análise de trilha trigo desfolha

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  • 7/26/2019 Anlise de Trilha Trigo Desfolha

    1/7

    Pesq. agropec. bras., Braslia, v.43, n.4, p.487-493, abr. 2008

    Anlise de trilha para componentes do rendimento de trigo 487

    Anlise de trilha para componentes do rendimentoe caracteres agronmicos de trigo sob desfolha

    Tnia Cristina de Oliveira Gondim(1), Valterley Soares Rocha(1),Carlos Sigueyuki Sediyama(1)e Glauco Vieira Miranda(1)

    (1) Universidade Federal de Viosa, Departamento de Fitotecnia, Avenida P.H. Holfs, s/no, CEP 36570-000 Viosa, MG.E-mail: [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

    Resumo O objetivo deste trabalho foi avaliar a influncia dos componentes do rendimento e caracteres daplanta, na produo de gros, em trigo sob desfolha, por meio da decomposio das correlaes por meio deanlise de trilha. O experimento foi conduzido em Viosa, MG, em 2004. Os tratamentos constituram-se de trsnveis de desfolha e uma testemunha, com trs variedades de trigo Anahuac, BRS 207 e BR 24 , com quatrorepeties. A desfolha foi realizada com a retirada do limbo da folha bandeira, das segunda e terceira folhassuperiores. Avaliaram-se: rendimento de gros, peso do hectolitro, massa de mil gros, nmero de espigas porparcela, nmero de gros por espiga, biomassa seca do colmo, biomassa seca da palha da espiga, biomassa secatotal, rendimento de gros por espiga, biomassa seca do colmo individual, biomassa seca da palha da espigaindividual e biomassa seca total por planta individual. A reduo da biomassa seca do colmo levou a menoresperdas de rendimento de gros, pela remobilizao de fotoassimilados com a desfolha. A massa de mil gros e onmero de gros por espiga foram os principais componentes de rendimento. A seleo direta para essescaracteres estratgia eficiente para aumentar o rendimento de gros em trigo sob desfolha.

    Termos para indexao: Triticum aestivum, correlao gentica, estresse.

    Path analysis for yield components and agronomic traitsof wheat under defoliation

    Abstract The objective of this work was to evaluate the influence of yield components and plant characters ingrain production, in wheat under defoliation, through correlations decomposition using path analysis. Theexperiment was accomplished in Viosa, MG, Brazil, in 2004. The treatments consisted of three levels of defoliationand a control, with three wheat varieties Anahuac, BRS 207 and BR 24 , with four replicates. Defoliation wascarried out by removing the blade of flag leaves from the second and third top leaves. The following parameterswere evaluated: grain yield, hectolitric weight, one thousand-grain weight, number of spikes per plot, number ofgrain per spike, culm dry biomass, spike-straw dry biomass, total dry biomass, grain yield per spike, total drybiomass of individual culm, straw dry biomass of individual spike and total dry biomass per individual plant. Thereduction in culm dry biomass led to lower losses of grain yield because of the higher remobilization ofphotoassimilates with defoliation. Thousand-grain weight and number of grain per spike were the main yieldcomponents. The direct selection for these characters is an efficient strategy to increase grain yield in wheatunder defoliation.

    Index terms: Triticum aestivum, genetic correlation, stress.

    Introduo

    Em programas de melhoramento de plantas cultivadas,cujo objetivo a produo de gros, so selecionadosos gentipos com maior capacidade de rendimento.O rendimento de gros, como produto final, resulta dainterao de diversos fatores genticos, fisiolgicos eambientais e, por isso, no pode ser consideradoisoladamente. Portanto, estudos de componentes de

    rendimento de gros so importantes no melhoramentogentico do trigo (Souza, 1985).

