análise dos casos de agressão por animais potencialmente ... · procurar assistência médica e,...

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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO JEPEX 2013 UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro. Análise dos casos de agressão por animais potencialmente transmissores de raiva no Município de Barra de Guabiraba/PE no ano de 2012 Rodolfo Luiz Godoy do Amaral 1 , Nilton Antônio dos Santos 2 , Kelly Jane Ramos Alencar Cabral 3 , Erivaldo José Roberto Wanderley 4 , Maria Aparecida da Gloria Faustino 5 INTRODUÇÃO A raiva é uma infecção viral cujo agente etiológico pertence ao gênero Lyssavirus, da família Rhabdoviridae. Com genoma constituído por RNA, o vírus é transmitido somente por mamíferos tornando-se uma das mais importantes zoonoses de evolução quase sempre fatal (Andrade, 1999). Cerca de 50 mil seres humanos morrem vítimas da raiva nos países menos desenvolvidos, sendo 90% no sudeste asiático. Países como Peru, Equador, México e Brasil, tem ainda a raiva urbana sem controle (Borges, 1996), e o cão é responsável por 99% dos casos de raiva humana e por 92% dos tratamentos pós-agressão que ocorrem em todo o mundo (OMS, 1992). A transmissão da raiva, tanto de animal a animal como do animal ao homem, ocorre pela introdução do vírus do animal infectado, em consequência de agressões (mordedura, lambedura, ferimento de mucosas ou arranhões). São reconhecidos dois tipos epidemiológicos de raiva: a raiva urbana, mantida por cães e gatos e a raiva rural ou silvestre, mantidas por agressões de animais silvestres (Instituto de Saúde do Paraná, 1995). No Brasil, a raiva é endêmica, em grau diferenciado de acordo com a região geopolítica. No período de 1991 a 2007, foram notificados 1.271 casos de raiva humana, sendo os cães responsáveis por transmitir 75%, os morcegos por 12%, os felinos por 3% e os 10% restantes por outras espécies. Nos anos de 2004 e 2005, o morcego foi o principal responsável pelos casos de raiva humana, com 86,5% dos casos nesses dois anos, passando pela primeira vez a superar os casos com transmissão canina, devido à ocorrência de surtos de raiva humana no Estado do Pará, na Região Norte, e no Estado do Maranhão, na Região Nordeste do País (Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado do Pará, 2007). Em vários Estados brasileiros, foram diagnosticados casos de raiva em humanos, caninos, felinos, bovinos e equinos transmitidos por quirópteros, entre eles um caso de raiva humana no estado de Pernambuco no ano de 2008 (BRASIL, 2009). Sem tratamento específico a profilaxia pós-agressão deve ser adequadamente executada. Toda pessoa agredida deve procurar assistência médica e, só após o preenchimento da Ficha de Atendimento Antirrábico Humano (FARH) completa-se a anamnese, sendo possível classificar a agressão em leve ou grave, dependendo das características do ferimento, tais como: local do corpo onde ocorreu a agressão, profundidade, extensão e número de lesões (FNS, 2002). Devem ser levadas também em consideração as características do animal agressor: a espécie, o estado de saúde no momento da agressão, a possibilidade de observação por dez dias, a procedência e hábitos de vida do animal quando domésticos (Instituto Pasteur, 2000). Concluindo o preenchimento da referida ficha é possível avaliar a agressão, determinando se ocorrerá a vacinação ou soro-vacinação ou, ainda, acompanhamento durante o período de observação animal (BRASIL, 2005). Objetivou-se com este estudo analisar os aspectos epidemiológico das agressões sofridas por humanos provocadas por animais potencialmente transmissores de raiva no município de Barra de Guabiraba- PE utilizando as fichas de atendimento antirrábico humano. Material e métodos A cidade de Barra de Guabiraba possui localização geográfica latitude 08º25'12" sul e a uma longitude 35º39'29" oeste, população de 12.776 hab. área de 114,650 km2 (IBGE, 2012). As informações para este estudo foram colhidas das fichas de atendimento antirrábico humano pertencentes ao banco de dados do Sistema Nacional de Notificação e Agravos (SINAN) do Município de Barra de Guabiraba/PE ano 2012, caracterizando uma pesquisa documental, de caráter descritivo com abordagem quantitativa. O atendimento às pessoas agredidas por animais potencialmente transmissores da raiva em Barra de Guabiraba é descentralizado da Unidade Mista Paulo Viana de Queiroz, assumindo totalmente a responsabilidade o serviço de imunização localizado na policlínica juntamente com os (05) PSF distribuídos no município. Nestes lugares ocorre o preenchimento da ficha de atendimento antirrábico humano (FARH), documento oficial de registro, onde as informações foram obtidas diretamente dos pacientes agredidos ou responsáveis, logo em seguida estas mesmas fichas são encaminhadas para digitação no 1 Pós-graduando de Doutorado em Ciência Veterinária da UFRPE e-mail: [email protected] 2 Técnico em Enfermagem da Secretaria de Saúde de Barra de Guabiraba e Digitador do SINAN. 3 Secretária Municipal de Saúde do Município de Barra de Guabiraba/PE 4 Aluno de Graduação em Medicina Veterinária da UFRPE 5 Professora Associada do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE

