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ANÁLISE DE SEIVA EM PLANTAS Dr. José Antônio Quaggio [email protected] Dra. Thais Regina de Souza [email protected] Centro de Solos e Recursos Ambientais/IAC A análise da seiva tem sido considerada uma nova ferramenta para determinar e quantificar o estado nutricional da planta no momento da amostragem. Segundo Lozano (1996) é uma técnica de diagnóstico bastante precisa e sensível para avaliar a demanda por nutrientes de plantas nos diferentes estádios de desenvolvimento, que é a base fundamental do programa de nutrição na fertirrigação. Já a análise foliar representa um acúmulo de nutrientes, desde a formação da folha até sua coleta. De acordo com Cadahía & Lucena (2005), a composição da seiva pode variar por um grande número de fatores e sua análise deve ser usada principalmente para determinar problemas nutricionais pontuais. É uma técnica de diagnóstico muito útil quando a adubação pode variar em poucos dias, como ocorre com a fertirrigação, o que possibilita realizar correções de nutrição desde as primeiras etapas do ciclo de cultivo. Na extração da seiva o órgão da planta amostrado, em geral, corresponde aos tecidos condutores junto das folhas destinadas a análise foliar, como pecíolos e nervuras. A amostra deve ser representativa e realizada com os mesmos critérios da análise foliar. Após a coleta das amostras, o transporte do campo ao laboratório e o processamento, devem ser realizados em menor tempo possível, pois a extração é feita com o material fresco. Existem diversos métodos para extrair a seiva: a) extração realizada com auxílio de prensas (Fontes et al., 2002 e Blanco 2004), b) extração feita com éter etílico e posterior congelamento de amostras (Cadahía & Lucena, 2005 e Souza et al., 2010), c) utilizando câmera de pressão, d) coleta de exsudatos (Vitoria & Sodek, 1999 e Oliveira et al., 2003) e)

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ANÁLISE DE SEIVA EM PLANTAS

Dr. José Antônio Quaggio

[email protected]

Dra. Thais Regina de Souza

[email protected]

Centro de Solos e Recursos Ambientais/IAC

A análise da seiva tem sido considerada uma nova ferramenta para determinar e

quantificar o estado nutricional da planta no momento da amostragem. Segundo Lozano

(1996) é uma técnica de diagnóstico bastante precisa e sensível para avaliar a demanda por

nutrientes de plantas nos diferentes estádios de desenvolvimento, que é a base fundamental do

programa de nutrição na fertirrigação. Já a análise foliar representa um acúmulo de nutrientes,

desde a formação da folha até sua coleta.

De acordo com Cadahía & Lucena (2005), a composição da seiva pode variar por um

grande número de fatores e sua análise deve ser usada principalmente para determinar

problemas nutricionais pontuais. É uma técnica de diagnóstico muito útil quando a adubação

pode variar em poucos dias, como ocorre com a fertirrigação, o que possibilita realizar

correções de nutrição desde as primeiras etapas do ciclo de cultivo.

Na extração da seiva o órgão da planta amostrado, em geral, corresponde aos tecidos

condutores junto das folhas destinadas a análise foliar, como pecíolos e nervuras. A amostra

deve ser representativa e realizada com os mesmos critérios da análise foliar. Após a coleta

das amostras, o transporte do campo ao laboratório e o processamento, devem ser realizados

em menor tempo possível, pois a extração é feita com o material fresco.

Existem diversos métodos para extrair a seiva: a) extração realizada com auxílio de

prensas (Fontes et al., 2002 e Blanco 2004), b) extração feita com éter etílico e posterior

congelamento de amostras (Cadahía & Lucena, 2005 e Souza et al., 2010), c) utilizando

câmera de pressão, d) coleta de exsudatos (Vitoria & Sodek, 1999 e Oliveira et al., 2003) e)

extração realizada com, acetato de etila, 1-butanol, éter de petróleo ou xileno (Moreno &

García-Martinez, 1980). Em todos os métodos de extração citados os autores denominam

seiva o material extraído.

A leitura dos nutrientes na seiva poderá ser feita utilizando eletrodos seletivos portáteis,

espectrômetros de plasma de argônio ou de emissão atômica, fotômetro de chama e outros

equipamentos. A seiva pode apresentar coloração, e isso dificulta a leitura em colorímetros.

Devido à elevada concentração de nutrientes, a seiva poderá ser diluída, e apenas se

necessário filtrada, pois a quantidade extraída normalmente é pequena.