    Correlaes entre o rendimento de gros e seuscomponentes primrios tm sido objeto de estudo detrabalhos sobre diversas culturas. O rendimento de grosfoi descrito como produto de vrios componentes derendimento (Nedel, 1994). Em cereais com populaode plantas constante, o rendimento de gros pode serobtido principalmente pelo produto de trs componentes

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    principais: nmero de espigas por unidade de rea,nmero de gros por espiga e massa mdia do gro, eesses trs componentes, at certo limite, variamindependentemente um do outro.

    Nos programas de melhoramento gentico, utiliza-sea correlao entre caracteres, e sua importncia resideno fato de se poder avaliar o quanto da alterao de umcarter pode afetar os demais, no decurso da seleo(Santos et al., 2000). Por meio do conhecimento damagnitude do desempenho de uma caracterstica, pode-seavaliar a influncia sobre outra caracterstica.Entretanto, podem ocorrer alguns equvocos nasestratgias de seleo das caractersticas avaliadas, apartir da quantificao da magnitude das correlaesentre as variveis. Assim, apesar da utilidade dessas

    estimativas, no entendimento de um carter de heranaquantitativa como o rendimento de gros, elas nodeterminam a importncia relativa das influncias diretase indiretas desses caracteres que compem o rendimento.A quantificao e a interpretao da magnitude docoeficiente de correlao, entre dois caracteres, podemlevar a equvocos de seleo, pois a elevada correlaopode ser resultante do efeito de um terceiro ou de umgrupo de caracteres (Cruz & Carneiro, 2003).

    Para entender melhor as associaes entre diferentescaracteres, Wright (1921) props um mtodo de

    desdobramento das correlaes estimadas, em efeitosdiretos e indiretos das variveis sobre uma varivelbsica. Este mtodo denominado anlise de trilha ouanlise de caminhamento.

    O sucesso da anlise de trilha reside basicamente naformulao do relacionamento de causa e efeito entreas variveis. Alm disso, o desdobramento decorrelaes dependente do conjunto de caracteresestudados, que normalmente estabelecido peloconhecimento prvio do pesquisador, de sua importnciae de possveis inter-relaes expressas em diagramas

    de trilha (Cruz & Regazzi, 1997).O ambiente influencia a relao entre os componentesde rendimento. Dencic et al. (2000) avaliaram orendimento de trigo e seus componentes, em condiestimas de cultivo e sob estresse hdrico, e verificaram,pela anlise de trilha, que para cultivares sob condiesprximas do timo, no houve associao diretasignificativa das caractersticas analisadas com aproduo, enquanto sob condies de estresse, o nmerode gros por espiga teve efeito direto positivo esignificativo.

    Situaes de estresse e danos foliares podem levar alterao na redistribuio de fotoassimilados e alterara relao fonte-dreno. O estudo dessa relao importante para o conhecimento do funcionamento dapartio de assimilados na planta.

    O objetivo deste trabalho foi avaliar as associaesentre componentes de rendimento, caracteres da plantae o rendimento de gros, e determinar os efeitos diretose indiretos desses componentes em gentipos de trigosob desfolha, pela anlise de trilha.

    Material e Mtodos

    Foram utilizadas as variedades Anahuac, BRS 207 eBR 24, obtidas junto ao banco de germoplasma do

    programa de melhoramento de trigo, da UniversidadeFederal de Viosa (UFV). Antes da semeadura, foirealizado o teste de germinao para correo dapopulao de plantas por parcela. O experimento foiinstalado no Campo Experimental Professor Diogo Alvesde Mello, do Departamento de Fitotecnia, na UFV, em26 de maio de 2004.

    O delineamento utilizado foi o de blocos ao acaso, emparcelas subdivididas. Os tratamentos constituram-sede trs variedades (na parcela), trs nveis de desfolhae uma testemunha, sem desfolha, para cada variedade

    (na subparcela), com quatro repeties. Cada unidadeexperimental constituiu-se de quatro linhas de 1 m decomprimento e de 20 cm entre linhas, com densidadede 350 plantas por m2. O controle de plantas daninhasfoi realizado com o uso do herbicida metsulfurom metyl,na dose 4 g ha-1, e a aplicao do fungicida tebuconazole,na dose 750 mL ha-1, para evitar danos por doenas.O ensaio foi conduzido sob irrigao.

