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ANÁLISE DOS ASPECTOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM DE GERENCIAMENTO DE PROJETOS NOS PRINCIPAIS CURSOS DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DO BRASIL KAREN CAROLINE DE FREITAS CORREA (UNIFEI ) [email protected] Carlos Eduardo Sanches da Silva (UNIFEI ) [email protected] Leticia Fernandes Costa (UNIFEI ) [email protected] O sucesso obtido nos projetos é um fator de vantagem competitiva para as empresas responderem de forma satisfatória às necessidades do mercado. Observa-se, no entanto, que grande parte dos projetos não atinge o sucesso em seus resultados, mmuitas vezes devido à falha humana e ao despreparo da equipe envolvida. Apesar da grande quantidade de Engenheiros de Produção no mercado, estão abertas inúmeras vagas para gerentes de projeto e poucas pessoas são qualificadas para preenchê-las. O presente estudo pretende identificar quais são os aspectos relevantes da disciplina de Gerenciamento de Projeto (GP) e como ela está sendo abordada nos principais cursos de graduação de Engenharia de Produção no Brasil. Dos trinta e oito cursos avaliados pelo ENADE com conceito 5 e 4, trinta e três (87%) disponibilizaram a matriz curricular, sendo que vinte deles (61%) oferecem a disciplina de GP. Com a análise das características e ementas das disciplinas, conclui-se que: a maior parte delas é ministrada nas etapas finais da graduação e possui carga horária de sessenta horas; o conteúdo de planejamento de projeto é o mais adotado, seguido por controle do projeto, conceitos introdutórios e áreas de conhecimento, sendo pouco reportada a utilização de ferramentas computacionais de apoio e análise de casos práticos. Palavras-chaves: Gerenciamento de Projetos, Vantagem Competitiva, Disciplina, Graduação, Engenharia de Produção. XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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ANÁLISE DOS ASPECTOS DE ENSINO E

APRENDIZAGEM DE

GERENCIAMENTO DE PROJETOS NOS

PRINCIPAIS CURSOS DE ENGENHARIA

DE PRODUÇÃO DO BRASIL

KAREN CAROLINE DE FREITAS CORREA (UNIFEI )

[email protected]

Carlos Eduardo Sanches da Silva (UNIFEI )

[email protected]

Leticia Fernandes Costa (UNIFEI )

[email protected]

O sucesso obtido nos projetos é um fator de vantagem competitiva para

as empresas responderem de forma satisfatória às necessidades do

mercado. Observa-se, no entanto, que grande parte dos projetos não

atinge o sucesso em seus resultados, mmuitas vezes devido à falha

humana e ao despreparo da equipe envolvida. Apesar da grande

quantidade de Engenheiros de Produção no mercado, estão abertas

inúmeras vagas para gerentes de projeto e poucas pessoas são

qualificadas para preenchê-las. O presente estudo pretende identificar

quais são os aspectos relevantes da disciplina de Gerenciamento de

Projeto (GP) e como ela está sendo abordada nos principais cursos de

graduação de Engenharia de Produção no Brasil. Dos trinta e oito

cursos avaliados pelo ENADE com conceito 5 e 4, trinta e três (87%)

disponibilizaram a matriz curricular, sendo que vinte deles (61%)

oferecem a disciplina de GP. Com a análise das características e

ementas das disciplinas, conclui-se que: a maior parte delas é

ministrada nas etapas finais da graduação e possui carga horária de

sessenta horas; o conteúdo de planejamento de projeto é o mais

adotado, seguido por controle do projeto, conceitos introdutórios e

áreas de conhecimento, sendo pouco reportada a utilização de

ferramentas computacionais de apoio e análise de casos práticos.

Palavras-chaves: Gerenciamento de Projetos, Vantagem Competitiva,

Disciplina, Graduação, Engenharia de Produção.

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1. Introdução

Capacidade de inovação e de gestão do conhecimento são habilidades relevantes no cenário

competitivo do mercado atual. As empresas devem ser flexíveis e aptas a desenvolver

produtos, serviços ou resultados com qualidade de forma ágil e econômica (RABECHINI,

2002).

