes três grupos

estratégicos. A partir desta análise, o trabalho visou mostrar as oportunidades identificadas no

SWOT para o grupo estratégico de fios comuns, grupo no qual está a empresa estudada

Cotton1.

A primeira oportunidade identificada foi a possibilidade de importar tecidos para aumentar a

capacidade da empresa. Com este aumento seria possível atender a demanda e aproveitar os

bons preços dos importados. O estudo mostrou que a Cotton1 em alguns produtos poderia até

mesmo conseguir preços melhores que seus custos. Este estudo foi feito quando o dólar estava

precificado a 1,60 reais – desde então o dólar vem se valorizando de forma acentuada. Com

isso, as importações perderam em parte seu atrativo econômico mais não o estratégico, que é

de atender a demanda e principalmente de liberar capacidade na fábrica para a Cotton1 poder

oferecer um serviço melhor e mais rápido a seus clientes.

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104

Portanto, uma primeira recomendação é que a Cotton1 procure parceiros internacionais que

possam oferecer produtos de qualidade. Estes produtos devem reduzir a utilização da fábrica

fazendo com que seja possível oferecer um melhor serviço aos clientes. Um exemplo seria a

possibilidade de disponibilizar alguns itens de pronta e entrega. A redução da capacidade

aumentaria também a flexibilidade da produção, flexibilidade esta extremamente importante

se a empresa quiser aumentar sua participação em fios finos, por exemplo. Esta recomendação

faz parte da terceira oportunidade identificada na análise SWOT, que será descrita a seguir.

A segunda oportunidade identificada refere-se foi à integrar verticalmente para frente

(mercado de confecção). Porém, foi identificado que este novo negócio se afastaria

significativamente do core business e que a empresa ainda não havia atingido seu potencial

máximo no negócio atual. O crescimento no negócio principal atual deve ser a maior

preocupação dos funcionários da Cotton1 e um movimento de integração vertical poderia

“distraí-los” deste objetivo. A oportunidade ainda existe, porém deve ser guardada para um

próximo momento da trajetória da empresa; assim que a Cotton1 estiver consolidada na

tecelagem, ela deveria sim, estudar melhor as possibilidades de integra-se verticalmente para

frente.

A terceira oportunidade identificada foi de aumentar a participação da empresa no mercado de

tecidos compostos por fios mais finos. Este mercado trabalha com lotes menores e com

produtos exclusivos o que alteraria a lógica da produção dos tecidos mais comuns,

aumentando a complexidade industrial. Considerando uma oportunidade futura de integração

vertical, a intensificação da participação da Cotton1 no mercado de fios finos proporcionaria

maior proximidade com as grifes, reduzindo a distância em relação ao core business. Isto

poderia reduzir o risco da operação, uma vez que a integração vertical poderia reforçar o atual

negócio.

Após confirmar que o tamanho e a rentabilidade do mercado de fios finos são de fato

atrativos, foi necessário entender como atender estes clientes. Para isto, foi feita uma pesquisa

com os clientes da Cotton1. A pesquisa não se limitou apenas a este novo mercado,

abrangendo também o mercado atual, o que possibilitou fazer paralelos entre os dois. Com

este resultado foi possível fazer a análise de NPS e de Lacunas.

O resultado da análise de NPS/Lacunas confirmou as expectativas da análise SWOT que no

mercado de tecidos de fios finos os clientes são muito mais exigentes que no mercado de fios

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105

comuns. Para estes clientes, a moda é muito importante fazendo com que, para se diferenciar,

as empresas devam ir além dos produtos de alta qualidade; elas precisam oferecer variedade

de produtos e de serviços. Isto é fundamental para que o cliente tenha mais opções para

desenvolver a sua coleção e suporte na criação de tecidos exclusivos.