    A desfolha foi realizada na fase de espigamento, coma retirada do limbo da folha bandeira, das segunda e daterceira folhas superiores. A colheita foi realizadamanualmente, com o corte das plantas rente ao solo,

    entre 23 e 25 de setembro de 2004.Foram avaliados os seguintes caracteres: rendimento

    de gros, obtido pela pesagem do total de gros dasparcelas, ajustado para 13% de umidade; peso dohectolitro, determinado nos gros limpos e secados;massa de mil gros; nmero de espigas por parcela,obtido pela contagem do nmero total de espigas porparcela; nmero de gros por espiga, determinado deforma indireta, pela massa de mil gros, nmero deespigas por parcela e rendimento de gros por parcela;biomassa seca do colmo, obtida pela pesagem do total

    ^

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    de plantas sem espigas, secadas em estufa por 48 horasa 75oC; biomassa seca da palha de espiga, obtida comas espigas retiradas de todas as plantas, com a palhasecada em estufa por 48 horas, a 72oC; biomassa secatotal, obtida pela soma da biomassa seca do colmo,biomassa seca da palha da espiga e da semente seca;rendimento de gros por espiga, obtido de forma indiretapelo peso do total de gros por parcela, ajustado para13% de umidade, dividido pelo nmero de espigas daparcela; biomassa seca do colmo individual, obtida peladiviso do valor da biomassa seca do colmo pelo nmerode colmos por parcela; biomassa seca da palha da espigaindividual, obtida pela diviso do valor da biomassa secada palha da espiga pelo nmero de espigas por parcela;e biomassa seca total por planta individual, obtida pela

    diviso do peso da biomassa seca total pelo nmero deplantas.

    As anlises de correlao de Pearson e de trilha foramrealizadas com o programa Genes (Cruz, 2001).Nas anlises, foram consideradas as quatro repetiesde cada nvel de desfolha, em um total de 16 observaespara cada varivel analisada.

    Inicialmente, foi feita a anlise de trilha com os dadospor parcela, em que o rendimento de gros foiconsiderado como varivel bsica. O peso do hectolitro,massa de mil gros, biomassa seca do colmo, biomassa

    seca da palha da espiga, biomassa seca total, nmerode espigas e nmero de gros por espigas, foramconsiderados as variveis primrias ou variveisexplicativas.

    Foi realizada a avaliao de multicolinearidade,conforme Cruz & Regazzi (1997). O grau demulticolinearidade da matriz de correlaes, entre asvariveis independentes do modelo de regresso, foiestabelecido com base em seu nmero de condies,que a razo entre o maior e o menor autovalor damatriz de correlao gentica. Assim, quando o nmerode condies menor que 100, a multicolinearidade fraca e no ocasiona problema para a anlise; quandose situa entre 100 e 1.000, a multicolinearidade demoderada a forte; e quando maior que 1.000, amulticolinearidade severa (Montgomery & Peck,1981).

    Foi realizada, tambm, a anlise de trilha com os dadospor planta individual, em que o rendimento de gros porespiga foi considerado a varivel bsica, e as variveismassa de mil gros, nmero de espigas, nmero de grospor espiga, biomassa seca do colmo individual, biomassaseca da palha da espiga por planta e biomassa seca total

    por planta individual foram consideradas as variveisprimrias ou variveis explicativas.

    Resultados e Discusso

    A anlises de varincia em relao aos caracteresrevelaram que os efeitos de gentipos e nvel de desfolhaapresentaram variaes significativas, em relao maioria dos caracteres avaliados (Tabela 1).Os coeficientes de variao dos caracteres oscilaramentre 1,06% (peso do hectolitro) e 13,17% (rendimentode gros), o que conferiu boa preciso aos experimentosque, segundo Lcio et al. (1999), so classificados comobaixo e mdio, respectivamente, e considerados habituaispara ensaios agrcolas de trigo.