Uma pesquisa de benchmarking em Gerenciamento de Projetos (GP), realizada pelo PMI

(2010), revelou que 75% da alta gerência das organizações brasileiras percebe claramente os

benefícios ganhos através do GP. Grande parte das empresas pretende, dentro de 12 meses,

desenvolver ou revisar suas metodologias de projeto e investir em programas de capacitação e

indicadores de desempenho deles. No entanto, apesar da importância cada vez maior dos

projetos nas organizações, a maioria destes não alcança seus objetivos. Entregar projetos que

cumpram prazo, custo e especificações planejadas e que também atendam aos objetivos de

negócio que o justificaram é ainda um desafio a ser superado nas empresas (MARQUES

JUNIOR; PLONSKI, 2011). A realidade é que a maioria dos estudiosos e profissionais

considera que esta taxa alta de insucesso se deve, principalmente, ao fator de falha humana

(ASHLEIGH et al., 2012).

As pessoas com habilidades em GP são cada vez mais importantes, exigindo o

desenvolvimento profissional e treinamento. De acordo com o PMI (2010), as características

que as organizações mais valorizam em seus gestores de projetos são a capacidade de

liderança, comunicação, negociação e o conhecimento em gerenciamento de projetos. Por

outro lado, foi constatado que as maiores deficiências destes gestores são a comunicação,

gerenciamento de conflitos, capacidade de integrar as partes e o conhecimento em

gerenciamento de projetos. Nota-se que o conhecimento em GP, juntamente com a capacidade

de comunicação, é uma das habilidades mais importantes de um gestor, porém é também uma

das mais falhas. Isso torna evidente que proporcionar um ensino de qualidade em GP para

futuros profissionais e desenvolver comportamentos adequados resulta em melhoria de

competências e aproximação do sucesso nos projetos (ALAM et al., 2008). No entanto, as

pesquisas que abordam como as competências e habilidades de gerenciamento de projetos

podem ser ensinadas ou assimiladas ainda são muito limitadas (ASHLEIGH et al., 2012).

Programas de graduação possuem um papel fundamental como agentes formadores de futuros

gerentes de projeto. Apesar da grande oferta de vagas para profissionais desta área e da

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quantidade de Engenheiros de Produção no mercado, há uma carência de pessoas qualificadas

para preenchê-las. Neste contexto, o presente estudo pretende identificar quais são os aspectos

relevantes da disciplina de GP e como ela está sendo abordada pelos cursos de Engenharia de

Produção brasileiros que receberam notas 4 e 5 no Exame Nacional de Desempenho de

Estudantes – ENADE.

Uma breve revisão dos conceitos básicos em GP será feita para contextualizar este trabalho

com sua origem e aplicações.

2. Fundamentação teórica

2.1. O que são projetos?

De acordo com Heldman (2005), os projetos têm natureza temporária (início e fim bem

definidos) e recursos concentrados somente para sua concretização. Sintetiza Kerzner (2003)

que um projeto é “um empreendimento com objetivo bem definido, que opera sob pressões de

prazos, custos e qualidade”.

O termo temporário não significa necessariamente que o projeto seja de curta duração, mesmo

porque os serviços, produtos ou resultados deste projeto são duradouros. Embora alguns

elementos repetitivos possam estar presentes em algumas entregas do projeto, esta repetição

não muda a característica singular de seus resultados exclusivos (PMI, 2008).

Os projetos surgem de necessidades que buscam suprir as expectativas dos clientes. Segundo

o PMBOK® (PMI, 2008), as necessidades dos projetos surgem como resultados da demanda

de mercado, oportunidade estratégica de novos negócios, solicitação do cliente, avanço

tecnológico e requisitos legais. Um projeto não necessariamente tem como necessidade a

geração de um produto ou serviço para um cliente externo e boa parte dos projetos tem

objetivos internos às empresas. Em geral, são projetos de reestruturação ou desenvolvimento

que seguem uma estratégia, buscando aumentar o valor econômico agregado destas empresas

(OLIVEIRA, 2003).