O estudo apresentado é importante para mostrar que a caracterização do posicionamento da

empresa tem que estar vinculado às percepções dos clientes que esta visa atingir. Para cada

segmento de mercado, as exigências e as necessidades são diferentes, fazendo com que os

serviços que os clientes julgam importantes sejam também diferentes. Por isso, o fato da

Cotton1 estar bem posicionada no mercado em que atua não se traduzirá automaticamente em

sucesso no novo mercado, a intensificação de suas atividades em outro mercado exige

adequações.

O NPS e o modelo das lacunas, porém, mostraram que o desempenho da empresa nos critérios

relevantes para os clientes deste mercado, está em geral abaixo do esperado. Isto mostra que

será necessário uma série de reestruturações e investimentos, para adequar o desempenho da

empresa nestes critérios. Para isso a recomendação é que a Cotton1 deve reestruturar sua

equipe comercial. Estes profissionais não podem se limitar apenas a vender os produtos, eles

devem também ter conhecimento de métodos de produção para ter respostas rápidas do que

pode e, principalmente, do que não pode ser fabricado por dificuldades técnicas. Ele precisa

também entender de moda e de tendências para ajudar o cliente a desenvolver os tecidos

“certos”. Para isso, é importante que eles tenham menos clientes nas carteiras para poder

atender melhor cada um destes clientes.

A Cotton1 deve ainda disponibilizar serviços de desenvolvimento rápido de tecidos em CAD

e fornecer amostras e pilotos dos tecidos para que as lojas possam testar os produtos antes de

encomendar grandes quantidades. Este esforço é para que os clientes possam desenvolver

tecidos exclusivos de forma eficiente.

For fim, a pesquisa mostra que empresa deve focar na ótima qualidade de seus produtos, já

que, para estes clientes, o preço passa a ser menos importante. Com isso, é fundamental que a

empresa se aprovisione de fios mais finos e de boa qualidade.

Para ilustrar, alguns depoimentos de responsáveis de compras de grifes são apresentados a

seguir, confirmando estas conclusões:

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Crawford:

− Stecidos: “É a camisa da vitrine, tem cor e nitidez que ninguém tem. Não me importa

ser mais caro, porque o que eu coloco na loja é o primeiro a vender.”

− Peugeau: “Não sai daqui de dentro, qualquer novidade que sai a estilista deles nos

apresenta. Eles pedem nossa opinião nos produtos, e isso faz a diferença”; “Eles tem

um arquivo de CAD gigantesco que me ajuda muito.”

− Cotton1: “Falta proximidade, ninguém vem conversar com a gente. Não adianta tentar

vender pra confecção porque quem decide sou eu.”

Siberian

− Importados: “Compro da China porque sou forçado, às vezes empresas brasileiras têm

uma entrega pior que a deles.”

− Produto Nacional: “Não acho produto diferenciado no Brasil, é tudo arroz com feijão.

Isso é crítico se eu tiver que limpar a peça pra chegar no preço.”

− Coleção: “Quando começo a pensar na coleção, já falo com os fornecedores que

entendem de moda pra ver o que eles têm de oferta.”

− Cotton1: “É muito oportunista no relacionamento, é transacional, não é parceira, não

desenvolve um relacionamento de longo prazo.”

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Site do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES):

www.bndes.gov.br

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APÊNDICE A: ANOVA para notas NPS absolutas

One-way ANOVA: Nota versus Empresa Source DF SS MS F P

Empresa 4 38,53 9,63 4,26 0,002

Error 313 707,32 2,26

Total 317 745,85

S = 1,503 R-Sq = 5,17% R-Sq(adj) = 3,95%

Individual 95% CIs For Mean Based on

Pooled StDev

Level N Mean StDev -+---------+---------+---------+--------

Cotton1 120 8,487 1,550 (-----*----)

Fabricant 48 8,000 1,473 (--------*--------)

Importadores 45 7,933 1,498 (--------*-------)

Peugeau 63 7,810 1,635 (------*-------)

Stecidos 42 8,786 1,159 (--------*--------)