Resultado obtido com a cultura da laranja

Souza (2010) em um ensaio com diferentes doses de nitrogênio (0, 75 e 150 kg ha-1

de

N) aplicadas via fertirrigação na cultura da laranja (Figura 1), monitorou mensalmente o

estado nutricional da planta, utilizando as técnicas de análise de seiva e de folha. A seiva foi

extraída do ramo da brotação nova com éter etílico (Figura 2). As avaliações foram feitas na

safra 2007/2008. A fonte de N utilizada foi o nitrato de amônio. Da dose total de N

recomendada para cada tratamento, 25% foi aplicada no mês de outubro de 2007, entre os

meses de novembro de 2007 e março de 2008 foi aplicada 50% da dose (10% por mês), os

outros 25% restantes, foram aplicados no mês de abril de 2008.

O aumento das doses de nitrogênio aplicadas via fertirrigação ocasionaram aumento no

teor de N na seiva e na folha. A seiva refletiu melhor o parcelamento da adubação em relação

à análise foliar (Figura 3). O N na seiva se comportou, muitas vezes, de forma oposta ao

observado na folha. Provavelmente, em épocas de maior exigência o N da folha é translocado

para órgãos em formação, e a planta passa a absorver mais N para atender sua necessidade;

provocando queda de teores na folha e aumento na seiva.

O tratamento que não recebeu adubo se comportou de forma semelhante, em relação

aos diferentes meses de amostragem, aos tratamentos que receberam nutrientes, considerando

as respectivas proporções (Figura 3). Como a análise da seiva é pontual, mostra a

concentração de nutrientes na planta no momento da tomada da amostra, a variação observada

no tratamento que não recebeu N revela a necessidade da cultura e, portanto, indica o

adequado parcelamento do nutriente na fertirrigação.

Outro dado importante está relacionado à amplitude dos valores encontrados, enquanto

a concentração de N na seiva variou de 26 a 206 mg L-1

, considerando todos os tratamentos e

durante todo o período de avaliação, o teor de N na folha variou de 24 a 30 g kg-1

.

A autora concluiu que a análise da seiva pode ser empregada como ferramenta auxiliar

no monitoramento do estado nutricional de plantas cítricas e no manejo da fertirrigação.

Devido aos bons resultados obtidos por Souza (2010), o Instituto Agronômico

pretende agora monitorar a concentração de nutrientes na seiva de outras culturas, como café

e cana-de-açúcar.

Figura 1. Laranjeira sob sistema de fertirrigação

por gotejo.

Figura 2. Coleta do ramo da brotação nova.

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Figura 3. Teor de N na seiva (A) e na folha (B) em função dos estádios de desenvolvimento

da cultura da laranja (flechas indicam momentos que foram aplicadas 25% da dose de N).

Referências Bibliográficas

BLANCO, F. F. Tolerância do tomateiro à salinidade sob fertirrigação e calibração de medidores

de íons específicos para determinação de nutrientes na solução do solo e na planta, 2004. 115p.

Tese (Doutorado em Agronomia/Irrigação e Drenagem) – Escola Superior de Agricultura Luiz de

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FONTES, P. C. R.; RONCHI, C. P. Níveis críticos de índices de nitrogênio no tomateiro em solo e

solução nutritiva determinados por diferentes procedimentos estatísticos. Pesquisa Agropecuária

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LOZANO, E. Estudio comparativo de la deficiencia de boro y de calcio en cuatro variedades de

Lyropersicon esculentum Mill. 1996. Tesis (Doctoral) – Universidad Autónoma de Madrid. Madrid.

MORENO, J.; GARCÍA-MATÍNEZ, J. L. Extraction of tracheal SAP from Citrus and analysis of its

nitrogenous compounds. Physiology Plant, v. 50, p. 298-303, 1980.

OLIVEIRA, M. N.; OLIVA. M. A.; MARTINEZ, C. A. Variação diurna e sazonal do pH e

composição mineral da seiva do xilema em tomateiro. Horticultura Brasileira, v. 21, n. 1, p. 10-14,

2003.

SOUZA, T R. Monitoramento do estado nutricional de plantas cítricas e da solução do solo em

sistema de fertirrigação. 2010. 146p. Tese (Doutorado em Agronomia/Irrigação e Drenagem) –

Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista, Botucatu.

VITORIA, A. P.; SODEK. L. Xylem sap nitrogen compounds of some Crotalaria species. Scientia

Agricola, v. 56, n. 3, p. 733-737. 1999.