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2.2. Gerenciamento de Projetos (GP)

O gerenciamento de projetos é a aplicação de conhecimento, habilidades, ferramentas e

técnicas às atividades do projeto, a fim de atender aos seus requisitos (PMI, 2008) . Segundo a

Norma ISO 10006 (1997) e Kerzner (2003), o gerenciamento de projetos engloba

planejamento, organização, supervisão e controle de todos os aspectos do projeto

continuamente, de forma a atingir seus objetivos com êxito, para benefício dos participantes

do projeto.

Para Cerqueira (2010) gerenciar um projeto envolve o balanceamento de suas restrições

conflitantes. Miccoli (2004) considera três aspectos que caracterizam o GP:

Tempo: prazos estabelecidos para o projeto podem ser fundamentais para a

sobrevivência da empresa em termos de superação da concorrência, da redução de

custos e aumento de produtividade;

Custos: as tarefas devem ser realizadas dentro do que estava previsto no orçamento

original e garantir os retornos financeiros esperados do projeto;

Qualidade: atingir as especificações pré-estabelecidas no projeto inicial.

2.3. Ciclo de vida de um projeto

O ciclo de vida do projeto define as fases que conectam o início de um projeto ao seu final.

Durante este ciclo são definidas quais são as tarefas essenciais para a realização do projeto,

quais são as entregas e quem são os responsáveis de cada uma das fases e a forma que devem

ser feitas, analisadas, avaliadas e controladas (DELGADO, 2011).

O conceito de Processos de Gerenciamento baseado no ciclo do PDCA (Plan, Do, Check, Act)

pressupõe que os processos agrupam dentro de si outros subprocessos, sendo denominados,

então, de Grupos de Processos (FERNANDES, 2010). Estes processos foram classificados

pelo PMI (2008) em: iniciação, planejamento, execução, monitoramento e encerramento.

3. O profissional de Gerenciamento de Projetos

A atuação de um gerente de projetos requer habilidades como: capacidade interpessoal,

competências técnicas e aptidão cognitiva, juntamente com a capacidade de compreender a

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situação e as pessoas e depois integrar dinamicamente comportamentos de liderança

apropriados (PANT, 2008).

Ayas (1996) e Walker et al.(2008) afirmam que todos os indivíduos ligados a um projeto

estão envolvidos em um processo de constante aprendizado, transmitem os ensinamentos para

os outros e o conhecimento adquirido é incorporado à organização. A capacidade de manter o

sucesso e a melhoria significativa em projetos durante longos períodos de tempo depende,

sobretudo, da capacidade de aprender com a experiência. O processo de construção da

aprendizagem é um esforço contínuo e a equipe de projeto precisa estar apta a garantir o

cumprimento das tarefas designadas a cada área de conhecimento do projeto no decorrer de

seu ciclo de vida.

Essas tarefas também podem ser chamadas de processos, e são mapeadas de acordo com as

fases Planejar, Executar e Monitorar e Controlar, correspondentes aos módulos Plan, Do e Act

do ciclo PDCA, bem como segundo as nove áreas do conhecimento de um projeto, propostas

pelo guia PMBOK (PMI, 2008): integração, escopo, prazo, custo, qualidade, recursos

humanos, comunicações, risco e aquisições (também chamada de suprimentos).

Esta pesquisa não tem por foco investigar as características de liderança de um gestor de

projetos, e sim a formação acadêmica específica do Engenheiro de Produção na área de GP.

4. O ensino e a aprendizagem em Gerenciamento de Projetos

De acordo com Ashleigh (2012), a transmissão de habilidades relevantes, ideias e

conhecimentos podem ser transmitidos aos profissionais por meio de treinamento e/ou ensino.