-+---------+---------+---------+--------

7,50 8,00 8,50 9,00

Pooled StDev = 1,503

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110

APÊNDICE B: Teste de diferenças entre médias para o mercado de fio comum

e fio fino

Two-Sample T-Test and CI: Atendimento; Tipo de Fio Two-sample T for Atendimento

Tepo N Mean StDev SE Mean

Fino 45 2,42 1,06 0,16

Geral 89 6,24 1,10 0,12

Difference = mu (Fino) - mu (Geral)

Estimate for difference: -3,814

95% CI for difference: (-4,202; -3,425)

T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = -19,49 P-Value = 0,000 DF = 91

Two-Sample T-Test and CI: Qualidade; Tipo de Fio Two-sample T for Qualidade

Tepo N Mean StDev SE Mean

Fino 45 6,16 1,09 0,16

Geral 89 5,54 1,49 0,16

Difference = mu (Fino) - mu (Geral)

Estimate for difference: 0,616

95% CI for difference: (0,169; 1,064)

T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = 2,73 P-Value = 0,007 DF = 115

Two-Sample T-Test and CI: Preço; Tipo de Fio Two-sample T for Preço

Tepo N Mean StDev SE Mean

Fino 45 3,02 1,10 0,16

Geral 89 2,96 1,29 0,14

Difference = mu (Fino) - mu (Geral)

Estimate for difference: 0,067

95% CI for difference: (-0,355; 0,490)

T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = 0,32 P-Value = 0,753 DF = 101

Two-Sample T-Test and CI: Variedade; Tipo de Fio Two-sample T for Variedade

Tepo N Mean StDev SE Mean

Fino 45 4,02 1,71 0,26

Geral 89 2,090 0,937 0,099

Difference = mu (Fino) - mu (Geral)

Estimate for difference: 1,932

95% CI for difference: (1,384; 2,481)

T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = 7,06 P-Value = 0,000 DF = 57

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111

Two-Sample T-Test and CI: Exclusivo; Tipo de Fio Two-sample T for Exclusivo

Tepo N Mean StDev SE Mean

Fino 45 3,84 2,03 0,30

Geral 89 1,629 0,946 0,10

Difference = mu (Fino) - mu (Geral)

Estimate for difference: 2,215

95% CI for difference: (1,575; 2,856)

T-Test of difference = 0 (vs not =): T-Value = 6,94 P-Value = 0,000 DF = 53

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112

APÊNDICE C: ANOVA para importância de quesitos para mercado de fios

finos

One-way ANOVA: Resultado versus Serviço Source DF SS MS F P

Serito 4 362,68 90,67 42,92 0,000

Error 220 464,76 2,11

Total 224 827,44

S = 1,453 R-Sq = 43,83% R-Sq(adj) = 42,81%

Individual 95% CIs For Mean Based on

Pooled StDev

Level N Mean StDev ---+---------+---------+---------+------

Atendimento 45 2,422 1,055 (--*---)

Exclusivo 45 3,844 2,033 (---*---)

Preço 45 3,022 1,097 (--*---)

Qualidade 45 6,156 1,086 (--*---)

Variedade 45 4,022 1,712 (---*--)

---+---------+---------+---------+------

2,4 3,6 4,8 6,0

Pooled StDev = 1,453

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113

APÊNDICE D: Importância de quesitos em fio fino

7654321

Median

Mean

3,02,82,62,42,22,0

1st Q uartile 1,5000

M edian 2,0000

3rd Q uartile 3,0000

M aximum 4,0000

2,1052 2,7392

2,0000 3,0000

0,8734 1,3327

A -Squared 2,06

P-V alue < 0,005

M ean 2,4222

StDev 1,0551

V ariance 1,1131

Skew ness 0,03188

Kurtosis -1,18669

N 45

M inimum 1,0000

A nderson-Darling Normality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FFServiço FF = Atendimento