    Foram detectadas multicolinearidades severas paraas variveis biomassa seca total por parcela e biomassaseca total por planta individual, as quais foram eliminadasdas anlises. A maioria dos trabalhos sobre anlises detrilha no tem considerado os efeitos adversos damulticolinearidade sobre os estimadores de quadradosmnimos, adotados para a resoluo dos sistemas deequaes. Assim, os resultados obtidos podem no serconfiveis. Entre os efeitos de uma elevadamulticolinearidade podem ser citadas as estimativasinstveis do coeficiente de regresso e uma

    superestimativa dos efeitos diretos das variveisexplicativas sobre a principal, que podem levar aresultados equivocados (Cruz & Carneiro, 2003).

    Verificou-se alta correlao positiva e significativaentre a varivel peso do hectolitro e rendimento de gros(Tabela 2). No entanto, o efeito direto do peso dohectolitro foi muito baixo, tendo sido expressivo o seuefeito indireto via massa de mil gros, nmero de grospor espiga e nmero de espigas. Portanto, os efeitosindiretos observados foram os responsveis pela altacorrelao entre peso do hectolitro e rendimento degros.

    A varivel massa de mil gros apresentou correlaopositiva e significativa com rendimento de gros(Tabela 2). Resultado semelhante foi encontrado porBhutta et al. (2005), que estudaram as relaes de causae efeito de componentes de rendimento. A quasetotalidade do valor da correlao, observada no presentetrabalho, deveu-se ao efeito direto dessa varivel; essa uma das mais importantes caractersticas, quando sedeseja fazer seleo para o rendimento de gros.

    A massa de mil gros tambm afetou o rendimentode forma positiva via nmero de gros por espiga

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    Fontedevariao

    GL

    Quadradosmdios

    RG

    PH

    MMG

    NE

    G

    E

    BSC

    BSE

    BST

    RGE

    BSCI

    BSEI

    BSTI

    Blocos

    3

    3.158ns

    3,0

    ns

    1,4

    1.104*

    11ns

    4.397ns

    311ns

    17.096*

    10.098ns

    15.123ns

    998ns

    51.970ns

    Gentipos(G)

    2

    39.753**

    21,2**

    43,6**

    17.815**

    113**

    6.883**

    9.909**

    63.222**

    34.349ns

    1.280.101**

    51.281**

    639.887**

    Erroa

    6

    1.172

    1,2

    1,2

    174

    7

    1.056

    76

    4.020

    11.111

    21.420

    583

    38.827

    Desfolha(D)

    3

    12.393**

    23,6**

    112,9**

    92ns

    13ns

    18.997**

    331ns

    63.483**

    215.746**

    339.454**

    5.374*

    1.119.119**

    GxD

    6

    1.294ns

    0,5

    ns

    4,1**

    522ns

    5ns

    2.916ns

    158ns

    7.371ns

    13.368ns

    16.108ns

    1.036ns

    22.084ns

    Errob

    27

    1.263

    0,7

    1,0

    302

    9

    1.252

    124

    5.494

    12.722ns

    9.177

    1.303

    44.631

    CVparcela(%)

    12,7

    1,4

    2,9

    5,9

    8,2

    10,0

    9,8

    9,8

    8,9

    10,0

    6,2

    6,8

    CVsubparcela(%)

    13,2

    1,1

    2,7

    7,7

    9,3

    10,9

    12,5

    11,4

    9,5

    6,5

    9,2

    7,3

    Tabela1.

    Resumodaanlisedevar

    inciade12caracteresdetrsgentiposdetrigo,submetidosatrsnveisdedesfolha(1).

    (1)RG:rendimentodegros(gporparcela);PH:pesodohectolitro(kghL-1);MMG:massademilgros(g);NE:nmerodeespigasporparcela;GE:nmerodegrosporespiga;

    BSC:biomassa

    secadocolmo(gporparcela),BSE:biomassasecadapalhadaespiga(gporparce

    la);BST:biomassasecatotal(gporparcela);RGE:rendimentodegrosporespiga(m

    gporespiga);

    BSCI:biomassasecadocolmoindividual(mgporcolmo);BSEI:biomassasecadapalhadaespigaindividual(mgporespiga);BST

    I:biomassasecatotalporplantaindividual(mgporplanta).

    nsNo-significativo.