O treinamento se concentra em assegurar comportamentos desejáveis e alinhados com os

valores da empresa. Geralmente é feito uma única vez, e procura especificar a maneira “certa”

de realizar uma ação específica. A transmissão de conhecimento pelo ensino é feita através de

programas de educação formal. Há algum tempo, o GP é adotado como disciplina em cursos

de graduação, pós-graduação e especialização, porém, não é considerado um conteúdo

obrigatório pelo Conselho Nacional de Educação, que estabelece as referências curriculares

para o curso de Engenharia de Produção baseados no Parecer CNE/CES 1.362/2001 do

Ministério da Educação.

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Segundo Cano (2011) e Anbang (2011), na educação tradicional, os esforços para se treinar

um aluno a delimitar um projeto se concentram na aquisição de conhecimentos e habilidades

necessários para cumprir as tarefas das aulas teóricas, o que pode se supor que é suficiente

para definir um projeto real e deixá-lo tirar suas próprias conclusões. No entanto, a melhor

maneira de treiná-los é através de uma combinação de experiência e prática. O ensino de GP

deve incluir atividades didáticas, equilibrando transferência de conhecimento e

desenvolvimento das habilidades dos alunos, como a realização de um trabalho de concepção

de um projeto e simulações de software, ao mesmo tempo em que aprendem a teoria.

Os educadores de GP devem criar um ambiente favorável para que os estudantes se tornem

criadores de conhecimento (OJIAKO, 2011). O ensino de GP só se torna eficiente quando as

percepções e opiniões expressas pelos alunos são levadas em consideração, o que traz

desafios para os responsáveis pela criação dos programas de ensino e aprendizagem. Além

disso, é interessante adotar nos programas de ensino experiências reais e estudos de caso

(ASHLEIGH et al., 2012).

Anbang (2011), por dez anos, estudou o ensino em GP no Centro de Pesquisa em

Gerenciamento de Projetos da Universidade Nankai na China, onde destacou as seguintes

medidas adotadas:

Diferenciar e analisar conceitos e definições para facilitar a compreensão;

Estudos de caso para contextualizar técnicas de gestão;

Encontrar soluções pelo ensino baseado em problemas (PBL);

O compartilhamento de informações entre professor e alunos;

Desenvolvimento de pontos de vista em relação a temas polêmicos.

Existe a constante colaboração entre ambientes acadêmicos e organizações, focada em fazer

com que a teoria de GP seja aplicada na prática. Os resultados desse processo de geração de

conhecimento possibilitam que cada avanço seja compartilhado e reduz o desperdício de

recursos valiosos e energia intelectual (WALKER et al., 2008).

Mengel (2008) defende que o foco do modelo educacional para líderes de projetos deverá ser

a formação de profissionais capazes de iniciar, planejar, executar, controlar e fechar um

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projeto. O método deve avaliar o desempenho tanto dos alunos quanto do programa.

Finalmente, este modelo e a sua implementação precisam ser incorporados em um processo

de contínua revisão e melhoria.

5. Metodologia

Considerando o número reduzido de pesquisas que investigam o ensino em GP, a metodologia

proposta para as fases iniciais deste trabalho foi a pesquisa exploratória. Gil (2008) descreve a

pesquisa exploratória como uma maneira de desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e

ideias através do levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudo

de caso. Esta é, muitas vezes, a primeira etapa de uma investigação mais ampla que permite a

delimitação de um tema genérico. Foi feito um estudo preliminar por meio da revisão da

literatura em periódicos, artigos científicos, dissertações, teses e livros, visando prover a

fundamentação teórica para tratar do tema do ensino e aprendizagem em GP.

Posteriormente, foi feito um estudo a respeito de disponibilização, características e ementas

(conteúdos) das disciplinas de GP nos principais cursos de graduação de Engenharia de Produção

do Brasil e uma comparação com os problemas delimitados na pesquisa exploratória. Os cursos

de Engenharia de Produção analisados atingiram conceitos 4 e 5 no Exame Nacional de

Desempenho de Estudantes – ENADE realizado no ano de 2008 e são oferecidos em 36

instituições. As informações necessárias foram coletadas nos sites de cada instituição de ensino

investigada ou via e-mail, por meio do contato com os coordenadores dos cursos de Engenharia

de Produção.