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Page 1: Análise dos casos de agressão por animais potencialmente ... · procurar assistência médica e, só após o preenchimento da Ficha de Atendimento Antirrábico Humano (FARH)

XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Análise dos casos de agressão por animais potencialmente transmissores

de raiva no Município de Barra de Guabiraba/PE no ano de 2012

Rodolfo Luiz Godoy do Amaral1, Nilton Antônio dos Santos2, Kelly Jane Ramos Alencar Cabral3, Erivaldo José

Roberto Wanderley4, Maria Aparecida da Gloria Faustino5

INTRODUÇÃO

A raiva é uma infecção viral cujo agente etiológico pertence ao gênero Lyssavirus, da família Rhabdoviridae. Com

genoma constituído por RNA, o vírus é transmitido somente por mamíferos tornando-se uma das mais importantes

zoonoses de evolução quase sempre fatal (Andrade, 1999).

Cerca de 50 mil seres humanos morrem vítimas da raiva nos países menos desenvolvidos, sendo 90% no sudeste

asiático. Países como Peru, Equador, México e Brasil, tem ainda a raiva urbana sem controle (Borges, 1996), e o cão é

responsável por 99% dos casos de raiva humana e por 92% dos tratamentos pós-agressão que ocorrem em todo o mundo

(OMS, 1992).

A transmissão da raiva, tanto de animal a animal como do animal ao homem, ocorre pela introdução do vírus do

animal infectado, em consequência de agressões (mordedura, lambedura, ferimento de mucosas ou arranhões). São

reconhecidos dois tipos epidemiológicos de raiva: a raiva urbana, mantida por cães e gatos e a raiva rural ou silvestre,

mantidas por agressões de animais silvestres (Instituto de Saúde do Paraná, 1995).

No Brasil, a raiva é endêmica, em grau diferenciado de acordo com a região geopolítica. No período de 1991 a

2007, foram notificados 1.271 casos de raiva humana, sendo os cães responsáveis por transmitir 75%, os morcegos por

12%, os felinos por 3% e os 10% restantes por outras espécies. Nos anos de 2004 e 2005, o morcego foi o principal

responsável pelos casos de raiva humana, com 86,5% dos casos nesses dois anos, passando pela primeira vez a superar

os casos com transmissão canina, devido à ocorrência de surtos de raiva humana no Estado do Pará, na Região Norte, e

no Estado do Maranhão, na Região Nordeste do País (Diretoria de Vigilância Epidemiológica do Estado do Pará, 2007).

Em vários Estados brasileiros, foram diagnosticados casos de raiva em humanos, caninos, felinos, bovinos e equinos

transmitidos por quirópteros, entre eles um caso de raiva humana no estado de Pernambuco no ano de 2008 (BRASIL,

2009).

Sem tratamento específico a profilaxia pós-agressão deve ser adequadamente executada. Toda pessoa agredida deve

procurar assistência médica e, só após o preenchimento da Ficha de Atendimento Antirrábico Humano (FARH)

completa-se a anamnese, sendo possível classificar a agressão em leve ou grave, dependendo das características do

ferimento, tais como: local do corpo onde ocorreu a agressão, profundidade, extensão e número de lesões (FNS, 2002).

Devem ser levadas também em consideração as características do animal agressor: a espécie, o estado de saúde no

momento da agressão, a possibilidade de observação por dez dias, a procedência e hábitos de vida do animal quando

domésticos (Instituto Pasteur, 2000). Concluindo o preenchimento da referida ficha é possível avaliar a agressão,

determinando se ocorrerá a vacinação ou soro-vacinação ou, ainda, acompanhamento durante o período de observação

animal (BRASIL, 2005).

Objetivou-se com este estudo analisar os aspectos epidemiológico das agressões sofridas por humanos provocadas

por animais potencialmente transmissores de raiva no município de Barra de Guabiraba- PE utilizando as fichas de

atendimento antirrábico humano.

Material e métodos

A cidade de Barra de Guabiraba possui localização geográfica latitude 08º25'12" sul e a uma longitude 35º39'29"

oeste, população de 12.776 hab. área de 114,650 km2 (IBGE, 2012).

As informações para este estudo foram colhidas das fichas de atendimento antirrábico humano pertencentes ao banco

de dados do Sistema Nacional de Notificação e Agravos (SINAN) do Município de Barra de Guabiraba/PE ano 2012,

caracterizando uma pesquisa documental, de caráter descritivo com abordagem quantitativa. O atendimento às pessoas

agredidas por animais potencialmente transmissores da raiva em Barra de Guabiraba é descentralizado da Unidade

Mista Paulo Viana de Queiroz, assumindo totalmente a responsabilidade o serviço de imunização localizado na

policlínica juntamente com os (05) PSF distribuídos no município. Nestes lugares ocorre o preenchimento da ficha de

atendimento antirrábico humano (FARH), documento oficial de registro, onde as informações foram obtidas diretamente

dos pacientes agredidos ou responsáveis, logo em seguida estas mesmas fichas são encaminhadas para digitação no

1 Pós-graduando de Doutorado em Ciência Veterinária da UFRPE e-mail: [email protected] 2 Técnico em Enfermagem da Secretaria de Saúde de Barra de Guabiraba e Digitador do SINAN.