7654321

Median

Mean

7,006,756,506,256,00

1st Q uartile 5,0000

M edian 7,0000

3rd Q uartile 7,0000

M aximum 7,0000

5,8292 6,4819

6,0000 7,0000

0,8992 1,3721

A -Squared 4,28

P-V alue < 0,005

M ean 6,1556

StDev 1,0862

V ariance 1,1798

Skew ness -1,10237

Kurtosis 0,34723

N 45

M inimum 3,0000

A nderson-Darling Normality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FFServiço FF = Qualidade

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114

7654321

Median

Mean

3,43,23,02,82,6

1st Q uartile 2,0000

M edian 3,0000

3rd Q uartile 3,0000

M aximum 7,0000

2,6926 3,3519

3,0000 3,0000

0,9084 1,3861

A -Squared 2,93

P -V alue < 0,005

M ean 3,0222

S tDev 1,0973

V ariance 1,2040

S kew ness 1,46661

Kurtosis 3,64095

N 45

M inimum 1,0000

A nderson-D arling N ormality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FFServiço FF = Preço

7654321

Median

Mean

5,004,754,504,254,003,753,50

1st Q uartile 3,0000

M edian 4,0000

3rd Q uartile 5,0000

M aximum 7,0000

3,5078 4,5366

3,5358 5,0000

1,4174 2,1627

A -Squared 1,02

P-V alue 0,010

M ean 4,0222

StDev 1,7121

V ariance 2,9313

Skew ness 0,134596

Kurtosis -0,578150

N 45

M inimum 1,0000

A nderson-D arling N ormality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FFServiço FF = Variedade

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115

7654321

Median

Mean

5,04,54,03,53,0

1st Q uartile 2,0000

M edian 4,0000

3rd Q uartile 5,0000

M aximum 7,0000

3,2336 4,4553

3,0000 5,0000

1,6833 2,5685

A -Squared 1,37

P-V alue < 0,005

M ean 3,8444

StDev 2,0333

V ariance 4,1343

Skew ness -0,10168

Kurtosis -1,20090

N 45

M inimum 1,0000

A nderson-Darling Normality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FFServiço FF = Exclusivo

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116

APÊNDICE D: Importância de quesitos em fio comum

7654321

Median

Mean

7,06,86,66,46,26,0

1st Q uartile 5,0000

M edian 7,0000

3rd Q uartile 7,0000

M aximum 7,0000

6,0047 6,4672

6,7943 7,0000

0,9568 1,2878

A -Squared 11,09

P -V alue < 0,005

M ean 6,2360

S tDev 1,0978

V ariance 1,2051

S kew ness -1,22356

Kurtosis 0,43625

N 89

M inimum 3,0000

A nderson-D arling N ormality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FCServiço FC = Atendimento

7654321

Median

Mean

6,05,85,65,45,25,0

1st Q uartile 5,0000

M edian 6,0000

3rd Q uartile 7,0000

M aximum 7,0000

5,2265 5,8522

5,0000 6,0000

1,2945 1,7424

A -Squared 4,69

P-V alue < 0,005

M ean 5,5393

StDev 1,4852

V ariance 2,2058

Skew ness -0,780759

Kurtosis -0,433806

N 89

M inimum 2,0000

A nderson-D arling N ormality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FCServiço FC = Qualidade

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117

7654321

Median

Mean

3,23,02,82,62,42,22,0

1st Q uartile 2,0000

M edian 3,0000

3rd Q uartile 4,0000

M aximum 7,0000

2,6839 3,2262

2,0000 3,0000

1,1220 1,5101

A -Squared 4,48

P -V alue < 0,005

M ean 2,9551

S tDev 1,2873

V ariance 1,6570

S kew ness 0,935574

Kurtosis 0,754413

N 89

M inimum 1,0000

A nderson-Darling Normality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FCServiço FC = Preço