Após a coleta dos dados, foi feita a caracterização das disciplinas de GP e a análise minuciosa de

suas ementas.

6. Resultados

6.1. Escolha dos cursos analisados

As instituições investigadas estão listadas na Tabela 1 e acompanhadas por seu código conforme

o Ministério da Educação.

A UFSC é citada três vezes na Tabela 3 por representar seus cursos de Engenharia de Produção

Elétrica, Civil e Mecânica. Dentre as 38 instituições listadas, cinco não disponibilizaram a matriz

curricular do curso de Engenharia de Produção ou as ementas das disciplinas ofertadas. Portanto,

a análise será feita em 33 cursos, dos quais 13 não oferecem a disciplina de Gestão de Projetos

como obrigatória, eletiva ou optativa. A relação destas segue na Tabela 2.

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Com a análise da matriz curricular e ementas dos cursos, foi revelado que algumas das

instituições que constituem a Tabela 2 oferecem disciplinas com nomenclatura relacionada à GP,

no entanto, apresentam conteúdos correspondentes à Planejamento Empresarial ou Engenharia

Econômica.

Já em outras, assuntos referentes à GP estão fragmentados durante o curso de Engenharia de

Produção em matérias como Desenvolvimento de Produto, Planejamento e Controle da Produção

e Análise Econômica de Projeto. Logo, os cursos em que os conteúdos concernentes à GP são

abordados em uma única disciplina representam cerca de 61% dos 33 investigados (20 cursos).

Tabela 1 – Instituições investigadas

Fonte: autor

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Tabela 2 – Instituições que não oferecem a disciplina de Gerenciamento de Projetos

Fonte: autor

Nota-se que a maior parte dos cursos de Engenharia de Produção com nota 5 no ENADE (62%

deles) conta com a disciplina de GP em sua grade curricular, enquanto esta é ofertada por metade

dos cursos com nota 4 (50%). A variação destes números em relação à realidade pode ser maior

nos cursos de nota 5, já que não foi possível obter os dados de 25% dos cursos.

6.2. Caracterização das disciplinas

A Tabela 3 contém informações sobre as 17 disciplinas de GP que foram examinadas. Nos

campus da UCS de Caxias do Sul e Bento Gonçalves, as disciplinas são idênticas, portanto foram

analisadas uma única vez. O mesmo ocorreu com os cursos de Engenharia de Produção Elétrica,

Civil e Mecânica da UFSC.

A análise da Tabela 3 mostra que a maioria das disciplinas de GP é obrigatória para os cursos de

Engenharia de Produção e ministrada no 8° ou 9° período de graduação, ou seja, na fase final de

formação, focada em conferir ao universitário maior conhecimento técnico e específico de sua

área. Verificou-se, também, que a carga horária mais adotada é de 60 horas.

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6.3. Análise das ementas

A Tabela 4 contém as ementas de cada disciplina analisada.

Através da classificação e comparação dos conteúdos que compõem a ementa de cada disciplina

de GP, verificou-se que existe uma ampla variedade de temas abordados. Porém, é possível

detectar os assuntos adotados pela maior parte das instituições, bem como aqueles que, apesar de

não constarem na maioria das ementas, são ministrados em uma parte delas.

O conteúdo ministrado na maior parte dos cursos estudados (82%) é o planejamento do projeto e

a elaboração do plano de projeto. O planejamento é considerado pelo guia PMBOK (PMI, 2008)

como uma das fases do ciclo de vida do projeto, mas a maior parte das universidades prefere

tratá-lo como um tema a parte, dada sua importância. O mesmo ocorre quanto ao controle de

projeto (ministrado em 71% dos cursos estudados), que também é considerada uma etapa de seu

ciclo de vida. Os cursos da UDESC, UFAM, UFSCAR, UCS, Mackenzie e UFSC possuem

programas que contêm tanto conteúdos do ciclo de vida dos projetos quanto os de planejamento

do projeto e controle de projeto.