3 Secretária Municipal de Saúde do Município de Barra de Guabiraba/PE

4 Aluno de Graduação em Medicina Veterinária da UFRPE

5 Professora Associada do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE

Page 2: Análise dos casos de agressão por animais potencialmente ... · procurar assistência médica e, só após o preenchimento da Ficha de Atendimento Antirrábico Humano (FARH)

XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

SINAN no setor de epidemiologia.

Resultados e Discussão

No ano de 2012 foram agredidas 42 pessoas, 83% (35/42) eram moradores da cidade e 17% (7/42) moradores

da zona rural. Segundo a Vigilância Sanitária Municipal, o efetivo de cães é maior na cidade do que a zona rural da

cidade, aspecto já observado em outros munícipios (Brasil, 2005). A profissão cujos indivíduos foram mais agredidos

foi a de agricultor (33,3%), sendo relatado como de maior frequência também na pesquisa de Oliveira et al. (2006),

justificando que, no interior, a maioria das profissões seja agricultor. A maioria das agressões foi realizada por cães

(52,3%), seguindo o mesmo perfil relatado pela Organização Mundial de Saúde (2007). O sexo masculino foi o mais

agredido (61,90%), resultado semelhante ao alcançado por Carrieri et al. (2006), pelo fato de terem maior contato com

os animais, estarem mais tempo fora de casa, tendo atitudes e brincadeiras que podem estimular à agressão.

A área do corpo mais atingida por agressores foi o mão/pé com 52,30 %, concordando com Hossain et al.

(2004) e Poerner & Pereira (2006) justificado pela maioria das pessoas terem hábito de passar a mão tanto e cães e gatos

desconhecidos, já o pé pelo fato de pisar com certa frequência na cauda do animal. A mordedura tipo profunda teve um

grande destaque (54,76%) como em vários trabalhos, sendo sempre a de maior ocorrência pelo fato do indivíduo se

preocupar em relatar este tipo de acidente devido à gravidade da lesão e à possibilidade de estar relacionada com a

raiva. (Rigo & Honer, 2005; Rolim et al., 2006; Osverall & Love, 2001).

Referências

Andrade, M.C.R.; Oliveira, A.N.; Romijin, P.C.; Kimura, L.M.S. Resposta imune produzida por vacinas antirrábicas em

saguis (Callithrix sp). Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 32: 533-540, 1999.

Borges, C.H.P. Caracterização da população canina e felina de zona urbana de Lençóis Paulista-SP, visando o controle

da raiva. Dissertação de Mestrado. Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista

Júlio Mesquita Filho, Botucatu, SP, 1996.

BRASIL. Ministério da Saúde - Secretaria Estadual de Saúde de Pernambuco - COVEV/CGDT/DEVEP/Secretaria de

Vigilância em Saúde. 2005.

BRASIL. Ministério da Saúde - Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica.

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Carrieri, M. L.; Takaoka, N. Y.; Kotait, I.; Germano, P. M. L. Diagnóstico Clínico-epidemiológico da Raiva Humana:

Dados do Instituto Pasteur de São Paulo do período de 1970-2002. Boletim Epidemiológico Paulista, São Paulo, ano 3,

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Fundação Nacional de Saúde; 2002.

Hossain, J.; Crowcroft, N. S.; Lea, G.; Brown, D.; Mortimer, P. P. Audit of rabies post-exposure prophylaxis in England

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IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, http://cidades.ibge.gov.br/ 2012.

Instituto de Saúde do Paraná. Centro de Epidemiologia. Considerações sobre a raiva: norma técnica de tratamento

antirrábico. Curitiba: Instituto de Saúde do Paraná; 1995.

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2005. In: Reunião Internacional de Raiva nas Américas, XVII, 2006, Brasília. Anais… Brasília: Ministério da Saúde,

p.150, 2006.

OMS. Organização Mundial de Saúde, Lista de Doenças de Notificação Compulsória. 2007.

Osverall, K. L.; Love, M. Dog bites to humans-demography, epidemiology, injury, and risk. Journal of the American

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XIII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.

Poerner, A. L.; Pereira, M. J. S. Epidemiology of human rabies postexposure prophylaxis and relationship between

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XVII., 2006, Brasilia. Anais… Brasília: Ministério da Saúde, 2006.

Rigo, L.; Honer, M. R. Análise da profilaxia da raiva humana em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil, em 2002.

Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 21, n. 6, p. 1939-1945, 2005.

Rolim, R. L. P.; Lopes, F. M. R.; Navarro, I. T. Aspectos da vigilância epidemiológica da raiva no município de

Jacarezinho, Paraná, Brasil, 2003. Semina. Ciências Agrárias, Londrina, v. 27, n. 2, p. 271-280, 2006.