    *e**Significativoa

    5e1%

    deprobabilidade,respectivamente,

    pelotesteF.

    (Tabela 2). O rendimento de gros foi afetado de formanegativa, mas em pequena magnitude, pela varivelmassa de mil gros, via nmero de espigas, o que podeter ocorrido em virtude da competio entre plantas pornutrientes, para suprir a demanda de assimilados emsituao de estresse pela desfolha.

    Observou-se que todas as variveis apresentaramefeito indireto baixo e negativo sobre o rendimento degros, via biomassa seca do colmo (Tabela 2). Essavarivel mostrou alta correlao, positiva e significativa,com rendimento de gros, mas o seu efeito direto foipequeno e negativo. Isto sugere que quando se realiza adesfolha, a diminuio da biomassa seca do colmo, emvirtude da remobilizao de assimilados do colmo, paraatender demanda durante a fase de enchimento de

    gros, pode levar a menores perdas no rendimento degros. Essa capacidade de translocar reservas de outraspartes da planta, que no das folhas, durante a fase emque a demanda alta, uma caracterstica desejvel doponto de vista de produtividade que tem sido buscadano melhoramento do trigo.

    Verificou-se alta correlao positiva e significativaentre biomassa seca da palha da espiga e rendimentode gros (Tabela 2). No entanto, o efeito direto foiinexpressivo. Isso justifica, tambm, porque apenas oestudo de correlao no seria eficiente na seleo de

    caractersticas, durante o processo de melhoramentogentico de plantas.

    No presente trabalho, observou-se, no estudo decorrelao, que a biomassa da parte area (biomassassecas do colmo e da palha da espiga) foi um dos principaiscaracteres da planta relacionado ao aumento dorendimento de gros, entretanto, na anlise de trilha, suaimportncia foi secundria. A esse respeito, Okuyamaet al. (2004) afirmaram que o estudo mais detalhado dasrelaes, obtidas pela anlise de trilha, mostrou que arelao entre rendimento de gros e seus componentes

    bastante diferente das apresentadas pela anlise decorrelao simples. A aparente divergncia ocorre emrazo da abordagem analtica. Enquanto a correlaosimples identifica as associaes mtuas entre ascaractersticas, a anlise de trilha permite a determinaoda magnitude relativa de cada efeito (Cruz & Regazzi,1997).

    Constatou-se correlao positiva e significativa denmero de espigas por parcela e rendimento de gros(Tabela 2). A magnitude do valor de correlao deveu-seprincipalmente ao efeito direto dessa varivel, o que

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    Anlise de trilha para componentes do rendimento de trigo 491

    A massa de mil gros foi a varivel com maior efeitodireto e indireto, nas anlises dos componentes derendimento, em situao de desfolha. O mesmo resultado