7654321

Median

Mean

2,32,22,12,01,9

1st Q uartile 1,0000

M edian 2,0000

3rd Q uartile 3,0000

M aximum 4,0000

1,8925 2,2873

2,0000 2,0000

0,8168 1,0994

A -S quared 5,13

P-V alue < 0,005

M ean 2,0899

StD ev 0,9371

V ariance 0,8782

Skew ness 0,326236

Kurtosis -0,929072

N 89

M inimum 1,0000

A nderson-Darling Normality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FCServiço FC = Variedade

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118

7654321

Median

Mean

1,81,61,41,21,0

1st Q uartile 1,0000

M edian 1,0000

3rd Q uartile 2,0000

M aximum 4,0000

1,4299 1,8285

1,0000 1,0000

0,8246 1,1099

A -Squared 11,82

P -V alue < 0,005

M ean 1,6292

S tDev 0,9461

V ariance 0,8950

S kew ness 1,38864

Kurtosis 0,81849

N 89

M inimum 1,0000

A nderson-D arling N ormality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota FCServiço FC = Exclusivo

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119

APÊNDICE E: Dados de NPS por empresa

10864

Median

Mean

9,99,69,39,08,78,4

1st Q uartile 8,0000

M edian 9,0000

3rd Q uartile 10,0000

M aximum 10,0000

8,4246 9,1469

8,2318 9,7682

0,9536 1,4779

A -Squared 2,70

P-V alue < 0,005

M ean 8,7857

StDev 1,1590

V ariance 1,3432

Skew ness -0,44720

Kurtosis -1,25389

N 42

M inimum 7,0000

A nderson-Darling Normality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota NPSEmpresa = Stecidos

9,07,56,04,53,0

Median

Mean

9,08,88,68,48,28,0

1st Q uartile 7,0000

M edian 9,0000

3rd Q uartile 10,0000

M aximum 10,0000

8,2074 8,7676

8,0000 9,0000

1,3752 1,7749

A -S quared 6,12

P-V alue < 0,005

M ean 8,4875

StD ev 1,5495

V ariance 2,4011

Skew ness -0,679092

Kurtosis -0,679768

N 120

M inimum 5,0000

A nderson-Darling Normality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota NPSEmpresa = Cotton1

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120

10864

Median

Mean

9,008,758,508,258,007,757,50

1st Q uartile 6,0000

M edian 8,0000

3rd Q uartile 9,0000

M aximum 10,0000

7,4831 8,3835

8,0000 9,0000

1,2405 1,8929

A -Squared 2,28

P-V alue < 0,005

M ean 7,9333

StDev 1,4985

V ariance 2,2455

Skew ness -0,517612

Kurtosis -0,773061

N 45

M inimum 5,0000

A nderson-D arling N ormality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota NPSEmpresa = Importadores

10864

Median

Mean

9,008,758,508,258,007,757,50

1st Q uartile 7,0000

M edian 8,0000

3rd Q uartile 9,0000

M aximum 10,0000

7,5722 8,4278

8,0000 9,0000

1,2264 1,8453

A -Squared 1,36

P-V alue < 0,005

M ean 8,0000

StDev 1,4732

V ariance 2,1702

Skew ness -0,374995

Kurtosis -0,645255

N 48

M inimum 5,0000

A nderson-D arling N ormality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota NPSEmpresa = Fabricant

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121

10864

Median

Mean

9,008,758,508,258,007,757,50

1st Q uartile 7,0000

M edian 8,0000

3rd Q uartile 9,0000

M aximum 10,0000

7,3978 8,2213

8,0000 9,0000

1,3909 1,9834

A -Squared 4,02

P-V alue < 0,005

M ean 7,8095

StDev 1,6349

V ariance 2,6728

Skew ness -1,39856

Kurtosis 1,76470

N 63

M inimum 3,0000

A nderson-Darling Normality Test

95% C onfidence Interv al for M ean

95% C onfidence Interv al for M edian

95% C onfidence Interv al for StDev95% Confidence Intervals

Summary for Nota NPSEmpresa = Peugeau