A maior parte das universidades contém o estudo dessas áreas a fim de desenvolver nos futuros

profissionais as habilidades que segundo Miccoli (2004), consistem na capacidade de integrar as

pessoas e as atividades do projeto; especificar todos os objetivos do projeto; controlar

corretamente o tempo e os custos previstos para o projeto; atingir as especificações previstas pelo

projeto; controlar corretamente as equipes de projeto; selecionar de forma mais efetiva os

processos de comunicação no projeto; antever, controlar e reduzir os riscos e conduzir

corretamente as aquisições previstas pelo projeto.

Outros conteúdos que são oferecidos por um número menor de cursos são o controle de custos

(41%), o papel que desempenha um gerente de projetos (35%), as ferramentas computacionais de

apoio (35%) e a análise de casos práticos (ministrada por 29% dos cursos estudados). Somente

cinco cursos de Engenharia de Produção (UCS, Unisinos, Mackenzie, UEPA e UVV) contam

com a análise de casos práticos em sua ementa. Além disso, constatou-se que apenas o

Mackenzie disponibiliza 1 crédito dentre os 4 créditos da disciplina para aplicações práticas.

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Quanto às ferramentas computacionais de apoio, o mais adotado foi o MS Project, além do WBS

Chart, Pert Expert e MS Excel. Somente seis cursos disponibilizam este tipo de treinamento

(UFRGS, Unisinos, UFSCAR, PUCRS, Mackenzie e UVV).

Tabela 3 – Caracterização das disciplinas de Gerenciamento de Projetos

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ND (*) – Não disponibilizado

Fonte: autor

Tabela 4 – Ementas das disciplinas de Gerenciamento de Projetos (continua)

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Fonte: autor

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Tabela 4 – Ementas das disciplinas de Gerenciamento de Projetos (continuação)

Fonte: autor

7. Considerações finais

Os resultados da investigação de 33 cursos de Engenharia de Produção apontam que cerca de

39% deles não oferecem a disciplina de Gerenciamento de Projetos (GP) em sua matriz

curricular. A ausência desta disciplina pode criar uma lacuna na formação acadêmica destes

profissionais, considerando sua importância nos ambientes organizacionais e a demanda no

mercado de trabalho por pessoas qualificadas na área. A análise engloba as disciplinas que

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oferecem exclusivamente os conteúdos de GP, já que em algumas instituições eles podem estar

contemplados em outras matérias no decorrer do curso de graduação (por exemplo: custos;

engenharia econômica; ciências humanas).

Por meio do exame das características e ementas das 17 disciplinas ofertadas, nota-se que a

maioria delas é ministrada no final da graduação, focado em conferir conhecimentos mais

específicos da área de formação com carga horária de 60 horas. O planejamento de projeto é o

conteúdo mais adotado (83%), seguido pelo controle do projeto (71%), conceitos introdutórios

(65%) e as áreas de conhecimento (53%).

O estudo demonstrou que o ensino de GP oferecido pelos principais cursos brasileiros de

Engenharia de Produção não explora ferramentas computacionais de apoio à gestão e aplicações

práticas, que facilitariam a compreensão dos conceitos e proporcionariam o contato inicial com a

realidade prática de um ambiente de projetos. Seria interessante que os programas destas

instituições passassem por reformulações, criando um ambiente de ensino em GP que atenda às

expectativas dos alunos e estimule sua participação ativa. Devem, ainda, ser incorporados

mecanismos que promovam um processo de contínua revisão e melhoria, como o

desenvolvimento de pesquisas, tendo como resultado permitir aos alunos a prática das teorias e a

aquisição de habilidades exigidas de um gestor de projetos e Engenheiro de Produção.

Outro aspecto relevante na formação destes profissionais é o papel do professor, que deve ter

preparação específica, domínio de técnicas de ensino e um sólido conhecimento em GP. Nesse

sentido, recomenda-se como objeto de estudo em trabalhos futuros a análise curricular dos

docentes que lecionam Gerenciamento de Projetos.

AGRADECIMENTOS

À FAPEMIG – Fundação de Amparo à Pesquisa no estado de Minas Gerais e ao CNPq –

Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, pelo apoio financeiro para

realização dessa pesquisa.

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