    Efeito Efeito direto Efeito indireto r de Pearson

    Peso do hectolitroDireto sobre RG 0,051 - -

    Indireto via MMG - 0,465 -Indireto via BSC - -0,019 -

    Indireto via BSE - 0,030 -

    Indireto via NE - 0,116 -Indireto via GE - 0,261 -

    Total (r de Pearson) - - 0,904**

    Massa de mil grosDireto sobre RG 0,539 - -

    Indireto via PH - 0,044 -

    Indireto via BSC - -0,015 -

    Indireto via BSE - 0,018 -

    Indireto via NE - -0,022 -

    Indireto via GE - 0,153 -

    Total (r de Pearson) - - 0,716**

    Biomassa seca do colmo por parcela

    Direto sobre RG -0,021 - -

    Indireto via PH - 0,047 -

    Indireto via MMG - 0,401 -

    Indireto via BSE - 0,035 -Indireto via NE - 0,199 -

    Indireto via GE - 0,309 -Total (r de Pearson) - - 0,971**

    Biomassa seca da palha da espiga por parcela

    Direto sobre RG 0,042 - -Indireto via PH - 0,036 -

    Indireto via MMG - 0,235 -

    Indireto via BSC - -0,017 -Indireto via NE - 0,242 -

    Indireto via GE - 0,343 -

    Total (r de Pearson) - - 0,883**

    Nmero de espigas por parcela

    Direto sobre RG 0,361 - -

    Indireto via PH - 0,016 -

    Indireto via MMG - -0,033 -

    Indireto via BSC - -0,011 -Indireto via BSE - 0,028 -

    Indireto via GE - 0,216 -

    Total (r de Pearson) - - 0,578*

    Nmero de gros por espiga

    Direto sobre RG 0,398 - -

    Indireto via PH - 0,033 -

    Indireto via MMG - 0,207 -Indireto via BSC - -0,016 -

    Indireto via BSE - 0,036 -

    Indireto via NE - 0,196 -Total (r de Pearson) - - 0,855**

    Efeito da var. residual 0,084 0,022 0,048

    Tabela 2.Estimativas dos efeitos diretos e indiretos, ecorrelao entre a varivel rendimento de gros (RG, g porparcela) e as variveis: peso do hectolitro (PH, kg hL-1), massade mil gros (MMG, g), biomassa seca do colmo (BSC, g porparcela), biomassa seca da palha da espiga (BSE, g porparcela), nmero de espigas por parcela (NE) e nmero degros por espiga (GE), em trs gentipos de trigo (Anahuac,BRS 207 e BR 24) submetidos a trs nveis de desfolha.

    * e **Significativo a 5 e 1% de probabilidade, respectivamente, peloteste F.

    mostra que ela importante para o rendimento de gros.Observou-se, tambm, efeito de nmero de espigas norendimento, via efeito indireto de nmero de gros porespiga. Segundo Blue et al.(1990), sob condies deestresse que resultam em baixo perfilhamento, o pesode gros extremamente importante na determinaodo rendimento de gros, enquanto sob condies ideaispara o perfilhamento, o nmero de espigas o maisimportante componente de rendimento de gros.

    O alto valor positivo e significativo da correlao, entrenmero de gros por espiga e rendimento de gros,deveu-se principalmente ao seu efeito direto (Tabela 2).O nmero de gros por espiga tambm afetou orendimento de gros de forma positiva, via efeito indiretoda massa de mil gros e via nmero de espigas, o que

    confirma serem essas variveis as que maisinfluenciaram o rendimento em situao do estresse peladesfolha. Resultados semelhantes foram obtidos porOkuyama et al. (2004), que estudaram a relao doscomponentes de rendimento de trigo irrigado e noirrigado. Vieira et al. (2007) avaliaram as correlaesgenticas e seus desdobramentos, em efeitos diretos eindiretos de componentes primrios e secundrios sobreo rendimento de gros, em 19 gentipos de trigo, econcluram que um dos fatores primrios, queapresentaram a maior importncia na determinao do

    rendimento de gros, foi o caractere nmero de grospor espiga.O nmero de gros por metro quadrado est

    relacionado capacidade da planta em acumularbiomassa e transferi-la s estruturas reprodutivas empr-antese (Rodrigues, 2002).

    Os resultados da anlise de trilha da avaliao porplanta esto coerentes com os resultados da anlise porparcela. As variveis analisadas apresentaram altascorrelaes positivas e significativas com rendimentode gros por planta. Apenas a varivel nmero de espigasno apresentou correlao significativa com rendimento

    por planta; alm disso, contribuiu com efeito indiretonegativo para o rendimento, quando consideradas asoutras variveis (Tabela 3). Silva et al. (2005) avaliaramos componentes de rendimentos em trigo, e obtiveramresultados semelhantes. Esses autores observaram,ainda, quanto ao carter nmero de espigas, comcoeficiente de correlao positivo e efeito direto negativosobre o rendimento de gros, que a presso de seleointensificada sobre o nmero de espigas poderia noproporcionar ganhos genticos satisfatrios norendimento de gros.

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    T.C. de O. Gondim et al.492

    foi obtido por Souza (1985), ao estudar correlaes e

    coeficiente de trilha em trigo, em diferentes ambientesde Minas Gerais.

    A biomassa seca, tanto do colmo como da palha daespiga, mostrou alta correlao com o rendimento degros por planta, porm os efeitos diretos foram muitobaixos (Tabela 3). Os altos valores ocorreram emconseqncia dos efeitos indiretos via massa de mil grose via nmero de gros por espiga. A forte associaoentre nmero de gros por unidade de rea e rendimentode gros indicaria que o fornecimento de assimiladospara o enchimento dos gros (capacidade da fonte), em

    conjunto com as reservas acumuladas em rgosvegetativos, na fase de pr-antese, foram suficientespara satisfazer demanda dos gros em crescimento(capacidade dos destinos) (Rodrigues, 2002).

    Concluses

    1. A massa de mil gros e o nmero de gros porespiga so os principais componentes de rendimento degros, para as variedades estudadas, sob desfolha.

    2. O rendimento de gros em plantas sob estresse dedesfolha est associado reduo da biomassa seca docolmo.

    3. A seleo direta para massa de mil gros e nmerode gros por espiga estratgia eficiente para aumentar

    o rendimento de gros em situao de estresse por perdade rea foliar.

    Agradecimentos

    Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientficoe Tecnolgico, pela concesso de bolsa e auxlios.

    Referncias

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    Efeito Efeito direto Efeito indireto r de Pearson

    Massa de mil gros

    Direto sobre RGE 0,656 - -

    Indireto via NE - 0,001 -

    Indireto via GE - 0,193 -

    Indireto via BSCI - 0,029 -

    Indireto via BSEI - 0,004 -

    Total (r de Pearson) - - 0,883**

    Nmero de espigas por parcela

    Direto sobre RGE -0,018 - -

    Indireto via MMG - -0,040 -Indireto via GE - 0,273 -

    Indireto via BSCI - 0,005 -

    Indireto via BSEI - 0,001 -

    Total (r de Pearson) - - 0,220

    Nmero de gros por espiga

    Direto sobre RGE 0,502 - -

    Indireto via MMG - 0,252 -

    Indireto via NE - -0,010 -

    Indireto via BSCI - 0,021 -

    Indireto via BSEI - 0,005 -

    Total (r de Pearson) - - 0,771**

    Biomassa seca do colmo individual

    Direto sobre RGE 0,032 - -

    Indireto via MMG - 0,596 -

    Indireto via NE - -0,003 -

    Indireto via GE - 0,337 -

    Indireto via BSEI - 0,005 -

    Total (r de Pearson) - - 0,968**

    Biomassa seca da palha da espiga individual

    Direto sobre RGE 0,007 - -

    Indireto via MMG - 0,446 -

    Indireto via NE - -0,002 -

    Indireto via GE - 0,372 -

    Indireto via BSCI - 0,026 -

    Total (r de Pearson) - - 0,848**

    Efeito da var. residual 0,054 0,056 0,030

    Tabela 3. Estimativas dos efeitos diretos e indiretos, ecorrelao entre a varivel rendimento de gros por espiga(RGE, mg por espiga) e as variveis: massa de mil gros (MMG,g), nmero de espigas por parcela (NE), nmero de gros por

    espiga (GE), biomassa seca do colmo individual (BSCI, mgpor colmo) e biomassa seca da palha da espiga individual(BSEI, mg por espiga), em trs variedades de trigo (Anahuac,BRS 207 e BR 24) submetidos a trs nveis de desfolha.

    **Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.

    ^

    DENCIC

  • 7/26/2019 Anlise de Trilha Trigo Desfolha

    7/7

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